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Livro digital criado por Edgar Amazonas Filho e Luis Blasques – Todos os direitos

reservados. Este produto eletrônico é gratuito e não pode ser vendido. Proibida a
reprodução ou alteração sem a autorização dos seus criadores!

NOVEMBRO/2020

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QUER CONHECER UMA NOVA FORMA DE OPERAR NA BOLSA DE
VALORES, COM QUANT TRADES?
ENTÃO SE CONECTE:

3
SOBRE OS AUTORES

Edgar Amazonas Filho é professor há 15 anos, enge-


nheiro, programador, investidor e empreendedor. Par-
ticipou em uma dezena de projetos para diversas con-
cessionárias de Energia Elétrica do Brasil. Sempre
usando o que há de mais avançado em técnicas com-
putacionais: inteligência artificial e machine learning.
Edgar acredita que muitas pessoas podem aprender e
aplicar ciência de dados em seus investimentos e,
com isso, operar de forma mais inteligente.

Luis Blasques é engenheiro, professor e investidor. É


mestre e doutor em engenharia, e em seus estudos de
pós-graduação se aprofundou em engenharia econô-
mica, quando passou a se interessar por finanças em
geral. Há mais de 15 anos investe em diferentes ati-
vos, da renda fixa à variável, de fundos à previdência.
Hoje, após estes anos de experiência prática, entende
que investir de forma ativa e usando dados pode po-
tencializar suas operações de forma inteligente e com
ótima margem de acerto.

4
INTRODUÇÃO

Caro(a) investidor(a),

Se você chegou até aqui é porque tem interesse em investir bem seu di-
nheiro, com foco em renda variável, seja você alguém que nunca investiu
em ações, ou alguém que já está “no mercado”.

Este e-book tem como principal objetivo lhe ajudar nesta caminhada, co-
meçando pelo mais básico, com os primeiros passos para você se tornar
um investidor em renda variável, passando por definições sobre o mind-
set ideal do investidor, ou seja, a mentalidade correta que um investidor
deve ter para maximizar seus resultados em renda variável, e finalmente
chegando no que entendemos ser a “cereja do bolo” deste e-book, que é
a estratégia, utilizando ciência de dados, que nos permitiu chegar no que
chamamos de “preço-médio do mercado”, atual e futuro, de ativos de
renda variável negociados na bolsa de valores. Inclusive apresentamos
ao final do e-book valores reais obtidos a partir desta estratégia, funda-
mentada nos dados e no comportamento dos mercados. Então, neste e-
book você vai encontrar:

1 – O básico no mercado de Renda Variável

2 – Afinal, preço importa ou não?

3 – Os mercados de ações e fundos imobiliários (FII)

4 – O comportamento dos mercados. Ou, simplesmente, o Sr. Mer-


cado

5 – Precificando uma ação usando dados

5
6 – A ciência de dados nos investimentos

7 – Qual o preço médio de mercado na prática? 5 ações e 5 FIIs


(+bônus surpresa)

BÔNUS: O poder da construção de um bom portfólio, e como a ciên-


cia de dados também pode ajudar nisso

1. O BÁSICO NO MERCADO DE RENDA VARIÁVEL

Na bolsa de valores brasileira (B3) você pode operar compra e venda de


três tipos de ativos de renda variável: ações, fundos de investimento
imobiliário (FII) e Exchange-traded funds (ETF). Estes ativos podem
ser operados por QUALQUER pessoa que tenha um CPF ativo, uma
conta bancária ou uma conta em corretora de valores. O processo de
abertura de conta em corretora é supersimples, totalmente online, e são
muitas as opções atualmente no Brasil. Logo, caso você ainda não tenha
conta em uma corretora, recomendamos que você abra ainda hoje. Não
tem custo algum e o processo é bem fácil. Os novos bancos digitais1
também são boas opções, já que diferente dos bancos tradicionais, não
cobram taxas, ou cobram valores bem mais acessíveis. O fluxo para ope-
rar ativos entre bancos e corretoras é descrito na figura abaixo. Nesse
fluxo estamos considerando que há transferências do tipo TED (Transfe-
rência Eletrônica Disponível), ou o novo PIX, entre as contas bancárias e
as contas das corretoras, mas há também situações em que essa opera-
ção é desnecessária, pois o seu próprio banco pode possuir uma corre-
tora.

1
Exemplos: Banco Inter, Nubank, Next, BTG digital, Banco Modal, etc.
6
TRAN SFERÊN CIA O RDEM
TED CO MPRAR/ VEN DER

TRAN SFERÊN CIA


PRO VEN TO S
TED

BAN CO S CO RRETO RAS ATIV O S

O mercado de ações e demais ativos de renda variável é como um outro


mercado qualquer, assim como o mercado alimentício, por exemplo. De
um lado há pessoas querendo comprar algo, e do outro pessoas que-
rendo vender algo. Quando o preço que os compradores estão dispostos
a pagar e que os vendedores estão dispostos a aceitar se igualam,
ocorre a negociação.

AÇÕES / FIIs

Mercado alimentício Mercado de ações

Ações são pequenas frações de uma empresa, FIIs são pequenas fra-
ções de um imóvel e ETFs são fundos que reúnem vários ativos dentro
dele. Ao negociar esses ativos, seu patrimônio pessoal em custódia pode

7
aumentar ou diminuir por causa de dois fatores: o recebimento de pro-
ventos, e o spread2 das operações com os ativos.

O spread está relacionado às cotações das ações, que variam diaria-


mente quando são negociadas na bolsa de valores. A cotação da ação
em si não indica ganho nem perda de patrimônio, você só terá lucro ou
prejuízo quando vender as ações que comprou, o que pode ocorrer com
maior frequência, para o caso de day-traders ou swing traders (respecti-
vamente aqueles que negociam – compram e vendem ações – dentro de
um mesmo dia ou em períodos de semanas a meses), ou que pode rara-
mente ou nunca ocorrer (ao menos enquanto a empresa estiver apresen-
tando bons fundamentos), para o caso dos investidores de valor (value
investors), e adeptos do buy and hold. Este tema é muito importante para
o foco deste material e será abordado com mais detalhes à frente.

Os proventos são remunerações que a empresa distribui ao longo do


tempo, como os dividendos, juros sobre capital próprio, rendimentos e
bonificações. Toda pessoa detentora de ações de uma empresa recebe
os proventos proporcionais ao número de ações que detém. Esses pro-
ventos nada mais são que participações nos lucros das empresas, distri-
buídos a você por ser sócio da empresa. Este tema, o pagamento de pro-
ventos, é muito importante e um dos grandes diferenciais ao se investir
na bolsa de valores.

Os proventos são pagamentos feitos diretamente em sua conta da corre-


tora ou bancária; você pode usar o valor para qualquer finalidade, ainda
que se recomende que o investidor reaplique sempre que possível esse

2
Diferença entre preço de compra e venda.
8
valor, em especial nas fases iniciais de acumulação de capital, para se
beneficiar dos juros compostos.

EM PRESAS PRO DUTO S/ SERV IÇO S

PRODUTOS/SERVIÇOS
DESENVOLVIDOS

LUCRO DOS
PRODUTOS/SERVIÇOS PRODUTOS/SERVIÇOS
VENDIDOS VENDIDOS

ACIO N ISTAS CO M PRADO RES

Os FIIs funcionam de forma parecida com as ações, só que neste caso


você estará comprando uma fração de um ou mais imóveis (edifícios co-
merciais, galpões logísticos, shopping centers, hotéis, etc.) que são ad-
quiridos e administrados pelo gestor do FII que você está comprando.
Uma diferença básica é que os FIIs são mais educativos, pois lidar com
imóveis é em geral mais fácil, para o investidor iniciante, do que lidar com
empresas. Os FIIs, em sua maioria, pagam proventos mensalmente, dife-
rentemente das ações de empresas, cujo pagamento pode ocorrer em di-
ferentes períodos de tempo (trimestral, semestral, anual...). Esses rendi-
mentos mensais dos FIIs são os aluguéis, ou seja, o cotista recebe men-
salmente um valor de aluguel, proporcional à fração dos imóveis que ele
adquire, o que também é bem mais simples de se entender, além de ga-
rantir uma renda mensal caindo na sua conta. A utilização dessa renda
segue o mesmo conceito do que foi falado sobre os proventos de ações.
9
GESTO RES ATIV O S IM O BILIÁRIO S

ATIVOS IMOBILIÁRIOS
DISPONÍVES

LUCRO DOS
ATIVOS IMOBILIÁRIOS ATIVOS IMOBILIÁRIOS
ALUGADOS

CO TISTAS IN Q UILIN O S

2. AFINAL, PREÇO IMPORTA OU NÃO?

Passado o primeiro passo, de nivelamento de informações, vamos falar


sobre o assunto que deu origem a este material: os preços de negocia-
ção das ações e FIIs. Muitos aspirantes a investidor, mesmo após com-
preenderem muito bem todo o processo explicado até aqui, mesmo já
tendo aberto suas contas em uma corretora, muitas vezes “travam” na
hora de realizar sua primeira operação. Não sabem se compram a ação
da empresa A ou da empresa B, se a ação da empresa que eles prefe-
rem está com um preço de tela3 atrativo ou não para compra. E mais,
quando o aspirante a investidor se torna um investidor ao comprar sua
primeira ação ou FII, o dilema não termina, ele se repete para a compra
de outros ativos, e para compra ou venda daquele ativo que ele comprou
inicialmente. E isso sem falar nos riscos quando não se sabe o que está

3
“Preço de tela” é uma expressão usada na bolsa de valores que se refere ao preço, ou cotação, do ativo na-
quele exato momento, e que varia a cada operação de compra e venda.
10
fazendo. E ‘risco’ é uma palavra que assombra quando o assunto é finan-
ças, o que acaba afastando muita gente dos bons investimentos.

E posso falar neste tema por experiência própria!

Quando eu decidi investir na bolsa de valores, criando o meu próprio


portfólio, uma primeira dor que eu senti foi na decisão sobre o preço que
deveria pagar por uma determinada ação, mesmo naquela que eu já ti-
nha certeza que queria ter. Isso me perturbava bastante e várias vezes
me fez ficar por dias pesquisando no Google os preços-justos das ações
calculados por empresas que prestam consultoria em investimentos, as
chamadas empresas de research4.

Quem já tentou fazer isso sabe como é desgastante esta tarefa. Por essa
razão, eu decidi pagar pelo serviço de uma dessas empresas de rese-
arch. Infelizmente, isso resolveu apenas parcialmente a minha dor. As
empresas de research propõem um portfólio que não casam 100% com a
nossa preferência. Por exemplo, algumas possuem a política de nunca
sugerirem empresas estatais, outras apostam muito mais justamente
nestas. Obviamente, todos sabem do risco de se ter uma estatal no port-
fólio, mas é inegável que ao pagar por esse risco, também temos uma
chance de retorno altíssimo. Ou seja, entra uma parcela grande de subje-
tividade na análise. De 2016 a 2019 essa situação ficou bem clara com
essas 3 estatais: Banco do Brasil, Petrobras e Eletrobras, que apresenta-
ram crescimentos respectivos de 292%, 508% e 545% considerando os
preços do início de 2020.

4
Exemplos destas empresas são Empiricus Research, Suno Research, Nord Research e Eleven Financial.
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A pergunta que fica então é:

Como precificar as ações que eu quero que eu quero operar, seja em tra-
des de curto prazo ou que irão compor o meu portfólio, sem a necessi-
dade de estudar horas diariamente análise técnica ou fundamentalista,
sem contratar cursos ou pagar por uma assinatura de uma empresa de
research, ou sem ficar pesquisando dias-e-dias no Google?

Antes de responder essa pergunta, uma coisa deve estar bem clara.
Mesmo as empresas de research não se entendem quanto ao valuation5
das ações/empresas. Pra ilustrar isso, observem a seguinte comparação
dos preços-tetos das empresas Energias do Brasil (ENBR3), BB Seguri-
dade (BBSE3), Alupar (ALUP11) e Tupy (TUPY3), avaliadas por duas
grandes empresas de research do Brasil.

Código da Ação Research A Research B

ENBR3 R$ 16,94 R$ 18,00


BBSE3 R$ 31,74 R$ 30,00
ALUP11 R$ 24,00 R$ 20,00
TUPY3 R$ 22,12 R$ 19,00

Por que acontece essa diferença?

5
Valuation é a estratégia de avaliação, por meio de modelos de cálculos absoluto ou relativo, para precifica-
ção de ativos financeiros, sendo o mais difundido o modelo de fluxo de caixa descontado (DCF), usado para
se encontrar o valor intrínseco da ação, que seria seu preço justo, ou preço-teto de compra.
12
A resposta é que o processo de valuation de uma empresa se baseia em
premissas6 definidas pelas próprias empresas de research, por exemplo,
a taxa de desconto usada no método do Fluxo de Caixa Descontado.
Portanto, a não ser que haja uma grande coincidência, é improvável en-
contrarmos o mesmo preço-teto pra uma determinada empresa. E pior,
por vezes as premissas adotadas por diferentes empresas são tão opos-
tas (um analista pode estar mais otimista com o crescimento futuro da
empresa, enquanto outro está mais pessimista...), que os valores dos
preços-justos são muito diferentes.

Felipe Miranda, CEO e estrategista-chefe de uma dessas empresas de


research, e que pela sua própria posição adota modelos de valuation
para precificação de ações, afirma sobre o fato dos modelos de valuation
estarem baseados em suposições sobre o fluxo de caixa futuro das em-
presas, que “...como ninguém faz a mais pura ideia de quais serão os
tais fluxos de caixa futuros (afinal, eles estão no futuro!), o modelo acaba
sendo apenas uma ferramenta para quantificar a subjetividade do ana-
lista (...) Então, se o analista está otimista, ele pega o guidance da em-
presa e coloca uma banda de 5 por cento para cima. Outro mais pessi-
mista faz o mesmo, mas aplicando 5 por cento para baixo. A conclusão
vomitada do modelo de fluxo de caixa descontado, se a ação tem ou não
bom potencial, já foi tomada ex-ante, se o analista gosta ou não gosta do
respectivo papel”.

6
Premissa significa a proposição, o conteúdo, às informações essenciais que servem de base para um racio-
cínio, para um estudo que levará a uma conclusão (Wikipedia).
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Veja que a conclusão acima não é nossa, mas de um próprio analista de
ações e CEO de uma empresa que vive da venda de relatórios financei-
ros, muitos deles tratando sobre o mercado acionário. Então, assumindo
isto como verdade, qual o passo a se tomar?

Você e muita gente sabe que o mercado de ações, a renda variável em


geral, é volátil (ou, como dizem, renda variável varia... o que é óbvio).
Isso significa que o maior desafio para um investidor, mesmo os mais
qualificados, é identificar quando os ativos, sejam ações, FIIs ou ETFs,
estão com preços de tela (cotação) atrativos para compra ou venda. O ti-
ming correto é praticamente impossível de se encontrar, e aqueles que
têm menos controle emocional, conhecimento e ferramentas acabam so-
frendo mais.

3. O MERCADO DE AÇÕES E FUNDOS IMOBILIÁRIOS

Uma das frases mais memoráveis sobre o comportamento do mercado


de ações, ou seja, dos preços da bolsa de valores, é a do Lucas Pit: “A
bolsa sobe caindo!”

A frase do Pit representa muito bem o lado OTIMISTA da moeda, mas dá


uma olhada no índice IBOVESPA7 no período de 2010 a 2016 no gráfico
abaixo. O lado PESSIMISTA vai concluir que – parafraseando o Pit – a
bolsa cai subindo!

7
O IBOVESPA é um índice que compreende uma carteira teórica com ações de diversas empresas/setores, e
varia ao longo do tempo para buscar representar de maneira mais fiel o mercado acionário brasileiro. No pe-
ríodo de setembro a dezembro de 2020 o índice é composto por 77 ações, cujas maiores posições estão em
Vale, Itaú Unibanco, B3 S.A. e Petrobras.
14
Esses dois movimentos da bolsa, de ALTA (otimista) e de BAIXA (pessi-
mista), são conhecidos respectivamente como
BULL MARKET (da analogia com o touro, que
ataca golpeando para cima) e BEAR MARKET
(da analogia com o urso, que ataca golpeando
para baixo).

Olhando lá o gráfico do IBOVESPA, podemos fazer a seguinte análise:


PERÍODO CICLO DE MERCADO

Maio/2006 – Maio/2008

Maio/2008 – Novembro/2008

Novembro/2008 – Dezembro/2009

Dezembro/2009 – Janeiro/2016

Janeiro/2016 – 2019

Como você pode ver, o movimento da bolsa de valores é cíclico: sobe


caindo e cai subindo. A explicação pra essa frase é que dentre as longas
subidas ou quedas da bolsa, SEMPRE vai haver curtas quedas e subidas
– e a isso se chama VOLATILIDADE do mercado.
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As transições e as durações EXATAS de cada ciclo do mercado não são
previstas com tanta certeza olhando apenas um gráfico. Alguns fundos
hedges8, como o de Ray Dalio9, usam conjuntos de dados e algoritmos
sofisticados para lidar com esses movimentos cíclicos.

Agora some a isto o tamanho do mercado como um todo, o que dificulta


ainda mais as análises e os processos de tomada de decisão. O Brasil,
mesmo tendo um mercado ainda muito menor e menos desenvolvido do
que países como os Estados Unidos, por exemplo, tem em torno de 400
empresas e 200 fundos imobiliários sendo negociados na bolsa de valo-
res, de diferentes setores e com as mais variadas características. As ta-
belas abaixo apresentam os principais setores e as empresas associadas
às ações, e os FIIs divididos por tipo.

SETORES EXEMPLOS DE INDÚSTRIAS


WEG, SCHULZ, EMBRAER, FRAS-LE, MARCOPOLO, RANDON,
Bens Industriais
TUPY, RUMO, WILSON SONS
Construção e Trans-
CCR, ECORODOVIAS
porte
AREZZO, LOJAS RENNER, MARISA, LOCALIZA, MOVIDA, ALPARGA-
Consumo Cíclico
TAS, GRENDENE, HERING, MAGAZINE LUIZA, CVC, MAHLE
AMBEV, CARREFOUR, SLC AGRICOLA, SÃO MARTINHO, BRF, JBS,
Consumo não Cíclico
CAMIL, M. DIAS BRANCO
BR MALLS, IGUATEMI, MULTIPLAN, SONAE SIERRA BRASIL, BRA-
Financeiro DESCO, ITAÚ, SANTANDER, BB SEGURIDADE, IRBBRASIL, PORTO
SEGURO, SULAMERICA, B3
Materiais Básicos DURATEX, KLABIN, SUZANO, VALE, BRASKEM, CRISTAL, UNIPAR
Petróleo, Gás e Bio-
COSAN, ENAUTA, PETROBRAS, PETRORIO, ULTRAPAR
combustíveis
Saúde RAIADROGASIL, ALLIAR, FLEURY, ODONTOPREV, QUALICORP
Tecnologia da Infor-
POSITIVO, LINX, SINQIA, TOTVS, VALID
mação
Telecomunicações OI, TIM, TELEFONICA
SABESP, COPASA, SANEPAR, AES TIETE, ALUPAR, CEMIG, ELE-
Utilidade Pública TROBRAS, COPEL, CPFL, ENGIE, EQUATORIAL, TAESA, ENERGIAS
DO BRASIL, CTEEP

8
Fundos Hedge são fundos que adotam múltiplas estratégias dentro de uma só “cesta” de produtos, o que
outros fundos não podem ter. Eles podem, por exemplo, conter ações, renda fixa e proteções em seu portfó-
lio. Aliás, este item “proteções”, ou seguro (hedge), é o que dá nome ao fundo.
9
Criador do fundo hedge Bridgewater e autor do livro “Princípios”. Dalio é considerado um dos maiores
gestores de fundos de investimentos do mundo.
16
TIPO EXEMPLOS DE FIIs
Híbrido (Tijolo/Papel) JS Real Estate Multigestão
Papel: CRIs Banestes Recebíveis Imobiliários, CSHG Recebíveis Imobiliários
Kinea Índice de Preços, Maxi Renda
Papel: Fundo de Fundos BTG Pactual Fundo de Fundos, RBR Alpha Fundo de Fundos,
Bradesco Carteira Imobiliária Ativa
Tijolo: Bancário BB Progressivo II, Banrisul Novas Fronteiras, Rio Bravo Renda Va-
rejo
Tijolo: Desenvolvimento Kinea II real Estate Equity
Tijolo: Educacional Anhanguera Educacional, CSHG Renda Urbana, Rio Bravo Renda
Educacional
Tijolo: Escritórios Torre Almirante, Edifício Galeria, Edifício Almirante Barroso, Conti-
nental Square Faria Lima
Tijolo: Galpões GGR Covepi Renda, CSHG Logística, XP Industrial
Tijolo: Híbrido Kinea Renda Imobiliária
Tijolo: Hospital Hospital da Criança, Hospital Nossa Senhora de Lourdes
Tijolo: Hotéis BR Hotéis, XP Hotéis, Hotéis Maxinvest
Tijolo: Shoppings Eldorado, Floripa Shopping, XP Malls FII, Vinci Shopping Centers
Tijolo: Varejo Max Retail, RB Capital Renda II

O objetivo aqui, neste momento, não é apresentar em detalhes as carac-


terísticas de cada setor, de cada tipo de fundo dentre os apresentados
acima, mas sim apresentar as diversas possibilidades disponíveis, e
como esse quantitativo dificulta o processo de tomada de decisão do in-
vestidor pessoa física.

4. O COMPORTAMENTO DOS MERCADOS. OU, SIMPLESMENTE,


O SR. MERCADO

Você já sabe, ou viu aqui, que o sobe-e-desce do mercado de ações é


uma constante, e que isso acaba criando uma interpretação, errônea, de
que o mercado acionário é arriscado. Por experiência própria, posso di-
zer que isso tem muito mais relação com o mindset dos investidores do
que com o risco em si. Você já vai entender por quê...

Uma ilustração interessante deste conceito é aquele tema que já falamos


rapidamente, sobre os “value investors” e os “traders”... Isso é tão polê-
mico que tem muita gente metido em discussões intermináveis nas redes

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sociais sobre os potenciais de ganho de cada estratégia, qual a melhor,
se dá pra enriquecer rápido ou não, etc.

Já adiantamos uma coisa aqui: não queremos de maneira alguma dizer


quem está com a razão nessa discussão. Queremos é apresentar uma
ferramenta, fundamentada em um conceito que, apesar de antigo, tem
ganhado cada vez maior relevância nos últimos tempos, em especial
pela evolução da tecnologia, que impacta fortemente os estudos e a pró-
pria precificação dos ativos em bolsa. Este conceito foi proposto por Ben-
jamin Graham em 1949: o SR. MERCADO.

Talvez você já tenha ouvido falar de Benjamin Graham, ele é simples-


mente o mentor de Warren Buffet, considerado o maior “value investor”
de todos os tempos, tendo sido aluno de Graham na “Columbia Business
School” e aprendido com seu mentor muito sobre esta filosofia de investi-
mentos. Inclusive o livro “Intelligent Investor”, onde Ben Graham introduz
o conceito do Sr. Mercado, é considerado por Buffet como o “melhor livro
sobre investimentos já escrito”.

Então, se este conceito é tão antigo, o que ele traz de novidade pros dias
atuais? Primeiro, é bom esclarecer que o Sr. Mercado, ou Mr. Market, é
uma figura de investidor imaginária, em que ora está tomado pelo pânico
(medo), ora pela euforia (ganância), e esse comportamento, ou humor,
determina suas tomadas de decisão. Em momentos de pânico, ele vende
todas as suas posições, esbraveja aos quatro cantos que o mercado irá
“quebrar” e que quem não se desfizer de suas ações quebrará junto com
o mercado, perdendo todo seu patrimônio. Em momentos de euforia, ao
contrário, ele indica compra de cada vez mais ações, propagando que a

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tendência de alta formará milhares de novos milionários na bolsa de valo-
res. Ben Graham criou este conceito com uma simples finalidade: mos-
trar às pessoas que o controle emocional, a racionalidade sobre nossas
decisões de investimentos, é peça chave para se ter sucesso como in-
vestidor, não importa em que estágio ou categoria de investidor você se
encontre. E é isso que chamamos de mindset de investidor.

Ok, e o que isso nos faz concluir hoje? Passadas sete décadas da divul-
gação deste conceito, fica claro que o mercado de ações, em qualquer
parte do mundo, é cada vez mais ditado pelo Sr. Mercado. Como assim?
Com cada vez mais pessoas acessando a bolsa, com a facilidade de
acesso a informações e com as inúmeras possibilidades, especialmente
trazidas pela tecnologia, mais forte as emoções tomam conta das deci-
sões das pessoas ao operar a bolsa.

Você com certeza já ouviu falar do “efeito manada”. Poucas pessoas têm
a racionalidade necessária para, em um momento de pânico, onde cente-
nas ou milhares de pessoas estão correndo em direção à porta de saída,

19
manterem-se estáticas esperando a melhor tomada de decisão. Logo, a
precificação dos ativos em bolsa está cada vez mais sendo determinada
pelo Sr. Mercado. O contrário também é verdade, e é chamada de “prova
social”. Quem de nós nunca teve grande interesse em entrar em um res-
taurante, teatro, espetáculo, ao ver uma fila enorme que se forma na
porta do estabelecimento, com centenas de pessoas esperando pacien-
temente pela sua hora de entrar? Sinal de que algo muito bom está ali
dentro. Com o mercado de ações acontece da mesma forma. Quando o
pânico toma conta, muitos correm primeiro para a saída para somente
depois perguntar o que houve. E quando a euforia toma conta, muitos
saem comprando de forma quase que automática antes de perguntarem
a si mesmos a razão da compra daquela ação.

No meio dessa correria toda estão os adeptos da análise fundamentalis-


ta, do “value investing”, conceito cujo “pai”, considerado por muitos, é o
próprio Benjamin Graham, com Warren Buffet sendo atualmente seu
maior expoente. Os “value investors” utilizam o valuation para encontrar
o preço-justo de uma ação. Este preço, que traz ao valor presente todo o
fluxo de caixa futuro de uma empresa, indica um valor que, em tese, a
cotação de uma ação irá convergir com o passar do tempo. Ou seja,
comprar uma ação cujo preço de tela está abaixo deste valor intrínseco é
um investimento com maior capacidade de retorno no longo prazo, con-
sequentemente mais seguro. Se, ao contrário, o preço de tela estiver
mais elevado, recomenda-se aguardar para que a compra seja realizada
somente quando a cotação cair.

Aqui começam algumas das polêmicas. Se você procurar no Youtube ví-


deos digitando a expressão “preço de ações importa” você vai encontrar

20
muito material interessante, que inclusive recomendamos que você as-
sista pra reforçar muito do que você está lendo aqui.

Ao assistir com atenção alguns dos vídeos encontrados, você vai ver di-
versos “value investors” mostrando, inclusive por meio dos cálculos que
falamos acima, que preço importa, sim. Mas vai encontrar também muita
gente indicando o contrário. Uns na teoria de que se você comprar bons
ativos com muita frequência (todo mês, por exemplo), o preço de compra
importa pouco, já que você está se tornando sócio de um excelente ne-
gócio no longo prazo, e que desta forma você tenderá a ter melhores re-
tornos. Um dos grandes expoentes desta filosofia é Jeremy Siegel, autor

21
do livro “Investindo em Ações no Longo Prazo: O Guia Indispensável do
Investidor do Mercado Financeiro”. Outros alegam que os modelos de
“value investing” atualmente não são tão eficazes, por se tentar prever o
futuro “imprevisível”. Esta segunda teoria tem ganhado força com as em-
presas de tecnologia, cujos valuations tem sido cada vez mais difíceis de
se modelar em função da dinâmica bastante diferente destas empresas,
se comparadas a mercados tradicionais, como os de commodities, ou o
setor bancário, por exemplo.

Esta questão vem ganhando força nos últimos anos com algo bastante
prático, palpável... O maior investidor de todos os tempos, Warren Buffet,
que historicamente teve em sua carteira de investimentos performance
melhor do que a do S&P50010, vem há 10 anos (isso mesmo, 10 anos)
“performando” abaixo do índice, seu pior período de performance na his-
tória.

A grande questão, que foi a base para a produção deste material, é que
nem você, nem o melhor analista de investimentos, nem mesmo Warren
Buffet, poderá garantir qual modelo é mais eficiente, qual o valor intrín-
seco mais correto para cada ação, nem mesmo se o preço da ação real-
mente importa.

Então, na contramão desta discussão toda, decidimos usar um único ele-


mento inquestionável a nosso, e a seu favor: os dados. Sim, os dados do
mercado acionário, reais, de ontem, de um ano atrás, de uma década
atrás... Enfim, as cotações, os preços de tela, os volumes negociados de

10
O Standard & Poor's 500 é um índice que replica uma carteira teórica das 500 ações mais representativas e
negociadas na NYSE, bolsa de Nova York. Pode se equivaler ao nosso índice Ibovespa, ou seja, um referen-
cial (benchmark) que toda carteira busca bater.
22
cada dia de qualquer ação listada em bolsa. Você pode chamar estes da-
dos do comportamento do Sr. Mercado, é uma aproximação razoável. E
dado o histórico todo apresentado aqui, para que você seja um investidor
com melhores perspectivas, as perguntas que você deve se fazer são:

1) Tenho segurança, conhecimento, tempo suficiente para estudar méto-


dos de análise técnica ou valuation, calcular melhores preços de entrada
ou os valores intrínsecos de cada ação, para só então investir com segu-
rança?

2) Tenho confiança nestas análises que estudei, e dinheiro para fazer


operações regulares, de tal modo que posso estar seguro em dizer que
“preço não importa”?

Se a resposta a uma dessas perguntas for SIM, você está em um bom


caminho. Mas calma, isso não invalida aquilo que você vai encontrar
neste e-book. Nem se você for trader de curtíssimo prazo, se nem se
preocupar com a convergência de preços de tela e valores intrínsecos,
nada disso invalida este material.

Agora se você respondeu NÃO às duas perguntas acima, você só tem


duas opções: se conformar com a “segunda ou terceira divisão” dos in-
vestimentos, quando você estará condenado a retornos medíocres, ou
ser assessorado por profissionais do mercado, alguns com conflitos de
interesse, como agentes de corretoras e gerentes de grandes bancos.
Sim, tem gente boa assessorando investidores, claro, e está Ok em pa-
gar por boa assessoria, sim! Mas ainda assim, é muito importante ter, di-
gamos, um campo de visão mais amplo, para não depender somente das
indicações e do conhecimento restrito à expertise dos assessores.
23
Então, se você busca por autonomia para sua tomada de decisão, inde-
pendente do seu perfil e estágio de investidor, e até mesmo indepen-
dente de você já ter conhecimento ou já receber assessoria de quali-
dade, é fundamental que você tenha um bom material em mãos que,
mais do que uma simples indicação de compra ou venda de um ativo,
possa lhe dar um panorama sobre o comportamento de vários ativos,
com base em ciência de dados e no comportamento do mercado.

5. PRECIFICANDO UMA AÇÃO USANDO DADOS

Se você já assistiu na Netflix uma série cha-


mada Truque da Mente (do original em inglês:
Brain Games, da National Geographic) vai en-
tender bem a questão da precificação de ações
usando dados históricos.

Nesse experimento você tem que dizer quantas


bolas de chicletes há dentro da máquina.

Ficou revelado que ao fazermos essa mesma pergunta a um grupo de


pessoas, a média das respostas vai ser próxima da quantidade real. Isso
acontece porque as suposições muito fora do real (tanto pra mais quanto
pra menos) tendem a se anular... sobrando apenas as suposições mais
próximas do real.

Vou explicar através de dados hipotéticos. Suponha que na máquina de


chicletes acima temos 123.000 bolas de chicletes. Então considere as
respostas de 20 pessoas com o número de bolas de chicletes que elas
acham que tem dentro da máquina:

24
Nome Número
Larissa 70.088
Anna Clara 142.851
Anna Júlia 44.386
Anna Karolyna 96.870
Bianca 217.172
Patrícia 136.135
Giovanna 37.936
Júllia 42.889
Camilla 155.629
Camillye 118.957
Thaís 148.466
Luiz Filipe 74.653
Luiz Gustavo 48.189
Gustavo 133.572
Gabriel 250.863
Pedro Henrique 141.557
Yago 1.193
Breno 55.104
João Victor 177.324
Marcus Vinícius 173.967

Neste exemplo, o menor valor foi o do Yago, com 1.193 bolas de chicle-
tes, e o maior foi o do Gabriel, com 250.863 bolas de chicletes. A média
das suposições foi 104.905, ou seja, algo relativamente próximo da quan-
tidade real. Se extrapolarmos este experimento para 2.000 pessoas, en-
tão teremos uma média de 123.095, “incrivelmente” próxima do valor
real, sendo o máximo igual a 327.277 (166% maior que o real) e o mí-
nimo igual a 90 (0,07% do valor real), ou seja, as suposições muito fora
do real não surtiram efeito considerável no cálculo da média.

Sempre que formos trabalhar com dados é importante plotarmos alguns


gráficos. Temos alguns exemplos abaixo: do lado esquerdo estamos plo-
tando as amostras com cada uma das suposições das pessoas, e do
lado direito temos o que a gente chama em estatística de histograma. O
histograma é uma maneira de visualizarmos como os dados se distri-
buem, ou seja, suas frequências. No teste com 20 pessoas, por exemplo,
7 pessoas disseram quantidades de chicletes entre 100.000 e 150.000. A

25
distribuição desses dados obedece ao que chamamos de distribuição
NORMAL.

20 pessoas

2.000 pessoas

Agora vamos usar o exemplo da máquina de chiclete em uma situação


um pouco mais complexa. Neste segundo experimento vamos considerar
o seguinte:

1 – A máquina estará inicialmente vazia;

2 – Durante 365 dias serão colocadas 337 bolas de chicletes por dia, to-
talizando 123.000 bolas de chicletes no final do ano. Isso representa um
crescimento linear ao longo do período;

26
3 – Em cada um dos 365 dias será perguntado pra cada uma das 20 pes-
soas quantas bolas de chicletes estão dentro da máquina;

4 – Calcula-se a média do número de bolas de chicletes estimadas pelas


20 pessoas;

5 – Faz-se o uso da regressão linear pra estimar a reta que representa


as estimativas das 20 pessoas ao longo dos 365 dias.

O objetivo geral da regressão linear é aproximar um conjunto de dados


por uma reta, quando os dados estão distribuídos em 2D, ou hyperplano,
em 3D ou acima. Abaixo a gente pode ver os resultados da regressão li-
near. Os círculos pretos são as médias das bolas de chicletes faladas pe-
las 20 pessoas, a reta verde representa o crescimento real do número de
bolas de chicletes (337 bolas de chicletes adicionadas a cada dia). Em
vermelho temos a reta de regressão linear estimada com base no histó-
rico de dados dos 365 dias. Como podemos ver, a reta de regressão se
aproximou consideravelmente da reta real.

27
Esse segundo experimento foi usado pra ilustrar o que pode acontecer
na bolsa de valores. Para entendermos melhor, basta respondermos a
seguinte pergunta:

Como essa ideia do experimento pode ser extrapolada pro mundo da


bolsa de valores?

Não sei se você sabe, mas na bolsa de valores há dois “bichos” que con-
vivem em “harmonia” e que definem os preços, operam compra e venda
das ações: as sardinhas e os tubarões11. Possivelmente, você que está
lendo este livro é um sardinha, e não tem nada de errado nisso, até por-
que eu sou um pouco como você.

11
De forma errada, se generaliza os sardinhas como burros e os tubarões como inteligentes. Isso não é
verdade, porque ambos podem cometer decisões erradas. Ninguém na bolsa está livre de falhas.
28
Os sardinhas têm como principais características realizar operações me-
nores, possuir um pequeno portfólio e ter baixa capacidade de aporte fi-
nanceiro mensal. Esse grupo contém, em sua maioria, investidores pes-
soas físicas.

Já os tubarões são tanto investidores pessoas físicas (grandes investi-


dores de altíssima renda), como pessoas jurídicas12. Têm forte capaci-
dade de aporte (diário, mensal e/ou anual) e um portfólio de porte consi-
derável. Além disso, possuem geralmente grandes volumes em caixa13
para aproveitar oportunidades de queda na bolsa de valores.

Para precificarmos uma ação com base em dados vamos consi-


derar duas hipóteses:
1. Os preços das ações possuem uma tendência de crescimento
(ou decrescimento)14 conforme o desempenho das empresas.

12
Gestoras de fundos de investimentos.
13
Em ativos de renda fixa, títulos, etc., ativos de alta liquidez em geral.
14
Não estamos considerando o crescimento baseado em caráter PURAMENTE especulativo como já acon-
teceu no passado (ações da OGX - OGXP3), e ainda no presente (ações da Forja Taurus - FJTA4).
29
2. O preço das ações é definido com base no valuation calculado
pelas empresas de research, bancos de investimentos, correto-
ras, fundos de investimentos e grandes investidores15.

Associado a estas duas hipóteses temos um importante componente ale-


atório: a volatilidade dos preços devida a situações relevantes na econo-
mia externa e/ou interna, sejam elas de maior impacto (Cisnes Negros16)
ou de menor impacto (Cisnes Cinzas).

As oscilações do mercado (volatilidade) são exatamente ocasionadas pe-


las operações de compra e venda dos tubarões e sardinhas. Às vezes
essas oscilações vão além do NORMAL ao longo de um período (minu-
tos, horas, dias, semanas e meses). Geralmente, os sardinhas se “ma-
chucam” mais durante os períodos de maior volatilidade. Um exemplo
não tão distante foi o Joesley Day: nesse dia (17/05/2017) foram revela-
das gravações de diálogos entre o empresário Joesley Batista e o então
presidente Michel Temer. Depois de sofrer muito nos dias seguintes, a
ação JBSS3, da empresa JBS (uma das principais empresas do agrone-
gócio no Brasil, que tem o empresário Joesley como um de seus proprie-
tários), chegou a ser negociada a R$ 6,26 (23/06/2017), mas em seu má-
ximo de 2020, antes da crise do corona vírus (21/01/2020), atingiu cota-
ção de R$ 30,09, ou seja, um aumento de 380% em menos de 3 anos.

15
De acordo com a revista Exame, 6 grandes investidores pessoa física no Brasil são: Lírio Parisotto, Luiz
Barsi, Antonio José Carneiro, Luiz Alves Paes de Barros, Guilherme Affonso Ferreira e Victor Adler.
16
A teoria do Cisne Negro foi concebida por Nassim Taleb, referindo-se a eventos de grande impacto, mas
totalmente imprevisíveis. Se o evento é considerado ou previsto, então ele se torna um Cisne Cinza.
30
6. A CIÊNCIA DE DADOS NOS INVESTIMENTOS

Todos sabemos da grande quantidade de dados que temos disponíveis


nos dias de hoje, em todas as áreas do conhecimento. No mundo dos in-
vestimentos, você viu até aqui que esses dados são importantíssimos e
estão disponíveis em grandes quantidades. Imagine um histórico de 10
anos de uma dada ação, que representa uma variedade de diferentes ci-
clos pelos quais a empresa passou, ciclos econômicos internos e exter-
nos, crises, retomadas de crescimento, momentos de euforia e pânico...
Mas a pergunta então é:

Como podemos usar os dados a nosso favor?

Hoje em dia há uma ciência que tem exatamente esse objetivo. Ela se
chama CIÊNCIA DE DADOS.

A ciência de dados envolve transformar dados brutos em uma informa-


ção valiosa para algo ou alguém tomar uma decisão. Essa decisão pode
ser autônoma ou não-autônoma. Quando a decisão é autônoma, a MÁ-
QUINA usa a informação sem interveniência de um ser humano, como
por exemplo os carros autônomos e os chamados robôs de investimento.

31
Já a decisão não-autônoma não é executada por uma máquina, mas por
um SER HUMANO.

DADOS SISTEMA INFORMAÇÃO DECISÃO

Comprar, vender ou manter uma ação/empresa segue – ou pelo menos


deveria seguir – exatamente este processo:

1 – Você coleta dados sobre a empresa/ação;

2 – Você usa o seu conhecimento pra processar esses dados;

3 – É gerada uma informação sobre a empresa/ação; e

4 – Você toma uma decisão: vender, comprar ou manter a empresa/ação


em carteira.

Tomar essa decisão final é um estresse, principalmente, quando você


não consegue gerar informações satisfatórias. A ciência de dados vem
pra aliviar o estresse na tomada de decisão em qualquer área que
envolve a PRESENÇA de dados.

Uma maneira que podemos precificar uma ação é usando a regressão li-
near, uma das técnicas aplicadas pela ciência de dados.

Aqui temos exemplos das quatro ações com as maiores participações no


índice Ibovespa em 2019: Vale - VALE3 (9,969%), Itaú Unibanco -
ITUB4 (9,794%), Bradesco - BBDC4 (8,572%) e Petrobras - PETR4

32
(7,402%). Foram extraídos dados de cotação destas ações em um perí-
odo de 24 meses contados até a data de 18 de maio de 2019. O eixo-y é
o preço da ação na escala logarítmica17 e o eixo-x são os dias. A reta em
vermelho é a regressão linear que corta todo o conjunto de dados do pe-
ríodo.

BBDC4 ITUB4

PETR4 VALE3

Eu diria que a regressão linear é uma solução antifrágil18 porque ela é


capaz de propor a precificação do ativo sem que seja fortemente afetada
pelas oscilações do mercado, sejam eles Cisnes Cinzas ou mesmo Cis-
nes Negros. Por exemplo, a gente pode ver no gráfico de VALE3 o Cisne
Negro (tragédia de Brumadinho) acontecendo próximo do 650o dia, mas

17
A transformação logarítmica é usada para “suavizar” as oscilações dos dados e, dessa forma, a regressão é
mais facilmente aplicada.
18
O conceito de antifragilidade foi proposto por Nassim Taleb, e refere-se a algo que, após o choque, não
apenas não se destrói, como ainda retorna mais forte que o estado anterior, por isso não pode ser usado o
termo resistência, ou dureza, antônimos naturais de fragilidade.
33
a reta de regressão foi pouco afetada pelo terrível evento, o que veio a
se confirmar na prática, uma vez que após a forte queda logo após a tra-
gédia, as cotações da ação retomaram sua tendência de crescimento.
Outra vantagem da regressão é a visualização dos momentos em que a
ação está sobrevalorizada.

Em resumo: A regressão linear pode ser usada pra evitar pagarmos


CARO DEMAIS por uma ação, e também pra conseguirmos aprovei-
tar oportunidades em que uma ação esteja BARATA DEMAIS.

Adicionalmente, há um bônus que a regressão nos traz: a TENDÊNCIA


do ativo. É importante observarmos a tendência porque isso vai nos mos-
trar o quanto o mercado está disposto a pagar por aquele papel. Entre-
tanto, não podemos esquecer o principal objetivo da Ciência de Dados:
Apoio à Decisão. Veja dois casos de ações com tendências de queda,
mas cujos fundamentos das empresas são totalmente diferentes:

ETER3 CIEL3

A Eternit S.A (ETER3) é uma empresa cujos lucros estão negativos há


vários trimestres, enquanto a Cielo (CIEL3) ainda fatura bilhões anual-
mente, mas com margens de lucro caindo a cada trimestre (veja os gráfi-
cos abaixo). Em ambos os casos, o mercado está precificando conforme
34
o risco associado a cada papel. Cabe ao investidor decidir se deve pagar
ou não por esse risco.

ETER3 CIEL3

No gráfico abaixo, em vermelho temos a reta de regressão linear usando


dados históricos de 365 dias19 (23/10/2017-18/04/2019) da ação da Ci-
elo. A reta tem uma inclinação negativa, e os círculos pretos são os pre-
ços das ações. A volatilidade dos preços também oscilou fortemente nos
primeiros meses (1-100 dias) e nos últimos meses (250-365 dias) dos da-
dos históricos, tendo um comportamento NORMAL ao longo dos meses
intermediários (100-250 dias).

CIEL3
Por exemplo, usando a regressão linear com dados de 12 meses, de
2018 até o dia 17/05/2019, nós podemos estimar que a ação da Cielo,

19
Considerando apenas dias úteis com negociação na bolsa de valores.
35
cuja tendência é de queda, estaria com a seguinte cotação 30 dias a
frente (17/06/2019):

Tendência de preço de CIEL3 (30 dias)


cenário esperado pior cenário melhor cenário
R$ 7,89 R$ 7,70 R$ 8,09

A precificação dos ativos usando regressão linear pode ser aplicada


tanto em estratégias de holders, como em estratégias de day ou swing
traders. Os holders estão interessados em comprar barato porque que-
rem acumular o maior número de ativos pra ganhar na valorização e com
os dividendos no longo prazo (anos). Já os traders estão interessados
em operar compra/venda no médio (meses), curto (dias), ou mesmo no
curtíssimo prazo (horas).

Vou resumir o que a gente pode obter com o uso da regressão li-
near:

1. Estimar tendências de preços, ou PREÇOS-MÉDIOS do mer-


cado, atual e futuro, do ativo

2. Verificar o nível de VOLATILIDADE do ativo: normal ou anormal

3. Verificar a TENDÊNCIA do ativo: de alta ou baixa

Essas três informações vão lhe ajudar a tomar a decisão quanto a que
ativo você deve investir. Esses três elementos têm a capacidade de filtrar
as melhores oportunidades do mercado.

36
7. QUAL O PREÇO MÉDIO DE MERCADO NA PRÁTICA? 5 AÇÕES E
5 FIIs (+BÔNUS SURPRESA)

Até este ponto tentamos te passar todo o conteúdo necessário pra você
chegar até aqui com dois elementos principais: um, o conhecimento bá-
sico pra você começar a investir, seja ele técnico ou de mindset; e dois, o
conhecimento pra que você faça melhor uso das informações que apre-
sentaremos neste tópico, aquilo que chamamos de racional por trás das
informações que você acessará nas tabelas mais à frente. Obviamente
consideramos este tópico, estas tabelas, a parte mais importante deste
livro, apesar da inegável importância dos demais. Lembrando sempre
que conhecimento é a chave do sucesso!

As tabelas que serão aqui apresentadas foram concebidas sob um princí-


pio básico, que está presente em todas as partes deste livro. Este princí-
pio diz que a informação principal, a fundamental para qualquer investi-
dor, é conhecer a tendência de um ativo ou mercado, ou seja, se esta
tendência é de baixa ou de alta, em curto, médio ou longo prazo.

Muitos analistas utilizam esta informação primeiramente sob um aspecto


macro, a própria conjuntura econômica do país, e mesmo do mundo. O

37
Brasil, por exemplo, passa de tempos em tempos por ciclos econômicos
muito distintos, indo do cenário da tragédia mais clara ao “céu de briga-
deiro” onde o otimismo reina. Quando apresentamos neste livro os ciclos
da bolsa de valores, diferenciando os de bull market e bear market, você
pôde notar isso. E na realidade nem precisa olhar para a bolsa, é só você
lembrar de cenários políticos recentes e menos recentes – dois impeach-
ments de presidentes da república, plano real, retomada econômica, até
de “marolinha” já foi chamada uma crise internacional de grandes propor-
ções, quando olhada desse nosso Brasil que não é pra amadores.

O mercado de renda variável segue, obviamente, estes cenários, tanto


internos quanto externos. Mas se chamamos isso de análise macro, e a
análise micro? Será que o movimento da bolsa só obedece estes gran-
des eventos? Claro que não, e em geral os analistas financeiros estudam
os demonstrativos de resultados das empresas, sua gestão, evolução de
seus lucros e dívidas trimestre a trimestre, dentre tantos outros. Não há
nada de errado com isso, pelo contrário, mas essa é uma análise relati-
vamente complexa, trabalhosa, e que no fim ainda pode apontar para o
lado errado.

Então, a tendência que julgamos mais adequada, nos níveis macro e mi-
cro, é a que o próprio mercado nos indica. E é esta tendência, construída
com suporte da ciência de dados, que utilizamos para preparar as tabe-
las a seguir. Use à vontade, sem esquecer que os ativos presentes nas
tabelas não são uma recomendação de compra ou venda, foram ativos
que selecionamos por apresentarem perfis mais simples de compreen-
der. Após as tabelas todos os valores serão explicados.

38
Antes, algumas informações importantes: estas tabelas são construídas
com base em dados do mercado real (bolsa de valores), extraídos no fim
do dia 30 de outubro de 2020, para calcularmos as tendências de preço
(que chamamos de preços médios de mercado, ou PMM). E seguimos a
tendência obtida por meio da regressão linear para indicar esses preços
médios para o próprio dia 30 de outubro, dele a sete dias (D+7), 15 dias
(D+15) e 30 dias (D+30) à frente.

Esta técnica mostra-se interessante pois contempla acontecimentos im-


portantes no mercado de renda variável nacional, considerando janelas
de tempo que englobam ou uma grande euforia, como o cenário pós-elei-
ções no Brasil em 2018, ou momentos de grande preocupação e pessi-
mismo, como a crise do corona vírus que estamos vivendo em 2020. O
período selecionado para análise determinará qual o impacto do cenário
macro que se deseja observar, um cenário mais otimista como do ano de
2019 (apesar dos solavancos, que sempre existirão), ou um cenário mais
pessimista, como o do primeiro semestre de 2020, ou mesmo ambos? A
ciência de dados pode responder a tendência de preços médios do mer-
cado pra qualquer cenário.

Feitas as devidas explicações iniciais, agora vamos direto ao ponto, as


tabelas com os dados dos preços médios de mercado para 5 ações e
5 FIIs usando o período dos últimos 180 dias úteis de negociação
das bolsas de valores (até 30/10/2020). E como bônus, ainda apresen-
tamos as mesmas análises para 5 ações americanas (stocks) e 5
REITs (os equivalentes americanos aos nossos FIIs), negociados nas
principais bolsas americanas, como a NYSE e a NASDAQ.

39
AÇÕES
COTAÇÃO PMM MARGEM DE PMM PMM VOLATILI- RANKING VO- TENDÊN- RANKING
TICKER PMM (D+30)
ATUAL (ATUAL) SEGURANÇA (D+7) (D+15) DADE LATILIDADE CIA TENDÊNCIA
LWSA3 69,40 79,75 12,98 85,05 91,53 105,05 ANORMAL 83o ALTA 1o

CARD3 13,02 15,52 16,11 15,85 16,24 16,98 NORMAL 1o ALTA 32o
OIBR3 1,50 1,99 24,62 2,09 2,21 2,45 ANORMAL 81o ALTA 3o
CAML3 12,09 14,54 16,85 14,92 15,37 16,24 ANORMAL 74o ALTA 19o
VALE3 60,14 65,10 7,62 66,33 67,75 70,52 ANORMAL 96o ALTA 40o

FIIs

COTAÇÃO PMM MARGEM DE PMM PMM PMM VOLATILI- RANKING VO- TENDÊN- RANKING
TICKER
ATUAL (ATUAL) SEGURANÇA (D+7) (D+15) (D+30) DADE LATILIDADE CIA TENDÊNCIA
EURO11 212,00 225,72 6,08 229,03 232,87 240,24 ANORMAL 29o ALTA 1o
NSLU11 288,50 290,38 0,65 293,11 296,27 302,28 ANORMAL 27o ALTA 4o
RBBV11 90,01 92,83 3,04 93,06 93,33 93,84 NORMAL 1o ALTA 43o

HGFF11 91,84 97,71 6,01 97,83 97,97 98,24 ANORMAL 94o ALTA 60o
VILG11 125,77 131,35 4,25 132,32 133,44 135,57 ANORMAL 84o ALTA 11o

ATENÇÃO: Este material NÃO é uma recomendação de compra ou venda de ativos.


Investimentos em ações envolvem riscos e podem causar perdas ao investidor

40
STOCKS
COTAÇÃO PMM MARGEM DE PMM PMM VOLATILI- RANKING VO- TENDÊN- RANKING
TICKER PMM (D+30)
ATUAL (ATUAL) SEGURANÇA (D+7) (D+15) DADE LATILIDADE CIA TENDÊNCIA
CARR 33,39 37,74 11,53 39,41 41,41 45,44 NORMAL 43o ALTA 13o

TSLA 388,04 511,59 24,15 545,07 586,03 671,31 ANORMAL 125o ALTA 5o
ZM 460,91 533,26 13,57 569,84 614,74 708,68 ANORMAL 57o ALTA 4o
MTD 997,91 1.052,74 5,21 1.072,96 1.096,53 1.142,14 ANORMAL 85o ALTA 99o
UNFI 14,57 23,73 38,60 24,67 25,78 28,00 NORMAL 18o ALTA 16o

REITs

COTAÇÃO PMM MARGEM DE PMM PMM PMM VOLATILI- RANKING VO- TENDÊN- RANKING
TICKER
ATUAL (ATUAL) SEGURANÇA (D+7) (D+15) (D+30) DADE LATILIDADE CIA TENDÊNCIA
EQIX 731,24 820,71 10,90 831,04 843,01 865,91 ANORMAL 162o ALTA 10o
DLR 144,30 156,13 7,58 157,28 158,61 161,12 ANORMAL 23o ALTA 37o
LXP 9,93 11,04 10,05 11,10 11,17 11,29 NORMAL 3o ALTA 57o

TRNO 56,28 58,41 3,65 58,76 59,15 59,90 NORMAL 13o ALTA 49o
QTS 61,51 68,83 10,63 69,36 69,97 71,14 ANORMAL 137o ALTA 33o

ATENÇÃO: Este material NÃO é uma recomendação de compra ou venda de ativos.


Investimentos em ações envolvem riscos e podem causar perdas ao investidor

41
Entendendo as tabelas...

TICKER: É o código que o ativo (ação de empresa, FII/REIT) é negociado na bolsa de valores.

COTAÇÃO ATUAL: É o preço real de negociação do ativo ao fim do pregão (mercado de nego-
ciação da bolsa) do dia atual, 30/10/2020 para o nosso caso.

PMM - PREÇO MÉDIO DE MERCADO (ATUAL): É o preço que a regressão linear apontou
como sendo o justo para aquele ativo, ao fim do pregão do mesmo dia da cotação atual,
30/10/2020. Representa a tendência de preço daquele ativo para o dia atual, com base nos da-
dos históricos do ativo, e indica o quão distante está o preço atual daquele que seria o médio
definido pelo mercado.

MARGEM DE SEGURANÇA: É a diferença percentual entre a cotação atual e o PREÇO MÉ-


DIO DE MERCADO atual. Quanto maior o valor, se positivo, mais descontado está o preço real
do valor médio de mercado, ou seja, maior é a segurança para se investir naquele ativo. Se ne-
gativo, ocorre o oposto, ou seja, o preço do dia do ativo está maior do que o indicado pela ten-
dência de mercado.

PMM - PREÇO MÉDIO DE MERCADO 7 DIAS DEPOIS (D+7): É o preço que a regressão li-
near apontou como sendo o justo para aquele ativo, sete dias após o dia da cotação atual.

PMM - PREÇO MÉDIO DE MERCADO 15 DIAS DEPOIS (D+15): É o preço que a regressão
linear apontou como sendo o justo para aquele ativo, quinze dias após o dia da cotação atual.

PMM - PREÇO MÉDIO DE MERCADO 30 DIAS DEPOIS (D+30): É o preço que a regressão
linear apontou como sendo o justo para aquele ativo, trinta dias após o dia da cotação atual.

VOLATILIDADE: Indica o perfil de comportamento histórico do ativo. Valor NORMAL indica que
não há oscilações extremas de preço no ativo, ocorrendo o oposto se valor ANORMAL.

RANKING VOLATILIDADE: Dentro do universo de ativos estudados e considerados em nossa


análise, qual o ranking que o ativo se encontra com relação à taxa de volatilidade, sendo a 1a
no ranking aquela que apresenta menor volatilidade, e a última a que apresenta maior volatili-
dade.

TENDÊNCIA: Indica se a tendência do ativo é de ALTA ou de BAIXA.

RANKING TENDÊNCIA: Dentro do universo de ativos estudados e considerados em nossa


análise, qual o ranking que o ativo se encontra com relação à taxa de tendência, sendo a 1 a no
ranking aquela que apresenta maior tendência de alta, e a última a que apresenta menor ten-
dência de alta.

42
Foram selecionados, para compor as tabelas, apenas ativos que apre-
sentaram tendência de alta, que são aqueles que despertam maior inte-
resse para os primeiros investimentos, mesmo sabendo que indicativos
de baixa são importantes também para algumas tomadas de decisão, e o
modelo indica isso também. O momento atual, ainda sob os impactos da
forte crise do corona vírus, gera muito mais casos de volatilidade anor-
mal, mas ainda assim os resultados mostram excelentes oportunidades
tanto em ativos com volatilidade normal, como também anormal. Aos in-
vestidores iniciantes, talvez, a maior volatilidade cause mais desconforto,
mas não se pode esquecer que volatilidade não é igual a risco, e os in-
vestidores mais experientes devem concordar que, na verdade, volatili-
dade pode significar oportunidades de compra de bons ativos.

43
BÔNUS
O poder da construção de um bom portfólio, e como a ciência de da-
dos também pode ajudar nisso

Uma vez que o investidor encontrou o preço-justo do ativo, o segundo


desafio é a construção do seu portfólio. Na cabeça do investidor iniciante,
essa parte pode ser tão estressante quanto a parte de precificação. E
isso se agrava quando vemos a enorme quantidade de empresas e fun-
dos imobiliários negociados em bolsa, como você já viu anteriormente
neste livro. É bom ter poucas ou muitas ações em carteira, brasileiras e
americanas? E FIIs e REITs, eles devem ser tratados isoladamente ou
na mesma carteira das ações? Quais setores de empresas devemos ter,
e quais tipo de FIIs/REITs (galpões, escritórios, shoppings...)? Quantos
ativos de cada setor e cada tipo? São tantas questões que não consegui-
mos listar todas aqui...

Muitas vezes as escolhas são influenciadas por preferências pessoais


dos investidores, e muitas vezes essas preferências são incompatíveis,
em parte, com as carteiras propostas pelas empresas de research. Por
exemplo, podemos considerar essas ações de empresas, que apresenta-
ram resultados recentes extraordinários, mas que podem ter sido “esque-
cidas” por uma ou outra empresa de research: MGLU3 (68.225 % em 5
anos), UNIP6 (948 % em 5 anos), WEGE3 (677 % em 5 anos), VVAR3
(542 % em 5 anos).

44
MGLU3 UNIP6

WEGE3 VVAR3

Indo mais além, o investidor pode ir sofisticando cada vez mais o seu
portfólio ao incluir, além das ações e FIIs/REITs, metais preciosos (prata,
ouro), moedas estrangeiras, criptomoedas etc. Esta estratégia é cha-
mada de diversificação, e tem um de seus maiores expoentes no mundo
o gestor do fundo Bridgewater, Ray Dalio. Se você é um investidor com
mais “tempo de estrada” e já pesquisou sobre diversificação talvez co-
nheça...

45
...o Santo Graal de acordo com Ray Dalio.

O termo diversificação é conhecido pela famosa frase Não coloque os


ovos na mesma cesta. Entretanto, um vídeo20 de Ray Dalio revela o
Santo Graal que ele aplica em seu portfólio. Basicamente, ele controla o
risco através da avaliação da correlação dos ativos em carteira. Ele
afirma que para a maioria das pessoas o mais importante é escolher o
melhor investimento, mas que na verdade isso não é o mais importante.
Ele diz que ao escolhermos um portfólio descorrelacionado podemos di-
minuir o risco do portfólio como um todo e fazer com que ele possua um
maior retorno... ou seja, sem muitos altos e baixos ao longo dos anos, e
ainda com bons retornos. Excelente, sim?

E como a Ciência de Dados pode nos ajudar na avaliação do risco do


nosso portfólio?

A resposta é a análise da correlação.

20
https://www.youtube.com/watch?v=Nu4lHaSh7D4
46
Mas o que é a correlação? Em vez de responder através de fórmulas ma-
temáticas, eu vou mostrar graficamente através de dois ativos, uma ação
e um FII: Itaúsa (ITSA3) e CSHG Logística (HGLG11).

ITSA3 HGLG11

Os resultados mostram que, no período em análise, os ativos ITSA3


e HGLG11 possuem uma correlação de -4,4%, ou seja, na verdade
eles são descorrelacionados... significando que em geral o comporta-
mento de um não afeta o outro, ou podendo até possuir um comporta-
mento contrário, quando um desce, o outro sobe.

Por outro lado, se considerarmos ainda a Itaúsa, mas agora em compa-


ração à ação do Itaú Unibanco – ITUB4 (Itaúsa é a holding controladora
do Itaú Unibanco), os dois ativos apresentaram uma forte correlação,
no mesmo período de análise, em torno de 92%. Dada a relação exis-
tente entre as duas ações, parece óbvia a correlação entre elas, mas
ainda assim é comum encontrarmos vídeos na internet com educadores
financeiros tendo esses dois papéis em carteira. À primeira vista, o inves-
tidor iniciante pode achar que ao colocar esses dois ativos em seu portfó-
lio ele aumenta o retorno e a segurança, por serem dois ativos de valor,

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mas na verdade ele está aumentando seu risco por colocar no seu port-
fólio duas ações fortemente correlacionadas. A explicação simplista pra
isso é que, na ocorrência de algum fato negativamente impactante sobre
Itaú, ou perda de fundamento, ambas as ações perderão valor, o que jus-
tifica o aumento do risco.

ITSA3 ITUB4
Em resumo:

A ciência de dados pode ser usada para avaliar o risco do seu port-
fólio, e reduzi-lo ao indicar a presença de ativos descorrelaciona-
dos.

Considerando um portfólio hipotético, somente com 5 ações brasileiras e


5 FIIs, temos as seguintes correlações:

Ticker 1 Ticker 1 Correlação (%)


B3SA3 JSLG3 96,32
B3SA3 MOVI3 94,35
B3SA3 TOTS3 93,73
B3SA3 TRPL4 92,12
B3SA3 GRLV11 86,97
B3SA3 HFOF11 85,15
B3SA3 HMOC11 83,46
B3SA3 RBRF11 85,12
B3SA3 VRTA11 87,4
JSLG3 MOVI3 97,07

48
JSLG3 TOTS3 93,82
JSLG3 TRPL4 95,95
JSLG3 GRLV11 91,11
JSLG3 HFOF11 88,41
JSLG3 HMOC11 89,64
JSLG3 RBRF11 88,91
JSLG3 VRTA11 92,15
MOVI3 TOTS3 90,65
MOVI3 TRPL4 96,9
MOVI3 GRLV11 88,38
MOVI3 HFOF11 87,99
MOVI3 HMOC11 87,64
MOVI3 RBRF11 84,71
MOVI3 VRTA11 90,18
TOTS3 TRPL4 88,98
TOTS3 GRLV11 88,64
TOTS3 HFOF11 90,09
TOTS3 HMOC11 89,53
TOTS3 RBRF11 86,29
TOTS3 VRTA11 90,42
TRPL4 GRLV11 91,37
TRPL4 HFOF11 88,46
TRPL4 HMOC11 90,42
TRPL4 RBRF11 87,56
TRPL4 VRTA11 89,33
GRLV11 HFOF11 86,62
GRLV11 HMOC11 94,62
GRLV11 RBRF11 89,64
GRLV11 VRTA11 87,98
HFOF11 HMOC11 92,88
HFOF11 RBRF11 89,62
HFOF11 VRTA11 93,5
HMOC11 RBRF11 89,88
HMOC11 VRTA11 92,31
RBRF11 VRTA11 87,6

Note que o portfólio hipotético da tabela acima tem ativos fortemente cor-
relacionados entre si, o que é um risco, como já explicamos. Mas este
assunto é muito extenso e fica para um próximo livro. Esperamos que o
objetivo principal deste livro, apresentar os preços médios de ações e

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FIIs, com base na ciência de dados e no conhecimento do Sr. Mercado,
tenho sido de valor pra você.

Nos acompanhe nas redes sociais, deixe sua pergunta ou comentário,


entre em contato via e-mail que produziremos novos conteúdos neste e
em outros temas relacionados a investimentos.

E, mais uma vez, lhe convidamos a conhecer mais sobre este modelo de
ciência de dados aplicado ao mercado de ações acessando.

Muito obrigado pela atenção.

Um abraço,
Edgar Amazonas e Luis Blasques

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