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ISBN 978-85-53131-30-3

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇAO NA PUBLICAÇÃO


ALINE GRAZIELE BENITEZ
CRB-1/3129
(CIP

B648p
Bock, Ana Mercés Bahia
saraiva saraiva Psicologias: uma introdução a0 estudo de psicologia / Ana
EDUCAÇÅO
Merces Bahia Bock, Maria de Lourdes Trassi
Teixeira,
Furtado. 15.ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018 Odai
-

Avenida Paulista, n. 901, Edificio CYK, 30- andar


Bela Vista- SP- CEP 01310-100 Inclui bibliografia.
ISBN: 978-85-53131-30-3

Dúvidas referente a conteúdo editorial,


1. Psicologia. I. Teixeira, Maria de Lourdes Trassi IL Furtado
Odair. Il.Ttulo.
SAC material de apoio e reclamações:
| sac.sets@somoseducacao.com.br
CDD 150
CDU 150.1

Indices para catálogo sistemático


Direção executiva lávia Alves Bravin 1.Psicologia
Direção editorial Renata Pascual Müller Copyright Ana Mercés Bahia Bock, Odair Furtado e Mania de
Gerência editorial Rita de Cássia S. Puoço Lourdes Trassi Teixeira
2018 Editora Saraiva
Aquisições Rosana Aparecida Alves dos Santos Todos os direitos reservados.
Edição Neto Bach

Produção editorial Daniela Nogueira Secondo 15 edição


1a tiragem: 2018
28 tiragem: 2019
3a tiragem: 2019
48 tiragem: 2020
5 tiragem: 2020
6 tiragem: 2021
Revisão Beatriz Simões
Diagramaçáo e capa Caio Cardoso Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida
da
Adaptação da 6 tiragem Camilla Felix Cianeli Chaves por qualquer meio ou forma sem a prévia autonizaçãoé cime
Saraiva Educação. A violação dos direitos autorais
Impressão e acabamento Bercrom Gráfica e Editora art 184 00
estabelecido na Lei n. 9.610/98 e punido pelo
Código Penal.

628882
651520 CAE
COD. 0BRA 11060 CL
CAPÍTULO 23

SQude
Aloucura é um fenômeno que acompanha A construção da autonomia politica do individuo,
ao mesm0 tempo que garante um maior conhec
a humanidade há séculos e, por muito
mento de si, produz o seu avesso, que é a profunda
tempo, não foi considerada um problema. cada vez
individualização das pessoas. Vemo-nos
A pessoa portadora de algum tipo de mais
mais como individuos isolados e cada vez
transtorno psíquico era de alguma forma racionais. Capacidades humanas, como a intuiçao,

incluida nas relações cotidianas e, em passaram a ser vistas desconfiança e tradiçðes


com
caindo no
dessas capacidades foram
algumas oportunidades, ganhava um status que dependiam
cada vez mas
esquecimento. Enfrentamos um mundo
privilegiado. Depois do século XVI, da nossa coisas têm um lugar certo,
e
racional, em que todas as
era, a humanidade desenvolveu um modo como tenome
d partir desse momento
loucura, tida a
racional de gerir a vida e isso abriu espaço social.
no da desrazão, perde seu lugar
as cincias
para o domínio e avanço do conhecimento Na passagem do século XIX para o XX,
definição palda
cientifico e tecnológico, como vimos no Juridicas e médicas deram uma nova
e
caráter patológico
fornecendo ao fenómeno
Capítulo 1 deste livro. loucura,

3B2 PaRTE IV I PSICOLOGIA: UWA LEITURA DA REALIDADE


mental
ncapacidade de discernimento, considerando o louco
nimputável. Logo depois da Segunda Guerra Mundial,
0 SOFRIMENTO PSIOUICO
eve inicio um movimento que questionoua internação Em muitos momentos de sua vida, uma pessoa pode
O pessoas viver situações dificeis e de sofrimento to intenso que
portadoras de transtornos psíquicos em ma-
pensa que algo vai "arrebentar" dentro dela, que não
O5, 0 mesmo tempo que experiências de desins vai suportar, que vai perder o controle sobre si mesma...
uaonalização surgiram na França, Inglaterra e depois que vai enlouquecer. Iss0 pode ocorrer quando se perde
,10go influenciando muitos outros palses, como
u casoddo Brasil. Impulsionado pelo movimento da alguém muito próximo e querido, em situaçðes alta
mente estressantes, em que o indivlduo se vê com mui
doma Psiquiátrica, nosso país vem implantando apo tas dúvidas e não percebe a possibilidade de pedir ajuda
Mtica nacional de saúde mental
que prevê fechamento
o
dos e/ou resolver sozinho tal situação. A pessoa, então, bus-
maismanicômios
e a criação de uma rede de atenção
eis eficiente
e humana a esses doentes. Vamos falar
ca a superação desse sofrimento, o
restabelecimento
i
de sua organização pessoal e de seu equilibrio, isto é,
poUcO sobre isso neste capltulo. o retorno às condições anteriores de
rotina de sua vida,
em que não tinha insônia, não
chorava a toda hora, não
Embora o
tinha os medos que agora tem, por exemplo.

CAPÍTULO 23 I 8A0DE MENTAL 383


sofrimento seja intenso, não é possivel falar de doença O individuo consegue lidar com suas aflições intensas
nessas situações. Énecessário ter muito cuidado para encontrando modos de produção que canalizam esse
não tornar patológico o sofrimento. mal-estar de forma produtiva e criativa.
Assim, embora o sofrimento psicológicO possa levar à
desadaplação social, e ela possa determinar uma ordem
mmuitOSmomenlos,ummad distúrbio psiquico, não se pode sempre estabelecer
pessoa pode pensar que vai uma relação de causa e eteito entre ambos. Isso torna
perder o controle sobresi questionável a utilização excluSiva de critérios deade
quação social para a avaliação psicológica do individuo
mesma.. que vai enlouquecer normal ou doente. Abordar a questão da doença
mental, nesse enfoque psicológico, significa considerá-la
Stuações como essas, todos nós podemos viver em produto da interação das condições de vida socal com a
algum momento da vida e, nessas circunstâncias, o trajetória especifica do individuo (sua famlia, os demais
individuo necessita do apoio de seus grupos (a famila,
o trabalho, os
grupos e as experiências significativas) e sua estrutura
amigos), isto é, que esses grupos sejam psiquica. Ascondições externas poluição sonorae
"continentes" de seu sofrimento e de suas dificuldades visual intensas, condições de trabalho estressantes,
e que não o excluam, nãoo
discriminem, tornando trånsito caótico, indices de criminalidade, excesso de
ainda mais dificil o momento que vive. Além do apoio
do grupo, o individuo pode necessitar de uma ajuda
apelo ao consumo, perda de um ente muito querido
etc.devem ser entendidas como determinantes ou de-
psicoterápica, no sentido de suporte e facilitação da
ncadeadoras da doença mental ou, quando positivas,
Compreensão dos conteúdos internos que lhe causam
propiciadoras e promotoras da saúde mental.
o transtorno, o que poderá levá-lo a uma reorgani
zação pessoal quanto a valores, projetos de vida, a
aprender a conviver com perdas, frustrações e a desco-
brir outras fontes de gratificação na sua relação com o
ADIVERSIDADE DE TEORIAS
mundo. Em alguns casos, pode ser aconselhável uma SOBRE ALOUCURA
medicação administrada por médico especialista (o Oindividuo apresenta um sintoma ou vários: ele vê o
psiquiatra) ou por um médico dlinico (o da equipe da diabo; tem um medo intenso de sair de casa ou de ir
Saúde da Família, por exemplo), com acompanhamen- da sala para o banheiro sozinho; não consegue dormir
to e retirada assim que possivel.
ànote; não articula com lógica um raciocinio sobre
Nesse modo de relatar e compreender o sofrimento determinado assunto; tem intermináveis monólogos
psiquico, fica dlaro que o critério de avaliação é o pró6 com figuras ou objetos imaginários, utilizando frases
prio individuo e seu mal-estar psicológico, isto é, ele desconexas; ouve vozes que o aconselham e o apa
em relação a si próprio eà sua estrutura psicológica, voram; fica extremamente eufórico e no momento se
e não o critério de adaptação ou desadaptação social. guinte fica muito deprimido, não levanta da cama, não
Esse individuo que sofre pode estar perfeitamente cuida de sua higiene pessoal e se recusa ao contato
adaptado, continuar respondendo a todas as expecta- Com os outros. Esses sintomas podem ser agrupados
tivas sociais e cumprir todas as suas responsabilidades. de diferentes formas,sendo identificados em quadros
Ao mesmo tempo, pode-se encontrar outro indivlduo clinicos que recebem o nome de neurose, anorexia,
que, mesmo considerado socialmente desadaptado, distúrbio obsessivo compulsivo, psicose, sindromedo
excêntrico, diferente, não vivencia nesse momento de panico, psicastenia etc. Aclassificação desses transtor
Sua vida nenhum sofrimento ou mal-estar relevante. nos variou ao longo da história.

384 PARTE IWI PSICOLOGIA: UMA LEITURA DA REALIDADE


Adoencamentdl e produlo da o louco toma o erro
como
interacao das condiçoes de Vida realidade". Neste tiltimo verdade, a mentira
como
Ser vista
sentido, a loucura passaria a
cOClal coma tiajeto1d como oposição åà
razão, esta entendida como
especiia do instancia de verdade e
moralidade.
com
individuoe sud estrulura psiquica no
Na ldade Médiae
Renascimento, erarn raros os ccasos de
loucos internação de
em
o mesmo
hospitais e, quando isso
ocorria, recebiam
im breve olnar sobre a história tratamento dispensado aos demais
doentes,
Com
sangrias, purgações, ventosas, banhos.
O8 1oucura Nos séculos XVIl e XVIl, os
critérios
o filósofo francés Michel Foucault a loucura ainda não eram médicos para definir
ma valiosa contrbuição para
(1926-1984) deu de louco não
näão dependia de uma
-

a
designação
compreendermos a cons ciência médica
médica. Essa
tituição histórica do conceito de doença mental. Sua designação era atribulda
atribuida à percepção que
insttuiçbes
instituições
pesquisa baseou-se em documentos (discursos) encon como a lgreja, a
justiça ea familia
e a familia tinham
do individuo
os critérios
eeos
trados em arquivos de prisões, hospitais e referiam-se à transgressão
transgressäo da lei ee da
Na periodização histórica que utiliza, o autor
hospicios. moralidade
moralidade.
inicia seu
trabalho pelo Renascimento (século XVI), No final do século XVIl
periodo no (1656), foi criado o Hospitail
qual o louco vivia "solto, errante, expulso das cidades, Geral, em Paris, onde se iniciou
iniciou "a
"a grande internação".A
intemação".A
entregue aos peregrinos e navegantes.0 louco era população internada era heterogénea, embora
pudesse
ser agrupada em
visto como "tendo um saber esotérico sobre os
homens quatro grandes categorias: os devassos
eo mundo, um saber cÓsmico Omens (doentes venéreos), os feiticeiros (profanadores), os
que revela verdades
secretas". Nessa época, a loucura libertinos e os loucos. O Hospital Geral não era uma ins-
significava "ignorância, tituição médica, mas assistencial. Não havia tratamento.
usão, desregramento de conduta, desvio moral, pois
Os loucos não eramvistos como doentes e, por isso,
integravam um conjunto formado por todos os segrega
Ofilósofo francês Michel Foucault (1926-1984) deu valiosa
dos da sociedade. O critério de exclusão baseava-se na
Contribuição para compreendermos a constituiço histórica
do conceito de
doença mental. inadequação do louco à vida social.
Nesse periodo, buscava-se construir um conheci
mento médico sobre a loucura; contudo, a medicina
da época - que tinha como modelo a história natural

e o seu método classificatório (a descrição e a taxio-


nomia da estrutura visivel das plantas e animais eram
feitas com a finalidade de estabelecer semelhanças e
diferenças)- não conseguia abarcar a complexidade
de manifestações da loucura.

No final do século WIl, os


loucos nao eram VIstos como
doentes e lazam parte dos
segregados da sociedade.

GAPÍTULO 23 I 8A0DE MENTAL 385


muito genérica, que era utilizada no período anterior e
Na segunda melade do século as categorias da nova disciplina médica.
XVIIl, iniClalam se ellexoes APsiquiatria lássica considerava os sintomas como
sinal de um distúrbio orgånico, isto é, doença mental
medicase filosolias que siluavam
era igual a doença cerebral. Sua origem era endógena,
a loucura como algo que ocOma dentro do organismo, e referia-se a alguma lesão de
anatómica ou distúrbio fisiológico cerebral
nointerIordoproprio sujeilo. natureza
Mesmo com avanços consideráveis, essa aborda-
gem permanece até os nossos dias e laboratórios de
Na segunda metade do século XVll, iniciaram-se refle-
xoes médicas e filosóficas que situavam a loucura como pesquisa de grandes universidades do mundo todo
buscam descobrir distúrbios ou anomalias da estrutura
algo que ocorria no próprio homem, como
interior do
ou funcionamento cerebral e se eles levam a distúrbios
perda da natureza humana, como alienação. Segundo a
periodização histórica, proposta por Foucault nesse pe- do comportamento, da afetividade, do pensamento et
riodo (final doséculo XVll inicio do XIX), jå estariamos Nessa abordagem da doença, os quadros patológi-
na Modernidade. Criou-se, então, a primeira instituição cos são exaustivamente descritos no sentido de quais
destinada exclusivamente à reclusão dos loucos: o asilo. distúrbios podem ser apresentados. Por exemplo: a
Amentalidade da época considerava injusta para com os psicastenia é caracterizada por esgotamento nervoso,
demais presos a convivncia com os loucos. Os métodos com traços de fadiga mental, impotência diante do
terapêuticos utilizados no0 asilo eram: a religião, o medo, esforço, inserção dificil no real, cefaleias, distúrbios
a culpa, o trabalho, a vigiläncia, o julgamento. O médico gastrointestinais, inquietude, tristeza. Ese a doença
passoua assumir o papel de autoridade máxima. Robert mental é simplesmente uma doença orgånica, ela será
Castel' aponta que os hospitais somente vieram atornar tratada com medicamentos e produtos quimicos. Ao
se um meio prioritariamente médico no século XIX. Sua lado da medicação, devemos lembrar que ainda são
ação era moral e social, voltada para a normatização do usados eletrochoques, choques insulinicos e, em casos
louco, agora concebido como capaz de se recuperar. mais graves, o internamento psiquiátrico, para uma ad
Inicia-se a medicalizaço.Acura da doença men- ministração controlada e intensiva de medicamentos.
tal o novo estatuto da loucura ocorreria a partir de
-
-

A principal publicação de referência dessa psiquia-


uma liberdade vigiada e do isolamento. Estava tria organicista é o manual da Associação Psiquiátrica
prepa-
rado o caminho para o surgimento da Psiquiatria. Americana (APA) Conhecido com Manual Diagnóstico
e Estatistico de Transtornos Mentais (DSM-5); que
apresenta a classificação de todos os transtornos
Afase manicomial
(nome que substitui os termos como doença ou dis:
No limiar do século XX, a psiquiatria se constituiu
túrbio) considerados como passiveis de tratamento
como especialidade médica e ganhou importància. ou internação. Há que se considerar que a indústria
Médicos como Pinel, Esquirol, Charcot, Kraepelin, farmacêutica evoluiu muito nesse periodo e hoje são
Bleuler inauguraram o estudo sistemático dos sinto- fornecidos medicamentos mais eficientes e especiticos
mas das psicoses, nome que passou a ser atribuldo às
para os transtornos descritos pelo DSM-5
afecçdes ou distúrbios mentais. Essa terminologia não A despeito dos reais avanços da psiquiatriaorgan
é utilizada atualmente, mas a mencionamos para que cista, seus métodos e descriçðes recebem criticascon
o leitor note a diferença entre a categoria da alienação, tundentes. A própria ediço do DSM-5 foi criticada por

CASTEL, Robert. Aordem psiquiátrica. a ldade de ouro do alienismo. Irad AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estaistico ae

Maria T. da Costa Albuquerque. Rio de Janeiro: Gral, 1978. transtornos mentais. DSM-V. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014

388 PARTE IV | PSICOL0GIA: UMA LEITURA DA REALIDADE


inentes psiquiatra americanoOs que consideram
que De acordo com
0 aun
ento de ventos classificados comotranstornos as
Laplanche e Pontalis,' para Freud,
aba por patologizara vida. E o caso do transtorno neuroses podem ser subdivididas em:
d a b a

como Disforia de Gènero,


relatado
que considera o Neurose obsessiva: esse
tipo de conflito
travestisr como um sintoma, leva a psiquico
ou o Transtorno
de comportamentos compulsivos (por exemplo,
Desafia que relata lavar as maos com
Oposição
problemas com a frequência não usual); ter ideias
ridade e mencioi
manifestações agressivas. obsedantes, como estar sendo perseguido, ao mes
Ora, um jovem participan de um protesto estudan- mo tempo que ocorre uma luta contra esses
d naderá facilmente mentos e dúvidas pensa-
ser
enquadrado neste tipo de quanto ao que faz ou fez.
transtorno, o que nos parece inadequado. Quanto ao
Neurose fóbica ou histeria de
gústia é fixada, de modo mais ou angústia:
a an-
nle chamam de travestismos, movimento LGBT, em
o
menos estável,
Sua luta pelo reconhecimento do direito à
orientação em um
objeto exterior, isto é, o sintoma central é
SPNual, vem conquistando espaço e respeito e consi- a fobia, o medo. Medo de altura, medo de
derar o comportamento transgênero como transtorno medo de ficar sozinho etc. animais,
Dsiquico nos parece um anacronismo desnecessário.
Neurose histérica ou histeria de
o Conflito
conversão:
psiquico simboliza-se nos sintomas cor
Na abordagem organicista, porais de modo ocasional, isto é, como crises. Por
a doença mental é tratada exemplo, crise de choro com teatralidade ou sinto-
mas que se
apresentam de modo duradouro, como
Com medicamentos. a paralisia de um
membro, a úlcera etc
Para a Psicanálise, todas as formas de
da neurose têm
manifestação
sua origem na vida infantil, mesmo
Acontribuição da psicanálise quando manifestam mais tarde, desencadeadas por
se

Não é possivel discutir


vivéncias, situações conflitantes etc. Nos dois últimos
a questão da normalidade e da tipos apresentados, a neurose está associada a confli-
patologia sem retomar as contribuiçðes de Freud para tos infantis de ordem sexual. A esses
o tema. Para a
Psicanálise, o que distingue o normal tipos de neurose
deve-se acrescentar a neurose traumática, em que os
d0 anormal é uma
questo de grau e não de natureza, sintomas pensar obsessivamente no acontecimento
Istoé, em todos os individuos existem as mesmas
struturas psiquicas que, se mais ou menos
traumatizante, ter perturbações do sono etc. aparecem
"ativadas", após uma experiência intensa desagradável ou perigosa,
i0
responsáveis pelos distúrbios e pelo sofrimento n0
ndvíduo. Essas estruturas são neuróticas ou ligada a uma situação em que se correu risco de morte.
Freud tomou
psicóticas. Mas, mesmo nesse cas0, existiria segundo Freud uma
a terminologia da Psiquiatria clássica do predisposição, isto é, o traumatismo desencadeou uma
ulo XIX e definiu clinicamente a neurose, cujos: estrutura neurótica preexistente.
sintomas (distúrbios do
O
dos
comportamento, das ideias
sentimentos) são a expressão simbólica de um
Opsiquico que tem suas ralzes na história infantil Segundoa psicanálise, as diferentes
ndviduo", segundo Laplanche e Pontalis formas de manifestação da neurose
tem sua origem na vida intantil.

APLANC PONTALIS, J. B. Vocabulário da psicandlise. 4. ed. São Paulo.


MartirJ,
Marins Fontes,
2016. p. 37 LAPLANCHE, J; PONIALIS, J. B, 2016. p. 378-379.

CAPÍTULO 29I SA0DE MENTAL 387


comportamento ou de funcionamento do organismo
Aabordagem psicológica sadio. Esses padrões ou normas referem-se a médias
A abordagenm psicológica encata a doença mental e, estatísticas do que se deve esperar do individuo, en
portanto, os sintomas, como desorganização do "mun- quanto funcionamento e expressão. Essas ideias ou
do interno". Adoença instala se na subjetividadee critérios de avaliação constroem-se a partir do desen-
leva a uma alteração de sua estrutura ou a um desvio volvimento cientifico de determinada área do
progressivo em seu desenvolvimento.
conhe
cimento e, também, a partir de dados da cultura e do
Dessa torma, as doenças mentais e o sofrimento
comportamento do próprio observador ou especialista,
psiquico definem-se a partir do grau de perturbação
que nesse momento avalia esse indivíduo e diagnosti-
da 'organização psiquica", isto é, do grau de desvio do
ca que ele é doente.
que é considerado "comportamento padrão". Nesse
E aqui surge uma complicação. Os conceitos de
caso, as psicoses consideradas distúrbios da "or
são normal e patológico säo extremamente relativos. Do
ganização psiquica" total, envolvendo os aspectos de ponto de vista cultural, o que em uma sociedade é
afetividade, de pensamernto e de percepção de si e do considerado normal, adequado, aceito ou mesmo
mundo. As neuroses referem-se a distúrbios de
aspec valorizado, em outra sociedade ou em outro momento
tos do "mundo interno"; por
exemplo, permanecem histórico pode ser considerado anormal, desviante ou
integras a capacidade de pensamento, de estabelecer
relações afetivas, mas a sua relação com o mundo
patológico
Para avançarmos nessa discussão
precisamos fazer
encontra-se alterada, como no caso do indivíduo
que algumas considerações. Não
conhece até hojea
se
tem medo intenso de cachorro e não consegue
um
verdadeira dimensão do sofrimento psiquico e isso
nem passar a mão em um bichinho de
pelúcia. nos leva a questionar se haveria de fato um
adoecer
psiquico. Vamos trabalhar com casos extremos e dife-
A abordagem psicológica rentes para apoiar essa discussão.
Alguns dos chama-
Compreende a doença mental como dos transtornos psiquiátricos são bem definidos do
ponto de vista nosográfico (descrição da doença), mas
desorganização do "mundo interno. não o são do ponto de vista etiológico (determinação
da causa).
Isso significa dizer que um conjunto de sintomas
NORMAL EPATOLÓGICO pode ser identificado, dlassificado e ser denominado
Nos modelos
um transtorno (como a esquizofrenia ou o transtorno
explicativos anteriores- Psiquiatria dássi- bipolar). Esse processo, que leva em consideração os
ca e abordagem psicológica está implicita a questão
dos padrões de normalidade, isto é, embora as duas sintomas, desenvolveu medicamentos que atenuam
tais sintomas, mas não conhece as causas e, portanto,
teorias se diferenciem quanto à concepção de
doença não promove a cura. Com doenças de cunho clara
mental e suas causas, elas se assemelham no sentido
mente organico, a nosografia e etiologia estão conec
de que ambas supõem um critério do que é normal.
tadas, mas no sofrimento psiquico isso não é possive
dada a complexidade do funcionamento de nossa
mente. Não se trata somente do funcionamento do
Superando dicotomias: asaúde mental SIstema nervoso central, trata-se de toda a capacidade
O enfoque do sofrimento pslquico pelo foco da nor humana de compreender o que é o seu ser. Isso impl
malidade significa dizer que determinadas áreas de ca não somente no funcionamento fisico cerebral, mas
conhecimento cientifico estabelecerão padrões de da nossa consciência, dos nossos pensamentos, dos

388 PARTE IVI PSICOLOGIA: UMA LEITURA DA REALIDADE


cas afetos e tormas de
afetação. Trata-se da plasti
identidade fundamental a de louco. Esse
ee capacidade adaptativa desse poder atribui-
organismo o -

do à ciência
stema n e r v o central cuja função extrapola sua
profissionais deve ser questionado,
e aos

dimensão estritamente biológica.


na medida em se baseia em um
que conjunto de
Conhecimentos bastante polêmicos e
Além disso, o médico ou o incompletos.
psicólogo, como cidadão
Os conceitos de normal e de erepresentante de uma cultura e de uma sociedade,
acaba por
patologizar aspectos do comportamento
patologicOS Sao construçoes que se caracterizam muito mais como
históricas e culturais. de condutas morais (sexuais, por
transgressões
seriam
exemplo), que não
considerados desvios em outros momentos
históricos ou em outras sociedades -isso demonstra a
Nos, seres humanos, além de produzirmos as
relatividade do conceito de normal.
condiçoes de sobrevivncia, a luta pela manutenção
Outro aspecto conhecido e bastante alardeado
da vida como qualquer animal selvagem, também pelos meios de comunicação de massa é o uso da
oroduzimos cultura e somos profundamente diversos Psiquiatria ou do rótulo de doença mental com fins
nessa produção. Assim, um comportamento que pos-
politicos. O saber cientifico e suas técnicas surgem,
sa parecer estranho em nossa cultura é habitual em então, comprometidos com grupos que querem man-
Qutra. A homossexualidade, porexemplo, vista com ter determinada ordem social. Tranca-se no
hospital
preconceito reprovada por alguns em nossa cultura
e
psiquiátrico ou retira-se a legitimidade do discurso do
era comportamento tipico do cidadão0 grego na era individuo que contesta essa ordem, transformando-o
dássica, conforme deixou testemunho o filósofo Platão em louco.
nos seus Didlogos. Indios lanomâmis que vivem em
aldeias com pouco contato com outras comunidades
têm o costume de não trajar vestimentas e não são
O saber cientifico e Suas técnicas
dassficados como loucos por esse motivo. Vivem de Surgem, então, comprometidos
acordo com as regras da sua cultura. Entretanto, não
Se trata de relativismo cultural ou de uma
Com grupOs que buScam manter
posição
simpista em que se possa afirmar que o sofrimento determinada ordem social.
PSIquico não exista. Os sintomas delirantes de uma
Squzofrenia såo reais e fazem sofrer o seu portador e
B50 requer cuidado
e atenção. A depressão vem
sendoPSTOUTA
eonhecida como o mal da atualidade pela frequência
SOCIAL EAREFORMA
qUe afeta
trabalhadores e está se tornando uma das PSIQUIATRICA BRASILEIRA
inapais causas de afastamento do trabalho. Em oposição a essas abordagens tradicionais da doen
questão da normalidade, se não levar em consi ça mental, surgem teorias criticas, que questionam
dao que estamos tratando de saúde mental e não os conceitos de normalidade implícitos nas formas
a Psiquiatria
ença, caba
nlemd, acaba desvelar o poder que a ciência de tratamento da loucura. Nessa linha, a
de, a partir dopor
diagnóstico fornecido por um es Social denunciou a manipulação do saber cientifico,a
aista, definir o destino do individuo rotulado. Isso retirada da humanidade e da dignidade do louco, as
pode reclusão
significar
39. perder não poder
opátrio os filhos,deseruminternado
pela seleção
passarsobre empre Condições perversas de tratamentoe
principalmente, a concepção da loucura como fabrica-
delee
m um hospta no seu interior. Com isso,
psiquiátrico e, a partir disso, ter como da pelo próprio individuo e

CAPITULO 23 1SAÚDE MENTAL 388


a
como outro e sem signiticado. Portanto, é no individua
levaram todos os que se dedicam a compreender e
fora e fora dele que vamos procurar as razões dessa des
trabalhar com os considerados loucOs a buscar,
razão. E talvez seja por IS50 que o suIcidio abale tanto
do individuo, as causas ou os desencadeadores do seu

comportamento atual, isto é, buscar nas condiçoes


de aspessoas próximas do suicida. E como se esse ato
denunciasse o fracasso do investimento social que foi
trabalho, nas formas de lazer, no sistema educacional
feito nesse individuo, que nega de modo radical tudo
competitivo ou mesmo na estrutura familiar ou na
fatores desenca- isso e aponta o fracasso de seus grup0s.
insegurança da violência urbana, os

deadores ou determinantes do sofrimento internso do


individuo ou de sua doença.
A Psiquiatria Social ou a Psiquiatria alternativa, em- A loucuraéConstruida ao longo
bora questionem as abordagens clássicas da doença da história de vida do indviduo
mental, não negam que a doença exista. Basaglia atirma:

Eu penso que a loucura, como todas as doenças,


O Brasil tem uma grande importància
são expressões das contradições do nosso corpo, e
na cons
trução de um modelo alternativo de saúde mental
dizendo corpo, digo corpo orgånico e social. E nesse
Poucos paises no mundo avançaram como nós nesse
sentido que direi que a doença, sendo uma contra-
segmento e não se trata somente da saúde mental. 0
dição que se verifica no ambiente social, não é um
movimento sanitarista mundial discute a saúde pública
produto apenas da sociedade, mas uma interação
e coletiva desde a década de 1970. Afamosa conferên-
dos niveis nos quais nos compomos: biológico, so-
cia de Alma Alta, em setembro de 1978, construiu um
iológico, psicológico. Consenso sobre a atenção básica (Declaração de Alma
Nessa mesma obra, Basaglia afirma que explicar a Alta) e serviu de modelo e impulsionador dos movi-
doença só do ponto de vista orgânico ou exclusiva- mentos de saúde no Brasil.
mente do ponto de vista psicológico ou social significa A união dos grupos populares que reivindicavam
uma "moda" cientifica. melhoria na saúde pública e dos sanitaristas, entre eles
desafio é não nos esquivarmos do enfrentamen- Sergio Arouca, David Capistrano Jr, Gilson Carvalho,
to da questão da loucura, do sofrimento do outro, e Gastão Wagner e Emerson Mehry, levou a uma
talvez possamos começar a "ver" diferentemente. A profunda reformulação dos parámetros da atenção
loucura é construída ao longo da história de vida do à saude no Brasil, culminando com a construção do
individuo. Essas vivências ocorrem em determinado SUS-Sistema Unico de Saüde, como politica publica
tempo histórico e espaço social definidos. Mais ou na Constituiçào de 1988. E, nesse contexto, ganham
menos como Eduardo Kalina e força as propostas de mudança forjadas no movimento
Santiago Kovadloff
em seu livro As cerimónias da destruição" analisamo da Reforma Psiquiátrica Brasileira. Os movimentos da
suicidio: ele foi construido durante toda a vida do indi- reforma sanitária e psiquiátrica no Brasil esto unidos
viduo, nos seus grupos de
pertencimento- a família, a pelo fato de ambos terem crescido com o process0
escola, o trabalho etc. -, embora o ato final caracterize de redemocratização do pais. Este é um processo que
um momento psicótico, isto é,o individuo está em curso, tem um claro delineamento e é posSivet
percebe-se
verificar os seus resultados.

BASAGLIA, Franco. A psiquialia alternativa Sdo Paulo. Brasil Debates, 1982


P.

6KALINA, Eduardo, KOVADIOFF, Santiago. As cemnóias da


de Janeiro:. räncisco Alves, 1983.
destiunç ao. Rio

390 PARTE IV I PSICOL0GIA: UNA LETTURA DA REALIDADE


UTRO JETO DE CUIDAR
o Brasil, com o cuidado em saúde mental ocorrendo
não mais em serviços totalitários e isolados como os

AS PESSOAS APROPOSTA
-

manicómiOS, mas em vários serviÇOs de saúde orga-


ANTIMANICOMIAL nzados em rede: Unidades Básicas de Saúde, Centros
de Atenção Psicossocial (CAPS), para cuidados mais
Assum como e em outros paises do mundo, usuários,
tabalhadores, representantes da academia e gestores
intensivos, leitos en ho5pitais gerais, consultórios de
rua, Serviços Residenciais Terapéuticos para moradia
ce Organizaram em unm movimento com o objetivo
em liberdade de egressos dos manicórnios, Unidades
do DrOpor uma retorma antimanicomial no Brasil que
de Acolhimento para moradia transitória de usuários
em disputando novas pOssIbilidades de cuidado.
em uso abusivo de álcool e drogas
Emabril de 2001, depoIs de anos de tramitação,
Isto representa uma mudança inportante para
fo aprovada a Lei n. 10.216, que dispõe sobre a pro- a vida de muitas pesSoas. Milhares de pes50a5,
das pessoas portadoras de trans-
ecão e os direitos
e redireciona o modelo assistencial
por exemplo, que estavanm presas em manicomios, por
tornos mentais
mais de 20 anos, só por teren un sofrimento psiquico
em saude mental, criando as bases legais para um
hoje podem morar e se tratar em liberdade.
cUidadoque respeite os direitos humanos e busque
Tem sido central para a qualificação dessa rede de
prioridade para a rede am-
ratar em liberdade,
com
atenção, o cuidado interdisciplinarea construção do
bulatorial de serviços.
APolitica Nacional de Saúde Mental,
construida a Projeto Terapêutico Singular, para cada usuário, que
busca, a partir da vida de cada um, definir os disposi
partirdesses principios, tem orientadoa implantação tivos para um cuidado integral. Para pessoas com
um
todo
da Rede de Assisténcia Psicossocial (RAPS),
em

Aula de pintura em

equipamento de saúde mental

MENTAL 391
CAPÍTULO 23| 8AÚDE
tera- pessoas em situações de vulnerabilidade, como pes-
diagnóstico serão necessários projetos
situação de rua, vitimas de violência ou de
mesmo
s0as em
pêuticos diferentes.
ressaltado é que hoje preconceto.
Outro aspecto importante de ser Considerar tudo isso significa pensar na superação
em uso abusivo de ålcool e outras
as pessoas que està0 das condições que desencadeiam ou determinam a
estão sen-
drogas são parte importante das pessoas que loucura. Como cidados, é precis0 Compreender que
mental
serviços que atendem saúde
e
do cuidadas nos
a saúde mental é, além de uma questão psicológica,
devem ser tratadas observando os mesmos principios.
uma questão política, e que interessa a todos os que
sido também
O cuidado em saúde mental tem
estão comprometidos com a vida.
importante na reconstrução de projetos de vida para

TEXTO COMPLEMENTAR
foi um poeta, ator, escritor, dramatur
Antoine Marie Joseph Artaud (1896-1948), conhecido como Antonin Artaud,
go, roteirista e diretor de teatro francês
de aspirações anarquistas. Ficou internado por vários anos em mais de um
manicômio francês. Durante uma dessas internações escreveu aos médicos uma cata que reproduzimos aqui

Carta aos diretores de asilos de loucos


Antonin Artaud
Senhores,
As leis, os costumes, concedem-lhes o direito de medir o espírito. Esta jurisdição soberana e terrivel, vocês a exer
cem segundo seus próprios padrões de entendimento.
Não nos façam rir. A credulidade dos povos civilizados, dos especialistas, dos governantes, revestea psiquiatria
antemão. Não pensamos em
de inexplicáveis luzes sobrenaturais. A profissão que vocès exercem está julgada de
cada cem preten-
discutir aqui o valor dessa ciência, nem a duvidosa existência das doenças mentais. Porém para as
cem dassificações, onde
didas patogenias, onde se desencadeiaa confusão da matéria e do espírito, para cada
mais vagas são também as únicas utilizáveis, quantas tentativas nobres se contam para conseguir melhor co

preensão do mundo irreal onde vivem aqueles que vocês encarceraram?


Quantos de vocês, por exemplo, consideram que o sonho do demente precoce ou as imagens que opebe
nos surpreende ver até que ponto
vocês empennad0S estäo
guem são algo mais que uma salada de palavras? Não
em uma tareta para a qual só existem muitos poucos predestinados. Porém não nos rebelamos contra 0

Concedidoa certos homens capazes ou não - de dar por terminadas suas investigações no campo doespu
com um veredicto de encarceramento perpétuo.

7WILLER, Cláudio (Org). Escritos de Antonin Artaud. Porto Alegre: L&PM, 1983.

392 PSICOLOGIA: UMA LEITURA DA REALIDADE


PARTE I
e aile
encarceramento! Sabe-se -

nunca se saberá
eshoriveis onde os reclusos fornecem suficiente que os asilos,
o

gratuita e cômoda, e onde longe


mão de obra de ser "asilos", são
leram tudo isso
isso. O hospicio de
alienados, sob o amparo da carce
a
brutalidade é norma.
no E vocês
àspenitenciárias.Não nos reterimos
aqui às
ciência e da justiça, é
comparávelaos
quartéis, a0s
4ecmentido.
fácil ies Afirmamos que grande parte de seus internações
arbitrárias, para Ihes evitar o incômodo de um
também reclusa arbitrariamente. E não internados completamente loucos
está
podemos admitir que se impeça o livre segundo a definição
ohcial
delirio, tão legitimo e lögCo como
desenvolvimento de
AreDressão das reaçðes antissociais,qualquer
um o
outra série de ideias
em
e
atos humanos
principio, é tão quimérica como
antissociais. Os loucos são as vítimas individuais inaceitável. Todos os atos individuais
excelência da ditadura social. E em
Ldade. Que é património do homem, reclamamos a porliberdade nome dessa individua-
desses torçados das
está dentro das faculdades da lei condenar à galés da
prisão a todos que pensame trabalham.sensibilidade,
in se
nao
já que
er verdadeiramente genial das Sem insistir
manifestações de certos loucos, na medida de nossa no
ca
fimamos legitimidade absoluta de sua concepção da
a
realidade e de todos os atos capacidade para avaliá-las,
Fsperamos que amanh de manh, na hora da visita que dela derivam.
médica, recordem isto, quando tratarem de conversar
áicionário conm esses homens sobre os quais reconheçam sem
só tem a superioridade da foça.

ATIVIDADES
1. 0 tema da loucura não é somente de ordem acadêmica e
disciplinar, trata-se de um tema de cunho
existencial importante e todos nós, em algum momento, nos
deparamos com os limites do que é a ra-
zão. E preciso considerar que as
pessoas portadoras de sofrimentos psíquicos graves têm tanto direitos
quanto qualquer outro cidadão. A partir dessa premissa, discuta os parámetros da Reforma Psiquidtrica
no Brasil consultando fontes como o Ministério da Saúde e do Conselho Federal de
Psicologia.
2 Faça uma pesquisa na internet sobre o que é a Luta Antimanicomial e procure saber quais são seus
principios e suas atividades, particularmente, sobre os eventos de 18 de maio.
3. Se possivel, visite um CAPS em sua cidade e entreviste técnicos e usuários sobre essa alternativa de
atendimento e pergunte sobre a importáncia do tratamento e desse serviço na vida das pessoas ali
atendidas.

MENTAL 383
CAPÍTULO 23 I SAÚDE
PARA SABER MAIS
Bibliografia
O tema aqui discutido é, ele pröprio, avançado. Assim, vamos indicar obras para os interessados em apro-
fundar seus conhecimentos.
BASICA
A história da loucura (2014), de Michel Foucault, eA ordem psiquidtrica: a idode de ouro do alienismo
(1978), de Robert Castel, såo dois livros de leitura obrigatória.
Contrafissura e plasticidade psiquica (2015) é o livro de um importante psicanalista argentino radicado
no Brasil, Antonio Lanceti,
que escreveu uma excelente obra sobre a relação entre saúde mental e consu
mo de dlcool e drogas.

AVANÇADA
Além dessas obras, està disponivel uma discussäo do
que ocorre no Brasil por meio de uma publicação
periódica Editora Hucitec chamada de Saudeloucura. São vários números jå publicados e são discutidos
da
o estado da arte dos temas relativos à loucura e
formas de tratamento.

Uutros recurSOS
As questões da saúde e da doença mental, da normalidade e da produção da doença têm sido abordadas
pelo cinema de maneira interessante e motivadora.
Bicho de sete cabeças (Brasil.
Direção de Lais Bodansky. 2000. 80 min.).
Jovem predisa suportar o dia a dia em um sistema
manicomial. Um dos bons filmes realizados sobre
internação e conduta manicomial.
Si puo tare (Då pra fazer) (ltälia. Direção: Giulio Manfredonia, 2008. 111 min.).
Ofilme trata da Reforma Psiquiátrica italiana, uma das pioneiras na construção de alternativas aos mank
comios, descrevendo as cooperativas de trabalho constituidas
por pessoas que sairam dos manicomios
depois de muito tempo internadas. Disponivel em:
Acesso em: 17 jan. 2018. <https://www.youtube.com/watch?v=x7tV__SKul0
Um estranho no ninho (Estados Unidos.
Direção de Milos Forman. 1975. 133 min).
E um dássico e um dos
primeiros filmes de caráter antimanicomial. Um desajustado vai para a cadetd
por ter estuprado uma
garota e finge-se de louco para ser transferido e vai
para um
ganha a inimizade da enfermeira-chefe por incentivar os outros internos à rebeldia. hospicio.
Parábala la, eee
divertida
apavorante sobre engrenagens de poder, marginalização de
des inconformistas. Um retrato fiel das desajustados, tratamento da loucura e au
instituiçðes psiquiátricas tradicionas.
Asas do liberdade (Estados Unidos.
Direção de
Alan Parker.
Depois de combater no Vietnà, dois amigos de infância
1984. 120 min).

fala
reencontram-se em um hospital milldt
nem reagenada, vive encerrado na fantasia que alimenta desde
a
criança: voar. so o veno dug
tem condiçes de ampará-lo. Belo filme sobre o horror da
guerra e a liberdade de imaginaça0

94 PARTE IN | PSICOLOGIA: UMA LEITURA DA REALIDADE


Mida em familia (Inglaterra. Direção de Kenneth
ofilme mostra como a repressao tamilar Loach. 1971. 108 min.)
ade Outro dlássico que divulgou ideias dapode levar uma criança a perder todo o contato com a
do pelos psiquiatras David Cooper e Ronald Antipsiquiatria inglesa, movimento antimanicomial
real
Laing promov
Meu nome não é Johnny (Brasil.
ofime é baseado na história deDireção: Mauro Lima. 2008. 128
João Guilherme min.).
Estrella (lohnny), um jovem de classe média que se
tomou um dos maiores traticantes de cOcalna no
Rio de Janeiro da
tomo mental relacionado à cocalna, observado década de 1990. Johnny tem
Ele chega a ficar trés dias sem dormir por causa
pelo seu estado de
euforia nas festas retratadas no trans
filme.
dos efeitos da
Garota interrompida (Alemanha/EUA. Direção: James droga,
Uma garota de 17 anos é Mangold. 1999. 122
internada enm uma clinica min.).
milia e as outras meninas lå internadas. Mais um psiquiátrica e retrata a relação com a instituição,
questionamento à lógica manicomial. fa

MENTAL 85
CAPÍTULO 23 18AÚDE

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