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UNIVERSIDADE DE CAMPINAS – UNICAMP

FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
Disciplina: ED 100 – Teoria das Organizações educaciomais.

Adenilson Correia da Silva

Ensaio sobre a Expansão Universitária: produtivismo e


condições de trabalho docente.

Trabalho apresentado à disciplina Teoria


das Organizações educacionais ministrada
pelos docentes Dr. Evaldo Piolli e Dr.
Roberto Heloani

JUNHO/2013
Resumo
A proposta deste ensaio é descrever as condições de trabalho do docente universitário
diante do programa de expansão universitária Reuni decreto Nº 6.096 de 24 de abril de 2007,
que versa sobre a ampliação o acesso e a permanência no ensino superior. A condição do
trabalho docente neste processo expansivo será descrita e analisada as luzes das teorias das
organizações, buscando nas bases teóricas desse conhecimento as relações entre
produtividade e o trabalho docente. A teoria das organizações neste contexto será um
norteador não só para o entendimento histórico do processo industrial que possibilitou o
desenvolvimento de tecnologias e a expansão industrial, mas também das relações humanas,
sendo esta última as causas e efeitos desse processo. Ou seja, partiremos do principio de que
as relações sociais tanto no contexto histórico como na atualidade continuam a propor novas
maneiras de desenvolvimentos, porém sem perder os velhos conceitos, permanecendo assim a
idéia mecanicista, cartesiana e sistemática, que atinge diretamente a forma como se explora o
conhecimento. Frederick Winslow Taylor mentor da organização cientifica do trabalho será
neste ensaio nossa linha mestra para descrevermos e analisarmos em discussão com outros
autores, de que forma o chamado taylorismo influencia nos dias atuais as relações de
produção e reprodução da sociedade. A idéia central deste ensaio é discutir como vem sendo
ordenada à força de trabalho e de que maneira isso vem sendo adaptado para as “novas”
necessidades do mercado, seja ela no contexto industrial, prestação de serviços, áreas da
saúde e na educação.

Palavras- chave : trabalho, teoria das organizações,educação.

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1- INTRODUÇÃO

Quando os primeiros hominídeos a povoar a terra já com seu complexo craniano


desenvolvido, em especial na região dos centros da linguagem, significa no percurso da história
que naquele momento o homem pela primeira vez apresentava todas as condições anatômicas
para o desenvolvimento de uma linguagem articulada reunidas.

O chamado Homo habilis, segundo Edgar Morin (2002, p.214), com a invenção da
ferramenta, com o aparecimento da linguagem articulada, começou a fabulosa aventura
cultural do homem. Ou seja, permitindo o desenvolvimento das inerências cabíveis apenas a
raça humana começavam a dar o ar da criatividade, da invenção e da arte da transformação.
Isso nos faz pensar que tal atividade humana em fazer ou transformar algo esta relacionada á
capacidade de observação e experimentações articuladas entre, em si, para si, se fazendo
perceber não só a mudança de algo, mas também a sua mudança em relação ao objeto. O que
significa que, ao transformar a natureza o homem também se transforma de acordo com Karl
Marx (2008).

Neste sentido, entendemos o trabalho como um processo criativo e propositivo para


as relações humanas, já que sem esta relação cairíamos num profundo ostracismo ou mesmo
solopsismo das idéias. Isso nos faz pensar o ato do trabalho em relação direta com varias
ciências claro que entendidas cada qual com suas especificidades, mas que podem atuar
conjuntamente sem serem fragmentadas. Neste sentido partilhamos a idéia da arte do
trabalho com o físico e professor Frank Oppenheimer;

A arte não torna apenas mais bela as coisas, apesar de isso


freqüentemente acontecer... Os artistas fazem descobertas
sobre a natureza diferentes daquelas que fazem os cientistas.
E também usam bases diferentes para tomar decisões
enquanto criam suas obras, seus experimentos. Mas tanto o
artista como o cientista ajudam o público a notar e a apreciar
as coisas da natureza que aprentedemos a ignorar ou que
nunca nos ensinaram a ver. Tanto a arte como a ciência são
necessárias para o completo entendimento da natureza e de
seus efeitos nas pessoas. Por isso, no exploratium, misturamos
a arte com ciência como parte da pedagogia geral (ARAÚJO,
2004, p.23-24).

Vários são o estudo que apontam de datas distantes a separação entre as


ciências, as artes e a humanização, há muito não se estruturam no mesmo organismo
tendo conseqüência direta do cartesianismo, ou seja, a separação corpo-mente
(Araújo-Jorge apud De Meis, 1998).

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Neste sentido o estudo presente pretende como um ensaio descrever o
cotidiano de um personagem denominado Nilson, docente que vive a expansão da
universidade supracitada no texto. Servirá a descrição cotidiana deste personagem
também para abrir a discussão e fazer um paralelo da problemática da teoria das
organizações com a relação à produção e reprodução frente às idéias dos pensadores
citados no decorrer do texto.

Para iniciarmos nossa discussão iremos parodiar o clássico dialogo com Schmidt
descrito no livro “Princípios de Administração Cientifica” de Frederick W.taylor, com a
realidade vivida pelo nosso personagem nos dias atuais.

2 - TRABALHO DOCENTE E EXPANÇÃO

2.1 - O HOMEM QUE VIROU SUCO: O PROFESSOR TEMPORÁRIO.

- Nilson, você é um professor universitário temporário de baixo custo?

- Não sei bem o que o senhor quer dizer.

- Desejo saber se você se sabe ou não como um temporário de baixo custo.

- Ainda não entendi.

- Venha cá. Você vai responder as minhas perguntas. Quero saber se você se sabe ser
um temporário de baixo custo, ou um desses pobres adjuntos que andam por aí.
Quero saber se você deseja manter este status do qual nos valorizamos muito e se
manter acrítico como esses tontos que estão por aí. - Se quero manter meu status?
Que saída se meu contrato é temporário? Então sou um temporário de baixo custo.

- Ora, você me irrita com esta ironia. Naturalmente que não tem para onde correr; nós
já sabemos. Você sabe perfeitamente que isso é só o começo muitos serão os
temporários de baixo custo. Por favor, procure responder ás minhas perguntas e não
me faça perder tempo. Venha comigo. Vê aquela sala de aula?

– sim.

- Vê estes 40 alunos some mais 42 totalizando 82!

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- Muito bem. Se você é um temporário de baixo custo irá levá-los para sala de aula.
Agora, então pense e responda á minha pergunta. Diga se você se sabe ser ou não um
temporário de baixo custo.

- Bem, se vou manter meu status para além dos 40 alunos acrescer 42 somando 82
alunos?

- Sim naturalmente, você receberá um total de 82 alunos para colocar na sala todos os
dias durante o ano inteiro. É para isso que serve um temporário de baixo custo e você
sabe disso tanto quanto eu.

- Bem, tudo entendido. Devo carregar este tanto de alunos para sala todos os dias o
ano inteiro, não é assim?

- Isso mesmo. Assim, então, sou um temporário de baixo custo.

- Devagar! Você sabe tão bem, quanto eu, que um temporário de baixo custo deve
fazer exatamente o que lhe disseram desde manhã à noite. Conhece você aquele
homem ali?

– Não, nunca o vi. Bem, se você é um temporário de baixo custo deve fazer
exatamente o que este homem lhe mandar fazer, de manhã à noite. Quando disser
para levar os alunos para sala você leva, quando falar para produzir artigos inúmeros
artigos você produz! Você procederá assim durante o dia todo o ano inteiro. E, mais
ainda, sem reclamações. Um temporário de baixo custo faz justamente o que lhe
mandam e não reclama. Entendeu? Quando este homem mandar andar, você anda;
quando disser que se sente, você deverá sentar-se, e não fazer qualquer observação.

O homem que virou suco ao chegar a São Paulo se depara com a frieza do
concreto que a todo custo lhe impõem a dura realidade do trabalho árduo do
progresso para poucos.

Sua poesia é vista como divertimento, vadiagem e não como algo inerente ao
homem, arte de poetizar a vida. Que se fragmenta apenas nas estrofes, o que a faz ser
entendida com métrica e rima, harmonia das palavras. Assim como o homem que
virou suco está para a poesia o docente está para a educação, o conhecimento não é
linear, ou mecânico ele é dialético.

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A analogia do dialogo do operário Schmidt com o cotidiano do nosso
personagem Nilson se assemelham na produtividade, no entanto, o que de mais cruel
os diferencia é o fato de Schmidt carregar barras de ferro enquanto Nilson carrega
pessoas, alunos.

Barras de ferro não reproduzem os atos de seus carregadores por uma questão
obvia de serem inanimadas, ao contrario de Nilson que trabalha com seres humanos, e
este comportamento possivelmente será transferindo para os alunos que futuramente
venham a ser docentes, perpetuando assim a lógica produtivista capitalista.

O dialogo parodiado em questão é um estudo da aplicação do sistema de


administração cientifica ao serviço de manejar lingotes de ferro (p. 42-43), a questão
em discussão é de como colocar lingotes de ferro com maior eficiência de tempo e em
maior quantidade. Este estudo tem até uma comparação, onde seria possível treinar
um gorila inteligente e torná-lo mais eficiente que um homem no carregamento de
lingotes de ferro.

No entanto, quando tratamos de educação não estamos lidando com lingotes


de ferro e nem procurando transformar do dia para noite, alunos aptos a seguirem
uma profissão seja ela qual for num passe de mágica e em escala industrial.

A lógica quantitativa de eficiência preconizada por este sistema produtivista


visa macular a intensificação da extração do trabalho ao limite em tempo cada vez
menor, afirma Ricardo Antunes (2001).

2.2 - O PAPA É POP (MENTIRI NE OMITTANT): A FALÁCIA DAS ORGANIZAÇÕES E A


EXPANSÃO UNIVERSITÁRIA.

O artigo falácia da qualificação: dilemas do (dês) empregos dos profissionais de


nível superior encabeçado pelos professores Roberto Heloani e Evaldo Piolli (2005)
esclarece bem esta realidade do projetar-se no mundo do trabalho e seus sofrimentos.

O trabalho que seria algo prazeroso e importante a condição humana se torna


um sofrimento e causador de grandes patologias sociais. Com o advento do Fordismo

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ao Pós - Fordismo, a racionalização, a flexibilização e a mecanização automatizadas,
tornaram a cadeia produtiva mais eficiente, reduzindo dramaticamente a força do
trabalho vivo. O que representa um contingente considerável de trabalhadores
exclusos no mundo do trabalho, vulnerabilizando direitos e minando todo tipo de
agremiação, associações e sindicatos.

Abrindo portas para um novo arranjo societal para continuidade da hegemonia


do capital na busca insaciável da exploração do trabalhador. O alcance desse projeto
massificador da condição de trabalho não se limita apenas na esfera econômica, busca
avançar as entranhas do mecanismo político do Estado revertendo políticas sociais e
culturais em favor de uma ideologia de acumulação de mercado. Segundo Heloani &
Piolli ( 2003,p 203):

O modo de regulação fordista começa a ser rompido com a


crise iniciada no final dos anos 1960 e inicio da década de
1970: pelo questionamento feito às suas bases pelos
movimentos operário e estudantil; pela crise do petróleo)
1973) e as políticas de ajustes dela decorrentes; e pela baixa
competitividade das indústrias européias e americanas frente
às industrias japonesas do setor automotivo. Novos processos
e experiências no campo de produção emergem em
contraposição à produção em série e em massa. E a partir daí
que surgem novas formas de acumulação de riquezas e de
organização do trabalho e da produção, que trazem graves
conseqüências para a qualidade de vida dos trabalhadores.

Os efeitos desse processo são relatados no dialogo do nosso personagem


Nilson, que vive na pele a expansão da universidade, que traz em sua prática expansiva
a ideologia da produtividade em grande escala.

Em desvantagem da maquina automatizada; isolado pelo enfraquecimento dos


sindicatos e ilhado por uma política de Estado que visa os interesses de um mercado
produtivista e acumulador de riquezas.

Este novo arranjo na organização do trabalho subdivide os trabalhadores em


classes distintas de direitos e deveres dependendo de suas habilidades. Citaremos aqui
o segundo grupo de acordo com Heloani & Piolli (2003, p. 204) “que apresentam uma
alta taxa de rotatividade e grande flexibilidade numérica e é constituído por
trabalhadores em tempo parcial, com contratos por tempo determinado, temporários
e subcontratados”.

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Ou seja, este grupo de trabalhadores tem em comum a ausência de direitos
trabalhistas tais como: fundo de garantia, seguro desemprego, instabilidade no
trabalho e são submetidos a grandes rotatividades, sendo este último mecanismo
essencial para desconfiguração do contrato de trabalho, o que gera o enfraquecimento
e a perda dos direitos trabalhistas.

2.3 - A SOLIDÃO É FERA, A SOLIDÃO DEVORA: STAND-UP O PALHAÇO SEM CIRCO A


NOVA E VELHA ORDEM NAS ORGANIZAÇÕES DO TRABALHO.

Os clãs primitivos foram às primeiras organizações do homem, desenvolvendo


instrumentos de trabalho como ferramentas utilizando desses instrumentos como
extensão do braço facilitando a prática laborativa.

Desde então aparece neste processo expansivo de criação e domestificação da


natureza uma interdependência da força de trabalho, já que como aumento da
produtividade, ou seja, o excedente da produção novas complexidades surgem nas
relações sociais e conseqüentemente firma-se a luta de classe.

Portanto, nos dias de hoje, raramente o homem age de forma isolada na


sociedade o que não significa estar isolado. As organizações criadas a partir dos
interesses de trocas e cooperações se interligam viabilizando interesses e amenizando
conflitos, porém sempre mantendo o característica de dependência e
interdependência.

Esta relação de dependência crescente das organizações contribui para a


definição de personalidade e condicionamento dos indivíduos, Segundo Motta &
Pereira (1984, p.16-17), despertou uma preocupação de muitos estudiosos modernos
a este respeito:

(...) alguns, como Max Weber e Robert Merton, limitaram-se


apenas e estudar o problema de um ponto de vista cientifico.
Outros, como William Whyte, Jr. E David Riesman, foram
alem. Willian Whyte, especialmente, descrevendo o homem
norte Americano que participa das grandes organizações,
chamou-o de the organization man. Um individualista
apresentando o quadro de uma sociedade em que o
conformismo social é crescente, ele a descreveu em termos

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muitas vezes amargos. Abandonou o ponto de vista
puramente cientifico, para passar para o campo da critica
social. O homem da organização é o homem que pensa em
grupo, que toma decisões em grupo, que trabalha e se diverte
em grupo, é o homem cujos valores e crenças são os valores e
as crenças das organizações de que participa, é o homem cujo
comportamento é condicionado pela organização, de forma a
tornar mínima, senão inexistente, sua área de autonomia
individual.

A tecnologia virtual é exemplo clássico e notório sobre os fenômenos do


isolamento compartilhado, o que é estranho e contraditório ao mesmo tempo, as
pessoas se interagem e ao mesmo tempo se distanciam cada vez mais. O que significa
uma interação virtual compartilhada com vários indivíduos ao mesmo tempo numa
escala produtiva imensa de informações instantâneas imediatas.

Os critérios de discernimento das idéias nesta relação são depurados e


fragmentados ao extremo a ponto de subjugar grandes teóricos e suas teorias por
meras especulações das redes sociais. Heloani (2013, p. 9) afirma que:

O modelo de produção era de longo prazo. Hoje não. Esse


jovem já entra na escola e logo acaba recebendo a ideologia
da internet, da informação virtual, na qual não se exige do
sujeito grande reflexão, mas muito mais uma pró-atividade de
resposta. Isso não quer dizer que o sujeito pensando, mas que
ele está sendo treinado para responder rapidamente.

Ou seja, relembremos o inicio da nossa discussão, onde o estudo da aplicação


do sistema de administração cientifica ao serviço de manejar lingotes de ferro ecoa
vulgarmente. A idéia de tornar alguém eficiente a ponto de existir a possibilidade de
treinar um gorila se assemelha com o que discute Heloani, onde o modelo desse novo
reajuste das organizações exige um sujeito sem grandes reflexões e eficiente na
execução.

É o caso do nosso personagem Nilson que vive uma expansão universitária


vinculado a uma ideologia produtivista, que ministra aula para uma grande quantidade
de alunos, que trazem já massificada a idéia de uma formação instantânea. E que
possivelmente por questões relativas ao condicionamento do comportamento,
vivenciado no cotidiano universitário como, por exemplo, cursos condensados,
impossibilidade na aplicabilidade de leituras complexas devido à deficiência na base
escolar dos alunos, conforme Tragtemberg (2012, p. 15 -18) nos aponta,

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Na realidade, o messianismo pedagógico tem viseira curta. A
ampliação da escolarização formal não “salvou” o país, nem se
constituiu em elemento para formação de mão de obra
qualificada. Em outros termos, quanto menos a escola tem
esse papel tanto mais ela se realiza como aparelho ideológico,
inculcando valores e o comportamento das classes
dominantes nas classes dominadas. Na realidade, o sistema de
ensino se realiza através da distribuição diferencial do saber,
possibilitando meios para exercício diferencial do poder, que
por sua vez reproduz diferencialmente a lógica das classes
sociais existentes. Dessa maneira os dominados processos de
inovação pedagógica nada mais são do que inovações
tuteladas do Estado, que orientam ideologicamente os
métodos de segregação escolar. Assim, quem quiser manter
tudo como está realiza uma reforma educacional e as coisas
ficarão como sempre estavam, porém, com nova roupagem
retórica.

Enfim tudo isso colabora para que os futuros alunos tanto aqueles que irão
para o mercado de trabalho, como aqueles que pretendem seguir carreira na
academia, dando continuidade à ideologia de uma organização centrada no
produtivismo.

E por incrível que pareça este caminho é solitário, pois prega estas
organizações o individualismo, defesa dos interesses pessoais e sobretudo a idéia de
um mercado competitivo e eficiente.

2.4 - CASA DAS MÁQUINAS: O MEDO DE NÃO SER IGUAL.

A burocratização nas organizações modernas faz com que o sentido do trabalho


se torne algo estranho ao próprio trabalhador uma deformação na capacidade de
criação, uma disjunção entre transformar e se transforma. De acordo com Motta
(1981, p.72),

Dessa forma o relacionamento do operário com sua atividade


é alienado em sua ação na qual ele se torna estranho a si
mesmo. Isto se dá porque se trata de uma atividade exterior
ao sujeito, à natureza do homem, de modo que o operário só
se realiza fora da esfera do trabalho. Além disso, constitui uma
atividade forçada que não lhe pertence, mas pertence a
outrem. Aqui não é o objeto que se torna estranho, mas o
próprio trabalhador que se torna estranho a si mesmo.

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Ao mesmo tempo em que separa o trabalho do processo de criação, cria a
mística do valor do trabalho morto como o real valor do trabalho, as ideologias das
organizações produtivistas seduzem, alienando o trabalhador como homem
organizacional pertencente ao organismo produtivo.

Ou seja, esta relação do homem organizacional com as organizações vai se


caracterizando ou mesmo se fundindo pela condição de dependência existindo uma
espécie de relacionamento emocional incondicional de troca, merecimento e
recompensa.

Ao se sentir parte da organização, pertencente a um grupo, alienado da sua


capacidade de criação, massificado por uma ideologia onde a realização do ser esta na
idéia do ter, faz com que o trabalhador se sinta parte integrante desse organismo
produtivista. E uma vez fora, seria como se estivesse desqualificado e inapto aos
interesses do produtivismo.

Este medo de não pertencer está ligado ao medo de não consumir, de perder
sua identidade e inconscientemente sendo ao mesmo tempo consumido e coisificado
como maquina, em outras palavras, uma ferramenta que fala. Segundo Max Pagés
(1987, p. 149):

(...) a organização consegue conservar seu papel ameaçador,


eliminando de sua ação a ameaça propriamente econômica,
isto é, o risco da perda do emprego. Para isto, basta que ela
ameace de empurrar o individuo para um cargo menos
interessante, tirar-lhe seus favores, a possibilidade de
identificação com ela. Em resumo, que ela ameace de lhe
retirar o prazer que ela lhe oferece sob outro aspecto. Prazer e
angustia têm uma mesma origem, que reside no poder que
tem a organização de levar o individuo a se identificar com ela.
Dir-se-ia que a organização une uma maquina de prazer a uma
maquina de angustia.

Este medo de não pertencer às organizações se insere neste contexto como


punição e mecanismo de opressão do sistema produtivista que ideologicamente
interioriza a quem não participa das organizações a idéia de inútil, fracassado e
inadaptável.

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3- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Buscamos neste pequeno ensaio entender os mecanismos que caracterizam a


continuidade da lógica capitalista que afeta o trabalho docente, tendo como elemento
disseminador das organizações a ideologia da produtividade e eficiência, o taylorismo.

Nesse arcabouço exploratório voltamos nosso olhar para condição de trabalho


do profissional docente inserido no contexto da expansão universitária. A teoria
taylorista apresenta sem sombra de duvida uma sistemática de eficiência na extração
da força de trabalho fantástica e assustadora.

No entanto, não podemos confundir a capacidade de desenvolvimento e


eficiência como algo que transcenda a condição humana e sua capacidade de interação
com a natureza em transformar, e se transforma numa relação dialética e ontológica.

Assim, entendemos que a produção de conhecimento enquanto um processo


democrático e de direito que visa à continuidade e qualidade do desenvolvimento, seja
ele intelectual e estrutural de uma sociedade, precisa sim encarar a educação como
algo a ser construído numa perspectiva de exploração e maturação do saber.

Parece-nos impossível tal realização dentro de um processo produtivista com


idéias mecanicistas, cartesianas e fragmentadoras de saberes. Dessa forma,
finalizamos este ensaio com a fala de ANISIO TEIXEIRA (2007, P.121), que nos diz o
seguinte em relação à essência da Universidade,

A universidade é, em essência, a reunião dos quem sabem


com os que desejam aprender. Há toda uma iniciação a se
fazer. E essa iniciação, como todas as iniciações, se faz em
uma atmosfera que cultive, sobretudo, a imaginação... Cultivar
a imaginação é cultivar a capacidade de dar sentido e
significado ás coisas. A vida humana não é o transcorrer
monótono de sua rotina cotidiana; a vida humana é,
sobretudo, a sublime inquietação de conhecer e de realizar.
Essa inquietação de compreender e de aplicar que encontrou
afinal a sua casa. A casa onde se acolhe toda a nossa sede de
saber e toda a nossa sede de melhorar é a Universidade.

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Nesta perspectiva cultivar o conhecimento não é organizar ou sistematizar um
procedimento agregando a este processo eficiência e uma lógica linear. A organização
do saber está na relação do homem com o corpo e a mente, num continuo movimento
de construção e desconstrução, de ligação e re-ligação dos saberes, originando a
duvida e a certeza de novas possibilidades.

4 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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