As IH”s podem ser endógenas ou exógenas, sendo endógenas quando
causadas pela microbiota endógena (flora residente), própria do paciente. São exógenas quando causadas pela microbiota exógena (flora transitória) oriunda de reservatórios e veiculada através de vetores como o próprio paciente, equipe de saúde, artigos hospitalares, entre outros. Hoje em dia, a IH é predominantemente endógena, em decorrência do desenvolvimento da limpeza hospitalar (assepsia). Contudo, a presença de matéria orgânica favorece a proliferação de microrganismos e aparecimento de insetos, roedores e outros, que podem veicular microrganismos, ou seja; o ambiente é um reservatório potencial para uma variedade de microrganismos, mas raramente isso implica na transmissão de doenças, exceto para populações imunocomprometidas. A infecção nosocomial ou IH, em geral é provocada pela própria flora bacteriana humana, que se desequilibra com os mecanismos de defesa anti- infecciosa em decorrência da doença, dos procedimentos invasivos (soros, cateteres e cirurgias) e do contato com a flora hospitalar. Segundo a ANVISA (2004), algumas das conseqüências das infecções hospitalares referem-se ao aumento do tempo de internação e dos custos decorrentes tanto para a instituição quanto para os próprios pacientes e familiares, além da ameaça constante de disseminação de bactérias multi-resistentes. A IH revela caráter endógeno (fatores de risco relativos ao próprio paciente, como a microbiota, faixa etária, estado nutricional e emocional, doença de base, imunossupressão, doença crônica, uso de antimicrobianos e quimioterápicos e período prolongado de permanência no hospital e outros) e exógeno (associados ao ambiente, como infecção cruzada, procedimentos invasivos, hábito dos profissionais relativos à higiene de mãos, uso de materiais, equipamentos e soluções tópicas e endovenosas contaminadas, limpeza e higiene do ambiente inadequada, ausência de um planejamento que atenda as normas preconizadas para o processamento dos Resíduos do Serviço de Saúde e de combate aos vetores entre outras. Historicamente, em 1889, Guilherme Steward Halsted encomendou à Goodyear, a confecção de luvas finas de borracha, que protegiam as mãos e não atrapalhavam sua movimentação. Seu objetivo era proteger as mãos de sua amada que era enfermeira em um hospital, e lavava as mãos constantemente com soluções tóxicas. Anos após, em 1896, Von Mikulicz e Raduki, propuseram a utilização de máscara cirúrgica para evitar contaminação nasal e oral, enquanto as mãos continuavam sendo mergulhadas em soluções fenólicas, que provocavam intenso eczema nas mãos dos profissionais que as utilizavam. A morbidade das IH”s é extremamente variável, dependendo do tipo de hospital (público ou privado, geral ou especializado), do grau de higidez do internado (maior risco para pacientes diabéticos, imunocomprometidos, portadores de câncer avançado, obesos, queimados, desnutridos e outros), dos recursos disponíveis, das características do cuidado prestado, da forma como são coletados os dados para elaboração dos índices, bem como dos critérios diagnósticos de infecção hospitalar utilizados. Além disso, existe dificuldade de identificação de casos de IH pós-alta, principalmente nos casos em que os pacientes permanecem poucos dias internados. A IH é reflexo da suscetibilidade dos indivíduos ou ao grau com que os microrganismos têm acesso a órgãos vulneráveis, devido a procedimentos diagnósticos e terapêuticos a que são submetidos durante a internação. Assim que o paciente entra no hospital, além da presença de eficazes equipes de atendimento, deverá sentir segurança em relação a: - ambiente limpo e sem roedores, insetos, formigas; - água dentro dos padrões mínimos de potabilidade; - dieta adequada e livre de contaminação; - manutenção da estrutura elétrica e hidráulica dos equipamentos; - roupas limpas e sem risco de transmitir doenças; - medicamentos, insumos, artigos médico-hospitalares, isentos de risco de provocar infecção no paciente. São considerados Fatores de Risco de IH a presença de comorbidades, neoplasia, neutropenia, uso prévio de antimicrobiano, internação em UTI, transferência de outro hospital, entubação traqueal por mais de 24 horas e estadia prolongada estão independentemente associadas com IH. Portanto o controle das infecções hospitalares deve ser iniciado antes da internação do paciente, através da melhoria das condições sanitárias, de programas efetivos de vacinação, da melhoria dos serviços básicos de saúde, no tratamento hábil das doenças, evitando-se internações desnecessárias e por tempo prolongado. Exposições inadvertidas a patógenos oportunistas ambientais (ex.: Aspergillus spp. – gênero de fungo cujas espécies são aeróbicas e encontradas em ambientes ricos em oxigênio, onde geralmente crescem na superfície onde vivem contaminando restos de comidas e Legionella spp. – gênero de bactéria cujas espécies podem estar presentes em filtros de ar condicionado) ou a patógenos transmitidos pelo ar (ex.: Mycobacterium tuberculosis e vírus varicela zoster) podem resultar em infecções com morbidade e/ou mortalidade significativas. A desobediência aos padrões e orientações estabelecidos (ex: uso adequado de desinfetantes, qualidade da água na diálise e ventilação adequada para áreas de tratamento especial como salas de cirurgia), podem causar resultados adversos aos pacientes de estabelecimentos assistenciais de saúde. Os padrões e normas para manutenção da qualidade do ar em ambientes hospitalares exigem cuidados importantes como: - salas de operação com isolamento protetor e pressão positiva (2.5 atm); - renovação de ar com mais que 12 trocas de ar externo/ hora com uso de filtros do tipo HEPA; - localização da fonte de captação de ar longe de fontes poluentes, fezes de pombos, vegetação abundante e construções; - limpeza mensal dos componentes do sistema de climatização, quinzenal para os componentes hídricos e semestrais para a o sistema de dutos de ar e forros falsos. O ambiente de assistência à saúde contém uma população variada de microorganismos, mas apenas alguns deles são significativamente patogênicos para seres humanos suscetíveis. Os microrganismos estão presentes em grande número em ambientes úmidos orgânicos, mas alguns também podem persistir em condições secas. Embora os microorganismos patogênicos possam ser detectados na água e ar e nos materiais, avaliar o papel deles na causa de infecções e doenças é uma difícil tarefa. A presença de agentes patogênicos no ambiente hospitalar não estabelece seu papel causal; sua transmissão da fonte para o hospedeiro poderia acontecer por meios indiretos (ex.: pelas mãos), ou seja; a presença de superfícies contaminadas deve ser considerada um dentre vários reservatórios de agentes infecciosos, mas não a fonte de exposição “de fato”, de modo que a infecção só ocorrerá caso todos os componentes da "cadeia de infecção" sejam operacionais. A presença do hospedeiro suscetível é um desses componentes que ressalta a importância do ambiente de tratamento médico e de patógenos oportunistas em materiais, no ar e na água. Como resultado dos avanços na tecnologia médica e nas terapias (ex.: quimioterapia citotóxica e medicina de transplantes), mais pacientes estão se tornando imunocomprometidos no curso do tratamento e estão, portanto, sob maior risco de adquirirem infecções oportunistas associadas ao tratamento médico. As tendências dos tratamentos médicos (ex.: alta precoce de pacientes de estabelecimentos de tratamento agudo) também estão mudando a distribuição da população de pacientes e aumentando o número de pessoas imunocomprometidas em hospitais de tratamentos não agudos. À medida que se verifica maior tempo de permanência do paciente no hospital (pacientes remanescentes), nota-se maior probabilidade dos mesmos requerem intervenções médicas mais abrangentes, as quais são compatíveis com alto risco de infecções oportunistas. Os métodos de limpeza de pisos não porosos incluem esfregão molhado e aspirador úmido, espanador de poeira com materiais eletrostáticos e polimento com spray. Os métodos que produzem o mínimo de nuvens ou aerossóis ou dispersam o mínimo de poeira são preferíveis em alas de pacientes. Parte da estratégia de limpeza é minimizar a contaminação de soluções e ferramentas de limpeza. Soluções em balde se contaminam quase imediatamente durante a limpeza, e o uso contínuo da solução transfere números cada vez maiores de microorganismos para cada superfície a ser limpa. Soluções de limpeza devem ser substituídas freqüentemente. Outra fonte de contaminação do processo de limpeza são os panos e os esfregões, especialmente se forem deixados imersos em soluções de limpeza. É necessário lavar esses panos e esfregões depois do uso e deixar que eles sequem antes de reusá-los para ajudar a diminuir o grau de contaminação. Uma abordagem simplificada de limpeza envolve a substituição de panos e esfregões empoeirados por itens limpos a cada vez que o balde de desinfetante/detergente for esvaziado e preenchido com solução fresca e limpa. Assim, se os custos permitirem, deve-se optar por panos e esfregões de limpeza descartáveis. Outro reservatório de microorganismos no processo de limpeza pode ser as soluções diluídas de detergente ou desinfetantes, especialmente se a solução empregada for preparada num recipiente sujo, guardada por períodos longos ou preparada de forma inadequada. Bacilos gram-negativos (ex., Pseudomonas spp. e Serratia marcescens) foram detectados em soluções com os mesmos desinfetantes (ex., compostos de fenólicos e amônia quaternária). Segundo o CDC (Center for Disease Control - 1988), há doenças infecto-contagiosas que podem ser transmitidas no ambiente hospitalar, principalmente se os casos não forem diagnosticados e adequadamente isolados os indivíduos infectados, podendo até afetar os próprios profissionais de saúde; população de risco aumentado, por exemplo, para as patologias veiculadas pelo sangue. Os sistemas de ar condicionado podem albergar bactérias, vírus e fungos que são capazes de sobreviver em ambientes secos por longos períodos, sendo potencialmente causadores de infecções humanas. Dentre as mesmas, podem ser citadas: Legionella pneumophila, Bacillus sp, Flavobacterium sp, Pseudomonas aeruginosa, Staphylococcus aureus, Mycobacterium tuberculosis, Neisseria meningitidis, Streptococcus pneumoniae, Actinomyces sp, Paracoccidioides sp, Aspergillus sp, Penicillium sp, Cladosporium sp, Fusarium sp, vírus da influenza e sincicial respiratório. A bandeja do sistema de ar condicionado parece ser a principal fonte de multiplicação microbiana, por formar biofilme e desencadear a cadeia de transmissão. A contaminação de sistemas de ar condicionado está intrinsicamente relacionada ao risco de pacientes imunodeprimidos desenvolverem infecções. Há relação entre surtos de endocardite e aspergilose e a contaminação de sistemas de ar condicionado e fluxos de ar laminar por Aspergillus sp. A Legionella sp, bactéria comumente relacionada a contaminação de sistemas de água, foi responsável por surtos de pneumonia graves, doenças febris benignas, pericardites, endocardites e abscessos de pele. Dentre os casos de IH, disseminada por ar condicionado, são citados os seguintes patógenos: Acinetobacter sp, Staphylococcus sp e vírus Norwalk. A nossa realidade diária evidencia que ainda é longo o caminho para controle de tais fontes de IH, sendo que angústia do saber dos focos permanece. “Deve-se ver com os olhos mentais os germes prestes a infectar a ferida através do ar. Veja-os claramente como você percebe as moscas com olhos físicos” (Lister, 1874).
IH DE ETIOLOGIA EXÓGENA: A HIGIENE DE MÃOS (LAVAGEM
DE MÃOS)
Vários pesquisadores consideram a lavagem das mãos como a
principal medida preventiva e de controle de infecção hospitalar, estimando- se que 80% das IH”s estão relacionadas com a falta e/ou inadequação da lavagem de mãos. Portanto a higiene de mãos é a medida isolada mais importante para reduzir os riscos de transmissão de microrganismos de uma pessoa para outra (infecção cruzada) ou de um sítio para outro em um mesmo paciente, visto que estudos revelam que a flora transitória da pele é a principal responsável pelas infecções cruzadas. Apesar do sucesso de campanhas educacionais sobre a necessidade da higienização de mãos (lavagem de mãos), a maior conscientização dos profissionais de saúde em geral não resulta em mudanças significativas do comportamento na prática da lavagem de mãos, levando-nos a admitir que, da mesma forma que na área comercial, política e mesmo militar, modelos psicológicos de enfoque comportamental (comunicação persuasiva intra- hospitalar) possam ser direcionados aos programas de controle e prevenção de infecções hospitalares, de modo a aumentar a aderência dos profissionais de saúde. Pode-se citar dentre os obstáculos a adesão à lavagem das mãos, a má qualidade do sabão líquido (inadequações relativas ao pH, odor desagradável, alergia às soluções detergentes, etc.......) e do papel-toalha, assim como da localização e do número limitado de pias. Mesmo os investimentos em programas de educação continuada associados à substituição do sabão líquido e do papel-toalha, por produtos considerados de alta qualidade e também na amplificação e melhor distribuição de pias, nem sempre resultam numa melhor adesão. Também é citada pelos profissionais, como sendo um grande obstáculo, a tríade falta de tempo - excesso de tarefas - superlotação. Contudo, em períodos de ausência de sobrecarga de trabalho, em geral não é notada substancial melhora na adesão, evidenciando a existência de um distanciamento entre a teoria e a prática. São elementos essenciais na higiene de mãos os seguintes requisitos: manutenção da integridade da pele; elevada atividade antimicrobiana sobre a microbiota permanente e temporária e execução adequada da técnica de higienização. Sem contestar sua importância, a lavagem de mãos pode piorar a condição da pele, a qual é determinada pelos seguintes efeitos do sabão: aumento do pH, redução de lipídeos, aumento da perda de água transcutânea e aumento da eliminação de células escamosas da epiderme. Estima-se que uma enfermeira em 8 horas de plantão, “gaste” em média 56 minutos destinados à lavagem de mãos com água e sabão, ao passo que, para a higienização com formulação alcoólica, o tempo médio “gasto” seja de 18 minutos. É notável a rapidez e a simplicidade do uso de formulações alcoólicas, a qual exige apenas sua aplicação na palma de uma das mãos e a fricção das mãos juntas, de modo a cobrir todas as superfícies até secar, não sendo necessário nem recomendado que se lave as mãos, rotineiramente, após cada aplicação da formulação alcoólica (devido ao risco de dermatite). Estudos recentes realizados no Hospital Israelita Albert Einstein (hospital geral e privado, localizado na zona sul da cidade de São Paulo), revelaram que o álcool age na presença de matéria orgânica, com redução bacteriana de 99,9%, superior à lavagem das mãos com sabão não-antimicrobiano. Tais testes comparativos estudaram diferentes formulações alcoólicas, tendo sido constatada a seguinte ordem decrescente de eficácia: formulação líquida alcoólica glicerinada (solução líquida de álcool etílico a 70% com glicerina a 2%), gel 70% (álcool etílico a 70%, sob forma de gel) e gel 62% (álcool etílico a 62%, sob forma de gel). Assim conclui-se que comparativamente, o uso da solução alcoólica requer menos tempo e revela-se mais efetivo que lavar as mãos, inclusive quando comparado ao sabão com clorexidina, além de ser mais acessível que a pia, proporcionar maior redução na contagem bacteriana das mãos e melhorar a condição da pele.
IH DE ETIOLOGIA EXÓGENA: VEÍCULOS ANIMADOS DE
INFECÇÕES HOSPITALARES
Ratos, formigas, baratas, moscas e suas larvas, mosquitos, aranhas e
ácaros estão entre os artrópodes e populações de pragas vertebradas tipicamente encontradas em hospitais. Alguns insetos podem carregar uma grande variedade de microrganismos patogênicos, de modo a atuar como vetores mecânicos dos mesmos. Há evidências de que a diversidade de microorganismos associada aos insetos reflete as populações microbiais presentes no ambiente fechado dos hospitais; alguns agentes patogênicos encontrados em insetos de hospital foram encontrados em grau menor em insetos coletados em residências, sendo que algumas populações microbiais associadas aos insetos de hospital possuem resistência a antibióticos. As baratas se escondem em ambientes quentes e úmidos e se alimentam de substratos, incluindo, entre outros, restos de comida de cozinhas/cantinas, comidas de máquinas automáticas, restos ou molhos usados ou descartados, outras formas de detritos humanos como no escarro (em particular, substrato consumido por baratas), alojando-se como outros insetos em áreas do ambiente hospitalar. Moscas domésticas são possíveis vetores de Shiguelose e outras formas de diarréias em locais não hospitalares, sendo o seu controle populacional relacionado à redução simultânea na incidência de infecções diarréicas, presença de Shigellas e mortalidade causada por diarréia entre bebês e crianças. Um caso a parte por não ter relação com o papel de vetor mecânico nem biológico, a Míase (parasitose na qual a larva de qualquer uma das variedades de moscas usa o tecido vivo ou necrosado ou substâncias corporais como hospedeiros e fonte nutricional), pode ser adquirida em ambiente hospitalar ou não hospitalar. Para tanto, várias espécies de moscas (exemplo: “moscas varejeiras” ou “moscas zumbadoras” – moscas de coloração verde ou azul metálico), são atraídas por feridas necrosadas e lixo orgânico em putrefação, onde ovipõem, podendo assim determinar a proliferação de larvas nas cavidades nasais, auditivas e urogenitais, feridas e couro cabeludo (particularmente em indivíduos idosos, diabéticos, portadores de feridas crônicas). Os casos de Miíase (infestação causada por diferentes espécies de larvas de moscas) assim como a participação de moscas como vetores mecânicos aumentam no verão, quando as moscas são mais ativas. Particularmente a Miíase pode ser evitada por meio de simples medidas como a instalação de telas nas janelas. Formigas e baratas são freqüentemente encontradas em lavanderias, departamentos de esterilização e em todos os locais do hospital onde há água e umidade (ex., ralos de pia, drenos e armários de jalecos). Formigas se alojam em pacotes de itens estéreis, visto que também se alimentam em ambientes quentes e úmidos. Embora os insetos carreguem uma série de microrganismos patogênicos em suas superfícies e intestinos, a associação direta entre insetos e a transmissão de doenças (que não sejam transmitidas por vetor) é limitada, especialmente em hospitais; em países desenvolvidos, a simples presença de insetos não contribui substancialmente para a transmissão de doenças associadas ao tratamento. Surtos de infecções atribuídas a microrganismos que possam ser “carregados” por insetos, podem ocorrer devido à infestação e violações nos padrões de práticas de controle de infecções. As espécies de formigas que vivem em íntima associação com o homem, em geral não são vistas pelos leigos como insetos nocivos (vetores mecânicos de microrganismos causadores de infecções humanas). Conhecidas genericamente como “formigas vagabundas” (espécies adaptadas ao ambiente urbano e que sobrevivem em praticamente todos os locais que possuem água e comida), alojadas em hospitais, além do incômodo causado por sua presença e do possível papel de veiculadores de infecções hospitalares, também podem ser responsáveis por danificar alimentos e aparelhos eletrônicos. É fato que por meio de métodos eficientes de combate desses artrópodes, pode-se diminuir os índices de infecção nosocomial. A freqüente utilização e higienização do ambiente hospitalar tende a promover desgaste dos materiais mais frágeis, especialmente nos revestimentos de frestas e junções de paredes, parede-piso e azulejos. Em geral, observa-se também a falta de preocupação com a criação de possíveis abrigos para tais artrópodes, talvez pelo desconhecimento do papel dos mesmos nas infecções nosocomiais. No passado, o controle de formigas era baseado em métodos considerados clássicos como o uso de substâncias químicas, venenosas e persistentes. Hoje, deve ser baseado na identificação da espécie envolvida, na natureza da infestação e na localização do ninho. Assim é necessária a inspeção minuciosa e o registro do número de espécies presentes e se possível a localização dos ninhos (feito com o auxílio de iscas atrativas). Após sua localização, o ninho pode ser destruído com água quente e detergente. Nos casos de infestação de tubulações elétricas, o controle físico revela-se o mais eficiente, duradouro e adequado ao ambiente hospitalar. Um erro muito comum a ser evitado, refere-se a eliminação das operárias que forrageiam o ambiente por meio de inseticida aerossol, desencadeando a fragmentação das colônias e o aumento da infestação. Iscas atrativas podem ser uma boa alternativa, mas tomando o cuidado do ingrediente ativo ser de baixa concentração e não matar por contato. O interessante é que as operárias levem a isca para o ninho e distribua para os outros membros por trofalaxia, transferência de alimento boca a boca entre operária-operária, operária-larva, larva-operária e operária-rainha. Quando for observada uma grande infestação nos hospitais, algumas alternativas de emergência devem ser tomadas, paralelamente ao controle com o monitoramento adequado como, colocar fita dupla face nos pés de camas, macas, berços e incubadoras a fim de impedir que as formigas subam, além de desencostá-las da parede. Também pode ser usada uma mistura constituída de uma parte de vaselina sólida e uma parte de óleo hidratante para bebês, a qual impede o acesso das formigas, protegendo tais locais. Do ponto de vista da saúde e higiene públicas, pragas e artrópodes devem ser erradicadas de todos os ambientes hospitalares e domésticos, de modo a exigirem ações preventivas tais como: a) eliminação das fontes de alimentos, como habitats internos, e outras condições que atraem pragas; b) eliminação de pragas e artrópodes vetores, de ambientes internos; c) combate químico, desde que não traga riscos aos hospitalizados e aos profissionais das áreas técnica e administrativa. Insetos devem ser mantidos longe de áreas de saúde, principalmente salas de cirurgia e quaisquer áreas onde pacientes imunodeprimidos estejam localizados. De acordo com as necessidades do hospital, deve-se executar o controle de pragas e vetores por meio de métodos físicos ou alternativos e/ou agentes químicos aprovados (baixo risco de reações adversas dos pacientes e funcionários).
AS DIRETRIZES E CUSTOS RELATIVOS À PREVENÇÃO E
CONTROLE DA IH
Os estudos de procedimentos técnicos representam uma das principais
alternativas para o controle das IH’s, visto que a ênfase na vigilância epidemiológica (indicadores epidemiológicos), nas inúmeras tentativas de destruir microrganismos e na utilização de barreiras microbiológicas, não se revelam suficientes para o seu controle. De forma global, é possível reunir algumas características comuns relacionadas ao movimento internacional para o controle das IH”s: - a consideração de sua ocorrência como problema de Saúde Pública, dessa forma, exigindo medidas preventivas e de controle de caráter coletivo para uma prática clínica que sempre foi curativista e individual; - a organização de um processo de trabalho peculiar através da criação de comissões de controle de infecção hospitalar (CCIH) em cada hospital, elegendo a vigilância epidemiológica como seu instrumento principal; - o caráter multidisciplinar dos agentes desse processo de trabalho, destacando-se a enfermeira como profissional indispensável; - a multicausalidade para a ocorrência dessas infecções, determinando a necessidade de se estabelecer fatores de risco. De acordo com a concepção do processo saúde-doença, a qual substituiu a teoria unicausal das doenças, a teoria da multicausalidade utiliza como seu principal instrumento o saber epidemiológico, constituindo-se na principal ferramenta de estudo e controle das IH”s. O Ministério da Saúde criou em 31/01/1983 um grupo de trabalho ao lado de membros do Ministério da Educação e da Previdência Social, que elaborou um documento normativo, gerando a Portaria MS 196/83, de 24/06/83 que recomendava aos hospitais a criação de CCIH. Assim, o Programa de Controle de Infecção Hospitalar (PCIH) é obrigatório no Brasil desde 1983, visa abranger todos hospitais brasileiros e manter sob controle a iatrogenia (problema provocado por pessoal ou procedimentos médicos ou através de exposição ao meio hospitalar, inclusive o medo causado ao doente por comentários ou perguntas feitas por profissionais de saúde), no caso definida como IH. O PCIH tem a função de diagnosticar e vigiar a freqüência e distribuição do fenômeno entre os hospitalizados e egressos, de modo a intervir por diversos meios na padronização da qualidade de condutas profissionais invasivas nos pacientes e na orientação da escolha terapêutica e, de maneira sistêmica, prevenir e controlar fontes e formas de transmissão de microorganismos entre clientes, trabalhadores e ambiente, de modo a manter em alto nível a qualidade assistencial prestada. No PCIH, dois blocos de dados básicos de informações são necessários para obter a análise da qualidade assistencial: aqueles que se referem aos resultados assistenciais, detectados a partir da vigilância epidemiológica dos pacientes hospitalizados e egressos, e outro, que se refere às condições estruturais e dos processos, disponibilidade dos recursos, do conhecimento e da habilidade técnica para uma assistência proficiente e eficaz. As informações geradas pelo PCIH devem identificar os procedimentos e processos assistenciais de maior risco e os pacientes mais suscetíveis de adquirir IH, revelar o grau de conhecimentos e habilidades dos operacionalizadores da assistência em prevenir tal iatrogenia. A qualidade dos dados coletados depende da habilitação e treinamento dos profissionais técnicos, cujo conhecimento e adesão aos critérios e conceitos devem ser validados, para garantir informações confiáveis. Com a geração de informações sistemáticas, é possível compor relatórios analíticos que revelam os problemas prevalentes e relevantes, assim como demonstram, historicamente, os efeitos das intervenções em minimizá-los ou não. Ao analisar a Portaria 930/92, verifica-se que ela normatizou a criação de Serviços de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH) sendo integrado por profissionais e técnicos lotados no hospital, com, pelo menos, um médico e um enfermeiro, preferentemente com formação epidemiológica, para cada duzentos leitos ou fração deste número. O período de trabalho do médico e do enfermeiro no serviço deverá ser, no mínimo, de quatro e seis horas diárias, respectivamente, exigindo do último, lotação exclusiva no SCIH. Tal portaria também determina a criação de uma comissão de controle composta por representantes da administração, chefias de serviço, farmácia, laboratório. O SCIH deve atuar como órgão executivo, enquanto caberá à CCIH (composta por diversos setores do hospital), atuar como consultiva e deliberativa, ampliando a participação dos diversos seguimentos da instituição no controle das IH’s, assim fortalecendo as medidas orientadas pelo núcleo executivo. As funções do SCIH são as seguintes: a) Elaborar, implementar, manter e avaliar o Programa de Controle de Infecções Hospitalares; b) Implantar e manter um sistema de vigilância epidemiológica adequado às características do hospital; c) Realizar investigação epidemiológica de casos e surtos, sempre que indicado e implantar medidas imediatas de controle; d) Propor e cooperar na elaboração, implementação e supervisão da aplicação de normas e rotinas técnico-administrativas visando a prevenção e o tratamento das infecções hospitalares; e) Propor, elaborar, implementar e supervisionar a aplicação de normas e rotinas técnico-administrativas visando limitar a disseminação de agentes presentes em infecções em curso no hospital, através de medidas de isolamento e precauções; f) Cooperar com a vigilância epidemiológica fornecendo prontamente informações que auxiliem a notificação de doenças sob vigilância; g) Utilizar princípios epidemiológicos para avaliar a qualidade dos cuidados aos pacientes, auxiliando a direção em proporcionar assistência eficaz em relação ao custo; h) Elaborar e implementar estratégias capazes de minimizar os riscos profissionais de adquirir agentes infecciosos no ambiente hospitalar (Ministério da Saúde, 1992). Atualmente, as diretrizes gerais para o Controle das Infecções em Serviços de Saúdes são delineadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária. A IH contribui para o aumento da taxa de morbidade e mortalidade, aumentando o custo e a estadia dos pacientes nos hospitais, além de ser uma ameaça constante para a disseminação de bactérias multi-resistentes. Conclui-se que a erradicação da IH não é possível devido a fatores endógenos e exógenos, sendo os de caráter endógeno relacionados às condições de saúde do hospedeiro, enquanto os de caráter exógeno são relacionados a causas externas (ambientais), incluindo: - criação de comissões de controle de infecções hospitalares nos hospitais; - manutenção de um sistema de vigilância epidemiológica que informe sobre a incidência dessas infecções para prover informações imediatas que permitam avaliar os problemas e determinar as atividades de prevenção e controle; - estabelecimento de técnicas de isolamento ou precauções, de acordo com as vias de transmissão das doenças; - implantação de programas de saúde do trabalhador; - condições adequadas de atenção ao doente; - elaboração de métodos de qualidade nos laboratórios de microbiologia para a análise dos dados; - educação e treinamento de pessoal; - vigilância do meio ambiente; - intercâmbio com os serviços de saúde comunitária para permitir um melhor conhecimento das condições de saúde da comunidade, assim como utilizar seus conhecimentos para melhorar a qualidade de atenção ao paciente e organizar um bom sistema de informação de doenças de notificação compulsória. Além dos custos sociais da IH, particularmente importante num país do terceiro mundo como o Brasil, onde somente uma pequena parcela do produto interno bruto é aplicada em saúde, temos os custos diretos, indiretos e preventivos os quais são arcados pelos prestadores de assistência, pelos financiadores do atendimento ou pelos próprios pacientes. Discriminando-os temos a seguinte divisão: a) Custo Direto das IH”s: é aquele gasto no diagnóstico e tratamento do paciente que adquiriu esta patologia; b) Custo Preventivo das IH”s: refere-se às despesas gastas para evitar, reduzir ou minimizar a ocorrência das infecções hospitalares; c) Custo Indireto da IH”s: é o mais imprevisível e mais difícil de ser avaliado, incluindo: - a demanda reprimida de leitos, acentuada pela maior permanência hospitalar de um caso infectado; - os gastos com eventuais processos jurídicos e campanhas publicitárias para a imagem institucional; - valores inestimáveis como a morte, a dor, o sofrimento e a diminuição da capacidade produtiva. Os principais transtornos decorrentes das infecções hospitalares são segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA): - significativa letalidade elevando a morbidade e mortalidade; - aumento do tempo de internação e dos custos. As ações de vigilância epidemiológica das IH”s devem ser direcionadas a: avaliar medidas de controle, definir prioridades de controle, estabelecer limites endêmicos, calcular riscos específicos de procedimentos, observar tendências, identificar surtos, aprimorar a equipe de saúde, apoiar pesquisas, comparar resultados, cumprir exigência legal e constituir-se num indicador de qualidade. A Vigilância Epidemiológica aplica uma abordagem fundamentalmente preventiva em instituições voltadas para o atendimento do enfermo, de modo a atuar primariamente a partir do mesmo objeto, o paciente, promovendo sua saúde, prevenindo ou minimizando novos agravos, utilizando ferramentas desenvolvidas em saúde pública. Em resumo, a Vigilância Epidemiológica das IH”s tem por missão o controle de infecção e para tanto deverá promover a interação e o equilíbrio entre a abordagem clínica e a epidemiológica, aprimorando a qualidade do atendimento prestado. Desenvolvido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), o SINAIS (Sistema Nacional de Informação para o Controle de Infecções em Serviços de Saúde) é um programa gratuito o qual visa, em tempo real, possibilitar a avaliação de forma fácil, ágil e padronizada dos indicadores de infecção nos serviços de saúde, alimentando um banco de dados nacional, que será acessível a municípios, estados e governo federal. Assim, as ações básicas de controle de infecções poderão ser priorizadas de acordo com a realidade local, poupando esforços e potencializando investimentos. No Brasil, poucos hospitais utilizam sistemas informatizados produzidos por empresas especializadas para auxiliar no registro das ocorrências de infecção - a maioria registra os casos manualmente. O SINAIS visa viabilizar o envio de informações a uma base de dados nacional, a qual permitirá análise dos indicadores de infecção nacionais, discriminados por hospital, município e estado. Tal sistema permite a obtenção de indicadores que consideram os riscos relacionados ao tempo de internação e de exposição a procedimentos invasivos e as características dos pacientes e das unidades de internação. Além dos indicadores sobre as infecções, o Sinais contribuirá no combate à resistência microbiana, possibilitando a análise do perfil de sensibilidade de todos os microrganismos e o seu acompanhamento por tipo de ambiente ou unidade assistencial. Gestores estaduais e municipais e serviços de saúde com prioridade aos de maior complexidade e risco, deverão em breve, segundo o Ministério da Saúde, iniciar treinamentos para uso do SINAIS.
COMISSÕES DE CONTROLE DE IH
À Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), de acordo com
a legislação brasileira, são atribuídas várias ações de controle das IH”s, compreendendo: - observação dos “bastidores do hospital”, a qual permitirá corrigir as deficiências antes que a IH ocorra; - respeito ético, moral, legal e técnico com paciente e os profissionais que atuam no hospital; - vigilância epidemiológica das infecções hospitalares, compreendendo diagnóstico, notificação e consolidação de relatórios, avaliando o exercício profissional pelos índices de infecção; - ações de vigilância sanitária contribuindo para o aprimoramento das atividades de apoio no hospital; - investigação de surtos, onde se revisa as práticas assistenciais; - adoção de medidas de isolamento e precauções para se evitar a disseminação de doenças transmissíveis, onde muitas vezes a CCIH indica medidas protetoras adicionais para o atendimento dos pacientes; - adequação e supervisão das normas técnicas visando à prevenção e tratamento das infecções hospitalares, fazendo com que a equipe da CCIH avalie condutas e padronizações existentes no hospital, podendo identificar inadequações de acordo com sua ótica; - adoção de política de utilização de antimicrobianos, pela qual a CCIH define regras para prescrição desses medicamentos e elabora protocolos clínicos para tratamento das IH”s. A administração hospitalar recebe o apoio de várias comissões em assuntos específicos de ordem ética, técnica ou mesmo administrativa. Estes comitês fazem uma análise da situação local e aplicam os conhecimentos disponíveis sobre o assunto, apoiando e auditando o exercício profissional. Portanto, dentro de uma estrutura organizacional, o controle de infecção pretende ser um órgão de consultoria à direção do hospital e a todos os profissionais que atuam diretamente com o paciente ou em atividades de apoio, em assuntos relativos à prevenção e controle das infecções hospitalares. O Programa de Controle de Infecção Hospitalar deve ser entendido como uma série de ações conjugadas, praticadas intencionalmente, de forma a prevenir e controlar, dentro do conhecimento científico, a ocorrência de infecções hospitalares. Além da prevenção, o programa enfatiza a redução máxima possível da gravidade, que é determinada principalmente pela letalidade desses episódios. Ora, para minimizar sua gravidade, ou seja, a probabilidade de morte dos pacientes com infecção pode interagir com a prescrição de antimicrobianos, principalmente no que diz respeito aos episódios adquiridos em decorrência da hospitalização. Além disso, atendendo às recomendações da Portaria MS 54/96, (Ministério da Saúde - MS, 1996) todo hospital deve instituir um comitê visando à racionalização da prescrição de antimicrobianos, correlacionado com o perfil de sensibilidade das cepas isoladas em casos de infecção hospitalar. Para isso deve ser estudado e divulgado o padrão microbiológico. Em parceria com a farmácia, deve-se estudar o perfil de consumo de antimicrobianos e suas repercussões na micro-ecologia hospitalar, consolidando informações obtidas na vigilância epidemiológica e os dados fornecidos pelos Serviços de Farmácia e Microbiologia Clínica. É fundamental definir em conjunto com a Comissão de Padronização de Medicamentos, com o aval da Direção e da Comissão de Ética Médica, uma política de racionalização do consumo de antimicrobianos e avaliar seus resultados, pela qual é possível exigir a justificativa para prescrição de antibióticos sob controle da CCIH. A vigilância epidemiológica deve ser entendida como a obtenção de informação para a ação. Sempre que possível o diagnóstico e a notificação das infecções hospitalares deve ser relacionado aos fatores predisponentes, para orientação das medidas de prevenção e controle. Esta pesquisa deve ser feita de forma contínua, sistemática e o mais abrangente possível, através do método da busca ativa de casos de infecção hospitalar. A investigação epidemiológica deve ser acionada imediatamente sempre que for identificado um surto ou outro agravo inusitado à saúde dos pacientes relacionado às infecções hospitalares. Deve-se estimular a participação da equipe multiprofissional na elucidação da cadeia epidemiológica e elaboração das medidas de controle específicas. Estas atividades implicam no diagnóstico das infecções e da identificação dos possíveis fatores de risco. Cabe a CCIH promover auditoria para avaliar os resultados do atendimento ao paciente, propor e em surtos, até executar medidas corretivas. Pelo princípio da informação voltada para a ação, os indicadores epidemiológicos obtidos pela CCIH só fazem sentido se compreendidos pela equipe de saúde na sua essência, inseridos em um contexto de reavaliação da prática profissional, pois a CCIH raramente presta assistência ao paciente e os resultados de seu trabalho dependem da aderência dos profissionais de saúde às suas orientações. Visando avaliar a adequação das normas e rotinas técnico-operacionais relacionadas à prevenção e tratamento das infecções hospitalares, a CCIH deve realizar visitas técnicas (atividades que acompanham os bastidores do hospital), de modo a avaliar as ações desenvolvidas sob o ponto de vista do controle de infecção. Com o objetivo de evitar a disseminação de microrganismos no hospital o isolamento de pacientes portadores de algumas patologias transmissíveis, a CCIH deverá estabelecer Precauções Padrão, definidas como medidas para serem aplicadas no atendimento de todos os pacientes, independente da presença de infecção detectável e assim prevenir a transmissão de infecções, principalmente por contato com sangue e fluídos corpóreos. Por exemplo, a utilização de um determinado antimicrobiano pode ser adequada ao paciente, mas podem existir outras opções que ocasionem menor pressão seletiva sobre a flora hospitalar e desta forma, na ótica da CCIH, mais recomendados ao caso. A CCIH também deverá observar os cuidados prestados direta ou indiretamente aos pacientes, identificar problemas em relação à estrutura física, insumos, equipamentos ou aos próprios procedimentos médicos e de enfermagem e revisar rotinas e técnicas a partir de sua atualização científica e legal. Cabe assim à CCIH, detectar e corrigir problemas antes que os mesmos possam repercutir nos indicadores epidemiológicos das IH”s. Os controladores de infecção da CCIH devem estar atualizados, do ponto de vista técnico e científico, em doenças infecto-contagiosas e suas formas de transmissão para a elaboração de medidas de isolamento e Precauções-Padrão, participar da difusão dessas informações, elaborar manual específico e supervisionar sua aplicação. Também devem colaborar com a detecção de casos suspeitos de doenças transmissíveis durante as ações de vigilância epidemiológica das IH, indicando e suspendendo os isolamentos, resolvendo dúvidas do corpo clínico, enfermagem e outros serviços, podendo também haver divergências na indicação desta medida preventiva, principalmente ao suspender os isolamentos indicados pelos profissionais de saúde. A partir da atualização técnico-científica em controle de riscos biológicos no ambiente hospitalar, o controle de infecção deve interagir com outros setores e propor medidas de prevenção da ocorrência de acidentes com perfuro cortantes, colaborando na elaboração de protocolos de acompanhamento dos profissionais acidentados. Deve também colaborar na determinação das funções que estão sobre risco aumentado de determinados agentes biológicos, para elaboração de campanhas profiláticas e medidas de controle específicas, incluindo imunização dos profissionais que atuam nos hospitais. Considerando todas as ações da CCIH, ela é responsável pela atualização científica dos profissionais de saúde no que se refere ao tema, repassando as informações para a equipe de saúde. A comissão pode levantar prioridades educativas a partir das ações de vigilância e cooperar com o setor de desenvolvimento e treinamento de recursos humanos do hospital, na identificação das necessidades de treinamento. Também deve auxiliar na elaboração e execução destes projetos, atendendo às solicitações da educação continuada, da administração e demais departamentos do hospital, fornecendo pareceres, subsídios técnicos, legais e éticos, auxiliando-os na tomada de decisões em assuntos relacionados ao controle das infecções hospitalares. Deve colaborar com a elaboração e revisão de manuais do hospital, no que estiver relacionado às IH, seus fatores de risco e as medidas de controle. A CCIH deve difundir e supervisionar entre os profissionais de saúde o hábito da higiene das mãos, medida fundamental para o controle de infecção, mas freqüentemente negligenciada e gerar informações científicas e epidemiológicas com a finalidade de integrar a comunidade hospitalar nas ações de prevenção e controle das infecções. O hospital é um microssistema de atenção à saúde que tem a finalidade de oferecer atendimento global, procurando promover uma assistência integrada e humanizada. Este é o verdadeiro atendimento de excelência, sendo a principal estratégia para atingi-lo, o trabalho em equipe. Assim, os setores de apoio devem oferecer ações de suporte direto ou indireto para suprir a maioria das necessidades básicas e de apoio às ações preventivas, diagnósticas e terapêuticas durante a internação do paciente. Em resumo, a definição de prioridades, o confronto de condutas estabelecidas e a correção de tais condutas visando o aprimoramento da qualidade assistencial, cabem à CCIH; atividade que tende a gerar alto potencial de conflitos cujas repercussões no ambiente hospitalar deverão ser por ela minimizados. Portanto é sua função corrigir o agir profissional em saúde no ambiente hospitalar, levando em conta os comportamentos distintos das diferentes culturas profissionais (médicos, enfermeiros e auxiliares / técnicos de enfermagem e outros), cujo convívio tende à geração de conflitos.
ADERÊNCIA DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE ÀS PRÁTICAS
DE PREVENÇÃO E CONTROLE DE IH’s
Com relação à prevenção e controle de Infecções Hospitalares, intriga-
nos o fato de que medidas óbvias e importantes como a higiene das mãos, o uso criterioso de antibióticos, as ações corretas de isolamento de doenças transmissíveis, entre outras, apesar de conhecidas e reconhecidas como importantes pela maioria dos profissionais de saúde, não são executadas a contento, de modo a não prevenir a ocorrência das mesmas. Apesar de todas as estratégias e ações educativas realizadas, enfatizando essa importância, sua manutenção é efêmera, com raras exceções. Na verdade, não é por falta de informação que os profissionais de saúde não executam essas atividades corretamente. O já citado anteriormente, projeto SENIC, preconiza que o grupo que trabalhar com controle de infecção deva influenciar o comportamento das outras pessoas da equipe de saúde e até hoje é utilizado como referência. Utilizam-se dois Indicadores Epidemiológicos para a avaliação da ocorrência de infecções hospitalares, sendo a Taxa de Infecção Hospitalar (TIH) obtida dividindo-se o total de episódios de infecção hospitalar diagnosticados num determinado período, pelo total de pacientes expostos à internação no mesmo período. Como alguns pacientes apresentam mais de um episódio de infecção hospitalar durante sua internação é também calculada a taxa de pacientes com infecção hospitalar (TPIH), obtida pela divisão do número de pacientes com diagnóstico de infecção hospitalar num determinado período, pelo total de pacientes expostos à internação no mesmo período. Para ambos indicadores podem ser realizados estudos de incidência, computando apenas os casos novos detectados no período ou de estudos de prevalência, computando-se o total de casos identificados. O estudo da IH pode ser particularmente direcionado a variáveis relativas a quatro áreas específicas: - ao paciente: (a) no que se refere à necessidade de reconhecimento de grupos ou serviços especificamente expostos; (b) às medidas de proteção; (c) à função das imunoglobulinas; (d) à imunidade local adquirida; - ao agente infeccioso (microrganismo): (a) melhor avaliação epidemiológica dos sistemas de classificação do agente infeccioso; (b) dos fatores de virulência (capacidade do agente determinar casos fatais ou graves); (c) de preparação de métodos simplificados, rápidos ou automatizados de diagnóstico; (d) das modalidades de resistência; - ao meio ambiente: (a) através de controle dos métodos de esterilização e desinfecção; (b) de estudos sobre a planta física das salas e do ar condicionado nos hospitais; de serviços de isolamento, assistência de enfermagem, roupas e máscaras protetoras; (c) inspeção dos diversos setores (cozinhas, refeitórios, lavanderia e transportes); desinfecção de superfícies; - ao setor administrativo: (a) referente aos aspectos econômicos e aos estudos sobre a relação custo/benefício; (b) estabelecimento de normas e questões jurídicas. Sendo a primeira condição do hospital, não prejudicar o doente, se causas externas podem potencialmente comprometer a vida produtiva do indivíduo, ações judiciais legais podem ser impetradas pelo paciente acometido, de modo a responsabilizar tanto a hospitais como a profissionais de saúde. As pesquisas sobre infecções hospitalares, relatos de surtos epidêmicos e medidas para seu controle, mostram que na sua maioria, estes são decorrentes de falhas e da falta de aderência dos profissionais de saúde às medidas de controle preconizadas. Tal não aderência às medidas de controle pode ser atribuída à falta de motivação e baixa percepção dos profissionais de saúde no que se refere à importância das medidas para prevenção de infecções. A chave para combater infecções hospitalares está assim na dinâmica humana da equipe de saúde, a qual deverá ser continuadamente avaliada com relação aos seus conhecimentos, atitudes e aderência frente aos princípios e procedimentos recomendados no controle de infecções. A medicina brasileira sofreu grandes transformações no século XX decorrentes em parte da evolução sócio-econômica do país e em parte de sua própria evolução, onde se destacou a incorporação tecnológica. No passado, a medicina era predominantemente realizada em consultórios particulares, onde o médico tinha controle sobre a captação da clientela, detinha os meios para produção do seu trabalho, que era individualizado e até sobre a sua prescrição, uma vez que era mais freqüente o emprego de medicações formuladas individualmente do que os remédios industrializados, ou seja; já foi um trabalho artesanal sob vários aspectos. As transformações sócio-econômicas aliadas à socialização da medicina e à intervenção progressiva do Estado fizeram com que o médico não controlasse diretamente a captação da clientela. O desenvolvimento do conhecimento técnico científico levou à incorporação tecnológica, transferindo o atendimento do consultório e do domicílio para hospitais, unidades de pronto-socorro e unidades especializadas em diagnóstico. Tal “perda de autonomia” é geradora de conflito com tendência à “prática solo” (prática liberal do exercício profissional), a qual faz parte da cultura médica. O êxito das ações do controle das infecções para os pacientes, profissionais e instituição depende em grande parte das relações interpessoais. Dentro da estrutura organizacional, cada profissional deve ter papel definido e cumpri-lo com a máxima competência, procurando agir sempre de acordo com os princípios básicos de sua ação profissional, onde os conceitos de controle de infecção têm um papel importante. Deve haver um canal de comunicação entre a CCIH e os profissionais relacionados à prevenção e ao controle das infecções hospitalares. Atualmente, os hospitais aumentaram em complexidade, a medicina é bem mais invasiva, as infecções hospitalares devem-se muito mais ao distúrbio do equilíbrio do homem e sua microbiota, relacionados à gravidade dos pacientes ou às medidas de diagnóstico e tratamento, que apresentam riscos intrínsecos à sua natureza. A atenção à saúde evoluiu e as infecções hospitalares continuam a representar um importante efeito adverso da assistência à saúde. As medidas de prevenção e controle das infecções hospitalares continuam a gerar polêmica, cada vez mais interagindo nas complexas interfaces estabelecidas no atendimento à saúde. Freqüentemente tornam-se evidentes os conflitos relacionados às diferentes expectativas de cada um dos envolvidos nesta complexa cadeia de eventos interdependentes. Para a otimização de recursos e resultados em prol da saúde dos pacientes, o controle de infecção necessita de uma equipe harmônica e coesa, tarefa difícil se não forem compreendidos e respeitados os múltiplos interesses envolvidos. Os principais problemas referidos são a deficiência de formação acadêmica em relação ao tema, dificuldade para o trabalho em equipe, as situações de emergência, quadro funcional deficiente e superpopulação de pacientes. A CCIH é percebida como um órgão de assessoria da direção e não exibe o mesmo rigor para propor medidas corretivas que envolvam a direção, tal como faz com os auxiliares e técnicos, principalmente em situações de aumento da incidência de infecção. A CCIH em geral acaba sendo vista como um órgão fiscalizador e de punição. Por não existir formação acadêmica específica em controle de infecção, em geral os profissionais adquirem-na na sua prática. O profissional do controle de infecções deve ser uma fonte permanente de consultas para toda a equipe hospitalar, por isso deve estar sempre atualizado tecnicamente e ter um bom relacionamento com todos, procurando agir pela competência e não pelo mero “poder do cargo”. Muitas orientações aparentemente interferem com a autonomia da profissão e só serão aceitas se respeitarem o conhecimento do interlocutor, fornecendo-lhe informações científicas e epidemiológicas que fundamentem uma nova conduta. Estes dados, ao lado do estímulo à integração de todos os profissionais que prestam atendimento direto ou indireto aos pacientes e das orientações à clientela externa, são os principais produtos do controle de infecção. Para a implantação da atenção integral à saúde é necessária a elaboração de programas coerentes e corretamente formulados tanto do ponto de vista técnico quanto político, onde são importantes a melhoria gerencial dos serviços e a qualificação permanente dos profissionais de saúde. Estes devem estar orientados a prestar uma assistência integral e humana, evitando a excessiva utilização de tecnologias médicas. Entretanto a formação dos profissionais de saúde carece, na maioria dos casos, de conteúdos relacionados a aspectos não-biológicos da saúde. No que se refere especificamente à formação médica, há pouca ou nenhuma incorporação de conhecimentos relacionados às ciências sociais e humanas. O controle das IH’s constitui um dos maiores desafios do sistema de saúde, dentro da premissa básica de não causar danos aos pacientes. Diversos estudos apontam para a possibilidade de redução de 30 a 70 % na ocorrência dessas infecções, identificando os programas de monitoramento como uma das principais ferramentas para esta diminuição.