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Terça
Terça
Os mecanismos de controlo social são uma noção eminentemente sociológica, uma vez
que ela advém da necessidade que as colectividades têm de fazer com que os seus
membros respeitem e reproduzam as normas vigentes e instituídas, para que se
mantenha a ordem social (Giddens, 2000; Durkheim, 1980).
Podemos assim definir o controlo social como as intervenções e as sanções pelas quais
os membros das redes e os grupos de proximidade se encorajam mutuamente a se
conformar com regras do jogo social (Cusson, 2007:201). Deste modo, o controlo social
diz respeito ao conjunto de meios implementados pelos membros de uma colectividade
com o objectivo específico de conter ou reduzir o número e a gravidade dos delitos
(Cusson, 2007:195). Esta noção é bastante ampla, englobando medidas preventivas e
repressivas assim como meios persuasivos. Este conceito permite captar o conjunto de
estratégias e comportamentos de autoprotecção que agentes de controlo social adoptam
com o objectivo explícito de diminuir a probabilidade de ocorrência de comportamentos
desviantes que estejam fora das regras socialmente estabelecidas.
Nenhuma sociedade pode funcionar com êxito se, na maior parte do tempo, o
comportamento das pessoas não puder ser previsto de modo confiável. Chamamos isso
de ordem social, ou seja, um sistema de pessoas, relacionamentos e costumes que opera
para a realização do trabalho de uma sociedade. Tudo o que ocorre em uma cidade,
seja ela de que tamanho for, e que é indispensável para a nossa sobrevivência acontece
porque milhares de pessoas cumprem seu papel social, interagindo constantemente e
mantendo a ordem social. A ordem de uma sociedade apoia-se em uma rede de papéis,
dentro dos quais cada pessoa aceita certos deveres em relação aos outros e deles
reivindica certos direitos. Para que a sociedade funcione com êxito, é necessário que
cada um cumpra seu papel social, que é complementar aos dos outros, interagindo em
uma rede de papéis por todo o tecido social. Como é fundamental para o seu
funcionamento, a sociedade cria um mecanismo para que aqueles que não cumpram seu
papel social sejam coagidos a fazê-lo. A esse mecanismo denomina se controlo social.
O controlo social pode ser formal ou informal. Quando mecanismos de controlo social
são utilizados casualmente pelas pessoas como sorrisos, olhar de reprovação,
advertência verbal, considera-se o controlo informal. Quando o controlo social é levado
a cabo por agentes autorizados, como policiais, médicos, empregadores e militares, é
dito formal.
O Desvio Social
Durkheim formulou um modelo da vida social segundo o qual a sociedade não resultaria
da actuação singular dos indivíduos, mas da actuação da colectividade, entidade dotada
de uma natureza própria, o que permitiu à Sociologia apartar-se da Psicologia para
constituir um domínio autônomo de conhecimento.
A abordagem de Durkheim (1995:2) não se fundamenta assim na interação entre os
indivíduos na condição de agentes isolados, mas supõe uma associação prévia desses
indivíduos na produção de resultados que são sociais na medida em que são exteriores e
superiores a eles mesmos, às consciências particulares. Pelo facto de se encontrarem
condicionados por uma estrutura que os engloba e que determina suas acções, os
indivíduos não são considerados a priori “agentes sociais”, comportando-se como se
estivessem “programados” pela sociedade.
Após Durkheim, um dos autores que mais se dedicaram ao estudo do desvio social foi
Robert Merton. A novidade do seu enfoque resultava da suposição de que a própria
estrutura social seria capaz de suscitar o comportamento desviante mediante um
desequilíbrio entre objectivos e meios.
A conceituação de desvio social é detalhada por Caliman (2006), que pontua alguns
elementos chave na sua descrição, evidenciando a construção social do desviante no
seio de conjunturas políticas. Primeiramente, destaca-se que o desvio não é uma
qualidade inerente a um determinado comportamento ou característica, tratando-se de
qualidade atribuída pelos outros, nas relações sociais. Está relacionado à mudança nas
normas sociais, em dimensões espaço-temporais muito flexíveis. Mudam também os
limites de tolerância em torno da norma. Ainda, o fenômeno do desvio se constrói com
os processos de formação e manutenção do poder, coloca-se como alternativa para o
controlo social, exprimindo a necessidade de mudança em contraposição à ordem social.
Por último, expõe-se que o comportamento desviante está em estreita relação com o
processo de socialização, pelos quais se realiza a interiorização das normas. Com isso, o
autor assim conceitua o desvio social:
Conforme a concepção do autor, a noção de desvio é complexa, uma vez que não
prescinde das contingências sociais, culturais e societais. Assim como a definição de
desvio social, o conceito de práticas sociais é, também, tomado a partir de uma
perspectiva interacionista, na qual se “salienta o carácter social e negociado explícito e
tácito dos percursos dos indivíduos” (Brazão, 2008:2).
Conclusão
Neste sentido, o desvio deve ser, não só, encarado como um atentado à ordem social
vigente, mas também, deve ser perspectivado como uma incapacidade dos grupos e das
sociedades no que se refere à sua função socializadora e de controlo dos seus membros.
Também o conceito de controlo social pode assumir dois sentidos diferentes. Por um
lado, o controlo, segundo uma visão clássica, é entendido no sentido de vigiar e punir. A
punição traduz-se em sanções positivas e negativas, portanto, alimentam o
comportamento positiva ou negativamente. Por outro lado, mas tendo em consideração
o sentido anterior, o controlo social assume uma dimensão interna e antecipadora. Isto
significa que, os processos sociais importantíssimos como a socialização e respectiva
interiorização de determinadas normas e valores culturais constituem-se em formas de
controlo da sociedade sobre os sujeitos.
Almeida, A. M. O., Santos, M. F. S, & Trindade, Z. A. (2000). Representações e
práticas sociais: contribuições teóricas e dificuldades metodológicas. Temas em
Psicologia da SBP, 81(3), 257-267.