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O papel do leigo na Política

A política é a arte de administrar o Estado ou a Cidade em prol do bem-


comum, tendo como dever central a justa ordem da sociedade. Conclui-se que o
objetivo e a medida intrínseca de toda política é a Justiça. É aqui que a política e
fé se tocam.
Nossa Igreja ensina que para vivermos uma fé autêntica não podemos separar a fé da vida. A cruz de
Cristo tem duas dimensões: a vertical, que é a transcendente, e a horizontal, que é a imanente, que nos leva a
ter um compromisso radical com cada irmão que padece ao nosso lado. A caridade de Cristo nos impele a
tomar uma atitude que resulte em um bem maior para todo o povo de Deus. Não podemos assumir diante dos
acontecimentos e injustiças que nos cercam uma atitude passiva como se nada tivesse a ver conosco. A
evangelização e formação cristã na sua dimensão mais ampla são, com certeza, formas de influenciar
positivamente as pessoas que nos cercam; mas, como homens e mulheres de Deus, inseridos em uma
sociedade, a Igreja nos chama a responder ativamente com nosso testemunho e trabalho no sentido da
correção das injustiças e na construção de um mundo novo. É aí que a política pode exercer um papel
fundamental.
“A fé cristã não despreza a atividade política; pelo contrário, a valoriza e a tem em alta estima” (Puebla,
514). O episcopado latino-americano considera que é dever da Igreja estar presente na política, “porque o
cristianismo deve evangelizar a totalidade da existência humana, inclusive a dimensão política. Por isso ela
critica aqueles que tendem a relegar o espaço da fé à vida pessoal ou familiar, excluindo a ordem profissional,
econômica, social e política, como se o pecado, o amor, a oração e o perdão não tivessem importância aí”
(Puebla, 515).

É preciso que se entenda política como a arte de fazer o bem comum, meio excelente para os cristãos
praticarem a caridade que nos foi ensinada por Cristo Jesus. “Pois a comunidade política existe por causa
daquele bem comum: nela obtém sua plena justificação e sentido, de onde deriva o seu direito primordial e
próprio. Ora, o bem comum compreende o conjunto daquelas condições de vida social, que permitam aos
homens, às famílias e às sociedades conseguir mais fácil e desembaraçadamente a própria perfeição” (Gaudium
et Spes, 76). Parece estranho, mas a Igreja ensina que a vivência correta da vida política ajuda os cristãos em
geral a viverem mais perfeitamente e assim alcançar a santidade.

Talvez você esteja pensando: “Mas na política só tem ladrão! Eu não vou me juntar com aqueles desonestos!!!”
Isso continua a acontecer porque você, que se diz honesto e justo, ainda não teve a ousadia de doar os seus
melhores frutos no serviço do bem comum. Se a vida política do nosso país é assaltada por pessoas mal
intencionadas, não é porque a política seja suja por si mesma, mas porque os que são realmente bem
intencionados e capacitados para o bem comum não se dispõem a empenhar suas vidas nessa nobre causa.
 (Jz 9,7-15).
Hoje nos vemos sendo governados por vários espinheiros, árvores que não têm sombra e ainda
apresentam múltiplos espinhos. Gostaria de perguntar: “Até quando ficaremos imobilizados, negando os nossos
melhores frutos para Deus e para os nossos irmãos?”.

“A Igreja considera digno de louvor e consideração o trabalho daqueles que se dedicam ao bem da coisa pública
a serviço dos homens e assumem os trabalhos desse cargo” (GS, 75) e ainda: “Os que são idôneos ou possam
tornar-se para exercer a difícil e, ao mesmo tempo, nobilíssima arte política, preparem-se para ela e procurem
exercê-la, esquecidos do proveito próprio e de vantagens materiais. Pela integridade e com prudência, lutem
contra a injustiça e a opressão ou o absolutismo e a intolerância, seja dum homem ou dum partido político;
dediquem-se, porém, ao bem de todos com sinceridade e retidão, bem mais, com o amor e a coragem exigidos
pela vida política” (GS, 75).

O próprio Jesus nos deu o exemplo. A atitude profética de Jesus, em defesa dos pobres e dos oprimidos, devido
a seu radical compromisso com a vida, teve profundas repercussões políticas. Ele chamou Herodes de “raposa”
(cf. Lc 13,22), ironizou os opressores que se intitulavam “benfeitores do povo” (cf. Lc 22,25), criticou o luxo
das autoridades (cf. Mt 11,8) e a opulência dos ricos (cf. Lc 6,24; 16,19-31; Mt 6,24), negou o caráter divino
do poder de César (cf. Mt 22,21). Por isso, Ele foi acusado injustamente de subverter a ordem pública (cf. Lc
23,2.5), de conspirar para ser o rei dos judeus (cf. Jo 19,19) e por esse crime foi condenado (cf. Jo 19,12-16).
“O Reino de Deus proclamado por Jesus, conquanto não se reduza à política, possui uma dimensão política.
Porque importa na modificação global e estrutural dos fundamentos da velha ordem. Esta transformação é
condição para o mundo pertencer ao Reino de Deus” (CNBB, Igreja e política, 15). Da mesma forma que Jesus,
precisamos crer e agir. O crer que não corresponde a uma atitude concreta em relação aos irmãos, ainda não é
a verdadeira fé.
A Igreja exorta os cristãos leigos a participarem, com coragem e discernimento, da
atividade política "para gravar a lei divina na cidade terrestre".
Hoje o mais importante é definir um novo modelo para o país, para isso não basta inserir
um voto numa urna, é necessário acompanhar os representantes eleitos, numa atitude de
colaboração e de cobrança para que os compromissos de campanha sejam cumpridos.

A política é uma das mais altas expressões da caridade cristã (Paulo VI). É a busca do
bem comum, consistindo no respeito pela pessoa, na exigência do bem-estar social e na
existência de uma ordem justa, segura e duradoura (cf. Catecismo da Igreja Católica, nºs 1095
a 1102).
2.2 - CRITÉRIOS PARA ESCOLHA DOS CANDIDATOS

"Voto não tem preço, tem conseqüências".

Deve-se considerar:
- a honestidade pessoal;
- a trajetória voltada aos interesses da coletividade,
- os compromissos honrados, em estreita ligação com as necessidades reais da
população.

2.2.1 - CUIDADO:
- com candidatos despreparados, com plataformas que camuflam interesses
particulares, com políticas de compensação.
- com os candidatos oportunistas, sem compromisso com partidos, com prática de
compra de votos, sem escrúpulos, reproduzindo o esquema da corrupção eleitoral, com
promessa de favores, enganando os eleitores, faz do povo refém, dependentes de esmolas e
promessa de benefícios imediatos.
- com candidatos sustentados por campanhas financeiras
vultosas que facilitam a compra de votos, pois irão tentar recuperar o investimento realizado,
utilizando-se dos privilégios adquiridos no exercício da função pública.

2.2.2 - SINAIS INDICADORES DE VERDADEIRAS MOTIVAÇÕES DOS


CANDIDATOS:
- honestidade e competência (demonstradas pelos serviços prestados com
transparência administrativa e financeira).

2.2.3 - AS PROPOSTAS DE POLÍTICAS PÚBLICAS DEVEM:


- defender e promover a dignidade da vida e do convívio humano,
- defender sempre o bem comum,
- promover a inclusão social.

3. COMO AGIR COMO ELEITORES

Os eleitores, também, têm papel fundamental no desenvolvimento sócio-político-


econômico do país, devendo participar ativamente para que os poderes constituídos possam
assumir com lisura e dignidade seus deveres e compromissos assumidos com a coletividade,
desenvolvendo os planos de governo propagados na época da campanha eleitoral.

Só o envolvimento do eleitor consciente no desenvolvimento político do país é que


poderá alterar todo o panorama, revertendo os benefícios públicos para o bem comum. Daí,
torna-se necessário que o eleitor adote as providências abaixo para ter autoridade na ação
fiscalizatória e de cobrança:
3.1 - Conhecer a realidade eleitoral (VER)
- conhecendo os candidatos, os partidos e as coligações;
- divulgando a pesquisa;
- buscando informações junto aos comitês eleitorais;
- assistindo programas de propaganda eleitoral;
- elaborando um resumo das plataformas eleitorais, idéias, projetos, promessas e
intenções.

3.2 - Analisar a realidade eleitoral (JULGAR)


- analisando os partidos, as coligações, as legendas e os candidatos sintonizados
com o pensamento do grupo ou que têm pensamentos mais distantes aos do grupo;
- elaborar documento com as opiniões e os principais questionamentos do grupo
para a próxima etapa.

3.3 - Trabalhar para a conquista do voto cidadão (AGIR)


- promover debates com candidatos a partir de documentos lidos e produzidos pelo
grupo ou assisti-los na mídia e discutir com o grupo;
- identificar os principais problemas e necessidades regionais e a disposição dos
candidatos por suas propostas para implementar ações que atendam a estas necessidades;
- divulgar o resultado dos debates;
- estimular que momentos de encontro coletivo contemplem o momento cidadão;
- fiscalizar e denunciar a corrupção eleitoral: compra de votos, promessas de
vantagens financeiras ou materiais, boca de urna, entre outros.

3.4 - Valorizar o voto cidadão (REVER)


- reunir o grupo após a divulgação dos resultados do pleito;
- divulgar os candidatos eleitos e suas plataformas políticas;
- constituir grupo permanente para acompanhar o mandato cidadão, com 4 (quatro)
anos para acompanhar, intervir, cobrar e mudar os destinos da nação.
O Concílio Vaticano II declara na “Gaudium et Spes”: 
"Lembrem-se, portanto, todos os cidadãos ao mesmo tempo do direito e do dever de usar
livremente seu voto para promover o bem comum. A Igreja considera digno de louvor e
consideração o trabalho daqueles que se dedicam ao bem da coisa pública a serviço dos
homens e assumem os trabalhos deste cargo" (GS 75). 

O Catecismo da Igreja Católica (CIC) insiste:


CIC §899 - "A iniciativa dos cristãos leigos é particularmente necessária quando se trata de
descobrir, de inventar meios para impregnar as realidades sociais, políticas e econômicas com
as exigências da doutrina e da vida cristãs. Esta iniciativa é um elemento normal da vida da
Igreja".

CIC §2442 - "Não cabe aos pastores da Igreja intervir diretamente na construção política e na
organização da vida social. Essa tarefa faz parte da vocação dos fiéis leigos, que agem por
própria iniciativa com seus concidadãos. A ação social pode implicar uma pluralidade de
caminhos concretos. Terá sempre em vista o bem comum e se conformará com a mensagem
evangélica e com a doutrina da Igreja. Cabe aos fiéis leigos "animar as realidades temporais
com um zelo cristão e comportar-se como artesãos da paz e da justiça". 

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