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THYMELI ESCOLA DE TEATRO, MÚSICA E DANÇA

ANÁLISE DAS CANÇÕES “I DREAMED A DREAM”, “STARS” E “ON


MY OWN” DO FILME MUSICAL LES MISERABLES

Adailton dos Santos Junior


5N
Curso Técnico em Teatro Musical
Professora Mestre Fernanda Camargo

Abril de 2020
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INTRODUÇÃO
O gênero de teatro musical eternizou no imaginário diversas imagens com
seus musicais mais famosos. Geralmente frutos dos megamusicais londrinos da
década de 80, esses musicais apresentam grandes efeitos, musicas belíssimas e
um espetáculo impecável do começo ao fim. O Fantasma da Ópera, Cats, Miss
Saigon são grandes exemplos dessa forma de teatro musical, mas uma das obras
mais famosas é Les Miserables.

Baseado na obra literária do grande escritor francês Victor Hugo, Les


Miserables traça a história de Jean Valjean, um homem preso que após receber a
liberdade provisória e fugir para recomeçar sua vida, acaba sendo perseguido pelo
Inspetor Javert ao longo de sua vida. Em paralelo, acompanhamos o início da
revolução francesa, liderada pelos jovens estudantes com anseio de livrar a nação
das garras do absolutismo.

Uma característica desse musical é que ele é considerado um musical sung-


through, o que significa que a peça é inteiramente cantada, tendo apenas
pouquíssimas falas em alguns momentos. Isso torna as canções à principal forma
narrativa presente no musical, a colocando em um lugar de grande importância.
Levando isso em consideração, o seguinte trabalho tem como objetivo analisar três
principais canções no musical: “I Dreamed A Dream”, “Stars” e “On My Own” e como
cada um, através da letra, fotografia e melodia realizam a narração da história.
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DESENVOLVIMENTO

I DREAMED A DREAM

Antes de analisarmos a canção “I Dreamed a Dream”, entendamos que é


Fantine, a personagem que canta o solo. Após receber uma ajuda financeira de um
bispo, Jean Valjean, decidido a mudar de vida, constrói uma fabrica em uma vila e
se torna prefeito. Uma das funcionárias da fábrica é Fantine, uma jovem,
abandonada pelo marido e pai de sua filha, que a moça mantém escondida com um
casal que cuida da criança em troca de dinheiro. Em um dia, as outras trabalhadoras
descobrem que Fantine é mãe solteira e a acusam de ser uma prostituta. Mesmo
tentando se defender, a jovem é mandada embora e, para poder sustentar a filha,
acaba parando nas docas, onde meretrizes trabalhavam e as pessoas vendiam
coisas para ganhar alguns trocados. Para poder ajudar a filha, Fantine chega a
vender um cordão com a foto da filha, os cabelos e dois dentes, chegando, ao fim, a
se tornar uma prostituta. A música “I Dreamed a Dream” é cantada então.

Toda a cena da canção é gravada em plano sequência, ou seja, sem cortes


do início ao fim. Ao escolher essa opção de filmagem, o diretor traz o espectador
para o tempo do filme, tornando a história contada mais real e próxima. Nesta cena,
a personagem está em primeiro plano, evidenciando suas roubas rasgadas e corpo
magro. A personagem também passa boa parte da cena nos cantos da tela,
representando não só a ideia de ela ser marginalizada, mas também como sua
solidão e insuficiência. As cores da cena são mortas e escuras, como sujeira, alem
do olhar sem vida da personagem. Essa é uma das cenas mais simples porém a
mais tocante e intensa, pois vemos a dor e sofrimento da personagem de forma
explicita.

Já analisando a letra, há constantes momentos que falam sobre esperança e


outros sobre tristeza. A música narra, de forma lírica, o relacionamento de Fantine
com seu amado e como o fato de ter sido abandonada e deixada sozinha para
cuidar da filha a deixou sem esperanças e em estado de aporia. Além dos nuances
na letra, a interpretação também ajuda a narrar essa trajetória, já que em alguns
momentos é usada uma voz mais melodiosa e suave e em outros, uma voz rasgada
e distorcida como alguém que precisa por força para cantar, como falar algo
“entalado na garganta”.
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STARS

“Stars” é o primeiro solo do Inspetor Javert que não só representa a lei


humana, mas também com a divina. Ao descobrir que o homem que procurou por
anos, Jean Valjean, é o prefeito de uma cidade, Javert tenta prende-lo, porém
Valjean escapa. Após perder de vista seu inimigo, Javert canta essa música.

Algo interessante que aparece de primeira vista, é a relação da letra cantada


e o local da cena. Na música, Javert fala sobre o ato de cair e essa cena se passa
em uma sacada alta onde o personagem anda na beirada. Ao final do musical, a
morte do personagem irá ocorrer no mesmo lugar, se suicidando caindo dessa
sacada. A todo o momento, a letra relaciona o fato de cair (em inglês to fall) a
Lúcifer, o anjo caído (em inglês, the fallen), o comparando com Valjean. O suicídio
de Javert ao final o coloca na mesma posição de Lúcifer como “o caído”,
principalmente por Javert ser bastante religioso.

A letra fala sobre a presença de um fugitivo (Jean Valjean) e o dever de


Javert de encontrá-lo. O sujeito da canção coloca o fugitivo como alguém que
conhece apenas o caminho da escuridão e seria Javert quem deveria “derrotá-lo”.
Aqui, as estrelas são uma alegoria para a ordem e vigilância que representa o dever
do personagem. Há a relação entre o dever e o divino. No trecho “E se vocês caem
como Lúcifer caiu/Vocês queimam em chama!” vemos a referência a Lúcifer, o
caído, que será o seu próprio destino no final.

Ao final da música, Javert faz um juramento sob as estrelas de encontrar o


fugitivo e sua tarefa é comparada a um compromisso ou dever divino. Outros
símbolos na cena mostram isso também, como a grande águia que aparece atrás de
Javert, os planos de câmera que mostram o personagem de baixo para cima, o seu
tamanho comparado com o de uma catedral.

ON MY OWN

On My Own é cantada pela personagem Eponine. A garota é filha dos


Thénardiers, um casal de trapaceiros que aplicam golpes para conseguir sobreviver.
A jovem é apaixonada por Marius, um estudante rico que é um dos líderes da
revolução francesa. Porém, Marius se apaixona por Cossete, que antes era uma
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menina pobre que viveu a infância com Eponine e agora é uma dama da sociedade
após ter sido adotada por Jean Valjean.

Eponine canta essa música após perceber que jamais terá o amor de Marius.
O início da canção nos traz um plano geral que possibilita mostrar a ambientação da
personagem que se encontra sozinha. Embora haja espaço para que outro
personagem entre na tela, Eponine fica sozinha durante toda a música, mostrando a
solidão e seu destino de não viver com seu amor. A chuva deixa a solidão mais
intensa, já que a personagem canta na rua, em uma noite chuvosa.

Assim como na cena de Fantine, Eponine não é enquadrada no centro;


sempre fica aos cantos mostrando como a personagem é marginalizada e deixada
de canto, até mesmo por Marius, quem ela ajudou.

A letra da música começa expressando a ilusão que a personagem da canção


carrega em relação ao seu amado. A câmera também parece se movimentar
conforma a personagem canta: quando ela anda, a câmera anda, quando ela para, a
câmera para.
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CONCLUSÃO

O musical sung-through tem uma grande tarefa de usar as canções como


forma narrativa. Através de letras, melodias e movimentos de câmera, o musical tem
a missão de passar, de forma explicita ou não, a história a ser contada.

Analisando as três músicas aqui comentadas, vemos que o filme Les


Miserables consegue cumprir essa missão, utilizando de símbolos, arranjos e letras
para deixar mensagens. Usando muito do lirismo e da poesia, o musical consegue,
mesmo assim, contar a história e deixá-la de forma entendível para o público, sendo
assim um musical extremamente emocionante e tocante.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SERNI, Nicole Mioni. Canções Cinematográficas: Análise dialógica do filme


musical Les Miserables. Tese (Doutorado em Linguística e Língua Portuguesa),
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Araraquara, 2018.

LES Miserables. Direção de Tom Hooper. Estados Unidos: Universal Studios, 2012.

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