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Ednilson Sergio Ramalho de Souza


(Editor)

Volume 2

PESQUISAS EM TEMAS DE ENGENHARIAS

Edição 1

Belém-PA

2020
4

https://doi.org/10.46898/rfb.9786558890621

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP).

P474

Pesquisas em temas de engenharias [recurso digital] / Ednilson Sergio


Ramalho de Souza (Editor). -- 1. ed. 2 vol. -- Belém: RFB Editora, 2020.
2.533 kB; PDF: il.
Inclui Bibliografia.
Modo de acesso: www.rfbeditora.com.

ISBN: 978-65-5889-062-1
DOI: 10.46898/rfb.9786558890621

1. Engenharia. 2. Pesquisa. 3. Estudo.


I. Título.

CDD 620.001
5

Copyright © 2020 da edição brasileira.


by RFB Editora.
Copyright © 2020 do texto.
by Autores.

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buam o devido crédito pela criação original.

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Prof. Dr. Ednilson Sergio Ramalho de Prof.ª Me. Neuma Teixeira dos Santos -
Souza - UFOPA (Editor-Chefe). UFRA.
Prof.ª Drª. Roberta Modesto Braga - Prof.ª Me. Antônia Edna Silva dos Santos
UFPA. - UEPA.
Prof. Me. Laecio Nobre de Macedo - Prof. Dr. Carlos Erick Brito de Sousa -
UFMA. UFMA.
Prof. Dr. Rodolfo Maduro Almeida - Prof. Dr. Orlando José de Almeida Filho
UFOPA. - UFSJ.
Prof.ª Drª. Ana Angelica Mathias Macedo Prof.ª Drª. Isabella Macário Ferro Caval-
- IFMA. canti - UFPE.
Prof. Me. Francisco Robson Alves da Sil-
va - IFPA.
Prof.ª Drª. Elizabeth Gomes Souza -
UFPA.

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nanceiro e de alta qualidade!
Nossa inspiração é acreditar que a ampla divulgação do conhecimento científico
pode mudar para melhor o mundo em que vivemos!

Equipe RFB Editora


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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO...................................................................................................................9
Ednilson Sergio Ramalho de Souza

CAPÍTULO 1
A ENGENHARIA GEOTÉCNICA FRENTE OS IMPACTOS DAS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS EM RIOS AMAZÔNICOS.......................................................................11
Carlos Eduardo Aguiar de Souza Costa
Carla Lorena Sandim da Rosa
Laila Rover Santana
Matheus Melo de Souza
Carolina Costa Ramos
DOI: 10.46898/rfb.9786558890621.1

CAPÍTULO 2
PROTÓTIPO DE SISTEMA DE AQUISIÇÃO E TRANSMISSÃO DE SINAIS ELE-
TROCARDIOGRÁFICOS VIA WIRELESS.....................................................................25
Carla Patrícia Michiles Araújo
Jorge Kysnney Santos Kamassury
DOI: 10.46898/rfb.9786558890621.2

CAPÍTULO 3
UMA ANÁLISE ALTERNATIVA PARA O COLAPSO DA PONTE TACOMA NAR-
ROWS.......................................................................................................................................41
Fhellipe Simão Vaz Batista
Marco Donisete de Campos
DOI: 10.46898/rfb.9786558890621.3

ÍNDICE REMISSIVO............................................................................................................54
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PESQUISAS EM TEMAS DE ENGENHARIAS
VOLUME 2
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APRESENTAÇÃO
Leitores e leitoras,

Satisfação! Esse é o sentimento que vem ao meu ser ao escrever a apresentação


deste delicioso livro. Não apenas porque se trata do volume 2 da Coleção Pesquisas
em Temas de Engenharias, publicado pela RFB Editora, mas pela importância que essa
área possui para a promoção da qualidade de vida das pessoas.

Segundo a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Supe-


-rior), fazem parte dessa área: Engenharia de Minas, Engenharia de Materiais e Meta-
lúrgica, Engenharia Química, Engenharia Nuclear, Engenharia Mecânica, Engenharia
de Produção, Engenharia Naval e Oceânica, Engenharia Aeroespacial, Engenharia Elé-
trica, Engenharia Biomédica. Tal área suscita, portanto, uma gama de possibilidades
de pesquisas e de relações dialógicas que certamente podem ser relevantes para o de-
senvolvimento social brasileiro.

Desse modo, os artigos apresentados neste livro - em sua maioria frutos de ár-
-duos trabalhos acadêmicos (TCC, monografia, dissertação, tese) - decerto contribuem,
cada um a seu modo, para o aprofundamento de discussões na área de Engenharia,
pois são pesquisas germinadas, frutificadas e colhidas de temas atuais que vêm sendo
debatidos nas principais universidades brasileiras e que refletem o interesse de pes-
quisadores no desenvolvimento social e científico que possa melhorar a qualidade de
vida de homens e de mulheres.

Acredito, verdadeiramente, que a ampla divulgação do conhecimento científico


de qualidade pode mudar para melhor o mundo em que vivemos!

Esse livro é parte singela da materialização dessa utopia.

Ednilson Sergio Ramalho de Souza


Editor-Chefe
RFB Editora
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CAPÍTULO 1

A ENGENHARIA GEOTÉCNICA FRENTE OS


IMPACTOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
EM RIOS AMAZÔNICOS

GEOTECHNICAL ENGINEERING IN FRONT


OF THE IMPACTS OF CLIMATE CHANGE IN
AMAZON RIVERS

Carlos Eduardo Aguiar de Souza Costa1


Carla Lorena Sandim da Rosa2
Laila Rover Santana3
Matheus Melo de Souza4
Carolina Costa Ramos5

DOI: 10.46898/rfb.9786558890621.1

1  Universidade Federal do Pará. https://orcid.org/0000-0002-7238-6892. cecosta@ufpa.br


2  Universidade Federal do Pará. https://orcid.org/0000-0002-5550-9571. lorena.sandim@hotmail.com
3  Universidade Federal do Pará. https://orcid.org/0000-0003-1824-6976. lailasrover@gmail.com
4  Universidade Federal do Pará. https://orcid.org/0000-0002-8133-4963. matheus_melo96@hotmail.com
5  Universidade Federal do Pará. https://orcid.org/0000-0001-6969-6593. carolinaramosufpa@gmail.com
PESQUISAS EM TEMAS DE ENGENHARIAS
VOLUME 2
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RESUMO

A s mudanças climáticas incluem, nas suas consequências, a maior intensida-


de e frequência de episódios climáticos extremos. A tendência é que, com as
mudanças climáticas, a variação de vazões se intensifique, podendo alterar as margens
dos rios amazônicos. Para se preparar para esses riscos, a geotecnia ajuda justamente
a entender a evolução da topografia de toda a bacia, bem como a composição e estru-
tura geológicas. Diante disto, o objetivo deste trabalho foi realizar uma breve revisão
bibliográfica de como a engenharia geotécnica vem enfrentando os riscos climáticos
fluviais na Amazônia frente as mudanças climáticas, visto que trabalhos analisando
este ponto de vista são escassos na região. Na Amazônia, um exemplo mais comum
de falha no planejamento geotécnico são as “Terras Caídas”, que são justamente áreas
de risco associadas à erosão fluvial. Este fenômeno, mesmo não causando um número
elevado de vítimas fatais, têm causado (direta ou indiretamente) diversos danos para
a sociedade. Ainda são poucos os estudos científicos que relacionam as mudanças cli-
máticas já como potencial causadora para riscos geotécnicos. Por fim, conclui-se que
sejam incentivados estudos com base na engenharia geotécnica para gerar dados que
irão auxiliar no planejamento e futuros trabalhos.
Palavras-chave: Riscos climáticos. Terras caídas. Eventos extremos. Amazônia.

ABSTRACT

Climate change includes, in its consequences, the greatest intensity and frequen-
cy of extreme climatic episodes. The trend is that with climatic changes the flow va-
riation intensifies, being able to alter the margins of the Amazon rivers. To prepa-
re for these risks, geotechnics help to understand the evolution of the topography of
the entire basin, as well as the geological composition and structure. In view of this,
the objective of this work was to carry out a brief bibliographic review of how geo-
technical engineering has been facing fluvial climate risks in the Amazon in the face
of climate change, since studies analyzing this point of view are scarce in the region.
In the Amazon, a more common example of failure in geotechnical planning is the
“Terras Caídas”, which are precisely areas of risk associated with river erosion. This
phenomenon, although not causing a high number of fatalities, has caused (directly or
indirectly) several damages to society. There are still few scientific studies that relate
climate change as a potential cause for geotechnical risks. Finally, it is concluded that
studies based on geotechnical engineering are encouraged to generate data that will
assist in planning and future work.
Keywords: Climatic risks. Terras Caídas. Extreme events. Amazon.

Carlos Eduardo Aguiar de Souza Costa


Carla Lorena Sandim da Rosa
Laila Rover Santana
Matheus Melo de Souza
Carolina Costa Ramos
PESQUISAS EM TEMAS DE ENGENHARIAS
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1 INTRODUÇÃO

Entender as mudanças climáticas é um dos maiores desafios do século XXI. Nas


tendências atuais, até o final do século, emissões de gases que influenciam o efeito es-
tufa (GEE) afetarão as condições climáticas de maneira intensa. De fato, o clima pode
ser tão diferente nas condições futuras como quando a Terra emergiu da última era
glacial, há cerca de 20.000 anos(HOWARD-GRENVILLE et al., 2014). Em outras pala-
vras, pouco mais de 200 anos de atividade humana terão provocado mudanças funda-
mentais em nosso sistema climático.

As mudanças climáticas incluem, nas suas consequências, a maior intensidade e


maior frequência de episódios climáticos extremos, como por exemplo as modificações
nos regimes de precipitação pluviométrica, causando deslizamentos de terra, inun-
dações, entre outras consequências. Tal situação foi constatada de forma trágica no
Brasil, mais especificamente nos Estados de Santa Catarina, Minas Gerais, Rio Grande
do Sul e Rio de Janeiro entre o final de 2008 e o início de 2009 (FENSTERSEIFER, 2011).
De acordo com Soito e Freitas (2011), a Amazônia e o Nordeste representam as regiões
mais vulneráveis do país às mudanças climáticas. Na região Amazônica, tivemos nas
últimas décadas vários eventos hidrológicos extremos, como as enchentes de 2009,
2012 e 2014, e as secas de 2005 e 2010, que alertaram sobre os impactos da variabilidade
climática (MARENGO; ESPINOZA, 2016).

A tendência é que com as mudanças climáticas a variabilidade no clima se in-


tensifique, podendo ocasionar um aumento nas precipitações pluviométricas, e por
consequência, variações de nível fluvial, alterando as margens dos rios amazônicos
por deslizamentos, escorregamentos e desmoronamentos de terra. Esse fenômeno é
regionalmente conhecido como “Terras Caídas” (STERNBERG, 1998; TEIXEIRA, 2007;
MAGALHÃES; VIEIRA, 2018). Para muitos dos casos em que os eventos extremos po-
dem acarretar problemas devido ao mal planejamento, a engenharia geotécnica vem
para tentar diminuir as probabilidades de ocorrência de desastres.

Esta área da engenharia contribui justamente para o gerenciamento eficiente dos


riscos climáticos, gerando informações e projetos que maximizam os meios de lidar
com calamidades. Segundo Chang, Lee e Cho (2020), o padrão da variabilidade climá-
tica está mudando e induz a eventos inesperados (deslizamentos de terra, subsidência
do solo, subsistência do solo, falhas de diques, degradação do solo e erosão costeira),
os quais podem ser amenizados com a aplicação de conhecimentos da engenharia geo-
técnica.

Para se preparar para esses riscos a geotecnia ajuda, justamente, a entender a


evolução da topografia de toda a bacia, bem como a composição e a estrutura geológi-
Capitulo 1
A ENGENHARIA GEOTÉCNICA FRENTE OS IMPACTOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS EM RIOS AMAZÔNICOS
PESQUISAS EM TEMAS DE ENGENHARIAS
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ca. Isso permite uma melhor compreensão da classificação das formas e do mecanismo
de falha para adotar as contramedidas de acordo com os tipos de desastres (HAZA-
RIKA et al., 2020). Diante disto, o objetivo deste trabalho foi realizar uma breve revisão
bibliográfica de como a engenharia geotécnica vem enfrentando os riscos climáticos
fluviais na Amazônia frente as mudanças climáticas, visto que trabalhos analisando
este ponto de vista são escassos na região.

2 MUDANÇAS CLIMÁTICAS

A problemática das mudanças climáticas está cada vez mais em foco atualmente.
A certeza é que nenhum governo está protegido de seus impactos, assim como ne-
nhum pode vir a enfrentar de forma isolada os desafios interligados, sendo que estes
dependem de decisões políticas muitas vezes complicadas (VICTOR, 2015). A Primei-
ra Conferência Climática Mundial, no ano de 1979, em Genebra, acelerou os processos
de entendimento, desencadeando uma série de outras conferências científicas e políti-
cas, incluindo as de Villach (1985), Hamburgo (1987) e Toronto (1988).

A internacionalização da problemática teve seu auge durante a United Nations


Framework Convention on Climate Change (UNFCCC) em 1992, e posteriormente,
com o Protocolo de Kyoto em 1997. Durante este último, os países desenvolvidos que
mais emitiam gases que intensificam o efeito estufa (CO2, CH4, CFC e N2O) foram
reunidos no chamado Anexo 1 e se comprometeram a reduzir em 5,2%, até o ano de
2012, os níveis de emissões em relação àqueles observados em 1990.

Os Estados Unidos (EUA), que integravam o Anexo 1, por sua vez, argumen-
taram que não iriam reduzir sua contribuição enquanto países em desenvolvimento,
que também produzem uma carga alta de emissões (Brasil, China e Índia) não fossem
incluídos no grupo. Para Oliveira (2009), a Alemanha foi um dos governos mais ativos
nas discussões climáticas internacionais, diferente do Japão e alguns países da União
Europeia, que diziam querer aceitar este acordo, porém atrasaram seu vínculo ao do-
cumento para “ganhar mais tempo” em seu desenvolvimento, enquanto criticavam o
radicalismo dos Estados Unidos.

Em dezembro de 2015 um novo acordo global para combater as mudanças cli-


máticas foi adotado pela UNFCCC, o acordo de Paris. Segundo Rogelj et al. (2016), na
preparação deste acordo os países apresentaram planos nacionais que explicitam suas
intenções para enfrentar o desafio das mudanças climáticas após 2020. A meta climáti-
ca global do acordo é manter o aumento da temperatura média global abaixo de 2 °C
até final do século.

Carlos Eduardo Aguiar de Souza Costa


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Em termos, o acordo de Paris foi um trunfo para o planeta. Com o apoio de qua-
se todas as nações da UNFCCC, os governos estavam mais esperançosos e as reações
iniciais foram semelhantes às do Protocolo de Kyoto. Todos os principais produtores
de gases de efeito estufa do mundo assinaram o acordo de Paris, que entrou em vigor
em novembro de 2016 (DOVIE; LWASA, 2017). Porém, novamente os EUA causaram
tumulto, e em junho de 2017 o país anunciou que deixaria o acordo.

O Brasil é um dos maiores negociadores do regime climático internacional, talvez


por força da quantidade de emissões ou por conta de sua atuação consistente nesse
cenário, justamente para defender seu direito ao desenvolvimento (GRANZIERA; REI,
2015). Mesmo estando entre os cinco maiores emissores atuais, o Brasil apresenta um
diferencial dos demais, no qual mais de 73% de suas emissões de GEE é por conse-
quência do uso da terra e agropecuária, especialmente do desmatamento da Amazônia
e do Cerrado (SEEG, 2018).

Em 2007 foi criado o Comitê Interministerial de Mudança do Clima (CIM), ór-


gão que tinha a atribuição de elaborar, implementar e monitorar o Plano Nacional
sobre Mudança do Clima (PNMC - Lei 12.187), que foi criado posteriormente em 2009.
Para Motta et al. (2011), o PNMC é considerado um marco nacional sobre discussões
climatológicas, pois oficializa o compromisso do país em elaborar frentes contra as
mudanças climáticas, definindo metas e instrumentos próprios. Essa lei determina que
o país diminua as emissões de GEE de 36,1% a 38,9% em relação a um cenário global
tendencial. Isso significa reduzir o desmatamento da Amazônia em 80%, o do Cerrado
em 40% e em restaurar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas (AMARAL;
CORDEIRO; GALERANI, 2012; RODRIGUES FILHO et al., 2016).

Porém, todo o planejamento definido pode estar ficando cada vez mais distorci-
do. Azevedo e Angelo (2018) comentam que em 2016 o Brasil emitiu 2,27 bilhões de
toneladas brutas de gases de efeito estufa, representando um crescimento de 9% em
relação a 2015 e de 32% em relação a 1990. Do total, 51% provêm do desmatamento,
sendo que em 2016 a área de desmatamento na Amazônia foi de 7.893 km2, mais que
o dobro do máximo permitido para o cumprimento da meta de 2020.

3 RISCOS CLIMÁTICOS NA AMAZÔNIA E O PAPEL DA


ENGENHARIA GEOTÉCNICA

A Região Amazônica enfrenta desafios inerentes aos projetos em desenvolvimen-


to na região, como a combinação da necessidade de promover o progresso econômico
juntamente com a conservação ambiental, o que inclui fortemente a vulnerabilidade a
riscos climáticos e desastres (MENEZES et al., 2018). Por exemplo, inundações graves
tornaram-se um dos eventos mais recorrentes no noroeste da Amazônia e ao longo do

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A ENGENHARIA GEOTÉCNICA FRENTE OS IMPACTOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS EM RIOS AMAZÔNICOS
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rio Amazonas (e alguns de seus afluentes). Embora vários estudos tenham documen-
tado mudanças simultâneas no sistema climático tropical, os mecanismos e a causa
final da intensificação do ciclo hidrológico na bacia e, principalmente, o aumento na
ocorrência de inundações muito graves ainda permanecem obscuros (BARICHIVICH
et al., 2018).

A percepção da região amazônica como um território com poucos desastres na-


turais extremos (quando comparada ao resto do país) está mudando gradualmente
devido à magnitude e frequência dos impactos sociais e econômicos (CARVALHO;
CUNHA, 2011). A maioria dos desastres está associada a inundações, com consequên-
cias recorrentes nas áreas urbanas, bem como em pequenas cidades às margens dos
seus rios (TOMASELLA et al., 2012). Os eventos afetam negativamente uma região
cujo desenvolvimento já deve enfrentar muitos problemas não resolvidos, como falta
de investimentos em infraestrutura, por exemplo, e os estudos científicos associados
a essa questão na região amazônica não são integrados nem sistemáticos (AZEVEDO
FILHO; CARVALHO; GLÓRIA, 2018; SZLAFSZTEIN, 2015).

Eventos climáticos extremos recentes demonstraram a vulnerabilidade de vários


países em desenvolvimento a desastres naturais. As perdas econômicas causadas por
esses desastres podem ser de tal magnitude que os indivíduos possam não ser ca-
pazes de suportá-los (BOTZEN; VAN DEN BERGH, 2009). A literatura sobre riscos
climáticos tem reconhecido cada vez mais o papel das condições socioeconômicas na
produção de desastres naturais. Em vez de tentar restabelecer as condições pré-evento,
a literatura sobre gerenciamento de desastres e riscos se concentra cada vez mais no
tratamento de vulnerabilidades subjacentes (SHERMAN et al, 2016).

Diante de um aumento projetado na frequência e severidade de desastres devi-


do a desenvolvimentos socioeconômicos e mudanças climáticas, surge a questão de
como elaborar políticas que limitem a exposição e mitiguem os impactos de desastres
naturais. Para se preparar para o risco de desastres causados por chuvas torrenciais
ou inundações, por exemplo, é necessário primeiro entender a evolução da topografia
de toda a bacia hidrográfica, bem como a composição e estrutura geológica, o que nos
leva ao conhecimento em Engenharia Geotécnica (HAZARIKA et al., 2020). Isso per-
mite uma melhor compreensão da classificação das formas e mecanismos de falha para
adotar as contramedidas de acordo com os tipos de eventos.

Os eventos hidrológicos extremos estão mudando e induzem atos inesperados


de risco que competem a Engenharia Geotécnica, ou seja, deslizamentos de terra, sub-
sidência do solo, subsistência do solo, falhas de diques, degradação do solo e erosão
costeira (TRENBERTH, 2011). Desde o final do século XX, os danos que poderiam ser

Carlos Eduardo Aguiar de Souza Costa


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evitados pela aplicação da Engenharia Geotécnica aumentaram em todo o mundo.


Por exemplo, nos Estados Unidos, 219 desastres naturais com danos superiores a US $
1,5 trilhão ocorreram apenas em 2017 (MUKHERJEE; NATEGHI; HASTAK, 2018). Na
Figura 1 pode-se observar uma compreensão mais abrangente de como as mudanças
climáticas globais e as emissões de CO2 estão relacionadas ao risco geotécnico.

Figura 1 - Eventos de perigo de engenharia geotécnica desencadeados por mudanças climáticas

Fonte: Chang, Lee e Cho (2019)

Como a maioria dos riscos climáticos globais está relacionada à redução da re-
sistência do solo devido a mudanças associadas à água, os engenheiros geotécnicos
estudam vários métodos de melhoria do solo, para aumentar a sua força. Por exemplo,
muros de contenção ou produtos geossintéticos são instalados para aumentar a estabi-
lidade das encostas (SHUKLA; SIVAKUGAN; DAS, 2011).

Na Amazônia, um exemplo mais comum de falha no planejamento geotécnico


são as “Terras Caídas”, que são justamente áreas de risco associadas à erosão fluvial
(que também pode ser agravada por chuvas erosivas). De acordo com os habitantes
ribeirinhos da Amazônia, “Terras Caídas” é um termo usado para designar erosão
lateral associada aos processos de deterioração, deslizamento de terra e colapso que
ocorrem nessas margens do rio (MATOS; CURSINO, 2012). Silva e Noda (2016) co-
mentam o fenômeno de “Terras Caídas” é um dos que mais vem se intensificando nos
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últimos tempos na Amazônia, por influência das mudanças climáticas, principalmente


pela intensificação de anomalias com o El Niño Oscilação Sul (ENOS)

Esse processo tem sido objeto de estudo pela sua importância enquanto agen-
te geotécnico atuante na evolução da paisagem ribeirinha (MAGALHÃES; VIEIRA,
2018). Sternberg (1998) dividiu esse processo em quatro etapas: 1 - intenso fluxo turbi-
lhonar que provoca a erosão do tipo eversão, dando início ao aprofundamento do leito
do rio; 2 - fissuras ao logo da margem; 3 - arriscada estabilidade do perfil transversal e
4 - restauração do equilíbrio pelo deslizamento de uma parte da margem para o fundo
do leito do rio. Molinari et al. (2007) comenta que os efeitos geológicos-geotécnicos,
englobando as características lito-estruturais, fraturas subverticais e falhamentos tec-
tônicos e a ação antrópica, são aceleradores da dinâmica dos processos naturais, au-
mentando a incidência desses movimentos de massa.

Diversas técnicas de reforço de solo têm sido aplicadas principalmente em zonas


portuárias da Amazônia. Rodrigues (2014) comenta que a zona portuária ribeirinha de
Manaus (Figura 2) é caracterizada por sucessivos aterros e taludes com diferentes ca-
racterísticas, porém poucas técnicas têm conseguido sucesso frente ao desafio geotéc-
nico do local, que é caracterizado por antigos planos de ruptura presentes nos aterros.

Figura 2 - Situação de ruptura na região portuária de Manaus

Fonte: Rodrigues (2014)

O autor comenta ainda sobre o fenômeno “Terras Caídas” causado pelo rápido
esvaziamento do Rio Negro, diminuindo cerca de 15m de altura em apenas 6 meses.
Essa é talvez uma das mais severas condições em que um talude pode se submeter.
Durante o esvaziamento, perde-se o efeito estabilizante da água na região superior dos
taludes e píeres das áreas portuárias, permanecendo alta a poropressão no interior dos
maciços portuários. O resultado é a redução da estabilidade desses maciços e taludes,
seguido de processos de ruptura.

Carlos Eduardo Aguiar de Souza Costa


Carla Lorena Sandim da Rosa
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Embora não ocasionem um elevado número de vítimas fatais, processos dessa


natureza têm causado, direta ou indiretamente, danos extensos às propriedades em
diversas cidades da região Norte do Brasil. Lopes e Rodrigues (2014) afirmam que este
fenômeno merece uma maior atenção, e principalmente, ações efetivas por parte do
poder público, tendo em vista que esse ocorre constantemente na maioria dos muni-
cípios situados às margens do rio Solimões-Amazonas e seus afluentes. Segundo Nas-
cimento e Simões (2017), nesses canais fluviais amazônicos, são observados cada vez
mais frequentes o fenômeno de “Terras Caídas”. Nessas localidades os autores des-
tacaram que, uma importante ferramenta para evitar desastres, seriam mapeamentos
voltados à caracterização e avaliação geotécnica dos terrenos, os quais podem fornecer
subsídios importantes.

Souza e Miyagawa (2014) analisaram a área de risco geotécnico do município de


Beruri (AM), às margens do Rio Purus. Foi observado risco de deslizamento, princi-
palmente nos locais em que há ocupação nos taludes íngremes, e para minimizar os
impactos desse processo os autores sugeriram medidas como obras de estabilização
de talude; monitoramento dos processos erosivos; remoção e realocação das moradias
próximas às encostas e reflorestamento das margens usando espécies que ajudem na
estabilização dos taludes.

Já no município de Itamarati (AM), Souza e Miyagawa (2015) avaliaram o porto


construído na margem erosiva ao Rio Juruá, e em episódios de seca do rio, a tendência
era que essa região fosse submetida a processos erosivos, causando deslizamentos e
até mesmo soterramento das embarcações no setor demarcado. Os autores sugeriram
a construção de diques ou barreiras para diminuir o impacto da erosão fluvial no talu-
de, além de contenção da encosta de maneira eficiente. Parte do porto também é afeta-
do por inundação gradual do rio Juruá. Tendências com essa também são observadas
mais a leste da Amazônia, que mesmo sem estudos voltados diretamente para analisar
este fenômeno, sofreram grandes impactos, principalmente nas grandes cheias de 2009
e 2012 (VALE et al., 2019).

O processo de “Terras Caídas” é um fenômeno distinto na Amazônia, que difere


de outras formas de erosão fluvial nos rios brasileiros, pois está associado não só à
erosão lateral, mas também ao movimento de massa indireto. Na região já existem al-
guns trabalhos na área, principalmente de pesquisa (MAGALHÃES, 2011; MARQUES
2017), e entre esses trabalhos com estudos geotécnicos bem amplos (SOUZA, 2019).
Porém, Bandeira et al. (2018) afirmam que estudos geotécnicos devem ser ainda mais
incentivados, justamente para avaliar as propriedades mecânicas do material da mar-
gem do rio em toda a Região Amazônica. Os autores comentam ainda que pesquisas
mais aprofundadas também são necessárias para analisar a influência direta da neo-

Capitulo 1
A ENGENHARIA GEOTÉCNICA FRENTE OS IMPACTOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS EM RIOS AMAZÔNICOS
PESQUISAS EM TEMAS DE ENGENHARIAS
VOLUME 2
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tectônica (eventos tectônicos “jovens”), ventos fortes e atividade antrópica na ocorrên-


cia e distribuição das terras caídas.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A maioria dos estudiosos já concorda que os eventos extremos irão ocorrer de


forma mais frequente e intensa futuramente, sendo necessário um melhor planejamen-
to de adaptação ou mitigação para evitar com que ocorram desastres. Na Amazônia
alguns eventos já vêm ocorrendo, causando dentre diversos efeitos, o fenômeno de
“Terras Caídas”, que mesmo não causando um número elevado de vítimas fatais, têm
causado, direta ou indiretamente, diversos danos para a sociedade.

Ainda são poucos os estudos científicos que relacionam as mudanças climáti-


cas já como potencial causadora para riscos geotécnicos. Assim, conclui-se que sejam
incentivados estudos com base na engenharia geotécnica para gerar dados que irão
auxiliar no planejamento e em futuros trabalhos na área de conservação de solos, uso
e ocupação do solo, prevenção de eventos extremos (inundações, grandes secas, etc.),
gestão dos recursos hídricos e variações climáticas na Amazônia.

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24
CAPÍTULO 2

PROTÓTIPO DE SISTEMA DE
AQUISIÇÃO E TRANSMISSÃO DE SINAIS
ELETROCARDIOGRÁFICOS VIA WIRELESS

PROTOTYPE OF THE ELECTROCARDIOGRAPHIC


SIGNAL ACQUISITION AND TRANSMISSION
SYSTEM VIA WIRELESS

Carla Patrícia Michiles Araújo1


Jorge Kysnney Santos Kamassury2

DOI: 10.46898/rfb.9786558890621.2

1  H. Strattner. https://orcid.org/0000-0002-9399-6489. michilescarla@gmail.com


2  Universidade Federal de Santa Catarina, Centro Tecnológico. https://orcid.org/0000-0001-8335-9796.
jorge.kamassury@posgrad.ufsc.br
PESQUISAS EM TEMAS DE ENGENHARIAS
VOLUME 2
26

RESUMO

O presente trabalho apresenta um protótipo de eletrocardiógrafo, de fácil


transporte e que usa comunicação via wireless, para realizar a aquisição e
transmissão de sinais de eletrocardiograma (ECG). Devido à gama de informações que
proporciona e por ser obtido através de técnica não invasiva, o sinal de ECG, responsá-
vel por registrar a variação dos estímulos elétricos aplicados aos átrios e ventrículos do
coração, é um dos principais sinais utilizados no contexto biomédico, o que justifica os
estudos/projetos para a sua aquisição, transmissão e monitoramento. Todavia, apesar
da larga utilização de eletrocardiográficos, poucos são os equipamentos que usam a
tecnologia wireless em razão do uso dessa exigir mais recursos para uma transmissão
eficiente dos sinais de modo a compensar as distorções provocadas pelo canal de co-
municação. O equipamento proposto nesse trabalho, utiliza um sistema de aquisição
composto por amplificadores, um conversor analógico-digital e um microcontrolador.
A transmissão dos dados foi condicionada à arquitetura cliente-servidor. Para avaliar-
mos todas as funcionalidades do sistema proposto, utilizamos um simulador de sinais
vitais. Os resultados obtidos apresentaram desempenho satisfatório para comunica-
ção, leitura, condicionamento e transmissão de dados; ademais também foi observado
no cliente, as formas de onda característica ao sinal ECG (onda P, complexo QRS e
onda T).

Palavras-chave: Protótipo de eletrocardiógrafo; sistema de aquisição e transmissão;


cliente-servidor.

ABSTRACT

The present work presents a prototype electrocardiograph, which is easy to


transport and uses wireless communication to perform the acquisition and transmis-
sion of electrocardiogram (ECG) signals. Due to the range of information it provides
and because it is obtained via a non-invasive technique, the ECG signal, responsible
for recording the variation of electrical stimuli applied to the atria and ventricles of
the heart, is one of the main signals used in the biomedical context, which justifies the
studies/projects for their acquisition, transmission and monitoring. However, despite
the widespread use of electrocardiographs, there are few equipment that use wireless
technology due to the use of this technology, requiring more resources for an efficient
transmission of signals in order to compensate for distortions caused by the commu-
nication channel. The equipment proposed in this work uses an acquisition system
based on the use of amplifiers, an analog-digital converter and a microcontroller. The
transmission of data was conditioned to the client-server architecture. To evaluate all
the functionalities of the proposed system, we used a vital signs simulator. The results
obtained presented satisfactory performance for communication, reading, conditio-
Carla Patrícia Michiles Araújo
Jorge Kysnney Santos Kamassury
PESQUISAS EM TEMAS DE ENGENHARIAS
VOLUME 2
27

ning and data transmission; in addition, it was also observed in the client, the charac-
teristic waveforms to the ECG signal (P wave, QRS complex and T wave).

Keywords: Prototype of electrocardiograph; system of acquisition and transmission;


client-server.

1 INTRODUÇÃO

Os diversos processos fisiológicos no corpo humano são responsáveis por gerar


sinais biológicos. Esses sinais podem ser elétricos, químicos ou acústicos em suas ori-
gens, cuja análise é relevante para a identificação e compreensão de condições patoló-
gicas do corpo humano. Entre os principais sinais biológicos, o sinal de eletrocardio-
grama (ECG) destaca-se devido tanto aos prognósticos bem estabelecidos derivados
deste quanto à natureza não invasiva da técnica. De fato, muitas informações podem
ser extraídas diretamente da forma de onda do sinal.

Embora sejam largamente utilizados, poucos são os eletrocardiográficos que


empregam a tecnologia wireless, principalmente porque o uso dessa tecnologia exige
mais recursos para uma transmissão eficiente dos sinais capaz de compensar as distor-
ções provocadas pelo canal de comunicação (COSTA; CARVALHO, 2017).

Nesse contexto, o presente trabalho apresenta o desenvolvimento de um sistema


de aquisição e transmissão de sinais eletrocardiográficos, de baixo custo e que usa a
tecnologia Wireless.

2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Coração

Considerado o órgão mais importante do sistema circulatório, o coração atua


como uma “bomba” impulsionando o sangue para as demais partes do corpo. Sua
anatomia é dividida em dois “lados espelhados” que, por sua vez, suportam diferentes
subsistemas circulatórios e bombeiam na mesma sintonia e rítmica (GUYTON; HALL,
2006). Basicamente, seu sistema é formado por quatro cavidades: dois átrios (responsá-
veis por armazenar o sangue) e dois ventrículos (atuam bombeando o sangue).

No processo de bombeamento, o sangue passa do átrio direito para o ventrículo


direito por meio da valva tricúspide e do lado do átrio esquerdo para ventrículo esquer-
do através da valva mitral. O período de contração (bombeamento ventricular) é deno-
minado sístole, enquanto a fase de relaxamento é chamada de diástole. Essas contrações
rítmicas são precedidas por eventos elétricos coordenados e intrínsecos ao coração que
são responsáveis por gerar potenciais elétricos do eletrocardiograma.

Capitulo 2
PROTÓTIPO DE SISTEMA DE AQUISIÇÃO E TRANSMISSÃO DE SINAIS ELETROCARDIOGRÁFICOS VIA WIRELESS
PESQUISAS EM TEMAS DE ENGENHARIAS
VOLUME 2
28

2.2 O ciclo cardíaco

O ciclo cardíaco corresponde ao intervalo que compreende o início de um bati-


mento cardíaco até o início do próximo batimento. O responsável por fornecer o ciclo
cardíaco é o nodo sinoatrial localizado na parede lateral superior do átrio direito, próxi-
mo à abertura da veia superior que gera o potencial de ação que se propaga imediata-
mente pelos átrios e ventrículos através do feixe A-V com duração acima de 0,1s.

O nodo atrioventricular tem como função retardar a passagem do impulso dos


átrios para os ventrículos. Durante a ativação do nodo atrioventricular, o impulso al-
cança o feixe de His-Purkinje que os divide em dois ramos que, por sua vez, ramificam-
-se pelas fibras de Purkine (responsável pela despolarização e contração do miocárdio
ventricular).

A Figura 1 ilustra as características dos eventos fornecidos pelos ciclos cardíacos


(para o lado esquerdo do coração). A partir da análise do ciclo cardíaco é possível ex-
trair informações como a pressão (aórtica, atrial e ventricular) e o volume ventricular
mediante técnicas como fonocardiograma e eletrocardiograma (foco deste trabalho).

Figura 1: Eventos do ciclo cardíaco

Fonte: GUYTON & HALL (2006, p. 107)

2.3 Eletrocardiograma

O eletrocardiograma é um sinal obtido através dos sinais elétricos localizados


no músculo cardíaco. A aquisição desse sinal é alcançada por meio da distribuição de
sensores (eletrodos) em pontos específicos sobre a pele. O registro da atividade cardía-
ca é fornecido pelo eletrocardiógrafo que monitora os gráficos dos impulsos elétricos
que estimulam a contração do coração (THALER, 2012). A Figura 2 apresenta o sinal
típico de eletrocardiograma com a identificação das diversas ondas, tradicionalmente
denominadas P, Q, R, S e T (SÖRNMO; LAGUNA, 2005).

Carla Patrícia Michiles Araújo


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VOLUME 2
29

Figura 2: Características de um sinal eletrocardiográfico.

Fonte: GUYTON & HALL (2006, p. 124)

Detalhadamente da Figura 2, identificamos:


• Onda P: é a primeira onda do sinal do eletrocardiograma e representa a
despolarização dos átrios direito e esquerdo (com duração inferior a 120
ms e amplitude menor que 300 V);
• Intervalo PQ: corresponde ao tempo necessário para que o impulso elétrico
se propague a partir do nódulo sino-atrial para os ventrículos;
• Complexo QRS: caracterizado pela despolarização dos ventrículos esquer-
do e direito com duração em torno de 70-110 ms e amplitude de 2-3 mV. É
a primeira forma de onda analisada computacionalmente em razão da sua
amplitude;
• Segmento ST: representa a despolarização dos ventrículos direito e esquer-
do;
• Intervalo QT: ilustra o tempo que compreende desde a despolarização até
a repolarização dos ventrículos;
• Onda T: representa a repolarização ventricular e possui duração média de
300 ms;
• Intervalo RR: comprimento de um ciclo cardíaco que representa o intervalo
entre dois batimentos cardíacos e é usado para determinar arritmias irre-
gulares.

2.4 Derivações eletrocardiográficas

A derivação é uma linha que une eletricamente os eletrodos ao aparelho de ele-


trocardiograma. As derivações eletrocardiográficas são divididas em derivações bipo-
lares (derivação I, derivação II e derivação III) e derivações unipolares (V1, V2, V3, V4,
V5, V6 e aVR, aVL, aVF).

2.4.1 Derivações bipolares

A caracterização do vetor resultante da atividade elétrica cardíaca é feita me-


diante parâmetros que fazem uso de pares de eletrodos situados em distintos pontos
do corpo humano. Cada parâmetro resultante dessas medições (derivação) representa
uma projeção desse vetor e espelha a atividade elétrica cardíaca em uma região do co-

Capitulo 2
PROTÓTIPO DE SISTEMA DE AQUISIÇÃO E TRANSMISSÃO DE SINAIS ELETROCARDIOGRÁFICOS VIA WIRELESS
PESQUISAS EM TEMAS DE ENGENHARIAS
VOLUME 2
30

ração. A aquisição desses sinais pode ser obtida tanto através de derivações bipolares
quanto de derivações unipolares.

Especificamente, as derivações bipolares do plano frontal (DI, DII e DIII) são for-
madas pela combinação de um par de eletrodos. A Figura 3 ilustra o posicionamento
específico de cada terminal (positivo e negativo) do eletrocardiográfico. Pode-se obser-
var, por exemplo, que a derivação II é resultante da combinação do terminal positivo
fixado na perna esquerda e o terminal negativo junto ao braço direito. O sinal ECG
obtido a partir dessa configuração está ilustrado na Figura 4.

Figura 3: Derivações bipolares no plano frontal.

Fonte: Autores (2020)

Figura 4: Forma de onda da derivação II.

Fonte: GUYTON & HALL (2006, p. 128)

2.4 Circuito de Aquisição (CA)

Responsável por adquirir o sinal de ECG, o CA é a primeira etapa do sistema


de captação e transmissão desses sinais, sendo basicamente composto por um ampli-
ficador de instrumentação (AI) específico. O AI consiste em um circuito integrado e é
geralmente constituído por três amplificadores operacionais, sendo empregado para
medir sinais analógicos de baixa amplitude.

Uma vez obtido o sinal ECG, este pode ser enviado para outros tipos de circuitos
como os circuitos de amplificação de segundo estágio/filtragem e circuitos de modu-
lação.

Carla Patrícia Michiles Araújo


Jorge Kysnney Santos Kamassury
PESQUISAS EM TEMAS DE ENGENHARIAS
VOLUME 2
31

3 METODOLOGIA
3.1 Módulo de aquisição e transmissão de sinais

Nessa seção, apresentamos os aspectos do desenvolvimento do módulo de aqui-


sição de sinais ECG, do circuito de conversão analógico/digital e da transmissão des-
ses dados via wireless para um computador. O desenvolvimento do protótipo apre-
sentado nesse trabalho foi alcançado em duas etapas:
• 1ª etapa: uso da placa front-end e do conversor A/D MCP3008. Nesse está-
gio foram parametrizadas as limitações dos componentes, além do trata-
mento e da visualização dos sinais. Para gerar os sinais ECG, utilizou-se o
HS15 de 12 derivações que simula o sinal gerado pelo corpo humano;
• 2ª etapa: transferência dos dados para um computador usando o proto-
colo de comunicação em rede (TCP/IP). Nessa etapa foram definidos os
protocolos e a linguagem de programação que possibilitaram a transfe-
rência das amostras geradas pelo simulador.

A Tabela 1 elenca os materiais utilizados para o desenvolvimento do protótipo.

Tabela 1: Materiais usados no projeto.


Quantidade (unidade) Descrição
01 AD8232
01 ECG Handy Sim HS-15
01 MCP3008
01 Raspberry Pi 3
01 Cabo Paciente (3 vias)
01 Cabo Paciente ECG (5 vias) AE-0H002-0
03 Eletrodos autoadesivos
01 Carregador 5.1 V/2.5 A
01 Computador
Fonte: Autores (2020)

3.1.1 Módulo de aquisição

A placa de ECG utilizada foi a AD8232 (vide Figura 5). A configuração interna
do CI AD8232 é projetada para realizar o monitoramento da forma de onda composta
pelas ondas P, complexo QRS e a onda T. Para reduzir os efeitos dos ruídos no sinal, há
ainda dois filtros: um filtro passa-alta com dois polos em 0.5 Hz e um filtro passa-baixa
com dois-polos em 40 Hz.

Os pinos RA, LA e RL, em destaque na Figura 5, são reservados respectivamente


para a aquisição dos impulsos do braço direito, braço esquerdo e perna direita. As
demais saídas da placa ECG são: aterramento (GND), tensão de alimentação (3,3 V),
saída analógica (OUTPUT), detectores de eletrodo (LO-/LO+) e desligamento (SND).

Capitulo 2
PROTÓTIPO DE SISTEMA DE AQUISIÇÃO E TRANSMISSÃO DE SINAIS ELETROCARDIOGRÁFICOS VIA WIRELESS
PESQUISAS EM TEMAS DE ENGENHARIAS
VOLUME 2
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3.1.2 Conversor analógico/digital

O MCP3008 é um conversor analógico digital programável que opera na faixa


de 2,7V a 5,5V. A comunicação com os dispositivos é realizada usando interface serial
simples compatível com o protocolo SPI (Serial Peripheral Interface). Esse conversor AD
possui especificamente 8 entradas analógicas (do canal CH0 ao CH7) e 8 pinos confi-
guráveis (vide Tabela 2).

Figura 5: Placa ECG AD8232.

Fonte: SPARKFUN (2020)

Tabela 2: Posicionamento dos terminais.


Pinos Simbologia Descrição
1-8 CH0-CH7 Entradas analógicas
9 DGND Digital Ground
10 CS/SHDN Chip Select/Shutdown Input
11 DIN Serial Data In
12 DOUT Serial Data Out
13 CLK Serial CLK
14 AGND Analog Ground
15 VREF Tensão de referência
16 VDD +2.5 V a 5.5 V
Fonte: Autores (2020)

3.1.3 Raspberry Pi

O Raspberry Pi é um microcomputador de hardware livre criado com o intuito


de disseminar o ensino de programação para jovens e crianças. Em comparação com
outros sistemas similares como o Arduíno, o Raspberry Pi apresenta duas vantagens
fundamentais: oferece ao usuário a possibilidade de ser programada em C++, Java ou
Python e permite a execução de vários programas ao mesmo tempo. O modelo que
utilizado foi o Raspberry Pi 3 Model B, que já possui o adaptador wireless integrado

Carla Patrícia Michiles Araújo


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PESQUISAS EM TEMAS DE ENGENHARIAS
VOLUME 2
33

(RASPBERRY, 2020). Vale mencionar que o Raspberry Pi não possui identificação dos
pinos na placa, logo é necessário acessar o mapeamento adequado dos pinos.

3.1.3 Cabo Paciente e simulador de sinais vitais

O cabo paciente é utilizado em monitores cardíacos e eletrocardiógrafos, auxi-


liando-os no monitoramento dos sinais ECG. No referido projeto, utilizou-se um cabo
paciente ECG 5 vias (AE-0H0020) que possui certificação da Anvisa. Para a simulação
dos sinais vitais em modo ECG foi usado o modelo HS-15 da Handy Sim; esse simu-
lador permite alterar frequência, amplitude e opera em cinco modos que fornecem a
forma de onda quadrada, triangular, seno, pmp e ECG, sendo que o pulso de ECG pode
ser modificado para 30, 60, 80, 120, 180 e 240 btm.

3.2 Implementação

O desenvolvimento do protótipo de aquisição foi iniciado a partir da leitura de


dados fornecido pelo AD8232 devidamente conectado ao paciente por meio do cabo
de 03 vias que está interligado aos eletrodos como é mostrado na Figura 6. Uma vez
estabelecida a conexão com o conversor A/D e o circuito de aquisição, o Raspberry Pi
3 está apto a realizar a leitura dos sinais recebidos com base nas conexões dispostas na
Tabela 3.

Figura 6: Diagrama do protótipo desenvolvido.

Fonte: Autores (2020)

Capitulo 2
PROTÓTIPO DE SISTEMA DE AQUISIÇÃO E TRANSMISSÃO DE SINAIS ELETROCARDIOGRÁFICOS VIA WIRELESS
PESQUISAS EM TEMAS DE ENGENHARIAS
VOLUME 2
34

Tabela 3: Conexão dos pinos.


Pinos

Dispositivo
MCP3008 16 15 14 13 12 11 10 09

Raspberry Pi 01 01 05 23 21 19 24 39

Fonte: Autores (2020)

O sistema de transmissão, por sua vez, foi ativado através da solicitação do usuá-
rio para o sistema servidor com base na arquitetura cliente-servidor. Neste caso, o
cliente realiza a requisição ao servidor presente no Raspberry Pi 3, utilizando proto-
colos da rede wireless. Essa requisição ao servidor (Raspberry Pi) visa a obtenção e
processamento dos sinais de ECG do paciente.

3.1.1 Desenvolvimento do Hardware

Logo após a definição do sistema, deu-se início ao desenvolvimento do hardware


que consiste basicamente na implementação do circuito eletrônico em uma protoboard.
Com a configuração estabelecida entre a Placa ECG e o Simulador de Sinais HS-15, os
primeiros testes foram realizados e analisados a partir de osciloscópio conforme ilus-
tra a Figura 7.

Figura 7: Sinal da segunda derivação exibida via osciloscópio.

Fonte: Autores (2020)

A segunda etapa do projeto visou a comunicação entre o Raspberry Pi e o MCP008


de forma segura. Para tal propósito, foi necessário a instalação de bibliotecas utilizan-
do os terminais do Raspberry Pi 3 (19,21,23,24 e 26). A Tabela 3 apresenta a forma
como foram estabelecidas as conexões dos pinos VDD, VREF, AGND, CLK, DOUT,
DIN, CS/SHDN E DGND do MCP30008.

Para validar a leitura de dados realizada pelo Raspberry Pi 3, realizou-se testes


inserindo a saída do circuito de aquisição individualmente em cada porta de entrada

Carla Patrícia Michiles Araújo


Jorge Kysnney Santos Kamassury
PESQUISAS EM TEMAS DE ENGENHARIAS
VOLUME 2
35

do MCP008 (CH0, CH1, CH2, CH3, CH4, CH5, CH6, CH7). Como resultado obtivemos
uma tabela contendo os valores de cada canal, onde a cada meio segundo uma nova
linha é impressa com os valores obtidos do canal.

Após o teste da leitura dos dados via Raspberry Pi, configurou-se o protótipo
como é mostrado na figura 8. Dessa forma, os sinais foram obtidos através do simula-
dor que foram amplificados e tratados pela placa de aquisição responsável por ler os
sinais e convertê-los em sinais digitais; posteriormente, esses sinais foram transferidos
para o Raspberry Pi a partir do MCP3008 via protocolo SPI.

Figura 8: Circuito esquemático disposto na protoboard.

Fonte: Autores (2020)

A amplificação dos sinais característicos da segunda derivação foi alcançada


através da conexão de cada pino do circuito de aquisição (RA, LA e RL) e o HS-15;
uma vez que essa conexão é feita através de cabos, deve-se assegurar que o paciente
esteja isolado do circuito. Dessa forma, modificou-se o cabo paciente ECG 5 vias para
o cabo de 3 vias, retirando as vias V e LL.

Após a montagem dos componentes na protoboard, verificou-se a necessidade de


eliminar jumpers que causavam interferência no circuito. Para contornar tal impasse,
confeccionou-se manualmente uma placa com apenas conectores. A Figura 9 exibe o
esquema da placa. Os segmentos tracejados são relativos à parte superior da placa uni-
versal. Utilizou-se o conector tipo macho de 20 pinos para inserção do cabo flat do Ras-
pberry Pi 3, o conector fêmea para inserir o MCP3008 e por fim dois conectores para a
placa front-end. Essa placa de circuito impresso foi confeccionada usando apenas solda
de estanho-chumbo, placa universal e estação de solda.

Capitulo 2
PROTÓTIPO DE SISTEMA DE AQUISIÇÃO E TRANSMISSÃO DE SINAIS ELETROCARDIOGRÁFICOS VIA WIRELESS
PESQUISAS EM TEMAS DE ENGENHARIAS
VOLUME 2
36

Figura 9: Representações da placada universal. a) vistas inferiores das trilhas b) vista superior

a) b)
Fonte: Autores (2020)

3.1.1 Firmware

O Raspberry Pi 3 precisa ser programado para realizar a leitura de dados através


do MCP3008. Para isso é apropriado fazer o uso de bibliotecas com a devida instala-
ção no terminal do Raspberry Pi. No protótipo, usou-se a biblioteca Adafruit MCP3008
Python disponível na plataforma aberta GitHub (ADAFRUIT, 2019). Ao realizar o
download das bibliotecas é imprescindível modificar a pasta de acesso para Adafruit/
Python/MCP3008, onde efetivamos a modificação para simpleteste.py e configuramos
o software de acordo com a pinagem estabelecida entre o MCP3008 e o Raspberry Pi 3.

Ao executar o comando na porta do Raspberry Pi 3, o programa exibe uma tabela


com todos os canais de entrada do MCP3008 e seus respectivos valores, separado por
cada canal. A cada meio segundo, uma nova linha será impressa com os mais recentes
valores de canal conforme pode ser visualizado na Fig. 10. Cada coluna simboliza a
leitura do circuito contendo a variação de 0 a 1023, onde 0 significa que o sinal está no
nível terra (GND) e 1023 significa que o valor VREF está no valor 3,3 V.

Figura 10: Leitura da porta 04 do MCP3008 via Raspberry.

Fonte: Autores (2020)

Para a configuração cliente-servidor utilizada neste projeto recorreu-se à estrutu-


ra web Python Tornado versão 4.5.2 do Github (GITHUB, 2019). Essa estrutura é usual-
mente empregada para conexão abertas, WebSocket e outras aplicações que demandam
Carla Patrícia Michiles Araújo
Jorge Kysnney Santos Kamassury
PESQUISAS EM TEMAS DE ENGENHARIAS
VOLUME 2
37

conexões longas. Como protocolo de comunicação usamos o HTTP (Hyper Text Trans-
fer Protocol). Nesse cenário, uma requisição é caracterizada por uma mensagem HTTP
enviada de um cliente para um servidor, enquanto a resposta é compreendida como a
mensagem HTTP enviada por um servidor a um cliente.

A comunicação foi estabelecida na porta 8888 utilizando códigos Python do


cliente e servidor a partir do endereço IP do servidor. Desse modo, de acordo com a
arquitetura exibida na Figura 6, o cliente realiza a requisição e o servidor responde a
solicitação. O diagrama do projeto cliente-servidor pode ser visualizado na Figura 11.

Figura 11: Diagrama do projeto cliente-servidor.

Fonte: Autores (2020)

Em detalhe, o cliente solicita a requisição ao servidor que acessa a porta 8888 do


Raspberry Pi 3. O tornado é executado na porta 8888 com a finalidade de realizar a ma-
nipulação HTTP. O servidor, por sua vez, usa o protocolo SPI com o MCP3008 e realiza
a leitura de 1000 dados da porta 04 do MCP3008. Por fim, os dados são transmitidos
ao cliente em forma de lista.

4 RESULTADOS

Uma vez realizadas todas as considerações relativas à montagem, soldagem e


configuração do protótipo, acomodou-se este em uma caixa patola (vide Figura 12a)
deixando apenas um espaço destinado à conexão do cabo-flat com os pinos do Ras-
pberry Pi 3. A Figura 12b exibe o protótipo em operação, enquanto a Figura 13 apre-
senta as curvas obtidas que correspondem à segunda derivação eletrocardiográfica,
nas quais, é possível visualizar as formas de onda P, complexo QRS e a onda T.

Capitulo 2
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PESQUISAS EM TEMAS DE ENGENHARIAS
VOLUME 2
38

Figura 12: a) Protótipo em caixa patola; b) Sistema em operação

a) b)
Fonte: Autores (2020)

Figura 14: Segunda derivação eletrocardiográfica obtida para 2mV. a) 60 btm e b) 80 btm.

Fonte: Autores (2020)

Vale enfatizar que os testes obtidos foram alcançados usando o simulador HS-15
no intervalo de frequência de 30 a 240 btm. Essa faixa de frequência é reconhecida-
mente útil e permite avaliar a oxigenação do corpo e possíveis disfunções à saúde do
paciente.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No referido artigo foram apresentadas as etapas para o desenvolvimento de um


protótipo portátil e de baixo custo para a aquisição e transmissão de sinais eletrocar-
diográficos via tecnologia wireless.

Em última análise, tal protótipo, por exemplo, pode ser empregado para realizar
a aquisição e transferência dos sinais de ECG, de modo que o usuário/médico, receba-
-os sem necessariamente estar junto ao paciente (telemedicina).

REFERÊNCIAS
ADAFRUIT. MCP3008. Disponível em: < https://learn.adafruit.com/raspberry-pi-a-
nalog-to-digital-converters/mcp3008> Acesso em: 12 nov. 2019.

Carla Patrícia Michiles Araújo


Jorge Kysnney Santos Kamassury
PESQUISAS EM TEMAS DE ENGENHARIAS
VOLUME 2
39

COSTA, C. R. M; CARVALHO, F. V. Oportunidades para fabricação de equipamentos


médicos com tecnologia Wireless no Brasil. In: SEMINÁRIO DE ENGENHARIA CLÍ-
NICA E ENGENHARIA BIOMÉDICA, 6., 2017. Anais... s.l: SECEB, 2017., p. 1-5.

GITHUB. Tornado web. Disponível em: < https://github.com/tornadoweb> Acesso


em: 13 nov. 2019.

GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Textbook of medical physiology. 11 th ed. Elsevier Sau-


nders, 2006.

RASPBERRYPI. Teach, learn and make with Raspberry Pi. Disponível em: < https://
www.raspberrypi.org/> Acesso em: 15 out. 2019.

SÖRNMO, L.; LAGUNA, P. Bioelectrical Signal Processing in Cardiac and Neurolo-


gical Applications. Academic Press, 2005.

SPARKFUN. Sparkfun single lead heart rate monitor - AD8232. Disponível em: <ht-
tps://www.sparkfun.com/products/12650> Acesso em: 25 out. 2019.

THALER, M. The only EKG book you’ll ever need. 7th ed. Philadelphia: Lippincott
& Williams, 2012.

Capitulo 2
PROTÓTIPO DE SISTEMA DE AQUISIÇÃO E TRANSMISSÃO DE SINAIS ELETROCARDIOGRÁFICOS VIA WIRELESS
40
CAPÍTULO 3

UMA ANÁLISE ALTERNATIVA PARA O


COLAPSO DA PONTE TACOMA NARROWS

AN ALTERNATIVE ANALYSIS FOR THE TACOMA


NARROWS BRIDGE COLLAPSE

Fhellipe Simão Vaz Batista1


Marco Donisete de Campos2

DOI: 10.46898/rfb.9786558890621.3

1  Universidade Federal de Mato Grosso. https://orcid.org/0000-0002-9422-7964. fhellipesimao@gmail.com


2  Universidade Federal de Mato Grosso. https://orcid.org/0000-0003-4365-0129. marco_donisete@yahoo.com.br
PESQUISAS EM TEMAS DE ENGENHARIAS
VOLUME 2
42

RESUMO

O colapso da ponte Tacoma Narrows ocorrido em 1940 tem motivado pesqui-


sas sobre a sua causa, bem como promovido avanços sobre a influência de
forças externas no comportamento de pontes e outras edificações. Os estudos realiza-
dos na época demostraram que o desmoronamento teria sido provocado por um fenô-
meno linear, a ressonância. No entanto, estudos mais recentes afirmam que as causas
foram os efeitos não lineares. Em 2016, Lewis desenvolveu um modelo simplificado
unidimensional baseado no proposto por Lazer e Mckenna em 1990, o qual resultou
numa equação diferencial semelhante e apresentou outra forma na qual as amplitudes
de oscilação poderiam aumentar. O objetivo desse estudo de caso é detalhar o modelo
proposto por Lewis, bem como aplicá-lo a um problema de interesse. Para tanto, utili-
zou-se a teoria das Equações Diferenciais e a ferramenta Simulink do software Matlab®
para a simulação computacional.
Palavras-chave: Tacoma Narrows. Colapso. Efeitos não lineares.

ABSTRACT

The collapse of the Tacoma Narrows Bridge in 1940 has motivated research on
its cause, and has promoted advances on the influence of external forces on the beha-
vior of bridges and other buildings. The studies at the time showed that the collapse
was caused by a linear phenomenon, the resonance. However, more recent studies
claim that the causes were the non-linear effects. In 2016, Lewis developed a simplified
one-dimensional model based on the one proposed by Lazer and Mckenna in 1990,
which resulted in a similar differential equation and presented another way in which
the oscillation amplitudes could increase. The purpose of this case study is to detail
the model proposed by Lewis, as well as to apply it to a problem of interest using the
Differential Equations and the Simulink tool from Matlab™ software for computer si-
mulation.
Keywords: Tacoma Narrows. Collapse. Non-linear effect.

1 INTRODUÇÃO

Muito embora a literatura registre em larga escala a ressonância linear como a


causa principal do colapso da ponte Tacoma Narrows, alguns autores, tais como Lazer
e McKenna (1990) afirmaram que, na verdade, efeitos não lineares foram sim os prin-
cipais fatores que levaram às grandes oscilações da ponte e, consequentemente, ao seu
colapso.

Neste trabalho será desenvolvida uma simplificação do modelo apresentado por


Lazer e Mckenna (1990) proposta por Lewis (2016) a qual analisa o comportamento de

Fhellipe Simão Vaz Batista


Marco Donisete de Campo
PESQUISAS EM TEMAS DE ENGENHARIAS
VOLUME 2
43

um pendural de uma ponte pênsil via modelo mecânico, formula sua equação diferen-
cial e estabelece a metodologia para a investigação numérica. Daí, a partir dos resul-
tados, caracteriza as oscilações do modelo e, por fim, através do panorama dinâmico
do sistema, mostra outra forma na qual a amplitude das oscilações de uma ponte sus-
pensa pode aumentar, desconsiderando a ressonância linear. O equacionamento do
modelo mecânico para esse oscilador envolve algumas simplificações e considera-se a
interação de um único pendural com uma certa massa m do tabuleiro, negligenciando
a deformação do cabo principal, bem como a dos blocos de ancoragem, das torres e do
solo. Para a modelagem, simulação e análise dos sistemas dinâmicos utilizou-se a fer-
ramenta Simulink do software Matlab versão R2016a e o método de Heun com
Todos os cálculos foram executados em um computador particular Intel Core i5/ 1.6
Ghz.

2 DESENVOLVIMENTO DO MODELO

Considerou-se uma ponte pênsil com um único pendural, assumido para atuar
como uma mola, com características distintas de tração e compressão e, ainda, sem
amortecimento. Ao ser esticado, o pendural funciona como uma mola com constante
de Hooke k1 , enquanto que, ao ser comprimido, ele age como uma mola com uma
constante de Hooke diferente, k 2 . Além disso, adotou-se que o pendural em compres-
são exerce uma força menor no tabuleiro do que quando esticado na mesma distância,
de modo que 0 < k 2 < k1 . A deflexão vertical, aqui adotada como a direção positiva
para baixo da secção da pista ligada a este cabo será designada por y (t ) , sendo t o tem-
po e y = 0 a posição de equilíbrio do tabuleiro. À medida que a faixa de rodagem oscila
sob a influência de uma força vertical aplicada devido aos vórtices de von Kármán,
o pendural fornece uma força restauradora para cima de módulo k1 y quando y > 0
e uma força restauradora descendente de módulo k 2 y , quando y < 0 . Esta mudança
na constante da lei de Hooke em y = 0 é responsável pela não linearidade da equação
diferencial.

Como não há amortecimento no sistema, considera-se a seguin-


te equação diferencial derivada da 2ª lei do movimento de Newton,
𝑑𝑑� 𝑦𝑦 𝑑𝑑� 𝑦𝑦 𝑑𝑑� 𝑦𝑦 (1)
𝐹𝐹 = 𝑚𝑚 ⇒ 𝑔𝑔(𝑡𝑡) − 𝑓𝑓(𝑦𝑦) = 𝑚𝑚 ⇒ 𝑚𝑚 + 𝑓𝑓(𝑦𝑦) = 𝑔𝑔(𝑡𝑡),
𝑑𝑑𝑡𝑡 � 𝑑𝑑𝑡𝑡 � 𝑑𝑑𝑡𝑡 �

sendo uma função não linear dada por a força perió-

dica vertical aplicada e m a massa da secção da pista. Nota-se que a Eq. (1) é linear em

qualquer intervalo no qual y não varie o sinal.

Capitulo 3
UMA ANÁLISE ALTERNATIVA PARA O COLAPSO DA PONTE TACOMA NARROWS
PESQUISAS EM TEMAS DE ENGENHARIAS
VOLUME 2
44

3 METODOLOGIA DA SOLUÇÃO DA EQUAÇÃO GOVERNANTE

Para obter uma solução típica deste problema, adotou-se , k1 = 4 N / m,


k 2 = 1 N / m e g (t ) = sen(4t ) N . A frequência da função forçante g (t ) é maior do que
as frequências naturais do cabo para tração e compressão, de modo que não se espera

que ocorra a ressonância. Considerou-se, também, as condições iniciais: me

m/s e, assim, o tabuleiro inicia-se na posição de equilíbrio com uma pe-

quena velocidade para baixo. Por causa dessa velocidade inicial para baixo e a força

aplicada no sentido positivo, y (t ) irá aumentar inicialmente e tornar-se positivo. Por-

tanto, primeiramente resolve-se o PVI dado por

(2)

cuja solução geral é

(3)

Já a função velocidade instantânea no intervalo de tempo no qual a Eq. (3) é vá-


lida é dada por

(4)

Nota-se que o primeiro valor positivo de t para o qual é novamente igual à

zero é s. Neste ponto, m/s. Após s, y se torna negativo

e, por isso, resolve-se um novo problema, dado por

(5)
cuja solução geral é

(6)

Fhellipe Simão Vaz Batista


Marco Donisete de Campo
PESQUISAS EM TEMAS DE ENGENHARIAS
VOLUME 2
45

Outra vez, a função velocidade instantânea no intervalo de tempo no qual a Eq.


(6) é da forma

(7)

e, daí,

(8)

e, finalmente,

(9)

Através da ferramenta Simulink, a solução gráfica deste modelo foi obtida utili-

zando o diagrama de blocos apresentado na Figura 1. A equação resolvida neste caso

é a Eq. (1), isolando-se o termo , da forma . Nota-se,

segundo as equações obtidas no intervalo , que a deflexão atinge seu valor

máximo em 0,279884 m no intervalo , sendo maior que m para

. Já no intervalo s, a máxima deflexão é de m que é maior

que m atingida entre .

Figura 1- Programação em blocos usada no Simulink.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Capitulo 3
UMA ANÁLISE ALTERNATIVA PARA O COLAPSO DA PONTE TACOMA NARROWS
PESQUISAS EM TEMAS DE ENGENHARIAS
VOLUME 2
46

Vale ressaltar que este modelo unidimensional simplificado não leva em consi-
deração as complexas interações presentes em pontes reais. A fim de aprimorar este
modelo, adiciona-se o efeito do amortecimento no sistema massa-pendural.

4 DESENVOLVIMENTO DO MODELO AMORTECIDO

Neste modelo, reconsidera-se o modelo anterior acrescido do amortecimento ( , sendo

) no sistema. A fim de resolvê-lo, toma-se a seguinte equação diferencial derivada da

Eq. (1),

(10)

sendo uma constante positiva.

4.1 Metodologia de solução da equação governante

Visando obter uma solução típica deste problema, adotam-se os mesmos valores

para os parâmetros utilizados no modelo não amortecido. Além dis-

so, consideram-se as mesmas condições iniciais: me m/s, porém,

admitindo-se três valores distintos para , a saber: , e

, os quais permitem a variação das oscilações. Dessa forma, percebe-se

que o leito da estrada nos três casos inicia-se na posição de equilíbrio com uma peque-

na velocidade para baixo.

Caso 1 ( )

Devido às condições iniciais e a força aplicada no sentido positivo, y (t ) aumen-

ta inicialmente e tornar-se positiva e, admitindo-se as seguintes definições:

, e .

Portanto, primeiramente resolve-se o PVI dado por

(11)

cuja solução geral é

Fhellipe Simão Vaz Batista


Marco Donisete de Campo
PESQUISAS EM TEMAS DE ENGENHARIAS
VOLUME 2
47

(12)
Já a função velocidade instantânea no intervalo de tempo no qual a Eq. (12) é
verdadeira é dada por

Nota-se que o primeiro valor positivo de para o qual y (t ) se anula na Eq. (12)

é s. Neste ponto, m/s. Portanto, a Eq. (12) se

mantém no intervalo de tempo entre s. Após s, y se torna

negativo e ainda valem as seguintes definições: e F1 = 1 , a di-


ferença é que , por isso, resolve-se um novo problema, dado por

(14)

cuja solução geral é

e a função velocidade instantânea no intervalo de tempo no qual a Eq. (15) é válida é

Na Eq. (14), isolando-se o termo obtemos:

Capitulo 3
UMA ANÁLISE ALTERNATIVA PARA O COLAPSO DA PONTE TACOMA NARROWS
PESQUISAS EM TEMAS DE ENGENHARIAS
VOLUME 2
48

Nota-se, segundo as equações obtidas no intervalo s, que a deflexão

atinge seu valor máximo em m no intervalo s, sendo

maior que m em s. Já no intervalo s, a má-

xima deflexão atingida é de m que é maior que m atingida entre

s.

Caso 2 ( Ns/m)

Similarmente ao caso anterior, aumentará inicialmente e tornará positiva.

Entretanto, tomando-se tem-se o seguinte PVI dado por

(18)

cuja a solução geral é


y(t) = 0,171627e-0,05t cos(1,999375t-1,554629)+0,083287 cos(4t-4,679068) (19)

para o intervalo s.

Após s, y se torna negativo, por isso, resolve-se um novo problema,


dado por

(19)

cuja solução geral é dada por

(20)
para s.

Nota-se que no intervalo s, a deflexão atingiu seu valor máximo

em m no intervalo s, sendo maior que m para


s. Já no intervalo s, a máxima deflexão atingida é de
m que é maior que m atingida entre s.

Fhellipe Simão Vaz Batista


Marco Donisete de Campo
PESQUISAS EM TEMAS DE ENGENHARIAS
VOLUME 2
49

Caso 3 ( ρ 3 = 0,5 Ns/m)

Similarmente aos casos anteriores, define-se . Portanto, resolve-

-se o PVI dado por

(21)

A solução geral da Eq. (21) é

(22)
para o intervalo s.

Após t = 1,535190s, y se torna negativa, por isso, resolve-se

(23)

A solução geral da Eq. (23) é dada por

(24)
em s.

Nota-se, segundo as equações obtidas no intervalo s, que a defle-


xão atinge seu valor máximo em m no intervalo s, sen-

do menor que m para s. Já no intervalo

s, a máxima deflexão é de m que é menor que m atingida entre


s.

5. ANÁLISE COMPARATIVA DAS SOLUÇÕES

A fim de comparar as soluções obtidas anteriormente, construiu-se um novo dia-


grama de blocos para simular todos os casos ao mesmo tempo. Esquematizado na Fi-
gura , este novo diagrama permite que se altere qualquer parâmetro adotado até aqui,
bem como as condições iniciais do movimento.

Capitulo 3
UMA ANÁLISE ALTERNATIVA PARA O COLAPSO DA PONTE TACOMA NARROWS
PESQUISAS EM TEMAS DE ENGENHARIAS
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50

Figura 2 - Diagrama de blocos usado no Simulink para o comparativo das soluções.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Para ilustrar, a Figura mostra a solução gráfica da deflexão para 20 s de

simulação, tomando-se o modelo proposto por Lewis, em que ρ é nulo e os casos de-

rivados do mesmo, em que se adotou , e .

Aumentando-se o tempo de simulação para 60 s, conforme a Figura , observa-

-se, para nulo, que com o passar do tempo os picos da função deflexão estão com

amplitudes cada vez maiores, de tal forma que o módulo da amplitude máxima neste

intervalo de tempo é de m; enquanto que, para o módulo máximo é m,

e assim, nota-se que a adição de um pequeno amortecimento no sistema diminuiu em

a amplitude máxima observada neste período. Já para , constata-se que os va-

lores da função seguem aumentando, mas num ritmo bem mais lento que o visto nas

funções anteriores, sendo o módulo máximo atingido em m, menor que

para igual à zero. Por fim, a função deflexão com maior amortecimento, , parece ter

se estabilizado com pico máximo na direção em que o cabo é tracionado de m

e de m na outra direção.

Fhellipe Simão Vaz Batista


Marco Donisete de Campo
PESQUISAS EM TEMAS DE ENGENHARIAS
VOLUME 2
51

Mantendo-se o tempo de simulação em 60 s e alterando a velocidade inicial de

m/s para m/s, a função deflexão , para nulo, atinge em módulo, a

amplitude de m, ou seja, maior que a amplitude na velocidade anterior,

ao passo que, para , o módulo máximo da função é m. Neste ponto, nota-se que

para as duas primeiras funções, quanto maior a velocidade inicial, maior será a ampli-

tude imposta na deflexão vertical da pista. Já para o caso no qual se adota , a função

deflexão se comporta de outra maneira, no início do movimento as amplitudes são

altas, contudo à medida que o amortecimento atua, elas diminuem. Finalmente, para

, após aproximadamente 30s a deflexão se estabiliza com m na direção positiva

e 0,1 m na direção contrária.


Figura 3 - Comparativo das deflexões para os 20 primeiros segundos.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 4 - Comparativo das deflexões para os 60 primeiros segundos.

Figura 4 - Comparativo das deflexões para os 60 primeiros segundos.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Capitulo 3
UMA ANÁLISE ALTERNATIVA PARA O COLAPSO DA PONTE TACOMA NARROWS
PESQUISAS EM TEMAS DE ENGENHARIAS
VOLUME 2
52

A Figura apresenta a solução gráfica para m/s. Numa última análise, du-

plica-se o valor da maior constante de amortecimento, ou seja, igual à 1 , con-

siderando o tempo de simulação de 60 s e velocidades iniciais m/s e 1 m/s. Confor-

me a Figura , as amplitudes iniciais são maiores quando associadas a velocidades mais

altas e após aproximadamente 10 s as deflexões são equivalentes.


Figura 5 - Comparativo das deflexões para os primeiros 60 segundos
considerando uma velocidade inicial vo= 1 m/s.

Fonte: Elaborado pelo autor


Figura 6 - Comparativo das deflexões para os primeiros 60 segundos considerando ρ=1 Ns/m.

Fonte: Elaborado pelo autor

6.CONCLUSÃO

Neste trabalho, o objetivo foi apresentar em detalhes o modelo desenvolvido por


Lewis (2016) baseado no proposto anteriormente por Lazer e Mckenna (1990), o qual
resultou numa equação diferencial capaz de explicar o colapso da ponte Tacoma Nar-

Fhellipe Simão Vaz Batista


Marco Donisete de Campo
PESQUISAS EM TEMAS DE ENGENHARIAS
VOLUME 2
53

rows ocorrido em 1940 como tendo por causa efeitos não lineares. Um exemplo de
interesse com amortecimento foi resolvido e comparado com o caso não amortecido.
Notou-se que com adição do fator de amortecimento, as amplitudes das deflexões da
pista tornaram-se cada vez menores à medida que se avançou no tempo e, ainda, que
a variação das constantes de amortecimento revelou a importância dele em sistemas
estruturais esbeltos.

Os resultados mostraram que as grandes oscilações que causaram a destruição


da ponte suspensa Tacoma Narrows podem não ser resultado de ressonância e que
efeitos não lineares são a causa provável do desastre. Destaca-se, também, que as pes-
quisas sobre o comportamento de pontes sujeitas às ações dinâmicas continuam e, é
provável que os modelos sejam aperfeiçoados ao longo do tempo. É importante ressal-
tar que este modelo hipotético é uma simplificada unidimensional muito, a qual, natu-
ralmente não leva em conta todas as complexas interações presentes num modelo real.

REFERÊNCIAS
LAZER, A. C.; McKENNA, P. J. Large-Amplitude Periodic Oscillantions in Suspension
Bridges: Some New Connections with Nonlinear Analysis. SIAM Review, v. 32, n. 4,
p. 537-578, 1990.

LEWIS, G. N. O Colapso da Ponte Suspensa Tacoma Narrows. In: ZILL, D. G; CULLEN,


M. R. Equações Diferenciais, vol. 1. São Paulo: Makron Books, 2001. p. 270-273.

LEWIS, G. N. O Colapso da Ponte Suspensa Tacoma Narrows. In: ZILL, D. G. Equa-


ções Diferenciais com Aplicações em Modelagem. 3. ed. São Paulo: Cengage Lear-
ning, 2016, p. xxix-xxxii.

Capitulo 3
UMA ANÁLISE ALTERNATIVA PARA O COLAPSO DA PONTE TACOMA NARROWS
PESQUISAS EM TEMAS DE ENGENHARIAS
VOLUME 2
54

ÍNDICE REMISSIVO
A

Amazônia 12, 13, 14, 15, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23
Aquisição 7, 25, 27, 29, 31, 33, 35, 37, 39

Climáticas 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 20

ECG 26, 27, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 38


Engenharias 3

Fonte 17, 18, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 45, 50, 51, 52
Forma 13, 14, 20, 27, 29, 31, 33, 34, 35, 37, 42, 43, 45, 46, 50

Modelo 32, 33, 42, 43, 45, 46, 50, 52, 53


Mudanças 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 20

Sinais 7, 25, 27, 29, 31, 33, 35, 37, 39


Sistema 13, 16, 26, 27, 30, 34, 43, 46, 50

Terras 12, 13, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23

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