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Seria por volta da meia-noite quando alçamos voo no balão espacial que devia conduzir-nos da
Terra à Júpiter, atravessando aquela vasta infinidade orbitaria que nos separava da bem-
aventurança conquista por Juno. Harmônicos pensamentos eram os meus naquele momento.
A lua resplandecia brilhante e as estrelas cintilavam virtuosas: era um horizonte cósmico tão
belo como o que mais o fosse nos devaneios pueril. De um lado gravitacionavam-se satélites
com as suas crateras e depressões, solos tortuosos semelhantes ao nosso, e a povoação com
os seus edifícios cobertos de vegetações excêntricas, que nos faziam esquecer aqueles
horríveis tetos terráqueos de fumaça negra, espécie de fumo do mais imundo tabaco,
penduradas pelos corvos sobre as suas cidades, e em que parece ver-se as feições infestas de
Plutão, rindo-se de tamanhas toxidades.
Do outro lado dilatava-se o vácuo, nas trevas e caligens do espaço, que se interpunha entre
nós e o Dis Pater, o deus romano; entre nós e esse planeta, que para a miséria das nações
terráqueas — seca, árida, asfixiante — é como um sopro de esperança; porque lá, em meio a
tufões e ..., está contido a paz que amanhã acalmará as nossas carnes, tanto no que respeita as
questões sociais, como no que interessa a carência e a literatura; porque lá vivem os escritores
que melhor conhecemos; que, até, amamos como se foram nossos: planeta, a cujos hábitos,
tradições, sucessos e glorias nos têm associado os seus livros, sem o sentirmos, sem, talvez, o
querermos. Ao aproximarmo-nos de Júpiter o coração não bate violento, nem se derramam
lágrimas, como ao avistar a terra em que nascemos; mas o animo desafoga-se, e abre-se a
esperança; vamos tratar homens, que nunca vimos, mas com quem de largo tempo vivemos
pelas intimas relações dos afetos e da inteligência.