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Ter mais e ter menos - 28/05/2015 - Contardo Calligaris - Colunistas - Folha de S.

Paulo 10/06/2015

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QUARTA-FEIRA, 10 DE JUNHO DE 2015 08:34

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Italiano, é psicanalista,

contardo calligaris doutor em psicologia clínica


e escritor. Reflete sobre
cultura, modernidade e as
aventuras do espírito
contemporâneo
(patológicas e ordinárias).
Escreve às quintas.
Pare de

Ter mais e ter menos ccalligari@uol.com.br


@ccalligaris
Acreditar no
Governo
Para entender por
28/05/2015 02h00 leia também que os brasileiros
odeiamos políticos,
Compartilhar 335 Tweetar 22 4 Mais opções Desejo e necessidade mas amamo Estado
Envelhecer em tempos de PEC De R$ 38,00
Vários leitores me escreveram para acusar os "tempos modernos", em que A crise de meia-idade Por R$ 31,90
"ter" é mais importante do que "ser". Sozinhos ou solitários? Comprar
Hoje, o que temos nos define, à condição, claro, de ostentá-lo o suficiente
para que os outros saibam: constatando nossos "bens", eles reconheceriam EM COLUNISTAS
nosso valor social. + LIDAS + COMENTADAS + ENVIADAS

ÚLTIMAS
Essa seria a razão da cobiça de todos e, em última instância, da facilidade com
a qual todos nos tornamos criminosos. Claudia: O silêncio sobre o estupro
1 coletivo de quatro meninas
A partir dessa constatação, alguns de meus correspondentes tentam explicar
uma diferença entre ricos e pobres em matéria de crime. Rosely Sayão: Acolher a adolescência
2
O argumento básico funciona mais ou menos assim: 1) para ser alguém, na
nossa sociedade, é preciso ter e ostentar bens, 2) quem vale menos na Bernardo Mello Franco: O vice na
consideração social (o desfavorecido, o excluído, o miserável) teria um anseio 3 frigideira
maior de conquistar aqueles bens que aumentariam seu valor aos olhos dos
outros. Elio Gaspari: A exaustão do PT
4
Em suma, precisamos ter para ser –e, se formos pouco relevantes ou
invisíveis socialmente, só poderemos querer ter mais e com mais urgência.
Bernardo Mello Franco: A mensagem
À primeira vista, faz sentido. Mas, antes de desenvolver o raciocínio, uma 5 de Tarso
Nova Chevrolet Vigorito
palavra em defesa da modernidade.
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Tudo bem, uma sociedade em que as diferenças são decididas pelo "ter" (vale
mais quem tem mais) pode parecer um pouco sórdida. Acharíamos mais digna Veja nossas Ofertas: Onix,
Prisma e Montana 0Km!
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uma sociedade na qual valeria mais quem "é" melhor, não quem acumulou
mais riquezas. CMA Series 4 Euro Sofás

O problema é que, em nosso passado recente, as sociedades organizadas pelo


"ser" já existiram, e não foram exatamente sociedades para onde a gente Os Dez Mandamentos
voltaria alegremente –eu, ao menos, não gostaria de voltar para lá. (+Um) O melhor sistema para Sofá Chesterfield Couro
investir na bolsa! Legitimo em 10 x R$ 399
Luiz Felipe Pondé
Geralmente, uma sociedade organizada pelo "ser" é uma sociedade imóvel.
Por exemplo, no antigo regime, você podia nascer nobre, perder todos os bens De: R$ 29,90
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de sua família, inclusive a honra, e continuaria nobre, porque você já era
nobre. Comprar

Inversamente, você podia nascer numa sarjeta urbana e enriquecer pelo seu O Retrato
trabalho ou pela sua sabedoria, e nem por isso você se tornaria nobre, porque Osvaldo Peralva
você não o era. De: R$ 69,90
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Ou seja, em matéria de mobilidade social, as sociedades nas quais o que
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importa é o "ser" são sociedades lentas, se não paradas, e as sociedades nas
quais o que importa é o "ter" são sociedades nas quais a mudança é possível,
se não encorajada.
Sartre no Cinema
(DVD)
É bom lembrar disso quando criticamos nossa "idolatria" consumista ou nossa
Jean-Paul Sartre, Anne
vaidade. Podemos sonhar com uma sociedade organizada pelas qualidades Alvaro e Denis Podalydès
supostamente intrínsecas a cada um (haveria os sábios, os generosos, os
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fortes etc.), mas a alternativa real a uma sociedade do "ter" são sociedades em
Comprar
que castas e dinastias exercem uma autoridade contra a qual o indivíduo não
pode quase nada.

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/contardocalligaris/2015/05/1634384-ter-mais-e-ter-menos.shtml 1/3
Ter mais e ter menos - 28/05/2015 - Contardo Calligaris - Colunistas - Folha de S.Paulo 10/06/2015

Mal-Entendido em
Voltemos agora à observação de que, numa sociedade do "ter" como a nossa, Moscou
os que tem menos seriam, por assim dizer, famintos –e, portanto, propensos a Simone de Beauvoir
querer a qualquer custo. Eles recorreriam ao crime porque sua dignidade De: R$ 25,00
social depende desse "ter" –para eles, ter (como navegar) é preciso. Por: R$ 21,25
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Agora, o combustível de uma sociedade do "ter" é uma mistura de cobiça com
vaidade. Por cobiça, preferimos os bens materiais a nossas eventuais virtudes,
Pare de Acreditar no
mas essa cobiça está a serviço da vaidade. Governo
Bruno Garschagen
A riqueza que acumulamos não vale "em si", ela vale para ser vista e
reconhecida pelos outros: é a inveja deles que afirma nossa desejada De: R$ 38,00
"superioridade". Por: R$ 31,90
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Em outras palavras, os bens que desejamos são indiferentes; o que importa é
o reconhecimento que esperamos receber graças a eles. Por consequência,
nenhum bem pode nos satisfazer, e a insatisfação é parte integrante de nosso
modelo cultural.
Não é que estejamos insatisfeitos porque nos falta alguma coisa (aí seria fácil,
bastaria encontrá-la). Somos (e não estamos) insatisfeitos porque o
reconhecimento dos outros é imaterial, difícil de ser medido e nunca
suficiente.
A procura por bens é infinita ou, no mínimo, indefinida, como é indefinida a
procura pelo reconhecimento dos outros.
Os bens que conquistamos (roubando ou não, tanto faz) não estabelecem
nenhum "ser", apenas alimentam, por um instante, um olhar que gratificaria
nossa vaidade.
Não existe uma acumulação a partir da qual nós nos sentiríamos ao menos
parcialmente acalmados em nossa busca por esse reconhecimento.
Ao contrário, é provável que a cobiça e a vaidade cresçam com o "ter". Ou seja,
é bem possível que a tentação do crime seja maior para quem tem mais do que
para quem tem menos.

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Criminologista resgata teoria de Lombroso
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comentários Ver todos os comentários (10)

Comentar esta reportagem

gilbertoscsouza (5) (28/05/2015 18h20) há 12 dias 1 0 Denunciar COMPARTILHAR

Segundo o estudo lá de 2010 realizado nos EUA por dois psicólogos da Universidade de
Princeton - sendo um deles, Daniel Kahnemann, que tem o livro (best-seller) Rápido e Devagar
lançado no Brasil, US$ 75.000,00 anuais é quanto o norte-americano precisa para "ficar de boa",
mais que isso já não faz tanta diferença (o dinheiro). Por volta de R$ 225.000,00 por ano, pelo
câmbio a R$ 3, sem atualização monetária. R$ 17.000,00 por mês (dividi por 13) para cada
pessoa...
O comentário não representa a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem

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AA (3364) (28/05/2015 20h01) há 12 dias 0 0 Denunciar COMPARTILHAR

Este artigo tem forte conotação ideológico, e por si só distorce a realidade para atingir o
"capitalismo", a eterna fonte do ódio dessa gente. Em milênios de civilização humana jamais
existiu uma sociedade tão boa como a atual em termos culturais, sociais e de qualidade de vida.
Me parece algo imbecil achar q só hj em dia os humanos querem "ter", desde sempre foi assim.
Mas, só no Brasil existem 350 mil ONGs, gente abnegada, sem fins lucrativos. Bill Gates doa
bilhões para pesquisas de AIDs, etc
O comentário não representa a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem

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Fora PT !! (646) (28/05/2015 18h14) há 12 dias 0 0 Denunciar COMPARTILHAR

​A riqueza que acumulamos não vale em si, ela vale para ser vista e reconhecida pelos outros: é
a inveja deles que afirma nossa desejada superioridade. ...os bens que desejamos são
indiferentes.​ Discordo. A riqueza vale em si à medida que traz conforto, mais liberdade e

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/contardocalligaris/2015/05/1634384-ter-mais-e-ter-menos.shtml 2/3
Ter mais e ter menos - 28/05/2015 - Contardo Calligaris - Colunistas - Folha de S.Paulo 10/06/2015

privacidade, o que é o oposto de dizer que desejamos a inveja alheia, pq conforto e privacidade é
algo que os outros só atrapalham. Essa preocupação com a opinião alheia soa muito estranho,
"je m​en fous" para a opinião alheia.
O comentário não representa a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem

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