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Wivian Weller1
Resumo:
O debate sobre Multiculturalismo e Políticas da Diferença tem ocupado nos últimos anos um
espaço ascendente e importante, tanto na academia, como no campo político-jurídico, no
âmbito dos movimentos sociais e das políticas públicas. O multiculturalismo vem se
configurando como um campo de estudos interdisciplinar e transversal, que têm tematizado e
teorizado sobre a complexidade dos processos de elaboração de significados nas relações
intergrupais e intersubjetivas, constitutivos de campos identitários em termos de raça/etnia,
gênero, classe social, gerações, orientação sexual, religião/crença, pertencimento regional,
entre outras. Nesse sentido, a Filosofia e a Educação devem romper com os essencialismos e
binarismos muitas vezes presentes nos debates educacionais, assumindo uma análise crítica e
criativa das relações entre sujeitos diferentes, criando condições para compreender as
especificidades e conflitualidades dessas relações e elaborando formas emancipatórias de
relação social que favoreçam a superação dos processos de sujeição e exploração que têm
marcado nossa história. Devem incorporar-se à discussão que contempla o hibridismo – no
sentido elaborado por Bhabha – como principal componente de nossas identidades,
desenvolvendo uma idéia de cultura e de nação, na qual as diferenças constituem partes
integrantes dos estados nacionais contemporâneos.
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Essa nova forma de viver e recriar a cultura nacional também pressupõe uma revisão da literatura comumente
utilizada em sala de aula, responsável, em grande parte, pela proliferação de esteriótipos em relação à migrantes
de origem turca na Alemanha ou em relação aos negros e indígenas no Brasil. Sobre este tema cf. Weller, 1995.
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Partindo da premissa de que a libertação daquilo que somos ou daquilo a que estamos
apegados é fundamental para que possamos exercer a liberdade de ser de outra forma e, ao
mesmo tempo, de sermos reconhecidos nessa nova forma de ser, o aporte de alguns filósofos
contemporâneos tem contribuído para o reconhecimento desse novo ser e de suas
especificidades de gênero, raça/etnia, de classe, de pertencimento geracional, religioso,
regional, dentre outras. Para tanto faremos uma breve menção aos aportes do filósofo Charles
Taylor e da filósofa e cientista política Nancy Frazer para a prática educacional, enfatizando a
importância do reconhecimento das diferenças bem como das políticas redistributivas, como
condições necessárias para o desenvolvimento de sociedades mais democráticas e igualitárias.
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Título de um famoso ensaio de Taylor que recebeu comentários de vários autores, dentre os quais: K. Anthony
Appiah, Jürgen Habermas, Steven C. Rockefeller, Michael Walzer e Susan Wolf (cf. Taylor, 1998).
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Nesse sentido, o autor pondera que o trabalho político e educacional a ser realizado
deve voltar-se para a análise das formas “como as categorias pelas quais conhecemos e
nomeamos uns aos outros foram formadas” e como essas mesmas categorias ainda continuam
sendo utilizadas como “forma de diferenciar a distribuição de poder” nas sociedades em que
vivemos, mesma aquelas consideradas democráticas e multiculturais. O autor pondera que as
políticas de reconhecimento no campo educacional devem passar necessariamente por uma
análise crítica dos conceitos construídos ao longo do século XX, das políticas migratórias e de
‘assimilação’ dos imigrantes, ou ainda, da construção da nação brasileira com base no mito da
‘democracia racial’:
Uma educação voltada para a política do reconhecimento faria muito
melhor concentrando-se na ciência da raça que surgiu no século
passado e que continua no presente século. Deveria examinar as
políticas de imigração e o tratamento dado pela mídia às mulheres.
Deveria deter-se sobre as leis, em Quebec, referentes a idiomas que
restringem o uso do inglês nos avisos públicos. Deveria considerar
como a idéia de nação se alinha com raça, e como a cultura passou a
servir de mediadora entre os dois termos, ao dividir o mundo entre nós
(Willinsky, 2002, p.38-39).
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requerem outros tipos de “remédios” associados a uma mudança cultural ou simbólica, entre
outras:
Reavaliação positiva de identidades desrespeitadas e dos produtos
culturais de grupos marginalizados. Poderia também envolver
reconhecimento e valorização positiva da identidade cultural. Ainda
mais radicalmente, poderia envolver a transformação geral dos
padrões societais de representação, interpretação e comunicação, a fim
de alterar todas as percepções de individualidade (p.252).
Referências bibliográficas
Revista quadrimestral de Ciência da Educação. Campinas: Papirus, 1995, ano XVI, n. 52,
p. 432-445
WILLINSKY, John. Política educacional da identidade e do multiculturalismo. Cadernos de
Pesquisa. São Paulo, n. 117, p. 29-52, nov. 2002.