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THYMELI ESCOLA DE TEATRO, MÚSICA E DANÇA

O USO DA CENOGRAFIA PARA A CRIAÇÃO DO FANTÁSTICO NO


FILME “O MÁGICO DE OZ”

Adailton dos Santos Junior


5N
Curso Técnico em Teatro Musical
Professora Mestre Fernanda Camargo

Abril de 2020
INTRODUÇÃO
O gênero musical é extremamente marcante tendo diversas obras que são
eternizadas em nossa mente. Algumas pessoas podem até não se impressionar
muito com o gênero, mas existem cenas e momentos que marcam para sempre,
como o sapateado de Gene Kelly em Cantando na Chuva, ou a música I Dreamed a
Dream de Les Miserables interpretada por Anne Hathaway. Porém, mesmo não
gostando de musicais, todos conhecem a cena, eternizada por Judy Garland, do
grande filme Mágico De Oz, onde a pequena Dorothy canta a música Somewhere
Over The Rainbown

Na história, Dorothy é uma garota do campo que vive com seus tios em uma
pacata fazenda no Kansas, Estados Unidos. Quando um ciclone surge na cidade,
Dorothy, junto de seu cãozinho Totó, é levada para uma terra mágica e distante
chamada de Oz. Com a ajuda de Glinda, a Bruxa Boa do Norte, a garota descobre
que a única forma de voltar para casa é pedindo para o grande Mágico de Oz que,
com sua magia, pode levá-la de volta ao lar. Seguindo pela estrada de tijolos
amarelos, Dorothy irá passar por grandes aventuras e conhecer novos amigos, além
de ter que fugir das garras da Bruxa Má do Oeste.

O filme se consagrou e depois de 80 anos de seu lançamento, continua


sendo uma das maiores obras do cinema. O filme é cheio de efeitos visuais para a
composição do mundo de Oz. O seguinte trabalho tem como objetivo analisar como
os elementos cenográficos auxiliam na criação do mundo fantástico no início do
filme.
DESENVOLVIMENTO
Temos como cenografia todo elemento visual contido na construção da arte
cênica. Nesse termo se enquadra desde cenário, figurinos à adereços e
movimentações realizadas pelos atores em cena.

Para falarmos sobre a construção do fantástico na cenografia do início da


obra, deve-se levar dois fatos em consideração. O primeiro é que o filme é a
adaptação de um livro, um conto, de 1900 escrito por Frank Baum, por tanto, a
proposta é de trazer o fantástico presente no imaginário infantil, público alvo da obra
literária, para as telas. Seguindo a lógica do livro e seu subtexto, o segundo fato é
que, assim como Alice no livro Alice no País das Maravilhas, toda a permanência de
Dorothy em Oz não passou de um sonho, fato esse confirmado quando vemos que
os personagens de Oz se assemelham muito aos moradores do Kansas, todos
esses criados e personificados pela mente de Dorothy que, como cantado no início,
desejava conhecer algo além do arco-íris.

Tratando-se de uma leitura de um sonho, o filme utiliza em suas cenas um


conjunto de elementos cenográficos que trabalham na intenção de alcançar o íntimo
do espectador produzindo significados através das musicas, cenários, cores,
figurinos e efeitos especiais.

Um desses efeitos que nos é apresentado é a transição. O Kansas, quando


representado na primeira e última parte do filme, aparece como um mundo sem cor,
quase que como um filtro sépia e quando Dorothy chega em Oz tudo se transforma
e ganha cores vibrantes. Há uma brusca transição aqui colocada e com grande
significado já que o Kansas, pela paleta de cores monocromática escolhida,
aparenta ser um lugar monótono e sem graça e, quando Oz é apresentada, nos faz
sentir mais afetividade pois a composição cenográfica quebra a atmosfera que nos
estava sendo apresentada, trazendo um mundo com vida e cor.

Outro elemento cenográfico importante é o figurino. O figurino consiste em


todo vestuário que o personagem utiliza, desde as roupas aos acessórios, calçados.
Ele é responsável por dar as características do personagem como o tempo, a classe
social, trabalho, entre outras. Analisemos os figurinos do primeiro ato do filme que se
passa no Kansas.
Os figurinos dos tios de Dorothy e dos moradores da cidade são
extremamente simples e referentes ao campo, lugar onde passa o início da história.
Os figurinos dos tios de Dorothy ainda nos mostram a situação social da família que
é bem simples, enquanto a da Senhora Gulch que é atacada por Totó, usa uma
roupa mais fina para a época e local, mostrando uma influência sob o lugar.

Quando mudamos para o mundo Oz, as coisas começam a ficar diferentes.


Os figurinos coloridos, de diversas formas, nos indicam uma magia que vive naquele
lugar e também um desconhecido, já que em toda a trama, até então, as cores não
tinham sido apresentadas. Quando Glinda aparece, vemos que ela tem uma certa
influência por usar uma coroa e uma espécie de cetro. A textura da sua roupa
também passa a ideia de leveza e calma. Já quando a Bruxa Má do Oeste aparece,
vemos o preto e o verde na paleta do figurino, indicando perigo já que a cor preta,
principalmente, não aparece em abundância no cenário. A roupa toda preta também
da um destaque para a personagem, nos deixando em alerta e mostrando o típico
arquétipo das bruxas dos contos de fada. Um adendo significativo é que a atriz que
interpreta a Bruxa Má é a mesma que interpreta a Sra. Gulch no começo do filme,
dando uma leve pista de que aquele mundo é uma produção da mente de Dorothy.

Logo é revelado que a Bruxa deseja os sapatos de rubis de sua irmã, a Bruxa
Má do Leste, que morreu quando a casa de Dorothy aterrissou em cima dela. Glinda
impede que a Bruxa pegue os sapatos os colocando nos pés de Dorothy. Os
sapatos de rubi são um elemento cenográfico que simboliza a proteção. Levando em
consideração uma metáfora mais psicológica, eles protegem a nossa base, ou seja,
os nossos pés. Os pés podem significar diversas coisas, como a mobilidade e
liberdade (que era o que Dorothy desejava no início do filme). Em outras palavras,
são eles a ferramenta para que ela tivesse êxito em sua caminhada para a Cidade
das Esmeraldas para pedir ao mágico que a levasse de volta ao Kansas.
CONCLUSÃO

A cenografia é um dos elementos mais importantes para a construção das


artes cênicas. Ela é responsável por nos dar, de forma implícita ou não, informações
importantes para a construção da narrativa e entendimento dela. Ao optar pelo uso
de elementos cenográficos, estes devem ornar entre si e gerar entendimento para o
público, construindo o mundo proposto pela história.

O Mágico de Oz nos apresenta dois mundos diferentes: O Kansas e Oz.


Enquanto o Kansas é mostrado com um tom sépia monocromático, antigo e
entediante, Oz alimenta a fantasia e a imaginação nos entregando diversas formas,
cores, roupas, texturas e personagens que avivam a fantasia que todos, incluindo
adultos, no fundo adoram.

A cenografia nesse filme é um elemento chave para essa construção, pois ela
nos ajuda a entender o novo mundo desbravado por Dorothy e seus amigos e
consegue construir uma fantasia bastante necessária para a história, já que, em um
mundo fantástico que não é real, tudo pode acontecer. Esse fator nos coloca em um
estado de aventura, vivenciando uma história clássica de uma forma marcante e
interativa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADE, Patricia De. A Mise-En-Scène em O Mágico De Oz (1939): Entre o


Musical e a Fantasia. Dissertação (Mestrado), Universidade Tuiuti Do Paraná,
Curitiba, 2019.

COSTA, Francisco Araujo da. O figurino como elemento essencial da narrativa.


Seções do imaginário, n° 08, Porto Alegre, 2002.

URSSI, Nelson José. A Linguagem Cenográfica. Dissertação (Mestrado em Artes)


– USP. São Paulo, 2006.

CHIOVATTO, Ana Carolina. O Mágico De Oz: A Construção Do Fantástico Nas


Linguagens Verbal E Audiovisual. Colóquio de Estudos Linguísticos e Literários,
Universidade Estadual de Maringá, Paraná, 2014

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