Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO
Este ensaio pretende uma reflexão sobre certos impasses da clínica psicanalítica entendidos
como novas formas de sofrimento lançando um olhar sobre a relação transferencial que
possibilite o transbordamento de afetos que não encontram outros meios de expressão
diferentes dos masoquismos.
Privilegiando a metapsicologia da melancolia e tomando estas novas subjetividades como as
neuroses narcísicas freudianas, vemos sua manifestação nas depressões com luto eterno, na
baixa auto-estima, no vazio inconsistente da imagem de si, na forte referência ao corpo como
veiculador de limites espaciais e principalmente na impossibilidade de qualquer projeto de vida
mediado num planejamento temporal.
PALAVRAS-CHAVE: melancolia, transferência, narcisismo, afetos, criança.
DESENVOLVIMENTO TEÓRICO
1
de Narciso, jovem que preferia sua própria imagem a qualquer outra (4) e
objeto.
Neste texto temos como mais relevante a “nova ação psíquica” que unificaria
unificação pulsional seria o narcisismo, a nova ação psíquica, que pode ser
conceito de introjeção era pensado na mesma época que Freud por Ferenczi
(8) quando ele fala do movimento inclusivo que o neurótico faz em sua esfera
de interesses.
nessa hora. Quando vemos a atitude dos pais com seus filhos, nela
2
reconhecemos a atualização de seu próprio narcisismo abandonado no
passado. Querem dar à criança toda sorte que não tiveram na vida – “Sua
completude.
Freud nos ensina que o homem se apóia em suas instâncias ideais – eu ideal e
(10).
desejo, campo este aberto pelo olhar do Outro. A imagem especular nos
mostra uma montagem artificial que permite aos traços reais e imaginários
moldura de reconhecimento.
3
Real, simbólico e imaginário interagem para que o sujeito chegue a constituir-
fora, colocando a função materna (Outro) numa certa posição que parece
Esta “função materna” parece ter o desejo de conservar uma imagem ideal que
Há um desvio (para a mãe) entre a imagem que tem de si mesma e a que lhe
melancólico realizaria uma denegação do tempo e isto viria para ele na forma
de uma suspensão temporal. Nosso sujeito fica suspenso num negativismo que
o faz rejeitar qualquer investimento pois teme o efeito de catástrofe cuja origem
perdeu.
que é o de manter uma imagem ideal onde se identifica à vida do filho. Resta a
Se , exemplificando, pensarmos numa criança que não pode dar nada à mãe
desvaneceu na evocação desse ideal que não lhe pertence e ainda a torma
4
impotente. A satisfação narcísica de um poder que lhe asseguraria o prazer
A criança, objeto que entra no campo desejante da mãe e por “certos riscos”
imagem refletir-se numa linha de fuga sem acesso a qualquer opacidade. Ele
sujeito rotaciona 180º e vai para atrás do espelho onde poderá descobrir a
invertido que só vira virtualmente e assim sabe de todo efeito ilusório que
“...nesse percurso, a ilusão está fadada a enfraquecer com a busca que ela
5
Pela técnica analítica, onde Lacan faz o lugar do analista dizer respeito ao
para aproximar-se do ideal-do-eu, sem perder sua imagem própria, seu eu-
ideal, que o analisando vem perceber no reflexo do olhar do Outro, este último
desejável, quer dizer, aquilo através de que se confunde com essa imagem
Os objetos exteriores são recobertos por nós pela relação entre o imaginário e
modalidades próprias.
narcísica. Fala:
6
portanto correndo o risco de alucinar esse modelo ideal no outro, que o
conhecido intimamente, colocando em seu lugar uma imagem real, que nos dá
outrem tal como o ideal tomou os seus. Esta projeção protege o sujeito de ser
07/01/1895. Diz:
quantidade de sua excitação, pode acontecer uma retração para dentro (por
Supomos que no melancólico temos uma “falta” de imaginário, tal como Freud
à fantasia quando a libido reflui para o eu – essa libido é assim “aspirada” pelo
7
um permite que o desejo do outro emerja e, mesmo por isso, que se faça a
do eu.
especular.
melancólico numa primeira vez, ele tenta dar forma ao nada que o habita.
Lacan responde às questões que visam ao olhar pela função do objeto a, não
como o substituto deste ou daquele objeto, mas como a função que dá conta
da insatisfação e da incompletude.
Sendo este último o “objeto causa do desejo”, não seria por orientação dele
8
possível, para suportarmos neuroticamente nossa existência. Na melancolia
este aparato ideal parece não funcionar – o eu não tem ali sua função
identidade.
formado por algo da ordem de uma relação objetal única onde o objeto não
Em “Luto e Melancolia” Freud fala que “a sombra do objeto caiu sobre o ego”
(15). Diz dessa relação objetal única onde o luto se impossibilita contrapondo
uma relação objetal que, por traços, vai evidenciando o mundo externo e
perdido é recolocado no eu, que a catexia objetal foi substituída por uma
objeto nele instalar-se – “Pode ser” uma introjeção, diz Freud, espécie de
9
(19) o autor explica que a criança movida pela linguagem da ternura pode
assumir um jogo com o adulto que tem para ela um tom lúdico e para o adulto,
com ele introjetando seu sentimento de culpa. Para isso ela faz uso dos
rompeu. Torok hipotetiza que a identificação com o agressor seja vista como
Édipo lacaniano), como buscando desejo de desejo, poder (ou não) satisfazer
o desejo da mãe, ser (ou não) objeto de desejo dela. E, por faltar a essa função
identificação à essa imagem especular; essa função teria como ideal uma
ambiente externo ao bebê; a mãe seria o ego auxiliar, mediando o mundo para
do sujeito.
10
Daniel Stern, ao estudar os “afetos de vitalidade” (22) nos coloca próximos do
melancólico apresenta; ele não corre o risco de decepcionar-se com uma perda
que já sabe de antemão que não dominará. Além disso, “é sempre assim”...
11
Referências bibliográficas
vol. XI.
17. N. Abraham e M. Torok, “A Casca e o Núcleo”, cap IV, pág 243 e segs.
12
22. Stern, “O mundo interpessoal do bebê”, pág 47 e segs.
BIBLIOGRAFIA
1997.
Médicas, 1992.
13