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PSICODIAGNÓSTICO
O diagnóstico é um processo, que deve ser pautado em dados clínicos
observacionais e autorrelatados/auto-descritivos pelo sujeito. Muitas vezes, é também
importante levar em conta aspectos orgânicos (ex: demência).
Especificidades do psicodiagnóstico
1. É predominantemente baseado em dados clínicos. A semiotécnica armada
pode ser aliada, mas não substitui o essencial: uma história bem-colhida e um
exame psíquico municioso, ambos interpretados com habilidade.
2. Com exceção de quadros psico-orgânicos, não é baseado em possíveis
mecanismos etiológicos supostos pelo entrevistador. Baseia-se em sinais e
sintoma que aparecem ao longo da história e na entrevista. Deve-se manter duas
linhas de raciocínio: uma linha diagnóstica, baseada na descrição evolutiva e atual
dos sintomas, e uma linha etiológica, que permite a elaboração de hipóteses de
fatores causais.
3. Não existem sinais ou sintomas psicopatológicos totalmente específicos de
determinado transtorno mental, e nenhum sintoma é evidência inequívoca de um
quadro psicopatológico (sintomas patognomônicos não existem). Diagnóstico
psicopatológico = conhecimento (teórico e científico) + habilidade (clínica e
intuitiva).
4. O diagnóstico é, em geral, apenas possível com a observação do curso da
doença. Repensamos pelo caminho...
5. O diagnóstico deve ser pluridimensional, incluindo dimensões clínicas e
psicossociais.
6. Um procedimento diagnóstico deve ser confiável (produzir em relação a um
mesmo indivíduo ou para pacientes de um mesmo grupo diagnóstico, em
circunstâncias diversas, o mesmo diagnóstico), válido (captar aquilo que se propõe
a captar), com alta sensibilidade (capaz de identificar casos verdadeiros) e alta
especificidade (capaz de diferenciar verdadeiros dos falsos, identifica "não-
casos").
Avaliação
1. Entrevista inicial, com anamnese (histórico dos sinais e sintomas ao longo
da vida, antecedentes pessoais, familiares e sociais)
2. Exame psíquico ou exame do estado mental atual (avaliação das funções
psíquicas)
3. Exame físico geral e neurológico.
4. Exames complementares (personalidade, cognição)
5. Exames complementares de semiotécnica armada, como exames
laboratoriais e neuroimagem)
+ A anamnese muitas vezes pode ser realizada com terceiros ou em partes com
terceiros, porém o exame psíquico é realizado somente com o sujeito em questão.
A entrevista clínica
A habilidade do entrevistador se revela pelas perguntas que formula, por aquelas
que evita formular e pela decisão de quando e como falar ou apenas calar.
Os primeiros três minutos da entrevista são extremamente significativos, sendo
muitas vezes úteis tanto para a identificação do perfil dominante de sintomas do paciente
como para a formulação da hipótese diagnóstica final.
+ Aspecto global do paciente: deve ser descrito, considerando o corpo e a postura
corporal, roupas e acessórios e atitudes globais.
FUNÇÕES PSÍQUICAS ELEMENTARES
É sempre a pessoa em sua totalidade que adoece, portanto as funções psíquicas são
interrelacionadas e interdependentes.
CONSCIÊNCIA
Pode ser definida de diversas maneiras. Porém, na psicopatologia é utilizada as
noções neuropsicológicas, que diz respeito ao grau de clareza do sensório, e
psicológicas, que entende que a consciência está relacionada ao todo da vida psíquica
momentânea, tudo o que se toma conhecimento, que se sente. A consciência é
entendida como a síntese das atividades psíquicas, de modo que uma alteração na
consciência reflete em todas as outras funções psíquicas. A consciência pode ser
entendida a partir da consciência do eu e da consciência dos objetos. O sono é uma
alteração normal da consciência, bem como o sonho.
A avaliação (semiotécnica) é a partir da lucidez do sujeito, de sua orientação, sua
capacidade de interagir com o interlocutor e capacidade de prestar atenção. É importante
se atentar também no aparecimento de novas vivências (falsas percepções, ideias
delirantes, entre outros) no rebaixamento da consciência, bem como redução da
capacidade de se recordar de tais experiências. A consciência é flutuante e seu
rebaixamento pode ser influenciado por intoxicação (álcool, por exemplo), fadiga,
infecções, etc.
Alterações quantitativas: rebaixamento do nível de consciência
1. Obnubilação ou turvação da consciência: rebaixamento leve ou moderado
2. Torpor: a resposta aos estímulos externos é mais curta do que nos estados de
obnubilação. Na obnubilação e no torpor, o paciente pode expressar traços de
crítica e pudor.
3. Sopor: desperta-se apenas por estímulo enérgico
4. Coma: não permite nenhuma atividade voluntária. O coma possui alguns graus de
intensidade, são eles: I semicoma; II, coma superficial; III coma profundo; e IV
coma dépassé.
Alterações qualitativas
Não necessariamente são patológicas e em geral também estão relacionadas a
alterações quantitativas:
1. Estados crepusculares: obnubilação, porém com manutenção da atividade motora
voluntária, surgindo e aparecendo de forma abrupta;
2. Estado segundo: como o estado crepuscular, porém a partir de reação psicogênica,
como fatores emocionais (ex: choques emocionais intensos);
3. Dissociação de consciência: fragmentação da consciência; estado semelhante ao
sonho (com caráter onírico, portanto), porém produz ansiedade;
4. Transe: estado semelhante ao sonhar acordado, com presença da atividade
motora automática e leve suspensão da atividade motora voluntária;
5. Estado hipnótico;
6. Experiência de quase-morte.
ATENÇÃO ->prosexia
Atenção é o direcionamento da consciência, ou seja, é a capacidade do sujeito de
selecionar, filtrar e organizar informações ambientais em unidades controláveis e
significativas. A consciência interfere na atenção, mas mesmo num mesmo estado de
consciência, diferentes níveis de atenção podem ser encontrados. A atenção é
influenciada pelo interesse, da afetividade e da capacidade cognitiva do sujeito
quanto à atividade em questões.
Classificação
A atenção pode ser classificada de diversas maneiras.
Quanto à natureza:
Involuntária/espontânea
Voluntária
Quanto à direção
Interna
Externa
Quanto à amplitude
Focal
Dispersa
Subtipos mais utilizados
1. capacidade e foco de atenção (atenção concentrada ou concentração)
2. atenção seletiva (estudar apesar do barulho lá fora)
3. atenção dividida (dirigir e ouvir música)
4. atenção alternada (mandar mensagem e assistir série)
5. atenção sustentada (sustained attention, assistir aula)
6. seleção de resposta e controle executivo (O controle executivo possibilita que se mude
com eficácia de uma resposta possível para outra conforme as demandas cambiantes do
ambiente)
Conceitos importantes
Tenacidade é a capacidade do sujeito de fixar a atenção sobre determinada área, ação
ou objeto por determinado tempo.
Vigilância é a qualidade da atenção que permite o sujeito de mudar seu foco de um
objeto ao outro.
Alterações
As alterações de atenção costumam ser denominadas com o sufixo “prosexia”:
● Hipoprosexia: diminuição global da atenção, é a mais comum e a menos
específica das alterações da atenção. Ela pode estar relacionada a questões fisiológicas
ou patológicas.
● Aprosexia: total abolição da capacioidade de prestar atenção
● Hiperprosexia: estado de atenção exacerbadas, seja com aumento da tenacidade
ou da vigilância.
● Distração: é sinal, não déficit... O sujeito está concentrado em uma atividade
objeto ou ação, com dificuldade em alternar sua atenção a outros fenômenos.
● Distraibilidade: trata-se de um estado patológico, de grande instabilidade muita
mobilidade da atenção voluntária, em que o sujeito possui dificuldade em concentrar a
atenção em somente uma atividade.
ORIENTAÇÃO
A orientação é a capacidade de se situar em relação a si e o ambiente (incluindo
tempo, espaço e os outros), sendo uma função básica e fundamental para a
sobrevivência. A sua avaliação é importante também para identificar alterações na
consciência, percepção, atenção, memória. Sua alteração pode ser relacionada a
rebaixamento de consciência, déficits de memória, transtorno psicopatológicos ou causas
orgânicas (como doenças, como a sífilis, ou lesões neurológicas).
Classificação
=> Geral
Orientação autopsíquica (sobre a realidade de si mesma)
Orientação alopsíquica (em relação ao mundo, à realidade imediata, tanto em
relação ao tempo quanto ao espaço). Para a orientação alopsíquica, é fundamental
o acesso a informações ambientais; a suspensão desse acesso influencia
diretamente na orientação (ex. internação prolongada).
A semiotécnica da orientação é utilizada a partir de questões relacionadas ao
tempo e espaço. Porém é importante adequar a orientação a cada realidade, bem como
as perguntas direcionadas. Em geral, a desorientação temporal ocorre primeiro,
depois a espacial e por último, em relação a si mesma.
=> Desorientações a partir das causas
● Amnéstica: ocorre devido à déficits de memória imediata;
● Demencial: ocorre a partir de déficit de reconhecimento ambiental e perda de
outras funções cognitivas;
● Apática: ocorre em casos de profunda apatia, como em casos de quadro
depressivo grave;
● Delirante: ocorre em delírios no qual o sujeito acredita estar em outro tempo ou
espaço;
● Dupla orientação: o sujeito compreende qual a data e espaço, porém acredita que
está vivendo em outro ambiente;
● Desorientação com turvação da consciência: ocorre quando há rebaixamento da
consciência moderado a intenso;
● Déficits cognitivos: incapacidade cognitiva do sujeito de reconhecer e interpretar
normas sociais relacionadas ao tempo e espaço;
● Alteração histérica: quadro dissociativos ou alterações de identidade pessoal;
● Desorientação por desagregação: ocorre principal em pacientes psicóticos graves,
por desorganização da atividade psíquica como um todo;
● Desorientação quanto a própria idade: quando o sujeito identifica sua idade com
uma discrepância de a partir de 5 anos.
Alterações qualitativas:
● Ilusão: percepção deformada de objetos reais ou presentes e pode estar ligada a
rebaixamento da consciência, fadiga e estados afetivos intensificados;
● Alucinação: percepção clara e bem definida de um objeto sem a presença desse
objeto estimulante real. Elas estão sempre relacionadas a sensações, sendo
auditivas, visuais, táteis, gustativas e etc. As alucinações auditivas são as mais
comuns. As alucinações podem ser de objetos simples, como ruídos e barulhos a
objetos complexos, como vozes que falam coisas específicas; podem ser vultos a
pessoas específicas, e etc. As alucinações podem ser sinestésicas (quando
sensações se misturam), extra-campina (quando excede o campo das sensações,
como ver objetos dentro do corpo). Elas podem ser também estar relacionadas a
rebaixamento da consciência;
● Alucinose: é quando o sujeito tem alucinações, porém mantém uma capacidade
crítica de interpretá-las como não reais, seja possuindo conhecimento de seu
quadro psicopatológico e possíveis sintomas, como sabendo que as alucinações
ocorrem devido a intoxicação;
● Pseudoalucinação: fenômeno alucinatório pouco nítido e pouco definido, os objetos
são pouco nítidos, com pouca corporeidade, contornos imprecisos e sem vida. O
paciente relata, por ex, que parece escutar uma voz, que é como se fosse uma
voz.
● Alucinação negativa: ausência de percepção de determinados objetos reais de
modo seletivo e significativo (ex: não conseguir ver outras pessoas).