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(21/11/20)
Informe político, por Rui Costa Pimenta
A situação nacional
No Brasil, a situação é mais complexa porque aqui há o PT, e
isso é um problema para a burguesia.
A esquerda brasileira é diferente de toda a esquerda latino-
americana. Quando houve um ascenso da esquerda brasileira,
os setores estrangeiros afirmavam que o PT era a esquerda mais
direitista da América Latina. Essa análise confunde a questão,
pois o PT é o partido mais problemático da esquerda mundial,
uma vez que é um partido que tem uma enorme base operária e
na população pobre beneficiada pelos programas que o PT fez.
O PT está apoiado na CUT, uma organização operária
gigantesca. As pessoas confundem a paralisia da CUT com a
falta de capacidade que ela teria de mobilizar. Se ela se
movimentasse, a CUT seria a organização mais poderosa no
País. O PT é o setor fundamental da esquerda nacional.
O problema é que o PT lulista – que expressa as tendências da
classe operária, ainda que de maneira muito deformada – tem
que ser desarticulado para que se imponha a política neoliberal.
Na Bolívia, Evo Morales perdeu a luta no interior do MAS. No
Brasil, Lula não perdeu.
O Brasil é um país-chave. Aqui, para que se conclua a operação
golpista, é preciso tirar Lula do panorama político. Se no Brasil
acontecesse o que aconteceu na Bolívia, se Lula fosse eleito
presidente, a pressão popular sobre o governo seria
infinitamente mais forte que a pressão popular na Bolívia. Se
houvesse uma reviravolta como essa na situação política
brasileira, teríamos uma crise inimaginável. Por isso o empenho
da direita contra o PT. Precisam transformar o PT em uma
esquerda uruguaia (como Pepe Mujica, fundamental para fechar
todos os acordos com os militares torturadores do Uruguai e dar
estabilidade ao governo) ou chilena (que, por meio da antiga
burocracia stalinista, sufocou as organizações sindicais com uma
política de frente ampla). Isto é, transformar o PT em uma
espécie de social-democracia latino-americana.
Uruguai e Chile sempre se destacaram por ter um melhor nível
de vida na América Latina. O Uruguai era considerado a "Suíça
latino-americana". O Chile foi o único país latino-americano a ter
um verdadeiro partido social-democrata (socialista).
É evidente que Arce, na Bolívia, vai se chocar muito mais com o
movimento operário e popular do que Evo Morales.
No Brasil, temos o problema de que a esquerda brasileira mais
forte não é tipicamente social-democrata. Uma parte do PT é
(Haddad o declarou). Os petistas do Rio Grande do Sul também
(Tarso Genro). Um Partido Social-Democrata latino-americano é
um partido sem trabalhadores que fala mais em democracia que
em "social".
[...]
Nas eleições, havia dois temas fundamentais: isolar Bolsonaro e
o PT, isto é, isolar "os extremos", o que deixa o caminho aberto
para os "moderados".
Na análise, é preciso ver o que aconteceu com o esforço da
burguesia de isolar os extremos, ou, mais precisamente, de
acabar com a polarização política. Essa é a função da nossa
análise.
O caso Boulos
Boulos é o centro de toda a manobra para construir a esquerda
["que o papai gosta"] no Brasil. Pretendem, com Boulos,
substituir todas as lideranças do PT. O reacionaríssimo El País
afirmou que Boulos é "o Lula 4.0". Obviamente é uma farsa, mas
é revelador do raciocínio dos articuladores da fraude: Lula não
será candidato, não será eleito, e o PT terá que apresentar uma
figura inexpressiva. Eis que aparecerá o grande vitorioso do
1º turno das eleições, a face jovem da esquerda e do
identitarismo.
A esquerda pequeno-burguesa pensa que "Lula é um político de
colaboração de classes, tanto quanto outros, e portanto são
todos iguais, logo, escolho Boulos".
Lula é o chefe do partido de esquerda mais ligado ao movimento
operário e popular. Um ataque a ele é um ataque a todos ligados
a esse movimento. Boulos é uma figura que apoiou o golpe.
É preciso mostrar, a cada momento, o que significa a
colaboração com a burguesia. Boulos representa a tentativa de
fazer com que a esquerda pequeno-burguesa predomine
totalmente sobre os trabalhadores. Boulos é o candidato da
pequena burguesia e até de um setor da burguesia. Na manobra,
fizeram com que a pequena burguesia apoiasse Boulos, o que foi
fácil porque é uma classe volúvel, e em seguida usaram a
pequena burguesia para se impor sobre o PT e os trabalhadores
e levar uma parte do seu eleitorado.
O PT, na situação política, se coloca à esquerda, e o PSOL se
coloca à direita. O que os define é a posição diante do golpe e as
relações com os golpistas. Uma esquerda defensora do golpe,
lavajatista, é uma esquerda tipo PSDB.
A eleição mostrou, no caso Boulos e em geral, o papel
completamente contrarrevolucionário do chamado identitarismo.
[vide a demagogia em torno do número de mulheres eleitas etc.,
e a repercussão absolutamente nula disso].
A única coisa evidente é a tentativa da esquerda pequeno-
burguesa de liquidar o PT. Em Pernambuco, Marília Arraes,
candidata do PT, foi atacada durante toda a campanha e, tendo
chegado ao segundo turno, PCdoB e PSOL apoiam o adversário,
do PSB.
Bloco Ciro Gomes
Ocorre algo semelhante ao que ocorre com o PT, e com o bloco
dominante (MDB), em que há um deslocamento à direita. O
bloco liderado pelo PDT sofre com isso. As eleições municipais
dão a entender que as eleições de 2022 podem ter um candidato
linha dura, direitista, e não um moderado.
A situação mostra que a frente ampla está enfraquecida. O
deslocamento à direita a esvaziou. Uma frente ampla que
englobe setores do PSDB, MDB, PCdoB, PDT etc., seria como a
Frente Popular da Espanha (a sombra da burguesia). A
burguesia não estaria aí, mas usaria essa frente para eleger um
candidato da direita, da ala direita do bloco dominante ou dos
partidos que tendem à extrema-direita. A esquerda brasileira
entrou de cabeça. Ela é composta por uma minoria que fala em
socialismo e marxismo, tem ilusões revolucionárias, mas no geral
é composta por uma esquerda bem pensante, a que tem o
pensamento da moda, de uma ala semi-progressista, semi-
democrática, contra o radicalismo, os extremos e as teorias da
conspiração, e uma parcela de gente abertamente direitista. O
ápice desta esquerda bem pensante foi a campanha da
corrupção. Agora, Boulos.
Toda a importância política deste setor consiste em controlar a
opinião de classe média, de esquerda, sobre a classe operária.
A polarização se mantém claramente na pequena burguesia. O
que significa que ela se mantém na situação nacional em geral.
O bloco fundamental da burguesia se desloca à direita.
Pelo que se viu nas eleições, há uma tendência de luta da classe
operária. A votação do PT não diminuiu, embora não tenha
ganhado prefeituras.
Nossa posição
Não votar nos candidatos da esquerda pequeno burguesa pois
não estão ligados à classe operária.
Para que a classe operária possa se expressar com voz própria
é preciso combater essa esquerda pequeno-burguesa. Nesse
sentido, nossa posição deve ser o voto nulo em todos os
candidatos no segundo turno.
Não podemos definir o nosso voto com base na ideologia, e sim
em relações concretas. Podemos votar em um candidato que
não tem a nossa ideologia. Mas tem que ser um candidato que
faça avançar o desenvolvimento da luta de classes da classe
operária. O voto nas candidaturas pequeno-burguesas indica que
a pequena burguesia tem o direito e o privilégio de controlar
politicamente a classe operária.
Diante do argumento: "Mas Boulos e Manuela D'ávila não seria
melhor?" Dizemos: "Não". Apenas do ponto de vista que não vão
conseguir fazer nada… o ganho é pequeno perto do prejuízo… o
partido que está defendendo a independência de classes estaria
apoiando um candidato burguês (pequeno-burguês, logo..
burguês).
Depois das eleições, estaremos firmes na campanha pelo fora
Bolsonaro e todos os golpistas e o imperialismo. Se
dissermos apenas fora Bolsonaro, por mais que seja uma
política de luta, estaríamos acobertando a operação do
imperialismo para impor alguém como Doria em 2022.
A candidatura de Lula é um divisor de águas. A burguesia tem
certeza que Lula não poderá ser candidato. Isso, no entanto, não
é certo.
Proposta
Publicar um programa (folheto) para a atual situação política no
Brasil, para a agitação na campanha e propaganda política
partidária em geral, tratando das questões essenciais (a
destruição das condições de vida dos trabalhadores, as questões
democráticas, os salários, o trabalho), para mostrar o conjunto
da política do partido, e não ficar apenas nas palavras de ordem
centrais.