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O QUE É DITADURA DA BELEZA?

 Equipe Psicanálise ClínicaPosted in Comportamento, Psicanálise e Cultura


Estamos inseridos em uma sociedade pautada pela mídia que, por sua vez, estabelece padrões de beleza
praticamente inalcançáveis. Espera-se um corpo magro, cabelos maravilhosos, pele impecável, entre outros, tudo
vale na busca da perfeição. Desse modo surgiu o conceito de ditadura da beleza.
Na busca pelo corpo perfeito, muitas vezes, acredita-se valer qualquer artifício. Pensando nisso, existem pílulas
emagrecedoras, dietas mirabolantes, procedimentos cirúrgicos, cosméticos e outros inúmeros “caminhos” para
chegar ao padrão desejado.
O maior foco da indústria da beleza
O mercado de beleza, atualmente, é voltado para todos os sexos. Mas, até mesmo por um contexto histórico, seu
foco principal ocorre com o público feminino. São diversos procedimentos estéticos, maquiagem, regimes, cirurgias,
entre outros, tudo para alcançar o corpo desejado.
A mídia por sua vez, reforça a ditadura da beleza, vendendo a imagem de “corpo perfeito”. Modelos, atrizes,
apresentadoras, figuras da mídia em geral, possuem sempre o padrão de corpo que é esperado e aceitado pela
sociedade.
O cenário da beleza no Brasil
O mercado de beleza brasileiro é um dos que mais cresce ao redor do mundo. Uma matéria realizada pela  EXAME,
relata que, segundo uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e
Cosméticos (ABIHPEC) em parceria com o Instituto FSB de Pesquisa, o mercado brasileiro é o 3º na lista de maiores
mercados de beleza do mundo. Ocupando, então, uma posição de destaque, ficando atrás apenas dos Estados
Unidos e da China.
As proporções gigantescas de vendas do mercado de cosméticos no país é um prato cheio para o crescimento e
estabelecimento da ditadura da beleza. Sendo que, é a mesma que reforça a vontade de compra nos consumidores,
o que leva o Brasil a ocupar um lugar tão alto na lista. Portanto, essa relação funciona como um ciclo, em que uma
alimenta e ao mesmo tempo é alimentada pela outra.

A falta de representatividade
As pessoas comuns, principalmente as mulheres, ao olhar para a mídia, não encontram nenhuma representatividade.
A falta de uma representação do seu corpo aumenta, por sua vez, a crença de que o corpo que se possui não é o
ideal. Desse modo, a autoestima de varias pessoas acaba sendo abaladas.
Essa falta de representatividade, porém, não ocorre apenas durante a vida adulta. Ela começa ainda na infância,
quando a criança, principalmente as crianças gordas, negras e portadoras de deficiência, buscam e não encontram
representatividade alguma. Tendendo então a se considerarem feias e inadequadas.
Outras crianças, porém, podem ser afetadas por esse fator, apenas por não se encaixarem em algum padrão
estabelecido pela sociedade. É importante entender que isso pode continuar as afetando durante todo o seu
crescimento e até mesmo na vida adulta.
A era tecnologia reforça os padrões de beleza
Vivemos atualmente em um cenário prioritariamente tecnológico. As vidas pessoais são o tempo todo compartilhadas
nas redes sociais. Muitos youtubers e blogueiros de estilo de vida, moda e comportamento, vendem a imagem de um
corpo perfeito. Nesse contexto, tudo é fotografado ou filmado e postado nas redes sociais.
Então, existe uma vontade da maioria, de mostrar uma imagem que seja aceita perante a sociedade. Tendo um corpo
que seja considerado bonito, o que, nas redes sociais, é capaz de agregar status social.

O papel da saúde na ditadura da beleza


Apesar da existência de muitos profissionais qualificados, como médicos, nutricionistas, endocrinologistas e outros,
quem busca se encaixar no padrão de beleza tem pressa. Portanto, muitas vezes, esses profissionais são deixados
de lado para se alcançar um emagrecimento mais rápido, ou um rosto mais “bonito” da maneira mais fácil possível.
Sendo assim, muitos recorrem a dietas absurdas que prometem perca de muitos quilos em poucos dias. Alguns a
procedimentos cirúrgicos desnecessários e que, apesar de seguros em sua maioria, continuam sendo cirurgias e
envolvendo riscos. Algumas mulheres se tornam escravas da maquiagem por não conseguirem aceitar bem seu
próprio rosto. Enfim, a saúde fica em segundo plano, pois o resultado mais rápido é priorizado.

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A luta contra a idade
Além da luta contra o peso e contra traços físicos indesejáveis, luta-se também contra o tempo. A beleza é associada
geralmente a juventude, o que reforça que o avanço da idade deve ser evitado. Começa, então, uma luta por uma
causa perdida.
Visto que o envelhecimento é algo inerente ao ser humano, não existe nada que possa ser feito para que o mesmo
seja interrompido. Então, nessa luta, assim como nas demais, é inevitável que ocorra certa frustração, o que pode
levar os indivíduos a problemas sérios.

Desafios da mulher moderna


As escolhas das mulheres variam de acordo com os tempos à medida em que seu horizonte de escolhas se amplia e
novas experiências são consideradas
É inegável que portas para as grandes oportunidades de emprego foram, enfim, abertas para as mulheres. No
entanto, décadas após tal conquista das mulheres, constatou-se que elas não chegavam a cargos importantes de
liderança na proporção esperada, a corresponder às suas qualificações. "Se o machismo dos dirigentes explica ainda,
em parte, tal situação, outro fator contribui para o abismo das lideranças: o abandono do mercado de trabalho por
mulheres que pertencem ao extrato de maior nível de instrução", explica a psicanalista Malvine Zalcberg.
Referência internacional em comportamento feminino, a profissional também é autora dos livros 'Amor paixão
feminina' e 'A relação Mãe e Filha', e fala ao Estado sobre os desafios da mulher moderna.

Malvine Zalcberg é psicanalista e referência internacional em comportamento feminino


Malvine Zalcberg é psicanalista e referência internacional em comportamento feminino Foto: Divulgação

Qual é o perfil da mulher moderna?


A tendência de muitas mulheres modernas tem sido a de conciliar um grande e variado número de atividades em
áreas de seu interesse, dado o amplo espectro de realizações lhe sendo atualmente facultadas. Não que seja tarefa
fácil equilibrar exigências da profissão e da família, além das de interesse pessoal.
Não sei como ela consegue (I don't know how she does it, 2011), filme dirigido por Douglas McGrath, ilustra como
uma mulher moderna, Kate Reddy, quer ser multifuncional e perfeita: trabalha fora de casa como analista financeira,
educa dois filhos, Emily e Ben, cuida do marido Richard e de si mesma para se manter elegante e arrumada. Ela
passa noites insones tentando, através de intermináveis listas mentais, dar conta de seus afazeres para o dia
seguinte, sempre se culpando por não ter cumprido algo da lista do dia anterior: "levar Emily para a escola; dedicar-se
ao trabalho; dar mais atenção ao marido; eventos beneficentes, luzes de Natal, aniversários". Kate até que consegue
equilibrar estes dois lados de sua existência - as tarefas domésticas como mãe de família e as responsabilidades
profissionais, decorrentes de seu trabalho -, embora tenha de desenvolver habilidades para enfrentar a acirrada
competição dentro da empresa e malabarismos para lidar com os conflitos domésticos.

Muitas mulheres "pós-modernas" fazem escolhas para conciliar vários aspectos de suas existências ou resolvem
dedicar-se seja mais (ou preferencialmente) à carreira, à maternidade ou ao casamento. Não há definitivamente uma
solução para todas as mulheres. Elas são "únicas" e as soluções para as suas vidas também o são.
As conquistas das mulheres ao longo dos anos também geraram muitas frustrações, não só por terem de conviver e
compartilhar (até competir) num universo predominantemente machista, mas também porque a mulher, naturalmente,
se sente culpada por tentar equalizar o tempo entre trabalho e família. Essas características são menos impactantes
(ou até nulas) nos homens. Como explicar isso?
Nossa cultura ocidental ainda é ambivalente sobre o papel da mulher; por um lado, continua preconizando a figura da
mulher dedicada aos filhos, em casa e, por outro, eleva o trabalho ao status de uma religião; uma cultura que as
próprias mulheres, em grande parte, contribuíram para formar.
É comum as mulheres, mesmo preparando-se para assumir uma carreira, irem, ao longo de seus anos de formação,
reservando espaço em sua vida para "outras realizações" além da profissional; podem, em função delas, tomar
decisões que vão refreando planos de carreira, para que não sejam tomadas por "inteiro". É um dos principais
motivos pelos quais não ocupam, proporcionalmente ao seu preparo, posições-chave em empresas públicas ou
privadas. Um fenômeno comumente identificado como "teto de vidro".
Pode até parecer ambição profissional de menos. Mas pode ser ambição geral demais. A mulher é ambiciosa
também na vida pessoal e não só na profissional. Ela tenta fazer muito, e bem.
A mulher não tem definitivamente a mesma relação com o binômio família/ carreira que o homem tem. Para ele, o
pressuposto é que pode ter uma vida profissional de sucesso e uma vida pessoal completa. Embora sofra cada vez
maior pressão da mulher para que se dedique mais à família (por que só ela?), não o vemos "abandonando" (ou
diminuindo horas da) carreira com esse intuito. O homem equaciona mais facilmente os aspectos de família e
trabalho em sua vida: "É o que dá para conciliar; é pena, mas é isto".
A mulher não toma como acertada e definida a equação trabalho/ família como o homem faz. Mesmo engajada numa
atividade profissional, ela leva muito mais em conta (e se preocupa com) o tempo que reservará à família (ao marido
e filhos), zelando pelo seu papel particular na mesma.

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Quais são as novas formas que as mulheres estão buscando para equilibrar família e profissão?
As mulheres que trabalham comparam sua responsabilidade como mães àquelas que se dedicam exclusivamente à
família, mães dedicadas. Quando uma mãe com pressa para chegar ao trabalho, deixa o filho na porta da escola e vê
como a "outra" mãe permanece ali para acompanhar e conversar com outras mães, pode ficar preocupada de que tal
atitude possa vir a prejudicar o filho, que ela não estaria dando a ele o melhor (dela). Pode, aliás, sofrer pelo olhar de
reprovação daquelas mães dedicadas, lembrando-lhe que não está sendo mãe adequada. Como se precisasse disso
para reforçar suas próprias dúvidas de não estar à altura como mãe!
Uma forma de tentar equilibrar família/ profissão é, de acordo com a jornalista americana Lauren Sandler, a mulher
ter um só filho, uma tese sustentada em seu livro Primeiro e único (One and only, 2013). Representaria, segundo a
autora, uma forma de reconciliar maternidade e modernidade.
Não há dúvida que as mulheres estão procurando resolver estas questões que são essencialmente femininas, já que
profissão, maternidade e casamento são caminhos de realização da identificação feminina por excelência.
As mulheres hoje têm maior possibilidade de escolha e maior poder de decisão. Elas já optam por não ter filhos para
dedicarem-se à carreira, ou deixam uma carreira promissora para dedicarem-se à família; congelam os óvulos para
poderem ter ambos, tudo a seu tempo. Mas essa gama de possibilidades não pode fazer com que se sintam ainda
mais frustradas?
Maiores possibilidades ofertadas às mulheres fazem parte da evolução da história das mulheres e devem ser
encaradas exatamente como conquistas.
A grande questão é a mulher se dar conta dos motivos que as levam a realizar determinadas escolhas. Já estamos
na segunda ou terceira geração de mulheres que puderam exercer escolhas, e o que constatamos?
As opções de mãe à filha oscilam. Testemunhamos mulheres influenciadas pelas escolhas que suas mães fizeram
entre dar ênfase à carreira ou à família e pelos efeitos que tais escolhas causaram nas próprias mães e nas filhas.
Vemos mulheres jovens, na faixa de 25 a 40 anos, casadas e com filhos, abandonando carreiras porque acham que a
mãe estava sempre ausente, engajada em seu trabalho, e elas se haverem ressentido profundamente desse fato.
Elas querem fazer melhor. E mostrar às mães como se é mãe dedicada; no que elas, sem dúvida, se tornam. Mas,
para tanto, precisam, invariável e constantemente, ser aprovadas, reconhecidas e elogiadas nesta função.
Marta é exímia organizadora das múltiplas atividades dos filhos, às quais dedica grande parte de sua vida. No
entanto, como é profissionalmente preparada para exercer uma carreira fora do lar - e não a exerce - no fundo, se
ressente da liberdade com a qual o marido se dedica à sua. Não faltam recriminações de sua parte do quão pouco
ele se devota à sua família, privilegiando a carreira. Tais críticas, pronunciadas em alto tom de irritabilidade e em
termos agressivos, provocam o distanciamento progressivo do marido, que considera injustas e ofensivas essas
apreciações de sua pouca participação na vida dos filhos. Um ciclo interminável de cenas desagradáveis se sucede
entre o casal, a tensão entre eles não podendo deixar de ter efeito nas três crianças pequenas que as testemunham.
Provavelmente, a filha deste casal será a mais afetada dos filhos pela decisão da mãe em preferir se dedicar à família
à carreira porque tal decisão tem origem num conflito de sua mãe com sua avó. Para escapar dos efeitos desse
conflito pelo qual foi atingida, é possível que tome uma posição diferente da mãe e se encaminhe para adotar a
escolha da avó: favorecer a carreira. Principalmente porque deve ter percebido que a opção da mãe não a fizera
feliz. É bem possível que chegada à adolescência quando um distanciamento da figura materna se faz possível,
pergunte à mãe: " Você que tinha uma profissão, por que não a exerceu e foi menos infeliz?"

Quais são os desafios que a mulher moderna deverá enfrentar daqui para frente?
A mulher deverá procurar fazer escolhas que lhe convém. O essencial é que tenha em mente que não há uma forma
de ser mulher, mas uma forma que convém a cada mulher ser. Para Freud: "mulher não nasce uma; se torna".
A cada uma de se inventar e reinventar, segundo sua história e o momento de vida que atravessa. É preciso guardar
em mente que esta construção deve constantemente ser retomada e repensada para cada ser cujo destino é o de se
tornar mulher.
Malvine Zalcberg, psicanalista, é autora de dois livros 'Amor paixão feminina' e 'A relação Mãe e Filha- 12ed.', que
destrincham o universo das mulheres, foi professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) por 26
anos e atualmente se dedica ao exercício da prática clínica e de participações em congressos e seminários de
psicanálise no Brasil e Europa. Malvine é colunista convidada da revista 'Marie Claire' francesa e tem os seguintes
livros publicados no exterior: "Cosa pretende una figlia dalla propria madre? " (Itália), "Ce que l'amour fait d'elle"
(França), "Qu'est-ce qu'une fille attend de sa mère ?" (França)

DESAFIOS DA MULHER AFRICANA


31 de Julho, 2017
África debate-se hoje com muitos desafios e cresce a percepção de que a busca de solução para grande   parte
destes problemas não ocorre enquanto não existir maior envolvimento do grupo populacional maioritário no
continente.
As mulheres representam em todos os países de África o maior segmento da população e, embora existam exemplos
notáveis de fortalecimento do seu papel em determinadas regiões, não há dúvida de que estamos ainda longe dos
números pretendidos.

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Hoje, comemora-se o Dia da Mulher Africana, uma efeméride que lembra a todos os africanos  a condição da mulher,
marcada ainda por desafios que acabam por emperrar a vida de todos. É preciso que as iniciativas institucionais,
públicas e privadas, para erradicar aqueles indicadores sociais que mais afligem as famílias e as mulheres em
particular continuem a efectivar-se com eficácia e acompanhamento. Não basta promover-se campanhas de
erradicação do analfabetismo se as entidades a elas ligadas não forem persistentes e se o referido processo não ter
sustentabilidade.
O mesmo se torna válido para o desempenho escolar, um desafio muito grande em muitas comunidades, urbanas e
rurais, em que os níveis de desistência das mulheres por via da gravidez precoce têm sido muito altos.
Em Angola, temos uma realidade, sobretudo no que a condição da mulher diz respeito, que lembra a cada angolano,
a cada família e comunidade, bem como a cada instituição, a longa caminhada que ainda temos pela frente.
Fizemos muitos progressos comparativamente aos anos anteriores e a muitas regiões do continente, fruto empenho
do Executivo para com as questões  que afectam o género geral e as mulheres em particular.
Desde a componente legislativa à materialização de importantes projectos, o país viu nascer numerosas iniciativas no
sentido da promoção da mulher, facto que deve ser seguido de maior proactivismo por parte das
mulheres. Independentemente das tradições e costumes, em largas parcelas do território nacional, continuarem a
relegar para as mulheres papel e função que as leis e maioria dos angolanos repudia, estamos certos de que a boa
causa vai triunfar. Não podemos negar que estamos num processo em que o tempo e a história vão acabar por estar
do lado daqueles que advogam tratamento igual para mulheres e homens, tal como impõe a Constituição da
República.
A maioria dos angolanos, hoje, desde as zonas rurais, profundamente  marcadas pelo Direito Costumeiro, às zonas
urbanas, reconhece que não podemos esperar por avanço e progresso enquanto as mulheres estejam em condições
inferiores à dos homens.
Mais do que constituir suposto ganho ou vantagem para os homens, manter as mulheres numa condição   inferior e
desigual relativamente aos homens apenas contribui para atrasos consideráveis para a toda a sociedade. É verdade
que, relativamente a condição das mulheres, continuamos a enfrentar desafios todos os dias, sendo o mais
importante o conjunto de avanços registados e mudanças que testemunhamos em todo o país. Não estamos mal
comparativamente a muitas regiões do mundo no que a condição da mulher diz respeito, independentemente das
barreiras ainda por transpor para que tenhamos uma sociedade mais equilibrada do ponto de vista de direitos e
deveres para mulheres e homens. E não há dúvidas de que ao ritmo em que evoluímos, com as reformas e
mudanças que a sociedade regista à medida que aumenta a consciencialização e sensibilidade para com a situação,
mais progressos alcançaremos, para bem da mulher e famílias africanas.  

História
Uma origem mundial para a data
A ideia de criar o Dia da Mulher surgiu entre o final do século XIX e o início do século XX nos Estados Unidos e
na Europa, no contexto das lutas feministas por melhores condições de vida e trabalho, e pelo direito de voto. Em 26
de agosto de 1910, durante a Segunda Conferência Internacional das Mulheres Socialistas em Copenhaga, a
líder socialista alemã Clara Zetkin propôs a instituição de uma celebração anual das lutas pelos direitos das
mulheres trabalhadoras,[5][6] sem contudo fixar uma data específica.[3]
As celebrações do Dia Internacional da Mulher ocorreram a partir de 1909 em diferentes dias de fevereiro e março, a
depender do país.[1] A primeira celebração deu-se a 28 de fevereiro de 1909 nos Estados Unidos, seguida de
manifestações e marchas em outros países europeus nos anos seguintes, usualmente durante a semana de
comemorações da Comuna de Paris, no final de março. As manifestações uniam o movimento socialista, que lutava
por igualdade de direitos econômicos, sociais e trabalhistas, ao movimento sufragista, que lutava por igualdade de
direitos políticos.
No início de 1917, na Rússia, ocorreram manifestações de trabalhadoras por melhores condições de vida e trabalho e
contra a entrada da Rússia czarista na Primeira Guerra Mundial. Os protestos foram brutalmente reprimidos,
precipitando o início da Revolução de 1917.[7] A data da principal manifestação, 8 de março de 1917 (23 de fevereiro
pelo calendário juliano), foi instituída como Dia Internacional da Mulher pelo movimento internacional socialista.
Na década de 1970, o ano de 1975 foi designado pela ONU como o Ano Internacional da Mulher e o dia 8 de março
foi adotado como o Dia Internacional da Mulher pelas Nações Unidas, tendo como objetivo lembrar as conquistas
sociais, políticas e econômicas das mulheres, independente de divisões nacionais, étnicas, linguísticas, culturais,
econômicas ou políticas.
Copenhague, 1910. VIII Congresso da Internacional Socialista: na frente, Alexandra Kollontai e Clara Zetkin.
Sobre a origem de comemoração do Dia Internacional da Mulher não há concordância absoluta diante das múltiplas
manifestações de luta de mulheres por todo o mundo. A professora e filósofa socialista estado-unidense Angela
Davis cita um evento ocorrido em 1908 em que "as mulheres socialistas do Lower East Side, em Nova York,
organizaram uma manifestação de massa em apoio ao sufrágio igualitário, cujo aniversário [do Dia da Mulher seria]
comemorado".[8] Mas, o objetivo das manifestações ainda eram lutas dispersas por diversos direitos específicos, e no
caso apontado, era o direito das mulheres ao voto nos Estados Unidos.

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Após isto uma das primeiras celebrações do dia da mulher foi no dia 28 de fevereiro de 1909 nos Estados Unidos, por
iniciativa do Partido Socialista da América, em memória de uma greve, realizada no ano anterior, que mobilizou as
operárias na indústria do vestuário de Nova York contra as más condições de trabalho.[9]
Em 1910, ocorreu a primeira conferência internacional de mulheres, em Copenhagen, Dinamarca, dirigida
pela Internacional Socialista, quando foi aprovada a proposta, apresentada pela socialista alemã Clara Zetkin, de
instituição de um Dia Internacional da Mulher, embora nenhuma data tivesse sido especificada.[9][10][11] No ano
seguinte, uma comemoração do Dia Internacional da Mulher foi observada no dia 19 de março na Áustria, Dinamarca,
Alemanha e Suíça, onde mais de um milhão de homens e mulheres participaram de manifestações que exigiam os
direitos de votar e ser votada, de trabalhar, de receber educação vocacional e, também, o fim da discriminação no
trabalho.[9]

Controvérsias sobre as origens


Por muitos anos, associou-se o dia 8 de março à ocorrência de grandes incêndios em fábricas, no início do século,
quando dezenas de operárias teriam perecido. O mais conhecido desses incidentes é o incêndio na fábrica da
Triangle Shirtwaist, que realmente ocorreu, em 25 de março de 1911, às 5 horas da tarde, e matou 146
trabalhadores: 125 mulheres e 21 homens. A fábrica empregava 600 pessoas, em sua maioria mulheres imigrantes
judias e italianas, com idade entre 13 e 23 anos. Uma das consequências da tragédia foi o fortalecimento do
Sindicato Internacional de Trabalhadores na Confecção de Roupas de Senhoras, conhecido pela sigla inglesa
ILGWU. A acadêmica Eva Blay considera "muito provável que o sacrifício das trabalhadoras da Triangle tenha se
incorporado ao imaginário coletivo da luta das mulheres", mas ressalta que "o processo de instituição de um Dia
Internacional da Mulher já vinha sendo elaborado pelas socialistas americanas e européias desde algum tempo antes
e foi ratificado com a proposta de Clara Zetkin."[12]
Na mesma linha, a historiadora espanhola Ana Isabel Álvarez González explica, no livro As origens e a comemoração
do Dia Internacional das Mulheres (publicado em 2010 no Brasil pela editora Expressão Popular), que a origem da
data passa ao mesmo tempo pelos Estados Unidos e pela Rússia soviética. A autora, que buscou fontes
primárias tanto na historiografia americana quanto na espanhola, confirma que o incêndio da Triangle realmente
ocorreu em 1911, no dia 25 de março - e não no dia 8, lembrando que 8 de março de 1911 foi um domingo, data
improvável para a deflagração de uma greve. Embora incêndios desse tipo não fossem incomuns à época, González
ressalta que o incêndio foi muito significativo para o movimento operário norte-americano e para o movimento
feminista. Mas, sozinho, o incidente não explica a origem do Dia Internacional da Mulher.[13]
Além do incêndio da fábrica Triangle, que efetivamente aconteceu, há uma outra história bem parecida, que parece
ter sido uma simples invenção. Em 1955, Liliane Kandel e Françoise Picq escreveram, num artigo do
jornal L'Humanité, sobre o mito de que a data teria como origem a celebração da luta e da greve de trabalhadoras no
setor têxtil de Nova York, em 1857 — as quais teriam sido duramente reprimidas pela polícia ou mortas em um
incêndio criminoso na fábrica, conforme as diferentes versões do mito. Não há indícios de que isso tenha ocorrido e,
segundo as autoras, tais versões parecem ter sido criadas pela Union des Femmes Françaises, que pretendia
converter a comemoração do Dia da Mulher em uma espécie de Dia das Mães, totalmente desprovida de qualquer
sentido de luta feminina, tal qual se tornara na URSS e nos países do bloco soviético

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E SEXUAL CONTRA A MULHER: REVISÃO INTEGRATIVA


Lucas Nonato de Oliveira, Fernanda Soares de Oliveira, Lucian Matias Araujo, Luciano Lucindo da Silva, Zeile
da Mota Crispim, Valéria Borges Domingues Batista Lucindo

RESUMO

A violência doméstica e sexual atinge mulheres de todas as classes sociais, raças e culturas. Afetando assim o bem
estar, a segurança, o desenvolvimento pessoal, profissional, e acima de tudo a auto-estima das mulheres, tornando-
as frágeis e inseguras. O estudo teve como objetivo analisar a violência doméstica e sexual sofrida pela mulher
brasileira e trata-se de uma revisão integrativa da literatura das publicações nos periódicos indexados nas bases de
dados Literatura Latino-Americana em Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific Electronic Library Online (SciELO). A
busca dos artigos foi realizada por meio dos descritores: violência contra a mulher, violência doméstica, maus-tratos
conjugais, mulheres mal tratadas, foram selecionados 12 artigos. O estudo mostrou que tem maior ocorrência de tais
atos no país quando associados ao o uso de álcool (26%) das agressões cometidas, após a mulher sofrer algum tipo
de agressão tem maior chance de desencadear fatores como ansiedade (15,15) medo (12,12), vergonha (12,12),
isolamento social (9,09%). A pesquisa mostrou que a violência contra a mulher ainda se encontra oculta nos lares
brasileiros, embora na maioria das vezes não seja denunciada por medo dos agressores e por vergonha da
exposição. Observou-se também que as principais causas de violência são o ciúme, a ingestão de bebida alcoólica e
o uso de drogas. Essas atitudes violentas freqüentemente ocasionam nas mulheres problemas de ansiedade,
depressão e até suicídio.

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A violência contra a mulher é todo ato que resulte em morte ou lesão física, sexual ou psicológica de mulheres,
tanto na esfera pública quanto na privada.1 Às vezes considerado um crime de ódio,2 este tipo de violência visa um
grupo específico, com o gênero da vítima sendo o motivo principal. Este tipo de violência é baseada em gênero, o
que significa que os atos de violência são cometidos contra as mulheres expressamente porque são mulheres. 3

A violência contra a mulher pode enquadrar-se em várias categorias amplas, que incluem a violência realizada tanto
por "indivíduos", como pelos "Estados". Algumas das formas de violência perpetradas por indivíduos são: Estupros,
violência doméstica ou familiar, assédio sexual, coerção reprodutiva, infanticídio feminino, aborto seletivo e violência
obstétrica, bem como costumes ou práticas tradicionais nocivas, como crime de honra, feminicídio relacionado ao
dote, mutilação genital feminina, casamento por rapto, casamento forçado e violência no trabalho, que se manifestam
através de agressões físicas, psicológicas e sociais. [5] Algumas formas de violência são perpetradas ou toleradas pelo
estado, como estupros de guerra, violência sexual e escravidão sexual durante conflitos, esterilização forçada, aborto
forçado, violência pela polícia e por autoridades, apedrejamento e flagelação. Muitas formas de violência contra a
mulher, como o tráfico de mulheres e a prostituição forçada, muitas vezes são perpetradas por organizações
criminosas.

No Brasil a Lei Nº 10.778, de 24 de novembro de 2003, estabelece a notificação compulsória, no território nacional,
do caso de violência contra a mulher que for atendida em serviços de saúde públicos ou privados. Essa lei é
complementada pela Lei Maria da Penha como mais um mecanismo para coibir a violência doméstica e familiar
contra a mulher, com medidas mais efetivas (penais) para o seu controle além do dimensionamento do fenômeno.
Embora a notificação e investigação de cada agravo em si já proporcione um impacto positivo para reversão da
impunidade que goza o agressor, de certo modo, defendido por uma tradição cultural machista além de naturalmente
ser um instrumento direcionador das políticas e atuações governamentais em todos os níveis como previsto na
legislação em pauta.

A notificação compulsória das agressões contra a mulher foi resultado da constelação de que a ausência de dados
estatísticos adequados, discriminados por sexo sobre o alcance da violência dificulta a elaboração de programas e a
vigilância das mudanças efetuadas por ações públicas, conforme explícito na Plataforma de Pequim/95 (parágrafo
120). O Brasil tanto é signatário da Declaração e Plataforma de Ação da IV Conferência Mundial Sobre a Mulher,
Pequim, 1995 como da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher,
Belém do Pará, (1995)

Efeito sobre a sociedade


Um mapa-múndi que mostra os países por nível de segurança física das mulheres, 2011
De acordo com um artigo no Health and Human Rights Journal, independentemente de muitos anos de defesa e
envolvimento de muitas organizações de ativistas feministas, a questão da violência contra as mulheres ainda
"continua sendo uma das formas mais difundidas de violações dos direitos humanos em todo o mundo." 4 A violência
contra as mulheres pode ocorrer nas esferas pública e privada e em qualquer momento da vida. Muitas mulheres
estão aterrorizadas com essas ameaças de violência e isso influencia essencialmente suas vidas para que sejam
impedidas de exercer seus direitos humanos; por exemplo, temem contribuir social, econômica e politicamente para o
desenvolvimento de suas comunidades. Além disso, as causas que desencadeiam a violência contra a mulher ou a
violência de gênero podem ir além da questão do gênero e partir para a questões de idade, classe, cultura, etnia,
religião, orientação sexual e área geográfica específica de suas origens.
É importante salientar que, além da questão das divisões sociais, a violência pode também se estender para as
questões de saúde e tornar-se uma preocupação direta do setor de saúde pública. Um problema de saúde como a
SIDA é outra causa que também leva à violência. As mulheres que têm infecção por HIV / AIDS também estão entre
os alvos da violência. A Organização Mundial de Saúde informa que a violência contra as mulheres coloca um fardo
indevido nos serviços de saúde, como as mulheres que sofreram violência são mais propensas a precisar de serviços
de saúde e a um custo maior, em comparação com as mulheres que não sofreram violência. Outra declaração que
confirma a compreensão da violência contra a mulher como uma questão de saúde significativa é aparente na

1
AGENOR GONÇALVES et al. VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER. UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES, Mogi das Cruzes, SP, Maio
de 2015
2
Angelari, Marguerite (1997). «Hate Crime Statutes: A Promising Tool for Fighting Violence Against Women». In: Karen J.
Maschke. Pornography, sex work, and hate speech. [S.l.]: Taylor & Francis
3
Casique, Leticia C.; Furegato, Antonia Regina F. Violência Contra Mulheres: Reflexões Teóricas. Rev Latino-am Enfermagem
2006 novembro-dezembro; 14(6) PDF Jan. 2011
4
Fried, S. T. (2003). «Violence against Women». Health and Human Rights. 6 (2): 88–111 [91]. JSTOR 4065431.
doi:10.2307/4065431
6
recomendação adotada pelo Conselho da Europa, a violência contra as mulheres na esfera privada, em casa ou
violência doméstica, é o principal motivo de "morte e deficiência" entre as mulheres que enfrentaram violência.
Além disso, vários estudos mostraram um vínculo entre o tratamento pobre das mulheres e a violência internacional.
Estes estudos mostram que uma das violências mais prediletas inter e intranacional é o maltrato das mulheres na
sociedade.

Formas de violência contra a mulher


Estupro
O estupro é um tipo de agressão sexual, geralmente envolvendo relações sexuais. É geralmente perpetrado por
homens contra meninos, mulheres e meninas; mulheres geralmente são estupradas com mais frequência do que
meninos e meninas e, geralmente, por pessoas conhecidas.
Internacionalmente, a incidência de estupros registrados pela polícia em 2008 variou entre 0,1 no Egito a cada
100.000 pessoas e 91,6 a cada 100.000 pessoas em Lesoto com 4,9 por 100.000 pessoas em Lituânia como
mediana. De acordo com a American Medical Association (1995), a violência sexual, principalmente o estupro, é
considerado o crime violento mais subnotificado. A taxa de denúncia, acusação e condenação por estupro varia
consideravelmente em diferentes jurisdições. Estupro por estranhos é geralmente menos comum do que o estupro
por pessoas a vítima conhece.
As vítimas de estupro podem ser gravemente traumatizadas e podem sofrer de transtorno de estresse pós-
traumático; ] Além dos danos psicológicos resultantes do ato, o estupro pode causar ferimentos físicos ou ter efeitos
adicionais sobre a vítima, como a aquisição de uma infecção sexualmente transmissível ou gravidez.
Após um estupro, uma vítima pode enfrentar a violência ou ameaças de violência do estuprador e, em muitas
culturas, da própria família e parentes da vítima. Violência ou intimidação da vítima pode ser perpetrada pelo
estuprador ou por amigos e parentes do estuprador, como forma de impedir que as vítimas denunciem a violação, de
puni-las por denunciá-la ou de forçá-las a retirar a queixa; ou pode ser perpetrado pelos parentes da vítima como uma
punição por "trazer vergonha" à família, especialmente em culturas onde a virgindade feminina é altamente valorizada
e considerada obrigatória antes do casamento; Em casos extremos, as vítimas de estupro são mortas em crimes de
honra. As vítimas também podem ser forçadas por suas famílias a se casarem com o estuprador para restaurar a
"honra" da família.

Estupro conjugal
O estupro conjugal, também conhecido como violação conjugal ou estupro marital, é um sexo não consensual
perpetrado pelo cônjuge da vítima. Uma vez amplamente tolerado ou ignorado pela lei, o estupro marital agora é
repudiada pelas convenções internacionais e cada vez mais criminalizada. Ainda assim, em muitos países, o estupro
conjugal permanece legal, ou é ilegal, mas amplamente tolerada e aceita como uma prerrogativa do marido. A
criminalização do estupro conjugal é recente, tendo ocorrido durante as últimas décadas. O entendimento tradicional
e os pontos de vista sobre casamento, violação, sexualidade, papéis de gênero e auto-determinação começaram a
ser desafiados na maioria dos países ocidentais durante os anos 1960 e 1970, o que levou à subsequente
criminalização do estupro conjugal nas décadas seguintes. Com poucas exceções notáveis, foi durante os últimos 30
anos que a maioria das leis contra estupro conjugal foram promulgadas. Alguns países da Escandinávia e no antigo
Bloco Comunista da Europa tornaram ilegal a violação de cônjuge antes de 1970, mas a maioria dos países
ocidentais criminalizou isso apenas nos anos 80 e 90. Em muitas partes do mundo, as leis contra o estupro conjugal
são muito novas, tendo sido promulgadas na década de 2000.
No Canadá, a violação conjugal foi ilegal em 1983, quando várias mudanças legais foram feitas, incluindo a mudança
do estatuto de violação para "agressão sexual" e tornando as leis neutras em termos de gênero. Na Irlanda, o estupro
conjugal foi proibido em 1990.Nos EUA, a criminalização do estupro marital começou em meados dos anos 1970 e,
em 1993, a Carolina do Norte tornou-se o último estado a fazer o estupro conjugal ilegal. [50] Em Inglaterra e País de
Gales, o estupro conjugal tornou-se ilegal em 1991. As opiniões de Sir Matthew Hale, um jurista do século XVII,
publicado em The History of the Pleas of the Crown (1736), afirmou que um marido não pode ser culpado do estupro
de sua esposa porque a esposa "deu-se a si mesma gentilmente para o marido, que ela não pode retrair"; Na
Inglaterra e no País de Gales, isso permaneceria lei por mais de 250 anos, até que fosse abolida pelo Comitê de
Apelação da Câmara dos Lordes, no caso R v R em 1991. No Países Baixos estupro conjugal também tornou-se
ilegal em 1991. Um dos últimos países ocidentais a criminalizar o estupro conjugal foi Alemanha, em 1997.5
Casamento forçado
Um casamento forçado é um casamento onde uma ou ambas as partes são casadas contra sua vontade.
Casamentos forçados são comuns no sul da Ásia, no Oriente Médio e na África. Tradições como precificação da

5
Kieler, Marita. «Tatbestandsprobleme der sexuellen Nötigung, Vergewaltigung sowie des sexuellen Mißbrauchs
widerstandsunfähiger Personen» (PDF). Tenea. Consultado em 6 de agosto de 2014. Arquivado do original (PDF) em 20 de
outubro de 2013
7
noiva e o dote contribuem para essa prática. Casamentos forçados são também resultados de uma disputa entre
famílias, onde a disputa é "resolvida" ao dar uma mulher de uma família para a outra.
O sequestro de esposas continua a existir em alguns países do centro da Ásia, como no Quirguistão, Uzbequistão e
no cáucaso, ou em partes da África, especialmente na Etiópia. Uma menina ou uma mulher é abduzida por aquele
que será o noivo, que é frequentemente ajudado por amigos. A vítima é muitas vezes estuprada pelo que seria o
noivo e em seguida, o estuprador pode tentar negociar o preço da noiva com os anciões da aldeia para legitimar o
casamento.

Violência doméstica
As mulheres são mais propensas a serem vítimas por alguém com quem elas são íntimas. Casos de violência
praticada pelo parceiro íntimo não tendem a ser denunciados a polícia e, assim, muitos especialistas acreditam que a
verdadeira magnitude do problema é difícil de estimar. [60] As mulheres são muito mais propensas do que os homens a
serem assassinados por um parceiro íntimo. Nos Estados Unidos, em 2005, 1181 mulheres, em comparação com
329 homens, foram mortas por seus parceiros íntimos. [61][62] Em Inglaterra e País de Gales cerca de 100 mulheres são
mortas por parceiros ou ex-parceiros de cada ano, enquanto 21 homens foram mortos em 2010. Em 2008, na França,
156 mulheres em comparação com 27 homens foram mortas pelo seu parceiro íntimo.
De acordo com a OMS, em todo o mundo, cerca de 38% dos assassinatos de mulheres são cometidos por um
parceiro íntimo.[65] Um relatório da ONU compilado a partir de vários estudos realizados em pelo menos 71 países
considerou que a violência doméstica contra a mulher era mais prevalecente em Etiópia.[66]
Na Europa Ocidental, um país que recebeu grandes críticas internacionais pela forma como lida legalmente com a
questão da violência contra as mulheres é a Finlândia; com autores apontando que um alto nível de igualdade para
as mulheres na esfera pública (como na Finlândia) nunca deve ser equiparado à igualdade em todos os outros
aspectos da vida das mulheres.
Um estudo realizado pela Organização Pan-Americana da Saúde em 12 países latino-americanos encontrou a maior
prevalência de violência doméstica contra mulheres na Bolívia.
Embora esta forma de violência seja frequentemente retratada como uma questão no contexto das relações
heterossexuais, também ocorre em relacionamentos lésbicos, [71] relações entre mãe e filha, entre colegas de quarto e
outras relações domésticas envolvendo duas mulheres. A violência contra as mulheres nas relações lésbicas é tão
comum quanto a violência contra mulheres em relações heterossexuais.

Coerção reprodutiva

A pintura retrata uma mulher chilena sendo sequestrada durante um malón. O sequestro de noivas para fins de
casamento forçado e gravidez forçada foi comum durante a história em muitos países.
A coerção reprodutiva é um comportamento violento, manipulador ou enganoso contra a saúde reprodutiva ou os
direitos reprodutivos dentro de uma relação íntima e inclui uma coleção de comportamentos destinados a levar a uma
gravidez forçada. coerção reprodutiva é uma forma de violência doméstica, onde o comportamento relativo à saúde
reprodutiva é usado para manter o poder, controle e dominação dentro de um relacionamento e sobre um parceiro
através de uma gravidez indesejada. É considerado um grave problema de saúde pública. Este controle reprodutivo
está altamente correlacionado com a gravidez não planejada.
A gravidez forçada é a prática de forçar uma mulher ou uma menina a se tornar grávida, muitas vezes como parte de
um casamento forçado, inclusive por meio de sequestro de noivas, por estupros (incluindo estupro marital, estupros
de guerra e estupros genocidas) ou como parte de um programa de reprodução de escravos. No século XX, o
casamento forçado pelo Estado com o objetivo de aumentar a população foi praticado por alguns governos
autoritários, notavelmente durante o regime Khmer Vermelho em Cambodja, que obrigou sistematicamente as
pessoas a casar-se ordenando-lhes a ter filhos, a fim de aumentar a população e continuar a revolução.
No discurso sobre direitos reprodutivos, a questão do aborto é frequentemente debatida. A legislação sobre o aborto
é da jurisdição de cada país, embora aborto forçado seja proibido pelo direito internacional. A Convenção de Istambul
proíbe o aborto forçado e esterilização forçada.[77] A questão da continuação forçada da gravidez (ie. negando a
mulher a um aborto seguro e legal) também é visto por algumas organizações como uma violação dos direitos das
mulheres, embora não haja obrigações internacionais vinculativas sobre esta questão. No entanto, a Convenção
sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra as mulheres considera a criminalização do aborto
uma "Violação da saúde sexual e reprodutiva das mulheres e dos direitos" e uma forma de violência de gênero. [78]
Restrições à liberdade de locomoção.
As mulheres estão, em muitas partes do mundo, severamente restritas em sua liberdade de locomoção, sendo este
um direito essencial, reconhecido pelos instrumentos internacionais, tais como o artigo 15 (4) da Convenção sobre a
eliminação de todas as formas de discriminação contra as mulheres.[79] No entanto, em alguns países, as mulheres
não são legalmente autorizadas a sair de casa sem um guardião masculino (parente ou marido). [80] Mesmo em países
onde não há leis contra mulheres que viajam sozinhas, existem normas sociais fortes, como o purdah - uma prática
religiosa e social de reclusão da mulher prevalecendo especialmente entre algumas comunidades muçulmanas e
hindus em Ásia Meridional. Muitos países têm leis sobre o tipo de roupa que as mulheres podem ou não usar em

8
público. As mulheres em algumas culturas são forçadas ao isolamento social durante o período menstrual. Em
algumas partes do Nepal, por exemplo, elas são forçadas a viver em galpões, estão proibidos de tocar em homens ou
até mesmo de entrar no pátio de suas próprias casas, e são proibidas de consumir leite, iogurte, manteiga, carne e
vários outros alimentos, por medo de contaminá-los. (ver Chaupadi). Várias mulheres já morreram durante este
período por causa da fome, mau tempo, ou mordidas de cobras. Em culturas onde as mulheres são restritas de
estarem em lugares públicos, por lei ou por costume, as mulheres que violam essas restrições muitas vezes
enfrentam violência.

Violência contra a mulher no contexto da pobreza urbana em Angola


A violência contra as mulheres é uma prática generalizada em Angola, pouco se sabendo ainda sobre a perceção que
as mulheres têm deste fenómeno e como elas se relacionam com este problema. Este resumo, que resulta do projeto
de investigação conjunto CMI/CEIC, denominado “Cooperação em Pesquisa e Desenvolvimento em Angola”,
apresenta uma análise da violência contra as mulheres com base numa pesquisa qualitativa levada a cabo em
fevereiro de 2016 em dois bairros pobres urbanos (popularmente conhecidos como musseques) de Luanda.

Introdução
O nosso objetivo é avaliar como a violência contra as mulheres está patente no contexto da pobreza; isto é, como a
pobreza e a violência se interligam nas perceções e experiências das mulheres e como ambos os fatores estruturam
efetivamente o seu espaço de manobra. A nossa análise sugere que a violência é generalizada e que as mulheres
têm muito poucos locais para procurar ajuda e suporte. Confrontadas com inúmeros desafios diários no contexto da
sobrevivência e da reprodução social, as mulheres dos dois bairros pobres de Luanda classificam a violência num
nível relativamente baixo na sua hierarquia de problemas. Tal resulta do facto das normas culturais e a história
política do país tenderem a “normalizar” a violência, perpetuando, assim, a baixa consciência social sobre o
problema.
País e contexto legal
Apesar do estatuto de Angola de país com rendimento médio – devido à grande entrada de receitas do petróleo – a
distribuição dos rendimentos é altamente assimétrica e os níveis de pobreza são elevados. O coeficiente de Gini é de
0,54 (UNICEF 2014)1, enquanto a pobreza rural e urbana representa 58 por cento e 19 por cento, respetivamente
(INE 2013). O Índice de Desenvolvimento Humano do PNUD coloca Angola em 149.º lugar entre 188 países,
enquanto o Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial do Banco Mundial coloca o país na 112.ª posição, também
entre 188 países.
Os dados oficiais apontam que Angola tem um alto índice de urbanização com 62,6 por cento dos 25 milhões de
habitantes a viver em áreas urbanas, estando 41,8 por cento em Luanda, dos quais 52,3 por cento são mulheres (INE
2016). A maioria da população em Luanda vivem em aglomerados urbanos informais (áreas peri-urbanas). Estes
bairros são predominantemente caraterizados pela pobreza enraizada, pelo acesso limitado aos serviços públicos e
ao emprego, infra-estruturas deficientes, e condições de vida altamente insalubres. Estes aspetos, que constituem o
contexto social e material para a presente pesquisa sobre a violência contra as mulheres, são desenvolvidos em
Tvedten e Lázaro (2016).
As ONG’s e os organismos da ONU têm, há vários anos, em Angola, pressionado as autoridades oficiais para que se
tomem medidas legais e institucionais no combate à violência contra as mulheres tendo em julho de 2011 o
parlamento angolano aprovado uma nova lei contra a violência doméstica 2. Anteriormente, a violência domestica não
era tipificada como crime no país, e os poucos casos que chegaram a tribunal foram condenados por violação sexual,
agressão e ofensa à integridade física (Redvers 2011).
De acordo com a nova lei, as vítimas de violência doméstica têm direito a suporte financeiro, jurídico, médico e outras
formas de apoio estatal, sendo a violência definida como um “crime público”, o que implica que terceiros também
podem denunciar o crime à polícia (ibid)3. Em 2013, foi criado um tribunal especial contra a violência doméstica 4, bem
como uma linha de apoio dirigida pelo Ministério da Família e Promoção da Mulher (MINFAMU).
Há, no entanto, um longo caminho a percorrer entre a legislação e a sua implementação, bem como a constante
atenção política para o assunto, apesar de ser importante reconhecer a ascendência da legislação oficial sobre as
normas sociais.

Violência de género em Angola: O conhecimento atual


O conhecimento qualitativo existente sobre a pobreza e a violência de género em Angola é escasso, e os dados
quantitativos são fragmentados e inconclusivos. Angola ocupa o 126.º lugar entre 145 países no Índice Global da
Desigualdade de Género do Fórum Económico Mundial (World Economic Forum  2015). Um estudo preliminar
realizado em 2007 constatou que 78 por cento das mulheres tinham experimentado alguma forma de violência desde
os 15 anos de idade, e que 62 por cento das mulheres que vivem nos subúrbios pobres de toda a capital tinham
sofrido abuso durante o ano anterior (US State Department  2009).
Os dados do MINFAMU mostram que, dos 2260 casos registados em 2006, 92,6 por cento dos casos tinham a
mulher como vítima. O tipo de violência mais denunciado (71 por cento dos casos) é o que em termos académicos se
define como violência económica (negação de paternidade, falta de pagamento do suporte à criança, abandono da

9
família, despejo da mulher, e expropriação dos bens da mulher), seguida da violência física (10,5 por cento) e da
violência psicológica (8,9 por cento) (Nascimento et al. 2014). Entre janeiro e setembro de 2014, a Direção Nacional
de Direito das Mulheres (DNDM), registou 6351 casos de violência doméstica, dos quais 5083 casos tiveram uma
vítima do sexo feminino (Gavião 2015).
Um estudo recente feito aos profissionais de saúde angolanos sobre a perceção que estes têm relativamente à
violência entre parceiros íntimos, descobriu que as atitudes em relação ao tema eram influenciadas por normas
patriarcais relativamente à superioridade masculina e aos papéis das mulheres como mães e esposas (Nascimento et
al. 2014). Isto resultou numa tendência para “culpar a vítima”, o que, combinado a toda a linha com a falta de
recursos institucionais e profissionais para ajudar e suportar as mulheres vítimas, levou ao insuficiente suporte e
acompanhamento com a exceção para os tratamentos simples, no caso dos ferimentos físicos.
É também relevante destacar a influência das normas patriarcais tradicionais que moldam as perceções sociais
relativamente à subordinação das mulheres na vida conjugal – e familiar (Nzatuzola 2005) –, bem como os traumas
não resolvidos provocados pela guerra civil, levando a elevados níveis de violência doméstica (Development
Workshop 2009).
Terreno
A pesquisa qualitativa que informa este resumo foi conduzida principalmente no sudeste do musseque Wenji Maka II,
no município de Belas, na capital angolana, e complementada com material de entrevistas realizadas no musseque
do Paraíso, no município de Cacuaco, no noroeste de Luanda. No Wenji Maka II, a principal metodologia aplicada foi
a de grupos focais com mulheres 5, onde questões mais amplas relacionadas com a pobreza também foram
exploradas. Este assunto também foi levantado em entrevistas individuais com as autoridades locais informais.
Wenji Maka II (que significa “problemas com o comércio”) é um bairro informal peri-urbano e uma antiga área
agrícola, que foi ocupada por migrantes desde o ano de 2000. Atualmente, possui uma população de
aproximadamente 22.000 habitantes numa mistura éticno-sóciolinguística. Apesar de algumas bolsas de riqueza
relativa, é um bairro pobre, debatendo-se com problemas de saneamento básico, acesso aos mercados, educação e
saúde, acesso precário à água potável (que tem de ser obtida a partir de uma bomba comum) e ruas não
pavimentadas e cobertas de lixo. Este último aspeto também leva a significativos problemas de saúde relacionados
com a malária, catolotolo, febre-amarela e outras doenças resultante da falta de saneamento. 
Pobreza e violência
Antes de levantar a questão da violência doméstica, o grupo de foco foi convidado a fazer uma lista conjunta dos dez
maiores problemas que a comunidade enfrentava. Água, eletricidade, saneamento, saúde e educação foram
classificados como os principais – e mais disseminados – problemas quotidianos.
Questionadas sobre se a violência doméstica era um problema na comunidade ou entre os agregados familiares que
conheciam, várias inquiridas no grupo levantaram relutantemente os ombros, e uma das mulher respondeu que “os
conflitos são abundantes, mas…”. Deste modo, logo transpareceu que a violência doméstica era de facto uma
ocorrência frequente na comunidade, que afetava cerca de uma em cada 10 famílias. Foram feitas referências – de
uma forma acidental – a como uma mulher nas imediações do bairro tinha sido recentemente assassinada pelo seu
parceiro, porque ela se tinha recusado a ter relações sexuais com ele.
A “forma acidental” em que esta informação foi dada pode refletir: 1) que caso uma ocorrência de tal gravidade não
tivesse lugar dentro do seu círculo social imediato, elas não se sentiriam diretamente afetados; ou 2) que o homicídio
em causa é percecionado como algo que “simplesmente acontece”, ou seja, está de certa forma normalizada como
um facto da vida. Vale a pena mencionar aqui que, no bairro do Paraíso, um membro feminino da OMA referiu que a
violência sexual contra as mulheres era generalizada, oferecendo como exemplos os casos de uma menina de quatro
anos que haviam sido recentemente encontrada morta nas proximidades e da filha de 12 anos de um seu amigo que
tinha sido violada sexualmente. Ela estimou ter ouvido cerca de três casos de violência sexual a cada semana na
área onde morava. 

Desconfiança conjugal e os modelos de género culturais


Uma das mulheres no grupo focal no Wenji Maka II disse que o seu parceiro lhe tinha batido porque ela havia
chegado a casa tarde, vindo do mercado. Ele estava bastante stressado por ter estado sozinho em casa com o filho
pequeno a chorar, referiu, tendo-a acusado de ter ido ao encontro de um outro homem em sigilo. Esta mulher, de 26
anos, estava grávida do seu terceiro filho. O relato que fez deste caso não gerou nenhuma reação particular por parte
das outras mulheres, o que também pode indicar que episódios semelhantes são corriqueiros e estão, em certa
medida, normalizados na sua perceção.
Se lido à luz de um estudo recente relativo às perceções da violência de género por parte dos profissionais de saúde
(Nascimento et al. 2014), este incidente pode fornecer um bom exemplo para a elaboração de quadros explicativos
locais para a ocorrência da violência doméstica. Tal estudo cita perceções culturais sobre como ser uma “boa
esposa / mãe” como uma justificação e / ou um quadro explicativo para a violência doméstica: a violência que ocorre
quando os homens percebem que as mulheres – legitimamente ou não – transgrediram esses limites. Acusações de
infidelidade constituem uma dessas transgressões que legitima a violência, assim como a aparente incapacidade
para executar tarefas domésticas (ibid: 1232). Uma técnica de enfermagem citada no estudo disse que elas (as

10
enfermeiras) têm de “falar com as mulheres sobre o seu comportamento em casa, prevenindo problemas e
ensinando-as, explicando-lhes os deveres das mulheres no seio da família” (ibid).
Nascimento et al. (2014) também cita “a dependência sócio-económica relativamente aos homens e o desemprego
como questões relacionadas com a violência” contra as mulheres (ibid: 1232). Os profissionais de saúde
entrevistados declararam que às mulheres são atribuídas responsabilidades/culpa pelos problemas financeiros que
estariam na base das atitudes machistas no seio do lar. Um administrador de saúde comentou que “quando o homem
da casa é machista e levanta a mão para bater na mulher, a falta de sal ou açúcar pode desencadear uma agressão
física…, contando que dependa dele, ela (a mulher) não pode dizer uma palavra. Tudo o que ela disser, levará à
violência” (ibid).
No Wenji Maka II, um membro masculino da associação de residentes (Comissão de Moradores) afirmou que a
principal razão para a violência doméstica eram os problemas financeiros, ou seja, que a falta de entendimento
quanto ao uso do dinheiro e de outros recursos entre os casais levam a abusos físicos. Uma mulher seguidora de
uma igreja no bairro do Paraíso apontou os problemas financeiros e as atitudes machistas como sendo os fatores
desencadeantes: “Os homens batem nas mulheres. Isso pode acontecer porque ela não fez o almoço ou o jantar,
mas isso é porque ele não lhe deixou dinheiro nenhum para comprar comida”.

Os papéis de género
As mulheres dos grupos focais no Wenji Maka II discordaram fortemente entre si se se poderia “esperar” que um
parceiro masculino participasse nas tarefas domésticas e nos cuidados infantis. Uma mulher disse que “o que quer
que uma mulher faça, os homens também o podem fazer”, mas isso gerou fortes protestos por parte das colegas de
grupo. Outra participante disse que uma mulher não tem o direito de dizer a um homem para fazer as coisas, e se ela
tentasse, o seu parceiro iria enfurecer-se e dizer “o trabalho é teu, tu és a mulher”. Além disso, isso representaria uma
falta de respeito, pedir-lhe para fazer as coisas, declarou ela.
Uma das mulheres mais velhas disse que tem tantas dores nos pulsos devido às suas tarefas domésticas, que o seu
marido acabou por lavar as suas próprias roupas. Ele também começou a ir ao mercado para fazer as compras de
casa. Mas isso só aconteceu porque o mesmo passou a suspeitar que ela “escondia” o dinheiro destinado às
despesas domésticas. Ela considerou um alívio que o esposo tivesse assumido esta tarefa, uma vez que deixou de
ser confrontada com as acusações de desvio. Por fim, as mulheres do grupo concordaram em que um homem
poderia ajudar em casa por sua própria iniciativa, se ele visse que a sua esposa estivesse cansada, mas ela não
tinha o direito de lhe exigir isso. Em suma, estas discussões esclareceram que os modelos culturais relativos ao
“papel das mulheres” na família estão firmemente enraizados também entre as próprias mulheres. A partir das
discussões, também foi revelado que, se um homem fizer muito trabalho em casa, surgirão mexericos no bairro
desencorajando-o a continuar a fazê-lo. Deste modo, o “olhar da comunidade” continua a perpetuar e regular as
perceções culturais da divisão de trabalho por género.

Recursos institucionais e sociais


As participantes do grupo focal no Wenji Maka II concordaram que as mulheres que são expostas à violência
doméstica têm pouco ou nenhum suporte institucional. Em caso de desentendimento conjugal ou conflito, o “percurso
de resolução de conflitos” é, primeiro, tentar resolver a questão no seio do casal e, de seguida, discutir o assunto em
família, e ainda, por fim, a separação. Outras instâncias potenciais apontados foram o padrinho6 e um pastor local. As
mulheres agredidas também poderiam procurar a ajuda na delegação local da OMA. Quanto à polícia municipal local:
“Não vale a pena” ir até eles, disseram. O descredito subjacente à esta resposta resulta, dentre outras razões, do
facto de não haver um plantão especializado de atendimento de casos de violência domésticas nas principais
unidades de polícia.     
As mulheres também argumentaram que a Comissão de Moradores não se envolve em casos de violência doméstica.
Contrariando em parte esta afirmação, um membro masculino da referida comissão afirmou que apenas os casos
graves de violência física são participados à polícia.

Reflexões finais
A presente pesquisa material indica que a violência doméstica não pode ser analisada sem se levar em conta a
totalidade dos fatores sociais, culturais e políticos que geram a violência, bem como moldam a experiência e a
perceção que as mulheres pobres têm dela.
As pessoas entrevistadas – homens e mulheres – vivem diariamente sob um enorme pressão; económico, físico e
social. Os padrões de migração e traumas do pós-guerra enfraqueceram os padrões da família tradicional (Nzatuzola
11
2005) e o crescimento acelerado da população nos bairros informais resultou, a vários graus, no enfraquecimento da
comunidade e dos laços familiares. Além disso, os inadequados serviços públicos e infraestruturas institucionais
relacionadas com a saúde física e mental representam em si barreiras na procura de cuidados de saúde e suporte,
tanto para homens como para as mulheres.
A nova lei contra a violência doméstica de 2011 é um passo importante na direção certa, nomeadamente porque
reconhece ao Estado o dever de apoiar as mulheres vítimas de violência física. No entanto, a lei tem um valor
limitado se não for implementada. A fragilidade e inadequação generalizada das instituições prestadoras de serviços
públicos indica que o Estado não está preparado para lidar com o alto número de mulheres que vivem em relações
abusivas.
Ao calcularem o “custo” de permanecerem num relacionamento abusivo versus o “custo” de criar os filhos sozinhas,
sem o suporte (financeiro e outros) do parceiro, as mulheres pobres que vivem em situação de pobreza urbana
enfrentam um cenário complexo de vulnerabilidade. Esta se revela ainda maior se consideradas as barreiras culturais
– o que inclui práticas discriminatórias, tanto raciais como de estratificação socioeconómica –, a luta pela
sobrevivência quotidiana, as oportunidades limitadas de rendimento, as fracas redes (restritas e alargadas), a fraca
garantia dos direitos e o peso da prestação de cuidados frequentemente a muitas crianças pequenas. Todos estes
fatores devem ser levados em conta ao avaliarmos o espaço efetivo de manobra que as mulheres pobres têm,
quando confrontadas com a violência doméstica.

Notas de fim de texto


1 O coeficiente de Gini mede a distribuição do rendimento (entre alto e baixo rendimento) dos indivíduos de um país
numa escala de 0 a 1, em que 0 é a igualdade perfeita e 1 a desigualdade absoluta.
2 A Organização da Mulher Angolana (OMA), ala feminina do partido no poder, o Movimento Popular para a
Libertação de Angola (MPLA), foi uma das organizações nacionais que desemepenhou um papel central na
elaboração e aprovação da Lei Contra a Violência Doméstica (Lei nº 25/11 de 14 de julho), ao colocar a questão da
violência doméstica na agenda pública.
3 No entanto, o julgamento de infratores e as decisões judiciais revelaram-se difíceis por causa das brechas legais e
das práticas de investigação fracas.
4 Este tribunal especial é intitulado Nona Secção dos Crimes Comuns do Tribunal Provincial de Luanda.
5 O grupo focal foi realizado durante um período de dois dias, compreendendo cerca de 20 mulheres entre os 26 e os
57 anos de idade. As mulheres foram recrutadas pelo “método de bola de neve” através de um convite da Comissão
de Moradores local. A maioria das mulheres do grupo estava envolvida em algum tipo de atividade geradora de baixa
remuneração. Duas delas tinham estudado além do nível de ensino médio, mas foram incapazes de encontrar
empregos relevantes.
6 Em geral, um membro da comunidade, a quem se reconhece idoneidade e boa conduta, que serve de conselheiro
da família, sendo chamado sobretudo em momentos de crise conjugal.

CORONAVÍRUS
CID10:
Os coronavírus (CoV) são uma grande família viral, conhecidos desde meados dos anos 1960, que causam infecções
respiratórias em seres humanos e em animais. Geralmente, infecções por coronavírus causam doenças respiratórias
leves a moderada, semelhantes a um resfriado comum. A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns
ao longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas a se infectarem. Os coronavírus comuns que infectam
humanos são alpha coronavírus 229E e NL63 e beta coronavírus OC43, HKU1.
Alguns coronavírus podem causar síndromes respiratórias graves, como a síndrome respiratória aguda grave que
ficou conhecida pela sigla SARS da síndrome em inglês “Severe Acute Respiratory Syndrome”. SARS é causada pelo
coronavírus associado à SARS (SARS-CoV), sendo os primeiros relatos na China em 2002. O SARS-CoV se
disseminou rapidamente para mais de doze países na América do Norte, América do Sul, Europa e Asia, infectando
mais de 8.000 pessoas e causando entorno de 800 mortes, antes da epidemia global de SARS ser controlada em
2003. Desde 2004, nenhum caso de SARS tem sido relatado mundialmente.
Em 2012, foi isolado outro novo coronavírus, distinto daquele que causou a SARS no começo da década passada.
Esse novo coronavírus era desconhecido como agente de doença humana até sua identificação, inicialmente na
Arábia Saudita e, posteriormente, em outros países do Oriente Médio, na Europa e na África. Todos os casos
identificados fora da Península Arábica tinham histórico de viagem ou contato recente com viajantes procedentes de
países do Oriente Médio – Arábia Saudita, Catar, Emirados Árabes e Jordânia.

12
Pela localização dos casos, a doença passou a ser designada como síndrome respiratória do Oriente Médio, cuja
sigla é MERS, do inglês “Middle East Respiratory Syndrome” e o novo vírus nomeado coronavírus associado à MERS
(MERS-CoV).

Manifestações Clínicas
Os coronavírus humanos comuns causam infecções respiratórias brandas a moderadas de curta duração. Os
sintomas podem envolver coriza, tosse, dor de garganta e febre. Esses vírus algumas vezes podem causar infecção
das vias respiratórias inferiores, como pneumonia. Esse quadro é mais comum em pessoas com doenças
cardiopulmonares, com sistema imunológico comprometido ou em idosos.
O MERS-CoV, assim como o SARS-CoV, causam infecções graves. Para maiores informações sobre as
manifestações clínicas do MERS-CoV, acesse a página sobre MERS-CoV.

Período de incubação
De 2 a 14 dias

Período de Transmissibilidade
De uma forma geral, a transmissão viral ocorre apenas enquanto persistirem os sintomas É possível a transmissão
viral após a resolução dos sintomas, mas a duração do período de transmissibilidade é desconhecido para o SARS-
CoV e o MERS-CoV. Durante o período de incubação e casos assintomáticos não são contagiosos.

Transmissão inter-humana
Todos os coronavírus são transmitidos de pessoa a pessoa, incluindo os SARS-CoV, porém sem transmissão
sustentada. Com relação ao MERS-CoV, existem a OMS considera que há atualmente evidência bem documentada
de transmissão de pessoa a pessoa, porém sem evidencias de que ocorra transmissão sustentada.

Modo de Transmissão
De uma forma geral, a principal forma de transmissão dos coronavírus se dá por contato próximo* de pessoa a
pessoa.

Definição de contato próximo: Qualquer pessoa que cuidou do paciente, incluindo profissionais de saúde ou
membro da família; que tenha tido contato físico com o paciente; tenha permanecido no mesmo local que o paciente
doente (ex.: morado junto ou visitado).

Fonte de infecção

A maioria dos coronavírus geralmente infectam apenas uma espécie animal ou, pelo menos um pequeno número de
espécies proximamente relacionadas. Porém, alguns coronavírus, como o SARS-CoV podem infectar pessoas e
animais. O reservatório animal para o SARS-CoV é incerto, mas parece estar relacionado com morcegos. Também
existe a probabilidade de haver um reservatório animal para o  MERS-CoV que foi isolado de camelos e de
morcegos.

Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus foi descoberto
em 31/12/19 após casos registrados na China. Provoca a doença chamada de coronavírus (COVID-19). Os primeiros
coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937. No entanto, foi em 1965 que o vírus foi descrito
como coronavírus, em decorrência do perfil na microscopia, parecendo uma coroa. A maioria das pessoas se infecta
com os coronavírus comuns ao longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas a se infectarem com o
tipo mais comum do vírus. Os coronavírus mais comuns que infectam humanos são o alpha coronavírus 229E e NL63
e beta coronavírus OC43, HKU1.

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