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Lingua Brasileira Sinais
Lingua Brasileira Sinais
Língua Brasileira
de Sinais-Libras
2012
Proibida a reprodução total ou parcial.
Os infratores serão processados na forma da lei.
EDITORA UNIMONTES
Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro
s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG)
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Diretora do Centro de Ciências Biológicas da Saúde - CCBS Coordenadora do Curso a Distância de Letras/Português
Maria das Mercês Borem Correa Machado Ana Cristina Santos Peixoto
Diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA Coordenadora do Curso a Distância de Pedagogia
Paulo Cesar Mendes Barbosa Maria Narduce da Silva
Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
História, Cultura e Identidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.6 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Educação de Surdos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.1 A legislação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Estudos Linguísticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Unidade 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
Estudos Práticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
4.2 Cumprimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
4.10 Classificadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
Glossário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
Atividades de Aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
Letras/Inglês - Língua Brasileira de Sinais - Libras
APRESENTAÇÃO
Olá, acadêmico! Você está diante do ca- se embrenhando pelo mundo da visualidade,
derno didático da disciplina Libras. Este se- certamente irá construir novos conceitos so-
mestre você vai conhecer de perto a língua bre os surdos e a Libras.
visual utilizada pelas pessoas surdas do Brasil: Na unidade I você irá vislumbrar a história
a Lingua Brasileira de Sinais, conhecida como do povo surdo ao longo do tempo e poderá
Libras ou como LSB. Quais são as suas expec- tirar suas próprias conclusões sobre os pro-
tativas para esta disciplina? Está animado e cessos opressivos historicamente vivenciados
curioso? Esperamos que sim! Você vai adentrar pelas pessoas surdas. Verá também que toda
agora em um mundo novo e certamente fará língua pressupõe uma cultura e que importan-
descobertas surpreendentes. tes processos identitários são construídos nes-
Você pode estar se perguntando: por- sa relação.
que eu tenho Libras na estrutura curricular do Na Unidade II você conhecerá as justifica-
meu curso? Ora, primeiramente porque, como tivas para a consolidação de escolas ditas in-
profissional da educação, você deve conhecer clusivas e poderá refletir sobre as diferenças
a clientela que irá entender. A inclusão edu- de abordagem entre escolas especiais e esco-
cacional, acadêmico, configura-se hoje como las inclusivas. Além disso, terá ainda a opor-
uma realidade real, não mais imagada, mas já tunidade de discutir sobre o ensino de portu-
vivenciada por professores e alunos. Diante guês para surdos e sobre o papel do intérprete
disso, o decreto 5.626, de 22 de dezembro de educacional.
2005, recomenda a inserção da disciplina Li- Na unidade III você irá conhecer uma par-
bras em todos os cursos de formação de pro- cela dos estudos linguísticos sobre a Libras. A
fessores. partir deles você poderá construir uma base
Em segundo lugar porque aprender lín- teórica que dará sustentabilidade ao processo
guas expande a capacidade da mente humana de aprendizagem da Libras. Entre outras coi-
e nos permite experimentar o mundo, por um sas, verá que o sinal pode ser seguimentado
instante, a partir dos olhos dos outros. Cada e que existem sinais imagéticos e não-imagé-
língua veicula a cultura e os esquemas cogni- ticos.
tivos de seu povo. Se existirem mil línguas no Na unidade IV você aprenderá a sinali-
mundo, mil serão aos formas de compreender zar. Conhecerá as formas de cumprimentar
a nossa existência. E quando novas línguas pessoas em Libras, de marcar o tempo verbal
se deslindam diante de nós, deslindamo-nos nas sentenças e entenderá a importância das
também diante delas, pois reinventamo-nos expressões faciais nas línguas sinalizadas. De
enquanto sujeitos sócio-comunicacionais. posse do seu DVD poderá visualizar sinais,
O nosso objetivo, neste caderno, não é sentenças e diálogos em Libras.
apenas instrumentalizá-lo para o uso e com- Ao fim da disciplina esperamos que você
preensão da Libras. Esse objetivo, puro e seco, tenha se libertado dos mitos sociais sobre os
poderia ser atingido em cursos livres, estirpa- surdos e que seja capaz de construir reflexões
dos do ensino superior. Para fazer sentido, o próprias sobre a Libras e o povo que se utiliza
ensino de Libras no ensino superior tem de dela. Não há língua sem povo e não há povo
extrapolar a abordagem instrumentalista, fo- sem cultura. Conhecer a Libras é conhecer um
mentando reflexões de ordem linguística, po- pouco da cultura surda e da visão dos surdos
lítica e educacional. sobre o mundo.
Neste caderno você irá se deparar com
uma abordagem moderna sobre os surdos e Bons estudos!
a Lingua Brasileira de Sinais. É possível que es-
tranhe, no começo, mas à medida em que for Os autores.
9
Letras/Inglês - Língua Brasileira de Sinais - Libras
Unidade 1
História, Cultura e Identidade
Caro acadêmico, nesta unidade você co- os ouvintes. Sim quando pensamos que por
nhecerá um pouco da história dos falantes na- séculos surdos foram vistos como incapacita-
tivos das línguas visuais: os surdos. Verá que a dos e que, por esse motivo, foram mantidos
surdez tem sido compreendida de diferentes exclusos dos processos sociais, recebendo
maneiras ao longo da história da humanidade poucas oportunidades de desenvolvimento.
e que, atualmente, o fortalecimento político e Atualmente, contudo, após uma série de pes-
social do povo surdo, unido a descobertas aca- quisas, pudemos finalmente entender que,
dêmicas sobre as línguas de sinais, têm pro- nos surdos, há uma substituição de sentidos e
porcionado aos surdos novas e promissoras de línguas, não uma falta. E que em torno des-
formas de ser e estar no mundo. Você já repa- sa língua constrói-se culturas, comunidades e
rou que hoje em dia os surdos têm mais visi- processos identitários específicos. Esse enten-
bilidade do que no passado? Costumamos ver dimento tem reconstruído a imagem social
surdos em lugares em que não viamos antes. do surdo e, com isso, vemos as suas possibili-
Hoje eles estão ao nosso lado nas escolas e nas dades de desenvolvimento serem alargadas,
universidades, como alunos e como professo- uma vez que a sociedade, de modo geral,
res; estão nas empresas públicas e privadas; começa a entender que ser surdo não é ser
estão produzindo artes cênicas e visuais; estão deficiente, mas, sim, ser diferente linguistica e
projetando, enfim, para si e para os seus com- culturalmente.
parsas, um futuro melhor. Para abordar essas e outras questões,
Poderíamos dizer, então, que com o pas- acadêmico, apresentamos a você um artigo
sar do tempo, os surdos tornaram-se mais ca- escrito por uma das autoras deste caderno. O
pazes? A resposta seria: sim e não. Não quan- artigo discutirá questões históricas, linguísti-
do pensamos que eles sempre o foram, uma cas e culturais relacionadas aos surdos, além
vez que hoje se sabe que a falta de audição, de apresentar a você duas distintas formas de
em si mesma, não prejudica o desenvolvimen- se conceber os surdos atualmente. Vamos à
to das competências e habilidades humanas. leitura? Ao concluí-la, registre no seu diário de
Surdos podem ser intelectualmente brilhantes bordo pelo menos três descobertas que você
e podem desenvolver-se no mundo tais quais fez sobre os surdos, ok? Boa leitura!
11
UAB/Unimontes - 7º Período
Considerações sobre a relação dos surdos com a linguagem: dos primórdios à con-
temporaneidade
dicas
1
Disponível em: http:// Maria Clara Maciel de Araújo Ribeiro
www.geocities.com/
HotSprings/7455/pa-
tricia.html. Acesso em:
junho de 2008 Considerations on the relationship of the deaf and language: from beginning to the
present
Eu tive de passar por muita coisa para ter identidade própria, a de ser surda, tive de
lutar, combater para chegar aqui, antes eu era mais como “cópia de ouvinte”, mui-
to submissa no poder dos ouvintes, estas histórias de ouvintes que acham que ali e
aquilo é certinho para o surdo, por exemplo, é preciso falar bem e ler lábios para ter
o mesmo “patamar” que os ouvintes (...). Depoimento de uma surda militante1.
Resumo: A partir dos Estudos Surdos, este artigo aborda, em uma perspectiva linguístico-
-histórica, as formas de se conceber o surdo e a sua relação com a linguagem, da Antiguidade
aos tempos atuais. Devido em grande medida a descobertas científicas sobre as línguas de si-
nais, a imagem social da surdez vem sendo reconstruída. De amaldiçoados por Deus, os surdos
passaram a ser considerados minorias linguísticas e sociais. Veremos que, atualmente, duas são as
principais formas de se abordar a surdez: a primeira, oriunda do domínio clínico-terapêutico e, a
segunda, do linguístico-antropológico. A filiação a uma ou a outra concepção determinará se, ao
falar de surdos, estaremos tratando de sujeitos deficientes, sobre os quais exercemos um poder
administrativo e atribuímos uma visão normalizadora, ou de um povo específico, com língua, cul-
tura e identidade própria.
Abstract: From the Deaf Studies, this paper focuses on a linguistic-historical perspective,
ways of conceiving the deaf and its relationship to language, from antiquity to modern times.
Due largely to scientific discoveries about sign languages, the social image of deafness has been
rebuilt. From cursed by God, the deaf have been considered now to be social and linguistic mi-
norities. We will see that currently there are two main ways of approaching deafness: the first
from clinical and therapeutic area, the second from the linguistic-anthropological area. Member-
ship to one or another approach will determine whether, in speaking of the deaf, we are dealing
dicas with disabled individuals, on whom we exercise administrative powers and assign a normative
2
Os Estudos Surdos são vision; or dealing with a specific people, with language, culture and identity
compreendidos como
uma área interdisci-
plinar de estudos que Key words: deafness, language, sign language, culture, identity
tem como grande área
os Estudos Culturais.
Estabelece-se, de
maneira ampla, como
um percurso teórico
que estuda, nas co-
1.1 Considerações iniciais
munidades de surdos,
questões de ordem Nas últimas décadas, assistimos à reinvenção da surdez: de sujeitos deficitários, os surdos
lingüística, educacio-
nal, histórica, comu- passaram a ser considerados sujeitos lingüística e culturalmente específicos. De modo geral, um
nicacional e política, fenômeno de alguma forma recente pode ser observado nas universidades brasileiras: pesquisar
entre outras. fenômenos relativos à surdez já não é privilégio das Ciências da Saúde. O interesse pelo povo
surdo chegou às Ciências Humanas, valendo-se aqui de uma riqueza transdisciplinar que ressig-
nifica sujeitos, contextos e processos. Ressignificados em uma área outra do conhecimento, a
preocupação com os surdos ultrapassa agora as fronteiras da Educação stricto-sensu, primeira
área das Ciências Humanas a se preocupar com tais sujeitos, fazendo crescer a incidência de pes-
quisas sobre os surdos em todas as áreas das chamadas Humanidades, entre elas, sobretudo, as
Ciências da Linguagem.
Pode-se dizer que dois eventos contribuíram para esta conquista: o primeiro, de cunho
social, sobreveio dos questionamentos, das reivindicações e da união do própria comunidade
surda que, a partir do Movimento Surdo, fez-se visível e audível. O segundo, de cunho acadêmi-
12
Letras/Inglês - Língua Brasileira de Sinais - Libras
co-científico, iniciou-se pela constatação científica de que as línguas de sinais são sistemas lin-
güísticos completos e multiarticulados, tendo sua continuidade no surgimento dos Estudos Surdos
2
e nas suas novas formas de se conceber o povo surdo nas ciências humanas.
Como resultadado, vemos que o entendimento acerca da surdez vem se renovando ao logo
do tempo. Surdos já não vivem mais recatados, enclausurados em escolas especiais, longe dos
olhos e da consciência da sociedade. Hoje eles estão ao nosso lado, nas escolas e nos empregos,
na política e na arte e ainda vão além: produzem uma arte própria e se engajam em movimentos
políticos voltados para o reconhecimento do grupo. E a integração dos surdos nos diversos seg-
mentos sociais parece coincidir, justamente, com o fortalecimento político da comunidade sur-
da, uma vez que a coesão do grupo promove a inclusão social. Apesar da aparente contradição
(entre a coesão e a dispersão do grupo), é possível afirmar que quanto mais fortalecidos e unidos
enquanto grupo, mais considerados e respeitados os surdos são enquanto cidadãos.
Neste estudo, apresentaremos um plano panorâmico, apesar de sucinto, sobre as formas de
se conceber os surdos, sua história, educação e relação com a linguagem, dos primórdios aos
tempos atuais. A partir daí, buscaremos entender as ressonâncias desses desdobramentos his-
tóricos na contemporaneidade, focalizando as diferenças de abordagem entre uma compecção
clínica-terapêutica e linguístico-antropológica de surdez.
13
UAB/Unimontes - 7º Período
dicas isoladamente e não havia o hábito da troca de experiências. Lacerda (1998), citando Shánces
4
Consta que, por volta (1990), relata, por exemplo, que Heinicke, importante educador alemão que foi professor de sur-
de 1760, um movimen- dos, costumava dizer que ninguém conhecia o seu método de educação, com exceção do seu fi-
to de surdos contra lho. Alegava ter passado por tantas dificuldades sozinho que não pretendia dividir as conquistas
a ideologia verbal já do seu método com ninguém. Dessa maneira, muito foi perdido e pouco dos primórdios da edu-
começa a se delinear cação de surdos pôde ser reconstituído. Mas é a partir dessa época que se começa a admitir que
no Instituto Nacional
de Surdos-Mudos de os surdos podem aprender através de procedimentos pedagógicos adequados, sem que haja,
Paris (LODI, 2005, p. para tanto, interferências sobrenaturais, como a “cura” súbita da surdez.
413). Os estudantes Muitos autores, como Shánces (1990) e Lane (1998), fixam como marco fundador da educa-
protestavam contra a ção de surdos o trabalho desenvolvido pelo monge beneditino espanhol Pedro Ponce de Leon,
imposição das práticas no século XVI3. Como relata Lodi, (2005, p. 411), o trabalho desse educador não apenas influen-
oralizadoras, que se
obstinavam em fazê- ciou profundamente métodos posteriores, como desestabilizou os argumentos médicos e reli-
-los falar. É provável giosos da época sobre a incapacidade dos surdos para o desenvolvimento da linguagem e, por-
que a aglomeração de tanto, para toda e qualquer aprendizagem.
surdos nessa escola No século XVIII, escolas públicas especializadas em educar surdos começaram a ser funda-
tenha favorecido o das, como, por exemplo, o Instituto Nacional de Surdos-Mudos de Paris4, primeira escola pública
desenvolvimento e
o fortalecimento de para surdos na Europa, fundada pelo abade Charles Michel de l’Epée (SOUZA, 1998). Nesse perío-
uma língua de sinais e, do, sem contar ainda com o reconhecimento lingüístico das línguas de sinais (LS), o treino da fala
com isso, feito aflorar era considerado como “metodologia de ponta” na educação de surdos5.
o sentimento de grupo L’Epée reconheceu que os surdos possuíam uma forma de comunicação eficaz e que a lin-
e a vontade de uma guagem utilizada por eles poderia ser útil no processo de instrução. No entanto, consoante às
maior participação dos
surdos na condução de idéias lingüísticas e filosóficas de sua época, o abade acreditava que seria preciso, primeiramen-
suas vidas e educação. te, organizar e dotar de lógica a língua dos surdos de Paris, imputando-lhe regras claras e ele-
mentos faltantes, com base na gramática da língua francesa, considerada como o centro organi-
5
Atualmente o treino zador.
da fala é visto com Dessa forma, ele criou os “sinais metódicos”, como ficou conhecido o (des)arranjo de L’Epée
criticidade pelos surdos
– e com desaprovação na língua dos surdos parisienses. Grosso modo, o abade submeteu àquela língua de sinais (LS) à
pelos educadores, uma gramática da língua francesa, considerada completa e melhor, criando sinais “faltantes” (como
vez que se constatou conectivos e flexões) e inventando elementos morfêmicos capazes de, a partir da segmentação
que: i) os surdos tem de determinados sinais, originar outros. O fim último seria o de conferir aos surdos a capacidade
uma língua própria, de compreender o mundo a partir dessa linguagem artificial, que deveria ser compreendida e
completa e rica, a
Libras ii) atividades de traduzida em escrita. L’Epée criou tantos sinais, no afã de dotá-los de semelhanças com as pala-
fala e escrita são dis- vras francesas, “que sua linguagem algumas vezes era tão desfigurada que se tornava incompre-
sociáveis na educação. ensível” (BEBIAN, 1984, citado por SOUZA 1998, p.150).
Mais especificamente: Assim, tal método conseguiu apenas tornar os surdos bons decodificadores, pois consistia,
o treino daquela pode sobretudo, no exercício de ditar perguntas e respostas a partir dos “sinais metódicos”, cabendo
prejudicar o desen-
volvimento desta, no aos surdos decodificá-los em forma de registro escrito, o que não garantia a compreensão do
espaço escolar. que estava sendo decodificado, tampouco possibilitava a criação individual de novas sentenças,
fossem elas em sinais ou em linguagem escrita.
Com a ampliação da educação de surdos e com o passar do tempo, divergências teórico-
-metodológicas quanto aos métodos utilizados pelos professores acabaram culminando no I
Congresso Mundial de Professores de Surdos, congregando profissionais de diferentes países em
Milão, em 18807. Ressaltamos aqui a importância histórica do congresso de Milão, como ficou
registrado esse evento na história, para a constituição identitária dos surdos. Ainda hoje, mais de
um século depois, os desdobramentos desse congresso ainda são discutidos pelas comunidades
surdas do mundo inteiro, pois ele pode ser caracterizado como um acontecimento que fez retro-
ceder – e estagnar – em muito as conquistas dessa população.
De maneira sucinta podemos dizer que tal retrocesso pode ser caracterizado pela conclu-
são a que chegaram os congressistas naquela ocasião: ficou decidido que, dali em diante, os sur-
dos deveriam ser ensinados através da língua oral, de terapias que estimulassem o desenvolvi-
mento da fala. A LS, vista naquela época ainda como uma linguagem artificial e desprovida de
gramática, foi considerada como um possível empecilho ao desenvolvimento do surdo, sendo,
portanto, proibida a sua utilização nos espaços escolares. Assim, Lodi (2005, p. 416) nos infor-
ma que, durante quase um século (de 1880, data do congresso de Milão, a 1959, ano em que foi
publicado o primeiro estudo científico sobre as línguas de sinais), o discurso dominante sobre
a surdez centrou-se na tentativa de eliminar as diferenças, de abafar e inferiorizar a surdez, de
proibir a LS e de buscar meios para o desenvolvimento da linguagem oral nos surdos, a partir de
técnicas mecânicas e descontextualizadas de treino articulatório.
Esse quadro, contudo, já vinha dando sinais de fraqueza, tanto frente à resistência surda,
14
Letras/Inglês - Língua Brasileira de Sinais - Libras
que não aceitou a “mordaça” passivamente7, quanto em relação aos baixos resultados obtidos dicas
pelos professores que, inclusive, começaram a fazer uso de outros métodos de comunicação8. 6
De acordo com Souza
Foi quando, em 1957, o lingüista Willian Stokoe da Gallaudet College, em Washington, lançou a (1998, p. 88), esse
hipótese de que a língua utilizada pelos surdos poderia ser uma língua genuína, natural, cons- congresso foi organi-
tituindo-se, portanto, como um instrumento lingüístico propriamente dito (LODI, 2004, p. 282). zado, patrocinado e
conduzido principal-
Assim, ao descrever a Língua de Sinais Americana (American Sign Language - ASL), o grupo
mente por renomados
de linguistas liderado por Stokoe chegou à conclusão de que o sistema de comunicação utili- e ardorosos defensores
zado pelos surdos americanos era realmente “um sistema lingüístico natural e articulado” (QUA- do “oralismo” (princípio
DROS & KARNOPP, 2004). Foi a partir desses estudos que a LS passou a ser vista como “uma es- que busca desenvolver
trutura multiarticulada e multinivelada, com base nos mesmos princípios gerais de organização a fala dos surdos). Eles
haviam se empenhado,
que podem ser encontrados em qualquer língua” (BEHARES, 1993, citado em LODI, 2005). A par-
já antes do congresso,
tir de então, a relação dos surdos com a linguagem começa a deixar de ser vista, definitivamen- em fazer prevalecer
te, como deficitária. o método oral puro
Pode-se dizer que, a partir da década de 1980, a língua de sinais passou finalmente a ser no ensino de surdos
reconhecida, pelo menos pelos pesquisadores da área, como a língua materna e natural da po- e contavam, para
tanto, com o prestígio
pulação surda, reservando-se à língua oral majoritária no país um estatuto de segunda língua.
político e econômi-
Foi a partir dessa primeira conquista que outras puderam ser firmadas. Quando se compre- co de cientistas que
endeu, de maneira definitiva, que os surdos não apresentavam desvantagem lingüística em re- apregoavam o controle
lação aos ouvintes, um novo olhar e um novo discurso sobre a surdez começaram, enfim, a ser e até a proibição da LS
constituídos, fazendo com que o espaço de atuação surda fosse ampliado socialmente. na educação de surdos.
Por fim, decidiu-se, em
Com base no que foi exposto, pode-se concluir que a história dos surdos, sobretudo de sua
uma assembléia geral
educação, é marcada pelo etnocentrismo e pela colonização9 dos surdos pelos ouvintes, com o realizada no congres-
devido apoio da tradição oralista, como afirma Skliar (1999), inspirado em Bhabha (2000). Isso so (da qual os surdos
encobriu, por muito tempo, aspectos lingüísticos (e culturais) próprios à surdez, por serem consi- foram proibidos de
derados “desvios”. Encobriu, sobretudo, a possibilidade de desenvolvimento do povo surdo, que participar), pela adoção
universal do método
tinha o seu espaço de atuação determinado e limitado pelo olhar restritivo que a eles era impu-
oral puro, que consistia
tados. em treinar a fala e a au-
dição, proibindo, para
tanto, o uso das línguas
dicas siológicas. Referimo-nos a casos extremos, ainda recorrentes em cidades pequenas e zonas ru-
8
O principal deles foi rais, em que a criança surda não é previamente exposta a um input lingüístico apropriado (seja
a Comunicação Total, através da língua de sinais, seja através da língua oral, por meio de terapias fonoaudiológicas),
forma pela qual ficou não se encontrando, portanto, imersa em um ambiente social propício à aquisição da lingua-
conhecida a estratégia gem. Com a criança alheia à sinalidade e sem meios para atingir a língua dos pais, a força da
de comunicação com natureza propicia, muitas vezes, a convenção de “sinais caseiros”, de caráter provisório, criados
os surdos, que acabou
se desdobrando em e veiculados no âmbito familiar. Em casos como esses, a aquisição de um sistema lingüístico for-
filosofia educacional, mal costuma ocorrer no início da fase escolar, quando a criança começa a ter contato com outras
a partir da mescla crianças surdas ou com o profissional fonoaudiólogo da escola.
de distintos sistemas O que existe, então, de fato, é uma real diferença (no sistema lingüístico de comunicação,
semióticos, como na aquisição da linguagem e nos modos de socialização) que acaba sendo (ou não) interpretada
desenhos, palavras,
mímicas, sinais da LS, como deficiência. Mas podemos pensar que a linguagem é, ao mesmo tempo, algo tão comum
etc. O objetivo, nesse e tão complexo, que não conseguimos nos livrar dos ditames culturais e contextuais para pensar
caso, seria o de fazer em uma língua de existência quase concreta, que se articula no espaço e se movimenta diante
com que a comunica- dos nossos olhos. Vale a pena, para esta reflexão, evocar o chamado pai da lingüística moderna,
ção se estabelecesse que, citando Whitney, diz:
de maneira eficiente,
sendo o código de vei- É por acaso e por simples razões de comodidade que nos servimos do apare-
culação um problema lho vocal como instrumento da língua; os homens poderiam também ter es-
secundário. colhido os gestos e empregar imagens visuais em lugar de imagens acústicas
(SAUSSURE, 1995, p. 17).
Leitores iniciantes
9
na área da surdez
costumam receber com Isso nos leva a pensar que os caminhos da evolução poderiam ter nos levado a outros meios
alguma estranheza o de comunicação que não necessariamente a oral. Podemos pensar, por exemplo, nos primórdios
argumento da colo- da comunicação humana, quando os desenhos e os gestos fizeram parte da história da evolução
nização dos surdos. dos sistemas de comunicação.
Nesse laço teórico
busca-se enfatizar Não sendo mais a surdez vista como deficiência (ainda que se conserve essa idéia em al-
que os surdos foram guns setores), o ser surdo12 passa a se alicerçar na diferença; diferença sobretudo lingüística, mas
subjugados e domina- calcada em questões culturais, identitárias e políticas.
dos pelos ouvintes, que
se consideravam (ou
consideram) o “padrão
superior de humanida-
de” a ser seguido.
1.4 Perspectivas atuais: culturas e
identidades surdas
10
Tradução das autoras
citadas.
11
O termo ser surdo
tem sido utilizado por
autores surdos, como Atualmente, muitos são os autores, como Gesueli (2006), Moura (2000), Sá (2002), Pinto
Perlin (2003), como (2001), Skliar (1998, 1999) e Perlin (1998, 2003) que apresentam a surdez (muitas vezes, agora,
uma categoria que com /s/ maiúsculo) como lugar de cultura e identidade específicas. A concepção socioantropoló-
visa a substituir a gasta
“surdez”, que estaria gica da surdez na pós-modernidade define os surdos como pertencentes a uma comunidade lin-
em uma esfera clínica, güística minoritária – ainda discriminada – que utiliza e compartilha uma língua visual e apresen-
já estereotipada. ta modos de socialização próprios, assim como costumes e hábitos específicos porque fundados
na/pela surdez. Segundo esses autores, a experiência de vida estritamente visual, não-auditiva,
12
Sobre as relações funda uma forma outra de perceber a vida.
entre língua e cultura,
na língua brasileira de Isso pode ser expresso em esquemas perceptivos e interpretativos diversos “segundo os
sinais, ver RUDNER, A. A quais um grupo produz o discurso de sua relação com o mundo” (PONCHES, 1996 citado por
relação entre polidez e SANTANA & BERGAMO, 2006), relação essa que é perpassada pela escolha de vida entre os seus
cultura surda na língua iguais, pelo uso da língua visual e até mesmo por hábitos lingüísticos que se posicionam na fron-
brasileira de sinais (em teira entre a língua e a cultura12.
desenvolvimento).
Doutorado em Letras. Mas a noção de cultura surda não é unanimemente aceita. Skliar (1998) e Sá (2002) relatam
Universidade Federal o incômodo e a incompreensão de alguns diante dessa noção. Segundo os autores, aqueles que
do Rio de Janeiro, 2010. apresentam argumentos contrários a essa noção costumam se basear principalmente em uma
concepção de cultura universal – noção definitivamente negada pelos Estudos Culturais, princi-
pal embasamento teórico daqueles que tomam os surdos como um grupo culturalmente espe-
cífico.
Autores como Santana & Bergamo (2005), por exemplo, buscam fragilizar o conceito de cul-
tura surda, apresentando questionamentos que se voltam para a discussão acerca da real sobe-
rania da língua nas relações culturais (apenas a língua definiria a cultura?) ou para a cisão social
16
Letras/Inglês - Língua Brasileira de Sinais - Libras
entre surdos e não-surdos que costuma ser subentendida pelo conceito (existiria, assim, uma dicas
cultura ouvinte e outra surda, dividindo a civilização entre surdos e não-surdos?). Alegam ainda 13
Categoria propos-
que tal conceito intenciona reordenar relações de poder, proporcionando poder social – para os ta pela autora em
surdos – e poder acadêmico – para os pesquisadores. sua dissertação de
Para Sá (2002) e Skliar (1998), o que importa nessa querela não é apenas compreender as mestrado. Trata-se de
manifestações culturais específicas do povo surdo, face à cultura hegemônica, mas compreen- formações discursivas
que polemizam entre
der também que a representação dessa cultura no imaginário social a toma como uma cultura si no espaço discursivo
patológica, como uma subcultura, uma vez que a resistência e a diferença não costumam ser in- da surdez. A primeira
terpretadas positivamente. formação discursiva
Pensando no extremo oposto, Chiella (2007) reflete sobre casos em que o tema da cultura pode ser considerada
acaba se tornando aliado na busca pela “verdade surda”. A autora demonstra preocupação dian- como originária do
domínio clínico. Nela,
te o fato de a língua de sinais e a cultura surda estarem sendo banalizadas, desgastadas ou redu- apresentam-se con-
zidas uma à outra, na tentativa, por parte de alguns, de definir a “essência surda”. Atualmente, jecturas e propostas
tem-se falado mais em “marcas surdas”, como o faz a própria Chiella, no intuito de demonstrar baseadas em posturas
marcas culturais que são constituídas nos espaços de vida surda. e terapias capazes de
O tema da cultura, nos Estudos Surdos, quase sempre aparece vinculado à problemática das fazer com que o surdo
“supere”, contorne a
identidades. O termo “identidades surdas” tem ganhado terreno sobretudo no espaço de inter- surdez, como forma de
seção com a lingua(gem), lugar onde ela se constrói por excelência. Para Perlin (1998, p. 52), “a alavancar o seu desen-
identidade é algo em questão, em construção, uma construção móvel que pode freqüentemen- volvimento lingüístico
te ser transformada ou estar em movimento, e que empurra o sujeito em diferentes posições”. e social. Assume-se,
De maneira bastante simplificada e bem genérica, poder-se-ia dizer que “identidade surda” diz assim, um discurso que
pode ser considerado
respeito principalmente ao processo de reconhecimento e de identificação do surdo com os de fundamentação
seus iguais; ao uso da língua de sinais e, para alguns, ao direito de querer ser surdo. Pode ser per- ouvintista. A segunda
cebida, ainda, em algumas de suas facetas, através de práticas sociais específicas, como a resis- formação discursiva
tência frente à presença hegemônica ouvinte ou o percurso de lutas do Movimento Surdo. Nas que, por sua vez, pode
palavras da pesquisadora surda Gladis Perlin: ser considerada como
oriunda do domínio
Se nos consideramos surdos, não significa que temos uma paranóia. Significa lingüístico-antropo-
que estamos sendo o outro com nossa alteridade. Somos o surdo, o povo unâ- lógico, postula que os
nime reunido na auto-presença da língua de sinais, da linguagem que evoca surdos podem viver e
uma diferença de outros povos, da cultura visual, do jeito de ser. Somos alte- se desenvolver na/pela
ridades provadas pela experiência, alteridades outras. Somos surdos! (PERLIN, surdez, sem combatê-
2003b, p.92). -la. Tal FD se ancora em
princípios lingüísticos,
culturais e identitários
Perlin (1999, p. 51), inaugurando as pesquisas sobre “identidades surdas” no Brasil, ressalta que especificam os po-
que, em diversos momentos, precisou contestar teorias sobre os surdos, cunhadas por sujeitos vos surdos, ostentando
um discurso que pode
ouvintes, pelo simples fato de ela focalizar o seu universo (surdo) a partir de uma ótica interna. ser considerado de fun-
Para apresentar a concepção de sujeito surdo que alicerça suas pesquisas, diz ter sido necessário, damentação surda.
inicialmente, lutar para se desprender das crenças que lhe ensinaram a assumir a respeito do ser
surdo, particularmente as crenças propagadas pelo campo da medicina e da audiologia que, de
14
A autora tornou-se
maneira geral, tendem a ver a surdez como uma anomalia. A visão “normalizadora” sobre os sur- surda aos treze anos.
dos, segundo ela, não pode jamais fomentar discussões acerca da problemática da diferença, do 15
Pontuamos que as
sujeito e do poder. Aliás, revelam, sim, o “poder administrativo” do ouvinte sobre o surdo. tipologias de identi-
Segundo Skliar (1999), a forma mais presente desse poder se dá através do ouvintismo como dades acima, apre-
ideologia dominante. O ouvintismo é um reflexo das representações estereotipadas dos ouvin- sentadas por Perlin
tes sobre os surdos e a surdez. Pode ser visto como um dispositivo de controle disciplinar da so- (1998), costumam ser
problematizadas. Vale
ciedade, como “um conjunto de representações dos ouvintes, a partir do qual o surdo está obri- ressaltar que identida-
gado a olhar-se e a narrar-se como se fosse ouvinte.” (SKLIAR, 1998, p. 15). As representações dos des são complexas, he-
ouvintes sobre a surdez, de forma geral, refletem um posicionamento histórico que a enquadra terogêneas e estão em
no campo da doença. No caso dos surdos ouvintizados, estes passam a aceitar a estereotipia for- constante movimento,
jada para eles no senso comum. Essa ótica pode tornar-se, assim, avassaladora e destituidora de como nos revela Neves
(2006).
identidades.
Para Perlin (1999), o ouvintismo deriva de uma proximidade particular que se dá entre sur-
dos e ouvintes, na qual o ouvinte está sempre em uma situação de superioridade. A ideologia
ouvintista é tão forte, segundo ela, que muitas vezes não permite ao surdo desenvolver uma
identidade própria ou, no mínimo, uma consciência oposicional. É como se o surdo estivesse
condenado a se considerar eternamente uma cópia imperfeita dos seres que ouvem.
Skliar (1999) chama a atenção para o fato de que o ouvintismo – ou o oralismo, sua forma
institucionalizada – não deve ser compreendido somente como um conjunto de idéias e práticas
simplesmente destinadas a fazer com que os surdos falem e sejam como os ouvintes. Os pres-
17
UAB/Unimontes - 7º Período
dicas supostos que fundamentam e originam essas idéias precisam ser compreendidos como a base
16
Cabe ressaltar que epistemológica que autoriza tais práticas. Para o autor, tais pressupostos podem ser: a) lingüísti-
surdos não são mudos. co-filosóficos, quando tomam o oral como abstração e a gestualidade como concretude e obscu-
Primeiramente, porque ridade de pensamento; b) religiosos, quando se prioriza a confissão através da palavra vocalizada;
os surdos falam, não c) pseudocientíficos, quando se afirma que a audição é imprescindível para o desenvolvimento
a língua oral-auditiva,
humano; d) políticos, demonstrados pela tentativa de controlar, ter sob domínio as minorias lin-
mas a sua, visual-espa-
cial. Segundo, porque güísticas ou sociais.
não existe na surdez Voltando aos estudos sobre as identidades surdas, Perlin (1999) identifica, entre múltiplas
qualquer característica categorias possíveis, cinco diferentes facetas de identidades que podem ser facilmente observa-
fisiológica que impeça das nos sujeitos surdos. Em termos discursivos, poder-se-ia dizer que a construção das identida-
a expressão oral.
des surdas irá depender da relação que esses sujeitos mantêm com o discurso de fundamentação
ouvintista13, por um lado, e com o discurso de fundamentação surda, por outro.
Na surdez, tais identidades parecem constituir-se nos espaços fronteiriços entre as culturas,
para saber mais as línguas e as comunidades surdas e ouvintes, podendo, segundo Perlin (1999), ser classificadas
como: 1) identidade surda em si: aquela que se sobressai pela militância e consciência de definir-
Durante um período da
história dos surdos as -se politicamente diferente. É facilmente verificada em surdos filhos de pais surdos; 2) identidade
línguas de sinais foram surda híbrida: costuma ser atribuída a surdos que nasceram ouvintes e que, com o tempo, torna-
proibidas por médicos ram-se surdos. Apesar de a autora referir-se apenas a casos que, como o dela14, foram em direção
e por educadores de à formulação de uma identidade surda, é preciso ressaltar que o oposto também pode ocorrer,
surdos. Quais eram os ou seja, existem aqueles que se voltam para a construção de identidades refletidas nos ouvintes;
argumentos apresen-
tados pelos profissio- 3) identidade surda de transição: manifesta-se em surdos que viveram sob o domínio da cultu-
nais da época para tal ra ouvinte, em geral, os surdos oralizados, mas que posteriormente foram inseridos na comu-
proibição? Será que nidade surda, passando pelo processo de “desouvintização” da representação da identidade; 4)
hoje tais profissionais identidade surda incompleta: verificada em indivíduos que vivem sob a dominação latente da ide-
ainda pensam assim? O ologia ouvintista, negando as possibilidades de identidades surdas e considerando os ouvintes
que você acha?
como o padrão a ser seguido; 5) identidade surda flutuante: apresenta-se onde os surdos vivem e
se expressam a partir da hegemonia ouvinte (de forma consciente ou não), não demonstrando,
no entanto, satisfação ou integração a nenhum dos seguimentos, nem o surdo, nem o ouvinte.15
Como podemos perceber, um “novo” discurso sobre a surdez começa a ser produzido pela
para saber mais academia e pelos próprios sujeitos. Apesar de ainda corrente e bem aceita em alguns seguimen-
Qual é a forma mais tos socias, a concepção de surdez que deriva da abordagem clínico-terapêutica tem perdido es-
apropriada para se paço, uma vez que a abordagem linguístico-antropológica tem mostrado melhores resultados
referir às pessoas que socioeducacionais, psicocognitivos e afetivo aos seus adeptos. O quadro abaixo sintetiza como
não ouvem? Surdos,
surdo-mudos ou as diferentes abordagens tratam os principais temas envolvidos :
Deficientes auditivos?
Será que a forma da
nomeação faz alguma Abordagem Clínico- Abordagem Lingüístico-
Temas
diferença para aqueles terapêutica antropológica
que não ouvem ou
Surdez Deficiência: tratamento e reabi- Minoria linguística: identitária e
para a sociedade?
litação cultural
18
Letras/Inglês - Língua Brasileira de Sinais - Libras
Referências
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19
UAB/Unimontes - 7º Período
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STROBEL, Karin Lilian. Surdos: vestígios culturais não registrados na história. 2009. 176 f.
(Tese - doutorado em Educação). Faculdade de Educação, Universidade Federal de Santa Catari-
na, Santa Catarina, 2007.
Quanta novidade, não é mesmo? Então agora reflita: antes da leitura do artigo, você sabia
que línguas poderiam ser produzidas e recebidas tanto pelas mãos e pela visão quanto pela fala
e pelos ouvidos? Por que os surdos se consideram historicamente dominados pelos ouvintes? O
que você acha dessa visão moderna sobre os surdos? Em que medida a visão cultural e identitá-
ria sobre os surdos e a surdez pode alterar a nossa prática pedagógica na sala de aula? Discuta
essas e outras questões com os seus colegas em fóruns de discussão no ambiente virtual.
O artigo acima, assim como outras partes do seu caderno didático, trouxe (ou trará) concei-
tos próprios a área dos estudos da linguagem que, possivelmente, ainda não são conhecidos por
você. Nas últimas páginas do seu caderno você encontrará um glossário que poderá auxiliá-lo
na compreensão desses conceitos. Recorra a ele sempre que julgar necessário. E quando ele não
for suficiente para redimir suas dúvidas, faça uma pesquisa on-line sobre o termo consultado.
Se, junto ao termo, você escrever a palavra surdos ou libras, provavelmente a sua pesquisa será
otimizada.
20
Letras/Inglês - Língua Brasileira de Sinais - Libras
Unidade 2
Educação de Surdos
Rejane Cristina de Carvalho Brito
Nesta unidade, estudaremos sobre a legislação que rege a inclusão educacional, a diferença
entre escola especial e escola inclusiva, sobre o intérprete educacional e, ainda, sobre o ensino
de línguas para surdos. Você já leu sobre a inclusão de alunos surdos no ensino regular? Qual é
a sua opinião a esse respeito? Em sua vida como acadêmico, você já esteve em uma sala de aula
inclusiva? Caso tenha participado ou estado em uma escola inclusiva, partilhe sua experiência e
impressões com seus colegas. Isso poderá ilustrar a conversa que teremos a partir de agora. Co-
meçaremos pela legislação que contempla a educação inclusiva e alguns documentos nacionais
e internacionais.
2.1 A legislação
A Organização Educacional, Cientifica e Cultural das Nações Unidas – Unesco encontrou em
uma pesquisa sobre a educação em todo o mundo as justificativas necessárias para a busca por
uma inclusão educacional competente em todos os países membros (o que inclui o Brasil). Se-
gundo o texto da Unesco (2001), três problemas foram considerados os mais graves e, portanto,
demandavam ações urgentes:
Tais problemas geraram uma reflexão e a tentativa de unir esforços para a inclusão educa-
cional. Os países membros assumiram um compromisso de manter um esforço mundial para que
o direito à educação fosse garantido a todos sem restrições por sexo, cor, credo, deficiência, nível
social, etc. Surgiu assim a Declaração Mundial de Educação para Todos (Declaração de Jomtien)
na Conferência Mundial para todos em Jomtien na Tailândia em 1990.
A Educação Inclusiva passou a ser ampliada em documentos oficiais em todos os países e
justificada por três fatores conforme o esquema a seguir.
Justificativas
Econômica:
Educacional: Social: Uma escola que
Desenvolvimento de Mudança de atitude eduque a todos tem
metodologias que favorecendo o
custo menor que um
trabalhem as surgimento de uma
diferenças individuais sociedade mais justa e complexo sistema que Figura 1: Justificativa
e beneficiem a todos. sem preconceitos. privilegie as
Fonte: Arquivo dos
21
diferenças. ◄ autores
UAB/Unimontes - 7º Período
22
Letras/Inglês - Língua Brasileira de Sinais - Libras
Há lgum tempo atrás, as pessoas com necessidades especiais eram separadas das ditas nor-
mais e tinham como destino a escola especial. Entende-se por escola especial aquela que ado-
ta um modelo médico-pedagógico ao invés do modelo educacional (VIZIM, 2003). O modelo
se apóia na concepção de uma necessidade de cuidados médicos que acompanha a história da
educação. Baseia-se em um ideal médico-terapêutico visando à reabilitação das funções “preju-
dicadas” pela deficiência. Apesar desse modelo ainda ser visto e praticado em várias instituições
brasileiras, hoje a escola especial é considerada um modelo antigo de educação e que contribui
para a manutenção de mitos sobre a pessoa deficiente nos dias atuais.
A escola inclusiva questiona o modelo médico-pedagógico e privilegia o modelo educacio-
nal. Segundo a teoria, a inclusão escolar deve ser “a inserção
escolar de forma radical, completa e sistemática. Todos os ◄ Figura 3: Educação
inclusiva
alunos, sem exceção, devem freqüentar as salas de aula do
Fonte: www.planetae-
ensino regular” (MANTOAN, 2003, p. 24). Segundo o autor, ducacao.com.br/portal/
a perspectiva inclusiva abandona a divisão “ensino especial artigo.asp?artigo=1136.
e ensino regular” na intenção de atender às diferenças sem acesso em julho 2010
discriminação. Porém, a inclusão ainda está a caminho da-
quilo que pretende ser em sua completude. Alguns passos
importantes já foram dados, mas ainda é necessário mover
a universidade em um esforço efetivo e conjunto (universi-
dade, comunidade, políticas públicas, etc) para que outros
passos mais largos e mais firmes aconteçam.
Qual é o papel da universidade na Educação Inclusiva?
O que você pensa sobre escola especial e escola inclusiva? Converse com seus colegas e profes-
sores sobre o assunto!
Agora, falaremos com o foco voltado para o aluno surdo. Vamos abordar a sala de aula no
contexto da inclusão de alunos surdos, sobre o ensino de português como segunda língua e fala-
remos mais uma vez sobre o intérprete educacional.
▲
Figura 4: Organização espacial
Fonte: http://www.peabirus.com.br/redes/orm/post?topico_
id=7858 . acesso em julho 2010
23
UAB/Unimontes - 7º Período
Iniciando pela organização espacial, as Secretarias de Educação de vários estados como Mi-
nas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo recomendam que cada sala de aula inclusiva tenha no má-
ximo 25 alunos. No caso da inclusão dos alunos surdos temos mais algumas formas de planejar
espacialmente a sala de aula para benefício de alunos surdos e ouvintes. Vejamos algumas for-
mas de organização espacial:
Apesar de parecer algo simples, essas dicas nem sempre são seguidas nas escolas e, por
isso, os alunos surdos ficam prejudicados. Pensar a organização espacial e estrutural da sala de
aula e da escola já é uma forma de fazer funcionar a metodologia e o planejamento curricular em
benefício de todos!
24
Letras/Inglês - Língua Brasileira de Sinais - Libras
A língua portuguesa por ser a língua nacional é demandada como a segunda língua do sur-
do brasileiro, podendo ser ainda consideirada como uma língua estrangeira para este aluno. A
educação bilíngue prevê o ensino da língua portuguesa (alfabetização e letramento) para dar ao
surdo a oportunidade de acesso a várias vias do conhecimento. Porém, muitas vezes, o fato de
o português ser uma língua estranha para o surdo fica esquecido e o aluno pode ficar prejudi-
cado em seu percurso educacional. Para relembrar, a Libras é uma língua de modalidade visual-
-espacial e sua estrutura não se subordina à língua portuguesa, que é uma língua de modalidade
oral-auditiva. Uma das dificuldades encontradas pelos surdos na escola está na aprendizagem
da modalidade escrita do português. A escola inclusiva ensina português como língua materna e
esta abordagem não é adequada aos alunos surdos, que deveriam apreendê-la a partir de meto-
dologias de ensino de língua estrangeira. Não há um correspondente a esse processo na língua
de sinais e, muitas vezes, as variações que ocorrem na escrita do surdo não recebem crédito por atividade
parte dos professores por não corresponderem à norma culta do português (QUADROS, 2003). Veja o vídeo Imagine no
Outra dificuldade está em alguns professores não reconhecerem a língua de sinais como forma youtube (http://www.
legítima de comunicação dos surdos e reduzirem as idéias e pensamentos expressos por esses youtube.com/watch?v
alunos a comentários sem valor. Os surdos ficam então presos ao ato de escrever por não verem =JNl91QXws7o&featu
re=related). Diante do
o expressar em sua língua natural legitimado em boa parte do meio educacional. que foi estudado, qual
Tendo em vista as dificuldades apontadas, o professor de língua portuguesa e demais pro- é a sua opinião sobre
fessores, que usam a modalidade escrita em sua disciplina como forma de avaliação, devem estar o ensino de línguas es-
preparados para a compreensão da variação que ocorre na escrita do português pelo aluno sur- trangeiras para alunos
do. Além disso, o professor deve aceitar como legítima a forma de expressão em Libras. surdos?
Tendo visto sobre a legislação, a diferença entre escola inclusiva e escola especial, sobre a
sala de aula para surdos, o intérprete e a aprendizagem de línguas, agora você tem temas sufi-
cientes para dialogar com seus colegas e trocar idéias sobre a opinião de cada uma a respeito do
que foi estudado. Aproveite para partilhar as pesquisas que você fez no tempo em que se dedi-
cou a estudar este capítulo!
25
UAB/Unimontes - 7º Período
Referências
BRASIL. Decreto-lei n. 5.626 de 22 de dezembro de 2005. Diário Oficial [da] República Federa-
tiva do Brasil, Brasília, 23 dez. 2005. Seção 1, p. 30.
BRASIL. Lei 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) e dá
outras providências. Disponível em: www.mec.gov.br/seesp/legislacao.shtm Acesso em: 10 ago.
2010
KARAGIANNIS, A., STAINBACK, S.; STAINBACK, W. Inclusão: um guia para educadores. Porto Ale-
gre: Artmed: 1999.
MANTOAN, M. T. E. Inclusão escolar: o que é? Por quê? Como fazer? São Paulo: Moderna, 2003.
UNESCO. Arquivo Aberto sobre a Educação Inclusiva. Paris, 2001. Disponível em: <www.inclu-
sion.uwe.ac.uk>. Acesso em: 15 jan. 2009.
VIZIM, M. Educação Inclusiva: o avesso e o direito de uma mesma realidade. In: SILVA, S.; VIZIM, M.
(Org.). Políticas Públicas: educação tecnologias e pessoas com deficiências. Campinas: Mercado
de Letras; ALB, 2003. p. 49-72.
26
Letras/Inglês - Língua Brasileira de Sinais - Libras
Unidade 3
Estudos Linguísticos
Maria Clara Maciel de Araújo Ribeiro
27
UAB/Unimontes - 7º Período
Diante do exposto, pense rápido: para você, a Libras é uma língua ou uma linguagem? Claro:
é uma LÍNGUA. Discuta essa questão com o seu professor.
28
Letras/Inglês - Língua Brasileira de Sinais - Libras
Para tornar-se hábil no uso do alfabeto, propomos a você a seguinte atividade: soletre o
seu nome e o nome dos seus familiares. Depois, soletre o nome de três amigos e do seu país,
estado, cidade e bairro. Por fim, pegue um livro e o abra em uma página qualquer. Digite a
primeira e a última palavra da página. Repita esta operação três vezes...e pronto! Certamente
agora você já está começando a se familiarizar com o alfabeto digital da Libras, não é? Então
leia o recadinho que deixamos aqui para você:
29
UAB/Unimontes - 7º Período
30
Letras/Inglês - Língua Brasileira de Sinais - Libras
▲
N-U-N (NUNCA) Figura 7: Empréstimo
Linguístico
Fonte: Arquivo dos
autores
▲ dicas
Figura 8: Empréstimo
Linguístico
A-L (AZUL). Será então que toda
Fonte: Arquivo dos
palavra que soletra-
autores mos na Libras torna-
-se um empréstimo
linguístico? O que você
Nos sinais acima, o movimento derivado da soletração ganha um rítmo específico, uma vez acha? Quando um sinal
que a soletração torna-se um sinal. Em AZUL, por exemplo, a letra L, realizada logo após a letra A, soletrado se torna um
parece “pular” da mão do sinalizador. empréstimo linguísti-
co? Vamos discutir no
fórum?
31
UAB/Unimontes - 7º Período
Figura 9: Variação ►
Fonte: Arquivo dos
autores
Apesar das variações, acadêmico, a Libras constitui, sim, uma unidade linguística. Não pense
que os falantes da Libras de diferentes locais não conseguem se entender! Resguardadas as de-
vidas proporções, as variações na Libras são semelhantes às variações do português pelo Brasil
afora. Quando estamos no nordeste e ouvimos a palavra “macaxeira” sabemos (ou passamos a
saber) que se trata da nossa tradicional “mandioca”, não é mesmo?
32
Letras/Inglês - Língua Brasileira de Sinais - Libras
dicas
São cinco os parâme-
tros fonológicos da
Libras: configuração de
mão, locação, movi-
mento, expressão facial
e direção da palma da
mão. Neste caderno,
trabalharemos apenas
com os três primeiros.
Para aprender mais
sobre a gramática
da Libras, leia o livro
das Profas. Ronice M.
Quadros e Lodenir B.
Karnopp: Língua Brasi-
leira de Sinais, estudos
linguísticos.
33
UAB/Unimontes - 7º Período
• Locação (L): lugar no corpo ou em frente a ele em que o sinal é produzido: um sinal pode
ser produzido no braço (BANHEIRO), na testa, (APRENDER) ou no chamado espaço neutro,
(TRABALHAR), entre outros locais (veja esses sinais no dicionário do INES). Por espaço neutro
entende-se o espaço em frente ao corpo (tronco) do sinalizador. O sinal é realizado no es-
paço, sem apoio em nenhuma parte do corpo. Quadros e Karnopp (2003, p. 57) apresentam
os seguintes locações possíveis na LSB: cabeça (10 locações), tronco (10); mão ( 11) e espaço
neutro.
• Movimento (M): forma(s) ou trajetória(s) dos movimento(s) das mão(s). De acordo com Qua-
dros e Karnopp (2003, p. 54), “para que haja movimento, é preciso haver objeto e espaço”.
Nas línguas de sinais, a(s) mão(s) do sinalizador “representam o objeto, enquanto o espaço
em que o movimento se realiza é a área em torno do corpo do enunciador”. As autoras apre-
sentam 04 categorias de movimento: tipo, direcionalidade, maneira e frequência. As varia-
ções do movimento, nas línguas sinalizadas, podem ser extremamente significativas. Nos
exemplos a seguir (oriundos da Língua Americana de Sinais) veremos que alterações no mo-
vimento produzem alterações no significado:
◄ Figura 14:
Alterações no
movimento
Fonte: Quardros;
Karnopp (2003,
p. 55)
Agora que você já conhece os parâmetros que compõem um sinal, observe a especificação
de cada um deles no sinal BEBER a seguir:
34
Letras/Inglês - Língua Brasileira de Sinais - Libras
atividade
Vá ao dicionário digital
de Libras e pesquise os
seguintes sinais: HOJE
e BANHEIRO. Agora
tente descriminar: qual
é a CM de cada um
_________________
Qual é o L
No sinal BEBER a mão está configurada em C (CM 51a da tabela de Felipe e Monteiro, 2007)
e se localiza na região em frente à parte inferior do rosto (indicada por um círculo). O movimento ________________
E qual
é curvo, contínuo e para dentro, em direção à boca, conforme indica a seta. Portanto, teremos:
Configuração de mão: letra C (ou 51a, conforme tabela); éoM
Locação:em frente à boca; _________________.
Movimento: semicírculo para cima e para dentro, em direção à boca. Para
precisar a configura-
Ao aprender um sinal, fique atento à sua composição. Tais parâmetros são distintivos e po- ção de mão (CM) basta
dem produzir pares mínimos. O que isso significa? Significa que se alterarmos apenas um dos consultar a tabela do
três parâmetros, mantendo os outros dois intactos, podemos produzir um outro sinal, com signi- item 3.6 e mencionar o
ficado distinto. Observe: número indicado, ok?
35
UAB/Unimontes - 7º Período
36
Letras/Inglês - Língua Brasileira de Sinais - Libras
Referências
FELIPE; MONTEIRO, T. A; MONTEIRO; M. S. Libras em contexto: curso básico, livro do professor/ins-
trutor. Brasília: Programa Nacional de Apoio à Educação dos Surdos, MEC: SEESP, 2001.
GESSER, A. Libras? Que língua é essa? Crenças e preconceitos em torno da língua de sinais e da
realidade surda. São Paulo: Parábola, 2009.
QUADROS, R. M. & KARNOPP, L. B. Língua de sinais brasileira: estudos lingüísticos. Porto Ale-
gre: Artmed, 2004.
Site:http://hendrix.sj.cefetsc.edu.br/~nepes/videos/apostilas/apostia_libras_basico.pdf. Acesso:
outubro de 2010.
37
Letras/Inglês - Língua Brasileira de Sinais - Libras
Unidade 4
Estudos Práticos
Maria Clara Maciel de Araújo Ribeiro
Charley Pereira Soares
Vamos começar a movimentar nossas mãos, faces e mentes? Você já adquiriu importantes
conhecimentos linguísticos sobre a Libras e agora daremos continuidade a este processo através
do estudo prático dessa língua.
Para obter sucesso na aprendizagem da Libras, acadêmico, fique atento às dicas a seguir:
• Reproduza todos os sinais e expressões faciais que você vir no seu caderno didático e no seu
DVD;
• Ao sinalizar, procure não falar;
• Ensine a um amigo ou familiar os sinais que estiver aprendendo, assim você terá com quem
sinalizar;
• Para ampará-lo na prática da Libras, produzimos um DVD com todos os sinais e diálogos
que aparecem no seu caderno didático. Sempre que vir esta imagem recorra ao seu
DVD para assistir à realização dos sinais no contexto de uso. A númeração dos vídeos no
DVD coincide com a numeração das seções desta unidade.
Nesta unidade, para registrar a Libras, usaremos de três recursos: a) fotografias dos sinais,
para você visualizar, de imediato, no seu caderno didático, os sinais abordados; b) vídeos realiza-
dos com surdos e ouvintes fluentes em Libras, que mostrarão a você a maneira exata de se rea-
lizar cada sinal; c) “sistema de notação em palavras”, que é uma forma de se registrar os sinais da
Libras através das palavras da língua portuguesa, seguindo, para tanto, algumas conveções. Para
o uso desse sistema de transcrição, seguiremos as convenções apresentadas por Felipe (1997), a
saber:
1. Os sinais da LIBRAS, para efeito de simplificação, serão representados por itens
[...] da Língua Portuguesa (LP) em letras maiúsculas. Exemplos: CASA, ESTUDAR, CRIAN-
ÇA, etc;
2. Um sinal, que é traduzido por duas ou mais palavras em língua portuguesa, será
representado pelas palavras correspondentes separadas por hífen. Exemplos: CORTAR-
-COM-FACA, QUERER-NÃO “não querer”, MEIO-DIA, AINDA-NÃO, etc;
3. Um sinal composto, formado por dois ou mais sinais (...), mas com a idéia de uma
única coisa, serão separados pelo símbolo ^ . Exemplos: CAVALO^LISTRA “zebra”;
4. A datilologia (alfabeto manual), que é usada para expressar nome de pessoas, de
localidades e outras palavras que não possuem um sinal, está representada pela pala-
vra separada, letra por letra, por hífen. Exemplos:
J-O-Ã-O, A-N-E-S-T-E-S-I-A;
5. O sinal soletrado, ou seja, uma palavra da língua portuguesa que, por emprésti-
mo, passou a pertencer à LIBRAS por ser expressa pelo alfabeto manual com uma incor-
poração de movimento próprio desta língua, está sendo representado pela datilologia
do sinal em itálico. Exemplos: R-S “reais”, A-C-H-O, QUM “quem”, N-U-N-C-A, etc;
6. Na Libras não há desinências para gêneros (masculino e feminino) e núme-
ro (plural); o sinal, representado por palavra da língua portuguesa que possui estas
marcas, está terminado com o símbolo @ para reforçar a idéia de ausência e não ha-
ver confusão. Exemplos: AMIG@ “amiga(s) e amigo(s)” , FRI@ “fria(s) e frio(s)”, MUIT@
“muita(s) e muito(s)”, TOD@, “toda(s) e todo(s)”, EL@ “ela(s), ele(s)”, ME@ “minha(s) e
meu(s)”, etc.
▲
Fonte: FELIPE; T. A. Introdução à Gramática da LIBRAS. In: Brasil, Secretaria de Educação Especial. (Org.). Educação Espe-
cial - Língua Brasileira de Sinais. Volume III - Série
Atualidades Pedagógicas 4. 1ª ed. Brasília: MEC/SEESP, 1997, v. III, p. 81-123.
39
UAB/Unimontes - 7º Período
Você percebeu que na unidade III nos utilizamos de algumas dessas convenções? Viu como
foi fácil compreendê-las?
40
Letras/Inglês - Língua Brasileira de Sinais - Libras
4.2 Cumprimentos
Vamos aprender a cumprimentar as pessoas em Libras? Os cumprimentos iniciais mais utili-
zados são OI ou aceno de mão, conforme imagens a seguir:
Para ser cortez, utilize também o cumprimento referente ao turno do dia: bom dia, boa tar-
de ou boa noite, conforme as imagens a seguir:
41
UAB/Unimontes - 7º Período
Atividade
Imagine-se diante de
um surdo. Cumprimen-
te-o e diga o seu nome.
Como você perguntaria
a ele o nome dele?
Que sinal faria nessa
situação?
Figura 23:
Cumprimentos.
Fonte: hendrix.sj.cefetsc.
edu.br/~nepes/videos/
apostilas/apostia_libras_
basico.pdf. Acesso 08/10 ►
Conversando em Libras
Diálogo 1
42 B – TCHAU.
Letras/Inglês - Língua Brasileira de Sinais - Libras
◄Figura 24:
Pronomes
interrogativos.
Fonte: hendrix.
sj.cefetsc.edu.
br/~nepes/videos/
apostilas/apostia_li-
bras_basico.pdf.
acesso 08/10
COMO? O QUE? QUEM? ONDE?
dicas
(expressões faciais)
no, portanto, quando
precisar indicar gênero,
faça o sinal HOMEM ou
MULHER após o referen-
te. Pesquise estes sinais
Expressão facial é sinônimo de vida e expressividade nas línguas de sinais. Elas não são no dicionário do INES.
adornos opcionais, mas itens gramaticais obrigatórios! Expressões faciais (ou expressões não-
-manuais) são movimentos específicos produzidos pelo tronco, pela cabeça ou pelos músculos
da face (região dos olhos, da boca ou das bochechas). De acordo com Quadros e Karnopp (2003,
p. 60), expressões não-manuais se prestam a duas diferentes funções na Libras:
As expressões acima não são os sinais em si mesmos, mas devem acompanhar os sinais que
correspondem a cada uma dessas situações. Para ver estes sinais e as expressões que devem
conter cada um deles, acesse o seu DVD .
As expressões podem ainda ser contextuais de modo a determinar, assim, circunstâncias es-
pecíficas. É o caso, por exemplo, da distinção entre um choro de tristeza e de um choro de raiva.
O sinal CHORAR será o mesmo, mas a expressão facial será distinta e produzida em concomitân-
cia com o sinal, como é o caso das expressões contextuais a seguir:
As expressões podem ainda definir o grau de intensidade de um adjetivo, por exemplo. Ve-
remos que as diferenças entre os sinais BONITINHO, BONITO e BONITÃO se relacionam princi-
palmente à mudança de expressão, além da amplitude do movimento do sinal, indiado pela seta
branca, observe:
44
Letras/Inglês - Língua Brasileira de Sinais - Libras
No segundo caso, quando as expressões cumprem funções gramaticais, tais funções estão
relacionadas ao tipo de frase que se quer produzir, uma vez que as expressõs faciais definirão se
ela é afirmativa, exclamativa ou interrogativa. Este é, justamente, o tema do próximo tópico.
Figura 30:
Expressão, forma
afirmativa
Fonte: Arquivo dos
◄ autores.
EXPRESSÃO NEUTRA EXPRESSÃO DE CONSENTIMENTO
45
UAB/Unimontes - 7º Período
CHARLEY
PROFESSOR LIBRAS
4.6.2 Na forma interrogativa a testa e as sobrancelhas se franzem ou levantam e a cabeça é
levemente inclinada para cima.
Figura 32:
Expressões, forma
interrogativa
Fonte: Arquivo dos
◄ autores.
QUEM? O QUÊ? COMO? ONDE? QUANDO? QUAL?
VOCÊ APRENDER
4.6.3 Na forma negativa, de acordo com Felipe (1997), é possível verificar pelo menos três
distintos processos:
47
UAB/Unimontes - 7º Período
SUA CASA
48
Letras/Inglês - Língua Brasileira de Sinais - Libras
Conversando em Libras
Diálogo 2
Para aprender a realizar expressões faciais você terá que, primeramente, deixar a vergonha
de lado! Sinta os músculos da sua face e perceba que eles podem ser flexionados. Agora vá para
a frente do espelho e tente manifestar, através da face, as seguintes emoções: alegria, raiva, tris-
teza, tédio, vergonha, medo e desconfiança. Marque um encontro virtual com um colega, via we-
bcan, e veja se ele descobre as expressões que você irá fazer. Deixamos, a seguir, algumas expres-
sões faciais para você descobrir quais são. Escreva no quadro ao lado o que elas significam ou
que tipo de frase veiculam. Aproveite e tente imitá-las na frente do espelho!
▲
Figura 38: Expressões faciais
Fonte: Arquivo dos autores.
▲
Figura 39: Expressões faciais
Fonte: Arquivo dos autores.
49
UAB/Unimontes - 7º Período
▲
Figura 40: Expressões faciais
Fonte: Arquivo dos autores.
▲
Figura 41: Expressões faciais
Fonte: Arquivo dos autores.
▲
Figura 42: Expressões faciais
Fonte: Arquivo dos autores.
50
Letras/Inglês - Língua Brasileira de Sinais - Libras
Usamos números cardinais para informar idade, número de telefone, número de conta ban-
cária, de documentos pessoais, número de páginas, etc.
Exemplo: quantidade de alunos, de provas, de professores, etc. Note que a diferença entre
a representação geral de números cardinais e a representação específica (para quantidade) está,
precisamente, nos quatro primeiros algarismos ( de 1 a 4). A representação dos próximos seis al-
garismos (de 5 a 9 e 0) se mantém inalterada.
A configuração de mão é a mesma dos números cardinais A, com uma única diferença:
acrescenta-se, a cada número, um movimento trêmulo e breve.
Para representar valores monetário (dinheiro) utiliza-se a configuração de mão dos números
cardinais B (para quantidades).
Para representar os valores de um até nove reais, usa-se o sinal do numeral correspondente
ao valor, incorporando a este o sinal VÍRGULA. Assim o numeral para valor monetário terá pe-
quenos movimentos rotativos. Pode ser usado também para estes valores (um a nove) os sinais
dos numerais correspondentes seguido do sinais soletrados R-L “real” ou um R trêmulo (reais).
Acima desses valores, o movimento terá a sua amplitude aumentada, tornando-se maior e
mais acentuado à medida em que os valores aumentarem (dezena > centena > milhar > milhão).
Verifica-se ainda, conforme Felipe (1997), uma possível gradação na expressão facial.
QUANTO-CUSTA
CARO
BARATO
PASSADO
52
Letras/Inglês - Língua Brasileira de Sinais - Libras
dicas
Quer aprender a
sinalizar alimentos
em Libras? Então
acesse o site http://
www.youtube.com/
watch?v=g0zfPc2fTDI e
assista a uma divertida
aula! Bons estudos!
Figura 49 : SINAL DE
FUTURO
Fonte: Arquivo dos
autores. ►
Acesse o seu DVD e veja a realização das frases a seguir em Libras. As traduções para o
português estão ao lado.
• PASSADO EU NÃO-SABER LIBRAS (Eu não sabia libras).
• EU FUTURO LIBRAS PRESENTE (Eu estou aprendendo Libras).
• FUTURO EU LIBRAS TRANSFORMAR (Futuramente, serei ótimo em Libras):
• AMANHÃ PROVA MATEMÁTICA (Amanhã tem prova de matemática).
• ONTEM PROVA HISTÓRIA (ontem teve prova de história).
• AMANHÃ DEPOIS PROVA BIOLOGIA (depois de amanhã terá prova de biologia)
O quadro a seguir ilustra os sinais dos dias da semana em Libras. De segunda a quinta-feira,
a locação continua a mesma e a configuração de mão vai se alterar conforme o dia da sema-
na: segunda-feira (dois dedos), terça-feira (três dedos) e quarta-feira (quatro dedos). Quinta-feira:
não se altera a locação, mas a configuração de mão é o número 5 (cardinal). Sexta-feira: sinal icô-
nico (peixe). Sábado: mesmo sinal de laranja. Domingo: CM: mão configurada em D. L: de frente à
boca. M: círculo de frente à face. Observe as imagens ilustrativas:
53
UAB/Unimontes - 7º Período
Sinalizar os meses do ano em Libras e fácil, acadêmico! Basta realizar o sinal MÊS (veja no
dicionário digital) mais a especificação adequada: JANEIRO, FEVEREIRO, MARÇO, etc. A tabela a
seguir ilustra apenas os doze meses do ano, sem o sinal MÊS que deve precedê-los. Mas não se
preocupe! Acesse o seu DVD para ter uma visão completa da sinalização.
54
Letras/Inglês - Língua Brasileira de Sinais - Libras
atividade
De posse do vocabu-
lário que você está
adquirindo em Libras,
tente elaborar uma
frase interrogativa
no passado e outra
exclamativa no pre-
sente. Atente-se para a
expressão facial, ok?
4.8.3 Horas
Como expressamos as horas em Libras? Seguindo o modelo imagético da sequência dos nú-
meros no relógio digital: primeiro os números referentes às horas, depois os números referentes
aos minutos (sem sinalizar os dois pontos). Fácil, não é? Acesse o seu DVD para uma melhor visu-
alização. A gramática da Libras apresentas algumas regrinhas específicas para a produção de
horas. Veja abaixo:
55
UAB/Unimontes - 7º Período
56
Letras/Inglês - Língua Brasileira de Sinais - Libras
2 – QUANTAS-HORAS?
• VIAJAR SÃO-PAULO QUANTAS-HORAS?
• TRABALHAR ESCOLA QUANTAS-HORAS?
• VOCÊ ESTUDAR LIBRAS QUANTAS-HORAS DIA?
Conversando em Libras
Diálogo 3
A – BOA NOITE
B – BOA NOITE
A – EU QUERER INSCRIÇÃO CURSO.
B – ESCOLHER JÁ?
A – JÁ, ESCOLHER CURSO LIBRAS.
B – CERTO, EU FAZER INSCRIÇÃO VOCÊ. NOME?
A – M-A-R-I-A C-L-A-R-A
B – IDADE VOCÊ?
A – IDADE? 29
B – ENDEREÇO?
A – RUA MANGUEIRA, NUMERO 171, BAIRRO SANTA LUCIA
B – NUMERO TELEFONE?
A – 3212-4137
B – ESCOLARIDADE?
A – 2º GRAU PRONTO.
B – CASADA OU SOLTEIRA?
A – CASADA
B – FILHO TER?
A – TER DOIS
B – IDENTIDADE?
A – MG-12.987.654
B – NOME PAI?
A – JOÃO SILVA
B – NOME MÃE?
A – MARIA SOARES
B – PRONTO, AGORA VOCÊ VIRAR DIREITA LÁ COMEÇAR CURSO LIBRAS. 01 HORA CURSO.
A – OBRIGAD@.
B – MÊS DEPOIS VOCÊ PAGAR R$ 50,00.
57
UAB/Unimontes - 7º Período
Figura 54:
Verbos
Fonte: Arquivo
dos autores. ►
1 - AJUDAR 2 - AJUDAR [me]
(movimento para fora) (movimento para dentro)
◄Figura 55:
Verbos
Fonte:
Arquivo dos
autores.
1 - ENSINAR
dicas
Visite o site http://
editora-arara-azul.com.
br/novoeaa/mapa-do-
-brasil-em-libras/. Você
encontrará um mapa
do Brasil animado, con-
tendo o sinal de todos
os estados e capitais Figura 56:
brasileiras. Aprenda e Verbos
diverta-se! Fonte: Arquivo
dos autores. ►
2 - ENSINAR [me]
◄Figura 57:
Verbos
Fonte:
Arquivo dos
autores.
58
Letras/Inglês - Língua Brasileira de Sinais - Libras
Figura 56:
Verbos
Fonte: Arquivo
dos autores. ►
1 - ENVIAR (email) 2 - ENVIAR [me] (email)
O que você observou na sequência de sinais ao anteriores? Que diferenças existem entre a
imagem 1 as imagens 2? Se você respondeu que é a direção do movimento, você acertou! Preste
atenção à explicação: se EU ajudo alguém, o movimento parte de EU em relação a ELE. Se ELE me
ajuda, o movimento parte DELE em relação a EU. Interessante, não é? Nem todos os verbos têm a
propriedade de serem direcionais. Existem ainda outros tipos de flexão verbal na Libras, mas não
é o nosso objetivo contemplá-las aqui.
Figura 59:
Verbos
de ação e
processo
Fonte:
Arquivo dos
autores. ►
1 - TRABALHAR 2 - ESTUDAR
◄Figura 60:
Verbos
de ação e
processo
Fonte:
Arquivo dos
autores.
QUERER PROCURAR
Figura 60:
Verbos
de ação e
processo
Fonte:
Arquivo dos
autores. ►
PAGAR PRECISAR
59
UAB/Unimontes - 7º Período
Conversando em Libras
Diálogo 4
Na Libras os adjetivos também podem ser flexionados. No item 4.5 você viu um exemplo de
flexão: Bonitinh@, bonit@, bonitão. Você se lembra qual foi o parâmetro alterado para produzir
mudança de sentido? Volte algumas páginas para descobrir. Já viu? Foi o movimento, além da
expressão facial, não é mesmo? Isso significa que à medida em que aumento ou diminuo a ex-
pressividade da minha fisionomia e a amplitude do movimento (na maioria dos casos) flexiono
em grau o adjetivo. Observe:
◄ Figura 62:
Intensidade dos
adjetivos.
dicas Fonte: Arquivo
dos autores.
Assistia ao vídeo dispo-
nibilizado no youtube
para aprender mais
verbos: http://www.
youtube.com/watch?v
=9r4AKZvS1do&feature
1 - ALEGRE 2 - ALEGRE
=related. Bons estudos!
Figura 63:
Intensidade dos
adjetivos.
Fonte: Arquivo dos
autores. ►
1 - BRAVO 2 - BRAVO
Figura 64:
Intensidade dos
adjetivos.
Fonte: Arquivo
◄ dos autores.
1 - GORDO 2 - GORDO
60
Letras/Inglês - Língua Brasileira de Sinais - Libras
Figura 65:
Intensidade dos
adjetivos.
Fonte: Arquivo dos
autores. ►
1 - MAGRO 2 - MAGRO
Figura 66:
Intensidade dos
adjetivos.
Fonte: Arquivo
◄ dos autores.
1 - CANSADO 2 - CANSADO
Viu só! A expressão facial e as modulações no movimento fazem parte da estrutura grama-
tical da Libras. Não há Libras sem elas.
4.10 Classificadores
As línguas visuais, como a Libras, apresentam uma propriedade criativa muito interessante:
os classificadores (CL). O que são classificadores nas línguas visuais? São possibilidades de repre-
sentar e descrever, através das configurações de mãos, e movimentos, propriedades físicas (ou
emotivas) de pessoas, coisas ou objetos.
Para Felipe (1997), classificadores podem ser considerados marcadores de concordância de
gênero: PESSOA, ANIMAL, COISA. Gênero não se refere aqui a masculino ou feminino, mas à es-
pécie e características do referente (que pode ser pessoa, animal ou coisa). Por exemplo: usarei
distintas configurações de mão e distintos movimentos para sinalizar que: a) um objeto caiu da
mesa b) um aninal caiu da mesa c) uma pessoa caiu da mesa. Note que a configuração de mão e
o movimento utilizados dependerão das características do referente, ou seja, a caracterização do
verbo CAIR irá depender da coisa ou objeto que cai. Veja no seu DVD as diferenças na sinali-
zação de:
Outro exemplo: para indicar aflição, posso colocar a mão configurada em A sobre o meu
peito, com movimentos de sobressaltos repetidos. Para representar o pouso de uma borboleta
ou de um pássaro no meu ombro, terei de usar configurações de mãos adequadas às caracter-
61
UAB/Unimontes - 7º Período
ísticas físicas desses seres. Para representar um carro batendo em um poste, transformo a minha
mão dominante no carro e o antebraço da mão passiva no poste. Classificadores conferem co-
erência, mobilidade e liberdade criativa à Libras.
Apresentaremos a seguir alguns exemplos de classificadores – baseados em configurações
de mãos (CM) específicas (ver tabela do item 3.6 da unidade III) – que representam tamanho, for-
ma e, em alguns casos, modos de locomoção. A tabela abaixo foi adaptada de Supalla (1986):
Fonte: quadro ►
adaptado de Supalla Categoria CM Exemplos de CL:
(1986)
Objeto fino 40 BARRA-FERRO-CONSTRUÇÃO
38 FIO-DENTAL-FINO
Descreva a forma e o
paladar do abacaxi.
Figura 67:
Abacaxi
Fonte: influx.com.
br/imgblog
/image/ abacaxi.
png.
◄ Acesso 07/2010
62
Letras/Inglês - Língua Brasileira de Sinais - Libras
Descreva a forma,
o andar e a força do jacaré.
▲
Figura 68: Jacaré
Fonte: www.cecgodoy.pro.
br/bancodeimagens/d/571-3/
jacare-06-md-web.jpg
Acesso 07/2010
Descreva o olhar de um
homem ciumento e bravo.
Utilizo a língua dos ouvintes, minha segunda língua, para expressar minha cer-
teza absoluta de que a Língua de Sinais é nossa primeira Língua, aquela que
nos permite ser seres humanos comunicadores. Para dizer, também, que nada
deve ser recusado aos Surdos, que todas as linguagens podem ser utilizadas, a
fim de se ter acesso à vida.
Referências
CAPOVILLA, F. C. ; Raphael, W. D. Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngüe da Língua de
Sinais Brasileira. Volumes I e II. São Paulo, SP: Edusp, Imprensa Oficial, Feneis, 2002.
FERREIRA-BRITO, L. Por uma gramática da Língua de Sinais. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,
1995.
QUADROS, R. M. & KARNOPP, L. B. Língua de sinais brasileira: estudos lingüísticos. Porto Alegre:
Artmed, 2004.
SILVA, F. I. et al. Caderno Pedagógico I. Curso de Libras. Centro Federal de Educação Tecnológi-
ca de Santa Catarina – CEFET/SC. Núcleo de Estudos e Pesquisas em educação de surdos – NEPS.
Santa Catarina, 2007. Disponível em: http://hendrix.sj.cefetsc.edu.br/ ~nepes/videos/apostilas/
apostia_libras_basico.pdf. Acesso: outubro de 2010.
SUPULLA, P. The classifier system in ASL. In: GRAG, C, (org.). Nouns classes and categorization.
Typological studies in language. Philadelphia. John Benjamin Publishing Co., 1986.
64
Letras/Inglês - Língua Brasileira de Sinais - Libras
Glossário
Fonética-fonologia: estudo científico das características dos sons de uma língua (parte fí-
sica, articulatória e percepção dos sons) descrevendo e classificando os mesmos.
Léxico: conjunto de palavras existentes em uma língua.
Língua materna: a primeira língua adquirida pelo sujeito. Língua naturalmente adquirida
pelo sujeito e para a qual ele tem intuições e informações linguísticas sobre a forma e uso.
Língua natural: acepção 1: a língua que é mais naturalmente adquirida pelo indivíduo e na
qual ele se sentirá mais confortável. Acepção 2: Língua não-artificial, não planejada.
Língua: “Sistema de signos compartilhado por uma comunidade lingüística comum. A fala
ou os sinais são expressões de diferentes línguas. A língua é um fato social, ou seja, um sistema
coletivo de uma determinada comunidade lingüística” (QUADROS, 2004, p. 7).
Linguista: aquele que estuda a linguagem humana. “O lingüista é (...) aquele que quer
descobrir como a linguagem ‘funciona’, e isto ele faz através do estudo de línguas específicas”
(CRYSTAL, 2004, p. 17).
Segunda língua: língua que aparece como a segunda na ordem da aquisição, diferente
da língua materna ou natural, podendo demandar maior esforço e aplicação na aprendizagem.
Pode ser entendida como sinônimo de língua estrangeira.
Signo lingüístico: objeto lingüístico que contém forma e sentido. De acordo com Saussure
(2007), o signo é uma imagem psíquica que possui uma imagem acústica (ou visual no caso das
línguas de sinais) e um conceito, em resumo, um significante e um significado, ou, de forma sim-
plista, uma forma e um conteúdo.
Variação linguística: fenômeno lingüístico em que elementos de uma língua se diferem es-
pacial, temporal e socialmente.
65
Letras/Inglês - Língua Brasileira de Sinais - Libras
Resumo
UNIDADE I
67
UAB/Unimontes - 7º Período
UNIDADE II
UNIDADE III
68
Letras/Inglês - Língua Brasileira de Sinais - Libras
UNIDADE IV
69
Letras/Inglês - Língua Brasileira de Sinais - Libras
Referências
Básicas
QUADROS, Ronice Muller de. O Tradutor e Interprete de Língua Brasileira de Sinais e Língua
Portuguesa. Secretaria de Educação Especial; Programa Nacional de Apoio àEducação de Sur-
dos- Brasília: MEC; SEESP, 2004.
SALES, Heloisa Maria Moreira et al. Ensino de Língua Portuguesa para Surdos. vol. I e II. Brasí-
lia: MEC, SEESP, 2004.
Complementares
BRASIL. Decreto-lei n. 5.626 de 22 de dezembro de 2005. Diário Oficial [da] República Federa-
tiva do Brasil, Brasília, 23 dez. 2005. Seção 1, p. 30.
BRASIL. Lei 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS)
e dá outras providências. Disponível em: www.mec.gov.br/seesp/legislacao.shtm Acesso em: 10
ago. 2010
FERREIRA-BRITO, L. Por uma gramática da Língua de Sinais. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,
1995.
GESSER, A. Libras? Que língua é essa? Crenças e preconceitos em torno da língua de sinais e
da realidade surda. São Paulo: Parábola, 2009.
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gre: Artmed: 1999.
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73
Letras/Inglês - Língua Brasileira de Sinais - Libras
Atividades de
Aprendizagem - AA
1) O que foi o congresso de Milão e porque ele pode ser considerado um retrocesso na edu-
cação de surdos?
2) A história dos surdos nos narra eventos opressivos contra a população surda e deixa en-
trever que tais sujeitos foram considerados, durante muito tempo, como seres incapacitados (ou
pouco capacitados) tanto para o exercício da linguagem, quanto para o exercício de práticas ci-
dadãs como um todo. No entanto, um evento específico (ou uma consquista específica) contri-
buiu sobremaneira para que este quadro começasse a ser alterado. Que evento foi esse e o que
nos diz agora a perspectiva moderna e atual sobre os surdos?
3) Apesar de haver divergências sobre a forma de caracterizar os surdos (pense, por exem-
plo, nas diferenças entre a abordagem médica e a abordagem antropológica), alguns consensos
puderam ser firmados. Cite os principais.
4) Dentre as leis brasileiras que legislam sobre a educação de surdos, o decreto 5.626 pode
ser considerado como um dos mais significativos. Do que trata esse decreto? Que conquistas
eles trás?
5) Sabe-se que a língua portuguesa é a segunda língua dos surdos. Ao passo que bebês
ouvintes, ainda em tenra idade, começam a adquirir de maneira natural a língua que está à sua
volta, os bebês surdos filhos de pais ouvintes devem procurar meios distintos e externos para
adquirir a Libras. Mais tarde, na escola, ele necessitará de estratégias e recursos adequados à
aprendizagem do português escrito. No tocante à língua portuguesa, quais são as dificuldades
encontradas pelos surdos na sala de aula inclusiva? Qual deve ser a postura do professor diante
desse fato?
6) Qual é a diferença entre linguagem e língua? Por que a Libras pode ser considerada uma
língua?
7) Quais são os parâmetros que se unem para formar o sinal? Caracterize cada um deles.
8) Adjetivos e verbos podem ser flexionados na Libras? Explique como fazemos para fle-
xioná-los.
10) Em Libras existe uma única forma de expressar números? Mudando a situação de uso,
muda-se também a sinalização? Explique cada uma das formas de se sinalizar números em Li-
bras.
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