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R e v . P e . P e t e r R . S c o t t

São Pedro está


seguindo a linha
de Dom Lefebvre?

e vez em quando, ouvimos vozes afirmando que a

D Fraternidade de São Pedro é regida pelos termos do


protocolo assinado por Dom Lefebvre em 05 maio de
1988, uma vanglória que essa Fraternidade repete até hoje.
Essas mesmas vozes vão tão longe a ponto de afirmar que Dom
Lefebvre repudiou o que ele tinha previamente assinado. É para
esclarecer essas questões que, após a reimpressão deste artigo,
a partir da página 6, está uma conferência proferida por Dom
Lefebvre em 10 de maio de 1988. (Archbishop Lefebvre and the
Vatican, pp 95 -105).
THE ANGELUS
Dezembro 1995
A Intervenção
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Ottaviani
A Intervenção Ottaviani levantou
muitas questões sobre os
resultados que a Nova Ordem da
A verdade da questão é que do de polêmicas, mas que não
Missa teria sobre a fé do povo.
Dom Lefebvre, tendo assinado este deixaria de condenar o erro, de
Entre esses pontos, o estudo
protocolo, se recusou a assinar o onde quer que ele viesse: “Que o
afirma que os fiéis “nunca,
pedido de desculpas por crimes Papa pare de fazer essas coisas
absolutamente nunca, pediram
que nunca cometera e continuou a repreensíveis, incompreensíveis,
que a liturgia fosse alterada ou
insistir na data de 30 de junho de impensáveis, e então iremos pa-
mutilada para torná-la mais fácil
1988 (a quarta e última data para rar de reagir”. É este o caso dos
de entender”. “Em muitos
as consagrações) em vez de uma padres de São Pedro, que nunca
pontos”, diz o estudo, “ela tem
possível e vaga data futura, bem foram conhecidos por denunciar os
muito para alegrar o coração do
como sobre a necessidade de não erros e heresias liberais dos bispos
mais modernista de todos os
um, mas vários bispos, não hav- ecumênicos de quem dependem,
protestantes”. Além disso, “A
endo outra maneira de garantir a e muito menos os do Papa?
definição da Missa é reduzida a
independência dos bispos mod- O quarto ponto na fórmula é a
uma ‘Ceia’.” “O altar é quase
ernistas (hoje vemos como isso aceitação da validade da nova
sempre chamado de mesa.” “A In-
foi necessário!). Ainda que ele missa e dos novos sacramentos,
strução recomenda que o Santo
tenha sido bastante pressionado, os quais Dom Lefebvre só aceitou
Sacramento seja agora mantido
não é verdade que Dom Lefebvre com a compreensão, já aceita no
em um lugar separado... como se
repudiou o protocolo que assinou. nº 3, de que há elementos da
fosse algum tipo de relíquia.” “O
Quando confrontados com liturgia moderna em contradição
próprio povo aparece como se
seu compromisso com a Igreja com a Tradição. Além disso, o uso
possuísse um poder sacerdotal
pós-conciliar, os padres da do termo latino “valitudinem”, que
autônomo.” “Ele [o padre] aparece
Fraternidade de São Pedro estão significa força, boa saúde, a
agora como nada mais do que um
acostumados a responder que eficácia, poder, no texto assinado
pastor protestante”.
eles somente seguem o protocolo pelos padres de São Pedro, em
assinado por Dom Lefebvre. Na vez do usual “validitatem”, termo
verdade, qualquer sacerdote da que significa validade, indica
FSSPX que tente entrar na FSSP que eles estão admitindo muito
é obrigado a assinar uma Formula mais do que a simples validade,
Adhaesionis, isto é, uma fórmula mas também a eficácia, justeza,
de adesão à Igreja conciliar (ver bondade e retidão dos novos ritos.
Alfredo
p.5). Apesar de ser semelhante Certamente isso é muito claro dado
Cardeal
ao protocolo assinado por Dom Ottaviani o fato de não se ouvir esses
Lefebvre (ver p.4), ela difere em sacerdotes criticarem o espírito
vários pontos muito importantes. protestante e modernista da missa
[Da Introdução ao Estudo Crítico,
A diferença começa já no nova, que “representa, tanto no
assinado pelos Cardeais Ottaviani
primeiro ponto. Os padres de todo como nos seus detalhes,
e Bacci]
São Pedro não apenas promet- um surpreendente afastamento da
em fidelidade ao Papa como “O seguinte Estudo Crítico é o teologia católica da Missa”
Vigário de Cristo e sucessor de trabalho de um grupo seleto de (Intervenção Ottaviani). Se o silên-
São Pedro em seu primado, mas bispos, teólogos, liturgistas e pas- cio deles deve ser interpretado
também como “cabeça do tores de almas. A despeito de sua como consentimento, o mesmo
colégio dos bispos”. Dom Le- brevidade, o estudo demonstra de não pode ser dito sobre a oposição
febvre recusou esta profissão forma bastante clara que a Novus feroz de Dom Lefebvre a algo que
de colegialidade, insistindo na Ordo Missae – considerando-se os ele não hesitou em chamar de
expressão “cabeça do corpo de novos elementos amplamente “Missa bastarda”, tão clara é a
bispos”. O terceiro ponto admite suscetíveis a muitas interpretações sua ilegitimidade. (Sermão em
que alguns possam ver uma con- diferentes que estão nela implícitos Lille, 29 de agosto de 1976. Veja
tradição entre as novidades pós- ou são tomados como certos -- The Angelus, Novembro de 1995.)
conciliares e o Magistério, mas representa, tanto em seu todo Outra grande diferença está
não que eles próprios consider- como nos detalhes, um no quinto ponto. Pois, se Dom Le-
em estas novidades como surpreendente afastamento da febvre prometeu respeitar a discip-
diretivas contrárias à Tradição, teologia ca-tólica da Missa tal qual lina comum da Igreja e as leis
como disse e assinou Dom Le- formulada na sessão 22 do Con- eclesiásticas do código de 1983,
febvre. Se Dom Lefebvre assinou cílio de Tren-to. Os “cânones” do foi sob a condição expressa de
um protocolo prometendo abster- rito definitivamente fixado naquele que não respeitaria todas as leis,
se de polêmicas, ele também tempo cons-tituíam uma barreira
afirmou que nunca houvera gosta- intransponível contra qualquer tipo THE ANGELUS
Dezembro 1995
de heresia que pudesse atacar a
integridade do Mistério.”
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ASSINAD O N.
PROTOCOLO DE ACORDO
POR
D. L EFEBVRE de
Eu, Marcel
Tulle,
Lefebvre,
assim
Arcebispo-Bispo
como os membros
Emérito

Fraternidade Sacerdotal de São Pio X fundada por mim:


da

1) Prometemos ser sempre fiéis à Igreja Católica

E
ste Protocolo, assinado e ao Romano Pontifíce, seu Supremo Pastor,
por Dom Lefebvre em Vigário de Cristo, Sucessor do Bem-aventurado
5 de Maio de 1988, foi Pedro em seu primado como cabeça do corpo dos bispos.
o resultado de 10 meses de 2) Declaramos nossa aceitação da doutrina con-
negociações após Dom Lefeb- tida no nº 25 da Constituição dogmática
vre ter anunciado sua intenção Lumen Gentium do Concílio Vaticano II sobre o
de consagrar bispos. O acordo Magistério eclesiástico e a adesão que lhe é devida.
nesses pontos da doutrina
ilustram o reconhecimento de 3) A respeito de certos pontos ensinados pelo Con-
cílio Vaticano II ou relacionados às refor-
Roma do direito de católicos
mas posteriores na liturgia e no direito, e que
tradicionais recusarem certos não nos parecem facilmente reconciliáveis com a
pontos do Vaticano II irrecon- Tradição, nós juramos que teremos uma atitude positiva de
ciliáveis com a Tradição. Ele estudo e comunicação com a Sé Apostólica, evitando toda polêmica.
mostrou que Roma não tinha
a princípio nenhuma oposição 4) Ademais, declaramos que reconhecemos a validade
à consagração de bispos, e do Sacrifício da Missa e dos Sacramentos celebrados
com intenção de fazer o que a Igreja faz, e de
que a real oposição foi uma acordo com os ritos indicados nas edições típicas do
acrobacia política para previnir Missal Romano e Ritua i s dos Sacramentos
o crescimento do movimento promulgados pelos Papas Paulo Vi e João Paulo II.
traddicional.
5) Finalmente, prometemos respeitar disciplina comum
da Igreja e as leis eclesiásticas, especialmente
aquelas contidas no Código de Direito Canônico promul-
gado pelo Papa João Paulo II, sem prejuízo da disciplina
especial garantida à Fraternidade por lei particular.

e tinha o direito de recusar, de acordo com o nº 3, lhar os altares com a Missa Nova, e a operar
as leis que são contrárias à Tradição, como as que dentro da estrutura das paróquias conciliares. Ou
promovem o ecumenismo. Ele não prometeu seguir eles concordam com a liturgia, leis e práticas pós-
as leis pós-conciliares, como fazem os padres de con-ciliares, ou eles são hipócritas por sua
São Pedro, em cuja fórmula de Adesão foram cooperação. Seja qual for o caso, está claro que
eliminadas as palavras “sem prejuízo da disciplina eles estão comprometidos com a revolução na Igreja.
especial concedida à Fraternidade por lei particular”. Ocasionalmente somos perguntados sobre o
No entanto, a diferença real é que Dom Lefebvre que um católico tradicional deve fazer caso a única
insistiu firmemente na independência dos bispos missa tradicional a que ele pode assistir seja cele-
modernistas. Nisto, a FSSP fracassou totalmente. Eles brada por um sacerdote da FSSP. A nossa respos-
dependem de uma comissão Novus Ordo (Ecclesia ta continua a ser exatamente a mesma que a de
Dei), cujos membros não são católicos tradicionais, Dom Lefebvre com relação às missas de indulto,
eles não têm até hoje nenhum bispo próprio e celebradas por padres que também celebram a
recebem o sacramento das Santas Ordens de bispos Missa Nova. Participar de tais missas é aceitar o
ordenados nos novos ritos, e que não hesitam em compromisso em que elas se baseiam, que é o de
celebrar a Missa Nova; eles são obrigados a comparti- cooperar com a destruição da Igreja, quer por aceitá-
THE ANGELUS
Dezembro 1995
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COMISSÃO PONTIFÍCIA
<< ECCLESIA DEI >>
TRADUÇÃO EM
N.
FÓRMULA DE ADESÃO
PORTUGUÊS

T
1. Eu,. ...........................prometo fidelidade à
Igreja Católica e ao Romano Pontífice, Supremo Pastor da odos os sacerdotes que
Igreja, Vigário de Cristo, Sucessor do Bemaventurado abandonaram a FSSPX
Pedro em seu Primado como cabeça do colégio dos bispos. para entrarem na FSSP
foram obrigados a assinar a
2. Eu aceito a doutrina que é ensinada no nº 25 da Fórmula de Adesão. Ela é
Constituição Dogmática “Lumen Gentium” do Segundo Con-
cílio Vaticano concernente ao Magistério da Igreja e claramente diferente daquela
concernete à sua devida adesão. assinada por Dom Lefebvre,
essas diferenças foram mar-
3. Concernente a outras doutrinas que o Segundo Concílio Vaticano cadas pelo editor para facilit-
ensina, ou concernente às reformas posteiores sejam litúrgicas, sejam ar a comparação. Note em
canônicas, que são vistas por alguns como sendo difíceis de particular que eles não quer-
conciliar com as declarações do Magistério precedente, eu
admito a obrigação de seguir uma linha positiva de estudo e
em estar entre aqueles que
comunicação com a Santa Sé enquanto evitando toda polêmica. pensam que as novidades do
Vaticano II, aqui chama-
4. Eu também declaro que aceito a validade [ou das “doutrinas,” são irrecon-
melhor, a efetividade, a correção, a pureza-Ed.] ´do Sacrifício da ciliáveis com as declarações
Missa e dos Sacramentos, celebrados com a intenção de fazer o do Magistério precedente, e
que a Igreja faz, e de acordo com os ritos encontrados que a palavra “Tradição”
nas edições típicas do Missal Romano bem como os Rituais
publicados pelos Supremos Pontífices Paulo VI e João Paulo II. foi inteiramente removida.

5. Finalmente, prometo aderir à disciplina


comum da Igreja e às suas leis, especialmente
aquelas contidas no Código de Direito Canônico pro-
mulgado pelo Supremo Pontífice João Paulo II.
ORIGINAL
.....
local
.......
data
. ..............
assinatura
LATINO
PONTIFICIA COMMISSIO
<< ECCLESIA DEI >>
FORMULA ADHAESIONIS
N.
1. Ego N.N., ____________________________________ ,
promitto fidelitatem erga Ecclesiam Catholicam et erga
Romanum Pontificem, Ecclesiae Pastorem Supremum,
Vicarium Christi, Successorem beati Petri in eius
Primatu et Caput Episcoporum Collegii.

2. Accipio doctrinam, quae in n.25 Constitutionis dog-


maticae Lumen Gentium Concilii Vaticani II de Magis-
la quer por silenciar-se hipocritamente. Trata-se de terio Ecclesiae et de adhaesione illi debita docetur.
recusar a inteira profissão de fé católica que é a
3. Circa aliquas doctrinas, quas Concilium Vaticanum
prática intransigente da Tradição. É dizer que “se II docuit, aut circa instaurationes posteriores sive
prefere” a missa tradicional, mas que a Missa Nova e Liturgiae sive Iuris Canonici, quae aliquibus difficulter
cum praecendentibus Magisterii declarationibus
os erros do Concílio Vaticano II não precisam ser conciliari posse videntur, obligationem assumo sequendi
condenados publicamente a fim de proteger a fé. lineam positivam studii et communicationis cum Sede
Apostolica, vitata omni nota polemica.
Ninguém é obrigado a assistir a tal missa, mesmo
que seja a única maneira de satisfazer o preceito 4. Declaro etiam, me accipere valitudinem Sacrificii
Missae et Sacramentorum celebratorum cum intentione
dominical. Ao contrário, seria manifestamente errado faciendi quod facit Ecclesia, et secundum ritus, qui
fazê-lo para uma pessoa que compreende tudo isso. inveniuntur in editionibus typicis Missalis Romani
necnon Ritualium a Summis Pontificibus Paulo VI et
Dom Lefebvre apresenta e responde à objeção muito Ioanne Paulo II editis.
claramente: “‘Afinal de contas, devemos ser compreens- 5. In fine promitto, me disciplinae communi Ecclesiae
ivos, devemos ser gentis, não devemos causar divisão, eiusque legibus adhaerere, imprimis illis, quae in
afinal, eles estão celebrando a Missa Tridentina, eles não Codice Iuris Canonici a Summo Pontifice Ioanne Paulo
II promulgato continentur.
são tão maus como todo mundo diz’, mas eles estão nos
locus et dies:
traindo! Eles estão de mãos dadas com os destruidores
da Igreja, com pessoas com ideias modernistas e
manu propria subscripsi:
liberais condenadas pela Igreja. Então eles estão fazen- THE ANGELUS
December 1995
do o trabalho do diabo.” (6 de setembro de 1990). Ω

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