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PSICOPATOLOGIA

É o conjunto de conhecimentos referentes ao adoecimento mental do ser humano,


de modo sistemático, elucidativo e desmistificante. A semiologia é o objeto de estudo
da psicopatologia, ou seja, estuda os sintomas, os comportamentos observáveis,
autorrelatos e auto-descrições. Relatos de terceiros não é objeto de estudo, uma vez
que tais relatos dizem mais do sofrimento de terceiros que de fato do sujeito em questão.
A partir da semiologia (que significa estudo de sinais), é possível observar e
identificar alterações físicas e mentais, ordená-los, formular diagnósticos e empreender
uma terapêutica. Ordenar sintomas é importante para entender diferenças entre
síndromes (conjunto de sintomas) e transtornos (são fenômenos onde é possível
compreender etiologia, curso relativamente homogêneo, estados terminais típicos,
mecanismos psicológicos e psicopatológicos característicos, antecedentes genético-
familiares e respostas a tratamentos mais ou menos previsíveis). Existem duas
orientações básicas dos sintomas:
● Forma: estrutura básica do sintoma (exemplo: delírio, alucinação, ideia obsessiva,
entre outros);
● Conteúdo: aquilo que preenche o estrutural (em caso de delírio, pode ser de
grandeza, perseguição, de culpa, religioso, entre outros).

Para compreender se sintomas são transtornos é necessário entender a diferença


entre o normal e o patológico, o que é saúde e transtorno mental. Não há uma definição
clara e bem definida. Existem, porém, várias definições, e cada uma tem suas
complicações. É sempre importante levar em conta o contexto dos sintomas, o significado
que o sujeito atribui a eles e o sofrimento.

PSICODIAGNÓSTICO
O diagnóstico é um processo, que deve ser pautado em dados clínicos
observacionais e autorrelatados/auto-descritivos pelo sujeito. Muitas vezes, é também
importante levar em conta aspectos orgânicos (ex: demência).

Especificidades do psicodiagnóstico
1. É predominantemente baseado em dados clínicos. A semiotécnica armada
pode ser aliada, mas não substitui o essencial: uma história bem-colhida e um
exame psíquico municioso, ambos interpretados com habilidade.
2. Com exceção de quadros psico-orgânicos, não é baseado em possíveis
mecanismos etiológicos supostos pelo entrevistador. Baseia-se em sinais e
sintoma que aparecem ao longo da história e na entrevista. Deve-se manter duas
linhas de raciocínio: uma linha diagnóstica, baseada na descrição evolutiva e atual
dos sintomas, e uma linha etiológica, que permite a elaboração de hipóteses de
fatores causais.
3. Não existem sinais ou sintomas psicopatológicos totalmente específicos de
determinado transtorno mental, e nenhum sintoma é evidência inequívoca de um
quadro psicopatológico (sintomas patognomônicos não existem). Diagnóstico
psicopatológico = conhecimento (teórico e científico) + habilidade (clínica e
intuitiva).
4. O diagnóstico é, em geral, apenas possível com a observação do curso da
doença. Repensamos pelo caminho...
5. O diagnóstico deve ser pluridimensional, incluindo dimensões clínicas e
psicossociais.
6. Um procedimento diagnóstico deve ser confiável (produzir em relação a um
mesmo indivíduo ou para pacientes de um mesmo grupo diagnóstico, em
circunstâncias diversas, o mesmo diagnóstico), válido (captar aquilo que se propõe
a captar), com alta sensibilidade (capaz de identificar casos verdadeiros) e alta
especificidade (capaz de diferenciar verdadeiros dos falsos, identifica "não-
casos").

Avaliação
1. Entrevista inicial, com anamnese (histórico dos sinais e sintomas ao longo
da vida, antecedentes pessoais, familiares e sociais)
2. Exame psíquico ou exame do estado mental atual (avaliação das funções
psíquicas)
3. Exame físico geral e neurológico.
4. Exames complementares (personalidade, cognição)
5. Exames complementares de semiotécnica armada, como exames
laboratoriais e neuroimagem)
+ A anamnese muitas vezes pode ser realizada com terceiros ou em partes com
terceiros, porém o exame psíquico é realizado somente com o sujeito em questão.

A entrevista clínica
A habilidade do entrevistador se revela pelas perguntas que formula, por aquelas
que evita formular e pela decisão de quando e como falar ou apenas calar.
Os primeiros três minutos da entrevista são extremamente significativos, sendo
muitas vezes úteis tanto para a identificação do perfil dominante de sintomas do paciente
como para a formulação da hipótese diagnóstica final.
+ Aspecto global do paciente: deve ser descrito, considerando o corpo e a postura
corporal, roupas e acessórios e atitudes globais.
FUNÇÕES PSÍQUICAS ELEMENTARES
É sempre a pessoa em sua totalidade que adoece, portanto as funções psíquicas são
interrelacionadas e interdependentes.

CONSCIÊNCIA
Pode ser definida de diversas maneiras. Porém, na psicopatologia é utilizada as
noções neuropsicológicas, que diz respeito ao grau de clareza do sensório, e
psicológicas, que entende que a consciência está relacionada ao todo da vida psíquica
momentânea, tudo o que se toma conhecimento, que se sente. A consciência é
entendida como a síntese das atividades psíquicas, de modo que uma alteração na
consciência reflete em todas as outras funções psíquicas. A consciência pode ser
entendida a partir da consciência do eu e da consciência dos objetos. O sono é uma
alteração normal da consciência, bem como o sonho.
A avaliação (semiotécnica) é a partir da lucidez do sujeito, de sua orientação, sua
capacidade de interagir com o interlocutor e capacidade de prestar atenção. É importante
se atentar também no aparecimento de novas vivências (falsas percepções, ideias
delirantes, entre outros) no rebaixamento da consciência, bem como redução da
capacidade de se recordar de tais experiências. A consciência é flutuante e seu
rebaixamento pode ser influenciado por intoxicação (álcool, por exemplo), fadiga,
infecções, etc.
Alterações quantitativas: rebaixamento do nível de consciência
1. Obnubilação ou turvação da consciência: rebaixamento leve ou moderado
2. Torpor: a resposta aos estímulos externos é mais curta do que nos estados de
obnubilação. Na obnubilação e no torpor, o paciente pode expressar traços de
crítica e pudor.
3. Sopor: desperta-se apenas por estímulo enérgico
4. Coma: não permite nenhuma atividade voluntária. O coma possui alguns graus de
intensidade, são eles: I semicoma; II, coma superficial; III coma profundo; e IV
coma dépassé.

Síndromes psicopatológicas associadas ao rebaixamento


Essas síndromes confusionais agudas são denominadas delirium.
 Delirium: vários quadros com rebaixamento leve a moderado do nível de
consciência, acompanhados de desorientação temporoespacial, dificuldade de
concentração, perplexidade,ansiedade em graus variáveis, agitação ou lentificação
psicomotora, discurso ilógico e confuso e ilusões e/ou alucinações, quase sempre
visuais. Trata-se de um quadro que oscila muito ao longo do dia, geralmente
piorando ao fim do dia.
+ Engloba o estado onírico e a amência na maior parte das vezes.
O Delirium não é um nível de rebaixamento da consciência, porém um conjunto de
sintomas (é considerado uma síndrome e não transtorno) relacionado à consciência e que
envolve alteração quantitativa no nível de consciência. É uma síndrome aguda
confusional que possui bases orgânicas.

Perdas abruptas da consciência (popularmente conhecido como desmaios):


● Lipotimia: perda rápida e parcial da consciência (durante poucos segundos);
● Síncope: súbito colapso, com perda abrupta e completa da consciência e tônus
muscular, com queda completa no chão.

Alterações qualitativas
Não necessariamente são patológicas e em geral também estão relacionadas a
alterações quantitativas:
1. Estados crepusculares: obnubilação, porém com manutenção da atividade motora
voluntária, surgindo e aparecendo de forma abrupta;
2. Estado segundo: como o estado crepuscular, porém a partir de reação psicogênica,
como fatores emocionais (ex: choques emocionais intensos);
3. Dissociação de consciência: fragmentação da consciência; estado semelhante ao
sonho (com caráter onírico, portanto), porém produz ansiedade;
4. Transe: estado semelhante ao sonhar acordado, com presença da atividade
motora automática e leve suspensão da atividade motora voluntária;
5. Estado hipnótico;
6. Experiência de quase-morte.

ATENÇÃO ->prosexia
Atenção é o direcionamento da consciência, ou seja, é a capacidade do sujeito de
selecionar, filtrar e organizar informações ambientais em unidades controláveis e
significativas. A consciência interfere na atenção, mas mesmo num mesmo estado de
consciência, diferentes níveis de atenção podem ser encontrados. A atenção é
influenciada pelo interesse, da afetividade e da capacidade cognitiva do sujeito
quanto à atividade em questões.
Classificação
A atenção pode ser classificada de diversas maneiras.
Quanto à natureza:
 Involuntária/espontânea
 Voluntária
Quanto à direção
 Interna
 Externa
Quanto à amplitude
 Focal
 Dispersa
Subtipos mais utilizados
1. capacidade e foco de atenção (atenção concentrada ou concentração)
2. atenção seletiva (estudar apesar do barulho lá fora)
3. atenção dividida (dirigir e ouvir música)
4. atenção alternada (mandar mensagem e assistir série)
5. atenção sustentada (sustained attention, assistir aula)
6. seleção de resposta e controle executivo (O controle executivo possibilita que se mude
com eficácia de uma resposta possível para outra conforme as demandas cambiantes do
ambiente)
Conceitos importantes
Tenacidade é a capacidade do sujeito de fixar a atenção sobre determinada área, ação
ou objeto por determinado tempo.
Vigilância é a qualidade da atenção que permite o sujeito de mudar seu foco de um
objeto ao outro.
Alterações
As alterações de atenção costumam ser denominadas com o sufixo “prosexia”:
● Hipoprosexia: diminuição global da atenção, é a mais comum e a menos
específica das alterações da atenção. Ela pode estar relacionada a questões fisiológicas
ou patológicas.
● Aprosexia: total abolição da capacioidade de prestar atenção
● Hiperprosexia: estado de atenção exacerbadas, seja com aumento da tenacidade
ou da vigilância.
● Distração: é sinal, não déficit... O sujeito está concentrado em uma atividade
objeto ou ação, com dificuldade em alternar sua atenção a outros fenômenos.
● Distraibilidade: trata-se de um estado patológico, de grande instabilidade muita
mobilidade da atenção voluntária, em que o sujeito possui dificuldade em concentrar a
atenção em somente uma atividade.
ORIENTAÇÃO
A orientação é a capacidade de se situar em relação a si e o ambiente (incluindo
tempo, espaço e os outros), sendo uma função básica e fundamental para a
sobrevivência. A sua avaliação é importante também para identificar alterações na
consciência, percepção, atenção, memória. Sua alteração pode ser relacionada a
rebaixamento de consciência, déficits de memória, transtorno psicopatológicos ou causas
orgânicas (como doenças, como a sífilis, ou lesões neurológicas).
Classificação
=> Geral
 Orientação autopsíquica (sobre a realidade de si mesma)
 Orientação alopsíquica (em relação ao mundo, à realidade imediata, tanto em
relação ao tempo quanto ao espaço). Para a orientação alopsíquica, é fundamental
o acesso a informações ambientais; a suspensão desse acesso influencia
diretamente na orientação (ex. internação prolongada).
A semiotécnica da orientação é utilizada a partir de questões relacionadas ao
tempo e espaço. Porém é importante adequar a orientação a cada realidade, bem como
as perguntas direcionadas. Em geral, a desorientação temporal ocorre primeiro,
depois a espacial e por último, em relação a si mesma.
=> Desorientações a partir das causas
● Amnéstica: ocorre devido à déficits de memória imediata;
● Demencial: ocorre a partir de déficit de reconhecimento ambiental e perda de
outras funções cognitivas;
● Apática: ocorre em casos de profunda apatia, como em casos de quadro
depressivo grave;
● Delirante: ocorre em delírios no qual o sujeito acredita estar em outro tempo ou
espaço;
● Dupla orientação: o sujeito compreende qual a data e espaço, porém acredita que
está vivendo em outro ambiente;
● Desorientação com turvação da consciência: ocorre quando há rebaixamento da
consciência moderado a intenso;
● Déficits cognitivos: incapacidade cognitiva do sujeito de reconhecer e interpretar
normas sociais relacionadas ao tempo e espaço;
● Alteração histérica: quadro dissociativos ou alterações de identidade pessoal;
● Desorientação por desagregação: ocorre principal em pacientes psicóticos graves,
por desorganização da atividade psíquica como um todo;
● Desorientação quanto a própria idade: quando o sujeito identifica sua idade com
uma discrepância de a partir de 5 anos.

Memória e suas alterações


É a capacidade de registrar novos eventos (codificação), reter (armazenamento),
evocar (recuperação ou evocação) e reconhecer os conteúdos mnêmicos. A memória
está diretamente relacionada à consciência, atenção e interesse afetivo. Cada abordagem
psicológica possui sua compreensão à respeito dos processos de memória e existem
diferentes classificações e tipos de memória. Na psicopatologia, as classificações quanto
ao tempo e duração de processo são as mais utilizadas. A memória não é uma função
passiva, sendo um processo ativo não unitário, ou seja, é composta por múltiplos
elementos. A memória pode ser classificada a partir do tempo:
● Memória sensorial: de até 1 segundo, percepção, atenção e memória se sobrepõe,
sendo muito ricas porém muito breves;
● Memória imediata: de curtíssimo prazo, durante poucos segundos a poucos
minutos, confundindo-se conceitualmente com memória de trabalho e atenção,
sendo a capacidade de reter o material imediatamente recebido;
● Memória recente/ de curto prazo: dura alguns minutos a algumas horas, sendo a
capacidade de reter informações por um período curto de tempo;
● Memória de longo prazo/ remota: varia de dias até muitos anos, sendo a
capacidade de evocar conteúdos adquiridos e retidos no passado.

Pode ser classificada a partir de outras formas:


● Memória explícita: relacionada a conhecimento consciente, envolvendo esforço
voluntário;
● Memória implícita: é adquirida e evocada sem qualquer esforço, inconscientemente
● Memória de trabalho: diz respeito a integração de processos e habilidade
atencionais e os de memória imediata, sendo uma memória explícita e plenamente
ativa;
● Memória episódica: é um tipo de memória ligada a eventos específicos vivenciados
pelo sujeito;
● Memória semântica: um tipo de memória de longo prazo que não diz respeito a
eventos ou objetos específicos, sendo a capacidade de memória ligada a conceitos
e conhecimentos gerais do indivíduo (ex: linguagem, saber que o dia tem 24 horas,
saber que um cachorro é um mamífero, saber que o fogo queima e etc);
● Memória de procedimentos: é uma memória implícita ligada a habilidade motoras e
perceptuais, sendo necessário treino (ex: tocar um instrumento, andar de biciclata).
As alterações quantitativas da memória podem ser:
● Hipermnésia: aumento significativo da capacidade de evocar conteúdos mnêmicos;
● Amnésia/ hipomnésia: perda parcial da memória; dificuldade em reter e/ou evocar
conteúdos. Essa alteração pode ter bases orgânicas e psicogênicas (costumam
estar relacionadas a eventos muito específicos de valor simbólico ao sujeito);
○ Retrógrada: o sujeito tem dificuldades em em reter e evocar conteúdos
antigos após determinado evento;
○ Anterógrada: o sujeito passa a ter dificuldades em reter e evocar novas
informações após determinado evento;
○ Retroanterógrada: o sujeito passa a ter dificuldades em reter e evocar novas
informações, bem como conteúdos antigos, após determinado eventos.

Lei de Ribot: numa perda de memória patológica, como na demência, o que se


perde primeiro são elementos mais recentemente adquiridos e, posteriormente, elementos
mais antigos. Além disso, os sujeitos perdem primeiro elementos mais estranhos e menos
habituais, para posteriormente perder elementos mais comuns e familiares. A memória
semântica é uma das últimas a ter impactos significativos.
As alterações qualitativas da memória são chamadas de paramnésias e podem ser:
● Ilusões mnêmicas: acréscimos de elementos falsos a um núcleo verdadeiro da
memória;
● Alucinações mnêmicas: são verdadeiras criações imaginativas que aparecem como
lembranças ao sujeito sem corresponderem a nenhum elemento mnêmico;
● Confabulações/fabulações: ocorre quando elementos da imaginação ou de outros
núcleos de memória são utilizados para preencher lacunas de memória. São mais
comuns em quadros de déficits de memórias demenciais;
● Criptomnésia: ocorre a partir do acesso a memórias mais antigas, porém o sujeito
as reconhece como algo novo, como uma descoberta;
● Ecmnésia: é a recapitulação e revivência intensa e abreviada de memórias antigas
em um curto período de tempo;
● Lembrança obsessiva: surgimento espontâneo de elementos mnêmicos de modo
invasivo, sem permitir manejo voluntário de suas evocações.
● Dejá-vu: é uma alteração de reconhecimento onde o sujeito tem a sensação que já
vivenciou uma situação nunca vivenciada;
● Jamais-vu: o sujeito tem a sensação de que nunca vivenciou uma situação já
vivenciada, do qual ainda possui memória.

Sensopercepção e suas alterações -> estesia


Sensação está relacionada aos estímulos externos e os sentidos, enquanto a
percepção é uma interpretação desses estímulos, porém estão extremamente
interligados. Os sentidos, para a psicopatologia vão além dos 5 clássicos, havendo
também a cinestesia (localização e noção espacial do corpo no espaço) e cenestesia
(sensações internas o corpo, como dor de barriga, gases e etc). Possuímos tanto imagens
reais quanto representativas (mnêmicas). A sensopercepção é influenciada por outras
funções psíquicas, como humor, afeto e consciência. As imagens perceptivas reais são
estáveis, nitidez, possuindo corporeidade, sendo extrojetadas, não sendo influenciadas
voluntariamente e sendo completas (possui todos detalhes presentes). Uma imagem real
não necessariamente possuirá todos elementos, porém boa parte deles. Uma imagem
representativa ou mnêmica não possui tais qualidades. As alterações quantitativas podem
ser:
● Hiperestesia: aumento da intensidade das sensações, como em casos de
enxaqueca ou intoxicação por substância psicoativas;
● Hipoestesia: diminuição da intensidade e sensibilidade dos estímulos, como em
casos depressivos;
● Parestesia: é uma sensação desagradável espontânea (ex: formigamento);
● Disestesia: é uma sensação desagradável ligada a alteração orgânica e fisiológica
(ex: dor de queimadura);

Alterações qualitativas:
● Ilusão: percepção deformada de objetos reais ou presentes e pode estar ligada a
rebaixamento da consciência, fadiga e estados afetivos intensificados;
● Alucinação: percepção clara e bem definida de um objeto sem a presença desse
objeto estimulante real. Elas estão sempre relacionadas a sensações, sendo
auditivas, visuais, táteis, gustativas e etc. As alucinações auditivas são as mais
comuns. As alucinações podem ser de objetos simples, como ruídos e barulhos a
objetos complexos, como vozes que falam coisas específicas; podem ser vultos a
pessoas específicas, e etc. As alucinações podem ser sinestésicas (quando
sensações se misturam), extra-campina (quando excede o campo das sensações,
como ver objetos dentro do corpo). Elas podem ser também estar relacionadas a
rebaixamento da consciência;
● Alucinose: é quando o sujeito tem alucinações, porém mantém uma capacidade
crítica de interpretá-las como não reais, seja possuindo conhecimento de seu
quadro psicopatológico e possíveis sintomas, como sabendo que as alucinações
ocorrem devido a intoxicação;
● Pseudoalucinação: fenômeno alucinatório pouco nítido e pouco definido, os objetos
são pouco nítidos, com pouca corporeidade, contornos imprecisos e sem vida. O
paciente relata, por ex, que parece escutar uma voz, que é como se fosse uma
voz.
● Alucinação negativa: ausência de percepção de determinados objetos reais de
modo seletivo e significativo (ex: não conseguir ver outras pessoas).

Pensamento e suas alterações


Pensamento é uma forma de representação/ apreensão da realidade a partir de
signos específicos. Ele envolve signos, juízo (da realidade), raciocínio lógico e
pensamento. Segundo o Dalgalarrondo, o pensamento é um fluxo de ideias, símbolos e
associações que é dirigido a um problema, objetivo ou tarefa, envolvendo uma conclusão
orientada segundo a realidade. O pensamento pode ser avaliado em três aspectos, sendo
eles o curso (velocidade), forma (maneira de associar os signos e produzir sentido a partir
da realidade) e conteúdo (o tema/ assunto do pensamento).
● Alterações do curso:
○ Aceleração do pensamento;
○ Lentificação do pensamento;
○ Bloqueio: é quando o sujeito compreende que concluiu o pensamento e deu
sentido à fala, porém há uma falta para um terceiro ouvinte;
○ Roubo: o sujeito não consegue concluir o pensamento, tendo a impressão
de não conseguir acessar as ideias ou de transmiti-las;
● Alterações da forma:
○ Fugas de ideias: o sujeito apresenta leve dificuldade em associais signos e
produzir sentido;
○ O afrouxamento do pensamento, a dissociação do pensamento, o
descarrilamento do pensamento e a desagregação do pensamento são
alterações tais quais a forma, porém mais graves, em ordem.
● Alterações de juízo:
○ Erro: uma forma equivocada de interpretação da realidade, envolvendo
superstições e preconceitos (comportam dúvidas, ou seja, permitem
modificações a partir de argumentações e melhor observação da realidade);
○ Delírio: juízo falso da realidade, que se desenvolve a partir de condições
patológicas, não comportam dúvidas e não se corrigem por meios racionais.
O delírio envolve uma convicção extraordinária, é impossível de modificação
pela experiência objetiva, podem apresentar conteúdo impossível, são
vivenciados como algo evidente e são produções associais (não
compartilhadas) ;
■ O delírio podem ser classificado pela causa, sendo primário
(verdadeiro) ou secundário (aparece como uma justificativa para outra
alteração psíquica, por exemplo, uma alucinação);
■ A estrutura do delírio pode ser simples ou complexa (envolvendo um
ou mais de um tema), sendo sistematizados (bem organizados, com
histórias consistentes e ricas em detalhes) ou não sistematizados
(não consistentes, variando de momento a momento);
■ De acordo com o conteúdo, o delírio pode ser classificado como de
perseguição, referência, grandeza (megalomaníaco),
místico/religioso, ciúmes, erótico (erotomaníaco)

Afetividade e suas alterações -> timia


Afetividade é o que dá valor à vivências e experiências pessoais, sendo um “óculos
pelo qual vemos o mundo”. Podem ser identificados pelo humor (é o estado de ânimo;
tônus afetivo do indivíduo de modo basal e difuso; é a “lente” pelo qual o sujeito vê o
mundo em determinado momento), emoções (reação a algo que ocorre com o sujeito, de
modo momentâneo e intenso), sentimentos (são estados afetivos estáveis, menos
reativos a estímulos passageiros) e paixões (estado afetivo extremamente intenso, que
toma o sujeito, como por exemplo, o pânico, de curta duração). A catatimia é a influência
que os estados afetivos têm nas outras funções psíquicas, como atenção, memória,
sensopercepção, e outras. Distimias são alterações do humor.
O humor e o afeto não são estáveis, sendo voláteis e reativos. Porém, essas
reações afetivas podem ser sintonizadas com o contexto e ambiente (sintonia afetiva),
podem apresentar irradiação afetiva (quando o afeto influencia o ambiente) ou rigidez
afetiva (nem sintonizar nem irradiar afetivamente, havendo dificuldade em modular o
afeto). As alterações afetivas podem ser anormais quando ocorrem sem causa objetiva,
quando há uma desproporção de intensidade e falta de relação temporal. As alterações
do humor (distimias) podem ser:
● Hipotimia: rebaixamento do humor;
● Hipertimia: elevação do humor;
● Disforia: humor irritadiço, seja hipo ou hipertímico;
● Euforia: hipertimia associada com alegria;
● Puerilidade: humor infantilizado;
● Ansiedade: estado de humor com apreensão negativo do futuro associada a
alterações orgânicas;
● Angústia: alteração corporais associadas a apreensão do passado;
● Medo: angústia referente a um objeto mais ou menos preciso.

Alterações das emoções, sentimentos e paixões:


● Apatia: como se fosse uma indiferença frente a alterações ambientais e eventos;
● Hipomodulação do afeto: pouca flexibilidade afetiva;
● Inadequação do afeto (paratimia): o sujeito não expressa a emoção do modo
culturalmente esperado;
● Anedonia: incapacidade total ou parcial de sentir prazer em determinadas
atividades da vida;
● Distanciamento afetivo: o sujeito reconhece o afeto a ser expressado, porém sem
apresentar tal afeto;
● Embotamento afetivo: perda da capacidade de sentir emoções;
● Sentimento de falta de sentimento: o sujeito relata sentir não sentir nada; sensação
de estar anestesiado;
● Labilidade afetiva: o sujeito modifica muito rapidamente seu humor;
● Incontinência afetiva: o sujeito perde o parâmetro em relação a expressão de
emoção, ou seja, o sujeito não consegue controlar bem suas emoções,
independente do ambiente;
● Ambivalência afetiva: experienciar emoções contraditórias, como amor e ódio, a um
mesmo objeto;
● Fobias: medos patológicos;
● Pânico: ansiedades patológicas.

Vontade e suas alterações -> bulia


Vontade ou volição é a intencionalidade do ato. Existe um processo volitivo que
envolve 1) intenção, 2) deliberação, 3) decisão propriamente dita, 4) execução; estando
relacionado a princípios, hábitos, normas e hábitos socioculturais de um indivíduo. A
vontade nem necessariamente culmina num ato. O processo volitivo (relacionado à
intencionalidade de um ato) é dividido em intenção, deliberação, decisão e por fim, a
execução da ação. As alterações da vontade tem a ver com esse processo:
● Hipobulia/ abulia: diminuição ou suspensão da vontade, como em casos de
depressão grave;
● Impulsão: ocorre uma alteração no processo volitivo, onde o ato é realizado sem
intenção, deliberação ou decisão. Esses atos são egossintônicos, ou seja, não são
vivenciados como violentos ou indesejáveis por si só, porém esses atos são
incontroláveis;
● Compulsão: os atos compulsivos são parecidos com os impulsivos, porém são
vivenciados como extremamente violentos, sendo considerados egodistônicos.
Essas atos são incontroláveis e inadiáveis, porém normalmente o sujeito tenta
resistir ou impedir de realizá-los. A execução desses atos representa uma
satisfação, porém momentânea, que logo é substituída por extremo desconforto e
necessidade de realizar o ato novamente. Esses atos normalmente estão ligados a
um pensamento obsessivo.

Psicomotricidade e suas alterações -> xia, psia


A psicomotricidade é o aspecto psíquico do ato motor, relacionada à vontade,
controle e intencionalidade do movimento. As suas alterações costumam acompanhar
alterações de curso de pensamento e alterações de humor. As alterações podem ser:
● Agitação psicomotora;
● Lentificação psicomotora;
● Inibição psicomotora: o sujeito não apresenta respostas motoras adequadas;
● Estupor: total perda das atividades motoras;
● Catalepsia: o sujeito apresenta tônus postural acentuado, porém com redução da
mobilidade voluntária e hipertonia muscular (onde coloca o pessoa, ela fica);
● Cataplexia: perda abrupta da psicomotricidade (como em desmaios);
● Catatonia: é uma síndrome específica, presente em vários transtornos mentais,
com redução intensa dos movimentos voluntários;
● Conversão motora;
● Estereotipias motoras;

Linguagem e suas alterações


A linguagem é um sistema de códigos e signos organizados sistematicamente
utilizados para comunicação e expressão. Ela é fundamental para a separação entre eu e
tu, eu e o mundo. Ela pode ter tanto alterações a partir de lesões neuronais ou
psicopatológicas. As neuronais são:
● Afasia: perda da compreensão da linguagem, seja verbal ou escrita, devido à
incapacidade de compreender os signos linguísticos. A afasia pode ser tanto na
dificuldade de compreender os outros, quanto utilizar os signos para compreensão;
● Agrafia: perda da capacidade de se expressar através da escrita;
● Alexia: perda da capacidade de compreender a linguagem escrita;
● Disartria: dificuldade de articular apropriadamente os sons;
● Disfonia: é a alteração da fala através da mudança da sonoridade de fonemas (ex:
Cebolinha);
● Disfemia: alteração da linguagem sem nenhuma disfunção orgânica ou lesão,
estando relacionada a questões psicogênicas;

As alterações da linguagem também podem estar associadas a transtornos


psiquiátricos:
● Logorreia: discurso acelerado;
● Bradifasia ou mutismo: discurso lentificado;
● Ecolalia: é uma estereotipia verbal onde o sujeito repete a(s) última(s) palavra(s)
que um sujeito direcionou a ele;
● Palilalia: é uma estereotipia verbal onde o sujeito repete a(s) última(s) palavra(s)
que ele mesmo emitiu;
● Logoclonia: é uma estereotipia verbal onde o sujeito repete a(s) última(s) sílaba(s)
que ele mesmo emitiu.

Inteligência e suas alterações


A inteligência é o conjunto de habilidades cognitivas que resultam em diferente
processos intelectivos. Envolve identificação e resolução de problemas, reconhecimento
de situações cambiantes da vida e suas soluções, de modo a responder exigências e
demandas do dia a dia. A inteligência é um construto, um modo de ver e estudar uma
dimensão do funcionamento mental e rendimentos psíquicos. Ela reflete a capacidade do
sujeito de compreender o mundo ao seu redor e lhe permite lidar de forma mais ou menos
eficiente com suas demandas.
As alterações da inteligência são as deficiências intelectuais (DI), que podem ir de
leves a graves. De modo geral, o diagnóstico de DI só pode ser realizado a partir dos 5
anos de idade, sendo caracterizada por inúmeras limitações em áreas como linguagem e
comunicação, autocuidado, capacidades de utilizar recursos comunitários, dificuldades no
aprendizado escolar, problemas em habilidades culturais, entre outros. O diagnóstico de
DI é realizado com sujeitos cujo QI é inferior a 70 (100 é a média do QI da população
geral). De modo geral, pessoas com DI apresentam habilidades visoespaciais mais
desenvolvidas que as capacidades cognitivas ligadas à linguagem e comunicação. As DIs
são consideradas estados particulares de funcionamento mental e de interações e
dificuldades sociais, sendo multidimensionais e podendo ser afetadas positivamente por
apoios e suportes bem estruturados. As alterações da inteligência são:
● Inteligência limítrofe: são sujeitos cujo escore de QI estão entre 70 e 84 (sendo
DSM e CID) ou entre 70 e 79 (a partir das escalas WISC, WAIS e WASI). Esses
sujeitos não possuem deficiência intelectual e muitos não possuem dificuldades
especiais na vida, a não ser quando confrontados com exigências cognitivas mais
complexas e sofisticadas;
● Deficiência intelectual leve: de modo geral, os sujeitos com DI leve possuem
capacidade de linguagem normal, porém com dificuldades escolares, como com a
escrita, leitura e matemática, além de dificuldades com conteúdos abstratos
complexos e raciocínio lógico. Em geral, são sujeitos independentes para AVDs,
porém com relativo grau de dependência para AVPs (atividades da vida prática),
como administração financeira, realização de compras para a casa, cuidado de
filhos, entre outros. São os mais recorrentes casos de DI, e o diagnóstico é a partir
de escores de QI entre 50 e 69;
● Deficiência intelectual moderada: são mais raras que as DIs leves; os sujeitos
possuem dificuldades de aprendizado, dificuldades na comunicação e linguagem,
de modo que necessitam de um apoio mais intenso. Os sujeitos são mais
dependentes, muitas vezes para AVDs e o diagnóstico é realizado quando os
escores se encontram na faixa de 35 a 49.
● Deficiência intelectual grave: são DIs ainda mais raras, ocorrendo somente entre 3
a 4% dos sujeitos com deficiência intelectual. Nesses casos, os sujeitos têm alto
grau de dependência para todas atividades da vida, compreensão e domínio da
linguagem muito limitados, necessitando de amplo apoio. Os diagnósticos ocorrem
com escores de QI entre 20 e 34;
● Deficiência intelectual profunda: são as mais raras, ocorrendo em menos de 2%
dos sujeitos com DI; o QI dessas pessoas é inferior a 20. Esses sujeitos, de modo
geral, ficam restritos ao leito, sem capacidade de fala ou controle voluntário de
esfíncteres. São completamente dependentes para atividades da vida.

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