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1

Introdução

Escoamentos multifásicos ocorrem quando uma mistura de duas ou mais


fases (sólido, líquido ou gás), as quais não se encontram totalmente diluídas,
escoam simultaneamente numa dada geometria.
Na indústria do petróleo, a produção de óleo e gás natural envolve o
transporte de fluidos (provenientes do reservatório) nas fases líquida (óleo e água)
e gasosa – eventualmente com grãos de areia dispersos – até a unidade de
processamento onde será realizada a separação das fases (Fig. 1.1). Nos últimos
anos, as operações de produção offshore vêm se expandindo para profundidades
cada vez maiores, tornando os custos associados ainda mais altos e fazendo-se
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imprescindíveis estudos detalhados de viabilização e otimização dos


equipamentos e processos relacionados. Convém ressaltar que, no Brasil, cerca de
85% da produção de óleo bruto advém de campos de petróleo offshore, situados
em sua maioria na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro.

Figura 1.1– Plataforma semi-submersível situada na Bacia de Campos.

A importância da previsão de escoamentos multifásicos em tubulações de


petróleo é notável e ao mesmo tempo uma tarefa extremamente complicada,
especialmente devido à complexa interação entre as diversas fases escoando. A
descrição rigorosa do fenômeno demanda esforços tão grandes para a solução dos
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modelos matemáticos, que alternativas respeitando um compromisso entre


acurácia e rapidez são normalmente procuradas.
Neste contexto, de forma a compreender os mecanismos fundamentais
governantes, muitas vezes é suficiente considerar apenas duas fases escoando; i.e.,
apenas líquido e gás. Convém ressaltar, no entanto, que em situações onde há uma
“produção” simultânea de água, por exemplo, óleo e água não constituirão uma
mesma fase líquida na mistura. Neste caso, esta simplificação não se justificaria.
As fases podem se arranjar em diversas configurações na tubulação, as quais
influenciarão diretamente as características do escoamento associado. Inúmeros
estudos têm sido realizados ao longo dos anos para mapear os regimes possíveis
de acordo com as propriedades dos fluidos, geometria do escoamento e condições
de operação. Esquemas contendo o arranjo das fases em cada padrão de
escoamento existente são mostrados na Fig. 1.2. No caso do fluxo horizontal, os
padrões encontrados são: bolhas de gás dispersas no líquido (“dispersed bubble
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flow” ou “bubbly flow”), bolhas alongadas (“elongated bubble flow”),


estratificado e estratificado ondulado (“stratified flow” e “wavy-stratified flow”),
golfadas (“slug flow”), e anular (“annular flow”). Para o fluxo vertical, há ainda
o padrão caótico (“churn flow”), mas não ocorre o regime estratificado.

estratificado

estratificado
ondulado

bolhas
alongadas

golfadas

anular

bolhas
dispersas

bolhas golfadas caótico anular

Figura 1.2 – Diagramas esquemáticos dos padrões de escoamento para os fluxos


horizontal e vertical.

Dentre os diversos padrões de escoamento bifásico possíveis, o escoamento


em regime de golfadas se destaca por ser encontrado em diversas aplicações de
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engenharia, como por exemplo o transporte de hidrocarbonetos em tubulações e o


escoamento de líquido-vapor em usinas de geração de energia. Além de ser
bastante comum, ocorrendo para uma grande variedade de condições, altas perdas
de carga estão normalmente associadas a este regime. Ainda, ele possui um caráter
intermitente, o qual lhe confere altíssima complexidade.
O regime de golfadas caracteriza-se pelo escoamento de pacotes de líquido
separados por grandes bolhas de gás na tubulação (Fig. 1.3). O que determina se a
golfada está livre (regime de bolhas alongadas) ou não de pequenas bolhas de gás
dispersas ao longo de seu corpo é um balanço entre as forças turbulentas, que
tendem a quebrar as bolhas maiores, e as forças de empuxo e tensão superficial, as
quais controlam a aglomeração e coalescência destas pequenas bolhas (Barnea e
Brauner, 1985).
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Figura 1.3 – Ilustração do regime de golfada.

O desenvolvimento do regime de golfadas se dá a partir do escoamento


estratificado em decorrência de dois fatores: do crescimento natural de pequenas
perturbações presentes no escoamento (por um mecanismo de instabilidade de
Kelvin-Helmholtz, Fig. 1.4a) ou devido à acumulação de líquido causada por
mudanças de inclinação no perfil do duto (Fig. 1.4b). Conforme mencionado
anteriormente, o regime estratificado não ocorre em tubulações verticais. Neste
caso, o regime de golfadas se estabelece como resultado da coalescência das
bolhas de gás (Taitel e Dukler, 1976).
Sob o ponto de vista da operabilidade das plantas de processamento de óleo
e gás, a intermitência na produção pode ser um fator bastante problemático. Um
cenário em que isto pode ocorrer de forma crítica surge em poços cuja inclinação
da linha de produção é descendente, associado ainda à presença do regime
estratificado de escoamento. Nesta situação, pode haver um bloqueio do gás
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gás

líquido

(a) (b)
Figura 1.4 – Mecanismos de formação de golfadas: (a) instabilidades de Kelvin-
Helmholtz; (b) acumulação de líquido devido à mudança de inclinação.

devido ao acúmulo de líquido na base do riser. No entanto, gás continua a ser


produzido pelo poço, ocasionando um aumento de pressão a montante do
bloqueio, até o ponto em que há o deslocamento da golfada de líquido (Fig. 1.5).
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Este fenômeno é comumente chamado de “golfada severa”. Quando esta situação


ocorre, variações cíclicas nas vazões de líquido e gás serão observadas pelo
separador, podendo ser consideravelmente maiores do que a vazão média para a
qual ele está projetado. O processamento destas golfadas pode ser extremamente
complicado se o volume de líquido recebido for muito grande. Isto pode levar à
necessidade da adição de um outro equipamento denominado “slug catcher”, de
modo a evitar a inundação do separador e prevenir a entrada de líquido na
corrente gasosa, extremamente prejudicial ao compressor para onde o gás estará
sendo transportado. Assim, o comprimento das golfadas é um parâmetro crítico de
projeto do sistema de separação. Por outro lado, mesmo as golfadas de
comprimentos menores, se ocorrerem em freqüências suficientemente altas podem
causar o mesmo problema ao sistema.

Figura 1.5 – Longa golfada de líquido viajando através do riser : golfada severa.
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Além disso, as golfadas de líquido viajam a velocidades razoavelmente


altas. Portanto, longas golfadas carregam considerável quantidade de movimento.
Em trechos de curvatura acentuada, é possível que surjam forças de reação
anormalmente altas, devendo sua consideração ser importante no projeto
mecânico do sistema (Bonizzi, 2003).
Convém comentar que, obviamente, apesar de ser intrinsecamente
transiente, uma vez que é caracterizado pela alternância de bolhas de gás e pacotes
de líquido na tubulação, freqüentemente se classifica o regime de golfadas em
permanente ou transiente. Está-se, de fato, referindo às características médias dos
parâmetros das golfadas, as quais oscilam em torno de um valor constante. É de
crucial importância que se consiga prever não só o surgimento das golfadas em
tubulações, mas também o desenvolvimento deste regime “estatisticamente
permanente” e as suas principais características, como comprimento, freqüência e
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velocidade média golfadas.

1.1
Objetivo

O objetivo do presente trabalho consiste na modelagem e simulação de


escoamentos bifásicos em tubulações horizontais e levemente inclinadas
utilizando o modelo de dois fluidos, com a caracterização das golfadas de acordo
com comprimento, freqüência e velocidade de translação, para o regime
estatisticamente permanente.
Para alcançar este objetivo, utilizou-se como primeiro passo a
implementação de um código computacional baseado no Modelo de Dois Fluidos,
tomando como ponto de partida as rotinas desenvolvidas no trabalho de Ortega
Malca (2004). Neste trabalho, a captura da transição estratificado-golfadas foi
obtida com êxito, no entanto o regime estatisticamente permanente não foi
determinado. No presente trabalho, rotinas para o cálculo dos parâmetros
estatísticos das golfadas foram implementadas e a metodologia foi validada
através de comparações com as simulações realizadas por Issa e Kempf (2003) e
Bonizzi (2003), que também utilizaram o Modelo de Dois Fluidos, assim como
através de comparações com correlações experimentais obtidas da literatura.
Adicionalmente, como ferramenta de auxílio às simulações, desenvolveu-se um
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programa para determinar os mapas de padrões de escoamento em tubulações


horizontais e levemente inclinadas, baseado em estudos anteriores da literatura
(Taitel e Dukler, 1976; Barnea e Taitel, 1994).
A implementação de uma relação de fechamento para relacionar as pressões
de líquido e gás na interface foi realizada com o intuito de verificar se a
introdução de um salto de pressão na interface (devido à tensão superficial) pode
aumentar a região para a qual o Modelo de Dois Fluidos é bem-posto.
Finalmente, alguns casos em que a tubulação apresenta uma leve inclinação
com relação à posição horizontal são aqui analisados e comparados com
resultados do estudo experimental realizado por Al Safran et al. (2005).

1.2
Organização do Trabalho

O Capítulo 2 apresenta uma revisão da literatura disponível relativa à


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simulação do escoamento bifásico em dutos no regime de golfadas. A importância


do conhecimento dos mapas de padrões de escoamento é destacada. Além disso,
as diversas metodologias que utilizam o Modelo de Dois Fluidos são discutidas.
No Capítulo 3, encontra-se matematicamente descrito o Modelo de Dois
Fluidos e as relações de fechamento necessárias à solução de suas equações. O
detalhamento das técnicas numéricas aplicadas na discretização das equações
através do método dos volumes finitos, assim como o procedimento de solução
utilizado, é apresentado no Capítulo 4.
O Capítulo 5 é inteiramente dedicado à análise da hiperbolicidade do
modelo de dois fluidos. Uma análise teórica é realizada à cerca do caráter
matemático das equações e a influência do salto de pressão na interface é
discutida.
Os resultados das simulações realizadas são apresentados no Capítulo 6. A
influência do hold-up de líquido inicial é primeiramente avaliada. Em seguida, os
testes para o caso horizontal, sem e com o salto de pressão na interface são
mostrados. Por último, uma comparação dos casos para tubulações levemente
inclinadas com um estudo experimental da literatura é apresentada.
2
Revisão Bibliográfica

Como mencionado na Introdução, existe uma variedade de padrões de


escoamento possíveis quando duas fases escoam ao longo de uma tubulação. Estes
padrões dependem de características do escoamento e a identificação dos mesmos é
crucial para um adequado modelamento matemático. Portanto, a revisão bibliográfica
apresentada neste capítulo é subdividida em duas partes. Na primeira apresenta-se
uma revisão relacionada à identificação dos padrões de escoamento, seguida da
revisão dedicada exclusivamente ao padrão de golfadas.

2.1
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Padrões de Escoamento

Uma das maiores dificuldades na modelagem do escoamento bifásico é a


determinação da geometria da interface, a qual não é conhecida a priori. Quando há
apenas uma fase escoando, a geometria é conhecida (duto circular, por exemplo), e
parâmetros de interesse como a perda de carga, distribuição de velocidades, entre
outros, são determinados naturalmente. De fato, em escoamentos bifásicos num duto,
por exemplo, a distribuição das fases deve fazer parte da solução, como conseqüência
da evolução do campo de escoamento. Não se pode determinar de antemão, por
exemplo, se as bolhas irão se distribuir através do líquido como fase dispersa, ou se
irão coalescer de tal forma a escoar no centro do tubo, enquanto a fase líquida forma
um filme sobre a parede (este arranjo determina o escoamento anular). Assim,
enquanto o padrão de escoamento é desconhecido, não há como proceder na resolução
do problema.
A necessidade de identificação dos padrões de escoamento está associada, em
primeiro lugar, à seleção adequada das relações de fechamento para os termos de
interação interfacial. Por exemplo, espera-se que o atrito interfacial seja bastante
diferente para o regime de bolhas dispersas e para o escoamento estratificado. A
interação entre as fases é que determinará a persistência ou não de um padrão de
escoamento, e para que padrão a transição irá ocorrer.
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No uso de modelos fenomenológicos para descrição de escoamentos


multifásicos, um mapeamento dos padrões de escoamento também possui um papel
primordial. Conforme definido por Hetsroni (2002), entende-se aqui por modelos
fenomenológicos aqueles que buscam uma descrição mais precisa para determinado
tipo de padrão específico. O uso do Modelo de Dois Fluidos, por exemplo, pressupõe
um conjunto de hipóteses básicas com relação ao processo de média das equações de
conservação (Ishii, 1975). Uma delas é assumir uma única velocidade para cada fase,
o que é claramente irreal. Um exemplo é o escoamento anular, onde as gotículas
presentes na fase gasosa viajam a velocidades muito maiores do que o filme de
líquido. Portanto, um possível modelo fenomenológico para o escoamento anular
buscaria também resolver equações de conservação para as gotículas dispersas no gás
(Hetsroni, 2002). No caso do escoamento em golfadas, uma tentativa de aumentar o
grau de sofisticação da descrição poderia considerar a presença de bolhas de gás na
golfada de líquido (Bonizzi, 2003). Mesmo no uso de modelos fenomenológicos para
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a solução de escoamentos bifásicos em um padrão específico, é preciso determinar as


condições iniciais e de contorno plausíveis para que estes aconteçam; e os mapas de
padrão devem também formar uma base importante para estes tipos de modelo.
Resultados não realistas devem ser esperados se, por exemplo, condições que
levariam a um escoamento em golfadas são impostas a um modelo para prever o
escoamento anular.
Até a década de 70, a abordagem usualmente utilizada para a determinação dos
mapas era a de coletar dados experimentais para um conjunto de vazões de líquido e
gás e suas propriedades observando, visualmente, através de uma janela transparente
na seção de teste, os diversos padrões que aconteciam (Fig. 2.1). A partir daí,
realizava-se uma extensiva busca por uma maneira de mapear os dados através de um
gráfico bidimensional e localizar as fronteiras de transição entre os diversos regimes.
Isto requeria a escolha de um sistema de coordenadas a ser utilizado, sem qualquer
base teórica até então. Os resultados dependiam fortemente dos dados específicos
usados para preparar os mapas, sendo muito mais uma forma de representação das
medidas experimentais do que uma correlação em si, não podendo ser estendidos com
confiabilidade para outras geometrias (diâmetro ou inclinação da tubulação),
propriedades dos fluidos ou condições de operação.
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Figura 2.1 – Janela típica de visualização experimental de padrões de escoamento:


padrão em golfadas.

O primeiro mapa de padrões de escoamento foi proposto por Baker (1954). Este
mapa é apresentado na Fig. 2.2. Nota-se no referido gráfico que a abscissa é
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representada por um parâmetro adimensional, enquanto que a ordenada é descrita por


um parâmetro dimensional. Apesar da intenção do autor de generalizar o mapa através
da utilização dos parâmetros λ e ψ, os quais incorporam variações das propriedades
relativas às propriedades da água nas condições atmosféricas, o mapa apresentado não
pode ser generalizado. No entanto, este foi o primeiro trabalho reconhecendo a
importância do conhecimento dos padrões de escoamento para o cálculo da perda de
carga, fração de vazio, entre outros parâmetros.

0 .5
⎡ρ ρ ⎤
λ=⎢ G L ⎥
⎣ ρ A ρW ⎦

1/ 3
σ ⎡µ ⎛ρ
2⎤

Ψ = L ⎢ L ⎜⎜ W ⎟⎟ ⎥
σ W ⎢ µW ⎝ ρ L ⎠ ⎥
⎣ ⎦

Figura 2.2 – Mapa dos padrões de escoamento proposto por Baker (1954).

Diversos outros mapas foram sugeridos no decorrer dos anos seguintes, porém
ainda puramente baseados em observações experimentais. Seguem alguns exemplos:
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Kosterin (1949), White e Huntington (1955), Govier e Omer (1962) e Mandhane et al.
(1974). Uma análise crítica destes trabalhos pode ser encontrada em Taitel e Dukler
(1976) .
A disponibilidade crescente de dados experimentais mostrava claramente a
dificuldade em se generalizar as correlações disponíveis, gerando grande necessidade
pelo desenvolvimento de modelos teóricos capazes de prever as faixas em que os
regimes de escoamento aconteciam.
Taitel e Dukler (1976) desenvolveram um modelo teórico mecanicista capaz de
prever as transições entre os diversos regimes de escoamento, para tubulações
horizontais e levemente inclinadas, estabelecendo grupos adimensionais que
representassem razões entre as forças mais importantes governando as transições. As
fronteiras entre os padrões eram então previstas analiticamente, mostrando-se ainda
que, para cada ângulo de inclinação da tubulação, eram necessários apenas dois
parâmetros adimensionais para descrever a transição entre dois padrões quaisquer.
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Desta forma, foi construído um mapa generalizado baseado unicamente nos


mecanismos físicos de cada transição, sem qualquer dado experimental por trás. A
única base empírica do modelo estava inserida no cálculo dos fatores de atrito entre
cada fase e a parede, e do fator de atrito interfacial.
O trabalho de Taitel e Dukler (1976) não só apresentou uma boa concordância
com dados experimentais para tubulações horizontais (Mandhane et al., 1974), como
mostrou ser capaz de prever os efeitos de pequenas mudanças no diâmetro e na
inclinação do tubo, além das propriedades dos fluidos, na transição entre os regimes.
Um trabalho experimental realizado por Barnea et al. (1979) mostrou que a
teoria proposta por Taitel e Dukler (1976) era capaz de prever as transições com
razoável concordância para a faixa de inclinações da tubulação entre ± 10°.
Qualitativamente, as tendências são bem previstas para inclinações de até ± 30°,
exceto em inclinações descendentes, para as quais a teoria não previa corretamente a
transição entre os padrões estratificado e estratificado ondulado.
Diversos trabalhos decorreram da metodologia proposta por Taitel e Dukler
(1976), alcançando-se, nos anos seguintes, progresso substancial nesta área.
Entretanto, a maioria dos modelos apresentados ainda se restringia a uma faixa
específica de inclinações da tubulação, dando apenas uma visão parcial dos
mecanismos de transição. Seguem alguns exemplos de trabalhos desenvolvidos:
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i) Kadambi (1982) e Lin e Hanratty (1986), para tubulações horizontais e


levemente inclinadas;
ii) Taitel et al. (1980) e Mishima e Ishii (1984), para escoamentos ascendentes
em tubulações verticais;
iii) Barnea et al., para escoamentos descendentes em tubulações verticais
(1982a) e escoamentos inclinados; ascendentes (1982b) e descendentes
(1985).
Uma revisão dos trabalhos acima encontra-se em Barnea (1987). Estes modelos
incluem uma variedade de mecanismos que tentam explicar os fundamentos físicos
das transições, os quais, como já mencionado, diferem significativamente para
escoamentos horizontais e verticais. Desta forma, houve um considerável esforço na
tentativa de modificá-los de modo a incluir o efeito de pequenas inclinações a partir
destes casos extremos. A dificuldade surgia em determinar com segurança as faixas
de inclinação para as quais cada mecanismo de transição dominava. No estudo de
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Barnea (1987) é apresentado um modelo unificado capaz de prever o mapa de


transição entre regimes para toda a faixa de inclinações da tubulação, reunindo de
forma crítica e sistemática os mecanismos de transição propostos em trabalhos
anteriores. O mapa generalizado é apresentado na Fig. 2.3, onde cada transição é
descrita em termos de dois parâmetros adimensionais.

Figura 2.3 – Mapa generalizado apresentado por Barnea (1987).

O mapa generalizado pode ser transformado para a forma dimensional,


utilizando-se as velocidades superficiais das fases. Os dados são comparados com os
experimentos de Shoham (1962) para toda a faixa de inclinações (o sistema é
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ilustrado na Fig. 2.4). Por simplicidade, apenas os casos da tubulação na horizontal e


vertical são apresentados aqui (Fig. 2.5).

Figura 2.4 – Sistema considerado por Barnea (1987).


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Figura 2.5 – Comparação com os dados experimentais de Shoham (1962).

Conforme mencionado na seção 1, o padrão de golfadas ocorre com bastante


freqüência, não só para uma grande faixa de vazões de líquido e gás, mas para toda a
faixa de inclinações da tubulação. Isto pode ser observado diretamente nos mapas de
padrões de escoamento da Fig. 2.5, onde a região destacada em cinza representa as
combinações de vazão de líquido e gás para as quais o padrão de golfadas existe.
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2.2
Regime de Golfadas

O padrão de golfadas tem sido vastamente estudado ao longo dos anos, tanto
experimentalmente quanto numericamente. Correlações e observações experimentais
para as principais propriedades das golfadas são extremamente importantes para
validar os resultados obtidos numericamente. A seguir, a revisão bibliográfica
referente ao regime de golfadas está subdividida em duas seções: a primeira,
englobando os estudos experimentais mais importantes referentes à determinação dos
principais parâmetros das golfadas (comprimento, velocidade e freqüência); e a
segunda, envolvendo as principais metodologias numéricas utilizadas na previsão do
regime de golfadas em tubulações, com especial ênfase dada ao Modelo de Dois
Fluidos.

2.2.1
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Estudos Experimentais

O escoamento no regime de golfadas possui uma natureza sabidamente


estocástica, de modo que sua descrição é normalmente feita em termos dos valores
médios do comprimento, velocidade e freqüência das golfadas (Taitel, 1995).
Para tubulações horizontais, foi observado experimentalmente (Dukler e
Hubbard, 1975; Fabre e Liné, 1992) que o comprimento médio das golfadas é
dependente apenas do diâmetro da tubulação (e não das propriedades físicas dos
fluidos ou das velocidades de entrada), estando compreendido numa faixa de 15–40D.
Segundo Barnea e Taitel (1993), pode haver uma grande variância na distribuição dos
comprimentos das golfadas, sendo que o máximo comprimento pode atingir valores
até maiores do que 2 vezes o comprimento médio.
Diversos autores (Moissis e Griffith, 1962; Barnea e Brauner, 1985; Fagundes
Netto et al. 2001) estudaram a influência da interação entre duas bolhas alongadas
consecutivas no comprimento das golfadas. De uma maneira geral, foi observado que,
como resultado da esteira deixada pela bolha alongada à frente da golfada, a bolha
alongada atrás dela tende a se mover mais rápido, incorporando-a. Assim, para que
uma golfada persista na tubulação, é preciso que tenha um comprimento suficiente
(“separando” as duas bolhas consecutivas) para que a bolha de trás não seja afetada
pela da frente.
Revisão Bibliográfica___________________________________________________________________ 14

A velocidade de translação das golfadas é normalmente tomada como a


velocidade com a qual o “nariz” da bolha (ou, a cauda da golfada) viaja na tubulação.
Uma relação linear entre a velocidade de translação da golfada e a velocidade de
mistura (definida pela soma das velocidades superficiais de líquido e gás) foi proposta
por diversos autores (Nicklin, 1962; Gregory e Scott, 1969; Bendiksen, 1984). Cook e
Behnia (2000), propuseram uma relação entre as velocidades da frente e da cauda da
golfada, a qual depende apenas do comprimento adimensional da mesma. De acordo
com esta relação, a diferença entre a velocidade da cauda e da frente da golfada é
menor do que 5% para comprimentos maiores do que 5D, decaindo exponencialmente
com este parâmetro.
A freqüência das golfadas é definida como o número de golfadas que passam
por um determinado ponto fixo da tubulação, por intervalo de tempo. Correlações
para a freqüência média das golfadas foram propostas por diversos autores (Gregory e
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Scott, 1969; Heywood e Richardson, 1979; Tronconi, 1990). No entanto, são válidas
estritamente para posições axiais suficientemente longe da entrada da tubulação, de
modo que o regime já tenha se desenvolvido espacialmente (no trabalho de Gregory e
Scott, por exemplo, uma distância de 300D da entrada foi escolhida). Segundo
Tronconi (1990), dois fatores contribuem para que a freqüência das golfadas (longe da
região de entrada) seja menor do que a freqüência das ondas que surgem na interface
do escoamento estratificado. Primeiramente, apenas uma fração das ondas
efetivamente origina golfadas. Ainda, algumas das golfadas originadas são instáveis e
se dissipam, ou são absorvidas por outras cuja velocidade de translação é maior. Este
processo contribui para que as golfadas aumentem de comprimento e diminuam, por
conseguinte, a sua freqüência na tubulação. O autor especula que a freqüência de
geração de ondas seja aproximadamente o dobro da freqüência das golfadas para um
regime de golfadas em desenvolvimento. Para um regime de golfadas desenvolvido,
quando aproximadamente todas as ondas devem originar golfadas, a freqüência de
golfadas próximo à região da entrada deve ser o dobro daquela longe da entrada.
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2.2.2
Estudos Numéricos

Escoamentos bifásicos sempre envolvem algum movimento relativo entre as


fases, portanto, a descrição matemática mais exata do fenômeno deve ser feita em
função de dois campos de velocidade. Apesar disto, Modelos de Escorregamento
(“Drift-Flux Models”), os quais resolvem apenas uma equação de conservação de
quantidade de movimento para a mistura (além de duas equações de conservação de
massa; uma para a fase dispersa e outra para a mistura), também podem ser utilizados
na previsão do escoamento em regime de golfadas, conforme evidenciado em diversos
trabalhos na literatura (Henriot et al., 1997, Faille e Heintzé, 1999; Fjelde e Karlsen,
2002; Henriot et al., 2002). No entanto, quando as fases estão segregadas (como é o
caso do regime estratificado, ou do anular), estes modelos não possuem um
desempenho satisfatório. Assim, como o objetivo do trabalho envolve a previsão da
transição natural do regime estratificado para o regime de golfadas, foco será dado
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aqui aos trabalhos em que o Modelo de Dois Fluidos foi utilizado.


Desde a década de 70, o Modelo de Dois Fluidos (Ishii, 1975) tem sido bastante
utilizado na resolução de escoamentos bifásicos em tubulações. Inicialmente utilizado
pela indústria nuclear para a análise de transientes hidráulicos (em códigos como o
RELAP5, Ransom, 1983 e ATHENA, Richards et al., 1985), o Modelo de Dois Fluidos
foi introduzido apenas alguns anos depois na indústria do petróleo, sendo também
incorporado em diversos códigos comerciais como o OLGA (Bendiksen et al., 1991).
Na análise mecanicista de Taitel e Dukler (1976) para o escoamento
estratificado, apesar de terem sido considerados termos viscosos para avaliar a altura
de líquido em equilíbrio na seção transversal, os termos inerciais e de aceleração local
foram desprezados no Modelo de Dois Fluidos. O critério de instabilidade em si se
baseava numa argumentação em torno da equação de Bernoulli aplicada ao
escoamento do gás. O crescimento de uma onda solitária de amplitude finita era dado
quando a pressão de sucção gerada sobre esta (pelo efeito Bernoulli) prevalecesse em
relação ao efeito estabilizante da gravidade. Em diversas outras referências (Mishima
e Ishii, 1980; Lin e Hanratty, 1986; Andritsos e Hanratty., 1987; Barnea, 1991),
mostra-se que o modelo falha na previsão da região estável do escoamento
estratificado, principalmente quando efeitos viscosos da fase líquida são importantes,
e alguns destes trabalhos propõem fatores de correção de modo compensar esta falha.
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Um dos trabalhos mais importantes na investigação da transição a partir do


escoamento estratificado foi o desenvolvido por Barnea e Taitel (1994). Eles
realizaram análises de estabilidade linear e não-linear nas equações do Modelo de
Dois Fluidos em sua forma transiente e unidimensional, visando estabelecer um
critério de transição a partir do escoamento estratificado, de forma a solucionar
algumas discrepâncias que os critérios disponíveis ainda geravam. A estratégia
consiste em aplicar uma perturbação exponencial complexa e verificar sob que
circunstâncias pequenas perturbações aplicadas em relação aos valores de equilíbrio
crescem com o tempo, determinando a instabilidade da solução.
Os resultados da análise de Barnea e Taitel (1994) contemplavam os casos
viscosos e não-viscosos, sem a necessidade, a princípio, da inserção de fatores de
correção no critério. Como resultado da análise, definiu-se, para o critério de
transição, valores limite da velocidade relativa entre as fases, abaixo dos quais um
escoamento estável deve existir, e a partir dos quais uma transição do regime
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estratificado para o regime de golfadas, anular, ou simplesmente estratificado


ondulado deve ser esperado. O critério depende de velocidades críticas das ondas na
iminência dos escoamentos se tornarem instáveis, tanto para o caso viscoso como
não-viscoso. Porém, a expressão resultante se mostrou demasiadamente complicada,
por possuir diversos termos implicitamente relacionados às velocidades superficiais.
Visando simplificar o critério, os autores propõem a mesma modificação
sugerida por Taitel e Dukler (1976), os quais sugeriram a introdução de um fator de
correção para levar em consideração as ondas de amplitudes finitas, com o argumento
de ser capaz de modelar corretamente a influência da altura de líquido no critério de
transição. Segundo os autores, se o filme de líquido se aproxima do topo da tubulação,
a golfada deve se formar para qualquer velocidade relativa (na verdade, só haverá
líquido presente); por outro lado, quando o nível de líquido tende a zero, a velocidade
relativa necessária para formar a golfada tende a aumentar (na realidade, a velocidade
relativa tende a infinito). De fato, neste caso, seria impossível formar uma golfada,
uma vez que só haveria gás na tubulação. Surpreendentemente, o fator proposto
também incorpora corretamente os efeitos viscosos quando a viscosidade do líquido
situa-se próxima à da água (da ordem de 1 cP). No entanto, a variação do critério de
instabilidade com a viscosidade é desprezível, o que não concorda com dados
experimentais.
Revisão Bibliográfica___________________________________________________________________ 17

Barnea e Taitel (1994) apresentam ainda diferentes interpretações cabíveis às


análises de estabilidade viscosa e não-viscosa. O aparente paradoxo de que a análise
viscosa se aproxima da análise invíscida para viscosidades muito altas é explicado
através da comparação dos fatores de amplificação das perturbações em cada tipo de
análise. O fator de amplificação de uma perturbação é dado pela parte complexa de
freqüência obtida através da solução da equação de dispersão. Quando o fator de
amplificação for negativo, ocorrerá o crescimento exponencial no tempo da
perturbação imposta. Tanto para altas quanto para baixas viscosidades, os fatores de
amplificação dos dois tipos de análise se aproximam um do outro. No entanto, o ponto
onde o fator de amplificação muda de sinal (denominado “ponto de estabilidade
neutra”, uma vez que determina o ponto a partir do qual as perturbações não mais são
atenuadas, mas sim amplificadas) se afasta quando as viscosidades são baixas e se
aproxima quando são muito altas, quando os dois tipos de análise são comparados.
Por esta razão os critérios de estabilidade apresentados num típico mapa de padrões
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em termos das velocidades superficiais de líquido e gás, apresentam a discrepância


observada quando o efeito da viscosidade é analisado (Fig. 2.6).

Figura 2.6 – Mapas de padrão de escoamento obtidos a partir da análise viscosa


( ) e não-viscosa ( ----) de Barnea e Taitel (1994); e comparação com os dados
experimentais (x x x) de Shoham (1962).

De uma maneira geral, as curvas da análise viscosa e não-viscosa que


representam os critérios de estabilidade no mapa de padrões delimitam três regiões:
uma região estável segundo os dois critérios (abaixo da curva representando a análise
viscosa); outra estável segundo o critério não-viscoso, porém instável segundo o
critério viscoso (entre as curvas); e uma terceira região instável para ambos (acima da
curva representando a análise não-viscosa). Entretanto, para inclinações descendentes,
Revisão Bibliográfica___________________________________________________________________ 18

toda a região estável segundo a análise invíscida é instável segundo a análise viscosa.
Contrariamente aos resultados para o duto em inclinações ascendentes e na horizontal,
a curva representando o critério não-viscoso apresenta melhor concordância com os
dados experimentais. Este fato também é observado nos resultados da análise de
estabilidade não-linear realizada nas equações do modelo. Os aspectos comentados
acima encontram-se ilustrados na Fig. (2.6).
Na derivação do critério de estabilidade, os autores argumentam ainda que, para
perturbações de longos comprimentos de onda, o efeito da tensão superficial deve ser
muito pequeno, sendo o termo devido a esta influência desprezado no critério de
estabilidade. No entanto, nenhum argumento quantitativo é apresentado para justificar
esta escolha.
O Modelo de Dois Fluidos foi também recentemente utilizado para a previsão
da formação do regime de golfadas a partir do escoamento estratificado, através de
uma metodologia desenvolvida por Issa e Kempf (2003) denominada de “slug
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capturing” (ou “captura das golfadas”). A grande vantagem desta abordagem frente às
outras metodologias, como por exemplo, “slug tracking” (Bendiksen et al., 1991,
Nydal e Banerjee, 1996) e “empirical slug specification” (De Henau e Raithby, 1995)
doravante denominadas “acompanhamento das golfadas” e “especificação empírica
das golfadas”, respectivamente) é o fato de conseguir prever a transição e o
desenvolvimento do padrão de golfadas através do crescimento natural de
instabilidades inerentes ao sistema de equações sendo resolvido. Isto elimina a
necessidade da introdução de critérios de transição entre os padrões no modelo. As
golfadas se desenvolvem, crescem e podem coalescer ou se dissipar, a depender
unicamente da solução numérica do sistema de equações de conservação de massa e
de quantidade de movimento linear das fases. A única informação empírica requerida
é para as equações de fechamento envolvendo as forças viscosas interfaciais (líquido
– parede, gás – parede e líquido-gás). No entanto, para a previsão da formação e
subseqüente desenvolvimento das golfadas a partir do escoamento estratificado, é
preciso que o espaçamento da malha seja pequeno o suficiente para que capture
corretamente o crescimento das instabilidades presentes no escoamento. Isto tende a
desrespeitar o compromisso entre acurácia e rapidez, principalmente no que concerne
às simulações de dutos cuja extensão pode atingir quilômetros. Assim, em boa parte
das situações práticas de interesse, a resolução numérica inadequada exige que outros
Revisão Bibliográfica___________________________________________________________________ 19

critérios sejam usados para estabelecer o padrão local de escoamento, conforme feito
na maior parte dos códigos comerciais existentes (Issa e Kempf, 2003).
A filosofia de acompanhamento da golfada utiliza uma abordagem
lagrangeana, visando acompanhar a translação das golfadas individualmente.
Normalmente, assume-se que o regime de golfadas se desenvolveu segundo algum
critério, que usualmente é baseado no conceito de mapas de padrões de escoamento.
Subseqüentemente, monitora-se continuamente a frente e a cauda das golfadas ao
longo da tubulação, e os fluxos de massa e quantidade de movimento são alimentados
nas equações do Modelo de Dois Fluidos. Neste tipo de análise, algumas
características das golfadas são modeladas empiricamente. Este tipo de metodologia
encontra-se implementada no sofwtare comercial OLGA (Bendiksen et al., 1991), por
exemplo.
Um exemplo do uso da metodologia de “especificação empírica da golfada”
pode ser encontrado no trabalho de De Henau e Raithby (1995). Os autores
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desenvolveram uma formulação unidimensional baseada no modelo de dois fluidos,


utilizando um sub-modelo que fornece as equações constitutivas para cálculo da
interação interfacial entre líquido e gás, no qual uma configuração com base empírica
é assumida para o regime de golfadas (o comprimento da golfada, por exemplo é
arbitrado em 30 diâmetros). Os autores avaliam também a influência do termo de
massa virtual nas equações constitutivas. Algumas oscilações observadas nos
resultados sem a consideração deste efeito parecem ser amortecidas quando este passa
a ser considerado.
No que diz respeito à evolução da metodologia de captura das golfadas, Bonizzi
e Issa (2003) utilizaram um modelo combinado para considerar o efeito da presença
de bolhas na fase líquida (“aerated slug” ou “golfada aerada”), resolvendo duas
equações de conservação de massa e duas de quantidade de movimento linear para a
fase gasosa e para a mistura (a qual representa a golfada de líquido e as bolhas nela
dispersas). Os autores também estenderam a metodologia de captura das golfadas para
a previsão do regime de golfadas a partir do escoamento estratificado de óleo, água e
gás na tubulação (Modelo de Três Fluidos ou “three-fluid model”). A presença da
água pode levar a um padrão de emulsão para o escoamento da fase líquida, num
regime em que tanto a água quanto o óleo podem representar a fase dispersa. A
sofisticação do modelo requer a introdução de novas relações constitutivas para a
transição de regime estratificado para o regime de fases dispersas (líquido-líquido),
Revisão Bibliográfica___________________________________________________________________ 20

assim como o ponto de inversão de fases e viscosidade efetiva da mistura líquida. Nos
resultados do estudo, mostrou-se a existência de altas perdas de carga próximo ao
ponto de inversão de fases.
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3
Modelagem Matemática

De um modo geral, linhas de petróleo são formadas por tubulações que podem
se estender por quilômetros. Como conseqüência as maiores variações dos parâmetros
de escoamento se dão principalmente na direção axial, o que justificaria uma
abordagem unidimensional. Além disso, conforme apontado em diversas referências
(Lin e Hanratty, 1986; Taitel e Barnea, 1994; Issa, 2005), as características principais
do escoamento no regime de golfadas se desenvolvem a partir da dinâmica das
perturbações de longos comprimentos de onda, as quais são aproximadamente
unidimensionais (mesmo a geometria deste padrão sendo essencialmente
tridimensional). Por outro lado, os efeitos tridimensionais são determinantes para
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ondas de pequenos comprimentos de onda (Andritsos e Hanratty, 1986; Kuru et. al,
1995; Hervieu, E. e Seleghim Jr., P., 1999). Portanto, não é recomendável o uso desta
formulação na tentativa de se prever o regime estratificado ondulado (Bonizzi, 2003),
a não ser que outras relações constitutivas sejam incorporadas de modo a compensar
este fato.
Vale ainda enfatizar que a metodologia apresentada aqui (i.e., a metodologia de
“captura das golfadas”), a qual utiliza o Modelo de Dois Fluidos para prever a
transição natural do escoamento estratificado para o regime de golfadas, está restrita à
tubulações horizontais e levemente inclinadas. Isto se dá pelo fato de que, para
maiores inclinações da tubulação, e especialmente as inclinações ascendentes, outros
mecanismos tornam-se importantes na transição para golfadas (Barnea, 1987;
Bonizzi, 2003). Isto não significa, no entanto, que o modelo de dois fluidos não pode
ser utilizado para maiores inclinações da tubulação.
As equações para o Modelo de Dois Fluidos foram derivadas primeiramente por
Ishii (1975). O movimento das fases é descrito por um conjunto de equações de
conservação de massa e quantidade de movimento linear para cada uma delas (será
tratado apenas o caso isotérmico).
Os escoamentos bifásicos em tubulações são normalmente fenômenos
tridimensionais. No entanto, como mencionado acima, as aplicações práticas aqui
Modelagem Matemática _______________________________________________ 22

buscadas não exigem tamanho grau de detalhamento na descrição. Assim, uma


formulação unidimensional pode ser derivada através de um processo de média na
seção transversal. Seja ZK uma função relativa à fase K; então o seu valor médio na
seção vale:

∫Z
AK
K dA
ZK = (3.1)
∫ dA
AK

onde AK representa a área ocupada pela fase K.


O conjunto de equações em sua forma unidimensional e transiente, com as
hipóteses de que o escoamento é isotérmico e não há transferência de massa entre as
fases, é mostrado a seguir (os símbolos foram omitidos por simplicidade):

Conservação de Massa:
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∂ ( ρ G α G ) ∂ ( ρ G α GU G )
+ =0 (3.2)
∂t ∂x

∂ ( ρ Lα L ) ∂ ( ρ Lα LU L )
+ =0 (3.3)
∂t ∂x

Balanço de Quantidade de Movimento Linear:

∂ ( ρ G α GU G ) ∂ ( ρ G α GU G2 )
+ =
∂t ∂x

∂ piG ∂h τ S τ S
= − αG − α G ρ G g L cos β − α G ρ G g sen β − wG G − i i (3.4)
∂x ∂x A A

∂ ( ρ Lα LU L ) ∂ ( ρ Lα LU L2 )
+ =
∂t ∂x

∂ p iL ∂h τ S τ S
= −αL − α L ρ L g L cos β − α L ρ L g sen β − wL L + i i (3.5)
∂x ∂x A A

Nas equações (3.2) a (3.5), os subscritos L e G representam as fases líquida e


gasosa, respectivamente. x e t são as coordenadas espacial e temporal; ρ, U, pi e α são,
Modelagem Matemática _______________________________________________ 23

nesta ordem, a massa específica, velocidade, pressão interfacial e frações


volumétricas (ou “hold-up”) de cada fase; τ é a tensão cisalhante, g e β são a
aceleração da gravidade e inclinação da tubulação com a horizontal; hL, Sk, Si e A são
parâmetros geométricos que representam a altura de líquido no escoamento
estratificado, o perímetro molhado pela fase K, o perímetro da interface e a área
transversal da tubulação, A= π D2/4, onde D representa o diâmetro. Estas grandezas
encontram-se ilustradas na Fig. 3.1.

SG
AG

Si γ /2

hL AL
SL
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Figura 3.1 – Esquema da seção transversal da tubulação.

No presente modelo, a hipótese de incompressibilidade é válida apenas para a


fase líquida. Segundo Issa e Kempf (2003), os efeitos de compressibilidade devem ser
importantes nestes tipos de escoamento uma vez que, quando as golfadas se formam,
as variações temporais e espaciais da pressão (e, portanto, da densidade) podem ser
tão altas quanto 40%. Assim, a fase gasosa segue a lei dos gases ideais, dada por:

pG piG
ρG = ≈ (3.6)
RT RT

onde pG é a pressão média da fase gasosa, R é a constante do gás e T é a temperatura


de referência. A pressão média do gás é considerada, por simplicidade, igual ao valor
na interface (piG), uma vez que a altura hidrostática associada é desprezível.
As frações volumétricas do líquido e do gás estão relacionadas por:

AL A
α L + α G = 1, com α L = ; αG = G (3.7)
A A

Ainda, a partir da geometria, Fig. 3.1, pode-se demonstrar que:


Modelagem Matemática _______________________________________________ 24

1 ⎡ −1
αG = ⎢cos (ξ ) − ξ 1 − ξ 2 ⎤⎥ (3.8)
π⎣ ⎦

SG = D cos −1(ξ ); S L = π D − SG ; Si = D 1 − ξ 2 (3.9)

D π D2
AG = [SG − Si ξ ] ; AL = − AG ; (3.10)
4 4

⎛γ ⎞
cos ⎜ ⎟ = − ξ (3.11)
⎝2⎠

sendo

h
ξ = 2 L −1 (3.12)
D
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O processo de média leva a termos que requerem equações de fechamento ao


modelo, para a determinação de τwL, τwG e τi, os quais representam as tensões
cisalhantes líquido – parede, gás – parede e líquido – gás, respectivamente. Além
disso, como as pressões na interface do lado do líquido e do gás foram consideradas
diferentes, faz-se ainda necessária uma equação para representar o salto de pressão na
interface entre os fluidos.

3.1
Equações de Fechamento

As relações de fechamento para as tensões de cisalhamento são baseadas na


prescrição de um fator de atrito. Sua forma geral pode ser escrita como:

1
τ= f ρ ur ur (3.13)
2

O termo ur representa a velocidade relativa entre o líquido e a parede, o gás e a


parede, ou entre o gás e o líquido. A massa específica do líquido é utilizada para o
cálculo da tensão no contato líquido – parede, e a massa específica do gás nas outras
situações.
Existe uma série de correlações existentes na literatura para a determinação do
fator de atrito. Como exemplo pode-se citar: Manning (1864; como referência, ver
Modelagem Matemática _______________________________________________ 25

Wallis, 1969), Taitel e Dukler (1976), Andritsos e Hanratty (1986) e Hand (1991). De
acordo com o estudo realizado por Issa e Kempf (2003) e Bonizzi (2003), foi revelado
que as correlações mais adequadas para o escoamento estratificado encontram-se na
Tabela 3.1.

Tabela 3.1 – Fórmulas para o cálculo do fator de atrito.


ReG, ReL, Rei ≤ 2100 ReG, ReL, Rei > 2100
(Laminar) (Turbulento)
fL 24 0,0262(α l Re sL ) 0,139
(Hand, 1991)
Re sL (Spedding e Hand, 1997)
fG 16 0,046( Re G ) − 0,25
(Hagen–Poiseuille)
ReG
(Taitel e Dukler, 1976)
fi 16 0,046( Rei ) − 0,25
(Hagen–Poiseuille)
ReG
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(Taitel e Dukler, 1976)

Nas equações apresentadas na Tabela 3.1, os números de Reynolds Re sL , ReG e

Rei são definidos, de acordo com Taitel e Dukler (1976) como:

ρ U D
Re sL = L sL (3.14)
µL

4 AG U G ρ G
Re G = (3.15)
(SG + S i )µG

4 AG U G − U L ρ G
Re i = (3.16)
(SG + S i )µ G

As definições apresentadas são baseadas na hipótese de que o gás escoa num


canal fechado, uma vez que viaja a uma velocidade muito maior que a do líquido, o
qual, por sua vez, escoa como se estivesse num canal aberto. Os números de Reynolds
do gás e da interface são baseados no diâmetro hidráulico do gás, calculado através de
sua área de escoamento, AG, e perímetro molhado, SG. Além disso, µ é a viscosidade
dinâmica da fase, D é o diâmetro da tubulação e UsL é a velocidade superficial do
líquido, definida como:
Modelagem Matemática _______________________________________________ 26

U sL = α L U L (3.17)

Para finalizar, é necessária uma relação entre as pressões interfaciais das fases.
Duas abordagens distintas serão utilizadas. Na primeira, a diferença entre as pressões
de gás e líquido na interface será desprezada, i.e., pGi = p Li . Na segunda, um salto de
pressão será introduzido e calculado através de (Barnea e Taitel, 1994):

∂ 2 hL
piG − piL = σ (3.18)
∂x 2

Na equação acima, σ é a tensão superficial entre líquido e gás. Detalhes da


determinação desta relação encontram-se no Apêndice A.
Para facilitar a solução do sistema de equações de conservação na presença do
salto de pressão, é conveniente introduzir a eq. (3.18) diretamente na eq. (3.5), de
modo a utilizar a mesma pressão nas duas equações de conservação de quantidade de
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movimento linear. A equação para o líquido pode então ser reescrita como

∂ ( ρ Lα LU L ) ∂ ( ρ Lα LU L2 )
+ = (3.19)
∂t ∂x

∂ piG ∂ 3 hL ∂h τ S τS
= − αL + αLσ − α L ρ L g L cos β − α L ρ L g sen β − wL L + i i
∂x ∂x 3
∂x A A

3.2
Condições de Contorno e Iniciais

Valores para a fração volumétrica da fase gasosa e velocidades superficiais de


líquido e gás foram prescritos na entrada da tubulação. A pressão na saída da
tubulação foi especificada como sendo igual à pressão atmosférica. Ilustração das
condições de contorno na geometria estudada encontra-se na Fig. 3.2.

αG, UsG
Patm
UsL
ENTRADA SAÍDA
x
Figura 3.2– Condições de contorno utilizadas.
Modelagem Matemática _______________________________________________ 27

Como o escoamento estratificado é considerado o ponto de partida para o


desenvolvimento do regime de golfadas, no instante inicial a fração volumétrica e as
velocidades de líquido e gás são assumidas uniformes ao longo da tubulação, sendo os
seus valores correspondentes às condições de contorno impostas. Com relação à
especificação da pressão, pode-se obter uma solução analítica para a queda de pressão
inicial ao longo da tubulação com escoamento estratificado e em equilíbrio, somando-
se as equações de quantidade de movimento linear do líquido e do gás em regime
permanente. O resultado é um gradiente de pressão linear, representando um balanço
das forças viscosas entre o líquido e o gás com a parede, as forças gravitacionais
devido a inclinação da tubulação e as forças de pressão (eq. 3.19).

∂ piG ⎛ τ S + τ wG S G ⎞
= −⎜ wL L ⎟ − (ρ Lα L + ρ Gα G )g senβ (3.20)
∂x ⎝ A ⎠

Nos trabalhos de Issa e Kempf (2003) e Bonizzi (2003), a pressão inicial foi
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considerada uniforme e igual à pressão atmosférica. Em simulações preliminares no


presente trabalho, esta condição foi testada contra a solução analítica, e nenhuma
diferença foi verificada, uma vez que os campos de solução se igualam após poucos
instantes de simulação. No trabalho de Ortega Malca (2004) também é apontado que,
num regime de golfadas estatisticamente permanente, diferentes condições iniciais
para a pressão não deveriam ter influência. Assim, por simplicidade, a condição de
pressão uniforme foi escolhida.
As condições de contorno e iniciais devem ser determinadas com o auxílio de
mapas de padrões de escoamento, de modo a representar fielmente situações em que o
regime de golfadas ocorre na tubulação. A metodologia utilizada para determinar as
curvas de transição entre os diversos regimes encontra-se descrita no trabalho de
Taitel e Dukler (1976). A transição estratificado-golfadas é calculada, por outro lado,
segundo Barnea e Taitel (1994), a qual contempla tanto casos viscosos e não-viscosos.
A estratégia utilizada consiste em verificar sob que circunstâncias pequenas
perturbações aplicadas em relação aos valores de equilíbrio crescem com o tempo,
determinando a instabilidade da solução. Para isto, impõe-se uma perturbação do tipo
exponencial complexa aos campos permanentes de solução das equações do Modelo
de Dois Fluidos, de acordo com a seguinte expressão:
Modelagem Matemática _______________________________________________ 28

[i (ω t − k p x)]
φ = φ eq + φ 0 e (3.21)

onde φ é a variável de interesse e φeq seu valor de equilíbrio; φo, ω , e k são,


respectivamente a amplitude inicial, freqüência angular e o número de onda
(relacionado ao comprimento de onda λp através de kp = 2π /λp) da perturbação. O
valor limite para a velocidade relativa das fases abaixo do qual um escoamento
estratificado estável deve existir é dado por.

1/ 2
⎡α α A ⎤
U G − U L < K ⎢( L + G )( ρ L − ρ G ) g cos β ⎥ (3.22)
⎣ ρ L ρG dAL / dhL ⎦

Para o caso não viscoso, K = 1; para o caso viscoso, K = KV, onde

(CV − C IV ) 2
KV = 1 − (3.23)
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( ρ L − ρG ) A
g cos β
ρ ρ dAL
( L + G)
α L αG dhL

onde os parâmetros CV e CIV representam as velocidades críticas das ondas na


iminência de se tornarem instáveis, para o caso viscoso e não-viscoso,
respectivamente. A variação da área de líquido com a altura pode ser determinada a
partir das eqs. (3.9) e (3.10), como

dAL
= D 1 − ξ 2 = D sen (γ / 2) (3.24)
dhL

Barnea e Taitel (1994) sugeriram a simplificação desta expressão através da


introdução do seguinte fator de correção,

hL
K = K TD = 1 − (3.25)
D

Surpreendentemente, este fator também incorpora corretamente os efeitos


viscosos quando a viscosidade do líquido situa-se próxima à da água. Entretanto, KTD
não é afetado diretamente pela viscosidade, apenas via hL/D, enquanto KV varia
fortemente com a viscosidade. Na prática, a variação do critério de instabilidade com
Modelagem Matemática _______________________________________________ 29

a viscosidade ao se utilizar o fator KTD é desprezível. A dependência com a


viscosidade dos fatores KV e KTD críticos (na iminência da instabilidade, i.e., para a
velocidade do líquido que acarrete na transição do regime estratificado, dada uma
velocidade do gás) é mostrada na Fig. (3.3).
A curva de transição para o regime de golfadas, a partir do escoamento
estratificado, foi calculada através da eq. (3.22), considerando K de acordo com a eq.
(3.25). Esta escolha pode ser justificada com o auxílio da Fig. (3.3), pois para
viscosidade inferiores a 10 cP, os fatores KV e KTD são bastante próximos um do outro.
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Figura 3.3 – Influência da viscosidade na relação entre os fatores KV , KTD críticos e a


velocidade superficial do gás (Barnea e Taitel, 1994).

Por conveniência, o critério de estabilidade é reescrito aqui em termos das


variáveis prescritas:

U 2 ⎛α ⎞
U ⎛ h ⎞ α
( sG − sL ) 2 < ⎜1 − L ⎟ [(ρ L − ρ G )g cos β D ] ⎜⎜ L + G ⎟⎟ (3.26)
αG αL ⎝ D⎠ ⎝ ρ L ρG ⎠

com

D = ∂ hL / ∂ α L = A /[dAL / dhL ] = π D /[4 sen (γ / 2)] (3.27)

Em condições em que o regime de golfadas acontece na tubulação, pode-se


assumir que na região da entrada há escoamento estratificado, em que o nível de
líquido situa-se num valor de equilíbrio, denominado de hold-up de equilíbrio. Assim,
para determinar as curvas de transição, é necessário calcular este parâmetro. Para tal,
pode-se assumir uma condição de regime permanente nas equações (3.4) e (3.5).
Assim, eliminando-se as derivadas com respeito à posição e ao tempo:
Modelagem Matemática _______________________________________________ 30

∂ p iG τ S τ S
− αG − α G ρ G g sen β − wG G − i i = 0 (3.28)
∂x A A

∂ piG τ S τ S
−αL − α L ρ L g sen β − wL L − i i = 0 (3.29)
∂x A A

Combinando as eqs. (3.28) e (3.29), e eliminando o gradiente de pressão obtém-


se a seguinte expressão:

τ wL S L τ wG S G τ i Si ⎛ 1 1 ⎞
− α L (ρ L − ρ G )g sen β − − − ⎜⎜ + ⎟⎟ = 0 (3.30)
AL AG A ⎝αL αG ⎠

Os valores do hold-up de equilíbrio podem ser obtidos através da eq. (3.30),


dados os valores para as velocidades superficiais de líquido e gás, por meio de um
método iterativo qualquer (uma vez que se trata de uma equação não-linear). O
procedimento escolhido aqui foi o método da secante (Press, 1992). Depois de
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calculado este parâmetro, verifica-se o critério dado pela eq. (3.26). A estratégia para
obter a curva de transição é varrer todo o espectro do mapa de velocidades
superficiais, verificando que sempre que o critério para a estabilidade for violado,
deve haver uma mudança no padrão de escoamento.
Um procedimento semelhante pode ser criado para definir as transições entre os
outros regimes de escoamento, como golfada e anular, golfada e bolhas, etc. No
Apêndice C encontra-se um resumo dos critérios propostos por Taitel e Dukler
(1976), sendo utilizados aqui para construir os mapas de padrão de escoamento para
cada configuração investigada.
4
Método Numérico

Para a solução numérica das equações de conservação do Modelo de Dois


Fluidos, o método dos volumes finitos (Patankar, 1980) foi escolhido. Na
abordagem apresentada aqui, as equações de conservação de cada fase, eqs. (3.2)
a (3.5), são discretizadas utilizando uma malha deslocada, isto é, as velocidades
são armazenadas numa posição deslocada em relação aos nós onde as grandezas
escalares (frações volumétricas, massas específicas e pressão) são armazenadas.
Os símbolos maiúsculos P, W e E referem-se aos pontos nodais principal e seus
vizinhos da esquerda e direita, respectivamente, e são ao mesmo tempo os centros
dos volumes de controle escalares e as faces dos volumes de controle vetoriais
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(Fig. 4.1a). Já os símbolos minúsculos w, ww e e, referem-se às faces dos volumes


de controle escalares e seus vizinhos da esquerda e direita, respectivamente, sendo
também os centros dos volumes de controle vetoriais (Fig. 4.1b). A malha foi
considerada uniforme, com espaçamento definido por ∆x.

∆x

(a)

∆x

(b)

Figura 4.1 – Volumes de controle escalar (a) e vetorial (b) utilizados

Uma formulação conservativa é escolhida em detrimento da não-


conservativa, por garantir a conservação de massa e quantidade de movimento de
Método Numérico _________________________________________________ 32

cada fase. Além disto, no trabalho de Ortega Malca (2004), observou-se que a
formulação não-conservativa é muito dissipativa, suprimindo as instabilidades que
dão origem às golfadas e formando apenas ondas de amplitude aproximadamente
constante que viajam ao longo da tubulação.
A seguir, os detalhes numéricos da formulação serão apresentados.

4.1
Fração Volumétrica

A equação de conservação de massa da fase gasosa (eq. 3.2) é integrada no


volume de controle escalar (de volume d∀ = A∆x )ao longo do intervalo de tempo
∆t, de modo que:

e t + ∆t ∂( ρ α ) t + ∆t e ∂( ρ α U )
A∫ G G dt dx + G G G dx dt = 0
∫ A ∫ ∫ (4.1)
w t ∂t t w ∂x
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A integração da derivada temporal se dá primeiramente no tempo, depois no


espaço; considerando que as variáveis armazenadas no ponto nodal do volume de
controle escalar prevalecem em todo domínio de integração. O termo da derivada
espacial é integrado primeiro no espaço depois no tempo. Um esquema upwind de
interpolação é utilizado para avaliar o valor da fração volumétrica nas faces do
volume de controle; e um esquema implícito de Euler para efetuar a integração no
tempo, o qual considera que o integrando assume o valor do instante t + ∆t.
Assim, a equação discretizada assume a forma:

( ρ Gα G ) P − ( ρ Gα G ) oP
A∆x + ( ρ GU G ) e Aαˆ G , e − ( ρ GU G ) w Aαˆ G , w = 0
∆t

(4.2)

o
onde ρG, o
P e α G, P são referentes ao instante de tempo anterior. A fração

volumétrica de gás avaliada nas faces do volume de controle, de acordo com o


esquema upwind, é dada por:

αˆ G , e = sinal(U G , e ),0 α G , P − − sinal(U G , e ),0 α G , E (4.3)


Método Numérico _________________________________________________ 33

αˆ G , w = sinal(U G , w ),0 α G ,W − − sinal(U G , w ),0 α G , P (4.4)

Nas eqs. (4.3) e (4.4), o símbolo a, b denota o máximo valor entre a e b.

Para determinar o segundo e o terceiro termo da eq.(4.2), é preciso avaliar o valor


da massa específica do gás nas faces do volume de controle, a qual é
desconhecida. Para tal, um esquema upwind também foi utilizado, fornecendo:

ρˆ G ,e = sinal(U G ,e ),0 ρ G , P − − sinal(U G ,e ),0 ρ G , E (4.5)

ρˆ G , w = sinal(U G , w ),0 ρ G ,W − − sinal(U G , w ),0 ρ G , P (4.6)

Pode-se definir os “pseudo” fluxos convectivos como:

~ ~
Fe = ρˆ G ,eU G ,e A ; Fw = ρˆ G , wU G , w A (4.7)
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Com as definições acima, a eq. (4.2) é reescrita da seguinte maneira:

( ρ G α G ) P − ( ρ G α G ) oP ~ ~
A∆x + Fe ,0 α G , P − − Fe ,0 α G , E −
∆t (4.8)
~ ~
Fw ,0 α G ,W + − Fw ,0 α G , P = 0

Assim, o sistema de equações algébricas resultante para a fração


volumétrica de gás possui a seguinte forma:

a P α G , P = a E α G , E + aW α G ,W + b (4.9)

onde os coeficientes aP, aE, aW e b são dados pelas seguintes expressões:

~ ~ oα o o o ∆x
a E = − Fe ,0 ; aW = Fw ,0 ; b = a P G , P ; a P = ρ G , P A ∆t (4.10)

∆x ~ ~
a P = ρ G, P A + Fe ,0 + − Fw ,0 (4.11)
∆t

Nas eqs. (4.10) a (4.11), nota-se que todos os coeficientes são sempre
positivos, o que garante que a fração volumétrica do gás seja sempre maior ou
igual a zero, conforme desejado.
A fração volumétrica da fase líquida pode ser diretamente determinada
através da relação (3.7):
Método Numérico _________________________________________________ 34

α L, P = 1 − α G , P (4.12)

4.2
Velocidades

O procedimento de discretização das equações de quantidade de movimento


para a determinação das velocidades das fases líquida e gasosa é análogo ao
utilizado na equação para a fração volumétrica. No entanto, deve-se ter em vista
que a integração se dá no volume de controle deslocado (volume de controle
vetorial, Fig. 4.1b). Será detalhada aqui apenas a integração do termo do salto de
pressão na equação para a velocidade do líquido, eq. (3.18), mostrada a seguir:

t + ∆t e ⎛ t + ∆t ⎡ ⎛ 2 ⎞⎤
⎜ ∂ 3 hL ⎞⎟ ⎢ ~ ⎜ ∂ hL ∂ 2 hL ⎟ ⎥
A ∫ ∫ − α Lσ dx dt = A ∫ − α L, wσ ⎜ − ⎟⎥ dt
⎜ ∂x 3 ⎟⎠ ⎢ ⎜ ∂x 2 ∂ 2 ⎟
t w⎝ t ⎢ ⎝ x W ⎠⎥⎦
⎣ P
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(4.13)
Na eq. (4.13), α~L,w é calculado através de uma média aritmética entre α L, P e

α L,W . As segundas derivadas da altura de líquido hL são avaliadas segundo um


perfil parabólico, centrado nos pontos P e W, como mostrado a seguir:

⎛ ∂ 2 hL ∂ 2 hL ⎞⎟ hL , E + hL ,W − 2hL , P hL , P + hL ,WW − 2hL ,W


⎜ − = − =
⎜ ∂x 2 ∂x 2 ⎟ ∆ x 2
∆ x 2
⎝ P W ⎠ (4.14)
=
1
(hL,E + 3hL,W − hL,WW − 3hL,P )
∆x2
Novamente, os esquemas de interpolação upwind e implícito de Euler foram
utilizados nos termos convectivos e de integração temporal.
Na equação discretizada, a pressão é considerada explicitamente, uma vez
que também é uma incógnita. Adicionalmente, aplicou-se um fator de sub-
relaxação (γ = 0,7) devido ao fato de as equações serem fortemente não-lineares.
Assim, o sistema resultante de equações algébricas para a determinação das
velocidades das fases possui a seguinte forma:

aw
U K ,w = a wwU K ,ww + aeU K ,e + b +
γ
(4.15)
aw
(1 − γ ) U *
− α K ,w A( PGi , P − PGi ,W )
γ K ,w
Método Numérico _________________________________________________ 35

*
Na eq. (4.15), a variável U K ,w refere-se à velocidade da fase K na iteração
anterior. Os coeficientes são determinados através das seguintes expressões:

∆x
aww = FW ,0 ; ae = − FP ,0 ; awo = ρ Ko ,wα Ko ,w A
∆t (4.16)
aw = aww + ae + a + SP∆ x ; b = a U
o
w
o
w
o
K ,w + SC∆ x

As faces do volume de controle vetorial correspondem aos pontos nodais do


volume de controle escalar, onde os fluxos convectivos FW e FP devem ser
avaliados. Para garantir a conservação de massa também para o volume
deslocado, pode-se escrever:

FP = ( ρ K α K U K ) P A = ( Fw + Fe ) / 2 ;
(4.17)
FW = ( ρ K α K U K )W A = ( Fww + Fw ) / 2
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Os fluxos convectivos nas faces do volume de controle principal são dados


por:

Fw = ( ρ K α K U K ) w A = ρ~ K ,wα~ K , wU K , w A (4.18)

As expressões para Fww e Fe são análogas. Para avaliar ρ~K , w e α~K , w , uma

média aritmética entre os valores dos pontos nodais P e W é realizada.


As eqs. (4.15) a (4.18) são válidas para o cálculo das velocidades de ambas
as fases. No entanto, há uma pequena diferença entre os termos fonte SC e SP da
eq. (4.16) referentes às equações para o líquido e para o gás. Para a fase gasosa,
tem-se:

SC = b grav , G + bh, G + binterface, GU L, w


(4.19)
SP = b parede, G + binterface

onde:
b grav,G = − ρ G ,wα G ,w gAsenβ (4.20)

h L, P − h L,W
bh,G = − ρ G , wα G ,w gA cos β (4.21)
∆x
1
b parede,G = fG ,w ρG ,wSG ,w U G , w (4.22)
2
Método Numérico _________________________________________________ 36

1
binterface = fi ,w ρG ,wSinterface, w U G ,w − U L, w (4.23)
2

Por outro lado, para a fase líquida:

SC = bsalto + b grav , L + bh, L + binterface, LU G , w


(4.24)
SP = b parede, L + binterface

onde:
⎧ − α~ L,wσ A
⎪ ( )
h L, E + 3h L,W − h L,WW − 3h L, P , se PGi ≠ PLi
⎪ ∆x2
⎪ (4.25)
bsalto = ⎨
⎪0, se P = P
⎪ Gi Li


b grav, L = − ρ L,wα L,w gAsenβ (4.26)
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h L , P − h L ,W
bh, L = − ρ L, wα L, w gA cos β (4.27)
∆x
1
b parede, L = f L, w ρ L , wS L, w U L, w (4.28)
2

Nas equações acima, os perímetros molhados SL e SG são calculados através


de (3.9). A altura de líquido hL é obtida através da resolução da equação não-
linear (3.8), a qual é feita pelo método das secantes (Press, 1992). Os fatores de
atrito são obtidos através das relações apresentadas na Tabela 3.1, utilizando-se as
relações geométricas apropriadas. Vale ressaltar que todas as propriedades que
aparecem nas eqs. (4.16 – 4.28) são avaliadas nas faces, uma vez que as
velocidades são aí armazenadas.
Método Numérico _________________________________________________ 37

4.3
Pressão

A equação para a pressão é derivada para o volume de controle escalar, a


partir da combinação das equações de continuidade de líquido e gás, as quais são
ponderadas pelas massas especificas de referência das respectivas fases. Esta
normalização é realizada de modo a evitar que a equação do líquido predomine
sobre a do gás, o que pode levar a sérios problemas de convergência (Issa e
Kempf, 2003; Bonizzi, 2003). A equação de continuidade global é mostrada a
seguir (com a hipótese implícita de incompressibilidade da fase líquida):

∂α L ∂(α LU L ) 1 ⎡ ∂( ρ G α G ) ∂( ρ G α GU G ) ⎤
+ + + ⎥=0
ref ⎢⎣
(4.29)
∂t ∂x ρG ∂t ∂x ⎦

A integração da eq. (4.29) é realizada de maneira análoga à integração da


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equação para a determinação da fração volumétrica da fase gasosa, resultando em:

(4.30)
⎡ ⎤
⎢ 1 (ρ ∆x
G , P α G , P A − ρ G , P α G , P A) + (α L, P A − α L, P A)⎥
o o o +
⎢ ref ⎥ ∆t
ρ
⎢⎣ G ⎥⎦
1
( ρˆ G , eαˆ G , eU G , e A − ρˆ G , wαˆ G , wU G , w A) + αˆ L, eU L, e A − αˆ L, wU L, w A = 0
ref
ρG

A dependência com a pressão é introduzida ao substituir expressões para as


velocidades nas faces, derivadas da equação da quantidade de movimento
discretizada, a qual pode ser reescrita da seguinte forma:

α~ K , w A
U K ,w = U K ,w −
ˆ ( PGi , P − PGi ,W ) (4.31)
aw / γ

α~ K ,e A
U K , e = U K ,e −
ˆ ( PGi , E − PGi , P ) (4.32)
ae / γ

com
a ww U K , ww + a e U K ,e + b + (1 − γ ) ( a w / γ ) U K
*
,w
U K ,w =
ˆ (4.33)
aw / γ
Método Numérico _________________________________________________ 38

a w U K , w + a ee U K ,ee + b + (1 − γ ) ( a e / γ ) U *K ,e
U K ,E =
ˆ (4.34)
ae / γ

A massa específica do gás no ponto nodal depende da pressão através da


equação dos gases ideais:

PP P
ρ G,P = = P ρ Gref (4.35)
RT Pref

Substituindo as eqs. (4.31 – 4.35) em (4.30) e rearrumando, obtém-se a


seguinte equação discretizada para determinar a pressão:

a P PP = aW PW + a E PE + b (4.36)

onde os coeficientes são dados pelas seguintes expressões:


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⎛ ρ G , wα~G , w α G , w α L,w ⎞ 2
aW = ⎜⎜ + α~L , w ⎟A
⎝ ρG
ref
a w ,G / γ a w, L / γ ⎟⎠
(4.37)
⎛ ρ G ,eα~G ,e α G ,e α L ,e ⎞ 2
a E = ⎜⎜ + α~L ,e ⎟A

⎝ ρ ref
G a e , G / γ a e , L / γ ⎠

α G, P A
a P = aW + a E + SP ∆x ; SP = (4.38)
Pref ∆t

⎡⎛ ρ G , wα~G , w ~
ˆ + α~ Uˆ ⎞⎟ − ⎛⎜ ρ G ,eα G ,e Uˆ + α~ Uˆ ⎞⎟⎥ A +

b = ⎢⎜⎜ U L,w L,w ⎟ ⎜ L ,e L , e ⎟
⎣⎢⎝ ρ G ⎠ ⎝ ρG
ref G ,w ref G ,e
⎠⎦⎥
(4.39)
⎡ PPoα Go , P ⎤ ∆x
⎢ (
− α L , P − α Lo, P )
⎥A
⎢⎣ Pref ⎥⎦ ∆t

4.4
Condições de Contorno

Na entrada da tubulação (Fig. 4.2) a fração volumétrica da fase gasosa


( α G ,entrada ) é fornecida, assim como as velocidades superficiais do líquido

( U sL,entrada ) e do gás ( U sG ,entrada ). De acordo com (3.7) e (3.17), a fração

volumétrica do líquido assim como as velocidades das fases podem ser


Método Numérico _________________________________________________ 39

diretamente calculadas. Para determinar a pressão, a equação de conservação


(4.32) para o volume de controle na entrada é utilizada, impondo-se aW = 0. A
massa específica na entrada pode ser determinada através da equação de estado,
eq. (4.35).

Figura 4.2 – Volumes de controle próximos à entrada do domínio.


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Na saída do domínio, apenas a pressão é especificada. Neste caso, equações


adicionais para a fração volumétrica e para ambas as velocidades devem ser
derivadas. Para determinar estas variáveis, uma extrapolação linear utilizando-se
os dois primeiros vizinhos internos é realizada, Fig. 4.3.

U N +1 − U N U N − U N −1 3U N − U N −1
= ∴ U N +1 =
∆x / 2 ∆x 2
(4.40)
α N − α N −1 α N −1 − α N −2
= ∴ α N = 2α N −1 − α N −2
∆x ∆x

Figura 4.3 – Volumes de controle próximos à saída do domínio.


Método Numérico _________________________________________________ 40

4.5
Procedimento de Execução

O sistema de equações resultante consiste de duas equações para determinar


as velocidades das fases, uma equação que fornece a fração volumétrica de gás, e
uma equação para a pressão. Estas equações são não-lineares e acopladas, sendo
necessário utilizar um procedimento iterativo de solução. No presente trabalho, o
algoritmo PRIME (Maliska, 1981) foi utilizado para tratar o acoplamento
velocidade-pressão. No trabalho de Ortega Malca (2004), este algoritmo se
mostrou mais eficiente do que o algoritmo PISO (Issa, 1986), uma vez que
apresentou um menor tempo de processamento (possivelmente porque o algoritmo
PISO resolve duas equações para determinar a pressão; portanto uma a mais do
que o PRIME). O fluxograma de solução do algoritmo PRIME encontra-se
ilustrado na Fig. 4.4.
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Figura 4.4 – Fluxograma esquemático do procedimento de execução: método PRIME.


Método Numérico _________________________________________________ 41

O procedimento de solução apresentado no fluxograma é descrito a seguir:

1. Definição das condições iniciais do problema, i.e.: inicialização dos


campos de velocidade do líquido e do gás, fração volumétrica e pressão.
2. Consideração da solução do passo de tempo anterior como estimativa
inicial para a solução do passo de tempo atual.
3. Determinação das velocidades das fases, através da solução das equações
de quantidade de movimento para líquido e gás, eq. (4.15), utilizando o
campo de pressões estimado. As velocidades obtidas satisfazem a equação
de quantidade de movimento, mas não satisfazem a equação de
continuidade global.
4. Determinação da pressão através da solução da equação de conservação de
continuidade global; eq. (4.36)
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5. As velocidades são corrigidas explicitamente mediante a eq. (4.31). Os


campos obtidos obedecem à continuidade global.
6. Solução da equação de conservação de massa da fase gasosa, eq. (4.9), de
modo a obter a fração volumétrica do gás
7. Verificar os resíduos de todas as equações. Se todos estes forem inferiores
ao critério de tolerância pré-determinado, voltar ao passo 2. Caso
contrário, retornar ao passo 3 e repetir o procedimento até a convergência.

4.6
Formação da Golfada

Quando uma golfada se forma na tubulação, a fração volumétrica de gás


(αG) tende a zero, e a equação de quantidade de movimento para o gás torna-se
singular, uma vez que este parâmetro multiplica ambos os lados da equação.
Assim, de forma a evitar valores numéricos irreais para a velocidade do gás,
resultantes da solução de uma equação singular, a equação de quantidade de
movimento da fase gasosa é suprimida nestes locais. Assim, no interior da região
em que só há a presença de líquido (i.e., na golfada), a velocidade do gás é
arbitrariamente definida como zero. Esta é uma questão crítica da metodologia,
Método Numérico _________________________________________________ 42

uma vez que se nenhum procedimento ad-hoc for realizado, é possível que surjam
valores anormalmente altos da velocidade do gás à jusante da golfada.
Assim, conforme recomendações de Issa e Kempf (2003) e Bonizzi (2003),
o surgimento das golfadas na tubulação é monitorado através de uma nova
variável introduzida para avaliar a fração volumétrica nas faces dos volumes de
controle escalares, onde as velocidades são resolvidas. Portanto, para detectar o
surgimento de golfadas, a fração de gás nas faces é calculada segundo uma média
harmônica entre os valores nos pontos nodais W e P, como

2 α G ,W α G , P
α~Gflag
,w = (4.41)
(α G ,W + α G , P )

Quando α~G,flagw < 0,02 (conforme recomendações de Issa e Kempf, 2003;

Bonizzi, 2003), a velocidade do gás deve ser especificada igual a zero. Para tal, os
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coeficientes da equação discretizada para a velocidade do gás devem ser


modificados para:

aw
= 1, a ww = 0, a e = 0 e
γ
(4.42)
aw *
b + (1 − γ ) UG , w − α G , w A( PGi , P − PGi ,W ) = 0
γ

Adicionalmente, devem ser suprimidos os termos relativos à velocidade da


fase gasosa na equação da pressão (eq. 4.36), sempre que UG = 0. Entretanto, deve
ser ressaltado que a influência dos termos relativos à variação temporal da fração
volumétrica de gás no nó principal deve ser mantida, assim como todos os termos
relativos à fase líquida.

4.7
Malha Computacional e Passo de Tempo

A resolução espacial deve ser escolhida de modo que respeite o


compromisso entre a precisão dos cálculos numéricos e o tempo necessário de
computação. O espaçamento da malha (∆x) utilizado afeta os esquemas numéricos
aplicados no processo de discretização. O esquema upwind de interpolação
utilizado aqui introduz uma alta difusão numérica ao sistema, sendo necessárias,
Método Numérico _________________________________________________ 43

portanto, malhas consideravelmente refinadas para atingir a acurácia desejada.


Um teste de malha realizado neste trabalho (o qual é apresentado no Capítulo 6)
revela que o espaçamento da malha deve situar-se em torno de 0,4-0,7D (portanto,
alguns centímetros) para os casos rodados.
Métodos implícitos são teoricamente incondicionalmente estáveis.
Entretanto, quando aplicados a problemas envolvendo escoamentos bifásicos, é
preciso que o passo de tempo seja limitado para atender requisitos de precisão
temporal da solução. Assim, o passo de tempo deve ser determinado de modo que
uma partícula de fluido viaje no máximo um volume de controle por passo de
tempo, o que pode ser expresso pelo número de Courant (C), dado por:

max( U w )∆t
C= (4.43)
∆x

Assim, o passo de tempo fica limitado a:


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∆x
∆t ≤ C (4.44)
max( U w )

onde C é previamente especificado. De acordo com Bonizzi (2003), a limitação do


passo de tempo segundo a eq. (4.46) permite que se capture todas as ondas que
propagam a velocidades próximas às dos fluidos (Wallis, 1969), como é o caso
daquelas que originam as golfadas. Issa e Kempf (2003) recomendam que o
número de Courant seja especificado como 0,5. Para altas velocidades superficiais
do gás (que normalmente limitam o passo de tempo), números de Courant ainda
menores foram utilizados neste trabalho (até 0,2; para velocidades superficiais
acima de 2 m/s). Segundo a eq. (4.46) altas resoluções espaciais implicam em
altas resoluções temporais, o que demanda um esforço computacional
considerável. Para um espaçamento de malha típico de 0,4D; 1 segundo de
simulação requer em torno de 1 hora de tempo computacional (para uma
capacidade de processamento de 1,5GHz e 2 GHz de memória RAM).
Método Numérico _________________________________________________ 44

4.8
Critério de Convergência

O sistema de equações algébricas geradas no processo de discretização é


resolvido de forma iterativa, segundo o algoritmo TDMA (Patankar, 1980). Em
cada passo de tempo, a solução é considerada convergida quando o máximo
resíduo de todas as equações for inferior a uma tolerância (tol) especificada.
Assim,

Res max ≤ tol (4.45)

O resíduo máximo de cada equação é obtido de acordo com a seguinte expressão:

Res max = max a Pφ P (


* − a φ* + a φ* + b
W W E E ) (4.46)

onde φ é a grandeza calculada na iteração anterior, e aP, aW, aE e b são os


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coeficientes de φ calculados na iteração atual. No presente trabalho, a tolerância


foi definida igual a 0,0005.

4.9
Cálculo dos Parâmetros Médios das Golfadas

De forma a validar a metodologia apresentada aqui, as propriedades das


golfadas (comprimento, velocidade e freqüência) são medidas numericamente em
diversas posições fixas na tubulação (para as coordenadas axiais x = 10, 15, 20, 25
e 30 m), e comparadas com resultados da literatura, os quais são freqüentemente
apresentados em termos das médias destes parâmetros.
A velocidade de cada golfada é medida medindo-se o intervalo de tempo
levado para percorrer uma determinada distância entre dois pontos pré-definidos
(x1 e x2, por exemplo, como mostrado na Fig. 4.5). O espaçamento entre os pontos
foi tomado como 10D (uma análise de sensibilidade foi realizada, variando-se esta
distância para 5D e 15D, porém nenhuma diferença foi observada). Assim,
flag
quando a variável α~G,w (x1) (eq. 4.43) cai a níveis menores do que 0,02, um
Método Numérico _________________________________________________ 45

contador de intervalos de tempo é acionado. A contagem continua até que


flag
α~G, w (x2) < 0,02, i.e., quando a golfada atinge a posição x2. Desta forma:

x 2 − x1
U t ,n = (4.47)
∑ ∆t
1→ 2
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Figura 4.5 – Ilustração da medição da velocidade e do comprimento de cada


golfada.

Para calcular o comprimento de cada golfada passando pela posição x2, a


flag
variável α~G,w é continuamente monitorada, de forma a identificar os instantes

em que a frente e a cauda da golfada atingem esta posição. Quando


flag
α~G, w (x2)< 0,02, detecta-se a chegada da frente da golfada. Um novo contador de
flag
intervalos de tempo é iniciado, até que α~G,w (x2) atinja novamente valores

maiores do que 0,02, marcando o momento de chegada da cauda da golfada a x2.


Com a velocidade de translação anteriormente determinada, eq. (4.48), pode-se
calcular o comprimento da golfada passando por x2 através de:

LS ,n = U t ,n ∑ ∆t (4.48)
f →c

onde f e c denotam “frente”, e “cauda” da golfada, respectivamente.


Método Numérico _________________________________________________ 46

A freqüência das golfadas (νs) é definida como o número de golfadas que


passam numa determinada posição (xo) por intervalo de tempo. Este parâmetro é
calculado apenas a posteriori, uma vez monitorados os valores do hold-up de líquido
com o tempo (nesta posição) durante todo o intervalo de simulação. Um sinal típico
do hold-up com o tempo pode ser ilustrado como apresentado na Fig. 4.6.
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Figura 4.6 – Sinal temporal típico do hold-up do líquido na posição x = xo.

Desta forma, cada valor discreto de freqüência pode ser definido como o
inverso do intervalo que decorre entre a passagem de duas frentes consecutivas de
golfadas por xo. Portanto, pode-se escrever:

1
ν S ,n = (4.49)
∆t n

Para calcular os valores médios de cada um dos parâmetros (velocidade,


comprimento e freqüência), uma média aritmética é realizada de acordo com as
seguintes expressões:

N N N

∑ U t ,n ∑ LS , n ∑ν S ,n
Ut = n =1
, LS = n =1
, νS = n =1
(4.50)
N N N

onde N é o número de medidas realizadas.


5
Análise da Hiperbolicidade do Modelo de Dois Fluidos

O presente trabalho busca a previsão da hidrodinâmica do escoamento


bifásico no regime de golfadas, através do emprego do Modelo de Dois Fluidos
em sua forma unidimensional e transiente. Isto requer a solução de um sistema de
quatro equações diferenciais parciais não-lineares, representando a conservação
de massa e o balanço de quantidade de movimento para cada fase. Conforme
apontado em inúmeras referências, é preciso tomar bastante cuidado com o uso
deste modelo no que diz respeito ao caráter matemático das suas equações.
Foi mencionado na seção 2.1 que a formulação do Modelo de Dois Fluidos
é capaz de prever corretamente o crescimento das instabilidades hidrodinâmicas
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presentes no escoamento bifásico, com a subseqüente formação do regime de


golfadas. Isto é atingido de maneira natural, sem que haja a necessidade de se
aplicar perturbações nas condições de entrada ou na interface entre as fases; e sem
que, como normalmente ocorre na maioria dos códigos existentes, a transição
estratificado-golfadas seja determinada segundo algum critério arbitrário, a partir
do qual um modelo fortemente empírico é acionado para simular o
comportamento do escoamento no regime de golfadas; ou, simplesmente, uma
configuração inicial em golfadas é previamente assumida, a partir da qual a
simulação se inicia.
No processo de solução numérica das equações, o crescimento da altura do
filme de líquido ocorre fundamentalmente por dois fatores: devido a uma
condição momentânea de “não-equilíbrio” no escoamento (a qual pode ocorrer
devido à condição inicial, com uma fração de líquido diferente do hold-up de
equilíbrio– o efeito desta condição inicial será comentado no capítulo seguinte),
ou por pequenos erros numéricos de truncamento e de “round-off” do computador.
Estes fatores fazem obviamente parte (em maior ou menor escala) de qualquer
processo de simulação numérica de escoamentos, aparecendo na forma de
perturbações aleatórias infinitesimais nos campos de solução. No entanto, apesar
de aparentemente artificiais, encontram analogia direta num escoamento real, pois
Análise da Hiperbolicidade do Modelo de Dois Fluidos_________________________ 48

variações infinitesimais aleatórias estão sempre presentes em qualquer


escoamento.
Infelizmente, conforme dito, o Modelo de Dois Fluidos possui uma
característica extremamente indesejada: a natureza de sua formulação matemática
o faz constituir um problema mal-posto sob determinadas condições. Um modelo
matemático é dito bem-posto quando as equações constituintes admitem uma
solução única que depende continuamente das condições iniciais e de contorno
(Courant e Lax, 1949). Um problema mal-posto não possui solução única; e
qualquer solução obtida em problemas deste tipo faz parte de um conjunto infinito
de soluções, todas elas igualmente válidas.
Podemos determinar se um problema é bem-posto ou não através do caráter
matemático do conjunto de equações diferenciais parciais (eq. 5.1), o qual é
determinado pelo problema de autovalor, eq. (5.2):

∂Φ ∂Φ
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A +B =C (5.1)
∂t ∂x

det[B − λ A] = 0 (5.2)

onde A e B são as matrizes Jacobianas de dimensão n × n, φ é o vetor solução do


sistema e C é um vetor coluna de dimensão n. O problema de valor inicial em
consideração é achar solução para o sistema na região 0 ≤ x ≤ L , onde L é o
comprimento do duto, e t ≥ 0 ; sujeito à condição inicial φ (0, x ) = G ( x ) . O
problema é dito bem-posto, se a solução da eq.(5.2) fornece apenas autovalores
(λ´s) reais. Se autovalores complexos existirem, o problema é mal-posto (para as
condições em que isto acontecer), e haverá um crescimento irreal das
perturbações, em todos os comprimentos de onda, na ausência de fontes
estabilizantes nas equações do modelo (Lyczkowski et al. 1978; Stewart e
Wendroff 1984).
É preciso fazer uma distinção entre a instabilidade do escoamento (uma
característica física) e as instabilidades artificiais geradas pelo fato de um
problema ser mal-posto. A estabilidade do escoamento está associada à tendência
em retornar ao seu estado original após ter sido perturbado. O crescimento ou
decaimento destas perturbações é determinado pela dinâmica do escoamento. Já a
Análise da Hiperbolicidade do Modelo de Dois Fluidos_________________________ 49

questão da boa ou má-colocação (usados aqui como tradução de “well-” e “ill-


posedness”) das equações é uma propriedade da modelagem, e não do escoamento
(há de se reconhecer, no entanto, que a acurácia do modelo, mesmo que bem-
posto, também pode alterar significativamente a estabilidade do escoamento nas
simulações). Portanto, a princípio, pelo que foi visto acima, para prever
corretamente a transição do regime estratificado para o de golfadas, duas
condições são necessárias: primeiro, que o escoamento seja instável; e segundo,
que o sistema de equações seja bem-posto.
Na verdade, segundo J.D. Ramshaw e J.A. Trapp (1977), mesmo que o
sistema de equações constituindo o Modelo de Dois Fluidos possua características
complexas, é possível obter resultados plausíveis, desde que os efeitos artificiais
estabilizantes introduzidos através da representação do sistema de equações
diferenciais por diferenças finitas (o esquema upwind de interpolação seria um
bom exemplo) forem suficientes para tal.
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Cabe aqui analisar a questão da malha com um pouco mais de detalhe. De


acordo com Richtmyer e Morton (1967), a representação das equações
diferenciais por diferenças finitas por si só introduz perturbações de comprimento
de onda da ordem do espaçamento da malha. Além disso, deve se ter em mente
que a malha funciona como um filtro, uma vez que o menor comprimento de onda
nela representável é 2 ∆x (sendo ∆x o espaçamento da malha). Assim, à medida
que a resolução da malha aumenta, é preciso que haja efeitos que estabilizem os
menores comprimentos de onda artificialmente introduzidos, já que o modelo é
válido apenas para longos comprimentos de onda. Sabe-se que, em todo o
processo de solução de equações diferenciais pelo método dos volumes finitos, é
preciso utilizar uma resolução da malha fina o suficiente para que o resultado não
seja consideravelmente afetado pela difusão numérica e a dinâmica dos longos
comprimentos de onda seja corretamente prevista (o que, na realidade, controla as
características mais importantes das golfadas). Há, no entanto, um complicador
para o tipo de problema aqui analisado: o espaçamento não pode ser muito
pequeno, de modo que a má-colocação das equações não se manifeste.
O Modelo de Dois Fluidos em sua forma unidimensional está restrito a
longos comprimentos de onda, porém, conforme visto, à medida que o
espaçamento da malha diminui, perturbações de menores comprimentos de onda
aparecem naturalmente. De fato, a má-colocação das equações se manifesta
Análise da Hiperbolicidade do Modelo de Dois Fluidos_________________________ 50

quando as menores escalas do escoamento bifásico começam a surgir. Se, para


malhas finas, a difusão numérica já não é suficiente para estabilizar estas
perturbações, outros efeitos precisam ser considerados no modelo. O que se
observa na prática é uma impossibilidade de se atingir uma solução única com o
refinamento da malha, o que é claramente uma característica de sistemas mal-
postos.
Conforme visto na seção anterior, o processo de média das equações
permite uma formulação unidimensional, mas exige, por outro lado, que os termos
de interação interfacial sejam modelados. A modelagem destes termos possui um
profundo efeito sobre a natureza do sistema de equações. De maneira geral, é um
consenso na literatura que os fenômenos físicos presentes no escoamento bifásico
(na realidade, em qualquer escoamento) devam encontrar sua expressão
matemática em termos de problemas bem-postos. Neste sentido, houve, e ainda há
uma extensiva busca na literatura em torno da correta descrição da interação
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interfacial para tentar resolver o problema da má-colocação do sistema de


equações. Lyczkowski et al. (1978) estudaram a influência de diversos tipos de
interação interfacial (arrasto, massa virtual, entre outros) no espaço de soluções do
Modelo de Dois Fluidos. No e Kazimi (1984) estudaram os efeitos da massa
virtual nas equações do Modelo de Dois Fluidos. Foi demonstrado que a região
em que autovalores reais são encontrados aumenta, mas existe uma certa
arbitrariedade no formato apresentado para o termo a ser incorporado pela
equação. Para considerar este efeito na formulação apresentada aqui, uma
avaliação mais criteriosa se faria necessária, sendo fundamental a realização de
validações experimentais.
Conforme dito na seção 2.1, para simular corretamente o escoamento num
determinado regime, mapas de padrões de escoamento são necessários para
determinar condições iniciais e de contorno representativas de tal regime.
Adicionalmente, de acordo com o que foi dito acima, ao utilizar o Modelo de Dois
Fluidos deve-se levar ainda em consideração a existência de regiões no mapa para
as quais a má-colocação do modelo deve se manifestar. Porém, é preciso tomar
cuidado com o fato de que a análise característica é realizada diretamente nas
equações diferenciais do modelo; as quais serão discretizadas para serem
resolvidas numericamente, havendo obviamente erros numéricos intrínsecos neste
processo. Assim, é possível que, de acordo com as condições iniciais e de
Análise da Hiperbolicidade do Modelo de Dois Fluidos_________________________ 51

contorno, o problema seja aparentemente bem-posto (ou mal-posto), mas na


prática isto não se observe, uma vez que o sistema de equações discretizado não
corresponde exatamente ao sistema de equações diferenciais (pressupõe-se, é
claro, que o Modelo de Dois Fluidos é consistente; i.e., o sistema de equações
diferenciais parciais é fielmente representado no limite em que o espaçamento da
malha e o passo de tempo tendem a zero). Apesar de a difusão numérica possuir
sabidamente o efeito de estabilizar as perturbações, o que faria da análise
característica diretamente nas equações diferenciais um procedimento até mesmo
conservativo; esta análise característica não foi realizada neste trabalho, pois foge
do escopo do mesmo. Por outro lado, para obter maior confiança nas simulações,
outras medidas devem ser tomadas, como por exemplo verificar localmente (em
cada ponto da malha) se o critério para o qual o modelo é bem-posto não está
sendo violado. Na realidade, a medida mais indicada (também utilizada aqui) para
decidir se o modelo é bem- ou mal-posto, para determinadas condições de
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contorno, é a incapacidade de se obter uma solução única com sucessivos


refinamentos da malha. Assim, recomenda-se que testes de malha sejam sempre
realizados.
Bonizzi (2003) determinou os autovalores dados pela eq. (5.2) para a versão
compressível do Modelo de Dois Fluidos, sem salto de pressão na interface. Em
sua análise, concluiu que os autovalores mais importantes geram o mesmo critério
para definir as regiões em que o sistema é bem- ou mal-posto que a forma
incompressível do modelo. Além disso, dois autovalores extras (associados à
velocidade do som) foram encontrados.
O presente trabalho estende a análise contemplando os casos incompressível
e compressível, para o sistema com o salto de pressão interfacial. A introdução do
salto de pressão na interface é motivada pelo sabido efeito estabilizante da tensão
superficial em diversos tipos de problemas, conforme extensivamente reportado
na literatura (Richtmeyer e Morton, 1967; Ramshaw e Trapp, 1977; Stewart e
Wendroff, 1984; Banerjee, 2002).

5.1
Caso Incompressível

As equações de conservação de massa e de quantidade de movimento linear


das fases, eqs. (3.2) a (3.5), encontram-se escritas na forma conservativa. Visando
Análise da Hiperbolicidade do Modelo de Dois Fluidos_________________________ 52

facilitar a presente análise é conveniente reescrevê-las na forma não-conservativa,


tomando, para escoamentos de fluidos incompressíveis, a seguinte forma:

Conservação de Massa:

∂α G ∂α ∂U G
+ UG G + αG =0 (5.3)
∂t ∂x ∂x

∂α L ∂α L ∂U L
+ UL + αL =0 (5.4)
∂t ∂x ∂x

Balanço de Quantidade de Movimento Linear:

∂U G ∂U G α G ∂ piG ∂h
αG + α GU G + + α G g L cos β = SU G (5.5)
∂t ∂x ρG ∂ x ∂x
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∂U L ∂U L α L ∂ piL ∂h
αL + α LU L + + α L g L cos β = SU L (5.6)
∂t ∂x ρL ∂x ∂x

onde

τ wG S G τ i S i
SU G = − α G g sin β − − (5.7)
Aρ G Aρ G

τ wL S L τ i S i
SU L = − α L g sin β − + (5.8)
Aρ L Aρ L

Adicionalmente tem-se as seguintes equações de restrição:


Restrição de fração volumétrica:

α L + αG = 1 (5.9)

Condição de pressão interfacial:

∂ 2 hL
piG − piL = σ κ onde κ= (5.10)
∂ x2

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Análise da Hiperbolicidade do Modelo de Dois Fluidos_________________________ 53

∂ piL ∂ piG ∂κ ∂ piG ∂κ ∂α L


⇒ = −σ = −σ (5.11)
∂x ∂x ∂x ∂x ∂α L ∂x

Relacionando a variação do nível de líquido com a fração volumétrica e


usando a eq. (3.27) tem-se:

∂ hL ∂ hL ∂ α L ∂ αL
= =D (5.12)
∂x ∂ αL ∂ x ∂x

onde

∂ hL A πD
D= = = (5.13)
∂ α L dAL / dhL 4 sen (γ / 2 )

Substituindo as equações de restrição (1.9) e (1.11) nas equações de


conservação para o líquido, assim como a eq. (5.12) tem-se:
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∂α G ∂α ∂U L
− − UL G +αL =0 (5.14)
∂t ∂x ∂x

∂U L ∂U L α L ∂ piG ∂α
αL + αL UL + + α L ℘ G = SU L (5.15)
∂t ∂x ρL ∂ x ∂x

onde

σ ∂κ
℘ = gD cosβ − (5.16)
ρ L ∂α L

O vetor das variáveis primitivas Φ é dado por:

Φ = [α G p iG ]
T
UG UL (5.17)

As matrizes A, B e o vetor coluna C que aparecem na eq. (5.1) correspondendo ao


sistema de equações do Modelo de Dois Fluidos, para fluidos incompressíveis,
definido pelas eqs. (5.3), (5.14), (5.6) e (5.15), são dadas por:
Análise da Hiperbolicidade do Modelo de Dois Fluidos_________________________ 54

⎡1 0 0 0⎤
⎢− 1 0 0 0⎥⎥
A=⎢ (5.18)
⎢ 0 αG 0 0⎥
⎢ ⎥
⎣0 0 αL 0⎦

⎡ UG αG 0 0 ⎤
⎢ −U L 0 αL 0 ⎥⎥
B=⎢ (5.19)
⎢− α G gD cos β α G U G 0 α G / ρG ⎥
⎢ ⎥
⎣ −αL ℘ 0 αL UL αL / ρL ⎦

[
C = 0 0 SU G ]
SU L T (5.20)

Resolvendo-se a eq. (5.2), os quatro autovalores são dados por:

[λ1 λ2 0 0] (5.21)
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Os dois autovalores diferentes de zero são dados pelas raízes da equação

quadrática na forma característica aλ2 + bλ + c~ = 0 , i.e.:

−b ± ∆
λ1,2 = (5.22)
2a

a = α G ρ L + α L ρG (5.23)

b = −2(α G ρ L U L + α L ρG U G ) (5.24)

2 + α ρ U 2 − α α ⎡ ( ρ − ρ ) g cos β D − σ ∂κ ⎤
c~ = α L ρGU G (5.25)
G L L G L⎢ L G ⎥
⎣ ∂α L ⎦

∆ = b 2 − 4ac~ (5.26)

Para garantir a hiperbolicidade do sistema de equações, é necessário que ∆ ≥ 0 ,


que por sua vez leva ao seguinte critério:

⎡ ∂κ ⎤⎛ α L α G ⎞
(U G − U L ) 2 ≤ ⎢(ρ L − ρG ) g cos β D − σ ⎥⎜ + ⎟⎟ (5.27)
⎣ ∂α L ⎦⎜⎝ ρ L ρG ⎠
Análise da Hiperbolicidade do Modelo de Dois Fluidos_________________________ 55

Dadas as condições iniciais e de contorno, pode-se determinar se o


problema é bem-posto ou não através da desigualdade dada pela eq. (5.27). Vale
ressaltar que, fazendo-se σ = 0 na relação acima, obtém-se o mesmo critério
obtido quando o salto de pressão é desconsiderado inicialmente nas equações do
modelo.
Para avaliar a importância do termo associado ao salto de pressão, é preciso
saber avaliar o termo ∂κ / ∂α L , onde κ é a curvatura da interface dada por

κ = ∂ 2 hL / ∂ x 2 (ver Apêndice A). Com esse objetivo, pode-se rescrever o critério


representado pela eq. (5.27), utilizando-se a eq. (5.13); que gx = g cos β é o
componente da aceleração da gravidade na direção contrária ao escoamento. e que
∂κ / ∂α L = [∂κ / ∂hL ][∂hL / ∂α L ] , tem-se

⎡ ∂κ ⎤⎛ ∂hL ⎞⎛ α L α G ⎞
(U G − U L ) 2 ≤ ⎢(ρ L − ρ G ) g x − σ ⎥⎜ ⎟⎟⎜⎜ + ⎟⎟ (5.28)
⎣ ∂hL ⎦⎜⎝ ∂α L ⎠⎝ ρ L ρ G ⎠
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Para estimar o termo associado ao salto de pressão, pode-se introduzir uma


perturbação na altura da interface de acordo com a eq. (3.21)

[i (ω t − k p x)]
hL = hLeq + hL 0 e (5.29)

onde hLeq é o nível de equilíbrio; hLo, ω , e k são, respectivamente a amplitude


inicial, freqüência angular e o número de onda (relacionado ao comprimento de
onda λp através de kp = 2π /λp) da perturbação. Logo, assumindo-se o número de
onda kp constante ao longo de x, tem-se

∂ 2 hL
κ= = −k 2p hL (5.30)
∂ x2

e, portanto:

∂κ
= − k 2p (5.31)
∂hL

Substituindo o resultado de (5.31) em (5.28) e rearranjando tem-se


Análise da Hiperbolicidade do Modelo de Dois Fluidos_________________________ 56

[(ρ L − ρG ) g x + σ k 2
p ] = [(ρ L − ρ G ) g x D 2 + σ k p2 D 2
D 2
] = [Eo + (k
p D) 2 ] Dσ 2

(5.32)

onde Eo = ( ρ L − ρ G ) g x D 2 / σ é o número de Eötvös, e indica a razão entre as

forças de empuxo e as forças de tensão superficial. O parâmetro (k p D) 2 é uma

medida do tamanho relativo do comprimento de onda da perturbação em relação


ao diâmetro do tubo (uma vez que kp = 2π /λp). É possível argumentar que,
quando o número de Eötvös for muito maior do que (k p D) 2 , o termo que aparece

devido ao salto de pressão na interface torna-se desprezível no critério. Mas,


conforme já comentado na seção 3.1, o Modelo de Dois Fluidos em sua forma
unidimensional carrega a hipótese intrínseca de que o comprimento de onda das
perturbações é grande se comparado ao diâmetro do tubo. Assim, k p D <<1 e

logicamente (k p D) 2 <<1. Portanto, apenas quando Eo <<1, a curva que delimita as


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regiões em que o Modelo de Dois Fluidos é bem- ou mal-posto será afetada pelo
salto de pressão na interface entre os fluidos. Para os casos simulados no presente
trabalho (tomando a ordem de grandeza das variáveis como ρL ~ 1000 kg/m3, ρG ~
1 kg/m3, g ~10 m/s2, D ~ 0,1 m e σ ~ 0,1 N/m), Eo ~ 1000. Assim, para longos
comprimentos de onda nenhum efeito deve ser esperado na natureza das equações.
Um procedimento de adimensionalização realizado diretamente nas equações de
quantidade de movimento do Modelo de Dois Fluidos mostra que, para Eo >>1, o
termo da tensão superficial pode ser desprezado diretamente, portanto, nestas
condições, de fato a tensão superficial não deveria ter qualquer efeito sobre o
critério (vide apêndice B).
Neste ponto, vale enfatizar que o intuito aqui é apenas demonstrar que o
salto de pressão interfacial, mesmo sendo um efeito fisicamente existente, não traz
vantagens adicionais ao modelo para os casos práticos de interesse; e isto é
demonstrado através de experimentos numéricos apresentados nas seções
seguintes. Assim, não serão testados casos em que Eo <<1, mesmo porque haveria
dúvidas quanto à validade do modelo para estes casos, uma vez que, mantendo o
mesmo sistema bifásico ar-água, seria necessário um diâmetro da ordem do
milímetro para atingir um Eo tão pequeno. Desta forma, os termos de interação
interfacial teriam de ser reavaliados.
Análise da Hiperbolicidade do Modelo de Dois Fluidos_________________________ 57

Há ainda uma questão a ser esclarecida: na análise apresentada acima, o


número de onda foi fixado num determinado valor kp, e foi assumido que apenas
longos comprimentos de onda estariam presentes. Porém, pelo que foi dito
anteriormente, perturbações de menores comprimentos de onda são introduzidas
se a malha for continuamente refinada. É possível, portanto, que para malhas mais
finas o termo adicional devido ao salto de pressão possua algum efeito
estabilizante, ao menos para as perturbações cujos comprimentos de onda são da
ordem do espaçamento da malha. A figura (5.1), permite estimar o valor de um
número de onda representativo de modo que algum efeito possa ser observado no
sistema. Tomando um valor de kp = 50/D, a resolução mínima da malha
( ∆ x = λ p / 2 ) para que se possa representar um comprimento de onda desta

ordem seria: 2 π/λp= π/∆x= 50/D, logo ∆x ~ 0,06 D . Utilizar tamanha resolução
seria certamente impraticável para a maioria dos casos de interesse. Mas ainda
assim, mesmo que uma resolução de malha bastante fina fosse utilizada, o uso de
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gráficos como o apresentado na Fig. 5.1 se restringe à análise individual de cada


comprimento de onda.

100.00
k p = 10/D k p = 50/D
k p = 200/D

10.00
UsL ( m / s )

1.00

0.10 kp= 0

0.01
0.1 1.0 10.0 100.0
U sG ( m / s )

Figura 5.1 – Mapas de UsL vs. UsG: Influência do número de onda nas curvas de
transição entre as regiões em que o modelo é bem- e mal-posto.

J.D. Ramshaw e J.A. Trapp (1977) apresentam um argumento qualitativo


para mostrar que a consideração do salto de pressão seria insuficiente para
estabilizar o sistema como um todo. Os autores especulam que a tensão
Análise da Hiperbolicidade do Modelo de Dois Fluidos_________________________ 58

superficial, apesar de exercer um efeito estabilizante sobre as menores escalas,


não é capaz de dissipar a energia recebida pela interação com as demais bandas do
espectro. Assim, imaginando um comprimento de onda cresça até atingir uma
amplitude tal que os efeitos não-lineares comecem a ser importantes, cuja
conseqüência seria a de transferir energia aos demais comprimentos de onda.
Mesmo que os pequenos comprimentos de onda sejam estáveis devido à tensão
superficial, suas amplitudes crescerão, não devido à instabilidade, mas
provavelmente pelo fato de a energia transferida pelos outros comprimentos de
onda não ser suficientemente dissipada. A incapacidade da tensão superficial em
manter a estabilidade dos menores comprimentos de onda, mesmo nas malhas
finas, é evidenciada nas simulações realizadas pelo presente trabalho, uma vez
que um crescimento irreal das perturbações também foi observado nos casos mal-
postos rodados com estas malhas.
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5.2
Caso Compressível

No caso em que o gás é compressível, considera-se que o mesmo é um gás


ideal, sendo a massa específica dada por

p iG γ cp
ρG = = 2 piG ; γ* = (5.33)
RT c cv

onde R e T são a constante do gás e a temperatura de referência, γ.* é a razão de


calores específicos à pressão (cp) e volume (cv) constante. Substituindo esta
equação de estado no conjunto de equações de conservação, eqs. (3.2) a (3.5),
reescritas na forma não conservativa, obtém-se

∂α G ∂α 1 ⎡ ∂ ρG ∂ ρG ⎤ ∂U G
+ UG G + ⎢α G ∂t + α GU G ∂ x ⎥ + α G ∂ x = 0 (5.34)
∂t ∂x ρG ⎣ ⎦

∂α G ∂α ∂U L
− − UL G +αL =0 (5.35)
∂t ∂x ∂x

∂U G ∂U G c 2 α G ∂ ρ G ∂α G
αG + α GU G + + α G gD cos β = SU G (5.36)
∂t ∂x γ * ρG ∂ x ∂x
Análise da Hiperbolicidade do Modelo de Dois Fluidos_________________________ 59

∂U L ∂U L α L c 2 ∂ ρ G ∂α
αL +αL UL + + α L ℘ G = SU L (5.37)
∂t ∂x ρL γ * ∂x ∂x

Procedendo da mesma forma que no caso incompressível para determinar os


autovalores do sistema de equações, sendo o vetor das variáveis primitivas
Φ dado por

Φ = [α G UG UL ρ G ]T (5.38)

e as matrizes A, B e C que aparecem na eq. (5.1) correspondendo ao sistema de


equações do Modelo de Dois Fluidos, para fluidos compressíveis (definido pelas
eqs. 5.34 a 5.37), são dadas por:

⎡1 0 0 α G / ρG ⎤
⎢− 1 0 0 0 ⎥
A=⎢ ⎥ (5.39)
⎢ 0 αG 0 0 ⎥
⎢ ⎥
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⎣0 0 αL 0 ⎦

⎡ UG αG 0 α G U G / ρG ⎤
⎢ −UL 0 αL 0 ⎥
B=⎢ ⎥ (5.40)
⎢− α G gD cos β αG UG 0 (c 2 / γ *) (α G / ρ G )⎥
⎢ ⎥
⎣ −αL ℘ 0 αL UL (c 2 / γ *) (α L / ρ L ) ⎦

[
C = 0 0 SU G ]
SU L T (5.41)

Para resolver det[B − λ A] = 0 é necessário encontrar as quatro raízes de

λ4 − 2(U L + U G )λ3 +
⎡ α ⎛ ∂κ ρ c 2 ⎞⎤ 2
+ ⎢(U L + U G ) 2 + 2 U L U G + L ⎜⎜ ρ L gD cosβ − σ − G ⎟⎥ λ +
⎣⎢ ρL ⎝ ∂α L α G γ * ⎟⎠⎥⎦
⎡ α ⎛ ∂κ ρ c2 ⎞ c2 ⎤
− ⎢U L U G (U L + U G ) + L ⎜⎜ ρ L gD cosβ − σ − G ⎟⎟ U G + UL⎥ λ +
⎢⎣ ρL ⎝ ∂α L α G γ * ⎠ γ * ⎥⎦
c2 2 αL ⎛ ∂κ ρ c2 ⎞ 2
+ U L2 U G2 − UL + ⎜⎜ ρ L gD cosβ − σ − G ⎟UG +
γ* ρL ⎝ ∂α L α G γ * ⎟⎠
c2 αL ⎛ ∂κ ⎞
− ⎜⎜ ( ρ L − ρ G ) gD cosβ − σ ⎟⎟ = 0
γ * ρL ⎝ ∂α L ⎠
(5.42)

Neste caso, tem-se quatro autovalores não nulos. É fácil perceber, da eq


(5.42), que para as mesmas condições em que o efeito do salto de pressão é
Análise da Hiperbolicidade do Modelo de Dois Fluidos_________________________ 60

desprezível no caso incompressível, também o será neste caso, já que os termos


devido à gravidade eà tensão superficial sempre aparecem juntos. Mais uma vez, a
consideração do salto de pressão não contribui de forma significativa para
aumentar a região em que o problema é bem posto. De acordo com Bonizzi
(2003), dois dos autovalores da eq. (5.42) são relacionados com a velocidade do
som c, enquanto que os outros dois são relacionados com a velocidade de
propagação das ondas de continuidade (Wallis, 1969), cuja magnitude é
comparável às velocidades das fases. Estes dois últimos autovalores apresentam
características próximas daqueles encontrados para o escoamento incompressível,
de forma que o critério para a definir a região em que o problema é bem posto não
varia significativamente.
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6
Resultados para Tubulações Horizontais

Tendo por objetivo avaliar a capacidade de previsão do regime de golfadas pelo


Modelo de Dois Fluidos, dois tipos de configurações foram selecionadas para serem
investigadas: tubulações horizontais e tubulações levemente inclinadas. Neste capítulo
os resultados para a tubulação horizontal são analisados, sendo que os resultados para a
tubulação levemente inclinada são apresentados no Capítulo 7.
Inicialmente, antes de estabelecer comparações dos resultados das simulações
com dados da literatura, a capacidade da metodologia em reproduzir as regiões dos
mapas de padrões de escoamento para as quais os regimes estratificado e de golfadas se
observam é ilustrada. A seguir, o efeito do hold-up de líquido inicial no
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desenvolvimento do regime de golfadas é investigado através de algumas simulações


preliminares. A seguir, resultados de uma série de simulações são comparados com
correlações típicas para os parâmetros médios relacionados às golfadas (comprimento,
freqüência e velocidade). Por último, a influência do salto de pressão na interface no
caráter das equações é analisada através de alguns testes numéricos.
A configuração selecionada foi a mesma utilizada por Issa e Kempf (2003) e
Bonizzi (2003), a qual consiste de um duto horizontal de L = 36 m de comprimento e
diâmetro D = 0,078 m, conforme mostrado na Fig. 6.1.

αG, UsG D = 0,078 m


Patm
UsL

L = 36 m

Figura 6.1 – Configuração utilizada: tubulação horizontal.

A mistura bifásica utilizada também corresponde àquela dos estudos de Issa e


Kempf (2003) e Bonizzi (2003). A fase gasosa é formada pelo ar, com a constante de
gás R igual a 287 N m /(kg K) e viscosidade absoluta µ igual a 1,796 × 10-5 Pa.s. Como
fase líquida utilizou-se a água, sendo sua massa específica ρ definida como
Resultados para Tubulações Horizontais _____________________________________ 62

998,2 kg/m3, e sua viscosidade absoluta µ igual a 1,139 × 10-3 Pa.s. Dezenove valores
diferentes para as condições de contorno na entrada foram investigados (os quais
encontram-se especificados no Apêndice D), sendo a pressão na saída mantida constante
e igual à pressão atmosférica.
Segundo recomedações de Issa (2005), testes de malha devem ser constantemente
realizados devido ao problema da falta de hiperbolicidade do modelo. Para os casos

simulados aqui, malhas com espaçamento situados no intervalo 0,33 ≤ ∆x ≤ 2,64


D
foram utilizadas.

6.1
Obtenção dos Regimes Estratificado e de Golfadas

Nas seções 2.1 e 3.2, enfatizou-se a importância do uso dos mapas de padrões de
escoamento na seleção de condições de contorno adequadas para as simulações,
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correspondendo a situações em que o regime de golfadas deva ocorrer na realidade.


Assim, a habilidade da metodologia em naturalmente reproduzir o regime de golfadas é
demonstrada através da comparação do regime obtido nas simulações (se estratificado
ou golfadas) com um mapa de padrões de escoamento construído segundo os estudos de
Taitel e Dukler (1976) e Barnea e Taitel (1994). Um programa foi implementado para
calcular as curvas de transição apresentadas nestes trabalhos para os diversos regimes de
escoamento, e um mapa de padrão foi construído para cada configuração. Maiores
detalhes podem ser encontrados no Apêndice C.
A Figura 6.2 apresenta o mapa de padrões de escoamento correspondente à
configuração selecionada. O regime observado para cada condição de contorno testada é
localizado na figura, na qual utilizou-se o símbolo quadrado para indicar que o regime
de golfadas foi obtido e símbolo triangular para o regime estratificado.
Três velocidades superficiais do líquido foram testadas (UsL = 0,55 m/s,
UsL = 0,625 m/s e UsL = 1 m/s), e diversas velocidades superficiais do gás. Nota-se que,
de fato, para as velocidades superficiais que se situam na região do regime de golfadas,
este regime também foi observado como resultado das simulações. O mesmo ocorre
para o regime estratificado, porém não foi possível reproduzir o regime estratificado
ondulado; isto é, obteve-se um regime estratificado, mas as pequenas ondas na sua
superfície não são observadas. A inabilidade em prever este regime também foi
comentada por Issa e Kempf (2003). Isto provavelmente ocorre porque as ondas
Resultados para Tubulações Horizontais _____________________________________ 63

menores são essencialmente tridimensionais, portanto não podem ser corretamente


previstas com uma formulação unidimensional (conforme observado no Capítulo 3).

100.00
Golfadas Estratificado BOLHAS DISPERSAS

10.00
UsL ( m / s )

1.00 GOLFADAS

ANULAR

0.10
ESTRATIFICADO ESTRATIFICADO
ONDULADO

0.01
0.1 1.0 10.0 100.0
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U sG ( m / s )

Figura 6.2 – Mapa de padrões de escoamento; D = 0,078 m, tubulação horizontal e


propriedades dos fluidos segundo Issa e Kempf (2003) e Bonizzi (2003).

6.2
Investigação do Efeito do Hold-up de Líquido Inicial

Uma das grandezas fornecidas como condição de contorno na entrada é a fração


volumétrica de gás (relacionada à fração volumétrica de líquido através da eq. 3.7).
Todas as simulações realizadas no presente estudo partem da condição inicial de
escoamento estratificado, para o qual o hold-up de líquido é igual ao valor conhecido na
entrada da tubulação. A questão levantada aqui diz respeito à influência desta grandeza
no desenvolvimento do regime de golfadas na tubulação.
Segundo Taitel e Dukler (1976), existe um estado de equilíbrio hidrodinâmico
entre as fases, o qual o escoamento estratificado inicial deve buscar. Esta condição de
equilíbrio deve acontecer quando o escoamento é estável, i.e., os parâmetros do
escoamento determinam a manutenção do padrão estratificado. No entanto, segundo os
autores, mesmo que o regime de golfadas se desenvolva, isto continua a valer para a
região de entrada da tubulação anterior à região de formação das golfadas, onde o nível
de líquido deve situar-se próximo ao nível de equilíbrio.
Um caso teste em que se utilizou um valor de αL = 0,01 é apresentado na Fig. 6.3.
Resultados para Tubulações Horizontais _____________________________________ 64

Neste caso as velocidades superficiais de líquido e gás na entrada são iguais a 3 m/s e
0,55 m/s, respectivamente. Como pode ser observado na Fig. 6.2, nestas condições
espera-se que o regime de golfadas se desenvolva.

0.8 Nível de Equilíbrio (Taitel & Dukler, 1976)


60 s
0.7
Hold-up do Líquido

0.6

0.5

0.4
10 s 20 s 40 s
0.3

0.2

0.1

0.0

0 4 8 12 16 20 24 28 32 36
x(m)
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(a)

65 s

64 s

63 s

0 4 8 12 16 20 24 28 32 36
x(m)

(b)
Figura 6.3 – Desenvolvimento do regime de golfadas na tubulação para αL = 0,01:
(a) desenvolvimento do nível de líquido em equilíbrio, segundo Taitel e Dukler (1976); (b)
crescimento de perturbações na interface até formar a golfada precursora.

Segundo Taitel e Dukler (1977), é improvável que para níveis de líquido tão
baixos se desenvolvam ondas na interface. Mesmo quando o nível cresce, existe um
gradiente hidrostático entre as regiões em que o nível de líquido ainda corresponde a
Resultados para Tubulações Horizontais _____________________________________ 65

αL = 0,01 e o resto do domínio. Este gradiente parece ser grande o suficiente para que
pequenas perturbações em torno da interface se dissipem, devido ao efeito estabilizante
da gravidade. Assim, o escoamento estratificado busca primeiramente um novo estado
de equilíbrio (em que o nível de líquido de equilíbrio equivale ao hold-up de equilíbrio
de Taitel e Dukler, 1976), até que pequenas ondas consigam se desenvolver na interface
mais achatada, cresçam, e formem a golfada precursora; a qual varre o excesso de
líquido à sua frente, crescendo de tamanho e caminhando para a saída da tubulação. No
presente caso, as golfada precursora ocorreu aproximadamente no instante de tempo
igual a 63 s (Fig. 6.3b). A partir daí sucessivas golfadas vão se formando, cada vez mais
à montante da golfada antecessora, até uma região próxima à entrada da tubulação.
Um comportamento semelhante é observado para valores do hold-up inicial
sucessivamente maiores até o valor de equilíbrio. A diferença é que o instante em que a
primeira golfada se forma é adiantado, assim como o tempo para que o regime de
golfadas se desenvolva. Isto é observado na Fig. 6.4. O nível de líquido aumenta
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gradativamente, a partir do valor inicial de αL = 0,25, até atingir um patamar próximo ao


de equilíbrio, quando as pequenas perturbações começam a se desenvolver na interface,
formando a primeira golfada com aproximadamente 15 s. Vale ressaltar que a diferença
no nível de líquido inicial nestes casos não acarretou em mudanças significativas nos
parâmetros médios da golfada no regime estatisticamente permanente.

1.0
Nível de Equilíbrio (Taitel & Dukler, 1976)
0.9
0.8 15 s
Hold-up do Líquido

0.7
0.6 9s
6s
0.5
3s
0.4
0.3
0.2
0.1
0.0

0 4 8 12 16 20 24 28 32 36
x(m)
Figura 6.4 – Desenvolvimento do regime de golfadas na tubulação para αL = 0,25.
Resultados para Tubulações Horizontais _____________________________________ 66

Para valores do hold-up acima do valor de equilíbrio, no entanto, observou-se um


comportamento bastante instável da interface. Passos de tempo consideravelmente
menores são necessários para que haja estabilidade numérica da solução, uma vez que a
velocidade do gás tende a ser maior nestes casos. Ainda assim, não foi possível obter
soluções convergidas para estas condições.
Estas simulações preliminares ajudam a definir um valor inicial para as frações
volumétricas das fases. Para ajudar a justificar a escolha, curvas representando o lugar
geométrico dos pontos para αL = constante, com os valores do hold-up inicial utilizados
(até o equilíbrio), são sobrepostas no mapa de padrões de escoamento (Fig. 6.5). Por
simplicidade, e uma vez que a transição entre os regimes de golfadas e anular equivale a
αL = 0,5 (vide Apêndice C), um valor de αL = 0,4 foi escolhido como condição inicial
para todos os casos simulados (assim como nos estudos de Issa e Kempf, 2003; e
Bonizzi, 2003), situando-se portanto sempre menor do que o hold-up de equilíbrio. Vale
ainda ressaltar que não se está interessado no período de desenvolvimento do padrão de
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golfadas, mas sim depois que o regime estatisticamente permanente é atingido.

100.00
BOLHAS DISPERSAS

10.00
α L = α L,eq =0,7
UsL ( m / s )

1.00 GOLFADAS α L =0,5


α L =0,25

0.10 ANULAR

ESTRATIFICADO ESTRATIFICADO
ONDULADO
α L =0,01
0.01
0.1 1.0 10.0 100.0
U sG ( m / s )
Figura 6.5 – Curvas para αL = constante, correspondentes aos valores do hold-up inicial
das simulações preliminares (UsL = 3 m/s e UsG = 0,55 m/s); superpostas ao mapa de padrões
de escoamento para a configuração utilizada.

6.3
Parâmetros Médios das Golfadas

A seguir são apresentados os resultados das simulações para os casos em que a


pressão na interface foi considerada igual para ambas as fases (i.e., PiG = PiL), os quais
Resultados para Tubulações Horizontais _____________________________________ 67

envolveram três velocidades superficiais diferentes para o líquido (UsL = 0,55 m/s,
UsL = 0,625 m/s, e UsL = 1 m/s) e diversas velocidades superficiais do gás.
As Figuras 6.6 e 6.7 apresentam a evolução dos perfis de hold-up ao longo da
tubulação com o tempo, onde cada curva corresponde a um instante de tempo diferente.
As figuras ilustram o desenvolvimento do regime de golfadas na tubulação para dois
dos testes analisados, os quais correspondem às velocidades superficiais UsL = 0,55 m/s
e UsG = 2,18 m/s (Caso 1; Fig. 6.6); e UsL = 0,625 m/s e UsG = 2 m/s (Caso 2; Fig. 6.7).
Resultados dos parâmetros médios das golfadas (comprimento, velocidade e freqüência)
para estes casos serão detalhados nas sub-seções a seguir.
Na Fig. 6.6, correspondendo ao Caso 1, observa-se o surgimento da primeira golfada
com aproximadamente 15 s, ocorrendo um crescimento anormalmente alto do seu tamanho
ao viajar em direção à saída do domínio. Isto é uma conseqüência da condição inicial
imposta para o hold-up de líquido, a qual determina a quantidade de líquido que a golfada
encontra à sua frente. Naturalmente, como o excesso de líquido foi carregado pela golfada
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precursora, aquelas que se formam em seguida não apresentam este comportamento.


O mesmo tipo de resultado qualitativo é apresentado para o Caso 2 (Fig. 6.7), no
entanto para maiores instantes de tempo (140-170 s, aproximadamente), o que permite
constatar a permanência do regime de golfadas na tubulação.

28 s

24 s

20 s

16 s

0 4 8 12 16 20 24 28 32 36
x(m)

Figura 6.6 – Evolução dos perfis de hold-up com o tempo para o Caso 1: UsL = 0,55 m/s
e UsG = 2,18 m/s .
Resultados para Tubulações Horizontais _____________________________________ 68

170 s

160 s

150 s

140 s

0 4 8 12 16 20 24 28 32 36
x(m)

Figura 6.7 – Evolução dos perfis de hold-up com o tempo para o Caso 2: UsL = 0,625 m/s
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e UsG = 2 m/s .

Se um instante suficientemente longo for considerado, um regime estatisticamente


permanente é atingido, no qual as características das golfadas oscilam em torno de
valores médios. Com os diversos testes realizados aqui, recomenda-se pelo menos 300 s
de simulação para a obtenção de uma amostragem suficientemente grande para o
cálculo dos parâmetros médios das golfadas.

6.3.1
Comprimento das Golfadas

Dois tipos de resultados encontram-se ilustrados nas Figs. 6.8 a 6.11 (para os dois
casos apresentados aqui): histogramas típicos do comprimento adimensional médio das
golfadas próximo à saída da tubulação; e ainda, a evolução do comprimento médio das
golfadas ao longo da tubulação.
Para ambos os casos analisados, observa-se nas Figs. 6.9 e 6.11 que o
comprimento médio das golfadas ao longo de toda a tubulação, situa-se dentro da faixa
observada experimentalmente, a qual compreende valores entre 15D e 40D (Dukler e
Hubbard, 1975; Fabre e Liné, 1992). Entretanto, de acordo com os histogramas,
comprimentos fora desta faixa também acontecem, e valores tanto acima quanto abaixo
foram obtidos. As golfadas obtidas nas simulações exibem um comportamento similar
Resultados para Tubulações Horizontais _____________________________________ 69

em relação às observadas num regime real de golfadas em tubulações, no que diz


respeito ao grau de aleatoriedade apresentado (Dukler e Hubbard, 1975; Fabre e Liné,
1992; Barnea e Taitel, 1993; Bonizzi, 2003).
Nas Figs 6.9 e 6.11, observa-se ainda que, a partir de uma distância de
aproximadamente 250D e 200D (Casos 1 e 2, respectivamente), contados a partir da
entrada da tubulação, não são observadas grandes variações no comprimento das
golfadas. Portanto, pode-se concluir que os processos de crescimento e dissipação das
golfadas devam ocorrer, principalmente, para distâncias menores do que esta. É
importante ressaltar que efeitos de esteira resultantes do movimento da bolha à frente
da golfada não podem ser capturados pela formulação unidimensional; mas ainda assim,
os resultados se mostram bastante razoáveis. Os comprimentos médios obtidos próximo
à saída da tubulação foram 24D e 30D, para os Casos 1 e 2 respectivamente. O
comprimento máximo obtido foi da ordem de 64D para ambos os casos
(desconsiderando a golfada precursora, uma vez que o seu comprimento depende das
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condições iniciais); portanto 2,7 vezes o comprimento médio para o Caso 1, e 2,1 vezes
para o Caso 2. Este resultado também está de acordo com o modelo teórico de Barnea e
Taitel (1993), segundo o qual o máximo comprimento observado deve ser da ordem de
2 vezes o comprimento médio.

x = 30 m
25

20
No.de Ocorrências

15

10

0
0 8 16 24 32 40 48 56 64 Acima
Ls /D

Figura 6.8 – Caso 1: UsL = 0,55 m/s e UsG = 2,18 m/s. Histograma do comprimento
adimensional das golfadas próximo à saída da tubulação.
Resultados para Tubulações Horizontais _____________________________________ 70

40

35

30
Ls / D

25

20

15

0 50 100 150 200 250 300 350 400 450


x/D

Figura 6.9 – Caso 1: UsL = 0,55 m/s e UsG = 2,18 m/s. Evolução do comprimento médio
das golfadas ao longo da tubulação.
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x = 30 m
18
16
14
No.de Ocorrências

12
10
8
6
4
2
0
0 8 16 24 32 40 48 56 64 Acima
Ls /D

Figura 6.10 – Caso 2: UsL = 0,625 m/s e UsG = 2 m/s. Histograma do comprimento adimensional
das golfadas próximo à saída da tubulação.
Resultados para Tubulações Horizontais _____________________________________ 71

40

35

30
Ls / D

25

20

15

0 50 100 150 200 250 300 350 400 450


x/D
(b)

Figura 6.11 – Caso 2: UsL = 0,625 m/s e UsG = 2 m/s. Evolução do comprimento médio
das golfadas ao longo da tubulação.
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6.3.2
Velocidade de Translação das Golfadas

A velocidade média de translação da frente das golfadas é comparada com a


mesma correlação utilizada nos estudos de Issa e Kempf (2003) e Bonizzi (2003),
relacionando-a linearmente com a velocidade local de mistura (UM) através de
(Bendiksen, 1984):

U t = C oU M + U d , com :
(6.1)
⎧C o = 1,05 e U d = 0,54 gD , se FrM < 3,5


⎪C = 1,2 e U = 0, se Fr > 3,5
⎩ o d M

No presente trabalho, a velocidade de mistura é calculada através da soma das


velocidades superficiais de líquido e gás na entrada da tubulação. O número de Froude
baseado na velocidade de mistura é definido como: FrM = U M / gD . Assim, com
D = 0,078 m e g = 9,81 m/s2; Co = 1,2 para velocidades de mistura maiores do que
3,06 m/s; e Co = 1,05 para valores menores do que este.
Apesar de esta correlação ser válida, em princípio, para a cauda da golfada, é
comparada aqui com os valores obtidos numericamente para a velocidade média de
Resultados para Tubulações Horizontais _____________________________________ 72

translação da frente da golfada, com o intuito de comparar o erro na determinação deste


parâmetro no presente estudo e nos estudos de Bonizzi (2003). Segundo o autor, a
velocidade da frente da golfada é um importante parâmetro para calcular a taxa de
entrada de bolhas na golfada, a qual será futuramente implementada no código
desenvolvido neste trabalho. De qualquer maneira, como sugere a correlação de Cook e
Behnia (2000), a diferença entre a velocidade da cauda e da frente da golfada é menor
do que 5% para comprimentos maiores do que 5D, decaindo exponencialmente com
este parâmetro. Conforme visto anteriormente, golfadas com comprimentos menores do
que estes raramente persistem na tubulação.
As Figuras 6.12 e 6.13 ilustram o comportamento da velocidade média das
golfadas ao longo da tubulação. Quando uma golfada se forma, ocorre um bloqueio do
gás a montante dela, acarretando num aumento de pressão e subseqüente aceleração da
golfada em direção à saída da tubulação. Entretanto, o filme de líquido escoando à
jusante da golfada viaja a uma velocidade média menor. Em decorrência disto, após a
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aceleração inicial, as velocidades da frente e da cauda das golfadas diminuem ao


caminharem ao longo da tubulação, até estabilizarem em valores aproximadamente
constantes e muito próximos daquele previsto pela correlação de Bendiksen (1984). Em
ambos os casos mostrados aqui, isto ocorre para distâncias aproximadamente iguais
àquelas necessárias para que o comprimento atinja um valor aproximadamente estável.
Para distâncias menores, uma vez que a velocidade da frente é maior do que a cauda da
golfada, o crescimento do seu comprimento é observado (Figs. 6.9 e 6.11).

2.5 Frente da golfada

2.0 Cauda da golfada

1.5
Co

1.0

0.5 Co = 1.05, Bendiksen (1984)

0.0

0 50 100 150 200 250 300 350 400 450


x/D
Figura 6.12 – Evolução da velocidade média da frente e cauda das golfadas ao longo da
tubulação; Caso 1: UsL = 0,55 m/s e UsG = 2,18 m/s .
Resultados para Tubulações Horizontais _____________________________________ 73

2.5 Frente da golfada

2.0 Cauda da golfada

1.5
Co

1.0

0.5 Co = 1.05, Bendiksen (1984)

0.0

0 50 100 150 200 250 300 350 400 450


x/D
Figura 6.13 – Evolução da velocidade média frente e cauda das golfadas ao longo da
tubulação; Caso 2: UsL = 0,625 m/s e UsG = 2 m/s .

A Figura 6.14 fornece uma comparação entre os valores das constantes Co obtidos
numericamente e o valor da constante na correlação de Bendiksen (1984), para as
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diversas velocidades de mistura utilizadas. Assim como no trabalho de Bonizzi (2003),


uma boa concordância foi obtida, uma vez que todos os pontos se situam numa faixa de
15 % em relação à correlação.

Figura 6.14 – Razão entre as constantes Co num,obtidas numericamente, e Co exp (Co exp = 1,05,
se UM < 3,06 m/s; Co exp = 1,2, se UM > 3,06 m/s) da correlação de Bendiksen (1984).

6.3.3
Freqüência das Golfadas

O valor do hold-up do líquido foi monitorado em duas posições fixas na


tubulação, próximo à região de formação das golfadas (x = 15 m) e próximo à saída da
tubulação (x = 30 m), como mostrado nas Figs. 6.15 e 6.16 (as quais correspondem ao
Resultados para Tubulações Horizontais _____________________________________ 74

Caso 1). Do sinal obtido, calcula-se as freqüências das golfadas conforme descrito no
Capítulo 4. O resultado é mostrado nas Figs. 6.17e 6.18 (Casos 1 e 2, respectivamente),
onde fica evidente que a freqüência flutua randomicamente com o tempo, como é o caso
do comprimento das golfadas.
1.0
H o ld -u p d o L íq u id o

0.5

0.0

100 150 200 250 300


Tempo ( s )
Figura 6.15 – Variação do hold-up do líquido com o tempo para x = 15 m. Caso 1.
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1.0
H old-up do Líquido

0.5

0.0

100 150 200 250 300


Tempo ( s )
Figura 6.16 – Variação do hold-up do líquido com o tempo para x = 30 m. Caso 1.
1.0
F req . ( 1 / s )

0.5

0.0

0 100 200 300 400


Tempo ( s )
Figura 6.17 – Distribuição da freqüência com o tempo obtida para o Caso 1, em x = 30 m.
Resultados para Tubulações Horizontais _____________________________________ 75

0.8

F req . ( 1 / s )
0.4

0.0

0 100 200 300 400


Tempo ( s )
Figura 6.18 – Distribuição da freqüência com o tempo obtida para o Caso 2, em x = 30 m.

Os valores médios da freqüência foram comparados com a correlação de Gregory


e Scott (1969):

1, 2
⎡U ⎛ 19,75 ⎞⎤
ν s = 0,0226 ⎢ sL ⎜⎜ + U M ⎟⎟⎥ (6.2)
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⎣ gD ⎝ U M ⎠⎦

A freqüência média foi calculada para três velocidades superficiais do líquido


(UsL = 0,55; 0,625 e 1 m/s), e diversas velocidades superficiais do gás. Os resultados
encontrados são apresentados nas Figs. 6.19 a 6.21, juntamente com os valores dados
pela correlação de Gregory e Scott (1969). Os erros absolutos médios calculados em
relação à correlação, para cada velocidade superficial do líquido, foram de 9%, 17% e
12%, respectivamente, o que mostra uma concordância bastante razoável também para
este parâmetro da golfada.
1.2

1.1

1.0

0.9
Sim. Numéricas
0.8
Freq. ( 1 / s )

Gregory & Scott (1969)


0.7

0.6

0.5

0.4

0.3 UsL = 0.55 m / s


0.2

0.1

0.0

0.0 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 6.0


UsG ( m / s )
Figura 6.19 – Comparação dos valores médios da freqüência com a correlação de Gregory e
Scott (1969), para UsL = 0,55 m/s.
Resultados para Tubulações Horizontais _____________________________________ 76

1.2

1.1

1.0

0.9
Sim. Numéricas
0.8

Freq. ( 1 / s )
Gregory & Scott (1969)
0.7

0.6

0.5

0.4
UsL = 0.625 m / s
0.3

0.2

0.1

0.0

0.0 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 6.0


UsG ( m / s )

Figura 6.20 – Comparação dos valores médios da freqüência com a correlação de Gregory e
Scott (1969), para UsL = 0,625 m/s.

1.2

1.1
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1.0

0.9
Sim. Numéricas
0.8
Freq. ( 1 / s )

Gregory & Scott (1969)


0.7

0.6

0.5

0.4
UsL = 1 m / s
0.3

0.2

0.1

0.0

0.0 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 6.0


UsG ( m / s )
Figura 6.21– Comparação dos valores médios da freqüência com a correlação de Gregory e
Scott (1969), para UsL = 1 m/s.

Foi feita ainda uma comparação entre os valores médios da freqüência calculada
próximo à região de formação das golfadas, e próximo à saída da tubulação (Fig. 6.22).
Em todos os casos analisados, a freqüência diminui ao longo da tubulação, como
também observado em diversas referências na literatura (Taitel e Dukler, 1977;
Tronconi, 1990). Segundo Tronconi (1990), a razão entre os valores de freqüência
próximo à região de formação das golfadas e os valores próximo à saída da tubulação
deveria situar-se em torno de 2. Entretanto, para os casos simulados aqui, a razão média
entre estas duas freqüências foi de 17%, mostrando uma grande discrepância em relação
ao valor proposto pelo autor. Na verdade, a estimativa teórica proposta por Tronconi
Resultados para Tubulações Horizontais _____________________________________ 77

(1990) é extremamente arbitrária, e comparações com dados experimentais fariam-se


necessárias. No entanto, não foram encontrados outros dados na literatura para
estabelecer esta comparação.

Figura 6.22 – Razão entre as freqüências na próximo à região de formação das golfadas
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(x= 15 m) e próximo à saída da tubulação (x = 30 m).

6.4
Investigação do Efeito do Salto de Pressão na Interface

No Capítulo 5 foi apresentada uma discussão teórica sobre o caráter matemático


das equações do Modelo de Dois Fluidos. A análise das características das equações
mostrou que, em principio, o salto de pressão interfacial não traria mudanças
significativas de forma a aumentar a região para o qual o modelo de dois fluidos é bem-
posto. No entanto, a análise não levou em conta a influência da malha na natureza das
equações. Isto requereria o cálculo dos autovalores, segundo a eq. (5.2), do sistema de
equações discretizado; e não diretamente das equações diferenciais. Porém, esta tarefa
foge do escopo do presente trabalho. Em contrapartida, testes de malha são utilizados
aqui de forma a determinar se o problema é mal-posto para as condições de contorno
utilizadas, o qual ocorre quando uma solução independente da malha não é possível ser
alcançada.
Para ilustrar o efeito da malha nos perfis de hold-up, definiu-se um caso com
velocidades superficiais iguais a UsL = 1 m/s e UsG = 2 m/s. As Figura 6.23 a 6.25
apresenta a evolução do holdup ao longo da tubulação para diferentes instantes de
Resultados para Tubulações Horizontais _____________________________________ 78

tempo, sem o salto de pressão na interface, e para três espaçamentos de malha,


correspondentes a ∆x/D = 2,64; 1,32 e 0,33.
Nota-se que, quando o espaçamento da malha é maior (Fig. 6.23), os menores
comprimentos de onda ou foram filtrados pela malha, ou são amortecidos pela alta
difusão numérica. O resultado é o padrão mais complexo observado nas malhas mais
finas (Fig. 6.24 e 6.25) próximo à região da entrada da tubulação, resultante da interação
entre os maiores e menores comprimentos de onda presentes, estes introduzidos com o
refinamento da malha. Esquemas upwind são conhecidos tipicamente por suavizarem
descontinuidades (como deve ser o caso da frente da golfada) como conseqüência da
difusão numérica. Isto é claramente observado na Figs. 6.25, onde nota-se que a frente
das golfadas se torna mais abrupta na malha mais refinada.
As Figuras 6.26 a e b ilustram a influência da malha na freqüência média das
golfadas para dois dos casos analisados, sem considerar o salto de pressão na interface.
Para o caso mostrado em 6.26a, foi possível obter uma solução independente da malha
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(para ∆x/D = 0,6, aproximadamente), o que não aconteceu no outro caso. A


impossibilidade da obtenção de uma solução única com o refinamento da malha é uma
manifestação da má-colocação do sistema para estas condições de contorno. Quando o
nível de dissipação (seja devido à difusão numérica, seja devido aos termos de interação
interfacial) é insuficiente, um crescimento irreal das perturbações deve ser observado,
levando obviamente a valores também irreais para a freqüência das golfadas.

30 s

20 s

10 s

0 4 8 12 16 20 24 28 32 36
x(m)
Figura 6.23 – Evolução dos perfis de hold-up com o tempo: UsL = 1 m/s e UsG = 2 m/s;
∆x/D = 2,64.
Resultados para Tubulações Horizontais _____________________________________ 79

30 s

20 s

10 s

0 4 8 12 16 20 24 28 32 36
x(m)

Figura 6.24 – Evolução dos perfis de hold-up com o tempo: UsL = 1 m/s e UsG = 2 m/s;
∆x/D = 1,32.
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30 s

20 s

10 s

0 4 8 12 16 20 24 28 32 36
x(m)

(c) ∆x/D =0,33


Figura 6.25 – Evolução dos perfis de hold-up com o tempo: UsL = 1 m/s e UsG = 2 m/s;
∆x/D =0,33.
Resultados para Tubulações Horizontais _____________________________________ 80

1.0
Sim. Numéricas, sem salto de pressão
Freq ( 1 / s ) 0.8

0.6 Gregory & Scott (1969)

0.4

0.2

0.0

0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0


Espaçamento da Malha ( ∆ x/D)
(a) UsL = 0,625 m/s e UsG = 2 m/s
1.0
Sim. Numéricas, sem salto de pressão
0.8
Freq ( 1 / s )

0.6 Gregory & Scott (1969)


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0.4

0.2

0.0

0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0


Espaçamento da Malha ( ∆ x/D)
(b) UsL = 1 m/s e UsG = 2 m/s

Figura 6.26 – Influência da do espaçamento da malha na freqüência das golfadas:


(a) UsL = 0,625 m/s e UsG = 2 m/s; (b). UsL = 1 m/s e UsG = 2 m/s.

Na Figura 6.27 (a e b) encontram-se apresentados resultados para a freqüência


média das golfadas, para o modelo sem e com salto de pressão interfacial. As
velocidades superficiais de líquido e gás prescritas na entrada foram de UsL = 0,625 m/s
e UsG = 3,1 m/s; e UsL = 1 m/s e UsG = 2 m/s. Além disso, três espaçamentos de
malha foram utilizados: ∆x/D = 1,32; 0,66 e 0,33. Nenhuma influência significativa se
observa na tendência seguida pela freqüência com o refinamento da malha. Como uma
solução independente da malha não foi atingida em nenhuma das situações, a
consideração do salto de pressão interfacial não resolveu o problema da falta de
hiperbolicidade do modelo nos casos analisados.
Resultados para Tubulações Horizontais _____________________________________ 81

(a) UsL = 0,625 m/s e UsG = 3,1 m/s


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(b) UsL = 1 m/s e UsG = 2 m/s


Figura 6.27 – Influência do espaçamento da malha na freqüência média das golfadas, sem e
com o salto de pressão interfacial; (a) UsL = 0,625 m/s e UsG = 3,1 m/s; e (b) UsL = 1 m/s e
UsG = 2 m/s.

A Figura 6.28 ajuda a justificar os testes numéricos realizados, uma vez que
ilustra a variação da influência relativa do termo fonte devido ao salto de pressão na
equação para determinar a velocidade do líquido (eq. 4.15) com o espaçamento da
malha. Para tal, uma nova variável é definida (b*):

a
b* = b + (1 − γ ) w U *K , w − α K , w A( PGi , P − PGi ,W ) (6.3)
γ

de modo que
Resultados para Tubulações Horizontais _____________________________________ 82

aw
U L, w = a wwU L, ww + aeU L, e + b* (6.4)
γ

Durante as simulações, a razão bsalto / b* foi monitorada. Na Figura 6.28, os


valores máximos atingidos para cada espaçamento de malha são apresentados. De fato,
apesar de a influência do salto de pressão aumentar para malhas mais refinadas, ainda
sim sua contribuição para o termo fonte b* é desprezível (situando-se na ordem de
0,1%, para o menor espaçamento utilizado e ambos os casos analisados).

1E-2
UsL = 1 m/s; UsG = 2 m/s

UsL = 0.625 m/s; UsG = 3.1 m/s


bsalto / b*

1E-3

1E-4
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1E-5

0.00 0.25 0.50 0.75 1.00 1.25 1.50


Espaçamento da Malha ( ∆ x/D)
Figura 6.28 – Variação da influência relativa do termo fonte na equação discretizada com o
espaçamento da malha para UsL = 0,625 m/s e UsG = 3,1 m/s, e UsL = 1 m/s e UsG = 2 m/s.
7
Resultados para Tubulações Inclinadas

Dando continuidade ao que foi apresentado no Capitulo 6, neste capítulo uma


segunda configuração de tubulações é analisada, tendo por objetivo aumentar a
abrangência dos testes realizados neste estudo. A geometria consiste de uma seção em
“V” simétrica, com trechos descendente e ascendente de 21,34 m de comprimento e
inclinação de β = –1,93º e 1,93º com a horizontal, respectivamente, como ilustrado na
Fig. 7.1a. A tubulação possui diâmetro D = 0,0508 m. Para garantir uma transição suave
entre as partes descendente e ascendente da seção, um pequeno trecho horizontal de 0,3
m é acrescentado. Esta configuração visa reproduzir a seção em “V” usada no estudo
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experimental de Al Safran et al. (2005).


Para investigar o efeito de pequenas inclinações nas características do regime de
golfadas, as mesmas condições são testadas para casos em que a tubulação está na
horizontal, Fig. 7.1b, e com inclinação descendente de –1,93º (trecho único), Fig. 7.1c.
O comprimento total L utilizado em todos os casos foi constante e igual a 42,98 m,
portanto equivalente ao comprimento total da seção em “V” utilizada no referido
estudo.
Inicialmente, a capacidade da metodologia em reproduzir as regiões dos mapas de
padrões de escoamento para as quais os regimes estratificado e de golfadas se observam
é ilustrada. A seguir, investiga-se a influência da inclinação na tubulação nos regimes de
escoamento.
A mistura bifásica utilizada corresponde àquela dos estudos de Al Safran et al.
(2005). A fase gasosa é formada pelo ar, com a constante de gás R igual a 287 N m /(kg
K) e viscosidade absoluta µ igual a 1,796 × 10-5 Pa.s. Como fase líquida utilizou-se um
óleo de massa específica ρ definida como 890,6 kg/m3, e viscosidade absoluta µ igual a
1,02 × 10-2 Pa.s. A pressão na saída é mantida constante e igual à pressão atmosférica. O
valor do hold-up de líquido inicial foi definido igual a 0,4, conforme discutido no
capítulo anterior.
Resultados para Tubulações Inclinadas ______________________________________ 84

αG, UsG
patm
UsL

β β
L=21,34 m
L=21,34 m
L=0,3m
(a) tubulação em “V”
αG, UsG
patm
UsL
(b) L=42,98 m

(b) tubulação horizontal


αG, UsG
UsL L=42,98 m

β
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patm

(c) levemente inclinada.

Figura 7.1 – Configurações utilizadas: (a) tubulação em “V”; (b) tubulação horizontal e
(c) levemente inclinada.

7.1
Obtenção dos Regimes Estratificado e de Golfadas

Para verificar a capacidade de obtenção dos regimes de escoamento, a mesma


geometria para a seção em “V” e propriedades dos fluidos utilizada no trabalho de Al
Safran et al. (2005) foram utilizadas, conforme descrito acima. Visando identificar a
influência da inclinação da tubulação nos padrões de escoamento, para as mesmas
velocidades superficiais, investigou-se uma tubulação horizontal, β = 0º, e outra
descendente, com inclinação β = –1,93º em relação à horizontal. O regime de
escoamento foi obtido para dois pares de velocidades superficiais de líquido e gás iguais
a UsL = 1,22 m/s, UsG = 1,3 m/s; e UsL = 0,6 m/s, UsG = 0,64 m/s.
Os mapas apresentados nas Figs. 7.2 e 7.3 foram construídos para tubulações com
inclinação β = 0º e β = –1,93º em relação à horizontal, respectivamente. O regime
observado para cada condição de contorno testada é localizado na figura, na qual
utilizou-se o símbolo quadrado para indicar que o regime de golfadas foi obtido, e
Resultados para Tubulações Inclinadas ______________________________________ 85

símbolo triangular para o regime estratificado.


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Figura 7.2 – Mapa de padrões de escoamento; D = 0,0508 m, tubulação horizonal(β = 0º), e

propriedades dos fluidos segundo Al Safran et al. (2005).

Figura 7.3 – Mapa de padrões de escoamento; D = 0,0508 m, tubulação descendente (β = –

1,93º), e propriedades dos fluidos segundo Al Safran et al. (2005).

Para o caso horizontal, Fig. 7.2, observa-se que o regime de golfadas foi
observado nos dois casos analisados, confirmando a expectativa esperada através do
Resultados para Tubulações Inclinadas ______________________________________ 86

mapa. Para o caso da tubulação inclinada, Fig. 7.3, o mapa de padrões prevê um
aumento da região de regime estratificado, englobando um dos casos que previamente
situava-se na região de golfadas. Esta tendência também foi observada nas simulações.

7.2
Características das Golfadas

Através de observações experimentais, Al Safran et al. (2005) propuseram uma


maneira de classificar qualitativamente a influência da seção em “V” nas características
do regime de golfadas. A classificação apresentada no referido trabalho visa identificar
regimes de escoamento no vale da tubulação como uma função das velocidades
superficiais do líquido e do gás para diferentes ângulos de inclinação da tubulação. De
acordo com os autores, o acúmulo de líquido no vale é devido à entrada de massa pela
seção descendente e escoamento reverso pela seção ascendente. Portanto, o escoamento
no vale é acoplado com as condições de escoamento da seção descendente à montante e
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ascendente à jusante. Porém, o comportamento qualitativo do escoamento (i.e., se as


golfadas crescem ou não de tamanho, se ocorre ou não a formação de golfadas no vale
da seção, ou se não há influência da irregularidade da tubulação) é acoplado somente ao
comportamento do escoamento na seção descendente.
Diversas categorias são identificadas no trabalho de Al Safran et al. (2005), duas
das quais são qualitativamente reproduzidas aqui. A primeira categoria escolhida
(chamada “Categoria 1”) engloba os casos em que não se observam golfadas na seção
descendente, mas estas podem ser formar no vale da seção devido à acumulação de
líquido proveniente tanto da seção descendente quanto da ascendente. A segunda
categoria (ou “Categoria 2”), por outro lado, incorpora as situações em que a freqüência
das golfadas na parte descendente é tão alta que não há tempo o suficiente para que haja
a acumulação de líquido e formação de golfadas no vale da seção.
As velocidades superficiais de líquido e gás usadas nos casos escolhidos foram as
seguintes: UsL = 0,6 m/s, UsG = 0,64 m/s, correspondentes à Categoria 1; e UsL = 1,22
m/s, UsG = 1,3 m/s; UsL , correspondentes à Categoria 2. De modo a avaliar o efeito de
pequenas inclinações nas características do regime de golfadas, três configurações
foram testadas para cada caso: tubulação horizontal, tubulação descendente e seção em
“V”. A seguir, os resultados encontram-se apresentados para cada categoria.
Infelizmente, somente foi possível realizar uma comparação qualitativa com os
dados experimentais de Al Safran et al. (2005), pois os autores não puderam fornecer os
Resultados para Tubulações Inclinadas ______________________________________ 87

dados necessários para uma análise quantitativa devido ao sigilo comercial exigido para
os mesmos. Adicionalmente, apesar da seção de teste em “V” utilizada na simulação ser
exatamente como no referido trabalho, o comprimento total da tubulação na bancada
experimental é de 420 m, pois foi utilizado um grande comprimento de tubulação a
montante e outro a jusante da seção de testes. Uma vez que a simulação em uma
tubulação de 420 m requer um excessivo esforço computacional e na falta de maiores
detalhes experimentais devido ao sigilo comercial, optou-se por realizar somente uma
comparação qualitativa.

7.2.1
Categoria 1

As Figuras 7.4 a 7.6 mostram a evolução dos perfis de hold-up com o tempo ao
longo da tubulação, para as três geometrias utilizadas e velocidades superficiais iguais a
UsL = 0,6 m/s e UsG = 0,64 m/s. O regime de golfadas é observado na tubulação
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horizontal, Fig. 7.4, mas não é observado para o caso em que a tubulação é descendente,
Fig. 7.5, (conforme já apontado pelos mapas de padrões apresentados na seção anterior).
Isto acontece devido ao efeito estabilizante exercido pela gravidade, a qual impede que
pequenas perturbações cresçam na interface e originem as golfadas. Para a seção em
“V”, ilustrada na Fig. 7.6, o regime de golfadas se desenvolve através da acumulação de
líquido no vale. Para as velocidades superficiais utilizadas, este foi exatamente o
comportamento observado experimentalmente por Al Safran et al. (2005).
A Tabela 7.1 apresenta os valores médios para a constante Co (calculado a partir
da eq. 6.1), freqüência (νs), e comprimento adimensional (Ls / D) das golfadas obtidos
numericamente para a posição axial x = 37 m. É interessante notar que o regime de
golfadas, resultante da acumulação de líquido no vale da seção em “V”, possui uma
freqüência superior àquela observada para o caso horizontal, o que ocorre pelo fato de
as golfadas possuírem um comprimento médio menor neste caso (já que as velocidades
não variam significativamente). Esta tendência também foi observada por Al Safran et
al. (2005). Ainda, o valor da constante Co para as golfadas iniciadas no vale da seção em
“V” situa-se próximo de 1,2 ; resultado este também obtido experimentalmente.
Resultados para Tubulações Inclinadas ______________________________________ 88

60 s

50 s

40 s

30 s

20 s

0 7 14 21 28 35 42
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x(m)
Figura 7.4 - Evolução dos perfis de hold-up com o tempo: UsL = 0,6 m/s e UsG = 0,64 m/s;
tubulação horizontal

60 s

50 s

40 s

30 s

20 s

0 7 14 21 28 35 42
x(m)
Figura 7.5 - Evolução dos perfis de hold-up com o tempo: UsL = 0,6 m/s e UsG = 0,64 m/s;
tubulação descendente
Resultados para Tubulações Inclinadas ______________________________________ 89

40

35

30

25

20

15
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10

0 7 14 21 28 35 42
Figura 7.6 - Evolução dos perfis de hold-up com o tempo: UsL = 0,6 m/s e UsG = 0,64 m/s;
seção em “V”.

Tabela 7.1 – Variação dos parâmetros médios das golfadas com a geometria da tubulação, em
x = 37m, para UsL = 0,6 m/s e UsG = 0,64 m/s
Geometria Co νs (1 / s) Ls / D
Horizontal 1,25 0,33 42,6
Descendente - - -
“V” 1,23 0,38 29,6
Resultados para Tubulações Inclinadas ______________________________________ 90

7.2.2
Categoria 2

As Figuras 7.7 a 7.9 apresentam a evolução dos perfis de hold-up com o tempo, ao
longo da tubulação, para as três geometrias utilizadas e velocidades superficiais iguais a
UsL = 1,22 m/s e UsG = 1,3 m/s. Pode-se observar que, ao contrário da Categoria 1, as
golfadas ocorrem em todos os casos analisados: tanto para o caso horizontal, Fig. 7.7,
quanto para o caso descendente ilustrado na Fig. 7.8 e para a seção em “V”, Fig. 7.9.
Nota-se que para esta categoria, o mecanismo de formação das golfadas é igual em todas
as geometrias,ocorrendo a aproximadamente a 7 m da entrada para todos os casos (na
realidade, a gravidade parece retardar um pouco a formação das golfadas, uma vez que
estas se formam, para o caso horizontal, um pouco mais perto da entrada).
Adicionalmente, nota-se que, devido às altas freqüências envolvidas, não há tempo
suficiente para que haja acumulação de líquido no vale da seção, portanto no caso da
seção em “V”, não surgem golfadas adicionais resultantes deste fenômeno, estando de
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acordo com as observações experimentais de Al Safran et al. (2005).


A Tabela 7.2 apresenta as os valores médios para a constante Co (calculado a
partir da eq. 6.1), freqüência (νs), e comprimento adimensional (Ls / D) das golfadas
obtidos numericamente para a posição axial x = 37 m. Analisando a Tabela 7.2,
observa-se que assim como para a Categoria 1, não foram observadas diferenças
significativas entre os valores obtidos para a constante Co nas diferentes geometrias.
Entretanto, uma discrepância um pouco maior (a maior foi para o caso horizontal, igual
a 17%) em relação ao valor 1,2 foi encontrada. Entre os casos horizontal e descendente,
observou-se uma diminuição do comprimento médio das golfadas em 5%, e a
freqüência permaneceu praticamente constante. Já para a seção em “V”, observou-se um
aumento considerável do comprimento médio das golfadas (de 58% em relação ao caso
descendente e 53% em relação ao caso horizontal), o qual é acompanhado por uma
diminuição da freqüência (de aproximadamente 14% em relação aos outros dois casos).
O aumento do comprimento médio das golfadas, para este caso, pode ser devido ao
acúmulo de líquido no vale, que apesar de não induzir novas golfadas, adiciona líquido
às mesmas, fazendo-as crescerem de tamanho. Outro fator que possivelmente contribui
para este efeito é o fato de que a velocidade do filme de líquido na parte ascendente é
menor. Assim, maior deve ser a velocidade relativa entre as golfadas e o filme de
líquido à frente delas, e portanto maior a quantidade de líquido incorporada.
Resultados para Tubulações Inclinadas ______________________________________ 91

70 s

60 s

50 s

40 s

30 s

20 s
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412763/CA

0 7 14 21 28 35 42
x(m)
Figura 7.7 - Evolução dos perfis de hold-up com o tempo: UsL = 1,22 m/s e UsG = 1,3 m/s;
tubulação horizontal
70 s

60 s

50 s

40 s

30 s

20 s

0 7 14 21 28 35 42
x(m)
Figura 7.8 - Evolução dos perfis de hold-up com o tempo: UsL = 1,22 m/s e UsG = 1,3 m/s;
tubulação descendente.
Resultados para Tubulações Inclinadas ______________________________________ 92

70 s

60 s

50 s

40 s

30 s

20 s
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412763/CA

0 7 14 21 28 35 42
x(m)
Figura 7.9 - Evolução dos perfis de hold-up com o tempo: UsL = 1,22 m/s e UsG = 1,3 m/s;
seção em “V”.

Tabela 7.2 – Variação dos parâmetros médios das golfadas com a geometria da tubulação,
para UsL = 1,22 m/s e UsG = 1,3 m/s.
Geometria Co νs (1 / s) Ls / D
Horizontal 1,40 0,95 13,9
Descendente 1,39 0,94 13,5
“V” 1,37 0,83 21,3

A Fig. 7.10 ilustra a variação do comprimento médio das golfadas ao longo da


tubulação para as três geometrias analisadas. É interessante notar que não houve uma
variação significativa neste parâmetro quando os casos horizontal e descendente são
analisados. As altas velocidades superficiais envolvidas parecem minimizar o efeito da
gravidade. Anda assim, observa-se uma pequena diferença nos perfis, sendo que valores
um pouco maiores são observados para a geometria descendente até a coordenada
x = 600 D, e um pouco maiores no caso horizontal a partir desta posição. Uma maior
degeneração de golfadas ocorre no caso descendente, formando ondas que são
incorporadas por outras golfadas, as quais crescem de tamanho. Por outro lado, o
Resultados para Tubulações Inclinadas ______________________________________ 93

processo de crescimento das golfadas no caso horizontal parece sobrepor este fator para
longas distâncias axiais.
Para a seção em “V”, maiores comprimentos foram observados ao longo de toda a
tubulação; sendo que as maiores diferenças em relação às outras geometrias ocorrem na
parte ascendente da seção (a partir de 425 D, aproximadamente), onde também nota-se
um aumento significativo no comprimento das golfadas. Isto claramente mostra uma
assimetria da influência da gravidade no comprimento das golfadas. Segundo Al Safran
(2005), apesar de a seção em “V” ser simétrica, a influência da gravidade não
necessariamente o é, podendo ser mais significativa tanto na parte descendente quanto
na parte ascendente, a depender do caso analisado.

35
Horizontal
30 Descedente
25 Seção V
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20
Ls / D

15

10

0
0 100 200 300 400 500 600 700 800
x/D

Figura 7.10 – Variação do comprimento médio das golfadas ao longo da tubulação:


UsL = 1,22 m/s e UsG = 1,3 m/s; tubulação horizontal, descendente e seção em “V”.
8
Conclusões e Sugestões para Trabalhos Futuros

Desenvolveu-se um código numérico para prever o desenvolvimento do regime


de golfadas, a partir do escoamento estratificado, em tubulações horizontais e
levemente inclinadas. A metodologia utilizada baseia-se no Modelo de Dois Fluidos
em sua forma unidimensional e transiente.
Em escoamentos bifásicos, diferentes regimes de escoamento podem ocorrer, a
depender da geometria da tubulação (diâmetro e inclinação), propriedades dos fluidos
e condições de operação. Assim, para ajudar a definir condições iniciais e de contorno
adequadas para a reprodução do regime de golfadas pelo modelo, mapas de padrões
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de escoamento são necessários. Um programa foi desenvolvido como ferramenta de


auxílio às simulações, com a finalidade de determinar os mapas de padrões de
escoamento em tubulações horizontais e levemente inclinadas, baseado em estudos
anteriores da literatura (Taitel e Dukler, 1976; Barnea e Taitel, 1994).
Uma discussão teórica a respeito da hiperbolicidade do Modelo de Dois
Fluidos foi apresentada, investigando a influência da consideração de um salto de
pressão na interface na região para a qual o modelo é bem-posto. Os autovalores para
o sistema na forma incompressível são obtidos, e a partir deles derivou-se o critério
para determinar sob que condições o modelo é bem- ou mal-posto. Não foram
calculados os autovalores para a forma compressível do modelo, mas assim mesmo
pôde se concluir que o critério não deve mudar significativamente com a introdução
do salto de pressão. A análise permitiu concluir que, para grandes espaçamentos de
malha (onde os menores comprimentos de onda são filtrados), o efeito do salto de
pressão deve ser desprezível. Para menores espaçamentos de malha, no entanto, a
influência do salto de pressão parece ser maior, sendo que testes numéricos foram
necessários para avaliar se este termo garante a hiperbolicidade do modelo nestes
casos.
Os resultados alcançados no presente estudo demonstram que o Modelo de
Dois Fluidos é capaz de prever corretamente o crescimento das perturbações na
interface do escoamento estratificado e subseqüente desenvolvimento do regime de
Conclusões e Sugestões para Trabalhos Futuros________________________________________ 95

golfadas em tubulações de maneira natural, i.e., as equações do modelo são mantidas


em ambos os regimes; estratificado e golfadas. A correta previsão do crescimento das
perturbações é determinada através de uma competição entre a difusão numérica, a
interação interfacial e a má-colocação das equações. Resultados bastante razoáveis
devem ser esperados, desde que o espaçamento da malha seja fino o suficiente para
que haja acurácia da solução, mas não fino o suficiente para que a má-colocação do
sistema se manifeste. Fenômenos como crescimento e dissipação de golfadas ocorrem
como resultado da dinâmica do escoamento nas simulações, as quais parecem
reproduzir corretamente as características físicas do escoamento real.
A caracterização das golfadas foi feita através do monitoramento do
comprimento, freqüência e velocidade de translação em diversos pontos da tubulação.
Rotinas para o cálculo destes parâmetros foram implementadas, e validações foram
realizadas utilizando-se diversos resultados da literatura. Para os casos em que a
tubulação se encontra na horizontal, a concordância com observações experimentais e
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correlações é notável, especialmente tendo-se em vista a simplicidade da formulação


unidimensional utilizada. As comparações qualitativas dos resultados para tubulações
inclinadas indicam que a metodologia incorpora corretamente o efeito de pequenas
inclinações nas características do regime de golfadas.
Tendo-se em vista o objetivo de desenvolver um modelo fenomenológico capaz
de reproduzir com o maior grau de acurácia possível (considerando uma formulação
unidimensional) os fenômenos mais importantes do escoamento bifásico no regime de
golfadas, alguns objetivos ainda precisam ser buscados.
Primeiramente, validações ainda precisam ser realizadas para outros parâmetros
do escoamento como a perda de carga e holdup.
Na tentativa de investigar a hiperbolicidade do modelo, algumas sugestões são
propostas: a incorporação de um termo que leve em consideração a massa virtual das
fases, a qual possivelmente traria um efeito estabilizante nas equações; a utilização de
uma malha não-uniforme no domínio (menos refinada na região de formação das
golfadas de modo a introduzir artificialmente uma maior dissipação, uma vez que
nesta região a falta de hiperbolicidade é crítica) e realização da análise dos
autovalores para o sistema de equações na sua forma compressível e discretizada.
Para tubulações inclinadas, a reprodução das características de outras categorias
de escoamento (Al Safran, 2005) devem ainda ser buscadas, assim como validações
quantitativas de uma maneira geral.
Conclusões e Sugestões para Trabalhos Futuros________________________________________ 96

Por último, um fenômeno importante (desconsiderado no presente modelo) que


ocorre no escoamento real em regime de golfadas é a presença de bolhas de gás no
corpo da golfada. Para levar em conta este efeito, o Modelo de Dois Fluidos pode ser
combinado ao Modelo de Escorregamento (Bonizzi, 2003), resultando num conjunto
de 4 equações de conservação: duas equações de continuidade (uma para a mistura e
outra para a fase dispersa); e duas equações de quantidade de movimento (uma para a
mistura e outra para a fase gasosa).
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APÊNDICE A

As equações de conservação apresentadas na seção (3.1) para o Modelo de


Dois Fluidos são válidas apenas ao longo das fases líquida e gasosa, mas não na
interface entre elas. Assim, é preciso escrever equações de conservação também
para a região da interface e desenvolver expressões de fechamento que façam
possível o acoplamento entre as fases. Como no presente trabalho, não há
transferência de massa entre líquido e gás, é necessário apenas o fechamento para
a quantidade de movimento.
As equações apresentadas no Capítulo 3 já incluem a hipótese de que não há
um salto na tensão cisalhante através da interface, uma vez que o atrito interfacial
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é considerado o mesmo nas equações de quantidade de movimento para líquido e


gás. Por outro lado, pode–se representar o balanço das tensões normais em um
volume de controle, com espessura tendendo a zero, envolvendo a interface da
seguinte maneira (Delhaye,1974):

σ
piG − piL = (A.1)
R

onde p é a pressão, σ é a tensão interfacial, R é o raio de curvatura da interface, G


e L se referem aos fases gasosa e líquida e i a interface. Esta equação é conhecida
como equação de Laplace.
A curvatura no ponto P da interface pode ser obtida a partir da taxa de
variação do ângulo θ ao longo de s (Figura A.1):


κ= (A.2)
ds

Uma vez que a curvatura do círculo osculador da interface em P vale 1/R ,


tem–se que

1
κ= (A.3)
R
Apêndice A______________________________________________________ 105

Pode–se ainda escrever, para o ponto P:

∂h L d (tan θ ) dθ 2 dθ ∂ 2 h L
tan θ = ∴ = sec θ = (A.4)
∂x dθ dx dx ∂x 2

hL

Gás

Líq.

Figura A.1 – Interface gás–líquido e definições geométricas.

Utilizando–se a relação trigonométrica sec 2 θ = 1 + tan 2 θ , obtém–se


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ainda:

∂ 2 hL ∂ 2 hL
2 dθ ∂ 2 h L dθ ∂x 2 ∂x 2
(1 + tan θ ) = ∴ = = (A.5)
dx ∂x 2 dx 1 + tan 2 θ ∂h
1 + ( L )2
∂x

Podemos escrever, de acordo com o triângulo retângulo apontado na figura,

dh L2 + dx 2 = ds 2 . Desenvolvendo, obtém–se: ds / dx = 1 + (∂h L / ∂ x ) 2 . Ainda,

fazendo uso da regra da cadeia e recorrendo à definição de curvatura, eq. (A.2),


pode–se escrever:

dθ ds dθ ∂h
= = κ 1 + ( L )2 (A.6)
dx dx ds ∂x

Igualando as expressões obtidas para dθ / dx em (A.5) e (A.6), chega–se à


seguinte expressão para a curvatura k da interface em P:
Apêndice A______________________________________________________ 106

∂ 2 hL

κ= ∂x 2 (A.7)
3/ 2
⎡ ∂h L 2 ⎤
⎢1 + ( ∂x ) ⎥
⎣ ⎦

Voltando à atenção para o denominador da expressão acima observa–se que,

para ângulos θ pequenos (ou θ <<1 ): ∂hL / ∂x = tan θ ≈ θ ∴1 + θ 2 ≈ 1 . Esta


aproximação é consistente com a hipótese básica da formulação unidimensional
do modelo de dois fluidos, válido apenas para longos comprimentos de onda.
Assim, a relação aproximada (3.12) é plenamente justificada para os casos de
interesse. Reescrevendo a eq. (A.7), tem–se:

∂ 2 hL
κ≈ (A.8)
∂x 2
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Finalmente, substituindo na eq. (A.1), obtém–se o salto de pressão em


função do nível do líquido:

∂ 2 hL
piG − piL = σ (A.9)
∂x 2
APÊNDICE B

O intuito aqui é meramente o de verificar o surgimento do parâmetro


adimensional representando a razão entre as forças de empuxo e de tensão
superficial (o número de Eötvös) nas equações de quantidade de movimento, de
modo a demonstrar que o termo devido ao salto de pressão pode ser desprezado
diretamente, para as mesmas condições em que é desprezado no critério para
decidir se o modelo é bem– ou mal–posto. Isto reitera a argumentação apresentada
no Capítulo 5.
Subtraindo a equação (3.5) da equação (3.4) e rearrumando, pode–se obter:

DU L DU G ∂ ( piG − piL ) ∂h
ρL − ρG + ( ρ L − ρ G ) g L cos β = S GL
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− (B.1)
Dt Dt ∂x ∂x

Na equação acima, SGL representa os termos gravitacionais e de interação


viscosa das fases líquida e gasosa, irrelevantes para a demonstração pretendida.
Além disso, os termos em D /Dt representam as derivadas totais das respectivas

grandezas (onde DU K = ∂U K + U K ∂U K , sendo K = G,L). Substituindo a


Dt ∂t ∂x
expressão (A.9) do Apêndice A, e de acordo com as eqs. (5.11), (5.12) e (5.31):

ρL
DU L
Dt
− ρG
DU G
Dt
[
+ σ k p2 + ( ρ L − ρ G ) g x
∂ hL
∂x
]= − S GL (B.2)
14444244443
⎡ 2 ⎤ σ ∂ hL
⎢ Eo + ( k p D ) ⎥
⎣ ⎦
D 2 ∂x

A expressão em destaque é a mesma encontrada na eq. (5.32). Portanto,


como era de se esperar, para as mesmas condições em que o termo de salto de
pressão interfacial devido à tensão superficial foi desprezado na desigualdade
dada pela eq. (5.28), poderia ter sido desprezado diretamente das equações do
modelo, provando que, de fato, o mesmo é irrelevante quando apenas os longos
comprimentos de onda são considerados.
APÊNDICE C

Como a metodologia proposta aqui está restrita ao desenvolvimento do


regime de golfadas a partir do escoamento estratificado, é preciso definir
condições iniciais e de contorno adequadas, correspondendo a estas situações no
escoamento real. Isto é feito com o auxílio de mapas de padrões de escoamento,
os quais fornecem as fronteiras de transição entre os diversos regimes possíveis.
No Capítulo 3, foi descrito o procedimento para determinar a curva de
transição entre os regimes estratificado e golfadas, dada pela eq. (3.26), segundo
Barnea e Taitel (1994). Para determinar as outras fronteiras de transição, utiliza–
se como base a metodologia proposta por Taitel e Dukler (1976).
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A eq. (3.26) determina as condições para as quais pequenas perturbações


que aparecem na interface aumentam de amplitude, determinando a instabilidade
do escoamento estratificado. Neste caso, dois eventos podem ocorrer: uma golfada
estável pode se formar, desde que o fornecimento de líquido for suficiente para
mantê–la; ou, se o nível de líquido for inadequado, uma transição para o
escoamento anular é esperada. Os autores sugerem que, para uma altura de líquido
em equilíbrio (determinada pela eq. 3.29) tal que hL / D > 0,5, o regime de
golfadas deve ocorrer. Caso contrário, o regime anular se forma.
O escoamento estratificado pode ser subdividido em duas regiões: uma em
que a interface pode ser considerada aproximadamente plana ( regime
estratificado), e outra em que pequenas ondas se desenvolvem na interface
(regime estratificado ondulado). Taitel e Dukler (1976) sugerem que a geração de
ondas na interface (pelo efeito do escoamento do gás sobre ela) se dá quando a
seguinte condição é satisfeita:

⎡ 4ν (ρ − ρ G )g cos β ⎤
1/ 2
U sG
≥⎢ L L ⎥ (C.1)
α G ⎣ sρ G (U sL / α L ) ⎦

onde νL representa a viscosidade cinemática do líquido e s é um coeficiente de


correção, definido igual a 0,01 (como utilizado no referido trabalho). Os valores
Apêndice C______________________________________________________ 109

do hold–up do líquido (αL) e do gás (αG) são os valores de equilíbrio, dados por
(3.29) e (3.7).
Para altas velocidades superficiais do líquido, a altura de líquido em
equilíbrio se aproxima do topo seção transversal da tubulação, e as correntes de
líquido e gás tendem a se misturar, formando o regime de bolhas dispersas. Este
padrão de escoamento será mantido, desde que as forças devido às flutuações
turbulentas prevaleçam em relação às forças de empuxo, as quais tentam manter o
gás escoando no topo da tubulação. Assim, a dispersão do gás é esperada quando:

1/ 2
U sL ⎡ 4 A g cos β ⎛ ρ ⎞⎤
≥⎢ G ⎜⎜1 − G ⎟⎟⎥ (C.2)
α L ⎣ Si fL ⎝ ρ L ⎠⎦

onde αL é o hold–up de equilíbrio e Si e AG são perímetro da interface e área da


seção transversal ocupada pelo gás, dados pelas eqs. (3.9) e (3.10),
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respectivamente e fL é o fator de atrito do líquido com a parede, calculado segundo


a Tabela 3.1.
O procedimento para determinar as curvas de transição é o mesmo descrito
no Capítulo 3, i.e., o espectro do mapa de velocidades superficiais é varrido,
verificando os pontos para os quais o critério para a estabilidade é violado, quando
deve haver uma mudança no padrão de escoamento.
APÊNDICE D

Na Tabela D.1 abaixo encontram–se discriminados os valores das


velocidades superficiais de líquido e gás, assim como os espaçamentos da malha
utilizados em cada um dos casos apresentados.

Tabela D.1 – Conjunto de velocidades superficiais de líquido e gás e espaçamento da


malha utilizados.
UsL (m/s) UsG (m/s) ∆x /D
0,55 1,15 0,33
0,55 1,65 0,33
0,55 2 0,33
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0,55 2,18 0,33


0,55 3 0,66
0,625 0,97 0,33
0,625 1,15 0,33
0,625 1,5 0,66
0,625 2 0,33
0,625 3,1 0,66
1 1 0,33
1 1,5 0,66
1 2 0,66
1 2,5 0,66
1 3 0,66
1 3,5 0,66
João Neuenschwander Escosteguy Carneiro

Simulação Numérica de Escoamentos Bifásicos no


Regime de Golfadas em Tubulações Horizontais e
Levemente Inclinadas
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Dissertação de Mestrado

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


graduação em Engenharia Mecânica da PUC-Rio
como requisito parcial para obtenção do título de
Mestre em Engenharia Mecânica.

Orientadora: Professora Angela Ourivio Nieckele

Rio de Janeiro
Fevereiro de 2006
João Neuenschwander Escosteguy Carneiro

Simulação Numérica de Escoamentos Bifásicos no


Regime de Golfadas em Tubulações Horizontais e
Levemente Inclinadas
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Dissertação apresentada como requisito parcial para


obtenção do título de Mestre pelo Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Mecânica da PUC-Rio.
Aprovada pela Comissão Examinadora abaixo assinada.

Profa. Angela Ourivio Nieckele


Orientadora
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

Dr. Iberê Nascentes Alves


PETROBRAS

Dr. José Roberto Fagundes Netto


CENPES/PETROBRAS

Prof. José Eugenio Leal


Coordenador Setorial do Centro
Técnico Científico – PUC-Rio

Rio de Janeiro, 17 de fevereiro de 2006


Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total
ou parcial do trabalho sem autorização da universidade, do
autor e do orientador.

João Neuenschwander Escosteguy Carneiro


Graduou-se em Engenharia Mecânica na PUC-RJ no ano
de 2003, tendo participado do programa de graduação
sanduíche CAPES/DAAD no ano de 2001 na Technische
Universität München (Munique, Alemanha)

Ficha Catalográfica
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Carneiro, João Neuenschwander Escosteguy

Simulação numérica de escoamentos


bifásicos no regime de golfadas em tubulações
horizontais e levemente inclinadas / João
Neuenschwander Escosteguy Carneiro ;
orientadora: Angela Ourivio Nieckele. – Rio de
Janeiro : PUC, Departamento de Engenharia
Mecânica, 2005.

128 f. ; 30 cm

Dissertação (mestrado) – Pontifícia


Universidade Católica do Rio de Janeiro,
Departamento de Engenharia Mecânica.

Inclui referências bibliográficas.

1. Engenharia mecânica – Teses. 2.


Escoamento em golfadas. 3. Modelo de dois
fluidos. 4. Tubulação horizontal e levemente
inclinada. I. Nieckele, Angela Ourivio. II.
Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro. Departamento de Engenharia
Mecânica. III. Título.

CDD: 621
Agradecimentos

Ao CNPq e à FAPERJ pelo apoio fornecido à pesquisa realizada.

Ao Dr. Iberê Nascentes Alves (PETROBRAS), pela motivação num tema


tão interessante como o de escoamentos multifásicos aplicado à produção
de petróleo.

Ao Prof. R. I. Issa (Imperial College), cujas sugestões foram de enorme


importância ao desenvolvimento do presente trabalho.
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Aos meus amigos, com os quais sempre compartilhei meus sucessos e


fracassos, e que tornaram esta caminhada mais leve e tranqüila,
proporcionando inúmeros momentos de alegria e descontração.

À Profa. Angela Ourivio Nieckele, primeiramente pela amizade durante


quase todos os anos de minha vida acadêmica; e como orientadora, pela
paciência em transmitir muito do seu valioso conhecimento, por sempre
ter me dado oportunidades e espaço para o meu crescimento, e por
nunca ter deixado de exigir o melhor de mim.

À minha família, Pai, Mãe, Irmã; ao apoio incondicional nas mais difíceis
situações e decisões, e por constituírem sempre a referência fundamental
da minha vida....vocês moram no meu coração!

À minha esposa e “musa inspiradora”, Vanessa, que sempre esteve do


meu lado com esse brilho especial que a faz ser a pessoa cativante que
me conquistou. Nossa convivência repleta de alegria e amor me faz uma
pessoa melhor a cada dia!
Resumo

Carneiro, João N. E., Nieckele, Angela, O. Simulação Numérica de


Escoamentos Bifásicos no Regime de Golfadas em Tubulações
Horizontais, Levemente Inclinadas. Rio de Janeiro, 2006. 110p.
Dissertação de Mestrado - Departamento de Engenharia Mecânica,
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Escoamentos bifásicos no regime de golfadas são caracterizados pela


alternância de pacotes de líquido e grandes bolhas de gás na tubulação, sendo
associados a altas perdas de carga, além de trazer uma indesejada intermitência
aos escoamentos. O desenvolvimento do regime de golfadas em tubulações
horizontais se dá a partir do escoamento estratificado em decorrência de dois
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fatores: do crescimento natural de pequenas perturbações (por um mecanismo de


instabilidade do tipo Kelvin-Helmholtz) ou devido à acumulação de líquido
causada por mudanças de inclinação no perfil do duto. O presente trabalho
consiste da simulação numérica do surgimento das golfadas em ambas as
situações descritas acima, assim como do subseqüente desenvolvimento do
escoamento neste padrão para um regime estatisticamente permanente. A
previsão do escoamento é obtida utilizando-se uma formulação unidimensional
baseada no Modelo de Dois Fluidos. Parâmetros médios das golfadas
(comprimento, velocidade e freqüência) são comparados com estudos numéricos
e experimentais da literatura, obtendo-se uma concordância bastante satisfatória,
especialmente dada a simplicidade de uma formulação unidimensional.

Palavras-chave
Escoamento em golfadas; Modelo de Dois Fluidos; tubulação horizontal e
levemente inclinada.
Abstract

Carneiro, João N. E., Nieckele, Angela, O.Numerical Simulation of Two-


phase Slug Flow in Horizontal and Nearly Horizontal Pipes Rio de
Janeiro, 2004. 110p. MSc. Dissertation - Departamento de Engenharia
Mecânica, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Slug flow is a two-phase flow pattern which is characterized by the


periodic presence of packs of liquid and long bubbles in the tube, associated with
high pressure-drops and an often undesired intermittency in the system. The
development of the slug pattern in horizontal pipes is caused by two reasons: the
natural growth of small disturbancies at the interface (by a Kelvin-Helmholtz
instability mechanism) or the liquid accumulation at valleys of hilly terrain
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pipelines with sections of different inclinations. The present work consists of the
numerical simulation of the onset of slugging in both situations, as well as the
subsequent development of statistically steady slug flow in the pipe. The
prediction of the flow is obtained through a one-dimensional formulation based
on the Two-Fluid Model. Averaged slug parameters (length, velocity and
frequency) are compared with previous numerical studies and experimental
correlations avaiable in the literature, and a very satisfactrory agreement is
obtained, specially given the simplicity of a one dimensional formulation.

Keywords
Slug flow; Two Fluid Model; horizontal pipeline; hilly terrain.
Sumário

1. Introdução 1

1.1. Objetivo 5

1.2. Organização do Trabalho 6

2. Revisão bibliográfica 7

2.1. Padrões de Escoamento 7

2.2. Regime de Golfadas 13

2.2.1 Estudos Experimentais 13


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2.2.2 Estudos Numéricos 15

3. Modelagem Matemática 21

3.1. Equações de Fechamento 24

3.2. Condições de Contorno e Iniciais 26

4. Método Numérico 31

4.1. Fração Volumétrica 32

4.2. Velocidades 34

4.3. Pressão 37

4.4. Condições de Contorno 38

4.5. Procedimento de Execução 40

4.6. Formação da Golfada 41

4.7. Malha Computacional e Passo de Tempo 42

4.8. Critério de Convergência 44

4.9. Cálculo dos Parâmetros Médios das Golfadas 44


5. Análise da Hiperbolicidade do Modelo de Dois Fluidos 47

5.1. Caso Incompressível 51

5.2. Caso Compressível 58

6. Resultados para Tubulações horizontais 61

6.1. Obtenção dos Regimes Estratificado e de Golfadas 62

6.2. Investigação da Influência do Hold-up de Líquido Inicial 63

6.3. Parâmetros Médios das Golfadas 66

6.3.1. Comprimento das Golfadas 68

6.3.2. Velocidade de Translação das Golfadas 71

6.3.3. Freqüência das golfadas 73

6.4. Investigação do Efeito do Salto de Pressão na Interface 77


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7. Resultados para Tubulações Inclinadas 83

7.1. Obtenção dos Regimes Estratificado e de Golfadas 84

7.2. Características das Golfadas 86

7.2.1. Categoria 1 87

7.2.2 Categoria 2 90

8. Conclusões e Sugestões de Trabalhos Futuros 94

Referências Bibliográficas 97

Apêndice A 104

Apêndice B 107

Apêndice C 108

110
Apêndice D
Lista de tabelas

Tabela 3.1 - Fórmulas para o cálculo do fator de atrito 25


Tabela 7.1 - Variação dos parâmetros médios das golfadas com a 89
geometria da tubulação, em x = 37m, para UsL = 0,6
m/s e UsG = 0,64 m/s
Tabela 7.2 - Variação dos parâmetros médios das golfadas com a 92
geometria da tubulação, para UsL = 1,22 m/s e
UsG = 1,3 m/s.
Tabela D.1 - Conjunto de velocidades superficiais de líquido e gás 100
e espaçamento da malha utilizados.
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Lista de figuras

Figura 1.1 - Plataforma semi-submersível situada na Bacia de 1


Campos
Figura 1.2 - Diagramas esquemáticos dos padrões de escoamento 2
para os fluxos horizontal e vertical
Figura 1.3 - Ilustração do regime de golfada 3
Figura 1.4 - Mecanismo de Formação das Golfadas. (a) 4
instabilidades de Kelvin-Helmholtz; (b) acumulação de
líquido devido à mudança de inclinação
Figura 1.5 - Ilustração do fenômeno da golfada severa 4
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Figura 2.1 - Janela típica de visualização experimental de padrões 9


de escoamento: padrão em golfadas.
Figura 2.2 - Mapa dos padrões de escoamento proposto por Baker 9
(1954).
Figura 2.3 - Mapa generalizado de padrões de escoamento 11
(Barnea, 1986)
Figura 2.4 - Sistema considerado por Barnea (1986). 12
Figura 2.5 - Comparação com os dados experimentais de Shoham 12
(1962)
Figura 2.6 - Mapas de padrão de escoamento obtidos a partir da 17
análise viscosa ( ) e não-viscosa (----) de Barnea e
Taitel (1994); e comparação com os dados
experimentais (x x x) de Shoham (1962).
Figura 3.1 - Esquema da seção transversal da tubulação. 23
Figura 3.2 - Condições de contorno utilizadas 26
Figura 3.3 - Influência da viscosidade na relação entre os fatores KV 29
, KTD críticos e a velocidade superficial do gás (Barnea e
Taitel, 1994).
Figura 4.1 - Volumes de controle escalar (a) e vetorial (b) utilizados. 31
Figura 4.2 - Volumes de Controle próximos à entrada do domínio. 39
Figura 4.3 - Volumes de Controle próximos à saída do domínio. 39
Figura 4.4 - Fluxograma esquemático do procedimento de 40
execução: Método PRIME.
Figura 4.5 - Ilustração da medição da velocidade e do comprimento 45
de cada golfada.
Figura 4.6 - Sinal temporal típico do hold-up de líquido na posição 46
x = xo.
Figura 5.1 - Mapas de UsL vs. UsG: Influência do número de onda 57
nas curvas de transição para o modelo bem- e mal-
posto.
Figura 6.1 - Configuração utilizada: tubulação horizontal. 61
Figura 6.2 - Mapa de padrões de escoamento; D = 0,078 m, 63
tubulação horizontal e propriedades dos fluidos segundo
Issa e Kempf (2003) e Bonizzi (2003).
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Figura 6.3 - Desenvolvimento do regime de golfadas na tubulação 64


para αL = 0,01. (a); desenvolvimento do nível de líquido
em equilíbrio, segundo Taitel e Dukler (1976);
(b) crescimento de perturbações na interface até formar
a golfada precursora.
Figura 6.4 - Desenvolvimento do regime de golfadas na tubulação 65
para αL = 0,25.
Figura 6.5 - Curvas para αL = constante, correspondentes aos 66

valores do hold-up inicial das simulações preliminares


(UsL = 3 m/s e UsG = 0,55 m/s); superpostas ao mapa de
padrões de escoamento para a configuração utilizada.
Figura 6.6 - Evolução dos perfis de hold-up com o tempo para o 67

Caso 1: UsL = 0,55 m/s e UsG = 2,18 m/s .


Figura 6.7 - Evolução dos perfis de hold-up com o tempo para o 68

Caso 2: UsL = 0,625 m/s e UsG = 2 m/s .


Figura 6.8 - Caso 1: UsL = 0,55 m/s e UsG = 2,18 m/s . Histograma 69

do comprimento adimensional das golfadas próximo à


saída da tubulação.
Figura 6.9 - Caso 1: UsL = 0,55 m/s e UsG = 2,18 m/s. Evolução do 70
comprimento médio das golfadas ao longo da
tubulação.
Figura 6.10 - Caso 2: UsL = 0,625 m/s e UsG = 2 m/s. Histograma do 70
comprimento adimensional das golfadas próximo à
saída da tubulação.
Figura 6.11 - Caso 2: UsL = 0,625 m/s e UsG = 2 m/s. Evolução do 71
comprimento médio das golfadas ao longo da
tubulação.
Figura 6.12 - Evolução da velocidade média da frente e cauda das 72
golfadas ao longo da tubulação; Caso 1: UsL = 0,55 m/s
e UsG = 2,18 m/s .
Figura 6.13 - Evolução da velocidade média da frente e cauda das 73
golfadas ao longo da tubulação;
Caso 2: UsL = 0,625 /s e UsG = 2 m/s .
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Figura 6.14 - Razão entre as constantes Co num, obtidas 73


numericamente, e Co exp (Co exp = 1,05, se UM < 3,06 m/s;
Co exp = 1,2, se UM > 3,06 m/s), da correlação de
Bendiksen (1984).
Figura 6.15 - Variação do hold-up do líquido com o tempo para x = 15 74
m. Caso 1.
Figura 6.16 - Variação do hold-up do líquido com o tempo para x = 30 74
m. Caso 1
Figura 6.17 - Distribuição da freqüência com o tempo obtida para o 74
Caso 1, em x = 30 m.
Figura 6.18 - Distribuição da freqüência com o tempo obtida para o 75
Caso 2, em x = 30 m.
Figura 6.19 - Comparação dos valores médios da freqüência com a 75
correlação de Gregory e Scott (1969), para
UsL = 0,55 m/s.
Figura 6.20 - Comparação dos valores médios da freqüência com a 76
correlação de Gregory e Scott (1969), para
UsL = 0,625 m/s.
Figura 6.21 - Comparação dos valores médios da freqüência com a 76
correlação de Gregory e Scott (1969), para UsL = 1 m/s.
Figura 6.22 - Razão entre as freqüências na próximo à região de 77
formação das golfadas (x= 15 m) e próximo à saída da
tubulação (x = 30 m).
Figura 6.23 - Evolução dos perfis de hold-up com o tempo: 78
UsL = 1 m/s e UsG = 2 m/s; ∆x/D = 2,64.
Figura 6.24 - Evolução dos perfis de hold-up com o tempo: 79
UsL = 1 m/s e UsG = 2 m/s; ∆x/D = 1,32.
Figura 6.25 - Evolução dos perfis de hold-up com o tempo: 79

UsL = 1 m/s e UsG = 2 m/s; ∆x/D = 0,33.


Figura 6.26 - Influência da do espaçamento da malha na freqüência 80
das golfadas: (a) UsL = 0,625 m/s e UsG = 2 m/s;
(b).UsL = 1 m/s e UsG = 2 m/s
Figura 6.27 - Influência do espaçamento da malha na freqüência 81
média das golfadas, sem e com o salto de pressão
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interfacial; (a) UsL = 0,625 m/s e UsG = 3,1 m/s; e


(b) UsL = 1 m/s e UsG = 2 m/s.
Figura 6.28 - Variação da influência relativa do termo fonte na 82
equação discretizada com o espaçamento da malha
para UsL = 0,625 m/s e UsG = 3,1 m/s, e UsL = 1 m/s e
UsG = 2 m/s.
Figura 7.1 - Configurações utilizadas: a) tubulação horizontal; 84
(b) levemente inclinada. (c) tubulação em “V”.
Figura 7.2 - Mapa de padrões de escoamento; D = 0,0508 m, 85
tubulação horizonal(β = 0º), e propriedades dos fluidos
segundo Al Safran et al. (2005).
Figura 7.3 - Mapa de padrões de escoamento; D = 0,0508 m, 85
tubulação descendente (β = –1,93º), e propriedades dos
fluidos segundo Al Safran et al. (2005).
Figura 7.4 - Evolução dos perfis de hold-up com o tempo: 88
UsL = 0,6 m/s e UsG = 0,64 m/s; tubulação horizontal.
Figura 7.5 - Evolução dos perfis de hold-up com o tempo: 88
UsL = 0,6 m/s e UsG = 0,64 m/s; tubulação descendente.
Figura 7.6 - Evolução dos perfis de hold-up com o tempo: 89
UsL = 0,6 m/s e UsG = 0,64 m/s; tubulação seção em “V”
Figura 7.7 - Evolução dos perfis de hold-up com o tempo: 91
UsL = 1,22 m/s e UsG = 1,3 m/s; tubulação horizontal
Figura 7.8 - Evolução dos perfis de hold-up com o tempo: UsL = 1,22 91
m/s e UsG = 1,3 m/s; tubulação descendente.
Figura 7.9 - Evolução dos perfis de hold-up com o tempo: 92
UsL = 1,22 m/s e UsG = 1,3 m/s; seção em “V”.
Figura 7.10 - Variação do comprimento médio das golfadas ao longo 93
da tubulação: UsL = 1,22 m/s e UsG = 1,3 m/s; tubulação
horizontal, descendente e seção em “V”.

Lista de símbolos
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A Área da seção transversal da tubulação


A Matriz Jacobiana do sistema característico
B Matriz Jacobiana do sistema característico
D Diâmetro da tubulação
C Vetor coluna do sistema característico
C Número de Courant
c Velocidade do som
Co Parâmetro de distribuição
Eo Número de Eötvös
f Fator de fricção
Fr Número de Froude
g Aceleração da gravidade
hL Altura da superfície do líquido
Ls Comprimento das golfadas
P Pressão interfacial e da fase gasosa
R Constate do gás
Re Número de Reynolds
S Perímetro molhado
s Coeficiente de correção
t Tempo
T Temperatura de referência
Ud Velocidade de “drift”
UK Velocidade da fase K
UM Velocidade da mistura
U sK Velocidade superficial da fase K

Ut Velocidade de translação da golfada


x Coordenada axial

Símbolos gregos
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α Fração volumétrica da fase


β Ângulo de inclinação da tubulação com respeito à horizontal
D Diâmetro corrigido
∆ Variação de uma grandeza / Discriminante da equação do 2º grau
φ Grandeza a ser calculada
Φ Vetor solução do sistema de autovalores
γ Fator de subrelaxação
γ∗ Razão de calores específicos
κ Curvatura da interface
kp Número de onda da perturbação
λp Comprimento de onda da perturbação
λ Autovalores da análise característica
µ Viscosidade dinâmica
ν Viscosidade cinemática
νs Freqüência das golfadas
π Constante Pi
℘ Parâmetro auxiliar referente a derivada de hL com respeito à αL
ρ Massa específica
σ Tensão superficial
τ Tensão de cisalhamento

Subscritos

e,w Faces leste e oeste do volume de controle principal


E Referente ao centro do volume principal de controle a leste
entrada Entrada da tubulação

G Fase gasosa
I Iésimo ponto nodal
i Interface
L Fase líquida
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M Mistura
max Máximo valor
N Número total de nós no domínio / medidas realizadas
n n-ésima medida
P Referente ao centro do volume de controle principal
p Referente à perturbação
r Relativa
ref Referência
s Referente a “slug”, ou golfada
saída Saída da tubulação
t Translação
w Parede da tubulação
W Referente ao centro do volume principal de controle a leste

Sobrescritos

o Referente ao passo de tempo anterior


ref Referência
^ Referente a uma grandeza aproximada mediante o esquema
upwind
~ Referente a uma grandeza aproximada
* Referente à iteração anterior
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“O homem é do tamanho dos seus sonhos”.


Fernando Pessoa

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