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CÂMARA MUNICIPAL DE SALVADOR

Diretoria Legislativa
Coordenação das Comissões

COMISSÃO DE EDUCAÇÃO, ESPORTE E LAZER


18º Legislatura

RELATÓRIO DE AUDIÊNCIA PÚBLICA

Data: 03 de julho de 2020


Pauta: Desigualdade Digital na Educação de Salvador
Composição da Mesa: Vereador Toinho Carolino – Presidente da Comissão,
Vereador Marcos Mendes - Vice-Presidente da Comissão, Vereador Silvio
Humberto – Membro da Comissão; Professor Marcos Barreto – Diretor do
Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia (APLB-
Sindicato); Professora Ivone Souza - Rede Municipal de Educação; Professora
Márcia Regina da S. Paim - Rede Estadual de Educação; Professor Nelson Preto
– Professor da Universidade Federal da Bahia.
Local: Em razão dos decretos nº. 32.248/2020 e nº. 32.256/2020 do Prefeito
desta Capital, bem como, pela Portaria nº 08 editada pelo Presidente desta Casa
como medida de contenção à disseminação do COVID-19, a audiência aconteceu
em formato tele presencial, com utilização de plataforma digital.

1 INÍCIO DOS TRABALHOS

A audiência teve início às quatorze horas, do dia três de julho de dois mil e vinte,
quando reuniram-se remotamente os membros da Comissão de Educação, esporte e
lazer, com o objetivo de discutir a “Desigualdade Digital na Educação de Salvador”. O
Vereador Silvio Humberto fez a abertura dos trabalhos, destacou a importância da
temática dentro da luta para uma educação pública de qualidade para todos e todas e
passou a palavra para o Presidente da Comissão, Vereador Toinho Carolino. O edil
saudou os presentes e destacou esta audiência como um mecanismo de buscar
alternativas que possam diminuir as desigualdades entre alunos da rede privada e
pública de ensino. Informou que encaminhou ao executivo estadual e municipal o
pedido de que fossem disponibilizados tabletes e pacote de dados para alunos e
alunas das respectivas redes de ensino, como alternativa para a continuidade do ano
letivo, neste momento de isolamento social, já que, sem estas ferramentas, estarão
excluídos de acesso aos conteúdos. Embora considere que esta ação isolada não é
suficiente, pois, a formação continuada dos professores também precisa estar em
pauta. Na sequência, o Presidente informou que precisaria se ausentar, pois já tinha
compromisso previamente agendado. Passou então, a condução dos trabalhos para o
Vereador Silvio Humberto. Em seguida, o edil passou para a Mesa fazer suas
considerações iniciais.

2 OBSERVAÇÕES PRINCIPAIS DOS PRONUNCIAMENTOS

Vereador Silvio Humberto: Falou do seu compromisso coletivo e batalha por uma
educação pública de qualidade em Salvador, que reflete o compromisso com toda a
cidade. Parabenizou a iniciativa do projeto de indicação do Vereador Toinho Carolino
e agradeceu pela participação. Trouxe para reflexão o fato da pandemia não
inaugurar a desigualdade digital, mas sim, acentuar esta e várias outras questões
sociais e econômicas. Durante a audiência pública, o edil fez leitura das intervenções
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e contribuições do público que acompanhava a audiência, via


plataforma Zoom e pelas redes sociais da Câmara Municipal de Salvador.

Professora Ivone Souza: saudou os presentes e iniciou alertando que o programa


educacional com o objetivo de promover o uso pedagógico da informática na rede
pública de educação básica, do Ministério da Educação, o PROINFO, ao invés de ser
ampliado, foi extinto em Salvador. Sendo assim, além dos déficits de inserção digital
a partir da escola, destacou que os alunos possuem níveis diferentes de acesso ao
mundo digital: alguns possuem internet, outros TV fechada, outros tem acesso a
algum smartphone da família, enquanto outros não possuem nenhum tipo de acesso.
Em relação a estes aparelhos celulares, ponderou que, na maioria das vezes, são
dos pais, se constituem em ferramenta de trabalho e neste momento, ainda precisam
lidar com a escola demandando a partilha destes com os filhos. Em relação aos
alunos que não possuem nenhum tipo de acesso, considerou que o poder público
seria o responsável por sanar esta necessidade. Avaliou que apenas a máquina na
escola, sem uma mediação pedagógica, não é suficiente para sanar todas as lacunas
que se fazem presente, diante de uma negligência do passado. Refletiu sobre a
dificuldade de acesso a informação como a perpetuação de uma crueldade intelectual
imensa. Ponderou que é urgente melhorar a conectividade das escolas que possuem
internet de qualidade muito baixa, ao passo em que, reconheceu que há pouco
investimento para acesso as ferramentas digitais na educação infantil e séries iniciais,
já que, apenas nas séries finais há laboratórios em algumas unidades de ensino.
Disse que, os investimentos para jovens, adultos e idosos é ainda menor, mesmo
sendo atores importantes na recepção das mensagens do que deve ser feito neste
momento de pandemia. Trouxe o exemplo da máscara no queixo para fazer a
discussão sobre as deficiências na educação formal que recebemos, já que, neste
caso o cidadão recebeu a informação, no entanto, não a compreendeu por completo.
Desta forma, esclareceu que não basta disponibilizar as ferramentas, é necessário
também trazer a mediação pedagógica para sua utilização, de modo que seja
possível transformar informação em conhecimento. Reconheceu que a escola possui
diversos livros, mas eles não devem ser a única via de acesso à informação diante
das características do mundo digital que se vive. Defendeu o professor de tecnologia
na escola e a formação continuada dos professores de toda educação básica, num
processo de educação digital permanente para professores e alunos da rede.
Reconheceu a internet como um direito, mas considerou que a equalização do seu
acesso e distribuição representam os entraves para tal.

Professora Márcia Paim: agradeceu o convite para tratar desta temática, por se
configurar como uma possibilidade de diálogo que busca diminuir, ou pelo menos
pensar as desigualdades, sendo esta, a primeira inciativa de que teve conhecimento
neste sentido. Considerou que as desigualdades entre a rede municipal e estadual se
assemelham, a partir do que ouviu da exposição da professora Ivone. Avaliou que a
desigualdade digital no Brasil é parte de uma série de desigualdades que negros e
negras sofrem historicamente, assim, não é um problema gerado pela pandemia, mas
que está sendo acentuado neste momento. Apresentou três variáveis para discussão
da desigualdade digital: raça, gênero e faixa geracional. Ponderou que não é
suficiente prover a escola de excelência em tecnologias, sem que outras questões
estruturais e básicas para a dignidade humana sejam garantidas ao aluno, assim,
haveria o acesso à tecnologia na escola e não teria acesso à água potável em casa,
por exemplo. Sobre as questões de gênero e raça, trouxe para discussão a presença
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majoritária de mulheres negras nas filas do auxilio emergencial e


sobre a necessidade de trazer outras frentes para o debate, incluindo: professores,
comunidade, esfera municipal, estadual, e demais organizações da sociedade. Com
relação à faixa geracional, tratou do destaque que o idoso ganhou na pandemia
enquanto grupo de risco, que mais precisa do isolamento social, enquanto que, boa
parte dos idosos que fazem parte da comunidade escolar, são os avós, que
sustentam a família com suas aposentadorias e que ainda estão no mercado informal
de trabalho para complementar a renda, sendo, na maioria das vezes, mulheres que
trabalham como diarista. Desta forma, alertou que as desigualdades não são apenas
entre rede pública e privada de ensino. Defendeu a formação continuada dos
professores, já que, há muitos docentes que ainda apresentam dificuldades no uso
das tecnologias da informação e comunicação. Trouxe reflexões acerca do que
representa, neste momento de pandemia e de luto mundial, pensar na continuidade
das aulas apenas para garantir a transposição de conteúdos, sem considerar as
perdas e as dores de cada família. Desta forma, afrimou que é preciso pensar em um
retorno das atividades que inicie com acolhimento de toda comunidades escolar e
então, repensar o currículo a partir de diversos aspectos, assim como, repensar a
própria estrutura arquitetônica das escolas. Apresentou como proposição um fórum
permanente de discussão, constituído pela rede municipal e estadual de ensino,
alunos, professores, gestores e terceiro setor, com o objetivo de constituírem
múltiplas discussões com foco na redução das desigualdades.

Professor Marcos Barreto: Saudou os presentes e iniciou sua participação


reforçando a desigualdade digital como reflexo da desigualdade social e econômica e
produto do modelo social e econômico em que vivemos, que não reconhece os
direitos dos cidadãos de acesso a todos os bens. Afirmou que a educação de
Salvador reflete o resultado de um processo de gestão da educação municipal, que
sofreu muitos cortes e descontinuidades, pois só no governo atual, já foram
nomeados seis secretários municipais de educação. Lembrou que em 2013 a
prefeitura entregou tabletes aos professores da rede, mas para além da ferramenta,
não houve um investimento na formação docente e na estrutura das escolas para
inclusão digital. Em relação às ações da pasta de educação para enfrentamento da
Covid 19, trouxe como destaque a programação de aulas na TV aberta, o uso de
plataforma digital de conteúdo “Escola mais” e o regime de entrega de atividades
impressas nas escolas. Considerou que estas três ações não se comunicam, não
traduzem a realidade do projeto político pedagógico das escolas e nem refletem o
trabalho dos professores e coordenadores que são realizadas nas suas instituições
de ensino. Disse que a ideia inicial da TV é de dar acesso aos conteúdos para
aqueles que não dispõem de internet, mas considerou que é preciso repensar o
formato, pois, das aulas que assistiu, havia professores sendo gravados dando aula
em quadros, como no presencial. Desta forma, avaliou que há uma transposição da
aula presencial para a TV, sem a exploração de possibilidades que os objetos
educacionais digitais trazem, não tendo atratividade para os estudantes. Em relação à
alfabetização e letramento digital, ponderou que ter o aparelho apenas não é
suficiente para garantir o acesso aos conteúdos e alertou que a exclusão digital irá
promover altas taxas de exclusão das pessoas no mercado de trabalho em Salvador,
o que acaba sendo contrária a proposta da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
(LDB), que traz a preparação para o mundo do trabalho como prioridade. O professor
também registrou sua homenagem à professora Clarice, vítima do Covid19, que foi
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sua companheira de luta no Sindicato nos últimos anos e lembrou


seu grande papel para a história da educação em Salvador.

Professor Nelson Preto: iniciou sua fala registrando a tristeza pela pequena
presença de vereadores na discussão de uma temática de tamanha importância para
a cidade, visto que, os vereadores são as representações da população no poder
público. Em seguida, saudou todos e todas que se faziam presente e ressaltou que a
comunicação livre é fundamental para a democracia. Situou o problema da inclusão
digital numa perspectiva mais ampla, deixando claro que não se pode aceitar a ideia
de que, tão logo se passe a pandemia, haverá uma “nova normalidade”, pois nunca
houve normalidade neste país, desde que os portugueses chegaram com a
escravização, e deixaram uma marca racista em nossa nação. Considerou que,
enquanto houver racismo no país, não se pode falar em democracia. Afirmou que no
campo digital há reprodução das desigualdades que historicamente foram se
alargando em todos os outros campos da sociedade. Defendeu que se deve requerer
não a internet na escola, mas as escolas na internet e desta forma, se traz a
dimensão da concepção de educação e sociedade que se deseja. Discutiu a internet
como um espaço construído historicamente a partir do coletivo e da importância de
pensar o enfrentamento à pandemia a partir das redes, para além da transposição de
conteúdos. Apresentou a complexidade da situação que enfrentamos, já que, se
formos considerar as condições concretas de inclusão digital dos nossos alunos, há
clareza de que não há muitas possibilidades do que se fazer. Assim como, é
necessário também pensar nas condições objetivas dos professores em um momento
de tamanha instabilidade, quando não dar para continuar dando aula como se nada
estivesse acontecendo. Por outro lado, se nada fizer, é o desafio, também estarão
aumentando as desigualdades existentes. Ações que não compreendam estas
desigualdades poderão intensificá-las. Defendeu um Fórum permanente de
discussão, mas neste momento, deve ter o objetivo de acolhimento de todos e todas,
de cuidado em razão do luto coletivo que enfrentamos. Ponderou que é importante o
uso da televisão, mas a Câmara de Vereadores precisa fiscalizar como este processo
foi realizado, assim como, a compra dos chips para distribuição aos alunos.
Considerou que estas são ações importantes da prefeitura, mas não podem se
constituir num plano único para a educação. Neste momento, indicou que se deve
fazer sim, uma imersão na cultura digital, mas no sentido de acolhimento a estas
famílias e não pra sair dando aula com uma preocupação apenas com os conteúdos
programáticos. Sobre o programa “Escola mais”, criticou o fato do poder público
municipal insistir nesta articulação com os reformadores da educação e com
empresas que buscam trazer soluções para a educação, quando o que se precisa é
de um programa de fortalecimento dos professore e professoras, para que sejam
plenos e políticos no fazer da educação. Destacou a importância de políticas públicas
articuladas para que se garanta inclusão digital, defendeu a construção e
fortalecimento de redes públicas de internet, já que, considera que não é impossível
fazer inclusão digital com as grandes plataformas capitalistas e/ou reformadores de
educação. Alertou que, ao invés de ter professores fortalecidos atuando nas escolas,
esses grupos se articulam para determinar os conteúdos e se cria um grande
mercado. Informou que lançou uma campanha no seu grupo de pesquisa para que
todos liberassem seus wifis, a fim de que seja criada uma grande rede colaborativa.
Indicou como estratégia, o fortalecimento dos distribuidores locais de internet para
que se garanta o acesso à internet a todo cidadão e a apropriação das redes para
criação de redes de solidariedade.
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Marcos Mendes: saudou os presentes e parabenizou o vereador Silvio Humberto


pela iniciativa desta audiência pública. Trouxe reflexões acerca da realidade concreta
em que se encontram as escolas municipais de Salvador, que foram visitadas pela
Comissão de Educação, esporte e Lazer da Câmara, e que não apresentaram
estruturas mínimas para aprendizagem dos estudantes e nem condição de trabalho
para professores e professoras da rede. Desta forma, considerou que se torna
impossível pensar em inclusão digital diante de tantas lacunas e sucateamento que a
educação municipal vem sofrendo, quando, questões mínimas para o funcionamento
das escolas não são atendidas. Agradeceu mais uma vez o espaço de participação
nesta audiência pública.

3 CONTRIBUIÇÕES E PARTICIPAÇÃO DA PLENÁRIA

Após a exposição da Mesa, a palavra foi franqueada ao público, quando foram


discutidos alguns pontos em relação à temática, como segue no Quadro abaixo:

Quadro 1 – Pontos discutidos pela plenária e suas contribuições


1 Crítica ao projeto que vem sendo desenvolvido pela prefeitura municipal para a
continuidade das aulas remotamente, a partir da utilização da TV, sem a
utilização de módulos, que já haviam sido indicados em projeto apresentado à
pasta da educação no município.
2 Reivindicação para que sejam pensadas ações específicas para a educação
especial, pois sempre que se discutem as tecnologias na educação, percebe-
se lacuna para este segmento.
3 Indicação de que seja mais explorada a autoavaliação, que foi considerada um
elemento importante neste momento de aulas e atividades remotas.
4 Alerta sobre a temática dos conteúdos pedagógicos, para que não se tenha a
repetição do fenômeno que acontece na educação à distância: que é a
transposição dos conteúdos presenciais para as atividades remotas, sem
adequação necessária que requer os meios digitais e com desconsideração da
interatividade.
5 Reflexão da internet como direito e não como um produto, trazendo como
proposta o fortalecimento das redes de distribuição de internet locais, no
sentido de otimizar a relação de cosumo e serviços nas comunidades de
Salvador.
6 Registro de Memória à professora Clarice e sua luta pela educação de
Salvador.
7 Necessidade de discussão coletiva sobre as políticas educacionais de
enfrentamento a pandemia e após o retorno das aulas presenciais.
8 Crítica à falta de diálogo entre o poder público e diversos setores da
sociedade, como universidades e professore da rede, com relação ao que está
sendo desenvolvido pela pasta municipal de educação.
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS E ENCERRAMENTO DOS TRABALHOS

Em seguida, a Mesa fez suas considerações finais e o Vereador Silvio Humberto


agradeceu a presença de todos, firmou mais uma vez seu compromisso com a
educação pública de qualidade em Salvador e deu por encerrada a presente
Audiência Pública.

Toinho Carolino
Presidente da Comissão

Marcos Mendes Silvio Humberto


Vice-Presidente da Comissão Membro da Comissão

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