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Séries e Filosofia

“Love on the Spectrum” e o amor dos autistas

Todos têm direito de amar. Mas esse amor nem sempre consegue ser fácil, ou mesmo os relacionamentos
são muitas vezes possíveis. Para quem está no espectro autista, isso se torna ainda mais relevante. A
dificuldade de relacionamento humano, para alguns, a falta de compreensão de emoções, o não olhar no
olho, os bloqueios de manter uma conversa, entre outras situações, são o que aconteceu na série Love on
the Spectrum (Amor no Espectro), de produção australiana, e que passa na Netflix. Pela grande diversidade
de espectros autistas (TEA), Asperger etc, não se pode generalizar como se relaciona quem está no espectro.
Muito parece que as pessoas são no caso homens, diagnosticados muito cedo, e mulheres, diagnosticados
mais tarde. Interessante é a grande capacidade e inteligência de todos, em especial os jovens que entendem
de música, de paleontologia, informática e outras, de modo que quase todos têm o perfil de nerd, ou geek,
sendo em geral também um pouco infantilizados em alguns gostos, como games, ursinhos e outros. Apesar
de que hoje game é coisa adulta. Resta que o amor é direito de todos, e mesmo o “Estatudo da pessoa com
Deficiência”, uma lei que ninguém fala, garante vários direitos e independência a quem está no espectro
autista, ou qualquer perfil que a sociedade julgue de “deficiente”, lhes permitindo casar, contratar etc.
Pessoas inteligentes sempre tiveram um pouco de dificuldade amorosa, ou de relacionamento. Newton
ficava algumas vezes consigo mesmo, fechado em si, quando numa situação de ver vinho. Outro era Einstein,
que casou com prima. Sócrates tinha também esposa, mas não parecia ser o relacionamento muito especial.
Nietzsche era apaixonado por Lou Salomé, mas esta o rejeitou. Schopenhauer ainda velho procurava o amor,
mas foi rejeitado também, ficando com cão poodle, que o acompanhava. Kant recebeu cartas de uma
pretendente, mas viva em certo isolamento. Os filósofos, assim como os de espectro autista, tinham
problemas no amor. Eu mesmo não me diferenciava muito do espectro em minha juventude. Será que tive
amor no espectro?

“O Gambito da rainha” e o xadrez no Brasil

Uma série que teve boa influência recente foi “O gambito da rainha”, que se refere a uma jogada, onde num
esporte que já foi tipicamente masculino, o xadrez, uma menina acaba por vencer diversos meninos e ganhar
destaque mundial, em metade de século 20, de modo que se afastou de estudos e ganhou dinheiro em
campeonatos. Essa menina teria vivido em orfanatos, e sido adotada por quem a apoiou no esporte, a mãe
que viaja com esta. A mesma deixa suas emoções de lado, e se concentra em xadrez, esporte que deixava as
mulheres em classificação em separado, e que tem ainda maioria do público masculino. No Brasil, após a
série, explodiu a procura de xadrez por mulheres, o que é salutar e muito positivo, mostrando que a TV, ou a
Internet podem sim ter boas influências educativas, mesmo que o público religioso ou conservador julguem
essas mídias de lixo, como aparece muitas vezes em redes sociais. Temos bons jogadores, e jogadoras no
Brasil. O destaque fica para jogadores russos na série, que seguindo alguns, devoram os jogadores
americanos. Uma brasileira campeã de xadrez disse que gostou da série, e que notou a personagem afirmar
sua feminilidade, comprando roupas, e mostrando que é mulher. Nos campeonatos a jogadora já viu homens
revoltados por perder dela, e alguns até jogaram tabuleiro no chão, ou batem na mesa. Que a inteligência
vire moda entre as meninas, e o xadrez mostre que a mulher pode tudo o que o homem faz, e se afirme na
sociedade. Que Simone de Beauvoir seja lembrada e o feminino se destaque no esporte. Na série apenas fica
estranho o vício da menina em medicamentos, e se comenta que não precisa nenhum remédio para jogar.
Basta a técnica e o amor pelo xadrez. Que mais programas de TV e streaming inspirem a inteligência.

Mariano Soltys, advogado e filósofo.

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