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Unidade II – Prof.

Carlos Roberto Ramos da Silva

IH DE ETIOLOGIA EXÓGENA: A HIGIENE HOSPITALAR

As IH”s podem ser endógenas ou exógenas, sendo endógenas quando


causadas pela microbiota endógena (flora residente), própria do paciente. São
exógenas quando causadas pela microbiota exógena (flora transitória) oriunda
de reservatórios e veiculada através de vetores como o próprio paciente,
equipe de saúde, artigos hospitalares, entre outros. Hoje em dia, a IH é
predominantemente endógena, em decorrência do desenvolvimento da limpeza
hospitalar (assepsia). Contudo, a presença de matéria orgânica favorece a
proliferação de microrganismos e aparecimento de insetos, roedores e outros,
que podem veicular microrganismos, ou seja; o ambiente é um reservatório
potencial para uma variedade de microrganismos, mas raramente isso implica
na transmissão de doenças, exceto para populações imunocomprometidas.
A infecção nosocomial ou IH, em geral é provocada pela própria flora
bacteriana humana, que se desequilibra com os mecanismos de defesa anti-
infecciosa em decorrência da doença, dos procedimentos invasivos (soros,
cateteres e cirurgias) e do contato com a flora hospitalar. Segundo a ANVISA
(2004), algumas das conseqüências das infecções hospitalares referem-se ao
aumento do tempo de internação e dos custos decorrentes tanto para a
instituição quanto para os próprios pacientes e familiares, além da ameaça
constante de disseminação de bactérias multi-resistentes.
A IH revela caráter endógeno (fatores de risco relativos ao próprio
paciente, como a microbiota, faixa etária, estado nutricional e emocional,
doença de base, imunossupressão, doença crônica, uso de antimicrobianos e
quimioterápicos e período prolongado de permanência no hospital e outros) e
exógeno (associados ao ambiente, como infecção cruzada, procedimentos
invasivos, hábito dos profissionais relativos à higiene de mãos, uso de
materiais, equipamentos e soluções tópicas e endovenosas contaminadas,
limpeza e higiene do ambiente inadequada, ausência de um planejamento que
atenda as normas preconizadas para o processamento dos Resíduos do
Serviço de Saúde e de combate aos vetores entre outras.
Historicamente, em 1889, Guilherme Steward Halsted encomendou à
Goodyear, a confecção de luvas finas de borracha, que protegiam as mãos e
não atrapalhavam sua movimentação. Seu objetivo era proteger as mãos de
sua amada que era enfermeira em um hospital, e lavava as mãos
constantemente com soluções tóxicas. Anos após, em 1896, Von Mikulicz e
Raduki, propuseram a utilização de máscara cirúrgica para evitar contaminação
nasal e oral, enquanto as mãos continuavam sendo mergulhadas em soluções
fenólicas, que provocavam intenso eczema nas mãos dos profissionais que as
utilizavam.
A morbidade das IH”s é extremamente variável, dependendo do tipo de
hospital (público ou privado, geral ou especializado), do grau de higidez do
internado (maior risco para pacientes diabéticos, imunocomprometidos,
portadores de câncer avançado, obesos, queimados, desnutridos e outros), dos
recursos disponíveis, das características do cuidado prestado, da forma como
são coletados os dados para elaboração dos índices, bem como dos critérios
diagnósticos de infecção hospitalar utilizados. Além disso, existe dificuldade de
identificação de casos de IH pós-alta, principalmente nos casos em que os
pacientes permanecem poucos dias internados.
A IH é reflexo da suscetibilidade dos indivíduos ou ao grau com que os
microrganismos têm acesso a órgãos vulneráveis, devido a procedimentos
diagnósticos e terapêuticos a que são submetidos durante a internação. Assim
que o paciente entra no hospital, além da presença de eficazes equipes de
atendimento, deverá sentir segurança em relação a:
- ambiente limpo e sem roedores, insetos, formigas;
- água dentro dos padrões mínimos de potabilidade;
- dieta adequada e livre de contaminação;
- manutenção da estrutura elétrica e hidráulica dos equipamentos;
- roupas limpas e sem risco de transmitir doenças;
- medicamentos, insumos, artigos médico-hospitalares, isentos de risco
de provocar infecção no paciente.
São considerados Fatores de Risco de IH a presença de comorbidades,
neoplasia, neutropenia, uso prévio de antimicrobiano, internação em UTI,
transferência de outro hospital, entubação traqueal por mais de 24 horas e
estadia prolongada estão independentemente associadas com IH. Portanto o
controle das infecções hospitalares deve ser iniciado antes da internação do
paciente, através da melhoria das condições sanitárias, de programas efetivos
de vacinação, da melhoria dos serviços básicos de saúde, no tratamento hábil
das doenças, evitando-se internações desnecessárias e por tempo prolongado.
Exposições inadvertidas a patógenos oportunistas ambientais (ex.:
Aspergillus spp. – gênero de fungo cujas espécies são aeróbicas e encontradas
em ambientes ricos em oxigênio, onde geralmente crescem na superfície onde
vivem contaminando restos de comidas e Legionella spp. – gênero de bactéria
cujas espécies podem estar presentes em filtros de ar condicionado) ou a
patógenos transmitidos pelo ar (ex.: Mycobacterium tuberculosis e vírus
varicela zoster) podem resultar em infecções com morbidade e/ou mortalidade
significativas. A desobediência aos padrões e orientações estabelecidos (ex:
uso adequado de desinfetantes, qualidade da água na diálise e ventilação
adequada para áreas de tratamento especial como salas de cirurgia), podem
causar resultados adversos aos pacientes de estabelecimentos assistenciais
de saúde.
Os padrões e normas para manutenção da qualidade do ar em
ambientes hospitalares exigem cuidados importantes como:
- salas de operação com isolamento protetor e pressão positiva (2.5
atm);
- renovação de ar com mais que 12 trocas de ar externo/ hora com uso
de filtros do tipo HEPA;
- localização da fonte de captação de ar longe de fontes poluentes, fezes
de pombos, vegetação abundante e construções;
- limpeza mensal dos componentes do sistema de climatização,
quinzenal para os componentes hídricos e semestrais para a o sistema de
dutos de ar e forros falsos.
O ambiente de assistência à saúde contém uma população variada de
microorganismos, mas apenas alguns deles são significativamente patogênicos
para seres humanos suscetíveis. Os microrganismos estão presentes em
grande número em ambientes úmidos orgânicos, mas alguns também podem
persistir em condições secas. Embora os microorganismos patogênicos
possam ser detectados na água e ar e nos materiais, avaliar o papel deles na
causa de infecções e doenças é uma difícil tarefa.
A presença de agentes patogênicos no ambiente hospitalar não
estabelece seu papel causal; sua transmissão da fonte para o hospedeiro
poderia acontecer por meios indiretos (ex.: pelas mãos), ou seja; a presença de
superfícies contaminadas deve ser considerada um dentre vários reservatórios
de agentes infecciosos, mas não a fonte de exposição “de fato”, de modo que a
infecção só ocorrerá caso todos os componentes da "cadeia de infecção"
sejam operacionais. A presença do hospedeiro suscetível é um desses
componentes que ressalta a importância do ambiente de tratamento médico e
de patógenos oportunistas em materiais, no ar e na água.
Como resultado dos avanços na tecnologia médica e nas terapias (ex.:
quimioterapia citotóxica e medicina de transplantes), mais pacientes estão se
tornando imunocomprometidos no curso do tratamento e estão, portanto, sob
maior risco de adquirirem infecções oportunistas associadas ao tratamento
médico. As tendências dos tratamentos médicos (ex.: alta precoce de pacientes
de estabelecimentos de tratamento agudo) também estão mudando a
distribuição da população de pacientes e aumentando o número de pessoas
imunocomprometidas em hospitais de tratamentos não agudos.
À medida que se verifica maior tempo de permanência do paciente no
hospital (pacientes remanescentes), nota-se maior probabilidade dos mesmos
requerem intervenções médicas mais abrangentes, as quais são compatíveis
com alto risco de infecções oportunistas.
Os métodos de limpeza de pisos não porosos incluem esfregão molhado
e aspirador úmido, espanador de poeira com materiais eletrostáticos e
polimento com spray. Os métodos que produzem o mínimo de nuvens ou
aerossóis ou dispersam o mínimo de poeira são preferíveis em alas de
pacientes.
Parte da estratégia de limpeza é minimizar a contaminação de soluções
e ferramentas de limpeza. Soluções em balde se contaminam quase
imediatamente durante a limpeza, e o uso contínuo da solução transfere
números cada vez maiores de microorganismos para cada superfície a ser
limpa. Soluções de limpeza devem ser substituídas freqüentemente. Outra
fonte de contaminação do processo de limpeza são os panos e os esfregões,
especialmente se forem deixados imersos em soluções de limpeza. É
necessário lavar esses panos e esfregões depois do uso e deixar que eles
sequem antes de reusá-los para ajudar a diminuir o grau de contaminação.
Uma abordagem simplificada de limpeza envolve a substituição de panos e
esfregões empoeirados por itens limpos a cada vez que o balde de
desinfetante/detergente for esvaziado e preenchido com solução fresca e
limpa. Assim, se os custos permitirem, deve-se optar por panos e esfregões de
limpeza descartáveis.
Outro reservatório de microorganismos no processo de limpeza pode ser
as soluções diluídas de detergente ou desinfetantes, especialmente se a
solução empregada for preparada num recipiente sujo, guardada por períodos
longos ou preparada de forma inadequada. Bacilos gram-negativos (ex.,
Pseudomonas spp. e Serratia marcescens) foram detectados em soluções com
os mesmos desinfetantes (ex., compostos de fenólicos e amônia quaternária).
Segundo o CDC (Center for Disease Control - 1988), há doenças
infecto-contagiosas que podem ser transmitidas no ambiente hospitalar,
principalmente se os casos não forem diagnosticados e adequadamente
isolados os indivíduos infectados, podendo até afetar os próprios profissionais
de saúde; população de risco aumentado, por exemplo, para as patologias
veiculadas pelo sangue.
Os sistemas de ar condicionado podem albergar bactérias, vírus e
fungos que são capazes de sobreviver em ambientes secos por longos
períodos, sendo potencialmente causadores de infecções humanas. Dentre as
mesmas, podem ser citadas: Legionella pneumophila, Bacillus sp,
Flavobacterium sp, Pseudomonas aeruginosa, Staphylococcus aureus,
Mycobacterium tuberculosis, Neisseria meningitidis, Streptococcus
pneumoniae, Actinomyces sp, Paracoccidioides sp, Aspergillus sp, Penicillium
sp, Cladosporium sp, Fusarium sp, vírus da influenza e sincicial respiratório.
A bandeja do sistema de ar condicionado parece ser a principal fonte de
multiplicação microbiana, por formar biofilme e desencadear a cadeia de
transmissão.
A contaminação de sistemas de ar condicionado está intrinsicamente
relacionada ao risco de pacientes imunodeprimidos desenvolverem infecções.
Há relação entre surtos de endocardite e aspergilose e a contaminação de
sistemas de ar condicionado e fluxos de ar laminar por Aspergillus sp. A
Legionella sp, bactéria comumente relacionada a contaminação de sistemas de
água, foi responsável por surtos de pneumonia graves, doenças febris
benignas, pericardites, endocardites e abscessos de pele. Dentre os casos de
IH, disseminada por ar condicionado, são citados os seguintes patógenos:
Acinetobacter sp, Staphylococcus sp e vírus Norwalk.
A nossa realidade diária evidencia que ainda é longo o caminho para
controle de tais fontes de IH, sendo que angústia do saber dos focos
permanece.
“Deve-se ver com os olhos mentais os germes prestes a infectar a ferida
através do ar. Veja-os claramente como você percebe as moscas com olhos
físicos” (Lister, 1874).

IH DE ETIOLOGIA EXÓGENA: A HIGIENE DE MÃOS (LAVAGEM


DE MÃOS)

Vários pesquisadores consideram a lavagem das mãos como a


principal medida preventiva e de controle de infecção hospitalar, estimando-
se que 80% das IH”s estão relacionadas com a falta e/ou inadequação da
lavagem de mãos. Portanto a higiene de mãos é a medida isolada mais
importante para reduzir os riscos de transmissão de microrganismos de uma
pessoa para outra (infecção cruzada) ou de um sítio para outro em um
mesmo paciente, visto que estudos revelam que a flora transitória da pele é
a principal responsável pelas infecções cruzadas.
Apesar do sucesso de campanhas educacionais sobre a necessidade da
higienização de mãos (lavagem de mãos), a maior conscientização dos
profissionais de saúde em geral não resulta em mudanças significativas do
comportamento na prática da lavagem de mãos, levando-nos a admitir que, da
mesma forma que na área comercial, política e mesmo militar, modelos
psicológicos de enfoque comportamental (comunicação persuasiva intra-
hospitalar) possam ser direcionados aos programas de controle e prevenção de
infecções hospitalares, de modo a aumentar a aderência dos profissionais de
saúde.
Pode-se citar dentre os obstáculos a adesão à lavagem das mãos, a má
qualidade do sabão líquido (inadequações relativas ao pH, odor desagradável,
alergia às soluções detergentes, etc.......) e do papel-toalha, assim como da
localização e do número limitado de pias. Mesmo os investimentos em
programas de educação continuada associados à substituição do sabão líquido
e do papel-toalha, por produtos considerados de alta qualidade e também na
amplificação e melhor distribuição de pias, nem sempre resultam numa melhor
adesão.
Também é citada pelos profissionais, como sendo um grande obstáculo,
a tríade falta de tempo - excesso de tarefas - superlotação. Contudo, em
períodos de ausência de sobrecarga de trabalho, em geral não é notada
substancial melhora na adesão, evidenciando a existência de um
distanciamento entre a teoria e a prática.
São elementos essenciais na higiene de mãos os seguintes requisitos:
manutenção da integridade da pele; elevada atividade antimicrobiana sobre a
microbiota permanente e temporária e execução adequada da técnica de
higienização. Sem contestar sua importância, a lavagem de mãos pode piorar a
condição da pele, a qual é determinada pelos seguintes efeitos do sabão:
aumento do pH, redução de lipídeos, aumento da perda de água transcutânea
e aumento da eliminação de células escamosas da epiderme.
Estima-se que uma enfermeira em 8 horas de plantão, “gaste” em média
56 minutos destinados à lavagem de mãos com água e sabão, ao passo que,
para a higienização com formulação alcoólica, o tempo médio “gasto” seja de
18 minutos. É notável a rapidez e a simplicidade do uso de formulações
alcoólicas, a qual exige apenas sua aplicação na palma de uma das mãos e a
fricção das mãos juntas, de modo a cobrir todas as superfícies até secar, não
sendo necessário nem recomendado que se lave as mãos, rotineiramente,
após cada aplicação da formulação alcoólica (devido ao risco de dermatite).
Estudos recentes realizados no Hospital Israelita Albert Einstein (hospital
geral e privado, localizado na zona sul da cidade de São Paulo), revelaram que
o álcool age na presença de matéria orgânica, com redução bacteriana de
99,9%, superior à lavagem das mãos com sabão não-antimicrobiano. Tais
testes comparativos estudaram diferentes formulações alcoólicas, tendo sido
constatada a seguinte ordem decrescente de eficácia: formulação líquida
alcoólica glicerinada (solução líquida de álcool etílico a 70% com glicerina a
2%), gel 70% (álcool etílico a 70%, sob forma de gel) e gel 62% (álcool etílico a
62%, sob forma de gel). Assim conclui-se que comparativamente, o uso da
solução alcoólica requer menos tempo e revela-se mais efetivo que lavar as
mãos, inclusive quando comparado ao sabão com clorexidina, além de ser
mais acessível que a pia, proporcionar maior redução na contagem bacteriana
das mãos e melhorar a condição da pele.

IH DE ETIOLOGIA EXÓGENA: VEÍCULOS ANIMADOS DE


INFECÇÕES HOSPITALARES

Ratos, formigas, baratas, moscas e suas larvas, mosquitos, aranhas e


ácaros estão entre os artrópodes e populações de pragas vertebradas
tipicamente encontradas em hospitais. Alguns insetos podem carregar uma
grande variedade de microrganismos patogênicos, de modo a atuar como
vetores mecânicos dos mesmos. Há evidências de que a diversidade de
microorganismos associada aos insetos reflete as populações microbiais
presentes no ambiente fechado dos hospitais; alguns agentes patogênicos
encontrados em insetos de hospital foram encontrados em grau menor em
insetos coletados em residências, sendo que algumas populações microbiais
associadas aos insetos de hospital possuem resistência a antibióticos.
As baratas se escondem em ambientes quentes e úmidos e se
alimentam de substratos, incluindo, entre outros, restos de comida de
cozinhas/cantinas, comidas de máquinas automáticas, restos ou molhos
usados ou descartados, outras formas de detritos humanos como no escarro
(em particular, substrato consumido por baratas), alojando-se como outros
insetos em áreas do ambiente hospitalar.
Moscas domésticas são possíveis vetores de Shiguelose e outras
formas de diarréias em locais não hospitalares, sendo o seu controle
populacional relacionado à redução simultânea na incidência de infecções
diarréicas, presença de Shigellas e mortalidade causada por diarréia entre
bebês e crianças.
Um caso a parte por não ter relação com o papel de vetor mecânico nem
biológico, a Míase (parasitose na qual a larva de qualquer uma das variedades
de moscas usa o tecido vivo ou necrosado ou substâncias corporais como
hospedeiros e fonte nutricional), pode ser adquirida em ambiente hospitalar ou
não hospitalar. Para tanto, várias espécies de moscas (exemplo: “moscas
varejeiras” ou “moscas zumbadoras” – moscas de coloração verde ou azul
metálico), são atraídas por feridas necrosadas e lixo orgânico em putrefação,
onde ovipõem, podendo assim determinar a proliferação de larvas nas
cavidades nasais, auditivas e urogenitais, feridas e couro cabeludo
(particularmente em indivíduos idosos, diabéticos, portadores de feridas
crônicas). Os casos de Miíase (infestação causada por diferentes espécies de
larvas de moscas) assim como a participação de moscas como vetores
mecânicos aumentam no verão, quando as moscas são mais ativas.
Particularmente a Miíase pode ser evitada por meio de simples medidas como
a instalação de telas nas janelas.
Formigas e baratas são freqüentemente encontradas em lavanderias,
departamentos de esterilização e em todos os locais do hospital onde há água
e umidade (ex., ralos de pia, drenos e armários de jalecos). Formigas se alojam
em pacotes de itens estéreis, visto que também se alimentam em ambientes
quentes e úmidos.
Embora os insetos carreguem uma série de microrganismos patogênicos
em suas superfícies e intestinos, a associação direta entre insetos e a
transmissão de doenças (que não sejam transmitidas por vetor) é limitada,
especialmente em hospitais; em países desenvolvidos, a simples presença de
insetos não contribui substancialmente para a transmissão de doenças
associadas ao tratamento. Surtos de infecções atribuídas a microrganismos
que possam ser “carregados” por insetos, podem ocorrer devido à infestação e
violações nos padrões de práticas de controle de infecções.
As espécies de formigas que vivem em íntima associação com o
homem, em geral não são vistas pelos leigos como insetos nocivos (vetores
mecânicos de microrganismos causadores de infecções humanas). Conhecidas
genericamente como “formigas vagabundas” (espécies adaptadas ao ambiente
urbano e que sobrevivem em praticamente todos os locais que possuem água
e comida), alojadas em hospitais, além do incômodo causado por sua presença
e do possível papel de veiculadores de infecções hospitalares, também podem
ser responsáveis por danificar alimentos e aparelhos eletrônicos. É fato que por
meio de métodos eficientes de combate desses artrópodes, pode-se diminuir
os índices de infecção nosocomial.
A freqüente utilização e higienização do ambiente hospitalar tende a
promover desgaste dos materiais mais frágeis, especialmente nos
revestimentos de frestas e junções de paredes, parede-piso e azulejos. Em
geral, observa-se também a falta de preocupação com a criação de possíveis
abrigos para tais artrópodes, talvez pelo desconhecimento do papel dos
mesmos nas infecções nosocomiais.
No passado, o controle de formigas era baseado em métodos
considerados clássicos como o uso de substâncias químicas, venenosas e
persistentes. Hoje, deve ser baseado na identificação da espécie envolvida, na
natureza da infestação e na localização do ninho. Assim é necessária a
inspeção minuciosa e o registro do número de espécies presentes e se
possível a localização dos ninhos (feito com o auxílio de iscas atrativas).
Após sua localização, o ninho pode ser destruído com água quente e
detergente. Nos casos de infestação de tubulações elétricas, o controle físico
revela-se o mais eficiente, duradouro e adequado ao ambiente hospitalar.
Um erro muito comum a ser evitado, refere-se a eliminação das
operárias que forrageiam o ambiente por meio de inseticida aerossol,
desencadeando a fragmentação das colônias e o aumento da infestação.
Iscas atrativas podem ser uma boa alternativa, mas tomando o cuidado
do ingrediente ativo ser de baixa concentração e não matar por contato. O
interessante é que as operárias levem a isca para o ninho e distribua para os
outros membros por trofalaxia, transferência de alimento boca a boca entre
operária-operária, operária-larva, larva-operária e operária-rainha.
Quando for observada uma grande infestação nos hospitais, algumas
alternativas de emergência devem ser tomadas, paralelamente ao controle com
o monitoramento adequado como, colocar fita dupla face nos pés de camas,
macas, berços e incubadoras a fim de impedir que as formigas subam, além de
desencostá-las da parede. Também pode ser usada uma mistura constituída
de uma parte de vaselina sólida e uma parte de óleo hidratante para bebês, a
qual impede o acesso das formigas, protegendo tais locais.
Do ponto de vista da saúde e higiene públicas, pragas e artrópodes
devem ser erradicadas de todos os ambientes hospitalares e domésticos, de
modo a exigirem ações preventivas tais como:
a) eliminação das fontes de alimentos, como habitats internos, e outras
condições que atraem pragas;
b) eliminação de pragas e artrópodes vetores, de ambientes internos;
c) combate químico, desde que não traga riscos aos hospitalizados e
aos profissionais das áreas técnica e administrativa. Insetos devem ser
mantidos longe de áreas de saúde, principalmente salas de cirurgia e
quaisquer áreas onde pacientes imunodeprimidos estejam localizados.
De acordo com as necessidades do hospital, deve-se executar o
controle de pragas e vetores por meio de métodos físicos ou alternativos e/ou
agentes químicos aprovados (baixo risco de reações adversas dos pacientes e
funcionários).

AS DIRETRIZES E CUSTOS RELATIVOS À PREVENÇÃO E


CONTROLE DA IH

Os estudos de procedimentos técnicos representam uma das principais


alternativas para o controle das IH’s, visto que a ênfase na vigilância
epidemiológica (indicadores epidemiológicos), nas inúmeras tentativas de
destruir microrganismos e na utilização de barreiras microbiológicas, não se
revelam suficientes para o seu controle.
De forma global, é possível reunir algumas características comuns
relacionadas ao movimento internacional para o controle das IH”s:
- a consideração de sua ocorrência como problema de Saúde Pública,
dessa forma, exigindo medidas preventivas e de controle de caráter coletivo
para uma prática clínica que sempre foi curativista e individual;
- a organização de um processo de trabalho peculiar através da criação
de comissões de controle de infecção hospitalar (CCIH) em cada hospital,
elegendo a vigilância epidemiológica como seu instrumento principal;
- o caráter multidisciplinar dos agentes desse processo de trabalho,
destacando-se a enfermeira como profissional indispensável;
- a multicausalidade para a ocorrência dessas infecções, determinando a
necessidade de se estabelecer fatores de risco.
De acordo com a concepção do processo saúde-doença, a qual
substituiu a teoria unicausal das doenças, a teoria da multicausalidade utiliza
como seu principal instrumento o saber epidemiológico, constituindo-se na
principal ferramenta de estudo e controle das IH”s.
O Ministério da Saúde criou em 31/01/1983 um grupo de trabalho ao
lado de membros do Ministério da Educação e da Previdência Social, que
elaborou um documento normativo, gerando a Portaria MS 196/83, de 24/06/83
que recomendava aos hospitais a criação de CCIH. Assim, o Programa de
Controle de Infecção Hospitalar (PCIH) é obrigatório no Brasil desde 1983, visa
abranger todos hospitais brasileiros e manter sob controle a iatrogenia
(problema provocado por pessoal ou procedimentos médicos ou através de
exposição ao meio hospitalar, inclusive o medo causado ao doente por
comentários ou perguntas feitas por profissionais de saúde), no caso definida
como IH.
O PCIH tem a função de diagnosticar e vigiar a freqüência e distribuição
do fenômeno entre os hospitalizados e egressos, de modo a intervir por
diversos meios na padronização da qualidade de condutas profissionais
invasivas nos pacientes e na orientação da escolha terapêutica e, de maneira
sistêmica, prevenir e controlar fontes e formas de transmissão de
microorganismos entre clientes, trabalhadores e ambiente, de modo a manter
em alto nível a qualidade assistencial prestada.
No PCIH, dois blocos de dados básicos de informações são necessários
para obter a análise da qualidade assistencial: aqueles que se referem aos
resultados assistenciais, detectados a partir da vigilância epidemiológica dos
pacientes hospitalizados e egressos, e outro, que se refere às condições
estruturais e dos processos, disponibilidade dos recursos, do conhecimento e
da habilidade técnica para uma assistência proficiente e eficaz.
As informações geradas pelo PCIH devem identificar os procedimentos
e processos assistenciais de maior risco e os pacientes mais suscetíveis de
adquirir IH, revelar o grau de conhecimentos e habilidades dos
operacionalizadores da assistência em prevenir tal iatrogenia.
A qualidade dos dados coletados depende da habilitação e treinamento
dos profissionais técnicos, cujo conhecimento e adesão aos critérios e
conceitos devem ser validados, para garantir informações confiáveis. Com a
geração de informações sistemáticas, é possível compor relatórios analíticos
que revelam os problemas prevalentes e relevantes, assim como demonstram,
historicamente, os efeitos das intervenções em minimizá-los ou não.
Ao analisar a Portaria 930/92, verifica-se que ela normatizou a criação
de Serviços de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH) sendo integrado por
profissionais e técnicos lotados no hospital, com, pelo menos, um médico e
um enfermeiro, preferentemente com formação epidemiológica, para cada
duzentos leitos ou fração deste número. O período de trabalho do médico e
do enfermeiro no serviço deverá ser, no mínimo, de quatro e seis horas diárias,
respectivamente, exigindo do último, lotação exclusiva no SCIH. Tal portaria
também determina a criação de uma comissão de controle composta por
representantes da administração, chefias de serviço, farmácia, laboratório.
O SCIH deve atuar como órgão executivo, enquanto caberá à CCIH
(composta por diversos setores do hospital), atuar como consultiva e
deliberativa, ampliando a participação dos diversos seguimentos da
instituição no controle das IH’s, assim fortalecendo as medidas orientadas
pelo núcleo executivo.
As funções do SCIH são as seguintes:
a) Elaborar, implementar, manter e avaliar o Programa de Controle
de Infecções Hospitalares;
b) Implantar e manter um sistema de vigilância epidemiológica adequado
às características do hospital;
c) Realizar investigação epidemiológica de casos e surtos, sempre
que indicado e implantar medidas imediatas de controle;
d) Propor e cooperar na elaboração, implementação e supervisão da
aplicação de normas e rotinas técnico-administrativas visando a prevenção
e o tratamento das infecções hospitalares;
e) Propor, elaborar, implementar e supervisionar a aplicação de normas
e rotinas técnico-administrativas visando limitar a disseminação de agentes
presentes em infecções em curso no hospital, através de medidas de
isolamento e precauções;
f) Cooperar com a vigilância epidemiológica fornecendo prontamente
informações que auxiliem a notificação de doenças sob vigilância;
g) Utilizar princípios epidemiológicos para avaliar a qualidade dos
cuidados aos pacientes, auxiliando a direção em proporcionar assistência
eficaz em relação ao custo;
h) Elaborar e implementar estratégias capazes de minimizar os
riscos profissionais de adquirir agentes infecciosos no ambiente hospitalar
(Ministério da Saúde, 1992).
Atualmente, as diretrizes gerais para o Controle das Infecções em
Serviços de Saúdes são delineadas pela Agência Nacional de Vigilância
Sanitária.
A IH contribui para o aumento da taxa de morbidade e mortalidade,
aumentando o custo e a estadia dos pacientes nos hospitais, além de ser uma
ameaça constante para a disseminação de bactérias multi-resistentes.
Conclui-se que a erradicação da IH não é possível devido a fatores
endógenos e exógenos, sendo os de caráter endógeno relacionados às
condições de saúde do hospedeiro, enquanto os de caráter exógeno são
relacionados a causas externas (ambientais), incluindo:
- criação de comissões de controle de infecções hospitalares nos
hospitais;
- manutenção de um sistema de vigilância epidemiológica que informe
sobre a incidência dessas infecções para prover informações imediatas que
permitam avaliar os problemas e determinar as atividades de prevenção e
controle;
- estabelecimento de técnicas de isolamento ou precauções, de acordo
com as vias de transmissão das doenças;
- implantação de programas de saúde do trabalhador;
- condições adequadas de atenção ao doente;
- elaboração de métodos de qualidade nos laboratórios de microbiologia
para a análise dos dados;
- educação e treinamento de pessoal;
- vigilância do meio ambiente;
- intercâmbio com os serviços de saúde comunitária para permitir um
melhor conhecimento das condições de saúde da comunidade, assim como
utilizar seus conhecimentos para melhorar a qualidade de atenção ao paciente
e organizar um bom sistema de informação de doenças de notificação
compulsória.
Além dos custos sociais da IH, particularmente importante num país do
terceiro mundo como o Brasil, onde somente uma pequena parcela do produto
interno bruto é aplicada em saúde, temos os custos diretos, indiretos e
preventivos os quais são arcados pelos prestadores de assistência, pelos
financiadores do atendimento ou pelos próprios pacientes. Discriminando-os
temos a seguinte divisão:
a) Custo Direto das IH”s: é aquele gasto no diagnóstico e tratamento do
paciente que adquiriu esta patologia;
b) Custo Preventivo das IH”s: refere-se às despesas gastas para evitar, reduzir
ou minimizar a ocorrência das infecções hospitalares;
c) Custo Indireto da IH”s: é o mais imprevisível e mais difícil de ser avaliado,
incluindo:
- a demanda reprimida de leitos, acentuada pela maior permanência hospitalar
de um caso infectado;
- os gastos com eventuais processos jurídicos e campanhas publicitárias para a
imagem institucional;
- valores inestimáveis como a morte, a dor, o sofrimento e a diminuição da
capacidade produtiva.
Os principais transtornos decorrentes das infecções hospitalares são
segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA):
- significativa letalidade elevando a morbidade e mortalidade;
- aumento do tempo de internação e dos custos.
As ações de vigilância epidemiológica das IH”s devem ser direcionadas
a: avaliar medidas de controle, definir prioridades de controle, estabelecer
limites endêmicos, calcular riscos específicos de procedimentos, observar
tendências, identificar surtos, aprimorar a equipe de saúde, apoiar pesquisas,
comparar resultados, cumprir exigência legal e constituir-se num indicador de
qualidade.
A Vigilância Epidemiológica aplica uma abordagem fundamentalmente
preventiva em instituições voltadas para o atendimento do enfermo, de modo a
atuar primariamente a partir do mesmo objeto, o paciente, promovendo sua
saúde, prevenindo ou minimizando novos agravos, utilizando ferramentas
desenvolvidas em saúde pública.
Em resumo, a Vigilância Epidemiológica das IH”s tem por missão o
controle de infecção e para tanto deverá promover a interação e o equilíbrio
entre a abordagem clínica e a epidemiológica, aprimorando a qualidade do
atendimento prestado.
Desenvolvido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), o
SINAIS (Sistema Nacional de Informação para o Controle de Infecções em
Serviços de Saúde) é um programa gratuito o qual visa, em tempo real,
possibilitar a avaliação de forma fácil, ágil e padronizada dos indicadores de
infecção nos serviços de saúde, alimentando um banco de dados nacional, que
será acessível a municípios, estados e governo federal. Assim, as ações
básicas de controle de infecções poderão ser priorizadas de acordo com a
realidade local, poupando esforços e potencializando investimentos. No Brasil,
poucos hospitais utilizam sistemas informatizados produzidos por empresas
especializadas para auxiliar no registro das ocorrências de infecção - a maioria
registra os casos manualmente.
O SINAIS visa viabilizar o envio de informações a uma base de dados
nacional, a qual permitirá análise dos indicadores de infecção nacionais,
discriminados por hospital, município e estado. Tal sistema permite a obtenção
de indicadores que consideram os riscos relacionados ao tempo de internação
e de exposição a procedimentos invasivos e as características dos pacientes e
das unidades de internação. Além dos indicadores sobre as infecções, o Sinais
contribuirá no combate à resistência microbiana, possibilitando a análise do
perfil de sensibilidade de todos os microrganismos e o seu acompanhamento
por tipo de ambiente ou unidade assistencial.
Gestores estaduais e municipais e serviços de saúde com prioridade aos
de maior complexidade e risco, deverão em breve, segundo o Ministério da
Saúde, iniciar treinamentos para uso do SINAIS.

COMISSÕES DE CONTROLE DE IH

À Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), de acordo com


a legislação brasileira, são atribuídas várias ações de controle das IH”s,
compreendendo:
- observação dos “bastidores do hospital”, a qual permitirá corrigir as
deficiências antes que a IH ocorra;
- respeito ético, moral, legal e técnico com paciente e os profissionais
que atuam no hospital;
- vigilância epidemiológica das infecções hospitalares, compreendendo
diagnóstico, notificação e consolidação de relatórios, avaliando o exercício
profissional pelos índices de infecção;
- ações de vigilância sanitária contribuindo para o aprimoramento das
atividades de apoio no hospital;
- investigação de surtos, onde se revisa as práticas assistenciais;
- adoção de medidas de isolamento e precauções para se evitar a
disseminação de doenças transmissíveis, onde muitas vezes a CCIH indica
medidas protetoras adicionais para o atendimento dos pacientes;
- adequação e supervisão das normas técnicas visando à prevenção e
tratamento das infecções hospitalares, fazendo com que a equipe da CCIH
avalie condutas e padronizações existentes no hospital, podendo identificar
inadequações de acordo com sua ótica;
- adoção de política de utilização de antimicrobianos, pela qual a CCIH
define regras para prescrição desses medicamentos e elabora protocolos
clínicos para tratamento das IH”s.
A administração hospitalar recebe o apoio de várias comissões em
assuntos específicos de ordem ética, técnica ou mesmo administrativa. Estes
comitês fazem uma análise da situação local e aplicam os conhecimentos
disponíveis sobre o assunto, apoiando e auditando o exercício profissional.
Portanto, dentro de uma estrutura organizacional, o controle de infecção
pretende ser um órgão de consultoria à direção do hospital e a todos os
profissionais que atuam diretamente com o paciente ou em atividades de apoio,
em assuntos relativos à prevenção e controle das infecções hospitalares.
O Programa de Controle de Infecção Hospitalar deve ser entendido
como uma série de ações conjugadas, praticadas intencionalmente, de forma a
prevenir e controlar, dentro do conhecimento científico, a ocorrência de
infecções hospitalares. Além da prevenção, o programa enfatiza a redução
máxima possível da gravidade, que é determinada principalmente pela
letalidade desses episódios. Ora, para minimizar sua gravidade, ou seja, a
probabilidade de morte dos pacientes com infecção pode interagir com a
prescrição de antimicrobianos, principalmente no que diz respeito aos
episódios adquiridos em decorrência da hospitalização.
Além disso, atendendo às recomendações da Portaria MS 54/96,
(Ministério da Saúde - MS, 1996) todo hospital deve instituir um comitê visando
à racionalização da prescrição de antimicrobianos, correlacionado com o perfil
de sensibilidade das cepas isoladas em casos de infecção hospitalar. Para isso
deve ser estudado e divulgado o padrão microbiológico.
Em parceria com a farmácia, deve-se estudar o perfil de consumo de
antimicrobianos e suas repercussões na micro-ecologia hospitalar,
consolidando informações obtidas na vigilância epidemiológica e os dados
fornecidos pelos Serviços de Farmácia e Microbiologia Clínica. É fundamental
definir em conjunto com a Comissão de Padronização de Medicamentos, com o
aval da Direção e da Comissão de Ética Médica, uma política de racionalização
do consumo de antimicrobianos e avaliar seus resultados, pela qual é possível
exigir a justificativa para prescrição de antibióticos sob controle da CCIH.
A vigilância epidemiológica deve ser entendida como a obtenção de
informação para a ação. Sempre que possível o diagnóstico e a notificação das
infecções hospitalares deve ser relacionado aos fatores predisponentes, para
orientação das medidas de prevenção e controle. Esta pesquisa deve ser feita
de forma contínua, sistemática e o mais abrangente possível, através do
método da busca ativa de casos de infecção hospitalar.
A investigação epidemiológica deve ser acionada imediatamente sempre
que for identificado um surto ou outro agravo inusitado à saúde dos pacientes
relacionado às infecções hospitalares. Deve-se estimular a participação da
equipe multiprofissional na elucidação da cadeia epidemiológica e elaboração
das medidas de controle específicas. Estas atividades implicam no diagnóstico
das infecções e da identificação dos possíveis fatores de risco.
Cabe a CCIH promover auditoria para avaliar os resultados do
atendimento ao paciente, propor e em surtos, até executar medidas corretivas.
Pelo princípio da informação voltada para a ação, os indicadores
epidemiológicos obtidos pela CCIH só fazem sentido se compreendidos pela
equipe de saúde na sua essência, inseridos em um contexto de reavaliação da
prática profissional, pois a CCIH raramente presta assistência ao paciente e os
resultados de seu trabalho dependem da aderência dos profissionais de saúde
às suas orientações.
Visando avaliar a adequação das normas e rotinas técnico-operacionais
relacionadas à prevenção e tratamento das infecções hospitalares, a CCIH
deve realizar visitas técnicas (atividades que acompanham os bastidores do
hospital), de modo a avaliar as ações desenvolvidas sob o ponto de vista do
controle de infecção.
Com o objetivo de evitar a disseminação de microrganismos no hospital
o isolamento de pacientes portadores de algumas patologias transmissíveis, a
CCIH deverá estabelecer Precauções Padrão, definidas como medidas para
serem aplicadas no atendimento de todos os pacientes, independente da
presença de infecção detectável e assim prevenir a transmissão de infecções,
principalmente por contato com sangue e fluídos corpóreos. Por exemplo, a
utilização de um determinado antimicrobiano pode ser adequada ao paciente,
mas podem existir outras opções que ocasionem menor pressão seletiva sobre
a flora hospitalar e desta forma, na ótica da CCIH, mais recomendados ao
caso.
A CCIH também deverá observar os cuidados prestados direta ou
indiretamente aos pacientes, identificar problemas em relação à estrutura
física, insumos, equipamentos ou aos próprios procedimentos médicos e de
enfermagem e revisar rotinas e técnicas a partir de sua atualização científica e
legal. Cabe assim à CCIH, detectar e corrigir problemas antes que os mesmos
possam repercutir nos indicadores epidemiológicos das IH”s.
Os controladores de infecção da CCIH devem estar atualizados, do
ponto de vista técnico e científico, em doenças infecto-contagiosas e suas
formas de transmissão para a elaboração de medidas de isolamento e
Precauções-Padrão, participar da difusão dessas informações, elaborar manual
específico e supervisionar sua aplicação. Também devem colaborar com a
detecção de casos suspeitos de doenças transmissíveis durante as ações de
vigilância epidemiológica das IH, indicando e suspendendo os isolamentos,
resolvendo dúvidas do corpo clínico, enfermagem e outros serviços, podendo
também haver divergências na indicação desta medida preventiva,
principalmente ao suspender os isolamentos indicados pelos profissionais de
saúde.
A partir da atualização técnico-científica em controle de riscos biológicos
no ambiente hospitalar, o controle de infecção deve interagir com outros
setores e propor medidas de prevenção da ocorrência de acidentes com
perfuro cortantes, colaborando na elaboração de protocolos de
acompanhamento dos profissionais acidentados. Deve também colaborar na
determinação das funções que estão sobre risco aumentado de determinados
agentes biológicos, para elaboração de campanhas profiláticas e medidas de
controle específicas, incluindo imunização dos profissionais que atuam nos
hospitais.
Considerando todas as ações da CCIH, ela é responsável pela atualização
científica dos profissionais de saúde no que se refere ao tema, repassando as
informações para a equipe de saúde. A comissão pode levantar prioridades
educativas a partir das ações de vigilância e cooperar com o setor de
desenvolvimento e treinamento de recursos humanos do hospital, na
identificação das necessidades de treinamento. Também deve auxiliar na
elaboração e execução destes projetos, atendendo às solicitações da
educação continuada, da administração e demais departamentos do hospital,
fornecendo pareceres, subsídios técnicos, legais e éticos, auxiliando-os na
tomada de decisões em assuntos relacionados ao controle das infecções
hospitalares. Deve colaborar com a elaboração e revisão de manuais do
hospital, no que estiver relacionado às IH, seus fatores de risco e as medidas
de controle.
A CCIH deve difundir e supervisionar entre os profissionais de saúde o
hábito da higiene das mãos, medida fundamental para o controle de infecção,
mas freqüentemente negligenciada e gerar informações científicas e
epidemiológicas com a finalidade de integrar a comunidade hospitalar nas
ações de prevenção e controle das infecções.
O hospital é um microssistema de atenção à saúde que tem a finalidade
de oferecer atendimento global, procurando promover uma assistência
integrada e humanizada. Este é o verdadeiro atendimento de excelência, sendo
a principal estratégia para atingi-lo, o trabalho em equipe. Assim, os setores de
apoio devem oferecer ações de suporte direto ou indireto para suprir a maioria
das necessidades básicas e de apoio às ações preventivas, diagnósticas e
terapêuticas durante a internação do paciente.
Em resumo, a definição de prioridades, o confronto de condutas
estabelecidas e a correção de tais condutas visando o aprimoramento da
qualidade assistencial, cabem à CCIH; atividade que tende a gerar alto
potencial de conflitos cujas repercussões no ambiente hospitalar deverão ser
por ela minimizados. Portanto é sua função corrigir o agir profissional em saúde
no ambiente hospitalar, levando em conta os comportamentos distintos das
diferentes culturas profissionais (médicos, enfermeiros e auxiliares / técnicos de
enfermagem e outros), cujo convívio tende à geração de conflitos.

ADERÊNCIA DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE ÀS PRÁTICAS


DE PREVENÇÃO E CONTROLE DE IH’s

Com relação à prevenção e controle de Infecções Hospitalares, intriga-


nos o fato de que medidas óbvias e importantes como a higiene das mãos, o
uso criterioso de antibióticos, as ações corretas de isolamento de doenças
transmissíveis, entre outras, apesar de conhecidas e reconhecidas como
importantes pela maioria dos profissionais de saúde, não são executadas a
contento, de modo a não prevenir a ocorrência das mesmas. Apesar de todas
as estratégias e ações educativas realizadas, enfatizando essa importância,
sua manutenção é efêmera, com raras exceções. Na verdade, não é por falta
de informação que os profissionais de saúde não executam essas atividades
corretamente.
O já citado anteriormente, projeto SENIC, preconiza que o grupo que
trabalhar com controle de infecção deva influenciar o comportamento das
outras pessoas da equipe de saúde e até hoje é utilizado como referência.
Utilizam-se dois Indicadores Epidemiológicos para a avaliação da
ocorrência de infecções hospitalares, sendo a Taxa de Infecção Hospitalar
(TIH) obtida dividindo-se o total de episódios de infecção hospitalar
diagnosticados num determinado período, pelo total de pacientes expostos à
internação no mesmo período. Como alguns pacientes apresentam mais de um
episódio de infecção hospitalar durante sua internação é também calculada a
taxa de pacientes com infecção hospitalar (TPIH), obtida pela divisão do
número de pacientes com diagnóstico de infecção hospitalar num determinado
período, pelo total de pacientes expostos à internação no mesmo período. Para
ambos indicadores podem ser realizados estudos de incidência, computando
apenas os casos novos detectados no período ou de estudos de prevalência,
computando-se o total de casos identificados.
O estudo da IH pode ser particularmente direcionado a variáveis
relativas a quatro áreas específicas:
- ao paciente:
(a) no que se refere à necessidade de reconhecimento de grupos ou
serviços especificamente expostos;
(b) às medidas de proteção;
(c) à função das imunoglobulinas;
(d) à imunidade local adquirida;
- ao agente infeccioso (microrganismo):
(a) melhor avaliação epidemiológica dos sistemas de classificação do
agente infeccioso;
(b) dos fatores de virulência (capacidade do agente determinar casos
fatais ou graves);
(c) de preparação de métodos simplificados, rápidos ou automatizados
de diagnóstico;
(d) das modalidades de resistência;
- ao meio ambiente:
(a) através de controle dos métodos de esterilização e desinfecção;
(b) de estudos sobre a planta física das salas e do ar condicionado nos
hospitais; de serviços de isolamento, assistência de enfermagem, roupas e
máscaras protetoras;
(c) inspeção dos diversos setores (cozinhas, refeitórios, lavanderia e
transportes); desinfecção de superfícies;
- ao setor administrativo:
(a) referente aos aspectos econômicos e aos estudos sobre a relação
custo/benefício;
(b) estabelecimento de normas e questões jurídicas.
Sendo a primeira condição do hospital, não prejudicar o doente, se
causas externas podem potencialmente comprometer a vida produtiva do
indivíduo, ações judiciais legais podem ser impetradas pelo paciente
acometido, de modo a responsabilizar tanto a hospitais como a profissionais de
saúde.
As pesquisas sobre infecções hospitalares, relatos de surtos epidêmicos
e medidas para seu controle, mostram que na sua maioria, estes são
decorrentes de falhas e da falta de aderência dos profissionais de saúde às
medidas de controle preconizadas. Tal não aderência às medidas de controle
pode ser atribuída à falta de motivação e baixa percepção dos profissionais de
saúde no que se refere à importância das medidas para prevenção de
infecções. A chave para combater infecções hospitalares está assim na
dinâmica humana da equipe de saúde, a qual deverá ser continuadamente
avaliada com relação aos seus conhecimentos, atitudes e aderência frente aos
princípios e procedimentos recomendados no controle de infecções.
A medicina brasileira sofreu grandes transformações no século XX
decorrentes em parte da evolução sócio-econômica do país e em parte de sua
própria evolução, onde se destacou a incorporação tecnológica. No passado, a
medicina era predominantemente realizada em consultórios particulares, onde
o médico tinha controle sobre a captação da clientela, detinha os meios para
produção do seu trabalho, que era individualizado e até sobre a sua prescrição,
uma vez que era mais freqüente o emprego de medicações formuladas
individualmente do que os remédios industrializados, ou seja; já foi um trabalho
artesanal sob vários aspectos. As transformações sócio-econômicas aliadas à
socialização da medicina e à intervenção progressiva do Estado fizeram com
que o médico não controlasse diretamente a captação da clientela. O
desenvolvimento do conhecimento técnico científico levou à incorporação
tecnológica, transferindo o atendimento do consultório e do domicílio para
hospitais, unidades de pronto-socorro e unidades especializadas em
diagnóstico. Tal “perda de autonomia” é geradora de conflito com tendência à
“prática solo” (prática liberal do exercício profissional), a qual faz parte da
cultura médica.
O êxito das ações do controle das infecções para os pacientes,
profissionais e instituição depende em grande parte das relações interpessoais.
Dentro da estrutura organizacional, cada profissional deve ter papel definido e
cumpri-lo com a máxima competência, procurando agir sempre de acordo com
os princípios básicos de sua ação profissional, onde os conceitos de controle
de infecção têm um papel importante. Deve haver um canal de comunicação
entre a CCIH e os profissionais relacionados à prevenção e ao controle das
infecções hospitalares.
Atualmente, os hospitais aumentaram em complexidade, a medicina é
bem mais invasiva, as infecções hospitalares devem-se muito mais ao distúrbio
do equilíbrio do homem e sua microbiota, relacionados à gravidade dos
pacientes ou às medidas de diagnóstico e tratamento, que apresentam riscos
intrínsecos à sua natureza. A atenção à saúde evoluiu e as infecções
hospitalares continuam a representar um importante efeito adverso da
assistência à saúde. As medidas de prevenção e controle das infecções
hospitalares continuam a gerar polêmica, cada vez mais interagindo nas
complexas interfaces estabelecidas no atendimento à saúde.
Freqüentemente tornam-se evidentes os conflitos relacionados às
diferentes expectativas de cada um dos envolvidos nesta complexa cadeia de
eventos interdependentes. Para a otimização de recursos e resultados em prol
da saúde dos pacientes, o controle de infecção necessita de uma equipe
harmônica e coesa, tarefa difícil se não forem compreendidos e respeitados os
múltiplos interesses envolvidos.
Os principais problemas referidos são a deficiência de formação
acadêmica em relação ao tema, dificuldade para o trabalho em equipe, as
situações de emergência, quadro funcional deficiente e superpopulação de
pacientes. A CCIH é percebida como um órgão de assessoria da direção e não
exibe o mesmo rigor para propor medidas corretivas que envolvam a direção,
tal como faz com os auxiliares e técnicos, principalmente em situações de
aumento da incidência de infecção. A CCIH em geral acaba sendo vista como
um órgão fiscalizador e de punição. Por não existir formação acadêmica
específica em controle de infecção, em geral os profissionais adquirem-na na
sua prática.
O profissional do controle de infecções deve ser uma fonte permanente
de consultas para toda a equipe hospitalar, por isso deve estar sempre
atualizado tecnicamente e ter um bom relacionamento com todos, procurando
agir pela competência e não pelo mero “poder do cargo”. Muitas orientações
aparentemente interferem com a autonomia da profissão e só serão aceitas se
respeitarem o conhecimento do interlocutor, fornecendo-lhe informações
científicas e epidemiológicas que fundamentem uma nova conduta. Estes
dados, ao lado do estímulo à integração de todos os profissionais que prestam
atendimento direto ou indireto aos pacientes e das orientações à clientela
externa, são os principais produtos do controle de infecção.
Para a implantação da atenção integral à saúde é necessária a
elaboração de programas coerentes e corretamente formulados tanto do ponto
de vista técnico quanto político, onde são importantes a melhoria gerencial dos
serviços e a qualificação permanente dos profissionais de saúde. Estes devem
estar orientados a prestar uma assistência integral e humana, evitando a
excessiva utilização de tecnologias médicas. Entretanto a formação dos
profissionais de saúde carece, na maioria dos casos, de conteúdos
relacionados a aspectos não-biológicos da saúde. No que se refere
especificamente à formação médica, há pouca ou nenhuma incorporação de
conhecimentos relacionados às ciências sociais e humanas.
O controle das IH’s constitui um dos maiores desafios do sistema de
saúde, dentro da premissa básica de não causar danos aos pacientes.
Diversos estudos apontam para a possibilidade de redução de 30 a 70 % na
ocorrência dessas infecções, identificando os programas de monitoramento
como uma das principais ferramentas para esta diminuição.

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