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UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO – UNIVASF

Colegiado de Engenharia Elétrica – CENEL


Notas de Aulas de Cálculo Diferencial e Integral I – Professor: Lino Marcos

DERIVADAS - Definição e Exemplos

1. Derivada de uma Função

Definição Sejam f uma função e p um ponto do seu domínio. O limite


O domínio de f’ é o conjunto de pontos no domínio de f para o qual o limite existe. Se f’ existe para um
f ( x)  f ( p )
limem x. Se f’ existe em todo ponto do domínio de f, chamamos f
determinado valor de x, dizemos que f é derivável
de derivável. x p x p
quando existe e é finito, denomina-se derivada de f em p e indica-se por f ' ( p) (lê-se: f linha de p). Assim

f ( x)  f ( p )
f ' ( p)  lim .
x p x p
Se f admite derivada em p , então diremos que f é derivável ou diferenciável em p .

Diremos que f é derivável ou diferenciável em um conjunto A contido em seu domínio se f é derivável em


cada ponto p  A .

Diremos, simplesmente, que f é uma função derivável ou diferenciável se f é derivável em cada ponto do
seu domínio.

Note que no limite


f ( x)  f ( p )
f ' ( p)  lim (1)
x p x p
podemos fazer a substituição x  p  h donde obtemos x  p  h . Além disso, h  0 quando x  p . Desse
modo, o limite em (1) pode ser reescrito como

f ( p  h)  f ( p )
f ' ( p)  lim . (2)
h 0 h
O processo para calcular uma derivada é chamado de derivação.

Exemplo 1. Aplicando a definição.

Encontre a derivada da função f ( x)  4 x  1 em x  2 .

Solução: usando o limite em (2), obtemos:


f (2  h)  f (2) 4(2  h)  1  (4  2  1) 8  4h  1  9 4h
f ' (2)  lim  lim  lim  lim  lim 4  4 .
h 0 h h0 h h0 h h0 h h 0

Exemplo 2. Aplicando a definição

Dada a função f ( x)  x 2 . Calcule


a) f ' (1)
b) f ' ( x)
c) f ' (1)
Solução: usando o limite em (2), obtemos:

f (1  h)  f (1) (1  h) 2  12 1  2h  h 2  1 ( 2  h) h
a) f ' (1)  lim  lim  lim  lim  lim (2  h)  2.
h 0 h h 0 h h 0 h h 0 h h0

Portanto, f ' (1)  2 .

f ( x  h)  f ( x ) ( x  h) 2  x 2 x 2  2 xh  h 2  x 2
b) f ' ( x)  lim  lim  lim 
h 0 h h0 h h0 h
( 2 x  h) h
 lim  lim (2 x  h)  2 x
h 0 h h 0

Portanto, f ' ( x)  2 x

Observe que f ' ( x)  2 x é uma fórmula que nos fornece a derivada de f ( x)  x 2 , para todo x real.

c) Utilizando a fórmula do item (b) obtemos f ' (1)  2(1)  2 .

Exemplo 3. Uma função que não possui derivada em um ponto do seu domínio.

Mostre que a função f ( x) | x | não é derivável em x  0 .


Solução. Devemos mostrar que o limite f ' (0) não existe.
 x, se x  0
f ( x) | x | 
 x, se x  0
Assim,
f ( x)  f (0) x0 x
lim  lim  lim  lim 1  1 e
x 0 x0 x 0 x x 0 x x 0

f ( x)  f (0)  x0 x
lim  lim  lim  lim (1)  1
x 0 x0 x 0 x x 0 x x 0

f ( x)  f (0)
Logo lim  f ' (0) não existe e, portanto, a função f não é derivável em x  0 .
x 0 x0

2. Interpretação Geométrica da Derivada

Seja y  f (x) uma curva definida no intervalo ]a, b[ , na figura abaixo. Sejam P( x1 , y1 ) e Q( x2 , y 2 ) dois
pontos distintos da curva .Seja s a reta secante que passa pelos pontos P e Q . Considerando o triângulo
retângulo PMQ, na figura, temos que a inclinação da reta s (ou coeficiente angular de s ) é:
Suponhamos agora que, mantendo P fixo, Q se mova sobre a curva em direção a P . Diante disto, a
inclinação da reta secante s variará. A medida que Q vai se aproximando cada vez mais de P , a inclinação da
secante s varia cada vez menos, tendendo para o valor limite constante como mostra a figura abaixo.

Esse valor limite é chamado inclinação da reta tangente à curva no ponto P . Desse modo o coeficiente
angular m da reta tangente a curva y  f (x) no ponto P( x1 , y1 ) é dado por

f ( x2 )  f ( x1 ) f ( x1  x)  f ( x1 )
lim  lim ,
x2  x1 x2  x1 x o x
se este limite existe.

Em outras palavras o coeficiente angular da reta tangente a curva y  f (x) no ponto P( x1 , y1 ) é a derivada
de y  f (x) calculado em x1 . Isto é, m  f ' ( x1 ) .

A equação da reta tangente a uma curva y  f (x) contínua no ponto P( x0 , y0 ) é dada por
y  y0  f ' ( x0 )( x  x0 ) , se f ' ( x0 ) existe.

Exemplo 4. Calculando a equação da reta tangente à um curva num ponto dado.


Usando a definição de derivada encontre a equação da reta tangente a curva y  x no ponto x  2 .

Solução:
dy dy
Sabemos que o coeficiente angular desta reta é o número . Então, calculemos primeiro .
dx x  2 dx
dy f ( x  x)  f ( x) x  x  x  x  x  x x  x  x 
 lim  lim  lim   
dx xo x x o x x o
 x x  x  x 

 lim 
   
 x  x 2  x 2 
  lim 
 x  x  x 
 lim 
 x 
x o    
 x x  x  x  xo  x x  x  x  xo  x x  x  x   
 
 1  1 1
 lim   
x o 
 x  x  x 

 
x0  x 2 x
.

dy 1 dy 1
Logo,  e  . Como x  2 implica em y  2 . Temos a seguinte equação
dx 2 x dx x  2 2 2

y  y 0  f ' ( x0 )( x  x0 )  y  2 
1
2 2
 
( x  1)  2 2 y  2  1( x  1)

x 3
 2 2 y  4  x 1  2 2 y  x  3  y   .
2 2 2 2
2x 3 2
Portanto, .y  
4 4
3. Derivada e Velocidade de um corpo

Suponhamos que um corpo se move em linha reta e que S  S (t ) represente o espaço percorrido pelo móvel até
o instante t . Então no intervalo de tempo t  t1  t onde t1  t  t , o corpo sofre um deslocamento.

S  S (t1 )  S (t ) ou seja S  S (t  t )  S (t ) .

Definimos a velocidade média nesse intervalo de tempo como o quociente

S (t  t )  S (t )
Vm 
t

isto é, a velocidade média é o quociente do espaço percorrido pelo tempo gasto em percorrê-lo.

De forma geral, a velocidade média nada nos diz sobre a velocidade do corpo no instante t. Para obtermos a
velocidade instantânea do corpo no instante t, calculamos sua velocidade média em instantes de tempo t cada
vez menores. A velocidade instantânea, ou velocidade no instante t, é o limite das velocidades médias quando t se
aproxima de zero, isto é,
S S (t  t )  S (t )
v(t )  lim  lim
t  0 t t  0 t
Logo, esse limite é a derivada da função S  S (t ) em relação a t .
dS
Portanto, v(t )  S ' (t )  .
dt
Sabemos que a velocidade representa a razão de variação do deslocamento por unidade de variação do
tempo. Assim, a derivada S ' (t ) é a taxa de variação da função S (t ) por unidade de variação t .

4. Derivada e Taxa de Variação


Toda derivada pode ser interpretada como uma taxa de variação. Dada uma função y  f (x) , quando a
variável independente varia de x a x  x , a correspondente variação de y será f ( x  x)  f ( x) . O
quociente representa a taxa média de variação de y em relação a x.
y f ( x  x)  f ( x)

x x
A derivada é a taxa instantânea de variação ou simplesmente taxa de variação de y em relação a x.
f ( x  x)  f ( x)
f ' ( x)  lim
x  0 x
A interpretação da derivada como uma razão de variação é bastante utilizada em aplicações práticas nas mais
diversas ciências.

Exemplo 5. Derivadas na Economia


Analisaremos, agora, um exemplo de aplicação na área economia, sem deixar de enfatizar que existem outras
áreas que utilizam as derivadas como ferramenta essencial.
Um fabricante produz peças de tecido com largura fixa, e o custo da produção de x metros desse material é
C  f (x) .
a) Qual é o significado da derivada f ' ( x) ?
b) Em termos práticos, o que significa dizer que f ' (1000)  9 ?
c) O que você acha que é maior f ' (50) ou f ' (500) ? E f ' (5000) ?
Solução:
(a) A derivada f ' ( x) é a taxa de variação instantânea de C em relação a x; isto é, f ' ( x) significa a taxa de
variação do custo de produção em relação ao numero de metros produzidos.
C
Como f ' ( x)  lim
x 0 x
C
As unidades para f ' ( x) são iguais àquelas do quociente de diferenças . Uma vez que C é medida em
x
reais e x em metros, segue que a unidade para f ' ( x) é reais por metros.

(b) A afirmação que f ' (1000)  9 significa que, depois de 1000 metros da peça terem sido fabricados, a taxa
segundo a qual o custo de produção está aumentando é R$9/metro. (Quando x  1000 , C está aumentando 9
vezes mais rápido que x.) . Isto é, o custo para a produção da 1001º metro está em torno de R$9,00.

(c) A taxa segundo a qual o custo de produção está crescendo( por metro) é provavelmente menor quando
x  500 do que quando x  50 ( o custo de fabricação do 500º metro é menor do que o custo do 50º metro), em
virtude da escala econômica. ( um fabricante usa mais eficientemente os custos fixos de produção). Então
f ' (500)  f ' (50) . Mas, a medida que a produção expande, a operação de larga escala resultante pode se
tornar ineficiente, e poderiam ocorrer custos de horas extras. Assim, é possível que a taxa de crescimento dos
custos em última análise comece a crescer e f ' (5000)  f ' (500) .

5. Notações para a derivada

Há vários modos de representar a derivada de uma função y  f (x) . Além de f ' ( x) as notações mais comuns
são:

Notação Lê-se Características

y' y linha Apropriada e breve. Não fornece a variável


(Notação independente.
devida a
Newton)
dy
dx dy dx ou a derivada de y em relação a x. Fornece as variáveis e usa d para a derivada.
(Notação
devida a
Leibniz)

df
dx df dx ou a derivada de f em relação a x. Destaca o nome da função

d d dx de f(x) Enfatiza a idéia de que derivar é uma operação


f ( x) realizada em f.
dx
Para indicar o valor da derivada dy/dx na notação de Leibniz em um número específico a, usamos a notação
dy dy 
ou que é um sinônimo para f ' (a) .
dx x a dx  x a

6. As funções deriváveis são contínuas


Tanto a continuidade como a diferenciabilidade são propriedades desejáveis para uma função. O seguinte
teorema mostra como essas propriedades estão relacionadas.

Teorema. Se a função f tem uma derivada em x  c , então f é contínua em x  c .

Demonstração: aula

Exercício 1.

Dê um contra-exemplo para mostrar que a recíproca do teorema anterior é falsa. Ou seja, se uma função f é
contínua, então f não é necessariamente derivável.

Resolução: a função f ( x) | x | é contínua em x  0 , mas não possui derivada neste ponto.

Três formas de uma função f deixar de ser derivável em x=a.

1. O gráfico de f apresenta uma quina em x=a. Como o gráfico de f(x)=|x| em x=0.

2. A função f é descontínua em x=a.

3. o gráfico de f apresenta uma tangente vertical em x=a.

7. Derivadas de Segunda Ordem e de Ordem Superior.

A derivada f’(x) é a derivada primeira(de primeira ordem) de f(x). Se f’(x) for derivável então sua derivada
f’’(x) será chamada de derivada segunda(de segunda ordem) de f(x).

d  dy  d 2y
Outras notações para a derivada segunda: y ''  
dx  dx  dx2

Se f”(x) for derivável, sua derivada f’’’(x) será a derivada terceira (de terceira ordem) de f(x). De um modo
d ny
geral, f n ( x)  y ( n)  representa a derivada enésima ( derivada de ordem n) de y em relação a x, para
dxn
qualquer inteiro positivo n.

Exemplo 6.
3 2
As primeiras quatro derivadas de y = x - 3x + 2, são:
2 (4)
y’ = 6x - 6x, y’’ = 12x - 6, y’’’ = 12 e y = 0.
Note que essa função possui derivadas de todas as ordens, sendo a quarta derivada e as subseqüentes todas
iguais a zero.
Referências Bibliográficas
GUIDORIZZI, H.L. Um curso de cálculo, vol 1. 5 ed. São Paulo. LTC.

THOMAS, George B. Cálculo, vol 1. São Paulo. Ed. Pearson Education do Brasil.

FLEMMING, D.M & GONÇALVES, M.B. Cálculo A .Makron Books.

MUNEM, M.A. & FOULIS, D.J. Cálculo, vol 1.Rio de Janeiro. LTC.

STEWART, J. Cálculo, vol 1. São Paulo. Thomson Learning.

Exercícios Propostos

1. Dada f ( x)  3x  2 . Calcule usando a definição


a) f ' (2)
b) f ' (0)
c) f ' ( x)

2. Calcule f ' ( p) pela definição


a) f ( x)  x e p  3
1
b) f ( x)  2 e p  2
x
c) f ( x)  2 x 3  x 2 e p  1

3. Determine a equação da reta tangente em ( p, f ( p)) sendo dados


1
a) f ( x)  e p2
x
b) f ( x)  x 2  x e p  1

4. Calcule f ' ( x) , pela definição


a) f ' ( x)  10
x
b) f ' ( x) 
x 1

5. Dê um exemplo (por meio de um gráfico) de uma função f , definida e derivável em R , tal que f ' (1)  0 .
6. Dê um exemplo (por meio de um gráfico) de uma função f , definida e derivável em R , tal que f ' ( x)  0 .
7. Dê um exemplo (por meio de um gráfico) de uma função f , definida e contínua em R , tal que f ' (1) não
exista.
2 x  1 se x  1
8. Mostre que a função g ( x)   não é derivável em p  1 . Esboce o gráfico de g .
 x  4 se x  1
 x 2  2 se x  1
9. Dada a função g ( x)  
2 x  1 se x  1
a) Mostre que g é derivável em p  1 e calcule g ' (1) .
b) Esboce o gráfico de g

2 se x  0
10. Seja a função f ( x)   2
 x  2 se x  0
a) Esboce o gráfico de f
b) f é derivável em p  0 ? Em caso afirmativo, calcule f ' (0) .
 x  1 se x  1
g ( x)  
11. Seja a função
 x  3 se x  1
a) Esboce o gráfico de g
b) g é derivável em p  1 ? Por quê?

12. Construa uma função f : R  R que seja contínua em R e que seja derivável em todos os pontos, exceto em
 1, 0 e 1 .

13. Construa uma função f : R  R que seja contínua em R e que seja derivável em todos os pontos, exceto
nos números inteiros.

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