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CAPÍTULO - “DEFINIÇÃO DE PSICOPATOLOGIA E ORDENAÇÃO DOS SEUS FENÔMENOS”

DEFINIÇÃO

Campbell (1986): Ramo da ciência que trata da natureza essencial da doença mental (suas causas, as
mudanças estruturais e funcionais associadas a ela e suas formas de manifestação).

Conjunto de conhecimentos referentes ao adoecimento mental do ser humano. É um conhecimento que se


esforça por ser sistemático , elucidativo e desmistificante.

É uma ciência autônoma e não um prolongamento da neurologia e da psicologia.

Karl Jaspers (1883-1969): Ciência básica que serve de auxílio à psiquiatria, a qual é, por sua vez, um
conhecimento aplicado a uma prática profissional e social concreta.

LIMITES DA PSICOPATOLOGIA

Consistem precisamente em que nunca se pode reduzir por completo o ser humano a conceitos
psicopatológicos.

A ciência psicopatológica é tida como uma das abordagens possíveis do homem mentalmente doente, mas
não a única.

Não se pode compreender ou explicar tudo o que existe em um homem por meio de conceitos
psicopatológicos.

FORMA E CONTEÚDO DOS SINTOMAS

FORMA DOS SINTOMAS: Estrutura básica, relativamente semelhante nos diversos pacientes
(alucinação, delírio, ideia obsessiva, labilidade afetiva, etc.).

CONTEÚDO DOS SINTOMAS: Aquilo que preenche a alteração estrutural (conteúdo de culpa, religioso,
de perseguição, etc.). Geralmente mais pessoal, dependendo da história de vida do paciente, de seu universo
cultural e da personalidade prévia ao adoecimento.

De modo geral, os conteúdos dos sintomas estão relacionados aos temas centrais da existência humana
(sobrevivência e segurança, sexualidade, temores básicos - morte, doença, miséria, etc. -, religiosidade...).
CAPÍTULO - “O CONCEITO DE NORMALIDADE EM PSICOPATOLOGIA”

É questão de grande controvérsia: há muitos casos limítrofes nos quais a delimitação entre comportamento e
formas de sentir normais e patológicas é bastante difícil; também implica a própria definição do que é saúde
e doença mental.

Desdobramentos em áreas da saúde mental:

 Psiquiatria legal ou forense;


 Epidemiologia psiquiátrica;
 Psiquiatria cultural e etnopsiquiatria;
 Planejamento em saúde mental e políticas de saúde;
 Orientação e capacitação profissional;
 Prática clínica.

Os critérios de normalidade (normalidade como ausência de doença, normalidade ideal, normalidade


estatística, normalidade como bem-estar, normalidade funcional, normalidade como processo, normalidade
subjetiva, normalidade como liberdade, normalidade operacional) e de doença mental em psicopatologia
variam em função dos fenômenos específicos com os quais se trabalha e de acordo com as opções filosóficas
do profissional.

É uma área da psicopatologia que exige postura permanentemente crítica e reflexiva dos profissionais.
CAPÍTULO - “OS PRINCIPAIS CAMPOS E TIPOS DE PSICOPATOLOGIA”

PSICOPATOLOGIA DESCRITIVA VERSUS PSICOPATOLOGIA DINÂMICA

DESCRITIVA: Interessa a forma das alterações psíquicas, a estrutura dos sintomas e aquilo que
caracteriza a vivência patológica como sintoma mais ou menos típico.

DINÂMICA: Interessam o conteúdo da vivência, os movimentos internos de afetos, desejos e temores,


experiências particular e pessoal, não necessariamente classificável em sintomas previamente descritos.

A boa prática em saúde mental implica a combinação hábil e equilibrada de uma abordagem descritiva:
diagnóstica e objetiva e uma abordagem dinâmica: pessoal e subjetiva do doente e de sua doença.
CAPÍTULO - “A CONSCIÊNCIA E SUAS ALTERAÇÕES”

DEFINIÇÃO PSICOLÓGICA DA CONSCIÊNCIA

A consciência é a soma total das experiências conscientes de um indivíduo em determinado momento. É a


dimensão subjetiva da atividade psíquica do sujeito que se volta para a realidade. Na relação do Eu com o
meio ambiente, a consciência é a capacidade de o indivíduo entrar em contato com a realidade, perceber e
conhecer os seus objetos.

ALTERAÇÕES NORMAIS DA CONSCIÊNCIA  SONO E SONHO

O SONO: É um estado especial da consciência que ocorre de forma recorrente e cíclica nos organismos
superiores. É um estado comportamental e uma fase fisiológica normal e necessária do organismo. Divido
em duas fases: SONO NREM E SONO REM.

SONO NREM: Sono sincronizado, sem movimentos oculares rápidos.

Há a diminuição da atividade do sistema nervoso autônomo simpático e aumento relativo do tônus do


parassimpático, permanecendo vários parâmetros fisiológicos estáveis em um nível de funcionamento
mínimo, tais como a frequência cardíaca e respiratória, a pressão arterial, o débito cardíaco e os movimentos
intestinais. No sono não-Rem ocorrem quatro estágios, sendo mais difícil despertar alguém nos estágios 3
e 4.

SONO REM: Sono dessincronizado, com movimentos oculares rápidos.

Duração total em uma noite perfaz de 20 a 25% do tempo total do sono. Caracteriza-se por instabilidade
no sistema nervoso autônomo simpático, com variações das frequências cardíacas e respiratória, da
pressão arterial, do débito cardíaco e do fluxo sanguíneo e cerebral. Há um padrão de movimentos oculares
rápidos e conjugados, um relaxamento muscular profundo e generalizado (atonia muscular). É durante o
sono REM que ocorre a maior parte dos sonhos.

*Em uma noite normal de sono, as fases NREM e REM se repetem de forma cíclica a cada 70 a 110
minutos, com 4 a 6 ciclos completos por noite.

O SONHO: São vivências predominantemente visuais, sendo arar a ocorrência de percepções auditivas,
olfativas ou táteis.

*A maioria das pessoas sonha várias vezes durante uma noite, apenas não lembra da maior parte dos seus
sonhos, pois se acordarem (ou forem despertadas) após mais de 8 minutos de um sono REM (durante o qual
sonharam), não lembrarão mais do conteúdo do sonho.
Para Freud, o sonho é um fenômeno psicológico extremamente rico e revelador de desejos e temores, ainda
que de forma indireta e disfarçada.

ALTERAÇÕES PATOLÓGICAS DA CONSCIÊNCIA  OBNUBILAÇÃO, SOPOR E COMA.

A consciência pode se alterar tanto por processos fisiológicos, normais, como por processos patológicos.

Os diversos graus de rebaixamento da consciência são:

OBNUBILAÇÃO OU TURVAÇÃO DA CONSCIÊNCIA: Rebaixamento da consciência em grau leve a


moderado. O paciente pode já estar claramente sonolento ou parecer desperto, o que dificulta o diagnóstico.
Há a diminuição do grau de clareza do sensório, com lentidão da compreensão e dificuldade de
concentração. O paciente tem dificuldade para integrar as informações sensoriais oriundas do ambiente.
Encontra-se um tanto perplexo, com a compreensão dificultada, podendo o paciente estar já ligeiramente
confuso.

SOPOR: Estado de marcante turvação da consciência, no qual o paciente pode ser despertado apenas por
estímulo enérgico, sobretudo de natureza dolorosa. Aqui, o paciente sempre se mostra evidentemente
sonolento.

COMA: Grau mais profundo de rebaixamento do nível de consciência. Não é possível qualquer atividade
voluntária consciente. Os graus de intensidade de coma são classificados de I a IV:

 GRAU I: Semicoma;
 GRAU II: Coma superficial;
 GRAU III: Coma profundo;
 GRAU IV: Coma dépassé.
CAPÍTULO - “ATENÇÃO E SUAS ALTERAÇÕES”

DEFINIÇÕES BÁSICAS DE ATENÇÃO

A atenção pode ser definida como a direção da consciência, o estado de concentração da atividade mental
sobre determinado objeto. É o tomar posse pela mente, de modo claro e vívido, de um entre uma diversidade
enorme objetos ou correntes de pensamentos simultaneamente dados. A atenção se refere ao conjunto de
processos psicológicos que torna o ser humano capaz de selecionar, filtrar e organizar as informações em
unidades controláveis e significativas.

DIREÇÃO DA ATENÇÃO

 ATENÇÃO EXTERNA: Projetada para fora do mundo subjetivo do sujeito, voltada para o mundo
exterior ou para o corpo, geralmente de natureza mais sensorial, utilizando os órgãos dos sentidos.
 ATENÇÃO INTERNA: Se volta para os processos mentais próprios, atenção mais reflexiva,
introspectiva e meditativa.

AMPLITUDE DA ATENÇÃO

 ATENÇÃO FOCAL: Se mantém concentrada sobre um campo determinado e relativamente


delimitado e restrito da consciência.
 ATENSÃO DISPERSA: Não se concentra em um campo determinado, espalhando-se de modo
menos delimitado.

ANORMALIDADES DA ATENÇÃO  APROSEXIA, HIPOPROSEXIA E HIPERPROSEXIA.

APROSEXIA: Total abolição da capacidade de atenção, por mais fortes e variados que sejam os estímulos
utilizados.

HIPOPROSEXIA: Perda básica da capacidade de concentração, com fatigabilidade aumentada, o que


dificulta a percepção dos estímulos ambientais e a compreensão.

HIPERPROSEXIA: Consiste em um estado de atenção exacerbada.


CAPÍTULO - “A ORIENTAÇÃO E SUAS ALTERAÇÕES”

A ORIENTAÇÃO

Capacidade de situar-se quanto a si mesmo e quanto ao ambiente, elemento básico da atividade mental.

A capacidade de orientar-se requer, de forma consistente, a integração das capacidades de atenção,


percepção e memória.

A desorientação é um dos sintomas mais frequentes das doenças cerebrais.

É classificada em ORIENTAÇÃO AUTOPSÍQUICA E ALOPSÍQUICA:

ORIENTAÇÃO AUTOPSÍQUICA: É a em relação a si mesmo. Revela se o sujeito sabe quem é: nome,


idade, data de nascimento, profissão, estado civil, etc.

ORIENTAÇÃO ALOPSÍQUICA: Diz respeito a capacidade de orientar-se em relação ao mundo, isto é,


quanto ao espaço (orientação espacial) e quanto ao tempo (orientação temporal).

 ORIENTAÇÃO ESPACIAL: Se o paciente sabe o tipo de lugar em que está, se pode dizer o nome
do lugar e onde se situa esse lugar.
 ORIENTAÇÃO TEMPORAL: Indica se o paciente sabe em que momento cronológico está
vivendo, a hora do dia, se é manha, tarde ou noite, o mês do ano, a época do ano, bem como o ano
corrente.

*Em relação à orientação espacial, a orientação temporal é mais fácil e rapidamente prejudicada pelos
transtornos mentais e distúrbios neuropsicológicos e neurológicos, particularmente pelos que afetam a
consciência.
CAPÍTULO - “AS VIVÊNCIAS DO TEMPO E DO ESPAÇO E SUAS ALTERAÇÕES”

As vivências do tempo e do espaço constituem-se como dimensões fundamentais de todas as experiências


humanas.

ANORMALIDADES DA VIVÊNCIA DO TEMPO: VIVÊNCIA DO TEMPO E RITMO PSÍQUICO


NAS SÍNDROMES DEPRESSIVAS E MANÍACAS

ESTADOS DEPRESSIVOS: A passagem do tempo é percebida como lenta e vagarosa. Em relação ao


ritmo psíquico ocorre bradipsiquismo - lentificação de todas as atividades mentais.

ESTADOS MANÍACOS: A passagem do tempo é rápida e acelerada. Em relação ao ritmo psíquico há


traquipsiquismo - aceleração de todas as funções psíquicas (pensamento, psicomotricidade,
linguagem, etc.).

ANORMALIDADES DA VIVÊNCIA DO ESPAÇO

ESTADO DE ÊXTASE: Há perda das fronteiras entre o eu e o mundo exterior, o sujeito se sente como se
estivesse fundido ao mundo exterior (transtorno da consciência do eu).

ESTADO MANÍACO: Vivência de um espaço extremamente dilatado e amplo, que invade o das outras
pessoas; desconhece as fronteiras espaciais e vive como se todo o espaço exterior fosse seu.

QUADROS DEPRESSIVOS: Espaço exterior vivenciado como muito encolhido, contraído, escuro e
pouco penetrável pelo indivíduo e pelos outros.

QUADROS PARANÓIDES: Espaço interior como invadido por aspectos ameaçadores, perigosos e hostis
no mundo. O espaço exterior é invasivo, perigoso e ameaçador.

AGORAFOBIA: Espaço exterior percebido como sufocante, pesado, perigoso e potencialmente


aniquilador.
CAPÍTULO - “A SENSOPERCEPÇÃO E SUAS ALTERAÇÕES”

Todas as informações do ambiente, necessárias à sobrevivência, chegam até o organismo por meio das
sensações.

SENSAÇÃO: Fenômeno elementar gerado por estímulos físicos, químicos ou biológicos variados,
originados fora ou dentro do organismo, que produzem alterações nos órgãos receptores, estimulando-os
(estímulos sensoriais específicos como visuais, táteis, auditivos, olfativos, gustativos, proprioceptivos e
cinestésicos).

PERCEPÇÃO: Entende-se a tomada de consciência do estímulo sensorial pelo indivíduo.

A sensação é considerada, portanto um fenômeno passivo: estímulos físicos (luz, som, pressão) ou
químicos atuam sobre sistemas de recepção do organismo. Já a percepção seria fenômeno ativo: o sistema
nervoso e a mente do sujeito constroem um percepto por meio da síntese dos estímulos sensoriais, estímulo
esses confrontados com experiências passadas registradas na memória e com o contexto sociocultural em
que vive o sujeito e que atribui significado às experiências.

*Psicopatólogos preferem não separar a sensação da percepção e denominam o fenômeno de


sensopercepção.

REPRESENTAÇÃO: Imagem representativa ou mnêmica de uma imagem na consciência, sem a presença


real, externa, do objeto que, em um primeiro momento, gerou a imagem sensorial.

ALTERAÇÕES QUANTITATIVAS DA SENSOPERCEPÇÃO

As imagens perceptivas têm intensidade anormal, para mais ou para menos, configurando hiperestesia,
hiperpatia, hipoestesias, anestesias e analgesias.

ALTERAÇÕES QUALITATIVAS DA SENSOPERCEPÇÃO (As mais importantes em


psicopatologia)  ILUSÕES, ALUCINAÇÕES, ALUCINOSE E PSEUDO-ALUCINAÇÃO.

ILUSÕES: Percepção deformada, alterada de um objeto real e presente. Há sempre um objeto externo real,
gerador do processo de sensopercepção, mas tal percepção é deformada por fatores patológicos. Ocorrem
em três condições:

 Estados de rebaixamento do nível de consciência;


 Estados de fadiga ou de intenção marcante;
 Alguns estados afetivos.

ALUCINAÇÕES: Percepção de um objeto (voz, ruído, imagem) sem o estímulo sensorial respectivo.

ALUCINAÇÕES AUDITIVAS: São as mais frequentes nos transtornos mentais, podem ser divididas em
simples e complexas:

 ALUCINAÇÕES AUDITIVAS SIMPLES: Se ouvem apenas ruídos primários.


Tinnitus: Sensação subjetiva de ouvir ruídos (zumbidos, burburinhos, cliques, estalinhos) em um ou
nos dois ouvidos.
 ALUCINAÇÕES AUDITIVAS COMPLEXAS: Alucinação audioverbal; o paciente escuta vozes
sem qualquer estímulo real; quase sempre o conteúdo é depreciativo e/ou de perseguição. Vozes de
comando; vozes que comentam a ação.

SONORIZAÇÃO DO PENSAMENTO: Vivência sensorial de ouvir o pensamento.

 Sonorização do próprio pensamento: O paciente reconhece que está ouvindo os próprios


pensamentos, escuta-os no exato momento em que os pensa.
 Sonorização de pensamentos como vivência alucinatório-delirante: O paciente ouve pensamentos
que foram introduzidos em sua cabeça por alguém estranho, sendo agora ouvidos por ele.

ALUCINAÇÕES VISUAIS: São visões nítidas que o paciente experimenta sem a presença de estímulos
visuais. Podem ser simples ou complexas:

 ALUCINAÇÕES VISUAIS SIMPLES (FOTOPSIAS): O indivíduo vê cores, bolas e pontos


brilhantes.
 ALUCINAÇÕES VISUAIS COMPLEXAS OU CONFIGURADAS: Incluem figuras e imagens
de pessoas, partes do corpo, de entidades, de objetos inanimados, animais ou crianças.

ALUCINAÇÕES TÁTEIS: O paciente sente espetadas, choques, insetos ou pequenos animais correndo
sobre a pele. São frequentes as alucinações táteis sentidas nos genitais.

ALUCINAÇÕES OLFATIVAS: Relativamente raras. Manifestam-se como o “sentir” o odor de coisas


podres, de cadáver, fezes, pano queimado. Vêm acompanhadas de forte impacto emocional.

ALUCINAÇÕES GUSTATIVAS: Os pacientes sentem na boca o sabor de ácido, sangue, urina, sem
qualquer estímulo gustativo presente.

ALUCINAÇÕES CENESTÉSICAS: Os pacientes apresentam sensações incomuns e claramente anormais


em diferentes partes do corpo: cérebro encolhendo, fígado despedaçando...
ALUCINAÇÕES CINESTÉSICAS: Sensações alteradas de movimentos do corpo: corpo afundando,
pernas encolhendo, braço elevando...

ALUCINAÇÕES FUNCIONAIS: É uma alucinação (ausência do objeto) apenas desencadeada por um


estímulo real.

ALUCINAÇÕES COMBINADAS (SINESTESIAS): Experiências nas quais ocorrem alucinações de


várias modalidades sensoriais ao mesmo tempo.

ALUCINAÇÃO AUTOSCÓPICA: O indivíduo enxerga a si mesmo, vê o seu corpo como se estivesse


fora dele, contemplando-o.

ALUCINAÇÕES HIPNAGÓGICAS: Se manifestam no momento em que o indivíduo está adormecendo.

ALUCINAÇÕES HIPNOPÔMPICAS: Ocorrem na fase em que o indivíduo está despertando.

ALUCINOSE: Fenômeno pelo qual o paciente percebe tal alucinação como estranha à sua pessoa. O
indivíduo permanece consciente de que aquilo é um fenômeno estranho, patológico, não tendo nada a ver
com a sua pessoa, estabelecendo distanciamento entre si e o sintoma.

 ALUCINOSE PENDULAR: Experiência alucinatória, em geral visual, tipicamente vívida e


brilhante, incluindo cenas, pessoas, animais e figuras geométricas.
 ALUCINOSE AUDITIVA: Ocorre em indivíduos com dependência crônica de álcool e consiste
tipicamente em vozes que falam do paciente na terceira pessoa. Ex: “Olha como o João está sujo
hoje”.
CAPÍTULO - “A MEMÓRIA E SUAS ALTERAÇÕES”

A memória é a capacidade de registrar, manter e evocar as experiências e os fatos já ocorridos. Relaciona-se


intimamente com o nível de consciência, com a atenção e com o interesse afetivo.

1- MEMÓRIA COGNITIVA (PSICOLÓGICA): É uma atividade altamente diferenciada do sistema


nervoso, que permite ao indivíduo registrar, conservar e evocar, a qualquer momento, os dados
aprendidos da experiência.
2- MEMÓRIA GENÉTICA (GENÓTIPO): Conteúdos de informações biológicas adquiridos ao
longo da história filogenética da espécie, contidas no material genético dos seres vivos.
3- MEMÓRIA IMUNOLÓGICA: Informações registradas e potencialmente recuperáveis pelo sistema
imunológico de um ser vivo.
4- MEMÓRIA COLETIVA OU CULTURAL: Conhecimentos e práticas culturais (costumes,
valores, habilidades artísticas e estéticas, preconceitos, ideologias, estilo de vida, etc.) produzidos,
acumulados e mantidos por um grupo social minimamente estável.
A memória cognitiva é composta de três fases ou elementos básicos:
 FASE DE REGISTRO (percepção, gerenciamento e início da fixação)
 FASE DE CONSERVAÇÃO (retenção)
 FASE DE EVOCAÇÃO (também denominada de lembranças, recordações ou recuperação)

FATORES PSICOLÓGICOS DO PROCESSO DE MEMORIZAÇÃO

1- MEMÓRIA IMEDIATA OU DE CURTÍSSIMO PRAZO (DE POUCOS SEGUNDOS ATÉ 1


A 3 MINUTOS): É a capacidade de reter o material (palavras, números, imagens, etc.)
imediatamente após ser percebido. A memória imediata tem capacidade limitada e depende da
concentração, fatigabilidade e de certo treino.
2- MEMÓRIA RECENTE OU DE CURTO PRAZO (DE POUCOS MINUTOS ATÉ 3 A 6
HORAS): Refere-se à capacidade de reter a informação por curto período. Também é um tipo de
memória de capacidade limitada.
3- MEMÓRIA REMOTA OU DE LONGO PRAZO (DE MESES ATÉ MUITOS ANOS): É a
capacidade de evocação de informações e acontecimentos ocorridos no passado, geralmente após
muito tempo do evento (pode durar por toda a vida).

*O termo priming diz respeito a um fenômeno normal e importante do processo de recordação ou


evocação. Fragmentos de um conteúdo mnêmico amplo são evocados e a partir dele, todo o resto é
gradativamente recuperado

O esquecimento (o oposto da evocação) se dá por três vias:

1- Esquecimento normal, fisiológico: por desinteresse do indivíduo ou por desuso.


2- Esquecimento por repressão: pré-consciente.
3- Esquecimento por recalque: inconsciente.

TIPOS ESPECÍFICOS DE MEMÓRIA

Distinguem-se os tipos de memória de acordo com o caráter consciente ou não-consciente do processamento


do conteúdo mnêmico e, principalmente, segundo as áreas e estruturas cerebrais envolvidas.

Tipos dependentes do caráter consciente ou não-consciente do processo mnêmico (memória explícita


versus implícita e memória declarativa versus não-declarativa

MEMÓRIA EXPLÍCITA: É adquirida de forma plenamente consciente, sendo também a mais relevante
do ponto de vista clínico.

MEMÓRIA IMPLÍCITA: É adquirida de forma mais ou menos automática, o indivíduo não se dá conta de
que está aprendendo esta ou aquela habilidade. Ex: andar de bicicleta.

MEMÓRIA DECLARATIVA: Diz respeito a fatos, eventos e conhecimentos que são memorizados, sendo
possível, inclusive, declarar verbalmente de que forma foram memorizados.

MEMÓRIA NÃO-DECLARATIVA: Refere-se a hábitos e capacidades, em geral motores, sensoriais,


sensório-motores ou eventualmente linguísticos (como nadar, andar de bicicleta, tocar violão, soletrar),
sobre os quais é difícil declarar como são lembrados.

Tipos de memória classificados segundo a estrutura cerebral envolvida

MÉMORIA DE TRABALHO: É a combinação de habilidades de atenção e da memória imediata. De


modo geral, explícita e declarativa.

MEMÓRIA EPISÓDICA: Trata-se de uma forma de memória explícita e declarativa relacionada a eventos
específicos da experiência pessoal do indivíduo, ocorridos em determinado contexto. Relatar o que foi feito
na noite anterior é um típico exemplo de memória episódica.

MEMÓRIA SEMÂNTICA: Esse tipo de memória se refere a aprendizado, conservação e utilização de


algo que pode ser designado como o arquivo geral de conceitos e conhecimentos factuais do indivíduo. É
sempre explícita e declarativa. A memória semântica diz respeito ao registro e à retenção de conteúdos em
função do significado que têm.

MEMÓRIA DE PROCEDIMENTOS: Trata-se de um tipo de memória automática, geralmente não-


consistente. Exemplos desse tipo de memória são habilidades motoras e perceptuais mais ou menos
complexas (andar de bicicleta, digitar no computador...). De modo geral, é implícita e não-declarativa.
ALTERAÇÕES PATOLÓGICAS DA MEMÓRIA

Alterações quantitativas

HIPERMNÉSIAS: As representações (elementos mnêmicos) afluem rapidamente, em tropel, ganhando em


número, perdendo, porém, em clareza e precisão. A hipermnésia traduz mais a aceleração geral do ritmo
psíquico que uma alteração propriamente da memória.

AMNÉSIAS (OU HIPOMNÉSIAS): Denomina-se amnésia, de forma genérica, a perda da memória, seja a
da capacidade de fixar ou da capacidade de manter e evocar antigos conteúdos mnêmicos. Diferenciam-se os
seguintes tipos de amnésias:

 AMNÉSIA PSICOGÊNICA: Há a perda de elementos mnêmicos focais, os quais têm valor


psicológico específico (simbólico, afetivo).
 AMNÉSIA ORGÂNICA: Trata-se de amnésia menos seletiva (em relação ao conteúdo do material
esquecido) que a psicogênica.

Alterações qualitativas de memória (paramnésias)

 ILUSÕES MNÊMICAS: Neste caso, há o acréscimo de elementos falsos a um núcleo verdadeiro de


memória. Por isso, a lembrança adquire caráter fictício.
 ALUCINAÇÕES MNÊMICAS: São verdadeiras criações imaginativas com a aparência de
lembranças ou reminiscências que não correspondem a qualquer elemento mnêmico, a qualquer
lembrança verdadeira.

*As ilusões e as alucinações mnêmicas constituem, muitas vezes, o material básico para a formação e a
elaboração de delírios (delírio imaginativo ou mnêmico).
CAPÍTULO - “A AFETIVIDADE E SUAS ALTERAÇÕES”

A afetividade é um termo genérico que compreende várias modalidades de vivências afetivas, como o
humor, as emoções e os sentimentos.

Distinguem-se cinco tipos básicos:

1. Humor ou estado de ânimo;


2. Emoções;
3. Sentimentos;
4. Afetos;
5. Paixões.

HUMOR OU ESTADO DE ÂNIMO: É definido como o tônus afetivo do indivíduo, o estado emocional
basal e difuso em que se encontra a pessoa em determinado momento. É a disposição afetiva de fundo que
penetra toda a experiência psíquica, a lente afetiva que dá as vivências do sujeito, a cada momento, uma cor
particular, ampliando ou reduzindo o impacto das experiências reais e, muitas vezes, modificando a natureza
e o sentido das experiências vivenciadas.

EMOÇÕES: Podem ser definidas como reações afetivas agudas, momentâneas, desencadeadas por
estímulos significativos. Assim, a emoção é um estado afetivo intenso, de curta duração, originado
geralmente como a reação do indivíduo a certas excitações internas ou externas, conscientes ou
inconscientes.

SENTIMENTOS: São estados e configurações afetivas estáveis; em relação às emoções, são mais
atenuados em sua intensidade e menos reativos a estímulos passageiros.

AFETOS: Define-se afeto como a qualidade e o tônus emocional que acompanha uma ideia ou
representação mental. Seriam, assim, o componente emocional de uma ideia.

PAIXÕES: Estado afetivo extremamente intenso, que domina a atividade psíquica como um todo,
captando e dirigindo a atenção e o interesse do indivíduo em uma só direção, inibindo os demais interesses.

REAÇÃO AFETIVA

SINTONIZAÇÃO AFETIVA: A capacidade de o indivíduo ser influenciado afetivamente por estímulos


externos.

IRRADIAÇÃO AFETIVA: A capacidade que o indivíduo tem de transmitir, irradiar ou contaminar os


outros com seu estado afetivo momentâneo.
RIGIDEZ AFETIVA: O indivíduo não deseja, tem dificuldade ou impossibilidade tanto de sintonização
como de irradiação afetiva.

ASPECTOS CEREBRAIS E NEUROPSICOLÓGICOS DAS EMOÇÕES

A AMÍGDALA: É uma estrutura situada na região temporal medial, que, juntamente com suas projeções
eferentes e aferentes, tem grande importância nas reações de medo, particularmente no chamado
condicionamento do medo.

ASPECTOS PSICODINÂMICOS DA AFETIVIDADE  ANGÚSTIA, DEPRESSÃO OU


MELANCOLIA

ANGÚSTIA: Freud concebe como um afeto básico emergido do eterno conflito entre o indivíduo, seus
impulsos instintivos primordiais, seus desejos e suas necessidades, por um lado, e, por outro, as exigências
de comportamento civilizado, restrições que a cultura impõe. Postulou que a angústia seria não um
subproduto da libido represada, mas um sinal de perigo, enviado pelo Eu, no sentido de evitar o surgimento
de algo muito mais ameaçador a o indivíduo, algo que poderia gerar angústia muito mais intensa.

DEPRESSÃO OU MELANCOLIA: Termo mais utilizado em psicanálise relaciona-se ao modo particular


de elaboração inconsciente de perdas reais ou simbólicas.

ALTERAÇÕES PATOLÓGICAS DA AFETIVIDADE  DISTIMIA, DISFORIA, PUERILIDADE,


IRRITABILIDADE PATOLÓGICA

DISTIMIA: Termo que designa a alteração básica do humor, tanto no sentido da inibição como no sentido
da exaltação.

DISFORIA: Diz respeito à distimia acompanhada de uma tonalidade afetiva desagradável, mal-humorada.

 HIPOTIMIA: Base afetiva de todo transtorno depressivo.


 HIPEERTIMIA: Humor patologicamente alterado no sentido da exaltação e da alegria.
 EUFORIA OU ALEGRIA PATOLÓGICA: Humor morbidamente exagerado, no qual predomina
um estado de alegria intensa e desproporcional às circunstâncias.
 ELAÇÃO: Há, além da alegria patológica, a expansão do Eu, uma sensação subjetiva de grandeza e
de poder.

PUERILIDADE: Alteração do humor que se caracteriza pelo aspecto infantil, simplório, regredido. O
indivíduo ri ou chora por motivos banais; sua vida afetiva é superficial, sem afetos profundos, consistentes e
duradouros.
IRRITABILIDADE PATOLÓGICA: Há hiper-reatividade desagradável, hostil e, eventualmente,
agressiva a estímulos do meio exterior. Qualquer estímulo é sentido como perturbador, e o indivíduo reage
prontamente de forma disfórica.

ANSIEDADE: Definida como estado de humor desconfortável, apreensão negativa em relação ao futuro,
inquietação interna desagradável. Inclui manifestações somáticas e fisiológicas.

ANGÚSTIA: Relaciona-se diretamente à sensação de aperto no peito e na garganta, de compressão,


sufocamento. Assemelha-se muito à ansiedade, mas tem conotação mais corporal e mais relacionada ao
passado.

MEDO: Caracterizado por referir-se a um objeto mais ou menos preciso (o medo é, quase sempre, medo de
algo).

ALTERAÇÕES DAS EMOÇÕES E DOS SENTIMENTOS  APATIA, ANEDONIA,


INDIFERENÇA AFETIVA, LABILIDADE E INCONTINÊNCIA AFETIVA

APATIA: É a diminuição da excitabilidade emotiva e afetiva. Na apatia, o indivíduo, apesar de saber da


importância afetiva que determinada experiência deveria ter para ele, não consegue sentir nada.

ANEDONIA: É a incapacidade total ou parcial de obter e sentir prazer com determinadas atividades e
experiências da vida.

INDIFERENÇA AFETIVA: Trata-se de certa frieza afetiva incompreensível dos sintomas que o paciente
apresenta. Não é uma indiferença profunda, sendo mais aparente e teatral que real (daí bela indiferença.

LABILIDADE E INCONTINÊNCIA AFETIVA: São os estados nos quais ocorrem mudanças súbitas e
imotivadas de humor, sentimentos ou emoções. O indivíduo oscila de forma abrupta, rápida e inesperada de
um estado afetivo para outro. Na incontinência afetiva, o indivíduo não consegue conter de forma alguma
suas reações afetivas.

FOBIAS  SIMPLES, SOCIAL, AGORAFOBIA, CLAUSTROFOBIA

São medos determinados psicopatologicamente, desproporcionais e incompatíveis com as possibilidades de


perigo real oferecidas pelos desencadeantes, chamados de objetos ou situações fobígenas.

SIMPLES: É o medo intenso e desproporcional de determinados objetos, geralmente pequenos animais


(baratas, sapo, cachorro, etc.).
SOCIAL: É o medo de contato e interação social, principalmente com pessoas pouco familiares ao
indivíduo e em situações nas quais o paciente possa se sentir examinado ou criticado por tais pessoas.

AGORAFOBIA: É o medo de espaços amplos e de aglomerações como estádios, cinemas, supermercados.


Inclui-se o medo de ficar retido em congestionamentos.

CLAUSTROFOBIA: É o medo de entrar (e ficar peso) em espaços fechados, como elevadores, salas
pequenas, túneis, etc.

PÂNICO: É uma reação de medo intenso, de pavor, relacionada geralmente ao perigo imaginário de morte
iminente, descontrole ou desintegração. O pânico se manifesta quase sempre como crises de pânico. Estas
são crises agudas e intensas de ansiedade, acompanhadas por medo intenso de morrer ou de perder o
controle e de acentuada descarga autônoma (taquicardia, sudorese, etc.). Ocorrem sintomas somáticos
autonômicos, decorrentes da ansiedade intensa, como palpitações, sudorese, tremores, parestesias
(principalmente formigamentos nos lábios e/ou ponta dos dedos), sensação de falta de ar, desconforto no
peito, náusea, sensação da cabeça ficar leve, medo de perder o controle ou enlouquecer, medo de morrer ou
de ter um ataque cardíaco e, em alguns casos, despersonalização e/ou desrealização.

CIÚME: É um fenômeno emocional complexo no qual o individuo sente receio, medo, tristeza ou raiva
diante da ideia, sensação ou certeza de que a pessoa amada gosta mais de outra (ou objeto) e pode abandoná-
lo ou preteri-lo.

INVEJA: É a sensação de desconforto, raiva e angustia diante da constatação de que outra pessoa possui
objetos, qualidades, relações que o indivíduo gostaria de ter, mas não tem.
CAPÍTULO - “O PENSAMENTO E SUAS ALTERAÇÕES”

CONCEITOS: Os conceitos se formam a partir das representações. Ao contrário das percepções (e, em
certo sentido, também das representações), o conceito não apresenta elementos de sensorialidade, não sendo
possível contemplá-lo, nem imaginá-lo. Trata-se de um elemento puramente cognitivo, intelectivo, não
tendo qualquer resquício sensorial. Não é possível visualizar um conceito, ouvi-lo ou senti-lo. Nos
conceitos, exprimem-se apenas os caracteres mais gerais dos objetos e dos fenômenos. O conceito é o
elemento estrutural básico do pensamento, nele se exprimem os caracteres essenciais dos objetos e
fenômenos da natureza. Para a formação dos conceitos, são necessários dois passos fundamentais:

 ELIMINAÇÃO DOS CARACTERES DE SENSORIALIDADE: A dimensão é puramente


conceitual.
 GENERALIZAÇÃO: O conceito resulta da síntese, por abstração e generalização, de um número
considerável de fenômenos singulares.

JUÍZOS: Formar juízos é o processo que conduz ao estabelecimento de relações significativas entre os
conceitos básicos. O juízo consiste, a princípio, na afirmação de uma relação entre dois conceitos. O juízo
tem, por função básica, formular uma relação unívoca entre um sujeito e um predicado.

RACIOCÍNIO: A função que relaciona os juízos recebe a denominação de raciocínio. O processo do


raciocínio representa um modo especial de ligação entre conceitos, de sequencia de juízos, de encadeamento
de conhecimentos, derivando sempre uns dos outros. Assim como a ligação entre conceitos permite a
formação de juízos, a ligação entre juízos conduz à formação de novos juízos. Dessa forma, o raciocínio e o
próprio pensamento se desenvolvem.
CAPÍTULO - “O JUÍZO DE REALIDADE E SUAS ALTERAÇÕES (O DELÍRIO)”

Ajuizar quer dizer julgar. Todo juízo implica, certamente, um julgamento, que, por um lado, é subjetivo,
individual e, por outro, social, produzindo historicamente, em consonância com os determinantes
socioculturais. As alterações do juízo de realidade são alterações do pensamento.

O DELÍRIO

Segundo Karl Jaspers (1883-1969), as ideias delirantes, ou delírio, são juízos patologicamente falsos. Dessa
forma, o delírio é um erro do ajuizar que tem origem na doença mental.

Possui quatro características:

1- O doente apresenta uma convicção extraordinária, certeza subjetiva praticamente absoluta.


2- É impossível a modificação do delírio pela experiência objetiva, por provas explícitas da realidade; o
delírio é irremovível.
3- É, quase sempre, um juízo falso; o seu conteúdo é impossível.
4- O delírio é uma produção associal, idiossincrática em relação ao grupo cultural do doente. Trata-se
de uma convicção de um só homem.

OS TIPOS DE DELÍRIO SEGUNDO SEUS CONTEÚDOS

DELÍRIOS DE PERSEGUIÇÃO

 DELÍRIO PERSECUTÓRIO OU DE PERSEGUIÇÃO: O indivíduo acredita que é vítima de um


complô e está sendo perseguido por pessoas conhecidas ou desconhecidas, tais como máfias,
vizinhos, polícia, pais, esposa ou marido, chefe ou colegas do trabalho (ou do ambiente estudantil).
Ele pensa que querem envenená-lo, prendê-lo, mata-lo, prejudica-lo no trabalho ou na escola,
desmoralizá-lo, expô-lo ao ridículo ou mesmo enlouquecê-lo... Cabe lembrar que a perseguição é o
tema mais frequente dos delírios.
 DELÍRIO DE REFERÊNCIA (DE ALUSÃO OU AUTO-REFERÊNCIA): Aqui o indivíduo
apresenta a tendência dominante a experimentar fatos cotidianos fortuitos, objetivamente sem
maiores implicações, como referentes à sua pessoa. Tudo, enfim, se refere a ele.

DELÍRIOS E O MECANISMO DE PROJECÃO

 DELÍRIO DE RELAÇÃO: O indivíduo delirante constrói conexões significativas (delirantes) entre


os fatos normalmente percebidos. Por exemplo, o paciente agora sabe que tudo faz sentido, os fatos
se relacionam (as chuvas do verão passado, o inverno atual mais frio, etc.), indicando “que realmente
a guerra dos seres alienígenas irá começar”.
 DELÍRIO DE INFLUÊNCIA OU CONTROLE (TAMBÉM DENOMINADO VIVÊNCIAS DE
INFLUÊNCIA): O indivíduo vivencia intensamente o fato de estar sendo controlado, comandado ou
influenciado por força, pessoa ou entidade. O doente afirma ter perdido a capacidade de resistir a
essa força externa e passa a submeter-se inteiramente a ela.
 DELÍRIO DE GRANDEZA (DE ENORMIDADE): O indivíduo acredita ser extremamente
especial, dotado de capacidades e poderes. É dominado por ideias de poder e riqueza. Ocorrem
tipicamente nos quadros maníacos.
 DELÍRIO MÍSTICO OU RELIGIOSO: O indivíduo afirma ser (ou estar em comunhão
permanente com, receber mensagens ou ordens de) um novo messias, um Deus, Jesus, um santo
poderoso ou, até, um demônio. Frequentemente apresentam aspecto grandioso, enfatizando a própria
importância do sujeito que delira.
 DELÍRIO DE CIÚMES E DELÍRIO DE INFIDELIDADE: O indivíduo percebe-se traído pelo
cônjuge de forma vil e cruel.
 DELÍRIO ERÓTICO (EROTOMANIA): O indivíduo afirma que uma pessoa, geralmente de
destaque social ou de grande importância para o paciente, está totalmente apaixonada por ele e irá
abandonar tudo para que possam se casar.

DELÍRIOS DE CONTEÚDO DEPRESSIVO

 DELÍRIO DE RUÍNA (OU NIILISTA): O indivíduo vive em um mundo repleto de desgraças, está
condenado à miséria, ele e sua família irão passar fome, o futuro lhe reserva apenas sofrimentos e
fracassos.
 DELÍRIO DE CULPA E DE AUTO-ACUSAÇÃO: Aqui o indivíduo afirma, sem base real para
isso, ser culpado por tudo de ruim que acontece no mundo e na vida das pessoas que o cercam, ter
cometido um grave crime, ser uma pessoa indigna, pecaminosa, suja, irresponsável, que deve ser
punida por seus pecados. O delírio de culpa ou autoacusação é bastante característico das formas
graves de depressão.
 DELÍRIO DE NEGAÇÃO DE ÓRGÃOS: O indivíduo experimenta profundas alterações
corporais. Relata que seu corpo está destruído ou morto, que não tem mais um ou vários órgãos,
como o coração, o fígado ou o cérebro, suas veias “estão secas”, não tem mais nem uma gota de
sangue, seu corpo secou e apodreceu, seus braços e pernas estão se “esfarelando”.
 DELÍRIO HIPOCONDRÍACO: O indivíduo crê com convicção extrema que tem uma doença
grave, incurável, que está contaminado pelo vírus AIDS, que irá morrer brevemente em decorrência
do câncer. Os exames laboratoriais negativos, as avaliações de diferentes especialistas, os exames de
imagem (tomografia, ressonância, etc.), nenhuma dessas constatações o demovem da crença de que
sofre de uma doença terrível.

OUTROS TIPOS DE DELÍRIO MENOS FREQUENTES

 DELÍRIO DE REIVINDICAÇÃO (OU QUERELÂNCIA): O indivíduo considera-se o


representante dos injustiçados, dos perseguidos, e engaja-se tenazmente contra as injustiças, das
quais julga ser a principal vítima.
 DELÍRIO DE INVENÇÃO OU DESCOBERTA: Aqui o indivíduo, mesmo completamente leigo
na ciência ou na área tecnológica em questão, revela ter descoberto a cura de uma doença grave (da
AIDS, do câncer, etc.), ou ter desenvolvido um aparelho moderno fantástico.
 DELÍRIO DE REFORMA (OU SALVACIONISMO): Ocorre entre indivíduos que se sentem
destinados a salvar, reformar, revolucionar ou redimir o mundo ou a sua sociedade.
 DELÍRIO CENESTOPÁTICO: O indivíduo afirma que existem animais (cobra, rato, etc.) ou
objetos dentro de seu corpo.
 DELÍRIO DE INFESTAÇÃO (SÍNDROME DE EKBOM): O indivíduo acredita que seu corpo
(principalmente sua pele e/ou seus cabelos) está infestado por pequenos (mas macroscópicos)
organismos.
 DELÍRIO FANTÁSTICO OU MITOMANÍACO: O indivíduo descreve histórias fantásticas com
convicção plena, sem qualquer crítica.

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