A AMPLITUDE DE PAPÉIS DO
REPORTAGEM TERCEIRO SETOR
CRISTINA MONTE
D esde a década de 1980 vem se forta-
lecendo, no Brasil, o chamado “Terceiro Setor”.
5HVSRQViYHOSRUDJUHJDUDVDWLYLGDGHVHDVDo}HV
da área social, oriundas, principalmente da área
¿ODQWUySLFDSDUDWDQWRYiULRVIDWRUHVFRQWULEXtUDP
para o seu crescimento, dentre eles: A inoperância
da máquina estatal em promover condições míni-
mas de sustentabilidade social a uma classe de in-
divíduos excluída; o processo de globalização que,
por meio do modelo capitalista, extinguiu postos de
WUDEDOKRHIHFKRXHPSUHVDVHR¿PGRUHJLPHPLOL-
tar no Brasil, em 1985, período em que foi possível
emergirem os movimentos sociais.
3RUWDQWR XPD YH] GHWHUPLQDGD D LQH¿FLrQFLD
do Primeiro Setor (Estado) em absorver o
FRQWLQJHQWHFUHVFHQWHHDGL¿FXOGDGHGR6HJXQGR
Setor (Mercado) em colaborar para diminuir
as diferenças sociais, toda a concentração de
Do}HV DVVLVWHQFLDOLVWDV H ¿ODQWUySLFDV DWp HQWmR
implementadas, migraram para o novo setor, o
qual surgiu de forma organizada, com enfoque
empresarial e forte poder ideológico, embasando-
T&C Amazônia, Ano V, Número 10, Fevereiro de 2007
se no tripé cidadania, solidariedade e reformulação
do espaço público, advindo o termo sociedade civil
organizada.
Em decorrência disso, o Primeiro, Segundo e
o Terceiro Setor passaram a complementar-se: a
GL¿FXOGDGH GR (VWDGR HP JHUHQFLDU H RSHUDU QRV
PLFURVVLVWHPDVVRFLDLVHPYLUWXGHGHFRQ¿JXUDo}HV
próprias, permite que a atuação do Terceiro Setor
SHQHWUH HVSHFL¿FDPHQWH HP FDGD DPELHQWH
por sua vez, o desemprego desencadeado pelo
Segundo Setor pôde, em parte, ser absorvido pelo
Terceiro Setor; já este último, não tem o poder que
o Estado mantém em canalizar recursos. Portanto,
atualmente, a complementaridade e a inter-relação
dos setores marcam um eixo condutor, o qual
busca harmonizar as questões sociais, econômicas
e trabalhistas.
Entretanto, nem todos entendem que a atuação
do Terceiro Setor diminui o fosso social. Para
a doutora em Ciências Sociais pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC), Joana
Aparecida Coutinho, ao invés de o Terceiro Setor,
por meio das organizações não-governamentais
5

(ONGs), diminuir as diferenças sociais, aumenta-
as! “A idéia de que exista uma sociedade civil
KRPRJrQHD VHP FRQWUDGLo}HV RX FRQÀLWRV GH
classes no interior dela, é difundido no ´Terceiro
Setor’, mas acontece exatamente o contrário. Ele
faz parte de uma sociedade dividida em classes
sociais, o capitalismo. E não é diferente nas
organizações que compõem este setor com a
diferença que se apresentam como preocupadas
FRP R µVRFLDO¶ H OKH Gi µ5HVSRQVDELOLGDGH 6RFLDO¶
o que na maioria dos casos, não passa de um
atendimento local, focal, no espaço onde a empresa
HVWiORFDOL]DGDJHRJUD¿FDPHQWHHDOpPGHWXGR
ainda tem isenção de impostos, ou seja, não deixa
de ser o Estado de forma indireta que está por trás
de tais ações. Quando se trata das ONGs que o
ID]HPpSLRUDLQGDDVXDDWXDomRQHVWHFDVR¿FD
GHSHQGHQGRGHTXHP¿QDQFLD2XVHMDJHUDOPHQWH
sua pauta de atuação já está determinada pelo
¿QDQFLDGRUGHVXDVDo}HV1RV~OWLPRVDQRVWHP
havido um crescimento vertiginoso de ONGs que
ensinam as outras ONGs (é a “missão” delas) a
fazerem projetos que agradem mais as empresas
RX DJrQFLDV ¿QDQFLDGRUDV 0XGDP R IRFR GH VXD
ação visando obterem melhores recursos. Então,
se agora, a onda é meio ambiente, um bom número
de ONGs vão se voltar para essa temática”.
COMPREENDENDO O CONCEITO
Terceiro Setor é a expressão oriunda do inglês
third sector, terminologia utilizada nos Estados
Unidos e que surgiu no Brasil por volta da década
de 1980, mas só na última década vem se
destacando sobremaneira. Trata-se de um conjunto
de entidades da sociedade civil organizada, com
interesse comum, que é o de gerar “produto social”
em forma de bens e serviços privados e públicos.
Por isso, o objetivo do Terceiro Setor permeia a
esfera “social” e os esforços concentram-se na
viabilização de projetos e ações que revertam em
benefícios de uma comunidade ou de um grupo.
$ GH¿QLomR GR FRQFHLWR GH 7HUFHLUR 6HWRU p
complexa e tênue, por se tratar de uma modalidade
6 T&C Amazônia, Ano V, Número 10, Fevereiro de 2007
A amplitude de papéis do Terceiro Setor
onde as instâncias privada e pública se confundem,
pois embora tenha a origem “privada”, mantém
o caráter de “pública”. Muitas vezes as próprias
ONGs não sabem a qual setor pertencem, por isso
tem sido difícil mapear com exatidão a quantidade
de entidades existentes no País.
Qualquer grupo que por algum motivo se sinta
excluído da sociedade, ou que queira resguardar
uma causa, como por exemplo preconceito racial,
sexual ou preservação de mata nativa - pode
além de ser atendido, participar e até montar uma
RUJDQL]DomRVHP¿QVOXFUDWLYRV
Dentro do escopo do Terceiro Setor, participam
associações, fundações, cooperativas, instituições
H HPSUHVDV VHP ¿QV OXFUDWLYRV RUJDQL]Do}HV
não-governamentais (ONGs), entidades de
assistência social, educação, saúde, esporte,
meio ambiente, tecnologia e ciência, cultura, entre
outras organizações que mantenham o objetivo de
combater a pobreza, a violência, o analfabetismo,
o racismo, a destruição ambiental, e desde que não
FRQ¿JXUHOXFURGHFDSLWDO
Na próxima página segue tabela com
informações extraídas no portal ambientebrasil.
O ESTADO: MOBILIZAÇÃO SOCIAL, UM
HISTÓRICO RECENTE
Não há como traçar o período exato em que
as ações sociais começaram a ser realizadas por
um grupo de pessoas em prol do próximo, porém
há alguns registros históricos que nos situam no
tempo.
Em 1543, foi fundada a Santa Casa de
Misericórdia no Brasil, entidade conduzida por
freiras e padres, daí se reforça a tese de que a
noção de caridade proveio da esfera religiosa, em
YLUWXGHGDDGPLQLVWUDomRHIRUWHLQÀXrQFLDGRFOHUR
Em um país onde a maioria ainda é católica, isso
faz sentido.
Em 1900, foi a vez do surgimento da Liga
Brasileira contra a Tuberculose, a qual reunia
médicos, intelectuais e os mais ricos - concentrados
na ajuda ao próximo e, em 1908, instalou-se no
 A amplitude de papéis do Terceiro Setor

QUADRO 1 - TABELA COM AS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL

$V2UJDQL]Do}HVGD6RFLHGDGH&LYLOSRGHPVHUGLIHUHQFLDGDVGHDFRUGRFRPVHXIRUPDWRIRUPDOL]DomR¿PHVHWRUDWUDYpVGH
XPDDQiOLVHGDVFDUDFWHUtVWLFDVGHFDGDXPDGDVPRGDOLGDGHVDVHJXLUSRGHVHTXDOL¿FDUDLQVWLWXLomRFRPRSHUWHQFHQWHRXQmR
ao Terceiro Setor.
ONG – Organização Não-Governamental Liga

Geralmente trata-se da iniciativa de pessoas ou grupos que

atuam para solucionarem questões da comunidade: mobilizações,
educação, conscientização e organização de serviços ou
programas para o atendimento de suas necessidades.
7RGD 2UJDQL]DomR GD 6RFLHGDGH &LYLO VHP ¿QV OXFUDWLYRV
é uma ONG. Em virtude do desconhecimento, eventualmente
algumas delas adotam nomes incompatíveis com sua modalidade
jurídica.
Sociedade
União de indivíduos, grupos ou partidos para a defesa de
interesses comuns e comumente, com objetivos sociais. Por
VHU XPD IRUPD GH DVVRFLDomR H SRUWDQWR VHP ¿QV OXFUDWLYRV
encaixa-se no Terceiro Setor.
EX: Liga das Senhoras Católicas de Curitiba
/LJDGH$PDGRUHV%UDVLOHLURVGH5iGLR(PLVVmR/$%5(
Rede

Semelhante à Liga, a denominação geralmente é usada

Organização constituída a partir de duas pessoas, através SDUD TXDOL¿FDU XPD XQLmR GH YiULDV HQWLGDGHV FRP REMHWLYRV
de um contrato ou convenção, buscando obter lucro. Os sócios D¿QV &RQIRUPH DV FDUDFWHUtVWLFDV GHVWDV HQWLGDGHV SRGH VHU
FRQWULEXHP FRP R FDSLWDO VRFLDO 3RU WHU ¿QV OXFUDWLYRV QmR VH uma modalidade do Terceiro Setor.
TXDOL¿FDFRPRRUJDQL]DomRGR7HUFHLUR6HWRU (; 5HGH %UDVLOHLUD GH 3URWHomR DRV 5HFXUVRV +tGULFRV H
Naturais Amigos das Águas - ADA
5HGH)HPLQLQDGH&RPEDWHDR&kQFHU

Clube
1RPHDomR XWLOL]DGD SDUD FODVVL¿FDU DV DVVRFLDo}HV GH ¿QV
culturais, recreativos, políticos ou desportivos. Na área comercial,
pode designar sociedade com propósito de venda de mercado-
Fundação
A Fundação se constitui quando o patrimônio (geralmente
doado) obtém personalidade legal, e passa a ser destinado para
DFRQVHFXomRGHVHXVREMHWLYRVTXHVmRVHUYLUD¿QVS~EOLFRV
6HQGR DVVLP p XPD HQWLGDGH VHP ¿QV OXFUDWLYRV HQWUHWDQWR
rias (móveis e imóveis), ou outros produtos por meio de sorteios.
Demonstrando assim pertencer ao Segundo Setor.
Associação
Sinônimo de sociedade, no entanto indica uma entidade sem
¿QV OXFUDWLYRV &RQVLGHUDVH DJUHPLDomR RX XQLmR GH SHVVRDV
FRPRPHVPRSURSyVLWRSRGHQGRVHUHVWHEHQH¿FHQWHFLHQWt¿-
co, político, desportivo, recreativo, artístico, literário, ativista, so- das regras as quais estão submetidas podem constituir uma
cial, entre outros. Pertencendo ao Terceiro Setor.
EX: Associação Comercial do Paraná
Associação Brasileira de Agência de Viagens - ABAV
Fonte: Tabela adaptada do site ambiente Brasil
Brasil a Cruz Vermelha, que atualmente atua em
171 países e conta com o apoio e solidariedade de
350 milhões de voluntários.
$YLVmRDUHVSHLWRGD¿ODQWURSLDIRLPXGDQGRH
se adequando conforme as questões e carências
sociais iminentes, por isso a década de 1930,
na área política, no governo de Getúlio Vargas,
foi considerado um importante marco entre
o relacionamento do Estado e os grupos de
trabalhadores, devido à criação de dispositivos
legais e a inclusão de direitos sociais, tais como:
o estabelecimento da justiça do trabalho e a
consolidação das Leis do Trabalho (CLT), pela qual
T&C Amazônia, Ano V, Número 10, Fevereiro de 2007
VXMHLWDjOHJLVODomRHVSHFt¿FDOHL
(;)XQGDomR5RQDOGLQKR
Fundação Pedro N. Pizzatto
Instituto
Classe que congrega diferentes entidades, entre elas:
OLWHUiULD DUWtVWLFD FLHQWt¿FD SROtWLFD EHQH¿FHQWH 'HSHQGHQGR
instituição de qualquer um dos setores.
EX: Instituto Ambiental do Paraná (1o. Setor)
Instituto Ecoplan (3o. Setor)
foram instituídos os direitos trabalhistas.
No seu governo, em 1942, foi criada a
Legião Brasileira de Assistência. Entretanto, os
trabalhadores rurais permaneceram excluídos até a
década de 1960, ocasião em que surgiu o Estatuto
GR 7UDEDOKDGRU 5XUDO &RQWXGR D LJXDOGDGH GH
direitos entre os grupos de trabalhadores foi
conquistada pela Constituição Federal de 1988.
Isso mostra que o povo brasileiro passou por muitos
dissabores até alcançar a tão sonhada democracia,
que alimentava o discurso da justiça social e da
igualdade de direitos.
Foi neste período que o Estado passou a
7

assumir a construção dos hospitais, retirando o
encargo da iniciativa privada.
2 JRYHUQR GR HQWmR 3UHVLGHQWH GD 5HS~EOLFD
João Goulart, entre os anos de 1961 e 1964,
foi marcado pelo início da articulação das
organizações sociais, principalmente, de
estudantes e trabalhadores, fato que assustou as
classes conservadoras: banqueiros, empresários,
militares, entre outros. O temor provinha do receio
de que estes movimentos sociais levassem o País
ao regime socialista.
1HVVD pSRFD XPD LPSRUWDQWH ¿JXUD VH
destacava no cenário político social – Herbert José
de Souza, o Betinho – sociólogo por formação e
generoso por vocação, ele dedicou-se às causas
sociais, engajou-se nos movimentos operários,
educacionais e foi articulador da reforma agrária,
entre outras atividades que executou.
Na década de 1980, foi um dos idealizado-
res que trouxeram o conceito de “organizações
VHP ¿QV OXFUDWLYRV´ DR %UDVLO DMXGRX D IXQGDU R
A amplitude de papéis do Terceiro Setor
de novas ferramentas de inclusão social,
principalmente no pós-Collor, momento em que
houve aprimoramento na forma de gerenciamento
e nos conceitos, possibilitando melhor atuação do
Terceiro Setor.
Atualmente, a grande colaboração que o
Estado pode dar ao Terceiro Setor é na esfera
OHJDOLQFOXVLYH¿VFDOL]DQGRRVUHFXUVRVGHVWLQDGRV
às entidades. Para o Estado a maior vantagem
é transferir o compromisso social e estabelecer
metas para seu cumprimento.
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA
No Brasil, a Lei mais antiga que temos sobre a
área é a Lei nº 173, promulgada em dezembro de
1893, a qual regulamentava e organizava as ações
das associações. A regulamentação foi o primeiro
PDUFRR¿FLDOLQVWDXUDGRQR3DtV1DTXHODpSRFDD
lei se voltava para a área da saúde, em função da
atuação da Santa Casa de Misericórdia.
,QVWLWXWR GH (VWXGRV GD 5HOLJLmR ,6(5 H HP VH-
guida, o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e
Econômicas (IBASE). Betinho era contra o capita-
lismo e dizia: “A democracia, no meu entendimento,
é absolutamente incompatível com o capitalismo.
Uma sociedade democrática deve necessariamen-
te superar o capitalismo e inventar novas relações
no plano econômico, político e social”.
Já em 1964, quando assumiu o governo,
Castello Branco manteve o discurso de democracia,
mas a posição era autoritária, houve dissolução
dos partidos políticos, mandatos foram cassados,
sindicatos foram postos à intervenção do Estado,
cidadãos tiveram direitos políticos e constitucionais
cancelados.
O cenário do País começou a mudar apenas
nos idos de 1975, no governo do general Ernesto
Geisel. Naquela época, as ONGs européias
avançaram para os continentes do Hemisfério
Sul e acabaram fomentando o surgimento de
¿OLDLV EUDVLOHLUDV &RPR D LPSODQWDomR GHVVDV
organizações aconteceu na época da Ditadura, o
discurso surgiu da “esquerda”.
A década de 1990 foi marcada pelo surgimento
8 T&C Amazônia, Ano V, Número 10, Fevereiro de 2007
Em 1935, foi promulgada a Lei de Declaração de
Utilidade Pública, que regulamentava a colaboração
GR(VWDGRFRPDVLQVWLWXLo}HV¿ODQWUySLFDV
Após isso e com o passar dos anos diversas leis,
resoluções, decretos entre outras medidas legais
foram implementadas como forma de regulamentar
o Terceiro Setor, e uma das mais recentes é
a que ampara a atuação das organizações
VHP ¿QV OXFUDWLYRV D /HL Qž  VREUH R
Serviço Voluntário, a qual permite a contratação
de voluntários, por intermédio de um Termo de
$GHVmR (VSHFt¿FR LPSHGLQGR D LPSXWDomR GD
carga tributária imposta pela legislação trabalhista
brasileira.
Em seguida foi elaborado o projeto de Lei nº
4.690/98, que no ano subseqüente originou a Lei
QžDTXDOGLVS}HVREUHDTXDOL¿FDomRGH
entidades como Organizações da Sociedade Civil
de Interesse Público (OSCIP).” Em termos de leis
que buscam demarcar a atuação do Terceiro Setor
no Brasil, a Lei nº 9.790/99 é, efetivamente, um
marco legal e a Lei nº 9.608/98 é instrumento legal
de grande valia para a promoção do voluntariado.
No entanto, não é bom esquecer dos dispositivos

constantes do Código Civil de 2002, artigos 44 a 69,
HGDOHJLVODomRHVSHFt¿FDTXHUHJHPDVFKDPDGDV
instituições assistenciais e educacionais no campo
da imunidade tributária, conforme artigo nº 150, VI,
alínea “c” da Constituição Federal, arts. 9º, § 4º da
Lei nº 5.172/66, o nosso Código Tributário Nacional
e as normas no campo da Assistência Social,
Leis nºs 8.212/91 e 8742/93, com seus decretos
regulamentadores”, aponta o doutor e Procurador
de Justiça do Ministério Público do Distrito Federal
e Territórios, José Eduardo Sabo Paes.
A lei das OSCIPs foi regulamentada por meio
do decreto nº 3.100, e possibilita às referidas
entidades se tornarem parceiras dos órgãos
governamentais, por meio do Termo de Parceria,
Mi TXH SUHVWDP FRQWDV H PDQWrP H¿FLrQFLD H
agilidade em seus processos. Entretanto, há rígidos
requisitos impostos pelo Ministério da Justiça às
mencionadas OSCIPs, que devem ser cumpridos,
para a efetivação das parcerias, sob pena de
perderem imunidade tributária, isenção de imposto
GH UHQGD H SLRU SHUGHUHP FHUWL¿FDGRV H WtWXORV
como por exemplo, o título de utilidade pública e o
FHUWL¿FDGRGHHQWLGDGHGH¿QV¿ODQWUySLFRV
Pelo fato de não constar na Constituição Federal
e nem no Código Tributário Nacional limitação
quanto à origem da captação de recursos para
a manutenção das organizações, muitas vezes
oriunda da venda de seus produtos, prestação
de serviços, por meio de adoção de cursos ou
FRQVXOWRULDV R TXH FRQ¿JXUD FRPHUFLDOL]DomR D
questão gera controvérsia entre os tributaristas,
pois alguns entendem como abuso de poder
econômico, já que as organizações estão livres
GH XPD VpULH GH LPSRVWRV R TXH QR ¿QDO QmR
permite a livre concorrência em pé de igualdade.
Entretanto, para as instituições de assistência
VRFLDO H GH HGXFDomR DPEDV VHP ¿QV OXFUDWLYRV
a Constituição Federal de 1988 (no artigo 150, VI c
e Lei n° 9.532/97, artigo 12), garante a imunidade
e a isenção de tributação legal às instituições
geradoras do bem social, desde que preenchidos
os requisitos legais.
¹(endereço eletrônico http://www.dpf.gov.br/DCS/clipping/2006/Maio/16-05-2006NAC.htm–dia 10/10/2006)
²(http://www.alerta.inf.br/index.php?news=541 17/11/2006)
T&C Amazônia, Ano V, Número 10, Fevereiro de 2007
A amplitude de papéis do Terceiro Setor
É importante lembrar que há uma
grande discussão entre juristas, autoridades
governamentais e lideranças do Terceiro Setor que
anseiam pela reforma da legislação pertinente e
há uma série de Projetos de Lei Federal em fase
de tramitação.
CREDIBILIDADE
Muitas das organizações atuantes do Terceiro
Setor buscam credibilidade junto à sociedade, o que
nem sempre é fácil de se conquistar, principalmente
em virtude de escândalos que envolvem repasses
de verbas. Ou seja, entidades que utilizam a causa
social mas se apropriam das doações, o que
JHUD SURFHVVRV MXUtGLFRV H D SHUGD GD FRQ¿DQoD
e da credibilidade por parte de quem acredita no
compromisso social.
Não é raro sabermos de casos envolvendo des-
vios de verbas. Um dos mais recentes foi publicado
no jornal Folha de São Paulo do dia 16/05/2006¹, que
D¿UPD TXH DOJXPDV HQWLGDGHV VHP ¿QV OXFUDWLYRV
(OSCIPs) teriam sido usadas no esquema de com-
pra de ambulâncias pela Operação Sanguessuga,
burlando a Lei de Licitações e desviando recursos
da União. Segundo a reportagem a organização
atuava com a conivência de assessores parlamen-
tares e dirigentes das mencionadas entidades. A
Polícia Federal mantém a investigação.
Conforme outra matéria agora publicada no
site Alerta em rede: Desenvolvimento, Integração
H ,QIUDHVWUXWXUDð LQIRUPD TXH RV GDGRV GR 6LD¿
(sistema informatizado de acompanhamento de
gastos federais) revelam a movimentação de
tributos arrecadados entre 1999 e 2005, foram
150 bilhões de reais destinados a apenas 28
convênios analisados pelo Tribunal de Contas da
União. Há uma falta tanto de controle quanto de
gerenciamento do dinheiro público o que colabora
para o aumento de desvios e um dos motivos
mais evidentes ligados a esse problema está no
relacionamento estabelecido entre o Estado e as
21*V 2 7&8 YHUL¿FRX TXH  GDV 21*V TXH
9

receberam repasses de verbas não têm capacitação
para cumprimento dos convênios.
Episódios como os mencionados denunciam a
leviandade de alguns, e acabam comprometendo o
trabalho sério praticado por muitos.
Infelizmente, como a maior parte da população
desconhece a atuação das entidades sociais, acaba
formando opinião em decorrência do que vêem,
lêem e ouvem na mídia, o que acaba denegrindo a
imagem das entidades éticas.
MERCADO E MOVIMENTAÇÃO DO
TERCEIRO SETOR NO PAÍS
Apesar do crescimento do Terceiro Setor no Brasil,
RV Q~PHURV VmR tQ¿PRV VH FRPSDUDGRV DRV GRV
países europeus ou da América do Norte. Os
Q~PHURVOHYDQWDGRVQmRVmR¿GHGLJQRVVREUHWXGR
SRUQmRKDYHUUHJLVWURVR¿FLDLVQRHQWDQWRHVWLPD
se que há, aproximadamente, entre 200 e 250
mil ONGs atuando no Brasil, empregando mais
de 2 milhões de pessoas e mantendo cerca de 12
milhões de voluntários. O movimento em recursos
gira em torno de 1,2% do PIB, o que representa 12
bilhões de reais.
Entretanto, para a docente na área de
comunicação e Terceiro Setor pela Universidade
de São Paulo (USP), Eudosia Acuña Quinteiro, e
organizadora do livro: “Um sensível olhar para o
QUADRO 2 - TABELA COM O PERFIL DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL:
ÁREA DE ATUAÇÃO E NÚMERO DE PESSOAL
Área de atuação
Educação e pesquisa
Saúde
Cultura
Assistência social
$VVRFLDo}HVSUR¿VVLRQDLV
Religião
Defesa dos direitos
Meio ambiente
Fonte: John Hopkins University - site http://www.ambientebrasil.com.br (03/10/2006)
10
A amplitude de papéis do Terceiro Setor
terceiro setor”, o número de ONGs é ainda maior.
“As diversas fontes de consulta sobre o assunto
apresentam números que vão de 200 a 800 mil, um
intervalo muito amplo, sem margem de segurança.
&UHLRTXHHVVDLQGH¿QLomRVHGHYDDDOJXQVIDWRUHV
que partem da conceituação do que vem a ser a
composição do Terceiro Setor atrelada à legislação
‘desconhecida’ e à forma popular de chamar de ONG
tudo o que não é governo ou empresa. Voltando ao
SHU¿OWUDGLFLRQDOPXLWDVRUJDQL]Do}HVQHPVDEHP
ainda que são ou compõem o Terceiro Setor. Eu
GLVVH SHU¿O WUDGLFLRQDO  SRUTXH DV FRLVDV HVWmR
mudando por pressão de normas governamentais
e de regras empresariais no trato com a gestão
GRV SURMHWRV GDV RUJDQL]Do}HV$SRLRV R¿FLDLV RX
VXEYHQo}HV GHPDQGDP FHUWL¿FDGRV GH UHJLVWURV
e uma contabilidade transparente, portanto, logo
PDLV KDYHUi EDQFRV GH GDGRV R¿FLDLV PHOKRU
LQIRUPDGRVVREUHDH[LVWrQFLDHRSHU¿OGHDWXDomR
das entidades”.
Estudo realizado pelo IBGE em 2004 apontou
SDUD  D FRQFHQWUDomR GH 21*V QD 5HJLmR
Sudeste, sendo que 21% estão em São Paulo.
Abaixo, tabela explicativa sobre dados
extraídos no site Ambiente Brasil compilados por
pesquisadores da John Hopkins University, nos
(VWDGRV 8QLGRV VREUH R SHU¿O GR 7HUFHLUR 6HWRU
no Brasil, em número de pessoal por área de
atuação.
Número de pessoas %
381.098 34
184.040 16,4
175.540 15,7
169.663 15,2
99.203 8,9
93.769 8,4
13.721 1,2
2.499 0,2
T&C Amazônia, Ano V, Número 10, Fevereiro de 2007

EUROPA E ESTADOS UNIDOS: REGISTROS
DO TERCEIRO SETOR
Uma das mais antigas e importantes ações
de ajuda humanitária de que se tem registro
aconteceu na Europa, por volta do ano de 1859,
devido à batalha de Solferino ocorrida ao norte da
Itália. Pouco depois do episódio, percebeu-se que
tal ajuda era indispensável, assim surgiu o “Comitê
Internacional para a Assistência aos Feridos”, o qual
se reuniu pela primeira vez em Bruxelas, em 17 de
fevereiro de 1863, e depois passou a se chamar
“Comitê Internacional da Cruz Vermelha”. Era o
início da atuação da Cruz Vermelha Internacional.
Na França, no início do século XX, foi registrada
em uma placa na igreja de Sacre Couer, em Mont
Martre, uma declaração do Estado francês dizendo
que a construção da tal igreja era considerada de
“utilidade pública”.
Na Inglaterra, o surgimento do Terceiro Setor
se deu por conta das “charities”, ocasião em que a
caridade perdeu status religioso e passou a ter uma
QRYDVLJQL¿FDomRGHVYLQFXODQGRVHGDVDo}HVGH
¿ODQWURSLD H DSURSULDQGRVH GR FRQFHLWR HP XP
formato mais moderno.
Nos Estados Unidos, a produção dos primeiros
estudos sobre o Terceiro Setor, que lá recebeu
a denominação “third sector” ou ³QRQ SUR¿W
A amplitude de papéis do Terceiro Setor
arrecadar fundos oriundos de doações e revertê-
ORVHP¿QDQFLDPHQWRVFRQIRUPHDQHFHVVLGDGHGR
público que deseja ajudar, ou seja, as fundações
atuam como doadoras de recursos. Na década
de 1990, o modelo se espalhou por cerca de 40
países.
Outra forma de atuação das fundações é
D ³¿ODQWURSLD HPSUHVDULDO´ LPSOHPHQWDGD SRU
exemplo, pela Fundação Kellogg, idealizada por
Will Keith Kellogg e fundada em 1930, período da
depressão americana.
Ao longo de sua vida, Will Keith investiu o
equivalente a 66 milhões de reais e, atualmente, o
patrimônio da fundação corresponde a cerca de 7
ELOK}HVGHUHDLV&RQIRUPHD¿UPRXR.HOORJJFHUWD
vez: “Tem sido muito mais fácil ganhar dinheiro do
que saber gastá-lo sensatamente”. Hoje em dia, a
fundação estende sua atuação até o sul da África
e prioriza a capacitação do indivíduo, por meio da
educação e da tecnologia.
Outro exemplo é a Fundação Ford, concebida
SRU(GVHO)RUG¿OKRGH+HQU\)RUGHIXQGDGDHP
1936. A Ford Foundation exerceu papel fundamental
para o fortalecimento de valores democráticos e
para a consolidação da justiça social.
Já no início da década de 70, a Xerox
&RUSRUDWLRQHQFRQWURXXPDIRUPDGHXQLU¿ODQWURSLD
organizations”RUJDQL]Do}HVVHP¿QVOXFUDWLYRV
remonta à década de 1940, quando a Organização
das Nações Unidas (ONU) criou o termo para
indicar as entidades da sociedade que executavam
projetos voltados às causas sociais. No entanto,
o tema ganhou destaque nas décadas de 1970 e
1980, e somente na de 1990 houve aumento na
SURGXomRFLHQWt¿FD
FUNDAÇÃO E FILANTROPIA EMPRESA-
RIAL AMERICANA
A disseminação dos projetos sociais
implementados nas sociedades européia e
americana aconteceu por meio de algumas
fundações nos Estados Unidos, em 1914, foi
constituído um modelo ainda atual conhecido como
“fundação comunitária”. O objetivo do modelo é
T&C Amazônia, Ano V, Número 10, Fevereiro de 2007
e voluntariado, implantando o projeto que mantém
até hoje, o programa de Licença para Serviço
Social, que consiste na concessão de licença
do funcionário – de até um ano - para que atue
integralmente como voluntário em sua comunidade,
sem que sofra qualquer decréscimo no salário. Esse
foi um dos motivos pelo qual a Xerox foi ganhadora
do Prêmio Voluntariado Comunitário dos EUA 2005,
concedido pelo Centro da Câmara Americana de
Comércio para a Cidadania Corporativa.
É importante ressaltar que, diferentemente
do que ocorre no caso americano, onde a maior
parte das fundações tem patrimônios gigantescos,
no Brasil, em virtude da instabilidade econômica,
como planos econômicos, por exemplo, as
¿OLDGDV QDFLRQDLV SUHIHUHP DWXDU FRP SRXFRV
investimentos.
11
 A amplitude de papéis do Terceiro Setor

Atualmente, no cenário internacional, destaca- do crescimento no número de bilionários. Outros

se a atuação da Bill e Melinda Gates Foundation, seriam: o sentimento de culpa gerado pelas
um projeto surgido com o propósito de melhorar a discrepâncias sociais e a conscientização.
saúde e educação globais. O objetivo de Gates é Em entrevista publicada no jornal Folha de São
reverter 95% de sua fortuna para ajuda humanitária.
Seu foco é desenvolver uma vacina para a cura da
AIDS, que vem se alastrando pelos continentes e
ceifando cerca de 4 milhões de vidas por ano.
Para se ter uma idéia do poder monetário de
Bill, em 2005, o montante de recursos da fundação
beirava 30 bilhões de dólares. No entanto, o mais
louvável na atitude de Gates, não é apenas seu
FRPSURPHWLPHQWR ¿QDQFHLUR FRP DV TXHVW}HV
humanitárias, mas sim sua dedicação física e
emocional, ato que transcende a compreensão da
maioria.
PERSONALIDADES E BILIONÁRIOS NA
PRÁTICA DO BEM
Algumas personalidades vêm desenvolvendo
DWLYLGDGHV ¿ODQWUySLFDV H SDVVDUDP D IXQGDU
HQWLGDGHVID]HUVKRZVEHQH¿FHQWHVGRDUPLOK}HV
de dólares às causas sociais. A cantora Glória
Estefan, o astro do basquetebol Dikembe Mutombo
(NBA), o campeão de golfe Tiger Woods, o ator Paul
Newman, o cantor Andrea Bocelli e os políticos Al
Gore e Bill Clinton, são alguns dos exemplos.
No Brasil, a apresentadora Xuxa Meneguel,
Viviane Senna (irmã do tricampeão de F1 Ayrton
Senna), o treinador da seleção brasileira de
futebol, Dunga, o nadador Gustavo Borges, entre
tantos outros, mantêm projetos sociais, institutos e
fundações.
Alguns criticam o uso da imagem como forma
de manipular a opinião pública e aumentar ainda
mais seus cachês, agregando valor à imagem.
Outros, como Matthew Bishop, editor de economia
da revista britânica “The Economist” em Nova
<RUNDSRQWDPPRWLYRVGLIHUHQWHVSDUDMXVWL¿FDUDV
doações.
Para o editor, o principal motivo do aumento
GHGRDo}HVQDiUHDGD¿ODQWURSLDpFRQVHTrQFLD
ñIRQWHKWWSZZZ¿ODQWURSLDRUJ2TXHH7HUFHLUR6HWRUKWP
12
3DXOR  0DWWKHZ D¿UPRX ³(P 
havia 423 bilionários no mundo. Hoje são 691.
Desses, 388 construíram as suas próprias fortunas.
A globalização e o avanço de epidemias como a
AIDS (HIV) também deram um alerta para esses
novos ricos. As doenças que atingem muito mais
as populações dos países em desenvolvimento
tornaram ainda mais clara a fronteira entre ricos
H SREUHV QR PXQGR $TXHOHV TXH ¿]HUDP PXLWR
dinheiro nos países ricos nos últimos anos não
conseguem mais enterrar a cabeça num buraco e
ignorar o problema em torno deles”.
Na mesma reportagem, quando perguntado
sobre a tendência de aumento de doações no Brasil,
o editor respondeu: “No Brasil, há muitas pessoas
que se deram muito bem nos últimos anos na
esteira do crescimento econômico. Essas pessoas
não vão conseguir desviar os olhos dos problemas
ao redor delas. Os ricos do Brasil estão mais
assustados com a situação de desigualdade social
que seus pares nos outros países. Não é por acaso
que cresce tanto o número de carros blindados e
de helicópteros para escapar da violência. É muito
difícil para os milionários brasileiros morarem tão
perto da pobreza e não tentar fazer alguma coisa a
respeito, especialmente quando se vê os exemplos
de Bill Gates e de Warren Buffet”.
DOAÇÕES NO BRASIL
Segundo informações coletadas no site
Filantropia.org consultado em 01/11/2006³, há
no Brasil 54 bilionários, no entanto apenas 2 são
considerados bons parceiros do Terceiro Setor:
Jorge Paulo Lehman e a família do empresário
Ermírio de Moraes, sendo que a maior quantidade
de doadores faz parte da classe média , a qual doa,
anualmente, cerca de 23 reais, perfazendo um total
de 28% do total doado.
T&C Amazônia, Ano V, Número 10, Fevereiro de 2007

Outra observação apontada pelo site é que
quanto mais pobre, maior a porcentagem de renda
doada, ou seja, quem passa necessidade consegue
imaginar o sofrimento alheio, contribuindo para
diminuí-lo.
As fundações colaboram doando 40%, o
governo repassa 26% e o restante provém de
ELQJRVEHQH¿FHQWHVHYHQWRVHOHLO}HV
AMAZÔNIA: ONGS E O DESENVOLVIMEN-
TO REGIONAL
$ 5HJLmR $PD]{QLFD p FRQVLGHUDGD XP OXJDU
HVWUDWpJLFR GHYLGR j ORFDOL]DomR JHRJUi¿FD H DV
riquezas naturais – as quais despertam a cobiça
de muitos países – fato comprovado sobretudo
pela atuação da biogrilagem, termo adotado pela
Organização Mundial da Propriedade Intelectual
(OMPI), que designa a apropriação indébita
dos ativos intangíveis pertencentes aos povos
indígenas, isto é, conhecimento tradicional e que
venha a ofender a cultura dessas comunidades.
Um caso famoso a citar é o registro da marca
“cupuaçu”, por empresa japonesa.
Mas, uma outra modalidade de atuação
estrangeira tem assustado muitos brasileiros
preocupados com a soberania nacional e com os
recursos da Amazônia – as ONGs internacionais,
principalmente as européias e as americanas
– por agirem sob o discurso acalorado e emotivo
que a causa ambientalista provoca. Muitas vezes
interferindo no desenvolvimento socioeconômico,
por pressionar o governo federal a criar leis
DPELHQWDOLVWDVFDGDYH]PDLVUtJLGDVHLQÀH[tYHLV
o que inviabiliza obras de infra-estrutura essenciais
ao desenvolvimento regional.
RIO MADEIRA: CRESCIMENTO ECONÔMI-
CO E O MEIO AMBIENTE
2 ULR 0DGHLUD p XP LPSRUWDQWH DÀXHQWH GR
rio Amazonas, formado a partir do encontro dos
rios Beni e Mamoré. Por apresentar uma boa
profundidade, o rio permite a navegação de navios
de grande calado. Entretanto, para tornar o trecho
T&C Amazônia, Ano V, Número 10, Fevereiro de 2007
A amplitude de papéis do Terceiro Setor
de 260 Km navegável entre Porto Velho e Abunã,
RSURMHWRGR&RPSOH[R+LGUHOpWULFRGR5LR0DGHLUD
contemplará a construção de duas eclusas, que
darão passagem aos barcos.
O projeto envolve a construção de, no mínimo,
duas hidrelétricas e a implantação de uma hidrovia
que possibilitarão a geração energética de cerca de
7.400 MW, divididos entre os rios Santo Antônio e
o Jirau. Entretanto, o maior benefício do complexo
será integrar a infra-estrutura energética e de
transporte hidroviário no Brasil, Bolívia e Peru; e
D LQWHUOLJDomR HOpWULFD GRV (VWDGRV GH 5RQG{QLD
Acre, Amazonas e Mato Grosso ao Sistema
Elétrico Brasileiro. As obras irão gerar mais de 40
mil empregos diretos.
O desenvolvimento advindo do projeto é
imenso, proporcionando a industrialização do
polígono Cuiabá-Porto-Velho-Manaus-Santarém,
o que poderá ser revertido em pólos industriais e
possibilitará a integração dos países vizinhos.
Economicamente, estudos demonstram que o
complexo permitirá o escoamento pela hidrovia de
25 milhões de toneladas de grãos e de 7 milhões
de toneladas de insumos, permitindo a expansão
do agronegócio, por exemplo.
O projeto é considerado um dos maiores em
infra-estrutura no Brasil, nas últimas décadas, e
VLJQL¿FD XP VDOWR TXDOLWDWLYR H TXDQWLWDWLYR SDUD
toda a região, desde que elaborado considerando o
aspecto ambiental, preservando a biodiversidade e
cunhado na base da sustentabilidade ambiental.
2 UHODWyULR ³2 &RPSOH[R GR 5LR 0DGHLUD H D
Amazônia Industrial”, elaborado pelo Movimento de
Solidariedade Ibero-americana (MSIA), movimento
criado em 1992 e que tem o propósito de promover
a integração entre o Brasil e o México, por meio
GD LQVHUomR SROtWLFDFLHQWt¿FDWHFQROyJLFD p XP
estudo sobre a importância da criação do complexo
e aponta a atuação das ONGs como obstáculo
ao desenvolvimento regional e nacional. “Temos
destacado a necessidade de que a região central
do Brasil seja a sede de um grande processo
de desenvolvimento, não apenas sob o aspecto
socioeconômico, mas que tal impulso atue como
um novo vetor civilizatório, que possibilite a plena
13
 A amplitude de papéis do Terceiro Setor

integração de todas as regiões do País. áreas degradadas.”

Nesse contexto, temos nos empenhado também A realidade brasileira pressupõe o engajamento
HPLGHQWL¿FDUDVIRUoDVSROtWLFDVTXHWrPDWXDGRSDUD de todos os setores representativos às causas
obstaculizar o pleno desenvolvimento dos países sociais, inclusive o dos cidadãos brasileiros, para
da região e a própria possibilidade da integração que possamos contribuir para a promoção da
regional, entre as quais o movimento ambientalista- justiça social, por meio da construção de uma
indigenista internacional desempenha um papel de sociedade menos desigual.
destaque, principalmente pela popularidade das Apesar das divergências que a questão gera,
causas que ostenta como bandeiras de atuação”, há de se considerar que o Terceiro Setor vem
D¿UPRXDVRFLyORJDPH[LFDQDHGLUHWRUDGR06,$ implementando mecanismos primordiais de
Silvia Palacios. inserção social, transformando a realidade de muita
2 3UHVLGHQWH GD 5HS~EOLFD /XLV ,QiFLR gente: poder organizar o trabalho de catadores de
comentou em discurso, no Estado do Mato Grosso, lixo, fazendo-os sentir orgulho da atividade que
em novembro último, sua insatisfação quanto à executam; oferecer telecentros onde as crianças
morosidade na concessão de licenças ambientais, possam navegar na internet e se verem diante do
o que inviabiliza as obras necessárias para o FRQKHFLPHQWR H GHIHQGHU DV ÀRUHVWDV H DQLPDLV
crescimento do País. Entretanto, ambientalistas da extinção, entre tantas outras causas abraçadas
e representantes de ONGs e da sociedade civil pelo Terceiro Setor, é um trabalho que envolve
lhe enviaram documento expressando repúdio ao muita força de vontade, determinação e amor ao
comentário, por entenderem que o entrave não se próximo.
deva à causa ambientalista.
A dicotomia que envolve o desenvolvimento
e o meio ambiente está longe de ser resolvida.
Entretanto, segundo o Biólogo e Doutor em
Comportamento Animal pela Universidade de
6DLQW $QGUHZV 5RJpULR *UDVVHWWR 7HL[HLUD
da Cunha, a implantação de alguns modelos
de desenvolvimento poderia contribuir para o
FUHVFLPHQWRUHJLRQDOSUHVHUYDQGRDIDXQDHÀRUD
“Há diversos mecanismos de desenvolvimento que
poderiam ser tentados, que geram uma quantidade
muito menor de impactos e que necessitam de
menos investimento em infra-estrutura.
Três exemplos são: o turismo responsável; o
desenvolvimento da micro e pequena indústria
(preferencialmente de base comunitária ou
cooperativa) voltada à exploração e processamento
de produtos locais e o cultivo de plantas que
SRVVD VHU IHLWR FRP D ÀRUHVWD HP Sp HP VHX
interior (como produtos oriundos de palmeiras, por
exemplo). Com o mercado de carbono tendendo
a crescer cada vez mais, serão abertas muitas
oportunidades lucrativas no futuro, mantendo a
ÀRUHVWD HP Sp RX SURPRYHQGR D UHJHQHUDomR GH

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