Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PUC – SP
REDES DE (RE)CONHECIMENTO:
o impacto da introdução das novas tecnologias na gestão escolar
SÃO PAULO
2018
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC – SP
REDES DE (RE)CONHECIMENTO:
o impacto da introdução das novas tecnologias na gestão escolar
SÃO PAULO
2018
FICHA CATALOGRÁFICA
4. Nº de folhas: 201f
___________________________________________
___________________________________________
___________________________________________
___________________________________________
___________________________________________
Esta pesquisa contou com o apoio financeiro da CAPES e do CNPq. Processo
nº. 88887.148135/2017-00.
AGRADECIMENTOS
À minha família, pelo conforto afetivo nos momentos decisivos desta tese.
À Clarice Guedes Botelho e Fátima Bissoto, amigas de longa data que mesmo
distante marcaram importante presença na minha vida profissional e
acadêmica.
À minha mãe,
Palavras chaves:
Coordenador Pedagógico; Sistema de Gestão do Pedagógico; Gestão do
Conhecimento; Currículo; Rede Digital.
ABSTRACT
Key-words:
Pedagogical Coordinator; Pedagogical Management System; Knowledge
Management; Curriculum; Digital Network.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
Delineando caminhos: a tese, a escolha do tema e as perguntas que me
instigaram ......................................................................................................... 15
Os caminhos da pesquisa ................................................................................ 17
Meus maiores desafios: Por onde vou e o que vejo ......................................... 20
Profissão: Professora ....................................................................................... 22
CAPÍTULO I
1. METODOLOGIA........................................................................................... 29
1.1 As etapas da pesquisa,objeto e contexto de investigação ......................... 33
1.2 Era uma vez: o tempo das narrativas e os coordenadores pedagógicos....37
1.3 Fazeres da pesquisa ................................................................................ ..38
CAPÍTULO II
2. A HISTÓRIA E O TEMPO ............................................................................ 41
2.1. O tempo das tecnologias ........................................................................... 50
2.2. O tempo de pensar a escola e as tecnologias........................................... 55
CAPÍTULO III
3. ONTEM E HOJE: REATANDO LAÇOS E TECENDO NOVOS SABERES .. 64
3.1 Articulações entre redes e conhecimento................................................... 67
3.2 O sistema de gestão do pedagógico .......................................................... 75
3.3 Articulando profissão e gestão do conhecimento ....................................... 80
3.4 Construindo sujeitos: o lugar que eu ocupo ............................................... 87
CAPÍTULO IV
4. TEMPO E CONHECIMENTO ....................................................................... 91
4.1 A gestão do conhecimento ......................................................................... 97
4.2 O currículo e a construção do conhecimento ........................................... 102
4.3 Entre Bites e bytes ................................................................................... 107
CAPÍTULO V
5. ANÁLISE DE MUDANÇAS: narrativas em foco ......................................... 118
5.1 Articulações entre visões, significados e desejos..................................... 124
5.1.1EIXO 1: contando o que vejo.................................................................. 127
5.1.2 EIXO 2: o que o SGP promete, mas não cumpre.................................. 133
5.1.3 EIXO 3: articulando discursos sobre desejos ........................................ 143
5.2 Entrelaçando histórias .............................................................................. 150
LISTA DE FIGURAS
INTRODUÇÃO
Há um tempo
Há um tempo em que é preciso abandonar
as roupas usadas...
Que já têm a forma do nosso corpo...
E esquecer os nossos caminhos que nos
levam sempre aos
mesmos lugares...
É o tempo da travessia...
E se não ousarmos fazê-la...
Teremos ficado...para sempre ...
À margem de nós mesmos...
(Fernando Teixeira de Andrade)
Nesse processo, cada vez mais, fui sendo aprisionada pelo desafio da escrita,
do repertório, da explosão de palavras que não vinham, do compromisso e do
prazer de novas descobertas. Nascia, assim, uma nova consciência de que eu
não deveria me ater a algumas abordagens já vastamente exploradas, mas dar
ênfase àquilo que era central na minha investigação: a gestão do pedagógico.
Nessa busca por uma alternativa da não repetição do mesmo, de não ficar
atada a uma abordagem já saturada, voltei no “tempo” e entendi que ele me
15
Os caminhos da pesquisa
Quanto ao SGP, inserido nas escolas de São Paulo no ano de 2014, não houve
dificuldades em apresentar seu contexto de concepção e as inovações,
motivada pela ideia de qualidade fundada na noção de uma gestão digital.
Por outro lado, problemas também surgiram nessa fase de transição. Para
compreendê-los, era necessário estabelecer uma aproximação com os
docentes, por meio da qual lidar com a linguagem tecnológica implicava
apropriar-se de suas interfaces que abriam portas de comunicação para
múltiplos conteúdos em diferentes universos. Significava, inicialmente,
aprender a fazer uso e manejo instrumental daquele Sistema, criado
especificamente para as escolas do município de São Paulo e que inspirava
desconfiança, gerando críticas e resistências. Implicava em rever e alterar
formas consolidadas de atuar, de desenvolver novas capacidades para lidar
com os mecanismos digitais que têm uma “complexidade maior”,
principalmente para aqueles que nasceram em uma geração anterior à Era da
informação.
Procurei, então, dialogar com autores que me dessem suporte teórico para o
caminho a ser percorrido ao longo da pesquisa. Nesse processo, meu olhar e
experiência pareceram-me fundamentais, visto que me situava nesse contexto
20
Nas escolhas teóricas, tive que enfrentar diversos conflitos: como e quem
escolher? Como definir um caminho com tantas possibilidades? Por onde
começar com tantos lugares, olhares, teorias e autores? Todo esse percurso foi
muito desafiador, o que me levou, em inúmeras vezes, a me perder, mas,
também, a lutar para continuar a procurar e a me reencontrar, por meio de
buscas, reflexões, experimentações e, até mesmo, de oportunidades de ser
conduzida para experiências que não as minhas.
Profissão: professora
Alguém disse, em algum lugar que li, que quando se é marinheiro é impossível
não se pensar em água. Foi o que aconteceu comigo: as crianças e a
aprendizagem são consequências das minhas escolhas, e assim tornei-me
professora. Desde que me formei no magistério, atuei como alfabetizadora e
cheguei a utilizar e articular caminhos próprios para conduzir os processos de
aprendizagem das crianças. Graduei-me em Estudos Sociais e,
posteriormente, em Ciências Sociais/Sociologia (USP) e em Pedagogia
(UNIBAN). Em seguida, cursei o mestrado em Ciências Sociais (PUCSP) e fiz
pós-graduação em Tecnologias na Educação (SENAC). Atualmente, sou
doutoranda do Programa de Educação e Currículo (PUCSP).
bairro de São Paulo. Por meio dela, tive a oportunidade de conhecer outras
formas de conceber a educação - basicamente aquelas que ainda se
fundamentam nas tradições e na garantia da identidade na língua como
patrimônio cultural.
Evidentemente que nada disso é por acaso, uma vez que acredito que o
aprendizado se dá em muitos e variáveis espaços e níveis. Ao estudar
conceitos que me são novos, eu me aproprio de novos elementos para pensar,
e isso é um eterno aprendizado, que me leva a ser continuamente desafiada e
a refletir sobre essa grande pluralidade que envolve o processo de ensino
aprendizagem.
Estrutura da tese
meios de vida, mas inaugura, nesse mesmo processo, uma nova relação entre
o Homem e a natureza do trabalho, interligada em uma mesma realidade
histórica da sociedade. Certamente, quando falamos de confronto entre o novo
e o velho como estruturas que entram em uma relação dialética para renascer
em outros moldes, temos como pressuposto abrir possibilidades de estudar
sociologicamente a introdução de um Sistema digital como extensão do
trabalho do coordenador pedagógico, as transformações do espaço e da forma
de operar. As observações e as trocas se revelaram fecundas do ponto de vista
do estudo, sobretudo como as coordenadoras se (re)conhecem nesse novo
modo de gestar o trabalho em rede. (Re)conhecer-se aqui implica olhar e ver o
já conhecido em uma nova roupagem, agora compartilhado, produzido
coletivamente, registrado e acessado por diferentes segmentos da Rede
Municipal de Educação.
CAPÍTULO I
1. Metodologia
Por meio da análise dos dados coletados, o pesquisador pode perceber como o
sujeito da pesquisa percebe o mundo e quais são suas concepções sobre ele.
Entretanto, antes de realizá-la, é necessário que ele procure utilizar uma
entrevista bem elaborada e deixar claro para o entrevistado o motivo de tal
pesquisa ser conduzida, assim como que, no decorrer da entrevista, procure
32
observar bem o entrevistado e ter uma boa comunicação com ele. Nesse
sentido, Bogdan e Biklen (1994) apontam que
Foi assim que a pesquisa foi buscar formas para conferir visibilidade ao
trabalho do coordenador, nesse entrelaçamento entre o gestor e o SGP(dados,
informações em rede digital). Se na esfera empresarial o gestor deve fazer com
que cada sujeito aprenda e compartilhe o que se apropriou, fazendo circular o
conhecimento produzido de forma que haja um movimento de completude e
organicidade e crescimento de todos, no universo escolar ser gestor pressupõe
garantir que os saberes cheguem até os alunos, e que estes se tornem
capazes de, por meio da apropriação, construir a sua trajetória como cidadão
pleno.
A pesquisa norteou-se por esse movimento inovador, que tem em seu bojo a
vida escolar, o currículo, o planejamento, os resultados que podem ser
analisados sobre pontos de vista da aprendizagem. A temática ensino
aprendizagem entra em cena, quer como conteúdo específico ou como
estratégia de prática educativa e, assim, ganha espaço no processo de
formação em trabalho.
Para Oliveira e Paiva (1979), a pesquisa narrativa mais utilizada é aquela que
ocorre por meio da coleta de histórias sobre um tema em que o investigador
encontra as informações que o leva a compreender determinados fenômenos.
As informações, ou o relato das histórias, podem ser adquiridas por meio de
entrevistas, diários, autobiografias, gravação de narrativas orais, narrativas
escritas e notas de campo.
Segundo Todorov, citado por Oliveira e Paiva (1979), a narrativa ideal é aquela
que tem um percurso estável, mas este é perturbado por uma força. Surge,
então, “[…] um desequilíbrio; uma força, que age em sentido inverso”. O
equilíbrio é restabelecido e se aproxima do anterior, mas nunca são idênticos.
“Essas mudanças e esses novos equilíbrios sempre são diferentes dos estados
iniciais” (p. 138), e isso pode de ser observado em diferentes e variados artigos
que mostram essas instabilidades.
Portanto, nossa seleção para a entrevista não ocorreu apenas no que diz
respeito aos coordenadores mais antigos da rede, mas também aos mais
novos, pois consideramos que as diferentes vivências e práticas, incluindo as
relações dos coordenadores pedagógicos com as TIC, poderiam ampliar o
entendimento que buscávamos no escopo desta pesquisa.
O tratamento dos dados foi realizado por meio de gravações das entrevistas,
que foram posteriormente transcritas. Nelas, realizamos vários recortes para a
construção de eixos de análise.
41
CAPÍTULO II
2. A HISTÓRIA E O TEMPO
Cada uma dessas épocas tem uma especificidade, cultura e conhecimento que
contribuem com outras culturas em um processo de evolução a partir do já
conhecido. O efeito do tempo sobre o homem vem daquilo que se chama de
sua natureza social, as inter-relações com outros homens, a troca de
experiências, sempre renovadas pelas gerações que sucedem as anteriores,
garantindo o patrimônio cultural da humanidade. A leitura do tempo não é
única, e suas abordagens distinguem-se em função de contextos, posições
teóricas e interesses dos autores. Nesta pesquisa, a atenção está voltada para
a contribuição dos olhares sobre o tempo como aquele que, por meio de
práticas sociais, culturas e processo de evolução das técnicas, estrutura vidas
e a existência no mundo. Para Elias (1988),
Em seu livro “Sobre o Tempo”, Norbert Elias (1988) articula a relação com os
homens como algo não percebido, sentido, tangível. Ele é algo que se vê como
efeito nas diferentes dimensões estruturais da sociedade, mas não a partir de
uma reflexão. A utilização do tempo garantia a sobrevivência nas sociedades
primitivas, sendo fundado nas recorrências dos fenômenos físicos e naturais
como forma de suprir as demandas das coletividades. “O tempo servia aos
homens, essencialmente, como meio de orientação no universo social e como
modo de regulação de sua coexistência” (ELIAS, 1988, p.8).
A escola surge nesse período, segundo Saviani (1997), como uma alternativa
de instrumento para a difusão de instrução, a transmissão de conhecimentos
acumulados pela humanidade, uma possível aliada para o problema da
marginalidade. Esse pensamento de escola como “direito” teve início na
Revolução Francesa, momento em que a burguesia conquista o poder. A
marginalização social que o homem é colocado justifica-se pela ignorância.
Então, a escola é considerada como uma instituição que apresenta condições
de transformar esse homem.
O espaço deixa de ser a referência. Ele é substituído pelo tempo, que passa a
ser o da dominação do espaço. Ganha luz o instantâneo, o imprevisível,
trazendo consigo inseguranças e incertezas. A dominação do tempo, agora
encerrado nas tecnologias, também tira a liberdade, cria novas amarras,
aprisiona, limita, controla, mas também traz a possibilidade de mudar, de
recomeçar. O poder do tempo instaura o líquido, e este tem justamente a
capacidade de poder se “liquefazer”, ou seja, de ser livre e de fazer escolhas,
de ocupar mais e diferentes espaços, movimentando-se nesse vasto universo.
Contudo, nem o tempo nem o espaço desmobilizam o capitalismo: agora, na
modernidade leve, ele consiste em manter a mão de obra longe dos espaços
onde a era do software não mais prende (BAUMAN, 2001).
Isso posto, cabe expormos algumas considerações sobre o que se segue e que
constituem a matéria central desta tese. A existência das sociedades em todos
os tempos tinha como pressuposto uma sobrevivência à base de buscar no
meio físico os recursos para suprir suas necessidades. Essas necessidades
vão se aprimorando gradualmente, e elas são aquilo que impulsionam as
configurações do grupo, pois, em algum momento, deixam de serem apenas
necessidades naturais e passam a ser também necessidades sociais. Seria
impossível tratar de educação e tecnologias sem falar desse processo evolutivo
das sociedades, mesmo que de forma breve ou modesta, visto que é pelas
necessidades renovadas, multiplicadas, ampliadas, globalizadas que estamos
hoje frente aos recursos renovados. Eles existem porque os sujeitos precisam
deles para viver, e ninguém melhor do que Castells e Levy para apresentar
alguns conceitos e usos das tecnologias no mundo contemporâneo, conforme
veremos a seguir.
A reflexão sobre tempo e espaço que ancora este estudo é da articulação que
ressignifica elementos constitutivos da educação, em uma combinação de
traços que as escolas conservaram e características de uma sociedade da
informação, marcada pela conectividade como expressão do mundo capitalista
e globalizado. O que se segue é um breve relato da passagem histórica em
que se inscrevem as tecnologias na sociedade e, consequentemente, na
educação. Alguns olhares sobre esse processo de transição foram
considerados para que se possa compreender e contextualizar melhor o
período de atuação dos coordenadores pedagógicos e, assim, ir inserindo as
discussões naquilo que é o objeto desta pesquisa.
Segundo Tedesco (2015), durante meados do século XIX e XX, a educação foi
basicamente política, em um sentido social. Os cidadãos tinham uma formação
educacional homogênea, e a elite tinha acesso a uma educação de nível
superior que formava os dirigentes. A educação esteve nesse contexto
comprometida com a formação dos recursos humanos que visavam ao
desenvolvimento econômico e social. Numa perspectiva de futuro, sublinha que
a educação deverá estar voltada para a construção de sociedades mais justas,
sustentadas por dois pilares: “Em termos sociais e políticos, aprender a viver
junto; e em termos cognitivos, aprender a aprender” (DELORS, 1996 apud
TEDESCO, 2015, p. 30). Faz uma síntese a partir desses dois pilares,
57
O autor indica preocupação com essa mídia dominante por entender que ela
cria contradições na vida do cidadão ao reduzir problemas complexos a “[...]
modalidades de infoentretenimento”. Por meio de Castells (1999, p. 38),
sintetiza essa reflexão: “Não há tempo nem formato para nada na política
midiática; é uma questão de obter pontos.” Sua argumentação vem no sentido
de que os fenômenos sociais presentes no mundo contemporâneo - como “[...]
a proteção do meio ambiente, as consequências de manipulação genética, a
distribuição da água potável, a administração da saúde pública e as instituições
políticas globais” (ibidem, p. 32) - não podem ser relegados ao segundo plano e
que a compreensão desse quadro passa pelo entendimento de que há uma
complexidade que precisa ser compreendida nos seus meandros e que não
pode ser neutra diante dos valores éticos.
Vários autores têm ratificado o lugar das tecnologias na educação, bem como
sua contribuição como instrumento de articulação entre informação e
conhecimento. Nessa perspectiva, conforme aponta Tedesco (2002), o papel
da escola, nesse mundo de circulação intensa de informações por meio de
tecnologias, “[...] deve ser definido pela sua capacidade de preparar para o uso
consciente, crítico, ativo dos aparatos que acumulam a informação e o
conhecimento” (p.27). A escola é a instituição por excelência de produção e
circulação de conhecimento, e a chegada da Internet está trazendo novos
desafios tecnológicos e pedagógicos para a docência e processo de ensino
aprendizagem. Entretanto, concordando com Moran, Masetto e Behrens (2003,
59
p.12), “As tecnologias sozinhas não mudam a escola, mas trazem mil
possibilidades de apoio ao professor e de interação com e entre os alunos.”
Pérez Gomes (2015), por sua vez, observa que a inserção das tecnologias na
vida moderna e, consequentemente, nas instituições educacionais incorre em
algumas questões, que abrangem desde um processo de apropriação e uso
dos equipamentos até uma mudança na realização das ações cotidianas do
trabalho. Estabelece um campo de relação do desenvolvimento entre épocas
diversas da sociedade, explicando como esses modos de comunicação
mudaram o cenário social da vida no fim do segundo milênio, da Era cristã até
os nossos dias. Apresenta uma síntese do desenvolvimento da humanidade
que possibilita dimensionar o impacto desse fenômeno na sociedade
contemporânea:
O autor salienta que uma nova estrutura social está se constituindo sobre a
plataforma das redes e, com ela, está sendo composta uma nova sociabilidade
por meio da informação. Para ser parte dessa nova estrutura, entretanto, é
necessário apropriar-se de sua linguagem, passar por uma nova alfabetização,
agora de domínio das telas, não somente para seu uso mecânico, mas também
para fazer parte do mundo e compreender a sua natureza “intrincada e
conectada”. Há no ciberespaço informações valiosas, mas também lixo.
Portanto, os aprendizes precisam aprender a lidar com uma grande gama de
informações e riscos, precisam aprender a selecionar essas informações, a
filtrá-las.
CAPÍTULO III
Não é extraordinário pensar que dos três tempos em que dividimos o tempo
- o passado, o presente e o futuro -, o mais difícil, o mais apreensível, seja
o presente? O presente é tão incompreensível como o ponto, pois, se o
imaginarmos em extensão, não existe; temos que imaginar que o presente
aparente viria a ser um pouco o passado e um pouco o futuro. Ou seja,
sentimos a passagem do tempo. Quando me refiro à passagem do tempo,
falo de uma coisa que todos nós sentimos. Se falo do presente, pelo
contrário, estarei falando de uma entidade abstracta. O presente não é um
dado imediato da consciência. Sentimo-nos deslizar pelo tempo, isto é,
podemos pensar que passamos do futuro para o passado, ou do passado
para o futuro, mas não há um momento em que possamos dizer ao tempo:
«Detém-te! És tão belo...!», como dizia Goethe. O presente não se detém.
Não poderíamos imaginar um presente puro; seria nulo. O presente contém
sempre uma partícula de passado e uma partícula de futuro, e parece que
isso é necessário ao tempo.(Jorge Luís Borges, in “Ensaio: O Tempo”)
(1954)
A importância de Freire nesta tese está em como ele simboliza uma mudança
educativa, entendendo que o tempo histórico é o “tempo vivido”. Para ele, o
mundo movimenta-se e reorganiza-se em uma relação dialética com a
existência material de onde surgem as ideias, e são estas, senão outras, que
podem “[…] intervir no mundo que as gera” (FREIRE, 2001,p.73).
65
Como significados principais do termo mudança, ou de dar uma cara nova para
a escola, Freire (2001) apresenta um uso articulado de educação, de política
educativa, na gestão das escolas do município de São Paulo. Primeiro, ressalta
que, de acordo com os objetivos que se propõe, “[…] não se permite que ela
seja neutra, mas política sempre”. Nesse ângulo, algumas posições são
marcadas. Dentre elas, a de que Freire chama de politicidade da educação,
isto é, a qualidade de a educação ter de ser política. Argumenta que “[…] a
própria compreensão do que é ensinar, do que é aprender e do que é conhecer
tem conotações, métodos e fins […]” diferentes. “Numa concepção
progressista, não pode minimizar, desprezar o saber de experiência feito” que
os estudantes trazem para a escola. Nessa linha, o autor produziu toda uma
concepção, segundo a qual, “[…] para o educador progressista coerente, o
necessário ensino dos conteúdos estará sempre associadoa uma leitura crítica
da realidade” (FREIRE, 2001, p.29).
Em Freire (2001), não existe apenas uma pedagogia geral, mas uma
perspectiva que se propõe a transformar os oprimidos, por meio de uma prática
educativa que atenda às necessidades de classe. Essa pedagogia é pautada
em relações que educador e educando colocam-se em uma relação horizontal,
constituindo-se em uma apropriação do conhecimento de ambos, em uma
mediação reflexiva com o oprimido, e não para ele. Esse foi um movimento
metodológico que deveria instigar uma consciência crítica por meio de uma
articulação política organizativa nas escolas. Freire (2013), em sua obra
“Extensão ou Comunicação”, aponta que é fundamental articular uma relação
dialógica entre os sujeitos e o contexto em que vivem professores e alunos,
como aprendentes e como construtores do currículo, aqui entendido como um
conhecimento significativo.
Para Freire, citado por Sevalho (2018, p.184), na realização humana do ser
histórico-social, o passado, o presente e o futuro “[…] não são departamentos
estanques. Sua história, em função de suas mesmas criações, vai se
desenvolvendo em permanente devenir, em que se concretizam suas unidades
epocais” (SEVALHO, 2018,p. 108). Essas se caracterizam “[…] pelo conjunto
de ideias, de concepções, esperanças, dúvidas, valores, desafios, em interação
dialética com seus contrários, buscando plenitude” (ibidem. 109). De tal forma,
o ontem, o hoje e o amanhã “[…] não são como se fossem seções fechadas e
intercomunicáveis do tempo, que ficassem petrificadas e nas quais
estivéssemos ‘enclausurados’ […]” (idem, pp. 108-109), pois, assim sendo,
“[…] desapareceria uma condição fundamental da história: sua continuidade”
(idem, p. 109). Pensada como projeto de construção de uma sociedade mais
justa, a escola passa a ser vislumbrada como campo dialético e de lutas de
classe.
Parsons (2002, p.2) tinha muito interesse em determinar “[…] a função que os
indivíduos desempenhavam na estrutura social com vistas à excelência das
coisas”. Em sua visão, “Essa inter-relação entre os subsistemas é que dá
estabilidade e ordem social”, a partir do pressuposto que “Um sistema deve se
adaptar a um ambiente, atingir seus objetivos, integrar seus componentes e
manter seu modelo latente.”
Em síntese, podemos dizer que essa rede que conecta o SGP é composta de
subsistemas ou estruturas. O que organiza e movimenta essa engrenagem são
as interconexões e interdependência entre os subsistemas de cooperação, de
planejamento e de ações próprias a cada sistema de ensino, já dadas pela
Secretaria Municipal de Educação (SME) no Programa Mais Educação São
Paulo (2014). Desse modo, a organização do SGP constitui-se em definição
comum com os sistemas, tendo cada um sua própria competência e estratégias
de ação para efetivar os objetivos da SME de São Paulo.
Parsons (1951, p. 4) entende que um sistema “[…] pode ser composto por
diversos sub-sistemas para facilitar seu entendimento e gerenciamento”, sendo
o subsistema entendido como “[…] um sistema menor, que possui seus
próprios elementos e fazem parte de um sistema maior”. É preciso discriminar
que a estrutura do Sistema dentro das escolas é de uma visão micro, centrado
em suprir com dados e alimentar com informações pedagógicas os resultados
dessa Unidade escolar. Esboça uma estrutura que, inicialmente, não tem
nenhum tipo de contato com outras escolas, pois o objetivo é analisar e estudar
os problemas da Unidade específica na medida em que eles surgem,
apoiando-se na realidade tangível das comunidades e dos problemas que
delas emergem. Nessa perspectiva, cada Unidade Escolar é um subsistema
quando pensado nos elementos que a fazem funcionar, ou seja, os alunos,
professores, coordenadores e diretores.
Fonte: Programa Mais Educação São Paulo - Subsídios Para Implantação (jan./2014).
Fonte: Programa Mais Educação São Paulo - Subsídios Para Implantação (jan./2014).
74
Fonte: Programa Mais Educação São Paulo - Subsídios Para Implantação (jan./2014).
75
O ano de 2013 foi um ano histórico para a Rede Municipal de Ensino de São
Paulo por ter ocorrido a implantação e a implementação da Reorganização
Curricular e Administrativa, Ampliação e Fortalecimento da Rede Municipal de
Ensino, com o Programa Mais Educação São Paulo. Com o referido Programa,
a educação da Rede Municipal de Ensino de São Paulo passou por uma
reorganização curricular, em uma proposta ousada que incidia não apenas
sobre o currículo, mas também sobre toda a Unidade Escolar e seus agentes.
Esse Sistema, criado como recurso tecnológico, foi concebido para otimizar a
escrituração e a documentação pedagógica. Foi organizado de forma a abarcar
a parte burocrática dos registros, mas também para avançar no sentido de ter
potencialidades de fazer migrar dados e informações. Conforme consta no
SGP (2014),
78
Regimento Escolar.
Fonte: Programa Mais Educação São Paulo - Subsídios Para Implantação (jan./2014).
Em uma cidade como São Paulo, que tem como particularidade uma grande
rotatividade de seus profissionais na área educacional da Rede Municipal de
Ensino, essa questão torna-se ainda mais significativa. Com o sistema digital,
as informações relativas ao conhecimento produzido nas Unidades Escolares e
o desempenho dos alunos podem ser acessados tanto quanto o currículo
trabalhado. Teoricamente, esses campos são demarcados por gêneros
literários, recorte das diferentes ciências, percurso escolar do aluno,
planejamentos, entre outros, mas como o Programa Mais Educação São Paulo
dá autonomia de se criar um currículo para as diferentes realidades, pensadas
em seu contexto e nas comunidades onde estão inseridas, essas informações
80
Nessa perspectiva, Paro (2015) faz uso da racionalidade como propulsora das
ações humanas, pois é essa habilidade que permite que o homem seja um ser
que cria, elabora e projeta seus objetivos e seu alcance. Explica que,
historicamente, as habilidades humanas é que transformaram a natureza e,
com isso, inseriram o homem no mundo do trabalho, colocando-o como sujeito
de suas ações e vontades. Salienta a importância da ação administrativa
mediadora, precisamente porque ela ajuda o trabalho a se desenvolver da
melhor forma, uma vez que “[...] todo trabalho pressupõe um componente
administrativo como mediadora na realização de trabalho” (PARO, 2015,p.29).
Apresenta dois grupos interdependentes de recursos: os objetivos (materiais ou
não) e os subjetivos, que se referem às capacidades de trabalho ou à força de
trabalho dos sujeitos que fazem uso desses recursos. Aponta a coordenação
no uso racional dos recursos subjetivos. Explica que
Isso pode ser visto, segundo o autor, nas formas como a pedagogia se
apresenta disseminada na sociedade, no cotidiano, compartilhando o espaço
educativo pelos meios de comunicação, pelas ações políticas, na criação e
elaboração de jogos, entre outros. Essas vertentes têm em comum o
entendimento de que não há separação entre a educação e o social. A
formação em diferentes âmbitos está fundada em ofertar requisitos para o
enfrentamento da intelectualização do processo produtivo.
Sublinha que o pedagogo deve criar um compromisso com a razão crítica para
a construção da autonomia, entendida como a ideia de autodeterminação,
racionalidade e liberdade intelectual, que não é construída individualmente,
mas adquirida na cultura, em conhecimentos, na ação e na prática educativa
para todos. Uma escola de qualidade tem implícito uma educação voltada para
a formação cidadã, que oferece conhecimentos significativos capaz de
contribuir para a inserção dos sujeitos no mundo do trabalho, em uma
85
Em 2010 e 2011, foi realizada uma pesquisa pela fundação Victor Civita,
intitulada “Coordenador Pedagógico e a formação dos professores: Intenções,
tensões, e contradições”, cuja coordenação geral estava sob a
responsabilidade de Almeida, Placco e Souza. Tinha como objetivo conhecer a
atuação dos coordenadores pedagógicos no Brasil. Propunha-se a delinear os
papéis desses profissionais, identificando quem são, o que fazem, como
atuam, assim como apontar sua importância dentro das Unidades
Educacionais. Essa pesquisa forneceu lnformações relevantes sobre o tema
que têm contribuído com os pesquisadores da área, apesar de ainda ser pouco
investigada.
Tardif (2005), por seu turno, considera que trabalhar não é exclusivamente
transformar um objeto ou situação em outra coisa, mas também transformar-se
em e pelo trabalho.
CAPÍTULO IV
4.TEMPO E CONHECIMENTO
efeito para cada momento histórico uma técnica, uma inovação, uma
exploração de recursos mediante um conhecimento adquirido que eleva a
outros níveis as formas de viver em sociedade. Além disso, esse conhecimento
passa a ser um divisor de águas, abrangendo as organizações, as instituições
e as políticas sociais, em uma sociedade renovada que passa por fusões e
ajustamentos entre o velho e o novo.
Para Vygotsky (1991b, p. 64), as atividades dos indivíduos não estão divididas
em dois polos. Há entre o objeto e a ação outro ponto que os interligam:
ferramentas, instrumentos socialmente construídos, que trazem em seu bojo as
experiências e o conhecimento de outros tempos/gerações. Esses são os
mediadores, os instrumentos que interferem nos comportamentos, que
modificam e dão uma nova percepção das situações em que ocorrem. Além de
mediar as atividades humanas, esses instrumentos também as representam e
as materializam. A grosso modo, as atividades não estão presentes apenas no
momento da execução, mas subsistem nos instrumentos que levaram à ação.
Nessa perspectiva, quanto mais eficazes esses instrumentos, maior a
transformação nas atividades humanas a eles relacionados e,
consequentemente, maior a transformação no comportamento dos indivíduos.
94
O instrumento a que se refere Vygotsky (1991b, pp. 51-52) carrega duas faces:
uma, construída materialmente, um objeto concreto; e outra, os esquemas
mentais. Os funcionamentos dessas duas faces ocorrem quando os
instrumentos são apropriados pelos sujeitos, ou seja, quando ocorrem os
esquemas de sua utilização. Esses esquemas é que fazem os indivíduos
perceberem o mundo sob algumas perspectivas, guiando e controlando os
desdobramentos das ações, sintetizando, apropriando-se de um instrumento à
medida que adquire novos conhecimentos sobre o mundo e novas
possibilidades de nele atuar.
Pérez Gomes (2015) relata que, no âmbito teórico sociocultural construído por
Vygotsky, o contexto e as relações são fundamentais no processo de
aprendizagem. Portanto, não se pode chegar à natureza de seus esquemas e
interpretação sem que haja conhecimento de sua estrutura. Assim, “[…] o
mesmo ambiente ou contexto que cerca, condiciona, estimula e limita cada
indivíduo é de certa forma, constituído e recriado, em vez de dado ou
preestabelecido”. Acionamos nossos estímulos e fazemos nossas escolhas;
“Somos o resultado de uma história específica de interações e de um modo
construído de organização destas” (p.49).
Sveiby (1998, p. 35) considera que “Para gerenciar e avaliar ativos intangíveis
é preciso ter competência e, para isso, é necessário haver clareza do que é o
conhecimento”. Sugere que o termo epistemologia define o que é a teoria do
conhecimento, mas que há outras significações em português e que seu
sentido pode ser definido no contexto de utilização. Sublinha que o
conhecimento prático é importante, mas existem barreiras para expressá-lo
com palavras, haja vista ser grande parte deste um conhecimento tácito. Cita o
exemplo de como andar de bicicleta, e as dificuldades existentes ao se tentar
transmitir isso oralmente. Insere o conceito de conhecimento tácito inspirado
em Michael Polanyi (1958, p. 55) e sua teoria do desenvolvimento tácito por
entender que essas se aproximavam das condições de trabalho no mundo
atual. Ressalta ainda que, para Polanyi, não existe conhecimento, certeza
absoluta, e que o conhecimento, embora pessoal, é construído socialmente.
Explica que
Sveiby (1998) observa que todas as atividades são balizadas por duas
dimensões de conhecimento: o “conhecimento de foco”, que é aquele em
relação ao objeto ou fenômeno focalizado; e o “conhecimento tácito”, utilizado
como uma ferramenta para lidar com o que está sendo focalizado. Apresenta o
caminho da construção do conhecimento, que tem início com habilidades
desenvolvidas no decorrer da vida, que passam pelas nossas percepções
sensoriais e que vão sendo aprimoradas e substituídas por novas, em uma
dinâmica do conhecimento refletida em verbos como “aprender, esquecer,
lembrar e compreender” (SVEIBY, 1998, p.37), assim como por regras que se
organizam de modo inconsciente e que são resultado da prática, da ação.
Habilidade Esta arte de “saber fazer” envolve uma proficiência prática, física e
mental, sendo adquirida, sobretudo, por treinamento e prática. Inclui o
conhecimento de regras de procedimento e habilidades de
comunicação.
Julgamentos de São percepções do que o indivíduo acredita estar certo. Agem como
valor filtros conscientes e inconscientes para o processo de saber de cada
indivíduo.
Rede social É formada pelas relações do indivíduo com outros seres humanos,
dentro de um ambiente e cultura transmitidos pela tradição.
Fonte: A nova riqueza das organizações (SVEIBY, 1998, p. 42).
100
A informação tem seu significado e pode ser entendida como “[...] material
direto, matéria-prima que compõe o conhecimento”. Nesse ângulo, o
conhecimento passa pela produção da informação. Por conseguinte, “[...]
disponibilizar informação é promover a geração de conhecimento” (XAVIER;
DA COSTA, 2010, p. 80).
vai se organizar para isto). Quanto à segunda, não coincide com a proposta
curricular, mas é “[…] uma proposta mais abrangente de vitae curriculum, curso
de vida, trajetória do educando (e do educador) diferente de curriculum vitae,
que é comumente conhecido como documento resenha da vida profissional”.
(VASCONCELLOS, 2009, p. 27)
Silva (2007), por seu turno, argumenta que não se pode mais olhar com
ingenuidade para os currículos, principalmente depois que as teorias críticas e
pós-criticas vieram para imprimir novos sentidos em suas concepções: “As
teorias críticas nos ensinaram que é através da formação da consciência que o
currículo contribui para reproduzir a estrutura da sociedade capitalista” (p. 148).
Considera que as teorias pós-críticas ampliaram e modificaram algumas
perspectivas das teorias críticas, reafirmando que o currículo só pode ser
compreendido a partir das relações de poder, que não está apenas
105
De acordo com Whitehead (2015), citado por Pérez Gomez (2015), os fatos e
os dados correspondem ao processo inicial que, em si, não têm significado,
não representam conhecimento. Pérez Gomez considera que,
Semeens (2005), citado por Pérez Gomez (2015, p.50), apresenta reflexões
sobre o conectivismo. Argumenta que aprender envolve “[…] a construção
pessoal de conexões e em âmbito global, mutável, fluído e ilimitado de
conexões pessoais e ou virtuais”. A partir desse argumento, salientamos que a
conectividade enfatiza outras formas de aprendizagem, não sendo mais esta
individual e isolada, mas por um projeto compartilhado com os grupos do seu
entorno, ligados por interesses epreocupações.
De acordo com Siemens (2005), o conhecimento que deve ser usado pelos
cidadãos para “[...] compreender e atuar nos complexos cenários
contemporâneos já não se encontra apenas nem principalmente nas mentes
individuais, mas fundamentalmente distribuídas em redes físicas e virtuais,
externas ao próprio indivíduo” (p. 51).
Basicamente, o que tínhamos antes do SGP era uma ação pedagógica que
recorria à reprodução de textos, metodologias, formação, a fim de levar
conteúdos para qualificar melhor o trabalho docente e integrarem uma visão
científica os aspectos do conhecimento, limitando-se à interpretação de
algumas dificuldades presentes no processo de ensino aprendizagem.
Não é por acaso que o foco nas reformas educacionais nos últimos tempos
está na carreira docente, na revalorização e importância do seu papel. Podem
ser criadas novas políticas para o enfrentamento de desafios tradicionalmente
conhecidos, apresentando-se como possibilidades de redimensionar os
resultados qualitativos da educação, desde que se faça uso adequado dos
instrumentais existentes.Para Vasconcellos, isso requer
CAPÍTULO V
A escola que sobreviveu até agora, afeita às mudanças sociais, vê-se incapaz
de resistir à expansão da conectividade. Incorporá-la implica em acenar que se
faz parte do mundo, mas sabe-se que esse processo repercute profundamente
em toda a estrutura escolar tradicional por excelência, da qual os
coordenadores pedagógicos fazem parte.
Santomé, citado por Giddens (2000, p.31), salienta que não se pode ignorar
que grande parte das escolas que funcionam há muito tempo tornaram-se
naquilo que Giddens chama de conchas, ou seja, “[…] instituições que se
tornaram inadequadas para as tarefas que deveriam cumprir”. São
organizações que continuam a existir na aparência, mas que no seu interior
são muitos os conflitos e grandes as crises devido a um movimento no mundo
que alterou a dinâmica da sociedade e suas organizações em todos os
âmbitos. “A concha exterior” não expressa às carências internas dessas
instituições, as tensões e os conflitos decorrentes de uma inadequação entre
seus “[…] fins e tarefas para as quais foram criadas” e o que se espera delas
no contexto atual (GIDDENS, 2000, p.183).
As análises que se seguem vão constituindo, por meio das palavras, das
enunciações de cada entrevistado, o panorama do universo da pesquisa,
considerando que, como bem sublinhado por Larrosa Bondía (2002, p. 20),“[...]
122
também tem a ver com as palavras o modo como nos colocamos diante de nós
mesmos, diante dos outros e diante do mundo em que vivemos”.
Por meio desses recortes, pode ser visualizada uma parte das operações que
devem pautar a gestão em rede digital. Nesses excertos, é possível que cada
leitor experimente um pouco o que se vislumbra nessa política educativa,
recompondo sob sua ótica as mudanças em curso.
Excerto 1
3
PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO SÃO PAULO - SUBSÍDIOS PARA IMPLANTAÇÃO (Janeiro/
2014). Disponível em: http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Files/7104.
123
Excerto 2
O SGP prevê o registro sistemático pelos professores do planejamento
bimestral e anual; plano de aula, frequência, atividades desenvolvidas;
notas/conceitos; anotações sobre os alunos, compensação de ausências,
dentre outras possibilidades. Esse registro e sua recuperação podem ser
realizados em computadores conectados à Internet ou pelos tablets disponíveis
nas escolas. Após o registro sistemático, as informações são consolidadas e
podem ser acessadas e analisadas pelos professores, gestores escolares,
DREs e SME, na forma de relatórios, gráficos, planilhas ou tarjeta, que
sintetizam a trajetória dos alunos, turmas, anos ou ciclos, escolas ou grupos de
escolas, contribuindo com ferramentas para a gestão dinâmica do processo de
ensino aprendizagem. Gerar informações não implica no não reconhecimento
da diversidade da rede, mas amplia e estende o olhar às unidades
educacionais individualmente e no coletivo, identificando suas qualidades,
diagnosticando suas demandas e conferindo sentido às políticas públicas em
prol da qualidade social da educação(2014, p.19).
Excerto 3
124
Uma travessia não se faz só. Como assinalam vários estudiosos, a realidade é
diversa e ela sofre influência de vários fatores, abrangendo desde contexto até
subjetividades e significações, elementos estes que, se combinados,
125
Ana Maria (todos a seguir serão nomes fictícios de coordenadores). Desde o início, havia uma forte
resistência quanto ao uso da tecnologia e da visibilidade, da publicidade que isso iria trazer, de
tornar público os registros. O decreto trazia a reorganização em três ciclos do Ensino
Fundamental, e nós estávamos fazendo assessoria no que era antes Fundamental I e
Fundamental II. Algumas pessoas gostaram, mas a grande maioria (virou pauta de greve)
falou que não servia. Gerou uma esquizofrenia, porque tinha um decreto que implantava um
currículo organizado em três ciclos, enquanto tínhamos um sistema organizado em dois
ciclos.Logo no início, vimos que o sistema não tinha capacidade para o número de acessos. O
primeiro conselho foi catastrófico: tudo o que era digitado foi perdido e as pessoas ficaram
desconfiadas. Perdeu-se a credibilidade nesse momento.[…] Acho que a empresa que
assumiu a implantação estimou um projeto menor e com menos problemas. Não contava que
teria problemas de estrutura, com computador, wifi.
Martha: Quando, no início, eu fui representando a coordenação para falar sobre o SGP em
SME, para falar com o pessoal do sistema - isso já tem uns anos -, eu não me senti bem
acolhida.Tive a impressão de que nós somos os burros e que temos que seguir as ordens.
Inverteram a ordem das coisas.
Hilda. Acho que abraçou coisas demais e que cada um usa o sistema de um jeito; não tem
padrão. O acesso é muito difícil; é uma ferramenta difícil de ser usada. No início tinha
capacitação, mas eles inventaram muitas coisas novas e, em momento algum, isso foi
atualizado para a rede. E tem gente que nem sabe o que tem no Sistema. Daí, mexe nele e
acaba descobrindo o que ele oferece.
Cecília. O processo de implantação poderia ser diferente, mais tranquilo, respeitoso, e não
como se fosse uma caça às bruxas: “Vamos jogar tudo fora, colocar tudo na fogueira, porque
agora é o SGP, ”Esse início foi infeliz. A maneira como o SGP chegou, na minha concepção,
não foi a melhor. Achei que foi um tanto arbitrária, sem uma participação efetiva, sem ouvir
uma parcela importante, que é os professores e a escola, as condições da escola.
Laura. O uso do SGP, você sabe, não é opcional. Atualmente, ele já está inserido na minha
rotina, mas demorei um pouco para aprender a fazer isso.Considero o acompanhamento que
faço nele bastante significativo, acho que ele otimizou o tempo para acompanhar o processo
ensino e aprendizagem
Alice. Eu uso o SGP desde o início e vejo todas as planilhas de modo geral. Vejo os
resultados de aproveitamento dos alunos e toda a parte sobre o ensino aprendizagem. Esta é
a parte que já está incorporada pelos coordenadores. Vejo planejamentos e lançamento de
notas, que importantes para o nosso trabalho, para nossa rotina
Cora. Eu tive uma formação em 2014 sobre o SGP, no momento da formação eu me lembro
que eu achei maravilhoso, achei que ia melhorar nossa vida. Só que as dificuldades foram
aparecendo. Eu não sei se é porque a gente não foi criado na era digital, ou se é dificuldade
de geração mesmo.
Vinícius. Eu não sei até que ponto os coordenadores conhecem o SGP. Acho que eles não
sabem como fazer o trabalho funcional. É necessário que tenha reuniões, formação, porque a
128
Rachel. Os gráficos me dão uma visão geral apenas para que eu possa fazer uma reunião
com os professores e ter um levantamento dos resultados. Os gráficos são bacanas porque
eles te mostram o aproveitamento por sala, por disciplina, por ciclo, e você os usa para fazer
uma reflexão, para uma conversa com os professores, e isso dura pouco tempo.
Beatriz. Eu entro sempre, quase todo dia, para verificar várias coisas. O Sistema está na
rotina, não só para checagem, mas também para eu extrair dados. Ele facilitou muito pra
129
Cora. Faço uso do SGP para acessar os boletins, verificar a freqüência. Estou começando
agora a entender o processo de inserir os conteúdos. Os professores também não sabem
colocar o planejamento, estamos aprendendo juntos. Eu não faço uso de nada para reuniões.
Eu não gosto de usar tecnologias, pode ser falta de empatia.Todo ano eu prometo que vou
usar o SGP, mas fica só naquela promessa de inicio de ano
Ana Maria. Gostei quando apresentei o gráfico com os dados consolidados, os dados
gerenciais, nas telas de lançamento, porque somos coordenadores e ele media a conversa pra
você qualificar a ação do professor.
Adélia. Eu abro, vejo e acompanho tudo pelo SGP. Eu uso todas as ferramentas e gosto
muito. E uso principalmente para ver o que os professores estão fazendo. É uma cobrança
muito grande, porque eles tem de lançar e cumprir prazos. Nós mostramos para os pais as
atividades avaliativas no semestre e todo o conteúdo trabalhado em sala de aula.
Martha.Uso o SGP todo dia, mas não gosto. Eu vou responder de forma bem sincera:
enquanto eu sentir saudades do diário, que eu acho muito ruim, isto significa que o Sistema
está pior do que o anterior, que era ruim.
Vinicius. Eu gosto do SGP, mas acho que ele precisa de reajustes. Embora seja uma
ferramenta potente, acho que ainda esbarra em questões que são elementares,como uma
rede que funciona bem, mas subutilizada.
Alice. Nele acompanho o desenvolvimento dos alunos, o planejamento dos professores, o que
está sendo desenvolvido na sala de aula, a frequência e os registros individuais de cada
aluno.
Hilda. Do ponto de vista instrucional, organizacional e estrutural, ele é perfeito. Eu acho que
foi facilitador do processo burocrático, de ata, de nota, de boletim, inclusive de instrumento de
adulteração que fica limitado.
Cecília. Eu utilizo os dados do sistema para redirecionar, repensar, para fazer uma
intervenção maior. Eu acho que o SGP ajuda e me dá essa visibilidade. A maneira como o
SGP chegou, na minha concepção, não foi a melhor. Achei que foi um pouco arbitraria, sem
uma participação efetiva, sem ouvir uma parcela importante, que é os professores e a escola,
as condições da escola.
Carolina. Eu diria que sei tudo que tem no SGP. Eu tenho dificuldades de utilizar as
tecnologias, por exemplo, se quero buscar a sondagem que os professores colocaram eu não
consigo visualizar, se eu tenho de buscar alguma coisa eu tenho de mexer muito.A minha
parte de aprendizagem com o SGP é um pouco demorada
Laura. Eu gosto do SGP e faço uso dele assim. Nele acompanho o desenvolvimento dos
alunos, o planejamento dos professores, o que esta sendo desenvolvido em sala de aula,a
freqüência e os registros individuais de cada aluno. Eu faço também rodos os registros de
atendimento aos pais e alunos e encaminhamentos. Acho que essas coisas fizeram diferença
pra mim
Narrativas 3. Um pé lá outro cá
Florbela. O SGP peca pela falta de eficiência da ferramenta. A escola é muito dinâmica; não
dá pra você ficar esperando uma semana pra imprimir o boletim. Não dá pra baixar o gráfico;
ele trava e some tudo.
Rachel. A ideia que eu tenho do SGP é que ele é obrigação, é mecânica, e não me dá retorno
de nada. As coisas precisam ter eficácia. Eu olhava os diários; eu preferia os diários. Hoje, o
professor tem um papel avulso. Ninguém consegue fazer o registro em tempo real, e acredito
que em todas as escolas isso acontece.Não tem como não acontecer: o acervo é no papel;
não tem como fazer o registro cotidiano no sistema.
Os professores continuam fazendo todos os registros no papel. É como se tivessem de novo o
diário de classe. Eles têm todos os registros - como notas, chamada, inclusive o registro de
aula – no papel.
Clarice. Quando eu atuava com os diários, eu tinha como comparar os resultados. Como
professora, eu anotava tudo no diário, o aluno assinava meus relatórios sobre ele. Eu não
sinto essa proximidade de professor e aluno no SGP. Talvez eu seja saudosista: no papel, eu
tenho a impressão de ter mais proximidade - é a mesma coisa como uma carta e um e-mail.
Pode ser um problema de geração, mas, ao mesmo tempo, percebo que tenho a visão de uma
sala na minha frente e não de um aluno.
Até acho que o acervo de papel se perde, mas se for para criar memória é preciso pensar que
a história da escola não pode ser escrita apenas com os diários do professor.Isso é muito
pouco.Se você pensar que na secretaria nada está informatizado: os históricos, os
prontuários, a documentação, tudo ainda está no manual.
Adélia. Eu faço uso do SGP, mas nós ainda não nos libertamos do papel. Mas, veja bem,
nesse momento, nossa escola está sem wifi, porque está havendo uma transição. Os tablets
que nós tínhamos ficaram obsoletos, não funcionam mais, e o problema de acesso das
máquinas... Se chegar algum pai de aluno e não tem uma máquina disponível para acessar o
SGP, então nós, coordenadores, temos as fichas dos alunos com todas as anotações. Então,
131
se você não consegue acessar o SGP por qualquer motivo, a ficha está ali.
Imprimimos as fichas do próprio SGP da chamada e avaliação. Os professores são resistentes
em fazer, mas pra ter o controle da chamada e da avaliação precisa. O pai do aluno quer
informações que os professores não lançaram. Hoje, estamos exigindo esse registro no papel
e no SGP.
Beatriz - Eu sou antiga e ainda tenho acervo de papel. Uso o papel como, por exemplo, no
conselho de classe. Tem coisas que não são pelo SGP, planilhas eu uso muito; eu não
consigo fazer nada sem ter uma planilha, uma tabela, um quadro, porque acho que eles
sintetizam e deixam você enxergar várias coisas. Então, eu pego o que o Sistema fornece, e o
que ele não fornece eu crio.
Cora – Vou te dar um dado que não enquadra em nada: a gente esta imprimindo tudo, desde
encaminhamentos, dificuldades... Isso mostra nossa falta de presença no SGP. Estamos com
dois pés um no físico e outro no digital. Eu não o destruiria para ficar no papel, a não ser
quando vejo os professores sofrendo muito.Eu não faço uso de nada para a reunião. Eu sei
que existe o gráfico, mas nunca usei, pois não é um instrumento que faz parte da minha rotina.
Minha rotina é conversar com os professores.
Martha. No diário, eu tenho tudo e é rápido, e eu tinha uma rotina de olhar no diário, enquanto
no Sistema eu não consigo porque eu tenho que entrar em várias telas, tenho que me desligar
do mundo.
Cecília. Acho que deveriam ter pensado melhor sobre mudar o suporte dos dados escolares.
Vamos pensar como o professor Cortela que temos uma escola do século XIX, professores do
século XX e alunos do século XXI. Esse conflito deveria ter sido considerado na implantação
do SGP. Considerando isso, talvez o processo de implantação poderia ser diferente, mais
tranqüilo, respeitoso, e não como se fosse uma caça às bruxas: “Vamos jogar tudo fora,
colocar tudo na fogueira porque agora é o SGP!”. Esse início foi infeliz.
Hilda. Eu sempre achei que o SGP tem aspectos positivos e negativos quando comparado
com o diário de classe. Do ponto de vista estrutural foi um ganho: você trabalha com listas
reais desde o inicio do ano, você tem calendário no sistema e a geração de notas e boletins.
Acho que do ponto de vista do pedagógico, o registro do papel é mais pratico, pois no SGP
você depende da rede, ligar, ficar na tela. O problema é que o acesso é muito difícil
Carolina. Sobre o pedagógico, eu não consigo acompanhar os registros do que está no SGP
da mesma forma que eu acompanhava no diário. Por causa da dinâmica da escola, a gente
não dá conta. Não da para você ficar lá quinzenalmente para ver se o professor esta dando
conteúdo. Eu confio neles, tenho de confiar. No pedagógico, o ponto que eu acho que me
ajuda junto com os professores são as anotações do boletim mesmo. Eu projeto o boletim com
a foto, a disciplina, e consigo ver tudo e trabalhar com os professores
Vinícius. Nele, eu só uso o que conheço. Não sou um usuário eficaz do sistema, não tenho
conhecimento se tem algo abrangente e funcional e que, na prática, não acontece. No meu
caso, a certeza que eu tenho é que o problema está no usuário.
Laura. Eu faço também todos os registros de atendimento aos pais e alunos no sistema, e
também todos os encaminhamentos e acordos com pais e alunos. Acho que essas são coisas
que fizeram a diferença pra mim, estão lá registrados
Alice. Acho o Sistema tem sua utilidade, mas ele ainda tem muitas falhas, precisa ser
reajustado. Algo que é recorrente é sumir os dados. Por vezes, desaparecem todas as
informações. Outra dificuldade é o lançamento de aulas a serem substituídas: se não tem
módulo ninguém lança as aulas.
132
Nos próximos excertos, do Eixo 2: O que o SGP “promete mais não cumpre”,
indicados a seguir, podemos observar que os comportamentos de apego aos
diários de classe têm vinculo com a segurança e a manutenção dos dados.
Próximos do próprio corpo.
Para Larrosa Bondía (2002), a experiência é o que o que nos acontece, aquilo
que provamos. Ela está ligada às pessoas. Mesmo que essa experiência seja
coletiva, cada um a elabora de forma única: “É contando histórias, nossas
próprias histórias, o que nos acontece e o sentido que damos ao que nos
acontece, que nos damos a nós próprios uma identidade no tempo” (p. 69).
Florbela. O SGP peca pela falta de eficiência da ferramenta. A escola é muito dinâmica; não
dá pra você ficar esperando uma semana pra imprimir o boletim. Não dá pra baixar o gráfico;
134
ele trava e some tudo. Promete transparência, acesso às informações, sondagens, provas. É
legal ir lá e pegar qualquer informação, inclusive pra área da pesquisa, quando o recurso
funciona. Se não funciona, você descarta, não usa mais e passa a fazer do jeito tradicional.
Cecília. Agora o problema são as condições que são postas e que permanecem ruins e hostis
até hoje. Para as coisas se realizarem da maneira que precisam ser realizadas, o nó está em
não como o SGP está sendo gerido nas escolas, mas administrado nos órgãos competentes.
O uso que está sendo feito dessa tecnologia é que deixa a desejar. Ele ajuda, mas causa
muitos transtornos também. Entre eles, o de sumir as coisas, sumir os dados registrados.
Rachel. O SGP promete, mas não cumpre. Quando foi criado, eu dei todo o apoio.Sou
totalmente defensora da informatização.Achei que o SGP estaria a favor do nosso trabalho, do
pedagógico, mas o processo se reverteu. São dois problemas: ele não está a favor do nosso
trabalho, é exatamente o contrário; e ele não é neutro e escraviza os professores.
Ana Maria. Acho que a infraestrutura detona o SGP. Você tem o trabalho digital, mas não tem
a máquina. Acho que o maior fazer do professor é o como, e este como é que deve ser
compartilhado. Os professores dos mesmos anos precisam saber o que seus pares estão
fazendo.
Clarice. A escola não está em rede. Ainda temos de fazer o histórico escolar, o prontuário do
aluno no papel. Se a gente pensar que a história da escola é escrita apenas pela acumulação
do diário do professor, é muito pouco.Temos que poder acessar outros dados. A secretaria é
parte da escola; então, tem de estar conectada ao SGP.
Adélia. Eu só sinto falta do SGP não armazenar coisas anteriores, antigas, informações de
outros anos. Se precisar de histórico mais antigo, não tem. A secretaria não tinha a ata. Por
isso, eu tive de revirar a escola para achar dados dos alunos. Eu sinto que não tenham isso
gravado. Eu gostaria de recuperar as observações anteriores dos alunos, mas só consigo
recuperar as notas.
Beatriz - Eu não exijo dos professores registros no papel. Há uma preferência, nós temos um
perfil de professores mais antigos, e, como eu, eles estão habituados com o papel. Parece que
se você não tiver papel, você vai perder alguma coisa, e isso de fato acontece com o SGP. Ele
tem algumas estranhezas. A gente brinca e diz, inclusive, que ele tem vida própria.
Cora. Eu tenho falta de familiaridade com o sistema, mas acho que ele não funciona quando
eu preciso dele. Eu estou ainda tentando colocar o uso do sistema na rotina, mas ainda não
dá. Ele tem alguns desafios que mostram nossa debilidade. Já vi professores preenchendo o
sistema com erro de português. Eu pensava que eu teria que olhar um por um. Que eu
passaria a ser um corretor ortográfico. São muitas questões, mas elas falam muito da nossa
carência de formação inclusive.
Martha - O sistema deveria ser melhor do que o diário, mas não é.Ele toma o meu tempo, não
funciona, fica rodando, me dá uma informação e depois apaga, não me ajuda nos meus
relatórios.Eu já pedi pra fazer reunião de coordenadores para que eles nos apresentem formas
de otimizar.Eles dizem que fazem, mas não é feito do jeito que eu imagino.
Preciso ter um excelente desempenho como trabalhador para que minha empresa vá bem,e é
pra isso que eu preciso que o Sistema me ajude, mas ele está me atrapalhando.Aqui parece
ser mais democrático do que em outras escolas que conheço, mas não está sendo, os
professores não são ouvidos. Do jeito que as coisas estão colocadas, é muito estranho: você
não pode dar uma opinião; é algo absurdo.
Beatriz - Ele promete e não cumpre essa prontidão de acordo com o que você quer acessar.
Se eu tenho uma pendência, fica praticamente impossível resolver.Certa vez, eu passei três
horas com o responsável técnico de SME e não consegui resolver o problema.
Carolina. A parte da coordenação, o que foi vindo, nós fomos tentando assimilar sozinhos. Eu
sinto um pouco isso.Novas telas foram acrescentadas, mas não fomos comunicados e nem
135
Vinícius. Na verdade, as coisas que descobri foi pelas demandas. No conselho, busquei as
planilhas. Em relação à condição ideal, gostaria que o wifi funcionasse e que os professores
estivessem equipados para diminuir o tempo de registro que o sistema aumentou muito.
Hilda. Outro problema é o acesso, que é muito difícil; é uma ferramenta difícil de ser usada.
No início tinha capacitação, mas eles inventaram muitas coisas novas e, em momento algum,
isso foi atualizado para a rede. E tem gente que nem sabe o que tem no Sistema. Daí, mexe
nele e acaba descobrindo o que ele oferece, mas como nós não fazíamos isso, nós ficamos
sem saber.
Laura.Tem muitas ocorrências que causam desconforto, como os problemas com a rede. Não
dá pra negar que a rede compromete muito o nosso trabalho. Muitas vezes, ficamos à mercê
da boa vontade de alguém. As atualizações demoram muito para acontecer, os dados ficam
muito desatualizados, e o acesso é muito lento, principalmente em períodos de fechamento do
semestre.
Alice. Sem falar nos problemas da rede, no wifi,que deixa muito a desejar. Como não temos
conectividade, não conseguimos cumprir prazos. Isso causa grandes transtornos para a
escola, implica em deixar os dados desatualizados.
coisas, porque seus efeitos não costumam ser visíveis no curto prazo” (p.179).
No entanto, no caso da rede analisada, faltam mesmo as condições básicas
para sua implantação. A continuidade deste cenário só aprofundará mais os
problemas.
Ressalta- se, entretanto, que algo que deve ser considerado no diagnóstico dos
problemas e de suas possíveis soluções, entre elas as articulações e
participações em debates públicos sobre a temática, e sobre as condições
tecnológicas e institucionais da implantação do SGP. Isso dimensiona a
importância que a sociedade atribui às instituições escolares. Este sim seria o
termômetro que poderia medir o tipo de democracia existente nas sociedades e
os sistemas políticos do momento com relação ao uso das tecnologias como
suporte à gestão do conhecimento numa sociedade dita da comunicação.
Vale ressaltar aqui que criação do SGP e sua implantação passaram por várias
instâncias, tanto de reflexões internas na contribuição dos coordenadores da
Rede Municipal de ensino como na chamada pública, que contou com efetiva
participação dos interessados. Se observarmos os excertos ilustrados nesta
tese, por exemplo, podemos ver claramente que era um programa em
construção. Mas faz parte da construção a adequação dos equipamentos
tecnológicos assim como da formação contínua dos usuários e a ampliação do
parque tecnológico incluindo aí a banda de acesso.
Com efeito, as dificuldades presentes hoje no SGP podem ser analisadas, pelo
menos em caráter ilustrativo, para mostrar que as políticas públicas,
138
Ana Maria. Um dos motivos da resistência é que ficou tudo com o coordenador pedagógico,
prazo, tempo, problemas de rede, maquinário velho e lento. Quatro anos se passaram e
continua tudo a mesma coisa.
A questão que pegou é de o SGP estar sendo feito por terceiros. Isso também repercutiu mal.
Acreditavam que terceiros não conheciam a rede, os problemas existentes, e isso começou a
dar corpo a uma resistência.
Florbela. A gente trabalha com maquinário velho, com poucos computadores e o tablet, que
foi um investimento violento, mas não funciona. O professor não consegue fazer a chamada, e
até hoje só usa o tablet para tirar foto. Se não há investimento numa Internet potente, mexe
com o tempo da gente. Tem muitos problemas técnicos de rede.
Adélia. A gente tem a ficha dos coordenadores que nós preenchemos durante o conselho.
Para o professor, a gente pede, meio que obriga a registrar no papel por falta das máquinas.
[…] Os professores estranharam muito porque eles não lançavam nem plano, nem chamada,
nem nota. Diziam que ninguém nunca pedia nada.
Beatriz. Às vezes, os dados estão registrados num dia e no dia seguinte não estão mais lá.
Não tem nada, mas você sabe que colocou os dados. São coisas que acontecem no sistema,
algum tipo de problema, coisas técnicas. Então, a gente busca como segurança o papel.
Eu pontuei que os problemas de defasagem, o acesso difícil, a questão dos dados
desaparecerem e reaparecerem dificulta. Às vezes, você tem a rede inteira fechada, tem
coisas em termos de organização que prejudica. Essas coisas precisam ser resolvidas. Ao
mesmo tempo em que o sistema oferece algumas coisas, ele é uma dor de cabeça, não é algo
que funciona como deveria funcionar. Ele perde um pouco da credibilidade quando o dado
desaparece ou é alterado.
Cora. Alguns professores gostam de usar, adoram, acham maravilhoso ter essa facilidade.
Outros não conseguem de jeito nenhum. Mas o problema de todos é a rede não sustentar em
final de semestre.Ela some,sai do ar, os dados não estão lá e começa a surgir umas lendas.
Talvez o problema não seja o sistema mas a falta de rede, de nossa falta de tempo, falta de
organização.
Martha. Eu fico aqui horas tentando descobrir as funções do sistema, porque ninguém nunca
me mostrou. O que achei foi por mim, e provavelmente poucos coordenadores sabem fazer
isso. Eu sei usar o sistema porque fico em casa debruçada procurando entender.
139
Vinicius. Eu não sei até que ponto os coordenadores conhecem o SGP. Acho que eles não
sabem como fazer o trabalho funcional. É necessário que tenha reuniões, formação.
Cecília. Ele está ocupando um espaço de formação que não deveria ocupar. Nós temos de
abrir mão do tempo que poderia ser para a formação para registro dos dados. A gente tem na
lei a hora atividade para registro, mas o horário de formação é invadido pelo administrativo.
Alice. Eu fico me perguntando quem são os responsáveis pelo Sistema em outros órgãos. É
preciso alguém dialogar com os responsáveis, com quem opera a parte técnica. Deve ter um
departamento competente em SME (Secretaria Municipal de Educação). Isso é condição
básica para o nosso trabalho; então, tem de funcionar.
Laura. O fato de perder dados é muito sério. Já perdemos dados no sistema: eles foram
inseridos e perdemos, mas ninguém se preocupa com isso - só eu, a coordenadora.
Hilda. Os registros no boletim hoje são como uma obrigação: você tem de registrar as notas.
Mas o SGP dificulta para o coordenador a visão do processo. Você não consegue
acompanhar todos os professores, não dá, você não tem uma sequência. […] A gente perdeu
essa proximidade de acompanhamento. No diário, a gente deixava recadinho, bilhetinho.
Carolina. Acho que o SGP cumpre o papel dele, acho que a nossa ansiedade que incomoda
um pouco. Tudo que está ali é suficiente, ele atende muito bem. Acho que tudo que foi pedido
ele deu conta de colocar, mas o que eu preciso é de formação, pois eu tenho dificuldades de
encontrar. Acho que é uma dificuldade minha, acho que os caminhos são difíceis.
Rachel. Os caminhos são complicados. É difícil porque, para você sair de uma janela e abrir
outra, os caminhos são demorados, e o segundo ponto é que você não tem o SGP onde você
está, e onde eu estou eu carrego minhas fichas.
Isso nos remete a Freire (2001) que, quando questionado sobre a importância
das tecnologias na educação, replicou: “Qualquer um de nós tem como tarefa
histórica assumir o seu tempo, integrar-se, inserir-se no seu tempo” (p.90). As
escolas têm papel preponderante na interlocução com o novo, com a cultura e
com o conhecimento, visto que também são históricas. Por outro lado, as
técnicas ilustram um desenvolvimento ininterrupto, de continuidade,
estabelecem um vínculo com os homens que dela precisam para sobreviver e,
conforme passam a fazer parte integrante da vida, passam a ser o seu
mediador. Sendo pressuposto básico de existência, ajustam-se.
Florbela. Eu considero como mais importante é o percurso do aluno. Gosto também da ideia
de transparência, de colocar lá um planejamento conjunto.Isso eu acho ótimo, mas o
importante mesmo é ele funcionar.
Ana Maria. Quando você pega o gráfico por disciplina, você tem elementos que subsidiam o
seu trabalho, mas falta formação para o coordenador pra analisar esses dados estatísticos. Eu
acho que eles não conhecem o potencial do sistema, que eles não conseguem gerenciar
esses dados.
Clarice. Eu consigo acompanhar o planejamento anual, consigo ver o registro diário, mas a
escola é dinâmica, a escola é viva, pulsa. É muito difícil para o coordenador que assume
outros papéis de atendimento. Quanto ao planejamento, não vi alterações no que os
professores fazem. O SGP deu uma transparência maior sim, mas a gente, ao mesmo tempo,
não sabe se o que está escrito acontece de fato nas salas.
Beatriz. Eu acho que é outro modo de registro. Algumas coisas foram facilitadas, outras não.
Em princípio, ele deveria facilitar; só que, por conta dos problemas técnicos, muitas vezes
você fica um tempão para acessar os dados que no físico você acessaria com uma facilidade
maior.. Os gráficos existem, mas seus usos não estão incorporados pelos coordenadores. […]
É o ponto de mutação; estamos com o pé em dois lugares. A ideia é originalmente boa, mas
entre a ideia e a concretização tem um longo caminho.
Cora. Sabendo usar, você consegue elucidar várias questões. Eu não gosto de nada que
controle o ser humano, mas sei que é necessário, é imprescindível, mas são vários embates
envolvidos que você tem de assumir.
Martha. Quando você trabalha em outros lugares, você sabe a importância do sistema atender
quem é usuário como trabalhador. Preciso ter um excelente desempenho como trabalhador
141
Vinicius. Acho até que os gráficos são um bom ponto de partida no início de ano, que os
dados seriam interessantes para começar o ano, ver alunos, traçar planejamentos, traçar
novas rotas, buscar recursos, observar os gargalos e criar planos de ação a partir dele.
Laura. Eu considero o SGP como um instrumento que me serve na organização dos registros,
dos dados que antes eram dispersos.
Cecília. Eu sou a favor, mas não posso deixar de dizer que há forças contrárias para que as
coisas não aconteçam de maneira plena, e elas são muito fortes. A gente tenta dizer, mostrar
– “Eu estou fazendo, está aqui.” - e elas vêm dizer que você é culpado, que você não faz
porque não quer
Sacristán (2013) faz notar que aquilo na educação que, inicialmente, parece
simples e evidente, “[…] se torna complexo, movediço e complicado quando
pedimos que sejam explicados os novos conceitos que surgem no discurso
sobre os temas educativos” (p. 153). Ressalta que conhecimento e informação
não são conceitos que definem um tipo de sociedade, que o conhecimento
sempre esteve presente na sociedade, sofrendo mudanças em decorrência de
momentos históricos. No entanto, a “sociedade do conhecimento” existe como
uma etapa onde a informação e o conhecimento têm papel relevante para o
seu desenvolvimento, “organização, funcionamento e manutenção”. Nessa
abordagem, Sacristán (2013) observa que, da mesma forma que esses
conceitos existem como realidades distintas ou não, eles aparecem de forma
explícita nas ideias que permeiam as instituições educativas.Em todas elas
existiram e ainda existem pautas de criação e distribuição do conhecimento,
regulando quem tem acesso a que e quando tal acesso pode ser feito. Na
constituição de uma sociedade do conhecimento e da informação, há, com
efeito, particularidades que ganham status cultural importante que enreda as
instituições, os valores, as crenças, e, nesse sentido, “[…] o currículo, que
representa o projeto de uma sociedade, é composto de uma seleção de
conteúdos e de uma escolha de valores” (p.155).
A escola não anda bem, não porque faça parte de sua natureza não
andar bem, como muita gente gostaria que fosse, e insinua que é. A
escola pública básica não anda bem, repitamos, por causa do
descaso que as classes dominantes nesse país têm por tudo o que
cheira povo. (FREIRE, 2001, p.51).
Narrativas I: Se eu pudesse!
Rachel. Se eu pudesse mudar alguma coisa, eu desmontaria tudo e faria outra plataforma
mais simples, com acesso mais objetivo. Eu acho que tem de ter a informatização, eu não sou
contra ela, mas esses caminhos, esse software, tem de ser totalmente abolido e um outro
deveria ser criado.
Clarice. Se eu pudesse alterar alguma coisa, eu mexeria nas disciplinas para que elas
pudessem conversar com as outras, para que o planejamento anual pudesse ser único e que
os professores pudessem compartilhar de fato com os pares, para que a gente pudesse ter a
visão de classe e de todos os alunos, do perfil da classe, dos alunos, e não um por vez.
Adélia. Eu acho que eu não tiraria nada do SGP. Eu colocaria um dispositivo pra gravar mais
tempo os dados. Eu colocaria uma observação final do aluno dos quatro bimestres, um
acumulado de todos os bimestres, um relatório final.
Eu adicionaria um espaço com dias de reuniões do conselho, APM, entre outros. Melhoraria
os equipamentos das escolas com mais máquinas e com rede mais eficiente. Adicionaria uma
área em que ficasse os dados dos alunos, porque troca o coordenador e você fica sem os
145
Beatriz. A gente coloca as informações lá. Se o boletim agregasse todas elas, se você
pudesse ter toda trajetória do aluno, seria ótimo!
Ana Maria. Ele tem de ser um elemento cultural, e enquanto a comunidade escolar, os pais,
não abraçarem, ele não vai ser um elemento transformador.
Martha. Aqui deveria ter uma plataforma tal qual a dos grandes bancos. Nossa rede não é
pequena. Deveriam dar a ela a mesma seriedade que se trata os sistemas do banco Itaú, por
exemplo. Eu acho que o sistema não é inteligente. Se ele não te atende, tem de trocar, precisa
trocar. Eu sou usuária, eu estou esse tempo todo aqui, tentando lançar esse atestado. Quando
eu finalmente lanço, o professor também não vê, ele tem de procurar por sala pra ver; ou seja,
o sistema deveria mostrar na tela quando o professor abrisse a sala. Isso otimizaria o trabalho.
Florbela. O SGP, em termos de trabalho, ficou pior, pois ele aumentou o trabalho. Se
realmente funcionasse, seria espetacular. Em uma gestão democrática, você podia envolver,
inclusive, funcionários, pais, mas o SGP não funciona pras coisas cotidianas. Eu considero
como mais importante o percurso do aluno. Gosto também da ideia de transparência, de
colocar lá um planejamento conjunto. Isso eu acho ótimo, mas o importante mesmo é o SGP
funcionar.
Alice. Eu, se eu fosse colocar alguma coisa no sistema, eu abriria um Item/link sobre os
problemas estruturais do sistema/Internet da escola, ainda que fosse um item/link reservado
ao controlador do sistema para que este, em interlocução com a
escola/professor/coordenador, promovesse os ajustes necessários em tempo hábil, não ao
final do ano. Outro desejo... É que os diretores não tivessem como fazer alterações (nas
notas, faltas e registros gerais do dia a dia, lançados pelos professores) sem a anuência do
professor/coordenador.
Vinícius. Acho que uma página no sistema para comunicar com os pais seria interessante.
Bilhetes, comunicados podem ser viabilizados. Um canal de comunicação para avisos,
reuniões, retorno das aulas poderia ser um canal de comunicação direta.
Hilda. Se pudesse, eu tirava aquelas considerações sobre os alunos onde se marca com X.
Deixaria um histórico descritivo do seu desenvolvimento, escanearia algumas coisas que
ilustrassem o processo do aluno, sondagens. Em vez de x, digitalizaria uma atividade, criaria
um arquivo de imagens. Isso seria superinteressante!
Cecília. Para um desejo de melhorar o sistema, eu acho que o SGP poderia ter outra
roupagem, melhorar a infraestrutura, os recursos, os acessos, os caminhos. Acho que deveria
trazer um lugar que diga, que represente o professor, de sugestões, de podermos viabilizar as
informações na formação pedagógica. Acho que deveria orientar para que aqueles dados
pudessem contribuir para a formação.
146
Clarice. A DRE nunca me acompanhou, nem houve supervisão, nem ninguém nunca me
cobrou. Nunca discutimos entre nós, coordenadores, sobre o Sistema. A gente acha isso
muito ruim.
Beatriz. Sobre os outros órgãos da educação, algumas vezes acho que alguém está
acompanhando o meu trabalho; outras vezes, não.Acho que são dois problemas: o problema
humano de não alimentar o sistema e a problemática do sistema apresentar muitos defeitos.
Ana Maria. Falta o olhar do órgão central. Tem que dar uma formação diferenciada para os
coordenadores. […]Cada supervisor também orientou de um jeito. No início, as pessoas não
ratificaram o SGP como a documentação oficial. Virou uma esquizofrenia geral; muitos
supervisores mandaram fazer no papel.
Cecília. A cobrança de registro é muito grande das Diretorias de Ensino, mas não houve
retorno. A participação das Diretorias é muito incipiente: elas se preocupam muito mais no
sentido de controle do que de haver uma reflexão sobre os problemas.
Laura. Sobre a participação dos supervisores da Diretoria de Ensino, não existe nenhuma
colaboração ou troca. Apenas cobram o lançamento dos dados, querem que esteja tudo
lançado e completo. A qualidade do trabalho nunca foi verificada, compartilhada, mesmo
porque, as informações podem ser alteradas (e muitas vezes são) pela direção.
Vinícius. Eu não me vejo em rede. A impressão que dá é que a gente alimenta as planilhas, o
campo de planejamento, o diário de classe, por uma questão de obrigação.
Carolina. Eu não me sinto em rede. O PEA não está ali, o PPP também não. Eu acho que
está apartado ainda.
Beatriz. Não acho que estou em rede, acho que não foi incorporado. Sei que se eles
consertarem o que está dando errado, a gente conseguiria pensar em ajustes. Já passou a
fase do susto, do impacto, do convencimento, não tem volta, mas tem muitos problemas
básicos, não triviais, mas de base e fundamento.
Parsons (2002) compara a sociedade como organismos vivos, onde “[…] cada
um dos componentes do sistema, suas partes, tal como uma peça qualquer em
relação à máquina, desempenham papéis que visam a contribuir para a
estabilidade e ordem social”. Uma maior aproximação entre os parceiros
corresponsáveis pelo SGP romperia com a individualização nas tomadas de
decisões das Unidades Escolares. Com efeito, com base nos relatos
disponibilizados nas Narrativas acima, podemos perceber que as escolas não
estão interligadas em um sistema educacional e que as relações básicas de
trocas de informações não ocorrem. Nesse sentido, como já indicado pelos
coordenadores pedagógicos entrevistados, os registros viram mero trabalho
burocrático. Se a questão de fundo do Sistema é ser um instrumento poderoso
a serviço da sociedade escolar, funcionando como mudança na ação gestora,
nossos dados revelam que ainda há que se criar condições favoráveis para que
ele opere de forma orgânica além de tecnologicamente mais eficaz.
Outra questão a ser mencionada refere-se à ênfase dada ao uso dos diários.
Muitos dos coordenadores entrevistados mostram, em seus relatos, que se
apegam a um passado e a uma realidade de ideal fantasiosa, em
representação mais vinculada a uma tradição escolar do que à eficiência
propriamente dita. Os elementos que trazem do diário e da relação afetiva têm
muito a ver com os domínios dos equipamentos e a forma de operar. Se
recorrermos ao diário e os compararmos com os gráficos apresentados no
Sistema, podemos verificar que a visão dos gráficos, em relação a significados,
informações e visão do todo, é infinitamente mais robusta, infinitamente melhor
do que se esses dados fossem disponibilizados em diários.
Portanto, indica que sua experiência considera não apenas a sua vivência, mas
a dos docentes com os quais se relaciona:
Quando a rede não funciona, você leva esse trabalho para casa para
fazer no final de semana. Isso não é justo, e a gente sabe que não é,
a gente sabe que não está correto, que tem algo errado. Esse
153
CONCLUSÕES
Esta pesquisa abre uma brecha neste horizonte para que se perceba a
relevância e a esperança dos gestores em Sistema desta natureza
natureza humana. […] A única coisa constante na natureza humana é que ela
muda.” (GANDY, 1980, p. 103)
No que tange a esta pesquisa, saliento que ela contribui significativamente para
aprofundar as reflexões sobre a “gestão do conhecimento” em rede digital -
uma área a ser mais investigada na educação. A rede digital instrumentaliza o
gestor por meio de dados e informações para as tomadas de decisões.
Destarte, considerar com profundidade essa nova gestão nas escolas é abrir a
porta de entrada para as mudanças da educação em consonância com o
mundo contemporâneo.
Concluindo, destaco que esta pesquisa procurou mostrar uma política pública
baseada na cultura digital em que a conectividade torna-se o elo de
sociabilidade do conhecimento não só no interior das escolas, mas também
com a comunidade. Ela se justifica pelas possibilidades que se abrem,
sobretudo á aquelas que inserem os coordenadores pedagógicos no centro das
mudanças educacionais, por meio do uso de novas técnicas, apropriando-se e
transformando o ensino na Rede Municipal de São Paulo para uma melhor
educação de qualidade social.
.
160
REFERÊNCIAS
LIBÂNEO, José Carlos; OLIVEIRA, José Ferreira de; TOSCHI, Mirza Seabra.
Educação escolar: políticas, estrutura e organização. 7ª. ed., São Paulo:
Cortez, 2010.
__A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá. 5ª. ed.,
Campinas: Papirus, 2013, pp. 89-90.
NEGROPONTE, N. A vida digital. 2a. ed. São Paulo: Companhia das Letras,
1995.
PARSONS, Talcott. The Social System. Glencoe, Ill.: The Free Press, 1951.
http://maiseducacaosaopaulo.prefeitura.sp.gov.br/download/docs/minuta_consu
lta_publica. Acesso em:agosto 2018 .
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
FREIRE, Paulo; SHOR, Ira. Medo e ousadia: o cotidiano do professor. 12. ed.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2008. 224 p.
SANTAELLA, Lúcia. A crítica das mídias na entrada do século XXI. In: PRADO,
J. L. A. (Org.). Crítica das práticas midiáticas: da sociedade de massa às
ciberculturas. São Paulo: Hackers Editores, 2002.
ANEXO
Entrevista semiestruturada
Questões focalizadoras:
APÊNDICE
Entrevista 1. Florbela
Tenho dezessete anos na Rede Municipal e seis como coordenadora. Sempre usei o
SGP. Estive nas DRE e o usava, mas com outro foco. Tive formação quando foi
implantado, mas tive muitas dúvidas no começo. Aos poucos, usando as ferramentas,
fui descobrindo os recursos, melhor dizendo, usando e aprendendo. Normalmente, eu
uso em reuniões os gráficos e o boletim. As observações do professor, eu uso não só
pra ver o que está escrito, mas pra pensar sobre a formação. Eu observo os
comentários dos professores depois do Conselho e provoco uma reflexão: se você
fosse o pai desse aluno, o que você ia pensar? A intenção é refletir um pouco sobre a
necessidade de ter maior rigor na escrita. Eu uso alguns aspectos que gosto, mas
odeio outros. Os registros te falam muita coisa e você pega outros elementos também
que o coordenador precisa, porque ali tem concepções que estão embutidas.
Outra coisa são as faltas: elas são importantes no registro; porém, o Sistema não
funciona muito bem nesse registro. Isso é complicado porque o professor fica bravo,
pois digitou o tempo inteiro, no horário coletivo, e os registros somem. Entretanto, o
coordenador trabalha com prazos. Terminou o semestre, tem Conselho, reunião de
pais. E você cobra os professores como? Ajuda como? Muitas vezes, você liga na
DRE e não consegue auxílio - ninguém te retorna, ou retorna quatro ou cinco dias
depois. Tudo isso vai fazendo a gente desencantar.
A gente trabalha com maquinário velho, com poucos computadores e o tablet, que foi
um investimento violento, mas não funciona. O professor não consegue fazer a
chamada, e até hoje só usa o tablet para tirar foto. Se não há investimento numa
Internet potente, mexe com o tempo da gente. Tem muitos problemas técnicos de
rede, wifi.
Eu considero como mais importante o percurso do aluno. Gosto também da ideia de
transparência, de colocar lá um planejamento conjunto. Isso eu acho ótimo, mas o
importante mesmo é o SGP funcionar.
O SGP, em termos de trabalho, ficou pior, pois ele aumentou o trabalho. Se realmente
funcionasse, seria espetacular. Em uma gestão democrática, você podia envolver,
inclusive, funcionários, pais, mas o SGP não funciona pras coisas cotidianas. O SGP
peca pela falta de eficiência da ferramenta. A escola é muito dinâmica; não dá pra
171
você ficar esperando uma semana pra imprimir o boletim. Não dá pra baixar o gráfico;
ele trava e some tudo. Promete transparência, acesso às informações, sondagens,
provas. É legal ir lá e pegar qualquer informação, inclusive pra área da pesquisa,
quando o recurso funciona. Se não funciona, você descarta, não usa mais e passa a
fazer do jeito tradicional.
Os pais, pelas escolas onde eu estive, eles não acessavam a Internet.Não sei se
porque, mas acho que é outra realidade: porque não soubessem ou não tivessem um
computador em casa, ou por falta de intimidade com o computador. Já vi pai elogiar o
boletim impresso. O que era manual não tinha a mesma organização. Nesse
impresso do Sistema, é legal que aparece os buracos: se o professor não digita as
notas, fica o buraco e o pai cutuca o professor. Essa lisura é fundamental.
Se eu pudesse, tiraria a digitação das sondagens, das avaliações, não porque eu
acho que não deve estar lá, mas porque está lá por burocracia, porque ninguém
trabalha com isso. Se todos têm acesso pra não fazer nada, elas não são trabalhadas
estão lá por estar, porque ninguém faz nada com isso. Eu faço pauta formativa com
as sondagens se for pra digitar no SGP que se tenha transparência, mas faça algo
com isso. Virou um retrabalho, porque a escola tem portfólio.
Eles poderiam fazer gráficos das hipóteses, mandarem pra gente Você tem dados
que são subutilizados; a DRE não faz nada com os dados. O problema não é o SGP;
o problema é que a infraestrutura não dá conta disso, e o uso que se faz nas outras
instâncias - SME, DRE, nossos pares avançados -,fica na burocracia.
Quanto a navegar na rede, a responsabilidade é do coordenador. Só coordenador
navega; nunca um supervisor olhou ou viu ou trouxe ou quis ouvir o que estou
pensando. Se os campos estão preenchidos, ninguém vai te chamar. Se têm lacunas,
vão chamar você e não o diretor. Eles querem prazos: “Se vire. Vou te estender o
prazo para você colocar tudo em ordem.” Não existe uma relação colaborativa, mas
sim burocrática.
Quanto aos professores, eles nunca falaram no sistema como controle. Quando você
trabalha direito, você não tem de ter medo da transparência.Nós somos funcionários
públicos. Então, eu devo, nós devemos satisfaçãoà sociedade. A resistência é pelo
mau funcionamento da rede.
172
Entrevista 2. Rachel
Eu tenho vinte e oito anos na Rede Municipal e sou coordenadora há quatorze. Tenho
pedagogia e licenciatura em Língua Portuguesa.
Eu conheço o SGP desde sua criação. Embora usasse o acervo de papel, eu elaborei
uma planilha de Excel inteligente, que fazia as contas que os professores
alimentavam com notas e faltas e que eu usava para fazer o fechamento do bimestre.
Quando veio o SGP, eu abandonei essas planilhas, mas ficou ruim.O acesso aos
dados passou a ser mais difícil, e os caminhos são mais longos. Os caminhos são
complicados. É difícil porque, para você sair de uma janela e abrir outra, os caminhos
são demorados, e o segundo ponto é que você não tem o SGP onde você está, e
onde eu estou eu carrego minhas fichas.
Por vezes eu não consigo acessá-lo, por falta do wifi. Eu precisaria de um notebook,
de ter acesso móvel. Como não tenho, eu ainda faço uso da documentação física. Os
professores continuam fazendo todos os registros no papel. É como se tivessem de
novo o diário de classe. Eles têm todos os registros - como notas, chamada, inclusive
o registro de aula – no papel.
Organizei os horários coletivos, sendo um dia destinado para o registro no SGP, mas
não foi suficiente. Então, eu tive que destinar dois dias. Ele aumentou o trabalho do
professor que tem de fazer o registro duas vezes. Acho que o retorno do SGP é muito
pouco para a carga de trabalho que você tem. Alimentar o sistema com caminhos
longos e acessos difíceis não é fácil de fazer, e o retorno e a devolutiva que temos é
muito pequena, não vale a pena.
Toda vez que eu preciso conhecer um aluno, saber dele, eu me reporto ao meu
portfólio, que é físico, que é a documentação, a papelada que eu continuo a fazer e a
usar.
Os gráficos me dão uma visão geral apenas para que eu possa fazer uma reunião
com os professores e ter um levantamento dos resultados. Os gráficos são bacanas
porque eles te mostram o aproveitamento por sala, por disciplina, por ciclo, e você os
usa para fazer uma reflexão, para uma conversa com os professores, e isso dura
pouco tempo.
Quanto ao trabalho, ele aumentou, mas estamos aqui para isso, mas a questão não é
essa. O problema é o retorno que isso te dá. Ficou o registro pelo registro, porque
quando eu preciso acessar os dados eu uso outra coisa, eu uso os meus dados, eu
uso as minhas anotações, minhas documentações, minha folha de sulfite onde fiz o
portfólio do aluno.
173
Eu tenho vinte e sete anos de Rede Municipal e dezessete anos como coordenadora.
Em 2014 é que iniciou a elaboração do SGP. A demanda solicitada à equipe
pedagógica da Rede Municipal era atender com informações de como são realizadas
as práticas de registro e acompanhamento pedagógico no Ensino Fundamental,
informar a documentação pedagógica existente na rede do Ensino Fundamental.
Minha função do Ensino Fundamental era auxiliar, confeccionar, caracterizar como
seria o funcionamento, os procedimentos e organização dos registros da escola,
175
Entrevista 4. Clarice
mas a escola é dinâmica, a escola é viva, pulsa. É muito difícil para o coordenador
que assume outros papéis de atendimento. Os dados, as informações, poderiam
facilitar nosso trabalho no ensino aprendizagem, mas acredito que ele fragmentou o
trabalho cotidiano.
O SGP deu mais obrigações para o professor, para quem é da nossa geração, que
não tem intimidade com a máquina, não consegue perceber o SGP como instrumento
facilitador. Eu acredito que a maioria dos professores mais jovens têm mais facilidade
de aprender e utilizar o Sistema, mas, ao mesmo tempo, não sei se de forma
pedagógica ou mecânica, ou mesmo para fazer e cumprir com as datas, porque o
Sistema fecha.
Não existiu, nesses cinco anos de atuação, corresponsabilidade de acompanhamento
dos dados. Nesses cinco anos de atuação, nunca nenhum supervisor ou diretor falou
sobre o SGP, nem entre mim e a outra coordenadora que atua comigo
cotidianamente foi falado sobre isso. Não há nenhuma formação nesse sentido, e eu
acho isso triste. Esses dados são usados em Conselho e reunião pedagógica. Quanto
ao planejamento, não vi alterações no que os professores fazem. O SGP deu uma
transparência maior sim, mas a gente, ao mesmo tempo, não sabe se o que está
escrito acontece de fato nas salas. Eu não concebo que estamos em redes,
infelizmente não concebo. Estou eu e você e algumas maquininhas, com algumas
verdades e algumas mentiras, e eu tenho que fazer um acordo pra que as coisas
aconteçam. Eu não reconheço como um trabalho em rede.Eu vejo, inclusive, como
um trabalho mais individualizado.
Se eu pudesse alterar alguma coisa, eu mexeria nas disciplinas para que elas
pudessem conversar com as outras, para que o planejamento anual pudesse ser
único e que os professores pudessem compartilhar de fato com os pares, para que a
gente pudesse ter a visão de classe e de todos os alunos, do perfil da classe, dos
alunos, e não um por vez. Acho uma grande perda, quando vou ver o aluno, não ter o
global dele.Estamos continuando a fragmentar o conhecimento, as visões. Tudo bem,
faço tudo, mas tudo é muito pontual, não há algo que te aponte para onde ir. Eu
nunca tive nenhuma formação e nem uma equipe na gestão para discutir isso, falar
dos dados.
Até acho que o acervo de papel se perde, mas se for para criar memória é preciso
pensar que a história da escola não pode ser escrita apenas com os diários do
professor. Isso é muito pouco. Se você pensar que na secretaria nada está
informatizado: os históricos, os prontuários, a documentação, tudo ainda está no
manual. Se a gente pensar que a história da escola é escrita apenas pela acumulação
180
do diário do professor, é muito pouco. Temos que poder acessar outros dados. A
secretaria é parte da escola. A gente vai pensar na maquininha que é muito
burocrático, tem de fazer, mas acompanhar, o mero registro me garante o que? A
secretaria é parte da escola; então, tem de estar conectada ao SGP.
O que nunca se discute é o SGP; ele nunca é colocado em pauta de reuniões. Alguns
colegas falam, eu atendo o professor e registro no SGP. Eu atendo o aluno e registro
no SGP. Atendo as famílias. Dizem que registram tudo no SGP, e isso me dá
realmente um sangue novo, me dá uma vontade de acreditar que ele pode ser uma
ferramenta pedagógica, mas aí vem essas intercorrências, de você não ter a coisa
toda. Você só tem fragmento do que é falado. Daí, você tem de recortar, copiar, colar,
para ter uma visão total da classe, as interferências, inferências, intervenções, o que
o professor fez.
Se eu pudesse mexer, eu colocaria um espaço para o coordenador e o professor,
para discutir o conhecimento.Ninguém te chama.O professor fica com uma visão
estática; quando ele está frente ao computador, ele deixa de ver o mundo girar. Eu
gostaria quea rede se estabelecesse, que não fosse uma rede de um só, mas
gostaria mesmo que o SGP se tornasse uma ferramenta pedagógica e que o
professor tivesse clareza de que ele não está sendo vigiado, que não é controle.Essa
é a impressão que eu tenho.
O registro no papel ainda está em atividade. Os professores usam duas vezes por
semana o SGP, mas o que me chama a atenção é que eu não me lembro de nenhum
professor recorrer a mim para eu acompanhar o que estavam registrando. Esse,
teoricamente, seria o meu papel, algo do meu fazer, mas nem comigo e nem com os
pares isso ocorre. Ninguém sabe como e o que os professores estão fazendo.Você
não tem a possibilidade de compartilhar o fazer, não tem tempo, e nada substitui o
contato, a reunião, e isso não ocorre mais.
Eu tentaria também criar possibilidades de trabalho menos solitário. A gente tem de
compartilhar na educação, a gente tem de fazer parte. Imagine se a gente pudesse
falar com outros coordenadores ou se algum professor recorresse a mim pelo SGP.
Isso evitaria eu ter de assistir as aulas e fazer algum tipo de crítica tanto positiva
como negativa. A gente precisava de algo que aproximasse mais e não que
distanciasse. Eu também colocaria um espaço que pudéssemos alimentar com
nossas angústias e que nossos parceiros pudessem nos ouvir ou compartilhar. Um
espaço tanto para coordenadores como para professores.
181
Entrevista 5. Adélia
entro na disciplina e mostro aos pais tudo o que o professor lançou, trabalhou com a
sala. Eu vejo tudo o que os professores postam. Faço isso no Conselho e acompanho
as escritas nas recomendações sobre o aluno, no sentido de que seja ressaltado o
trabalho pedagógico. Eu abro, vejo e acompanho tudo pelo SGP. Eu uso todas as
ferramentas e gosto muito. Os professores estranharam muito porque eles não
lançavam nem plano, nem chamada, nem nota. Diziam que ninguém nunca pedia
nada.
Eu aprendi como professor, e foi assim que eu ensinei pra eles. A outra diretora disse
que, em anos anteriores, ela foi na DRE pra lançar os registros porque ninguém tinha
feito. Eu acompanho até as atividades que os professores estão dando, o
agendamento de provas. Na DRE que eu trabalho, tem muita discussão sobre o SGP.
Eles chamam a gente e acompanham os resultados, principalmente das provas
externas. Inclusive, cobram muito. Agora, com direção e supervisão, isso não
acontece. Eu só sinto falta do SGP não armazenar coisas anteriores, antigas,
informações de outros anos. Se precisar de histórico mais antigo, não tem. A
secretaria não tinha a ata. Por isso, eu tive de revirar a escola para achar dados dos
alunos. Eu sinto que não tenham isso gravado. Eu gostaria de recuperar as
observações anteriores dos alunos, mas só consigo recuperar as notas.
Eu acho que eu não tiraria nada do SGP. Eu colocaria um dispositivo pra gravar mais
tempo os dados. Eu colocaria uma observação final do aluno dos quatro bimestres,
um acumulado de todos os bimestres, um relatório final. Se cada sala de aula tivesse
um computador onde o professor pudesse registrar e o pai pudesse acessar o
cotidiano do filho, ele teria informações sobre comportamento e desempenho,
observações, e estreitar assim a comunicação. Eu adicionaria um espaço com dias de
reuniões do conselho, APM, entre outros. Melhoraria os equipamentos das escolas
com mais máquinas e com rede mais eficiente. Adicionaria uma área em que ficasse
os dados dos alunos, porque troca o coordenador e você fica sem os dados dos
alunos. Não é o histórico, mas as particularidades, as observações, os registros dos
professores.
A dificuldade dos professores era porque achavam que era mera burocracia e que o
registro poderia ser feito a qualquer hora. Os professores não percebem o lado do
pedagógico, eles acham que é controle. A resistência foi grande porque não veem o
pedagógico. Nós temos muitos professores mais velhos, que têm muita dificuldade
em lidar com os computadores. Eles ficam apavorados, são lentos.Tenho que
mostrar, ensinar; fica complicado. Eu acho que é preciso haver um treinamento. Eu
me reconheço como rede: eu vejo os professores e o que eles fazem, claro que no
183
meu universo.
Entrevista 6. Beatriz
coisas foram facilitadas, outras não. Em princípio, eledeveria facilitar; só que, por
conta dos problemas técnicos, muitas vezes você fica um tempão para acessar os
dados que no físico você acessaria com uma facilidade maior.
Você precisa abrir tempos para o professor fazer os registros do SGP. A gente está
num ponto de mutação; não sinto mudanças e acho que no pedagógico eu não
enxergo. Pode ser algo individual, mas acho que ele está mais no burocrático. O uso
que eu faço é burocrático. Nunca usei nada em reuniões pedagógicas. Eu nunca fiz
porque as informações vêm em defasagem com as necessidades que você tem.
Quando você faz o Conselho, o professor não digitou ainda, pois ele não teve tempo
hábil.Eu não tenho todos os dados, então não é algo com que você possa contar.
Para quem quer fiscalizar os professores, é um facilitador, mas para fazer um
acompanhamento, é mais ou menos. Ele promete e não cumpre essa prontidão de
acordo com o que você quer acessar. Se eu tenho uma pendência, fica praticamente
impossível resolver. Certa vez, eu passei três horas com o responsável técnico de
SME e não consegui resolver o problema. Então, assim, tem buracos menos e mais
críticos que dificultam.
Todos os registros dos alunos estão no físico, prontuários, ainda é o físico que
funciona. A gente coloca as informações lá. Se o boletim agregasse todas elas, se
você pudesse ter toda a trajetória do aluno, seria ótimo! Se pensar em termos de
diário, não tem diferença, e para o professor seria mais fácil ainda o diário. Existe
discrepância tecnológica na idealização e aquilo que propõe. O acesso ao boletim
digital passa longe dos pais; ainda é o físico que funciona para os pais, acho até que
em função de questões econômicas mesmo.
Eu pontuei que os problemas de defasagem, o acesso difícil, a questão dos dados
desaparecerem e reaparecerem dificulta. Às vezes, você tem a rede inteira fechada,
tem coisas em termos de organização que prejudica. Essas coisas precisam ser
resolvidas. Ao mesmo tempo em que o sistema oferece algumas coisas, ele é uma
dor de cabeça, não é algo que funciona como deveria funcionar. Ele perde um pouco
da credibilidade quando o dado desaparece ou é alterado. Sobre os outros órgãos da
educação, algumas vezes acho que alguém está acompanhando o meu trabalho;
outras vezes, não. Acho que é exatamente por causa do momento, e como eu só
acesso os recursos que eles se interessam, atualizados os dados estão. Acho que
são dois problemas: o problema humano de não alimentar o sistema e a problemática
do sistema apresentar muitos defeitos.
Nas sondagens, sumiram os dados e não tinha físico, então foi tudo perdido. Ficou
uma lacuna que vai ficar lá para sempre. Acho que as DREs não conseguiram criar
185
uma sistemática para contribuir com o trabalho das escolas. Acho que foi implantado
e que só viram os problemas iniciais. Acho que a gente sempre tem de fazer um piloto
na hora de criação. Agora, quando se fala do SGP, é sempre um conformismo, é
assim mesmo, relaxa que é assim mesmo. Sumiu um dado, daqui a pouco ele
aparece. Nesse sentido, o sistema não tem credibilidade. Você sabe que vai dar tudo
errado, independente de fazer certo.
Eu estava em SME quando a empresa criou o sistema; cheguei a participar do
planejamento com ela. Ela não tinha noção de rede, do tamanho da nossa cidade, e
nem do saber escolar. Além disso, ela não ouviu quem tinha esse conhecimento.
Então, precisaria haver um conhecimento melhor, e quem montou essa sistemática
não tinha conhecimento sobre a educação, sobre a dinâmica da escola, e isso eu
acho que realmente dificultou tudo.
É difícil falar alguma coisa nesse estágio que estamos: não temos como voltar e
temos muito que avançar. Se eu fosse trabalhar numa escola sem esses
instrumentos, eu teria que gerar os meus, pois o hábito já existe; ele está lá e isso
está posto. É o ponto de mutação; estamos com o pé em dois lugares. A ideia é
originalmente boa, mas entre a ideia e a concretização tem um longo caminho. No
SGP, tudo é muito grande, com muitas informações e muito trabalho. Eu acho que,
tanto no papel quanto no computador, você tem requisições muito próximas. Não é
que eu goste do SGP, mas eu já estou habituado com ele. Ele é mais burocrático do
que pedagógico, e a gente tem de ficar sempre correndo para tentar se conectar.
Os gráficos existem, mas seus usos não estão incorporados pelos coordenadores. E
tem coisas que estão vinculadas ao SGP, como o SERAP, que também não é
acessado, utilizado. A coisa está muito incipiente ainda. Eu vejo a transformação
burocrática. No pedagógico, a questão é muito maior, não pode se vincular a um
sistema. Tem aquela história que, se você voltasse no tempo, se voltasse na Idade
Média, encontraria uma classe como a nossa. As pessoas têm algumas coisas muito
arraigadas.Esse desprendimento a gente não conseguiu em outros âmbitos, quem
dera no âmbito de registros e dados.
Não acho que estou em rede, acho que não foi incorporado. Sei que se eles
consertarem o que está dando errado, a gente conseguiria pensar em ajustes. Já
passou a fase do susto, do impacto, do convencimento, não tem volta, mas tem
muitos problemas básicos, não triviais, mas de base e fundamento. Se incluir mais
alguma coisa, vai confundir mais a cabeça.
Para a professora, qualquer sistema padroniza formas, formata raciocínios. Não
permite a heterogeneidade. Ela pergunta se há aspetos positivos nisso. Acredito que,
186
Entrevista 7. Cora
Tenho seis anos e meio como coordenadora e fui muito pouco tempo professora.
Faço uso do SGP para acessar os boletins, verificar a frequência. Estou começando
agora a entender o processo de inserir os conteúdos, como funciona.Como eu não
acesso ele como professora, fica mais difícil pra mim como coordenadora entender.
As plataformas são distintas, então eu tenho mais dificuldade. Eu acompanho os
professores quando é necessário. Os professores não sabem colocar os
planejamentos; nós estamos aprendendo juntos. Alguns professores têm o controle
no papel e depois eles o passam para o Sistema, porque nem sempre o sinal está
funcionando.
Eu não faço uso de nada para a reunião. Eu sei que existe o gráfico, mas nunca usei,
pois não é um instrumento que faz parte da minha rotina. Minha rotina é conversar
com os professores, e eu tenho controle das chamadas que os ATEs fazem. Não é
dificuldade, é falta de hábito mesmo. Acho que, com o tempo, eu vou me adaptar.
Eu tive uma formação que foi a DRE (Diretoria Regional de Ensino) que chamou,em
2014. No momento da formação, eu me lembro que eu achei maravilhoso, achei que
ia melhorar nossa vida. Só que as dificuldades foram aparecendo. Eu não sei se é
187
Entrevista 8. Martha
não está bom. Mesmo assim, os professores foram ouvidos e trocaram o sistema. No
momento, lá está muito parecido com aqui, e é a mesma coisa que aqui no
movimento dos professores: eles não estão sendo ouvidos. Aqui parece ser mais
democrático do que em outras escolas que conheço, mas não está sendo, os
professores não são ouvidos. Quando, no início, eu fui representando a coordenação
para falar sobre o SGP em SME, para falar com o pessoal do sistema - isso já tem
uns anos -, eu não me senti bem acolhida. Tive a impressão de que nós somos os
burros e que temos que seguir as ordens. Inverteram a ordem das coisas.
No diário, eu tenho tudo e é rápido, e eu tinha uma rotina de olhar no diário, enquanto
no sistema eu não consigo porque eu tenho que entrar em várias telas, tenho que me
desligar do mundo. Eu sou uma coordenadora, eu tenho de estar antenada o tempo
todo porque as coisas estão correndo, eu tenho de abrir e ser jogo rápido. O sistema
deveria ser melhor do que o diário, mas não é. Ele toma o meu tempo, não funciona,
fica rodando, me dá uma informação e depois apaga, não me ajuda nos meus
relatórios. Eu já pedi pra fazer reunião de coordenadores para que eles nos
apresentem formas de otimizar. Eles dizem que fazem, mas não é feito do jeito que
eu imagino.
Eu ainda tenho saudades do diário que era muito ruim. Então, são várias questões. E
aí parece que o professor é um burro, que ele não sabe usar o sistema. Espere aí, eu
sou usuária! Estão invertendo a ordem das coisas. A tecnologia, o aplicativo, se tem
um sistema pra me ajudar, eu sou o senhor do sistema. Ele tem que funcionar, pra
mim ele tem de melhorar a minha vida. Eu não quero acreditar que o SGP está aqui
para fiscalizar porque até pra fiscalizar ele é muito ruim. Do jeito que as coisas estão
colocadas, é muito estranho: você não pode dar uma opinião; é algo absurdo.
Veja, eu vou tentar lançar um atestado médico: ligo o computador, está lento, não
abre a tela. Aqui deveria ter uma plataforma tal qual a dos grandes bancos. Nossa
rede não é pequena. Deveriam dar a ela a mesma seriedade que se trata os sistemas
do banco Itaú, por exemplo. O aluno também está sendo colocado de lado, e os pais
não conseguem acessar o boletim online. Deveria haver formação, dar um cursinho,
mandar um pessoal aqui e formar os pais, e não eu ter de falar com os pais que não
funciona. Olha, eu estou tentando até agora e o sistema não abre pra eu lançar o
atestado. Antes, era mais fácil: todos assinavam o atestado para organizar a
reposição.
Agora estou aqui, a tela não me deixa entrar no aluno.O sistema não abre a sala e o
aluno para eu lançar os dados, e tem um monte de coordenador que não sabe usá-
lo.Tinha de ter uma tela por classe que me desse a visão do todo da sala. Eu não
190
quero acreditar que isso é melhor que diário: isso tem de provar que é muito melhor.
Eu fico aqui horas tentando descobrir as funções do sistema, porque ninguém nunca
me mostrou. O que achei foi por mim, e provavelmente poucos coordenadores sabem
fazer isso. Eu sei usar o sistema porque fico em casa debruçada procurando
entender.
O sistema não é inteligente. Se ele não te atende, tem de trocar, precisa trocar. Eu
sou usuária, eu estou esse tempo todo aqui, tentando lançar esse atestado. Quando
eu finalmente lanço, o professor também não vê, ele tem de procurar por sala pra ver;
ou seja, o sistema deveria mostrar na tela quando o professor abrisse a sala. Isso
otimizaria o trabalho. Eu arrepio quando vejo os atestados. Olha, é em torno de meia
ou uma hora para lançar. Eu, ao longo da minha vida, trabalhei em outras empresas,
lugares, bancos. Aí eu aprendi a não ter medo da máquina, eu aprendi para que serve
um sistema. Na educação, a gente se acha a coitadinha. Quando você trabalha em
outros lugares, você sabe a importância do sistema atender quem é usuário como
trabalhador. Preciso ter um excelente desempenho como trabalhador para que minha
empresa vá bem, e é pra isso que eu preciso que o sistema me ajude, mas ele está
me atrapalhando.
Ele não está me ajudando. Eu copio os dados para uma tela, faço outra planilha, onde
eu posso ver onde o aluno não foi bem. Os gráficos me mostram a turma, mas eu
quero saber onde os alunos não vão bem, o que foi trabalhado. Então, eu faço outra
planilha, classifico os alunos e lanço esses dados na planilha do sistema.
Entrevista 9. Carolina.
Eu sou coordenadora há cinco anos e estou na rede há dezoito. Eu diria que sei tudo
que tem no SGP.Tenho conhecimento, mas tenho dificuldades de utilizar algumas
coisas, tenho algumas dificuldades com a tecnologia. Por exemplo, se quero buscar a
sondagem que os professores colocaram, eu não consigo visualizar; se eu tenho de
buscar alguma coisa, eu tenho de mexer muito. A minha parte de aprendizagem com
do SGP é um pouco demorada. O que eu uso cotidianamente, eu já sei buscar e uso
tranquilamente. Se tenho de ver planejamento das aulas e pra fazer Conselho, é
muito bom, mas tem algumas coisas que ainda não consigo fazer.
Sobre a formação, nós tivemos uma em 2014. Nesse ano, a formação foi dada
191
algumas vezes, e eu me lembro que a gente podia pedir para o formador ir até a
escola e, na época, eu recebi dois formadores na escola. Mas na época, o que estava
causando problemas na escola era a tela dos professores, e eu acho que nós ficamos
focados no boom dos professores aceitarem tudo aquilo. A parte da coordenação, o
que foi vindo, nós fomos tentando assimilar sozinhos. Eu sinto um pouco isso. Novas
telas foram acrescentadas, mas não fomos comunicados e nem tivemos formação
depois.
Acho que o SGP cumpre o papel dele, acho que a nossa ansiedade que incomoda
um pouco. Tudo que está ali é suficiente, ele atende muito bem. Acho que tudo que
foi pedido ele deu conta de colocar, mas o que eu preciso é de formação, pois eu
tenho dificuldades de encontrar. Acho que é uma dificuldade minha, acho que os
caminhos são difíceis. Se chegar um professor novo, eu peço para um mais antigo
ajudar. A nossa plataforma é diferente da deles. Nesse sentido, os professores são
parceiros e colaboram comigo.
Eu não me sinto em rede. O PEA não está ali, o PPP também não. Eu acho que está
apartado ainda. Tem coisas que os professores não faziam no diário e não fazem no
sistema também. Algumas lacunas existem e os professores preferem falar, mas não
registram. E também tem coisas, como nossos registros de Conselho, que são
discutidas com os professores que eu não gostaria que estivessem ali, expostos pra
todo mundo ver. Sobre a questão disciplinar, por exemplo, essas anotações não têm
a ver com nota. Acho que algumas coisas do pedagógico não têm a ver com a
disciplina.
Sobre o pedagógico, eu não consigo acompanhar os registros do que está no SGP da
mesma forma que eu acompanhava no diário. Por causa da dinâmica da escola, a
gente não dá conta. Não dá para você ficar lá quinzenalmente pra ver se o professor
está dando conteúdo. Eu confio neles, tenho de confiar. Eu que já estou aposentando.
Eu sei que a gente não conhece muito do sistema, mas acabo não buscando o que
ele oferece. No pedagógico, o ponto que eu acho que me ajuda bastante junto com os
professores são as anotações do boletim mesmo. Eu sei que tem os gráficos, mas eu
não costumo usar. Eu projeto o boletim com a foto, a disciplina, e consigo ver tudo e
trabalhar com os professores. O que eu uso bastante são as notas do boletim, as
faltas, o fechamento que os professores fazem. Inclusive os boletins, é algo que eu
gosto de mostrar para os pais quando eles vão para a escola.
O SGP ajudou muito no que serefere a relatos no boletim. Os professores passaram
a ter bastante clareza que os comentários dos alunos devem se reportar à
aprendizagem e não à disciplina. Se eu pudesse, eu criaria uma página do PEA,
192
Eu estou na prefeitura desde 2006, e há dois anos como coordenador. Gosto de usar
a tecnologia e acho que ela está a favor da gente, mas acho que tem alguns
elementos que não ajudam. Eu acho que as informações são interessantes, desde
que a gente lance mão desse recurso; é importante a gente se debruçar. Eu nunca
tive acesso a nenhuma formação como professor, e nem como coordenador. Eu só
observei, e nunca sentei com a equipe para pensar sobre isso.
Acho até que os gráficos são um bom ponto de partida no início de ano, que os
dados seriam interessantes para começar o ano, ver alunos, traçar planejamentos,
traçar novas rotas, buscar recursos, observar os gargalos e criar planos de ação a
partir dele.
Na verdade, as coisas que descobri foi pelas demandas. No conselho, busquei as
planilhas. Em relação à condição ideal, gostaria que o wifi funcionasse e que os
193
mas também sobre outras questões que às vezes nós não nos damos conta e que, de
fato, a mim não me desgosta em nada saber, mas outros se sentem desconfortáveis.
como nós não fazíamos isso, nós ficamos sem saber. Tínhamos mecanismos próprios
e achávamos que o SGP era o arcabouço de dados.
Do ponto de vista instrucional, organizacional e estrutural, ele é perfeito. Eu acho que
foi facilitador do processo burocrático, de ata, de nota, de boletim, inclusive de
instrumento de adulteração que fica limitado. Agora precisa de senha, login, para
acessar a vida escolar do aluno. Desse ponto de vista, torna-se mais segura, mais
legítima, a vida funcional do aluno, seu histórico.Mesmo pra ata, trouxe mais
segurança, mais consistência, mas seriedade.
Agora eu não acho que dá para acompanhar o processo pedagógico pelo
computador. Não acredito que esse seja o papel do coordenador. O seu trabalho não
é regido por esses instrumentos. Eu acho que os momentos de troca são pessoais,
têm de existir na interação com o outro. É preciso ser revista a forma de acessar e
como a informação se organiza no sistema. Ele não funciona porque desconsidera
questões das realidades da rede que são muito específicas e particulares.
Na escola que eu trabalho, o registro do sistema é alimentado com falta de conteúdo,
avaliação e nota, mas o planejamento não está lá, a forma como está posto não
contempla como achamos que deve ser feito, o planejamentonão está lá. Eu informei
isso inclusive pra a DRE. Nós fazemos o nosso planejamento diferenciado e o
Sistema não comporta sua configuração. A gente nunca considerou o SGP para o
planejamento.
Nós continuamos a fazer tudo como sempre fizemos. O SGP é apenas um
instrumento para regular questões burocráticas; não mudou absolutamente nada. O
SGP não dá conta do processo formativo e nem do reflexivo.
Eu não gosto do SGP considerando o que eu usava. Eu acho a questão de acessar a
informação na sua totalidade importante, e eu não consigo ver na íntegra no sistema,
ele é muito fragmentado. No SGP, a gente não consegue acompanhar, não dá pra
ficar mudando de tela toda hora. A gente perdeu essa proximidade de
acompanhamento. No diário, a gente deixava recadinho, bilhetinho.
Se pudesse, eu tirava aquelas considerações sobre os alunos onde se marca com X.
Deixaria um histórico descritivo do seu desenvolvimento, escanearia algumas coisas
que ilustrassem o processo do aluno, sondagens. Em vez de x, digitalizaria uma
atividade, criaria um arquivo de imagens. Isso seria superinteressante!
A sondagem fica restrita à escola, à DRE, não retorna sobre esse registro, não tem
nenhuma ação externa e reflexiva sobre os dados da realidade da escola, A gente
alimenta o sistema e o trabalho da escola como sempre foi, não mudou nada.
O SGP absorveu o nosso tempo. O professor virou um alimentador do sistema, e o
196
coordenador pedagógico não consegue usar essas informações que estão ali com
qualidade. Eu acho que eu não acredito no acompanhamento pedagógico que se dá
através de uma distância, pois ele acontece nas relações uns com os outros. A
demanda do professor aumentou demais, além de não ter maquinário. É um monte de
tela, de dados. Considerando que as coisas não sumissem, o trabalho é infinitamente
maior.
Enquanto rede, existe diretriz que nos orienta, orientação curricular de um trabalho a
ser desenvolvido.Eu tenho autonomia metodológica, eu tenho autonomia de
construção de identidade em relação ao território que eu ocupo, existem diretrizes. A
diversidade é uma característica da rede pública, com sua característica própria de
sistema, o que nos torna comum apesar da diversidade. Tem uma diretriz, um
propósito. A rede tem de ser entendida no seu modo de comunicar dentro de sua
amplitude, temos ene coisas comuns.
Eu acho que a escola é pautada nas relações, e não dá pra tornar isso online. Eu não
me vejo falando por mensagem. Ela não tem como ser a distância na sua
completude. Alguns elementos fazem parte, no sentido ao acesso à informação, à
mídia como recurso pedagógico, na parte do processo formativo. A rede não pode
suprimir a questão do contato com o outro; ela tem de estar a serviço de algo.
Existem coordenadores pedagógicos que entendem que devem cuidar do SGP, mas
não tem como eu cuidar do pedagógico pelo SGP. A educação não pode falar apenas
do elemento frio da informação, não pode se resumir a gerenciar dados. Esse vínculo
com os pais é necessário. Eu não acredito em educação em que não tenha troca,
vínculos, diálogo e construção. Eu não quero me comunicar com pais por meio de e-
mails. O mais estranho é que não tem nenhuma ação sobre o sistema, e os
coordenadores novos hoje não sabem o que fazer. Não existe o papel formativo do
coordenador pedagógico e orientador junto à família. Aqueles que têm dificuldades
nas relações humanas se esconde nele, fica atrás do computador.
A gente já tinha planilhas antes do SGP. Ele não trouxe nenhuma inovação;acho que
deveria ter outros elementos. Nós já tínhamos gráficos e dados desde 2006, feito a
mão. Naquele período, a gente já tinha um processo construído. Pra gente, não era
nada interessante o gráfico, pois já fazíamos isso muito antes. Então, não trouxe
inovação. O papel continua nas escolas porque o Sistema não é eficiente. A opção de
uso é do professor, os dados têm de estar registrados.
Eu acho que nós temos autonomia, e a autoria das minhas práticas e dos saberes
que eu já tenho com o meu grupo. A gente não formaliza isso, mas eu acho que ela
existe. Existe uma corrente forte que as pessoas querem receber tudo na mão, pronto
197
para pensar.
Apesar de tudo, acho que o problema é da rede. Eu não tiraria nada no sistema,
nenhum item, mas como desejo gostaria de - acho que deve ser o de todos os
coordenadores - ter um sistema mais eficiente. Nós merecemos um sistema que seja
mais rápido, onde possamos digitar nossos dados sem receio de que eles se percam.
Quanto à questão de me sentir em rede no SGP, creio que avançamos muito e que
continuamos avançando cada dia mais. Vejo que atualmente temos um currículo
198
único, que pode ser adequado a cada realidade, mas que, mesmo assim, garante
princípios comuns, e o SGP insere o aluno nesse contexto. Outra questão da rede é
de podermos acessar parte dos dados do aluno independente da escola da rede em
que está matriculado. Acho isso muito inovador.
Eu sou uma coordenadora bastante antiga na rede. Tenho trinta anos de trabalho e
dezoito anos como coordenadora. Sou pedagoga e tenho mestrado e doutorado na
área de educação. Eu uso SGP desde o início e vejo todas as planilhas de modo
geral. Vejo os resultados de aproveitamento dos alunos e toda a parte sobre o ensino
aprendizagem. Esta é a parte que já está incorporada pelos coordenadores. Vejo se
os planejamentos foram feitos, e acompanho todos os lançamentos das notas que
são bastante importantes para o nosso trabalho, para a nossa rotina.
Acho que o sistema tem sua utilidade, mas ele ainda tem muitas falhas, precisa ser
reajustado. Algo que é recorrente é sumir os dados. Por vezes, desaparecem todas
as informações. Outra dificuldade é o lançamento de aulas a serem substituídas: se
não tem módulo, ninguém lança as aulas. Sem falar nos problemas da rede, o wifi,
que deixa muito a desejar. Como não temos conectividade, não conseguimos cumprir
prazos. Isso causa grandes transtornos para a escola, implica em deixar os dados
desatualizados. Eu fico me perguntando quem são os responsáveis pelo sistema em
199
outros órgãos. É preciso alguém dialogar com os responsáveis, com quem opera a
parte técnica. Deve ter um departamento competente em SME (Secretaria Municipal
de Educação). Isso é condição básica para o nosso trabalho; então, tem de funcionar.
Eu não sei se tiraria alguma coisa no sistema. Acredito que, se alguns dos problemas
citados acima fossem minimizados, ou resolvidos definitivamente, o sistema não
precisaria ser mexido na sua essência, ou melhor, em relação ao propósito da sua
criação e implantação na Rede Municipal. Eu não me vejo em rede, não acho que
estamos conectados, no sentido de ter uma rede funcional para que eu possa
estabelecer relação com os professores.
Acho que o SGP favorece e desfavorece ao mesmo tempo. Favorece quando você
tem a visão mais ampla da escola, das salas, dos conteúdos. Quando a rede não
funciona, você leva esse trabalho para casa para fazer no final de semana. Isso não é
justo, e a gente sabe que não é, a gente sabe que não está correto, que tem algo
errado. Esse sucateamento da educação, das máquinas, do nosso trabalho, da nossa
vida, é ultrajante! Eu sou a favor, mas não posso deixar de dizer que há forças
contrárias para que as coisas não aconteçam de maneira plena, e elas são muito
fortes. A gente tenta dizer, mostrar – “Eu estou fazendo, está aqui.” - e elas vêm dizer
que você é culpado, que você não faz porque não quer.
Para um desejo de melhorar o sistema, eu acho que o SGP poderia ter uma outra
roupagem, melhorar a infraestrutura, os recursos, os acessos, os caminhos.
Eu faço parte dessa parte do grupo de resistência para fazer a crítica para saber
pontos positivos e negativos, e eu não deixei isso invadir a formação. Eu acho que a
gente tem de ponderar. Eu comprei uma briga por causa dessa minha posição
política, questionadora; estou sofrendo as consequências disso agora. Eu acho que é
uma questão de posicionamento: se ele sabe do seu papel de formador, ele tem de
saber usar isso. É lógico, nos momentos de urgência da escola você vai ponderar -no
caso, ceder espaço da formação para registro. Esse posicionamento firme garante a
sua autoria, autonomia e autoridade para cumprir seu papel como formador, como
alguém que está à frente do processo ensino aprendizagem, à frente do SGP. Não é
o SGP que tem de estar à frente. O problema que eu acho é que o SGP está
ocupando espaços das relações humanas.
Acho que deveria trazer um lugar que diga, que represente o professor, de
202