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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

ESCOLA DE COMUNICAÇÃO
INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

A ascensão da etnografia pela comunicação

Caio Nascimento Araujo

1. Introdução

A etnografia tem como definição literal ser a descrição cultural de um povo ,


sendo ethno termo grego que significa povo, nação e graphein que significa grafia , e
surge como método de pesquisa derivado do campo da antropologia segundo o texto “
Sobre a etnografia e sua relevância para o campo da comunicação “ de Janice Caiafa , o
qual foi o motivo responsável pela escolha do meu ensaio.
Durante o período em que pude presenciar a aula de Janice estava acompanhan-
do um documentário do serviço Netflix chamado “ Turismo Macabro “ no qual um jor-
nalista chamado David Farrier , viajava por diversos cantos do mundo buscando enten-
der fenômenos culturais excêntricos ou até mesmo macabros. Coincidindo com o que
foi dito na aula fiquei comovido e pude ver a importância do reconhecimento de cada
cultura seja de grupo ou indivíduo , pois para que a comunicação possa ser global é ne-
cessário que se tenha contato com diferentes experiências com diferentes povos.
Recentemente vem sendo exigido por empresas e agências que trabalham com
mídias sociais , ganhando destaque nas análises e relatórios , a etnografia segundo o
IBPAD e a pesquisa etnográfica que junto com a alteridade proporcionam novas técni-
cas e abrangência de públicos diferentes . A ascensão da etnografia surge dentro do ce-
nário atual do mundo onde estamos aprendendo a lidar com diferenças culturais, em
meio a uma globalização agressiva que impulsiona e precisa de novos povos e de indi-
víduos colocando a questão humana em primeiro lugar na busca por compreensão atra-
vés de um trabalho de campo popularizado pelo antropólogo Malinowski.
2. Da curiosidade à necessidade

Segundo Janice Caiafa a etnografia surgiu muito por conta da inquietação que
havia com relação as diferentes formas de pensar e se organizar em sociedade, o que
acarretou no início da etnografia sendo reconhecida como estudo dos grupos não oci-
dentais , assim provocando a criação de uma série de técnicas para se elaborar tal estudo
de diferentes culturas , seus costumes e fenômenos .
O método etnográfico de acordo com o IBPAD realiza a pesquisa qualitativa,
pesquisa que busca entender, descrever e em algumas vezes até mesmo explicar outras
culturas e hábitos de grupos ou indivíduos, seguindo alguns princípios:
- Pesquisa de campo (modelo popularizado por Malinowski)
- Multifatorial
- Indutivo
- Holístico
E dessa forma a coleta de dados é feita e assim o etnógrafo expõe sua experiên-
cia de campo desenvolvendo sua comunicação e aprendendo a lidar com diferentes ritu-
ais de outros povos, destacando sempre a participação de campo e a principal técnica
utilizada na metodologia a técnica da observação participante.
Podemos perceber que o tratamento com relação a etnografia sofreu uma mu-
dança considerável diante da mudança dos tempos, pois os primeiros antropólogos não
eram etnógrafos e usavam os relatos de viajantes para compor sua pesquisa qualitativa
,totalmente diferente do que pode se ver no uso das mais variadas técnicas para aplicar a
pesquisa etnográfica ,como visto na famosa Monografia de Malinowski( 1920 ) que foi
um documento essencial para formação da etnografia.
Contudo, a etnografia sofre do dilema da “autoridade etnográfica“ questão discu-
tida por muitos etnógrafos onde se trabalha a ideia de que o autor da pesquisa possa se
colocar acima dos dados coletados em sua experiência de campo. O antropólogo Clif-
ford Geertz foi um expoente na discussão desse tema onde as culturas parecem apenas
objetos sem vida a serem interpretados pelo antropólogo, deixando de lado todas as im-
pressões proporcionadas pela participação de campo e da técnica da observação partici-
pante.
A solução para esse dilema surge na ideia do agenciamento ( Deleuze e Guattari
,duas figuras importantíssimas para o cenário da antropologia)
Termo que consiste no conjunto de componentes heterogêneos por meio de um co-
funcionamento ou simpatia ,termo utilizado pelos mesmos, em que se realizam o estudo
de outros fenômenos culturais com um interesse afetivo e profissional em harmonia.
Todas as questões nos levam ao mundo que conhecemos hoje, totalmente conectado
seja por tecnologia ou meios de transporte e estamos à beira de mais uma evolução com
o surgimento do 5G e a internet das coisas. Por isso o entendimento de diferentes cultu-
ras para que se possa saber como podemos nos relacionar com elas , seja as inserido no
mundo ou as deixando isoladas, evitando uma homogeinização e o desaparecimento de
aspectos característicos de cada povo ou indivíduo, ferindo o aspecto da alteridade.
Portanto, a etnografia e a pesquisa etnográfica acabam se tornado conteúdos extrema-
mentes necessários para o exercício das mais diversas profissões no mercado de traba-
lho , que se expande e alcança os mais diversos públicos ao redor do mundo e ainda
mais do campo da comunicação , porque essa acaba sendo a linha de frente para conver-
sar e chamar a atenção desses públicos então se faz importante que esse contato seja
feito com cautela, respeito e simpatia.

3. Considerações finais

A etnografia evoluiu tremendamente desde o seu surgimento e consequentemen-


te isso está relacionado à sua necessidade, que diante das descobertas sobre o mundo e a
toda as suas peculiaridades mostra-se essencial e sendo uma metodologia que cada vez
mais busca melhorar e superar seus tabus e defeitos sendo muito benéfica.
O campo da comunicação é muito dinâmico o que indica que está constantemen-
te passando por mudanças, afinal as linguagens se alteram de acordo com o contexto no
qual se está inserido de forma que é preciso renovar o acervo de conhecimento e técni-
cas para alcançar os novos públicos que estão se formando.
Logo, a ascensão da etnografia está intrinsicamente relacionada ao campo da
comunicação, pois a medida que a comunicação evolui a etnografia vem a fazer o mes-
mo porque se a comunicação está se renovando significa que novos grupos ou indiví-
duos precisam ser comunicados de alguma forma e assim iremos precisar encontrar uma
forma de entender tal público e como conquista-lo.
Acredito que a maior preocupação fique por conta de estarmos na era da pós-
verdade onde as Fake News tomam conta de nosso âmbito de pesquisa e a verdade pa-
rece a cada dia mais difícil de ser encontrada em sua forma mais inquestionável. Isso
por sua vez gera um processo de desinformação que leva a decisões equivocadas, por-
que nenhuma informação é produzida sem intenção o que nos remete a situação da auto-
ridade etnográfica e fazer com que toda uma pesquisa e experiência seja desmerecida
por conta de autores mal intencionados ou por informações manipuladas.
Porém como um otimista acredito que a paixão pela descoberta e o respeito à al-
teridade irão prevalecer e assim conseguiremos nos sobrepor a esses dilemas que os
novos meios comunicacionais vem nos impondo de modo que teremos aprendido novos
meios de nos comunicar com o próximo e o distante.

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