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3.

Reforma Protestante e
Contrarreforma Católica
nos séculos XV e XVI
3.1 A reforma protestante
3.1.1 Causas da Reforma Protestante

• Necessidade e aspiração de reforma nos órgãos centrais


da Igreja: cúria romana, cardeais e bispos corruptos e
papas mais envolvidos em lutas políticas que em sua
missão espiritual.
• Ignorância, laxismo e superstição entre o povo cristão e o
baixo clero.
• Vacuidade e sutileza do pensamento dos teólogos.

• Baixesas e grosserias nos pregadores.

• Artistas e literatos entregues à indiferença, imoralidade e


descrença.
• Críticos ao interno da Igreja não eram ouvidos:

oBernardino de Siena (1380-1444)


oJoão de Capistrano (1386-1456)
oGirolamo Savonarola (1452—1498)
• Ruptura do princípio de autoridade:

o Aristóteles, na Filosofia
o Agostinho e Tomás de Aquino, na Teologia
o Ptolomeu, nas ciências
o O papa e o imperador, na política
• Causas religiosas, ideológicas, políticas e sociais nos povos
teutônicos:

Anseio de libertação do papado e do Império (Sacro


Império Romano) e do predomínio dos povos latinos e
da cúria romana.
3.1.2 Principais representantes: Martinho
Lutero, João Calvino e Ulrico Zuínglio.
Precursores das reformas religiosas
• John Wycliffe (1328-1384) foi professor da Universidade de Oxford,
teólogo e reformador religioso inglês. Declarado herético pelo Concílio de
Constança (1414–1418) tendo seus restos mortais sido exumados e
queimados.
• John Huss (1369—1415) Iniciou seu movimento religioso baseado nas
ideias de John Wycliffe. O seus seguidores ficam conhecidos como os
Hussitas. Foi excomungado em 1410 e condenado pelo Concílio de
Constança Foi queimado vivo em 1415.
• Erasmo de Roterdã (1466—1536)

oOrdenado padre em 1492, pediu e obteve dispensa dos


ofícios sacros e do hábito. Mas nem por isso se
enfraqueceram os seus interesses religiosos.
• Antecipou algumas posições de Lutero:

oEm muitas de suas posições teóricas.


ona crítica à Igreja e ao clero renascentista (de forma
atenuada e com grande fineza).

• Foi acusado de ter preparado o terreno para o


• Assumiu uma ambígua posição de neutralidade:

o Não se alinhou com Lutero, escrevendo contra ele "Sobre


o livre-arbítrio".

o Mas também não se alinhou ao lado de Roma.


• Principais obras:

o O manual do soldado cristão (1504)


o Provérbios (1508)
o Elogio da loucura (1511)
o Sobre o livre-arbítrio (1524)
o Edições de muitos Padres da Igreja
o Edição crítica do texto grego do Novo Testamento (1514-1516), com relativa tradução.
• Desprezo pela filosofia escolástica

Erasmo era adversário da filosofia entendida como


construção de tipo aristotélico-escolástico, centrando-se
sobre os problemas metafísicos, físicos e dialéticos.
• Para Erasmo, a filosofia é o conhecer-se a si mesmo ao modo
de Sócrates e dos antigos:

o é conhecimento sapiencial de vida

o é sabedoria e prática de vida cristã.


• A sabedoria cristã:

oNão há necessidade de complicados silogismos


oAlcançada em poucos livros: os Evangelhos e as
Epístolas de São Paulo
• A grande reforma religiosa:
o Sacudir dos ombros tudo aquilo que o poder eclesiástico e as
disputas dos escolásticos acrescentaram à simplicidade das
verdades evangélicas, confundindo-as e complicando-as.
o O caminho que Cristo indicou é o mais simples: fé sincera,
caridade não hipócrita e esperança que não se envergonha.
• Exemplo dos grandes santos: viver com liberdade de
espírito a genuína doutrina evangélica.

• E a mesma coisa pode ser encontrada nas origens no


monaquismo e na primitiva vida cristã.
• É preciso retornar às origens (sentido que vai além da
mera operação técnica e erudita):

oEdição crítica e a tradução do Novo Testamento


oEdição dos antigos Padres: Cipriano, Arnóbio, Ireneu,
Ambrósio, Agostinho e outros.
• O conceito erasmiano de "loucura"

É no "Elogio da loucura" (Moriae Encomium, id est,


Stulticiae laudatio) que encontramos o espírito filosófico
erasmiano em sua manifestação mais peculiar.
• O que é essa "loucura"?

Não deve ser entendida como doença mental.


• Apresentada em uma extensa gama:

• que vai do extremo negativo (a pior parte do homem)


• ao extremo oposto (fé em Cristo, que é a loucura da
Cruz).
• Entre os dois extremos, vários graus de "loucura":
• Denuncia a loucura:
o com a intenção da condenação (abuso de eclesiásticos...)
o com a intenção de exaltar o seu valor transcendental (fé)
o para mostrar a ilusão humana (elemento indispensável do
viver)
• A "loucura" é como uma vassoura mágica, que varre tudo o que se
antepõe à compreensão das verdades mais profundas e severas da vida.
• A "loucura" erasmiana arranca os véus, fazendo-nos ver a comédia da
vida e a verdadeira face daqueles que se escondem sob máscaras.
• Ao mesmo tempo, mostra o sentido do palco, das máscaras e dos
atores, procurando de certa forma fazer com que se aceitem todas as
coisas assim como elas são.
• O ponto culminante da "loucura" está na fé:

o A dissipação que fazem de seus bens


o o desconhecimento das ofensas
o a resignação aos enganos
o a não distinção entre amigos e inimigos
o ...
• O cume dos cumes da "loucura" é a felicidade celeste:

às vezes, é dado aos piedosos perceberem, já aqui nesta


terra, o seu sabor e o seu perfume, pelo menos por um
breve momento.
Martinho Lutero (1483-1546)

• Do ponto de vista da unidade da fé, a Idade Média


termina com Lutero, iniciando-se com ele uma
importante fase do mundo moderno.
• Dentre os numerosos escritos de Lutero, podemos recordar:

o Comentário à epístola aos Romanos (1515-1516)


o Noventa e cinco Teses sobre as indulgências (1517)
o Vinte e oito teses relativas à Disputa de Heidelberg (1518)
o Grandes escritos de 1520:
o O cativeiro babilônio da Igreja
o A liberdade do cristão
o Servo arbítrio, contra Erasmo, em 1525.
• Papel de Lutero do ponto de vista histórico:

o A Reforma religiosa logo se entrelaçaram elementos sociais e


políticos que mudaram a fisionomia da Europa.

o Importância primordial em termos de história das religiões e do


pensamento teológico.
• Papel de Lutero do ponto de vista da história da Filosofia:

o Verbalizou a instância de renovação que os filósofos da época fizeram valer, seja


por algumas valências teóricas (sobretudo de caráter antropológico e teológico)
intrínsecas ao seu pensamento religioso.

o Consequências que o novo tipo de religiosidade por ele suscitado exerceu sobre
os pensadores da época (por exemplo, sobre Hegel e Kierkegaard) e da época
contemporânea (por exemplo, certas correntes do existencialismo e a nova
teologia).
• A posição negativa de Lutero em relação aos filósofos:
oA desconfiança nas possibilidades de a natureza
humana salvar-se por si só, sem a graça divina, leva
Lutero a não dar valor à investigação racional
autônoma.
oA filosofia é vã sofisticação, fruto da soberba humana
que quer basear-se em suas próprias forças e não na fé.
(p. ex. Aristóteles)
o O único filósofo não envolvido completamente nessa
condenação foi Ockham por separar e contrapor fé e
razão. Sob certos aspectos ele abriu caminho para a
posição de Lutero.
• As relações de Lutero com o movimento humanista:

oDá voz ao desejo de renovação religiosa, anseio de


renascimento para uma nova vida e necessidade de
regeneração que constituem as próprias raízes do
Renascimento. A Reforma protestante foi um dos
resultados desse movimento espiritual.
oLutero retoma e leva às últimas consequências o
princípio do "retorno às origens", retorno às fontes e
aos princípios. O retorno ao Evangelho significa
também a eliminação da tradição (incrustação,
construção artificiosa e peso sufocante).
oComo pensamento e como teoria o humanismo é
rejeitado em bloco. A teologia luterana nega qualquer
valor às "humanae litterae" e à especulação filosófica.
• Elementos básicos da teologia de Lutero
oA doutrina da justificação radical do homem
unicamente pela fé;
oA doutrina da infalibilidade da Escritura, considerada
como a única fonte de verdade;
oA doutrina do sacerdócio universal e a decorrente
doutrina do livre-exame das Escrituras.
• Todas as outras proposições teológicas de Lutero nada
mais são do que corolários ou consequências que derivam
desses princípios.
o1) A doutrina tradicional da Igreja era e é a de que o
homem se salva pela fé e pelas obras (a fé só é
verdadeira quando se prolonga e se expressa
concretamente nas obras; as obras são testemunhos
autênticos de vida cristã, quando são inspiradas e
movidas pela fé, impregnando-se dela). Portanto, as
obras são indispensáveis.
• Razões porque Lutero contestou o valor das obras:
oRazões de caráter psicológico e existencial:
 Durante muito tempo, Lutero sentiu-se profundamente frustrado e
incapaz de merecer a salvação através de suas próprias obras, que
lhe pareciam sempre inadequadas, e, consequentemente, a angústia
diante da problematicidade da salvação eterna o atormentou
incessantemente. A solução adotada libertou-o completa e
radicalmente dessa angústia.
o Razões doutrinais:
 Depois do pecado de Adão, o homem decaiu a tal ponto que,
por si só, não pode fazer absolutamente nada. Tudo aquilo que
deriva do homem é "concupiscência"(egoísmo, amor por si
próprio).

 Sendo assim, a salvação do homem não pode deixar de


depender do amor divino, que é dom absolutamente gratuito.
 A fé consiste em compreender isso e em entregar-se totalmente
ao amor de Deus. E precisamente como ato de total confiança
em Deus que a fé nos transforma e regenera.

 Essa doutrina pressupõe toda a questão das "indulgências",


ligada justamente à teologia das “ obras”. Lutero não apenas
corrigiu os abusos ligados à pregação das indulgências, mas
também cortou pela base o seu próprio fundamento
doutrinário.
o2) Tudo o que nós sabemos de Deus e da relação homem-
Deus nos é dito pelo próprio Deus na Escritura. Só a Escritura
constitui a autoridade infalível de que necessitamos: o Papa, os
bispos, os concílios e toda a tradição não somente não
beneficiam, mas até obstaculizam a compreensão do texto
sacro.
• 3) O terceiro ponto básico do luteranismo pode ser muito bem explicado,
além da lógica interna da nova doutrina (não há necessidade de um
intermediário especial entre o homem e Deus, entre o homem e a Palavra de
Deus), também pela situação histórica que se viera criando no fim da Idade
Média e durante o Renascimento: o clero se havia mundanizado, não se
vendo mais uma distinção efetiva entre padres e leigos.
• Conotações pessimistas e irracionalistas do pensamento
de Lutero

o Em "O servo arbítrio", escrito contra Erasmo, a "dignidade do


homem" tão cara aos humanistas italianos e da qual Erasmo
havia sido defensor, em ampla medida é inteiramente
subvertida. O homem só pode se salvar se compreender que
não pode em absoluto ser o artífice de seu próprio destino:
com efeito, sua salvação não depende dele, mas de Deus.
• Lutero compara a vontade humana a um cavalo que se encontra
entre dois cavaleiros, Deus e o Demônio: tendo Deus sobre o
dorso, quer andar e vai aonde Deus quiser, tendo no dorso o
Demônio anda e vai aonde quer o Demônio.

• Ela não possui sequer a faculdade de escolher entre os dois


cavaleiros: são eles que disputam entre si o direito de cavalgá-la
(predeterminação da sorte do homem).
o Natureza e graça ficam radicalmente separadas, assim como
razão e fé.

o Quando age de acordo com a sua natureza o homem outra


coisa não pode fazer senão pecar; e, quando pensa de acordo
com o seu intelecto, outra coisa não pode fazer senão errar. As
virtudes e o pensamento dos antigos são vícios e erros.
oNenhum esforço humano pode salvar o homem, mas
somente a graça e a misericórdia de Deus. Essa é a
única certeza que, segundo Lutero, nos dá a paz.
U1rich Zuínglio (1484-1531)
• Inicialmente foi discípulo de Erasmo de quem conservou
profundamente a mentalidade humanista.

• Aprendeu o grego e o hebraico.

• Estudou a Escritura e os pensadores antigos, como Platão e


Aristóteles, Cícero e Sêneca.
• No início de sua evolução espiritual compartilhou a convicção de
Ficino e Pico sobre a revelação estendida universalmente, mesmo
fora da Bíblia.

• Em 1519, começou a sua atividade de pregador luterano, quando


ainda era sacerdote, como cura da catedral de Zurique, na Suíça.
• Ativo defensor das teses fundamentais de Lutero:
o a Escritura é a única fonte de verdade;
o o Papa e os concílios não possuem uma autoridade que vá
além da autoridade das Escrituras;
o a salvação ocorre pela fé e não pelas obras;
o o homem é predestinado.
• Separavam Zuínglio de Lutero:
o Algumas ideias teológicas como os sacramentos que dava um
valor quase que simbólico.
o A cultura humanista com fortes elementos de racionalismo.
o Um marcado nacionalismo helvético privilegiando os
habitantes de Zurique como se eles fossem os eleitos por
excelência.
• Doutrina do pecado: reafirma que ele tem a sua raiz no amor por si próprio
(egoísmo).
o Tudo aquilo que o homem faz enquanto homem é determinado por esse amor por si
próprio, sendo, portanto, pecado.
o A conversão é uma iluminação da mente: que passa a reputar sem valor todas as suas
obras, inclusive as que costumava considerar boas.
o Homem novo (mente)
o O velho corpo permanece e com ele a doença.
• Deus é concebido em sentido ontológico:
o como Aquele que é por sua própria natureza.
o como fonte daquilo que existe.
o o ser das coisas nada mais é do que o ser de Deus: o ser das
coisas Deus tirou de sua própria essência.
• Doutrina da Predestinação:
o se insere em um contexto determinista (um dos aspectos da
providência)
o Sinal seguro de reconhecimento dos eleitos: consiste em ter fé.
• Concepção política teocrática:

o Enquanto eleitos, os fiéis são todos iguais.


o A comunidade dos fiéis se constitui também como
comunidade política.
João Calvino (1509-1564)

• Formação inicial humanista.

• O seu destino esteve ligado à cidade de Genebra, onde atuou a partir de 1536,
mas sobretudo entre 1541 e 1564.

• Procurou realizar um governo teocrático inspirado na Reforma, muito rígido em


relação à vida religiosa e moral dos cidadãos e em relação aos dissidentes
(excomunhões e pena de morte).
• A doutrina de Calvino encontra-se sobretudo na "Instituição da
religião cristã" (numerosas edições a partir de 1536).
• Doutrina:

o A salvação está somente na Palavra de Deus, revelada na


Sagrada Escritura.
o Qualquer representação de Deus que não derive da Bíblia, mas
sim da sabedoria humana é um vão produto de fantasia, um
mero ídolo.
o A inteligência e vontade humana foram irreparavelmente
comprometidas pelo pecado de Adão (enfraqueceu os dons
naturais do homem e eliminou completamente os dons
sobrenaturais), de modo que a inteligência deforma o
verdadeiro e a vontade tende para o mal.
o A salvação, que ocorre unicamente pela fé, é obra do poder de
Deus e não ação nossa, através do livre-arbítrio.
o Insiste na predestinação e na senhoria da onipotência do
querer divino a ponto de subordinar quase inteiramente a ele
as decisões do homem.
o Substitui o determinismo de tipo estóico, que é de caráter
naturalista e panteísta, por uma forma de determinismo teísta e
transcendentalista tão extrema quanto aquela.
o "Providência" e "predestinação" constituem os dois conceitos
cardeais do calvinismo.
o A Providência é o prosseguimento do ato de criação: "Deus
(. .. ), pelo seu conselho secreto, governa totalmente todo o
real, a tal ponto que nada acontece sem que ele próprio o
tenha determinado em conformidade com a sua sabedoria e o
seu querer." (Calvino)
o A predestinação é "o eterno conselho de Deus, pelo qual ele
determinou aquilo que queria fazer de cada homem. Com
efeito, Deus não os criou a todos em iguais condições, mas
ordena uns para a vida eterna e outros para a eterna danação.
Assim, conforme o fim para o qual o homem foi criado, nós
dizemos que ele foi predestinado para a morte ou para a vida".
(Calvino)
o Causa de tal decisão de Deus: a livre vontade do próprio
Deus "não podendo ser pensada nenhuma lei e nenhuma
norma melhor e mais justa do que a sua vontade". A própria
culpa de Adão inscreve-se em um admirável e superior
desígnio providencial.
• Segundo Max Weber, foi da posição protestante que derivou o
espírito do capitalismo.
o Lutero foi o primeiro que traduziu o conceito de "trabalho"
pelo termo "Beruf", que significa vocação no sentido de
profissão (atividades agrícolas e artesanais).
o Para os calvinistas "Beruf" se estende a todas as atividades
produtoras de riquezas.
• Os calvinistas viram na produção de riquezas e no sucesso a ela
ligado quase que um sinal tangível da predestinação e, portanto,
um notável incentivo ao empenho profissional, segundo Max
Weber.
• Outros reformadores menores:

o Philipp Melanchton (1497-1560)


o Miguel Servet(1511-1553)
o Lelio Sozzini (1525-1563) e seu sobrinho Fausto Sozzini (1539-1604).
o Sebastião Franck (1499-1542)
o Valentim Weigel (1533-1588)
o Jacó Böhme (1575-1624)
3.2 A Contrarreforma
3.3.1 Os conceitos de Contrarreforma e Reforma católica

• O conceito de "Contrarreforma":
o Termo cunhado, em 1776, pelo jurista Johann Stephan Pütter
(1725–1807), no qual está implícita uma conotação negativa
("contra" = "anti"), ou seja, a ideia de conservação.
o e reação, como que um retrocesso em relação às posições da
Reforma protestante.
• O conceito de "Reforma católica":
o Um complexo movimento voltado para a regeneração da
Igreja no interior dela mesma que tem suas raízes no fim da
Idade Média desdobrando-se ao longo da época renascentista.
o Hoje o termo "Reforma católica" é acolhido de modo quase
unânime.
o Os estudos mostram que a "Contrarreforma" não teria sido
possível sem a existência de tais forças de regeneração próprias
da catolicidade.
• Segundo Humbert Jedin:

o A premissa para a Contrarreforma foi a Reforma católica, que deu à Igreja a força para se
defender das inovações.

o A Reforma católica é a reflexão sobre si mesma realizada pela Igreja tendo em vista o ideal de
vida católica que pode ser alcançado através de uma renovação interna.

o A Contrarreforma é a autoafirmação da Igreja na luta contra o protestantismo.


o Reforma católica baseia-se na auto-reforma dos seus membros na
tardia Idade Média (cresceu sob o estímulo da apostasia).

o Chegou à vitória através da conquista do papado, a organização e a


concretização do Concílio de Trento.

o A reforma católica é a alma da Igreja retomada em seu vigor, ao


passo que a Contrarreforma é o seu corpo.
o O ponto em que reforma católica e contrarreforma se interligam é o
papado.

o A ruptura religiosa subtraiu à Igreja forças preciosas, aniquilando-as, mas


também despertou aquelas forças que ainda existiam, aumentando-as e
fazendo com que lutassem até o fim.
• A contrarreforma:

o Aspecto doutrinário: condenação de doutrinas do


protestantismo e na formulação positiva do dogma católico.
o Aspecto de viva militância: sobretudo a de Inácio de Loyola e
da Companhia de Jesus por ele fundada (reconhecida
oficialmente pela Igreja em 1540).
o Medidas restritivas e constritivas:

 A instituição da Inquisição romana em 1542.

 A compilação do Index dos livros proibidos.


3.3.2 O Concílio de Trento

• Foi o décimo-nono concílio, realizado de 1545 a 1563, com


interrupções de 1548 a 1551 e de 1552 a 1561.
• A importância desse concílio está no fato de que:

o Tomou uma clara posição doutrinária acerca das teses dos


protestantes.
o Promoveu a renovação da disciplina da Igreja, tão invocada
pelos cristãos há muito tempo, dando precisas indicações
sobre a formação e o comportamento do clero.
• A Igreja readquire a plena consciência de ser Igreja, de "cuidado
com as almas" e de missão, propondo-se a si mesma como
objetivo preciso o seguinte: "Salus animarum suprema lex
esto" (A lei suprema é a salvação das almas).
• Segundo Jedin "Estamos diante de uma reviravolta que, na
história da Igreja, tem o mesmo significado que as descobertas de
Copérnico e Galileu têm para a imagem do mundo elaborada
pelas ciências naturais."
• Os documentos do concílio:

o Fazem uso de termos e conceitos tomistas e escolásticos com


parcimônia e cautela.
o Utilizam como método e critério o da fé da Igreja e não o de
escolas teológicas em particular.
o Eles respondem sobretudo às questões de fundo suscitadas pelos protestantes:

 A justificação pela fé,


 A questão das obras,
 A predestinação,
 A questão dos sacramentos,
 O valor da tradição.
• Justificação pela fé:
o Ler texto do concílio.
• Sacramentos:
o especialmente reafirmam a doutrina da transubstanciação eucarística,
segundo a qual, a substância do pão e do vinho se transforma em carne e
sangue de Cristo (Para Lutero trata-se de consubstanciação: presença de
Cristo mas com a permanência do pão e do vinho. Para Zuínglio e
Calvino a eucaristia tem um valor apenas simbólico).
3.3.3 Principais representantes: Tomás de Vio Caetano,
Francisco de Vitória e Francisco Suarez

• Lutero foi um duro adversário, não apenas de Aristóteles, mas também


do pensamento tomista e escolástico em geral pela tentativa de
conciliação, negadas por ele, entre:

o a fé e a razão,
o a natureza e a graça,
o o humano e o divino.
• Com o Concílio de Trento houve uma retomada do pensamento
escolástico (Segunda Escolástica), do qual, aliás, houvera uma
revivescência ao longo do século XV e no início do século XVI tendo como
principal representante:
• Tomás de Vio (1468-1534), dominicano, conhecido como cardeal Caetano.
• O primeiro a introduzir como texto base de teologia, ao invés das
tradicionais Sentenças, de Pedro Lombardo, a Summa Theologica de santo
Tomás (posteriormente referência tanto para os dominicanos como para os
jesuítas).
• A longo do século XVII, os comentários a Aristóteles foram substituídos
pelos "Cursus philosophici", amplamente inspirados no tomismo e
destinados a ter ampla difusão e repercussão.
• O florescimento mais notável da "segunda escolástica" ocorreu na Espanha.
• Representantes principais:
o Francisco de Vitória (1483-1546)
 Domenicano, lecionou em Paris e, de 1526 à sua morte em Salamnca.
 Obra principal: “Relectiones Teologicae”
 Sua contribuição mais importante é no campo do direito,
especialmente direito internacional do qual é considerado fundador.
• Francisco Suarez (1548-1617), chamado "Doctor eximius".
o Obras principais:
 Disputationes metaphysicae (1597)
 De legibus (1612).
o A ontologia de Suarez influenciou o pensamento moderno,
especialmente o de Wolff.
• A escolástica seguiu seu caminho nos seminários e nas faculdades
teológicas, paralelamente ao desenvolvimento do pensamento
moderno que enveredou por caminhos inteiramente diferentes,
em consequência da revolução científica.

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