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FACULDADE DE DIREITO
MESTRADO ACADÊMICO
Bauman foi um sociólogo de origem polonesa e que, ainda muito jovem migrou para
URSS em 1939 fugindo da invasão alemã e russa na Polônia. Estudou sociologia na
Universidade de Varsóvia; escreveu cerca de 70 livros, alcançando notoriedade internacional
quando cunhou a expressão “modernidade líquida” para caracterizar a atual sociedade pós-
moderna, ou sociedade de consumo, ou sociedade pós-industrial.
Bauman é, portanto, o pai do pensamento filosófico baseado na modernidade líquida, a
partir disso construiu uma linha filosófica calcada na ideia de liquidez das relações sociais,
amorosas, políticas, enfim, tudo passa a ser líquido:
Algumas obras de Bauman:
“O líquido é algo que assume a forma do recipiente. Mas, como não se sabe qual é o
recipiente, também não se conhece a forma, mesmo se líquida, que nossa sociedade assumirá
de tempos em tempos. Dizer “sociedade líquida” não significa nada. O sucesso dessa
fórmula, repetida mecanicamente e não sem complacência, deriva do fato de que oferece um
slogan, uma escamoteação só aparentemente decisiva para quem gostaria de dizer algo agudo
sem ter nada a dizer.” ... “O fato de dizer que a sociedade é líquida não me permite saber
como comportar-me. Líquido – mas poderíamos igualmente dizer gasoso – é um adjetivo
que descreve de maneira evasiva, mas não explica nem orienta. Desorienta.” (MASI,
Domenico de, pg. 33, 2019)
O livro é um diálogo entre Donskis e Bauman. No capítulo 2 objeto do nosso estudo, eles
tratam de política, cada qual dando sua opinião sobre o tema, convergindo em muitos pontos
Antes de adentrar na leitura do livro, trago um depoimento de Donskis sobre Bauman, que
está na Introdução do livro e achei pertinente trazer pois resume um pouco o pensamento de
Bauman e sua filosofia:
“Não admira, a sociologia de Bauman é acima de tudo uma sociologia da imaginação, dos
sentimentos, das relações humanas – amor, amizade, desespero, indiferença, insensibilidade –
e da experiência íntima. Passar facilmente de um discurso para outro tornou-se traço
característico de seu pensamento.
Talvez ele seja o único sociólogo do mundo (e Bauman é um dos grandes sociólogos vivos,
ao lado de Anthony Giddens e Ulrich Beck) e simplesmente um dos maiores pensadores (com
Umberto Eco, Giorgio Agamben, Michel Serres e Jürgen Habermas) que não apenas usa
ativamente a linguagem da alta teoria. Ele salta com habilidade dessa linguagem para a da
publicidade, dos comerciais, mensagens de texto, mantras dos oradores motivacionais e dos
gurus do mundo empresarial, clichês e comentários no Facebook; e depois retorna à
linguagem (e aos temas) da teoria social, da literatura moderna e dos clássicos filosóficos.
Sua sociologia busca reconstruir todas as camadas da realidade e tornar sua linguagem
universal acessível a todos os tipos de leitor, não apenas ao especialista acadêmico. Seu poder
discursivo e sua capacidade de decifrar a realidade realizam essa função da filosofia que
André Glucksmann compara aos entretítulos do cinema mudo, os quais ajudavam tanto a
construir quanto a revelar a realidade retratada.
Bauman é reconhecidamente eclético do ponto de vista metodológico. A empatia e a
sensibilidade são para ele muito mais importantes que a pureza teórica ou metodológica.
Determinado a andar na corda bamba para atravessar o abismo que separa a alta teoria dos
reality shows, a filosofia dos discursos políticos e o pensamento religioso dos comerciais, ele
sabe muito bem como ficaria comicamente isolado e unilateral se tentasse explicar nosso
mundo com as palavras da elite política e financeira, ou usando apenas textos acadêmicos
herméticos e esotéricos. (pg. 5-6)”
Donskis começa o diálogo afirmando que os intelectuais a moda antiga correm perigo de
serem esquecidos, se não se apresentarem nas redes sociais
“Em geral, a tecnologia ultrapassou a política, ou você se envolve ativamente no mundo da TI
ou não existe mais. Você pode, logo deve. Você pode estar on-line, logo, deve estar on-line.”
pg. 64
“É um segredo público portanto, que nossa época seja aquela em que a política sai de cena.
Veja os numerosos palhaços políticos que estão se tornando mais populares agora que
qualquer político à moda antiga” pg. 65
O autor afirma: “De outro modo, os partidos políticos serão extirpados da face da Terra por
esses movimentos” (pg. 65)
Quem movimentos são esses? Os movimentos sociais virtuais, e as organizações não
governamentais
Vivemos uma sociedade de consumo: “Compro, logo existo” – parafraseando a frase famosa
de Descartes: Penso, logo existo! Cogito, ergo sum
Antigamente, há cerca de 20 anos ou mais, os países para ingressarem no clube dos países
ricos, tinham que apresentar “credenciais” democráticas, hoje em dia você precisa demonstrar
disciplina financeira e aptidão para participar de uma política aduaneira e uma boa política
econômica (pg. 66)
Os políticos devem ter muita cautela quando falarem ao público, pois suas palavras podem
causar “um efeito dominó global, desapontando assim tanto seus inimigos quantos seus
aliados [....] trata-se deu uma nova linguagem de poder. “Comporte-se do contrário vai
atrapalhar o jogo e nos deixar na mão.” Tudo tem repercussões e implicações globais. (pg. 67)
“A modernidade líquida transformou-nos numa comunidade global de consumidores”
(pg. 68)
... as nações estão se tornando unidades extraterritoriais com uma língua e uma cultura
comuns (pg. 68)
Como era na modernidade sólida: a nação era constituída de um território, uma língua, e uma
cultura comuns, com a moderna divisão do trabalho, mobilidade social e alfabetização (pg.
68)
Como é hoje: é uma questão de estarmos on-line ou off-line. Na modernidade líquida, esse
plebiscito é diário (pg. 68)
2ª PARTE: ZYGMUNT BAUMAN
Concorda com Donskis quanto ao termo: A tecnologia ultrapassou a política
A expropriação dos meios de comunicação continua sendo a ser condição do jogo, sobretudo
no caso de ditaduras, como a chinesa e birmanesa por exemplo, retirando do ar sites, redes
sociais, controlando tudo
Pergunta de Bauman: Será que a tecnologia, então indisponível, mas agora comum e de
fácil acesso, seria o presságio da expropriação dos expropriadores? Pg. 69
Ele aponta uma contradição ou nas palavras dele dois pesos e duas medidas, quando países
liberais, como os EUA elogiam movimentos políticos e sociais divulgados nas redes sociais,
em busca de mais liberdade, no entanto, quando Julian Assange, dono do Wikileaks vazou
informações privilegiadas desses mesmos países, foi perseguido e preso. (Pg. 70)
“Governments, of course, are quite happy “Os governos, é claro, ficam muito
to overstate their actual capabilities, for felizes em exagerar suas capacidades
such boasting works to their advantage. reais, pois esses trabalhos se vangloriam
Thus, in January 2010, when Ahmadi dessa vantagem. Assim, em janeiro de
Moghaddam, Iran’s police chief, boasted 2010, quando Ahmadi Moghaddam,
that “the new technologies allow us to chefe de polícia do Irã, se gabou de que
identify conspirators and those who are "as novas tecnologias nos permitem
violating the law, without having to identificar conspiradores e aqueles que
control all people individually,” he must estão violando a lei, sem ter que controlar
have known that his words would have todas as pessoas individualmente", ele
an effect even if he had greatly deve saber que suas palavras ter um
exaggerated his capability” efeito mesmo que ele tenha exagerado
bastante sua capacidade "
Faz um relato sobre a vigilância na época “analógica” inclusive com relato de um ex-oficial
de alta patente da KGB sobre como eram feitas as “escutas” vigilância sobre pessoas alvo,
depois o autor compara com a situação atual:
Então as redes sociais funcionam tanto para o bem como para o mal, essas ferramentas
digitais encontram utilidade tanto para aqueles que desejam mudanças sociais, mais liberdade,
que lutam por democracia, quanto para aqueles países autoritários que sabidamente
desrespeitam direitos e garantias fundamentais de seus cidadãos. Serve como forma de
monitorar seus adversários políticos.
A internet tanto serve como ambiente democrático, quanto pode ser utilizado para localizar
dissidentes políticos, adversários, servindo para neutralizá-los, prende-los ou dificultar sua
atividade política.
Fazer um parêntese para mostrar o texto de Yuval Noah Harari no Financial Times que trata
dessa questão da vigilância em tempos de Coronavirus:
Fonte: https://www.ft.com/content/19d90308-6858-11ea-a3c9-1fe6fedcca75
Cita outro autor, David Lyon, que escreveu com o próprio Bauman
o livro Vigilância Líquida. David Lyon é especialista em vigilância e
é Professor na Universidade do Queen em Kingston – Canadá
Vivemos numa sociedade confessional, promovendo auto exposição
pública
O trecho abaixo foi retirado da introdução da obra “Vigilância
Líquida, e foi escrito por Lyon:
“Assim, até que ponto a noção de modernidade líquida – e, aqui, de
vigilância líquida – nos ajuda a entender o que está ocorrendo no
mundo de monitoramento, rastreamento, localização, classificação e
observação sistemática que é a vigilância? A resposta simples, em uma só palavra, é
“contexto”. É fácil interpretar a difusão da vigilância como fenômeno tecnológico ou como
algo que lida simplesmente com “controle social” e “Grande Irmão”. Mas isso é colocar toda
a ênfase em instrumentos e tiranos, e ignorar o espírito que anima a vigilância; as ideologias
que a impulsionam; os eventos que a possibilitam; e as pessoas comuns que concordam com
ela, a questionam ou decidem que, se não podem vencê-la, é melhor juntarem-se a ela (p. 11)
[...]
E quanto à questão do controle social, do Grande Irmão de George Orwell? Se a vigilância
não diz respeito unicamente ao poder crescente das novas tecnologias, será que ela não se
refere à forma como esse poder é distribuído? A metáfora-chave para a vigilância, pelo menos
no mundo ocidental, sem dúvida é o Grande Irmão. Quando a administração governamental se
concentra nas mãos de uma só pessoa ou partido que usa o aparato administrativo, com seus
registros e arquivos, como forma de controle total, estamos falando do Grande Irmão. Em
1984, de Orwell, “imaginado” – como já o descrevi – “como uma advertência pós-Segunda
Guerra Mundial sobre o potencial totalitário das democracias ocidentais, o Estado tornou-se
patologicamente absorto pelo próprio poder e está intimamente envolvido no controle
cotidiano das vidas de seus cidadãos” (p. 13)
Voltando a Morozov, este afirma: “a internet tem fornecido tantas doses de diversão barata e
acessível aos que vivem sob o autoritarismo que se tornou bem mais difícil fazer com que as
pessoas se preocupem com a política”
O texto traz uma expressão bem interessante: SLACKTIVISTA essa expressão vem da junção
das palavras slack (preguiçoso em inglês) + ativista (ativista), seria aquela pessoa que
promove ações na internet, petições online, utiliza as redes sociais para compartilhar
campanhas, com apoio a determinadas causas políticas e/ou sociais, mas que não apresenta
um engajamento direto, restringindo-se a ficar apenas atrás das telas do celular ou do
computador.
https://foreignpolicy.com/2009/09/05/from-slacktivism-to-activism/
Recentemente aqui no Brasil surgiu uma campanha para colher assinaturas para destinar o
fundo partidário para o combate ao Coronavirus, retirei do site Catraca Livre a informação:
“Um abaixo-assinado circula na internet pedindo que o dinheiro que seria destinado ao fundo
partidário e eleitoral seja repassado a ações de enfrentamento ao novo coronavírus. A petição,
que recebeu o apoio de mais de 200 mil pessoas em apenas três dias, visa pressionar a
aprovação de propostas já apresentadas por parlamentares para somar os R$ 2,03 bilhões do
fundo eleitoral e o R$ 1 bilhão do partidário aos R$ 5,09 bilhões que foram liberados a
medidas de combate ao Covid-19 por meio da Medida Provisória (MP) 924/2020.” (site
catraca livre)
Fonte: https://catracalivre.com.br/cidadania/200-mil-querem-r-3-bi-do-fundao-da-vergonha-
contra-coronavirus/
O autor faz a seguinte comparação, bem interessante por sinal: “machados podem ser
usados para cortar lenha, ou decepar cabeças” no contexto, a comparação significa que
não são as novas tecnologias, ou as redes sociais, os são responsáveis pelo mal uso, e sim as
pessoas que operam e utilizam as redes sociais que são responsáveis.
A progressiva separação, destinada ao divórcio, entre o poder (a capacidade de fazer com que
as coisas sejam feitas) e a política (a capacidade de decidir que coisa devem ser feitas); e a
resultante incapacidade manifesta, ridícula e degradante da política do Estado-nação de
realizar sua função.
Sobre esse assunto de poder, eu recomendo a leitura do livro “O
fim do poder” de Moises Naim. “Em poucas palavras, o poder não
é mais o que era. No século XXI, o poder é mais fácil de obter,
mais difícil de utilizar e mais fácil de perder.” (mostrar um trecho
da obra em destaque)
Referência: O fim do poder: nas salas da diretoria ou nos campos
de batalha, em Igrejas ou Estados, por que estar no poder não é
mais o que costumava ser? / Moisés Naím; tradução Luis Reyes
Gil. – São Paulo: LeYa, 2013
Trecho do livro:
“[...] Insurgentes, novos partidos políticos com propostas alternativas, jovens empresas
inovadoras, hackers, ativistas sociais, novas mídias, massas sem líderes ou organização
aparente que de repente tomam praças e avenidas para protestar contra seu governo ou contra
personagens, carismáticos que parecem ter “surgido do nada” e conseguem entusiasmar
milhões de seguidores ou crentes são apenas alguns dos exemplos dos muitos novos atores
que estão fazendo tremer a velha ordem. Nem todos eles são respeitáveis ou dignos de
elogios; mas cada um está contribuindo para a degradação do poder daqueles que até agora o
detinham de maneira mais ou menos assegurada: os grandes exércitos, partidos políticos,
sindicatos, conglomerados empresariais, igrejas ou canais de televisão.
Fala da origem do termos precariedade naqueles que serviam às elites, eram “parasitas” de
reis, príncipes e nobres, senhores feudais
Para Bauman existia uma relação de dependência entre a burguesia, sobretudo os grandes
industriais e a classe proletariada na modernidade passada, modernidade sólida; havia uma
espécie de limite natural à desigualdade, barreira natural à exclusão social
“Ambos os lados do conflito haviam investido em evitar que a desigualdade saísse de
controle. E cada lado tinha um interesse em manter o outro no jogo” pg 82
Foi nesse contexto que o Estado promoveu salário mínimo, limites a jornada de trabalho,
proteção jurídica aos sindicatos, e instrumentos de autodefesa ao trabalhador.
Hoje em dia não é mais assim
A pergunta que Bauman se faz é: se o “precariado” pode ser reclassificado como agente
histórico, tal como o proletariado foi?
Para Bauman, é improvável ou impossível que o precariado assuma esse papel de protagonista
Volta a reforçar a ideia de que os partidos políticos serão extirpados da face da Terra
Interessante que nesse contexto, aqui no Brasil temos ações judiciais que contestam a
obrigatoriedade de filiação partidária para disputa de eleições, uma dessas ações chegou no
STF sob a relatoria do Ministro Barroso, Recurso Extraordinário nº 1238853 que está
tratando justamente da possibilidade das candidaturas avulsas
Regimes tirânicos são mais sensíveis ou vulneráveis ao povo nas ruas, em comparação com as
democracias que estariam acostumadas com essas manifestações nas ruas
Bauman fala da mudança linguística que marcou um momento de transição na Europa quando
as elites deixaram de chamar a população de patuléia, plebe e passaram a chamar de povo
Concorda com Donskis e afirma que existem muitos palhaços na política
CITA diversas obras do gênero distopias: Admirável mundo novo, Aldous Huxley; 1984
George Orwell, Escuridão ao meio-dia de Arthur Koestler, Jean Baudrillard, A imortalidade
de Milan Kundera, todas essas obras apresentam cenários de países autoritários, Estado
onipresente, com controle dos cidadãos, vigilância, fim da privacidade, coisas que hoje, na
vida real, está existindo também ao seu modo
Para Donskis: “só duas coisas têm valor no mundo da sociedade tecnológica e consumista,
como mostrou Houllebecq: o entretenimento da política e a política do entretenimento”
“O humor político e a comunidade do entretenimento podem entrar na política, enquanto
políticos se tornam prazerosamente astros de TV, preocupados com o entretenimento político
ou pelo menos por ele afetados”
Não apenas na TV, vemos isso muito mais nas redes sociais, com declarações polêmicas,
declarações absurdas, quebra de decoro, desrespeitosas enfim, uma gama de declarações e
opiniões que em nada contribuem para o cenário político, incendeiam as redes sociais e
aumentam a polarização e o ódio entre a população.
O mundo todo se tornou político
O problema é que a política é uma questão de empoderamento, motivo pelo qual ela não pode
tolerar fraqueza
Compartilhem ou irão perecer. Esse é o novo nome do jogo
Crise do liberalismo
“antigos astros do liberalismo europeu tornam-se conservadores quase que da noite par
o dia e degeneram em menestréis do populismo de extrema direita. (Pg. 91)
Lista de atuais líderes da extrema direita no mundo:
https://g1.globo.com/mundo/noticia/2019/05/03/quem-sao-os-lideres-por-tras-do-avanco-da-
direita-radical-na-europa.ghtml
essa matéria do site G1, informa quem são os líderes da atual extrema direita mundial:
Santiago Abascal – Partido Vox – Espanha
Matteo Salvini – Partido La Liga – Itália
Viktor Órban – Partido Fideisz – Hungria
Alexander Gauland e Alice Weidel – AfD – Alemanha
Marine Le Pen – Agrupamento Nacional – França
TOTALITARISMO LÍQUIDO
Donskis afirma que métodos de controle social, vigilância que existiam nos regimes
totalitários, por exemplo na URSS pós 2ª Guerra Mundial ainda hoje são cultivados em países
dito democráticos. A privacidade de hoje está morta. O autor imaginou ingenuamente que a
violação da dignidade humana só ocorria na antiga URSS.
Na modernidade sólida do passado, o totalitarismo era claro, discernível, óbvio e malévolo
Na modernidade líquida, a vigilância em massa e a colonização do privado estão presentes
hoje
“O ponto de partida do totalitarismo líquido, em oposição ao totalitarismo sólido e real, pode
ser percebido no Ocidente cada vez que vemos pessoas ansiando por reality shows e
obcecadas com a ideia de perderem de livre e espontânea vontade sua privacidade, ao expô-la
nas telas de TV – com orgulho e satisfação.” Pg 95
“De fato, há uma grande distância entre as novas formas de vigilância em massa e de controle
social no Ocidente e o divórcio aberto e explícito entre capitalismo e liberdade na China e na
Rússia. Mais que qualquer coisa, o totalitarismo líquido manifesta-se no padrão chinês
de modernidade, em oposição ao padrão ocidental, com sua fórmula de capitalismo sem
democracia ou livre mercado sem liberdade política.” (p. 95)
“O divórcio entre poder e política que você descreve desenvolveu uma versão específica
chinesa: o poder financeiro pode existir e prosperar lá, desde que não se associe ao poder
político nem se sobreponha a ele. Fique rico, mas permaneça longe da política.” (p. 95)
Outro exemplo de totalitarismo líquido é a Rússia de Putin, com sua ideia de democracia
gerenciada, equipada com o putinismo, esse vago e estranho amálgama de nostalgia da
grandeza do passado soviético, capitalismo gângster e cúmplice, corrupção endêmica,
cleptocracia, autocensura e remotas ilhas deixadas à opinião e às vozes discordantes na
internet.
4ª parte: ZYGMUNT BAUMAN
Comenta uma obra de Agnes Heller que compara as literaturas do século XIX com a do
século XX
Bauman concorda com Donskis sobre a falta de liderança política e a qualidade desses
políticos atuais
Bauman fala do recente falecimento de Václav Havel
Bauman afirma que Havel foi um grande líder político-espiritual, um líder político que
dificilmente tornaremos a ver novamente
De acordo com Bauman, Havel “deu poder aos impotentes, em vez de privá-los das partículas
de poder que eles ainda poderiam deter” pg. 99
“dando adeus a Havel, a maioria de nós – incluindo nossos atuais líderes nomeados/eleitos
(não importa a relutância com que possam admitir isso) – tem todo o direito e o dever de olhar
para si mesmo como um anão sentado nos ombros de um gigante, e Václav Havel sem dúvida
alguma foi um dos maiores gigantes. Olhamos em torno procurando, em vão, pelos sucessores
desses gigantes – e o fazemos numa época em que precisamos deles ainda mais que antes, até
onde vai nossa memória coletiva.
Václav Havel GColL (Praga, ✡5 de outubro de
1936 — Praga, ✝18 de dezembro de 2011)[1] foi
um escritor, intelectual e dramaturgo checo. Foi o
último presidente da Checoslováquia e o primeiro
presidente da República Checa.
Firme defensor da resistência não-violenta (tendo
passado cinco anos preso por suas convicções),
tornou-se um ícone da Revolução de Veludo em seu
país, em 1989. Em 29 de dezembro de 1989, na
qualidade de chefe do Fórum Cívico, elegeu-se
presidente da Checoslováquia pelo voto unânime da
Assembleia Federal.
A 13 de Dezembro de 1990 recebeu o Grande-Colar
da Ordem da Liberdade de Portugal.[2]
Manteve-se no cargo após as eleições livres de
1990. Apesar das crescentes tensões, Havel apoiou
a preservação da federação entre checos e eslovacos
durante a dissolução da Checoslováquia. Em 3 de
julho de 1992, o parlamento federal não logrou
elegê-lo - o único candidato a presidente - devido à
falta de apoio dos deputados eslovacos. Após a
declaração de independência da Eslováquia, Havel
renunciou à presidência, em 20 de julho. Quando da
criação da República Checa, candidatou-se ao cargo
de presidente e venceu as eleições em 26 de janeiro
de 1993.
Após combater um câncer de pulmão, Havel foi
reeleito presidente em 1998. Seu segundo mandato
presidencial terminou em 2 de fevereiro de 2003,
sucedendo-lhe seu grande adversário, Václav Klaus
Fonte: Wikipédia - https://pt.wikipedia.org/wiki/V
%C3%A1clav_Havel
De acordo com Bauman estamos vivendo o interregno de Antonio Gramsci, termo resgatado
pelo professor Keith Tester, que afirma que as formas de se fazer política no passado não
resolvem mais as coisas, ao passo que novas formas ainda não se consolidaram, ou não estão
à vista, ou são precoces, voláteis e incipientes demais para serem notados ou levados a sério
quando (e se) forem notados
“A impotência e a inaptidão, altamente visíveis, da máquina política atual constituem a
principal força a mover um número sempre crescente de pessoas em movimento e em
contínuo avanço” pg. 102/103
“A deterioração e a crescente decadência e impotência das estruturas políticas os (líderes)
impedem de amadurecer”
Com isso Bauman quer dizer que o cenário político atual inibe o surgimento de líderes
políticos com capacidade para modificar a política, e que Havel é uma inspiração para esse
novos líderes políticos que surgem nesse contexto atual, Havel se utilizava de 3 armas para
mudar a história: esperança + coragem + obstinação
Bauman fala de uma crise da agência
Fala sobre ideologia – “Até por volta de meio século atrás, as ideologias estavam, por assim
dizer, entrelaçadas com o Estado – seus interesses e propósitos eram estabelecidos. As
ideologias de hoje estão entrelaçadas com a ausência do Estado como instrumento eficaz de
ação e mudança” (pg 106)
Une idéologie est une tentative plus ou Uma ideologia é uma tentativa mais ou
moins cohérente d’apporter des réponses menos coerente de trazer respostas a um
à un ensemble de questions extrêmement conjunto extremamente amplo de
vastes portant sur l’organisation perguntas sobre organização desejável ou
souhaitable ou idéale de la société. ideal da sociedade. Dada a complexidade
Compte tenu de la complexité des das questões postas, é permitido dizer
questions posées, il va de soi qu’aucune que nenhuma ideologia pode obter
idéologie ne pourra jamais emporter adesão plena e apoio de todos: o conflito
l’adhésion pleine et entière de tous : le ideológico e desacordo são inerentes à
conflit et le désaccord idéologique sont própria ideologia. No entanto, toda
inhérents à l’idéologie elle-même. sociedade não tem outra escolha senão
Pourtant, chaque société n’a d’autre tentar responder a essas perguntas, muitas
choix que de tenter de répondre à ces vezes baseadas em sua própria
questions, souvent sur la base de sa experiência histórica, e às vezes também
propre expérience historique, et parfois construindo sobre os dos outros. Em
aussi en s’appuyant sur celles des autres. grande medida, cada indivíduo se sente
Dans une large mesure, chaque individu também tentado a ter uma opinião, ainda
se sent également tenu d’avoir une que imprecisa e insatisfatória, sobre estas
opinion, aussi imprécise et insatisfaisante questões fundamentais e existenciais.
soit-elle, sur ces questions fondamentales
et existentielles. (p. 27)
Bauman alerta aos políticos, é mais seguro ser amado que temido
Ele deu o exemplo da URSS que saiu vencedora da 2ª Guerra Mundial e era extremamente
respeitada na comunidade internacional, mas depois perdeu essa admiração devido as suas
práticas autoritárias, sobretudo utilizando-se de métodos violentos, perseguindo inimigos,
espionando pessoas durante o regime soviético
Outro exemplo de perda de prestígio internacional foram os EUA após a Guerra do Iraque,
sob a justificativa de combater a proliferação de armas químicas e biológicas, tomou de
assalto o país e dizimou as forças de resistência.
Ele comenta sobre o autor Joseph Nye Jr., um testado conselheiro de vários presidentes norte-
americanos, que os líderes e detentores de poder busquem se utilizar mais do poder soft, e
menos o poder hard (militar), ou que consigam achar um ponto de equilíbrio entre os poderes
soft e hard, que seria o “smart power” ou poder inteligente:
“Joseph Nye Jr., experimentado e testado conselheiro de presidente e membro de muitos think
tanks do mais alto nível, recomenda a todos os atuais e potenciais detentores do poder que se
baseiem menos no poder hard (seja ele militar ou econômico) e mais em sua alternativa e seu
complemento soft; ou, em resumo, no poder inteligente, a razão áurea dos dois, uma mistura
ótima, até agora difícil demais de se achar, mas urge buscar com atenção e com dose certa de
cada um dos dois ingredientes: uma combinação ideal da ameaça de quebrar o pescoço com
esforços de conquistas os corações” (pg. 109)
Bauman extrai do pensamento de Nye que estamos vivendo o fim de uma era de guerras como
conhecemos, com enfrentamentos diretos entre soldados, entre exércitos.
Os conflitos armados serão travados por meio de mísseis inteligentes, drones, cyber ataques,
Exemplo: ataque americano que matou o líder e general iraniano Qassem Soleimani
https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/01/04/drone-que-matou-lider-iraniano-e-o-mais-
letal-da-frota-dos-eua.ghtml
É um ato de guerra sem, no entanto, haver invasão territorial ou confronto direto
Assim como a retaliação foi através de um ataque por mísseis inteligentes