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INTRODUÇÃO:

Muito tem sido dito sobre as Terapias Complementares (TC), em especial sobre
a Acupuntura, em relatos pessoais ou profissionais que ressaltam seus resultados
positivos em tratamentos de ampla gama de doenças ou a quase inexistência de efeitos
colaterais indesejáveis, em contrapartida a determinados tratamentos medicamentosos.
No entanto, poucas vezes consegue-se comprovar tais resultados através de dados e
parâmetros considerados consistentes por parte da Medicina Ortodoxa, i.e., linha padrão
que norteia a formação e conduta dos clínicos ocidentais.
O aumento não apenas no uso, mas na aceitação e conhecimento da acupuntura
foi ressaltado por WHITE, ERNST (2001), ao compilarem dados de diversas pesquisas
demonstrando o interesse das pessoas no financiamento público para tal terapia, bem
como o interesse de médicos em aprenderem ou encaminharem seus pacientes para a
mesma.
Tais enquetes contemplaram a aplicação da acupuntura em humanos, mas os
dados podem ser seguramente extrapolados para o âmbito da medicina veterinária, visto
que o proprietário tende a aproximar o bem estar dos animais às próprias experiências,
buscando procedimentos cada vez mais aceitos, seguros e confiáveis no que concerne os
cuidados médicos a eles dispensados. Somam-se aí os casos de animais com grande
valor financeiro ou com fins reprodutivos, cujos proprietários estão dispostos a investir
em técnicas diversificadas e de resultados animadores.
Sendo a acupuntura uma modalidade de tratamento originalmente incluída na
Medicina Tradicional Chinesa (MTC), e tendo dela transposto sua base teórica inicial,
foi vista com um certo ceticismo por parte da comunidade científica ocidental. Esse
ceticismo tem sido despertado e apoiado pela falta de documentação científica com
bases e metodologias confiáveis. Apesar da premissa de que os efeitos da acupuntura
devem ser obtidos através de mecanismos fisiológicos e psicológicos, as discussões, em
grande número de trabalhos, vêm descritas em relação à MTC. (LUNDBERG, 2001).
Há ainda muito a se pesquisar e padronizar no tocante aos efeitos e sua duração,
às variações individuais de resposta e aos pontos a serem escolhidos. No entanto, os
resultados já existem, sendo comprovados em inúmeros trabalhos, quer priorizando a
melhora clínica ou a técnica em si (SCIESINSKI, 1990; PETTI et al., 1998; SHI et al.,
1998; PAWDE et al., 2001).
Em verdade, a própria metodologia para ensaios no campo das TC precisa ser
adaptada e avaliada para que se possa encontrar um meio de expressar os resultados
qualitativos a ela inerentes, em termos quantitativos como se exige em ciência ortodoxa.
A quantificação dos resultados serve para estabelecermos a probabilidade e o grau de
benefício de determinado tratamento para o quadro em estudo, testando hipóteses. Para
chegarmos a tal ponto, contamos com a observação dos efeitos qualitativos que nos
fornecem bases para a formulação dessas hipóteses, atividade inicial obrigatória que, via
de regra, não nos evidencia relações causais. Complementando o preenchimento de
requisitos da metodologia convencional, avaliações novas e por vezes, “não
convencionais” dos resultados fazem-se necessárias, sendo essa busca parte do desafio
enfrentado pela acupuntura dentre outras TC. (RESCH, ERNST, 2001)
Descrições baseadas nas premissas orientais atribuem ao ponto E 36 (Zusanli)
funções de tonificação do sistema hematológico e imunológico (MACIOCIA, 1996), e
ao ponto VB 39 (Xuanzhong) a função de “nutrir a Medula” (MACIOCIA, 1996). Tais
indicações encontram relatos afins na literatura corrente (YANG et al., 1994; ZANG et
al., 1996; DRAEHMPAEHL, ZOHMANN, 1997; YU et al., 1998).
Este estudo buscará identificar um padrão de resposta ao estímulo dos pontos E
36 e VB 39 através do delineamento do perfil hematológico de cães submetidos a tais
estímulos. Tal escolha se deveu à sua frequência de aplicação na prática clínica e
citações em estudos, que vêm a confirmar suas indicações clínicas em textos clássicos
chineses.
Não pretendemos, em momento algum, inferir sobre os resultados terapêuticos
do tratamentos através da estimulação desses pontos, visto que inúmeros relatos clínicos
e ensaios experimentais o fazem com sucesso (YANG et al., 1994; ZHAO et al., 1994;
ZHANG et al., 2000) e sua eficiência já pôde ser por demais comprovada. Entretanto,
buscamos, humildemente, informações que possam subsidiar tais resultados expressas
em linguagem científica plausível, na tentativa de elucidar alguma parte dos
mecanismos fisiológicos que levam a tal resultado.
A busca por mudanças nos padrões hematológicos de cães submetidos à
estimulação dos pontos E 36 e VB 39 é de certa forma ampla ao não restringir-se a
elementos específicos, concordando com RESCH, ERNST (2001) ao versar que
“Quanto mais inovador for um estudo, menos específica deve ser a abordagem
escolhida, a fim de se evitarem resultados falsos e negativos”.
ROSS (1994) ressalta que a flexibilidade e ambiguidade são duas das maiores
forças da Medicina Tradicional Chinesa, visto que lida com pessoas (e, ousamos
acrescentar, animais) e essas são complexas, flexíveis, ambíguas e estão sempre
mudando e se desenvolvendo. Acreditamos ser necessário estabelecer o ponto ideal em
que essas características possam ser respeitadas sem prejuízos à confiabilidade
científica, uma das maiores forças da medicina ortodoxa.
Não é objeto desse estudo aprofundar-se na teoria da acupuntura, seja nos
parâmetros chineses mais tradicionais, ou seja nos parâmetros contemporâneos. Mas há
a proposta fundamentada na busca do equilíbrio: por um lado a abordagem funcional
descrita pela MTC, e, por outro, a busca por resultados palpáveis com base em
parâmetros cientificamente reconhecidos.
Finalmente, ao reiterar nosso intento de contribuição para a fundamentação do
uso clínico da acupuntura em qualquer espécie, animal ou humana, ressaltamos “que a
ausência de provas nunca deveria ser igualada às provas da ausência de um efeito”
(ERNST, 2001). Haveremos de nos esforçar em descobrir meios para prover as
explicações de cunho científico para os efeitos presenciados milenariamente e
comprovados sob a ótica da MTC.

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