DIREITO

PROCESSUAL CIVIL

LITISCONSÓRCIO

Visão detalhada sobre litisconsórcio

1. Conceito

Em termos simples, litisconsórcio é a existência de mais de um autor ou réu nos polos

do processo. De acordo com a doutrina, é o fenômeno processual que “se refere ao
elemento subjetivo da relação jurídica processual, mais precisamente às partes”
(NEVES, 2018, p. 296). É, portanto, a pluralidade de sujeitos nos polos da relação
jurídica processual que se reúne para litigar em conjunto.

Atenção!

“É irrelevante a postura no processo dos sujeitos que litigam no mesmo

polo para a existência do litisconsórcio, sendo admissível, inclusive, que
sejam adversários entre si na demanda judicial” (NEVES, 2018). No
entanto, há posição minoritária que entende que, para que se caracterize
o litisconsórcio, é necessário que os litisconsortes possuam interesses
comuns, de modo que, tendo interesses contrapostos, haveria, na
verdade, uma cumulação subjetiva.

2. Hipóteses de cabimento

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Inicialmente é importante destacar que “nem toda reunião de pessoas para litigar em
conjunto será admitida pela lei, sob o risco de criar situações prejudiciais ao
andamento do processo” (NEVES, 2018). O Código de Processo Civil (CPC/2015) previu
as hipóteses de cabimento do litisconsórcio de forma exaustiva.

Art. 113. Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em conjunto, ativa
ou passivamente, quando:

I − entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações relativamente à lide;

II − entre as causas houver conexão pelo pedido ou pela causa de pedir;

III − ocorrer afinidade de questões por ponto comum de fato ou de direito.

De acordo com o art. 113, I a III, do CPC/2015, duas ou mais pessoas podem litigar, no
mesmo processo, em conjunto, ativa ou passivamente, quando:

a) Entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações relativamente à lide.

Trata-se de direitos e obrigações comuns entre os litisconsortes, de modo que cada um,
isoladamente, poderia participar do processo. É o exemplo do condomínio e a relação
entre os condôminos. “Ainda que um condômino possa litigar sozinho em defesa do bem
em condomínio, a relação de direito material que o liga aos demais condôminos é
suficiente para permitir o litígio em conjunto” (NEVES, 2018). Neste mesmo sentido é o
caso da participação de um dos devedores solidários no polo passivo de uma ação.

b) Entre as causas houver conexão pelo pedido ou pela causa de pedir.

Neste caso, o litígio em litisconsórcio se torna possível pela conexão, ou seja, pela
identidade entre a causa de pedir ou pedido de duas ações distintas (art. 55 do
CPC/2015).

A consequência da conexão é a reunião dos processos perante um mesmo juízo para

julgamento em conjunto visando a economia processual (art. 55, § 1º, do CPC/2015).
Desse modo, torna-se possível também litigar em litisconsórcio, provocando a
existência de uma só demanda. É o que pode ocorrer, por exemplo, com dois sócios que
em conjunto pretendem propor uma demanda contra a sociedade com o mesmo pedido.
Outro exemplo é o de vítimas de um acidente, que podem ajuizar uma só ação contra o
causador do acidente.

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c) Ocorrer afinidade de questões por ponto comum de fato ou de direito.

Nesta possibilidade de litisconsórcio não há exigência de identidade de fatos, bastando

a afinidade, semelhança de questões por um ponto comum de fato ou de direito. É
exemplo desta espécie de cabimento o caso de vários contribuintes que se reúnem para
demandar contra o Município em razão de multas sofridas. Ainda que os fatos
geradores sejam individualizados, há afinidade por um ponto comum.

Muito importante!
--
É importante ressaltar que, apesar do uso da palavra “podem” pelo art.
113, caput, do CPC/2015, o entendimento é de que em determinadas
situações as partes, na verdade, devem litigar conjuntamente.

..

3. Objetivo da formação de litisconsórcio

O instituto do litisconsórcio possui duas finalidades precípuas:

a) assegurar a economia processual, evitando a repetição da prática de atos

processuais;

b) harmonização de julgados, evitando decisões contraditórias.

4. Prazo em dobro

Conforme previsto no art. 229 do CPC/2015, os litisconsortes que tiverem diferentes

procuradores, de escritórios de advocacia distintos, terão prazos contados em
dobro para todas as suas manifestações, em qualquer juízo ou tribunal,
independentemente de requerimento, não se aplicando o prazo em dobro previsto aos
processos em autos eletrônicos.

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Por fim, sobre o tema, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que, se os
litisconsortes passam a ter procuradores diferentes durante o curso do processo, após
já iniciado o prazo recursal, o benefício do prazo em dobro somente será aplicado
quanto à parte do prazo recursal ainda não transcorrida até aquele momento.

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. ANULAÇÃO DE REGISTRO CIVIL.

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE. NÃO
OCORRÊNCIA. LITISCONSÓRCIO. CONSTITUIÇÃO DE ADVOGADOS DISTINTOS.
MOMENTO DE INCIDÊNCIA DO PRAZO EM DOBRO. ART. 191 DO CPC. MULTA
AFASTADA.

− Ausentes os vícios do art. 535, II, do CPC, rejeitam-se os embargos de declaração.

− Se os litisconsortes passam a ter procuradores distintos no curso do processo, a

partir desse momento é que têm o prazo em dobro à sua disposição. O momento
processual da aplicação do art. 191 do CPC, é, portanto, o de quando demonstrada a
existência de litisconsórcio com diferentes procuradores.

− Afasta-se a multa do parágrafo único do art. 538 do CPC quando não se caracteriza o
intento protelatório na interposição dos embargos de declaração.

− Recurso especial parcialmente conhecido e, nesta extensão, provido (REsp. nº

1.309.510/AL, rel. Min. NANCY ANDRIGHI, Terceira Turma, julgado em 12.03.2013,
DJe 03.04.2013).

Obra coletiva do Curso Ênfase produzida a partir da análise estatística de incidência

dos temas em provas de concursos públicos.
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