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Universidade Federal do Rio de Janeiro

CLA – Centro de Letras e Artes

EBA – Escola de Belas Artes

BAT – Departamento de Artes Teatrais

Artes Cênicas – Cenografia

Disciplina: Cenografia V

Professor: Ronald Teixeira da Cunha

Aluna: Marcelle Lins Teixeira – DRE 119133617

A direção de arte em Moonrise Kingdom

Indicado ao Oscar de melhor roteiro original, Moonrise Kingdom foi lançado em


2012 e foi dirigido por Wes Anderson. O filme se passa no ano de 1965 em uma pequena
ilha localizada na costa da Nova Inglaterra e conta a história de dois pré-adolescentes, de
doze anos, Sam (Jared Gilman) e Suzy (Kara Hayward), que se sentem deslocados em
meio às pessoas com quem convivem. Após se conhecerem em uma peça teatral na qual
Suzy atuava, eles passam a trocar cartas regularmente. Um dia, resolvem deixar tudo para
trás e fugir juntos. O que não esperavam era que os pais de Suzy (Bill Murray e Frances
McDormand), o capitão Sharp (Bruce Willis) e o escoteiro-chefe Ward (Edward Norton)
fizessem todo o possível para encontrá-los.

Moonrise Kingdom é uma fábula sobre o primeiro amor, Sam e Suzy são dois
personagens que se apaixonam no encontro de suas solidões. Traz no conceito central da
história a perda da inocência de dois pré-adolescentes que veem o mundo de um jeito
peculiar e que ousam tentar serem felizes em um universo de seres tristes e melancólicos.
O responsável pela direção de arte de Moonrise Kingdom é Gerald Sullivan, que por esse
trabalho, foi indicado em 2013 ao OFTA Film Award na categoria Best Production
Design e no ano de 2015 venceu o ADG Excellence in Production Design Awards com o
filme O Grande Hotel Budapeste, também do diretor Wes Anderson.
Quando
assistimos ao filme pela
primeira vez, de cara já
se nota como a escolha
dos objetos cênicos
foram feitas de forma
minuciosa. Como
Figura 1 – cena retirada do filme, casa do capitão Sharp podemos ver na cena da
casa do capitão Sharp,
por se passar nos anos
60, toda a cenografia
permeia a época, assim
como no cenário da
casa dos Billingsley
que são os pais
adotivos de Sam.
Figura 2 – cena retirada do filme, casa dos Billingsley

Além disso, podemos notar a importância


do uso da cor no filme que acompanha o
tom amarelado, tanto nos objetos quanto
na própria imagem em si, que além de
possuir a função temporal, indicativo de
que a história se passa em décadas
passadas, também envolve a narrativa em
um tom reconfortante e ameno. Essa cor é
utilizada pelo diretor como um filtro
posicionado em frente às lentes da
câmera, criando assim uma mesma
camada de cor em todas as cenas. O
próprio cartaz do filme já traz o
espectador para dentro desse universo do
filme através das cores. De um lado temos Figura 3 – cartaz
Suzy e sua família em tons avermelhados assim como em seu vestido. Essa cor escolhida
para ela é um indicativo de poder, uma cor forte para uma personalidade forte. Já Sam,
que pertence ao clube de escoteiros Caqui, tem suas cores ligadas a natureza: tons de
caqui, verde e amarelos.

Podemos observar como as


cores, os tons, saturações e
quantidade de luz são trabalhados ao
longo do filme. Vemos que no início
do longa temos cores vivas, sol
brilhando e tons
predominantemente quentes e
ligadas a cor amarela. Num
momento seguinte, com a história
mais avançada, temos a segunda
tentativa de fuga de Sam e Suzy em
clima mais hostil e por sua vez a
chegada da tempestade na ilha do
dia 05 de setembro, o que dá lugar
as cores cinza do céu, azul escuro,
verde escuro da paisagem e marrons
mais fechados. Na terceira etapa do
Figura 4 – cenas retiradas do filme
filme, onde ocorre a tempestade,
temos uma paleta quase que monocromática com o azul escuro do céu, às vezes iluminado
pelos raios do temporal e o preto das silhuetas dos personagens. Já no fim, com o desfecho
da história e resoluções dos conflitos, voltamos as cores inicias, trazendo novamente o
sol e tons amarelados, marcando uma nova etapa na vida dos protagonistas. Dessa forma,
podemos notar como as cores presentes no filme auxiliam na construção da narrativa e
trazem significação em cada detalhe, seja no figurino dos personagens ou nos objetos de
cena que aparecem.

Podemos perceber um contraste muito nítido


entre os protagonistas em relação aos adultos do filme
que parecem todos um tanto quanto perdidos,
fracassados e sem saber o que fazer. Eles trazem sempre
cores cansadas, tons pastéis ou preto e branco que
Figura 5 – cena retirada do filme
contrastam com o vermelho de Suzy. Já os escoteiros do acampamento de Sam estão
todos em uniformes cáqui, menos ele, que é verde, assim como o par de brincos que Sam
faz para Suzy enquanto estão na praia. O amadurecimento de Sam ao longo do filme, a
juventude e a precocidade do amor dos dois é representada através dessa metáfora das
frutas verdes que ainda não amadureceram.

As analogias e questões levantadas no filme são inúmeras e ele é permeado por


temáticas de amadurecimento, afetividade, coragem,
dedicação e amor. Os objetos carregam consigo
simbologias, como na cena em que os protagonistas
estão na praia e Sam fura as orelhas de Suzy, isso
serve como uma metáfora para a perda da inocência,
logo em seguida eles começam a dançar, se divertir e
descobrir sensações que nunca tiveram antes. Figura 6 – cena retirada do filme

Figura 7 – cena retirada do filme

A direção de arte aposta nas cores dos anos 60 para embalar a história em um
clima aconchegante, que exprime a
jovialidade e a aura das décadas
passadas. Não somente pelo figurino e
objetos de cena que podemos perceber
que a história pertence a outra época,
mas também pela escolha da paleta de
cores que trouxe consigo
características e significados

Figura 8 – cena retirada do filme @colorpalette.cinema determinantes para o enredo.


Referências

SCHWENDLER, Bruna Luíza. As cores e o cinema: uma análise do filme Moonrise


Kingdom (2012), de Wes Anderson, 2015. Disponível em:
<https://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/122682>. Acesso em: 08 jul. 2023.

ÚLTIMA edição do CineCafé no MIS traz o filme Moonrise Kingdom. Fundação de


cultura de Mato Grosso Do Sul, 2016. Disponível em:
<http://www.fundacaodecultura.ms.gov.br/ultima-edicao-do-cinecafe-no-mis-traz-o-
filme-moonrise-kingdom/>. Acesso em: 08 jul. 2023.

ALMEIDA, Raquel. Na Mise-en-Scène / “A Direção de Arte em ‘Moonrise Kingdom'”.


ZINT, 2018. Disponível em: < https://zint.online/coluna/na-mise-en-scene/moonrise-
kingdom/>. Acesso em: 08 jul. 2023.

OLIVEIRA, Daniel. `Moonrise Kingdom´ é fábula melancólica sobre primeiro amor. O


Tempo, 2013. Disponível em:
<https://www.otempo.com.br/entretenimento/magazine/moonrise-kingdom-e-fabula-
melancolica-sobre-primeiro-amor-1.367564>. Acesso em: 08 jul. 2023.

MOONRISE Kingdom. WikipediA, The Free Encyclopedia, 2023. Disponível em:


<https://en.wikipedia.org/wiki/Moonrise_Kingdom>. Acesso em: 08 jul. 2023.

GERALD Sullivan. IMDb. Disponível em:


<https://www.imdb.com/name/nm0838082/?ref_=nmawd_ov>. Acesso em: 10 jul. 2023.

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