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03 - Alterações da Orientação

Orientação - A capacidade de situar-se quanto a si mesmo e quanto ao ambiente é


elemento básico da atividade mental. Pequenos rebaixamentos no nível da consciência
são suficientes para comprometer a orientação de um paciente quanto ao tempo e ao
espaço. Por isso, uma pessoa aparentemente vigil pode ter suas alterações detectadas
pelo exame da sua capacidade de orientação.

A capacidade de orientar-se requer a integração das capacidades de atenção,


percepção e memória. A orientação também é excepcionalmente vulnerável aos
efeitos da disfunção ou do dano cerebral.
A capacidade de orientar-se é classificada em:
1) Orientação Autopsíquica
Orientação do indivíduo em relação a si mesmo.
Revela se o sujeito sabe quem é: nome, idade, data de nascimento, profissão,
estado civil, etc.
2) Orientação Alopsíquica
Capacidade de orientar-se em relação ao mundo. Subdivide-se em:
a) Orientação espacial
O lugar onde o paciente se encontra: nome da instituição, andar do prédio, bairro,
cidade, estado e país. Pode-se perguntar a distância do local da entrevista até a
residência do paciente (em quilômetros ou horas).
b) Orientação temporal
Pode-se aferir “do mais fácil para o mais difícil”: em que ano estamos? qual o
mês? que dia da semana? que dia do mês?
Também pode-se avaliar a noção que o paciente tem da duração dos eventos: a
quanto tempo a senhora está internada? quando se alimentou pela última vez?
É importante lembrar que a orientação temporal é adquirida mais tardiamente que
a autopsíquica e a espacial na evolução neuropsicológica. Por isso, crianças com
menos de 7 anos podem ter dificuldade em responder a essas perguntas sem que
isso signifique, necessariamente, uma disfunção.
Por fim, os tipos de desorientação podem ser distinguidos de acordo com a
alteração de base que os condiciona:

– Desorientação por redução do nível de consciência:  também


chamada desorientação torporosa  ou confusa. O rebaixamento do nível de
consciência altera a atenção, a concentração e a capacidade de perceber e reter os
estímulos ambientais. É a forma mais comum de desorientação.
– Desorientação por déficit de memória imediata e recente:  também
denominada desorientação amnéstica. O indivíduo não consegue reter as
informações ambientais (apesar de percebê-las adequadamente).

– Desorientação demencial: é muito próxima da amnéstica. Em acréscimo à


perda da memória de fixação, há agnosia (déficit de reconhecimento ambiental) e
perda/desorganização global das funções cognitivas. Ocorre nos diversos quadros
demenciais (Doença de Alzheimer, demências vasculares, etc.).

– Desorientação apática ou abúlica: a pessoa se torna desorientada devido a


uma marcante alteração do humor e da volição, comumente em quadro
depressivo.

– Desorientação delirante: ocorre em indivíduos em profundo estado delirante,


crendo com convicção plena que estão “habitando” o lugar e/ou o tempo de seus
delírios. Pode ocorrer dupla orientação, em que o paciente ora reconhece estar
no hospital sendo assistido por enfermeiros, ora afirma que está numa
penitenciária cercado de carcereiros, por exemplo.

– Desorientação por déficit intelectual: em indivíduos com deficiência ou


retardo mental grave ou moderado. Há incapacidade ou dificuldade em
compreender o ambiente e interpretar as convenções sociais (horários,
calendários, etc.) que padronizam a orientação do indivíduo no mundo.

– Desorientação por dissociação ou histérica:  normalmente acompanhada de


alterações da identidade pessoal e alterações da consciência secundárias à
dissociação histérica.

– Desorientação por desagregação: em pacientes psicóticos, geralmente


esquizofrênicos em estado crônico e avançado. A desagregação profunda do
pensamento pode impedi-los de orientar-se adequadamente quanto ao ambiente e
quanto a si mesmos.

– Desorientação quanto à própria idade: definida como uma discrepância de


cinco anos ou mais entre a idade real e aquela que paciente diz ter. Acredita-se
ser um bom indicativo clínico de déficit cognitivo na esquizofrenia.

Dalgalarrolo, Paulo. Psicopatologia dos transtornos mentais. 2ed. Porto Alegre:


Artmed, 2008.

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