Você está na página 1de 2

Psicopatologia

A orientação e suas alterações

Definições básicas
A capacidade de situar-se quanto a si mesmo e quanto ao ambiente é elemento básico da atividade mental e
fundamental para a sobrevivência do indivíduo.

A capacidade de orientar-se é classificada em autopsíquica e alopsíquica.


• Orientação autopsíquica é aquela do indivíduo em relação a si mesmo. Revela se o sujeito sabe quem é: seu
nome, idade, profissão, estado civil, com quem mora, etc.
• Orientação alopsíquica diz respeito à capacidade de orientar-se em relação ao mundo, isto é, quanto ao
espaço (orientação espacial ou topográfica) e quanto ao tempo (orientação temporal).

Orientação espacial
A orientação espacial pode ser subdividida em vários subtipos de orientações

• Quanto ao local – onde o sujeito está no momento o local específico, o tipo de edifício, distância entre onde
está e sua casa, etc.
• Topográfica – ter a noção do arranjo e da organização de seu quarto, de sua casa, saber se localizar em seu
bairro, sua cidade
• Orientação geográfica – saber onde fica sua cidade, seu país, saber localizar-se em relação a mapas
• Capacidades de navegação – conseguir seguir caminhos e rotas previamente conhecidos ou com pistas
suficientes

A orientação espacial é investigada perguntando-se ao paciente o lugar exato onde ele se encontra, a instituição em
que está, o andar do prédio, o bairro, a cidade, o estado e o país. Também é investigada a capacidade do indivíduo
de identificar a distância entre o local da entrevista e sua residência (em quilômetros ou horas de viagem).

Orientação temporal
A orientação temporal indica se o paciente sabe em que momento cronológico está vivendo, a hora do dia, se é de
manhã, de tarde ou de noite, o dia da semana, o dia do mês, o mês do ano, a época do ano, bem como o ano
corrente. Também é possível avaliar a noção que o paciente tem da duração dos eventos e da continuidade
temporal. O examinador pode perguntar: há quanto tempo o senhor está neste local? Há quanto tempo trabalhou
(ou se alimentou) pela última vez? Faz quanto tempo que o senhor não me vê?

Neuropsicologia da orientação
A desorientação temporoespacial ocorre, de modo geral, em quadros psicoorgânicos, quando três áreas encefálicas
são comprometidas:

1. nas lesões corticais difusas e amplas ou em lesões bilaterais, como na doença de Alzheimer;
2. nas lesões mesotemporais do sistema límbico, como na síndrome de Korsakoff;
3. em patologias que afetam o tronco cerebral e o sistema reticular ativador ascendente, como no delirium

Neuropsicologia da orientação espacial ou topográfica


De modo geral, a capacidade de avaliar corretamente direção e distância, tanto para estímulos visuais como táteis,
relaciona-se mais com as estruturas corticais do hemisfério direito do que do esquerdo, sendo, entretanto, as lesões
bilaterais as que mais produzem os sintomas.

Bévena Rodrigues Lopes


Psicopatologia da orientação – alterações segundo a alteração
de base
Distinguem-se vários tipos de desorientação, de acordo com a alteração de base que a condiciona. É preciso lembrar
que geralmente a desorientação ocorre, em primeiro lugar, em relação ao tempo. Só após o agravamento do
transtorno o indivíduo se desorienta quanto ao espaço e, por fim, quanto a si mesmo.

• Desorientação por redução do nível de consciência (desorientação torporosa ou confusa)


o O indivíduo está desorientado por rebaixamento ou turvação da consciência. Tais turvação e
rebaixamento do nível de consciência produzem alteração da atenção, da concentração, da memória
recente e de trabalho e, consequentemente, da capacidade de percepção e retenção dos estímulos
ambientais
• Desorientação por déficit de memória imediata e recente (desorientação amnéstica)
o O indivíduo não consegue reter as informações ambientais básicas em sua memória recente. Perde a
noção do fluir do tempo, do deslocamento no espaço, passando a ficar desorientado
temporoespacialmente
• Desorientação apática ou abúlica.
o Ocorre por apatia marcante e/ou desinteresse profundos. Comumente encontrada em quadros
depressivos graves
• Desorientação delirante.
o Ocorre em indivíduos que se encontram imersos em profundo estado delirante, vivenciando ideias
delirantes muito intensas, crendo com convicção plena que estão “habitando” o lugar (e/ou o
tempo) de seus delírios. Paciente afirma que está no inferno, mas também pode reconhecer que
esta me um hospital, ele altera sequencialmente os dois tipos de orientações
• Desorientação por déficit intelectual
o Ocorre em pessoas com deficiência intelectual (DI) grave ou moderada. Há incapacidade ou
dificuldade em compreender aspectos complexos do ambiente
• Desorientação por dissociação, ou desorientação histérica.
o Ocorre em geral em quadros dissociativos graves, normalmente acompanhada de alterações da
identidade pessoal
• Desorientação por desagregação
o Por desagregação profunda do pensamento, apresenta toda a sua atividade mental gravemente
desorganizada, o que o impede de se orientar de forma adequada quanto ao ambiente e quanto a si
mesmo.
• Desorientação quanto à própria idade
o É definida como uma discrepância de cinco anos ou mais entre a idade real e aquela que o indivíduo
diz ter.

Quando há quadros de desorientação devido lesão ou disfunção cerebral a recuperação do paciente ocorre da
seguinte forma

1. Recupera a orientação quanto a si mesmo


2. Recupera a orientação espacial
3. Recupera a orientação temporal

Bévena Rodrigues Lopes

Você também pode gostar