Você está na página 1de 18

Thomaz Amancio 206 Followers About Follow Sign in Get started

Biblioteca do Antropoceno #12


— A vegetação do capital
Thomaz Amancio Apr 30, 2019 · 14 min read
Ingenio Intrepido, do Libro de los ingenios de Eduardo Laplante

Fernando Ortiz foi um antropólogo e etnomusicólogo cubano do século


XX, famoso por suas obras sobre a cultura Afro-Cubana. Seu livro mais
famoso, porém, é Contrapunteo cubano del tabaco y el azúcar, um ensaio
singular sobre a história econômica e social de Cuba, que toma como
referentes existenciais os dois gêneros vegetais mais importantes da ilha.

Para Ortiz, o açúcar e o tabaco não são meros produtos, mas sim
produtores da realidade cubana: através deles se desenham o espaço, as
divisões de trabalho, as relações internacionais. Compõem verdadeiros
agenciamentos vegetais-produtivos com as forças do capital e da libido,
onde entram não só interesses do dinheiro e do corpo humano, mas
também o funcionamento das máquinas e dos corpos vegetais.

As necessidades massivas da produção de cana, por exemplo,


condicionam a demanda por trabalho escravo, enquanto a atenção
artesanal exigida pelo tabaco requer trabalhadores livres. Se o produto
do tabaco é diversificado e tem caráter próprio, o produto da cana é
homogêneo e massificado, o que o torna uma mercadoria mais adequada
para os intercâmbios abstratos do capital — mais próxima do solvente
universal que é o dinheiro.

No processo produtivo da cana e do tabaco, as exigências de


investimento e de cuidado, o interesse final na quantidade ou na
qualidade criam diferentes relações de velocidade e repouso. A
acumulação primitiva e fixa do açúcar, que exige um grande investimento
inicial e uma estrutura produtiva permanente, permite a velocidade
infinita do capital. A mobilidade-portabilidade do tabaco, ao contrário,
provoca uma desaceleração geral: ele permite o trabalho individual, o
transporte individual, a solidão vagarosa do momento de fumar.

Assim, na monocultura de cana encontramos o protótipo do Plantation-


ceno, um dos nomes que se dá aos bois que puxam o carro das mudanças
climáticas. É como se a plantação de cana fosse uma versão natural da
linha de montagem fordista, dedicada à eficiência, à produtividade e à
rapidez. Exceto que não se trata de algo natural: embora baseie sua
análise nas potências do corpo vegetal, Ortiz evita qualquer
determinismo biológico. Ele afirma no ensaio que a produção do tabaco
vai se tornando cada vez mais parecida com a da cana, resultado dos
interesses e movimentos da força instituinte do capital, de seus devires
omnívoros e monstruosos.

Mas se as operações de colheita e seleção do tabaco são lentas e


parcimoniosas, as da cana sempre exigem rapidez. As canas precisam ser
moídas assim que são cortadas, para que seu suco não fermente e se
perca. Essa condição da cana tem enormes consequências sociais e
histórias. Os grupos de trabalhadores que cortam não podem ser os
mesmos que, logo depois, moem e cozinham a cana. No caso do tabaco,
como no do trigo, as operações agroindustriais são sucessivas, ao longo
de um ciclo. Os mesmos operários podem realizar, uma depois da outra,
as várias fases do trabalho. Na cana não acontece isso. O descuido que
ela permite nos campos pede em troca a rapidez assim que a mutilam
para roubar-lhe a essência, e não tolera o abandono. A cana cortada
dura poucos dias antes de começar a fermentar e apodrecer. As
operações de corte, transporte, moenda, decantação, cozimento, purga e
cristalização precisam ser feitas teoricamente uma após a outra, sem
descanso — mas quase todas elas ocorrem simultaneamente na vida dos
engenhos. Enquanto se cortam estes canaviais, outros estão sendo
convertidos em sacos de açúcar. E tudo na correria. Desde que o facão
derruba a cana até que se termina de empacotar o açúcar passa-se pouco
tempo, algumas horas. A safra de um engenho, pela grande quantidade
de canas, dura meses, mas a “safra” da cana é sempre veloz. Por isso ela
requer forçosamente a cooperação simultânea de numerosos
trabalhadores por um breve período. A pressa com que a cana precisa
ser moída depois de cortada e o período fatal o mais curto possível que a
safra requer criaram a necessidade de acumular muitos braços
disponíveis, baratos e estáveis, para um trabalho que é descontínuo e
cessa na fase industrial. Concentração intermitente de trabalhadores
abundantes e baratos: eis aqui um fator fundamental da economia
açucareira cubana. E não havendo em Cuba braços suficientes, foi
necessário durante séculos busca-los fora, em número, barateza,
rusticidade e permanência convenientes. Daí, pois, que aquela apressada
condição agroquímica da cultura de cana tenha determinado
fundamentalmente toda a evolução demogênica e social de Cuba.
Principalmente a essa condição da produção açucareira deveu-se o
tráfico negreiro e a escravidão até época muito tardia.

[…]

A máquina triunfa completamente no proceso fabril do açúcar. Dele


desapareceram as lidas manuais quase em absoluto. O maquinismo foi ali
de tamanha transcendência que provocou a transformação integral da
estrutura industrial, territorial, jurídica, política e social da economia
açucareira de Cuba, mediante uma série coordenada de fenômenos que
ainda não foram devidamente considerados pela sociologia cubana.
No século XX a produção sacarífera chega em Cuba ao nível máximo do
processo histórico de sua industrialização, embora ainda não tenha
terminado de percorrer todas as fases necessárias para sua perfeita
integração evolutiva. O maquinismo, chegado a Cuba no século XIX com a
máquina a vapor, já nesse século foi impondo-se e criando o central; mas
é neste século XX que a máquina originou o engenho típico do presente,
o supercentral. Esse engenho supercentral tem sido o imperativo
econômico do maquinismo, do qual derivou toda uma série fenomênica
de fatos que, por seu intricado entretecimento, e pela relação de causas e
consequências, não se costuma ver com precisão nem analisar
devidamente. Baste aqui dizer que os principais fenômenos
característicos da presente indústria açucareira cubana, como ocorre em
maior ou menor grau nas outras Antilhas, e como acontece em parte em
outras indústrias análogas, são os seguintes: maquinismo, latifundismo,
colonismo, tráfico de trabalhadores, supercapitalismo, ausentismo,
estrangeirismo, corporativismo e imperialismo.

O maquinismo é o que permitiu e exigiu aumentar o raio dos engenhos.


Antes o engenho se estendia até onde permitia o tiro* [*transporte da
cana da área plantada até a usina] das carretas; agora, com as máquinas
locomotoras, o raio de extensão de um engenho só se mede pelo preço
do transporte. Sabe-se que em Porto Rico se mói cana cortada na ilha de
Santo Domingo e levada pelo mar ao trapiche. O grande moinho e a
grande ferrovia cresceram juntos, e ambos tornaram necessária a
plantação maior, e daí a exigência de propriedades mais extensas para os
canaviais. Este fenômeno foi o que produziu a ocupação de muitas terras
virgens, sobretudo nas províncias de Camagüey e Oriente, e o
deslocamento do centro agrário de Cuba. Estas ciclópicas maquinarias e
estes enormes tentáculos ferroviários, que converteram os engenhos em
monstruosos polvos de ferro, foram exigindo terras e mais terras para
satisfazer a voracidade implacável dos grandes trapiches com canaviais,
potreiros e montanhas.

Depois do maquinismo veio o magno latifundismo, ou seja, o


aproveitamento de uma enorme extensão de terra por um só senhorio
privado. O latifundismo foi a base econômica do feudalismo e amiúde o
esteve reproduzindo. Toda a Idade Moderna, especialmente desde o
século XVIII, vem lutando pela liberdade do homem, desvinculando-o da
terra; pela liberdade da terra, livrando-a da tirania monopolista do
homem. Hoje o fenômeno tende a repetir-se intensamente nas Antilhas e
um dia voltarão as leis agrárias para a desamortização das terras
açambarcadas pelas mãos mortas. O latifundismo agrário é agora uma
fatal consequência do presente fenômeno universal da concentração
capitalista. A indústria requer a cada dia mais e mais meios de produção,
e a terra é destes o mais importante.

O engenho já é algo mais que uma simples hacienda; já não há em Cuba


verdadeiros hacendados. O central moderno não é uma simples
exploração agrária, nem sequer uma planta fabril com a produção de
suas matérias primas ao lado; hoje é todo “um sistemas de terras,
máquinas, meios de transporte, técnicos, operários, dinheiro e população
para produzir açúcar”; é todo um organismo social, tão vivo e complexo
como uma cidade ou município, ou um castelo baronial com sua comarca
enfeudada de vassalos, solarengos e babadores. O latifúndio não é senão
sua base territorial, sua massa fixa. O engenho está vertebrado por uma
estrutura jurídica e econômica que combina massas de terras, massas de
máquinas, massas de homens e massas de dinheiro, tudo propiciado à
magnitude integral do enorme organismo sacarífero.

[…]

Sem um grande investimento de dinheiro em plantações duradouras e


prensas potentes, nunca pôde haver engenho nem outros açúcares que
os do mel trabalhado pelas comunistas abelhas em suas colmeias. A
economia do tabaco pôde ser limitada a uma agricultura hortense na
veiga e a umas mãos hábeis que souberam torcê-lo ou picá-lo para serem
fumados puros, em cigarros ou cachimbos. Para poder-se propagar o
açúcar, foram necessários muitos progressos nos segredos da alquimia,
nas potências da mecânica, nas dimensões da navegação, nas
colonizações tropicais, no tráfico de trabalhadores escravizados e,
sobretudo, na acumulação de capitais e na organização bancária. Para
propagar o tabaco, bastou que os navegantes e mercadores fossem
regando pelo globo um punhado de sementinhas, as quais por sua
pequenez cabiam em qualquer lugar, até ocultas nas quinquilharias de
um grumete.

[…]
Em tudo isso houve grande influência de um costume típico das
tabaquerias cubanas, ocasionado pela diferença no trabalho industrial,
que é todo mecânico no açúcar e todo manual no tabaco. No açúcar, as
lidas industriais — desde a esteira, o trapiche e os fornos até os tachos, as
centrífugas e as embaladoras — hão de executar-se de pé, dispersos e
andando de um lado para o outro em meio a um ruído diabólico. Os
trabalhadores no engenho mal conseguem falar, quanto mais ouvir.

A leitura [em voz alta] não cabe nos engenhos de açúcar, em cuja casa de
caldeiras não se podem escutar vozes humanas. Já nem se ouvem as
rítmicas canções de trabalho com que antanho os escravos davam ímpeto
e ritmo a suas lidas nos trapiches, nas fornalhas, nos empilhamentos e
nas bagaceiras. Hoje em dia o engenho é um monstro mecânico que ao
mover-se produz uma ensurdecedora sinfonia de rolagens, prensas,
bielas, engrenagens, êmbolos, pistões, válvulas, centrífugas e acarretos,
com escapes de vapor que parecem rugidos de feras e com silvos
estridentes como sirenes enfurecidas.

No tabaco, ao contrário, a galeria da oficina pode permanecer silenciosa


ao calar-se o vozerio das conversas. A manipulação do tabaco se faz por
torcedores sentados em mesas, uns do lado dos outros, como estudantes
que fazem o repasso de seus livros no colégio. Por isso foi possível
estabelecer nas tabaquerias um costume tomado aos refeitórios dos
conventos e das prisões, que é o da leitura em voz alta para que a ouçam
todos os operários enquanto dura sua tarefa.
O açúcar se produz por uma orquestração de máquinas ruidosas; o
tabaco se elabora em silêncio ou com palavra livre. O açúcar se faz com
ritmo coletivo; o tabaco com melodia individual. O açucareiro industrial
tem um trabalho muito movimentado, rude, ensurdecedor e repetitivo; o
tabaqueiro na fábrica faz seu trabalho sentado e com o gozo e o prazer
de falar e de ouvir.

Pero si las operaciones de la cosecha y escogida del tabaco son lentas y


parsimoniosas, las de la caña exigen siempre la rapidez. Las cañas han de
molerse apenas cortadas, porque si no su jugo merma, fermenta y se
echa a perder. Esta condición de la caña es de enormes consecuencias
sociales e históricas. Las cuadrillas de obreros que cortan no pueden ser
las mismas que hagan, poco después, la molida y cocción de la misma
caña. En el tabaco, como en el trigo, las operaciones agroindustriales
son sucesivas a lo largo de un ciclo. Los mismos labriegos pueden
realizar, una tras otra, varias fases del trabajo. En la caña no ocurre así.
El descuido que ésta permite en sus campos, se trueca en premiosidad
apenas la mutilan para robarle su savia, y no tolera el abandono. La caña
cor tada dura pocos días sin que comience a fermentar y pudrir. Las
operaciones del corte, tiro, molienda, decantación, cocido, purga y
cristalización tienen que hacerse teóricamente una tras otra pero sin
descanso; pero prácticamente son todas ellas simultáneas en la vida de
los ingenios. Mientras unos cañaverales se cortan, otros son ya
convertidos en sacos de azúcar. Y todo a la carrera. Desde que el
machete o mocha “tumba la caña” hasta que se cierra el envase del
azúcar, sólo media muy breve tiempo, pocas horas. La zafra de un
ingenio por la gran cantidad de sus cañas dura meses, pero la “zafra” de
caña es siempre veloz. Por eso la zafra requiere forzosamente la
cooperación simultánea de numerosos trabajadores por un breve
período. El apremio con que tiene que ser molida la caña después de
cortada y el período fatal y lo más corto posible que la zafra requiere,
crearon la necesidad de acumular muchos brazos disponibles, baratos y
estables, para un trabajo que es discontinuo y cesa con la estación
industrial. Concentración intermitente de braceros abundantes y
baratos: he ahí un factor fundamental de la economía azucarera cubana.
Y no habiendo en Cuba brazos suficientes, hubo durante siglos que
buscarlos fuera, en número, baratura, rusticidad y permanencia con -
venientes. De ahí, pues, que aquella premiosa condición agroquímica de
la cañicultura haya determinado fundamentalmente toda la evolución
demogénica y social de Cuba. Principalmente a esta condición de la
producción azucarera debiéronse la trata negrera y la esclavitud hasta
época muy tardía.

[…]

La máquina triunfa totalmente en el proceso fabril del azúcar. De él han


desaparecido las faenas manuales casi en absoluto. El maqumismo ha
sido allí de tanta trascendencia que ha provocado la transformación
íntegra de la estructura industrial, territorial, jurídica, política y social de
la economía azucarera de Cuba, mediante una serie coordinada de
fenómenos todavía no bien apreciados en la sociología cubana.

En el siglo xx la producción sacarífera llega en Cuba al máximum del


proceso histórico de su industrialización, si bien aún no ha terminado de
recorrer todas las fases necesarias para su perfecta integración
evolutiva. El maquinismo, llegado a Cuba en el siglo decimonono con la
máquina de vapor, ya en ese siglo fue imponiéndose y creando el central;
pero es en este siglo xx cuando la máquina ha originado el típico ingenio
presente, el supercentral. Este ingenio supercentral ha sido el imperativo
económico del maquinismo, del cual ha derivado toda una serie
fenoménica de hechos que, por su intrincado entreteji- miento y por la
relación de causas y consecuencias, no se suelen ver con precisión ni
analizar debidamente. Baste aquí decir que los principales fenómenos
característicos de la presente industria azucarera cubana, como igual
ocurre en mayor o menor grado en las otras Antillas, y como acontece
en parte en otras industrias análogas, son los siguientes: maquinismo,
latifundismo, colonismo, trata de braceros, supercapi-talismo, ausentismo,
extranjerismo, corporativismo e imperialismo.

El maquinismo es lo que ha permitido y exigido aumentar el radio de los


ingenios. Antes el ingenio se extendía hasta donde lo permitía el tiro de
las carretas; ahora, con las máquinas locomotoras, el radio de extensión
de un ingenio sólo se mide por el precio del transporte. Sabido es que en
Puerto Rico se muele caña cortada en la isla de Santo Domingo y llevada
por mar al trapiche. El gran molino y el gran ferrocarril han crecido
juntos y ambos han hecho necesaria la mayor plantación y de ahí la
exigencia de más extensas fincas para los cañaverales. Este fenómeno
fue el que produjo la ocupación de muchas tierras vírgenes sobre todo en
las provincias de Camagüey y Oriente y el desplazamiento del centro
agrario de Cuba. Estas ciclópeas maquinarias y estos enormes tentáculos
ferroviarios, que han convertido a los ingenios en monstruosos pulpos
de hierro, han ido exigiendo tierras y más tierras para satisfacer la
voracidad implacable de los grandes trapiches con cañaverales, potreros
y montes.

Tras del maquinismo vino el magno latifundismo, o sea el aprove-


chamiento de una enorme extensión de tierra por un solo señorío priva-
do. El latifundismo fue la base económica del feudalismo y a menudo lo
ha estado reproduciendo. Toda la Edad Moderna, especialmente desde
el siglo x v iii, ha luchado por la libertad del hombre, desligándolo de la
tierra; por la libertad de la tierra librándola de la tiranía monopolista del
hombre. Hoy el fenómeno tiende a repetirse intensamente en las Antillas
y un día volverán las leyes agrarias para la desamortización de las tierras
acaparadas por las manos muertas. El latifundismo agrario es ahora una
fatal consecuencia del presente fenómeno universal de la concentración
capitalista. La industria requiere cada día más y más medios de
producción, y la tierra es de éstos el más importante.

El ingenio ya es algo más que una simple hacienda; ya en Cuba no hay


verdaderos hacendados. El central moderno no es una simple ex-
plotación agraria, ni siquiera una planta fabril con la producción de sus
materias primas al lado; hoy es todo “un sistema de tierras, máquinas,
transportes, técnicos, obreros, dineros y población para producir
azúcar”; es todo un organismo social, tan vivo y complejo como una
ciudad o municipio, o un castillo baronial con su comarca enfeudada de
vasallos, solariegos y pecheros. El latifundio no es sino su base territorial,
su masa afincada. El ingenio está vertebrado por una económica y
jurídica estructura que combina masas de tierras, masas de máquinas,
masas de hombres y masas de dineros, todo proporcionado a la
magnitud integral del enorme organismo sacarífero.

[…]

Sin larga inversión de dineros en duraderas plantaciones y potentes


prensas, nunca pudo haber ingenio ni otros azúcares que los de la miel
trabajada por las comunistas abejas en sus colmenas. La economía del
tabaco pudo ser limitada a una agricultura hortelana en la veguita y a
unas manos hábiles que supieran torcerlo o picarlos para su fuma en
puros, en cigarros o en pipa. Para poderse propagar los azúcares se
necesitaron muchos progresos en los secretos de la alquimia, en las
poten cias de la mecánica, en los altos bordos de la navegación, en las
colonizaciones tropicales, en la trata de los braceros esclavos, y, sobre
todo, en la acumulación de capitales y en la organización bancaria. Para
propagar el tabaco bastó que los navegantes y mercaderes fuesen
regando por el globo unos puñados de semillitas, las cuales por su
pequeñez cabían doquiera, hasta ocultas en la pacotilla de un grumete.
[…]

En todo esto ha tenido que influir mucho una costumbre típica de las
tabaquerías cubanas, ocasionada por la diferencia del trabajo industrial,
que es todo mecánico en el azúcar y todo manual en el tabaco. En el
azúcar, las faenas industriales, desde la estera, el trapiche y los hornos
hasta los tachos, las centrífugas y los envases, han de ejecutarse de pie,
dispersos, y andando de un lado a otro en medio de un ruido diabólico.
Los obreros en el ingenio apenas pueden hablarse, ni tampoco oírse.

La lectura no cabe en los ingenios de azúcar, en cuya casa de calderas no


se pueden escuchar voces humanas. Ya ni se oyen las rítmicas canciones
de trabajo con que antaño los esclavos daban ímpetu y ritmo a sus faenas
en los trapiches, en las fornallas, en los entongues y en las ba- gaceras.
Hoy día el ingenio es un monstruo mecánico que al moverse produce
una ensordecedora sinfonía de rodajes, prensas, bielas, engranes,
émbolos, pistones, válvulas, centrífugas y acarreos, con escapes de vapor
que parecen rugidos de fiera y con silbidos estridentes como de sirenas
enfurecidas.

En el tabaco, en cambio, la galera del taller puede permanecer silen ciosa


si se acalla el vocerío de las conversaciones. El manipuleo del tabaco se
hace por los torcedores sentados en sendas mesas, unos junto a otros,
como escolares que hacen repaso de sus libros en el colegio. Por esto ha
sido posible establecer en las tabaquerías una costumbre tomada de los
refectorios de los conventos y de las prisiones, cual es la de la lectura en
alta voz para que la oigan todos los operarios mientras dura su tarea en
el taller.

El azúcar se produce por una orquestación de máquinas ruidosas; el


tabaco se elabora en silencio o con palabra libre. El azúcar se hace con
ritmo colectivo; el tabaco con melodía individual. El azucarero industrial
tiene trabajo muy movido, rudo, ensordecedor y rutinario; el tabaquero
en la fábrica hace su labor sentado y con el goce y provecho de hablar y
de oír.

Sobre a Biblioteca do Antropoceno


Reúno nesse espaço textos interessantes para pensar a biopolítica e a
cosmopolítica do Antropoceno. Narrativas sobre a relação entre o
humano e o mundo. Na medida do possível, vou realizar ou buscar
traduções de material inédito ou raro em português, mas também
pretendo incluir minhas histórias de estimação. Aceito sugestões.

#1 — A revolução dos bichos (trecho do Roman de la Rose)


#2 — Extraordinário Pleito (excerto da Nova Floresta)
#3 — Tudo charanga (canção do povo baka)
#4 — O banquete dos sabidos (excerto dos Deipnosofistas)
#5 — O pássaro marítimo (fábula taoísta)
#6 — Coisas da Terra (definições astecas)
#7 — A família das coisas (poemas de Mary Oliver)
#8 — Senhora do tronco (aforismos da Log Lady)
#9 — As três irmãs (narrativa de Robin Wall Kimmerer)
#10 — Doente dos olhos (poemas de Alberto Caeiro)
#11 — Um animal menor (excerto do Livro dos animais)

27 

Antropoceno Fernando Ortiz Cuba Plantation Vegetal

More from Thomaz Amancio Follow

Bibliotecário do Antropoceno e poeta de ocasião.

More From Medium

“At the time of our My Husband’s How I Lost 65 Pounds Life of a Programmer
wedding, I didn’t Mistress Canceled In 18 Months Without in Simple Jokes That
realize that the the Food Order for Any Fad Diets or Will Make You Laugh
Houmas House My Daughter’s Sixth Gimmicks Josef Cruz in JavaScript In
Plantation was Birthday Party Mark Suster in Both Sides Plain English
previously one… Jessica Lynn in The Happy of the Table
Momentum Blog Team in Spot
Momentum

Why the Next 29 Ridiculously Tiny The Reason Trump Trump’s Final Effort to
y y y p p
Financial Collapse Is Habits That Can Wants $2,000 Relief Overturn the Election
the Cure, Not a Crisis Completely Change Checks Caren White in Politically
Concoda in Concoda
Your Life David Leibowitz in Speaking
Sinem Günel in The Ascent Dialogue & Discourse

About Help Legal

PDFmyURL.com - convert URLs, web pages or even full websites to PDF online. Easy API for developers!

Você também pode gostar