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BRASIL

Entenda o que é a PEC da Transição


Henrique Canary, de São Paulo, SP
Publicado em: 04/11/2022 12h05

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Pedro França/Agência Senado

À medida que os golpistas vão liberando cada vez mais estradas pelo país, as
atenções se voltam para a transição de governo, um processo também muito
complicado e cheio de armadilhas, e que merece toda a atenção da esquerda. O
assunto do dia ontem foi a apresentação, por parte da equipe de transição do
governo eleito, da chamada “PEC da Transição”. O que é isso?

A PEC da Transição é uma Proposta de Emenda à Constituição que visa flexibilizar o


teto de gastos em 2023 para garantir o financiamento de propostas consideradas
essenciais para o novo governo, sobretudo da área social. Ela é também chamada de
“waiver” ou licença. A ideia geral da PEC da Transição foi apresentada ontem (dia 03
de novembro) pelo vice-presidente eleito Geraldo Alckmin em reunião com o relator
do orçamento, senador Marcelo Castro (MDB-PI). Segundo comunicado conjunto
feito por Alckmin e Castro logo após a reunião, o objetivo é abrir um espaço
orçamentário para o pagamento do Bolsa Família (sic) no valor de R$ 600 ao longo
de 2023, junto com o acréscimo de R$ 150 por criança de até 6 anos na escola, bem
como outros gastos sociais considerados decisivos, como o Farmácia Popular, DNIT,
merenda escolar, saúde e outros. Castro, que tem um papel chave em todo o
processo, se mostrou simpático à proposta, observando que o atual orçamento é
“seguramente o mais restritivo e o que traz mais ‘furos’ da nossa história” (Fonte:
Agência Senado). O senador eleito Wellington Dias (PT-PI) agregou que a PEC visaria
também garantir um aumento real (acima da inflação) de 1,3% ou 1,4% para o salário
mínimo em 2023.

Na entrevista coletiva que deram, nem Alckmin nem Castro falaram de valores totais.
No entanto, o deputado federal Ênio Verri (PT-PR) apresentou algumas hipóteses de
números. Segundo ele, o valor total da PEC ficaria entre 85 e 100 bilhões de reais,
sendo a maioria para o Auxílio Brasil. Isso mais do que dobraria os recursos
destinados por Bolsonaro ao auxílio no atual orçamento (R$ 70 bilhões). Como foi
denunciado muitas vezes por Lula durante a campanha, o Auxílio Brasil efetivamente
garantido pelo orçamento de Bolsonaro não passa dos R$ 405 na média. Sem PEC,
portanto, a proposta de R$ 600 + R$ 150 por filho ficaria inviabilizada.

A forma PEC é necessária porque o teto de gastos do governo é fixado pela


Constituição. Como alguns talvez lembrem, a famigerada PEC 95 foi uma das
primeiras medidas do governo golpista de Michel Temer e estabeleceu que, durante
20 anos, o governo não poderia aumentar os gastos acima da inflação. A PEC do
Teto de Gastos é até hoje comemorada pelo mercado como um sinal de “maturidade
fiscal” do país, embora nenhum país sério tenha tal mecanismo inscrito na
Constituição. A verdade é que ela é em grande parte responsável pela queda brutal
dos investimentos sociais nos últimos 5 anos.

A dificuldade em se apresentar uma PEC é que ela exige duas votações na Câmara
de Deputados e duas no Senado e o apoio de pelo menos 3/5 dos parlamentares.
Alckmin salientou que a PEC da Transição precisa ser aprovada até dia 15 de
dezembro, o que também dificulta o processo. Ministros do TCU (Tribunal de Contas
da União) já declararam que não colocarão qualquer empecilho à aprovação do novo
mecanismo.

Segundo Alckmin e Castro, a proposta deverá ser amadurecida em uma reunião com
Lula na segunda-feira (07 de novembro) em São Paulo. Nessa reunião deve ser
batido o martelo quanto ao valor total da PEC e as áreas a serem atendidas. No dia
seguinte, 08 de novembro, haverá nova reunião com entre Alckmin e Castro para
fechar a proposta. Desde já seguem negociações com os presidentes da Câmara
Arthur Lira (Progressistas-AL) e do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG), já que a PEC
precisa ser aprovada ainda nesta legislatura. Outra figura chave que deve ser
procurada nos próximos dias é o deputado federal Celso Sabino (União Brasil-PA),
presidente da Comissão Mista de Orçamento.

Reações

Mal a proposta de PEC da Transição foi verbalizada, já começaram as reações do


bolsonarismo e de outros agentes políticos e econômicos. O atual vice-presidente
Hamilton Mourão utilizou o twitter para chamar a PEC da Transição de “rombo” e
acusar o governo eleito de “irresponsabilidade fiscal”. Já em entrevista à Rádio
Gaúcha o agora senador eleito pelo Rio Grande do Sul classificou a PEC como
“estupro no orçamento”. Por sua vez, figuras ligadas ao mercado estão preocupados
com a possibilidade de uma “PEC sem limites”, coisa que ninguém nunca falou.

A deputada federal e presidente do PT Gleisi Hoffmann respondeu à altura, também


utilizando o twitter: “Declaração de Mourão é no mínimo desonesta. Nem bem
acabamos de iniciar a transição e estamos negociando a pauta que interessa ao
povo trabalhador. Onde ele estava durante a farra do orçamento secreto e uso
perdulário e ilegal da máquina pública nas eleições”, questionou a petista.
A resposta de Hoffmann é precisa e vai direto ao ponto. A elite brasileira só fala em
responsabilidade fiscal para evitar investimentos sociais. Trata-se da mais absoluta
hipocrisia. No entanto, mais do que uma mera discussão com Mourão, todo o
episódio nos alerta para as dificuldades que enfrentará o governo Lula e o modo de
superá-las. A PEC da Transição é evidentemente progressiva frente ao cenário
desolador em que se encontra o país. Mas negociações de gabinete não bastam
para aprová-la. É preciso povo na rua. Ao mesmo tempo, devemos ter presente que
as operações golpistas do bolsonarismo continuarão agora e durante todo o
mandato. O novo governo Lula precisa ganhar o apoio da maioria inquestionável da
nação. É por aí que passa a real governabilidade. Para isso, precisa tomar medidas
sociais de impacto profundo, relativas a salário, saúde, educação, moradia, meio
ambiente, inflação e emprego. Assim, diante de qualquer questionamento mais sério
da burguesia ao seu governo, haverá quem o defenda nas ruas. Toda a experiência
histórica da América Latina e do próprio Brasil o comprovam: este é o melhor – na
verdade o único – antídoto contra golpes.

Marcado como:
GOVERNO LULA / PEC TRANSIÇÃO
Publicado em: 04/11/2022 12h05 Modificado em: 04/11/2022 12h05

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