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Entrevista: Roger Scruton - Baderneiros e mimados - Edição 2235 - Revista VEJA

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Edição 2235 - 21 de setembro de 2011 Índice
  3 de Junho de 2013

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na Europa Central
Entrevista - Roger Scruton
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Baderneiros e mimados 14:03 SEP já prevê licitação de 161 áreas
portuárias
O filósofo inglês diz que os quebra-quebras em Londres são obra
de uma juventude dependente e ressentida, criada pelo excesso VEJA - Futebol
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de políticas estatais assistencialistas Camp Nou

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13:56 Os quatro hábitos saudáveis que podem
salvar uma vida

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"O sujeito que recebe mesada do governo depreda uma cidade porque seu apartamento, pelo qual não paga aluguel,
é pequeno. Isso só é exclusão social na cabeça de um sociólogo" (Maattje Geels/Hoolandse Hoogte)

O filósofo inglês Roger Scruton, de 67 anos, é presença constante nos debates realizados em seu
país quando é preciso ter na mesa um pensador independente e corajoso. Autor de 42 livros de
ensaios, Scruton é uma pedra no sapato da ideologia politicamente correta que predomina
 
bovinamente na Europa. Multiculturalismo? Um desastre. A arte moderna? Detestável, e por aí
vai o filósofo, que lecionou nas universidades de Oxford, na Inglaterra, e Boston, nos Estados Facebook em Veja.com
Unidos, e atraiu para si o cognome de “defensor do indefensável”. Um dos fundadores do Reportagens, videos e outros conteudos do site indicados
Conservative Action Group, que ajudou a eleger a primeira-ministra Margaret Thatcher, Scruton por seus amigos na rede social.
publicou recentemente um novo livro, As Vantagens do Pessimismo, ainda sem previsão de Como funciona Torne-se um fã
lançamento no Brasil.
Atividade recente
Um bom número de intelectuais ingleses interpretou a onda de vandalismo em
Londres e arredores como atos de jovens niilistas sem maiores repercussões. Cadastre-se
Criar uma conta ou entre para ver
O senhor concorda? o que seus amigos estão fazendo.
Acho essa explicação muito simplista. Muitos desses desordeiros são realmente niilistas, que não

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Entrevista: Roger Scruton - Baderneiros e mimados - Edição 2235 - Revista VEJA

acreditam em nada e não se identificam com nenhuma instituição, crença ou tradição capaz de A parada do arco-íris vira chapa-branca e
atrai ainda menos público. Faz sentido?
fazer florescer em cada um deles o senso de responsabilidade e o respeito pelo próximo. Alguns
Faz! Passeata...
não têm emprego. Mas, na maior parte dos casos, eles agiram por uma escolha deliberada. 2.713 pessoas recommended isto.
Desemprego e niilismo sempre existiram. Ninguém mencionou como uma das causas da baderna
a deformação causada nesses jovens pelas políticas do estado do bem-estar social. Diversos MEC autoriza fechamento de creches nas
férias
estudos mostram com clareza a vinculação desses programas assistencialistas com a proliferação
13.384 pessoas recommended isto.
de uma classe baixa ressentida, raivosa e dependente. Não quero ser leviano e culpar apenas as
políticas socialistas pelos tumultos. As pessoas promovem arruaças por inúmeras razões. Entre
os jovens, a revolta é uma condição inerente, um padrão de comportamento. Mas é preciso um
pouco mais de honestidade intelectual para buscar uma resposta mais concreta sobre o que Plug -in social do Facebook

ocorreu em Londres. Por debaixo do verniz civilizatório, todo homem tem dentro de si um animal
à espreita. Infelizmente, se esse verniz for arrancado, o animal vai mostrar a sua cara. A
promessa de concessão de direitos sem a obrigatoriedade de deveres e de recompensas sem
méritos foi o que arrancou o verniz nessa recente eclosão de episódios de vandalismo na
Inglaterra.

Os distúrbios em Londres e os protestos no Cairo, em Atenas, em Madri e em


Tel-Aviv são um mesmo “grito dos excluídos”?
Sou cético em relação à ideia de que os protestos que eclodiram em diversos pontos do mundo
têm a ver com exclusão, com o suposto aumento no número de pobres ou com concentração de
renda. Os baderneiros de Londres são, pelos padrões do século XVIII, ricos. Desculpe-me, mas é
resultado de exclusão depredar uma cidade porque você tem só um carro, um apartamento
pequeno pelo qual não paga aluguel, recebe mesada do governo sem ter de fazer nada para
embolsá-la, compra três cervejas, mas gostaria de beber quatro, e acha que ter apenas um
televisor em casa é pouco? Não. Ver exclusão nesses episódios só faz sentido na cabeça de um
professor de sociologia. É um absurdo também comparar os tumultos de Londres com os eventos
no Oriente Médio. Os jovens do Egito exigiam algo do governo. Os jovens ingleses não dão a
mínima para o governo ou para as instituições.

No seu último livro, o senhor afirma que o otimismo é mais nocivo para os
indivíduos e para as nações do que o pessimismo. Como o otimismo pode ser
tão prejudicial? 
Não falo do otimismo como virtude, nem da esperança ou da fé, que servem para a elevação
espiritual do indivíduo e fomentam inovações e avanços. O otimismo prejudicial é o desmedido
ou, como disse o filósofo Arthur Schopenhauer, o otimismo mal-intencionado, inescrupuloso. É o
tipo de pensamento que está por trás de todas as tentativas radicais de transformar o mundo, de
superar as dificuldades e perturbações típicas da humanidade por meio de um ajuste em larga
escala, de uma solução ingênua e utópica, como o comunismo, o fascismo e o nazismo.
Otimismo e utopia em excesso geralmente acabam em nada, ou, pior, dão em totalitarismo.
Lenin, Hitler e Mao pertencem a essa categoria de otimistas inescrupulosos. A crise financeira e
institucional da Europa é a mais recente consequência do pensamento utópico e do otimismo
exagerado que são a base, o fundamento e a força propulsora da União Europeia.

Pode-se reduzir a União Europeia apenas a uma manifestação de otimismo


utópico e insensato?
É uma ilusão, se não uma loucura, acreditar que os alemães e os gregos podem pertencer à
mesma organização e se adequar às mesmas normas financeiras. Como impor a mesma moeda,
o mesmo sistema e o mesmo modo de vida ao alemão trabalhador, cumpridor das leis,
respeitador da hierarquia, e ao grego fanfarrão e avesso às normas? Arrisco-me a dizer que a
União Europeia é um fracasso porque contém as insanidades institucionais do velho experimento
comunista. Assim como o comunismo soviético, a União Europeia é um objetivo inalcançável, pois
foi escolhido pela sua pureza, que exige que todas as diferenças sejam atenuadas, os conflitos
superados, e no qual a humanidade deve se encontrar como que sob uma unidade metafísica
que jamais pode ser questionada ou posta à prova.

Apesar do colapso do comunismo e de outras tragédias semelhantes, as


pessoas continuam caindo por causas utópicas. Por quê?
O pensamento utópico sobrevive porque não se trata de uma ideia de fato, mas de um substituto
de uma ideia, algo que serve de alívio para a difícil — e geralmente depressiva — tarefa de ver as
coisas como elas são realmente. É uma forma de vício, um curto-circuito que afasta os indivíduos
da razão e do questionamento racional e efetivo. O pensamento utópico nos remete diretamente
para um objetivo, passando por cima da viabilidade do projeto. É fácil digeri-lo e se embeber do
seu otimismo mal-intencionado e sem fundamento. O problema vem depois, quando a utopia
termina em fiasco.

O ambientalismo é a grande utopia moderna?


Há dois tipos de ambientalista. O primeiro sonha com soluções amplas, inalcançáveis, cujo
objetivo real não é promover o bem de ninguém nem do planeta, mas sim inflar o ego de seus
criadores. O segundo é realista, segue o caminho conservador e reconhece que o que deve ser

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Entrevista: Roger Scruton - Baderneiros e mimados - Edição 2235 - Revista VEJA

feito em prol do ambiente é difícil, atinge um número limitado de pessoas ou de lugares e exige
sacrifícios reais. O problema é que a questão ambiental foi parar nas mãos erradas. A esquerda
transformou a proteção do meio ambiente em uma causa, em um movimento que necessita de
intervenções estatais, em um assunto no qual há culpados e vítimas. No caso, os culpados são
os capitalistas e a vítima é o planeta. A esquerda adora o culto à vítima.

Que tradição é essa?


É uma tradição esquerdista, que vem desde o século XIX e de Karl Marx, em particular. Consiste
em julgar toda forma de sucesso humano a partir do fracasso dos outros. Com base nisso,
engendrar um plano de salvação para os mais fracos. Esse é um dos motivos pelos quais os
movimentos de esquerda continuam a fazer sucesso. Eles sempre oferecem uma causa
justificável e uma vítima a ser resgatada. No século XIX, a esquerda pretendia salvar os
proletários. Nos anos 60, a juventude. Depois, vieram as mulheres e, por último, os animais.
Agora, eles pretendem resgatar o planeta, a maior de todas as vítimas que encontraram para
justificar seus atos. Ora, as questões ambientais são reais e não podem ser enclausuradas na
ideologia de esquerda. Temos o dever de cuidar do ambiente e sacrificar os nossos desejos para
garantir um lar, um futuro para as próximas gerações. O problema é radicalizar a questão no bojo
de um movimento com conotações até religiosas. Preservar o ambiente virou uma questão de fé.
Está na hora de acabar com o pensamento de que a sociedade é um jogo de soma zero,
segundo o qual se um ganhar o outro tem de perder. Com práticas ambientais sustentáveis, todos
ganham.

Onde mais se revela essa ideia da “soma zero” das relações humanas?
Ela é o refrão central dos socialistas, é o principal inimigo da caridade, da gentileza e da justiça.
Na política internacional, essa forma de pensar se expressa com toda a clareza no
antiamericanismo. Os Estados Unidos, a maior economia do mundo, o maior poderio militar, se
tornaram o alvo principal dos ressentidos, dos que se consideram fracassados por causa do
sucesso alheio. O ataque às Torres Gêmeas, há dez anos, é uma mostra do que o ressentimento
coletivo estimulado pela falácia da soma zero é capaz de causar.

Por que o senhor critica tanto a política de imigração dos países europeus?
A imigração em massa não é um assunto fácil. Basta escrevermos a palavra imigração para
sermos mal interpretados. Não sou contra a imigração. Minha opinião é que os imigrantes só se
adaptarão a um país se forem incorporados legal e culturalmente à nação que os recebe. Para
que isso dê certo, os forasteiros precisam superar o sentimento de distância que eles possuem
em relação ao novo país. Foi o que aconteceu nos Estados Unidos, no passado. Os países
europeus fazem justamente o oposto ao incentivar o multiculturalismo: encorajam as comunidades
de estrangeiros a manter sua cultura e identidade, a não se misturar. Dessa forma, os imigrantes
passam a se definir como diferentes, afastados, excluídos da comunidade, o que só faz crescer
as tensões entre os grupos étnicos. Os recentes tumultos em Londres devem-se, em parte, ao
multiculturalismo.

Análises como essa sua visão têm sido atacadas por, potencialmente,
fomentar atentados como o que traumatizou a Noruega, em julho.
Isso é justo? Alguém culpa Jean-Paul Sartre pelo genocida cambojano Pol Pot? Karl Marx deve
ser culpado pelos assassinatos de Stalin? Os socialistas alemães são responsáveis pelos atos da
organização terrorista Facção do Exército Vermelho? Extremistas como o norueguês Anders
Breivik podem agir em parte motivados por ideias, sim, da mesma forma que eu ou qualquer outra
pessoa. Sempre que um lunático de extrema direita pratica um crime terrível, os intelectuais de
esquerda se unem para, em coro, dizer: é culpa do pensamento conservador. Eles se esquecem
dos crimes muito mais graves que foram cometidos em nome dos ideais de esquerda. Indivíduos
como Breivik cometem crimes não por causa das ideias que eles comungam com outras pessoas,
mas por causa de algo que os afasta, isola e diferencia de outras pessoas. Eles matam por total e
absoluto desprezo por vidas inocentes.

O que é fazer parte de uma minoria no mundo acadêmico? 


Eu acordei do meu delírio socialista durante os tumultos de maio de 1968, em Paris. No meio da
destruição, das barricadas e das janelas quebradas, percebi que aqueles estudantes estavam
intoxicados pelo simples desejo de destruir coisas e ideias, sem a mínima preocupação em
colocar algo relevante no lugar. Foi difícil aceitar que meu futuro era me tornar um pária
intelectual em meio à maioria esmagadora de esquerdistas. Em todo o mundo, as universidades
têm uma declarada inclinação pela esquerda. É difícil explicar o motivo dessa propensão
esquerdista, algo que persiste desde o Iluminismo. Na minha tentativa de desvendar esse
mistério, cheguei à seguinte conclusão: quando uma pessoa começa a pensar sobre as grandes
questões que afligem o homem e a sociedade, tende a aceitar as posições da esquerda, pois elas
parecem oferecer soluções. Ao pensar além, ao se aprofundar, a pessoa aprende a duvidar e
rejeita o argumento esquerdista. Nas universidades muita gente pensa, mas poucas refletem
profundamente.

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Entrevista: Roger Scruton - Baderneiros e mimados - Edição 2235 - Revista VEJA

O que é um conservador?
É alguém que considera a liberdade um valor, um objetivo, mas não chama isso de um ideal. O
conservador reflete sobre coisas reais e sabe que a liberdade verdadeira é obtida sob leis e
regras, pois sem instituições não há liberdade, mas selvageria.

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