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Superior Tribunal de Justiça

AgInt no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 970.611 - SP (2016/0221098-0)

RELATOR : MINISTRO MARCO BUZZI


AGRAVANTE : SISTEMAS E PLANOS DE SAÚDE METRÓPOLE LTDA
ADVOGADO : FÁBIO TELENT E OUTRO(S) - SP115577
AGRAVADO : MIRIAM CAVALCANTE DE LIRA
ADVOGADO : RAFAEL DE SOUZA LINO E OUTRO(S) - SP237655
EMENTA

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO (ART. 544 DO CPC/73) -


AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE CLÁUSULA
CONTRATUAL C/C PEDIDO CONDENATÓRIO - PLANO DE
SAÚDE - RECUSA INDEVIDA - QUADRO DE SAÚDE GRAVE -
TRATAMENTO URGENTE - RECONHECIMENTO DE DANOS
MORAIS NA ORIGEM - DECISÃO MONOCRÁTICA NEGANDO
PROVIMENTO AO RECLAMO.
INSURGÊNCIA DA PARTE RÉ.
1. Embora as disposições da Lei nº 9.656/98, que dispõe sobre
os planos e seguros privados de assistência à saúde, não
retroajam para atingir contratos celebrados antes de sua vigência
- quando não adaptados ao novel regime -, a eventual abusividade
das cláusulas pode ser aferida à luz do Código de Defesa do
Consumidor. Isso porque "o contrato de seguro de saúde é
obrigação de trato sucessivo, que se renova ao longo do tempo e,
portanto, se submete às normas supervenientes, especialmente
às de ordem pública, a exemplo do CDC, o que não significa
ofensa ao ato jurídico perfeito" (AgRg no Ag 1.341.183/PB, Rel.
Ministro Massami Uyeda, Terceira Turma, julgado em 10/04/2012,
DJe 20.04.2012). Precedentes.
2. Ainda que admitida a possibilidade de o contrato de plano de
saúde conter cláusulas limitativas dos direitos do consumidor -
desde que escritas com destaque, permitindo imediata e fácil
compreensão, nos termos do § 4º do artigo 54 do Código de
Defesa do Consumidor -, revela-se abusivo o preceito
excludente do custeio dos meios e materiais necessários ao
melhor desempenho do tratamento clínico, indicado pelo médico
que acompanha o paciente, voltado à cura de doença coberta.
Incidência da Súmula nº 83/STJ.
3. A recusa indevida/injustificada, pela operadora de plano de
saúde, em autorizar a cobertura financeira de tratamento ou
procedimento médico considerado urgente a que esteja
legalmente obrigada, enseja reparação a título de danos morais,
por agravar a situação de aflição psicológica e de angústia no
espírito do enfermo, no caso, portador de grave depressão.
Precedentes.
4. O óbice da Súmula nº 7 do STJ inviabiliza o pleito de revisão
do quantum indenizatório arbitrado a título de danos morais pelo
Tribunal de origem, se esse não se revelar irrisório ou exorbitante,
como no presente caso.
Documento: 1711343 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 25/05/2018 Página 1 de 4
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5. Agravo interno desprovido.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima


indicadas, acordam os Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por
unanimidade, negar provimento ao agravo interno, nos termos do voto do Sr. Ministro
Relator.
Os Srs. Ministros Lázaro Guimarães (Desembargador convocado do TRF 5ª
Região), Luis Felipe Salomão, Maria Isabel Gallotti e Antonio Carlos Ferreira
(Presidente) votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 15 de maio de 2018 (Data do Julgamento)

MINISTRO ANTONIO CARLOS FERREIRA


Presidente

MINISTRO MARCO BUZZI


Relator

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AgInt no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 970.611 - SP (2016/0221098-0)

AGRAVANTE : SISTEMAS E PLANOS DE SAÚDE METRÓPOLE LTDA


ADVOGADO : FÁBIO TELENT E OUTRO(S) - SP115577
AGRAVADO : MIRIAM CAVALCANTE DE LIRA
ADVOGADO : RAFAEL DE SOUZA LINO E OUTRO(S) - SP237655

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO MARCO BUZZI:


Trata-se de agravo interno interposto por SISTEMAS E PLANOS DE SAÚDE
METRÓPOLE LTDA, contra decisão monocrática de lavra deste signatário que negou
provimento ao agravo em recurso especial (art. 544 do CPC/1973).
O aludido apelo extremo foi interposto com amparo nas alíneas "a" e "c" do
permissivo constitucional, no intuito de reformar o acórdão proferido pelo Tribunal de
Justiça do Estado de São Paulo, assim ementado (fls. 167/172, e-STJ):

Plano de saúde. Cláusula que exclui tratamento psiquiátrico. Contrato


não adaptado à Lei n. 9.656/98. Abusividade caracterizada. Incidência do
Código de Defesa do Consumidor. Danos morais. Configuração. Injusta
negativa de cobertura de exame que acarretou danos à consumidora,
portadora de depressão grave, vez que se encontrava com abalo
psicológico e saúde debilitada. Precedentes. Indenização. Arbitramento
que deve ser equilibrado e observar o binômio reparação/sanção,
considerando as circunstâncias concretas. Recurso provido.

Nas razões do especial (fls. 175/203, e-STJ), a recorrente alegou, além de


dissídio pretoriano, violação aos artigos 35, da Lei nº 9.656/98; 186, 188, I, 927 e 944 do
CC/2002.
Sustentou, em síntese, a regularidade da restrição de cobertura pelo plano
de saúde, a inexistência de danos morais, além da exacerbação do quantum
indenizatório arbitrado a esse título.
Intimada, a parte recorrida apresentou contrarrazões (fls. 236/243, e-STJ).
Em juízo provisório de admissibilidade, realizado pelo Tribunal de origem,
negou-se seguimento ao recurso com fundamento na Súmula nº 7 do STJ e na
ausência de demonstração das violações de lei alegadas (fl. 245, e-STJ).
Irresignada, a insurgente interpôs o agravo do art. 544 do CPC/1973, ocasião
em que refutou os mencionados óbices (fls. 248/260, e-STJ).
Apresentada a contraminuta (fls. 263/266, e-STJ), os autos ascenderam a

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esta Corte Superior.
Na decisão singular ora recorrida (fls. 273/277, e-STJ), este signatário
negou provimento ao agravo em recurso especial, reconhecendo a incidência das
Súmulas nº 5 e 7/STJ.
Contra esse decisum, o autor interpôs o presente agravo interno (fls.
283/292, e-STJ), no qual refuta, uma vez mais, a aplicabilidade dos óbices sumulares.
Quanto ao mérito da ação, a agravante reitera as mesmas alegações antes veiculadas
no recurso especial, no sentido da improcedência dos pedidos formulados na petição
inicial.
Impugnação às fls. 295/306 (e-STJ).
É o relatório.

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AgInt no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 970.611 - SP (2016/0221098-0)

EMENTA

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO (ART. 544 DO CPC/73) -


AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE CLÁUSULA
CONTRATUAL C/C PEDIDO CONDENATÓRIO - PLANO DE
SAÚDE - RECUSA INDEVIDA - QUADRO DE SAÚDE GRAVE -
TRATAMENTO URGENTE - RECONHECIMENTO DE DANOS
MORAIS NA ORIGEM - DECISÃO MONOCRÁTICA NEGANDO
PROVIMENTO AO RECLAMO.
INSURGÊNCIA DA PARTE RÉ.
1. Embora as disposições da Lei nº 9.656/98, que dispõe sobre
os planos e seguros privados de assistência à saúde, não
retroajam para atingir contratos celebrados antes de sua vigência
- quando não adaptados ao novel regime -, a eventual abusividade
das cláusulas pode ser aferida à luz do Código de Defesa do
Consumidor. Isso porque "o contrato de seguro de saúde é
obrigação de trato sucessivo, que se renova ao longo do tempo e,
portanto, se submete às normas supervenientes, especialmente
às de ordem pública, a exemplo do CDC, o que não significa
ofensa ao ato jurídico perfeito" (AgRg no Ag 1.341.183/PB, Rel.
Ministro Massami Uyeda, Terceira Turma, julgado em 10/04/2012,
DJe 20.04.2012). Precedentes.
2. Ainda que admitida a possibilidade de o contrato de plano de
saúde conter cláusulas limitativas dos direitos do consumidor -
desde que escritas com destaque, permitindo imediata e fácil
compreensão, nos termos do § 4º do artigo 54 do Código de
Defesa do Consumidor -, revela-se abusivo o preceito
excludente do custeio dos meios e materiais necessários ao
melhor desempenho do tratamento clínico, indicado pelo médico
que acompanha o paciente, voltado à cura de doença coberta.
Incidência da Súmula nº 83/STJ.
3. A recusa indevida/injustificada, pela operadora de plano de
saúde, em autorizar a cobertura financeira de tratamento ou
procedimento médico considerado urgente a que esteja
legalmente obrigada, enseja reparação a título de danos morais,
por agravar a situação de aflição psicológica e de angústia no
espírito do enfermo, no caso, portador de grave depressão.
Precedentes.
4. O óbice da Súmula nº 7 do STJ inviabiliza o pleito de revisão
do quantum indenizatório arbitrado a título de danos morais pelo
Tribunal de origem, se esse não se revelar irrisório ou exorbitante,
como no presente caso.
5. Agravo interno desprovido.

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VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO MARCO BUZZI (Relator):


O agravo regimental não merece acolhida, porquanto os argumentos tecidos
pela agravante são incapazes de infirmar a decisão impugnada.
1. Com efeito, embora as disposições da Lei 9.656/1998 não retroajam para
atingir contratos celebrados antes de sua vigência – quando não adaptados ao novel
regime –, "a jurisprudência desta Corte consolidou-se no sentido de que a eventual
abusividade de cláusula contratual pode ser aferida com base no Código de Defesa do
Consumidor" (EDcl no AREsp 622.381/SP, Rel. Ministra Maria Isabel Gallotti, DJe
01/02/2017 - monocrática).
Isso porque "o contrato de seguro de saúde é obrigação de trato sucessivo,
que se renova ao longo do tempo e, portanto, se submete às normas supervenientes,
especialmente às de ordem pública, a exemplo do CDC, o que não significa ofensa ao
ato jurídico perfeito" (AgRg no Ag 1.341.183/PB, Rel. Ministro Massami Uyeda, Terceira
Turma, julgado em 10/04/2012, DJe 20/04/2012).
Nesse sentido:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA N. 211/STJ.
PLANO DE SAÚDE. RECUSA INDEVIDA. APLICAÇÃO DO CDC.
CLÁUSULA ABUSIVA. DANOS MORAIS. REAVALIAÇÃO DO CONJUNTO
FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS. INADMISSIBILIDADE. SÚMULA.
7/STJ. DECISÃO MANTIDA.
(...) 2. "Embora a Lei 9.656/98 não retroaja aos contratos
celebrados antes de sua vigência, é possível aferir a abusividade
de suas cláusulas à luz do Código de Defesa do Consumidor,
ainda que tenham sido firmados antes mesmo de seu advento"
(AgRg no REsp 1.260.121/SP, Relator Ministro PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 27/11/2012, DJe
6/12/2012).
3. O recurso especial não comporta o exame de questões que impliquem
incursão no contexto fático-probatório dos autos, a teor do que dispõe a
Súmula n. 7 do STJ.
4. No caso concreto, o Tribunal de origem concluiu que seria indevida a
recusa ao procedimento a que a agravada deveria ser submetida. Alterar
esse entendimento demandaria o reexame das provas produzidas nos
autos, vedado em recurso especial.
5. A recusa indevida da operadora de plano de saúde a autorizar o
tratamento do segurado é passível de condenação por dano moral, uma
vez que agrava a situação de aflição e angústia do enfermo,
comprometido em sua higidez físico-psicológica.
6. Agravo interno a que se nega provimento.
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Superior Tribunal de Justiça
(AgInt no AREsp 1054490/GO, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS
FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em 22/08/2017, DJe 31/08/2017,
grifado)

Na mesma linha de intelecção: AgRg no AREsp 835.326/SP, Rel. Ministro


MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 27/06/2017, DJe 01/08/2017; AgInt no
AREsp 1027161/CE, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA,
julgado em 18/05/2017, DJe 25/05/2017; REsp 1392560/PE, Rel. Ministro JOÃO
OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA TURMA, julgado em 09/08/2016, DJe 06/10/2016;
REsp 735.168/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
11/03/2008, DJe 26/03/2008.
2. Nesse contexto, ainda que admitida a possibilidade do contrato de plano
de saúde conter cláusulas limitativas dos direitos do consumidor - desde que escritas
com destaque, permitindo imediata e fácil compreensão, nos termos do § 4º do artigo
54 do CDC -, considera-se abusiva a previsão excludente do custeio dos meios e
materiais necessários ao melhor desempenho do tratamento clínico ou do
procedimento cirúrgico ou de internação hospitalar relativos à doença coberta.
Outro não é o entendimento adotado por esta Corte Superior. Confira-se:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PLANO DE


SAÚDE. PROCEDIMENTO CIRÚRGICO. URGÊNCIA E EMERGÊNCIA.
RECUSA INDEVIDA. ABUSIVIDADE RECONHECIDA PELO ACÓRDÃO
RECORRIDO. INCIDÊNCIA DA SUMULA N. 83/STJ. INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS DEVIDA. PRECEDENTES. MAIS UMA VEZ, APLICAÇÃO
DA SÚMULA N. 83/STJ. MONTANTE INDENIZATÓRIO. PLEITO DE
REDUÇÃO. NÃO DEMONSTRADA A ABUSIVIDADE NO VALOR FIXADO
NAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. APLICAÇÃO DA SÚMULA 7/STJ
AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO.
1. Ainda que admitida a possibilidade de o contrato de plano de saúde
conter cláusulas limitativas dos direitos do consumidor (desde que
escritas com destaque, permitindo imediata e fácil compreensão, nos
termos do § 4º do artigo 54 do Código de Defesa do Consumidor),
revela-se abusivo o preceito excludente do custeio dos meios e materiais
necessários ao melhor desempenho do tratamento clinico ou do
procedimento cirúrgico voltado à cura de doença coberta. Precedentes.
Súmula n. 83/STJ.
2. É pacífica a jurisprudência da Segunda Seção no sentido de
reconhecer a existência do dano moral nas hipóteses de recusa
injustificada pela operadora de plano de saúde, em autorizar tratamento
a que estivesse legal ou contratualmente obrigada, por configurar
comportamento abusivo. Incidência, mais uma vez, da Súmula n. 83/STJ.
3. O valor arbitrado a título de danos morais pelo Julgador a quo
observou os critérios de proporcionalidade e de razoabilidade, visto que
o montante fixado não se revela exorbitante, e sua eventual redução
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demandaria reexame de provas (Súmula n. 7/STJ).
4. Agravo interno a que se nega provimento.
(AgInt no AREsp 1207934/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
QUARTA TURMA, julgado em 22/03/2018, DJe 02/04/2018)

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO (ARTIGO 544 DO CPC/73) - AÇÃO DE


OBRIGAÇÃO DE FAZER - NEGATIVA DE COBERTURA - DECISÃO
MONOCRÁTICA NEGANDO PROVIMENTO AO RECLAMO, MANTIDA A
INADMISSÃO DO RECURSO ESPECIAL. IRRESIGNAÇÃO DA
OPERADORA DE PLANO DE SAÚDE.
1. Ainda que admitida a possibilidade de o contrato de plano de saúde
conter cláusulas limitativas dos direitos do consumidor (desde que
escritas com destaque, permitindo imediata e fácil compreensão, nos
termos do § 4º do artigo 54 do Código de Defesa do Consumidor),
revela-se abusivo o preceito excludente do custeio dos meios e
materiais necessários ao melhor desempenho do tratamento clínico,
indicado pelo médico que acompanha o paciente, voltado à cura de
doença efetivamente coberta. Incidência da Súmula 83/STJ.
2. Agravo interno desprovido.
(AgInt no AREsp 919.368/SP, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA
TURMA, julgado em 25/10/2016, DJe 07/11/2016)

AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. PLANO DE


SAÚDE LEI 9.656/98, ART. 35. CONTRATOS ANTERIORES. NÃO.
INCIDÊNCIA. CLÁUSULA ABUSIVA. RECONHECIMENTO.
POSSIBILIDADE. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.
VIOLAÇÃO AO ART. 535. NÃO OCORRÊNCIA.
1. Não configura violação ao art. 535 do CPC a decisão que examina, de
forma fundamentada, as questões submetidas à apreciação judicial.
2. As regras estabelecidas na Lei 9.656/98 restringem-se ao
contratos de plano de saúde celebrados após sua vigência, mas a
abusividade de cláusula contratual prevista em avenças celebradas em
datas anteriores pode ser aferida com base no Código de Defesa do
Consumidor.
3. Delineado pelas instâncias de origem que o contrato celebrado
entre as partes previa a cobertura para a cirurgia ao qual foi
submetido o autor, é abusiva a negativa da operadora do plano de
saúde do tratamento de quimioterapia indicado pelo médico que
assiste o paciente. Precedentes.
4. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no Ag 1214119/RS, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI,
QUARTA TURMA, julgado em 17/11/2015, DJe 23/11/2015)

Na hipótese ora em foco, o Tribunal de origem, ao considerar indevida a


recusa de cobertura financeira do medicamento indicado para o tratamento do usuário
portador de doença grave, assim consignou (fl. 170, e-STJ):

Trata-se de ação declaratória de nulidade de cláusula contratual


excludente de tratamento psiquiátrico prevista em contrato de assistência
à saúde com pedido cumulado de indenização por danos morais.

Documento: 1711343 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 25/05/2018 Página 8 de 4
Superior Tribunal de Justiça
(...) A Lei n. 9.656/98 foi editada com a proposta de regular o setor e de
proteger o usuário, que, por muitas vezes, ficava à mercê das
operadoras e de contratos elaborados unilateralmente, configurando
situações de abusividade e desequilíbrio.
E, ainda que a relação jurídica estabelecida entre as partes tenha sido
celebrada anteriormente à sua vigência, está sujeita tanto aos seus
preceitos como aos do Código de Defesa do Consumidor (...).
A cláusula de exclusão de cobertura é, na hipótese em concreto,
nula, dada a configuração de desvantagem exagerada contra a
consumidora, nos termos do art. 51, IV e XV, § 10, I e II, do Código
de defesa do Consumidor (grifado).

Desse modo, tendo em vista a consonância entre o acórdão estadual e a


jurisprudência do STJ, afigura-se inarredável a incidência da Súmula 83/STJ a obstar o
processamento do recurso especial no ponto.
3. Na hipótese, diante do quadro fático delineado nas instâncias ordinárias,
referente ao estado de saúde da beneficiária – que envolve, vale destacar, "depressão
grave" e "tentativa de suicídio" (fls. 111/114, e-STJ), necessidade de "tratamento
psiquiátrico intensivo", condição de "dor, de abalo psicológico e com a saúde
delibilitada" (fl. 171, e-STJ) –, entende-se inafastável a conclusão de que o
procedimento médico indevidamente negado era urgente.
Em casos como este, é firme o entendimento desta Corte Superior no
sentido de que a recusa indevida/injustificada, pela operadora de plano de saúde, em
autorizar a cobertura financeira de tratamento reputado urgente a que esteja legal ou
contratualmente obrigada, enseja reparação a título de danos morais, por agravar a
situação de aflição psicológica e de angústia no espírito do enfermo.
Sobre isso, confira-se:

AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DECLARATÓRIA


C/C OBRIGAÇÃO DE FAZER E INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL.
PLANO DE SAÚDE. HOSPITAL NÃO CREDENCIADO. URGÊNCIA.
RECUSA INDEVIDA DA COBERTURA. ABUSIVIDADE. DANO MORAL
CONFIGURADO.
1. A jurisprudência do STJ é no sentido de que a recusa indevida
à cobertura médica enseja reparação a título de dano moral, uma
vez que agrava a situação de aflição psicológica e de angústia no
espírito do segurado, já combalido pela própria doença.
Precedentes.
2. Agravo interno não provido.
(AgInt no REsp 1619259/GO, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
QUARTA TURMA, julgado em 06/03/2018, DJe 09/03/2018, grifado)

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PLANO DE


SAÚDE. OMISSÃO E CONTRADIÇÃO. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO
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CPC/73. ARGUMENTAÇÃO GENÉRICA. SÚMULA 284/STF. NEGATIVA
DE PROCEDIMENTO DE DOENÇA PREVISTA CONTRATUALMENTE.
CLÁUSULA ABUSIVA. SÚMULA 83/STJ. DANO MORAL. RECUSA
INJUSTIFICADA. CARACTERIZAÇÃO. QUANTUM INDENIZATÓRIO
RAZOÁVEL. AGRAVO NÃO PROVIDO.
1. A alegação genérica de violação a dispositivo de lei, no âmbito
especial, configura deficiência de fundamentação recursal.
Incidência da Súmula 284/STF.
2. Nas hipóteses em que há recusa injustificada de cobertura por
parte da operadora do plano de saúde para tratamento do
segurado, como ocorrido no presente caso, em que a autora,
portadora de doença pulmonar crônica, teve negado atendimento
em situação de urgência e emergência, é assente a caracterização
de dano moral, não se tratando apenas de mero aborrecimento.
3. Não se mostra exorbitante a condenação da recorrente no valor de R$
5.000,00 (cinco mil reais) a título de reparação moral em virtude dos
danos sofridos pelo agravado em decorrência de recusa à realização de
procedimento médico necessário.
4. Agravo interno a que se nega provimento.
(AgInt no AREsp 1186587/DF, Rel. Ministro LÁZARO GUIMARÃES
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 5ª REGIÃO), QUARTA
TURMA, julgado em 13/03/2018, DJe 19/03/2018)

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE


INDENIZAÇÃO. PLANO DE SAÚDE. 1. INCABÍVEL RECURSO ESPECIAL
FUNDADO EM ALEGADA VIOLAÇÃO DE VERBETE SUMULAR. 2.
PROCEDIMENTO CIRÚRGICO. IMPLANTE DE STENT
FARMACOLÓGICO. RECUSA INDEVIDA. ABUSIVIDADE RECONHECIDA
PELO ACÓRDÃO RECORRIDO. INCIDÊNCIA DA SUMULA N. 83 DO STJ
3. CARACTERIZAÇÃO DE DANO MORAL IN RE IPSA. INDENIZAÇÃO
POR DANOS MORAIS DEVIDA. PRECEDENTES. ENUNCIADO N. 83 DA
SÚMULA DO STJ. 4. PRETENSÃO DE REDUÇÃO DO VALOR DA
CONDENAÇÃO. REEXAME DE PROVA. SÚMULA 7/STJ. 5. AGRAVO
INTERNO IMPROVIDO.
(...) 3. É pacífica a jurisprudência da Segunda Seção no sentido de
reconhecer a existência do dano moral nas hipóteses de recusa
injustificada pela operadora de plano de saúde, em autorizar
tratamento a que estivesse legal ou contratualmente obrigada,
por configurar comportamento abusivo. Incidência da Súmula
83/STJ.
(...) 5. Agravo interno a que se nega provimento.
(AgInt no AREsp 923.058/MG, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE,
TERCEIRA TURMA, julgado em 25/10/2016, DJe 10/11/2016)

Considerando, portanto, que o acórdão estadual reconheceu a existência de


danos morais na hipótese, aplica-se, também nessa extensão, a precitada Súmula nº
83/STJ.
4. Por fim, quanto ao pleito de revisão do quantum indenizatório arbitrado a
título de danos extrapatromoniais, melhor sorte não assiste à agravante.

Documento: 1711343 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 25/05/2018 Página 10 de 4
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Não obstante o grau de subjetivismo que envolve o tema, uma vez que não
existem critérios predeterminados para a quantificação do dano moral, esta Corte
Superior tem reiteradamente se pronunciado no sentido de que a indenização deve ser
suficiente a restaurar o bem estar da vítima, desestimular o ofensor em repetir a falta,
não podendo, ainda, constituir enriquecimento sem causa ao ofendido.
Ademais, com a apreciação reiterada de casos similares, tem-se entendido
que a intervenção desta Corte fica limitada aos casos em que o quantum indenizatório
se revela irrisório ou excessivo diante do quadro fático delimitado nas instâncias
ordinárias.
No caso em tela, diante do quadro fático antes destacado,não há como se
reputar exorbitante o arbitramento da indenização em R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil
reais), levado a efeito pelo Tribunal de origem.
A propósito:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO (ART. 1042 DO NCPC) - AÇÃO DE


OBRIGAÇÃO DE FAZER, COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DOS
EFEITOS DA TUTELA - PLANO DE SAÚDE - RECUSA INDEVIDA DE
CUSTEIO DE TRATAMENTO DE URGÊNCIA - DECISÃO MONOCRÁTICA
QUE DEU PROVIMENTO AO RECLAMO.
INSURGÊNCIA DA RÉ.
1. A jurisprudência do STJ é no sentido de que a recusa
indevida/injustificada, pela operadora de plano de saúde, em autorizar a
cobertura financeira de tratamento médico de urgência, tal como no
presente caso, a que esteja legal ou contratualmente obrigada, enseja
reparação a título de dano moral, por agravar a situação de aflição
psicológica e de angústia no espírito do beneficiário. Precedentes.
2. Na hipótese, como restou asseverado pelo juízo de piso, após o exame
do conjunto fático-probatório carreado aos autos, a demora de mais de
seis meses em autorizar procedimento, autorização essa que somente foi
concedida por tutela de urgência, produziu o agravamento do quadro do
autor, restando, portanto, configurado o dano moral.
Falecimento do autor no curso da ação.
3. A condenação da agravante no pagamento de indenização, por danos
morais, no valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), respeita os
critérios de proporcionalidade e razoabilidade fixados, em casos
análogos, por esta Corte Superior.
4. Agravo interno desprovido.
(AgInt no AREsp 1046995/RJ, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA
TURMA, julgado em 13/03/2018, DJe 23/03/2018, grifado)

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CIVIL.


PLANO DE SAÚDE. RECUSA INDEVIDA. DANO MORAL. VALOR
ARBITRADO RAZOÁVEL AO CASO.
RECURSO IMPROVIDO.
1. O Superior Tribunal de Justiça firmou orientação de que somente é
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admissível o exame do valor fixado a título de danos morais em hipóteses
excepcionais, quando for verificada a exorbitância ou a natureza irrisória
da importância arbitrada, em flagrante ofensa aos princípios da
razoabilidade e da proporcionalidade.
2. No caso, contudo, não se verifica situação excepcional que autorize a
redução do valor fixado pelas instâncias ordinárias. Isso, porque o valor
da indenização por danos morais, arbitrado em R$ 40.000,00 (quarenta
mil reais), revela-se adequado ao caso, que, conforme os contornos
fáticos delineados pelas instâncias ordinárias, deriva de injusta recusa de
cobertura de pedido médico de transferência urgente da paciente -
menor de idade.
3. Agravo interno desprovido.
(AgInt no AREsp 977.800/MA, Rel. Ministro LÁZARO GUIMARÃES
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 5ª REGIÃO), QUARTA
TURMA, julgado em 01/03/2018, DJe 09/03/2018, grifado)

No mesmo norte: AgInt no AREsp 995.073/MG, Rel. Ministra MARIA ISABEL


GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 03/10/2017, DJe 06/10/2017; AgRg no
AREsp 657.069/MG, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em
16/06/2016, DJe 22/06/2016.
Diante disso, para modificar as conclusões consignadas no acórdão
impugnado e concluir estar exagerado o quantum indenizatório como quer a parte
agravante, seria indispensável a incursão no conjunto fático-probatório e elementos de
convicção dos autos, o que é sabidamente vedado em sede de recurso especial, a teor
do que estabelece a precitada Súmula nº 7 do STJ.
Em conclusão, entende-se que a decisão agravada deva ser mantida.
5. Ante o exposto, nego provimento ao agravo interno.
É como voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA

AgInt no
Número Registro: 2016/0221098-0 PROCESSO ELETRÔNICO AREsp 970.611 / SP

Números Origem: 91520824820098260000 994092921227

PAUTA: 15/05/2018 JULGADO: 15/05/2018

Relator
Exmo. Sr. Ministro MARCO BUZZI
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MARCELO ANTÔNIO MUSCOGLIATI
Secretária
Dra. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI

AUTUAÇÃO
AGRAVANTE : SISTEMAS E PLANOS DE SAÚDE METRÓPOLE LTDA
ADVOGADO : FÁBIO TELENT E OUTRO(S) - SP115577
AGRAVADO : MIRIAM CAVALCANTE DE LIRA
ADVOGADO : RAFAEL DE SOUZA LINO E OUTRO(S) - SP237655

ASSUNTO: DIREITO DO CONSUMIDOR - Contratos de Consumo - Planos de Saúde

AGRAVO INTERNO
AGRAVANTE : SISTEMAS E PLANOS DE SAÚDE METRÓPOLE LTDA
ADVOGADO : FÁBIO TELENT E OUTRO(S) - SP115577
AGRAVADO : MIRIAM CAVALCANTE DE LIRA
ADVOGADO : RAFAEL DE SOUZA LINO E OUTRO(S) - SP237655

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Quarta Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo interno, nos termos do
voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Lázaro Guimarães (Desembargador convocado do TRF 5ª Região),
Luis Felipe Salomão, Maria Isabel Gallotti e Antonio Carlos Ferreira (Presidente) votaram com o
Sr. Ministro Relator.

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