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UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI – URCA

CURSO: LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA


SEMESTRE – V TURNO: MANHÃ
ALUNO: RUBENS FERREIRA BATISTA DA SILVA
PROFESSOR (A): OCÉLIO TEIXEIRA DE SOUZA
DISCIPLINA: PROJETO DE PESQUISA

JUAZEIRO DO NORTE E O CORONELISMO:


RELAÇÃO DE CRENÇA E PODER, NO PERÍODO 1889 À 1934.

CRATO – CEARÁ
O presente artigo se originou de uma investigação cujo objetivo era identificar como
Coronelismo esteve presente na nossa cidade através da figura histórica que é o padre
Cícero, chefe político e religioso da cidade já mencionada. Parte-se do pressuposto de que
Padre Cícero após o milagre ocorrido em 1889, época em que se dava a proclamação da
República (1), tornou-se “celebridade” e acabou aliando-se aos políticos do Cariri e até a
oligarquia Acciolina (2), tornando-se um poderoso coronel de batinas. O foco principal da
aná-
lise incide sobre a quastão do coronelismo ligado à crença religiosa e a política que serviu
como objeto de estudo, sobretudo porque permite a observação de relações que se estabele-
cem entre romeiros e a produção de discursos sobre coronelismo e religião.
Ainda sobre a primeira República, é conhecida também como a República dos
Coronéis, pois teve no coronelismo uma das suas marcas principais, onde vemos que este
(o coronelismo) chegou ao apogeu justamente na época do presidente Campos Sales quan-

do da instituição denominada “ Politica dos Governadores ” que ensejou a das


oligarquias
nas diversas unidades federadas em que o coronelismo serviu como forma
de apoio aos
governos estaduais, que, por sua vez, serviam de esteio ao poder central.
(Macedo,1990
: 15p).
O trabalho surgiu a partir do momento em que observamos o texto retirado do livro
“Império do Bacamarte” que foi trabalhado pela professora Fatiana da disciplina História do
Cariri, neste percebemos muito bem a questão do coronelismo aqui na nossa região.
Outro pressuposto é a busca do povo que vivia no interior do Sertão Nordestino
que
sofria de violência, crime organizado e a ânsia de justiça, por um “fundamentalismo” no
contexto de fé religiosa radical, inspirada no cristianismo primitivo, foi estimulada pela
pre-
gação de místicos, encontrando ambiente favorável no seio da sofrida população da região
semi-árida do Nordeste. (3)
Meu interesse pela temática vai de encontro com o poder religioso que o Padre
Cícero
exerceu e exerce influenciando a população tanto juazeirense como os de outros
lugares
como interior de Alagoas, Pernambuco, entre outros.
De início questionamos o que é o coronelismo:
O conceito de coronelismo varia, tendo várias discussões em torno do assunto.

A autora Maria de Lourdes M. Janott explica que: De forma genérica, entende-se


por
Coronelismo o poder exercido por chefes políticos sobre parcela ou parcelas
do eleitorado
Objetivando a escolha de candidatos por eles indicados. (Janott p.7).

Para Marlene Corrêa – os coronéis eram geralmente os grandes


proprietários de
terras, que detinham o poder no município, mas poderiam ser também
algum grande
comerciante ou mesmo bacharel (Corrêa 2001).
Segundo Victor Nunes Leal, o coronelismo é um compromisso, uma troca
de pro-
veitos, estando de um lado o poder público e do outro o influxo dos chefes locais, o
primeiro
fortalecido progressivamente e o segundo decadente.

Relacionando esses pressupostos com o sertão Nordestino percebe-se econômica


e
socialmente, os coronéis interioranos não detiveram grandes cabedais de
riqueza, nem
ostentaram o brilho e a pompa vividos, em particular no século XIX, por
alguns de seus
prógonos do açúcar. Eles foram a reverberação matuta, agropastoril, semi-
árida dos eno-
brecidos senhores de engenho e de canaviais da faixa úmida do litoral
(Vilaça, 1939).
Pelo que vemos os coronéis do Agreste e do sertão habitaram uma paisagem cada vez

mais seca e aspera a medida que se avança pelo imenso bolsão sertanejo. Suas casas
am-
plas, alpendradas, eram simples, escassamente mobiliadas, não raro
surpreendentemente
rústicas. Nelas, eles levaram uma vida mais modesta, em nada ostentatória,
pois sua com-
dição econômica não condizia com o luxo e esbanjamento. Uma vida de
fazenda, a mesa
farta, mas simples, salvo nos dias, raros, das grandes festas. Não tinham
muitas letras,
nem hábitos refinados. (Vilaça, 1939).
Toda via, é comum apresentarem o coronel como um fazendeiro rústico, autoritário,
brutal, ignorante, dispondo da vida dos demais habitantes do lugarejo em que reside.
Todo o esteriótipo é as vezes, consagrado, ou até ridicularizado. Mas todo esteriótipo é res-
tritivo, empobrecedor, embora contenha um fundo de verdade.
Mas o que se observa é a força eleitoral que o coronel possuía que era emprestada pe-
lo prestígio político, natural coroamento de sua privilegiada situação econômica e social de
donos de terras, pois comandava discricionariamente um loto considerável de votos de ca-
bestro, (6). Em todas essas tramóias pairavam a aprovação da política de dominação do
governo, aliado ao poder econômico, fomentado inclusive, pelo sistema latifundiário.
Fatores de tal ordem conduziram homem geralmente rudes, sem
qualquer instrução,
a deterem um tipo de poder político tão forte, que influenciavam eles até
em relevantes
decisões na área federal. (Macedo 1990).
Essa figura do coronel está presente na região do Cariri cearense em particular na ci-
dade de Juazeiro do Norte na figura do Padre Cícero. De acordo com Joaryvar Macêdo apon-
tam-se como causas, que concorreram, no Cariri para maior itensidade do fenômeno em

questão o prestigio popular do Padre Cícero Romão Batista, a instituição das


menciona-
das guardas locais e a distância da capital. (Macedo, 1990). Para nós
situarmos melhor
analiso aqui a contextualização dos fatos da época:

Um fato fora do comum, acontecido em 1º de Março de 1889,


transformou a rotina
do lugarejo e a vida de Padre Cícero para sempre.
Naquela data, a participar de uma comunhão geral, oficializada por
ele, na capela
de Nossa Senhora das Dores, a Beata Maria de Araújo ao receber a hóstia
consagrada,
não pode degluti-la pois a mesma transformara-se em sangue.(3).
Grandes e pequenos, sobretudo pequenos, formaram, a partir desse momento, uma
legião de adeptos do antigo capelão. Compadre e correligionário de quase todos os coronéis
dos sertões cearenses e de outros sertões, o velho sacerdote contava com uma verdadeira
corte de romeiros, que nele cegamente confiavam e cegamente fariam tudo quanto ele de-
terminasse. Mas assim como flui sua fama de miraculoso muitos foram aqueles que se im-
buiram em escrever algo, promovendo uma clivagem de discussões que atravessou todo o
século XX e que com certeza, está longe de ser encerrado.
Como por exemplo podemos citar Della Cava que se propõe a esclarecer uma das
questões mais polemicas que envolvem o “patriarca”: O envolvimento deste com a política.
Para o autor a decisão do Padre Cícero de ingressar na política ocorre em decorrência da
campanha pela autonomia do Juazeiro (4).
Mas os motivos que levaram o sacerdote a ingressar na política, ainda hoje, geram
fortes discussões. Para os detratores, o padre o fez movido por interesse de poder e riqueza
enquanto que, para os defensores, seria resultado inevitável das circunstâncias. Nesse
as-
pecto, Della-Cava (1976:159s) chama a atenção, ao afirmar que:

Qualquer tentativa de explicação deve começar pelo exame da


própria confissão

do patriarca de que “nunca desejei ser político” e da sua contradição


formal ao tomar
posse no cargo de primeiro prefeito de Joaseiro, no final de 1911 (...)
Explicando, naquela
oportunidade, anteriormente à elevação de Joaseiro a condição de vila, viu-
se “forçado a
colaborar na política... (a fim de ) evitar que outro cidadão por não saber
ou não poder
manter o equilíbrio de ordem até esse tempo por mim mantido compromete-
se a boa mar-
cha dessa terra”.
A sua entrada na política demarca certos fatos, este considerado santo nos interiores
de Alagoas, de Pernambuco, da Paraíba, estava longe de contar com a mesma fama no
Ceará. O fato era que entre muitos ainda perduravam ressentimentos em conseqüência
da

deposição de Franco Rabelo, ato cujo o principal acusado era Padre Cícero. A demais,
ele
era político, proprietário de sitos e de fazendas espalhados pelo Nordeste,
amigo de co-
neis, de Lampião e de outros cangaceiros. Porque no Ceará, para o povo, a
idéia de san-
tidade dependia, de sacrifícios e desprendimentos dos bens materiais.
(Galeno, 1988).
Contudo, deixando-se de lado a idéia de santidade, o Padre gozava, inegavelmente,
de prestígio entre a população Caririense, sobretudo os coronéis latifundiários, alguns dos
quais – como era o caso do coronel Zé Barrego, de Lavras da Mangabeira – que antes de
tomar qualquer decisão importante ia aconselhar-se com o patriarca.
Foram muitos os autores que pesquisaram e escreveram sobre Padre Cícero alguns
fazendo serias acusações e incubindo-se da tarefa de negar os fatos ocorrido em Juazeiro
e desmistificar as crenças no poder miraculoso deste, como é o caso Padre Antônio Feitosa
que lançou um livro intitulado: “Falta um defensor para o Padre Cícero”, no qual argumenta
que as provas cujos detratores se apóiam para acusar o fundador de Juazeiro são mais con-
tundentes do que os que os defendem.
Feitosa (1983) Também declara que o Padre Cícero alimentava as crenças em seus
“poderes sobrenaturais”, sentindo-se vaidoso em ser adorado como um “Deus”, neste senti-

do. Segundo seu entendimento o Padre Cícero não era amante da pobreza, não
possuía
nenhum poder de cura, não conhecia o sentimento da humildade, ao
contrário possuía

um imenso apego as riquezas e ao poder político, sendo um explorador dos


ingênuos e
mais um coronel do sertão.

Para trabalharmos o Padre Cícero como coronel podemos relembrar antes como se
deu sua entrada na política. O ano em que ocorre esse momento foi 1910 e em torno dessa
opção do antigo capelão de Juazeiro, observam-se pontos – de – vista de estudiosos dos
episódios, nos quais ele foi envolvido ou figurou como protagonista principal. Há os que inter-
pretam essas decisão do sacerdote, baseados na questão religiosa de Juazeiro, pois suspen-
so do uso de suas ordens, sem vez, portanto, na Igreja, o Padre Cícero teria escolhido novo
caminho: a política.
Entretanto, poderia, necessitar de fundamento essa opinião, de acordo com Joaryvar

Macedo levando-se em conta o roteiro cronológico das penas cominadas


ao discutido
clérigo, até o ano de 1910, o do início da sua militância política... 17 anos,
portanto, de-
correram da primeira suspensão e onze da terceira, até 1910, quando se deu
a entrada do
Padre Cícero na política, lapsos bastantes vastos e suficientes para se
questionar se a de-
Cisão dele se deveu, realmente, a destituição das ordens sacras. (Macedo,
1990).
Existe também a “questão do Coxa” , pois teve insucesso em sua luta por as terras do
mesmo e isso o teria induzido a militar, decisiva e decididamente na política, logo a partir de
1910.

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