Você está na página 1de 12

DE JORNALISTA A PROFESSOR: UM OLHAR SOBRE A FORMAÇÃO

CONTINUADA PARA O EXERCÍCIO DOCENTE

Mayara Sousa Ferreira1


Maria do Amparo Borges Ferro2
Universidade Federal do Piauí. Teresina-PI-BR. E-mails: ferreiramayara02@gmail.com;
amparobferro@gmail.com

Resumo: O presente artigo tem como objetivo refletir acerca da formação de professores, no
âmbito da educação superior, no contexto do curso de Bacharelado em Jornalismo. A proposta
é, portanto, discutir sobre a formação continuada desses professores bacharéis como forma de
preparação para o exercício da profissão docente. A partir de uma pesquisa bibliográfica e
documental, a proposta é verificar o percurso formativo dos professores que atuam nos cursos
de Bacharelado em Jornalismo do Piauí. Assim, os docentes que atuam no Piauí realizam
investimentos na carreira profissional, por meio de mestrado e doutorado, como forma de
suplantar a necessidade formativa pedagógica. Isso faz com que se valorize o magistério na
graduação no estado. Com a formação em pós-graduação stricto sensu, é possível despontar o
professor-pesquisador, com atitude e estratégias de incentivo e desenvolvimento de pesquisas
juntamente com os estudantes, num processo partilhado de aprendizado e de construção do
conhecimento acadêmico, com boa capacidade crítica e reflexiva.

Palavras-chave: formação continuada. Formação docente. Professor jornalista.

Introdução
A profissão docente tem significação social pelo papel que desempenha, logo, a
consciência sobre tal prática se configura como forma de melhor intervir na realidade
vivenciada. Desse modo, pensar a formação do professor é importante, e falamos não somente
da formação inicial, mas também da continuada. Ao oferecer subsídios para, baseado em
evidências, refletir acerca da formação continuada de professores, podemos contribuir com o
debate.

O artigo 66 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n o 9.394/1996,


popular LDB/96, no capítulo VI “Dos Profissionais da Educação” (BRASIL, 2017),
1
Doutoranda em Educação (UFPI), mestre em Comunicação (UFPI) e bacharel em Comunicação Social – hab.
em Jornalismo (UESPI). Professora da UESPI. Membro do Núcleo de Educação, História e Memória (PPGEd-
UFPI). E-mail: ferreiramayara02@gmail.com.
2
Professora titular da UFPI. Doutora em Educação (USP), mestre em Educação (UFPI), graduada em
Licenciatura Plena em Filosofia (UFPI). E-mail: amparoferro@uol.com.br.
regulamenta a atuação docente no ensino superior no que tange à formação. Segundo a
normativa, a preparação deve ser atestada em nível de pós-graduação, prioritariamente stricto
senso – mestrado e doutorado.
Esse aspecto procura prover a necessidade formativa para a prática da docência,
especialmente de profissionais cujo curso inicial não se trata de licenciatura, mas de
bacharelado, o que implica dizer que este tipo de graduação não inclui prática de ensino e
preparação reflexiva para a atividade docente, como ocorre nas demais graduações.
Pelo contrário, professores bacharéis têm na experiência, talvez até mais do que na
formação, uma das bases para atuação em sala de aula (MOURA, 2014). O conhecimento de
experiência é produzido tanto em situações vividas antes, durante e após o exercício da
docência, quanto fora dela, no exercício da profissão de formação inicial, e até em outras
situações cotidianas. Todavia, a carência de conhecimento pedagógico pode se evidenciar no
percurso desses professores. Daí a necessidade de investir na formação continuada para
colaborar e tentar suprimir.
É certo que, em sua atuação, professores fazem usos de conhecimentos adquiridos de
diversas formas. Trata-se de um conjunto de saberes que refletem, nas práticas profissionais,
suas trajetórias e experiências pessoais. Para Pacheco e Flores (1999), há multiplicidade de
saberes contextualizados com as práticas: saberes objetivos, subjetivos, inter-subjetivos,
técnico – saber da ação, teórico, tácito – e prático, cujo interesse se dá na reflexão-na-ação,
empírico, os quais requerem interação para compreensão. Tal diversidade de conhecimento se
dá por fontes diferentes, seja por aprendizagens formais ou informais, por conteúdos de
disciplinas, estruturas e materiais.
O ser/fazer professor se faz na prática, pelo conhecimento da experiência e do
conteúdo, mas também se trata de um conhecimento técnico que passa pela
profissionalização, que Pacheco e Flores (1999) chamam de “saber-fazer”. É necessário,
então, um processo formativo dinâmico, transformador e permanente.
Portanto, a instância da preparação formal para o exercício da docência presente na
LDB (BRASIL, 2017) reivindica a perspectiva de assegurar mais qualidade ao ensino pelo
investimento em formação inicial e continuada desses profissionais, cuja importância se
sobressalta no processo educativo por meio de instituições de educação. Ao mesmo tempo,
evidencia aspectos que remetem à profissionalização da atividade docente.
De parte desses aspectos normativos da educação brasileira, interessa-nos, neste
trabalho, discutir acerca da formação de professores bacharéis, melhor dizendo, professores
com formação inicial e atuação nos cursos de Bacharelado em Jornalismo. Pelo nosso lugar de
fala – a primeira autora é jornalista e professora de Jornalismo – intentamo-nos a pensar sob
esse contexto, a partir de nossas experiências como sujeitos desse lugar e dessa história. A
reflexão, portanto, se dá em torno da questão: como os docentes bacharéis do curso de
Jornalismo investem na formação continuada para o exercício da docência?
Portanto, o objetivo é entender como os professores de Jornalismo investem na
formação continuada como forma de se preparar para o exercício da profissão docente.
Traçaremos o perfil profissional do docente de Jornalismo, considerando, para tanto, o Piauí
como recorte geográfico. Melhor especificando, os citados cursos ofertados pelas instituições
públicas – Universidade Federal do Piauí (UFPI), no campus localizado na capital, uma vez
que é o único com oferta de Jornalismo, e pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI), em
dois campi, Picos e Teresina.
Trata-se de um estudo reflexivo, que se baseia nas pesquisas bibliográfica e
documental (GIL, 2014). O site institucional da UFPI (2019) entra aqui como recurso para
identificar informações sobre quadro de profissionais que atuam no Piauí, hoje, formando
novos jornalistas, e, a partir disso, chegar aos seus currículos na plataforma Lattes, para
levantar informações adicionais, de modo a traçarmos o perfil de formação e relacionarmos à
discussão que encontramos na literatura.

A formação do professor jornalista


Na história do ensino de Jornalismo, notou-se a necessidade de melhor estruturar os
cursos, dada a precariedade desses bacharelados, especialmente no período de expansão, após
a obrigatoriedade do diploma (BRASIL, 1969). Dentre outras mudanças, a preparação do
professor para atuar na área de formação profissional passou a ser exigência. Nesse contexto,
os Programas de Pós-Graduação em Comunicação, em Jornalismo ou áreas afins tiveram, e
têm, importante papel.
Foi a partir do final da década de 60 do século XX que surgiram os primeiros
programas de pós-graduação do Brasil, marcando o crescimento e a consolidação de pesquisas
na educação superior (MASETTO, 2015). Nos campos do jornalismo e da comunicação, o
primeiro mestre do país foi o professor e jornalista José David Salomão Amorim, na
Universidade de Brasília, e o primeiro doutor foi professor alagoano José Marques de Melo,
em 1972, pela Escola de Comunicação e Artes, da Universidade de São Paulo (SILVA, 2008),
consagrado como um dos principais pesquisadores da área até os dias atuais, mesmo após sua
morte (2018).
A reflexão se volta especialmente aos cursos de Jornalismo do Brasil, que formam
bacharéis para atuação no mercado de trabalho e que recebe os mesmos profissionais para
atuação na sala de aula e para formação de novos profissionais. Vale ressaltar que essa não é
uma particularidade do Jornalismo, mas de todos os bacharelados existentes, característica da
história da educação superior brasileira, embora escolhamos relacionar a discussão a essa
área.
Assim, acreditamos que a pós-graduação tem a característica de formar pesquisadores,
portanto, o professor pós-graduado tem melhores condições de organizar o processo de
pesquisa juntos aos acadêmicos, possibilitando o fluxo de produção do conhecimento sobre
aquele campo de formação. Certamente, “docentes em fase de mestrado e doutorado também
realizam pesquisas que certamente serão incorporadas a sua docência” (MASETTO, 2015, p.
31).
A pós-graduação entra como articuladora do fazer docente, formando pesquisador apto
a contribuir com a formação de jornalistas, que tenham condições de se fazerem mediadores
de assuntos de relevância para a comunidade, agendando, por meio daquilo que é veiculado
jornalisticamente, conversas corriqueiras e, ao mesmo tempo, se pautando por elas, por terem
capacidade de perceber notícias em lugares comuns.
O professor pesquisador conduz os estudantes à pesquisa nas universidades. Estes,
nessa condição, transformam seus modos de fazer prático e teórico na profissão escolhida,
durante o curso e, principalmente, após. Mais que produtor de noticiários, sejam eles
impressos, eletrônicos e/ou digitais, tornam-se capazes de questionar práticas sociais, de
abordar causas e consequências dos acontecimentos, fazendo com que o cidadão compreenda
as pautas que lhes são de interesse, e não apenas se mantenham superficialmente informado.
Muitos professores de Jornalismo atuam, concomitantemente, na docência e no
mercado de trabalho como técnicos da comunicação, seja em organizações governamentais
públicas, privadas ou no terceiro setor, ou em instituições propriamente jornalísticas, cuja
missão principal é informar. Isso faz com que tenham facilidade em ministrar conteúdos,
muitas vezes, deixando as aulas até mais interessantes para os discentes, por partilharem suas
experiências práticas, facilitando a articulação com o conteúdo teórico.
Esse aspecto ajuda a fazer com que tenham domínio da competência do conhecimento
sobre o conteúdo básico da área. No Piauí, a maioria dos 37 jornalistas que atuam como
docentes nos cursos de Bacharelado em Jornalismo conta com experiência de campo, em
redações de impresso, rádio, TV, portais e assessorias de comunicação. Raramente, há
docentes inexperientes nesse mercado exercício profissional, com única atuação, ao longo de
suas trajetórias, na profissão docente.
Além do conhecimento de experiência no jornalismo, professores dessa área
costumam buscar nessa fonte as bases para a construção de seus conhecimentos sobre o fazer
docente também. E não é raro entre bacharéis. De acordo com Moura (2014, p. 98), a
experiência é uma das principais fontes de conhecimento desses profissionais. “O todo que
compõe o lastro de conhecimentos adquiridos pelo professor, mesmo por outras fontes, é
expressão da experiência vivida. É a experiência que abastece de ideias o sujeito-professor,
que permite-lhe conhecer o mundo, conhecer sobre o mundo”.
Por outro lado, a mencionada competência do conhecimento por pesquisa, na maioria
das vezes, está vinculada ao título, à presença ou não da pós-graduação strictu senso no
currículo do profissional docente. Professores com mestrado e doutorado, ou seja, com
formação para a pesquisa, tendem a desenvolver com maior frequência essa coluna do tripé
ensino-pesquisa-extensão e, consequentemente, estimular e proporcionar a abertura de
espaços assim juntos aos estudantes universitários.
Tal perspectiva converge com as diretrizes curriculares voltadas aos cursos de
Jornalismo do Brasil. Segundo elas, o projeto pedagógico do curso deve valorizar o domínio
científico, “de forma que sejam capazes de produzir pesquisa, conceber, executar e avaliar
projetos inovadores que respondam às exigências contemporâneas” (BRASIL, 2013, p. 2).
Para que o profissional jornalista saia da universidade habilitado ao exercício da
profissão, é imprescindível o desenvolvimento de sua capacidade crítica e reflexiva, que lhe
dê condições de construir um trabalho como intelectual. De certa forma, tais habilidades
também poderão ajudá-lo no exercício da docência, se ele assim escolher, uma vez que o
professor trabalha com atividades intelectuais, com base em crítica e reflexão.
É comum, entre os jornalistas ainda em formação, a perspectiva de retornar à
universidade para exercer a docência, afinal essa é uma possibilidade de atuação para
qualquer profissional nas diversas áreas. A nossa experiência ilustra essa característica.
Enquanto estudante de graduação em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, na
UESPI (2008-2011), já expressava a vontade de trabalhar como professora no mesmo curso.
Do mesmo modo, é corriqueiro perceber isso entre os nossos alunos: a vontade de transitar
entre a prática do jornalismo e da docência, mesmo fazendo bacharelado e com a consequente
carência de formação pedagógica.
Os espaços de preparação do jornalista para atuação como professor se dão,
essencialmente, na formação continuada, especialmente, nos doutorados e mestrados
acadêmicos, pois, são cursos que têm por objetivo formar pesquisadores, contribuindo
também para a reflexão e para a prática-reflexiva.
Nesse âmbito, a preocupação com a necessidade formativa do educador é conveniente.
Rodrigues e Esteves (1993) entendem que analisar tal indispensabilidade cumpre duas
funções: uma social e a outra pedagógica. Nesse processo, é interessante que haja a
participação do formando no processo formativo, desde o planejamento à execução.
Não se trata somente de cumprir a obrigatoriedade formativa, mas trabalhá-las de
acordo com o que é efetivamente necessário ao formando. “As necessidades que cada um
expressa não existem, são criadas num dado contexto num duplo sentido: porque o indivíduo
as cria quando as expressa e porque expressa as necessidades para as quais o meio de alguma
forma contribuiu” (RODRIGUES; ESTEVES, 1993, p. 22).
Durante a graduação em Jornalismo, a monitoria é um dos poucos momentos que pode
ajudar nesse aspecto, uma vez que trabalha o desenvolvimento de habilidades voltadas para a
docência. Relacionando a discussão às nossas experiências como sujeitos de pesquisa, durante
a graduação, vimos a monitoria na disciplina de Teoria da Comunicação como uma das
poucas formas de nos prepararmos para a atividade de professora.
Ao concluir o curso de bacharelado, cientes das normativas da LDB-1996 sobre a
formação em nível de pós-graduação do docente que trabalha na educação superior, buscamos
a formação continuada no mestrado acadêmico em Comunicação (PPGCOM-UFPI, entre
2014-2016). Por sermos bolsista (FAPEPI-CAPES), o estágio de docência se tornou atividade
obrigatória, acompanhado da disciplina de Ensino Orientado, o que contribuiu com a
preparação para o trabalho.
A imposição de ter professores com mestrado e doutorado nos cursos das IES e, ao
mesmo tempo, a carência de profissionais com tais formações no Piauí, conduziu-nos ao
exercício docente antes mesmo de concluir a pós-graduação. Afinal, no Piauí, e no Nordeste
como um todo, são poucos os programas e as vagas que ofertam tal formação nessa área.
Dessa forma, com oportunidades quantitativamente limitadas, a formação continuada do
professor bacharel da área de comunicação é muito dificultada.
Dos 49 programas de pós-graduação do país, filiados à Compós (2019) – Associação
Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação, a região Nordeste conta com
oito, ou 16%, sendo distribuídos em seis dos nove estados: dois na Bahia e dois na Paraíba, e
os demais nos estados do Piauí, Sergipe, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Enquanto isso,
o Sudeste conta com mais da metade do total (26); e o Norte, com apenas um. Vale ressaltar
que os sudestinos são, em sua maioria, os mais antigos e, provavelmente, já consolidados.
E não é de hoje. O diagnóstico de desigualdade na distribuição dos programas foi feito
por Marques de Melo (2008). À época do levantamento, existiam 41 programas junto à
Capes, sendo quatro no Nordeste, ou seja, 10%. Os dados indicam que houve um crescimento
na oferta de cursos de mestrado e doutorado nas áreas da comunicação nos últimos 10 anos,
com abertura de novos programas nas regiões onde ou não existiam, como a Norte (hoje tem
um programa), ou existiam poucos, como o Centro-Oeste (crescimento de três para seis) e o
Nordeste (de quatro para oito).
Dentre os contemplados com as novas pós-graduações está o estado do Piauí. Após
criação do Programa de Pós-Graduação em Comunicação pela Resolução Nº 113/10 CEPEX
de 28 de junho de 2010 (PPGCOM, 2014), a Universidade Federal do Piauí passou a oferecer,
anualmente, 10 vagas regulares destinadas ao mestrado. Docentes que atuam ou pretendem
atuar no campo do Jornalismo ganharam mais oportunidades de formação continuada. A
criação do curso atende à necessidade formativa na região.
Até então, aqueles que desejavam se qualificar para atuação na docência na educação
superior no campo da comunicação tinham, basicamente, duas opções. A primeira era de fazer
a pós-graduação strictu senso em área afim disponível no território piauiense, afinal alguns
campos, como o da educação, já têm mais estabilidade no Brasil e, portanto, ofertam vagas
para a pós-graduação, não obstante às desigualdades de distribuição geográfica que alcançam
todas as áreas.
Outra alternativa era se deslocar à região Sudeste, especialmente, para a formação
continuada, visto que a disponibilidade de cursos de pós-graduação é predominante por lá.
Mas essa mudança é onerosa em muitos sentidos, exigindo um alto investimento financeiro,
físico, psíquico e emocional por parte do profissional. Logo, é necessário reconhecer que a má
distribuição de espaços dedicados à continuidade da formação no Brasil se afirmava (ou se
afirma?) uma dificuldade à qualificação.
Para Marques de Melo (2008, p. 17), a concentração majoritária de pós-graduações no
eixo sudestino “[...] reflete naturalmente a localização, nessa região, do bloco hegemônico da
indústria de conteúdo que funciona no país, constituindo o mercado de trabalho que mais
assimila a mão-de-obra diplomada”. É histórico. E não é exclusivo do ambiente da
comunicação e do jornalismo, mas da sociedade brasileira.
Embora notemos esse crescimento segundo os indicadores, o número ainda é
incipiente em relação à região Sudeste e, especialmente, se considerarmos que por serem, em
sua maioria, programas jovens, as pós-graduações em comunicação nordestinas ainda não
ofertam doutorado. Dos oito programas presentes no Nordeste, apenas três deles têm
doutorado, os demais, contam somente com mestrado.
Mesmo com a oferta de três cursos de Jornalismo em universidades públicas (um na
UFPI e dois na UESPI, em diferentes campi) e em instituições privadas, na capital Teresina e
em Picos, o Piauí conta apenas um mestrado em Comunicação, na universidade federal, mas
não dispõe de nenhum doutorado nesse campo.
Talvez a isso, possamos associar o fato de não termos integralmente professores
doutores atuando nos cursos de Jornalismo nesse estado da federação, ainda existindo um
bom número de professores apenas com mestrado ou mesmo com, unicamente, título de
especialização.
Um total de 18 doutores estão em atividade como docente nos cursos de Jornalismo
nas universidades públicas piauienses (UFPI, 2019; COORDENAÇÃO DE JORNALISMO –
UESPI, 2019). A quantidade de mestres se equipara: são 18 professores com mestrado nessas
graduações das IES públicas desse Estado. Desse total de mestres, temos seis em formação
continuada nos cursos de doutorado - todos da UESPI, grupo no qual nos incluímos. Na UFPI
e na UESPI campus Picos não existe docente apenas com especialização, mas na UESPI
campus Teresina consta um, sendo servidor efetivo.

Tabela 1 - Formação de professores de Jornalismo do Piauí

Formação continuada UFPI UESPI UESPI Total Piauí Percentual


Teresina Picos (IES públicas)
Número de professores 18 12 7 37 100%
Professores doutores 15 2 1 18 48%
Professores mestres 3 9 6 18 48%
Professores especialistas 0 1 0 1 3%
Fontes: SIGAA-UFPI (2019)/ Coordenação de Jornalismo-Uespi (2019)

A proposta neste artigo não é comparar as duas instituições, ou os três cursos. Cada
uma trabalha dentro de uma realidade sob um contexto particular e não generalizável, que não
cabe analisar aqui. De outro modo, a ideia é apenas refletir sobre perfil do professor jornalista
do Piauí no que tange à preparação instrucional.
De tal forma, o quadro aponta a formação continuada como recurso para a carreira no
magistério do jornalista. Do total de docentes em atuação nas IES públicas, 48% são doutores,
46% são mestres e apenas 5% especialistas. A quantidade com a titulação de doutor tende a
aumentar em um curto espaço de tempo, considerando que existem profissionais nessa etapa
formativa.
É claro que os docentes que atuam no Piauí realizam investimentos na carreira
profissional, valorizando o magistério na graduação em Jornalismo no estado. Com a
formação em pós-graduação stricto sensu, é possível despontar o professor-pesquisador, com
atitude e estratégias de incentivo e desenvolvimento de pesquisas juntamente com os
estudantes, num processo partilhado de aprendizado e de construção do conhecimento
acadêmico, com boa capacidade crítica e reflexiva.
De tal forma, o professor não só mobiliza, mas constrói saberes. Segundo Maurice
Tardif (2014), o saber professoral tem caráter plural e heterogêneo, o saber-fazer docente
envolve diversas fontes: conteúdo, disciplina, currículo, contexto, didática e experiências.
Saberes experienciais são constituídos tanto da prática, quanto da competência profissional; e,
conforme o mesmo autor, têm caráter prático, interativo, existencial, personalizado,
permeável, formalizado, socialmente construído.
Certamente, além das práticas docentes, as experiências vividas na atividade
jornalística também ajudam a construir o saber-fazer do professor de Jornalismo. O fato de
estarem inseridos no mercado de trabalho da comunicação ou de já terem atuado nesse campo
profissional pode ajudar na prática docente, uma vez que o curso tem caráter de preparação do
estudante para atuação no mercado profissional.
Contudo, não basta ser um bom jornalista, de experiência, de prática, para se constituir
um bom professor. É preciso do saber técnico e prático de professor, ou seja, conhecimento
pedagógico, didático, não só por conteúdos e práticas de jornalismo. Aprender a ensinar,
portanto, passa por diferentes contextos, o contexto prático e formativo.
Além do prático já discutido, o formativo se dá pelas instituições educativas e, no caso
dos professores do curso em discussão, pelos programas de pós-graduação inscritos na grande
área das ciências sociais aplicadas ou nas ciências humanas. Mestrado e doutorado,
especialmente, dão melhores condições de preparação aos docentes para atuação como
intelectuais, produzindo conhecimento em conjunto com os alunos, em um aprendizado
partilhado.
Na universidade, os cursos movimentam outros saberes, visto que trabalham também
com pesquisa e extensão, e não só com o ensino, daí a exigência de que os docentes tenham
domínio de aspectos práticos da profissão em formação e de produção de pesquisa. Afora, a
educação superior tem outra finalidade, que é a de formar profissionais para atuação no
mercado de trabalho.
No entanto, ainda assim a carência do conhecimento pedagógico ainda é evidenciada,
uma vez que a pós-graduação não trabalha profundamente esse aspecto. Daí, a necessidade de
investir na formação docente na trajetória do professor, por oportunidades que, não
necessariamente, precisam ser criadas pelo próprio, mas pela instituição.

Considerações
Neste trabalho, a proposta foi de refletir sobre os investimentos em formação
continuada pelos professores do Piauí. É notório que o docente de Jornalismo dedica ao
mestrado e doutorado a preparação para a atuação em instituições de educação superior, o que
pode contribuir para a qualidade na “pedagogia da comunicação”.
Com a formação em pós-graduação stricto sensu, é possível despontar o professor-
pesquisador, com atitude e estratégias de incentivo e desenvolvimento de pesquisas
juntamente com os estudantes. Esse processo é partilhado, onde as oportunidades de
aprendizado e de construção do conhecimento acadêmico se dão por meio da co-participação,
com desenvolvimento da capacidade crítica e reflexiva em ambos.
Hoje, temos novas formas de atuação e de compreensão da educação. Nossas
interpretações sobre a atividade docente se dão pelas nossas práticas, que compõe meu
conhecimento experiencial. Daí a importância de refletir sobre a formação de professores de
forma contextualizada.
Os dados apontados sobre a formação de professores de jornalismo no Piauí traçam
um perfil, mas que precisa ser avaliado aprofundada e detalhadamente. Para tanto, estudar a
trajetória profissional desses docentes pode ser conveniente para melhor analisar e entender
esse processo formativo. Portanto, fica a deixa para a continuação dessa pesquisa, a
construção da identidade do professor universitário de Jornalismo.

Referências
BORDIEU, Pierre. Para uma sociologia da ciência. Lisboa: Edições 70, 2001.

BRASIL. Decreto-lei n. 972, de 17 de outubro de 1969. Dispõe sobre o exercício da profissão


de jornalista. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 21 out. 1969. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del0972.htm. Acesso em: 10 set. 2020.

BRASIL. Resolução Nº 1, de 27 de Setembro de 2013. Institui as Diretrizes Curriculares


Nacionais para o curso de graduação em Jornalismo, bacharelado, e dá outras providências.
Ministério da Educação, Conselho Nacional de Educação - Câmara de Educação
Superior. Brasília-DF. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?
option=com_docman&view=download&alias=14242-rces001-13&category_slug=setembro-
2013-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 1º maio 2017.

BRASIL. LDB: Lei de diretrizes e bases da educação nacional. Brasília: Senado Federal,
Coordenação de Edições Técnicas, 2017. Disponível em:
http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/529732/lei_de_diretrizes_e_bases_1ed.pd
f. Acesso em: 1º jun. 2019.
COMPÓS: ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
COMUNICAÇÃO. Programas Filiados. Disponível em:
www.compos.org.br/a_compos.php. Acesso em: 15 jun. 2019.

COORDENAÇÃO DE JORNALISMO - UESPI. Professores do curso de Jornalismo.


Teresina: Uespi, 2019.

GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas da pesquisa experimental. 6 ed. São Paulo: Atlas,
2014.

MARQUES DE MELO, José Marques de. O campo da comunicação no Brasil. Petrópolis-


RJ: Vozes, 2008.

MASETTO, Marcos Tarciso. Competência pedagógica do professor universitário. 3 ed.


São Paulo: Summus, 2015.

MOURA, Adriana Borges Ferro. (Re) conhecimento da experiência: reflexões docentes


sobre os caminhos que se entrelaçam com o fazer do professor bacharel na educação superior.
2014. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal do Piauí, Teresina, 2014.

PACHECO, José Augusto; FLORES, Maria Assunção. Formação e avaliação de


professores. Porto: Porto Editora, 1999.

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO. Regimento interno.


Teresina: UFPI, 2014.

RODRIGUES, Ângela; ESTEVES, Manuela. A análise das necessidades na formação de


professores. Portugal: Porto Editora, 1993.

SILVA, Elias Machado. Jornalismo. In: MELO, José Marques de. O campo da comunicação
no Brasil. Petrópolis-RJ: Vozes, 2008, p. 91-105.

TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 17 ed. Petrópolis-RJ: Vozes,


2014.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ. SIGAA: Sistema Integrado de Gestão de


Atividades Acadêmicas. Disponível em:
<https://sigaa.ufpi.br/sigaa/public/departamento/professores.jsf?id=175>. Acesso em: 1 jun.
2019.

Você também pode gostar