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Faculdade 7 de Setembro

Curso de Especialização em Lingüística Aplicada ao Ensino de Línguas:


Inglês/Espanhol
Teorias de Aquisição de LE
Profa. Dra. Vládia Borges
Aluno: Fabrício Paiva Mota

1. Introdução

Este breve ensaio refere-se a como se deu meu processo de aprendizagem de


espanhol, quais foram meus estilos de aprendizagem, problemas/soluções relacionados à
interlíngua bem como uma pequena revisão bibliográfica das teorias de aprendizagem.

2. Fundamentação Teórica

A linguagem é algo extremamente fascinante, seja ela verbal ou não-verbal. Desde


a Antigüidade o homem busca respostas sobre como aprendemos a falar. No entanto, é
no século XIX que lingüistas começam a observar como seus filhos desenvolveram a
linguagem através dos anos. Para isso, escreviam diários, relatando o desenvolvimento
da criança (Scarpa, 2006).
Face o exposto, as teorias sobre aprendizagem foram surgindo. Podemos dividi-las
sob dois enfoques: comportamentistas e cognitivistas. Os comportamentistas ou
behavioristas preocupavam-se com os fatos observáveis. Também são conhecidos
como teorias de estímulo-resposta, pois é possível observar e relacionar eventos
(estímulos) com as suas conseqüências (respostas). Segundo Merchan (apud Parreiras,
s/d),
os comportamentistas entendiam a aprendizagem como um processo pelo
qual mudava a conduta de um organismo, sempre que, nas mudanças, não se
dava a maturação e não tinham caráter ocasional (como as mudanças de
conduta que são respostas, por exemplo, a fadiga) mas que sejam estáveis.

Segundo Parreiras (s/d), o enfoque comportamentista baseia-se: (1) em


compreender o associacionismo como aspecto essencial da aprendizagem; (2) no
reducionismo ambientalista conforme o momento ou o investigador; (3) no
ambientalismo como base de condutas consideradas passivas no processo de
aprendizagem; (4) na crença de que toda conduta por mais complexa que seja, se pode
separar em elementos simples e (5) na equipotencialidade das leis da aprendizagem, em
qualquer ambiente ou referida a qualquer tipo de organismo.
O condicionamento clássico e o condicionamento instrumental ou operante
são modelos teóricos de aprendizagem que foram desenvolvidos pelo behaviorismo.
Pavlov e Watson são os maiores representantes do primeiro modelo que defende que
todo comportamento animal, incluindo o do homem, pode ser estudado em termos de
estímulos e respostas e é possível conhecer e controlar a conduta na medida em que os
estímulos permitem prever respostas e vice-versa (Parreiras, s/d).
Thorndike, Hull, Tolman e Skinner são os do segundo. A diferença deste modelo
para o primeiro encontra-se no reforço (positivo ou negativo) dado as respostas. Skinner
defende que os estímulos podem tanto ser externos como internos.
Segundo Coutinho e Moreira (apud Parreiras, s/d), Skinner classificou os reforços
presentes na relação do indivíduo com as estimulações do meio da seguinte forma:
reforço positivo, reforço negativo, reforço primário, reforço secundário, reforço de
razão, reforço de razão fixa, reforço de razão variável, reforço de intervalo, reforço de
intervalo fixo, reforço de intervalo variável, reforço por imitação. O reforço deve
aumentar a probabilidade de respostas e na ausência de respostas, causa a extinção
operante.
Os cognitivistas tratam da cognição, ou seja, como o sujeito processa,
compreende e dá significado a informação. Diferentemente dos comportamentalistas, os
cognitivistas defendem que o conhecimento
é construído em ambientes naturais de interação social, estruturados
culturalmente. Cada aluno constrói seu próprio aprendizado num processo
de dentro para fora baseado em experiências de fundo psicológico. Os
teóricos desta abordagem procuram explicar o comportamento humano em
uma perspectiva em que sujeito e objeto interagem em um processo resulta
na construção e reconstrução de estruturas cognitivas. (Parreiras, s/d)

Os expoentes desta teoria são Piaget e Vygostky. O modelo genético-cognitivo de


Piaget também é conhecido como Epistemologia genética. Segundo Parreiras (s/d),
para Piaget o comportamento dos seres vivos não é inato, nem resultado de
condicionamentos. Para ele o comportamento é construído numa interação
entre o meio e o indivíduo. Esta teoria epistemológica é caracterizada como
uma visão interacionista do desenvolvimento. A inteligência do indivíduo,
como adaptação a situações novas, portanto, está relacionada com a
complexidade desta interação do indivíduo com o meio. Em outras palavras,
quanto mais complexa for esta interação, mais “inteligente” será o
indivíduo.
A partir desta concepção, observamos a diferença entre o pensamento de Piaget
em relação ao dos behavioristas. Para aquele, o desenvolvimento aprimorado leva a
aprendizagem. No entanto, o organismo do indivíduo deve estar preparado para recebê-
lo, relacionando conhecimento anterior a novos, transformando-os e assimilando-os.
Neste modelo, a interação com o meio é fundamental, pois é através dele que o sujeito
vai se desenvolver. A construção da inteligência dá-se por etapas ou estágios
(construtivismo seqüencial), quais sejam, período senório-motor; período pré-operatório
ou simbólico ou intuitivo; período operatório concreto e período lógico formal ou
abstrato.
Enquanto Piaget nos diz que o desenvolvimento aprimorado leva a aprendizagem,
Vygostky diz o contrário, ou seja, a aquisição de conhecimentos se dá pela interação
entre o sujeito com o meio. Vygostky enfatiza o papel da linguagem e da aprendizagem.
Para ele o desenvolvimento efetivo ou grau de maturidade das funções psicointelectivas
mostra que a criança resolve as tarefas por ela mesma e o desenvolvimento potencial ou
zona de desenvolvimento potencial se manifesta quando ela realiza tarefas mais
complexas, orientadas por instruções e com a ajuda de um adulto ou por resultado da
interação com iguais. (Parreiras, s/d).
O Construtivismo é uma teoria que se embasa na interação do indivíduo com o
meio social, nada está pronto, tudo está em construção e o conhecimento não é algo
terminado (Becker, s/d).
Newell, Shaw, Simon, Chomsky, Bruner, Miller, Gallanter e Pribram fazem parte
do Enfoque da psicologia cognitiva atual. Nesta teoria, os fenômenos externos
(comportamentistas) foram postos em segundo plano para dar importância aos internos,
tais como a percepção, a atenção, a memória, o pensamento e a linguagem.
Em seus relatos de 1960, Chomsky diz que já nascemos com uma gramática
universal, ou seja, um conjunto de regras gramaticais. Isto implica dizer que a criança
tem suporte biológico para falar qualquer idioma, mas na medida em que se desenvolve,
ela é exposta à determinada língua, reconhecendo fonemas e estruturas lingüísticas, por
exemplo.
Fizemos um breve resumo de algumas das principais teorias de aprendizagem.
Qual é a mais relevante? Entendemos que não existe a mais ou menos relevante, mas
podemos nos identificar com uma ou outra teoria. No meu processo de aprendizagem,
me identifico mais com as teorias cognitivistas, principalmente as de Piaget e Vygotsky,
sobretudo com relação aos estágios de maturação e o meio social. A criança deve estar
preparada para receber determinada informação e a interação com o meio e com os
demais faz com que ela aprenda.
Concordo com algumas posições dos behavioristas, pois alguns comportamentos
podem ser observáveis, principalmente quando se trabalha com atividades controladas.
O reforço positivo e/ou negativo (Skinner) é muito importante, tendo o cuidado de
sempre motivar o aluno a realizar corretamente determinada tarefa.

3. Competência Discursiva1.

O termo competência comunicativa foi cunhado por Hymes em meados da


década de 1960. Podemos subdividi-la em competências: gramatical, sociolingüística,
discursiva e estratégica (Canale, 1993). Em linhas gerais, a competência gramatical está
relacionada ao código lingüístico; a sociolingüística, ao uso e regras do discurso; a
discursiva, ao modo em que se combinam formas gramaticais e significados e a
estratégica, ao domínio das estratégias de comunicação verbal e não-verbal.
Considero-me competente nos quatro aspectos supracitados, pois tracei um
caminho relevante. Iniciei curso de língua espanhola, ingressei na universidade e fui
aprovado no teste de proficiência (ver item 4 deste trabalho). No entanto, minha
competência estratégica pode ser mais desenvolvida, especificamente os aspectos não-
verbais da língua.
Existem alguns fatores internos e externos que influenciam na aquisição de uma
segunda língua. Os primeiros estão relacionados a fatores físicos, psicológicos,
socioculturais e didáticos e os externos, ao ambiente de aprendizagem (Grinffin, 2005,
139). No meu caso, atribuo à metodologia de ensino e aos manuais didáticos o não
desenvolvimento da competência estratégica. Creio que quando houver a imersão em
um país de língua espanhola, esta competência será desenvolvida.

4. Relato de experiência na aprendizagem de espanhol

Antes de iniciar sobre como se deu minha aprendizagem de espanhol, farei uma
breve explanação sobre os estilos de aprendizagem. Segundo Paiva (2005),

1
Os textos-base para este tópico e o de interlíngua são em espanhol. A tradução é de minha
responsabilidade.
estilos de aprendizagem são características internas nem sempre
conscientes. Associadas aos estilos estão as ações utilizadas pelos
aprendizes, geralmente, de forma consciente, para impulsionar sua
aprendizagem. Essas ações são as estratégias de aprendizagem.

Sabemos que existem sete estilos, quais sejam, físico, intrapessoal, interpessoal,
lingüístico ou verbal, matemático, musical e visual. Posso caracterizar, prioritariamente,
meus estilos a partir de três deles: intrapessoal, definido como aquele sujeito que
aprende sozinho e apresenta melhor desempenho quando deixado à vontade;
interpessoal, definido como aquele sujeito extrovertido, prestativo e que se relaciona
bem com todos e lingüístico/verbal, definido como aquele sujeito que tem facilidade ao
expressar-se como a palavra, seja na escrita ou na fala.
De forma menos intensa, tive menos influência dos estilos: físico, sujeito inquieto
e que se expressa bastante através do corpo; matemático, indivíduos que fazem uso do
raciocínio lógico, de números, solucionam problemas complexos; musical, indivíduos
que se interessam por sons e músicas, indentificando-os e visual, indivíduos que se
identificam com pinturas, cores e imagens.
Segundo Grinffin (2005, 91), o termo interlíngua foi utilizado pela primeira vez
por Selinker em 1972 e se referia à aquisição de L1. Selinker identificou algumas
estratégias que os aprendizes usam para chegar às hipóteses sobre os significados e usos
da língua: transferência (de L1), sobregeneralização de regras, transferência de
instrução, estratégias de aprendizagem e estratégias de comunicação.
A seguir relato minha experiência como estudante/professor de língua espanhola.
É possível identificar quais estilos de aprendizagem foram utilizados por mim até o
presente momento.
O início da minha aprendizagem de segunda língua deu-se aos 15 anos de idade,
no ano de 1998. Uma aluna do 2º ano do Ensino Médio organizou o curso e as aulas
foram ministradas na própria escola, COOPEFOR (Colégio Cooperativo de Fortaleza)
com duração de 2h/a, duas vezes por semana. O número de estudantes não ultrapassava
quinze.
Comecei a freqüentar o curso por curiosidade. Tinha certa familiaridade com a
língua inglesa e no decorrer das aulas descobri minha aptidão para idiomas. Anos
depois iniciei o francês e, no momento, estudo alemão.
O livro adotado no curso no colégio foi o Ven 12. Estudamos as unidades
correspondentes ao 1º semestre de um curso de idiomas. Em 2000.1 ingressei na Casa
de Cultura Hispânica da UFC no 2º semestre, após realizar teste de nível. Finalizei em
os sete semestres em 2002.2. Os livros adotados foram o Ven 1, Español Sin Fronteras
23 e 34 e Punto Final5.
Passei no vestibular para o Curso de Letras Português/Espanhol da UECE em
2000.2, onde conclui em 2004.2. Em 2005 me apresentei para a convocatória do teste de
proficiência do espanhol, D.E.L.E. nível Superior (Diploma de Español como Lengua
Extranjera6), no qual fui aprovado.
Um dos assuntos que ficaram bem consolidados na minha aprendizagem de
espanhol como língua estrangeira (ELE) foi o alfabeto. A professora no 1º semestre nos
passou todas as diferenças fonéticas e fonológicas entre o espanhol falado na Espanha e
na América.
No início, fazia algumas transferências do português para o espanhol, sobretudo
em palavras com escrita semelhante, por exemplo7, próprios (própio), laranja (naranja);
usava inadequadamente o acento, como em són (son), bién (bien). Para evitá-las
marcava um “X” e copiava ao lado a forma correta.
Quando ingressei no ensino superior, fiquei um pouco desmotivado. Na verdade,
estava revendo conteúdos de gramática vistos no curso de línguas na UFC. No entanto,
copiava tudo, assistia e participava de todas as aulas, como forma de revisar os assuntos
e/ou aprender algo novo que não fora fixado no curso de espanhol. Confesso que nos
primeiros dois anos, não tive dificuldades para acompanhar as aulas na graduação como
alguns colegas de sala. Fazia os trabalhos com afinco e dedicação. Quando começamos
a estudar a literatura hispano-americana e espanhola, voltei a ficar motivado. Saímos
das regras gramaticais e partimos para outro universo.
Durante o processo de aprendizagem do espanhol até o presente momento faço
uso de algumas técnicas, quais sejam, a cópia de palavras desconhecidas como forma de

2
VIUDEZ, F. C et al. Ven 1. Libro del Alumno. 3ª reimp. Madrid: Edelsa, 1997.
3
LOBATO, J. S. Español sin fronteras 2. 2ª ed. Libro del Alumno. Nivel Intermedio. Madrid: SGEL,
1999.
4
____________. Español sin fronteras 3. 2ª ed. Libro del Alumno. Nivel Avanzado. Madrid: SGEL,
2000.
5
LOSA, M. del C. M de la y RODRÍGUEZ, M. R O. Punto Final. Curso Superior E.L.E. 1ª reimp.
Madrid: Edelsa, 1998.
6
http://diplomas.cervantes.es/index.jsp
7
Os exemplos deste trabalho foram extraídos dos livros, das anotações em sala, das avaliações, que fiz
durante meu processo de aprendizagem de espanhol na Casa de Cultura Hispânica e na UECE.
fixar e ampliar o léxico; analogias entre a língua materna, português, e a língua-alvo;
fixação de estruturas lingüísticas, semânticas e pragmáticas da língua espanhola; leitura
de livros/jornais/revistas em espanhol; audição e cópia de músicas (“tirar de ouvido”);
assisto filmes/DVD em espanhol; pesquiso na internet; procuro participar de eventos
acadêmicos voltados para o ensino/pesquisa de língua espanhola, dentre outros.

5. Conclusão

Neste breve relato, tentei sintetizar as teorias apreendidas em sala de aula e minha
prática como aluno/professor de língua. Existe todo um processo que inclui diversas
variantes e o conjunto de todos estes fatores eclode na aprendizagem. No entanto,
fatores adversos se apresentaram e cabe ao aprendiz ou professor tentar solucioná-los.

6. Referências Bibliográficas

BECKER, F. O que é o construtivismo?


http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_20_p087-093_c.pdf. acessado em 7.7.08.
CANALE, M. De la competencia comunicativa a la pedagogia comunicativa del
lenguaje. In: M. Llobera et al. Competencia comunicativa: documentos básicos en la
enseñaza de lenguas extranjeras. Madrid: Edelsa, 1993, pp. 63-81.
GRIFFIN, K. Interlengua. In: K. Grinffin. Lingüística Aplicada a la ensenañza del
español como 2/L. Madrid: Editorial Arcos/Libros, 2005, pp. 91-102.
___________. Los factores personales que afectan la adquisición de una segunda
lengua. Lingüística Aplicada a la ensenañza del español como 2/L. Madrid: Editorial
Arcos/Libros, 2005, pp. 139-156.
SCARPA, E.M. Aquisição da linguagem. In: MUSSALIM, F.; BENTES, A.C. (orgs).
Introdução à lingüística: domínios e fronteiras, v. 2. 5ª ed. São Paulo: Cortez, 2006,
pp. 203-232.
PAIVA, V.L.M.O. Refletindo sobre estilos, inteligências múltiplas e estratégias de
aprendizagem In: PAIVA, V.L.M.O. (Org.). Práticas de ensino e aprendizagem de
inglês com foco na autonomia. Belo Horizonte: Faculdade de Letras da UFMG, 2005.
pp. 11-30. http://www.veramenezes.com/estilo.html. Acessado em 7.7.08.
PARREIRAS, M.C. de O. A aprendizagem na teoria do condicionamento.
http://www.anacris.ufjf.br/Site%20GestaoEaD/textos/behaviorismo.pdf. acessado em
7.7.08.
_______________________. A aprendizagem na teoria psicológica genético-
cognitiva de Piaget e Vygotsky.
http://www.geocities.com/celitaparreiras/genecog.htm. acessado em 7.7.08.

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