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VIDA

A carta em que Mário de


Andrade fala de sua
homossexualidade
"Sou incapaz de convidar um companheiro
daqui a sair sozinho comigo na rua. Se saio
com alguém é porque me convida", ele
escreveu a Manuel Bandeira
MARCELO BORTOLOTI
18/06/2015 - 12h45 - Atualizado 18/06/2015 14h44

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A Fundação Casa de Rui Barbosa abriu nesta quinta-feira (18) à
consulta a carta escrita por Mário de Andrade em 7 de abril de 1928
ao amigo Manuel Bandeira, em que faz referências diretas à sua
homossexualidade. O documento estava lacrado havia 35 anos nos
arquivos da Fundação, e foi aberto depois de um pedido de ÉPOCA por
meio da Lei de Acesso à Informação.

Na carta, Mário de Andrade fala sobre as pressões que sofria por


causa de sua fama de homossexual, e não desmente os boatos a esse
respeito. Em um dos trechos, afirma: “si agora toca nesse assunto
em que me porto com absoluta e elegante discrição social, tão
absoluta que sou incapaz de convidar um companheiro daqui a sair
sozinho comigo na rua (veja como eu tenho a minha vida mais
regulada que máquina de pressão) e si saio com alguém é porque
esse alguém me convida, si toco no assunto é porque se poderia tirar
dele um argumento pra explicar minhas amizades platônicas, só
minhas.”

Até hoje, esta carta  é a confissão mais clara sobre a


homossexualidade do autor paulista, feita de próprio punho. Embora
o assunto já fosse de conhecimento público, a pressão da família em
negar o fato, e a postura da Casa de Rui Barbosa em relutar a abrir
esta carta, produziram grande alarde em torno do documento.

A decisão da Controladoria Geral da União em determinar que a


carta fosse aberta à consulta vai permitir um debate mais amplo
sobre o alcance da Lei de Acesso à Informação. Para os pesquisadores
de Mário de Andrade, esta vitória significa um passo adiante no
estudo da vida e da obra do escritor, cuja morte completa agora 70
anos.

Leia abaixo o trecho da carta de abril de 1928:

(...) Está claro que eu nunca falei a você sobre o que se fala de mim e
não desminto.  Mas em que podia ajuntar em grandeza ou milhoria
pra nós ambos, pra você, ou pra mim, comentarmos e elucidar você
sobre a minha tão falada (pelos outros) homossexualidade? Em
nada. Valia de alguma coisa eu mostrar o muito de exagero nessas
contínuas conversas sociais? Não adiantava nada pra você que não é
indivíduo de intrigas sociais. Pra você me defender dos outros? Não
adiantava nada pra mim porque em toda vida tem duas vidas, a
social e a particular, na particular isso só interessa a mim e na social
você não conseguia evitar a socialisão absolutamente desprezível
duma verdade inicial. Quanto a mim pessoalmente, num caso tão
decisivo pra minha vida particular como isso é, creio que você está
seguro que um indivíduo estudioso e observador como eu há de tê-lo
bem catalogado e especificado, há de ter tudo normalizado em si, si é
que posso me servir de “normalizar” neste caso. Tanto mais, Manu,
que o ridículo dos socializadores da minha vida particular é enorme.
Note as incongruências e contradições em que caem. O caso de Maria
não é típico? Me dão todos os vícios que por ignorância ou por
interesse de intriga, são por eles considerados ridículos e no entanto
assim que fiz duma realidade penosa a “Maria”, não teve nenhum
que caçoasse falando que aquilo era idealização para desencaminhar
os que me acreditavam nem sei o que, mas todos falaram que era
fulana de tal.

Mas si agora toco nesse assunto em que me porto com absoluta e


elegante discrição social, tão absoluta que sou incapaz de convidar
um companheiro daqui a sair sozinho comigo na rua (veja como eu
tenho a minha vida mais regulada que máquina de pressão) e si saio
com alguém é porque esse alguém me convida, si toco no assunto é
porque se poderia tirar dele um argumento pra explicar minhas
amizades platônicas, só minhas. Ah, Manu, disso só eu mesmo posso
falar, e me deixe ao menos pra você, com quem, apesar das
delicadezas da nossa amizade, sou duma sinceridade absoluta, me
deixe afirmar que não tenho nenhum sequestro não. Os sequestros
num casos como este onde o físico que é burro e nunca se esconde
entra em linha de conta como argumento decisivo, os sequestros são
impossíveis.

Eis aí uns pensamentos jogados no papel sem conclusão nem


sequencia, faça deles o que quiser.”

saiba mais
Pressionada por ministro, Casa de Rui Barbosa vai liberar carta de Mário de
Andrade
Ministério da Cultura nega pressão para liberação de carta de Mário de Andrade

TAGS

MÁRIO DE ANDRADE HOMOSSEXUALIDADE MANUEL BANDEIRA CARTA

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Paulo Velho
HÁ 6 ANOS

ei isto com o grande escritor. E agora... O que dirão certos


admiradores homofóbicos?!?

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Nelson Paim
HÁ 6 ANOS

Até em suas cartas pessoais e privadas e em assunto tão


delicado ele consegue ser absolutamente genial.

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Norberto Santos
HÁ 6 ANOS

A História antiga, fala de vários tipos de perversão, e


festas sta

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Mário Avelino
HÁ 6 ANOS

Ok, o cara era gay. E daí? Isso o torna menos brilhante?


Não, apenas serve para entender e contextualizar melhor
os seus textos. O que de fato interessa aqui é a discussão
sobre o alcance da lei de acesso a informação... Quero ver
onde isso vai dar!

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Capitu Nascimento
HÁ 6 ANOS

Adorei ler isso.O que vem de Mário de Andrade é sempre


instigante.Ele tinha uma amorosidade com a vida que
tudo a partir dele acabava tomando mais cor...

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Capitu Nascimento
HÁ 6 ANOS

Adorei ler isso.O que vem de Mario é sempre


estimulante.Ele tinha uma amorosidade com a vida que
tudo a partir dele acabava tomando mais cor.

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