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A HISTORIOGRAFIA MARANHENSE SOBRE A DITADURA CIVIL-

MILITAR E SEUS USOS NO ENSINO DE HITÓRIA: Alguns apontamentos


Paulo Leandro da Costa Moraes1

Introdução
Se avolumam os trabalhos que buscam enfatizar a importância da história regional/local
no ensino de história. Por outro lado, a diversificação da produção historiográfica
maranhense e especificamente da Ditadura Civil-militar não tem atingido de forma
significativa as aulas de história na educação básica. Entre as explicações mais comuns
está a sobreposição de uma historiografia nacional sobre o que é produzido no estado,
sobretudo, no que diz respeito a nacionalização de narrativas históricas que não são
capazes de abarcar a multiplicidade de realidades do país, o que também se reflete nas
aulas de história. Além disso, destacam-se a falta de materiais próprios, sobretudo, no
ensino fundamental, e os equívocos cometidos pela legislação concernente a questão.

Metodologia
Esse trabalho tem como foco principal as relações entre uma historiografia dita
nacional e as produções historiográficas regionais, para isso levar-se-á em consideração
o que foi proposto por Michel de Certeau (1975) na “operação historiográfica” a fim de
sopesar as temáticas que se tornaram predominantes nas análises dos historiadores
maranhenses sobre a segunda metade do século XX, e buscando oportunizar uma relação
entre narrativa e contexto. Essas considerações a respeito da escrita da história denotam
o cuidado metodológico que se deve ter ao recorrer a produção historiográfica como fonte
principal, destacando as relações dessas produções com seus espaços e momentos de
criação, o que possibilita o aprofundamento da compreensão sobre elas e suas relações
com uma cultura histórica. Além disso, alguns outros cuidados metodológicos se fazem
necessários para a formulação da presente pesquisa, como é o caso do tratamento dos
conceitos enquanto resultado de condições históricas, levando em conta o que é
evidenciado por Reinhart Koselleck (2006, p.103) sobre a “história dos conceitos e suas
implicâncias socias e políticas”: “um método especializado da crítica das fontes que
atenta para o emprego de termos relevantes do ponto social e político e que analisa com
particular empenho expressões fundamentais de conteúdo social e político”. Não pode
ficar de fora uma preocupação metodológica com as biografias que comporão o
dicionário. No que diz respeito a análise de trajetórias é importante levar consideração o
que foi definido por Pierre Bourdieu (2006, p.185-190) na “ilusão biográfica”, para o qual
[...] “produzir uma história de vida, tratar a vida como uma história, isto é, como o relato
coerentes de uma sequência de acontecimentos com significado e direção, talvez seja
conformar-se com uma ilusão retórica”, para tanto, não é possível compreender uma
trajetória em seu próprio desenrolar, sem que se leve em conta a necessidade de perceber
os personagens em suas multiplicidades.

Fundamentação teórica
Entre as conceituações fundamentais para compreensão do presente trabalho,
estão a noção de cultura histórica, tal como formulado por Jacques Le Goff, para quem a
“história da história não deve se preocupar apenas com a produção histórica profissional,
mas com todo um conjunto de fenômenos que constituem a cultura histórica ou melhor,
a mentalidade histórica de uma época”. (2010, p.49) assim sendo esse trabalho, embora

1
Mestrando em História e bolsista do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual
do Maranhão e Membro do Núcleo de Pesquisa em História Contemporânea (NUPEHIC) coordenado pela
Dr. Monica Piccolo Almeida Chaves.
tenha como ponto de partida a produção historiográfica e temáticas proeminentes no
campo da escrita histórica profissional no Maranhão, busca estabelecer relações de cunho
mais amplos que permitam a relação entre aquelas produções e o seu meio histórico, suas
condições de produção e reprodução. Atrelado a este temos o conceito de consciência
histórica, que para Jörn Rusen (2001, p.56) é um “processo genérico e elementar do
pensamento humano” presente em todas as formas de conceber o conhecimento, o
conceito permite operacionalizar as relações entre a produção historiográfica como fruto
de uma consciência que determina a forma de compreensão do contexto histórico, e os
diálogos que estabelece com a sociedade de modo mais geral. Outro conceito na
formulação desse trabalho é a noção de transposição didática expresso por Chevallard
(s.d) no qual “o elemento de saber deverá ter sofrido certas deformações que o tornarão
apto a ser ensinado” (CHEVALLARD, s.d., p. 16) e tem início na seleção e estruturação
do saber a ensinar em uma noosfera, e sofrem adaptações que o tornarão “objetos de
ensino”. O contraste entre saber acadêmico e saber ensinado possibilita “a articulação da
análise epistemológica com a análise didática que pode revelar a especificidade da
construção didática realizada” (MONTEIRO, 2003, p.16).

Considerações finais
Essa pesquisa tem como preocupação a construção historiográfica e suas
condições de criação com o intuito de sopesar suas problemáticas, desafios e
possiblidades; e atrelado a isto, discutir elementos próprios de uma linguagem histórica
que permitem a dinamização do ensino escolar nas aulas de história, e a produção de
ferramenta que permita a interlocução de uma história dita nacional e as multiplicidades
e contribuições regionais. Pretende-se que o papel do conhecimento regional não se
prende somente as constituições de uma identidade histórica ao qual o sujeito se relaciona,
mas a permite a complexificação daquela história hegemônica, permitindo uma visão
mais heterogênea da realidade histórica nacional.
Palavras-chave: Ensino de História. Ditadura Civil-militar. Historiografia Maranhense.

REFERÊNCIAS

BOURDIEU, Pierre. A ilusão biográfica. In: AMADO, Janaína e FERREIRA, Marieta


de Moraes (Orgs.). Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006.

CERTEAU, Michel. A escrita da História. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010.


P. 45.

CHEVALLARD, Y. La transposición didáctica. Del saber sabio al saber enseñado.


Buenos Aires: Aique Grupo Editor, s.d.

KOSELECK. Reinhart. Futuro Passado: Contribuição a semântica dos tempos


históricos. Rio de Janeiro: Contraponto: Ed. PUC-Rio, 2006.

LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas, SP Editora da UNICAMP, 1990.

MONTEIRO, Ana Maria F. C. A história ensinada: Algumas configurações do saber


escolar. In: História & Ensino, v. 9, out. 2003. p. 37-62.

RÜSEN, Jörn. Razão histórica: teoria da história: fundamentos da ciência histórica.


Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2001

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