Você está na página 1de 268

NOVA HISTÓRIA DA IGREJA

NOVA HISTORIA DA IGREJA SOB A DIREÇÃO DE L.-J. ROGIER, R. AUBERT, M. D. KNOWLES

COMITÊ DE DIREÇÃO

L.-J. Rogier (Nimega), Roger Aubert (Lovaina),


M. D. Knowles (Cambridge).

SECRETÁRIO DE REDAÇÃO

4. G. Weiíer (Nimega).
REFORMA
E CONTRA-REFORMA
CONSELHEIRO PARA A HISTÓRIA AMERICANA

/. T. El lis (Washington).

pelo

PROF. DR. GERMANO TÜCHLE (Munique)


1. Dos Primórdios a São Gregório Magno (604) Colaboração do
por Jean Daniélou e Henri Marrou (Paris).
DR. C. A. BOUMAN (Utreque)
2. A Idade Média (600-1500) na História da Igreja Oriental
por Aí. D. Knowles (Cambridge). Colaboração de D. Obolensky sobre
as. Igrejas Ortodoxas da Europa Oriental.
Tradução de
3. Reforma e Contra-Reforma (1500-1715) WALDOMIRO PIRES MARTINS
por Germano Tiichle (Munique). Colaboração de C. A. Bouinan (Utreque)
na História da Igreja Oriental.

4. Século das Luzes, Revoluções, Restaurações (1715-1848)


por L.-J. Rogier (Nimega) e G. de Bertier de Sauvigny (Paris).

5. A Igreja na Sociedade Liberal e no Mundo Moderno (1848 aos


. possos dias)
par R: Aubert (Lovaina) e L.-J. Rogier (Ni/nega).

editora VOZES limitada


Petrópolis, RJ
1971
Indrto Concördla

jcQQgJ- °T , t u l d 0 or
' g ' n a l alemäo:
GESCHICHTE DER KIRCHE
Band III: Reformation und Gegenreformation

na IO CAPITULO I

© World-Copyright by Uitgeverij Paul Brand N. V., Hilversum-Antwerpen


Darton, Longman & Todd Ltd., London; Editions du Seuil S.A Paris' ESPANHA E SEU RUMO
Benziger Verlag, Einsiedeln-Zürich-Köln.
PARA A IGREJA UNIVERSAL

A Igreja Católica pagou, na época dos Papas do Renascimento, o


14 mapas no texto
máximo tributo à crise multissecular que assoberbava o derradeiro pe-
ríodo da Idade Média. Enquanto a derrocada do espírito religioso parecia
anunciar violentas comoções, ficavam a Península Ibérica e seus países
tributários quase inabalados, quais reservatórios de energias elementares
As notas, tanto do autor como do tradutor
se acham nas pp. 442-452 e imperecíveis. Castela, desde muito aliada militar da França, pertencia
desde o século XV ao número das grandes potências da Europa.
No grêmio da Igreja, preservou-se a própria tradição eclesiástica,
principalmente no Concílio de Constança, quando se manteve o direito
de voto dos cardeais, evitando que a Igreja se diluísse num frouxo aglo-
merado de nações.
Desde que Isabel, a Católica, com apenas 23 anos de idade, esposa
de Fernando de Aragão, fora em 1474 proclamada rainha de Castela e
de Leão, começou novo surto do país. Pela união de Castela com Aragão,
Isabel lançou bases sólidas para a posição da Espanha como potência
mundial. Só então pôde efetuar o tratado de paz com Portugal. Só então
recuperou o país uma segurança geral. Criou-se a possibilidade de levar
a bom termo a secular empresa da reconquista da Península pelos cris-
tãos, e de eliminar o último bastião do islamismo, o reino de Granada.
Quando os soberanos católicos lhe exigiram tributo, o rei de Granada
retrucou que, dali por diante, nas casas de moeda de seu reino já se não
cunharia ouro, mas tão-sòmente aço. Sem embargo, as armas das tropas
cristãs pareciam ser de aço mais temperado.
Com forte participação do exterior (até jovens cavaleiros teutônicos
combatiam no exército espanhol), levou-se avante a campanha durante
dez anos, como se ela fosse obrigação geral dos cristãos, e para cujo
incremento o Papa em 1483 concedera uma indulgência. Entrados em
Málaga em 1487, transformaram a mesquita-mor em catedral cristã, e
aplicaram um terço dos mouros cativos em resgate de escravos cristãos
na Africa. Defronte a Granada, protegida por 1030 torreões, Isabel, que
se apresentara pessoalmente no arraial, edificou a cidade "Santa Fé",
como a exprimir sua convicção de que a campanha militar representava
uma causa da religião.
Quando Granada afinal se rendeu em 1492, o Cardeal Mendoza,
primaz da Espanha, meteu-se à frente com seus homens para ocupar o
© 1971, Editora VOZES Limitada para o texto português.
[51
Capítulo 1 Espanha e seu rumo para a Igreja Universal 7
6

Alambra. Destarte, o fanal da Cruz, levado como guião das tropas na de acordo com seus desejos. Fernando avocou a si as dignidades do
campanha, por ser presente do papa Sisto IV, foi a primeira coisa que grão-mestrado das outras Ordens dc Cavalaria na Espanha. Em bene-
apareceu nos altos do Alambra, a fim de proclamar que o poder da ficio de seu sucessor Carlos I (V), Adriano VI uniu-as expressamente à
Meia-Lua sucumbira à Cruz de Cristo. Coroa. Questões sobre direitos feudais do Papa em Nápoles provocaram
violentas reações por parte do rei, de sorte que durante algum tempo se
temia um rompimento de Fernando com Roma.
1. União Entre Igreja e Estado

A longa luta não produzira apenas uma identificação do soberano 2. Ximénez e Humanismo Cristão
com o povo, mas despertara também no povo espanhol um fogoso, quase
fanático espírito de fé. O lema heráldico "Plus ultra" era naturalmente Este regime eclesiástico político-religioso, fenômeno universal na últi-
um mito para a Espanha, mas era também algo de histórico e uma ta- ma fase da Idade Média, não estorvava todavia uma bem lograda pro-
refa determinada pelo destino, que a fazia abrasar-sc cm si mesma. moção da vida interna da Igreja no Reino dc Espanha.
A união entre Igreja e Estado, a completa interpenetração do Bispos de peso, dotados dc grande poder e influência também junto
Estado pela Igreja, e seu processo inverso, tendo ainda a unidade reli- à Corte, entre os quais o piedoso Fernando de Talavera, arcebispo de
giosa como pressuposto para ela, faziam parte dos princípios perma- Granada, e precipuamente os Cardeais Mendoza ( + 1495) c Ximénez de
nentes da política espanhola. Assim, não causa espécie a luta contra os Cisneros ( + 1517), cmpcniiavam-se zelosamente pela reforma c conso-
adversários da fé e contra os renegados, nem a subjugação dos elemen- lidação dc suas igrejas. Em 1473 e 1512, realizaram dois importantes Sí-
tos de raça estranha, dos judeus e maometanos. nodos Provinciais, cujos decretos foram efetivamente executados.
Os antigos convertidos do judaísmo, os "cristãos novos", tinham cm O Clero Regular não foi eximido dc observar as novas prescrições.
grande parte retornado pública ou secretamente ao judaísmo. Estreita Nas Ordens Mendicantes, antes de tudo, introduziu-se a estrita obser-
era a ligação entre eles. Não pequena era a ameaça de sua propaganda, vância monástica. Todos os mosteiros beneditinos foram obrigados a
de seu proselitismo. Dentro cm pouco parecia haver, na Espanha, duas filiar-se à Congregação Reformada de Valhadolid. Um primo dc Ximé-
nações que se odiavam mortalmente. nez encarregou-se da reforma no Monserrate.
Contra a violenta autodefesa de que o povo se valia em vários luga- Dos clérigos seculares exigia Ximénez observância do dever de resi-
res, Fernando, o Católico, alcançou do Papa a organização do Tribunal dência, confissão mais freqüente, e pregação dominical pelos párocos.
da Fé, da Inquisição Espanhola, que desde o começo foi um instrumento Armou-se forte campanha contra a ignorância. Para incrementar a for-
discricionário nas mãos do Rei, e que mais tarde seria usado, mais de mação religiosa redigiu Mendoza um "Catecismo da Vida Cristã". Fuu-
uma vez, para fins políticos do Estado. daram-se numerosos Colégios c Universidades. O Seminário dc Granada
serviu de paradigma que os Padres do Concílio de Trento tinham diante
A expulsão dos judeus, no ano da conquista dc Granada, não pas-
dos olhos, quando formularam seu decreto sobre os Seminários.
sava de medida exclusivamente política. Não foi tampouco respeitada por
muito tempo a promessa de liberdade religiosa para os mouros de Gra- Aos contemporâneos, afigurava-sc-lhes como oitava maravilha do
nada. Quando, por reação contra as tentativas de catequese cristã, orga- mundo a fundação da Universidade dc Alcala por Ximénez. Realmente,
nizaram rebeliões, os Reis Católicos retiraram sua promessa, e coloca- o Cardeal franciscano dotou-a quase que principcscamcnte.
ram-nos em 1501 ante a alternativa: batismo ou desterro. Esta medida Mas ninguém esgotava recursos unicamente em promover a cons-
é que criou a unidade religiosa da Espanha. trução dc igrejas, universidades e hospitais. Atribuíam-se às novas insti-
Os Reis Católicos (Alexandre VI outorgara-lhes em 1496 o título tuições grandes tarefas c finalidades. Em Alcala, Ximénez não criara
de "Maiestas Catholica") viam o remate de sua monarquia absolutista apenas uma cátedra para filosofia tomista, mas também para a teologia
também no domínio sobre a Igreja na Espanha. Além da nomeação do escotística e até para a teologia nominalista, c organizou concomitante-
mente cátedras dc grego e hebraico. Para a fundação que fizera, convo-
Grão-Inquisidor, conseguiram do Papa o direito de padroado para os car-
cou cientistas de Salamanca e de Paris, encarregando-os de editar um
gos mais proeminentes da hierarquia eclesiástica no reino de Granada. texto da Bíblia que merecesse confiança sob o ponto de vista científico.
Confirmou-lhes Sisto IV expressamente o "placet" para as bulas ponti- Com espantosa liberalidade convidou em 1516 até Erasmo para colabo-
fícias, e também o direito dc apelar do tribunal eclesiástico à sua pró- rar na Espanha.
pria alçada, direito que os reis da Espanha desde muito pleiteavam dc
própria autoridade. A suas expensas, e segundo suas normas (o texto da Vulgata não
Já no início de seu governo, Isabel apresentou-se ao capítulo elei- devia ser corrigido segundo o texto grego, mas restaurado segundo os
toral da Ordem de Santiago, para determinar a eleição do grão-mestre, melhores manuscritos latinos), apareceu, como fruto dos mais meticulo-
Capitulo I Espanha e seu rumo para a Igreja Universal 9
8

sos esforços em matéria de filologia, a "Poliglota Complutense", assim Quando Fernando faleceu (1516) na idade de 64 anos a caminho
designada pelo nome latino de Alcala, primeira edição impressa do texto de Sevilha, o velho Ximénez assumiu a regência do Reino, junto com
original do Novo Testamento, à qual rapidamente se seguiu a edição do Adriano de Utreque, preceptor do príncipe herdeiro Carlos I, e desem-
Velho Testamento. penhou-a na mentalidade do falecido soberano. Rejeitou, para a Espa-
Os seis tomos, impressos em 1514 e 1517, só foram disrtibuídos em nha, a indulgência em favor da Igreja de São Pedro em Roma, aquela
1520, porque com a morte de Ximéncz só então é que se pedira a apro- que na Alemanha daria ensejo para o aparecimento de Lutero. Dois
meses antes da morte do Cardeal, Carlos desembarcou nas Astúrias.
vação papal. O grande Erasmo, como nenhum outro, enalteceu com os
Ximénez procurou, durante toda a vida, consolidar o poder do rei contra
maiores encómios o trabalho dos cientistas de Alcala: "Gratulor vestrae a despótica nobreza feudal e contra as cidades, mas nesse assunto não
Hispaniae ad pristinam eruditionis laudem veluti postliminio rcflores- lhe foi dado alcançar resultados cabais.
1
centi". * A seguir, ter-se-ia feito uma edição de Aristóteles em grego
e em latim. Ao novo Rei, tido inicialmente, em vastos círculos espanhóis, como
Ximénez era o grande mecenas do humanismo cristão na Espanha. forasteiro e fautor de forasteiros, as Cortes de Valhadolid lhe declararam
Antes de terminar o século, queria este dedicar-se exclusivamente à pes- que somente se disporiam ao juramento de fidelidade, se Carlos de sua
quisa da Sagrada Escritura, sob a orientação de (Antônio) Lebrija, por parte jurasse respeitar os privilégios, as isenções e usanças das comunas,
sua vez inspirado por Lourenço di Valia na atitude crítica para com as mormente as leis contrárias à colação de cargos e benefícios a estran-
tradições da Igreja. Em seus esforços de estabelecer um texto crítico dos geiros.
Evangelhos na era da nova arte tipográfica, que editava os mais desen- Quando, porém, com a notícia da eleição de Carlos para imperador
contrados códices com todos os seus erros, Lebrija encontrou numerosos romano-germânico, se tornaram infrutíferas todas as súplicas dos espa-
discípulos. A par disso, apregoava o grandioso porvir da língua de Cas- nhóis que êle não abandonasse o país, viajando Carlos para o Norte em
tela, e tornava a suscitar a cultura latina no país, então totalmente liber- 1522, chegou a haver nas cidades motins aparentemente contra as extor-
tado. sões praticadas por estrangeiros, mas que na realidade se volviam con-
Vigoroso impulso recebeu o humanismo cristão de um movimento tra o próprio Carlos.
místico. Traduziram-se obras como a "Vida de Cristo" de Ludolfo de A repressão do levante geral, à volta de Carlos no ano de 1522,
Saxe. Em 1493 apareceu o "Lucero de la vida Christiana". Conhecia-se fazendo as cidades perderem seus foros e privilégios e sofrerem sensíveis
a interpretação de Savanarola sobre o salmo "Miserere". Um cristianis- perdas no comércio, é que proporcionou ao Rei de Espanha aquela ple-
mo, todo imerso na vida interior e na graça, parecia o ideal mais dese- nitude discricionária de poder e autoridade, que Carlos V pôde depois apli-
jável de todos os mestres espirituais. car, militar e financeiramente, em suas guerras e expedições de âmbito uni-
versal.
Só como preparação para o seguimento de Cristo é que se gostava
de versar a Ética de Aristóteles, Cícero, Séneca e Boécio. Ajuntava-se-lhe
a sensação de milagre, experimentada pelos contemporâneos, quanto a 3. Novo Campo Missionário
uma expansão do cristianismo que excede qualquer cálculo e noção, e da
qual o cardeal espanhol se julgava instrumento. Surgiram esperanças mes- A área de seu poderio já ultrapassara desde muito os limites do
siânicas, concentradas em Ximénez e poucos anos mais tarde no jovem Ocidente. Em 1492, o genovês Colombo comparecera diante de suas Ma-
soberano. Entretanto, foi dos teólogos nominalistas de Alcala que saíram jestades Católicas, vitoriosas nos acampamentos de Granada, a fim de
os primeiros espanhóis suspeitos mais adiante por suas tendências lute- lhes pedir apoio para seus planos de descobrir uma rota marítima ociden-
ranas. De suas fileiras se alinharam aqueles místicos, os "Alumbrados", tal que levasse até as Índias.
que nas duas gerações a seguir foram rigorosamente perseguidos pela Aos três de agosto do mesmo ano zarpava êle de Paios com três
Inquisição e pelo Santo Ofício. embarcações. Em doze de outubro, atingiu, sem o saber, terra ameri-
Desde o começo, houve também na Espanha oposição contra o cana. Três expedições posteriores ampliaram o âmbito dos descobrimen-
humanismo cristão, e contra o trabalho de crítica bíblica textual de Eras- tos. Imitaram-lhe o exemplo outros audaciosos e temerários navegadores,
aventureiros e conquistadores. Aos olhos dos contemporâneos surgiu um
mo. Era tão clamorosa, que Clemente VII se viu obrigado a ameaçar um
novo mundo, no qual se implantaram o pendão espanhol e a Cruz de
dos corifeus com encarceramento, se não quisesse calar-se. A despeito, Cristo.
porém, do vivo interesse pela Sagrada Escritura, a Poliglota de Alcala
não teve nenhuma reedição nos decênios posteriores, nem foi sequer men- "Por amor de Deus e do ouro" empreendia Colombo, certamente,
cionada pelo Concílio Tridentino. No governo de Filipe II é que dela se suas expedições aventureiras; mas, pelos nomes que dava às novas terras
fêz ampla reedição como "Bíblia Régia", longe da pátria espanhola, em (San Salvador, Santa Maria, Trinidad), submetia-as a uma espécie de
batismo, pelo qual iniciou a cristianização do Novo Mundo. Essas expe-
Antuérpia.
N O T » H i s t ó r i a III — 2
to Capitulo I Espanha c seu rumo para a Igreja Universal II

dições tiveram como conseqüência uma enorme ampliação do "Orbis chris- rador, aportaram ao México cm 1523. Depois deles, partiram no ano
tianus". A Igreja transpôs então as raias do Ocidente. Diante dela se seguinte os "Doze Apóstolos", seus irmãos de hábito espanhóis. Na che-
escancarava novo campo incomensurável de ação, ingente área de tra- gada, Cortez cavalgou ao encontro deles. Para espanto dos astecas,
balho, todo o mundo universo. apeou-se do cavalo, ajoelhou-se humildemente diante do grupo dos fra-
Quando Colombo, ao retorno da primeira expedição, compareceu des e pediu-lhes a bênção. Em 1526, Juan Zumárraga, um deles, foi de-
diante de Isabel na Praça do Mercado, quando os índios vindos com signado como primeiro bispo da Cidade do México. Nos dez anos ime-
êle pediram o batismo, do qual a própria rainha foi madrinha, começava diatos, arribaram dominicanos e agostinianos. Estes missionários da pri-
simultaneamente uma das mais grandiosas épocas missionárias na his- meira hora não eram apenas homens modelares e zelosos pela cura de
tória da Igreja. almas, mas também donos de grande preparo científico.
A segunda expedição de Colombo já foi em companhia de um bene- Por amor da Missão, deviam começar com a aprendizagem de várias
ditino de Monserrate, Bernardo Boil, designado pelo Rei como chefe de línguas, cuja estrutura diferia fundamentalmente de todas as línguas euro-
uma comunidade missionária com doze participantes. Na Epifania de péias. Mas dentro de poucos anos estavam em condições de editar os
1494, celebrou-se a primeira missa em o Novo Mundo, no Haiti, e no primeiros vocabulários e catecismos em idiomas indígenas. Extraordiná-
mês de setembro se ministrou o primeiro batismo. Era chegado o Reino rios, quase inverossímeis, eram os resultados do trabalho missionário.
de Deus, muito embora Boil regressasse à Espanha naquele mesmo ano. Dentro de vinte anos, estavam batizados alguns milhões. 8.000, 10.000,
A tarefa missionária, como aliás toda a organização eclesiástica até 14.000 batizados num só dia não eram casos raros para dois fran-
espanhola, estava desde o início visceralmente ligada à política. Com ciscanos.
ela parecia ter-se transplantado para o Novo Mundo uma peça da indi- Podemos divergir na apreciação do método missionário, e nutrir dú-
visa unidade que determinava a fase inicial da Idade Média. Raramente vidas acerca da qualidade das conversões. Os dados, porém, ocorrem com
houve quem disso se escandalizasse, como o fêz o dominicano Las Casas. tanta consonância nas mais diversas fontes, que não deixam nenhuma dú-
Mais freqüente era uma visão quase escatológica das coisas, qual ainda vida a seu respeito. As cinco Províncias dos Franciscanos e as três dos
no fim do século XVI a descrevia o franciscano Mendieta: Deus teria Dominicanos, pelo fim do século no México, constituem mais uma de-
determinado os espanhóis como povo eleito, e exaltado o imperador monstração do entusiasmo com que se lançaram ao trabalho, e da acei-
messiânico, na pessoa de Carlos V, acima do mundo universo. Estaria tação que tiveram nesse país.
iminente o reino milenário do Apocalipse. Isto não obstante, mais de Um dos mais importantes campos de atividade era a escola. No ano
uma vez houve conflitos e contratempos no âmbito concreto das reali- de chegada, os "Doze" fundaram o primeiro centro pedagógico onde se
dades. procurava um método acomodado aos indígenas, e que modificava seu
Quando Portugal, detentor de jurisdição espiritual sobre todas as modo de viver desde a base. Além da religião e das matérias comuns do
regiões recém-descobertas, levantou protesto contra a ocupação espanhola currículo escolar, os índios aprendiam ali, sob a direção dos religiosos,
das índias Ocidentais, o papa Alexandre VI dirimiu as contendas, a pe- todas as habilidades artesanais e técnicas dos europeus, construção de casas
2
dido do rei Fernando, nas quatro famosas bulas de 1 4 9 3 . Os terri- e pontes, tecelagem de panos, fabricação de instrumentos domésticos, arte
tórios, já descobertos ou por descobrir ainda, na banda ocidental, foram da lavoura, criação de animais, e cerâmica. Para tudo tinham capacidade,
doados à Coroa Espanhola, com a cláusula expressa de que se permi- esses religiosos. Curavam os doentes, consolavam os moribundos, doutri-
tisse abraçar a religião cristã aos povos habitantes dessas ilhas ou da navam as crianças, sepultavam os mortos, morigeravam os errantes, de-
terra firme. Traçou-se uma linha de demarcação que ia de pólo a pólo, a fendiam os oprimidos contra qualquer exploração. Substituíram, em pouco
leste dos Açores. As Índias Orientais deviam ser zona de dominação por- tempo, os antigos líderes da sociedade pagã. Criaram um país católico
tuguesa, e as Índias Ocidentais zona de dominação espanhola, sob a única que logo teve como ponto de concentração religiosa o santuário mariano
condição de que fosse missionada a população indígena. Pelo tratado de de Guadalupe; que naturalmente também sofreu com a tensão entre clero
Tordesilhas em 1494, ambos os países deslocaram essa linha cerca de secular e regular; que em poucos decênios caiu logo numa espécie de le-
370 milhas mais para leste. targia, proveniente de uma administração colonial secularizada.
Desde o início, a Coroa Espanhola tomou a sério o mandato missio- Na América do Sul, a Missão processou-se igualmente em nexo ime-
nário. Em 1502, chegaram com o novo governador 17 franciscanos ao diato com a Conquista. Os missionários avançaram, por assim dizer, nos
Haiti, em 1509 os primeiros dominicanos; em 1511 foram 24 missioná- vestígios dos Conquistadores. Os resultados, porém, não foram tão incisi-
rios para Porto Rico. Em 1516 já vigorava uma determinação de Ximé- vos como em Nova Espanha (México). Enquanto lá se tratava de con-
nez que nenhum navio podia levantar ferros para o Novo Mundo sem duzir à fé verdadeira um povo possuidor de cultura, havia na América
ter sacerdote a bordo. Até 1522 já estavam fundadas 8 dioceses nas Anti- Meridional tribos de índios, mais ou menos em contínua migração, que
lhas. Três franciscanos holandeses, escolhidos pelo confessor do Impe- precisavam acostumar-se a domicílios fixos, a regras de vida, a estatutos
12 Capítulo 1
Espanha e seu rumo para a Igreja Universal 13

legais, ao hábito de trabalho. O povoamento mais intensificado dessas


ciou à sua "encomienda". Poucos seguidores teve seu exemplo, entre os
terras por europeus acarretava não poucas vezes motins e reveses, dada
compatriotas.
a ferocidade dos índios e a brutalidade com que conquistadores e coloni-
zadores os roubavam e exploravam. Dirigiu-se então à Corte Real de Espanha, para ali advogar a causa
dos índios. Conseguiu, pois, do Regente Ximénez que se constituísse uma
Ao cabo, são de admirar as múltiplas formas de adaptação que a junta para inquéritos. Voltou com ela para a América. Sua atuação, po-
Igreja logrou inventar na obra missionária. Vão desde a Universidade rém, lhe pareceu muito remissa. Por esse motivo, Las Casas empreen-
dos Dominicanos em Lima (1533), no então adiantado império dos deu nova viagem para a Espanha onde apresentou seus próprios planos.
Incas, até os aldeamentos missionários no Equador e no Paraguai, onde Em lugar dos índios, que sucumbiam de morte prematura nas minas e
os índios eram sistematicamente instruídos pelos missionários, formados plantações, propôs a introdução na América de escravos negros, de com-
religiosamente, educados para o trabalho, ao mesmo tempo que, segrega- pleição mais robusta, daqueles que fossem vencidos em guerra justa. Na-
dos do mau convívio dos colonos, deviam experimentar a vivência de uma turalmente, a realidade da vida ensinou-lhe depois quão injustas não eram
comunidade cristã, na forma que correspondesse à sua índole natural. as guerras em que os portugueses capturavam os negros e os desciam ao
cativeiro. Entretanto, seu próprio esforço pacífico em prol da catequiza-
ção e colonização topou com a resistência dos funcionários e mercadores
4. Bartolomeu de Las Casas espanhóis.
Com o intuito de poder continuar a luta em favor dos índios, Las
Todo arrebanhamento de indígenas e sua forma peculiar de asssi- Casas tornou-se então dominicano. Em seus escritos, insurgia-se decidi-
tência, fosse nas cidades monásticas do México, fosse nas Reduções do damente contra o método de coação nas Missões; como único alvitre
Grão Chaco no Paraguai, suscitava naturalmente oposição e hostil re- exigia a pregação da fé e sua livre aceitação.
jeição por parte dos colonos e latifundiários. Nos índios, dos quais não
Seus memoriais ao Conselho das Índias, inculcando o dever missio-
podiam absolutamente prescindir, por fatia de bestas de carga e veículos,
nário como única razão de ser para a presença da Espanha em o Novo
consideravam uma mão de obra fácil e gratuita; pois eles eram também Mundo, tiveram afinal como bom resultado que Carlos V promulgou em
pagãos, que, na opinião de alguns teólogos, não dispunham de direito 1542 as "Leis Novas" que interditavam a escravidão, equiparavam os
algum numa comunidade cristã. Nestes termos surgiu uma nova escrava- indígenas aos espanhóis em matéria tributária, e determinavam a abolição
tura na América. E então vinham os missionários subtrair-lhes os índios das "encomiendas".
naqueles aldeamentos.
Instituído bispo de Chiapas no México, devia Las Casas pôr em exe-
Logo começou a travar-se, por princípio, a luta em torno dos novos
cução as novas leis, mas os colonos espanhóis se rebelaram contra êle.
cristãos. Estavam em jogo os fundamentais direitos humanos dos índios. Teve então de retornar à Espanha. Após uma audiência de alcance histó-
Constitui uma das imorredouras benemerencias da Igreja que, lutando de- rico-universal, em presença de Carlos V, foi absolvido de todas as impu-
vagar, sem violência exterior, só com meios persuasivos, ou protestos, tações pelo Conselho das Índias. Renunciou em seguida ao bispado, dei-
e com o risco existencial de seus bispos e sacerdotes, fêz prevalecer o xando-se ficar na Espanha como assessor na Corte Real e advogado dos
princípio da igualdade de raças. Não obstante as duras resistências que índios. Pela sua "Brevísima Relación de destrucción de las índias"
lhe vinham também de círculos eclesiásticos, o dominicano Bartolomeu quis dissuadir o Rei de fazer novas conquistas em o Novo Mundo. Sem
de Las Casas tornou-se defensor dos direitos humanos e paladino da querer, tal publicação confirmou positivamente com sua autoridade tam-
liberdade dos índios. bém a "Lenda Negra" contra a Espanha. Com a idade de 82 anos. Las
As relações dos índios com os novos senhores baseava-se legalmente Casas ainda compareceu à presença de Filipe II para defender os direitos
na assim chamada "encomienda". A todos os espanhóis que tivessem dos aborígines.
conquistado títulos de benemerência em o Novo Mundo, outorgou-se-lhes Como genuíno humanista, reconhecia o valor de culturas estranhas,
o direito de exigir tributo dos índios que lhes pertenciam por toda a vida, e exigia que a elas a Missão se adaptasse com seus métodos. Eram-lhe
de empregá-los em serviços, mas também com obrigação de velar pelo contrários não apenas a ganância e o egoísmo dos colonizadroes. Contra
bem-estar corporal e espiritual dos índios. Na praxe de cada dia, esse êle se opunham também os teóricos que, de seu ponto de vista escolástico
sistema não significava outra cousa senão o emprego dos índios para e aristotélico, queriam levar até as últimas conseqüências os problemas
trabalhos forçados em minas e plantações. ligados ao descobrimento da América.
Las Casas viera em 1502 para Haiti com a posse de tal "encomien- Era afinal necessário justificar, também perante a consciência, a guer-
da". Ordenado então sacerdote em Roma, e tendo depois pregado entre ra que se movia contra os aborígines. Quem eram esses índios? Eram
os aborígenes em Cuba, veio a reconhecer a iniqüidade de todo o sistema pagãos ou recidivos no paganismo? Eram, no fundo, homens racionais, ou
pela destemida pregação de um dominicano em São Domingos. Renun- selvagens mais categorizados, seres intermediários entre homem e bruto
14 Capitulo I Espanha e seu rumo para a Igreja Universal 15

irracional? Eram bárbaros que deviam submeter-se ao domínio civilizador A esta Ordem tinham os papas outrora confiado a tarefa de recha-
dos espanhóis, a fim de alcançarem religião e mentalidade cristã? Eram çar o islamismo e o paganismo cm favor da Cruz de Cristo. Ainda em
capazes de levar uma vida semelhante à dos obreiros cristãos na Espanha? vida de Henrique, o Navegador, outorgara Calisto III ao Grão-Mestre da
Era permitido mover guerra contra descrentes, justo porque são descren- Ordem de Cristo onímoda jurisdição espiritual sobre todos os presentes
tes? Podem os cristãos punir os pagãos, quando estes transgridem a lei e futuros domínios de Portugal em ultramar. Depois, porém, que o pró-
natural? Estas questões e outras semelhantes preocupavam os teólogos e prio Rei ficou com a administração do grão-mestrado, exercia também
juristas na Espanha, e noutros países por ali afora. esse direito de padroado, a jurisdição espiritual sobre todas as colônias.
Assumiu com isso a obrigação de cuidar da fundação de dioceses e semi-
Seguro de si mesmo, Las Casas defendia, nestas questões, por escri- nários, de igrejas e paróquias, e de providenciar a expedição e manuten-
tos ou por debates, a plena equiparação dos índios com os indivíduos de ção dos missionários.
outras raças, a possibilidade de cristianização por meios pacíficos, a pací-
As contribuições que o Rei, respectivamente a Ordem de Cristo,
fica colonização do Novo Mundo, a iliceidade da guerra na América. Era, despendia para tal finalidade, não eram insignificantes. A rica dotação
por conseguinte, fiel discípulo do Geral de sua Ordem Cardeal Caetano, das igrejas demonstra, entretanto, a seriedade com que os reis s e desin-
o primeiro a proclamar em 1517 que os gentios das terras recém-desco- cumbiam de suas obrigações. Em compensação, dispunham de uma série
bertas não estavam sujeitos, nem por direito nem de fato, aos príncipes de privilégios quanto à seleção e expedição de missionários, nomeação de
cristãos. bispos, demarcação e modificação de divisas de bispados, uma soma de
Por essa norma deviam os príncipes cristãos pautar seus métodos privilégios que de muito ultrapassava os direitos comuns do padroado.
missionários: "Nenhum rei e nenhum imperador, nem tampouco a Igreja Ao Rei ficava entregue, por assim dizer, em nome do Papa, a propagação
Católica, pode mover guerra contra eles". 3
Em Las Casas, tornou-se do Evangelho, a administração eclesiástica em todos os domínios de ultra-
sensível a consciência da Espanha católica. À sua influência se atribui mar. Em seu nome, partiram para o Congo os mensageiros da fé, e ali
que, muito após a sua morte, o conceito jurídico de conquista foi afinal fundaram o primeiro reino cristão. Por ordem sua, chegaram cm 1503
rejeitado em a nova Regulamentação Régia de 1573. dois franciscanos como missionários ao Brasil recém-descoberto. Como
enviado seu, desembarcou em 1542 Francisco Xavier cm Goa, diocese da
Las Casas, naturalmente, não lidava sozinho. Na prática, pelo me- base mais oriental dos portugueses, fundada poucos anos antes.
nos, os missionários sempre tomaram os índios como homens plenamente
evoluídos, capazes de assimilar o cristianismo, ainda que no México hou- Quando, porém, a Espanha se emparelhou com Portugal como na-
vesse por algum tempo hesitação em se ministrar aos índios a sagrada ção de navegadores e descobridores, os papas, como salvaguarda de sua
Eucaristia, c que um Sínodo da Cidade do México até proibisse em 1555 neutralidade, concederam às Majestades Católicas os mesmos direitos ou-
a admissão de índios às Ordens Maiores. De outro parecer eram, entre- torgados ao Rei de Portugal. Em 1501, foram-lhes atribuídas todas as
tanto, os primeiros franciscanos que chegaram ao país. décimas das "Índias". Uma bula de 1508 conferia-lhes, outrossim, todos
os direitos do padroado, o direito de apresentação para benefícios e mos-
teiro^ em todas as dioceses já existentes ou ainda por fundar no futuro,
5. Padroado da Coroa o direito de determinar ou modificar os limites das dioceses. A Carlos V,
seu antigo discípulo, Adriano VI lhe deu até a garantia de que a remessa
de missionários pelos legítimos superiores seria considerada como "missio
Reconhecendo, desde o início, a exuberância de empreendimento e canónica", por conseguinte como missão oficial da Igreja.
dinamismo que se manifestava na esteira das expedições de Paios. Cadiz,
Foz do Tejo, a Cúria Romana sempre lhes deu deliberada publicidade, e Desta forma, o Rei da Espanha se tornou também, de certo modo,
promoveu-as por todos os recursos. evangelizador da fé, com o direito e a obrigação de determinar, enviar e
sustentar missionários. Poderia até enviá-los à revelia dos superiores, quan-
Pois, muito anterior à Espanha, havia outro país da Península Ibé- do estes por descuido não pusessem elementos à disposição.
rica, Portugal, que desde Henrique, o Navegador ( + 1460), esperava en-
Dentro em breve se formou, entre missionários e juristas, a convic-
contrar, por meio de expedições planificadas, aliados contra os mouros
ção de que o Rei de Espanha, em assuntos eclesiásticos de seu domínio
de Marrocos. Barcos portugueses já tinham circunavegado a ponta meri-
americano, exercia um vicariato que se fundava em mandato missienário
dional da África, e de Zanzibar chegado à costa ocidental da índia. Des-
a êle cometido pelo Papa. A Santa Sé, naturalmente, rejeitou tais idéias;
cobriram o Brasil em 1500, e dez anos mais tarde ocuparam Goa no lito-
no século XVII condenou uma dissertação literária sobre a função missio-
ral da Índia. Tais empreendimentos ligavam-se, desde o começo, à ideia
nária do poder civil.
de propagar o Evangelho. Nas regiões recém-descobertas, sempre atuava a
presença da Igreja na pessoa dos membros da Ordem de Cristo, em cuja
frente se encontrava Henrique, o Navegador.
A crise nas vésperas da Reforma Protestante 17

CAPITULO II
!

A CRISE NAS VÉSPERAS


DA REFORMA PROTESTANTE
-i

A História não é conseqüência de fenômenos econômicos nem função


das situações sociais. Isto seria desconhecer o poder das idéias, sobretudo
negar o caráter livre das decisões humanas. Sem embargo, a área de
liberdade em que se processam as decisões é fortemente marcada por
fatores extrínsecos. Criam eles situações peculiares que então provocam
ação e decisão, e também a própria atmosfera que favorece essa decisão,
quer para um lado, quer para outro.
Não obstante seu aspecto teológico e sobrenatural para o crente,
este princípio se aplica também com relação à Igreja que, enquadrada
indestrutivelmente no mundo, quer levar a seu fim eterno os homens de
cada século, justamente no meio ambiente que lhes é peculiar.
Aplicado à história de nosso período, isto quer dizer que os fatores
econômicos e sociais dos séculos XV e XVI não causaram a Reforma,
mas criaram as condições que tornam compreensíveis o início da Reforma
Religiosa e a surpreendente rapidez de sua propagação. Assim se explica
melhor que fosse abandonada a Igreja Medieval, mas isto não tira da
consciência dos seus pequenos e grandes autores intelectuais a responsa-
bilidade pela perda de unidade. Não obstante todo o agravamento crítico
e quase explosivo da situação, a partir de 1500, a Reforma continua a
ser obra pessoal do Frade de Vitemberga.

1. O Novo Sistema Econômico

O século anterior à Reforma trouxe consigo uma total reestruturação


das reformas econômicas. O surto da economia monetária, seu alastra-
mento da Itália para a França e a Inglaterra, para Flandres e sobretudo
para o Sul da Alemanha, devia envolver a Igreja em grave crise econô-
mica. Entendem-se aqui por Igreja todas as células da vida eclesiástica,
ALEMANHA A N T E S DA REFORMA
a começar do Papado e da Cúria Romana, através dos Bispos e Cabidos,
até os mosteiros e as paróquias rurais, com exceção talvez dos párocos
de cidades que se achassem em vias de desenvolvimento.
O patrimônio eclesiástico consistia, primordialmente, em bens imobi-
liários, em feudos e aforamentos, e quase todas as rendas paroquiais em
116)

S 0 H » CONCORDIA
18 Capitulo II A crise nas vésperas da Reforma Protestante 19

contribuições de produtos naturais, as dos mosteiros e de outras entida- ra dos papas tornaram-se, por assim dizer, o clamor do século. Repetiam-
des jurídicas eclesiais geralmente em dízimos e rendas do chão. nas, também, aqueles que de modo algum eram atingidos por ela.
Com a estagnação demográfica e o êxito rural para as cidades, os Por causa de sua interdição dos ágios, a Igreja não tinha a possibi-
bens de raiz depreciaram-se nas zonas rurais. Na campanha, tornou-se lidade de aderir a uma forma econômica que tivesse futuro. As transações
difícil a mão-de-obra, com prejuízo da economia doméstica dos mostei- bancárias, que também os papas utilizavam desde o século XIV; que
ros. Azenhas e granjas decaíam. A tanto contribuíam, com sua parte, as proporcionaram enormes fortunas aos Medici e a outras famílias de Flo-
guerras que se desenrolavam na Boêmia e regiões circunvizinhas, na Baixa rença e de Sena; que nos albores do século XVI arvoraram os mercado-
Itália, Escócia, Espanha, Borgonha, e Alta Itália (a Alemanha estava em
res de Augsburgo em senhores de uma política financeira; que de Jacó
condições um pouco mais favoráveis). Destruíam-se as colheitas, incen-
diavam-se as aldeias e as herdades monásticas, saqueavam-se os mos- Fugger, o Rico, fizeram parceiro necessário em grandes planos da Coroa
teiros. e do Estado: elas eram de algum modo tidas como que uma espécie de
pecaminosa usura, dc acordo com as austeras opiniões dos fins da Idade
A economia passou por um processo de definhamento, que se fêz Média.
sentir antes de tudo na lavoura e nos latifúndios. A Igreja perde sempre Verdade é que na Itália se aprendeu a contornar, com certa elegân-
de novo parte de seus bens, vende-os por necessidade, ou penhora-os a cia, as dificuldades de caráter moral. Ao cabo, o próprio Pio II, oriundo
judeus como garantia em contração de dívidas. Cada construção de mos-
de Sena, introduziu nos Estados Pontifícios o monopólio do alúmen. A
teiro e igreja importa em corte de patrimônio, e por conseguinte em re-
dução das rendas ordinárias. taxa de 7% a 8% para prêmio de juros foi logo considerada rotineira
em Florença. Expediente que livrava de escrúpulos era determinar alguém
Todos estes fenômenos não deixaram de ter conseqüências na vida parte da fortuna adquirida em favor de instituições religiosas ou assisten-
interna da Igreja. Os bispos perdem sua autonomia nas relações com os ciais. Isso dava também oportunidade de não se negligenciar a respectiva
fiéis. Nas antigas e famosas Universidades elanguescem os estudos, porque propaganda. 2

as Ordens não estão em condições financeiras de enviar os jovens religio-


sos às Faculdades. Os religiosos desdeixam a vida intelectual e espiritual, De maneira mais compenetrada e mais conscienciosa, versavam o
por serem obrigados a administrar os bens da comunidade ou a cuidar de problema os representantes germânicos do pré-capitalismo. Quando os
sua manutenção individual. Usa-se de extrema indulgência na escolha de mercadores de Augsburgo ou a Companhia Mercantil de Ravcnsburgo
noviços, porque há falta de vocações. Os mosteiros pedem incorporação abriam conta própria em seus livros de escrituração como "Capital de
às paróquias para atendimento de suas necessidades materiais. Torna-se Deus Nosso Senhor"; quando os Fugger no balanço de 1511 lançaram
comum a cumulação de vários benefícios eclesiásticos cm uma só mão, Santo Ulrico, padroeiro da cidade de Augsburgo, com um capital de
contravindo o sentido c o direito do sistema beneficiai, porque um único 15.000 florins; quando Jacó Fugger erigiu a maior instituição social do
benefício já não pode manter seu titular no decoro do próprio estado. século, o grupo habitacional "Fuggerei" com suas 142 casas, "em louvor
de Deus e por sentimento de gratidão": isto não representava fórmulas
A Guerra transformou os religiosos em soldados. A insegurança das convencionais, mas testemunhava aquela harmonia entre piedade e am-
estradas davam aos bispos motivo ou pretexto para se forrarem da obri- bição econômica, entre crença c tarefa temporal, em que viviam esses
gação da visita e residência canónicas. A pobreza forçava os párocos ru- líderes econômicos.
rais a ganharem seu pão de outras maneiras. A depressão econômica in- Procurou-se, igualmente, resolver o conflito em seu aspeto teórico,
duziu os papas a empregarem meios sempre novos, novos estratagemas depois que pregadores da época, Geiler de Kaisersberg, alsaciano, e Se-
para garantia e manutenção das rendas curiais, e cumpre dizer que tam- bastião Brant fustigaram violentamente o monopólio e o ágio; depois que
bém para seu aumento. Os papas ampliam sistematicamente o regime de Adelmano de Adelsmannsfelden, cónego de Eichstaett e humanista, apli-
tributação. Os bispos procuram imitá-los. Ao que acrescem, ainda, os cou muito explicitamente ao "agiota" Jacó Fugger o comentário sobre
respectivos impostos devidos à autoridade territorial. O priorado da Ca- Plutarco "De usura vitanda". Então recorreram os Fugger aos bons ofícios
tedral de Cantuária era então obrigado a entregar 46% de suas rendas ao do jovem, mas já famoso professor João Eck, dc Ingolstádio, que ali
1
papa e ao rei. Tratava-se de um máximo que por certo não era fizera suas primeiras preleções sobre questões econômicas. Nelas, Eck
freqüente, mas que se tornava quase intolerável. excluía dos juros o caráter de usura.
Os homens daquela época não tinham uma visão de conjunto sobre No convento Carmelitano de Augsburgo, Eck fêz então disputações
toda a situação econômica que lhes permitisse averiguar as causas de sobre a liccidade dos juros. O bispo ordinário de Eichstaett interditou
todo esse mal-estar. Destarte, só viam diante dos olhos os exatores uma disputação que Eck preparara para Ingostádio. Eck, que num tratado
pontifícios, que na insolvência não poupavam as penas canónicas, também defendera os juros de 5 % , partiu logo após com o auxílio dos Fugger
a excomunhão, mas na pessoa do papa c que consideravam o único res- para Bolonha, onde novamente disputou sobre a liceidade do ágio, con-
ponsável. As apaixonadas queixas e reclamações contra a política finaneci- quistando os dominicanos a favor de sua teoria. A Universidade de Paris
A crise nas vésperas da Reforma Protestante 21
20 Capítulo II

também se manteve favorável à sua tese. Já existia, pois, uma justificação lho municipal recorria diretamente a Roma. Estrasburgo, Friburgo, Cons-
teológico-moral da nova modalidade econômica, firmada muito embora tança, e Zurique são alguns exemplos, tomados a esmo, de concessões
na autoridade de um só cientista. A própria Igreja manteve, oficialmente, apostólicas de indulgências, nas quais uma oferta pecuniária para cons-
a proibição absoluta do ágio durante todo o tempo da Reforma. trução de igreja estava ligada, como obra de penitência, à remissão de
penas temporais de pecados. O cúmulo de tais indulgências, e ainda por
cima o recolhimento compulsório de uma percentagem em favor da Cúria
Romana para fins eclesiásticos em geral, que fizeram explodir a violenta
2. Cidade e Interior
crítica contra as indulgências em benefício de construções, e também
contra as indulgências como tais.
O tipo econômico do pré-capitalismo desenvolveu-se nas cidades,
Os cidadãos tinham como sua a igreja da cidade, não só porque
cujo incremento ocorre cronologicamente pouco antes da Reforma. Va-
nela erigiam jazigos mortuários, e para esse fim edificavam muitas vezes
mos aqui ocupar-nos, sobretudo, com as cidades germânicas. Ao contrá-
capelas completas como partes anexas, mas também porque colocavam
rio das cidades na França e Inglaterra, distinguiam-se pela sua liberdade
o patrimônio eclesiástico debaixo de sua fiscalização, e para tal finalidade
civil e pela emancipação do sistema citadino.
instituíam síndicos.
Das 85 cidades lançadas no cadastro oficial cerca de 65 eram de
No campo de política pessoal, procuravam igualmente impor sua
fato livres ou autônomas. A despeito de seu número elevado, tais cidades
própria vontade. Com seus inúmeros legados de altares e benefícios que
não constituíam nenhuma força política. Faltava-lhes liderança política e
os cidadãos instituíam, a igreja devia quanto possível servir unicamente
união entre si. As ligas que se estabeleciam entre cidades para salvaguar-
para os naturais da cidade. Por isso, o Conselho Municipal punha todo
da da paz interna do país ficavam totalmente sob a ascendência do prín-
empenho em adquirir o padroado das igrejas e capelas da cidade. Onde
cipe territorial. Nas Dietas do Reino, as classes principescas opunham-se,
tal não fosse possível, preferiam aqui ou ali construir igreja própria mu-
com tenaz energia, à concessão de direitos iguais para as cidades. Em
nicipal, ou procuravam influir sobre a igreja paroquial, mediante um le-
contraposição, tanto mais forte era o poder econômico das cidades. To-
gado em benefício da pregação. Com o andar do tempo, já não havia em
mavam a dianteira no revolucionamento dos espíritos, imposto ao povo
muitas cidades livres benefícios que o bispo pudesse prover livremente.
alemão pela rápida transição da economia agrária para a política mone-
tária. As cidades forcejavam também por dominar as casas religiosas situa-
das dentro de seus muros. Instituíam síndicos para elas, os quais deviam
Promovida pelo sistema urbano de administração, na qual já toma-
prestar contas anuais acerca da administração dos bens móveis e imóveis,
vam parte não só os patrícios, mas também as corporações e as guildas,
cadastrar os bens monásticos, a fim de que os mosteiros pudessem ser
desenvolveu-se acentuada consciência própria das cidades, que se mani-
tributados. Com isso as cidades investiam contra um antigo privilégio,
festava não apenas nas magníficas casas burguesas, com altos frontispí-
garantido pelo Direito Canónico, que consistia na isenção tributária do es-
cios e pátios interiores, como aquelas que antes da 2^ Guerra Mundial
tado eclesiástico como tal.
orlavam muitos logradouros públicos, ou que se alongavam altivas pela
rua principal. A igreja da cidade era uma expressão da tranqüila harmo- As muitas doações de terras a igrejas e mosteiros tinham que lesar
nia, existente também nessas comunas livres, entre consciência citadina e gravemente a capacidade de arrecadação das cidades. Em benefício de
simples clérigos teria ainda esse privilégio uma razão de ser, mas a isen-
robusta devoção religiosa. As gerações precedentes tinham iniciado em
ção tributária incidia muitas vezes em padroados e herdades de mosteiros
Ulma, Friburgo e Estrasburgo imensas igrejas catedrais, cuja construção estranhos, com benefício deles e do clero feudal. Além do mais, a impor-
se prolongou até a época da Reforma. As cidades menores porfiavam com tação de mercadorias pelos mosteiros e as bodegas mantidas por eclesiás-
as maiores. Essas obras arquitetônicas atraíam inusitada aglomeração de ticos faziam concorrência individual aos cidadãos, ou prejudicavam a
artistas, que por sua vez encontravam atividade e trocavam idéias e su- mercadoria nas cidades (Suécia). Por isso, as cidades cobravam impostos
gestões entre si, desde Praga até Milão. das instituições eclesiásticas, o tributo de cereais ("Umgeld"), imposto de
A comuna civil quase se identificava com a igreja da respectiva ci- tutela e o "Schirmgeld", ou proibiam absolutamente legados de imóveis
dade. Os livros de ouro das grandes igrejas documentam uma participa- sob o título de "mão-morta". Da mesma forma, os hospitais, incessante-
ção de todas as camadas da população. A par de doações, constam pres- mente contemplados com ricas dotações e legados, passaram ao foro mu-
tações de mão-de-obra e deixas testamentárias. Isto não obstante, mais nicipal. Os enfermeiros municipais tornaram-se os únicos representantes
de uma vez a construção ultrapassava o poder econômico da cidade. Pro- legais do hospital. Os serviços deviam beneficiar só os cidadãos da própria
curava-se, então, auxílio e contribuição de fora. cidade. O direito de propriedade dos hospitais enquadrou-se nos moldes
Um recurso para angariar tal ajuda era a indulgência. Inúmeras da política territorial municipal. Desta maneira, desde o início da Refor-
são, por parte dos bispos, as autorizações para esmolar, ligadas à outorga ma, paralelamente com o regime político-eclesiástico de âmbito nacional
de indulgências. Quando se tratava de concessões mais amplas, o conse-
22 Capítulo II A crise nas vésperas da Reforma Protestante 23

no fim da Idade Média, criou-se, em âmbito municipal, completo regime Na Alemanha, a situação dos lavradores não era propriamente ruim;
de soberania eclesiástica, que devia tornar-se decisivo para a sorte da mas, com poucas exceções, êlcs careciam de liberdade pessoal. Os vários
Reforma nas cidades livres. graus dessa falta de liberdade foram-se concatenando cada vez mais, de
Os muitos legados em igrejas e capelas das cidades exigiam nume- sorte que em geral só se falava ainda em "gente pobre" e "homem da
roso clero para se desincumbirem as obrigações de missas que deles re- ralé". A exploração de terras senhoriais levava fatalmente à servidão de
sultavam. De mais a mais, análogas eram as situações que se manifesta- gleba.
vam cm outras tantas cidades mediatizadas da Alemanha, bem como nas Na realidade, porém, os percalços do homem de ralé tornavam-se
cidades dos Países Baixos, que em parte igualavam até ao tamanho de cada vez mais toleráveis em Flandres e no Reno. Mas também aqui o
3
Londres. Como conseqüência, no século anterior à Reforma, cres- camponês galgava cada vez mais à condição de rendeiro, e sentia tanto
ceu de modo extraordinário o número de clérigos, fenômeno que se veri- mais os juros, os impostos de renda, o preito anual, tributo funerário,
ficou em todos os países. restrições da livre locomoção, interdição de caça e pesca, sobretudo a
Naturalmente, não é sempre possível colher dados exatos, pois que conversão de contribuições em espécie para contribuições pecuniárias, e
o número de benefícios não coincide necessariamente com o número de os novos impostos que deviam representar, em favor do patrão ou senhor,
clérigos beneficiados. Entanto, para ilustrar uma situação que era geral, um reajuste pela desvalorização da moeda.
bastam alguns algarismos. Em 1521, funcionavam na Catedral de Estras-
burgo 24 cónegos. Acresce o colegiado dos sacerdotes não pertencentes Os senhores, entre os quais figura por sua vez a Igreja, procuravam,
à nobreza com 63 prebendados, que tinham 36 cooperadores como auxi- em caso de morte, outorgar o foro sob novas condições, e transformar
liares do culto divino. Em 1536, havia na Catedral de Iorque 55 coopera- os foros hereditários em foros individuais. Em vista disso, os camponeses
reivindicavam o "direito de antanho", e consideravam o proceder de seus
dores (chantries). Quando Teresa de Ávila fêz sua primeira fundação em
senhores como violação das leis divina e humana. A introdução do Di-
Medina dei Campo, existiam na cidade, segundo as indicações de seu bió- reito Romano escrito e o surto econômico dos homens livres da cidade
grafo, além das duas paróquias, uma Colegiada com dois Cabidos de 82 exacerbavam-nos ainda mais, de sorte que antes do aparecimento de Lu-
sacerdotes, dezoito conventos e nove hospitais. Para a Inglaterra, indicam- tero houve até várias revoltas de camponeses, principalmente no Alto
se 10.000 a 12.000 sacerdotes seculares numa população aproximada de Reno, nas imediações da Suíça, onde os camponeses souberam salvaguar-
4
3 milhões de habitantes. dar seus direitos políticos e de dasse. Ainda que as rebeliões fossem
Em proporção inversa das cidades, os cavaleiros e os camponeses abafadas, nem por isso morriam as secretas esperanças numa justa ordem
constituíam estados sociais decadentes. A evolução da arte bélica, a intro- das coisas por determinação de Deus.
dução das armas de fogo e dos contingentes de lansquenetes tornaram os
cavaleiros propriamente desnecessários. Constantes de imóveis, como as
da Igreja, suas riquezas minguaram, enquanto o comércio fazia o bem-
3. Crise Política
estar cada vez maior das cidades circunvizinhas. Por cúmulo, toda a clas-
se estava plenamente dividida. Cada qual tinha um modo egoísta de ver
O País originário da Reforma achava-se em fase de graves crises
as coisas. O cavaleiro já não servia ao Estado, mas unicamente a si pró-
também na área política. Para verificação, basta confrontar as circuns-
prio, opondo-se a qualquer entendimento geral em benefício da paz pú-
tâncias na Alemanha com as vigentes na França, onde o Rei conseguira
blica.
impor-se a despeito de todas as forças centrífugas do país, antes de tudo
Não poucos cavaleiros acreditavam numa iminente mudança da si-
contra as pretensões dos vassalos do reino.
tuação. Por isso, desde o início saudaram a intervenção de Lutero, em
cujo nome julgavam ter, em princípio, o direito de abolir, em proveito Desde o fim da Guerra dos Cem Anos (1453), e a vitória contra
próprio, o patrimônio da Igreja. Entretanto, Sickingen sofreu pesada der- os Ingleses, incorporaram-se sucessivamente à Coroa os Estados feudais,
rota em sua expedição predatória contra Tréveros. A derrota atingiu toda por último Anju, Maiena e Provença. Conquistou-se a Borgonha, conse-
a classe da cavalaria. guiu-se a Bretanha mediante casamento.
Os camponeses estavam também descontentes, e não só na Alema- A grande potência moderna da França era um reino centralista, sob
nha. Então, na Inglaterra, os grandes proprietários tinham passado do sis- o governo de um soberano absoluto, de cuja vontade dependia tudo o que
tema de parceria ao regime de aforamento, e da lavoura à criação de acontecesse, também dentro da Igreja. O Parlamento não passava de seu
ovelhas. Considerava-se o chão como meio de aplicar capitais dos nego- tribunal. Já em 1438, depois de examinar os decretos do Concílio da Ba-
ciantes que se locupletavam no comércio. A pecuária exigia menor nú- siléia, uma reunião do Clero francês exigiu que o Rei aprovasse e pro-
mero de foreiros. Os antigos lavradores migravam para as cidades, e mulgasse suas decisões, a fim de que tal concessão as fizesse vigorar no
assalariavam-se nos serviços da nascente indústria têxtil. Reino.
24 Capitulo II
A crise nas vésperas da Reforma Protestante 25

Tendo mais tarde cedido na aparência, Luís XI recebeu do papa o cujo soberano era propriamente a Dieta. A recomposição do Império era
título de "Rex christianissimus", Rei cristianíssimo. A influência do Rei tida como tarefa que se impunha, mas nem Carlos V pôde fazê-la. Só
no provimento das dioceses e abadias era praticamente ilimitada. Legali-
no quadro da crise constitucional germânica é que se compreende a sin-
zou-se esta situação com a Concordata de 1516, pela qual o poder régio
dentro da Igreja quase não aumentou, mas se baseava na autoridade do gular atitude das Dietas e dos príncipes, quando prorrompeu a Reforma
Papa, e deixou de firmar-se num dispositivo da política interna francesa, Religiosa; só assim também são para entender as reais possibilidades da
como a Sanção Pragmática de Bourges. França, em sua pretensão à Coroa Imperial, os subornos quase cotidianos,
e a própria felonia de Maurício de Saxe.
Nos termos da Concordata, o Papa outorgou ao Rei o direito de no- No terreno político-religioso, a Alemanha não granjeara aquela as-
meação para todas as dioceses e abadias do Reino. Concordou, além disso,
cendência que na Inglaterra, França e Espanha, possibilitou a formação
em que todos os litígios, enquanto não referentes a bispos, deviam ser
tratados na própria França; que deviam eliminar-se todas as intervenções de uma eclesialidade nacional. Existiam, sem dúvida, tendências seme-
pontifícias em processos de provimento (expectativas, reservas, e t c ) . lhantes, mas que partiam individualmente de alguns príncipes e chefes
territoriais. Ocasionaram, em várias províncias do país, a concessão de
O Rei era, desde então, a "primeira pessoa eclesiástica no Reino", magnânimos privilégios por parte da Cúria Romana. Em virtude desses
e por isso de algum modo obrigado moralmente a instituir bons bispos. privilégios, ou também sem eles, os príncipes, a exemplo do país vizinho,
Nos séculos posteriores, a Real Mesa de Consciência por via de regra restringiam a jurisdição dos bispos, exerciam um direito pessoal de visita
apresentou para nomeação do Rei pessoas acatadas, enquanto sob Hen- canónica sôbrc clérigos e mosteiros de seu território, reivindicavam para
5
rique III o favoritismo real punha leigos à testa de dioceses e abadias. si a fiscalização administrativa do patrimônio eclesiástico, e das indul-
Apesar da Concordata, continuou a "anarquia nas instituições e nos cos- gências proclamadas em sua jurisdição territorial. Quando estas se ligavam
tumes" (Imbart de la Tour), que se caracterizava pela fragmentação da a coletas, a permissão ou proibição obedeciam exclusivamente ao ponto de
unidade em grupos e camarilhas, pela luta recíproca em torno de exces- vista financeiro. Já mencionamos como as cidades livres imitavam o
sivas liberdades. Os padroados sobre instituições eclesiásticas diluíam so- exemplo dos príncipes.
bretudo as dioceses, e o sistema de comendas arrasava toda a vida espe- O provimento das dioceses subtraía-se, por via de regra, ao poder
cífica das comunidades monásticas, de sorte que nelas não podiam vingar dos príncipes, com exceção de alguns bispados nacionais, ao norte e a
as auto-reformas. leste da Alemanha. O poder central, ao contrário do rei de França, não
Quanta não é a diferença, feita a comparação com o Império Ger- dispunha de nenhuma alçada canónica. Segundo a Concordata de Viena
mânico! Ali, no século XV, durante o longo e frouxo governo do impe- (1448), o provimento das dioceses fazia-se mediante eleição do Cabido,
rador Frederico III, medraram com desenvoltura a emancipação e o egoís- e subseqüente confirmação de Roma. Havia a restrição de certas reser-
mo do governos particulares. O Império era mais ou menos um agre- vações. Desta sorte, o Papa provia todos os cargos que vagassem por
gado de príncipes que por uma débil ligação se conservam unidos à Coroa morte na Cúria Romana ou em serviço pontifício, e também aqueles ofí-
Imperial. Malograram, pelo fim do século, todas as tentativas de se mobi- cios, cujo provimento fosse canonicamente inválido, e finalmente em caso
lizarem novamente as forças do Império. A começar pelo colegiado dos de eleição válida, quando um motivo razoável ou o Colégio Cardinalício
Príncipes Eleitores, Bertoldo de Henneberg, arcebispo de Mogúncia, que- sugerissem a designação de pessoa mais idônea.
ria reagrupar os príncipes germânicos mediante pacificação geral do país, Muito elástico, esse dispositivo provocou grande irritação. Na com-
sistema judiciário em comum (Supremo Tribunal Federal), e plano comum posição do eleitorado, a Cúria também assegurara para si certa influên-
de tributação para todo o país. cia, reservando o direito de prover pela metade os benefícios que vagas-
Não estando os príncipes dispostos a fazerem os sacrifícios necessá- sem nos cabidos. Determinava-se o provimento de acordo com a data
rios, o rei Maximiliano teve oportunidade de distorcer a reforma nacional da vacância, e falava-se então de "meses pontifícios". Além do mais, no
a seu talante, respectivamente de embargá-la em grande parte. O Regi- provimento de igrejas catedrais e de mosteiros masculinos, exigia-se uma
mento do Império dissolveu-se, e também já não vigorou nas negociações taxa correspondente de serviços, além das anatas em todos os cargos ecle-
de Carlos V com as Cortes. A divisão do Império em dez circunscrições, siásticos mais importantes. Esta regulamentação conservou-se básica para
determinada por Maximiliano, só teve importância na área militar, e tam-
as relações entre a Igreja e o Império até o ano de 1803. Não se chegou
bém unicamente nas circunscrições do Norte da Alemanha. Desta ma-
neira, no início da Reforma, um Imperador com forte poderio dinástico, à conclusão de uma concordata, como o desejava Bertoldo de Henne-
situado em grande parte fora do território imperial, defrontava-se com berg, príncipe-eleitor de Mogúncia.
uma Dieta composta de paladinos ciosos de interesses particularistas. Tal regulamentação, muito menos favorável em comparação com a
de outros países, tinha em parte muitos inconvenientes na vida prática.
Por ocasião das eleições imperiais de 1519, o príncipe-eleitor de Alguns Papas do Renascimento tentaram ampliar os direitos e tributos de
Mogúncia caracterizou o Império como uma aristocracia de príncipes, Roma. Ganância e empreguismo atraíam muitos clérigos a Roma, onde
N o v a H i s t ó r i a III — 3
26 Capítulo II A crise nas vésperas da Reforma Protestante 27

esperavam uma promoção especial na Cúria Romana. Todos estes fatos Quando o sacerdote podia na cidade aumentar seus rendimentos,
criaram na Alemanha forte indisposição, apaixonado afeto anti-romano trabalhando como amanuense, pintor, encadernador, ou médico, e na
e anticlerical, que se cristalizavam em inúmeras invectivas contra Roma, campanha como hortelão, pescador, mais freqüentemente como lavrador
enunciadas por dietas de príncipes e por sínodos diocesanos. a explorar pessoalmente as terras da paróquia, e se punha assim em es-
Além das que eram contra o sistema de provimentos eclesiásteios e treito contacto com o povo, ficava conhecendo suas necessidades, mas
as exações pecuniárias, havia também queixas contra as delongas proces- também não se conservava imune dos defeitos populares. Se mais de uma
suais decorrentes de apelação a Roma. Desde 1458, tinham grande influ- vez se faziam queixas contra as rivalidades de eclesiásticos, contra joga-
ência nas Dietas os "Agravos da Nação Germânica pelos danos causados tina entre eles, contra bebida excessiva, contra freqüência de tascas, é
à Igreja da Alemanha", sobretudo depois da redação que o humanista al- necessário enquadrar tais situações no mesmo nexo causal.
saciano Wimpfeling fizera em 1510 por incumbência do imperador Ma- A formação eclesiástica de tais sacerdotes era a mais simplista que
ximiliano. A boa centena de acusações dos "Gravamina" nunca foram se podia imaginar. A maior parte dos futuros clérigos adolescia na casa e
tomadas a sério pela Cúria Romana, que também não procurou resolvê- convivência de algum pároco, talvez no próprio lugar de origem, onde
las. Nas Dietas dos primórdios da Reforma, eram utilizadas como meios
aprendiam os rudimentos da língua latina, o rito da missa e da adminis-
de agitação. Sua apresentação fêz calar as exigências dos núncios apostó-
licos contra a intervenção do Império. tração dos Sacramentos. Deixavam-se arrebatar pela imagem ideal do sa>
cerdete, quando esta lhes fulgurava diante dos olhos, ou também se con-
tentavam com mediocridade e rotina mediana, quando as presenciavam
cotidianamente. O caminho para as escolas das catedrais e dos mosteiros
4. Clero e Episcopado só se franqueava a um número reduzido.
Nas cidades, as escolas de latim ensinavam as noções elementares
Os inúmeros sacerdotes nas cidades e os párocos rurais encontra- somente aos que se sujeitavam a cantar pelas ruas, a fim de ganharem
vam-se em situação econômica muito divergente. A par de alguns párocos o pão cotidiano.
com rendimentos quase principescos, havia grande número de paróquias Inicialmente, o curso universitário constituía uma exceção. Só depois
rurais, medianamente, quando não pessimamente dotadas, e as escassas do segundo quartel do século XV é que as universidades alcançaram
prebendas dos cooperadores e altaristas. Eram sobretudo os vigários de fre- maior freqüência. Era, porém, extremamente raro que nelas se estudasse
guesias incorporadas a mosteiros, que deviam em muitos lugares conten- teologia. Em Constança, a maior diocese da Alemanha, com 17.000 sacer-
tar-se com rendas bastante modestas. Este não era o caso apenas da zona dotes em cálculo redondo, verificou-se que, naqueles cinqüenta anos,
central da Alemanha. Mais da metade de todas as paróquias na Escócia 4.700 deles aproximadamente tinham freqüentado curso universitário. 7

estavam incorporadas a mosteiros, e seus vigários eram mal remunerados. Nas primeiras décadas do século XVI, quase metade do clero já teria
Consoante memorial apresentado em Trento, o bispo de Clermont freqüentado universidade. A situação era ali mais favorável, porquanto
demonstrou em 1546 que, das 800 paróquias de sua diocese, só 60 eram três Universidades se situavam dentro da área ou ficavam perto da divisa
efetivamente administradas por párocos; as demais eram-no por vigários, do bispado. Situação análoga consta também da Inglaterra.
que muitas vezes recebiam apenas dez ou doze florins como honorário, e A freqüência de universidade que se ligava, por via de regra, à posse
que em sua pobreza não dispunham sequer de meios para se defenderem de uma prebenda como base financeira, deixava forçosamente de ser fa-
contra tal injustiça. vorável à obrigação de residência para os párocos. Dispensas da obriga-
ção de residência, por causa de estudos acadêmicos, são na verdade hon-
Quanto à situação em Flandres, uma pesquisa moderna averiguou
roso testemunho da estima que a Igreja tem pelos estudos, mas de outro
que na época o sacerdócio representava uma ascensão social muito relati-
va; que o sacerdote recém-ordenado se consagraria a uma pobreza vitalí- lado manifestam pouca compreensão das exigências natas da cura de almas.
cia, ainda que tivesse no bolso a concessão de uma prebenda. Dispondo Multiplicavam a colocação de "vigários" (lugar-tenentes) que, na qualida-
de prebenda, devia normalmente inteirar com trabalho manual o que fal- de de "mercenários" propriamente ditos, mostravam pouco senso de res-
tava para a própria manutenção. E sem prebenda era obrigado a pedir ponsabilidade pelo rebanho a eles confiado, e pessoalmente tinham que
esmolas. levar uma vida sem nenhuma segurança material.
Por algarismos, não é fácü averiguar estatisticamente a observância
Os Sínodos até enumeravam positivamente os biscates que eram líci- do dever de residência. Falham todos os dados, ou pela diversificação
tos, tão evidente se antojava a pobreza do simples sacerdote. regional da terminologia relativa ao conceito de clérigo, ou pela falta de
Se, apesar disso, não minguavam as vocações sacerdotais, era porque dados comparativos, ou também por serem dados com valor exclusiva-
em muitos sacerdotes humildes devia estar vivo um idealismo que tinha mente local. Ainda assim, a situação do século XVI parece ter sido pior
o condão de empolgar os jovens. na França e no Reno, do que em Flandres e na diocese de Utreque.
A crise nas vésperas da Reforma Protestante 29
28 Capítulo II

exclusivamente, da condigna celebração das assembléias regimentais ou


A par de inúmeras defecções individuais no campo moral, faz parte
dos sufrágios pelos membros falecidos, essas inúmeras confrarias davam
dos abusos grassantes no clero, sobretudo, a ampla propalação do con-
também, em muitas prescrições específicas, as normas de uma vida sacer-
cubinato. Os termos de visita canónica falavam de um quarto (Países-
dotal bem ordenada, segundo os moldes das Ordens Religiosas, dos bene-
Baixos), ou até de um terço de todos os eclesiásticos (Baixo-Reno, 1569).
ditinos e premonstratenses. Uma ascese e piedade peculiar, talhada para
Em conta redonda, a quarta parte do clero figura no registro de censuras
o sacerdote diocesano, quase que não era por assim dizer formulada, nem
canónicas do Oficial do Tribunal Eclesiástico de Châlons. O mesmo mo-
exercida em parte alguma. Faltava no clero, sobretudo, o conceito de
tivo fêz com que, nas várias dioceses, dezenas de eclesiásticos fossem
obrigação para com a cura de almas.
denunciados ao bispo por zelosos vigários forâneos, ou que eles pró-
prios disso se acusassem. Dava êle sua tarefa por terminada com o Ofício e a Missa, com
O mal, porém, parecia inextinguível. Conseqüentemente, a ação dos a escrituração dos Livros Paroquiais, com o cadastro dos legados, com
tribunais diocesanos não era bastante rigorosa. Na maioria dos casos, os a administração da Igreja e de seu patrimônio; com a prédica, enquanto
delinqüentes eram relaxados para casa, com uma multa pecuniária. Quan- esta se não constituía na forma de legados especiais para pregação; com
do ainda se exigia o afastamento da concubina, a determinação não era a sacramentação dos moribundos, com os funerais, com a vigilância sobre
geralmente obedecida. Nas aldeias, o concubinato parecia quase inevitá- a execução de determinações do Direito Canónico na comunidade paro-
vel, cm parte também porque o pároco se dedicava à lavoura. Aos olhos quial. Ainda em 1549, escrevia Buccr, a propósito da Inglaterra de
de muitos leigos, a mancebia sacerdotal deixara de ser escândalo, e, na Eduardo VI, que o clero se entretinha apenas com suas cerimônias, pre-
9

opinião de muitos eclesiásticos, já tinha perdido o caráter de ato peca- gava muito raramente, e nunca fazia catequese.
minoso. Tão débil se tornara, nesse estado de vida, a dinâmica do fator O despertar do senso pastoral seria muito da hierarquia. Entretanto,
propriamente religioso, que é a consagração a Deus. não é isto exigir algo de impossível para esses homens à testa das dioceses,
pois que são quase todos oriundos da nobreza, criados na administração
O que escandalizava, quando muito, era a manobra de muitos páro-
e fruição dos benefícios capitulares, formados pelas Universidades, geral-
cos para deixarem a própria prebenda, como herança, aos filhos tidos
mente só em Direito Canónico, muitas vezes promovidos assaz jovens só
por concubinato. Dispensas para recepção de Ordens Sacras, a favor de
por interesses de família, atordoados com as dívidas do Cabido, envolvi-
filhos de sacerdotes, deviam ser pedidas em Roma, mas eram dadas com
dos em inúmeras querelas políticas. Além do mais, entre os mitrados se
freqüência. Neste particular, será tão difícil colher dados exatos, como
encontravam alguns notoriamente indignos e muitos outros sem bastante
também no que respeita à obrigação de residência canónica. Algarismos
compreensão da gravidade de seu ministério.
constantes em agendas e protocolos diocesanos certamente não cobrem
todos os casos conhecidos em ação judicial. Aos mais conhecidos representantes dessa categoria pertence o arce-
bispo de Magdeburgo Alberto de Magdeburgo, que, por razões mera-
De outro lado, muitos eclesiásticos de evidente vida exemplar só mente financeiras e dinásticas, se empenhou em alcançar também Mogún-
por acaso se tornaram conhecidos através de sua obra literária ou pela
cia, além de Halberstadt. Faziam-se longas demandas em torno de muitas
publicação de suas reminiscências. No âmbito da expressão germânica,
são dignos de menção, digamos, Ulrico Surgant ( + 1 5 0 6 ) , pároco de dioceses. Em Constança, o Papa está atrás de dois candidatos, contra o
Basiléia, benemérito na pregação e na orientação pastoral de seus cole- Imperador; em Flandres, o Papa e o Rei da França. Daí resultaram pelo
gas; Geiler de Kaisersberg ( + 1 5 2 0 ) , pregador da sé; ou o sacerdote sue- fim do século vacâncias que se protraíam por longos anos.
vo Henrique de Pflummern em Biberach (1475-1561), que em toda a Para outros, então, as dioceses eram trampolins de carreira, fases
vida nunca aceitou prebenda, a fim de melhor servir a Deus e aos doen- de continuada ascensão. Eles nunca puseram o pé em suas dioceses. O
tes no hospital. Era certamente notável o número de sacerdotes fiéis, Cardeal Hipólito d'Estc, arcebispo de Milão, nunca visitou seu bispado
bons e morigerados, que cumpriam silenciosamente seus deveres sem fa- em 30 anos de 1520 a 1550. Accolti, mais tarde cardeal ( + 1 5 3 2 ) , que
zerem nenhum alarde. redigiu o primeiro rascunho da bula "Exsurge" contra Lutero, começou
como bispo de Ancona, conseguiu sucessivamente, e também ao mesmo
Deve esta circunstância ser levada tanto mais em conta, se consi-
derarmos que tais sacerdotes eram, por assim dizer, "self-made-men", 8 tempo, o arcebispado de Ravena, os bispados de Cadiz, Cremona, Maille-
e não passaram pela formação religiosa e ascética de um seminário. Eram zais, e a administração de Arras; como Cardeal de Albano permutou por
10

incitados, mui raramente, só pelo bom exemplo de santos bispos; não eram Palestrina e depois por Sabina. Nunca em sua vida chegou a ver
desviados do erro pela austeridade do Vigário Geral e da visita canónica; Cadiz ou Arras.
quase não se sentiam confortados pelo exemplo dos confrades do mesmo Outros bispos recebiam suas dioceses como galardão de seus serviços
lugar. áulicos, não só na Cúria Romana, mas também junto ao Imperador, bem
Acontecia, talvez, que alguns, animados de iguais sentimentos, se como junto ao Rei da França e da Inglaterra. Dos 15 bispos da Inglaterra
unissem num sodalício sacerdotal. Quando não se restringiam a cuidar, no ano de 1517, dez tinham estado a serviço do Rei. Continuavam a ser
30 Capítulo II A crise nas vésperas da Reforma Protestante 31

aproveitados em missões diplomáticas por toda a Europa. Naturalmente, Contra o apoio recebido de vários bispos, muitos mosteiros tentaram
não lhes era possível observar o dever de residência canónica. fugir à coação da reforma, transformando-se com licença de Roma em
Se desde muitos séculos a Inglaterra soube livrar-se de interven- colegiadas de cónegos seculares. Visitas canónicas, que não raro eram
ção papal no provimento de cargos e dignidades, sempre teve que conhe- feitas pelo príncipe territorial, encontravam franca oposição em alguns lu-
cer, por própria deficiência, cumulações de ofícios e encomendas. Wolsey, gares. A reforma tinha por efeito ocupar os mosteiros com maior número
lorde-chanceler, proveu-se a si mesmo com várias dioceses e abadias. Dos de membros, o que por sua vez motivava novas e vastas obras de constru-
15 bispos, só três eram teólogos. O mais conhecido entre eles era John ção. Novo impulso tomaram também as atividades culturais, em menor
Fisher, bispo de Rochester. Os outros tinham maiores conhecimentos no escala as atividades propriamente científicas. Mas a febre de construções,
"Ius civile" do que no "Ius Canonicum". a preocupação de autonomia com relação aos príncipes, e a mesquinha
crítica contra a observância de outros ramos de reforma, impediram que
Assim, era lógico que os bispos da época quase já não tivessem
os bons impulsos iniciais lograssem pleno e frutuoso desenvolvimento.
noção alguma do teor teológico, do caráter sacramental de sua dignida-
Assim, por volta de 1500, estacou a renovação que se processava na
dade, e de suas obrigações episcopais. Muito frouxa era sua união orgâ-
Ordem Beneditina dentro da Alemanha. Enquanto as abadias germâni-
nica com o Papa. Sentiam-se tão-sòmente magistrados e administradores;
cas relativamente ricas, em boa parte independentes de qualquer jurisdi-
já não se tinham como doutrinadores de suas dioceses, nem como primei-
ção dos príncipes, gozavam ainda de ampla isenção, estavam as abadias
ros responsáveis na cura de almas. Por isso mesmo, a exemplo da Cúria
da Escócia sob a dominação de abades leigos comendaticios, nomeados
Romana e das Cortes Reais, construíam uma vasta chancelaria, deixavam
pelo rei. Os mosteiros beneditinos da Inglaterra, em número inferior aos
a encargo do Vigário Geral o trato pessoal com os sacerdotes, e ao de
mosteiros dos cónegos agostinhos, não eram geralmente bem aquinhoados
um bispo auxiliar, tomado geralmente das Ordens Mendicantes, as fun-
de patrimônio, e ficavam sob a feitoria de algum fidalgo rural, pelo me-
ções pontificais.
nos os pequenos priorados.
Não obstante, havia justamente na terra natal da Reforma honrosas A maior parte dos mosteiros não gozava de isenção, estava por con-
exceções no episcopado, por sinal que não poucas. Poderiam ser citados seguinte sob a jurisdição dos bispos. Nas visitas canónicas, efetuadas
aqui os bispos de Augsburgo, Constança, Estrasburgo, Eichstactt, c outros pelos bispos, há queixas freqüentes contra o descaso do ofício coral e da
mais. Alguns deles puseram-se de novo a pregar ao povo, o que se con-
vida comum. Em número mais restrito de mosteiros, apontavam-se^ escân-
siderava quase como milagre. Todos, porém, envidavam esforços para
melhorar a situação por meio de sínodos e regulamentações. Toda a se- dalos e verdadeiras desordens. No mais, os mosteiros do país, cerca de
gunda metade do século XV está repleta de experiências reformatórias e oitocentos, viviam em nível medíocre sob o ponto de vista religioso.
de sínodos de restauração. A par dos velhos mosteiros, baseados nas Regras de São Bento e
Santo Agostinho, existiam numerosos conventos das Ordens Mendicantes,
Estas tendências não conseguiam vingar, porque bispos e vigários que por via de regra viviam, praticamente, em simbiose com as cidades.
gerais trabalhavam de modo muito jurídico e pouco sacerdotal; porque Na Alemanha, havia pequenas cidades livres que contavam, dentro de
não coordenavam seus esforços; porque não tinham nos Cabidos auxilia- seus muros, conventos masculinos das quatro Ordens Mendicantes, além
res e colaboradores; sobretudo, porque se não realizava também a "re- de muitos conventos femininos e comunidades de mulheres da Ordem
formatio in capite", a reforma da Cúria Romana; porque eles continua- Terceira. Na Inglaterra, metade dos 177 conventos de mendicantes situa-
vam a prender-se ao sistema e à política das prebendas. No volume pre- va-se em Midlands c a Leste.
cedente desta obra, fala-se das condições reinantes na Cúria Romana ao A situação interna desses conventos caracterizava-se por uma contí-
tempo dos Papas do Renascimento. nua alternação de decadência e movimentos de reforma. Na Alemanha,
constam bastantes denúncias e queixas, de norte a sul, contra verdadeiros
abusos e desmandos, muito embora se tenham de reduzir a justas medi-
5. Os Mosteiros das as alegações de muitos príncipes e cidades que exageravam no intuito
de encarecer seus próprios direitos. Atingem, por igual, conventos mas-
Uma palavra, ainda, a propósito dos mosteiros. Aqui também o qua- culinos e femininos. Aqui não nos deteremos, tampouco, em casos con-
dro é semelhante. Entre os beneditinos, as tendências de reforma nascem cretos das piores infrações e excessos, que deviam com razão provocar
da pujança religiosa da própria Ordem. Disciplinados em Subiaco, acoro- grave escândalo. Ainda que não constituíssem exceções muito raras, não
çoados pelo exemplo de núcleos reformatorios na Itália e na Espanha, eram contudo freqüentes. A crítica generalizou-se, e distorceu-lhes a
desenvolveram-se centros próprios de reforma, em Melk na Áustria, em gravidade.
Kastl no Palatinado Superior, em Bursfeld no Vcscr, que conseguiram No plano geral, mais nociva e mais generalizada era a decomposição
bons resultados em vasta escala. de certas bases vitais do estado religioso: abolição da clausura sob a
32 Capitulo II A crise nas vésperas da Reforma Protestante 33

alegação dos mais variados pretextos, desaparecimento da vida em co- em sua terra, e tentou fazê-lo também no Sul. Após sua morte, Staupitz
munidade, mudança para a propriedade individual, ainda que isto não as- prosseguiu diligentemente com a reforma; mas, nesta altura, houve tam-
sumisse grandes proporções. Conservava-se a herança paterna em terras, bém cisões dentro da Ordem. Recusavam os observantes submeter-se a
dispunha-se de rendimentos, fazia-se testamento, e legava-se a própria um provincial não reformado. Foi nesta questão que Lutero também fêz
cela. Aspirava-se a viver como os sacerdotes seculares, e participava-se sua viagem até Roma. O Geral apoiava vigorosamente o movimento da
da ambição burguesa de uma vida materialmente segura. No rumo ordiná- Reforma. Gil de Viterbo (Geral 1506-1518), que em seu discurso de
rio da vida religiosa, manifestavam-se, como conseqüência, mediocridade abertura para o V Concílio de Latrão em 1511 anunciara o programa de
espiritual, menoscabo e abandono dos estudos, sibaritismo e indolência, o uma reforma de dentro para fora ("homines per sacra immutari fas est,
que os humanistas muitas vezes indigitavam com razão, e com exagero lan- non sacra per homines"), defendia também na Ordem uma reforma no
çaram ao pelourinho. verdadeiro sentido da palavra, que não procurasse algo de novo e revo-
O povo irritava-se, sobretudo, com as coletas feitas regularmente em lucionário, mas a restauração da forma antiga. Nesse ponto, combinava
demarcadas áreas de peditório; além disso, com a vergonhosa concorrên- êle, por princípio, com idéias do Renascimento, a que se^ ligavam por
cia entre párocos e religiosos por causa de pregação e confissão, de fu- fortes interesses científicos, principalmente no campo da Bíblia. Faltava-
nerais, vigílias litúrgicas, e estações das têmporas, principalmente porque lhe, todavia, como a outros orientadores do Movimento da Reforma nas
em tais litígios muitas vezes só se tratava de coletas e oblações, que eram várias Ordens, a lembrança de procurar nos Papas um apoio constante
para o pároco realmente indispensáveis. e sistemático. De outro lado, os opostos interesses dos chefes territoriais
A par de tudo isso, havia também muita compenetração religiosa. e das cidades não permitiam uma unidade de ação.
Em todas as Ordens, observavam-se fortes arrancos de reforma, que No fim da Idade Média, eram escassas as novas fundações de Or-
abrangiam por vezes a maior parte dos conventos. Estes movimentos ten- dens, e estas não se revestiam de maior importância. Relativamente, a mais
diam a restaurar o antigo teor de vida, a exata observância da Regra. importante era a Fraternidade dos Irmãos da Vida Comum, os assim cha-
Sem embargo, a renovação não pôde desenvolver-se cabalmente, nem se- mados Irmãos Cogulados ou Colaços (Fraterherren), que de Utreque e
quer nos dominicanos, entre os quais, tendo a Itália como ponto de par- Deventer tomaram impulso pelo século XIV. adentro. Esta comunidade
tida, se processava em primeiro lugar e com a máxima segurança de de leigos que queriam viver, sem votos formais, à guisa de religiosos,
orientação. Verdade é que Caetano, mestre geral, fêz por incutir à sua tornou-se benemérita principalmente pela educação da juventude, pela
Ordem a convicção de que todos "se encontram em estado de danação,
formação de clérigos, e pela promoção de um nobre humanismo cristão.
se não tiverem a sincera vontade de colocar tudo o que possuem aos pés
dos superiores". Instituiu de novo um lente para cada casa, declarando Erasmo e Wimpfeling (este através de seu mestre Dringenberg) forma-
que a Ordem estaria perdida, "se não nos tornamos recomendáveis pela ram-se em suas escolas. Era-lhes cousa de família a "devotio moderna",
nossa capacidade teológica". " Em 1515, conseguiu ainda fundar nos aquela piedade cálida, de feição um tanto passiva, que punha o_elemento
Países Baixos uma província observante como "Germânia Inferior", à qual essencial numa imitação interiorizada e pessoal de Cristo, e não levava
se incorporaram também os conventos flamengos. Mas dos dez conven- bastante em conta o papel da Igreja na ordem da graça.
tos não observantes da Teutônia, que em 1520 se contrapunham a trinta O convento de 'Windesheim, perto de Zwolle, que nasceu de um
e nove anos observantes, faziam parte as importantíssimas casas de Es- grupo de tais devotos, tornou-se em pouco tempo o centro de ampla
trasburgo, Zurique, e Augsburgo. reforma dos conventos dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho. A
Congregação estendeu-se até a região de Magdeburgo, ramificou-se para
O movimento franciscano de Observância, originário da França, pas- o Sul até a Suíça. O grupo dos Irmãos da Vida Comum propriamente
sou para a Alemanha com o apoio de príncipes c suas esposas, e, não ditos dirigiram suas escolas nos Países Baixos e na Alemanha Setentrio-
sem violenta oposição, conquistou ali convento por convento, fundando nal, sem quebra de continuidade até a Reforma, com o máximo prestígio
até uma província observante com capítulo autônomo, que teve no exí- em toda a parte, de sorte que o Conselho Municipal de Rostock lhes
mio teólogo Gaspar Schatzgeyer ( + 1 5 2 7 ) um zeloso organizador c pos- pediu, ainda em 1534, mantivessem suas escolas, ainda que ninguém da
teriormente provincial. comunidade se bandeasse para a Reforma.
Em 1517 permitiu Leão X a constituição de duas Ordens autôno- Se de fato, e até que ponto, pela austeridade de vida, pelo cultivo
mas, a dos Observantes e a dos Conventuais. Em detrimento da boa da leitura bíblica e meditação, pela aproximação aos místicos (e por eles
causa, elas procuravam de vez em quando desmoralizar-se mutuamente. também a Santo Agostinho), sua peculiaridade tenha promovido a rápida
Entre os Eremitas de Santo Agostinho, aos quais Lutero pertencia, difusão da piedade calvinista, e mais tarde, sobretudo da piedade janse-
o saxônio André Proles ( + 1 5 0 3 ) obteve a fusão dos conventos obser- nista nos Países Baixos, é assunto que ainda não sc revelou com evi-
vantes sob a obediência de um vigário geral. Depois de constituído Vigário dência.
Geral, êle introduziu brutalmente, com o auxilio do poder civil, a reforma
34 Capitulo II A crise nas vésperas da Reforma Protestante 35

6. Piedade Leiga vontade, com um coração cheio de amor ao próximo, sobretudo na co-
nexão mais íntima possível entre crença e índole étnica.
Naquela época, parece que também os leigos cultivavam uma pieda- Qual potencialidade religiosa pode haver em confrarias de leigos, te-
de que quase se não prendia a princípios objetivos. Não como se não mo-la talvez exemplificada pelo Oratório do Amor Divino na Itália, ao
tomassem parte fervorosa no culto litúrgico da Igreja, na Missa e no dealbar do século XVI. Representa, de certo, a última demão daquelas
Ofício Divino, nas pregações e vigílias, nos Sacramentos (ainda que raras confrarias que surgiram por si mesmas, em vista da insuficiente assistên-
vezes). Em geral, porém, esta obrigação já não bastava. cia pastoral e da apatia da Igreja oficial. Acrescente-se a isto a difusão
Uma apavorante inquietação religiosa invadia o povo germânico. universal dos livros religiosos. Boa metade de todos os livros editados
"Todos queriam demandar o céu", escrevia um cronista de Augsburgo no desde a invenção da arte tipográfica versava assuntos religiosos. Metade
século XV, 12
e procuravam com todos os recursos garantir a própria destes, por sua vez, destinava-se à instrução religiosa, à piedade e à edifi-
13
salvação. Assim como aumentavam o número de altares nas igrejas, da cação, com texto em língua vulgar. Nesta, aliás, não faltavam tra-
mesma maneira acumulavam legados sobre legados, indulgências sobre duções da Bíblia, pelo menos na Alemanha e na França.
indulgências. Por mais que os grandes pregadores advertissem em con- Integravam, não por último, esta faceta luminosa Beatos e Santos,
trário, pessoas mal-avisadas obstinavam-se em crer que por próprio es- a começar do simples camponês e pai de família no cantão suíço de
forço conseguiriam atrair a graça de Deus. A isto se aliavam um cálculo Unterwalden, Nicolau de Flue ( + 1487), místico apóstolo da paz em seu
quase mercantil, uma exploração econômica da piedade por outros ele- país, até a despenseira da rainha Catarina da Inglaterra, Margarida Pole,
mentos, pelo príncipe territorial (em Hala, ou em Vitemberga), por al- mãe do cardeal, decapitada ainda aos setenta anos de idade (1571).
gum facundo esmoler e mercador de indulgências.
Acentuavam-se na vida religiosa deslocamentos de gravitação. Em
7. Humanismo
toda parte, a gente buscava padroeiros contra todos os males possíveis,
queria provas palpáveis em cousas sacras (relíquias) das igrejas, que en-
tão eram postas em veneração e solene exposição. Da piedade, orientada Toda a tensão da época se manifestava, outrossim, pela nova menta-
pela teologia, fugiu o povo para elementos de sensação; nos santuários lidade de um escol marcado pelo sinal do humanismo. Graças a ligações
de romagem, queria ver o milagre, queria quase apalpá-lo com as mãos, pessoais, a amplas trocas de correspondência, a viagens longínquas, à arte
e para esse fim não recuava diante de nenhum sacrifício. tipográfica, e a atividades editoriais, inspiradas por fortes tendências
ideológicas, o pensamento dos humanistas propalou-se de modo rápido e
Desde os tempos das Cruzadas, nunca se movimentaram maiores universal. Na verdade, disso foram condições preliminares o espírito are-
multidões de fiéis do que nos últimos decênios do fim da Idade Média, jado nas cortes dos príncipes italianos, o grande número de universidades
quando elas peregrinavam para Santiago, Saint-Michel, Saint-Gilles, do século XV, e a formação de uma camada de ricas famílias burguesas,
Einsiedeln, Aix-La-Chapelle, Tréveros, Jerusalém, Roma e Wilsnack. Não
que determinavam a sorte das cidades.
obstante a interdição do legado pontifício Nicolau de Cusa (1451), ex-
punham-se hóstias sangrentas em Wilsnack na Marca de Brandemburgo. Antes de 1500, mais ou menos, o humanismo era apenas forma de
Isto durou até serem queimadas no tempo da Reforma. Quando pregado- vida de alguns eruditos, tomados individualmente, ou de algumas rodas
res exaltados conseguiam, ainda por cima, despertar os instintos subja- exclusivistas que, com Petrarca, se conscientizavam de algum modo de sua
centes das massas, podia suceder que a descrição de profanações de dignidade humana individual, cujo desenvolvimento pessoal consideravam
hóstias e imolações rituais terminasse de repente num "pogrome" contra como a tarefa mais importante de sua vida. Para formar o homem em
os judeus. sua plenitude, usavam-se critérios que lembravam, acentuadamente, o
modo de viver de muitas Ordens Religiosas.
Completam este quadro lúgubre, muitas superstições, relativas até Quando, porém, humanistas, em sua maioria leigos oriundos de fa-
às cousas mais santas, não suficientemente debeladas pelos pregadores; mílias economicamente emancipadas, gostavam de retrair-se do mundo,
mania de aparições, bruxedos, divinações. como os cartuxos, para levarem algures em suas casas de campo ou em
Existia, entretanto, um aspecto luminoso: as muitas obras de arte tranqüilos gabinetes de estudos, com alguns seletos amigos, uma vida
religiosa, oriundas de uma piedade mais arraigada, o empenho pela pom- dedicada à ciência e à sociabilidade: isto nada tinha que ver com renún-
pa e formosura do culto divino; a florescência das confrarias que se cia religiosa ao mundo, mas tinha por único objetivo a salvaguarda da
constituíam de todas as classes sociais; as inúmeras instituições de cari- própria liberdade.
dade, pelas quais se realizava na prática o que quer toda a legislação A ascese procurava apenas formar o ideal da personalidade: a filo-
social de nossos dias, por certo numa organização menos perfeita e menos sofia, a conformação da própria natureza. Não se tinham em grande mon-
definida, mas em compensação totalmente movida por livre e espontânea ta os problemas metafísicos e teológicos. O ideal monástico dos conselhos
36 Capitulo II
A crise nas vésperas da Reforma Protestante 37

evangélicos não correspondia ao que se esperava do cristianismo. Não era,


com o paganismo, dc sorte que o papa Paulo II a extinguiu cm 1468.
para eles, nenhuma escola de servir a Deus, nenhuma imitação de Cristo
Depois de relaxados da prisão, seus integrantes desforraram-se, com suas
no espírito de renúncia a si mesmo. A seu ver, cristianismo era uma dou-
penas ferinas, contra o "bárbaro" que ocupava a Sé Apostólica. Além da
trina, uma filosofia prática para um teor de vida segundo a razão.
Academia Romana, prosperava outra similar em Florença, sob o patro-
A esta atitude pragmática e individualista, juntava-se uma estranha
cínio dos Medici, que deliberadamente divorciava a filosofia do conexo
acentuação do elemento formal. Aspirava-se a uma totalidade do saber
com a teologia, c motivava sua visão do mundo na doutrina dos antigos
em torno de Deus e do homem, e julgava-se possível alcançá-lo. antes de
filósofos pagãos. Platão, sobretudo, e os Estóicos gozavam de culto quase
mais nada, pelo estudo da retórica. Em conexão com os Concílios Unio-
religioso. Julgava-se possível contornar francos atritos com a Igreja, re-
nistas do século XV, e com a tomada de Constantinopla pelos Turcos,
correndo à teoria da dupla verdade, segundo a qual, por exemplo, a
pensadores gregos emigraram em grande escala para a Itália. Aos ociden-
imortalidade da alma, o livre alvedrio, e a realidade do milagre deviam
tais, tomados de surpresa, abriram-lhes, por assim dizer, uma nova di-
ser negados por parte da razão, e asseverados por parte da fé religiosa. O
mensão de espírito: o mundo da filosofia platônica e o mundo dos Padres
V Concílio de Latrão em 1513 condenou, expressamente, essa doutrina.
Gregos, em cujos escritos se julgava descobrir a verdadeira essência do
O humanismo não transpôs os Alpes nessa forma decididamente
homem e das tarefas humanas. Deturpada pelo nominalismo, a escolás-
pagã, ainda que muitos estudantes germânicos tivessem também entrado
tica já não pode, com seus sofismas e intermináveis distinções, manter
cm contacto com tais doutrinas céticas da Itália. Nas Universidades de
sua posição contra a espontaneidade dessas novas fontes.
Pádua c Bolonha, onde o humanismo se radicara de modo peculiar, cur-
Aprendiam-se então as línguas antigas, para formar o estilo nas
saram Conrado Peutinger, político da cidade Augsburgo, e Vilibaldo Pirck-
obras dos clássicos, e também para ler a Bíblia e os Padres da Igreja
heimer, posteriormente vereador municipal de Nuremberga. Quando, po-
no texto original, e penetrar mais a fundo no espírito dos Padres. A
rém, Peutinger veio a conhecer Pompônio Leto, antigo fanático da Repú-
escolástica caiu em menoscabo, seus adeptos eram combatidos, sobretudo
blica Romana c pontífice máximo da Academia Romana, este já era um
os teólogos de Ordens Religiosas, na medida que eles, individualmente, não
homem moderado, à beira da velhice, muito estimado por vários cardeais.
aderiam ao novo espírito. Daí resultaram materialismo todo singular,
Sua influência era contrabalançada pela de outros mestres humanistas
que abstraía praticamente do sobrenatural, indiferença para com a teolo-
mais cordatos.
gia c a Igreja, dissolução do cristianismo em filosofia moral, e desta (mais
Mas, dc seus estudos na Itália, esses jovens levavam para suas cida-
ainda das "bonae litterae") se aguardava um efeito moralizante e rege-
des natais um espírito de crítica contra Roma, dc inspiração humanista,
nerador.
uma espécie de mentalidade republicana que, no âmbito teológico, pu-
Conscientes de seu contraste com a situação e tradição da época,
nha a autoridade do Concílio Ecumênico acima da autoridade do Sumo
os humanistas julgavam-se chamados a estabelecer, ao sabor dc suas
Pontífice. Eles consideravam, segundo o molde clássico, a cidade natal
idéias, programas positivamente novos para a restauração do cristianismo,
como república perfeita, garantidora da paz. Compreende-se, portanto,
ou então a destruir impiedosamente o adversário.
que desse ponto de vista não sentissem nenhuma inibição em integrar a
As forjadas "Cartas de obscurantistas" (Epistulae obscurorum viro-
Igreja, como instituição pedagógica, totalmente na estrutura da cidade.
rum; em alemão, "Dunkelmánnerbriefe") constituem por certo um dos
Com tais doutrinas, esses humanistas de cidades livres cultivavam pro-
mais abomináveis processos de liquidar moralmente um adversário. Nelas,
palados interesses científicos.
humanistas radicais enxovalharam teólogos e religiosos com suspeições
contra a moralidade, com escárnios e ironias, quando na questão de Peutinger teve acesso a círculos chegados ao imperador Maximiliano.
Reuchlin se discutia sobre a necessidade de destruir ou todos os escritos Com sentimentos patrióticos, semelhantes aos de Wimpfcling, humanista
judaicos ou apenas os panfletos contra o cristianismo. alsaciano, interessava-se pelos imperadores da Idade Média, e nesse es-
tudo recorria até à iconografia e à numismática. O nuremberguense Pirck-
Na Itália, seu país dc origem, o humanismo, com sua crítica a tudo heimer, por seu lado, era verdadeiro polígrafo, cujas atividades se esten-
o que é tradicional, induziu muitos de seus adeptos ao ceticismo e ao diam desde a astronomia até a tradução da literatura clássica e patrística.
abandono da fé revelada. Em lugar de fazê-lo nas fontes de Revelação,
O escopo que procurava atingir no sistema escolar de Nuremberga, por
os humanistas buscavam nos clássicos pagãos luzes sobre problemas dc
religião c vivência humana; trocavam, total ou parcialmente, a visão cris- êle favorecido de modo competente, era a "eruditio Christiana", que êle
tã da vida pela visão pagã. plasmou acentuadamente no tipo do homem clássico, conforme se lhe de-
parava cm Plutarco.
Em todo o caso, não tinham propensão de aceitar diretivas da auto- Homens, como eles, mostraram-se, inicialmente, bastante sensíveis à
ridade eclesiástica. Aquela Academia Romana, que o humanista Pompô- novidade da Reforma, e foram os primeiros entusiásticos seguidores de
nio Leto fundara por volta dc 1460, não só tinha usurpado nomes c títulos
pagãos, mas também identificado, de modo muito forte, sua mentalidade Lutero. Quando, porém, de novo se desviaram, por sua causa do rumo
totalmente não humanista da Reforma, desistiram de um retorno decisivo
38 Capítulo II A crise nas vésperas da Reforma Protestante 39

à doutrina católica. O velho Peutingcr retirou-se, mais ou menos, da vida dade de conquistar e conservar amigos, e com uma eminente e genial
pública. erudição, isto lhe angariava a situação de liderança para uma época, em
Outro elemento importado da Itália era o crítico manejo filológico que a Igreja não dispunha, em sua hierarquia, de fortes personalidades
dos textos, não só dos clássicos antigos, mas também dos Santos Padres dirigentes.
e até dos textos da Sagrada Escritura. Desta forma, o humanismo foi Aos olhos de Erasmo, o ideal da vida estava no cristão culto, não
ao encontro de um homem que se tornaria seu mais preclaro represen- simplesmente no cristão piedoso. Tinha por fim esboçá-lo "Handbüchlein
tante, do neerlandês Desidério Erasmo (1469-1536) contemporâneo de des christlichen Streiters" (Manual do militante cristão), o "Enchiridion",
Peutinger e Pirckheimer. editado em Lovaina em 1504, e reeditado em 1518, com novo prefácio.
O interesse existencial pela Bíblia que empolgou Erasmo, filho de Para o autor, a obra era uma "ars pietatis", manual de piedade. Entanto,
padre, tem talvez sua origem primeira na formação recebida em Deventer. mister se faz distinguir entre as intenções que Erasmo se propunha com
A vida social de Erasmo, porém, tomou um rumo singular. Monge agos- essa obra, e os efeitos que ela realmente provocava.
tiniano, que não demora em largar o hábito religioso e somente vinte e
quatro anos mais tarde requer a respectiva dispensa pontifícia; sacerdote Há um vinco platônico através de toda a doutrina de Erasmo sobre
que não exerce seu sacerdócio, mas que uma geração mais tarde pede a piedade. O homem e o cosmos, por sua natureza intrínseca, tendem
14
autorização para aceitar benefício : êle não parece ter realmente passar de sua fenomenologia para seu aspecto invisível. O visível repre-
vocação para ser guia espiritual da cristandade, conforme Erasmo poste- senta o invisível e toma-lhe o lugar; acima de si, porém, aponta para o
riormente o julgava, a respeito de si mesmo. espiritual. Se Erasmo atolou no platonismo; se em seu íntimo chegou a
Cristo não só como mestre e modelo, mas também a Cristo como chefe
Não foi na Itália que Erasmo conheceu o humanismo. Conheceu, na
de todos os remidos (Auer), é uma questão que passou por várias inter-
Universidade de Paris, a rigorosa crítica contra a escolástica e seu sistema
pretações. Em todo o caso, o "Enchiridion" também ostenta um aspecto
especulativo. Disso teve uma complementação positiva, na viagem que
muito crítico, quase que se diria polêmico. Sem se preocupar sobre o
lhe foi dado fazer para a Inglaterra, aos trinta anos de idade. De muitos
que são os sacramentos, nem sobre até que ponto a hierarquia eclesiás-
encontros, tornou-se decisivo para êle o que teve com John Colet, da
tica é de instituição divina, Erasmo investia contra o erro, segundo êle,
mesma idade. Professava Colet o Novo Testamento em Oxônia. Quando
muito espalhado, de deslocar a religião para as cerimônias, e de observar
de suas viagens ao Sul, assimilara o humanismo cristão com seu amor
a lei ao pé da letra como os judeus, e de descurar a piedade propria-
aos escritos da Bíblia, bem como o manejo crítico dos textos bíblicos.
mente dita. Perdem os sacramentos sua razão de ser, quando falha a
Sob a direção espiritual e intelectual de Colet estava também naquela
atuação individual. A atuação do homem, enquanto peregrina do mundo
época o jovem Tomás More, com quem Erasmo estreitou amizade até o
visível ao invisível, consiste na prática das virtudes de Cristo. A arma
fim da vida.
principal do militante cristão não são os sacramentos, nem sequer a rea-
Junto a Colet, que concordava com êle na crítica contra a escolástica lidade da Igreja, mas a Sagrada Escritura. Quem a estuda diariamente
e na franca reprovação de muitos abusos da piedade popular, começou em leitura particular; quem nela encontra Cristo, quer dizer, sua doutrina;
Erasmo a compreender a importância dos idiomas bíblicos. Nisso desco- quem rompe através da variegada roupagem de imagens e narrações até
briu o Neerlandês a tarefa de sua vida: ocupar-se, de modo erudito e atingir o mistério invisível sente de qualquer modo uma mudança em
reverente, com o texto do Novo Testamento. Ainda assim Erasmo con- seu interior, sobretudo quando busca a virtude de Cristo na aplicação
tinua ambíguo. A outra metade de seu ser, nutrida por escusos comple- cotidiana da vontade; para tal pessoa, os sacramentos e a observância
xos, devotava-se à crítica, sim, à sátira c ao escárnio contra o mona- de muitos ritos e tradições já não assumem a mesma significação como
quismo, a teologia escolástica, os ofícios eclesiásticos, a Cúria Romana, para os adeptos da piedade popular; essa pessoa já não precisa do sacer-
em geral, sem que Erasmo, como teólogo, se decidisse a tirar disso as dote na mesma proporção, e para cia perdem seu valor os estados hierár-
últimas conseqüências, ou a cortar as relações de amizade com a mesma quicos da Igreja, o laicato, o sacerdócio, e o monaquismo, que já não
Cúria Romana. são graus de uma piedade mais interiorizada, mas se reduzem apenas a
O caráter bífido e contraditório de suas cartas e declarações dá a en- vários modos de vida, úteis ou inúteis para o indivíduo, de acordo com
tender uma típica indecisão e falta de clareza. Erasmo não era sistemá- a compleição somática ou psíquica. 15
Assim, pois, sacramentos, sa-
tico, era homem a seu modo, quer dizer, uma personalidade de cunho cerdócio, e ofícios eclesiásticos perdem seu valor absoluto. O que bispos
individualista que, levada por acentuada consciência de si mesma, sem- e papas, na opinião de Erasmo, devem propriamente fazer na Igreja é
pre de novo "sentia" determinada situação, e por isso falava e escrevia servir de modelos para o povo no caminho da perfeição cristã. Então,
em conseqüência.
os bispos se acham em posição mais elevada, quando imitam Cristo não
Que um homem aliás tímido, ressabiado e melindroso, soubesse só no ministério, mas também na vida e nos costumes. O que eles devem
ligar uma clara consciência de sua missão com uma excepcional habili-
i4 crise nas vésperas da Reforma Protestante 41
40 Capitulo II

"filosofia de Cristo", que não seria apanágio exclusivo dos eruditos. "Cada
exemplificar não é a "virtü" dos humanistas italianos, é a virtude de
qual tem licença de ser cristão. Cada qual pode ser piedoso. Sim, com
Cristo. 17
certa audácia o digo, cada qual pode ser teólogo". Quando os cris-
Nesse ponto, as idéias da Escola de Deventer, integrada no mundo
espiritual da "Imitatio Christi" ("Imitação de Cristo"), podem ter influí- tãos concretizarem a doutrina de Cristo não só em teorias e cerimônias,
do em Erasmo com efeito retardado. Erasmo, naturalmente, era um mas também no coração e em toda a sua vida, isto assinala o advento
aristocrata do espírito, consciente de que seu ideal só ficava ao alcance da idade de Deus, a regeneração propriamente dita, a restauração do
de poucos. A grande massa do povo não ia além da religiosidade da cristianismo em a natureza humana.
Igreja visível. Os fracos é que precisavam de preceitos e tradições, de Para se defender dos ataques de Eck, Erasmo obteve em 1518 a
sacramentos visíveis, e de organização exterior da Igreja. Escapava à aprovação pontifícia que pedira para sua obra. Depois do "Instrumen-
compreensão de Erasmo o papel universal da Eucaristia. tum" fêz seguir as edições dos Santos Padres, a começar de Jerônimo,
Em 1506, Erasmo viajou para a Itália, onde se doutorou em teo- a quem admirava como o mais erudito dos Padres da Igreja. Com sua
logia. Em Bolonha e Pádua encontrou os famosos helenistas da época. tradução da Bíblia, não era a Jerônimo que êle quis corrigir, mas em
Então, na própria fonte, viveu o humanismo italiano, sobretudo na sua opinião os muitos erros dos copistas do Eremita de Belém.
feição crítico-histórica e filológica dc Valia. Pelo molde das Apostilas Enquanto nos anos seguintes era sobrepujado por Lutero na Alema-
para o Novo Testamento ("Collatio Novi Testamenti") de Valia, pôs-se nha, e sua posição se enfraquecia por causa de sua indecisão logo no
a colher material para a sua própria edição crítica. Humanista, foi tam- começo da Reforma, Erasmo conservou-se até 1525 como incontestado
bém a Roma, visitou os lugares sagrados, e sentiu-se extraordinariamente espírito orientador na Espanha. Suas idéias foram quase que fanatica-
bem na Cúria Pontifícia. mente aceitas por todos os grupos locais dos amantes de uma renovação
Sem embargo, quando em 1509 retornou para a Inglaterra, escreveu intelectual e religiosa. Com o malogro da Guerra Civil Espanhola contra
ali, em casa de Tomás More, o "Louvor da estupidez", "Encomium o Rei c seus planos de âmbito universal, houve também uma derrota do
moriae", no qual analisava as impressões colhidas na Itália. De um lado, espírito xenófobo, tacanhamente nacionalista.
complacência com a inesgotável exuberância do povo simples, dos cris- Desde então, ficou indissoluvelmente ligado ao Príncipe dos humanis-
tãos fracos, cuja inócua curiosidade e limitação intelectual lhes permite tas qualquer movimento de reforma segundo o espírito do Evangelho, em
alegrarem-se tão felizes com o mundo e com a vida; de outro lado, remo- todas as camadas da população, até nas Universidades adentro. As ten-
que mordaz e implacável anátema contra os cardeais e os papas. Que sões e a guerra entre Carlos V e Clemente VII foram o terreno psico-
clamorosa contradição entre as intrigas da Cúria Romana c o exemplo lógico em que medrou e se conservou o entusiasmo por Erasmo. Suas
dos Apóstolos! Que contraste entre a vida do "Santo" Padre e a imitação obras eram reimpressas clandestinamente. O "Enchiridion" apareceu em
de Cristo! As Guerras dc Júlio II, que tumultuaram a permanência de
espanhol, e foi vigorosamente defendido contra os ataques dos teólogos
Erasmo, na Itália, eram algo de monstruoso. "Elas, absolutamente, não
tinham nada que ver com Cristo, por sua causa os papas abandonavam de Lovaina, por alguém de não menor influência, como era o secretário
tudo o mais". 16 do Inquisidor-mor.
Os bispos mais representativos da Nação eram crasmianos, da mes-
A tensão entre o "Enchiridion" e o "Encomium" repete-se várias ma forma que o Grão-Chanceler do Imperador e seu secretário Alonso
vezes em obras posteriores, mas sem recrudescer. Só que o círculo de Valdês, cujo irmão João Valdês em época posterior orientará, intelec-
amigos de Erasmo se torna maior, sua influência mais ampla, sua posição tualmente, círculos erasmianos do Evangelho em Nápoles e Valhadolid.
mais considerada. Erasmo é conselheiro do príncipe nos Países Baixos,
amigo de cardeais romanos, conhecido pessoal de Leão X, que enaltece Em face da Reforma, Erasmo procurava, por amor da consciência
e de uma paz imaginada muito a seu talantc, protrair o mais possível
na Cúria Romana a erudição de Erasmo.
as negociações entre Roma e Vitemberga. Lutero e Erasmo acordavam-se
Em Basiléia, pois, onde encontrara o correligionário Froben, tipó- na exigência de reforma, de renovação segundo o espírito do Evangelho.
grafo c editor tecnicamente bem aparelhado, publicou Erasmo seu "No- Por muito tempo, porém, Erasmo nem de longe percebeu que a con-
vum Testamentum", o Novo Testamento em grego, com comentários e fiança humanística do homem em si mesmo, a apelação à sua própria
tradução latina, em forma humanísticamente clara e graciosa. Através de força, seu otimismo ético se colocavam em diametral oposição à vivên-
Beza, o texto grego tornou-se "textus receptus" durante três séculos. A cia de salvação segundo Lutero. Só quando a liberdade evangélica dege-
tradução latina alcançou duzentas edições, sem poder contudo suplantar nerou cm licença, conforme êle o verificara, é que Erasmo se arvorou em
a Vulgata. crítico de Lutero. Como tal, porém, distinguia por princípio entre espí-
Erasmo dedicou a obra a Leão X e a Warham, primaz da Inglaterra. rito evangéilco e desaprovação do Reformador. Para êle, a manutenção
Acrescentou-lhe estudos introdutórios, pelos quais condensou, como teolo- da unidade eclesiástica não deve resultar em fim da renovação religiosa,
gia bíblica, idéias já expendidas no "Enchiridion". Falava, então, de uma
N o v a H i s t ó r i a III — 4
12 Capitulo II A crise nas vésperas da Reforma Protestante 43

encetada em toda a parte, segundo o espírito da liberdade e do Evan- Verdade é que Inácio de Loiola perfilhou muitos pontos dos es-
gelho. tatutos do "Collège Montaigu" de Paris, de orientação humanística, mas
Na exegese da Bíblia, a que se entregou de corpo e alma, Erasmo o restabelecimento da Inquisição em 1542, por empenho dele, representa
sempre depurava com novas possibilidades de interpretação. Nela via o a vitória moral daqueles monges e teólogos que Erasmo sempre havia
ensejo de livre debate, enquanto não prejudicado por definições dogmá- temido.
ticas. Por isso, Erasmo sugeria, sempre de novo, que se reduzissem ao As fixações dogmáticas do Tridentino, o ideal tridentino do episco-
mínimo as definições dogmáticas. Se inculcava a autoridade da Igreja, pado, a pronunciada consciência confessional do calvinismo, com seu
era porque nela havia unanimidade e segurança através da "concórdia princípio de predestinação, determinaram o fim do humanismo. Um dos
caritatis"; se também havia verdade, era para êle outra questão. Em últimos crasmianos, o duque Guilherme V de Cleve, cujo governo foi de
1533, afirmava ainda que precisamos ser tolerantes, porque não existe longa duração (1539-1592), teve desde 1568 que presenciar até em seu
clareza a respeito dos problemas supremos. Quando em 1529, ano da território, onde a situação religiosa podia desenvolver-se livremente, a or-
Reforma em Basiléia, abandonava a cidade à margem do Reno, porque ganização de comunidades luteranas e calvinianas, cada qual consciente
ali já se não celebrava nenhuma missa, fê-lo não tanto porque consi- de sua índole específica.
derasse a Igreja Católica como única verdadeira, mas antes como a rela-
tivamente melhor.
Mais lhe importava conhecer a evolução histórica das formas, do
que suas conseqüências, ou sequer a origem divina da Igreja. A distinção
que êle estatuía entre Igreja Católica e Igreja Romana ou Papalina ca-
racterizava a hesitação inibidora e o semicatolicismo do Príncipe dos hu-
manistas.
Já que escreveu certa vez: "Reconheço Cristo, não conheço Lutero.
Conheço a Igreja Romana, que certamente identifico com a Igreja Cató-
lica. Dela não me separará nem a própria morte, a não ser que ela se
18
apartasse expressamente de Cristo" — manifestou Erasmo espantosa
nebulosidade e incerteza teológica, quando noutra feita declarava: "Nunca
apostatei da Igreja Católica.. . Sei que nessa Igreja que vós (luteranos)
chamais de papalina, assistem muitos elementos que me desagradam. Mas
também em tua Igreja lobrigo tais. Mais facilmente toleramos os males a
que estamos afeitos. Por isso, suporto essa Igreja, enquanto não avisto
outra melhor. De sua parte, ela também está naturalmente obrigada a
tolerar-me, até que eu tenha melhorado. Mal avisado não anda quem
19
se mantiver no meio, entre dois males diversos".
Nestas disposições de espírito, sem se renegar a si mesmo, pôde êle
retornar em 1535 a Basiléia, para residir mais próximo de seu editor, e
ali veio a morrer um ano depois sem oportunidade de receber as graças
20
sacramentais da Igreja.
Sob a direção de tais mentores intelectuais, a Igreja Católica, a bem
dizer, ficava exposta sem resguardo às investidas da Inovação Religiosa.
Ia levar quase uma geração, até que se superassem a primazia da moral
sobre o dogma e o nefasto confusionismo teológico, e que se implantassem
o precioso patrimônio de Erasmo, o amor à integridade da Igreja Primi-
tiva, bem como a consciência da responsabilidade pastoral, por parte dos
bispos; enquanto que sua aspiração por um culto mais genuíno a Deus,
não entulhado de cerimônias e devoções particulares, por uma atitude re-
ligiosa, voltada para a vida, distante da ascese monástica, por um engaja-
mento necessário, íntimo e pessoal, ao Deus que redime, teve sua concre-
tização, dentro da Reforma, em proporções revolucionárias.
A Reforma Protestante como obra pessoal de Lutero 45

profundamente no ocamismo, e familiarizou-se muito afetuosamente com a


Bíblia. Eram sobretudo o Saltério, depois a epístola aos Romanos, e sua
predileta epístola aos Gálatas, que moldavam a formação de Lutero. Nesse
ínterim, Lutero fizera profissão em 1506, e ordenara-se sacerdote em
CAPITULO III 1507.
A lembrança de estar próximo da temerosa majestade de Deus pa-
rece ter-lhe provocado graves perturbações psíquicas. Lutero vivenciou
A REFORMA PROTESTANTE o "tremendum", a inexprimível grandeza de poder o frágil homem elevar
os olhos a Deus, àquela terrível Majestade, diante da qual a terra treme.
COMO OBRA PESSOAL DE LUTERO, Ao lado dessa incomparável grandeza de Deus, o homem já não pode ser
E COMO DESTINO DA EUROPA cousa alguma.
Aquele outro conceito posterior de Lutero: "Deus, tudo — o ho-
mem nada" foi então por êle sentimentalmente apreendido por uma es-
1. Martinho Lutero: Juventude e Evolução crupulosidadc profundamente radicada no subjetivismo, muito antes que o
mesmo conceito fosse compreendido pela inteligência. Sem embargo, o jo-
A crise mortal em que se debatia a Igreja ficou patente, quando os vem religioso queria ter uma segurança experimental de seu próprio es-
Reformadores assestaram seus ataques contra ela. Sinal de rebate foram tado de graça, e não se deixava tranqüilizar uma vez para sempre pelo
as conhecidas 95 teses do monge agostiniano Martinho Lutero. Nascido seu confessor, o cordato Staupitz.
em 1843 em Eisleben (Islébia), oriundo de uma família de mineiros abso- Para Lutero nunca se tornou convicção prática de que a Igreja, en-
lutamente fiéis à Igreja, que de princípios modestos galgaram aos poucos quanto continua a vida de Cristo, é o solo nativo, do qual vive cada cris-
certo bem-estar. Depois de freqüentar escola em Mansfeld e Magdeburgo, tão, para que enfim tenha capacidade de crer; que o pronunciamento da
o jovem Martinho foi na primavera de 1501 para a Universidade de Er- Igreja é condição preliminar para a veracidade teológica e santidade de
furt. Na Faculdade de Artes Liberais, onde se matriculara, o mestre se- vida em cada cristão. Mais tarde, o "jurado doutor da Sagrada Escritura"
guido era Aristóteles. Na lógica, sob a influência de autores ingleses, a empenhou-se, meticulosamente, em que sua doutrina concordasse com a
tendência era para o terminismo, espécie de nominalismo moderado. Bíblia. Não lhe era então admissível que sua doutrina pudesse estar em
Ainda que Lutero, naquela época, não entrasse cm contacto direto desacordo com a Igreja. Já se esboçava, naquela época, um dos proble-
com a teologia ocamista, essa escola abriu-lhe contudo o caminho para seu mas básicos da Reforma: o da relação entre Bíblia e Igreja.
posterior conceito de Deus c sua apreciação da fé. Não obstante o amor Na prática, porém, estas vivências ainda não lhe criavam problemas.
aos antigos clássicos, eram muito tênues suas relações com os círculos hu- Num breve de indulgência para os agostinianos de Erfurt em 1508, cons-
manísticos de Erfurt. tava também o nome de Lutero. Em Erfurt, êlc foi escolhido como lente.
Em 1505, êlc formou-sc "magister artium". Pai e filho decidem pela Mas, depois, o Vigário da Ordem Staupitz enviou-o à Universidade de
continuação dos estudos. A desejo do pai, Lutero dedicou-se ao estudo do Vitemberga, para que fizesse preleções dc filosofia, c logo em seguida
Direito. De repente, ocorreu um lance dramático em sua vida. O jovem também de teologia.
"magister" tirou férias no meio do semestre. Ao voltar de casa para Er- Nessa Universidade, fundada poucos anos antes, Lutero expunha,
furt, a pé, foi surpreendido por forte temporal. Quando um corisco ba- independente de qualquer tradição escolástica, a Ética Nicomáquica de
teu a seu lado, êle bradou: "Socorro, querida Santa Ana, quero ficar Aristóteles. Dentro em pouco, já tomava a relação entre filosofia e teolo-
monge!" Quinze dias depois, entrava no Convento dos Eremitas Obser- gia não sob o ponto de vista aristotélico, mas ocamista. Partiu da Bíblia e
vantes de Santo Agostinho em Erfurt. "Por um susto do Céu" me veio a de Agostinho para renunciar à razão. Esta deveria a contragosto procla-
vocação. Assim pensava Lutero mais tarde. 1
mar que Deus lhe fica inatingível. Deus não pode ser conhecido pela
Foram certamente decisivos para sua vida os anos conventuais em razão. Compreender a Deus é diminuí-lo. A adesão a Agostinho decerto
Erfurt, ainda que mal se possa conjeturar sua evolução interior naquela também lhe abriu os olhos ao pecado do próprio justo e à impotência
quadra. Em todo o caso, Lutero vivia dentro do claustro em bom am- da vontade humana. Todos estes problemas, julgava Lutero poder confir-
biente católico; ao tempo de seu ingresso, não chegou a conhecer desca- má-los por própria experiência.
labro das tradições monásticas, nem antipapalismo, nem críticas contra a Dentro em breve retornava a Erfurt, a fim de dar preleções sobre as
piedade popular, nem tampouco um autêntico Agostinismo. Assim Sentenças de Pedro Lombardo no Estudo Geral da Ordem. Pouco depois,
como assim, estudou lá Gabriel Biel, cujas sentenças o introduziram mais foi enviado a Roma pelo seu convento em assuntos internos da Ordem.
[44] Lá defendeu o ideal da observância religiosa em face das regulamenta-
46 Capitulo III 47
A Reforma Protestante como obra pessoal de Lutero

ções jurídicas. Nessa ocasião, quase não sentiu abalo com os desmandos siva como reformador. 3
Assim narrou Lutero, em 1545, no prefácio
de Roma renascentista. do primeiro volume de suas obras latinas:
De volta, retomou suas atividades em Vitemberga, onde em 1512 "Senti-me arrastado, por um tenaz impulso, a compreender o Paulo
se doutourou em teologia, e assumiu a cadeira de Staupitz sobre a Sagra- da epístola aos Romanos. Não era falta de ardor que até então me tolhia
da Escritura, e conservou-a até a morte com exemplar fidelidade. Dire- de fazê-lo, mas uma única palavra do primeiro capítulo: 'A justiça de
tor dos estudos no convento, e ao mesmo tempo pregador nas igrejas prin- Deus manifesta-se nele [ = no Evangelho]'. Pois eu detestava essa pala-
cipais da cidade, o jovem professor tornou-se logo um dos líderes de Vi- vra 'justiça de Deus'. Pela doutrina e interpretação de todos os doutores,
temberga, atrás do qual se punham a Ordem, a Universidade, e os estu- aprendera a aplicar, filosoficamente, essa palavra à assim chamada justiça
dantes. formal ou ativa, em virtude da qual Deus é justo em si mesmo, e por isso
Fazia preleções sobre os Salmos, sobre a epístola aos Romanos. Mais castiga os maus e os pecadores. Entanto, apesar de minha vida monástica
tarde, comentou as epístolas aos Gálatas e aos Hebreus, entre os anos de toda irrepreensível, sentia, com a máxima intranqüilidade de consciência,
1513 a 1518. Nesse mister, queria remontar ao texto primitivo, e rejei- que era pecador diante de Deus, e que não podia ter confiança de recon-
tava a Vulgata, cujo espécime, como todos sabem, é mais antigo do que ciliá-lo com minhas obras de reparação. E por isso não gostava desse
os textos dos códices gregos então conhecidos. Por esse critério, Lutero Deus justo, punidor do pecado, e detestava-o. Com surda murmuração,
logo incide numa interpretação puramente histórica, e abre mão de todas ainda que não blasfema, mas certamente monstruosa, apavorava-me a res-
as glosas medievais e de qualquer alegorese. peito de Deus: Não basta, pois, que os pobres pecadores, os condenados
Na preleção sobre a epístola aos Romanos, escreve no preâmbulo: eternamente pelo pecado original, sejam oprimidos pela Lei do Decálogo,
"Paulo ensina, na epístola aos Romanos, a realidade do pecado em nós uma vez que Deus pela Boa-Nova também acrescenta nova dor à própria
2
e a exclusiva justiça de Cristo". Assim, Lutero já teria chegado a dor, e pelo Evangelho ainda descarrega sobre nós sua justiça e sua có-
novas idéias fundamentais em teologia. lera? Assim me enfurecia, com a consciência agitada e transtornada. Mas,
em minha angústia, continuei a insistir naquela passagem de Paulo, dese-
jando saber, com ardente curiosidade, o que afinal São Paulo queria
2. Episódio da Torre e Pontos de Vista Fundamentais dizer.
Até que, a cismar dia e noite, deparei, pela misericórdia de Deus,
Várias experiências devem ter precedido uma iluminação de tal na- com o contexto daquela passagem, a saber: 'A justiça de Deus manifes-
tureza. Como ponto de partida para elas, já quiseram tomar a vivência ta-se nele, como está escrito: 'O justo vive da fé'. Comecei então a en-
prática da justiça pelas obras, e mais o fato de ter naquela época chega- tender a 'justiça de Deus' como aquela pela qual o justo, por dom de
do às mãos de Lutero a obra de Agostinho "De spiritu et littera" contra os Deus, vive como justo, a saber mediante a fé. Entendi ser este o sentido:
pelagianos. O próprio Lutero contou, mais tarde, como no convento não Pelo Evangelho se manifesta a justiça passiva de Deus, pela qual o Deus
sabia comedir-se nos exercícios de penitência, em jejuns, orações e vigí- misericordioso nos justifica mediante a fé, como está escrito: O justo vive
lias, com a intenção de conseguir um Deus aplacado; mas que tudo fora pela fé.
em vão, até que o Senhor o libertou pelo Evangelho sobre a única fé jus- Então, senti-me verdadeiramente como que renascido, como que in-
tificadora, e lhe franqueou as portas do Paraíso. troduzido, por portas escancaradas, no mais alto dos céus. Desde logo me
pareceu nova a fisionomia de toda a Escritura".''
Não se pode tomar essa declaração muito ao pé da letra. Com a má- Destarte, a nova compreensão da passagem em Romanos 1,17
xima probabilidade entram aqui em ação ilusões inconscientes de memó- torna-se a clave para seus modos de ver, conforme iam evolvendo aos
ria. No começo, Lutero encontrava paz e tranqüilidade no convento. Só poucos. Para Lutero, a justiça de Deus já não é, como os escolásticos oca-
mais tarde sobreveio o sentimento de insatisfação ao cumprir a lei divina,
mistas a entendiam, a justiça punitiva ou remuneradora, que Deus possui
conforme as exigências da disciplina monástica, e ainda por cima violen-
tas provações e tentações. como própria, mas a justiça que Deus outorga, uma justiça imerecida da
graça. Deus já não é o Deus da arbitrariedade, mas da misericórdia.
Lutero ficou empolgado pelo sentimento de pecaminosidade, que Nisso descobriu Lutero, como algo de novo para si próprio, o que
persistia, apesar do arrependimento, da confissão e penitência, e também todos os exegetas medievais já tinham ensinado. Que tal ponto de vista
pela idéia de que não poderia responder por si mesmo diante terrível ma- se tornasse, todavia, herético-reformatório, provinha do conexo em que o
jestade de Deus. A sensação da má concupiscência e a inibição do pró- Professor de Vitemberga o colocava.
prio eu (Jedin) arrastaram-no à beira do desespero. Todas as instâncias De acordo com seu sentimento religioso individual, essa justiça de
de Staupitz o não demoviam de tais apavoramentos. Acudiu-lhe então Deus estava, para êle, em diametral contraste com a autojustiça (Selbst-
uma idéia, da qual o próprio Lutero declarou ter sido sua vivência deci-
gcrechtigkeit) do homem que intoxica todas as suas obras. O homem
48 Capitulo 111 A Reforma Protestante como obra pessoal de Lutero 40

está totalmente corrompido pelo pecado original. A concupiscência, que sine aquela fé. Nestes termos, reduz a teologia à Bíblia, em explicação
remanesce também depois do batismo, é pecado pura e simplesmente. literal, e aos Padres da Igreja. Rejeita a escolástica como literalismo
Por conseguinte, no processo de justificação, é inútil todo esforço indivi- (Wortklauberei), e desdenha Aristóteles. Forma-se teólogo somente quem
dual. As assim chamadas boas obras nada contribuem para a salvação, abandona Aristóteles, defendeu êle numa disputação "contra scholasti-
nem são condições preliminares para a justificação, nem produzem me- 5
c o s " . Era uma radical declaração de guerra contra toda a teologia da
recimentos. Idade Média.
As obras autenticamente boas são, em primeira linha, efeito e fruto
da nova justiça. Por conceito, justiça nocional ("Gedankengerechtigkeit") 3. A Questão das Indulgências
não consiste porventura numa elevação ontológica do homem, indissolu-
velmente unida à remissão de pecados, tampouco em novo princípio so- Ensejo de maturar as novas idéias e dar-lhes divulgação, Martinho
brenatural de vida, mas na aceitação pessoal do pecador por parte de Lutero teve-o na publicação da indulgência para a nova construção de
Deus, graças aos merecimentos de Cristo. Não em seu ser, mas só pela São Pedro em Roma. Em 1505, o papa Júlio II tinha confiado a grande
fé, precisamente só pela fé sem as obras, é que o pecador se une a Cristo. empresa a Bramante. Segundo o costume, firmado na Idade Média, de
Contudo, permanece pecador, não obstante sua justificação (simul iustui promover pela concessão de indulgência grandes obras de interesse co-
et pecator). Seus pecados são apenas encobertos. Aplica-se-lhe a justiça mum, Júlio II (1507) e seu sucessor Leão X (1514) promulgaram uma
de Cristo só externamente, per mera imputação. A única cousa que o ho- indulgência plenária para toda a cristandade. Às condições ordinárias de
mem pode fazer é abandonar-se confiadamente à palavra de Deus, con-
receber os sacramentos acrescentava-se a de uma oferta pecuniária como
fiar nos méritos de Cristo na Cruz, e vivenciar o julgamento sobre o pe-
cado. Para Lutero, a fé consiste nessa atitude de confiança. contribuição para a grande obra.
Aos pregadores da indulgência concederam-se faculdades especiais
O conceito de justiça pela fé e de função da fé-sòzinha devia com- para confessar e absolver. A pessoa podia adquirir um assim chamado
pletar-se pela negação do livre arbítrio do homem, porquanto o homem breve de confissão e desta forma ser absolvido, uma vez na vida, de todos
que pudesse decidir-se por si mesmo seria seu próprio salvador, e nao os pecados de reservação pontifícia. Tal indulgência era aplicável tam-
precisaria de Cristo. A essência do pecado está, justamente, em tentar o bém aos defuntos, pois que desde o século XV se concediam indulgências
homem contrabandear algo de humano no processo de salvação. Comete
pontifícias pelas almas do purgatório.
uma iniqüidade contra Deus quem quer e procura a justiça de Deus. A
natureza humana só pode prevaricar. Pode-se provar que obras humanas, Só em 1517 é que se apregoou a indulgência de São Pedro na Ale-
por boas que pareçam, sempre são pecados mortais. As obras dos justos manha do Norte, isto é, na província eclesiástica de Mogúncia. Ora, em
são pecado, muito mais as obras dos injustos. 1513, o príncipe Alberto de Brandemburgo, com apenas 23 anos de idade,
Estas teses é que Lutero irá propor em 1518 em Heidelberga. Se irmão do Príncipc-Eleitor, fora postulado como arcebispo dc Magdeburgo
todavia o homem só tem capacidade de pecar, se a decisão sobre a sorte e administrador Apostólico de Halberstadt. No ano seguinte, o Cabido
do homem é diversa depois da morte, a decisão sobre a sorte eterna de Metropolitano de Mogúncia realmente o elegeu arcebispo da cidade, de-
cada indivíduo só pode depender de Deus. Por conseguinte, Deus destina pois que êle se comprometera a pagar, de seu próprio bolso, em Roma, as
de antemão o homem não só para a bem-aventurança, como também anatas que importavam em 14.000 ducados.
para a eterna danação. O Direito Canónico, porém, interditava a cumulação de vários bene-
Deus não quer dar a graça a todos. Não há garantia contra essa fícios numa só mão. O domínio sobre três bispados era até cousa inaudita
predestinação divina, mas existe certeza de salvação para quem confia na Alemanha. Como o Brandemburguense não quisesse abrir mão de ne-
mediante a fé, a acolhida nas Chagas de Cristo, e o refúgio ao pé da nhuma das dioceses, empenhou-se cm conseguir dispensa de Roma. Dada
Cruz. Isto, unicamente, é o que garante a salvação, à revelia de todas a politização e mundanização da Cúria Romana, depois de protraídas ne-
as tentações interiores. Estas não significam outra cousa, como sinal infa- gociações, Leão X concedeu a dispensa pela taxa dc outros tantos 10.000
lível, senão que "Cristo está contigo, e tu estás com Cristo". ducados.
São conceitos do nominalismo radical, acrescidos de idéias da Escola Como, porém, poderia Alberto pagar essas quantias enormes? Ao
Agostiniana, com influências da mística germânica, que aqui se aglutinam que parece, o representante romano dos Fugger apontou uma saída ao
com as experiências pessoais de Lutero. Êle ainda não atinara cõm uma enviado do Brandemburguês. O Arcebispo Moguntino seria nomeado co-
sistemática para suas novas concepções. Durante toda a sua existência, missário da indulgência em seus três bispados e nos territórios dc Brandem-
não se deixará deter, por nenhum sistema, no borbulhante saltitar dc seus burgo. Devia encarregar-se da promoção da indulgência, e ter participação
pensamentos. Mas sua ambição científica alcança novas metas. Êle quer nos respectivos rendimentos. Metade dos dinheiros da indulgência desti-
uma teologia religiosa, que sem alarde filosófico fale ao coração, e en- nar-se-ia à construção da Igreja de São Pedro, metade ficaria para êle.
A Reforma Protestante como obra pessoal de Lutero 51
50 Capítulo III

Sobre essa metade, os Fugger lhe adiantariam as somas necessárias para Lutero soube disso pelos seus penitentes de confissão. Que contraste
as taxas de Roma. se antolhava, à consciência moral, entre sua própria luta renhida contra
Depois de algumas objeções de seus delegados contra a transação o pecado e pavor do inferno, e essa espalhafatosa apregoação de graças
simoníaca, o arcebispo concluiu o contrato, deixando-se levar pelo seu inauditas! Pela vivência pessoal do receio de salvação e da certeza con-
espírito leviano e mundano. As taxas foram pagas diretamente pelos trária, pelo recurso às Chagas do Crucificado, o Frade tornou-se acérrimo
Fugger, então interessados economicamente na indulgência. Como a in- adversário de tal afrouxamento da moral e da religião, vendo nesse pris-
dulgência de alguma maneira põe em ação os méritos adquiridos por ma a indulgência, uma vez que não tomava a Igreja em comunidade
Cristo, tal manobra, com a indulgência, como fiança de alta operação com Cristo. Então, ao reagir de tal forma, cuidava fazê-lo por zelo reli-
bancária, devia pelo menos parecer escandalosa. gioso, em reivindicação dos soberanos direitos de Deus.
Em 1517, Lutero nada sabia destes preliminares da indulgência da Pregava contra a indulgência, e procurava conhecer a fundo a dou-
6
Igreja de São Pedro. Não sabia, tampouco, que o Cabido de Mo- trina eclesiástica sobre ela. Por fim, redigiu suas dúvidas acerca dos
gúncia queria, dessa indulgência, desviar alguma cousa em benefício da abusos contidos na "instructio summaria", e remeteu-os ao Arcebispo de
Catedral de Mogúncia; que para aprovar a indulgência o Imperador Ma- Mogúncia e a seu próprio Ordinário, bispo de Brandemburgo. Ao Príncí-
ximiano exigira 3.000 florins, que deviam ser aplicados na construção da pe-Eleitor de Mogúncia juntou também um tratado sobre a indulgência
7
Igreja de Santiago em Innsbruck. O que exasperava Lutero eram outros e teses por êle formuladas. No dia imediato, festa de Todos-os-San-
problemas. tos de 1517, afixou essas 95 teses às portas da Igreja do Castelo e da
A bula "Sacrosancti" de 31 de março de 1515 concedia a indulgên- Universidade de Vitemberga, e convocou os eruditos para um debate aca-
cia ao arcebispo de Mogúncia, por oito anos, e nessa concessão empre- dêmico sobre o assunto.
gava a fórmula "plenissima omnium peccatorum remissio", hoje ambígua, O fato de haver redigido as teses em latim é prova de que Lutero
que na época era entendida corretamente. Com boa motivação teológica, não pretendia lançar as proposições no meio do povo. Elas deviam, pelo
a bula falava também de sua aplicação aos mortos. menos, sacudir os teólogos. Daí se explica a acrimoniosa formulação de
Em Mogúncia, a indulgência foi proclamada no primeiro domingo algumas proposições. As investidas de Lutero não se dirigiam apenas
do Advento. A 17 de janeiro de 1517, Alberto nomeou dois comissários contra a indulgência, mas também contra a autoridade outorgadora da
da indulgência para a arquidiocese de Magdeburgo. Um deles era o domi- mesma.
nicano João Tetzel (1465-1519), antigo pregador de indulgências, que Em 1545, Lutero asseverava, pois, que os bispos não tinham tomado
logo começou suas atividades em Eisleben e Lípsia. nenhum conhecimento da carta do pobre Frade. Por se ver desatendido,
Para os pregadores, tinha o Príncipe Eleitor estabelecido uma "in- colocara em edital suas teses de disputação. Com elas, queria apenas de-
structio summaria", que de per si podia ter sentido correto, mas que pela fender, contra mercenários e fanfarrões, a genuína doutrina do papa sobre
aplicação de fórmulas piedosas procurava fazer das indulgências uma tra- a indulgência. Isto era, pelo menos, um engano de memória. Pois, nesse
ficância, na qual o dinheiro tinha a função precípua. Esta incriminação caso, como podia em sã consciência interpelar, nas teses, por que o papa,
vale também para Tetzel, enquanto as acusações contra sua vida parti- mais rico do que Creso, não construía a Basílica de São Pedro com seu
cular não passavam de calúnias. Remontam estas ao ódio que Lutero nu- próprio dinheiro, em vez de mandar construí-la com o dos pobres fiéis?
tria contra o dominicano até depois de morto. Nas teses, afirmava ainda que o papa só podia relaxar penas que
A respeito da indulgência para os vivos, Tetzel doutrinava correta- êle mesmo tivesse fulminado de próprio critério, ou de acordo com os
mente e insistia por conseguinte na necessidade da contrição. Deve, porém, cânones; que as indulgências não tinham nenhuma relação com as almas
ter constado que sobre a aplicação aos mortos sustentava, na substância, do purgatório; que a jurisdição papal só podia atingir os vivos, e estacava
uma teoria concreta, cuja fórmula lhe punham aleivosamente na boca: diante da morte. A culpa, não seria o papa quem a remite, mas Deus tão-
"Dinheiro no cofre, alma no céu". Atinha-se, nesse ponto, a uma teoria sòmente. Nada desta terra, nem sequer o poder das chaves, pode chegar
de escola, que então não era muito rara: A indulgência poderia ser lu- até o mundo do além. Sempre de novo uma brutal e irreparável separa-
crada mediante simples oferta pecuniária, por conseguinte sem contrição ção entre o divino e o humano!
e recepção de sacramentos, com segura aplicação a uma alma determinada. Ninguém tem necessidade de indulgências, porquanto todo cristão
pode, com verdadeiro arrependimento, alcançar plena remissão de culpa
Os dois Príncipes-Eleitores de Saxe tinham proibido a pregação de
e pecado, também sem nenhum breve de indulgência. Lutero queria, afi-
Tetzel em seus territórios, por motivos políticos e fiscais. Os príncipes
nal, uma outra atitude de viver para os cristãos. "Quando Nosso Senhor
em geral consideravam, desde muito, a indulgência como fator econômi-
Jesus Cristo declarou: 'Fazei penitência' — queria êle que toda a nossa
co. Quando então o Dominicano pregou durante o mês de abril em
vida fosse penitência", é o que afirmava na primeira tese. Portanto, a vida
Brandcmburgo, bem perto da fronteira saxónica, houve muita afluência
cristã não é paz, mas cruz e mais cruz. É um caminhar com Cristo atra-
de ouvintes também da cidade universitária.
52 Capitulo III A Reforma Protestante como obra pessoal de Lutero 53

vés do sofrimento, da morte, e do inferno. O cristão espera, pois, entrar Conrado Koch (ou Wimpina), então reitor da Universidade Bran-
no céu muito mais pelas provações, do que por pacata segurança. Mai, demburguesa de Francoforte no Rio Odcr, amigo de Tctzel e sacerdote
acertado seria escolher a dor salutar, do que evitá-la. O ameno é per- secular, formulou teses contrárias, que foram defendidas por Tetzel, e da-
dição. Aos olhos do povo, porém, eram amenas as graças indulgenciais, das à publicidade. Contra o "Sermão sobre as indulgências" de Lutero
oferecidas e outorgadas sem nenhum critério. escreveu Tetzel uma refutação em alemão c cinqüenta teses em latim.
A campanha contra a indulgência tornou-se, para Lutero, uma luta Versavam a questão da autoridade eclesiástica, e o motivo por que, cm
em prol de seus princípios básicos sobre a fé fiducial e a certeza de matéria de fé, a decisão fica reservada ao magistério infalível do papa.
salvação através das provações. Lutero escrevera a Alberto de Bran- Tetzel alvejara, por conseguinte, o ponto propriamente dito da contro-
demburgo: vérsia.
"O pobre povo julga que, tendo adquirido os breves de indulgência, João Maier, natural de Eck, até então amigo de Lutero, pró-chanec-
esteja firmemente assegurado de sua salvação. Entretanto, o homem não ler de Ingolstádio, colega de magistério do Frade de Vitemberga, pessoa
pode garantir sua salvação por obra de nenhum bispo, uma vez que o não de confiança do Duque da Baviera c de Gabriel von Eyb, erudito bispo
pode sequer pela graça infusa de Deus, exigindo o Apóstolo que se tra- de Eichstactt, por incumbência dêsse mesmo prelado, escreveu reparos
balhe pelo salvação com temor e tremor. . . Por que então deixar o povo (Adnotationcs) às 95 teses, em caráter particular, e espalhou-os como
sem medo c incutir-lhe segurança com essas falsas fábulas e promessas manuscritos. Verificava, neles, certa afinidade entre as idéias de Lutero
de perdão?. . . Pois tal doutrina declara que o homem se reconcilia com e as de Huss, condenado cm Constança.
8
Deus mediante a graça da indulgência". Lutero viu nessa alusão a pecha dc heresia, e respondeu com ranco-
10
Noutros lugares, também, as bulas pontifícias de indulgência foram rosa réplica intitulada "Astcrisci". Eck teria condenado suas teses,
9
acoimadas de "contra legem et evangelia". Outros teólogos, por sua sem as compreender de modo algum. "Em toda a sua escrevinhação, não
vez, já tinham externado opiniões críticas, mas sem que se arvorassem há nada de teologia (isto é, dc^Bíblia). Tudo são veleidades científicas.
cm chefes de movimento anticclesial. As teses de Lutero podiam ter-se Confesso que tudo é verdade, quando as teorias escolásticas são verdadei-
confinado no mundo científico c na literatura teológica, se não tivessem ras. Eck afirma-o, mas eu o nego". Ambos se tornaram então adversários
encontrado eco tão entusiástico na Nação Germânica. As teses desenca- irreconciliáveis.
dearam no povo germânico uma tensão latente. O barril de pólvora estava A formação de uma frente unida de reação foi embargada, não só
cheio desde muito tempo; a palavra de Lutero tornou-se o rastilho in- pela condescendência de Lutero para com as correntes anticuriais, exis-
cendiário. tentes no país, mas também pela falta de clareza teológica, conforme já
Verdade é que não chegou a efetuar-se a disputação sugerida por se fazia notar em Erasmo. Só assim se compreende a atitude ambígua dc
Lutero. Em compensação, dentro de poucas semanas, suas teses estavam tantos católicos, leigos e clérigos, com relação a Lutero; só assim se en-
difundidas por toda a Alemanha. Sem ingerência pessoal de Lutero, eram tendem os debates de religião que perduram mais de quarenta anos.
copiadas a mão e passadas adiante. Em janeiro de 1518, já havia edi- Nem os humanistas, nem o papa Leão X, de forte mentalidade hu-
ções impressas em Basiléia, Lípsia, e Nuremberga. Erasmo remeteu-as a manística, espertaram com as teses de Lutero. Acresce, ainda, o desinte-
seu amigo Tomás More. Estavam nas mãos de Duercr. Aos 5 de janeiro resse teológico que os governantes de uma região tinham também em
de 1518, Cristóvão Schcurl, jurista de Nuremberga, mencionava uma assuntos eclesiásticos. Por via de regra, dispunham de formação meramen-
tradução alemã. te jurídica. Consideravam tais controvérsias, quando muito, como meios
O rápido alastramento só se explica pela exaltação religiosa do povo, de ferir a concorrência econômica da Cúria Romana. Não se tinha com-
bem como pela sua repulsa do exagerado fiscalismo pontifício. Percebia preensão para o alcance teológico dos problemas.
o povo ter então um líder na luta contra os mesmos fardos que êle pró- Quando o Arcebispo dc Mogúncia percebeu que, pela intervenção dc
prio devia carregar com indignação. Lutero tornou-se porta-voz do descon- Lutero, a indulgência perigava, e com ela a transação financeira, mandou
tentamento germânico, e, ao mesmo tempo, intérprete da índole germâ- comunicá-lo a Roma. Provavelmente, por parte dos Dominicanos, já havia
nica. Desde a primeira tese, não havia proposto como tema geral da vida lá denúncia de heresia contra o Reformador. Leão X, porém, não deu
crsitã a antiga serenidade e segurança clássica, mas a errante inquietude maior importância a toda a questão. Incumbiu o novo Superior Geral
e nostalgia germânica (Lortz). dos Agostinianos acomodasse o Irmão Martinho. Este, todavia, reieitou
Encontrou Lutero alguns opositores insulados, mas nenhuma frente a "Admonitio" do Capítulo da Ordem em Heidelberga, em abril de 1518,
unida de defesa teológica, nenhuma resistência conjugada dos poderes e valeu-se da oportunidade para ampliar a difusão de suas idéias.
públicos. Junto aos opositores, atuava naturalmente o contraste entre a Dessa chamada à ordem resultou a disputação de um de seus discí-
Saxônia Eletiva e o Brandcmburgo. bem como a emulação entre as Uni- pulos sobre o pecado, sobre a graça e a vontade cativa, sobre toda a
versidades. teologia da Cruz. Já dispunha então de um círculo de ouvintes, que de-
A Reforma Protestante como obra pessoal de Lutero 55
5-1 Capitulo III

cesso em Roma seguia os trâmites normais, Lutero apelou por precau-


viam tornar-se seus auxiliares na doutrinação e pregação, e mais tarde
ção a um Concílio Ecumênico.
companheiros de luta. A Província Germânica da Ordem estava solidária
com êle, bem como seus colegas e ouvintes da Universidade, entre os O Príncipe-Eleitor recusou a extradição, alegando que a heresia de
quais o dominicano Martinho Bucer. Lutero não era comprovada. De novo parou o processo por muitos meses.
O Papa tinha então em vista o próprio Príncipe-Eleitor, como candidato
Depois de sua bem sucedida disputação de Heidelberga, Lutero re-
digiu minuciosa explicação de suas teses ("Resolutiones de virtute indul- contrário a Carlos de Espanha.
gentiarum"), e remeteu-a ao Papa em Roma, com submissa carta de
apresentação. Com isso, porém, não retratava nem atenuava de modo
algum sua doutrina, mas antes a defendia e reforçava. 4. A Disputação de Lípsia e a Excomunhão

O documento não fêz mossa em Roma, onde se abrira processo con- Prosseguia, naturalmente, a investigação teológica. Caetano que, an-
tra Lutero, não por iniciativa do Papa, mas pela fidelidade ao dever de tes e depois do interrogatório de Augsburgo, tinha escrito 11
sobre vá-
alguns funcionários da Cúria Romana. O Professor de Vitemberga rece- rias questões ("Utrum papa auctoritate clavium dat indulgentiam anima-
beu a intimação de comparecer em Roma dentro de sessenta dias, para bus in purgatório. De divina institutione pontificatus"), esboçou uma bula
se justificar contra a suspeição de heresia. O necessário parecer teológico sobre a indulgência, com a finalidade de subtrair a Lutero o pretexto de
sobre sua doutrina foi dado pelo Mestre do Sacro Palácio, o dominicano
de que a Igreja se não pronunciara ainda de cátedra a respeito da indul-
Prierias ("Dialogus in praesumptuosas M. Lutheri conclusiones de potes-
tate papae"). gência. A bula foi afinal assinada pelo Papa em novembro.
Essa longa demora foi de suma vantagem para a propalação das
Como o imperador Maximiliano I também se prontificara a proceder doutrinas luteranas, não obstante o silêncio do próprio Lutero. A pro-
juridicamente contra Lutero, o processo parecia correr rapidamente. Mas, paganda pelo prelo continuou, a exaltação dos espíritos cresceu a tal pon-
de repente, o processo tornou-se questão política. Lutero soube conquis- to, que se tornava mister um pronunciamento. Foi assim que Eck convo-
tar as boas graças de seu príncipe-eleitor Frederico, o Sábio, que queria
cou para uma disputação o Professor Karlstadt, colega de Lutero em
ver a causa tratada na própria Alemanha. O Príncipe-Eleitor de Saxe foi
o único adversário que se opôs aos planos do Imperador de conquistar Vitemberga. O plano contava com o apoio do Duque Jorge de Saxe, im-
os votos dos príncipes-eleitores, para que escolhessem seu neto Carlos 1 buído de fidelidade à Igreja. Para a Disputação de Lípsia, que se rea-
da Espanha como futuro Rei de Roma. Força era levar em conta o Prín- lizou em 1519, Eck tinha elaborado uma série de teses. A última delas
cipe-Eleitor, uma vez que o Papa, receoso de que os Estados Pontifícios versava o primado, e investia propriamente contra Lutero. Respondeu
fossem novamente cinturados por alguma nação prepotente, ao Norte e este com teses opostas. Ainda à última hora, conseguiu ser admitido à
ao Sul, também era contra a candidatura do jovem Rei da Espanha. Disputação.
Eram, pois, motivos políticos que se antepunham, funestamente, aos inte- Depois do debate entre Karlstadt e Eck sobre a graça e o livre arbí-
resses da Religião. trio, seguiu-se a polêmica entre Lutero e Eck sobre o primado papal.
Acuado por Eck, que era mais hábil para falar, Lutero teve então que
O núncio apostólico Caetano, dominicano eruditíssimo, mas absolu- tirar as conseqüências de suas opiniões. Afirmou Eck que a negação da
tamente desprovido de peculiar tino diplomático, foi enviado à Dieta de instituição divina do primado colocava Lutero na mesma plana com
Augsburgo, com a incumbência de citar Lutero, de ouvi-lo paternamente, Wyclif e Hus. Lutero retrucou que. entre os artigos de Hus, figuravam
e de deixá-lo partir sem obstáculos para Vitemberga. Em outubro de muitos artigos bastante cristãos e evangélicos. Eck: Não errou, pois, o
1518, realizou-se portanto o interrogatório de Augsburgo, que não deu
Concílio de Constança, quando condenou proposições cristianíssimas?
resultado algum.
Lutero, em seguida: Os Concílios Ecumênicos também podem errar. So-
O Cardeal tinha enucleado claramente as duas questões principais, bre esta palavra, que tombou como uma pedra no recinto, Eck imediata-
natureza da indulgência e eficácia dos Sacramentos. Procurou conseguir mente declarou Lutero como herege e fautor dos hussitas. Assustado, o
que Lutero retratasse sua negação do tesouro da Igreja, dos méritos de Duque Jorge retirara-se do salão.
Cristo, de onde o papa podia conceder indulgências, e sua afirmação de
que só a fé confere virtude aos sacramentos. Lutero recusou a retratação, Ao negar a infalibilidade dos Concílios Ecumênicos, Lutero rejeitou
enquanto não conseguisse convencer-se por argumentos da Sagrada Es- qualquer magistério eclesiástico. O que sobrava ainda era propriamente
critura. só a Bíblia. Naquela ocasião, Lutero estabeleceu, muito decididamente,
o princípio de que só pode valer como verdade religiosa o que pode,
Por fim, temendo ser encarcerado, foragiu-se da cidade, mas não sem
deixar, autenticada por notário, uma apelação do papa mal informado ao como tal, ser demonstrado pela Bíblia. O protestantismo recebeu, nestes
papa que devia ser melhor informado. Como semanas mais tarde chegas- termos, seu princípio formal propriamente dito, a doutrina de só-a-fé (dou-
se a Vitemberga um pedido de extradição, com a notícia de que o pro- trina de "sola fides").
56 Capitulo III A Reforma Protestante como obra pessoal de Lutero 57

A Disputação de Lípsia liquidou definitivamente com a opinião, até A par do poeta vagabundo, figurava Francisco de Sickingcn, cavaleiro
então esposada também pelo Príncipe-Eleitor de Saxc, que cm toda ques- salteador de grande envergadura, que depois lançaria na ruína a classe
tão com Lutero se tratava apenas de controvérsias de escolas c mestres, dos cavaleiros germânicos. Naquela época, seu castelo Ebernburg era ainda
c que a melhor solução estaria num veredito acadêmico. Antes da Dispu- um "asilo da justiça", onde se reunia um círculo de amigos secretos de
tação de Lípsia, havia acordo em se aceitar a arbitragem das Universidades Lutero. Êle ofercecu-o como homizio ao próprio Lutero.
dc Paris c de Erfurt; depois, porém, já não se recorreu a nenhuma das
Com estes jovens se defrontavam os campeões da velha fé, alguns
duas Universidades. Em Lípsia, ficou claro que já não havia base comum
homens da geração mais antiga, honradas personalidades, com profunda
para tanto, só prevalecia oposição e contradição.
consciência de seus deveres, com uma piedade reta, mas sem o fogo ar-
Nesse sentido, a luta continuou, naturalmente não mais em forma dente de um heroísmo abençoado pelo céu: Pricrias e Hochstratcn; os
acadêmica, mas popular, por vezes grosseira, rústica, c obscena. A arte Dominicanos, já empenhados na "Questão de Reuchlin"; o franciscano al-
tipográfica dava a oportunidade de propagar, em panfletos e pagelas, uma saciano Tomás Murncr, os componentes da Corte de Saxe, o Duque com
odiosa polêmica contra a Igreja Papalina. Nessa polemica, tinham grande seus Capelães palacianos. O Duque Jorge de Saxe foi, até a morte em
atuação visagens, caricaturas do papa como burro c príncipe dos infernos, 1539, o mais decidido adversário de Lutero entre os Príncipes Germâni-
da Igreja Romana como a grande rameira de Babilônia, dos cardeais, dos cos, zeloso reformador, sincero inimigo do curialismo. e, por austeros prin-
bispos, e dos religiosos. Não se pode afirmar que o próprio Lutero tenha cípios de justiça, vigoroso denunciador dos achaques da Igreja.
recuado diante dessa pouca honrosa campanha. Pelo contrário, êle fazia
o humanamente possível para instigar e encorajar seus sequazes. Dentre seus capelães, Jerônimo Emser, natural da Suébia, foi violen-
tamente atacado por Lutero depois da Disputação de Lípsia, enquanto
O problema das idades também influía na evolução dos acontecimen- Cochlaeus se encontrava ainda ao lado do Witembcrguense. Cochlacus
tos, como fator agravante e acelerador. Os jovens eram a favor de Lutero, procurou em vão induzir particularmente Lutero a um retorno, mas só
os velhos defendiam a Tradição. Entre os jovens, entretanto, que aderi- colheu zombarias e malsinações. Dc seus escritos, Lutero só respondeu ao
ram ao Reformador, formaram-se duas alas, uma humanística, outra ra- primeiro. Do afeto melindrado nasceu então amarga inimizade.
dical. Pertenciam à primeira, homens que foram conquistados por Lutero
em Hcidelberga; João Brenz, mais tarde reformador da cidade livre Cochlaeus foi um dos poucos que, desde o começo, viam a necessidade
Schwacbisch Hall e do ducado dc Vurtemberga, e o alsaciano Martinho de uma reação contrária, de natureza religiosa. Pessoalmente, era um
Bucer, que introduziria a nova doutrina em Estrasburgo; ao lado deles, sacerdote de fé ardente, pronto para sacrifícios. Tornou-se conhecido pela
Nicolau de Amsdorf, contemporáneo e colega do Frade Agostiniano em primeira biografia de Lutero sob o ângulo católico, redigida em 1549, os
Vitembcrga; em primeira plana, Filipe Mclanchthon, que aos 17 anos já "Commentaria dc actis et scriptis M. Lutheri". Dado seu caráter total-
era "magister" em Tubinga, e aos vinte e um anos foi chamado para mente polêmico, a biografia contém realmente muito veneno e odiosidade,
Vitembcrga como professor da língua grega, por recomendação de seu mas nenhuma inverdade deliberada. Até o século XX adentro, plasmou
tio-avô Reuchlin. Constituiu-se logo ardente seguidor de Lutero, e acom- decisivamente a imagem que os católicos conservaram de Lutero.
panhou-o também até Lípsia. Dentro em pouco, entusiásticos estudantes Em Lípsia, Lutero negara a inerrancia dos antigos Concílios, e na
12
vitemberguenses conquistaram posições-chave nas cidades livres da Ale- obra "Von dem Papsttum zu Rom" (Do Papado em Roma) rejei-
manha. tara o papado como disposição dos homens. Demolira pois a casa em
que então se abrigava a cristandade. Dali por diante, sua tarefa era rees-
Ao grupo radical dos primeiros sequazes de Lutero pertenciam To- truturar a vida dos cristãos, e cativar a seu favor a opinião pública. Foi
más Muentzer, que cm 1520 já era predicante, conhecido chefe de cam- esta a finalidade das três obras reformatorias de 1520.
poneses rebeldes; depois, Karlstadt, colega radical de Vitembcrga; sobre-
tudo Ulrico de Hutten, inescrupuloso humanista da jovem geração, um dos Para Lutero, era a época mais propícia que se podia imaginar. O
autores das célebres "Cartas de obscurantistas" ("Epistulae obscurorum Imperador recém-eleito encontrava-se ainda na Espanha. Nessa conjuntura,
virorum", "Dunkelmänner-Briefe"), redigidas ainda em latim contra os Lutero tornou-se mentor da Nação. Dirigia-se aos leigos, escrevia em
romanistas. alemão, e nessas obras abria mão de especulações e discussões teológicas,
colocava em primeira plana as questões cclcsiopolíticas, tirando cabedal
Desde 1521, o laureado poeta escrevia também em alemão, para ter do generalizado descontentamento contra a administração curial dc Roma
contacto com as massas na luta contra os padrecos romanos (welsche). e seus aliados naturais, que eram o mundanismo e o fiscalismo. A luta
Publicou seu "Gesprächsbüchlein" (Livrinho de diálogo) de orientação já não gira em torno de uma teoria, quiçá da indulgência, mas em torno
contra a Igreja, no qual descarrega sobre Roma a culpa de todos os males do Papa e de toda Igreja tradicional.
possíveis. Em Lutero via Hutten um paladino da liberdade religiosa e na- Na pessoa do Papa vê Lutero o inimigo jurado do verdadeiro cris-
cional, que urgia então alcançar na luta contra Roma e contra toda casta tianismo, o anticristo que Paulo anunciara para os últimos tempos. Dali
dc clerezia. Por isso mandou lançar publicamente seu cartel de desafio. por diante, suas idéias e sua linguagem tornam-se escatológicas. Suas me-
Nova História III — 5
58 Capitulo III A Reforma Protestante como obra pessoal de Lutero 59

táforas são tiradas do Apocalipse. Desta fonte nascem as obras de plata- isso, levantou-se contra o Papa e os Cardeais, com os plenos poderes de
forma eclesiopolítica, dirigidas "A seus queridos alemães" ("An seine lie- seu batismo, como filho de Deus c herdeiro de Cristo, intimando-lhes que
ben Deutschen"), de grande poder explosivo. Dentro de três meses apare- fizessem penitência e largassem imediatamente essas diabólicas blasfêmias,
ceram: "An den christlichen Adel deutschcr Nation von des christlichen ameaçando de anatematizá-los em nome de Cristo.
Standes Besserung" ("Aos fidalgos cristãos da Nação Germânica sobre a Apelou novamente para o Concílio Ecumênico. Aos 10 de dezembro de
morigeração do estado cristão") "De captivitate babylonica Ecclesiae" 1520, lançou ao fogo um exemplar impresso da bula cominatória da exco-
(Do cativeiro babilónico da Igreja"); e "Von der Freiheit eines Chri- munhão, diante da porta da cidade em Vitemberga, entre o júbilo dos estu-
stenmenschen" ("Da liberdade de um cristão"). A primeira publicação era dantes, e proferiu as palavras: "Quoniam tu conturbasti sanetam veritatem
um apelo à nobreza, por conseguinte ao laicato, para que tomasse em mãos Dei, conturbei te hodie Dominus. In ignem istum!" ("Porque conturbaste
a reforma da cristandade na base do sacerdócio geral: a santa verdade de Deus, hoje o Senhor te confunde. Vai para o fogo!")
"Todos os cristãos fazem parte, verdadeiramente, do estado eclesiás- Então, os acontecimentos precipitaram-se. Lutero foi excomungado.
tico, e não há discriminação entre eles, a não ser por causa do ministério. Staupitz desligou-o da obediência monástica. Lutero ficou sem pátria espiri-
Isto provém de termos um só batismo, uma só fé, um só Evangelho, e de tual, inteiramente entregue à veleidade do povo e à arbitrariedade dos prín-
sermos iguais como cristãos. Quem surde do batismo pode ufanar-se de já cipes, que naquela hora o tomaram naturalmente debaixo de sua proteção.
ser sagrado sacerdote, bispo, papa, muito embora não seja competência de A Chancelaria Imperial já tinha mandado lavrar respectivas ordens ri-
13
cada um exercer tal ministério". gorosas contra êle, quando a reação começou a movimentar-se, encabe-
Nestes termos, o leigo é declarado maior e responsável por si mesmo. çada pelo Príncipe-Eleitor de Saxe, com alegação de que Lutero não fora
Segundo tal escrito, não existem dois estados distintos na cristandade, mas ainda refutado. Por consideração aos sentimentos do povo, intimaram
um só estado. Por conseguinte, a precedência de Roma também não pode Lutero a comparecer à Dieta de Vórmia, "para se receber de ti esclare-
continuar. A cada cristão, em primeira linha aos mentores da cristandade, cimentos", e deram-lhe a garantia de um salvo-conduto. Aleandro, nún-
aos fidalgos compete interpretar a Sagrada Escritura, convocar o Concílio cio apostólico, e Frederico, o Sábio, procuraram embargar a viagem de
Ecumênico. Dentro do regime eclesiástico germânico, são eles que devem Lutero a Vórmia, mas Lutero queria comparecer à Dieta.
tirar as últimas conseqüências do sacerdócio geral. Em poucos dias, vende- Teve uma recepção triunfal pelas cidades da Alemanha, tão fortes
ram-se quatro mil exemplares dessa obra revolucionária. eram o sentimento anti-romano e a exaltação religiosa entre o povo. Alean-
"Do cativeiro babilónico da Igreja" toma em consideração a Igreja in- dro escreveu então a Roma: "Os Alemães convenceram-se de que pode-
visível, criatura do Evangelho, mantida em cativeiro por várias prescrições riam contradizer ao Papa e ser ainda bons cristãos, e que a fé católica
humanas, pela doutrina dos sacramentos, da transubstanciação, do caráter ainda se conservaria intacta, não obstante tais sentimentos". 15

sacrificai da santa Missa, pela negação do cálice aos leigos, pela formula- Os motivos nacionais do interrogatório foram proclamados pelo
ção de impedimentos matrimoniais. Por feliz inconsequência, Lutero não Príncipe do território: É de toda justiça dar a Lutero a oportunidade de
levou até ao extremo a negação dos sacramentos. Conservou o batismo de defender-se. A condenação de um cidadão germânico, sem prévio interro-
crianças (pedobatismo), a Ceia, em parte a Confissão; mas estes sacra- gatório, só poderia processar-se com grave escândalo.
mentos não operam por si mesmos, mas somente pela fé. Tornou-se supér- Aos 17 de abril de 1521, foram na Dieta apresentadas a Lutero duas
fluo o sacerdócio sacramental. A nova comunidade só precisa de ministros interpelações: se êle se declarava autor das obras que lhe eram atribuídas,
da palavra, de biblistas, para pregarem a palavra. e se queria retratar as doutrinas nelas contidas. Lutero respondeu de pronto
"Da liberdade de um cristão", primeira obra sobre a liberdade na área à primeira pergunta, e pediu tempo de refletir sobre a segunda. O impe-
lingüística germânica, é dedicada ao papa Leão X. Lutero queria com ela rador fêz-lhe ver o grande risco, a discórdia, indignação, rebelião, efusão
tirar, de antemão, qualquer justificativa para a excomunhão que estava imi- de sangue que de sua doutrina resultariam para o mundo.
nente. Em linguagem simples e bíblica expôs seu Evangelho sobre Cristo e No dia seguinte, Lutero recusou qualquer retratação. "Enquanto não
a remissão de pecados pela fé. Mas o patrimônio essencial do homem remi- fôr refutado pela Sagrada Escritura, ou pela clara razão, não posso nem
do é a liberdade cristã. O cristão é um homem livre, sobranceiro a todas as quero retratar cousa alguma, porque é incômodo e perigoso proceder con-
cousas, não subordinado a ninguém. Entretanto, cristão ideal é aquele que tra a consciência. Valha-me Deus! Amém". 16

está livre de todas as cousas terrenas, e subordinado a todos pela caridade.


Quando, porém, a bula "Exsurge, Domine" condenou as doutrinas de 5. A Tradução da Bíblia
Lutero e intimou o Professor a retratar-se, este lançou pelo mundo afora
um de seus discursos mais incendiários: '"Wider die Bulle des Endchrists", O interrogatório de Vórmia evidenciou que a evolução religiosa pes-
14
"Contra a bula do Anticristo". Então, pela bula cominatória da exco- soal de Lutero se tornara questão pública de alta política. Criou, também,
munhão, é que êle tomou conhecimento de que o Papa é o anticristo. Por grande moldura de propaganda em torno de Lutero, e deu-lhe, em lingua-
60 Capitulo III A Reforma Protestante como obra pessoal de Lutero 61

gem moderna, a necessária publicidade para a vitória de sua causa. Isto gicarum" da autoria de Melanchthon, uma exposição dos conceitos
tanto mais, quanto Lutero na viagem de retorno, sob a escolta dc vinte fundamentais da teologia segundo as idéias de Lutero, por conseguinte
cavaleiros, ainda pregou em Eisenach, sofreu então um assalto simulado, uma obra sistemática sobre dogma e ética ao mesmo tempo. Os "Loci"
e eclipsou-se da vida pública. Desta forma, não só se amparou contra os tinham por fim tornar acessíveis os pensamentos reformatorios aos inte-
efeitos do Edito de Vórmia, promulgado nesse meio tempo, como teve lectuais, sobretudo aos humanistas, e também manter a paz nas comuni-
também um período dc recolhimento e dc trabalho tranqüilo. dades paroquiais, pela acentuação da disciplina pública eclesiástica.
No castelo de Wartburg, o "fidalgo Jorge" ("Junker Joerg") não só
liquidou graves perturbações de espírito, mas também redigiu um livro
sobre os votos religiosos, destinado a atrair a Lutero enorme teoria de fra- 6. 0 Problema do Regimento Eclesiástico
des e freiras, que vivia nos conventos sem vocação religiosa, ou cm conflito
contra a Regra c os votos professados. A longa ausência de Lutero em Vitembcrga revelara o perigo que
Uma segunda obra polêmica "Sobre o abuso de Missas" ("Vom ronda qualquer movimento não organizado: radicalismo e desagregação.
Missbrauch der Messen") se destinava a seus irmãos dc hábito em Vitem- Em Vitemberga, o radical Karlstadt assumiu então a liderança e
bcrga, e apodava a missa de torpe idolatria. conquistou o próprio Melanchthon a favor de seus planos. Começaram
Mas, a par disso, começou êle em Wartburg sua tradução alemã da pela descatolização da vida pública. Karlstadt prestigiou as pregações de
Bíblia. Em dez semanas terminou o Novo Testamento, mas só depois dc um agostiniano contra a missa. No dia de Natal de 1521, êle próprio
doze anos fêz seguir o Antigo Testamento. pregou pela primeira vez em trajes seculares. Celebrou sem previa confis-
A Bíblia de Lutero não foi a primeira tradução germânica da Sagrada são a cerimónia da Ceia, com omissão do cânon, e nela distribuiu a Ceia
Escritura. Segundo um levantamento de 1939, 17
conservaram-se 817 sob ambas as espécies. No dia seguinte, ficou noivo, tendo já quarenta
manuscritos bíblicos em alemão, entre os quais 43 Bíblias completas. Até e um anos de idade. Desde muito declarara o casamento obrigatório para
1522, havia dentre as edições tipográficas 14 em alto-alemão, e 4 em bai- os sacerdotes seculares, e facultativo para os religiosos.
xo-alcmão, a começar com a edição de Mentelin em Estrasburgo (1461 Por determinação dele, juntaram-se os bens eclesiásticos e monásti-
ou 1466), e a edição de Augsburgo de 1473. Contudo, tais edições eram cos, as prebendas e fundações, numa "caixa-comum", da qual os eclesiás-
relativamente pequenas. ticos receberiam salário, e os pobres, subvenção. Proibiu-se a mendicân-
Sob o ponto de vista literário, a Bíblia de Lutero é a melhor tradu- cia. Em conseqüência, o Capítulo Provincial dos Eremitas de S. Agostinho
ção. Seu caráter específico não consistia, apenas, em ser feita sobre a base em Vitembcrga autorizou o êxodo dos religiosos para o mundo. A situa-
do texto primitivo, como Lutero o julgava, isto é, da edição erasmiana ção ficou cada vez mais tumultuosa.
de 1519, em contraste com traduções da Vulgata de outras edições. A Karlstadt invadiu igrejas e demoliu imagens e estátuas. Suprimi-
tradução moldou-se em estilo popular c intuitivo, na linguagem boemo- ram-se os altares laterais, queimaram-se os Santos Óleos. Ao iconoclasmo
saxônica, que pela Bíblia de Lutero adquiriu os foros de língua alto-alemã. adveio o abandono dos estudos teológicos, por influência de alguns faná-
Além disso, ela atesta o magistral poder de expressão do tradutor, a in- ticos expulsos de Zwickau. Cabe aos artesãos apregoar o Evangelho.
flamada vivência e experiência religiosa do homem, que deve à Bíblia Karlstadt recomendou aos estudantes que abandonassem a Universidade e
todo crescimento interior, c que colocou na Palavra de Deus toda a razão aprendessem um ofício manual. Êle próprio se fêz lavrador. A Universidade
de sua existência. ficou deserta.
Por isso mesmo, também, é que na Bíblia de Lutero está o centro Tal situação não permitiu que Lutero continuasse em Wartburg. Sem
da substância religiosa da Reforma. Esta circunstância, porém, não deve ninguém esperar, assomou entre os grupos revolucionários de Vitemberga.
encobrir o fato de que Lutero mexeu, arbitrariamente, no cânon e texto Com oito pregações conseguiu atrair a seu favor a opinião pública. A
bíblico; que distinguiu a Bíblia em trechos essenciais e menos essenciais; liberdade cristã não permite uma brutal transtornação de cousas que de
que nela queria ver confirmado seu ponto de vista; que "em passagens lite- per si são indiferentes. A Reforma não deve difundir-se por meio de vio-
rariamente equívocas interpretou por mera graça o centro da justifica- lência, nem por decretos do braço secular, nem por rebelião das massas
18
ção". conforme o admite em nossos dias um historiador protestante populares. Força é pregar a verdade, e deixar que a palavra atue por si
da Igreja. mesma.
A Bíblia de Lutero teve uma aceitação extraordinária. Os primeiros Os fanáticos foram obrigados a recuar, mas tinham dado uma lição
três milheiros foram vendidos em poucas semanas. Nos dois anos seguin- a Lutero, que sempre queria só doutrinar e pregar, sem nunca pensar em
tes, não saíram nada menos que quinze edições. organizar. Teve, então, de tirar as conseqüências práticas de sua doutrina,
De grande alcance para a Reforma Religiosa foi ter ela obtido em para que não fôsse de novo desvirtuada. Organizou, portanto, o culto
1521 um segundo livro fundamental, os "Loci communes rerum theolo- divino em Vitembcrga. Manteve a supressão da missa particular, da con-
62 Capitulo 111 A Reforma Protestante como obra pessoal de Lutero 63

fissão obrigatória, do preceito do jejum, bem como do monaquismo c do era favorecido pelo Papa. Naquela época também recebeu a ordenação
celibato clerical. Conservou, todavia, o latim como língua de culto, o uso sacerdotal. Voltado aos problemas do momento, por duas vezes acompa-
dos paramentos litúrgicos, a elevação na missa solene dominical. O uso nhou, como capelão militar, seus compatriotas para a Itália, e presenciou
do cálice para os leigos ficou ao critério de cada um. suas batalhas. Depois do regresso, insurgiu-se contra o recrutamento ten-
A comunidade cristã, única forma autêntica de igreja para Lutero, tem tado pelos Franceses em Glarus. Não podia conciliá-lo com seu ardente
direito de decidir se o pregador anuncia a doutrina estreme ("Que a patriotismo. Como não conseguiu impor-se, entregou a paróquia em mão
assembléia ou comunidade cristã tem o direito e o poder de julgar toda de um vigário, e colocou-se como sacerdote plebano ("Leutpriester") e
doutrina, de convocar, instituir e destituir mestres" [1523] — "Dass eine pregador em Einsiedeln, lugar afamado de peregrinação. Em dezembro de
christliche Versammlung oder Gemcinde Recht und Macht habe, alie Lehre 1518, o Conselho de Zurique convocou-o como pregador da Catedral
zu urteilen und Lehrer zu berufen, ein-und abzusetsen" [1523]). Sem ("Grossmünster").
embargo, ela não dispõe de nenhuma jurisdição disciplinar sobre seus A par da cura de almas, Zuínglio não abandonava os estudos huma-
membros, o que Lutero naqueles anos ainda negava, de modo peremptório, nísticos. Além do grego, aprendeu o hebraico. Desde 1516, estava em
à autoridade civil. Alguns anos mais tarde, mudará, por princípio, seu ligação com Erasmo, que o incitava a usar só a Bíblia e os Santos Padres
ponto de vista a respeito. nos sermões. Zuínglio, então, já não pregava sobre as perícopas dos Evan-
Deixou-se, então, ficar em Vitemberga, lecionando, pregando, e en- gelhos e das Epístolas, mas pela seqüência contínua do texto sobre o
tregando-se a incansável atividade literária. Em 1529, largou o burel reli- Evangelho de São Mateus e de outros livros bíblicos. Na verdade, êle ma-
gioso. Um ano mais tarde, com grande desagrado de Malanchthon, casou- nejava a Bíblia de outro modo que Lutero. Nela procurava Lutero encon-
se com Catarina de Bora, freira egressa da Ordem Cisterciense. Dali por trar a própria salvação; Zuínglio, a verdade em sua expressão mais estre-
diante, sua obra se desligaria cada vez mais de sua personalidade, e to- mada. Racionalista, mostrando-se mais crítico do que Lutero em face
maria seu próprio destino. da palavra revelada, e procurando o mais possível diminuir o mistério,
êle quer reduzir o cristianismo a uma filosofia de Cristo e a uma forma
7. Ulrico Zuínglio mais simples. Desse processo faz parte a abolição da justiça legal (justiça
de obras, "Werkheiligkcit"), principalmente das romarias, do culto dos
Nesse ínterim, ia-se formando, na faixa meridional de língua germâ- Santos e das relíquias, naturalmente também das indulgências.
nica, mais um chefe da Reforma, Ulrico Zuínglio em Zurique. Seu retrato Zuínglio tornou-se conhecido pela primeira vez, quando, cumprindo
na Biblioteca Central de Zurique traz o dístico: ordens do Vigário Geral de Constança, procedeu contra o franciscano San-
"Dum patriae quacro per dogmata saneta salutem son de Milão, encarregado de pregar a indulgência de São Pedro. A este
Ingrato patriae caesus ab ense cado". pregador que, de seu mandato, fazia repugnante traficância, tinha o Bispo
O verso caracteriza bem um aspecto da individualidade zuingliana. A de Constança interditado os púlpitos de sua diocese. Por fim, a Federação
Reforma de Zuínglio e a Reforma Helvética em geral são um fenômeno Helvética tinha até conseguido de Leão X a revocação de Sanson.
muito mais humanístico, sobretudo muito mais politico, do que a Reforma Nesses anos, porém, Zuínglio já se tinha afastado interiormente da
de Lutero.
Igreja. Se isto aconteceu sob a influência de Lutero (o que Zuínglio viva-
Foi a idéia de pátria, oriunda da antiguidade pagã, que introduziu o mente contestava), é questão que ainda não se pôde apurar com certeza.
humanista Zuínglio numa atuação política e nacional. Além do mais, êle
vivia numa época em que os milicianos ("Reisláufer") suíços representa- Em todo o caso, Zuínglio tornou-se reformador de linha própria.
vam uma valiosa tropa de assistência para o papa, c que por tal motivo Ainda que tenha perfilhado princípios luteranos sobre fé, justificação, e
vários eclesiásticos da Federação Helvética gozavam de especiais favores Bíblia, tedavia modificou-lhes pelo menos as respectivas calibrações.
e pensões pontifícias. Zuínglio não tinha pessoalmente, como Lutero, lutas de conscic-ncia
Zuínglio é mais moço do que Lutero, só por diferença de algumas se- nem o drama da certeza de salvação. Por isso mesmo, para êle, a graça
manas. Seu pai era conceituado bailio em Toggemburgo. O jovem Zuínglio e a morte de Cristo na Cruz não se colocavam no centro, mas a lei como
estudou em Viena, donde foi expulso uma vez, c depois em Basiléia. Em eterna vontade de Deus; não a justificação, mas a santificação que Cristo
ambas as Universidades, integrou-se profundamente no humanismo c con- opera no homem.
quistou amigos da mesma mentalidade. O fato de ter êle, durante os anos A acentuação dessa nova vida confere uma tonalidade moralizante a
de estudo, lecionado como professor em São Martinho, enquadra bem no seu sistema religioso. A vontade de Deus está claramente enunciada na
feitio do jovem humanista. Sagrada Escritura. Logo, todos os costumes devem ser analisados, se são
Aos vinte e dois anos de idade, foi escolhido como pároco pela co- prescritos na Bíblia, do contrário devem ser supressos. Nesse ponto, Zuín-
munidade de Glarus. Zuínglio conseguiu demover outro candidato, que glio aproxima-se de Karlstadt, natural de Vitemberga. 20
Dentro, po-
64 Capitulo III A Reforma Protestante como obra pessoal de Lutero 65

rém, de tais criterios, que resta ainda dos Sacramentos? Só o Batismo e matrimonial, composto de leigos e predicantes. Declarava-se competente
a Ceia, mas reduzidos à categoria de símbolos sem nenhuma eficácia. para as questões, até então tratadas na Cúria Diocesana, sobre impedimen-
O rompimento exterior com a Igreja devia sobrevir fatalmente. Já tos matrimoniais, validade e separação de casamentos; mais tarde, também
em 1521, o predicante Zuínglio, que sempre tinha em vista também a co- para a disciplina eclesiástica e o provimento de paróquias.
munidade social e política, exigiu do Pequeno Conselho a ordem de que Nestes contornos ficava perfeita a estrutura da cidade cristã, na
todos os pregadores tomassem obrigatoriamente a Bíblia como base única qual Zuínglio via, mais do que na paróquia, a Igreja visível propriamente
da pregação. Quando, cm conseqüência da pregação de Zuínglio, o precei- dita, a cujo braço forte também recorria, sem escrúpulos, quando os
to do jejum foi publicamente desacatado em Zurique, o Bispo de Constan- anabatistas ameaçavam destruir sua comunidade.
ça levantou protesto em 1522. Zuínglio publicou então a prédica "Vom O culto zuingliano era muito simples. Consistia em oração, leitura
Erkiesen und Frciheit der Speisen" ("Da escolha e liberdade dos alimen- da Bíblia, administração da Ceia quatro vezes durante o ano. Canto re-
tos"), a que juntou para o bispo uma mensagem endossada, além de sua ligioso e música de órgão eram proibidos. O batismo era apenas o símbolo
assinatura, por outros dez eclesiásticos. Imediatamente, a mensagem foi da Aliança Cristã, a Ceia apenas a comemoração da Paixão de Cristo.
também tramitada à Câmara Federativa em Lucerna. Postulava-se a fran- Interpretavam-se as palavras consecratórias como meramente simbólicas
quia da pregação evangélica e a abolição do celibato. Este era problema (est = significa). Sem escrúpulos, e com brutal energia, quis Zuínglio,
todo pessoal de Zuínglio, que em 1524 esposou uma viúva, com a qual em casas de oração e pregação, despojadas de imagens, reunir a totalidade
se mancebara desde muito tempo. do povo, e liquidar sumariamente com a consternação dos velhos crentes
Não sortiram efeito as cartas pastorais e as exortações do Bispo de em Zurique ("Es habend viel alter müterlin geweint". "Choraram muitas
Constança, nem a interdição da Câmara Federativa. À ameaça de exco- velhas mãezinhas").
munhão respondeu Zuínglio com exasperado ataque aos chefes da Igreja. O alvitre de Zuínglio, a entrega total da Igreja ao Conselho da cidade,
Renunciou ao cargo de pregador. Não queria mais saber da velha Igreja. (pois êle considerava como uma unidade religiosa as comunidades reli-
Não obstante, o Conselho de Zurique por sua vez confirmou-o no giosa e civil), tornou-se paradigma para muitas cidades livres da Alema-
cargo. Realizou-se, em 1523, uma disputação organizada pelo Conselho, nha Meridional.
mas o resultado era conhecido dc antemão. Zuínglio formulou 67 teses, Que contraste com a comunidade de Lutero em Vitemberga! Desta
que rejeitavam a Igreja visível; que negavam a Tradição oral, a hierar- maneira, ambos os Reformadores organizaram quase simultaneamente suas
quia, o sacerdócio, e o sacrifício da missa; que contestavam os votos re- comunidades, e nelas exprimiram a diferença de seus temperamentos.
ligiosos, os dias santos, os dias de jejum; que atribuíam francamente o
regime eclesiástico aos poderes públicos.
A disputação terminou com a vitória de Zuínglio. As dissertações 8. Guerra dos Camponeses
de João Fabre, vigário geral de Constança, também discípulo de Erasmo,
eram muito catequizantes e autoritárias. O Conselho ordenou então aos Entretanto, nem Lutero pôde conservar a integridade de seu ideal.
pregadores que se amoldassem às teses de Zuínglio. Verdade é que êle teve o tino de esquivar-se da revolução dos nobres, e
Zuínglio já tinha mandado elaborar um novo rito batismal, que só dc não confundir a causa deles, a liberdade germânica, com a liberdade
acentuava ainda mais o valor simbólico do sacramento. Uma segunda do cristão por êle mesmo preconizada. Escreveu, nessa época, o tratado
disputação deveria promover a abolição das imagens e da missa, mas "Von weltlicher Obrigkeit, wie weit man ihr Gehorsam schuldig sei" ("Da
21
encontrou resistência. Entretanto, em janeiro de f524, quando o Clero autoridade civil, até que ponto lhe devemos obediência").
se recusou a seguir a Reforma, o Conselho proibiu procissões e romarias, Nas Guerras dos Camponeses, porém, foi mais difícil para Lutero
e, em junho, o culto das imagens. tomar uma atitude conseqüente e inequívoca. Entre os camponeses, as
^ Dentro de treze dias, todas as igrejas da cidade tinham sido "purifica- idéias sociais revolucionárias ligaram-se, de vez em quando, com a ideo-
das", porquanto se caiaram as paredes, derrubaram e destruíram os pai- logia religiosa dos sectários e dos anabatistas. Tal ligação se tornou o
néis e as estátuas. Aboliram-se as velas, o toque de sinos, e a unção dos primeiro grande perigo para a estrutura luterana.
enfermos. Desmontaram-se os órgãos. Em janeiro de 1525, fecharam-se Um dos chefes entre os sectários era Tomás Müntzer, antigo sacer-
os conventos. Da Catedral ("Grossmünster) fêz Zuínglio uma Escola dote católico. Já estava ao lado dc Lutero na Disputação de Lípsia.
Teológica, que devia formar uma comunidade de nações com radicação Depois, quis organizar o novo sistema eclesiástico em Zwickau, e nesse
na Bíblia. Um regulamento municipal de esmolas abrangia todas as fun- mister se desviou de várias doutrinas luteranas. Mais realista do que o
dações eclesiásticas. Antes da Páscoa de 1525, o Conselho proibiu a Vitemberguensc, exigia para o ato de fé alguma colaboração por parte do
missa. Na Quinta-Feira Santa, celebrou-se a primeira Ceia do Senhor na homem. Só depois de superar as objeções de seu íntimo é que Maria
forma mais simples possível. No mês seguinte, instituiu-se um tribunal teria chegado ao ato de crer. Tal superação íntima se processa pelo teste-
66 Capitulo III A Reforma Protestante como obra pessoal de Lutero 67

munho direto do espírito, pela luz interior, pela palavra interior, que se rcito Romano escrito, com o surto da economia monetária urbana. En-
opõe à palavra morta da Bíblia. tanto, desde o início, a rebelião ligava-se também a motivos religiosos.
Seria impossível imaginar que Deus, tendo falado através dos sé- "Nada, senão a justiça de Deus" era o que exigiam os dizeres do
culos, já não falasse então como se tivesse emudecido. Eles queriam falar lema colocado no guião da "Liga do Borzeguim" ("Bundschuhfahne") em
diretamente com Deus, — chasqueava Lutero. 1491 no Alto-Reno. A efígie representava o Crucificado, ladeado por
O escopo de Müntzer era o Reino de Deus para o povo pobre e Maria e João, com um camponês de joelhos, de olhos erguidos para a
humilde. Por esta razão, Müntzer transbordava de ódio contra os catedrá- Cruz. A filiação à Liga obrigava a recitação de determinadas orações.
ticos de Vitemberga, que a seus olhos eram os viperinos doutores da Lei, Na consciência da comum dignidade cristã, exigia-se dos senhores que
contra os quais João Batista erguia sua voz de advertência. eles, como verdadeiros cristãos, dessem alforria aos camponeses.
"Nossos doutores gostariam de levar o testemunho do espírito de Sobreveio, então, a reviravolta religiosa, a investida contra bispos e
Jesus à Universidade. . . gostariam de julgar a fé pela Bíblia que rouba- mosteiros, seus senhores na maioria dos casos, e mais a publicação da
ram, mas eles não possuem absolutamente nenhuma fé. nem diante de obra de Lutero sobre a liberdade do cristão. Lutero, sem dúvida, pensava
Deus, nem diante dos homens. Pois qualquer pessoa vê e compreende na liberdade interior, quando escreveu que o cristão está livre de todas as
que eles ambicionam honras e riquezas. Por isso, homem do povo, é pre- cousas terrenas. Os camponeses, porém, entendiam com isso a liberdade
21
ciso que tu mesmo tenhas instrução". dc qualquer sujeição a senhores feudais, seculares e eclesiásticos, e a li-
O Evangelho é justamente para os aflitos e sobrecarregados, para os bertação de todos os tributos e jeiras. Cumpre dizê-lo que, antes do
deserdados, que são realmente os eleitos. O Evangelho não ab-rogou a aparecimento de Lutero em público, a Revolução dos Camponeses já
lei, mas cumpriu-a com a máxima gravidade. Quem quer preparar o ad- tinha começado no Alto-Reno e em Vitemberga. Mas, então, deitavam
vento do Reino de Deus não deve temer risco nem audácia. Lutero torna azeite na fogueira as arengas incendiárias de agitadores eclesiásticos, não
a cousa fácil demais para os homens, pregando somente um Cristo meloso, por último, as de Tomás Müntzer, e as inúmeras folhas volantes, impreg-
um Cristo pela metade". Mas "quem não quer o Cristo amargo morrerá, nadas de ódio, com suas ilustrações, em estilo que também o povo sim-
porque se entrouxou de mel até mais não poder". Por isso, Lutero é cer- ples podia compreender.
tamente o "grão-chanceler do demônio, o papa de Vitemberga". O povo, Em Memmingen, os Camponeses decidiram em 1525 organizar um
porém, se libertará, e só Deus será seu senhor. estatuto federativo, uma "Liga Cristã segundo o Evangelho". Para a parte
Müntzer pregava, por conseguinte, uma tumultuaria defesa de si pró- do Direito Canónico, como os Camponeses não se sentissem competentes,
prio, um iconoclasmo, e também a eliminação dos reis, príncipes e pa- deviam ser designados sete predicantes e doutores, entre os quais figuravam
drecos, depois que os Príncipes de Saxe se retraíram dele. Seu modo de Lutero, Melanchthon, c Zuínglio. O Direito Civil, porém, avocaram-no à
assinar era dali por diante: "Tomás Müntzer, com a espada de Gedeão". sua própria alçada. Decretaram "Os Artigos básicos e principais de todos
Em Zwickau, tinha-se bandeado com os tecelões. Houve, todavia, in- os camponeses e agregados de senhorio eclesiástico ou secular" ("Die
tervenção do Conselho da cidade, c os profetas do novo Reino Cristão gründlichen und Hauptartikel aller Bauernschaft und Hintersassen gcistli-
foram rechaçados. Êle organizou, na cidade rural de Allstedt na Saxônia cher und weltlicher Obrigkeit"), conhecidos por "Doze Artigos". Seu pro-
Eletiva, o primeiro culto litúrgico em alemão. Acossado por Lutero, diri- vável autor será o oficial de pclciro Sabastião Lotzer, nativo de Memmin-
giu-se para a cidade livre de Mühlhausen na Turíngia. Enxotado de lá, gen.
reapareceu em 1525 e organizou uma teocracia radical dos humildes. Já O primeiro artigo exige livre eleição dos párocos pela comunidade,
estava pois em plena expansão o levante social dos camponeses, que aos quais ela de boa mente se prontifica a dar o justo dízimo em cereais,
Müntzer havia atiçado a valer no Centro e ao Sul da Alemanha. porquanto é obrigação imposta pelo Velho Testamento. O eleito deve
Deixamos atrás consignado como os anabatistas provocaram, junto apregoar o Evangelho "com isenção de espírito e clareza, sem nenhum
com Karlstadt. os distúrbios de Vitemberga. Desde aquele tempo, os "ban- acréscimo humano". Deplora o terceiro artigo que "fôssemos tomados por
doleiros e sectários" eram adversários de Lutero, que lhes votava ódio mancípios, fato lamentável, já porque Cristo nos resgatou a todos com
maior do que ao papado. Quando Müntzer se encontrava em Allstedt, seu Precioso Sangue. Por isso. consta na Bíblia que somos livres", não sem
Lutero escrevera uma "Carta aos Príncipes da Saxônia sobre o espírito submissão à autoridade, mas dotados de liberdade física.
de rebelião" ("Brief an dic Fürsten von Sachscn von dem aufrührerischcn Os artigos subseqüentes postulam liberdade dc caçar c pescar, ma-
Gcist"). " deira dc construção, lenha de queimar, abolição do tributo obituário, redu-
A Guerra dos Camponeses terá certamente irrompido por causa das ção das jeiras, atenuação dos juros forais, e supressão de todas as penas
24
tributações e aforamentos. Em toda a parte, estavam os camponeses des- arbitrárias.
contentes com sua situação social. Sofriam pesadamente com a arbitrarie- Naturalmente, estes artigos que se caracterizavam pela moderação e
dade dos patrões, com as alterações dos foros, com a introdução do Di- senso de medida, eram obra de idealistas. A turba, porém, já se não com-
68 Capitulo III A Reforma Protestante como obra pessoal de Lutero 69

punha só de camponeses, mas também de inúmeros artesãos e oficiais de ao próprio Lutero? Não tinha êle incitado os leigos à defesa de si próprios?
mister das cidades. Caída na influência de agitadores, ela saqueava c in- Não saturara a atmosfera com seu modo violento de arengar? Não insti-
cendiava. Mais de mil mosteiros e castelos arderam como fogueiras. gara, numa fúria sem limites, as massas contra as vigentes instituições fun-
Isto provocou enérgica resistência. O comandante da Liga Sucva, damentais?
Jorge Truchsess de Waldburg, investiu contra os magotes de camponeses e Não resta dúvida que o malogro da Guerra dos Camponeses e o
destroçou-os. A mais brutal de todas foi a reação dos vencedores na Fran- panfleto incendiário de Lutero prejudicaram o prestígio do Reformador.
cônia c na Turíngia. Derrotado em Frankenhausen, Müntzer foi torturado Se dali por diante se pode, ou não, falar de um ponto final em sua Reforma
e decapitado. O margrave Casemiro de Brandemburgo-Kulmbach mandou, 23
como movimento popular dependerá do critério de ter mais em vista
em Kitzingen, furar os olhos de sessenta e dois cidadãos, participantes das os vassalos dos príncipes ou os súditos das cidades. Em todo o caso, dali
rebeliões, e lançou-os na rua da amargura pela cidade afora. Malogrou a por diante houve certo distanciamento entre Lutero c o povo simples.
Revolta dos Camponeses. Com ela, malogrou, também, a tentativa de Êle reconheceu, com toda a nitidez, que sua Igreja, não obstante a
colocar nas mãos de cada comunidade, pela livre eleição dos párocos, a
natureza invisível, precisava de uma ordem visível, de organização c dire-
escolha entre a velha e a nova religião. Saíram, pois, vitoriosos os príncipes
governantes. ção, a fim de que doutrina e moral não ficassem à mercê de cada indivíduo.
Sem embargo, direção e disciplina eclesiástica não podiam ser confiadas
Os Camponeses esperavam pelo apoio de Lutero, e tinham solicitado aos pastores, porque lhes cabia o ministério da palavra. Restavam então os
sua mediação. Em abril de 1525, êlc escreveu uma "Exortação à paz na príncipes e os conselheiros, aos quais se poderia cometer a organização
25
base dos Doze Artigos dos Camponcnses" ("Ermahnung zum Frieden eclesial das massas.
auf die zwölf Artikel der Bauerschaft"), na qual se dirigia sobretudo aos Desta forma retornou Lutero à praxe medieval do regime eclesiástico
Príncipes e Senhores, reconhecendo, como geralmente justas e cabíveis, as regalista, e à teoria de que o príncipe, como cristão mais qualificado, em
reivindicações dos camponeses. Responsáveis pelas desordens, seriam os
virtude de sua missão por mercê dc Deus, é uma espécie de bispo, incum-
próprios patrões, principalmente aqueles que se opunham ao Evangelho.
bido de zelar pela ordem na Igreja. Cumpre dizer, porém, que aos príncipes
Um mês mais tarde, como se incendiassem mosteiros e castelos tam- não caberia o direito de forçar os heterodoxos à verdadeira doutrina, mas
bém na Francônia e na Turíngia, como a pilhagem e a violência se exa- deveria proibir culto herético, e de zelar pelo verdadeiro culto de Deus.
cerbassem, êle redigiu, como anexa à nova edição da "Exortação à paz", Assim se estabeleceram as bases para a estruturação das Igrejas Nacionais
um novo opúsculo com o título "Também contra os bandos salteadores Luteranas ("Landeskirchen"), e a propagação do Evangelho se deslocou,
e assassinos dos outros camponeses" ("Auch wider die räuberischen und
de fatores acidentais e pessoais, para a esfera funcionária e política.
mörderischen Rotten der andern Bauern". Incitava, então, os príncipes a
matarem os camponeses como cães danados, por ser obra agradável a
Deus.
9. Igrejas Nacionais (Landeskirchen) na Alemanha e na Escandinávia
Dura era a linguagem de Lutero: "Por isso, quem puder, soque, mate,
acutile, secreta ou publicamente, lembrado de que nada pode ser mais ve- Desde os dias de Heidelberga e Vórmia, Lutero conquistava amigos
nenoso, mais nocivo, mais diabólico, do que um indivíduo rebelde; seja incessantemente, os quais procurariam mais tarde difundir e consolidar a
como alguém que deve matar a pau um cão danado. Sc tu o não feres, êlc Reforma em seus campos de ação individual. Mclanchthon, Hutten, Sickin-
te ferirá a ti, e na tua pessoa toda a Nação. Acutilai, retalhai, estrangulai, a gen, Bucer e Brenz já foram mencionados. Amsdorf colaborara na tradu-
mais não poder! Se neste afã encontrares a morte, feliz de ti! Nunca te ção da Bíblia, e trabalhava então cm Magdeburgo. Bugenhagen, natural
poderia ocorrer fim mais venturoso, pois tu morrerias em obediência à da Pomerânia, tornou-se pároco em Vitemberga, posteriormente em Ham-
palavra de Deus. . . e a serviço da caridade". 26
burgo. Justo Jonas, colega de Vitemberga, traduziu as obras latinas de
Em cartas, professa a mesma mentalidade: "Ainda que haja mais Lutero. Espalatino, natural de Nuremberga, secretário particular do Prín-
de mil, os camponeses são todavia ladrões e assassinos". "Se houver ino- cipe Eleitor de Saxe, foi por muitos anos transmissor de idéias e aspira-
centes entre eles (camponeses), Deus sem dúvida os conservará sãos c ções luteranas junto ao seu sempre tímido e irresoluto soberano. A eles se
salvos... Se o não fizer, é porque eles não estão certamente livres de juntam legiões de religiosos egressos. Agostinianos, franciscanos, como
culpa, pois terão pelo menos silenciado e consentido. . . Disparai os tra- Eberlino de Ulma e o cronista Conrado Pelicano; dominicanos, como
bucos contra eles!" 2 7
Bucer; beneditinos, como Ambrósio Blarer; brigitinos, como Ecolampádio,
e muitos outros.
Aos olhos de Lutero, a autoridade tem por função essencial proteger
os justos e prevenir rebeliões. A obrigação de obedecer, para o súdito, vai Aos sequazes de primeira hora, ainda que posteriormente se tenham
tão longe, que êle se obriga a renunciar ao direito de própria defesa. En- em parte arredado de Lutero, pertenciam muitos humanistas que estavam
tretanto, a Guerra dos Camponeses, pelo menos em parte, não remonta a serviço da cidade, principalmente em Nuremberga, onde em 1521 já se
Capitulo III A Reforma Protestante como obra pessoal de Lutero
70

fazia pregação luterana: Vilibaldo Pirckheimer e Lázaro Spenglcr, e mais


os reformadores das cidades livres do Sul da Alemanha, Hall, Esslingen,
Reutlingen, Memmingen, Augsburgo e Constança. Um nuremberguensc sus-
tentou, já em 1524, uma disputação luterana cm Breslau. Já se pregava
doutrina luterana em Magdeburgo, Erfurt, Halberstadt, Brema, e Danziguc.
Por outro lado, dos príncipes só o irmão e o sobrinho do Príncipc-
Eleitor de Saxe aderiram a Lutero. Desde 1523, o grão-mestre da Ordem
Teutônica, Alberto de Brandemburgo, mantinha relações com Lutero. Na-
quela mesma época, os bispos de Samland e Pomerânia tinham permitido
a pregação luterana em suas circunscrições. Pessoalmente, professaram-se
luteranos, e, como primeiros apóstatas do epicospado alemão, contraíram
matrimônio em 1524.
A conselho de Lutero, o grão-mestre Alberto de Brandemburgo trans-
formou a Prússia, possessão da Ordem Teutônica, em ducado secular, e
como tal avassalou-a ao Rei da Polônia. Introduziu, ao mesmo tempo, o
regime eclesiástico luterano, mas conservou naturalmente a constituição
episcopal. De grande alcance para a Reforma nesse país foi seu casamento
com uma filha do rei Frederico I, da Dinamarca.
Foi, portanto, a Prússia, domínio da Ordem Teutônica, o primeiro
território alemão que passou, como um todo, para a Reforma. Outros
fizeram outro tanto, sem mais tardar. Sob a influência de Melanchthon, o
langravc Filipe de Hássia introduziu a pregação do puro Evangelho em seu
território. Dois anos mais tarde, a exemplo de Zurique, mandou organizar
uma disputação em Homberg, sob a orientação de Lamberto de Avinhào,
cx-franciscano francês, que ali defendeu 158 teses formuladas por êlc mes-
mo; como conseqüência, estabeleceu novo regimento eclesiástico, a "Rc-
formatio ecclcsiarum Hassiae". Determinava esta, não somente a organi-
zação e a vida da Igreja em Hássia, a formação da juventude, e a planejada
fundação de uma Universidade em Marburgo, mas também a confiscação,
dali por diante, dos conventos e instituições religiosas do país, cujos ocupan-
29
tes foram contra a vontade indenizados com pensões, a supressão do
velho culto, e a substituição de párocos papistas por predicantes da nova
religião.
Quem não queria sujeitar-se à nova ordem estabelecida pelo chefe do
território via-se obrigado a emigrar. Negou-se liberdade de consciência
aos seguidores da velha crença, bem como aos anabatistas. A jurisdição
estava então totalmente em mãos do Langrave, que se apressou em exe-
cutar o regimento, não obstante as advertências contrárias de Lutero.
Em sua nova regimentação, Filipe da Hássia só podia naturalmente
apoiar-se na decisão da Dieta de Espira do ano de 1526, de caráter pro-
visório, pela qual em assuntos do Edito de Vórmia, a saber, da Reforma PAÍSES NÓRDICOS AO TEMPO DA REFORMA
Religiosa, cada unidade do Império podia proceder da maneira pela qual
julgasse capaz de responsabilizar-se diante de Deus e de sua Majestade o
Imperador.
Esta jurisprudência tornou-se, erradamente, a base jurídica para a
destruição do regime eclesiástico católico, e para a instituição de próprias
Igrejas Nacionais Luteranas nos vários territórios. Por via de regra, fazia-se
72 Capitulo III A Reforma Protestante como obra pessoal de Lutero 73

ao mesmo tempo a implantação do novo regime eclesiástico, a que seguia Bispo de Roskilden, que até o fim não o quis fazer, morreu encarcerado
a respectiva execução mediante uma visita canónica feita em todo o em 1544.
território, por ordem do chefe nacional, e como remate geralmente a Para organização da Igreja, convocaram Bugenhagen, de Vitemberga,
fundação de uma Universidade local, na medida em que ainda faltasse que coroou o Rei e elaborou a "Ordinatio ecclesiastica", segundo os mol-
no território. des da Saxônia Eletiva, mas com a diferença de que ao rei não se deu
Até 1529, organizaram-se igrejas nacionais desse estilo em Hássia c Consistório Eclesiástico para assessorar o governo da Igreja. Os superin-
na Saxônia Eletiva, em alguns ducados e condados menores, mas também tendentes eram propriamente meros funcionários do rei.
em muitas cidades livres, como Brcma, Estrasburgo, Magdcburgo, Nurem- Um ano depois (1538), a Dinamarca aderiu à Aliança de Esmalcalda,
berga, e outras. Na Saxônia Eletiva, o sucessor de Frederico o Sábio man- c aceitou a Confissão de Augsburgo. Como a Noruega estava ligada por
dou, em 1527, fazer a visita canónica por meio de quatro Comissões. união pessoal com a Dinamarca, o país partilhou a sorte da Igreja Dina-
O próprio Lutero tomou parte nela. Melanchthon redigira o ritual da visita. marquesa. Na Islândia, longínquo país vassalo, o soberano dinamarquês fêz
Lutero publicou um pequeno catecismo para o povo, uma catecismo maior prevalecer sua vontade, embora o triunfo da Reforma só se decidiu em
para os párocos, e anteriormente um livrinho de cânticos, uma missa em 1550 com a execução do bispo Jon Arason de Holar, que defendera a
3 0
alemão c um rito batismal. Mais uma vez se conservaram os ritos e os causa católica com o uso de armas, e invocara o auxílio do Imperador
paramentos, o canto c a elevação, mas omitiu-se o cânon, o que o povo Carlos V como protetor da Igreja.
simples mal chegou a perceber. Na Suécia, igualmente sob domínio dinamarquês desde a União de
Como intendentes, eram constituídos eclesiásticos; como superinten- Kalmar em 1397, a hierarquia já estava, antes de Lutero começar, em alian-
dentes, leigos nomeados pelo Governo. Muito embora Lutero quisesse, na ça com os Dinamarqueses contra o Movimento Nacional. Tinha, porém,
colaboração estatal, ver apenas um obséquio de irmão mais velho, essa feito jogo errado, e também se comprometera, gravemente, com a
Igreja Nacional em que os seguidores da velha religião deviam abandonar Carnificina de Estocolmo em 1520. Quando o chefe dos rebeldes, Gus-
o país, e os anabatistas sofriam torturas físicas, tornou-se por fim uma tavo I Vasa, possuído de sentimentos luteranos, se impôs como rei em
igreja dinástica, dentro da qual a vontade do chefe nacional era a única que 1528. encontrou eminentes colaboradores no arquidiácono Lars Anderson e
se impunha, também em assuntos religiosos. em Olau Petri, pregador da catedral de Straengnaes. Ambos eram luteranos.
Igrejas nacionais, em certo sentido, fora do Império Germânico, eram- Olau Petri fora aluno de Lutero em Vitemberga. Anderson tornou-se chan-
no outrossim as Igrejas Luteranas nos Países Escandinavos, que os prín- celer do Rei.
cipes seculares instalaram, depois de vencidas várias resistências. Para a As primeiras metas da nova política eclesiástica eram ainda modera-
Dinamarca, foram decisivas a estreita ligação com a Holsácia e o Eslévico, das. Queriam bispos nativos, metropolita nativo, e a execução de reformas.
onde em 1528 se introduzira um regime eclesiástico luterano, e as relações Por fim, prevaleceram tendências mais radicais. Aproveitaram o ensejo de
pessoais do Rei com seu genro, novo duque luterano da Prússia. revoltas, para quebrantar o poder dos bispos, e melhorar as finanças reais
Ainda que na Capitulação Eleitoral fosse obrigado a concordar com pelo seqüestro dos bens eclesiásticos. A Dieta de Vaesteraes decretou, em
a proibição da prédica luterana, o rei Frederico I em 1527 já concedia 1525, o confisco das rendas excedentes da Igreja em favor do Rei, e
tolerância pública para a nova doutrina, que tinha por pregador João exigiu a pregação da pura palavra de Deus.
Tausen, cx-joanita c estudante em Vitembcrga, nomeado capelão do O bispo Hans Brask de Linkoeping, incansável paladino da velha
Palácio Real. Na Dieta dos Nobres ("Hcrrcntag") em Copenaga, vinte e Igreja, refugiou-se na Polônia. Foi reprimido um levante do povo católico.
Un predicantes, sob a chefia de Tausen, proferiram sua profissão de fé, Como arcebispo de Upsália, cuja cátedra ainda não estava canonicamente
a "Confessio Hafniensis", que como ponto dc partida não tomava, assim, vaga, foi sagrado cm 1531 Lourenço Petri ( + 1 5 7 3 ) , irmão de Olau, sem
a aspiração pessoal por um Deus clemente, no sentido de Lutero, mas um nenhuma interferência do Papa, mas segundo o velho rito católico por
humanismo bíblico, segundo a mentalidade de Zuínglio e Bucer. Nenhum bispos autenticamente sagrados. O regime da Igreja Nacional Sueca estava
efeito sortiu a refutação católica, por parte do carmelita Paulo Elias, igual- inequivocamente colocado nas mãos do Rei.
mente influenciado pelo humanismo, e do franciscano Nicolau de Herborn, Só em dezenas de anos é que a grande massa do povo pôde ser con-
natuial da Baixa-Alemanha. quistada para a Reforma. Esta conservava, na Suécia, não apenas o epis-
O Duque Cristiano III de Holsácia, já luterano, decidiu, depois de copado e o sacerdócio, mas também ritos, cerimônias e festas católicas,
longos combates, o fim da Guerra Civil em torno da sucessão ao trono muito mais do que na Alemanha. Graças a esta atitude conservadora (por
dinamarquês. Com um golpe de força, a Reforma conseguiu vencer. Em exemplo, durante muitos anos se mantiveram os dias de sufrágios pelos
1536, todos os sete bispos dinamarqueses foram presos numa batida, seus mortos), o povo levou muito tempo até perceber, claramente, a ruptura
lugares tomados por superintendentes, e os bens eclesiásticos confiscados. com a velha Igreja. Da Suécia, como ponto de partida, executou-se a
Os bispos só foram soltos, depois terem renunciado à sua dignidade. O Reforma na Finlândia, país desde muito avassalado, e na recém-
Nova História III — 6
74 Capitulo 111 A Reforma Protestante como obra pessoal de Lutero 75

conquistada Estônia. A tradução sueca da Bíblia por Lourenço Petri Murner, porém, em quarenta declarações de infâmia a Zuínglio, lançou
(1541) e a finlandesa por Miguel Agrícola (1548) consolidaram a apaixonado protesto contra a maneira pela qual se implantara a Reforma
Reforma na consciência do povo. em Zurique. Fabre entregou ao presidente sua "Argumentação cristã"
O luteranismo também penetrou rapidamente noutros países do Lito- ("Christliche Bewcisung"), na qual expunha os testemunhos bíblicos a
ral Báltico, depois da deserção religiosa de Alberto de Brandemburgo, favor da presença real eucarística, concluindo assim:
grão-mestre da Ordem dos Cavaleiros Tcutônicos. Afeiçoaram-se à inova- "O que muito importa aqui, todos os fiéis cristãos c cu temos Cristo,
ção religiosa sobretudo as cidades de Riga, Reval e Dorpat. Conselho e sua palavra eterna, única, c verdadeira, todos os mestres, o "consensum
povo estavam de acordo entre si. O senhor, porém, dessas províncias bálti- Christi fidelium", todos os vivos e todos os mortos. Nisso quero perseve-
cas, Valter de Plettenbcrg, chefe militar da Ordem Teutônica, conservou-se rar, e aconselho a todos que assim permaneçam. Sc me iludo, é porque
52

pessoalmente católico. Permitiu, entretanto, em sua política hesitante, que Cristo, o Espírito Santo e a Santa Igreja me trazem iludido".
as conezias e sedes episcopais caíssem, aos poucos, em mãos protestantes. Não obstante o desfecho da disputação, Basiléia e Berna prossegui-
Mas, quando por morte do enérgico arcebispo João de Blankenfeld, ram com a introdução gradativa da Reforma. Contra o Conselho Municipal
aliado com a nobreza da Livônia em defesa da religião católica, o arcebis- e a Universidade, as corporações de Basiléia apodcraram-se do governo,
pado de Riga passou cm 1539 para as mãos do margrave Guilherme, irmão numa revolta durante o Carnaval de 1529. Aboliu-se a missa, destruíram-se
do grão-mestre, só então é que ficou selada a sorte da Igreja Católica na as imagens. As regiões do interior subtraíram-se à jurisdição civil do bispo.
Livônia e em todo o Báltico. Foi este obrigado a deixar a cidade e retirar-se para Pruntrut. O Cabido
Nada alterou, nesta situação, a posterior soberania polonesa sobro da Sé fugiu para Friburgo na Brisgóvia.
essas províncias, ainda mais que a fraca dinastia c a situação anárquica na Algumas semanas mais tarde, o novo Conselho introduziu outro regi-
Polônia não puderam impedir, no próprio país, a formação de comunidades mento, que pôs termo à reviravolta, começando pela pregação, terminando
protestantes, mormente entre os alemães domiciliados nas cidades de Dân- com prescrições sobre feitio c estofo de vestidos, ameaçando com anátema
zigue, Elbing e Thorn. os seguidores da velha religião, c com sentença de morte aos anabatistas.
Ecolampádio exigiu, em vão, uma disciplina eclesiástica que fosse regu-
lada pelos presbíteros (anciãos). Não admitindo, nem sequer na aparência,
10. Progresso da Reforma na Suíça a revolução religiosa, Erasmo abandonou a cidade ribeirinha do Reno cm
1529.
Notáveis progressos fazia a Reforma também ao Sul da Europa. A Em Berna, o partido dos novos crentes conservou a dianteira nas elei-
combatividade política de Zuínglio não podia contentar-se com o que já ções realizadas depois da Disputação de Bade. Sob a chefia do pároco da
alcançara. "Ele não hesitou em dissolver a Federação, para criar nova Sé, Bertoldo Hallcr, natural de Rottweil, a fim de justificar a troca feita
unidade de caráter político sobre base religiosa, a federação dos cantões para nova doutrina, realizou-se em janeiro de 1528 uma grande disputação,
fiéis ao Evangelho, a fim de estabelecer o Reino de Cristo no p a í s " .51 da qual os católicos foram quase que totalmente excluídos, enquanto com-
Pois, nesse ínterim, o francônio Ecolampádio tinha fixado domicílio per- pareciam delegados de todos os cantões protestantes da Alta-Alemanha,
manente em Basiléia. Era condiscípulo de Melanchthon, e trabalhara anti- desde Nuremberga até Augsburgo.
gamente como predicante em Basiléia. Depois de passar por Augsburgo, Aos anabatistas, negou-sc-lhes o direito de falar. Zuínglio e Ecolam-
viveu algum tempo no mosteiro brigitino de Altomunster, onde publicou pádio refutaram o luterano Haller com sua doutrina sobre a Ceia. Como
um tratado sobre a Confissão, no qual manifestava idéias nitidamente lute- conseqüência, introduziu-se a Reforma nos moldes de Zurique. Seguiram
ranas. Retornara, então, a Basiléia, na qualidade de cura de almas e pro- ao exemplo de Berna, Glarus, São Galo, c Biel. Também Mühlhausen, na
fessor de teologia. No dia de Todos-os-Santos de 1525, celebrou pela pri- Alsácia, aderiu à aliança dos novos crentes, à "Cidadania Cristã" ("Christ-
meira vez a Ceia Evangélica. liches Burgrecht"). Opuseram-lhes o cantões católicos, em 1529, uma
"Concentração Cristã" ("Christliche Vereinigung"), da qual participava
Nessa altura, os cantões interiores da Suíça, Uri, Schwyz, Unterwal- o Arquiduque Fernando da Áustria. Muito grande era o perigo de um
den, Zug e Lucerna com Friburgo tinham aprazado um diálogo sobre reli- choque armado entre as duas facções.
gião em Bade na Argóvia, para o qual Eck prometeu comparecer. Além
dele, do lado católico, tomaram parte João Fabre, vigário geral de Cons-
tança, e o franciscano Tomás Murner. Do lado protestante, compareceram 11. Agrupamentos Políticos
Ecolampádio e Hallcr, de Berna, além dos delegados de Glarus e Schaff-
hausen, ao passo que Zuínglio recusou tomar parte. Depois da bem manipulada opressão das dioceses francônias por
A Disputação terminou a favor da causa católica. Em grande torneio parte de Filipe de Hássia, os elementos (Stände) católicos afinal
oratório, Eck liquidou com Ecolampádio; Fabre, com Haller de Berna. despertaram. As vitórias de Carlos V sobre o Rei da França, o tratado dc
76 Capitulo III A Reforma Protestante como obra pessoal de Lutero 77

paz do Imperador com Francisco I e com o papa Clemente VII, tinham Para aumentar a força política dos novos crentes, procurou o langrave eli-
fortalecido neles a consciência de si mesmos. minar os contrastes intrínsecos do evangelismo, e promover entendimentos
Na mensagem à Dieta de Espira em 1529, o Imperador exigira enér- com os habitantes de região alta ("Oberländer"), por conseguinte com os
gicamente a revogação do último protocolo de encerramento da Dieta do zuinglianos do Sul da Alemanha e da Suíça, também rejeitados por Lutero
Império. Sob a presidência do Arquiduque Fernando, deliberou-se por como sacramentários. Filipe, já naquela época, via no Imperador o ini-
conseguinte cassar o protocolo da Dieta de 1526, e extinguir totalmente os migo. Por esse motivo, planejava contra os Habsburgos uma coligação dc
sacraméntanos (Zuinglianos) e os anabatistas. Por atenção à Reforma, todos os protestantes no Império e na Suíça, com inclusão dc nações não-
que já estava em execução, decretou-se o seguinte: germânicas como a França, Dinamarca, e a República de Veneza. Queriam
"Nos demais estados ("Stände"), onde surgiram outras doutrinas bloquear os Alpes e a linha do Reno, a fim dc espezinhá-lo.
e não podem em parte ser removidas sem notável rebelião, incômodo Condição prévia para tal aliança política era um entendimento reli-
e perigo, evitem-se daqui por diante, na medida do humanamente possível, gioso entre Lutero e Zuínglio; mas tornava-se difícil estabelecer contacto
33
outras inovações religiosas até o próximo Concílio". entre eles. Afinal Ecolampádio e Bucer conseguiram convencer o altaneiro
O antigo culto divino deve ser tolerado, o Clero católico protegido Zuínglio, e o Langrave por sua vez a Lutero, desfavorável a uma aliança
em seus direitos e proventos. Por fim, declarou-se ainda que por motivo dirigida contra o Imperador, que se encontrassem em Marburgo.
de religião nenhum dos estados ("Stände") podia ser constrangido, inco- Mas o encontro de Marburgo em outubro de 1529 não promoveu ne-
modado, ou combatido com operações de guerra; da mesma forma que nhuma unificação. Depois de redigirem juntos 14 artigos, os espíritos desa-
ninguém por motivo dc religião podia ou devia acobertar e proteger súditos vicram-se quanto ao décimo quinto, à questão da presença de Cristo na
alheios ou próprios parentes contra suas respectivas autoridades. Assim Ceia. Baseado nas palavras da instituição, que escrevera diante de si sobre
ficou estigmatizado o procedimento de Filipe. Reincidências seriam punidas a mesa, Lutero declarava-se pela real presença corporal. Apoiado princi-
com proscrição imperial. palmente no Evangelho de São João, Zuínglio batia-se principalmente pela
Tal medida tirou aos príncipes e às cidades da Alta-Alemanha todo idéia de uma manducação espiritual. A proposta intermediária de Bucer de
e qualquer título jurídico, colorado que fosse, para a Reforma por eles tomar a presença real no sentido sacramental, por conseguinte não "quanti-
executada. Assim, mais uma vez se condenou, em princípio, o novo tative vel qualitative vel localiter", Zuínglio rejeitou-a como papista. A
regime eclesiástico. De outro lado, no protocolo de encerramento da aliança política também não foi viável. Ulma e Estrasburgo recusaram-se,
Dieta entrou novamente uma fórmula muito equívoca "na medida do porque os Artigos de Schwabach, tomados como fundamentais, combatiam
humanamente possível", pois continuava a deixar margem a arbitrariedades violentamente a doutrina dc Zuínglio sobre a Ceia.
subjetivas. Não se exigia, por conseguinte, a supressão da nova crença, mas
a tolerância da antiga. Sem embargo, logo após a promulgação do proto-
colo final da Dieta de 19 dc abril de 1529, um grupo de Estados ("Stände") 12. "Confessio Augustana"
levantou protestos. Eram seis príncipes e catorze cidades reinóis germâni-
cas: os Príncipes da Saxonia Eletiva, Hássia, Brandemburgo-Kulmbach, A evolução confessional e a crescente diferenciação entre Luteranos
Anhalt e de ambas as províncias Luncburgo; entre as cidades, principal- c Zuinglianos progrediaram mais ainda na Dieta de Augsburgo de 1530.
mente Estrasburgo, Nuremberga, e Ulma. Desse ato de protesto, os novos Em boa paz com o Papa, Carlos V se propusera reconduzir, por bem ou
crentes, que pessoalmente se designavam "viri boni" (fiéis), receberam o por mal, os protestantes à fé antiga. Depois de nove anos de ausência,
nome de "protestantes". queria êle retornar à Alemanha, e, na Dieta convocada para Augsburgo,
Baseava-se o protesto em motivos religiosos, não por último no se- não só garantir a ajuda dos Príncipes contra os Turcos, mas também,
guinte: "Como, em assuntos atinentes à glória de Deus e à felicidade de conforme constava na indicção da Dieta, proceder contra erro e cisma
nossas almas, cada qual deve responder por si mesmo e dar contas diante na santa fé, c, mediante acomodação, restabelecer a verdade una cristã.
de Deus, de sorte que ninguém pode escusar-se com os atos e as decisões Como os novos crentes, no protesto de 1529, tinham formulado a
que venham de maior ou de menor número de pessoas". 3 4
Exigiam, exigência dc que, em assuntos dc religião, cada qual se não obrigaria pela
portanto, positiva liberdade de consciência, conforme Lutero o exigira um maior parte dos sufrágios, mas unicamente pelo seu voto individual, a
dia em Vórmia, muito embora o fizesse só para os estados ("Stände"), que indicção tornava obrigatório o comparecimento de todos os estados ("Stán-
não para o povo. de") do Império. O Imperador apresentou-se em companhia do legado
As conseqüências de tal atitude deixavam entrever a possibilidade de pontifício Campeggio. Dos teólogos católicos, estavam presentes Eck,
uma porfia militar pelas armas. Por isso, os novos crentes fizeram ainda em Cochlacus, c Fabre. Em lugar de Lutero, que na condição de proscrito não
Espira um pacto secreto de defesa mútua entre a Saxonia Eletiva, Hássia, podia comparecer, apresentou-se Melanchthon como teólogo responsável
Estrasburgo, Ulma. e Nuremberga. Animador do pacto era Filipe de Hássia. da Saxônia Eletiva. j
78 Capitulo III A Reforma Protestante como obra pessoal de Lutero 79
!

Para o anunciado acordo teológico, houve várias preparações em pensava no direito divino dos bispos. " Mas que de vantagens não resul-
ambos os arraiais. Eck, que em nome dos Duques Bávaros exigia uma tariam para a Reforma, se a estrutura exterior, profano-religiosa, da Igreja
enérgica intervenção do Imperador contra a Reforma, tinha condensado se não alterasse, e os bispos passassem simplesmente para a nova Igreja!
as doutrinas errôneas de Lutero em 404 proposições. Os vários estados Não obstante todo interesse imediatista, a atitude irênica era algo de
("Stände") evangélicos vieram cada qual com uma própria profissão de sagrado para Melanchthon, que estava firmemente convencido de se não
fé. Foi mérito da Saxonia Eletiva compor-se, então, uma frente coesa. encontrar fora da ortodoxa "ecclesia romana". Assim podia ele, alguns
Da condensação, que lhe fora pedida, dos pontos principais da religião dias depois da proclamação da "Confcssio", escrever sem aleivosia ao
cristã. Melanchthon compôs uma motivação das "inovações religiosas Legado Pontifício: "Não temos nenhuma doutrina de fé, divergente da
processadas em terras saxónicas" (für die in sächsischen Landen vorge- Igreja Romana. Até a data de hoje, reverenciamos o papado. Até o último
nommnen kirchlichen Änderungen") . Ao tomar, porém, conhecimento do suspiro seremos fiéis a Cristo e à Igreja de Roma, ainda quando conde-
escrito de Eck, refundiu a motivação em texto simbólico, com a colabora- nados pela Igreja, ainda que só pequenas discrepâncias de ritos pareçam
5 4

ção de Jonas, Espalatino, e Brück, chanceler da Saxonia Eletiva, contando conturbar a concórdia". Dc bom grado se servia das oportunidades,
como certa a aprovação de Lutero que se achava em Coburgo. para entendimentos com os teólogos imperiais e com o secretário do Im-
A "Confcssio Augustana" (Confissão de Augsburgo), primeiro texto perador, e mandava submeter propostas em Roma, por intermédio do
simbólico protestante de importância universal, era lavrada cm alemão e legado pontifício. Empenhava-se. realmente, pela concórdia c pela dou-
em latim, e dirigida diretamente ao Imperador. Depois que, por exigência trina dos Sacramentos.
do Iangrave Filipe, o proêmio conciliatório de Melanchthon teve por subs- Este mais célebre, ainda que não único, texto simbólico do protestan-
titutivo uma redação mais incisiva da pena de Brück, a "Confcssio" foi tismo, ao qual com pequenas modificações os párocos luteranos até hoje
assinada pelos príncipes da Saxonia, Brandcmburgo-Kulmbach, Brunsvi- se obrigam em sua investidura de cargo, não é obra de Lutero, que lhe
que-Luneburgo, Hássia, Anhalt, e pelas cidades de Nuremberga e Reutlin- assacava hipocrisia, mas dc um discípulo seu, do mestre e humanista Me-
gen; não o foi, contudo, por outras cidades da Alta-Alemanha, nem pela lanchthon. Já se afirmou ser êle o mais importante esforço que o huma-
Suíça, em razão da doutrina sobre a Ceia. No dia 25 de junho, a redação nismo jamais envidou para penetrar no luteranismo. Procede do humanis-
alemã foi lida diante do Imperador e da Dieta. mo a tendência dc encarar, levianamente, os contrastes e diferenças em
Dividia-se a Confissão de Augsburgo em duas partes. No começo cons- matéria de dogma, de apequená-los e relativizá-los, como acontece na
tavam vinte e um artigos que condensavam as doutrinas dos protestantes. "Confessio Augustana". Assim começou, de modo imperceptível para a
A exposição das precípuas doutrinas controversas apresentava-se frouxa e época, a deslocar-se o ponto de gravidade das questões da fé para os pro-
indecisa. Verdade é que expunha a justificação em sentido luterano, que blemas dc estruturação c de formas da Igreja, donde resultou indiretamente
antepunha o artigo sobre a palavra de Deus ao artigo sobre a Igreja, mas certo menoscabo da Revelação c do sobrenatural.
na doutrina sobre a Ceia não falava dos pontos diferenciais propriamente Não convocado para Dieta, por ser sacramentário, Zuínglio enviou ao
ditos, e admitia também a teoria da transubstanciação. O regime eclesiás- Imperador, por intermédio do bispo de Constança, uma "Ratio fidei"
tico ficava em luz crepuscular (Asmussen). ("Arrazoado da fé"), extremamente anticatólica e também antiluterana,
Não se falava absolutamente da rejeição do primado papal, do em nome de Zurique, Basiléia, e Berna. Seu travo polêmico levou as cida-
purgatório, do culto dos santos, e das indulgências. E no fim dessa pri- des de Estrasburgo, Constança, Lindau e Memmingen, imbuídas aliás de
meira parte, vinha a declaração no artigo vigésimo primeiro: Haec fere(!) sentimentos zuinglianos, a redigirem, sob a orientação de Bucer, uma "Con-
summa est doctrinae apud nos, in qua cerni potest nihil inesse, quod dis- fissão das Quatro Cidades", a "Tetrapolitana", que foi apresentada à Dieta
crepei ab ccclesia catholica vel ab ecclesia Romana, quatenus ex scripto- em 9 dc julho. Continha uma fórmula ambígua sobre a questão da Ceia, e
ribus nobis nota est". sobre a necessidade das boas obras como frutos da fé.
Todo o litígio versaria apenas cm torno de alguns poucos abusos Em torno da resposta à "Confessio" houve divergências de opinião
que se enumeravam na segunda parte: Comunhão numa só espécie, celi- entre o Imperador, que queria tratar só dos pontos controversos por ela
bato, missa mercantilizada, missa escusa ou privada ("Winkclmcsse"), alegados, e o Legado Pontifício, que desejava mencionar outros pontos em
confissão obrigatória, preceitos sobre jejum, votos monásticos, jurisdição litígio, fora da "Confessio", c condená-los como heréticos.
episcopal. Dentro de sua própria mentalidade, Eck apresentou um esboço basea-
A propósito da "Confcssio Auguslana", o reformador João Brenz, da do cm trabalho de uma junta de vinte teólogos, mas o Imperador rejeitou-o
Suébia, declarou ser o principal que "conseguíssemos tolerância para nossa por muito longo e polêmico. Eck, então, amenizou o tom e limitou-se a
doutrina". Certamente. Melanchthon tinha também iguais desígnios, quan- tratar das questões contidas na "Confessio". Esta tomada de posição, por
do por exemplo insistia cm conservar a jurisdição dos bispos, quando eles parte do Imperador, chamada mais tarde "Confutado" ("Refutação"),
apregoassem corretamente o Evangelho. No caso, naturalmente, não se foi lida em presença das legações dos Estados Nacionais ("Reichsstande").
80 Capitulo III A Reforma Protestante como obra pessoal de Lutero SI

O Imperador contava, então, obter uma submissão dos protestantes No dia 11 de outubro de 1531, eles venceram um exército de Zurique
sem mais debates. Todavia, os Príncipes e as cidades da oposição rejeita- perto de Cappel. Zuínglio que seguia armado a campanha, como predi-
ram o ajuste imperial, "por amor de Deus e de suas consciências". Melan- cante de guerra, sucumbiu com outros vinte e quatro predicantes. Após
chthon começou então a enuclear, mais nitidamente, as discordâncias em outra derrota em Zugerberg, houve o segundo Tratado de Paz de Cappel.
sua "Apologia", mas esta só ficou pronta na primavera do ano seguinte, e Garantia a religião de cada cantão, e proibia toda propaganda em cantões
já não teve influência nas negociações. católicos. Nas zonas rurais, as paróquias deviam plebiscitar sua profissão
de fé. O "Direito Civil Cristão" ("Christliches Burgrecht") foi abolido.
Durante a Dieta houve, sim, uma série de conversações sobre religião. Restaurou-se a abadia de São Galo, que fora supressa. A morte de Zuínglio,
Ao cabo, porém, toda a conjuntura impelia a um desenlace. A situação acoimada por Lutero como merecido castigo, facilitou a integração das ci-
teológica, não menos que a política, era obscura e complicada. Negociações dades do Sul da Alemanha na Aliança de Esmalcada. Pôde esta tirar, en-
não chegavam a um acordo nos pontos capitais. Melanchthon, que se tão, vantagem imediata de sua força.
prontificava a amplas concessões, não teve apoio em suas próprias filei-
ras. 37
No final, os Estados Protestantes ("protestantische Stände") Por instigação da França, os Turcos tinham-se novamente levantado
rejeitaram um "Provisorium" (acordo provisório). No parecer colegiado em 1532 com um exército formidável, e ameaçavam a Estíria. O Imperador
de seus teólogos, 38
ficou claro que a "Confessio Augustana" não era dependia da ajuda dos Estados ("Stände") protestantes. Filipe de Hássia
procurou fazer-lhe extorsões. Mais comedido foi o Príncipe-Eleitor da Sa-
por eles considerada como expressão cabal do conceito doutrinário pro-
xonia, que exigiu o cancelamento dos processos relativos a bens eclesiásti-
testante. cos seqüestrados. Ao cabo, o Imperador viu-se obrigado a ceder. No
Considerando uma eventual unificação como congraçamento entre assim chamado Compromisso (trégua) de Nuremberga ("Anstand"), pro-
Cristo e Belial, Lutero tinha proibido a seus amigos novas concessões, meteu aos Protestantes tolerância até o Concílio, e secretamente também
ainda que houvesse risco de guerra. O protocolo de encerramento da o arquivamento dos processos cm curso. Precisou, então, deixar mais uma
Dieta ("Reichstagsabschied"), que foi assinado pelos Estados Católicos vez a Alemanha, depois de oito anos, para lutar contra os Franceses e os
("katholische Stände"), renovou afinal o Edito de Vórmia, e exigiu a Turcos.
restauração da autoridade episcopal e a restituição dos bens eclesiásticos
seqüestrados. Para tal fim, concedeu-se prazo de execução até o mês de
abril de 1531. De sua parte, o Imperador prometeu empenhar-se junto ao 13. Rota da Inglaterra
Papa pela convocação de um Concílio Ecumênico, que se esforçasse por
eliminar abusos e motivos de queixas. Além da França, a Inglaterra também formava entre os aliados, com
os quais Filipe de Hássia contava para a Liga Esmalcada. O Langrave de
Para impossibilitar aos católicos a execução destes pontos, os protes- Hássia via, com mais perspicácia do que muitos de seus contemporâneos,
tantes concluíram, em fevereiro de 1531, por dez anos, a Aliança de que o caminho então encetado pela Inglaterra levaria fatalmente a um
Esmalcada em defesa contra o Imperador. Seria o Imperador somente chefe rompimento definitivo com a Igreja de Roma.
eleito do Império; autoridade instituída por Deus seria êle apenas como prín- No Reino Insular, muitas cousas já predispunham para a Reforma.
cipe territorial, em idênticas condições como eles próprios. Entre iguais de Muito frouxas eram as relações com a Sé Apostólica. Já no século XIV
condição, seria lícita uma guerra. Com tais princípios, os juristas pulveri- decisões parlamentares tinham declarado ilegais os provimentos pontifícios
zaram as objeções de Lutero, que não admitia o direito de resistência con- de benefícios eclesiásticos na Inglaterra, tinham proibido e embargado a
tra o Imperador. entrada de bulas, processos e reservados papais no país.
A Aliança estabeleceu ligações com potências estrangeiras, inimigas Desta forma, radicou-se um regime eclesiástico nacional, graças à
do Imperador, com a França, Inglaterra, Dinamarca, e com os rebeldes "splendid isolation" de Roma, que os ingleses sempre acharam cornada.
da Hungria. Filipe de Hássia queria de boa mente incluir Zuínglio na Alian- Não tinha, tampouco, desaparecido a influência das idéias de Wyclif, que
ça. Este, contudo, queria antes executar seus planos relativos à Suíça, con- propusera o seqüestro dos bens eclesiásticos como patrimônio nacional, nem
quistar as "regiões da ralé" para Zurique e o Evangelho, colocar toda a das pregações dos Lolardos contra o Papa como Anticristo. Não obstante
Federação sob o domínio de Zurique c Berna. Só a custo se evitou, em todos os sentimentos anti-romanos existentes no país, a separação da
1529, no primeiro tratado de paz interna de Cappel, uma guerra entre Inglaterra de Roma não foi senão um ato arbitrário do Rei, que governava
Zurique e os Cantões católicos. Dessa vez queria Zuínglio fazer manobra de modo quase absolutista, e que encontrava quem nisso o secundasse com
de prevenção ("das Praevenire spielen"), mas Berna negou-se a segui-lo. a maior solicitude.
Em conseqüência, Zuínglio interditou o comércio com os "Quatro Cantões" Henrique VIII (1509-1547), educado como jovem príncipe para a
("Waldstädte"). O corte de abastecimento obrigou os Cantões católicos a carreira eclesiástica, passava aos olhos humanistas contemporâneos como
pegarem em armas para garantia de sua própria sobrevivência. príncipe-modêlo do Renascimento, que só aspirava a uma reforma da
82 Capítulo III A Reforma Protestante como obra pessoal de Lutero 83

Igreja no sentido evangélico propriamente dito. Pelo seu chanceler Wolscy, ficado com a consciência inquieta, e considerava a morte repentina de
na qualidade de legado pontifício, mandou fazer a visita canónica do Clero seus filhos como punição divina.
Regular, e discriminar medidas oportunas para melhor formação do Clero. Sem embargo, pouco se lhe dava que o Deutcronômio cap. 25, 5
Dos contemporâneos, tiveram estas uma apreciação exagerada, e por parte prescrevesse o matrimônio de levirato (cf. Mt 22, 2 4 ) ; que êle próprio
dos interessados não receberam quase nenhuma execução. Contra a inicia- contraíra afinidade também com Ana Bolena, porquanto a irmã dela fora
tiva de Lutero assumiu êle uma atitude de repulsa, insistindo com Carlos V sua concubina, e que por conseguinte o casamento com a mesma incorreria
que sempre tomasse novas medidas de repressão, e com Erasmo que rom- cm idêntica interdição de Deus. "A consciência dc Henrique era problema
pesse com o Reformador. muito complexo. Não nos compete negar sua formidável violência, só por-
De sua colaboração pessoal era, em grande parte, a "Assertio sep- que não podemos alcançar sua lógica". 40

tem sacramentorum" ("Defesa dos sete Sacramentos") com que se opôs Reconhecendo o Chanceler Cardeal Wolsey que o Rei estava firme-
à negação dos Sacramentos estabelecida por Lutero na obra "De captivitatc mente decidido a obstinar-se em seus planos, promoveu-lhe a causa com
babylonica ecclesiae" ("Do cativeiro babilónico da Igreja"). O Rei dedicou todo zelo, como servo submisso de seu senhor, embora pensasse noutra
a obra ao Papa, "como sinal de sua fé e de sua amizade". união matrimonial, diferente daquela que o Rei tencionava. Em 1527,
Nesse livro professava, dc modo inequívoco, o primado do papa: Wolscy e o Primaz de Cantuária citaram o Rei em juízo, sob alegação de
"Toda a Igreja está subordinada não somente a Cristo, mas por amor de que vivia incestuosamente. Alguns bispos de grande instrução deviam pro-
39
Cristo ao único representante de Cristo, ao Papa em Roma". Negar nunciar-se, como peritos, sobre a liccidade dc um matrimônio contraído
obediência ao Supremo Sacerdote na terra era, para êle, vício igual à com a viúva do próprio irmão. John Fishcr, de Rochester, declarou que
idolatria. Em retribuição, o Rei alcançou do Papa o título, desde muito tal matrimônio era possível, mediante dispensa papal, e apontou Roma
cobiçado, de "Defensor fidei" ("Defensor da fé"). Nos anos subseqüentes, como instância competente para uma decisão. Em vista desse parecer, en-
sua atitude continuou a mesma. Perseguia os Lolardos, e aprovava a po- viaram um secretário de Wolsey a Roma, que ali promovesse a causa de
lêmica literária contra os primeiros luteranos na Inglaterra. Henrique.
Sem embargo, o governo mudou de feição também em assuntos ecle- Do Papa, queriam alcançar duas cousas: a declaração de nulidade do
siásticos. Tornou-se um governo em função de um só indivíduo, por meio matrimônio com Catarina e a dispensa de afinidade ilegítima para o casa-
de um só indivíduo, e no interesse de um só indivíduo (Hughes), e esse mento com Ana Bolena. Primitivamente, pensou-se até em pedir dispensa
indivíduo era precisamente o Rei. A tendência, aliás, de intrometer-se cada para um matrimônio duplo. Clemente VII, que estava em guerra contra o
vez mais na direção e reforma da Igreja, e assim suplantar o Papa, não Imperador, concedeu em dezembro de 1527 dispensa de afinidade ilegítima,
tinha aliás nada de revolucionário em si mesma. Todos os príncipes da caso fosse nulo o primeiro casamento. Sua própria indecisão e razões de
época procuravam alcançar fins idênticos, sem o Papa, e muitas vezes ordem política tinham-no levado a esquivar-se de qualquer decisão. Espe-
contra êle. rava, talvez, que a paixão do Rei arrefecesse com o tempo.
Henrique, contudo, tinha a favor de sua atitude uma razão toda pe- Por instância do Rei, enviou cm 1528 o Cardeal Campeggio à Ingla-
culiar, o "seu grande problema", sua questão matrimonial. Logo após a terra. A bula que lera ao rei foi queimada imediatamente. É possível que
ascensão ao trono, Henrique tinha desposado Catarina de Aragão, tia de nela se dessem a Henrique certas esperanças. Sob a presidência de ambos
Carlos V. Catarina casara-se em primeiras núpcias com Artur, irmão mais os delegados pontifícios, Wolsey e Campeggio, o Tribunal Eclesiástico
velho de Henrique. Morrera Artur com apenas 15 anos de idade, sem que instaurou o processo em 1529. Catarina não o reconheceu, apelando ao
o matrimônio fosse consumado. Em 1503, pediu-se ao Papa e alcançou-se Papa, que nesse ínterim tinha feito novamente as pazes com o Imperador.
dele a dispensa do impedimento de afinidade. Dos cinco filhos havidos no Sob a pressão de Carlos, o Papa suspendeu os plenos poderes de ambos os
matrimônio de Henrique, só logrou sobreviver a princesa Maria. A sucessão delegados, e avocou o processo ao foro de Roma. O representante do Rei
do trono devia tornar-se problema mais tarde, pois a Inglaterra nunca ti- comunicou a Roma que isso causaria a ruína da Igreja e a perda da Ingla-
vera, até então, uma rainha à testa do governo. Acresce, ainda, a ar- terra. O Papa ponderou ser melhor que a Inglaterra pereça por justiça, do
dente paixão que o Rei nutria pela dama de corte Ana Bolena. Para tornar que por injustiça.
viável tal casamento, e conseguir por êle o desejado herdeiro, aventou o Wolsey foi então destituído. Seu sucessor, como lorde chanceler, foi o
Rei a idéia de uma separação de Catarina e uma declaração de nulidade célebre humanista Tomás More, adversário convicto, mas muito discreto e
para o respectivo casamento. A favor da nulidade de seu matrimônio, foi reservado, do grande negócio do Rei. Com novos pareceres de Universidades
o Rei encontrar razões no Antigo Testamento. O Levítico, cap. 18, 16, nacionais e estrangeiras, e com ameaças do recém-eleito "Parlamento de
proibia a união matrimonial com a esposa do próprio irmão. A dispensa Reforma", procurou o Rei exercer pressão sobre o Papa. Clemente, todavia,
de 1503 teria sido sub-reptícia e por isso mesmo inválida. Êle teria, por- proibiu ao Rei cm 1531 a celebração de novas núpcias, enquanto não ter-
tano, vivido quase dezoito anos em incesto. Pela leitura da Bíblia teria minassem as investigações. A campanha de propaganda em torno da "opinio
84 Capitulo 111 A Reforma Protestante como obra pessoal de Lutero 85

communis doctorum" só em parte deu bom resultado. Assim as Universi- conhecer o novo casamento do Rei e a nova regulamentação sucessória do
dades de Nápoles e da Espanha pronunciaram-se pela validade, enquanto trono.
Paris se decidia pela nulidade, mas só debaixo da pressão do Rei de França, O cisma anglicano não encontrou resistência entre o p o v o . Era44

41
e sob o protesto de quarenta e três doutores. evidente, nem o Papa nem a Cúria Romana gozavam de grande simpatia.
Henrique já não se deixava demover de seus intentos. Caiu na influên- Todavia, fora dos círculos dos mandantes e usufrutários, o povo nada aban-
cia de Tomás Cromwell, membro do Parlamento, líder de altas qualidades donou das antigas praxes religiosas. Afeito desde muito ao regalismo, o
políticas, que lhe aconselhou a desligar-se de Roma, a exemplo dos prín- Clero já se tinha submetido em 1535. Os bispos, muitos dos quais foram
cipes germânicos. Numa reunião geral do Clero, convocada por razões de tomados pelo Rei entre os sequazes da mais incondicional submissão, esta-
Estado, o Rei exigiu uma declaração de que êle era o chefe supremo da vam sempre dispostos a curvar-se às injunções do cesaropapismo.
Igreja na Inglaterra. O bispo Fisher de Rochester propôs o acréscimo de Só poucos tiveram o aprumo moral de recusar juramento ao "Ato de
uma restrição: quanto o permita a Lei de Cristo. supremacia". Entre eles, sobressaíam o erudito bispo John Fisher e o
Nestes termos, por sugestão do velho arcebispo Warham de Cantuária, antigo chanceler Tomás More, que foram encarcerados. No Tower, Fisher
a assembléia consentiu em declarar que "o Rei é o único chefe protetor da foi ainda nomeado cardeal pelo papa Paulo III. Ambos foram decapitados.
Igreja, seu supremo senhor, e também seu chefe supremo, quanto a Lei de Como asseverara cm suas últimas palavras, More sofreu a morte como bom
Cristo o permitir". 42
servidor do Rei, mas antes de tudo como servo de Deus.
Constituindo a base da Reforma, essa resolução condensava o rega- Maior resistência, Henrique encontrou-a nos conventos. Os que se
lismo absolutista e humanismo anti-romano. Após a morte de Warham, o recusavam jurar, sobretudo os Cartuxos, eram lançados em masmorras,
Rei nomeou primaz da Inglaterra ao antigo capelão doméstico da família onde em parte ficavam até morrerem de inanição. No correr dos anos,
Bolena, o subserviente Tomás Cranmer, que anteriormente fizera a pro- foram cruelmente executadas 18 vítimas, entre Cartuxos, Agostinianos,
posta de se pedir o parecer das Universidades. No decurso de uma viagem Brigitinos, alguns Franciscanos, c sacerdotes seculares.
à Alemanha, travara conhecimento com o luteranismo, c contraíra matri- Uma tentativa de rebelião na campanha, na zona setentrional, o assim
mônio secretamente. chamado "Pilgrimage of Grace" de 1536, não visava o "Ato de suprema-
More renunciou, a fim de não ser obrigado a servir de instrumento cia", mas as medidas contra imagens, relíquias, e claustros. A resistência
para o Rei em sua arrancada para o cisma. No cargo de lorde chanceler, dos religiosos contra o juramento ensejou ao Rei o pretexto para uma se-
foi êle substituído por Audeley; na influência junto ao Rei, foi suprido por cularização em larga escala. Havia cerca de mil conventos e fundações no
Cromwell. Desta forma, o governo temporal c espiritual da Nação ficava Reino, cujos rendimentos se calculavam como a quinta parte da arreca-
em mãos de homens talentosos, absolutamente fiéis ao Rei, sem inibições dação nacional.
morais de espécie alguma. Um ato parlamentar de 1536 fechou 291 conventos, pequenos, em
A propósito da reunião do Clero, o Papa publicara um breve de geral. Em 1539, tiveram a mesma sorte os conventos abastados. Os reli-
advertência. Em resposta, o Parlamento denunciou o pagamento das anatas, giosos foram enxotados e intimados a contrair matrimônio. Os bens con-
e o Rei naturalmente logo as reivindicou para si próprio. Em janeiro de ventuais foram seqüestrados; parte foi doada aos amigos do Rei, parte foi
1533, Cranmer fêz o casamento do Rei com Ana Bolena; quatro meses vendida. Os novos proprietários tornaram-se, naturalmente, os melhores
depois, declarou nulo o casamento de Henrique com Catarina, e váüdo o esteios do novo sistema.
novo casamento. Em 1*? de junho, houve a coroação de Ana. Em setembro Com o apoio de Cromwell, nomeado vigário geral em assuntos ecle-
nascia a futura rainha Isabel. O Papa declarou nula a celebração do casa- siásticos, o despotismo do Rei chegou a um auge grotesco, quando do pro-
mento, mas só em março de 1534 lavrou a sentença definitiva do processo cesso que se moveu contra Tomás Becket, morto então há quase quatro-
matrimonial, declarando que o matrimônio com Catarina era o único válido. centos anos, acusado de alta traição, e também na destruição do ataúde do
Em julho lançou a excomunhão contra Henrique, Ana e Cranmer; mas Santo, por ordem do Rei. Em seus ulteriores problemas matrimoniais,
contra ela o Rei já tinha apelado, um ano antes, a um Concílio Ecumênico. encontrara o Rei em Cranmer um manejável prelado eclesiástico, que lhe
O Rei então consumou a ruptura definitiva com Roma. declarou a nulidade de matrimônio com Ana Bolena, concedeu dispensa de
O "Ato dc Supremacia", decretado pelo Parlamento em novembro de parentesco para novas núpcias, e mais tarde também dissolveu o quarto
1534, declarava o Rei e seus sucessores como único chefe temporal da matrimônio do Rei. Nenhum efeito surtiu a promulgação da bula de Pau-
43
Igreja Anglicana, munido de plenos poderes para reprimir e eliminar lo III, que em 1538 excomungava e destronava o Rei, liberando seus súdi-
erros, heresias, abusos e escândalos. Transferiram-se ao Rei as faculdades tos do juramento de fidelidade. Havia terminado a Idade Média.
e rendas papalinas. Essa posição do Rei devia ser reconhecida mediante a A hostilidade contra Carlos V levou em 1536 o Rei da Inglaterra a
prestação de um juramento. Sofria ameaça de morte por alta traição quem procurar contacto com Vitemberga. Um Sínodo Anglicano em 1536 presi-
o não prestasse, ou quem recusasse o juramento anterior, destinado a ~ fe
dido por Cromwell, seu vigário geral, deu ao País o primeiro símbolo de fé,
86 Capitulo III A Reforma Protestante como obra pessoal de Lutero 87

os "Dez Artigos", imbuídos de elementos luteranos. Como fontes de fé, va- berga, por violação da Paz Nacional ("Landfrieden"), c que na Suíça se
liam a Bíblia c os três primeiros Símbolos, admitiram-se só três Sacramen- filiara à Reforma.
tos, conservou-se a transubstanciação. No mais, continuaram a subsistir as No Tratado de Paz com a Áustria, foi preciso deixar-lhe liberdade de
cerimônias católicas, até o culto dos Santos e os sufrágios pelos defuntos. ação em matéria religiosa. Introduzindo incontinenli a Reforma, dividiu
Depois do "Pilgrimagc of Grace", elaborou-se, com a participação de modo singular o território cm duas zonas, uma dc influência zuingliana,
pessoal do Rei, um novo símbolo de fé, cm formulação mais católica, que outra de influência luterana. Naturalmente, os dois respectivos Reforma-
admitia todos os sete sacramentos. O Rei, porém, prescreveu simultanea- dores Blarer e Schnepf entraram antes em acordo a respeito da fórmula
mente que todas as igrejas deviam possuir uma Bíblia em língua inglesa. conciliatória para a Ceia. Mosteiros do país, outrora célebres (Hirsau!),
A tradução adotada recebeu proemio e comentário em espírito luterano. foram secularizados. Sumamente admirável era a fidelidade dos religiosos,
Realizaram-se negociações com a Liga de Esmalcalda em conseqüên- sobretudo a constância das religiosas. Apesar da resistência que fazia, a
cia de novas pretensões de casamento, mas então sobreveio, por cálculos Universidade de Tubinga foi protestantizada. No Convento Agostiniano ali
políticos, uma mudança dc princípios. Em 1538, o Rei proibiu o casamento existente, instituiu-se um legado, um "stipendium", para a formação dc
de sacerdotes. Cranmer viu-se obrigado a repatriar sua mulher para a eclesiásticos. Contudo, só o filho dc Ulrico, o protestante c piedoso Duque
Cristóvão (1550-1568), é que deu remate positivo à Reforma. Com o
Alemanha.
apoio de João Brenz, o regime eclesiástico centralizou-se numa autoridade
No ano seguinte, por ordem régia, o Parlamento baixou o "Bloody totalmente jungida ao Estado, no Conselho Eclesiástico ("Kirchenrat").
Act", o "Estatuto de Sangue", contra a obstinada oposição protestante. Em 1559, promulgou-se o "Grande Estatuto de Igreja" ("Grosse Kirchcn-
Obrigava, sob pena de morte, a aceitar seis artigos: transubstanciação, ordnung").
celibato como instituição divinad), obrigatoriedade dos votos religiosos.
Comunhão numa só espécie, conveniência e necessidade da celebração da O patrimônio eclesiástico, que Ulrico secularizara sem exceção algu-
missa particular, c da Confissão auricular. ma, foi de novo separado em grande parte, com administração na "Caixa
Comwell foi executado como herege e traidor. Igual sorte tiveram em Comum da Igreja" ("Gemeincr Kirchenkasten"), e com aplicação exclusi-
seguida três sacerdotes que tinham atacado a tirania real, e três protestantes va para fins eclesiásticos, entre os quais se incluíam a assistência aos
que tinham escarnecido a Religião Católica. Uma publicação doutrinária pobres e a organização escolar.
do Rei, em data dc 1543, recomendava o culto dc Maria e dos Santos, c Antes de Vurtemberga, ou simultaneamente com ela, arredaram-se de-
procurava também outros pontos dc conciliação entre doutrina católica c a finitivamente da Igreja inúmeras cidades livres e territórios germânicos.
doutrina protestante. Em 1546, proibiu-se ao povo a leitura particular As perdas mais sensíveis foram Brandemburgo e o ducado de Saxônia. Em
da Bíblia. As execuções de luteranos continuaram até a morte de Henrique. Brandemburgo, o príncipe-eleitor Joaquim foi, até morrer, firme adversário
Resultado das contínuas oscilações foi uma lenta infiltração de opiniões de Lutero e da Reforma. Embora sua esposa, princesa da Dinamarca, desde
heréticas e uma amendrontadora falta de segurança em matéria religiosa. muitos anos se tivesse tornado luterana, julgou êle, por ocasião de sua
Para seu único filho Eduardo VI (1547-1553), ainda menor, tinha morte em 1535, poder garantir a Religião Católica no país, fazendo o
Henrique instituído um Conselho de Regentes, que na maioria se compunha próprio filho jurar que a conservaria deixando em testamento determina-
de elementos simpatizantes com o protestantismo; na chefia do Conselho ções a tal respeito. Mas, quatro anos depois da morte do pai, Joaquim II,
que desde muito mantinha ligações com Lutero, passou para a nova dou-
estava o Duque de Somerset, e mais tarde o Duque de Northumberland, que
trina. Filho da confusão teológica reinante na época, êle não julgava que-
apoiavam Cranmer no plano de levar a cabo na Inglaterra uma Reforma brar com isso o juramento, mas cm sua decisão só via uma possibilidade
Religiosa propriamente dita, durante a minoridade do Rei, que aliás rece- de purgar de abusos a Religião Católica em seu país. Por isso, o regime
bera educação protestante. A resistência, assomada aqui e ali, teve cruenta eclesiástico por êle estabelecido tem caráter muito conservador.
repressão.
No ducado de Saxônia, o duque Jorge, o Barbudo, rigorosamente fiel à
14. Outros Bons Êxitos dos Luteranos no Império Igreja, tido como chefe do partido da antiga Religião entre os Príncipes
Germânicos, não pôde conter a irrupção da nova doutrina em seu território.
Retornemos aos acontecimentos na Alemanha. Os anos que o Impe- Depois de sua morte em 1539, o irmão dele Henrique, desde muito protes-
rador esteve fora do Império marcam a quadra de vigoroso desenvolvi- tante, introduziu a Reforma, apesar da resistência dos Estados ("Stãnde").
mento da Igreja Luterana. A velha Igreja perdeu, nesses anos, uma série de Conforme as sugestões de Lutero e Melanchthon, a Universidade de Lípsia
importantes territórios germânicos. filiou-se à nova doutrina, e recebeu como dotação bens eclesiásticos
Assim foi que, com ajuda militar de Filipe dc Hássia, com apoio da seqüestrados.
Liga de Esmalcada, e com financiamento de dinheiro francês, reconquistou
seu domínio o Duque Ulrico, que fora expulso de seu ducado de Vurtem-
SS Capitulo III A Reforma Protestante como obra pessoal de Lutero 89

15. Os Anabatistas a respeito de medidas punitivas. No Tirol, morreu grande multidão de


anabatistas na fogueira. Hubmaier teve que ser extraditado de Nikolsburg
Durante os anos da pacífica difusão do protestantismo, os anabatistas na Morávia, e sofreu em Viena a morte das labaredas.
obtiveram temporariamente mais sequazes do que Lutero e Zuínglio. Com Um decreto imperial da Dieta de Espira cm 1529 prescrevia a pena
eles ficou evidente uma outra forma de pensar e viver dos reformadores, capital para os anabatistas. Zuínglio e Lutero, Melanchthon e Brenz par-
que alcançou notável evolução sobretudo entre os cristãos anglo-saxões. tilhavam dessa mesma atitude infensa. Assim, os anabatistas foram lançados
Pela organização de numerosas igrejas-livres determinou amplamente a fei- ao caminho de segregação. Manifestavam-se, entre eles, tendências esca-
ção característica do protestantismo, mormente nos Estados Unidos da tológicas, quiliásticas, comunistas. Agostinho Bader, pcleiro de Augsburgo,
América do Norte. vendo em seu filhinho o Messias, mandou fazer para êle coroa e espada de
As origens do anabatismo são obscuras, porquanto não estão atreladas ouro. Jacó Hutter, natural do Tirol, fundou em Nikolsburg "granjas de
a fatores políticos. Já se quis ver neles os herdeiros dos movimentos espiri- irmãos", nas quais não havia propriedade individual, c cujo chefe determi-
tualistas medievais entre o povo simples. Lutero englobou todas essas rami- nava a tarefa de cada um. Dezenas de milhares filiaram-se aos "Irmãos
ficações na simples designação de "fanáticos" ("Schwärmer"). Sem em- Hutterianos".
bargo, parece tratar-se de várias tendências, que surgiam independentes Enquanto os elementos cordatos entre os anabatistas acreditavam que
uma das outras, mas que posteriormente influíram de vez em quando o próprio Deus destruiria os ímpios, o padeiro holandês João Mathys, na-
umas nas outras. Em todo o caso, não há que duvidar a respeito da origem tural de Harlem, discípulo de Melchior Hofmann, efetivo em Estrasburgo,
autônoma do anabatismo cm Zurique. sentiu-se chamado a estabelecer à força armada o reino vindouro. Seus
Quando Zuínglio, no problema da introdução imediata da Ceia, cedeu emissários julgaram ter encontrado cm Münstcr, na Vestfália, a cidade
em 1523 à presssão das autoridades, alguns de seus mais antigos discípulos adequada para seus planos. Lá vencera a Reforma em 1533, graças às
consideraram essa atitude como traição. Coligaram-se, então, numa irres- prédicas demagógicas do vigário cooperador Rottmann.
trita obediência ao Evangelho. Para eles, também, só a Bíblia valia como Em janeiro de 1534, chegaram a Münster os "Apóstolos" de Mathys,
fonte de fé, embora se concentrassem de preferência em o Novo Testa- convenceram Rottmann, e numa semana batizaram 1.400 adultos. Leva-
mento. vam, inicialmente, uma vida de entusiasmo religioso e pobreza evangélica.
Tomavam, porém, o Evangelho como dever imediato também pelo Com a chegada do alfaiate João Bockelson, de Leida, e do próprio Mathys,
lado social e econômico da vida cotidiana. A vida toda, que desde então os elementos radicais conseguiram a preponderância. Um ataque de surpresa
só podia ser a espiritual, punham-na sob o domínio da palavra bíblica. A entregou a cidade ao poder das anabatistas. O sogro de João de Leida, o
partir de tal princípio, para eles se tornavam problemática a atitude para fabricante de tecidos Knipperdolling, natural de Münster, tornou-se burgo-
com a autoridade e as relações entre a Igreja e a sociedade. mestre.
Para o cristão, não havia regime profano de vida. Reconcentraram-se, As tropas, que o bispo de Waldeck enviara contra Münster, foram
pois, num pequeno grupo daqueles que, não por coação da autoridade, mas rechaçadas. Mathys, porém, foi morto, e Münster foi finalmente assediada.
por espontânea agregação, se declaravam dispostos a imitar a Cristo. Na cidade sitiada, João de Leida fêz-se proclamar rei do novo Reino de
O (ana)batismo dos adultos passa então à primeira plana, como rito de Sião, onde se estabeleceram comunhão de bens e poligamia. O povo fana-
recepção na comunidade visível. Renunciava-se, portanto, ao princípio de tizado, que perpetrara bárbara demolição de imagens nas igrejas da cidade,
unidade entre território e igreja, à igreja territorial, bem como a qualquer aguardava a anunciada libertação milagrosa da mesma.
articulação exterior da comunidade. Nesse ínterim, o anabatismo difundiu-se em toda a Vestfália até além
Em Zurique começou incontinenti a perseguição. As autoridades incul- de Lubeque. Então, o bispo de Münster buscou auxílio, e encontrou-o
caram a obrigação de batizar os recém-nascidos. Os batistas dispersaram-se junto ao Langrave de Hássia. Em 1535, as tropas aliadas penetraram na
por toda a Suíça de expressão alemã. De Waldshut transplantou Hubmaier cidade esfomeada, e com terrível punição militar terminaram o funesto
o anabatismo através de Augsburgo até a Morávia. A qualquer perseguição reboliço. Münster integrou-se novamente no catolicismo. Knipperdolling
opunham sua paciência. Não eram amigos de briga, e foram os primeiros e o Rei de Sião foram executados. Não consta qual tenha sido a sorte final
partidários da tolerância. Na dispersão (diáspora), missionavam. de Rottmann. 45

Enquanto em 1527 Félix Manz era afogado no rio Limmat cm Zuri- O Reino de Münster, terrível aberração do anabatismo primitivo, pre-
que, Denck conquistou em Augsburgo a Hans Hut, cujos discípulos se judicara imensamente seu próprio prestígio. Menão Simons, antigo pároco
puseram a batizar no Tirol. Melchior Hofmann levou as novas idéias à católico da Frísia, conseguiu reagrupar os elementos moderados, e educá-
Alemanha do Norte e aos Países Baixos. O trabalho de missão e propa- los para uma vida retraída, devotada ao trabalho, e para a rejeição de toda
ganda dos anabatistas foi logo atingido pela proscrição social e a perse- e qualquer violência. Esses "Partidários do Batismo" ("Taufgesinnte"),
guição sangrenta. Os delegados imperiais da Suíça deliberaram em Zurique desde logo também chamados "Menonitas", rejeitavam juramento, serviço
Nova História 111 — 7
90 Capítulo III A Reforma Protestante como obra pessoal de Lutero 91

de guerra, serviços públicos, ação judiciária. Após sangrenta perseguição Amuado, Calvino tomou os estudos como derivativo, c dispersava-se em
que durou quarenta anos, conseguiram tolerância na Holanda, e mais tar- laboriosas divagações. Som esses sentimentos nebulosos, mas fortemente
de também liberdade. Transplantaram seu modo de vida para além das anticlericais, era particularmente sensível às influências ds círculos lute-
fronteiras, para as regiões de colonização na Prússia Ocidental e Oriental, ranos.
finalmente para a Sibéria, e de lá para os Estados Unidos da América do Em França, estavam largamente difundidas as idéias de um cristianis-
Norte. mo purgado e simplificado, e conquistavam poderosos amigos tanto na Corte
Lado a lado, formavam-se continuamente, sobretudo em Vurtemberga, do Rei como entre os dos membros do Episcopado. O Rei Francisco I e seu
novas agremiações sectárias, que na Bessarábia, no Volga, na Palestina, e círculo privado, sobretudo sua irmã Margarida de Navarra, e também o
na América do Norte, aguardava o Reino de Cristo. Na Europa Central, bispo de Meaux Guilherme Briçonnet ( + 1 5 3 4 ) tentaram tomar em mãos
malogrou todavia a tentativa feita por gente simples, na maior parte arte- a Reforma humanística. O bispo Briçonnet lutava contra a ignorância do
sãos, de realizarem uma vida religiosa Cinicamente pela fé (segundo o Clero, a inobservância do dever de residência, a espantosa mediocridade
conceito luterano), sem instituições, sem organizações, e sem qualquer dos estudos em sua diocese. Como mecenas, convocou eminentes sábios ao
apoio do Estado. Não ficara sem efeito a luta de Lutero contra os espíritos paço episcopal. A êsse "Círculo de Meaux" pertenciam homens como Farei
sectários ("Schwarmgcistcr"), que êle até o fim da vida não deixou de e Lefèvre d'Etaples, da Picardia. £les previam o perigo de uma revolução
condenar, de roldão com os sacraméntanos. Vencedores, no verdadeiro religiosa. Supunham-se, todavia, em condições de ficar equidistantes dela.
sentido da palavra, saíram propriamente o igrejismo nacional e absolutis- Lefèvre, a quem o bispo nomeara seu vigário geral, pôde editar em
mo religioso dos príncipes reinantes. francês as epístolas e os evangelhos dominicais para uso do culto divino.
Sob a influência dos "Partidários do Batismo", durante ainda a pri- Seu discípulo, o flamengo Clichtove, publicou uma obra em louvor da vida
meira metade do século XVII, na Inglaterra e nos Estados Unidos da religiosa e um espelho para sacerdotes.
América do Norte, formaram-se as primeiras comunidades batistas que A luta contra alguns desmandos da pregação franciscana suscitou
hoje em dia se tornaram grandes igrejas-livres, com muitos milhões de adversários influentes contra o grupo, que foi malsinado de heresia, e teve
adeptos batizados. mais ou menos de dispersar-se. Farei foragiu-se para a Suíça, enquanto
Clichtove em 1524 abria campanha literária contra Lutero, e dois anos
1C. João Calvino mais tarde contra a doutrina dc Ecolampádio sobre a Ceia. Pois os escritos
de Lutero eram comprados e lidos, em larga escala, pelos Franceses. A
Enquanto o exército católico-luterano exterminava o regime anabatista prisão do Rei, depois da batalha de Pavia, trouxe uma mudança de situação.
em Miinster, penetrou em solo germânico João Calvino, o terceiro grande Não conseguiram embargar as obras de Zuínglio, por serem dedicadas ao
Reformador. Se Lutero se preocupava com a nova teologia, o Picardo Rei. Dali por diante, o Parlamento avocou a si, com o apoio da Sorbona,
preocupava-se com a nova Igreja, com o novo homem e suas instituições. o cuidado pela Igreja em França.
Calvino é mais claro e mais conseqüente do que Lutero, talvez mais Proibiram-se conciliábulos religiosos, e a já iniciada tradução francesa
parcial e mais fanático do que o Alemão, mas também isento das explosões do Novo Testamento. Seguiram-se vários processos. O velho Lefèvre fugiu
e vacilações sentimentais, que se faziam notar em Lutero. para Estrasburgo.
Calvino, naturalmente, aprendeu de Lutero, pois era uma geração Depois dc sua derrota, Francisco I convenceu-se de que a unidade
mais jovem do que o Professor de Vitemberga. Mas o que êle criou, por nacional só podia restaurar-se na base da unidade religiosa. Assim começou,
inspiração de estímulos gerais, era obra sua, totalmente autônoma. em conjunto, a perseguição contra o luteranismo por parte do Rei, do
Calvino nasceu em 1509, em Noyon na Picardia. Esse francês seten- Parlamento, e de bispos zelosos pela reforma. ** Até um professor uni-
trional descendia da culta classe burguesa. O pai era procurador e assistente versitário de Tolosa morreu sobre a pira em 1532. Todavia, muitos círculos
jurídico do Bispo e do Cabido. Aos tenros anos recebeu o filho as primeiras eruditos continuavam a simpatizar com o luteranismo, como o humanista
47
prebendas eclesiásticas. Dedicou-se a estudos jurídicos e humanísticos em Melchior Volmar de Rottweil, que ensinou grego a Calvino. Calvino
Paris, onde por algum tempo morou debaixo do mesmo teto com Inácio tornou-se fervoroso freqüentador e colaborador de tais círculos. Pregava
de Loiola, em Orléans e em Bourges. na secreta celebração da Ceia, organizada por seus amigos, que êle visitava
Dois fatores prepararam a "conversio súbita" ("conversão repentina") em toda a redondeza. Trabalhava, sem cessar, num livro que devia cons-
da qual Calvino falou certa vez: a morte do pai c a influência de elementos tituir a base sólida da nova doutrina. Briosamente, renunciou então às suas
prebendas.
luteranos na França. O pai fora acusado de desfalque. Como não prestasse
contas, foi excomungado. Os rendimentos de João estavam sob a ameaça Fizeram-se, cm seguida, cartazes sobre a missa, e por fim fixou-se
de confisco. O pai, afinal, morreu excomungado. Entre sua família e a em edital apaixonado panfleto contra ela, em Paris e no castelo de Ara-
Igreja, da qual vivera até então, reinava dali por diante amarga inimizade. boise, onde residia o soberano naquela época. Esses "placards" não só
92 Capitulo III A Reforma Protestante como obra pessoal de Lutero !I3

destruíram todas as esperanças em diálogos conciliatórios com os protes- provinham exclusivamente da vizinha dinastia dos Duques de Sabóia, que
tantes germânicos, mas também tiveram como conseqüência a execução de consideravam o sólio episcopal de Genebra como igreja privativa deles.
todos os suspeitos e a fuga de inúmeros correligionários. Entre eles se Em luta pela liberdade, a cidade de Genebra fêz em 1526 uma aliança com
encontrava também Calvino, que primeiramente se dirigiu para Basiléia. Berna. Isto significa, afinal, a introdução da Reforma Religiosa também
Em Basiléia, aos vinte e sete anos de idade, êle publicou anônima a em Genebra, porque Berna tinha contratado o serviço de Farei como agi-
obra em que trabalhara desde vários anos, a "Institutio religionis christia- tador da nova religião, c como campeão dc suas próprias tendências expan-
nac". Êssc compêndio de religião, editado várias vêzes em forma ampliada, sionistas da cidade. Menos como teólogo autônomo, mais como exímio
Calvino o colocou sob o lema bíblico: "Eu não vim trazer a paz, mas a pregador, Farei, que juntamente com Ecolampádio e Zuínglio se tornara
espada". Numa magistral introdução e dedicatória a Francisco I, êle pro- conhecido, tomou as localidades em redor de Berna como ponto de partida,
curava defender seus correligionários na França contra a imputação de e introduziu a Reforma na vizinha parte leste da Suíça Ocidental Românica.
doutrinas depravadas. Desde 1534, êle trabalhava também em Genebra, onde conquistou a
Para Calvino, está no centro a apavorante realidade do Deus vivo, a grande massa dos cidadãos.
cuja honra e serviço nossa vida unicamente se consagra. Já que Calvino Como as Disputações organizadas nos moldes de Zurique e Berna
queria contestar qualquer cooperação do homem na obra da salvação, só terminassem mal para os católicos, os protestantes ocuparam as principais
lhe restava como explicação a exclusiva vontade de Deus, que é a única igrejas da cidade. O Conselho Municipal declarou-se pela nova Religião, e
vontade no universo. Nossa vida e nossa morte, nosso sofrimento e nossa proibiu a celebração da missa. Bispo e Cabido foram obrigados a deixar a
desesperança neste e noutro mundo, estão unicamente em mãos daquela cidade c o município de Genebra, e a fixar residência na vizinha cidade
única vontade tôda-poderosa, que se manifesta nos imutáveis desígnios de saboiana de Annecy, de onde setenta anos mais tarde Francisco de Sales
Deus. Só Deus opera. O homem não pode condenar-se pela livre escolha do pôde reconquistar foros de cidadania para a antiga Religião, pelo menos
mal. Ele absolutamente não escolhe: êle está resgatado, ou está condenado. nas cercanias de Genebra.
Deus causou a primeira queda em pecado: "Dccretum Dei horribile", Em Genebra, a Reforma carecia de organização. No compatriota que
("horrendo decreto de Deus"), mas que deve ser simplesmente aceito. viajava de passagem, reconhecera Farei o homem capaz de promovê-la.
Quem estiver isento de danação, deve sua sorte não a seu próprio feito, não Calvino ficou, redigiu um catecismo e uma nova fórmula de símbolo, na
à sua fé, mas unicamente aos merecimentos do Salvador. É eleito mediante qual a Missa é acoimada de culto maldito c diabólico. Introduziu, ao mes-
a Redenção de Cristo, único mediador. Pelo Espírito Santo, Deus desperta mo tempo, austero regulamento para a Igreja e para a vida do indivíduo.
nos eleitos a certeza de que são conhecidos por Deus, e que pertencem à Contraventores eram nominalmente excomungados. Quem não quisesse
comunidade da Igreja. jurar o símbolo devia ser desterrado. Desde o começo, queria Calvino
Essa Igreja, a que só pertencem os verdadeiros crentes, torna-se visível constituir uma Igreja visível, que aos seus olhos também estivesse em con-
pela bíblica conformação da vida exterior, pela anunciação do puro Evan- dições de aniquilar a velha Igreja.
gelho, pela administração dos Sacramentos, quais foram instituídos por Contra essa rigorosa disciplina eclesiástica e contra o cerceamento dc
Cristo, sem aditamentos humanos, e pela disciplina eclesiástica. suas liberdades, insurgiram-se os patrícios influentes dc Genebra. Quando
Na doutrina sobre o Sacramento do Altar, Calvino rejeita o simbolis- pois Calvino ainda rejeitou as tradições que a aliada Berna pleiteava (das
mo de Zuínglio. Palavras e sinais não são formas vazias c ocas. Se o sinal quais fazia parte a conservação dos quatro antigos dias santos, da pia
nos foi dado por Deus, então o Corpo também nos foi dado por êle; natu- batismal, das hóstias ázimas, do toucado das noivas), Calvino e Farei foram
ralmente, o Corpo que está sentado à direita do Pai, que os fiéis manducam depostos e escorraçados.
de modo espiritual, mas verdadeiro, enquanto os réprobos só recebem os Enquanto Farei assumia o ofício de pregador em Neuchâtcl, Calvino
elementos. Pois é o Espírito Santo, pelo qual Cristo nos comunica sua foi a convite de Bucer e Capito para Estrasburgo, a fim dc pastorear a
vida e tudo quanto recebeu do Pai. comunidade de refugiados franceses. Passou três anos em Estrasburgo,
Depois de redigir a "Institutio", Calvino viajou para a Alta Itália, com onde recebeu, principalmente de Bucer, muitas sugestões para a progra-
o intuito de conquistar em favor de sua causa uma irmã do Rei de França, mação do culto divino e a estruturação da comunidade. Por ocasião dos
a Duquesa Renata, intelectualmente afeiçoada ao protestantismo. No re- diálogos sobre religião cm 1540 e 1541, teve contacto também com outros
gresso a Estrasburgo, a situação de guerra obrigou-o a passar por Genebra, Reformadores Germânicos, além de Lutero.
onde o predicante Farei, patrício de Calvino, o conjurou a que se pusesse Martinho Bucer (1491-1551), dominicano já por vêzes citado, natu-
a serviço do Evangelho na cidade. Calvino deixou-se ficar, e assim Genebra ral de Schlettsdadt, não criou pessoalmente novo tipo de Igreja, mas cons-
se tornou o berço do calvinismo. tituía uma das mais relevantes personalidades da Reforma. Cinco anos de-
A cidade de Genebra estava muitos anos em litígio com seus bispos pois de sua adesão a Lutero em 1518 em Hcidclberga, introduziu como
por causa das liberdades citadinas. Desde muito, os bispos de Genebra predicante e pároco a Reforma em Estrasburgo, e trabalhou vinte e cinco
94 Capitulo III A Reforma Protestante como obra pessoal de Lutero 95

anos cm seu desenvolvimento. De permeio trabalhou na Hássia, na Coló- os costumes; com diáconos a quem se confiavam o serviço dos pobres e os
nia Eletiva, nos diálogos sobre religião, sempre com a aspiração de contra- hospitais. Uma vez instituídos, esses organismos podiam exigir rigorosa
balançar Lutero e Zuínglio, anabatistas e Igreja Oficial, Reforma e catoli- subordinação. Estava assim criado um novo clericalismo, mas desta vez
cismo, mas não o fazia por menoscabo das divergências entre as várias estranhamente mesclado com regalismo.
crenças religiosas. A isto acrescem ainda o Colegiado dos Pastores e o Consistório,
Ele é por certo o teólogo reformado, que maior influência recebeu de espécie de tribunal de Inquisição, constituído de predicantes e de doze
Erasmo, c principalmente nos primeiros anos de juventude só via em Lutero presbíteros, cuja tarefa consistia em vigiar cuidadosamente toda a vida
uma corroboração das doutrinas erasmianas. Admitia a possibilidade de religiosa de cada um dos cidadãos, punindo as infrações. As penalidades
se unirem todos os que acreditam em Cristo. Interessava-se pelo patrimô- constavam de exortação, censura, excomunhão, imposição de desagravo
nio comum de todos os cristãos, pela formulação dos "necessária" (pontos púbiico, extradição ao Conselho para fins punitivos. Aplicava-se a tortura.
necessários) da fé, e pelo valor da Tradição patrística. A propósito da crí- Graves pecadores, tais como os blasfemos, adúlteros, e obstinados adversá-
tica, que a esse respeito encontrava junto aos amigos, queixava-se decep- rios da nova religião eram entregues ao Conselho. De 1541 a 1546, lavra-
cionado: "Ó perniciosa cegueira e de não reconhecerem, até os melho- ram-se 56 sentenças de morte e 78 proscrições.
res evangélicos, o que significa crermos numa Igreja Universal, e na co- Em cada bairro da cidade estava de plantão um beleguim especial,
munhão dos Santos, e sermos membros de Cristo, que em seus próprios que acolhia também as delações de parentes e vizinhos. Desapareceram os
membros sempre busca c restaura o que está perdido. 48
dias santos; proibiram-se teatro e baile, punia-se requinte no trajar, supri-
Não só em sua paixão pela pregação, como também em seu raciocínio miram-se as tabernas. Era somente permitido frequentar a única tasca situa-
estático, continuava êle, embora protestante, a ser o antigo integrante da da no próprio bairro domiciliar. Operou-se singular inversão das tarefas
Ordem dos Pregadores, de formação tomista, que estabelece ligação entre do Estado. Calvino mandou ao Conselho declarar que sua doutrina era a
49
o Antigo e o Novo Testamento, entre Lei e Evangelho, bem como entre fé santa doutrina de D e u s .
e obras; que na idéia velho-testamentária da Aliança vê o paradigma para Imediatamente depois de seu regresso, Calvino elaborou a toda pressa
o conceito de Igreja, e na disciplina eclesiástica, contra os anabatistas, o um catecismo para instrução das crianças, com 373 perguntas e respostas,
sina! da verdadeira Igreja, onde os eleitos se congregam para realização do que propriamente não se prestava à instrução de crianças, mas que servia
Reino de Deus. Na doutrina e no método de Calvino, encontrar-se-ão afi- como base doutrinária da fé. O regulamento do culto divino, enriquecido
nidades com Bucer. Por rejeitar o "ínterim", Bucer foi obrigado a retirar- por sua vez com muitas sugestões de Estrasburgo, previa um culto diário
se de Estrasburgo. De sua atividade na Inglaterra, falar-sc-á amplamente de pregação, emoldurado de oração e canto de salmos. Às sextas-feiras,
mais adiante. havia regularmente uma congregação, uma conferência seguida de debates.
Enquanto Calvino assistia junto a Bucer, e se fazia encontradiço tam- Ministrava-se a Ceia do Senhor só quatro vezes por ano, não todos os
bém com outros importantes teólogos luteranos, por ensejo dos diálogos so- meses, como Calvino inicialmente desejava, e nela se tomavam pão e vinho
bre religião nos anos de 1540 e 1541, o douto Cardeal Sadoleto, um dos comuns. Logicamente, não havia altares, nem imagens, nem velas nesses
mais insignes entre os novos cardeais criados por Paulo III, havia tentado, templos calvinistas.
em carta ao Conselho de Genebra, reconquistar a cidade para a Igreja Ca- Contra Calvino e suas Ordenanças Eclesiásticas, não faltaram adver-
tólica. Então, os mesmos círculos protestantes que, tempos antes, tinham sários em Genebra, entre os quais se alinhavam os veteranos Campeões da
conseguido sua expulsão, chamaram Calvino novamente para a cidade. Liberdade, que viam o Duque de Sabóia barganhado por um ditador oriun-
Como condição exigiu Calvino que se criasse uma disciplina eclesiástica, se- do de França; também as rodas sociais mais elevadas, apreciadoras dos
parada da jurisdição civil; mas retornou, muito embora o Conselho timbras- encantos da vida, depois, também os elementos que se opunham a qual-
se cm conservar em mãos o manejo da disciplina eclesiástica. quer definição teológica c a toda organização eclesiástica; afinal, os adver-
As "Ordennances ecelésiastiques" ("Ordenanças Eclesiásticas"), acei- sários teológicos propriamente ditos. Houve, outrossim, reações de natureza
tas pelo Conselho, nas quais se aproveitaram experiências colhidas em políticas, pelas quais os contrários de Calvino levaram a melhor nas elei-
Estrasburgo e Zurique, tornaram-se aos poucos nas mãos de Calvino um ções.
instrumento para formar a opinião pública, segundo a palavra da Bí- Em 1555, ocorreram ainda pancadarias. Calvino tomou-as como pre-
blia, c uma teocracia nos moldes do Estado monárquico dos antigos judeus texto para aniquilar seus adversários, e para consolidar seu regime político
e da república de Platão. lugubremente rigorista, ainda que modelar sob o ponto de vista de ordem
De acordo com essas Ordenanças Eclesiásticas, a nova Igreja consti- e moralidade. Graças à naturalização dos refugiados religiosos franceses,
tuía uma igreja-comunidade com organismos bem determinados, com pas- êle criou para si, contra a resistência de Berna, uma posição cada vez
tores que deviam anunciar a palavra de Deus; com mestres que ministram mais forte, e por ela conseguiu estruturar, cm caráter definitivo, sua
o ensino público; com presbíteros que, eleitos pelo Conselho, deviam vigiar organização eclesiástica.
96 Capítulo III A Reforma Protestante como obra pessoal de Lutero ÍI7

Os adversários teológicos foram impiedosamente eliminados. Gruet, Common Prayer" dc 1552 conservou paramentos e ritos litúrgicos, mas
que negara a divindade de Cristo, foi decapitado em 1547. O ex-carmelita suprimiu o que restava da idéia de sacrifício, impregnando-se totalmente
Bolsec, que se atrevera a contestar a doutrina de Calvino sobre a predesti- da teologia calviniana.
nação, foi queimado vivo, por instigação dele. Castellio. por causa de sua Com sua obra "De regno Christi" ("Sobre o Reino de Cristo")
oposição à doutrina de Calvino sobre a descida de Cristo aos infernos, so- queria Bucer criar um regulamento eclesial nos moldes dc Genebra, mas
freu calúnias de Calvino em Basiléia. Miguel Servet, médico e humanista sua morte precoce (1551) embargou-lhe a execução. Em compensação,
espanhol, que contestava a doutrina das três Pessoas Divinas, e não queria Cranmer logrou fazer passar um novo símbolo de fé, os 42 Artigos de
admitir em Cristo a divindade preexistente, foi até denunciado por ordem 1553. Verdade é que, em sinal de seu caráter compromissório, eles eram
de Calvino à Inquisição Católica dc Lião. Quando Servet, que desde muitos
de teor facultativo, não obrigatório, mas volviam-sc tanto contra os cató-
anos se carteava com Calvino, pôde fugir e chegou a Genebra, foi reconhe-
cido e capturado, quando assistia a um sermão de Calvino, e este ativou licos como contra os anabatistas. Adotavam a doutrina calviniana sobre a
energicamente o andamento do processo. Servet foi queimado em 1553. Ceia e a predestinação, embora não tirassem suas conseqüências mais
Tais julgamentos intimidaram os demais adversários. extremas: A manutenção do ministério episcopal é que únicamente não se
enquadrava bem nos moldes calvinianos da nova Igreja Anglicana. Como
Calvino não queria restringir seu trabalho a Genebra. Através de era natural, sua existência correu perigo, mais de uma vez, com a morte
Genebra procurou firmar o protestantismo na França e exercer atividades prematura do Rei (1553), e pela transmissão do governo a Maria Tudor,
missionárias noutros países. Em busca de aliado político, chegou a uma uni- filha de Henrique VIII e de Catarina de Aragão, que se conservava cató-
ficação de doutrina sobre a Ceia com o sucessor de Zuínglio em Zurique. lica.
Calvino e Bullinger terminaram em 1549 o "Consensus Tigurinus" ('"Acor- Por outro lado, Calvino c seu Movimento conseguiram, na França,
do de Zurique"), que na doutrina sobre a Ceia adota, em versão atenuada, remodelar os evangelizantes numa só igreja, num só partido, num só exér-
as fórmulas calvinianas. Assim criaram a base para a futura unificação das cito aguerrido. Havia no país muitos grupos pequenos, que se sentiam
Igrejas na Suíça.
igreja no sentido luterano, que instituíam talvez um predicante e tomavam
Calvino procurou, desde o início, cuidar das vocações ministeriais a Ceia, mas que de resto se manifestavam o menos possível, por causa da
para sua Igreja. Em 1559, conseguiu afinal fundar em Genebra a Acade- dura perseguição contra os novos crentes; que mandavam batizar os filhos
mia de Ensino Teológico, cuja direção assumiu seu conterrâneo Teodoro de por párocos católicos; que aqui e ali freqüentavam a missa, para não da-
Beza. Por ocasião da morte de Calvino no ano de 1564, a Academia con- rem na vista; que se abstinham de todos os excessos iconoclastas. Esses
tava 1.200 alunos da série inferior, c 300 estudantes maiores, muitos dos grupos, quase sem organizações, viam seu modelo na comunidade de
quais eram forasteiros. Estrasburgo, e de lá pediam seus predicantes. De mais a mais, eles tinham
representações em todas as partes da França; constituíam-se de todas as
camadas sociais, desde a pequena burguesia até a mais alta nobreza. Nu-
17. Força de Aliciamento do Calvinismo merosos em suas fileiras eram o negociantes, sobretudo no sul da França.
Nem sequer as muitas sentenças de morte podiam alquebrar-lhes a cora-
Extraordinariamente grande era a força de aliciamento do calvinismo. gem, nem dissolver suas comunidades.
Durante o reinado de Eduardo VI, parecia antes de tudo ganhar novo ter- Calvino, desde o começo, sentiu-se protetor deles. Em inúmeras car-
reno na Inglaterra. Inicialmente, contentou-se em abolir os "Artigos de tas e colóquios propugnava seus direitos. Dentro em breve, porém, pro-
Sangue" ("Bloody Act"), em instituir a Comunhão sob as duas espécies, curou transformá-los segundo o plano da Igreja de Genebra. Exigia a re-
cm permitir de novo o casamento dos sacerdotes. Esta moderação é de se núncia ao "nicodemismo": não tomar parte em ritos ímpios, antes fugir
atribuir à influência de Buccr, que então vivia na Inglaterra, depois de para Genebra. Mais tarde, exigia primeiro a formação da comunidade, e
sua expatriação por causa do "ínterim". depois a celebração da Ceia; primeiro a eleição de um predicante, depois
Para os Reformadores mais radicais, não bastava a transformação, as pequenas reuniões para oração e doutrina; primeiro a introdução da dis-
pela qual a missa, de sacrifício, passou a ser culto de louvor e ação de ciplina eclesiástica, segundo o padrão de Genebra, depois a Ceia; por conse-
graças, no primeiro "Book of Common Prayer", redigido por Cranmer. guinte, primeiro a Igreja, depois, por meio dela, os Sacramentos, aos quais
Em outubro de 1548, Calvino enviou ao Duque dc Somerset um programa pertencia também o batismo, muito embora Calvino por princípio reco-
completo de reformas, exigindo a instrução do povo mediante um cate- nhecesse o batismo católico. 50

cismo e um símbolo de fé, a abolição dos abusos cm liturgia, a aplicação de Dentro dessa base, formou-se em Paris a primeira "Igreja" no ano de
anátema contra os viciosos. 1555. Nos anos posteriores, seguiram-se dezenas de outras. No correr dos
Após a queda de Somerset, Calvino prosseguiu com seus incitamentos. sete anos imediatos enviou Calvino 88 pastores para a França. Não obs-
Bucer e Vermigli encarregaram-se de rever a liturgia. O novo "Book of tante a vigilância de Genebra sobre eles, sempre apareceram inúmeras
98 Capitulo III A Reforma Protestante como obra pessoal de Lutero 99

diferenciações individuais, que postulavam uma coordenação, em vista da em triunvirato, para defesa do catolicismo, o Duque de Guise, o Condcs-
crescente consciência que os reformados tinham de si mesmos. távcl de Monlmorency, e o Marechal de Saint-André.
Dentro em pouco, iam contar efetivamente membros da Casa Real Em setembro de 1561, a Rainha-Mãe mandou fazer, no Convento dc
entre seus sequazes, ou pelo menos entre seus fautores: Antônio de Bor- Poissy, um debate sobre religião, que do lado calvinista era dirigido pelo
bom, rei titular de Navarra, seu imão o Príncipe Luís de Conde, os irmãos hábil Teodoro de Bcza, e do lado católico pelo Cardeal de Lorena e por
Coligny, o Almirante Gaspard, o General Francisco de Andelot. c o Laínez, Geral dos Jesuítas. O debate fracassou, principalmente na questão
Cardeal Odet, que aos dez anos de idade recebera a púrpura, e aos onze a da Eucaristia. Não surtiu efeito a proposta de unificação na base da Con-
arquidiocese de Tolosa (!), e ainda muitas damas da aristocracia e da fissão de Augsburgo e da Confissão de Vurtcmberga de 1557. Laínez fêz
alta nobreza. lembrar que, para tais questões, só o Concílio de Trento era competente.
Eles tornaram-se conscientes dc seu poder. Quando suas reuniões fo- Catarina, então, lançou a cartada protestante e anti-hispânica. Depois
ram devassadas cm Paris, lutaram pela saída livre com a espada cm mãos. que Coligny, mediante a concessão de edifícios para culto, lhe prometera
Já não temiam a publicidade. Em maio dc 1559, reuniram-se em Paris o apoio de 2150 igrejas (protestantes), ela publicou cm 1562 o Edito dc
como Sínodo Nacional, cuja finalidade era elaborar, para seus 400.000 São Germano, que outorgava aos Huguenotes convocação do Consistório,
adeptos, um símbolo de fé nacional da França e apresentá-lo ao beneplá- livre exercício dc religião das cidades, cultos domésticos dentro delas,
cito do Rei. Essa "Confcssio Gallicana" (Confissão Gaulesa") tinha celebração de sínodos, e reconhecimento oficial dos pastores.
como minuta uma redação de Calvino. Admitia, contudo, uma revelação Nos Países Baixos, que pela esposa de Maximiliano I passaram a
natural de Deus, e limitava a função do Espírito Santo ao ato de testemu- pertencer à dinastia dos Habsburgos, a Reforma Religiosa teve rápida
nhar a inspiração da Bíblia. Ao mesmo tempo, estabeleceu-se um Estatuto aceitação. Os Agostinianos, dois dos quais foram executados em Bruxelas
Eclesial, em sentido totalmente calviniano, que também determinava nor- em 1523, introduziram no país idéias luteranas. Em 1520 e 1526, o bispo-
mas para as aplicações dc excomunhão. Nas prescrições em torno do ma- príncipe de Lieja teve que baixar editos contra os luteranos. A queima de
trimônio, já se encaravam os problemas da celebração de casamento misto. livros de Lutero, de acordo com o Edito de Vórmia, não pôde sustar a
De grande alcance para toda a Igreja Reformada eram, todavia, os artigos propalação da nova doutrina, de sorte que Carlos V em 1529 se julgou na
cm que se rejeitava qualquer forma dc direção centralizada através de uma obrigação de cominar com sentença de morte os hereges e os possuidores
igreja local ou de um sínodo permanente. de livros interditados. O edito não foi sempre executado com rigor. Ainda
assim, grande número de hereges sofreram a morte em fogueira. A maioria
Com esses dois documentos, estava constituída a Igreja Hugucnote 51
deles pertencia aos sediciosos e subversivos anabatistas. Os aconteci-
propriamente dita. Dali por diante, os protestantes franceses eram desig-
nados com o nome de Huguenotes, certamente por causa da ligação com mentos de Münster em 1535 motivaram uma reativação das leis de
Genebra, onde a antiga facção da Independência se chamava "Eidgenossen" perseguição. Entretanto, parece que, fora os anabatistas, só pequenos gru-
("Parceiros dc juramento, confederados"). pos de novos crentes conseguiram formar-se nas cidades, em regiões dc
atividades mais industriais, por entre o clero, os mercadores e os artesãos.
Os Huguenotes, porém, não eram apenas igreja. Constituíram-se como Amplos círculos de pessoas votavam-lhes simpatia, sobretudo por motivos
partido político, que lutava pela conquista do poder. Verdade é que sua patrióticos. Era esse, talvez, o motivo por que em geral as autoridades
"Confessio" ainda falava da devida obediência também para com autori- eclesiásticas usavam de mais clemência do que os poderes governamentais.
dades descrentes. Com o desprestígio da Coroa, sob a minoridade de Fran- O calvinismo penetrou pelo país adentro depois de 1540, quando
cisco II (1559-1560), c com a contestação de legitimidade do governo em prevaleceu certa mitigação na política religiosa do Imperador, pois naquela
mãos dos Guise, do Duque Francisco e de seu irmão Carlos, "Cardeal de época se faziam no Império diálogos sobre religião. Calvino, que pelo
Lorena", foi jogo fácil para a oposição política do Príncipe de Conde, lado dc mãe se sentia belga, formulava ásperas censuras contra os novos
mediante parcial aquiescência de Calvino, tornar suas aliadas as energias
crentes, por causa de suas atitudes pacatas. Apodava-os dc "nicodemistas".
religiosas dos Huguenotes. Entanto, malogrou a conjuração de Amboise,
que devia provocar a queda dos Guise. Nesse momento crítico, a rainha- Enviou-lhes um predicante para fundar a futura Igreja, mas que foi quei-
mãe Catarina de Medici tomou as rédeas em mãos. A conselho de seu mado vivo em 1545.
Chanceler, permitiu aos Huguenotes o exercício particular de sua religião. A partir de então, os Neerlandeses iam sempre de novo instruir-se e
Com isso ficou suspensa, em princípio, a ilegalidade dos Reformados cm adestrar-se em Genebra. Logo surgiram densas e aguerridas comunidades,
França. No sul, os Huguenotes chegaram a ocupar igrejas, nas quais se con- organizadas nos moldes de Genebra. Por então, procuravam manter-se
tinuou a pública celebração do culto divino. em segredo; antes da admissão, exigiam dc seus partidários formal renúncia
ao Papa e à Igreja de Roma. Uma "Confessio Bélgica" ("Confissão Bel-
Catarina suspendeu a perseguição judicial dos protestantes, e convo- ga"), redigida em 1561 segundo o paradigma francês, teve a aprovação de
cou Antônio de Navarra para participação no governo. Debalde se aliaram Calvino, e foi aceita em 1571 pelo 1° Sínodo dc Emden.
100 Capitulo 111 A Reforma Protestante como obra pessoal de Lutero 101

Contribuiu, de modo decisivo, para o bom êxito da Reforma, o fato de A baixa nobreza formulou entre si um pacto, cuja finalidade se pro-
que ela coincidia então com uma oposição política largamente difundida. punha a campanha pelos direitos dos Estados ("Stánde"). Seus chefes,
Em 1555, Carlos V cedera os Países-Baixos a seu filho Filipe II, posterior- porém, calvinistas mui decididos, batiam-se contra os editos de religião
mente rei da Espanha. Como campeão da hegemonia espanhola na Europa, e pela liberdade religiosa. Por causa de seus trajes modestos numa de-
e como expoente de pronunciado absolutismo da Coroa em relação com monstração cm presença da governadora-geral, esses nobres receberam o
o povo e a Igreja, estava êle, da mesma forma do que o pai, compenetrado apelido de "gueux", maltrapilhos. Chegou a processar-se uma unificação
de seu dever de tutelar, na qualidade de soberano, a Igreja Católica, e de entre os vários grupos de novos crentes. Logo, porém, se tornaram ra-
manter com todos os meios a unidade de fé em seus domínios. dicais sob a sugestão de arengas demagógicas dc inúmeros predicantes,
Essa posição em nada se alterou com os atritos que Filipe teve prin- vindos de Genebra, França, e Alemanha. Houve nisso também a con-
cipalmente com Paulo IV, no início de seu governo. 52
Não era de comitante influência das aspirações sociais de cidadãos e trabalhadores
surpreender que tão poderoso dinasta, com extensos domínios também cm descontentes.
solo italiano, exercesse de vez em quando enorme influência na política do Não sem alguma preparação, por certo, irrompeu através de todo o
papado, não obstante o malogro total ou parcial de seus grandes empre- país uma tremenda campanha de destruição de imagens, igrejas c con-
endimentos para conservação e recuperação da Igreja Católica na França ventos. Foram duramente atingidas sobretudo as cidades de Antuérpia e
e na Inglaterra. Nos Países-Baixos, alheou-se à afeição do povo, também Amsterdão. O Governo, todavia, conseguiu abafar o motim. Sob o es-
por causa de sua índole misantrópica e desconfiada. Desde 1559, durante
pantoso impacto das vandálicas destruições, muitos dos novos crentes de-
o longo período de governo, não viu mais as províncias setentrionais dc seu
Império. Deu à Inquisição plena liberdade de ação, e executou com reno- sertaram as fileiras dos maltrapilhos. Guilherme de Orange, o mais com-
vado rigor os editos de seu pai sobre religião. prometido, tomou o rumo de sua terra natal germânica Nassau-Dillenburg,
onde oficialmente se bandeou para o luteranismo.
Depois de concluída a paz com a França em 1559, para melhor Na Áustria e na Transilvânia, o calvinismo também conseguiu em
proteger o país contra o calvinismo, que penetrava pelo sul, procurou con- poucos anos reduzir o luteranismo, desde muito arraigado no país, e cons-
seguir do Papa nova divisão territorial das dioceses. Paulo IV aprovou pois tituir suas próprias igrejas. Só os alemães da Transilvânia se conservaram
em 1559 a criação dc 18 novas dioceses, distribuídas entre três arquidio- fiéis ao luteranismo, e estabeleceram em 1545 uma igreja nacional ("Lan-
ceses, em lugar das quatro dioceses até então existentes. deskirche") segundo a Confissão de Augsburgo. Na Alemanha, a hora
Como na reorganização eclesiástica que fizera na Espanha, Filipe do calvinismo soaria mais tarde, após a morte de Calvino.
procurou também nos Países-Baixos excluir bispos estrangeiros de qualquer
jurisdição eclesiástica, e promover melhor atendimento pastoral, indepen-
dente das áreas administrativas e políticas que se haviam avolumado. O 18. Agravamento da Situação no Império
rei obteve o direito de apresentação para todas as dioceses. Inúmeros con-
ventos foram incorporados às dioceses, e nessa ocasião as abadias, sobre- Na Alemanha, ao invés, a situação caracterizava-se pela ulterior for-
tudo no Brabante, se insurgiram contra as comendas que daí resultavam. mação de blocos de força militar dos dois grupos confessionais, e por uma
Os primeiros bispos das novas dioceses eram elementos de confiança série de tentativas de conseguir uma unificação pacífica por diálogos
do Rei. Sonnius, inquisidor geral e fecundo controversista, tornou-se pri- sobre religião.
meiro bispo de s'Hertogenbosch (Bois-le-Duc). Essa nova regulamentação Independentemente de tal situação, as posições dos protestantes no
eclesiástica provocou várias manifestações de descontentamento. Conside- Império firmavam-se cada vez mais. Eles tinham recebido nova base de
ravam-na, em primeiro lugar, como menoscabo dos históricos privilégios fé, com nítida tendência anticatólica, nos "Artigos de Esmalcalda", que
dos Países-Baixos, que deviam aliás ser respeitados, como suposta ou Lutero redigira por empenho do Príncipe-Eleitor da Saxônia. Tinham
verídica exploração do país, e como preferência dada aos espanhóis na reforçado sua Liga pela incorporação de novos membros. Por ocasião
colocação de cargos mais elevados. da nova ameaça turca, tinham outra vez extorquido do Imperador a
À frente da oposição política, figuravam dois governadores de pro- suspensão de processos no Tribunal Superior. Aproveitaram a ausência
víncia, o Conde Egmont e o Príncipe Guilherme de Nassau-Orange, sim- do Imperador, para ampliar o mais possível o âmbito de seu poder. O
patizante do luteranismo, e o Almirante Conde Hornes. Exigiam eles a Príncipe-Eleitor e Duque de Saxônia seqüestrou e protestantizou os bis-
observância dos direitos das Províncias, e insurgiam-se contra a planejada pados saxônios. O Príncipe-Eleitor de Saxônia e o Langrave de Hássia
implantação da Inquisição Espanhola. Ao cabo, a governadora-geral Mar- escorraçaram o católico Duque Henrique de Brunsvique-Wolfenbüttel. O
garida de Parma, meia-irmã de Filipe, viu-se em 1564 obrigada a sacrificar Conde Palatino Otto-Henrique, profundamente endividado, confiscou em
seu competente conselheiro o Cardeal Granvella. Neuburgo-Palatinado os bens eclesiásticos, e proclamou em 1543 um re-

SEIMINARIO CONCORDIA
A Reforma Protestante como obra pessoal de Lutero 103

gime eclesiástico protestante. No ano seguinte, passou para a nova dou-


trina Henrique II, o Príncipe-Eleitor do Palatinado.
Desta maneira, não só se apartou da Igreja Católica todo o Norte
da Alemanha, desde a Polônia até o rio Weser, mas também já se for-
mava no Sul um bloco protestante com Vurtemberga, Palatinado Eletivo,
e Hássia. Três Príncipes-Eleitores já tinham passado para a nova dou-
trina. Se tivessem aliciado mais um deles, o Império Catóüco já não
poderia subsistir para o futuro, com maioria protestante.
De feito, o arcebispo de Colônia, Germano de Wied, também parla-
mentara com Bucer cm Estrasburgo. Mandou-o chegar até Bona, para ali
pregar, e elaborar junto com Melanchthon um regimento eclesiástico re-
formado. Só a resistência do Cabido, da Universidade, e do Conselho
de Colônia é que impediu a execução do plano. Em Münster, foi igual-
mente embargado pelo Cabido o desígnio do bispo Francisco de Waldcck,
que queria transformar suas dioceses de Mindcn, Münster e Osnabruque
num principado secular protestante. Em Colônia já repontavam os pri-
meiros bons êxitos de uma reação católica, positiva e construtiva.
Pela atuação existencial de Lutero e de Calvino, pela pregação de
seus inúmeros e ilustres discípulos e amigos, pela coragem de sofrer
dos anabatistas, a separação da Igreja Romana se tornara pois um fato
consumado.
Por mais dolorosa que todos os cristãos devam sentir a perda de
unidade, não devemos todavia considerar a Reforma só pelo aspecto ne-
gativo. Ela manifestou muita energia criativa, plasmou comunidades que,
sob o poder da palavra, revelou notável ânimo de testemunhar. Seus
membros não eram todos cristãos perfeitos. Lutero nunca deixou de tro-
vejar bastante contra a embriaguez. O iconoclasmo, em muitas regiões,
indiciava uma espantosa barbárie cultural. Protocolos de visita canónica
nas igrejas luteranas não indicavam, nos fiéis e nos párocos, nenhuma
melhoria em confronto com os antigos abusos entre católicos.
Sem embargo, a constância dos reformados nas enxovias francesas,
aos quais Calvino escrevia cartas repassadas de compaixão humana, e

Mapa do lado oposto: a confissão dominante num território dado (os


traços mais ou menos espacejados indicam a densidade). Por questão de
espaço, este mapa só pode consignar a s maiorias confessionais. Na Alemanha
Setentrional e na Escandinávia devemos calcular percentagem maior de ca-
tólicos por volta de 1546. Naquela época prevaleciam também influências cal-
vinianas. Havia minorias luteranas na Polônia e em toda a Europa Ocidental.
Minorias calvinianas também na França e na Inglaterra. Na Boêmia e na
Morávia, metade da população ainda seria então católica; metade faria parte
dos Irmãos Boêmios e dos Luteranos. Na Hungria, católicos e reformados
mantinham-se na mesma proporção de equilíbrio. Em número muito reduzido
viviam ainda Luteranos em cidades da Espanha e da Itália Setentrional, bem
AS CONFISSÕES PELO ANO DE 1546 como em Nápoles. Naquela época, puderam ser localizados grupos ortodoxos
na Polônia Oriental e no litoral dálmata. Todo o Balcã era ainda influen-
ciado pelo islamismo.
104 Capítulo 111

também cheias de animação e esperança cristãs; a paciência dos ana-


batistas, a respeitosa fidelidade à palavra da Bíblia, a cultura de uma
vida interior que ia às raias da mística: tudo põe ao alcance dos olhos
que a Reforma, tendo sido desencadeada, apoiada vigorosamente, muitas
vezes decisivamente, por fatores políticos, constituía entretanto um mo- CAPITULO IV
vimento de dentro para fora, no qual se realizaram velhas aspirações que
a Igreja daquele século quase não levava em consideração: desejo de
experiência e compromisso religioso pessoal por parte do indivíduo, para
contrastar a supervalorização de instituição e sacramento; desejo da pa- RESPOSTA E REVIDE.
lavra viva e imediata da Bíblia, para contrastar a especulação teológica AS NOVAS FORÇAS E O CONCÍLIO DE TRENTO
que se tornara tão impessoal; desejo de uma interpretação da Palavra de
Deus, aproveitável na vida cotidiana, e de um culto divino inteligível;
desejo de uma comunidade de irmãos, para contrastar um clericalismo, Era a Reforma um enorme desafio à Igreja, exigindo uma resposta
aqui e ali, por demais orgulhoso. existencial que brotasse das mais fundas raízes vitais da própria Igreja.
Por isso mesmo tinham força por assim dizer sugestiva sobre as Tal resposta, força é dizê-lo, se fêz esperar por muito tempo. Muito tarde
massas: as traduções da Bíblia na língua materna, uma liturgia compreen- se delineou na consciência a gravidade da mortal ameaça. Foi, sobre-
siva, formas talhadas para os sentimentos dos alemães como a "Missa tudo, só no último instante, por assim dizer, que os dirigentes da Igreja
Germânica" de Lutero, e para o lúcido raciocínio dos franceses o culto reconheceram a necessidade de uma defesa verdadeiramente religiosa con-
sem imagens, nos templos calvinianos. tra o incalculável perigo que impendia à sobrevivência dos catóücos.
O temor da velha Igreja, quanto ao abuso e à adulteração da Pa-
lavra de Deus, que então justamente embargava as traduções da Bíblia 1. Resposta do Direito Formal
cm língua vulgar, apresentava-se como tentativa, por demais evidente, de
sonegar ao povo a Palavra de Deus em sua íntegra. Contra essa tentativa Em primeiro lugar, tentou-se uma defesa rotineira com os recursos
é que o povo reivindicava impetuosamente seus direitos. do Direito Medieval. Em Roma, instaurou-se processo contra Lutero, por
suspeição de heresia, de acordo com as denúncias apresentadas contra
êle. Chegou-se, rapidamente, à conclusão de que Lutero era herege no-
tório, e que por conseguinte era preciso exigir dele retratação, ou ful-
miná-lo com excomunhão. Esta era a primeira incumbência do Cardeal
Caetano, quando de sua viagem para Augsburgo. O pedido de extradição
feito ao Príncipe-Eleitor da Saxônia e o apelo condicionado de Lutero
a um futuro Concílio Ecumênico foram as últimas fases desses processos,
desde então abafado por motivos de alta política.
1
Só em 1520 é que a ação recomeçou. Formou-se uma junta de
teólogos sob a chefia de dois cardeais. Ela examinou detidamente as
proposições apresentadas por Lutero, e logo foi unânime em condená-las.
Quando Eck chegou a Roma, deliberava-se a respeito da bula que de-
veria condenar as proposições de Lutero. Enquanto os Ministros Gerais
das Ordens Mendicantes, cm seus pareceres por escrito, juntavam a cada
proposição uma qualificação teológica, Eck queria uma condenação global
dos artigos propostos.
Em 15 de junho de 1520, promulgou-se a bula "Exsurge, Domine",
por conseguinte dois anos e meio após a questão das Indulgências. De
modo soleníssimo, em alusão às palavras do Salmo, convocava toda a
multidão dos Santos a levantar-se contra Lutero, que devastava a vinha
do Senhor, desprezava a interpretação da Igreja sobre a Bíblia, e torcia
por sua vez a Escritura segundo sua própria opinião. As teorias por êle
[1051
Nora História III — 0
106 Capitulo IV Resposta e revide: as novas jôrças e o Concílio de Trento 107

defendidas já teriam desde muito a condenação da Igreja, ultimamente em ("Stände") tomavam assim uma primeira medida que se afastava do Di-
Constança, por ocasião do processo contra João Hus. reito Canónico, e como Lutero recusava desdizer-se, o Imperador de-
Classificaram-se, então, e condenaram-se 41 proposições de Lutero, clarou-se disposto a sacrificar o trono e a vida pela preservação da
parte como heréticas, parte como errôneas. Livros que contivessem tais Religião herdada e pela extirpação da heresia. Assim como assim, de-
erros deveriam ser queimados. Quem sustentasse tais doutrinas incorreria correram mais cinco semanas até que Carlos V, em 26 de maio de
7
em excomunhão maior. Lutero e seus amigos eram conjurados a retornar 1521, assinasse o Edito de Vórmia, elaborado por Aleandro.
para a Igreja. Concedia-se-lhes um prazo de sessenta dias para retra- Lançou-se contra Lutero a proscrição imperial. Decrctou-se a queima
tação. Se não se retratassem, seriam tidos como hereges notórios. Até a de seus escritos, que não poderiam ser impressos, nem ser postos à venda.
esse ponto, a bula. Como uma única exceção, as quarenta e uma pro- Pelo que rezava seu teor, o Edito foi pomulgado em virtude da Auto-
posições foram citadas, literalmente, das obras de Lutero. A maior parte ridade Imperial e por unânime conselho e deliberação dos Estados
dessas proposições já tinham sido censuradas em 1519 pela Universidade
("Stände"). Isto é verdade, mas só em parte, porque a maioria dos Es-
de Lovaina. Versavam sobre as indulgências, a eficácia dos Sacramentos.
Por empenho de Eck, incluíram-se as proposições sobre o primado papal. tados já tinha partido de viagem, e somente o Príncipe-Eleitor de Bran-
Entre elas figurava a única proposição que não foi apresentada em pa- demburgo, como porta-voz dos Estados, tinha dado seu consentimento.
lavras textuais. Não obstante, o Edito foi também legislado pelos Estados ("Stände"),
porque nas discussões sobre a citação de Lutero eles tinham declarado
O efeito da bula ficou muito aquém das expectativas em Roma. Isto, a competência do Imperador para proceder contra Lutero, na hipótese de
conforme o próprio Eck o reconheceu mais tarde, porque já estava su- que este não quisesse retratar-se.
perada em seu conteúdo, quando apareceu, e não reproduzia com bastante Mas nem o Edito de Vórmia conseguiu impor-se ao respeito do
agudeza as opiniões luteranas, mas também porque não teve suficiente Império. Não foi sequer promulgado em todos os territórios; em alguns,
divulgação na Alemanha. Eck e o novo Núncio Aleandro deviam in- com muita tardança. Nas principais cidades do então dividido ducado
cumbir-se de sua notificação na Alemanha. No entanto, o prestígio das da Baviera, só se publicou em fins de outono de 1521. Aquele a quem
bulas papais decaíra muito na Alemanha, e a participação de Eck fazia
2 tocava mais de perto, o Príncipe-Eleitor da Saxônia, vilipendiou-o pu-
facilmente a bula aparecer como efeito de malquerença pessoal.
blicamente. Só a tais violações diretas do Direito, e ao colapso da coesão
A opinião pública rebclou-sc contra a condenação de Lutero. Em política do Império, deve a Reforma sua sobrevivência e vitória de-
Lípsia e Erfurt houve arruaças de estudantes. O bispo de Brandemburgo, finitiva.
competente no caso, não se atreveu, de modo algum, a pubücá-la na Uni- O Imperador, por sua vez, foi obrigado a ausentar-se da Alemanha
3
versidade de Vitemberga. Só na Renânia e nos Países-Baixos é que a por causa da iminente guerra com a França. A execução do Edito de
bula pôde ser executada, com auxílio do Imperador, por cuja ordem se Vórmia veio a ser, nas Dietas subseqüentes, a reivindicação estercotípica
queimaram os escritos de Lutero e de seus sequazes em Antuérpia, Lo- do Regimento Imperial e dos Legados Pontifícios. Liquidava-se com toda
vaina, e Lieja, diante de grande aglomeração de povo. sorte de fórmulas brandas e flexíveis, com dilações e compromissos, que
A exasperação de Lutero por esse motivo era sem limites. Tinha, eram diretamente considerados, como já observamos, bases jurídicas para
pois, razão o bispo de Eichstaett, quando opinava que a queima pú- criação de igrejas territoriais luteranas.
blica dos escritos de Lutero contribuiria apenas para ampliar e agravar
4
cada vez mais os contrastes.
Já falamos da reação de Lutero a propósito da bula. Aos 3 de ja- 2. Tentativa de Repressão Militar
neiro de 1521, sobreveio então a indicação formal no anátema pela bula
"Decet Romanum Pontificem", que também não despertou maior aten- Depois que as soluções jurídicas se comprovaram inviáveis nas ques-
5
ção na Alemanha. Por mais que Eck insistisse, não ocorreu ulterior tões religiosas, depois que as acareações em debates sobre religião ter-
condenação pontifícia das idéias fundamentais de Lutero, que nesse ín- minaram sem nenhuma resultado, depois que os protestantes rejeitaram
terim se haviam tornado cada vez mais claras. A bula "Exsurge" não rispidamente a convocação para o Concílio: julgou-se o Imperador em
provocou uma definitiva separação dos espíritos, porquanto a doutrina condições de forçar uma solução, aplicando o poder de sua soberania.
relativa ao primado papal era ainda teoria de escola, para a consciência Após o tratado de paz com a França e um armistício com os
6
de muitos bons católicos. Turcos, êle aprestou-se para a guerra contra o poderio político da Re-
De acordo com o Direito Medieval, ao anátema seguiu-se a pros- forma, contra os Liguistas de Esmalcalda. Para tal fim, o Imperador pôde
crição. Por empenho de Aleandro, a Chancelaria Imperial já tinha lavrado conseguir uma série de aliados importantes: a Baviera, que até então
enérgico mandato contra Lutero, quando o Príncipe-Eleitor da Saxônia apoiara os Esmalcáldicos contra os Habsburgos, e principalmente a Cúria
forçou que Lutero fosse citado cm Vórmia. Enquanto os Estados de Roma. Aos acordos que o Imperador fizera com o Legado Farnese
1
B
Resposta e revide: as novas forças e o Concílio de Trento ¡09
108 Capitulo IV

Os Esmalcáldicos não podiam, tampouco, esperar ajuda de fora.


na Dieta de Vórmia em 1545, relativos à guerra contra os Protestantes Henrique VIII e Francisco I tinham morrido, nos primeiros meses de
Germânicos, deu a Cúria Romana sua ratificação, e para a campanha 1547. Nessas condições, com exceção de Magdeburgo, os príncipes e as
contra os Esmalcáldicos concedeu 200.000 ducados, uma tropa auxiliar cidades norte-germânicas desistiram de lutar. O Imperador exigiu altos
de 12.000 infantes e 500 cavaleiros, e quase um milhão de ducados por tributos dos Estados ("Stände") subjugados, mas não retomou Vurtem-
conta da Igreja na Espanha. berga para os Habsburgos, nem tampouco forçou sumariamente os novos
Roma começou logo com o equipamento do exército. Pela aplicação crentes a retornarem à religião de outrora.
8
de um último recurso sangrento, queria Paulo III contribuir com sua
parte para preservar a unidade da Igreja. Os preparativos bélicos da Cúria Verdade é que, em Colônia, deixou mão livre aos processos ecle-
Romana não podiam ficar ocultos aos protestantes. Sem embargo, per- siásticos. Germano de Wied foi obrigado a renunciar, e recebeu um
deram estes a oportunidade de se anteciparem militarmente ao Imperador. sucessor católico. Júlio de Pflug pôde, contra Nicolau de Amsdorf, tomar
Carlos designava seus próprios armamentos como meios de restaurar, posse da diocese de Naumburgo, que lhe fora injustamente impugnada.
contra os rebeldes, a união, a paz e o direito dentro da nação. Logrou, O corrido Duque de Brunsvique-Wolfenbüttel conseguiu retornar às suas
antes de tudo, esfacelar a linha de frente dos Esmalcáldicos. Conseguiu, terras, mas não pôde reconduzi-las ao catolicismo. A futura Dieta ia tirar
também, aliados protestantes; além do Margrave de Brandembugo-Küstrin as conseqüências finais da vitória imperial. Nessa ocasião, o Imperador
e Kulmbach, o Duque de Brunsvique-Calenberg; sobretudo, o Duque Mau- esperava, antes de tudo, poder induzir os protestantes a reconhecerem o
rício de Saxônia, genro de Filipe de Hássia, político de frio cálculo, me- Concilio que se iniciara em Trento.
diante a promessa do principado de Saxe e de uma parcela da então Mas antes da convocação da Dieta aconteceu algo de decisivo. Por
Saxônia Eletiva. Aos 16 de junho de 1546, o Imperador declarou que desconfiança contra ulteriores intenções do Imperador, o Papa denun-
era obrigado a proceder contra os insubmissos príncipes da Saxônia ciara a aliança, e a 11 de março o Concílio Tridentino decretou sua
Eletiva e de Hássia. Uma semana antes, tinha comunicado o motivo própria transferência para Bolonha, por conseguinte para uma cidade dò
principal à sua irmã Maria: Estado Pontifício. Jamais podia o Imperador esperar que os protestantes,
"Se não interviéssemos agora, o resto da Alemanha correria perigo uma vez derrotados, ainda se acomodassem a enviar delegados a tal
de apostatar da fé, e os Países-Baixos também. . . Depois de ponderar Concílio.
e reponderar todas estas coisas, decidi-me a começar a guerra contra a Sobreveio ainda o incidente do assassínio de um nepote papal na
Saxônia e a Hássia como violadoras da paz nacional... Apesar de que conjuração de Fiesco de Gênova. No inverno de 1547-1548, quando o
esse pretexto não encubra, por muito tempo, que se trata de religião, Imperador triunfava contra os adversários da Igreja, chegou também ao
todavia servirá primeiramente para promover divisão entre os que se auge a tensão entre êle e o Papa. Assim é que o Imperador, na renhida
arredaram". 10
Dieta de Augsburgo de 1548, só pôde propor aos Estados ("Stände")
Depois de fulminada a proscrição imperial dos dois Príncipes, os como sua vontade uma regulamentação das questões religiosas, em caráter
Esmalcáldicos, melhor equipados, iniciaram as hostilidades. Em arrojado interino, até o retorno do Concílio a Trento.
avanço, Schertlin de Burtenbach alcançou, com o exército das cidades Como os Estados ("Stände") protestantes não erguessem nenhuma
federadas do Sul da Alemanha, as fraldas dos Alpes e conquistou a objeção, tornou-se lei de Estado essa imperial religião intermédia ("ín-
Ermida de Ehrenbcrg, entrada natural do Tirol. Isto não obstante, o terim"), ou, como ela se designava a si mesma, a "Declaração de como
Imperador conseguiu chegar-se com suas tropas auxiliares, oriundas da em matéria de religião se deve proceder no Santo Império até o encerra-
Itália e dos Países-Baixos. Forçou, em poucas semanas, a capitulação mento do Concílio Ecumênico".
de Vurtemberga e das cidades federadas sul-germânicas. Ela teve sua origem nos trabalhos de uma Comissão encarregada
A decisão, porém, foi na Saxônia Eletiva, terra originária da Re- pelo Imperador, da qual faziam parte o bispo Pflug, de Naumburgo, o
forma, onde Lutero tinha morrido alguns meses antes. Maurício fizera bispo auxiliar Helding, de Mogúncia, o teólogo palaciano do Príncipe-
ali uma incursão, encontrara forte resistência, e pedira o auxílio do Eleitor de Brandemburgo, que se mantivera neutro durante a guerra, o
Imperador. Por mais devagar que o Imperador, carregado em liteira, gra- luterano João Agrícola, muito hostilizado, por causa de suas doutrinas
vemente enfermo, avançasse com suas tropas, ainda assim alcançou afinal um tanto singulares. Bucer recusara sua colaboração.
a vitória aos 24 de abril de 1547, perto de Mühlberg no Elba. Inicialmente, o Imperador pensava numa regulamentação para todos
O Príncipe-Eleitor, que fora aprisionado, teve de assinar em Vitem- os Estados ("Stände"), mas a ela se opuseram com veemência os Es-
berga a capitulação que continha a renúncia à dignidade de príncipe-elei- tados católicos, sob a liderança do Cardeal Truchsess, bispo de Augs-
tor e à metade de seus domínios a favor de seu primo Maurício. Pes- burgo. Por isso, para os Estados católicos só ficou prescrito um regula-
soalmente, foi conservado em prisão, bem como o Margrave de Hássia, mento de reforma, segundo a minuta de Pflug.
que também foi obrigado a render-se à discrição do Imperador.
E m seu conteúdo, o "ínterim" representava u m a doutrina católica enviar representações ao Concílio, que Júlio III convocara de novo para
levemente retocada, com algumas concessões aos protestantes em terreno Trento.
prático: cálice para os leigos e casamento p a r a os sacerdotes. N ã o se Terminados os preparativos bélicos, o Rei de França invadiu as dio-
falou tampouco da restituição dos bens eclesiásticos. ceses; os Turcos invadiram a Hungria; os Príncipes federados, a Alema-
O "ínterim' n ã o alcançou sua finalidade. Verdade é que foi exe- nha Meridional. Maurício negociou com Fernando da Áustria, e pro-
cutado em toda a parte onde alcançasse o poder imperial, sobretudo curou deitar mãos n o Imperador pelo assalto à E r m i d a d e Ehrenberg. O
n o Sul, em Vurtembcrga e nas cidades livres. P a r a garantir, nestas, sua Imperador, que se achava em Innsbruck, pôde ainda a custo fugir atra-
observância, procedeu-se a u m a emenda constitucional. Eliminou-se a vés d o Brêner até Villach. Nas negociações com os Príncipes Protestantes,
participação das corporações, geralmente protestantes, no governo da ci- teve Fernando d e consentir em avultadas concessões. O T r a t a d o de Pas-
dade. E m lugar delas, instituiu-se um Conselho de Patrícios, com maioria sávia suspendeu o ínterim, libertou o Langrave d e Hássia, e outorgou
católica. Brandemburgo e Palatinado aceitaram o ínterim sem nenhuma livre exercício de religião até a próxima Dieta. D o Concílio, já nem se
objeção. O novo Príncipe-Eleitor de Saxe mandou elaborar, com ajuda falava.
de Mclanchthon, uma fórmula própria, o "ínterim de Lípsia", que ate- A planejada regulamentação final teve delongas por causa d e novas
nuava as formulações dogmáticas, e apresentava os Sacramentos e ritos campanhas de guerra. N u m a expedição punitiva contra as correrias d o
eclesiásticos c o m o prescrições neutras, meramente exteriores (adiáfora). Margrave de Magdeburgo-Ansbach, morreu em 1 5 5 3 , aos trinta e dois
Contra o ínterim lutou, encarniçadamente, o professor d e Vitem- anos d e idade, n a batalha de Sievershausen, Maurício d e Saxonia, que
berga Flácio Ilírico. Por isso, foi tocado d e Vitemberga. Rcfugiou-se em então lutava de novo a o lado dos Habsburgos.
Magdeburgo, que ainda não tinha sido subjugada pelo Imperador. Graças O Imperador, porém, prematuramente alquebrado, retirara-se aos
a êlc, Magdeburgo tornou-se a alma de resistência contra o ínterim, Paíscs-Baixos, onde lavrou seu ineficiente protesto contra o Tratado de
pelos seus escritos polêmicos intitulados "Chancelaria d e Deus Nosso Passávia. E m seu íntimo, começou a desfazer-se de seus títulos e negócios.
Senhor" ("Des Herrgotts Kanzlei"). Nessa cidade, alguns anos mais tarde, O Império caberia a seu irmão F e r n a n d o , a quem por isso mesmo confiou
u m grupo de teólogos, sob a direção de Flácio, procuraram formular u m a a solução do problema religioso.
justificação histórica da Reforma Religiosa. Redigiram em oito volumes
u m a História d a Igreja, as assim chamadas "Centúrias d e Magdeburgo"
("Magdeburger C e n t u r i e n " ) . A partir d e Magdeburgo, a opinião pública 3 . T r a t a d o d e P a z Religiosa d e Augsburgo
era informada a respeito d o ínterim por meio de inúmeras sátiras, e
consolidada a repulsa passiva d o povo luterano contra ela. Fernando, c o m o soberano r o m a n o , conduziu a s negociações n a pla-
D o lado católico, foram de efeito sumamente desfavorável o p r o - nejada Dieta, que veio a realizar-se em 1555 n a cidade de Augsburgo.
testo d o P a p a contra a regulamentação feita unilateralmente pelo I m p e - Verdade é que os Príncipes Germânicos, em grande parte, não compa-
rador, b e m c o m o a falta d e sacerdotes b o n s , instruídos, e zelosos, q u e receram à Dieta pessoalmente. Enviaram pomposas delegações. A s dos
restaurassem o culto divino em milhares de paróquias. Os decênios que Estados ("Stände") Protestantes eram as mais atuantes, ao mesmo tempo
se passaram com editos e decretos promulgados, mas n ã o executados, que suas atitudes se tornavam cada vez mais agressivas.
com medidas aleatórias, com falta d e segurança, não ensejaram a for- J á n ã o queriam saber que ali, propriamente, se tratava do alvará
mação de u m a estirpe de sacerdotes de mais caráter. O ínterim não teve, imperial para a reforma religiosa. E m posse d o poder, interessavam-se
sobretudo, prazo suficiente p a r a se consolidar nas instituições. antes pelo direito d e suprimir n o Império tudo o que fosse católico, e de
Sob pretexto a subjugar Magdeburgo, atingida por proscrição im- seqüestrar em proveito próprio os bens eclesiásticos. A súditos católicos
perial, Maurício de Saxe recrutou grande exército. Como, porém, se jul- de príncipes protestantes só queriam permitir culto particular a domicílio,
gasse prejudicado pelo Imperador, o Príncipe-Eleitor, que seus corre- enquanto exigiam exercício livre e público de religião p a r a súditos pro-
ligionários desprezavam c o m o "Judas de Mísnia", pôs de p é u m a aliança testantes de senhores católicos.
da França com vários príncipes protestantes, tramada contra o Impe-
Entre os bispos germânicos, havia u m único que pleiteava, clara e
rador. Contra pagamento d e altas somas em defesa da liberdade germâ-
decididamente, o ponto d e vista católico. E r a o Cardeal Truchscss, bispo
nica, devia o Rei, na qualidade de "lugar-tenente (vicarius) da N a ç ã o " ,
d e Augsburgo. Êle não queria apartar-se da idéia da religião una, e isto
apoderar-se das cidades d e Cambraia, Métis, Toul, e Verdun. O s Prín-
cm sua qualidade de "cristão d e fibra, e alemão de berço, de simples
cipes Germânicos prometeram colaborar n a conquista d a Borgonha, d a
h o m e m e príncipe d a nação".
Artésia, e de Flandres, e até n a consecução d o diadema imperial, caso
Nesse andamento, como resultado das prolongadas negociações, não
o Rei o quisesse. Apesar dessa aliança, continuavam inalteráveis os pro-
podia resultar outra conclusão senão u m compromisso, que foi o " T r a -
testos d e fidelidade d o Príncipe-Eleitor a Carlos, c seu consentimento cm
tado d e Paz Religiosa de Augsburgo" de 2 5 d e setembro d e 1555. O Príncipe-Eleitor de Saxe foi o único a receber o documento assinado
ajuste efetuou-se sem a colaboração d o Imperador e d o Sumo Pontífice. pelo Rei, e colocou-o em seu arquivo. O s bens eclesiásticos secularizados
Urna p a z religiosa d e feição genérica e estável entre católicos e pro- deviam ficar nas mãos dos protestantes, de acordo com a situação d e 1552.
testantes, o Imperador a considerava atentatoria a o caráter de sua função Nos territórios da nova reügião, a jurisdição eclesiástica dos bispos passou
c o m o protetor d a Igreja. N o dia que terminava a Dieta, u m a h o r a antes aos príncipes governantes. O Tribunal Superior d o Império devia ser
de se proclamar solenemente o protocolo final, u m mensageiro imperial provido em proporção paritária.
levou a o Rei a notícia de que Carlos decidira renunciar a o trono. E os Aos olhos dos contemporâneos, o T r a t a d o d e Paz Religiosa d e
Legados Pontifícios, os primeiros entre os que compareceram e m Augs- Augsburgo afigurava-se como u m monstro d a natureza ("monstrum in
burgo, foram chamados a R o m a p a r a o conclave, p o r causa d a morte n a t u r a " ) , porque tolhia a restauração d a unidade eclesiástica. A tolerância
de dois p a p a s em rápida seqüência, © dali n ã o puderam afastar-se. O que nela se manifestava não era convicção, mas traça política. E r a um
novo Papa, porém, Paulo I V , era o tipo consumado d e austero contra- apaziguamento dos territórios entre si. Paridade d e credos só existia n o
reformador, que de m o d o algum podia tomar parte nas negociações de Império e nalgumas cidades üvres; n ã o existia nos domínios dos prín-
Augsburgo, onde forçosamente saiu u m resultado, que êle n ã o podia cipes.
abonar, e nos quais já não podia tampouco influenciar com toda a sua Assim, também, a paz n ã o podia ser duradoura. Se os catóücos nela
colaboração. viam o máximo d e concessões aos protestantes, estes por sua vez a consi-
O T r a t a d o d e P a z Religiosa de Augsburgo era pois u m a obra de deravam como ponto de partida p a r a mais ampla conquista e propagação.
juristas, que naturalmente já não viviam as idéias d o Império. O T r a - Sobretudo, as medidas de exceção relativas aos domínios eclesiásticos con-
tado conjugava os dois princípios de territorialismo e d e paridade d e tinham em si o germe de novas dissensões.
ambas religiões. Deliberou-se u m a paz constante entre os católicos e os
sequazes da Confissão de Augsburgo. Zuinglianos e anabatistas ficaram
excluídos d o reconhecimento oficial. N u m território só devia dominar 4. R e a ç ã o n a I n g l a t e r r a
u m a religião. Os Estados ("Stände") do Império deviam determinar livre-
mente a religião para t o d a a circunscrição d e seus domínios. Eles pos- Com aplicação d e força estatal por parte d o governo a sucessora
suíam o "ius reformandi" ( o direito d e reformar a reügião), que mais católica d o rei Eduardo V I da Inglaterra também procurou extirpar a
tarde culminou n a formulação definitiva: "Cuius regio, illius et religio" Reforma em seus domínios reais. E d u a r d o V I tomara de fato providências
("Quem m a n d a n a região m a n d a também n a religião"). Deviam os sú- n o sentido de embargar a sucessão de sua irmã a o trono, mas a nobreza
ditos seguir o credo de seu soberano, mas cabia-lhes o direito de emi- e o povo reconheceram, como legítima rainha, M a r i a que era filha d e
grar ("ius emigrandi"), sem dano de fama e pecúlio. Posteriormente, Henrique e Catarina d e Aragão.
ambas as facções operavam de igual maneira com esse meio anticristão Maria ( 1 5 5 3 - 1 5 5 8 ) , u m a das mulheres mais cultas d e sua época,
de expatriar. sofrera muito por estar separada de seus pais, e constantemente poster-
A estas condições principais da paz acresciam as cláusulas de exe- gada, como "filha d o incesto". Conservara-se fiel à religião católica tam-
cução e d e isenção. O direito d e emigrar não vigorava nos domínios dos bém n o governo de Eduardo, seu meio-irmão.
Habsburgos. Nas cidades üvres, deviam ser toleradas dali p o r diante Tornando-se dura e austera, ela procurou com m ã o forte restaurar o
as minorias heterodoxas, que contassem com mais t e m p o d e existência. catolicismo n a Inglaterra. Desconhecia, porém, a situação religiosa d o
Príncipes eclesiásticos n ã o deviam dispor d o direito de reforma, con- país, onde já não sobrevivia nenhum sentimento eclesial catóüco, e tam-
forme determinava a "Reservação Eclesiástica" ("Reservatum Ecclesias- bém o espírito belicoso dos aproximadamente trezentos mil protestantes
t i c u m " ) . Bispo o u abade que se tornasse protestante, devia ser destituído ingleses.
de seu cargo, d e seu território, de seus proventos. Tal determinação tor- C o m o auxiliar de seu plano conseguiu que o P a p a lhe enviasse o
n a v a juridicamente impossível a transformação de domínios eclesiásticos p r i m o dela, o Cardeal Pole, como legado pontifício. Seu casamento com
em domínios seculares, como se fizera n a Prússia. Filipe ( I I ) , filho de Carlos V , príncipe herdeiro d o t r o n o espanhol,
Os Protestantes não concordaram com a Reservação. Por isso, Fer- realizado n o mês de julho, e a solene recondução da N a ç ã o Inglesa à
n a n d o mandou incluí-lo n o protocolo final d a Dieta, em virtude d e sua Igreja Católica, promovida por Pole em novembro d e 1554, tornou natu-
jurisdição c o m o Imperador. E m compensação, podiam continuar a exercer ralmente a R a i n h a antipática em vastos círculos d e pessoas. Contra ela,
sua religião os fidalgos, as cidades e comunidades dos domínios eclesiás- houve até conspirações, que só a custo puderam ser debeladas. N ã o fal-
ticos, que por mais tempo fizessem parte da Confissão de A u g s b u r g o . Esta taram tampouco grosseiras afrontas contra Igreja Católica.
declaração ficou desconhecida à maior parte d o povo, e n ã o foi jamais Com cauta moderação, Júlio I I I renunciou à reivindicação dos bens
promulgada ("Declarado Ferdinandea", "Declaração F e r n a n d i n a " ) . O eclesiásticos que tinham sido seqüestrados. Então, o Parlamento também
aceitou a reconciliação com R o m a e abolição das medidas d e caráter Quem o recusasse, perdia o cargo. Com exceção d e um, todos os bispos
eclesiástico tomadas desde Henrique V I I I . Desta forma entravam nova- foram por isso destituídos. O clero paroquial, ao contrário, submeteu-se
mente cm vigor as leis medievais contra os hereges. Eram, entretanto, os em grande parte. E m lugar dos bispos católicos, onze dos quais sucumbi-
bispos que exigiam ação enérgica contra os protestantes. À frente deles ram n o cárcere, ou em reclusão domiciliar junto a seus sucessores, esta-
estava Gardiner, que tinha reconhecido a supremacia de Henrique, mas beleceu-se uma n o v a hierarquia, a cuja frente foi posto Matias Parker,
sob o governo de Eduardo VI teve de sofrer encarceramento por causa antigo capelão da Família Bolena, professor da Universidade de Cam-
d e sua resistência contra o protestantismo. Houve, então, muitas exe- bridge. Sagrado pelo Ritual de E d u a r d o V I , que Paulo IV declarara invá-
cuções ( 2 7 3 ) ; junto ao povo e aos historiadores posteriores isto acarretou lido em 1555, êlc sagrou os demais bispos, d e acordo com o mesmo Ri-
13
p a r a Maria a alcunha de "Sanguinária". Entre as vítimas constavam inú- tual. Os novos bispos foram, n a maioria, tomados dentre os emi-
meros anabatistas, bem como Joana Grey, competidora de Maria na suces- grados n o governo de Maria. E m parte simpatizavam deveras c o m o
são a o trono, o arcebispo Cranmer, que morreu sem retratação, bispos e calvinismo.
predicantes. Muitos outros fugiram p a r a o Continente, o n d e fundaram Por pouco que a Rainha quisesse saber dele, receando d a constitui-
comunidades calvínicas, sobretudo em Francoforte e Genebra. ção presbiterial da Igreja u m a diminuição do absolutismo régio, o calvi-
U m a morte precoce em 1558 privou Maria de u m bom êxito final, nismo encontrou todavia campo de ação n a nova Igreja d o Estado, e
ou também a preservou de grande decepção de um malogro, pois que vas- também adversários, graças a u m a überalidade, que seria difícil de com-
tas áreas da Inglaterra estavam profundamente atingidas pela Reforma. preender n o Continente. H o u v e então violentas discussões, sobretudo n a
Pole morreu n o mesmo dia que a Rainha. Por cálculo de u m relatório Universidade de Cambridge, onde aos poucos se formavam anglicanos e
contemporâneo, dois terços d a população conservou-se católica, ou tor- puritanos, que mais tarde constituíram partidos.
1 2
nou a sê-lo. A nova Igreja Anglicana precisa outra vez ter u m a fórmula d e fé.
M a s , fora d o pequeno círculo e m redor d e Pole, faltava nesse m o - Os bispos remodelaram os 4 2 Artigos d e 1553 para 39 Artigos, que eram
vimento de recatolização um grande e empolgante ímpeto d e evangelização tolerantes em questões de liturgia e piedade, mas continham n a doutrina
a favor de u m povo que se tornara confuso e apático, em conseqüência u m a posição protestante definida, sim, posição calviniana. Segundo eles, a
das mudanças de religião durante vinte anos. Bíblia é a única fonte d e fé. A Igreja de R o m a também errou em matéria
de fé, b e m como os Concílios Ecumênicos. Admitiam só dois Sacramen-
tos, contestavam o caráter sacrificial da Eucaristia, e propugnavam o con-
5 . Igreja Nacional Anglicana ceito calviniano da Ceia. Estabeleceram a validade das Ordenanças sob o
governo de E d u a r d o , permitiam o casamento de bispos e presbíteros, ne-
Violência provocava violência, sangue clamava por sangue. Isabel I garam explicitamente a jurisdição d o P a p a na Inglaterra, e estabeleceram
( 1 5 5 9 - 1 6 0 3 ) , filha de Henrique V I I I e A n a Bolena, tinha-se declarado a supremacia da Rainha como poder d e jurisdição. E m 1563, estes Arti-
católica sob o reinado de Maria, e prometido conservar a religião exis- gos foram declarados normas de religião p a r a a Religião d o Estado.
tente, q u a n d o prestou juramento n a coroação. Noutros pontos, cresceu também progressivamente a opressão da Religião
Sem embargo, suas atitudes pessoais eram muito mornas em questões Católica.
religiosas; desde o começo, deixava-se levar p o r cálculos inspirados n a
A exigência d o juramento d e supremacia foi estendida a todos os
política interna e externa. C o m o trabalhasse quase quarenta anos com o
componentes da C â m a r a Baixa, a professores e procuradores d e Estado,
mesmo ministro Cecil, que foi posteriormente L o r d e Burghley, não seria
a todos os que fossem suspeitos de afeição à velha religião. Recusá-lo por
de resto possível comprovar quem era responsável pelas várias medidas
duas vezes envolvia cominação d e morte. Prescreveu-se a participação
em assuntos religiosos, tomadas durante seu governo.
em culto protestante. Os faltosos incorriam em pesadas multas pecuniárias.
Ela propôs ao Parlamento modificações d a religião, e desse m o d o A celebração ou assistência da santa Missa era punida com prisão per-
anulou a restauração da Igreja Católica na Inglaterra. O Parlamento votou
pétua, na terceira infração. De começo, contentava-se com punições dra-
novo A t o d e Supremacia, pelo qual a Rainha é designada "Supreme G o - 1 4
conianas, que atingiam os bens de fortuna e a liberdade individual.
vernor" ("autoridade suprema") d o Reino em assuntos religiosos. Tendo
Mais tarde, lavraram-se sentenças de morte em larga escala, e com cruel-
em vista as várias tendências no Parlamento (a Casa Baixa propendia
antes a u m a reforma calviniana; os eclesiásticos da Casa Alta, a o catoli- dade, como se fazia na execução de traidores da pátria. Depois d e u m a
cismo; e os Pares civis, à regulamentação que vigorava n o governo de rebelião ao Norte, sob a chefia d e vários fidalgos, Isabel apertou mais a
Henrique V I I I ) , ela conseguiu, por meio de um " A t o de Uniformidade", perseguição. C o m o resposta veio em 1570 a bula de Pio V , que fulminava
a reintrodução d o "Prayerbook" de Í 5 5 2 , com modificações não essen- anátema e deposição contra Isabel, e desligava seus súditos d o juramento
ciais. Dos chefes católicos, exigia-se o juramento à supremacia da Rainha. de fidelidade.
O Papa pode ter sido levado a tal medida, não só por desinteressado 6. Escócia
empenho a favor da Igreja, mas também induzido p o r falsas informações
a respeito dos católicos ingleses. Julgava, certamente, que os mesmos s ó Esse sucessor, Jaime I, era rei da Escócia Reformada, desde o encar-
por escrúpulos de consciência se abstinham de u m a rebelião contra Isa- ceramento de sua mãe em 1567. Cedo penetrara ali a doutrina d e Lutero,
bel. Desconhecia a lealdade e o ânimo deprimido dos católicos ingleses, apoiada pelo anticlericalismo dos nobres da Escócia, e mais tarde pelo
que também n ã o tomaram parte em posteriores conspirações p a r a liber- exemplo da Inglaterra sob o governo de Henrique V I I I .
tação d e Maria Stuart, rainha da Escócia, mantida encarcerada por Isabel. Entretanto, o Rei e o Arcebispo d e Santo A n d r é opuseram-se a todas
as tentativas de reforma. Patrício Hamilton, parente da dinastia real, que
Aos poucos, a perseguição contra os católicos se transformou numa
conhecera a nova doutrina na Alemanha, foi até queimado vivo como
tentativa d e sua aniquilação total, pois q u e as vítimas não morriam p o r herege em 1528.
participação em rebeliões, mas pela sua profissão de fé católica. Grande Quando, porém, o rei Jaime V morreu em 1542, a Regência em
parte dos católicos ingleses acomodaram-se exteriormente à linha exigida. nome de Maria Stuart, que ainda não completara u m ano d e idade, n ã o
Outros apostataram, até filhos d e mártires e recusadores do juramento conseguiu impor-se aos prepotentes fidalgos. Foi também de quase incal-
("Recusants"). culável influência nos rumos da religião a fatal necessidade de u m a decisão
Os fidalgos podiam manter-se mais livres, à custa de enormes sacri- entre a F r a n ç a e a Inglaterra. Depois que Jorge Wishart, u m dos pri-
fícios financeiros. Muitos abastados emigraram, c o m o o jovem Guilherme meiros predicantes d o calvinismo, morreu sobre a pira em 1546, o cardeal-
arcebispo David Beatón foi assassinado pelos conspúadores.
Allen, mais tarde cardeal, que u m ano após sua ordenação sacerdotal em
Eles convocaram o ex-sacerdote J o ã o Knox, amigo de Wishart, p a r a
1568 fundou em Douai o Colégio Ânglico p a r a formação de sacerdotes
a pregação d o Evangelho. Este, porém, n o ano seguinte, foi logo captu-
que atendessem aos católicos ingleses. Fundaram-se outros colégios em r a d o pelos franceses e enviado às galeras. Indultado dois anos depois,
R o m a e Valhadolid. Desde 1574 até a morte da Rainha, aportaram secre- viveu na Inglaterra e colaborou na redação dos " 4 2 Artigos" d e E d u a r -
tamente na Inglaterra n a d a menos d o que 4 3 8 sacerdotes do Colégio, d o VI. N o governo de Maria, a Católica, foragiu-se em Francoforte e G e -
noventa e oito dos quais foram executados. A partir de 1580, os jesuítas nebra. Nesse ínterim, realizaram-se e m sua terra sínodos em 1549 e 1 5 5 1 ,
competiam com eles. Apesar d o disfarce, muitos eram reconhecidos, traídos q u e redigiram decretos p a r a a reforma d o Clero. Estes, porém, vieram
e executados. Entre eles estava também E d m u n d o Campion, antigo diáco- tarde de mais.
n o da Igreja Anglicana, sobre o qual hoje em dia também os protestantes D e Genebra, Knox não somente escrevera sua "Primeira clarinada
dão testemunho que d e se manteve livre d e intrigas políticas, e só se contra o monstruoso governo d e mulheres", em desabono de ambas as
empenhava pela fé d e seus compatriotas. 1 5 Rainhas da Inglaterra e da Escócia, mas também se empenhara em que
os Fidalgos Protestantes da Escócia em 1557 se coligassem numa Aliança
Naturalmente, naquela época de intolerância sistemática, os catóücos ("Covenant") para defesa da comunidade de Cristo, e para luta contra a
também lançavam m ã o de atentados a favor de u m a sucessão católica ao "Comunidade d e Satanás". A c h a m a d o dos fidalgos, Knox voltou em
trono depois de Isabel. U m a vez foi até com expresso consentimento d o 1559 para sua pátria, e com sua pregação contra a "idolatria" conquistou
Cardeal Secretário d e Estado de Gregório X I I I , d a mesma forma que muita gente, e esta saqueou numerosas igrejas e conventos.
Isabel por várias vezes também tomara medidas para eliminação desse A morte da Regente, que exilara Knox, facititou a m u d a n ç a de situa-
Papa e d o Rei d e Espanha. ção. C o m o Maria Stuart, esposa de Francisco I I , se encontrava ainda em
F r a n ç a , como tropas inglesas se punham atrás dos protestantes, e como
Ainda assim, mesmo quando Filipe II, após a execução de Maria os escoceses n ã o queriam união com a França, o Parlamento aprovou e m
Stuart, por ordem d e Isabel, tentou invadir a Inglaterra com sua A r m a d a 1560 em Edimburgo a "Confessio Scotica" ('Confissão de fé dos Esco-
Invencível, os católicos conservaram a lealdade. ceses"), elaborada por Knox, e inspirada n o calvinismo; proibiu a realiza-
Sem embargo, promulgaram-se novas leis de perseguição, aumenta- ção d o culto católico, a qual era punida com pena de morte na terceira
ram-se as multas dos "recusantes", cominou-se de morte a permanência incidência; e deu por abolida a jurisdição papal sobre a Escócia.
de sacerdotes na Inglaterra, e aos catóücos foi proibido de se ausentarem U m regimento eclesiástico d o mesmo ano procurava contornar a difi-
à distância que ultrapassasse mais de cinco milhas. Nos últimos anos da culdade de que à testa do governo d o Estado estava u m a soberana cató-
Rainha, a única esperança deles era a expectativa d e que o sucessor d o üca, e que ela não podia ser proclamada chefe da Igreja nos moldes
trono, filho de Maria Stuart, faria governo mais brando, em recordação de anglicanos. P o r causa disso, tomou-se como alvitre, segundo as idéias de
Lutero, conferir a c a d a comunidade (congregation) o direito de eleger
sua mãe.
seus próprios párocos e presbíteros (anciãos). P o r enquanto, a estrutura
exterior d a Igreja continuou inalterada. Nem as dioceses nem os conven- E m libelo próprio contra Belarmino, Jaime reivindicou pessoalmente
tos foram supressos, mas com a diferença d e que n o provimento dos a dignidade e a autoridade real. E n q u a n t o Paulo V rejeitava o exigido
benefícios, a Coroa já não se limitava a apresentar, mas t a m b é m nomeava juramento d e fidelidade, os católicos prestavam-no, em parte. Só o con-
diretamente, o que dantes era direito privativo d e Roma. Só e m 1572 é sórcio matrimonial d o príncipe herdeiro Carlos com u m a princesa de
que desapareceram os bispos d a Igreja da Escócia, que desde então se F r a n ç a ( 1 6 2 4 ) trouxe algum alívio à situação dos católicos.
tornou igreja meramente presbiteral.
Após a morte d o consorte, Maria Stuart voltou em 1561 p a r a a
Escócia, com a idade de 19 anos. P r e n d a d a e amável, mas absolutamente 7. Noite de São Bartolomeu e Guerras dos Huguenotes
despreparada p a r a a situação d a Escócia, além de ser despreocupada e
apaixonada, ela n ã o conseguiu impor-se contra o fanatismo d e Knox, que Qual a P a z Religiosa de Augsburgo n a Alemanha, o Edito de São
desde logo a combateu como "idólatra". Nestas condições, ela mal pôde G e r m a n o d e 1562 não significava o fim dos litígios religiosos em França,
estabelecer culto católico n a capela de seu palácio. pois que parecia insuficiente aos olhos dos protestantes. Verdade é que os
Acresce, como agravante, a oposição dos nobres, sob a chefia d e predicantes d e Paris advertiam contra infrações do Edito e contra o uso d e
seu meio-irmão Earl d e Moray. Seu matrimônio com u m primo, o Lorde violência, mas nas zonas do interior o povo deixava antes influenciar-se
católico Darnley, homem sem predicados, arredou-a mais ainda dos súdi- pelo belicoso exemplo de Genebra.
tos protestantes. Houve, aqui e ali, excessos contra igrejas e conventos e até homicídios,
E n t r e os cônjuges, houve desavenças. Darnley foi assassinado em 1567. aos quais, em outros lugares, os católicos revidavam com a mesma moeda.
Três meses depois, Maria casava com o conde protestante Bothwell, tido Os excessos tiveram a aprovação d c muitos predicantes, convocados d e
como assassino de Darnley. Knox acusou a Rainha d e c o n i v ê n c i a 16 Genebra, que exigiam a total erradicação da "idolatria" católica, p a r a o
e adultério, e exigiu a p e n a d e morte. U m levante a r m a d o forçou que seria lícito oferecer resistência a u m a autoridade contrária a Deus. P o r
Maria a abdicar a favor de seu filhinho Jaime ( V I ) , c o m u m a n o d e idade. esse motivo, o Parlamento recusou-se a homologar o Edito de São Ger-
Ela mesma, em 1568, fugiu p a r a junto de sua prima, a rainha Isabel I da mano.
Inglaterra, que a conservou detida durante dezenove anos. Afinal, sob a A carnificina que os homens d o D u q u e de Guise praticaram entre os
acusação de conspirar contra a vida de Isabel, foi executada em 1587. mil e duzentos ouvintes d e u m a prédica protestante, a primeiro d e m a r ç o
A fuga da Rainha proporcionara aos presbiterianos escoceses u m a de 1562, em Vassy n a Champanha, com a morte d e setenta e quatro pro-
incontestável hegemonia até a maioridade de J a i m e . C o m o era natural, testantes, foi o rebate p a r a o início da Primeira Guerra dos Huguenotes, a
grande parte dos bens eclesiásticos caíram nas mãos da nobreza. Quando o que deviam seguir-se outras sete até o ano d e 1598.
rei Jaime V I restabeleceu o sistema episcopal, foi obrigado alguns anos Nessas Guerras Civis, cometeram-se cruezas sem conta; de parte a
mais tarde a sacrificá-lo em favor do presbiterianismo. Uns vinte anos parte, lançava-se m ã o , resolutamente, d e felonia, assassínio, mentira e
mais adiante, o Rei não conseguiu tampouco estender até a Escócia a Igreja fraude. Ateadas por questões religiosas, essas Guerras assumiram, desde
Episcopaliana Inglesa. logo, u m a característica política, antiespanhola. N ã o sem razão viam em
N o início d o reinado d e Jaime, agora J a i m e I d a Inglaterra ( 1 6 0 3 - Filipe I I o mais forte e o mais bem guarnecido aliado dos católicos, atrás
d o qual vinha, mas em condição inferior, o apoio d o P a p a e d o D u q u e d e
1 6 2 5 ) , n ã o se mitigaram as leis de perseguição, conforme o tinham espe-
Sabóia.
r a d o os católicos ingleses. Depois d e u m a moderação inicial, o soberano,
que muito presumia de sua formação teológica, encetou nova perseguição. Por isso, os Huguenotes invocaram o auxílio dos Príncipes G e r m â -
E m vista disso, alguns fidalgos conceberam o plano d e dinamitar nicos, e sobretudo o da Inglaterra. E m renhidos combates, conseguiu-se
pelos ares o Rei e o Parlamento ( 1 6 0 5 ) . O abominável atentado, a "Cons- chegar a u m equilíbrio militar, depois que Antônio d e Navarra e Saint-
piração d a Pólvora", foi descoberto. Os participantes foram executados, A n d r é tinham tombado, e que Francisco d c Guise e o Príncipe C o n d e
inclusive Garnett, superior dos Jesuítas, que tivera conhecimento d o Plano foram assassinados. Bastava o receio de um conchavo, entre a Rainha-Mãe
através d o sigilo sacramental. e o Rei Filipe, p a r a a luta desencadear-se sempre de novo, até que o Tra-
tado d e Paz de São Germano em Agosto d e 1570 pusesse termo à Terceira
Esse atentado e a doutrina que o jesuíta Cardeal Belarmino patroci-
Guerra dos Huguenotes.
nava em suas "Controversiae" ("Questões controversas") sobre o poder
indireto d o P a p a também em assuntos temporais, induziram o Rei a impor N o Tratado, a Rainha-Mãe, que nesse meio t e m p o se tornara inequi-
aos católicos um peculiar juramento de fidelidade, n o qual se declarava, vocamente católica, mas também anti-hispânica, concedeu plena anistia e
como doutrina ímpia e herética, a afirmação d e que o Papa tinha o direito liberdade d e consciência aos huguenotes. Podiam eles celebrar seu culto
de destituir príncipes, e aos súditos o d e derrubar e eliminar príncipes divino nas possessões dos fidalgos e em algumas cidades, exceto Paris e a
excomungados. sede de atual permanência da Corte. Tinham acesso a todos os cargos e
ofícios d o Estado. Receberam quatro redutos de segurança pelo prazo d e
dois anos, e podiam ocupá-los com suas tropas. A reconciliação de ambas
as facções religiosas devia ser selada pelo casamento de Margarida d e
Valois, irmã d o Rei, com o calvinista Henrique d e Borbom, filho de Antô-
nio d e Navarra.
E n t ã o , o Almirante Coligny granjeou grande ascendência sobre o jo-
vem e apagado rei Carlos I X , de que se valeu para levar a França ao lado
d a Grã-Bretanha n a Guerra contra a E s p a n h a . D a í resultou t a m b é m u m
auxílio decisivo p a r a os rebeldes nos Países-Baixos. A despótica Catarina
reconheceu, pois, que Coligny a tinha esbulhado de seu poder. P o r isso, de
conluio com seu filho mais novo, Henrique de Anju, e com o filho d o
assassinado Duque de Guise, resolveu eliminar Coligny por assassínio a
traição. O atentado malogrou. O Almirante ficou apenas ferido.
T e m e n d o as represálias dos Huguenotes, decidiram (caso os Guise já
n ã o o tivessem planejado) assassinar todos os chefes huguenotes, que ti-
nham vindo a o casamento de Henrique de Borbom. Q u a n d o soube quem
estava atrás d o primeiro atentado, o Rei deu consentimento a o diabólico
plano. N a noite d a festa d e São Bartolomeu ( 2 4 d e agosto) d e 1 5 7 2 , Colig-
ny e os mais insignes de seus correligionários tombaram sob o punhal dos
sicários, que pertenciam aos homens dos Guise. E m Paris, a matança durou
todo o domingo e mais os dois dias seguinte. Depois chegou a vez das pro-
víncias. À s tropas reais se juntou a populaça, sedenta de sangue e ávida
d e saques. Tomou parte nas carnificinas de Burges e Lião até Tolosa e
Bordéus.
O número de vítimas ascendia a milhares, muito embora os cálculos
d e 3 0 . 0 0 0 p a r a cima sejam p o r demais exagerados. Naturalmente, u m a
astuciosa propaganda apresentava as vítimas não como mártires de sua fé,
mas como facínoras responsáveis, que teriam planejado grande conspiração
contra o Rei e a Corte. Tais alegações encontraram ouvidos crentes também
junto a Gregório X I I I , que à notícia da repressão dos "rebeldes" m a n d o u
cantar o " T e - D e u m " , e organizou outras demonstrações de júbilo. Pois o
Papa acreditava outrossim que em conseqüência o Tratado de Paz de São
Germano ficaria anulado, e a França retornaria a um r u m o definido de
vida católica.
A Noite d e São Bartolomeu tirara assim os chefes dos Huguenotes
(quem escapou aos sicários, teve de abjurar sua fé, como aconteceu a Hen-
rique de Borbom-Navarra e a o füho de C o n d e ) ; pusera também u m termo
a perigosas discussões em torno de problemas constitucionais na Igreja
Protestante: mas n ã o exterminou, todavia, os Huguenotes.
Depois d o primeiro pânico, da fuga e emigração de muitos, a multidão
dos fiéis congregou-se p a r a fazer resistência. Com inúmeras peripécias,
desenvolveram-se então a Quarta e a Quinta Guerra dos Huguenotes. E m
A FRANÇA NO TEMPO DAS GUERRAS D E RELIGIÃO (1585-1598)
1577, no T r a t a d o de Poitiers, sob o governo de Henrique III, o direito dos
Huguenotes ficou novamente limitado à liberdade de consciência em todo
o Reino e ao livre exercício da religião para os fidalgos e nas áreas d e
setenta e cinco cidades.
A Guerra seguinte também não trouxe nenhuma alteração. E n t r e - cos despertaram a desconfiança de seus amigos huguenotes. E m vista da
mentes, levantou-se u m a n o v a potência política, que empecia novas conces- candidatura de Isabel, espanhola, filha de Filipe II, e neta de Catarina d e
sões aos protestantes, a "Santa Liga", aliança católica, fundada na terra Medici, êle, que era atilado político, sem fortes compromissos e interesses
natal d e Calvino. A tal ponto já se modificara o clima espiritual d a F r a n ç a religiosos, decidiu-se à conversão. Aos 25 d e julho d e 1 5 9 3 , abjurou a
com a pregação dos Jesuítas e dos Capuchinhos. heresia em São Dinis. Dali por diante, a Guerra, d e religiosa que era, se
A Liga pretendia salvaguardar a Religião Católica até contra o débil tornou luta contra os Espanhóis e seus aliados internos na própria França.
rei Henrique III. E m reação a o absolutismo ilimitado, a Liga colocou n o Desta sorte, a Liga foi afinal obrigada a dissolver-se. Clemente V I I I absol-
centro o povo e a soberania popular. E m rodas católicas já se discorria veu o Rei e foi mediador da paz com Filipe I I em 1 5 9 8 . Estava, então,
assegurada a posição da França como grande potência, p o r sinal q u e
sobre o problema do direito de resistência à autoridade e d o tiranicídio.
católica.
A Liga conseguiu conquistar o povo de Paris a favor de suas idéias, e desta
forma evitar que o Rei fizesse novas concessões. Os antigos correligionários de Henrique ficaram primeiramente per-
A situação em França tornou-se cada vez mais crítica, pelo fato d e plexos, depois rancorosos, por causa da conversão. Henrique I V acabou
Henrique I I I não ter filhos, e pela morte d o mais moço de seus irmãos. p o r ir muito longe, ao encontro deles, pelo Edito de Nantes de 3 0 d e abril
O próximo herdeiro da Coroa seria Henrique d e Navarra, que desde muito d e 1598, n ã o por último em vista d e razões políticas, pois que os Hugueno-
retornara a o calvinismo. D a d a a índole agressiva dos Huguenotes, a França tes, perfazendo u m doze avos da população, tinham conservado sua orga-
católica estaria perdida sob o governo de u m soberano protestante. nização político-religiosa.
Naquela conjuntura, o movimento popular da Liga transformou-se
Esse Edito, n a verdade, determinava que a Religião Católica devia ser
numa Aliança Militar, submetida a o comando d o D u q u e Henrique de Guise.
reconhecida como dominante n o Estado, que o culto católico devia restau-
N o intuito d e defender os interesses católicos, e de excluir Henrique de
rar-se onde quer que estivesse suprimido, e que se deviam restituir os bens
Navarra d a sucessão a o trono, coligaram-se a Filipe I I da Espanha. O s
eclesiásticos roubados. Os seguidores, porém, d a "assim dita Religião R e -
Hugenotes tinham-se também organizado n u m a espécie de Estado, e de-
formada" alcançaram em todo o Reino liberdade de consciência, e, em
clararam Henrique d e N a v a r r a seu patrono.
larga escala, também liberdade d e culto. N ã o só em toda a parte, onde em
Com u m levante de Paris em 1585, a Liga obrigou o Rei a revogar
1596 e 1597 vinha geralmente acontecendo, mas também em duas locali-
todas as concessões feitas aos protestantes até aquela data, e a proibir o
dades em cada circunscrição, exceto Paris e as várias cidades episcopais,
culto divino protestante sob pena de morte. E l a e o Rei d a E s p a n h a
eles tinham o direito de livre exercício d e religião, b e m como nos castelos
obtiveram de Sixto V que o P a p a declarasse Navarra excomungado, como
e casas de fidalgos. Ficaram habilitados p a r a todos os cargos d o Governo.
reincidente em heresia, e destituído da sucessão a o trono, medida que em
Seu regimento eclesiástico foi dotado com alta soma d e subvenções oficiais.
França foi objeto de repúdio como ingerência nos direitos d o Estado. O
Além d o mais, obtiveram tribunais próprios, de foro misto, determinadas
Papa, entretanto, não se deixou induzir a n e n h u m a aliança com a Liga.
cadeiras n o Conselho Real, acima de duzentas praças fortificadas, pelo
E m 1585, irrompeu a 8*? Guerra dos Huguenotes, que seria decisiva p r a z o de oito anos, em garantia da paz, parcialmente ocupadas por guarni-
não só p a r a a Coroa da França, mas também p a r a a sorte d a Igreja, p a r a ções protestantes, a expensas d o Rei, e parcialmente confiadas à nobreza.
a hegemonia da Espanha e a autonomia d o Papado. Dentre em breve,
houve conflito entre a Liga e o Rei vacilante, que teve d e abandonar Paris, Reprovado pelo Papa, protocolado à contravontade pelos Parlamen-
p o r ser ela favorável à Liga. C o m o revide, em dezembro de 1588, o Rei tos, o Edito de Nantes, pelo qual os Protestantes também conseguiram a
deu ordem de assassinar os chefes da Liga, Henrique de Guise e seu irmão continuidade d e sua organização política, resolveu p o r quase um século o
Luís, Cardeal de Remos, e d e prender o Cardeal de Borbom, candidato ao problema confessional n a França, ainda que nas cláusulas de caráter polí-
trono pela Liga. tico só vigorasse pelo espaço d e u m a geração.
E m vista do acontecimento, Sixto V citou-o diante d e sua alçada. A A solução francesa n ã o se identifica com a solução germânica d o
Sorbona declarou unânimente que o povo já não estava ligado ao jura- T r a t a d o de Paz Religiosa de Augsburgo, visto que, a o lado d o realismo
mento d e fidelidade a o Rei. Este então ligou-se a Henrique de Navarra absoluto, n ã o existiam em França príncipes territoriais.
para u m a expedição contra Paris. M a s , n o dia 1° de agosto de 1589, foi N o Edito d e Nantes, n ã o se falava tampouco de paridade entre as
atingido pela mortal punhalada de um Dominicano, fanático partidário da confissões religiosas. Ali se formou antes u m a espécie de dualismo, u m
Liga. Moribundo, o Rei nomeou como seu sucessor Henrique d e Navarra, Estado dentro d o Estado, sistema já comparado a o estatuto das minorias
a quem exortou aceitasse a fé católica. nacionais na E u r o p a Central, depois da 1^ Guerra Mundial.
Henrique de Borbom-Navarra, dali por diante Henrique I V , n ã o podia
primeiramente prevalecer contra Filipe II e a Liga, que então eram ajudados
com tropas e dinheiro pelo sucessor de Sixto V . Suas promessas aos católi-
8. P a í s e s - B a i x o s

Nos Países-Baixos, também se acreditou n a possibilidade de eliminar,


com violência, as perturbações políticas e a Reforma Religiosa. Filipe I I
enviou a o país o seu mais competente chefe militar, o D u q u e de Alba,
como plenipotenciário com instruções rigorosíssimas. Quinze dias depois d e
sua chegada, A l b a instituiu o "Conselho dos Motins", que o p o v o n ã o sem
razão acoimava de "Conselho Sanguinário". U m a onda d e vingança e
terrorismo atravessou todo o país. Capturações, execuções, cujo número
subia aos milhares, entre os quais as d e Egmont e Hornes, a evasão de
outros tantos milhares para a Inglaterra e p a r a a Alemanha, as pesadas
extorsões econômicas, eram os sinais característicos d o novo sistema, pelo
qual A l b a conteve as Províncias Meridionais debaixo d o domínio espanhol.
E m toda a parte, porém, estouravam os levantes.
à frente da luta pela liberdade se colocou então novamente Guilherme
de Orange, que primeiramente proclamou a liberdade d e consciência e a
da nação, mas em 1573 se declarou francamente peio calvinismo. Por m a r
e p o r terra, os " G u e u x " ("Maltrapilhos") logravam u m a vitória após a
outra. A l b a teve de ser revocado. O calvinismo alcançou o poder nas
províncias d e Holanda e Zelândia. Foi proibido o culto católico.
C o m o centro científico d o calvinismo, Guilherme fundou em 1575 a
Universidade de Leida. O governador geral Alexandre Farnese ( 1 5 7 8 - 1 5 9 2 )
conseguiu todavia romper a frente adversária, graças a golpes falhos dos
calvinistas em Gante, e desta maneira salvou a Bélgica atual p a r a a Espa-
n h a e p a r a a Igreja Católica.
Assim, em lugar d e u m tratado de p a z religiosa para toda a nação,
conforme os planos de Guilherme, seguiu-se a formação da "União de
Utreque", formada apenas p o r sete províncias setentrionais, que se declara-
ram autônomas em 1 5 8 1 .
E m a nova República Federal dos Estados Gerais, que Guilherme di-
rigia c o m o governador, a liberdade religiosa devia propriamente ficar ga-
rantida; m a s , na realidade, o culto católico era tido como crime digno de
morte, conforme as circunstâncias.
A Noite de São Bartolomeu em Paris privou os rebeldes d e seus alia-
dos franceses, e a campanha em torno da Arquidiocese d e Colônia tirou-
lhes as relações livres com seus amigos germânicos. Contudo, a destruição
d a A r m a d a Espanhola representava p a r a eles u m b o m êxito d e alcance
decisivo. As lutas prolongaram-se ainda por muitos anos, e só terminaram
com o reconhecimento da autonomia dos Países-Baixos n o T r a t a d o de P a z
de Vestfália ( 1 6 4 8 ) . Formou-se, então, nova organização calviniana d e
governo, possuída d e forte consciência d e si mesma, com grande poder
econômico, sem ter todavia a unidade homogênea de u m a crença-bloco. DIVISÕES ECLESIÁSTICAS DOS PAÍSES BAIXOS DO NORTE EM 1559
U m quarto da população, pelo menos, era ainda católica até nas cida-
des. Essa expressiva minoria já n ã o dispunha d e direito algum, d e n e n h u m
culto divino público, e de nenhum governo eclesiástico. A organização das
dioceses estava esfacelada, a maior parte dos sacerdotes estava expulsa, e
roubado estava o patrimônio eclesiástico. Somente o lastro d e humanismo
neerlandês, existente ainda nos dominadores d o país, embargou u m a perse- cável. Contudo, êle n ã o chegou a compreender, em sua dinâmica, a aspira-
guição sanguinária de caráter permanente. ção religiosa propriamente dita dos Reformadores.
Foi mister a atividade ilegal de sacerdotes volantes, geralmente francis- Aos olhos desse "nobre fanático da liberdade" ( A u e r ) , o problema da
canos e jesuítas, p a r a suster a fé dessa minoria, até que Roma pudesse in- justificação tornava-se mera questão d e livre arbítrio. Quando em 1524
teressar-se novamente por ela. E m 1592, o Vigário Episcopal de Utreque escreveu contra Lutero, por instigação d o Rei da Inglaterra, êle limitou-se
foi nomeado Vigário Apostólico, mas só d e Colônia é que êlc podia orientar a esse ponto, não escrevendo nenhuma defesa d o primado, por exemplo,
as atividades dos missionários. 1 8
ou dos sete sacramentos.
A serôdia conquista da "Terra das Generalidades" (partes d o Bra- C o m o pelo seu livro "De libero arbitrio" ("Sobre o livre alvedrio")
bante e de L i m b u r g o ) , com população preponderantemente católica, trouxe tinha provocado furiosa réplica de Lutero, à qual respondera violentamente,
aos demais católicos notável fortalecimento moral. Nos meados do século mais tarde procurou esquivar-se d a luta, e curvar-se respeitoso diante
X V I I , havia nos Países-Baixos maior tolerância e liberdade confessional, daquilo que não oferecia solução. A consciência da indemonstrabilidade d e
graças aos resquícios d o espírito erasmiano, e também por atenção aos suas convicções religiosas impediam-no de professá-las com desassombro, e
interesses econômicos d a Nação. de combater como errôneas as opiniões contrárias. P a r a êle e seus discí-
pulos, o lema "pax et concordia" figurava diante da verdade que tinha pre-
fixo polêmico.
9. Congraçamenfo dos Espíritos?
Seus discípulos e amigos encontravam-se cm ambos os arraiais. Quan-
Debates Teológicos
d o se congregavam, esses mimosos intelectuais, em contraste com o "rude
espírito rústico" de Lutero (Huizinga), julgar-se-iam e m condições d e en-
Além d o recurso ao direito e à força, tentou-se desde o começo supe- contrar caminhos p a r a estabelecer a unidade, restaurar a harmonia, supe-
r a r intelectualmente a inovação religiosa. Desde logo, porém, tornou-se
rar a dissidência. Mas os campeões d e u m a verdade existencial n ã o podiam
evidente que toda literatura apologética, por mais sincera e p o r melhor
acomodar-se a tais transigências, e romperam a urdidura das concessões
que fosse n a intenção, não podia abalar nenhum dos Reformadores e m
feitas. Este parece ser o signo intelectual da quinta década do século. A n t e -
seus pontos de vista, nem influir n a mentalidade d o povo.
riormente, Lutero já tinha dito " n ã o " aos esforços humanísticos d e medja-
A s obras latinas de exposição sistemática, p o r vezes alentadas, só con- ç ã o , p o r parte d e Bucer e m Marburgo, e censurado c o m o sonsice a Confis-
tavam poucos leitores; pelo menos, não podiam competir com as obras de
são de Augsburgo, da autoria de Melanchthon.
Lutero, escritas em alemão, com seus panfletos, dele e d e seus amigos,
D o lado católico, o Chanceler imperial G a t u n a r a na primavera de
guarnecidos de xilogravuras de artistas d o povo. Além d o mais, alguns de
seus autores não estavam isentos d e pechas morais, como eram cumulação 1527 impôs silêncio aos belicosos teólogos de Lovaina. Segundo as decla-
d e benefícios, caça ambiciosa dos mesmos, arrogância e presunção. Quanto rações do mesmo chanceler, o futuro parecia estar nas mãos daquela ter-
mais doutos eram, tanto mais grosseiramente os Reformadores os atacavam ceira facção dos que não se tinham entregue nem a o P a p a nem a Lutero,
1 9

e desmoralizavam. que "só procuravam a glória d e Deus e o bem da cristandade". Quer


fossem erasmianos ou irênicos, quer se baseassem unicamente n o Evange-
D e maior alcance foi a contribuição d o humanismo. Eram os humanis-
lho, todos esses homens nas Cortes, nos Cabidos, nos sólios episcopais, até
tas os primeiros admiradores de Lutero. Muitos chefes da Reforma proce-
n o Colégio Cardinalício, desde que Paulo I I I no primeiro ano de seus ponti-
diam pessoalmente do humanismo. Melanchthon, precisamente, pode ser
ficado convocara p a r a o Supremo Senado da Igreja, até homens como o
apontado como iniciador d o humanismo protestante. Por isso, a solução das
origens intelectuais não podia processar-se e m rumorosa polêmica. Força leigo Contarini e o bispo Sadolcto, autor de um comentário dos Salmos
era chegarem a dolorosas renúncias, e p o r isso mesmo estarem dispostos a encomiásticamente apreciado por Erasmo, eram de opinião que, para elimi-
compromissos, p a r a os quais d e outro lado justamente o humanismo de nar a dissidência, n ã o adiantava a polêmica, nem se precisava de n e n h u m
antemão se inclinava. Concílio, mas que só bastava boa vontade de parte a parte.
E m conseqüência das ameaças d e guerra, eles é que conseguiram pre-
E m 1519, Erasmo escrevia precisamente a Lutero que êle queria
dominar, quando p o r decisão da Dieta de Francoforte em 1539 foi convo-
conservar-se neutro, a fim de poder ser útil às ciências em desenvolvimento.
E m 1 5 2 1 , propôs que, em lugar d o processo canónico, se fizesse u m debate c a d o p a r a o verão seguinte um diálogo sobre religião, " p a r a a louvável uni-
sobre a causa de Lutero, diante de árbitros imparciais. Durante toda a dade entre os cristãos" do qual inicialmente até o Papa devia ser excluído.
sua vida, concordou com a crítica de Lutero contra os abusos na vida de A série de diálogos sôbrc religião, que o historiador deve considerar
piedade. Naturalmente, a realidade cotidiana da Reforma, conforme a c o m o paliativo d o Concílio sempre diferido, c então suspenso ( 1 5 3 9 ) p o r
viveu n a Basiléia, a liberdade que se degenerava em arbitrariedade, a imo- tempo indeterminado, teve início em Hagenau em junho de 1540. A assem-
ralidade e a intolerância dos novos crentes, sobretudo a decadência dos bléia, porém, ressentia-se d a ausência de Melanchthon, e d o número geral-
queridos estudos, como efeito d a Reforma, levaram-no a u m a crítica impla- mente reduzido de participantes. Durante o inverno, foi continuada em
Vórmia. O chanceler imperial Granvella, erasmiano, orientador d o diálo- 10. Superação Mediante Renovação Religiosa
go, conjurou instantemente a que se trabalhasse com todas as forças na res-
turação da unidade. Dentre os teólogos, disputaram Melanchthon e Eck. O ideal humanístico de paz e concórdia n ã o estava em condições d e
Os frutos foram extremamente modestos. superar, ou pelo menos deter a dissidência que se alastrava cada vez mais
Nesse ínterim, houve colóquios secretos entre Bucer e J o ã o Gropper, n a Igreja, à semelhança de um alude. Só podia fazê-lo, a dinâmica religiosa
teólogo de Colônia, jurista d e profissão, que defendia u m a doutrina dc da própria Igreja. Só u m a renovação d a Igreja, que viesse de dentro para
justificação totalmente apoiada em Agostinho, e acentuava a importância fora, poderia dar-lhe força d e atração e repulsão, e fazê-la brilhar nova-
central da fé. Depressa entraram em acordo a respeito da doutrina sobre o mente em sua primitiva formosura.
pecado original e a justificação. Maiores dificuldade causaram os artigos Essa renovação da Igreja n ã o partiu d a Cúria Oficial. O processo de
sobre Missa, transubstanciação, e culto dos Santos. O esquema de Gropper, recuperação não podia tampouco começar pela Alemanha, que estava amea-
com as emendas introduzidas por Bucer, chegou ao conhecimento de Lu- çada de morte. Despercebidas pela Italia do Renascimento, foram antes
tero, que rejeitou radicalmente a acomodação. pequenas células de leigos e poucos sacerdotes, em grande parte nutridas
pelas tradições das confrarias medievais, que encetaram a regeneração da
Nesse comenos o Imperador m a n d a r a interromper o diálogo oficial,
Igreja. Essas novas forças só aos poucos conseguiram penetrar na Cúria
que com toda a energia deveria continuar em sua presença, durante a Dieta
R o m a n a e ali conquistar amigos. Só muito mais tarde foram elas confirma-
de Ratisbona. A Dieta iniciou-se em abril de 1 5 4 1 , sob os melhores auspí-
das em suas atividades específicas, e constituídas como organismos oficiais
cios, mesmo p o r q u e Paulo I I I nomeara como legado um dos seus melhores
d a Igreja.
cardeais, Contarini, h o m e m profundamente religioso e irênico. O s Príncipes
estavam, em grande parte, a favor d o plano de união formulado pelo Im- No mesmo ano que Lutero publicou suas teses sobre as indulgências,
perador. Espírito de conciliação é que devia dominar nos diálogos manti- tomava pé em R o m a o Oratório d o A m o r Divino. Teve seu nascedouro nas
dos por Eck, Gropper e Júlio Pflug, de Naumburgo, e da parte protestante irmandades caritativas principalmente em Gênova. D a d o o número-limite
principalmente p o r Bucer e Melanchthon. N a base das apurações de Vór- de quarenta membros p a r a a totalidade, devia haver apenas quatro sacer-
mia, houve rápida união d e vistas sobre os problemas d o estado primitivo e dotes. E m R o m a , seus membros cultivaram a oração, e exerciam a cari-
d o livre alvedrio; alguns dias mais tarde, até sobre a justificação, n o sentido dade ao próximo pelo serviço dos incuráveis e dos peregrinos. Pertenciam
de que a fé justifica, quando opera pela caridade. a o seu número altos funcionários da Cúria Romana, como o já mencionado
Sadoleto e Giberti.
Depois d e feito acordo sobre este problema fundamental, ponto de
partida p a r a a evolução religiosa d e Lutero, recorrendo à adoção d e u m a O Oratório difundiu-se também em outras cidades da Itália. E m Vi-
dupla justificação, julgou-se possível uma esperança. Entretanto, n o pros- cenza ingressou Caetano de Tiene, sacerdote idealista, oriundo de família
seguimento dos debates, os protestantes negaram-se a reconhecer a infabi- de alta linhagem. U m ano mais tarde ( 1 5 2 0 ) , juntou-se-lhes o bispo d e
lidade dos Concílios, o primado papal, a Confissão, e sobretudo a transubs- Chieti, J o ã o P e d r o Caraffa, zeloso pastor de almas, d e duríssima disciplina
tanciação. O esforço dc união malograra. p a r a consigo mesmo. E m 1524, ambos decidiram fundar um sodalício p r ó -
prio para sacerdotes seculares, que deviam praticar a mais rigorosa pobreza,
Malogrou, também, o empenho d o Imperador em conseguir, de ambas
e atuar com o exemplo sacerdotal. Propunham-se, c o m o tarefa, a santifi-
as partes, pelo menos o reconhecimento daqueles artigos, sobre os quais já
cação de si próprios pela cura de almas e pelo serviço dos doentes. Ora,
tinham chegado a um ponto d e vista comum. L u t e r o era d e opinião que
naquela época, a cura de almas era muito desleixada, e a formação de
se n ã o podia pactuar com o demônio. Por sua vez, a Cúria R o m a n a decla-
rou, logo depois d e notificado o artigo sobre a justificação, que a fórmula sacerdotes capazes constituía u m a preocupação existencial.
era passível d e interpretação protestante, p o r isso mesmo reprovável. Os A nova comunidade teve n o mesmo ano a confirmação pontifícia,
Estados ("Stãnde") também a rejeitaram com maioria d e votos. c o m o Ordem dos Teatinos, assim designada pelo nome latino da diocese
d e Carafa. Giberti, Contarini, e Pole pertenciam a o número dos amigos da
Cinco anos mais tarde, o segundo Diálogo sobre religião, convocado
pequena, mas extremamente abnegada comunidade.
exclusivamente pelo Imperador em Ratisbona, terminou com fiasco depois
O ideal de santa pobreza d e Francisco, influente nos Teatinos, des-
de algumas semanas. A teologia conciliatória já não tinha vez n a política.
pertou novas energias na própria Ordem d o Santo de Assis. N a Marca d e
Ali então só falavam as armas. Indiretamente, eles poriam fim às tentativas
Arcona surgiu o franciscano observante Mateus de Baseio, homem d e pie-
d e Reforma, preconizadas pelo erasmiano G e r m a n o d e Wied, arcebispo d e
dade infantil, pregador popular, que desejava imitar seu Fundador em todas
Colônia. N a teologia propriamente dita, pronunciaram-se então os Padres a s cousas, inclusive n o hábito monástico. E m redor d o pregador revestido
d o Concílio Tridentino, convocado nesse meio tempo, com suas definições, de áspero burel e de capuz afunüado, logo se reuniu u m a multidão d e o b -
refratárias a qualquer ambigüidade. servantes, sob a liderança de Luís de Fossombronc.
Contra todas as tradições da Ordem, eles levavam u m a vida eremítica, contra a ameaça dos Turcos. Pois, e m sua arrancada p a r a o Norte, tinham
dedicavam-se exclusivamente aos trabalhos manuais e a o serviço dos doen- os Turcos conquistado Belgrado pela primeira vez e m 1 5 2 1 . N o programa
tes, e n ã o queriam saber d e estudos. Grande foi a oposição contra esse novo eclesiástico, constava como meta principal a reforma da Cúria R o m a n a .
m o d o d e vida. Carafa empenhou-se por eles junto à Cúria Romana. E m Entanto, os esforços d o Papa resultaram infrutíferos em ambos os setores.
1528, a pequena Comunidade foi reconhecida pelo Papa. Seis anos mais Q u a n d o êle morreu, vinte meses depois d a eleição, Rodes tinha caído e m
tarde, já estavam com quinhentos membros, e, pela acentuação da pre- mãos do Sultão, não obstante a mais tenaz resistência dos Cavaleiros Joa-
gação e dos estudos p a r a ela necessários, tinham d e fato renunciado a o nitas. Algumas semanas antes, fora êle obrigado a fazer c o m o Imperador
ideal d e vida eremítica. Naturalmente, nos anos subseqüentes, n ã o lhe fal- u m pacto d e defesa contra a França.
taram crises à nova Ordem dos Capuchinhos.
A reforma da Cúria R o m a n a era-lhe uma condição prévia, que permitia
P a r a viver na caridade a o próximo e n a cura de almas, foi também
salvar a Alemanha p a r a a Igreja. O Papa não tinha n e n h u m a dúvida sobre
levado Jerônimo Emiliano, filho de senador veneziano. J á h o m e m maduro,
q u a n t o a causa d e Lutero se beneficiava com os abusos que, em toda a
fundou em Somasca, perto de Bérgamo, u m a comunidade de leigos e sacer-
parte, provinham desde as mais altas instâncias eclesiásticas. Falou d o
dotes p a r a serviço dos doentes e o pastoreio religioso dos pobres. Dessa
assunto em sua primeira alocução consistorial. Por isso, n o dia imediato à
comunidade surgiu, após a sua morte, a Ordem de Somasca, cujo fim
coroação, declarou nulas todas as expectativas a cargos que vagassem.
principal era cuidar da juventude orfanada e abandonada.
Aboliu os cargos criados pelo seu predecessor. Cerceou, rigorosamente, a
Análoga é a fundação dos Barnabitas, instituída em Milão pelo antigo
Corte Pontificia e o aparelho administrativo. M a n d o u retirar-se d o Vati-
médico e então sacerdote Antônio Maria Zaccaria, em colaboração c o m
cano o bando de literatos, artistas, músicos e chocarreiros. Os milhares d e
um jurista e um matemático. A comunidade devia consagrar-se à cura de
petições eram examinados com rigor quase pedantesco, para que n e n h u m
almas popular, e também à cura d e almas para meninas, através d a Congre-
indigno lograsse benefício eclesiástico. Entretanto, o P a p a e seus íntimos
gação das Irmãs Angélicas ("Sorores Angelicae"), que lhes era incorpo-
colaboradores eram estrangeiros, forasteiros, que n ã o entendiam bem a
rada.
alma d o povo romano, e n ã o atinavam com nenhum caminho p a r a se
P a r a servir doentes e educar meninas, tinha Ângela Merici fundado,
achegarem dela. E m tais condições, as medidas de reforma provocaram
naquela época, em Brescia, sua primeira casa, da qual resultaria a concei-
muitos rancores e hostilidades.
tuada Ordem ensinante das Ursulinas.
Todos estes movimentos e fundações, que contavam com notável par- E m compensação, Adriano fazia tudo por conquistar o coração dos
ticipação de leigos e vigorosa orientação p a r a a vida ativa, n ã o passavam Alemães e por induzi-los à generosidade. P a r a a Dieta de Nuremberga
individualmente de pequenas regueiras que, e m sua confluência, se torna- ( 1 5 2 2 - 1 5 2 3 ) enviou Francisco Chieregati, que devia conseguir dos Prín-
ram relevante força de regeneração, à qual a obra d e u m não-italiano, d o cipes Germânicos ajudassem a Hungria contra os Turcos, e executassem o
biscainho Inácio d e Loiola, imprimiu o selo de eficiente atividade. Edito de Vórmia. E m troca, o Papa adiantou u m a contribuição que até
então se desconhecera: confissão de culpa e promessa de reformar a Cúria
Romana.
1 1 . P a p a Adriano VI N a instrução d o Legado, certamente redigida pelo próprio Adriano, a
qual representava o primeiro passo p a r a a Contra-Reforma ( B r a n d i ) , o
Parecia quase que esses novos fatores e impulsos poderiam impor-sc Sumo Pontífice tomou sobre si a culpa da Igreja, que lhe estava confiada.
com presteza, q u a n d o após a morte d o leviano L e ã o X , e m 1522, foi Apresentou-se diante d e Deus e dos homens a confessar, a prometer ex-
eleito P a p a o Cardeal de Tortosa, Adriano d e Utreque. Esse derradeiro piação e reparação. M a n d o u falar ao povo alemão nestes termos:
Papa germânico, respectivamente neerlandês, mantinha como professor de "Dirás, também, que confessamos francamente que Deus permite esta
teologia em Lovaina estreitas relações com os Irmãos d a V i d a Comum, perseguição d e sua Igreja, por causa dos homens, especialmente por causa
também com os humanistas em torno de Erasmo, ainda que pessoalmente dos pecados dos sacerdotes e dos prelados. Certo é, pois, que a m ã o d o
pendesse mais p a r a o lado d a escolástica posterior. Senhor não encurtou, de molde que êle n ã o nos pudesse salvar, mas o
C o m o preceptor e conselheiro de Carlos V, conquistara-lhe a simpatia. pecado aparta-nos dele, fazendo com que não nos atenda. A Sagrada Escri-
Foi p o r êle nomeado bispo de Tortosa, bem c o m o governador e regente na tura proclama, alto e bom som, que os pecados d o povo têm sua fonte
Espanha. De vida irrepreensível, possuidor d e elevados sentimentos idealis- nos pecados d o clero. . . N ã o ignoramos que também nesta Sé Apostólica,
tas, mas sem grande receptividade para a cultura renascentista e p a r a as desde muitos anos, já ocorreram muitas cousas abomináveis: abusos em
formalidades sociais, c por isso mesmo desdenhado e m R o m a como bár- cousas espirituais, transgressões dos Mandamentos; sim, que tudo se trans-
baro, êle tomou a peito, n o c a m p o político, a unificação das desavindas tornou p a r a pior. Q u e muito, pois, que a doença se transplantasse d a ca-
potências cristãs, d o Imperador e da França, a fim de salvar a cristandade beça aos membros, dos papas aos prelados? Todos nós, prelados e clérigos,
nos arredamos d o caminho da justiça, e desde muito n ã o existia quem fi-
zesse o bem, nem u m sequer. entusiástica pela fé n a luta contra o s mouros, êle ficou aos trinta anos d e
"Por esse motivo, todos devemos dar honra a Deus e humilhar-nos idade gravemente ferido na defesa da praça-forte d e Pamplona contra os
diante d'Êle. Medite cada um d e nós o motivo p o r que caímos, p a r a antes Franceses, e foi transportado a seu castelo natal.
nos julgarmos a nós mesmos, e não sermos julgados por Deus, n o dia de C o m o era preciso quebrar novamente a perna mal entalada, êle p r o -
cólera. P o r isso, prometerás, em Nosso nome, que aplicaremos todo esforço curou distrair o tempo com a leitura dos únicos livros existentes em casa.
a fim de que, em primeiro lugar, se faça a correção d a Corte R o m a n a , d a Legenda Dourada, d e Tiago de Varazze ("a V o r a g i n e " ) , e a Vida de Cristo,
qual todos esses males tiveram sua origem. E n t ã o , como daqui saiu a doen- d e Ludolfo de Saxônia, cartuxo d e Estrasburgo. Depois d e mudar d e senti-
ça, daqui também começará a recuperação da saúde. mentos com a leitura dessas obras, decidiu fazer rigorosa penitência. Conva-
"Tanto mais nos sentimos na obrigação de efetuar tal intento, quanto lescido, foi cm peregrinação a o Santuário de Monte-Scrrate, onde fêz u m a
mais o m u n d o inteiro deseja semelhante reforma. N ã o aspiramos à digni- Confissão geral e m a n d o u ensarilhar suas armas junto a o altar. N ã o era
dade papal, e preferíamos findar nossos dias na solidão de vida privada. possível peregrinar a Jerusalém, visto que o porto d e Barcelona estava d e
De bom grado teríamos recusado a tiara. Só o temor d e Deus, a legi- quarentena por causa da peste.
timidade da eleição, e o perigo d e um cisma moveram-nos a aceitar o sumo E m Manresa, encontrou por ora um abrigo, onde se excedeu em exer-
pontificado. N ã o queremos exercê-lo por paixão d e mando, nem p a r a lo- cícios d e penitência. Só depois d e u m adoecimento é que se aproximou de
cupletação d e nossos parentes, m a s p a r a restituir à Santa Igreja, esposa d e novo ao m o d o comum de viver.
Deus, sua antiga formosura, para dar assistência aos oprimidos, p a r a p r o -
mover varões doutos e virtuosos, enfim para fazer tudo quanto compete O ano passado em Manresa valeu-lhe o d o m da oração contemplativa.
fazer a u m bom pastor c verdadeiro sucessor d e São P e d r o . . . Contudo, A p ó s muita oração e mortificação, logrou chegar, através de suas lutas
ninguém se admire de não erradicarmos de u m a vez todos os abusos, pois de consciência, à clareza e segurança d e espírito. D e leitura e instrução
a doença é inveterada e multiforme. É preciso, pois, avançar passo a passo, diária, serviam-lhe dois opúsculos: o "Ejercitatorio de la vida spiritual" d o
e com os meios adequados remediar, em primeiro lugar, os males mais A b a d e Cisneros, d e Monte-Scrrate, u m a compilação d e São Bernardo, dos
graves e mais perigosos, a fim d e que u m a reforma precipitada de todas as Vitorinos, e dos Cisneros, e dos Mestres Neerlandeses da "devotio mo-
20
cousas não provoque maior c o n f u s ã o " . d e r n a " ; o segundo era a "Imitação de Cristo".
Inácio não queria, portanto, romper com a tradição espiritual. C o m o
Foi nulo o efeito desta grandiosíssima confissão de culpa d a Cúria
base firme e segura, procurava, antes, u m a íntima conexão c o m a I d a d e
R o m a n a mundanizada. Ela ultrapassa e m sua clássica peremptoriedade,
Média. Dessas leituras, Inácio deduziu duas experiências. A primeira foi
até o pedido de perdão que P a u l o V I proferiu no Concílio Vaticano I I .
que a vida virtuosa não consiste em práticas exteriores d e penitência; que
Não quiseram executar o Edito de Vórmia. E Lutero que, naquela antes a meditação dos mistérios de Deus e de Cristo representa a mais
época, escreveu sátira sobre o Papa-Asno, zombava deste Papa, como importante das "práticas" piedosas; que a purificação d o coração e o
se fosse tolo e ignorante, tirano hipócrita e anticristo. humilde abandono à vontade Deus são a m e t a d e maior relevância. A se-
Frustrado em suas melhores intenções, o nobre Papa baixou à sepul- gunda experiência foi a ordenação metódica da vida interior, de sorte que
tura em setembro d e 1523. Contudo, d e sua energia se comunicou u m a n a d a fique à m e r c ê do momento, nem da veleidade d a pessoa piedosa.
fagulha a um romeiro que, n a semana de Páscoa de 1523, se ajoelhara
aos pés d e Adriano, com a intenção de peregrinar até Jerusalém. Inácio D a í teve Inácio a idéia de delinear u m sistema formal d e tais exercí-
d e Loiola recebera a bênção d o primeiro Papa da Reforma. cios metódicos d e espiritualidade. Os "Exercícios", a que êle próprio se
submeteu, a experiência individual d e Manresa, constituem a parte princi-
pal d o conhecido "Livro d e Exercícios", que foi comparado à Regra
Monástica de São Bento p o r causa de sua atuação dinâmica (Gustavo
12. Inácio e o s Primeiros Jesuítas S c h n ü r e r ) . N u m a e noutra, exprime-se a vivência íntima c o m o sedimentação
d e lutas interiores; num e noutra, manifesta-se extraordinário conheci-
Esse Peregrino da Espanha e a Companhia p o r êle fundada consti- m e n t o psicológico; num e noutra, coincide a personalidade, d e m o d o ideal,
tuíam as mais poderosas forças que, formadas fora do âmbito da Cúria com a norma proposta.
Romana, se apresentaram a ela c o m recursos eficacíssimos p a r a superação
d o cisma e da apostasia. E m Inácio, operava a fusão d o espírito rigidamente militar com o fogo
místico, que então levava na Península Ibérica. Esse espírito lhe ajudou,
Iñigo López de Loyola, o mais jovem entre oito filhos d e u m nobre
primeiramente, a ordenar os afetos, as imagens, as divagações, os temores,
biscainho, chegou cedo à Corte de um Grande d e Castela. Mais tarde, pres-
q u e se atropelavam; depois, tornou-se igualmente n o r m a d e trabalho, p a r a
tou serviços d e guerra junto a o Vice-Rei de Navarra. Oficial folgazão c
êle mesmo e para todos que, com êle, queriam militar sob o estandarte de
leviano, compenetrado, porém, d o espírito d a cavalaria espanhola, que era
Cristo.
De acordo com sua índole de pronunciada virilidade, a vida cristã não veio seu próprio compatriota, o ambicioso Francisco Xavier, que simpati-
é u m repousar a o peito de Cristo, no feitio da mística germânica, mas u m zava um pouco com os luteranos, e o português Rodrigues. Por fim, associa-
lutar debaixo de sua bandeira. Cristo é o chefe da guerra, e a imitação d e ram-se a êle mais três espanhóis, o Mestre Laínez, o jovem Salmeron, e o
Cristo culmina n a participação d a luta pelo R e i n o d e Cristo. Esse Reino, turrão Bobadilha. Nos "Exercícios", todos eles foram levados por Inácio a
Inácio o divisou na Igreja hierárquica, n a qual Cristo prolonga sua vida. u m a decisão sobre a própria vida.
A própria vida fica em função do serviço da Igreja, d a glória de Deus,
Enquanto Calvino e seus amigos, n o verão de 1534, iniciaram suas
p a r a quem tem a peito conquistar o próximo e o mundo.
investidas contra a Missa, Inácio e seus companheiros se uniam em sólida
Nesse empenho devem engajar-se todos os meios terrenos em devida comunidade, n o dia d a Assunção d e Maria de 1534, na Capela de São
proporção, sem formal distinção ascética. U m a formação cristã, n o sentido Dinis, n o Montmartre. Fizeram voto d e guardar a pobreza e a castidade, e
de ação dinâmica, devia agradar numa época em que o Ocidente, com o d e peregrinar a Jerusalém, com o intuito de propagar o Reino de Deus,
domínio dos oceanos universais e dos vastos continentes recém-descobertos, depois de haverem solicitado a autorização de R o m a . Caso a peregrinação
assumia a hegemonia d o mundo. O espírito de Inácio é o espírito d o bar- não fosse viável dentro de u m ano, queriam colocar-se à disposição d o
roco católico. N u m a época, em que a Igreja se defendia junto com o Papa.
universo ( P a u l o Claudel), o lema "Ad maiorem Dei gloriam" ( " P a r a maior
glória d e Deus") tornou-se entusiástica senha d e guerra. Ateou em milha- Inácio e seus Companheiros reuniram-se em 1537 e m Veneza, mas o
res de corações um fogo, que se ergueu em viva labareda. plano da Terra Santa comprovou-se irrealizável. Durante o longo tempo
em que esperavam inutilmente uma embarcação, Inácio e os demais, exceto
Inácio não tinha ainda clareza sobre seus futuros planos d e vida. Fabre, receberam a ordenação sacerdotal. Após o prazo de um ano, o grupo
Empreendeu u m a peregrinação de penitência até Jerusalém, antes da qual colocou-se à disposição d o Papa, que os aproveitou n o magistério, na
foi recebido, como outros peregrinos espanhóis, e m audiência por Adriano catequese da doutrina cristã, e na reforma da vida monástica.
VI. A peregrinação durou meio ano; mas, desse tempo, Inácio ficou só
dezenove dias na Terra Santa. Malogrou sua tentativa de converter m a o - P a r a n ã o serem dispersados, os amigos decidiram em 1539 constituir
metanos. P o r ordem estrita d o Guardião dos Franciscanos d o Monte Sião, u m a ordem própria deles, cujo regulamento, "Formula Instituti", apresen-
r e t o m o u à sua terra natal. M a s , nos dez anos seguintes, êlc não conhecia taram à Santa Sé. Pelo nome da nova Comunidade, "Societas Iesu", em
outra m e t a senão Jerusalém, o n d e encontrara u m a intuição viva dos Lugares espanhol " C o m p a ñ í a d e Jesús", manifestava-se a íntima adesão pessoal a o
Santos, por meio dos quais a vida de Jesus se tornou para êle uma presença Senhor, mais do que a coesão quase militar de u m a companhia, que se
cheia d e mistérios. Percebeu, então, que sua vida só podia consagrar-se ao mantinha de prontidão para lutar por Cristo e pelo seu Representante aqui
serviço das almas, e que p a r a esse fim precisava também adquirir a ciência n a terra.
necessária. A aprovação papal dos Estatutos demorou dezesseis meses. Pela bula
P o r isso, começou a freqüentar escola com os meninos, p a r a aprender "Regimini militantis Ecclasiae" de 1540, a Companhia foi aprovada como
o latim. Dois anos mais tarde, foi para Alcalá, depois para Salamanca, a Ordem Regular Clerical, cuja finalidade era a promoção da mentalidade e
fim de encetar os estudos teológicos. Acessoriamente, dedicava-se com al- vida cristã, a propagação da fé por pregação, exercícios espirituais, cate-
guns amigos à direção espiritual de pessoas de sua vizinhança. O s estudos quese cristã, atendimento de confissões, e outras obras d e caridade. Além
ficaram prejudicados. da castidade, e da obediência p a r a com os superiores, os membros deviam
Seu comportamento c h a m o u a atenção, e a inquisição m a n d o u prendê- fazer voto também de pobreza, mas a obrigação de pobreza não era aplicá-
lo. Caíra, pois, n a suspeita de ser desses teimosos alumbrados, que, sob a vel, quando se tratasse da manutenção dos estudantes d a Ordem. Ademais,
capa de direta inspiração divina, espalhavam erros funestos pelo país afora. os componentes ligavam-se a o P a p a , p o r um quarto voto especial, p a r a
Averiguaram sua inocência, mas notificaram-lhe que não poderia exercer irem onde quer que êle os quisesse enviar, aos Turcos, ao Novo M u n d o ,
nenhuma atividade pastoral antes d e completar mais quatro anos de es- aos luteranos, ou p a r a outro lugar qualquer.
tudos. A s Constituições, elaboradas por Inácio após longos anos de reflexão,
P a r a contornar esse embargo, êle emigrou em 1528 p a r a Paris. E m adotadas em 1558, estabeleciam ainda outras determinações. Os Jesuítas
sete anos, concluiu n o Colégio de Santa Bárbara seus estudos filosóficos e n ã o deviam obrigar-se à recitação d o Ofício Coral, p a r a que não fique
teológicos, e recebeu em 1535 o grau de mestre. Naqueles mesmos anos, atrofiado o ministério pastoral ao próximo. Prescindiu-se, outrossim, d e
Calvino também estudava em Paris. Os dois grandes adversários, por adotar traje próprio p a r a a Ordem. Deviam ser admitidos somente os que
certo, nunca chegaram a conhecer-se pessoalmente. se distinguissem p o r cordura, ciência e santidade de vida. Dava-se grande
Ainda durante os estudos, êle procurou conquistar, em cauta seleção, importância a u m a profunda formação filosófica e teológica, em estudos
os mais capazes de seus colegas como colaboradores p a r a o Reino de Cristo. de muitos anos. Para tal formação da gente nova, Laínez pensou primeira-
O primeiro que se ligou a êle foi o piedoso saboiano P e d r o F a b r e . Depois, m e n t e em fundar colégios.
A estrutura da Ordem é rigorosamente monarquista e centralizada. e m número escasso para Colônia, Augsburgo, Ratisbona, os bispos de
O Superior Geral é eleito p o r tempo vitalício. Ele é quem determina e distri- Espira e Passávia, e o Núncio Apostólico.
bui os ofícios, nomeia os superiores provinciais, os reitores das casas, e E m contraste c o m a cisão da consciência cristã, produzida pela Refor-
dispõe d o patrimônio d a Ordem. N ã o existe estabilidade dos membros em ma, esses padres possuíam a unidade d e idéia e de ação, eles que estavam
determinada casa. O P a p a ou o Geral p o d e m enviá-los p a r a qualquer sobrecarregados, e trocavam continuamente de ofício e lugar. O Jesuíta era
parte. individualmente u m a função d e sua Ordem, e a Ordem era u m a função d a
Meio ano após a bula pontifícia de confirmação, Inácio foi eleito pri- Igreja ( L o r t z ) . E m parte alguma reinavam divisão e individualismo. N e -
meiro Superior Geral ("Praepositus G e n e r a l i s " ) . Enquanto os seus se es- n h u m culto de pessoa, tão-sòmente dom d e si mesmo, com firmeza e abne-
palhavam pelo mundo afora, êle ficou desde então em R o m a e dirigia a gação.
comunidade (a limitação inicial, quanto a o número de membros, foi C o m o primeiro Jesuíta, Pedro F a b r e chegou à Alemanha e m 1540.
logo a b - r o g a d a ) . Ocupava-se d e todas as cousas, grandes e pequenas, dita- Antes ainda da aprovação canónica d a Ordem, fora delegado pelo P a p a
va cartas para a Alemanha e p a r a o J a p ã o . E r a capaz, também, d e percorrer p a r a tomar parte n o diálogo sobre religião em Vórmia. Esteve também em
durante a noite as enfermarias, p a r a verificar se os curativos estavam bem Ratisbona, como assessor de Contarini. Fabre não era teólogo conciliatório
aplicados. Todas as noites, ouvia-se por muitas horas o bater de sua ben- como seu chefe. Tinha noção da atitude persistente dos protestantes.
gala n o chão, quando Inácio, rezando e meditando, andava de u m lado p a r a N ã o esperava solução de violentas medidas militares, nem de disputações,
outro, com u m a das pernas mais curta desde Pamplona. Durante esses anos, mas d e u m a renovação religiosa, da influência e d o exemplo pessoal. P o r
fêz da Companhia u m reflexo d e seu próprio ser; incutiu-lhe consumada isso, buscava oportunidade p a r a fazer cura de almas, dava exercícios espiri-
disciplina da vontade, domínio d e si mesmo, e incansável energia n o serviço tuais a eclesiásticos e leigos. C o m o fruto de tais retiros, conquistou e m
de Deus dentro da Igreja visível. Mogúncia, em abril d e 1 5 4 3 , o jovem Pedro Canísio, d e Nimega, que iria
Inácio morreu aos 31 d e julho de 1556, de u m a doença de fígado que tornar-se o segundo Apóstolo da Alemanha. Desde a primeira fundação
durou muitos anos. Foi u m a morte solitária, sem os últimos Sacramentos, jesuítica em Colônia ( 1 5 4 4 ) até as vinte bases d a Ordem nas principais
sem a bênção papal, numa hora difícil p a r a a jovem Ordem. Laínez parecia cidades d o Império, p o r volta d e 1580, vai u m longo caminho, rastreado
estar às portas d a morte. Francisco Xavier já tinha morrido, tendo à vista pelo esforço cordato, abnegado e persistente do primeiro Provincial d a
as costas d a China. O p a p a Paulo IV, que estava para entrar em guerra Província da Germânica Superior, que Inácio ainda fundara n o ano de sua
contra a Espanha, m a n d a r a varejar o Colégio R o m a n o em busca d e arma- morte.
mentos.
Contudo, n a morte d o Fundador, a Companhia de Jesus já estava esta- 13. Renovação da Cúria Romana
belecida nas quatro partes d o mundo. C o m todo o rigor n a seleção, contava
mais de mil membros, embora houvesse apenas quarenta e dois professos, À influência das múltiplas e novas forças religiosas, que surgiram nos
distribuídos em doze províncias, desde a província da Índia, com funda- primeiros decênios d o século, deslocando-se cada vez mais em direção d e
ções n o J a p ã o , até a província d o Brasil. R o m a , não podia a Igreja esquivar-se oficialmente. Foi Paulo I I I ( 1 5 3 4 -
A rápida e quase impetuosa difusão manteve-se constante também 1 5 4 9 ) quem reconheceu a necessidade de u m a auto-reforma religiosa d a
sob os Gerais seguintes, Laínez, Francisco de Borja, e seus sucessores. E m Igreja, e a pôs em ação, apesar de estar êle, c o m o antigo favorito d o ruinoso
1600, havia 353 casas; em 1710, as fundações chegavam a 1190. O s Jesuí- Alexandre VI, ainda embaído p o r muitas tradições antieclesiais do R e n a s -
tas tiveram pronta aceitação, principalmente nos países românicos. Menor cimento.
foi a penetração na Alemanha, embora as primeiras fundações datassem C o m o primeira tarefa via êle a remodelação espiritual d o Colégio C a r -
p o r volta d e 1540. Canísio opinava a respeito e m 1 5 5 1 : "Existe aqui a dinalício, de cujos membros n ã o podia momentaneamente esperar dispo-
convicção d e que pelo menos é de tanta importância, quando u m único sições p a r a colaboração n a Reforma. Ele promoveu, é verdade, nepotes e
alemão se integra em nossa comunidade, como q u a n d o vinte itaüanos ou parentes d e amigos políticos ao Senado da Igreja; mas, em maior escala,
espanhóis entram n a O r d e m " .2 1
promoveu também homens exímios pela sua erudição e piedade, não só o
A parte ainda católica d a Alemanha sentia então a enorme falta de bispo inglês J o ã o Fisher, que definhava n o cárcere, mas também o nobre
clérigos com bons predicados sacerdotais. Esta é a razão por que o tipo veneziano Gaspar Contarini, u m leigo que mudara p a r a R o m a , onde se
sacerdotal dos Jesuítas impressionava p o r si mesmo; sobretudo nas poucas tornou figura central de um círculo reformador, e que sempre corroborava
instâncias eclesiásticas, onde se fazia mister e de fato se promovia u m a nova as boas intenções d o Papa.
estrutura católica, notava-se instintivamente a importância dessa nova Nas subseqüentes criações de cardeais, ampliou-se mais a influência
potência religiosa. Eles eram solicitados; houve, p o r assim dizer, u m a dos círculos reformadores. A grande nomeação de 1536 promoveu os já
porfia e m torno dos poucos padres disponíveis p a r a colaboração, destinados mencionados Carafa, Sadoleto, e Pole; u m a nomeação posterior, Cervini,
Morone, experimentado núncio da Alemanha, um Bispo de Gubbio, zeloso nados pela Reforma. E m Ferraria, a Duquesa Renata d'Esté tinha agasa-
pela Reforma, e u m A b a d e de Veneza. Desde séculos, o Colégio Cardina- lhado Calvino p o r algum tempo.
lício n ã o congregava assim os homens mais nobres e mais engenhosos da Inácio de Loiola teria dado ao P a p a as primeiras sugestões p a r a o
época ( F . X . K r a u s ) . contra-ataque. E m julho d e 1542, seguiu-se então o estabelecimento da
N o outono d e 1536, antes da grande nomeação de cardeais, o Papa Inquisição Romana, habitualmente conhecida pelo nome de "Santo Ofício".
tinha convocado esses homens, mais Giberti e alguns outros, p a r a constituí- Os primeiros Inquisidores Gerais foram Carafa e Toledo, espanhol. Pela
rem uma comissão que devia propor as reformas necessárias da Cúria, antes bula pontifícia, a Inquisição devia intervir em toda a parte da Igreja Univer-
sal, onde quer que se manifestasse heresia. Suas sentenças tornaram-se mais
mesmo da abertura d o esperado Concílio.
rigorosas com a crescente influência d e Carafa. Mas o próprio fato de se
N a primavera seguinte, a Comissão emitiu parecer, o famoso "Consi- estabelecer o Supremo Tribunal de F é dispersou os conventículos protes-
lium de emendanda Ecclesia" ("Alvitre p a r a correção da I g r e j a " ) . A fonte tantes na Itália e forçou os hesitantes a u m a tomada d e posição.
primordial de todos os males, assim o acentuavam os autores com toda a
Entre eles figuravam personalidades de alto conceito social, famosos
franqueza, era a desmedida exacerbação d a autoridade papal, p o r parte de
pregadores, como P e d r o Vermigli, cónego agostiniano, natural d e Florença,
canonistas bajuladores, que papas anteriores instituíram conselheiros. Dos
visitador temporário de sua Ordem, e Bernardino Ochino, natural de Sena,
abusos e falhas, enumerados u m por um, fazia parte toda a praxe curiai, que e m 1541 fora nomeado pela segunda vez Vigário Geral da jovem
com todos seus artifícios juridicamente disfarçados, que impossibilitavam o Ordem dos Capuchinhos. E m Nápoles, ambos caíram sob a influência de
exercício d o múnus pastoral d a Igreja; faziam parte os conventos depra- Valdes. Os Teatinos malsinaram-nos como hereges. Q u a n d o Ochino foi
vados, que se deviam extinguir por morte d e seus ocupantes; faziam parte intimado pela Inquisição em 1542, encontrou-se com Vermigli n a viagem.
as dispensas e os privilégios p o r motivos levianos, o fiscalismo dos legados Os dois fugiram então para Genebra, onde se puseram a serviço da Refor-
e núncios apostólicos. N u m a r o d a a que pertencia Giberti, pastor exemplar ma. Depois de u m a vida errante e muitas vezes dura, que fêz os dois apor-
de sua diocese Verona, não era de admirar que se acentuasse a absoluta tarem n a Inglaterra sob o governo de E d u a r d o V I , morreu o primeiro
supremacia d a cura d e almas. como zuingliano em Zurique, o segundo na Moravia, presumidamente c o m o
N a verdade, a maior parte d o parecer n ã o passou de m e r o programa. antitrinitário.
Sua eficiência debilitou-se, não só porque foi divulgado indèbitamente n a A Ordem dos Capuchinhos, cuja propagação era interdita fora da Itália,
Alemanha e utilizado p o r Lutero como justificativa de sua separação da c que depois da apostasia d e seu Vigário Geral perdera a faculdade de
Igreja Romana, mas também porque sua execução encontrou resistência pregação, superou essa crise; isso deu prova d a solidez intrínseca da Ordem
em outros Cardeais e no burocratismo das autoridades romanas. e d a vitalidade de sua reforma.
Sem embargo, passaram por reforma a Dataria, competente para a
outorga pontifícia de benefícios, e a Penitenciaria, competente p a r a as
14. Luta em Torno do Concílio
dispensas. Depois, chegou a vez d e outros organismos pontifícios. Particular
atenção se votou à melhor execução d o dever de residência, por parte dos
bispos. A mais importante contribuição p a r a renovar a Igreja, Paulo I I I deu-a
pela convocação do Concilio de Trento. A partir do momento em que L u -
Sem nexo causai com esse parecer, ligada à Comissão só pela pessoa tero, depois do interrogatório de Augsburgo, apelara d e Vitemberga, em
de Carafa, seu rigoroso integrante, processou-se mais tarde a nova organi- 1518, p a r a um futuro Concílio, o qual seria convocado em lugar seguro;
zação da Inquisição R o m a n a . Carafa soube incutir sempre d e novo n a depois que êle, por motivos propagandísticos, renovara essa apelação em
consciência d o Papa, que era aliás generoso, o perigo de penetrar a inovação 1520; mas principalmente desde que o Reformador, e m seu livro " A o s
religiosa também na Itália. E , para tanto, n ã o precisava exagerar. Carafa fidalgos cristãos da Nação Germânica" ("An den christlichen Adel deut-
sabia, por própria experiência, quantos agentes e quantas idéias da Refor- scher N a t i o n " ) , incitara a autoridade civil a convocar um "Concílio verda-
m a Germânica e Helvética n ã o penetravam, através d o comércio, n a Cidade deiramente livre", que revogasse a falsificação do Evangelho pela escolás-
das Lagunas. Idêntica era a situação em toda a Itália Setentrional. N o Sul, tica e pela Cúria R o m a n a : a "luta pelo Concílio" durou quase u m a ge-
entretanto, parecia tornar-se célula viva do luteranismo o Círculo Erasmia- ração.
n o de J o ã o d e Valdes, que Carafa como napolitano observava com descon,
fiança, já por motivos patrióticos. Eram suspeitas sua tradução espanhola Pelo conceito medievo de u m Marcílio, e pelos moldes de Constança
de partes d a Sagrada Escritura, e a mística fanatizada no tratado sobre e Basiléia, um Concílio como tal não só representava para o P a p a d o d o
Cristo Crucificado. Até a festejada poetisa Vitória Colonna, grande admira- Renascimento u m a ameaça contra sua existência, mas também era u m
dora de Miguel Ângelo, pertencia a essa comunidade. E m Sena, Ferraria, perigo de morte para a própria Igreja.
e noutras cidades, viviam outros círculos, real ou aparentemente contami- O povo e os Estados ("Stände) da Dieta Germânica exigiam um " C o n -
cílio comum, livre, universal", porque n ã o davam por definitivamente decidi-
d a a causa de Lutero com a bula pontificia "Exsurge", e com a excomu- compilou os "Artigos de Esmalcalda", acentuando de m o d o muito forte o
nhão d o Catedrático de Vitemberga. Devia R o m a opor a máxima descon- contraste com o dogma católico. O Rei de França declarou que, por moti-
fiança à postulação de u m Concílio sem P a p a em terras germânicas, que vos de segurança, a escolha de Mântua não era aceitável nem para êle nem
não fosse convocado nem dirigido pelo Papa. Sendo assim, Clemente V I I para seus prelados. Além d o mais, o D u q u e de M â n t u a impôs condições
conseguiu, durante todos os anos d e seu pontificado, contornar a postulação inexequíveis a propósito das medidas de segurança para o Concílio. Trans-
de u m Concílio, sem dizer claramente " n ã o " . Houve, por muitos anos, in- feriu-se portanto a data do Concílio, que a seguir teve nova convocação
frutíferas negociações em torno d o Concílio. N a resistência de R o m a , viam- para o dia 1*? de maio de 1538 em Vicência, território veneziano.
se na Alemanha confirmadas as acusações de Lutero contra a corrupção N a Alemanha, nem teólogos como Eck, n e m os Príncipes católicos, já
do p a p a d o . acreditavam n a viabilidade do Concílio. Afinal, os três Legados Conciliares,
Poderoso patrocinador teve a postulação de u m Concílio n a pessoa de acompanhados só p o r cinco bispos, fizeram entrada em Vicência, conti-
Carlos V , q u a n d o depois de longa ausência começou, como Imperador, a n u a n d o a ser eles quase o s únicos participantes d o Concüio. Transferida
pôr ordem nos assuntos religiosos da Alemanha. Por ensejo d e sua várias vezes, a abertura foi ao cabo suspensa em maio de 1539, por tempo
coroação c o m o Imperador em Bolonha, em 1530, êle forçou o Papa a indeterminado. Nos meios germânicos, o ceticismo, se tal fôsse possível,
consentir, contrafeito, n a questão d o Concüio, caso a Dieta que fora generalizou-se cada vez mais. O próprio Imperador via, no Papa, o prin-
convocada p a r a Augsburgo n ã o trouxesse n e n h u m entendimento. cipal estorvo p a r a a celebração d o Concílio. Ameaçou convocar um Con-
cílio Imperial ou Nacional. Com a tolerância do Papa, tentou, por meio de
Os esforços d o Imperador a favor d o Concílio tornaram também o
diálogos, entendimento direto com os protestantes.
Concílio questão de alta política. P a r a o rei Francisco I, de França, com
sua mentalidade nacionalista, oposta às idéias universalistas d o Imperador, E m Roma, porém, ia adiante a Reforma, que tinha por programa o
o Concílio representava apenas u m a possibilidade d e enfraquecer a oposi- laudo de 1537. Dentro d e seu espírito, procedeu-se em 1540 à aprovação
ção interna germânica contra o Imperador. Logo, por motivos d e ordem da Companhia d e Jesus. Desde o verão de 1 5 4 1 , discutia-se novamente a
política, êle devia pronunciar-se contra o Concílio e empecer q u a n t o pos- respeito d o Concílio. H o u v e unanimidade em escolher a cidade de Trento
sível sua convocação. como sede concüiar, mas u m a convocação para Trento tornou-se ilusória
A troca d e governo em R o m a , em 1534, primeiramente n ã o alterou a com nova guerra entre a França e o Imperador. Sete meses após o prazo de
situação. O intento d o Imperador, que o Concílio devia deliberar precipua- abertura, a o todo se contavam apenas dez bispos em Trento. Só depois d o
mente sobre a reforma da Igreja e a extirpação dos abusos, c o m posterga- T r a t a d o de Paz d e Crépy em setembro de 1544 é que se abriram possibili-
ção das questões dogmáticas, fortaleceu antes a resistência dos ocultos ad- dades para o Concílio. Sob a pressão d o Imperador vitorioso, Francisco I
obrigou-se, p o r u m a cláusula secreta, a enviar representantes a o Concüio
versários d e u m a reforma na Cúria Romana.
em Trento.
Paulo I I I era muito cordato para não reconhecer que devia aceder, de
qualquer maneira, à postulação de u m Concílio, se n ã o quisesse sacrificar Paulo I I I renovou então a convocação para Trento pela bula "Laetare
todo o crédito moral da Igreja, mormente d o próprio Papa. Assim, enviou Jerusalém" ("Alegra-te, Jerusalém"), de 19 d e novembro de 1544. Nessa
em janeiro de 1535 seus legados às Cortes Européias, para preconiza- cidade imperial, o Concilio devia congregar-se n o domingo " L a e t a r e " d e
rem a realização d o Concílio, e p a r a colherem alvitres sobre o lugar d e 1545, com a finalidade de eliminar a discórdia religiosa, de reformar o
convocação. A s objeções provinham dos Esmalcáldicos e do Rei de França. povo cristão, e de libertar os cristãos opressos pelos Turcos.
O Legado Pontifício avistou-se com L u t e r o e m Vitembrega, e teria Novas dificuldades e novas desconfianças retardaram o início da reu-
percebido nele a boa disposição de pleitear sua doutrina n u m Concüio con- nião. Muito tarde tinha a Cúria R o m a n a designado os três Legados Con-
vocado em M â n t u a ou em Verona. D a Assembléia Nacional dos Esmalcál- ciliares, os Cardeais Del Monte, o douto Cervini, e Reginaldo Pole, parente
dicos recebeu, contudo, a resposta d e que só enviariam representações a d o Rei d a Inglaterra. Só aos poucos chegaram os prelados à cidade con-
u m Concüio que fosse convocado em terras germânicas, e sob a condição ciliar. Nesse meio tempo, entabulavam-se negociações diplomáticas em
de que o P a p a se subordinasse ao Concílio, e admitisse os representantes R o m a e na Corte Imperial.
dos Príncipes seculares. Carlos V sabia que os protestantes de própria vontade n ã o freqüenta-
A F r a n ç a rejeitou categoricamente um Concílio que fosse convocado riam esse Concüio convocado pelo P a p a ; pois Lutero, mais rude do que
dentro da área de influência do Imperador, mas acabou por consentir, com Melanchthon, escrevera em 1535 um panfleto "Contra o P a p a d o forjado
restrições, um ano mais tarde. em R o m a pelo D i a b o " ("Widcr das Papstum zu R o m vom Tcufel ge-
A neutralidade política d o Papa, que Carlos V levava tanto a mal, stiftet"), que êle pretendia remeter a Trento em redação germânica e latina.
pareceu então produzir seus frutos. E m junho d e 1536, o P a p a convocou P o r isso, o plano d o Imperador era quebrar primeiro o poder político-
pois o Concüio p a r a maio d e 1537 em Mântua. Os Esmalcáldicos, porém, militar dos protestantes, isto quer dizer, dos Esmalcáldicos, para depois
não quiseram aceitar a bula de convocação, e na mesma ocasião Lutero obrigar os vencidos a enviarem representantes ao Concüio. Nessa sortida
mditar ele precisava de fazer aliança com o Papa. Mas afinal de contas,
o Concilio ja iniciara em Trento, n o terceiro domingo do Advento, n o dia testada jurisdição absoluta dos Legados, em lugar das atribuições de u m
presidente eleito pelo próprio Concílio.
13 de dezembro de 1545, antes que irrompesse a Guerra de Esmalcalda
Findara a luta em torno d o Concílio". Os Legados propunham à Assembléia os artigos hcréücos, tirados dos
escritos dos Reformadores, ou deduzidos indiretamente das obras de seus
impugnadores. Os teólogos, não munidos d o direito de voto, por via d e
regra membros d a Ordens Mendicantes, deliberavam a respeito deles. Os
15. Concílio de Trento
Padres votantes tomavam posição sobre os mesmos nas reuniões gerais.
Então, u m a deputação eleita redigia os respectivos cânones e capítulos dou-
Dos poucos participantes da solene abertura d o Concílio (eram, além trinários. Suas deliberações tornaram-se cada vez mais o âmago dos traba-
dos três Cardeais Legados, ainda o Cardeal d e Trento, quatro arcebispos, lhos conciliares. Seguia-se outra leitura, eventualmente repetida, n a congre-
vinte c um bispos, cinco Superiores Gerais de Ordens, os delegados d o Rei gação geral, e por fim a promulgação das decisões assim maturadas, na
Fernando, e cinqüenta cientistas, na maior parte teólogos), nenhum podia sessão solene ("sessio").
suspeitar que o Concílio Ecumênico, após duas interrupções, só iria termi-
nar dezoito anos mais tarde, e que, convocado com tanto custo, teria p o r C o m o já comentamos, o Concílio teve na abertura a freqüência de
muitos séculos eminente importância p a r a a vida d a Igreja. apenas vinte e nove cardeais e bispos. Da Alemanha, foram para a pri-
meira sessão só o bispo auxiliar de Mogúncia, Miguel Helding, e os p r o -
Durante o primeiro período d o Concílio, que foi até setembro de 1549, curadores dos Bispos de Tréveros c Augsburgo. A Polônia, a Hungria, e a
os Legados Conciliares desincumbiram-se d e sua tarefa com suma habili- Suíça faltaram totalmente. N o mais, havia representações de todas as nações
dade, tanto mais que n o começo do Sínodo não estavam ainda determina- que se conservavam católicas na Europa.
das a pauta das deliberações n e m a ordem administrativa. As opiniões divi-
Distinguiu-se p o r singular erudição Seripando, Superior Geral dos
diam-se muito sobre o plano de trabalho d o Concílio.
Eremitas de Santo Agostinho. Entre os "theologi minores" ("teólogos me-
O P a p a desejava a definição dos dogmas impugnados pela Reforma. n o r e s " ) , c o m o entre a s deputações, brilharam os jesuítas Laínez e Salmerón,
Carlos V e seu irmão Fernando queriam, em primeira linha, a Reforma o franciscano Afonso de Castro, e os dominicanos Melchior Cano e Pedro
Eclesiástica. A postergação d e debates sobre as questões d e fé devia, depois Soto. Comprovou-se a realidade d o debate e d o voto üvres pela existência
da esperada vitória d o Imperador, tornar mais fácil a frequentação de de uma oposição conciliar, muito embora os participantes não votassem por
Trento e desobstruir o caminho para a restauração da unidade. P o r pre- nações, como outrora cm Constança, mas p o r cabeça individual.
caução, os Legados garantiram para si o direito de fazer proposições, quando Debates e definições dogmáticas eram sumamente necessárias, depois
em devida forma interpelaram o Concílio se era para começar pelo dogma que a bula "Exsurge" só rejeitara as primeiras proposições de Lutero. Nesse
ou pela reforma. A grande maioria decidiu-se pelo debate paralelo. entretempo, com o silêncio d o Magistério da Igreja, os Reformadores ti-
O Papa, todavia, com quem os Legados mantinham constante ligação nham submetido suas doutrinas a u m a maior sistematização. A obscuridade
por um serviço regular de estafetas, não aprovou o debate paralelo. O Con- teológica, dentro da qual a Reforma lograva difundir-se cada vez mais,
devia por conseguinte desaparecer.
cílio não podia, por conseguinte, formular a decisão num decreto, mas de
fato a executaram, depois q u e os Legados se purgaram da censura de R o - Mas, p a r a se fazerem definições em matéria de" fé, era mister em pri-
ma, conseguindo afinal da própria Roma certa liberdade de ação. meiro lugar um acordo sobre o método teológico. E m vista da distinção d a
Sagrada Escritura em livros canónicos c livros apócrifos, que L u t e r o per-
E m conseqüência, durante as reuniões seguintes, foram debatidos e
filhara das obras de Erasmo, formulou-se novamente o Cânon Bíblico do
promulgados, a o lado dos "Decreta fidei" ("Decretos sobre a f é " ) , tam-
Concílio d e Florença, mas sem nova documentação. Deixou-se livre o p r o -
bém os "Decreta d e Rcformatione" ("Decretos sobre a R e f o r m a " ) . Verda-
blema da distinção em torno dos conceitos "canónico" e "autêntico".
de é que, sob reforma, não se entendia uma demolição radical das organi-
zações existentes, como seria a extinção d o monaquismo e cousas que o Mais por princípio, e com mais decisão, foi atingido o princípio formal
valessem, conforme a opinião protestante a respeito de reforma, mas a luterano, quando na 4^ sessão as Tradições, que Lutero rejeitava como
eliminação de abusos na praxe eclesiástica, ou também decretos executórios convenções humanas, foram também equiparadas à Bíblia c o m o fontes d e
das definições dogmáticas. Isto correspondia à opinião de muitos Padres fé. Se a Tradição dogmática (só n o correr dos debates é que a distinguiram
Conciliares de que bastantes abusos eram apenas a resultante de m á instru- claramente das Tradições disciplinares) abarca em si u m a torrente da Reve-
ç ã o n a doutrina. lação, e por conseguinte completa a Bíblia, ou se limita a interpretá-la, é
um ponto que ficou reservado à pesquisa especulativa da teologia para o
Na ordem administrativa, regulada aos poucos, seguiu-se o paradigma futuro.
d o Concílio de Basiléia, com suas deputações designadas para cada u m dos
setores, e o paradigma d o V Concílio de Latrão, com sua aliás não incon- A Vulgata foi declarada autêntica, quer dizer, oficial, para o uso teo-
lógico c eclesiástico, com isso suficiente p o r si mesma para confirmar os
dogmas da Igreja. O próprio Concílio indicou, como motivação, que não exclusiva eficácia da fé nos Sacramentos opuseram, em termos precisos e
seria d e pequena vantagem p a r a a Igreja saber, a o certo, qual das tra- vigorosos, o princípio d o "signum efficax" ("sinal eficaz"), d a eficácia dos
duções latinas em circulação devia ser tida como autêntica. Sacramentos em virtude d e sua própria consumação.
N o assim chamado "Decreto da Vulgata", tratava-se pois de u m a es- A partir da 5^ sessão, foram também promulgados decretos de refor-
pecial qualificação d a Vulgata, em confronto c o m as outras traduções lati- m a , em conjunto com as fixações dogmáticas. O primeiro exigia a instalação
nas d e então, m a s n ã o e m confronto c o m texto original hebraico ou grego. d e lentes da Sagrada Escritura nas Igrejas Catedrais e Colegiadas, e, quanto
Tornava-se mister uma qualificação, porque na praxe geral da época os possível, também nos conventos. Queriam assim promover a formação d o
textos bíblicos eram citados em latim, tanto e m dissertações científicas, clero, e conseguir a supressão de abusos e inconveniências n o ministério da
como nos discursos solenes. O Concílio n ã o fechava os olhos à defeituosi- pregação. Acentuou-se o dever de pregação, tanto para os bispos como para
dade das edições eclesiásticas d a Bíblia até então existentes. Planejou-se a os párocos, aos domingos e dias santos. Aos bispos, outorgaram-se-lhes
feitura de u m a edição revista. C o m o norma de interpretação bíblica, esta- certos direitos d e vigilância sobre os pregadores, também q u a n d o estes
beleceram-se o "unanimis consensus P a t r u m " ("consenso unânime dos pertenciam a Ordens Religiosas. Outro decreto referia-se a o dever de resi-
Santos P a d r e s " ) , e a declaração da Igreja. dência dos bispos e dos sacertodes encarregados de cura de almas. Essa
Sobre tais alicerces podiam então basear-se as definições dogmáticas, medida atingia u m vezo arraigado desde séculos, que era a ausência p r o -
postuladas pela situação da época. Sem levar em conta a Guerra Esmal- longada dos bispos e párocos d e suas dioceses, respectivamente de suas
cáldica prestes a irromper, nem as protelações desejadas pelo Imperador, paróquias. N ã o bastava, porém, inculcar apenas o dever de residência.
os Legados levaram p a r a a frente os debates dogmáticos. E r a preciso também remover os obstáculos e dificuldades que se opunham
N a 5? sessão, admitiu-se o decreto sobre o pecado original, formulado à sua observância.
contra os pelagianos e com isso também contra a doutrina de Zuínglio e Isso provinha d o poder civil, e mais ainda da Cúria R o m a n a . Sua eli-
de Lutero sobre a concupiscência, como p e c a d o original permanente.
minação importaria em derrubar a administração eclesiástica então vigente,
A Escola Agostiniana, sob a orientação de Seripando, ficou em mino- a existência d e bispos curiais, cumulação d e vários benefícios numa só m ã o ,
ria a o correr da discussão, bem como nos debates sobre o decreto da justi- os inverificáveis direitos de ordenar pretendidos pelos bispos titulares e
ficação, que se prolongaram p o r mais de seis meses. Causas da longa núncios apostólicos, a ampliação das isenções canónicas, as inúmeras ape-
demora foram n ã o apenas o pânico durante o Concílio, q u a n d o e m julho lações a Roma, as praxes curiais de dispensas.
de 1546 os Esmalcáldicos ameaçaram os desfiladeiros do Alpes, nem a
Os Padres Conciliares não estavam, em parte, convencidos de que o
resistência dos partidários imperiais contra a conclusão dos debates, sem a
Papa quisesse seriamente as reformas, e tudo dependia dessa vontade. Pri-
esperada convocação dos protestantes depois d o fim da guerra, mas
meiramente, os Legados ter-se-iam contentado, d e boa sombra, com a
também, e antes d e tudo, as fortes discrepâncias de opinião entre os
próprios Padres Conciliares, e seu desejo de chegarem à melhor das con- renovação das sanções penais. Foi assim que o esquema dos Legados n ã o
clusões nessa difícil questão. passou n a 6^ sessão. Sobreveio u m a reconsideração, e provocou pronuncia-
mento programático de Del Monte: " A meta de nossa reforma é a restau-
A minuta d e Seripando foi refundida três vezes. A s questões sobre a 2 2
r a ç ã o d a cura de a l m a s " .
dupla justiça e a certeza de salvação foram analisadas em comissões espe- O P a p a também deu um passo a o encontro, publicando aos 18 de
ciais de teólogos, até que em janeiro de 1547 o decreto sobre a justificação fevereiro de 1547 u m decreto contra a cumulação de dioceses por parte
foi aceito por unanimidade. Essa peça mestra da teologia conciliar, êsse dos cardeais. Sob o impacto dessa determinação, passou brilhantemente,
mais volumoso e mais importante decreto dogmático do Tridentino, com na 7? sessão, o decreto sobre o dever de residência, respectivamente o r e -
seus dezesseis capítulos doutrinários e trinta e três cânones, não tinha por conhecimento da prioridade da cura d e almas e salvação das almas. O de-
finalidade dirimir os pontos controversos das Escolas Teológicas. Claro a creto, que tornava mais pesadas as sanções penais, ainda não satisfazia as
respeito das asserções dos Reformadores, totalmente alinhado na procla- últimas exigências d e u m a reforma peremptória. Durante o 3? período de
m a ç ã o da fé, êle descrevia a psicologia d e todo o processo de justificação, sessões, foi substituído p o r outro, mas d e per si manifestava a séria deli-
e definia a doutrina sobre a graça santificante e os merecimentos. beração de procurar, sinceramente, a única cousa que importava.
Foi rejeitada a teoria da dupla justiça, conforme Contarini cm Ratis- Nesse ínterim, o P a p a mandou recolher suas tropas, que estavam com o
bona e Seripando nas discussões preliminares a tinham defendido. Como Imperador, em pleno andamento d a Guerra Esmalcáldica. E , q u a n d o o
"toda verdadeira justiça é adquirida, aumentada, e recuperada pelos Sacra- Imperador, n o auge de seu poderio, se decidiu obrigar os subjugados pro-
mentos", o Concílio voltou-se então, logicamente, para os Sacramentos. testantes a freqüentarem o Concílio, os Legados d o P a p a transferiram o
Na 7? sessão, foram promulgados cânones e proposições sobre os Sacra- Concílio para Bolonha aos 11 de m a r ç o de 1547.
mentos em geral, e sobre o Batismo e a Crisma em particular. Foi possível C o m o motivo, pretextou-se u m a contagiosa febre maligna que arreben-
remontar então ao trabalho da escolástica medieval. À tese luterana da tara em Trento. Mas esta não era a razão principal da transferência. Que-
riam antes subtrair o Concílio à gravosa influência d o Imperador, mesmo lidade. A propósito da guerra que o Papa movia por causa de P a r m a , em
porque Cervini já tinha dado a Alemanha p o r perdida, e queria limitar a aliança com o Imperador, o Rei da França ameaçou até com a convocação
conservação da fé aos países românicos. Havia também o receio de que de u m Concílio Nacional. E m compensação, os Alemães afluíram com
um Concílio dominado pelo Imperador viesse a intervir na eleição papal maior representação. Além dos Príncipes-Eleitores da Renânia, compare-
quiçá iminente, pois que Paulo III já contava oitenta anos de idade. O ceram os bispos de Estrasburgo, Constança, Cora, Chiemsee, Viena e
Papa acolheu com bons olhos a transferência. N u m a cidade situada dentro N a u m b u r g o ; mais alguns bispos auxiliares e procuradores episcopais, sim,
dos Estados Pontifícios, era fácil salvaguardar a ascendência do Papa até b o m número de representantes de Estados ("Stände") Protestantes.
sobre o Concílio, mais d o que na longínqua cidade imperial de Trento.
O Imperador conseguira, na Dieta de Augsburgo d e 1548, obrigar os
A transferência d o Concílio evidenciou-se como erro grave. U m a mi-
protestantes a enviarem delegados a o Concílio d e Trento. N a verdade,
noria de catorze prelados fiéis a o Imperador levantou protesto, e deixou-se
tinham estes ressalvado que o Concíüo não podia ficar sob a presidência
ficar em Trento. Carlos V ficou sumamente indignado contra a transferên-
d o Papa, e que os decretos d o primeiro período deviam ser novamente de-
cia. Surgiu ameaça de cisma, pois o Imperador declarara que envidaria todos
batidos. P o r incrível que fosse, o Imperador deliberadamente não tomou
os recursos para convocar novo Concílio, que ab-rogasse todos os decretos
nenhum conhecimento dessas cláusulas. De início, o Papa n ã o sabia nada
até aquela data. que sacasse toda a responsabilidade ao Papa, c por fim
a respeito. Ambos, porém, não ligaram nenhuma importância à aceitação
pusesse e m execução todas as reformas necessárias. Prometeu aos Estados
desse convite. De antemão impediram, pois, a cooperação dos protestantes
("Stände") em Augsburgo que continuaria o Concílio em Trento, e pro-
numa efetiva superação da dissidência.
mulgou a "ínterim" para o tempo intermediário. Nos círculos imperiais,
cogitava-se até cm continuar o Concílio em Trento sem o Papa, ainda que
sob o risco d e um cisma.
16. Protestantes em Trento
Apesar do solene protesto, o Imperador não obteve a retransferência
do Concílio. Mas, durante as negociações entre o Imperador e o Papa, o
N o outono, começaram as negociações em Trento com os ulterioes
Concílio n ã o promulgou decretos em duas sessões solenes, muito embora
debates sobre questões controversas. Baseavam-se n o trabalho preliminar
prosseguisse, ativamente, com os trabalhos teológicos nas congregações. O
feito em Bolonha. De um lance trataram os Padres sobre os vários Sacra-
estudo d a doutrina sobre o sacrifício da Missa e as indulgências, a formu-
mentos, e na 13^ sessão definiram a doutrina sobre a Eucaristia. Procla-
lação canónica dos problemas matrimoniais constituíram precioso trabalho
mou-se a presença real contra a doutrina da presença virtual ou simbólica,
preliminar para o futuro. Afinal, a partir de janeiro de 1548, pelo querer
e a transubstanciação contra a doutrina da empanação.
do P a p a , o Concílio cessou totalmente com as atividades. E m setembro d o
ano imediato ( 1 5 4 4 ) , dois meses antes dc morrer, Paulo III suspendeu o Quatro artigos sobre a comunhão em duas espécies e a comunhão das
Concílio. crianças ficaram para depois que chegassem os protestantes, conforme estava
anunciado. A essa reunião, pois, já assistiram delegados brandemburgueses,
Quase três meses durou o conclave, d o qual saiu eleito Del Monte, o
que apresentaram mensagem redigida em termos de máxima submissão p a r a
até então Legado Conciliar, com o nome de Júlio I I I ( 1 5 5 0 - 1 5 5 5 ) , come
com o Papa.
candidato de compromisso nos embates entre os partidários da França e
os d o Imperador. N a reunião imediata, os Padres definiram a doutrina dos Sacramentos
O novo Papa era ainda um elemento de transição. Crescido ainda n o da Penitência e da Unção dos Enfermos. Defendeu-se, d e m o d o particular,
tempo d o Renascimento, gostava de uma vida alegre e fagueira, d e festas a confissão auricular, o caráter jurisdicional da absolvição e d a satisfação.
suntuosas, d e caçadas e banquetes, e não era também isento dc nepotismo. Os decretos reformatorios de ambas as reuniões não contentaram todos os
Dc outro lado, não era de todo insensível à situação da Igreja. Manifestava participantes. Referiam-se a o processo penal canónico, à ação processual
sua benevolência aos elementos reformadores, pelos quais se deixava levar, de autoridades da Cúria R o m a n a contra bispos, às obrigações e faculdades
principalmente da Companhia dc Jesus. Esforçava-se, sobretudo, pela con- dos bispos, à vida dos eclesiásticos, e a o provimento de benefícios.
tinuação do Concílio, como o havia prometido na capitulação eleitoral. Não Nesse entretempo, depois dos Brandemburgueses, chegaram outras
se deixava, tampouco, desnortear pelas intrigas da França, que p o r moti- delegações protestantes, os emissários d o D u q u e Cristóvão de Vurtemberga,
vos políticos não podia desejar uma conciliação entre o Imperador e o e o futuro historiador Sleidan, de Estrasburgo, representante de seis cidades
Papa. E m novembro de 1550, decretou para o mês de maio d o ano seguinte setentrionais da Alemanha. Mais tarde, chegaram ainda os enviados d o
a reabertura do Concílio em Trento. Príncipe-Eleitor Maurício de Saxe. Apesar d e recebidos amigavelmente pelos
O assim encetado segundo período de sessão conciliar durou um ano Espanhóis e pelos Italianos, esses políticos c juristas não queria contacto
escasso, até abril dc 1552. A reunião abriu-se pontualmente, mas com a direto com os Padres Conciliares; recorriam ao Legado Imperial p a r a
presença só de poucos Padres. Os prelados franceses faltaram em sua tota- contorno das negociações.
O que exigiam também n ã o era pouca cousa. Concedcu-se-lhes dilação tade de ferro. E m face d o mal, tinha ainda assomos de cólera, de rudeza e
das definições dogmáticas até a chegada d e seus teólogos, e salvo-conduto impetuosidade. Vivia as idéias d e Inocêncio III. Julgava-se n a obrigação
com garantias mais amplas. M a s novo debate de todos os decretos já p r o - d e imitar suas ambições de poder também na área política, talvez depois
mulgados, supremacia do Concílio sobre o P a p a , e liberação d o juramento que Carlos V abdicasse. Sem compreender a formal metamorfose da época,
de fidelidade a favor dos bispos presentes, eram reivindicações inaceitáveis. perdeu também a perspicácia p a r a u m a justa apreciação dos homens. Assim,
Quando os teólogos de Estugarda apresentaram u m a "Confissão de zelando às cegas pela pureza da fé, chegou a malsinar dois homens d e tanta
Vurtemberga" ("Württembergisches Bekenntnis") e exigiram sua aprova- benemerência, como o eram os Cardeais Morone e Pole, e a manter Morone
ção pelo Concílio, então o próprio Imperador reconheceu a inanidade das preso durante dois anos. Pole livrou-se de igual desventura, p o r causa de sua
negociações. momentânea ausência na Inglaterra e d e sua morte precoce.
A fim d e dissimular seus preparativos de rebelião contra Carlos V , A essa falta de conhecimento dos homens era também de se atribuir
o Príncipe-Elcitor da Saxônia encaminhou Melanchthon p a r a Trento. E n - que o Papa nomeasse seu sobrinho Carlos Carafa Secretário de Estado. N ã o
tão, porém, d e aliança com a França, Maurício rompeu as hostilidades, e o fêz, porém, por nepotismo n a forma antiga, que procurava locupletar p a -
seguiu em expedição para a Alemanha Meridional. O Imperador fugiu de rentes. Paulo IV esperava d e seu sobrinho enérgico apoio nas altas respon-
Innsbruck. O medo, diante dos soldados protestantes que se aproximavam, sabilidades de sua investidura, mas o sobrinho não era digno de tal con-
dispersou os Padres Conciliares em todas as direções. Por fim, na 16^ fiança. Por meio de vergonhosas extorsões, estabelecera verdadeiro regime
sessão, foi preciso diferir o Concílio por dois anos. De feito, porem, só de arbitrariedade. Quando alguém teve afinal coragem de informar o Papa,
recomeçou depois d e quase dez anos. este procedeu com rigor inexorável. Sem embargo, deposição e proscrição
Desta maneira, o Concílio ameaçava ficar reduzido a um torso. Várias n ã o puderam desfazer o agravo e o escândalo.
questões controversas continuavam ainda sem solução, os decretos d e refor- E m mãos de tal Secretário de Estado, os assuntos políticos estavam
m a não tinham sido confirmados, e muito menos executados n a vida coti- também mal orientados. P o r causa de sua prosápia napolitana, acrescia
diana da Igreja. Verdade é que, sendo os decretos reformatorios d o Concílio também a atitude hostil que o P a p a , p o r princípio, mantinha contra os
considerados com força de lei na Península Ibérica, R o m a preparava u m a
Habsburgos. Firmou u m a aliança com Henrique I I da França contra o
grande bula de reforma, que devia promulgar os decretos tridentinos, em
Imperador, e o nepote fazia abertamente os aprestos necessários.
parte modificados ou completados. A morte d o Papa, entretanto, impediu
a publicação dos mesmos. Filipe II, herdeiro d a Espanha e das possessões italianas de Carlos V ,
obtivera da Universidade de Lovaina u m laudo jurídico, pelo qual êle p o -
A próxima eleição papal evidenciou que a idéia d e reforma se tinha deria, sem quebra de suas obrigações como soberano católico, antecipar-se
consolidado na Cúria R o m a n a d e maneira definitiva. Os Cardeais elevaram a o ataque iminente pela abertura das hostilidades. E m seguida, deu ao seu
a mais digna personalidade entre as suas fileiras, o Cardeal Cervini, que chefe militar D u q u e de Alba a ordem d e invadir os Estados Pontifícios.
de m o d o particular se dinstinguira como L e g a d o Pontifício n a primeira A guerra correu desfavorável tanto p a r a as tropas pontifícias, como p a r a as
sessão do Concílio. forças aliadas francesas. A l b a surgiu às portas de R o m a . Ameaçava o p e -
A eleição desse sábio sacerdote, que trabalhara dia e noite n a elabora- rigo de u m novo saque d e R o m a , mas houve logo tratado de paz, n o qual
ção dos decretos, foi acolhida com as mais fagueiras esperanças. Marcelo II, o vencedor se mostrou muito comedido. O Papa teve que assumir o com-
porém, morreu vinte e dois dias depois. Seu nome conserva-se vivo até
promisso d e conservar-se neutro para o futuro, e pôde recuperar o terri-
hoje na "Missa papae Marcelli" ("Missa d o Papa M a r c e l o " ) , d e Pales-
trina. tório perdido. E m n o m e d o Rei da Espanha, o D u q u e d e Alba protestou
toda a submissão a o Papa.
Com u m a obstinação quase irredutível, o Papa comprometera-se n o pro-
17. P a p a P a u l o IV blema sucessório d o Imperador resignatário. A fim de salvaguardar os di-
reitos pontifícios, êle enviou seu legado a Francoforte. Este, porém, foi
N o conclave seguinte, contra a vontade dos cardeais favoráveis à excluído de qualquer participação n a eleição imperial.
Espanha e a o Imperador, foi eleito o cardeal d e c a n o Carafa, fidalgo napo- C o m o o novo Imperador assumira os compromissos d o T r a t a d o d e P a z
litano. Paulo IV ( 1 5 5 5 - 1 5 5 9 ) , conforme o nome que adotou, era também Religiosa de Augsburgo, considerado nulo pelo P a p a , e três Príncipes-Elei-
partidário d e u m a estrita Reforma. N a qualidade de bispo de Chieti, exe-
tores Protestantes tomaram parte em sua eleição, o Papa baseou-se n o
cutou-a sem nenhuma contemplação. Era notório como integrante do Ora-
parecer de u m a junta para declarar que era obrigado a n ã o reconhecer Fer-
tório do A m o r Divino, como u m dos fundadores da Ordem dos Teatinos,
n a n d o . Mas esse embargo pontifício não foi levado em maior consideração;
como membro da Comissão de Reforma n o pontificado d e Paulo I I I .
isto certamente aconteceu e m benefício da causa católica.
Êle tinha na eleição 79 anos de idade, mas dispunha ainda de inque- O alheamento a o m u n d o político contrastava com o zelo radical d o
brantável força de trabalho. A obstinação da velhice aliava-se a u m a von-
P a p a pela causa da Reforma da Igreja. D o Concílio, entretanto, Paulo I V
não queria saber cousa alguma; parecia-lhe muito moroso e pouco eficiente. ( 1 5 5 9 - 1 5 6 5 ) , um Medici de Milão, opusera reserva e frieza ao impetuoso
Êle queria reformar em pessoa. Segundo as normas daquele projeto de re- esforço reformador de Paulo IV.
forma, que teve sua colaboração, empreendeu na Cúria R o m a n a u m a luta E r a diplomata, personalidade jovial, contente d a vida, dotado de u m
sem quartel contra a "heresia simoníaca", designação comum que se dava a equilíbrio certamente saudável para a Igreja, depois dos extremos parcilia-
tais abusos e desordens. lismos que antes tinham dominado. Êle recuperou o contacto com os H a b s -
A competência da Inquisição foi notavelmente ampliada. A Dataria burgos, tanto na Alemanha como na Espanha, pois n ã o ignorava que jus-
Apostólica passou por radical reorganização, em detrimento das rendas tamente aquele soberano de sentimentos religiosos, governante da E s p a n h a
pontifícias. Promoveu-se a disciplina do Clero com severas disposições. Os e suas nações caudatárias, constituía o mais vigoroso esteio d a Igreja.
Capuchinhos estavam sob a ameaça de u m a fusão com os Franciscanos. Pio I V não queria saber absolutamente de nepotismo político. M a n d o u
C o m o fundação de origem espanhola, a Companhia de Jesus era conside- instaurar processo contra os nepotes de seu predecessor. Dois dos mesmos
rada com a máxima desconfiança pelo Papa. Cortaram-se os subsídios para foram executados. Sem embargo, êsse mesmo Papa também promoveu a dig-
os Colégios Romanos. Houve devassa na Casa de Professos em busca d e nidades eclesiásticas e a pingues benefícios parentes seus das famílias
armamentos. O Papa estava decidido a fazer u m a revisão da Regra e das Hohencms no Vorarlberga, e dos Borromeus em Milão.
Constituições da Companhia, na primeira oportunidade que se apresentasse. Logo depois de sua eleição, convocou a R o m a seu sobrinho Carlos
Depois da morte de Inácio, que êle alcunhava de "tirano da Ordem", deter- Borromeu, que tinha apenas vinte e um anos, elevou-o a Cardeal, e poucos
minou p a r a os Jesuítas a adoção d o Ofício coral, e a limitação d o mandato meses depois a arcebispo de Milão. Confiou-lhe a administração d o Estado
d o Geral, até então eleito como vitalício, e que o fosse pelos moldes d a
Pontifício e a direção da Diplomacia Pontifícia.
Ordem dos Teatinos.
Pela retidão d e sua personalidade, o jovem nepote acomodava-se aos
Rigorosa era a punição d a heresia. A o Papa, afigurava-se-lhe obri- sentimentos de seu tio, demasiadamente voltados p a r a a própria família.
gação de consciência assistir todas as semanas às sessões da Inquisição. A rápida morte do irmão mais velho, que não deixara filhos, induziu Carlos
Ela começou logo a tratar também de infrações morais, de blasfêmia, d e a receber ocultamente a ordenação sacerdotal, a fim de cortar qualquer
transgressões d o preceito de jejum, e muitas vezes dava ouvidos a suspeições esperança dos parentes, em que êle perpetuasse a linhagem.
sem nenhum fundamento. Seguiu-se à ordenação o início d e uma vida exemplar, cheia de zelo
Compreende-se, pois, que, após a m o r t e d e P a u l o IV, o p o v o , indig- religioso e da mais rigorosa ascese. N ã o lhe cabia, como "bom gênio de
nado contra o regime terrorista, assaltasse e demolisse o edifício da Inqui- Pio I V " ( R a n k e ) , o merecimento da continuação d o Concílio de Trento,
sição. pois esta era certamente um esforço pessoal d o P a p a ; mas que a decisão
Implacável era também a campanha d o Papa contra livros heréticos. d e se reabrir o Concílio fosse executada, e que o Concílio pudesse então
F o r a m queimados aos milhares. E m 1559, publicou-se um elenco de livros chegar a bom termo, devia-se totalmente à sua consciência em acatar as
heréticos, o primeiro "índice R o m a n o " em caráter oficial. Era t ã o rigo- normas d e seu tio, e à sua incansável atividade individual.
roso em suas cláusulas, que Canísio declarou a impossibilidade de sua ob- O novo começo era difícil. A interrupção d o Concílio tivera funestas
servância na Alemenha. Alguns anos mais tarde, foi ab-rogado. conseqüências. E m muitos países, surgiram novas situações. N a Alemanha,
À veemente campanha contra a heresia é que se deve a bula " C u m ex o luteranismo consolidara-se como força política, em virtude d o T r a t a d o
apostolatus officio". na qual o Papa renovava, em virtude dos plenos p o - de P a z Religiosa d e Augsburgo. N a Polônia, um Sínodo Nacional fora
deres q u e lhe competiam sobre povos e nações, todas as penalidades muito a o encontro dos novos crentes. N a Inglaterra, Isabel I mudara e m
contra clérigos e leigos, príncipes e vassalos, que tivessem apostatado da fé; sentido contrário a obra d e recatolização de sua meia-irmã Maria. N a
declarava nulas as eleições de renegados, e privava-os pessoalmente de França, diante dos constantes avanços do calvinismo, diante da precarie-
todas as suas dignidades, direitos e possessões. Seus domínios territoriais e dade da situação interna, pensava-se n u m Concílio Nacional como solução
dioceses deveriam caber aos primeiros que deles se apoderassem. autônoma da questão religiosa. O Imperador desejava u m Concílio unio-
Tais declarações faziam os católicos passar como suspeitos de alta nista noutro lugar diferente, onde fosse possível trabalhar de algum modo,
traição cm países protestantes, muito embora elas, geralmente, não sortis- sem ligação com os decretos conciliares até então formulados. A F r a n ç a
sem nenhum efeito prático. também não queria ligação com os decretos anteriores, e gostaria de conse-
guir a declaração de que o Concílio ficava acima d o Papa. Filipe II, porém,
n ã o exigia nenhum outro Concílio, mas o prosseguimento do antigo c a
18. Reabertura, Crise, Encerramento do Concílio manutenção de todos os decretos até então promulgados.

Só quatro meses depois de sua morte, Paulo IV, esse trágico zelante, Afinal, o Concílio foi novamente convocado p a r a Trento; se c o m o
teve sucessão na noite de Natal d e 1559, tão fortes eram os contrastes continuação d o Concílio suspenso, se como novo começo, é ponto que a
partidários nacionais dentro d o Colégio Cardinalício. O novo P a p a Pio I V bula não declarava com nitidez.
Se as negociações sobre o dever d e residência c o libelo reformatório
T e r alcançado o consentimento de F e r n a n d o é mérito exclusivo d e
já tinham inflamado os ânimos, a tensão subiu de ponto, quando final-
Hósio, bispo de Vármia, mais tarde cardeal. A s negociações com a França,
mente chegaram a Trento uns doze prelados franceses, sob a chefia de
Carlos Borromeu as dirigiu com tino singular. O abnegado bispo Commen-
Carlos d e Guise, o facundo "Cardeal de Lorena". Os recém-chegados de-
done foi que entregou o convite aos Estados ( " S t ä n d e " ) da Dieta G e r m â -
fenderam, logo, a teoria episcopalista na questão de residência, e, o que
nica. N o congresso dos Príncipes em Naumburgo, os protestantes recusaram,
era mais perigoso, os decretos de Constança sobre a supremacia d o Concí-
em termos ríspidos, o convite e a bula de convocação.
lio acima d o P a p a . N a questão d a reforma, eles apoiavam postulados que
L o n g o tempo após o prazo marcado, o Concílio pôde ser reaberto se aproximavam dos imperiais. Conseguiram levar F e r n a n d o a escrever
solenemente em janeiro d e 1562. Seguir-se-iam ainda outras oito sessões, u m a carta ao Papa, na qual o Imperador intimava o Papa a não se opor a
desde a reabertura, até que o Concílio pudesse chegar a feliz remate n o dia u m a reforma conciliarista. Igual medida esperava-se também de Filipe II.
4 d e dezembro d e 1 5 6 3 . A direção d o Concílio estava em mãos d e u m a Quando então o Imperador chegou a fixar residência em Innsbruck,
Comissão de Legados, composta de cinco membros, entre os quais se para vizinhar melhor com o Concílio, c convocou à sua Corte uma junta d e
distinguiam Seripando e Hósio pela sua erudição c habilidade, enquanto teólogos que discutisse os assuntos da reforma; q u a n d o o Cardeal de Lo-
Gonzaga, pela sua condição principesca, se impunha ao respeito das rena c o Legado Espanhol tomaram parte nos debates de Innsbruck; q u a n d o
várias nações. E n t r e os 113 bispos presentes n a sessão de abertura, não por desgraça os dois mais eminentes Legados Conciliares Gonzaga e Seri-
havia nenhum alemão, tão medrosos se empenhavam os príncipes da Igreja p a n d o morreram, um depois do outro, o Concílio cm Trento parecia per-
d a Alemanha em não lesar o Tratado d e P a z Religiosa d e Augsburgo pela der sua razão de ser e toda sua eficiência, por causa d a espécie de Concílio
frequentação d o Concílio. Lateral que funcionava em Innsbruck.
Nos debates, tomou-se como primeiro assunto a obrigação de residên- Todavia, o Papa e seus assessores romanos, sobretudo Borromeu, re-
cia para os bispos, problema já encarado em 1547. Logo se desencadeou conheceram o perigo. E r a absolutamente necessário u m entendimento c o m
acirrada disputa entre os partidários d o sistema episcopal e os d o sistema o Imperador. Por isso, Pio IV nomeou então presidente d o Concílio seu
papal. O s bispos espanhóis, precipuamente, e também parte dos bispos ita- melhor diplomata, o Cardeal Moronc, experimentado em reveses da sorte.
lianos propugnavam a opinião de que os bispos recebiam seu poder d o pró- Morone viajou para Innsbruck, e convenceu o Imperador da sincera inten-
prio Cristo, e que o dever de residência era também de direito divino, e ção que o Papa tinha de proceder às reformas. Conquistou Guise p a r a u m
p o r conseguinte não comportava dispensas pontifícias, devendo pois reco- compromisso, e reconciliou Filipe II por meio de u m autógrafo, em que o
lher-se às suas respectivas dioceses os muitos bispos da Cúria, a começar P a p a assegurava suas intenções. A grande crise estava superada. E n t ã o ,
pelos cardeais. Os curialistas viam em tais teses u m a investida contra conforme o desejava antes de tudo Carlos Borromeu, receoso de que seu tio
os direitos primaciais do Papa. Após muitos meses de debates, o Papa morresse intempestivamente, o Concílio podia liquidar de u m a arrancada
proibiu ulteriores discussões sobre o assunto, e pensou na revocação de os problemas restantes, e levar a bom termo seus trabalhos.
Gonzaga c Seripando. A reunião imediata destinava-se à discussão sobre o Sacramento d a
E n t ã o começaram novamente as dissertações teológicas. Elaboraram-se Ordem. E m oposição às opiniões protestantes, êle foi apresentado cm ínti-
os artigos, anteriormente diferidos, sobre a C o m u n h ã o das crianças e a Co- ma conexão com o Sacrifício da Missa. N o decreto sobre o dever de resi-
m u n h ã o em ambas as espécies. Seguiu-se, depois, o decreto sobre o Sa- dência, mais rigoroso, cm comparação com os esquemas anteriores, excluiu-
crifício da Missa, que ensina a Missa como comemoração e presencializa- se o ponto controverso quanto à instituição por direito divino ou por direito
ção d o Sacrifício de Cristo n a Cruz, com o mesmo sacerdote sacrificante e eclesiástico.
com o mesmo dom de sacrifício, distintos entre si apenas pela maneira d o O assim c h a m a d o decreto sobre os Seminários exigia a fundação de
oferecimento. seminários, por parte de todos os bispos, com a finalidade de preparar p a r a
N o meio das dissertações dogmáticas, o Legado Imperial apresentou a cura de almas um clero numericamente suficiente e bem aparelhado.
ao Concílio u m libelo reformatório de seu soberano, que insistia n o debate Neste decreto foram inseridas, quase que textualmente, as normas que cons-
d a Reforma, com prioridade a outros mais debates de caráter teológico. tavam nas Constituições de Pole para a Inglaterra em 1555, e que já eram
Continha o libelo u m a série de sugestões e postulações para a correção da executadas com êxito nos Colégios dos Jesuítas em R o m a . A responsabili-
Igreja na cabeça e nos membros, entre outras também a exigência de que dade pela futura geração dos sacerdotes fazia parte novamente das mais
se concedessem o uso d o cálice para os leigos e o matrimônio p a r a os sa- imperiosas obrigações dos bispos. Só dessa maneira foi possível remover a
cerdotes, a fim d e que tais concessões impedissem maiores progressos da obstrução a qualquer reforma nas dioceses, que consistia na carência d e
Reforma. A postulação do cálice para os leigos contava com o apoio da sacerdotes zelosos, instruídos, dotados de alto padrão moral.
Baviera. Os Legados sempre conseguiram que essas reivindicações fossem A s reuniões seguintes produziram decretos dogmáticos sobre o Sacra-
desaforadas à deliberação d o Papa. m e n t o d o Matrimônio e determinações canónicas fundamentais sobre a
contração de matrimônio. Pelo decreto " T a m e t s i " ficou, antes de tudo,
declarado nulo e sem valor o matrimônio clandestino. Isto estancou u m a
fonte d e muitas incertezas jurídicas, e subordinou clara e distintamente o
matrimônio, como Sacramento, à jurisdição da Igreja. N a sessão final,
aprovaram-se decretos dogmáticos, relativos à doutrina d o purgatório, d o
culto aos Santos, e das indulgências. E r a de estranhar que este último ponto
dogmático, p o n t o inicial d e t o d a a dissidência, fosse apenas t r a t a d o muito
de passagem.
De parceria, tratavam-se os problemas d e reforma. Com sua habili-
dade, soube Morone, num esquema próprio e amplo, captar as várias aspi-
rações d e caráter nacional, e, mediante a proposta de u m a reforma dos
príncipes através d o Concílio, reduzir o interesse dos mesmos p o r u m desen-
volvimento exorbitante dos problemas de reforma. Ainda que a reforma da
Cúria R o m a n a fosse reservada a o P a p a pessoalmente, o esquema de refor-
mas d o Legado encerrava todavia amplo programa que, após sólidas deli-
berações, foi também promulgado nos decretos das duas últimas reuniões.
D e acordo com elas, deviam realizar-se d e três em três anos sínodos pro-
vinciais; todos os anos, sínodos diocesanos; os bispos deviam visitar regu-
larmente suas dioceses; os Cabidos das Catedrais deviam passar por u m a
reforma; deviam desaparecer abusos multisseculares, na provisão d e cargos,
cumulação de benefícios, pretensões, provimentos e reservações.
Outros dispositivos se referiam ao ministério d a pregação e à instrução
religiosa d o povo. C o m razão se viu a promoção da cura de almas como
motivo primordial dessas determinações. U m decreto reformatório próprio
" D e regularibus" ("Sobre os Religiosos") se ocupava dos conventos e das
Ordens Religiosas. Proibiu-se a propriedade individual dos religiosos, regu-
lou-se a visita canónica dos conventos, aboliu-se o sistema d e comendas,
estabeleceu-se u m a idade mínima para a admissão n o convento, e outras
determinações desse gênero.
No segundo dia da última sessão, aos 4 d e dezembro de 1 5 6 3 , leram-se
todas as decisões do Concílio desde 1546, todo o texto ou seus começos,
que foram aprovados pelos Padres Conciliares, e, p o r unanimidade, com
exceção de u m voto, apresentados à aprovação do Sumo Pontífice. Refor-
mas que ficaram sem solução foram submetidas diretamente ao beneplácito
da Santa Sé. A posição d o Papa acima d o Concílio foi assim solenemente
reconhecida p o r todos os participantes, por n a d a menos que 2 5 5 Padres
Conciliares.
Com as aclamações, proferidas pelo Cardeal de Lorena, ao Papa e aos
Príncipes, com o anátema contra todos os hereges, e com o voto d e Morone
"Ide em paz!", encerrou-se o Concílio. Algumas semanas mais tarde, aos
2 6 de janeiro de 1564, Pio I V sancionou os decretos conciliares.
ITALIA NO SÉCULO XV
19. Importância d o Tridentino

O trabalho desproporcionalmente prolongado d o Concílio, várias vezes


interrompido, ameaçado p o r tantas dificuldades e crises, n ã o alcançou cer-
tamente a grande finalidade, que de início se apresentava como primordial,
Concílio, mas todas as decisões conciliares foram d e fato submetidas à
a restauração da unidade religiosa. A este esforço do Concílio não quis
aprovação d o Papa.
corresponder a parte contrária. O Ocidente Cristão continuou confessional-
N ã o se verificou o temido enfraquecimento d a posição primacial d o
mente dividido. Sim, essa divisão tornou-se mais profunda, pela clara defi-
Papa com o novo despertar d o conciliarismo, praticamente excluído pelo
nição das doutrinas controvertidas.
programa e evolução d o Concílio. Fator historicamente decisivo foi de que
Mas justamente por esses enunciados unívocos, que definiam a subs- a Igreja, em todas as circunstâncias, manteve sua coesão monárquica n a
tância dogmática e não teorias teológicas de escolas, a fé católica, se assim luta contra o vitorioso avanço d o protestantismo _e contra a consolidação
podemos dizer, foi salva e ficou explicitada nos pontos mais decisivos e das Igrejas Territoriais Católicas ("katholische Landeskirchen"). Além d o
mais impugnados. O Concílio "delimitou, mas não separou, onde ainda mais, acresceu o fortalecimento, senão jurídico, pelo menos efetivo, do
23
não existisse s e p a r a ç ã o " . poder episcopal contra as antigas restrições, e a espiritualização d o ministé-
A demarcação, contudo, não se fizera em todas as direções. Assim rio eclesiástico em geral, o que caracteriza o Direito Canónico d o "período
continuou objeto livre p a r a discussões o problema do primado papal. A s pós-tridentino".
próprias formulações agudíssimas dos decretos n ã o significavam u m a for- Os decretos reformatórios d o Concílio pareciam muitas vezes bastante
mulação racionalista, u m a "frigidissima disputatio" ("uma gélida discus- desconexos entre si. Sua execução só se processou aos poucos, depois de
são") da escolástica degenerada. superadas muitas dificuldades. Contudo, eles deixavam entrever que havia
Sua linguagem queria ser e permanecer u m a linguagem piodosa, que firme resolução d e se eliminarem os muitos abusos, que aliás ninguém negava
tem em vista não só o fulgor da verdade, mas também a santidade da vida ou coonestava, e também de revalorizar os antigos ideais cristãos.
cristã. C o m o fruto de sóbria, honesta, c profunda reflexão que a Igreja fizera E m muitos setores, elaborou-se até vasto programa que constituía uma
sobre si mesma, a cristandade recebeu os decretos doutrinários d o Concílio base sólida para a renovação religiosa e moral do clero e d o povo. N ã o ,
numa linguagem muitas vezes verdadeiramente clássica. porém, que os vários pontos só tivessem reconhecimento n o âmbito do Con-
cílio. Muitas dessas reformas já tinham sido planejadas, aqui e ali, sem estí-
Não, porém, como se dissesse a última palavra para todos os tempos
mulo da Igreja Oficial, e executadas cm alguns lugares. Haja vista às novas
(pois novos pontos de vista sempre despertam também novos problemas
Congregações, ou aos Sínodos Diocesanos organizados em Verona por
cm "questões já resolvidas", e uma base ecumênica mais ampla cria igual- Giberti, que encarnava a figura ideal do bisco zeloso das almas, cuidadoso
mente a possibilidade d e complementar soluções e n c o n t r a d a s ) , mas a Igreja d e seus sacerdotes e de seu povo.
testemunhou e defendeu claramente sua posse da verdade contra os mortais
ataques daquela época. O Concílio, entanto, assumiu oficialmente as várias iniciativas parti-
culares de reforma, e promulgou-as como leis para a Igreja Universal. Então,
Mas, também, pelo teor objetivo das várias proposições elaboradas, a
apresentaram-se em caráter oficial, aos prelados mundanizados, as antigas
obra dogmática d o Concílio nunca será p o r demais encarecida. P a r a vida normas para uma vida simples e morigerada. Então, recusou-se permitir o
moral d o indivíduo era d e muito alcance que, n a elucidação d a doutrina matrimônio de sacerdotes, contra toda a insistência de Fernando, que ten-
sobre a justificação, não se declarasse a vontade h u m a n a totalmente privada cionava salvar clérigos transviados.
de liberdade, nem se apresentasse a justificação exclusivamente c o m o graça.
Pela prescrição de incardinar-se, p a r a o clero encarregado de cura dc
Nela, porém, a graça recebeu c conservou seu valor e dignidade como graça
almas, ficou então suprimido o "clericus vagus" ("clérigo sem encargos"),
preveniente e graça santificante, pela qual o homem sai de sua passividade e
e os fiéis foram beneficiados com pastores que tinham morada fixa entre
se põe em condições de praticar boas obras. eles, e que ficavam a p a r de seus problemas e necessidades.
Quando na doutrina sobre o pecado original se rejeitou a opinião de A o povo, foi-lhe apresentado novamente o protótipo da vida cristã.
que o pecado original consiste na inclinação para o mal, evitou-se assim T o d o o povo percebeu que era tempo de cair em si e reformar-se a si
u m a condenação geral das inclinações e paixões d o coração h u m a n o , que mesmo. Com isso, os elementos responsáveis, clérigos e leigos, que se sen-
segundo o calvinismo deviam ser exterminadas. Natureza n ã o é, pura e tiam cada vez mais pessimistas quanto a o futuro d a Igreja, recuperaram u m
simplesmente, pecado. Podem aproveitar-se também os afetos p a r a ideais salutar otimismo, íntima confiança em si mesmos, ânimo dc opor-se a ulte-
morais na ordem social. Nessa visão está a raiz da grande realização cul- riores investidas da Reforma, e vontade de trabalhar pela recuperação.
tural d o barroco. A conquista do Universo, como a tentou a cultura bar-
roca, só se tornou dogmaticamente possível pela doutrina católica sobre o
pecado original.
A constituição monárquica da Igreja também recebeu u m fortaleci-
mento por parte d o Concílio. Verdade é que, na questão d o dever d e resi-
dência, não se chegou a u m a decisão entre episcopalismo e papalismo. A
supremacia da Cátedra R o m a n a não foi expressamente formulada pelo
P a r a afiançar a pureza d a fé, prescreveu, segundo as exigências d o
Concílio e com utilização de fórmula por êle mesmo elaborada, que recitas-
sem a "Professio fidei Tridentina" ("Profissão d e fé segundo o Triden-
tino") todos aqueles que assumiam algum cargo eclesiástico.
CAPÍTULO V O P a p a ocupou-se, energicamente, c o m a reforma d a Cúria R o m a n a .
Os Tribunais Pontifícios e a Câmara Apostólica foram reestruturados. Re-
vogaram-se muitos privilégios de toda categoria, que estavam em contra-
dição com os decretos conciliares. Reduziu-se, antes d e tudo, a Corte P o n -
NO ESPÍRITO DO TRIDENTINO: tifícia com a dispensa de mais de quatrocentos cortesãos sem nenhuma ati-
REFORMA INTERNA DA IGREJA vidade. Reorganizou-se o culto divino nas igrejas titulares dos cardeais.
E ATIVO CONTRA-ATAQUE (CONTRA-REFORMA) Confiou-se aos Jesuítas a visita canónica das paróquias romanas. F u n -
dou-se um Seminário Tridentino p a r a a própria cidade de Roma. O Colégio
R o m a n o , fundado ainda por Inácio, teve substancioso apoio d o Papa em sua
O Tridentino plasmou a nova fisionomia d a Igreja nos séculos sub- difícil fase inicial. Adveio também o exemplo pessoal do Secretário de Esta-
seqüentes. N ã o automáticamente, por assim dizer, mas pela razão de que d o Carlos Borromeu, que fazia restrições e m seu trem doméstico, e se exercia
suas leis e prescrições realmente se tornaram a base das tarefas concretas como pregador em sua igreja titular. Por muita insistência, alcançou afinal
cotidianas n a vida da Igreja. que o tio lhe permitisse regressar à sua diocese de Milão e ali observar a r e -
E m contraste com as intermitencias d o plano de reforma da Curia R o - sidência exigido pelo Tridentino, e executar as decisões conciliares.
mana nas décadas anteriores ao Concílio, o P a p a d o n ã o só aprovou imedia- Durante dezenove anos, até sua morte precoce ( 1 5 8 4 ) , êle deu aos
tamente, sem cortes, todo o programa d o Concílio, mas também com rara bispos sufragáneos o exemplo de como viverem os decretos tridentinos so-
persistência considerou como a mais importante d e suas obrigações obser- bre a dignidade e as atribuições d o episcopado. P a r a esse fim, organizou os
var todos esses decretos na própria Cúria R o m a n a , e fazê-los observar primeiros Seminários Tridentinos em Milão, entre outros o Colégio Helvé-
pelo m u n d o afora. tico em benefício da Suíça, cuja visita apostólica lhe era oficialmente con-
Desta forma, na metade d o século seguinte, a Cúria R o m a n a torna-se fiada.
a o mesmo tempo objeto e instrumento d e reforma. Com esse esforço n ã o Celebrou n a d a menos d o que seis sínodos provinciais e onze dioce-
fingido, o P a p a d o recuperou o prestígio, que vinha perdendo p o n t o por sanos. Percorreu p o r três vezes a própria diocese em visita canónica, e
ponto, desde os fins d a Idade Média. muitas outras também as dioceses vizinhas, de lugar em lugar, galgando
Acresceu, ainda, a feliz circunstância d e que a Cúria R o m a n a não com varejões e ganchos, por sendas perigosas, as mais alcandoradas aldeias
só podia, nas dioceses fora de R o m a , dispor d e novas Ordens Religiosas dos Alpes.
com forças auxiliares de própria manutenção, mas também encontrava, nos P a r a renovação da vida religiosa da diocese, formou, dentro da Con-
vários prelados, homens que viviam exemplarmente o novo ideal de bispos, gregação d e Sacerdotes Seculares Oblatos, elementos auxiliares, competentes
e reformavam suas dioceses segundo o novo espírito. e totalmente dedicados a o seu Cardeal. Confiou-lhes a direção dos Seminá-
rios, das Missões Populares, e até de paróquias mais difíceis.
N ã o faltaram, contudo, as oposições. Êle teve atritos com o Governo
1. Pio IV e Carlos Borromeu Espanhol p o r causa d o Tribunal Eclesiástico e d o direito de asilo. U m
m e m b r o d a decadente Ordem dos Humiliatas praticou até u m atentado con-
Nos dois anos que ainda sobreviveu a o encerramento d o Concílio, Pio tra êle, o que teve então por conseqüência a supressão da Ordem. Inolvi-
I V procurou com sincero esforço dedicar-se à execução das decisões con- dável ficou sua heróica caridade para com os que em 1576 foram atingidos
ciliares. C o m o centro de orientação, com o fim de eliminar dúvidas d e inter- pela peste em Milão. Visitou-os durante dez meses, consolou-os e promo-
pretação, êle instituiu u m a junta cardinalícia, da qual evolveu a importante veu-os com seus próprios recursos, de sorte que à beira de sua sepultura
Congregação d o Concílio, que subsiste até nossos dias. se pôde dizer que da riqueza de sua casa não possuía mais d o que o patri-
Dentre as tarefas n ã o concluídas, adjudicadas à decisão da Santa Sé, m ô n i o d e um cão ordinário: p ã o , água, e m o n t ã o de palha.
êle empreendeu em primeiro lugar a correção d o " í n d i c e " ( " I n d e x " ) , Conseguir a aceitação e a execução das decisões conciliares fora dos
Elenco dos Livros Proibidos. Mitigou o draconiano Índice de Paulo IV. Estados Pontifícios era tarefa que P i o I V se via obrigado a deixar em
Previu a liberação de obras que fossem retificadas. À s listas de livros acres- grande parte a seus sucessores. N a verdade, os decretos foram aceitos, sem
centou normas gerais de apreciação. Por mais de três séculos permaneceu restrições, pelo Imperador Fernando, pelos Príncipes da Itália, pela Sabóia,
em vigor essa regulamentação d e Pio TV. pela Polônia e por Portugal. Filipe I I e os Países-Baixos só os aceitaram
com a cláusula: "sem prejuízo dos direitos régios".
Varias Ordens Mendicantes já tinham em 1564, por ocasião de seus unitários. Assim começaram as primeiras manifestações d o centralismo
Capítulos Gerais, acomodado seu direito particular às prescrições d o Tri- curial que, em contraste com a Igreja anterior à Reforma, se tornou u m
dentino. signo da nova era pós-tridentina.
A França, sacudida pelas Guerras dos Huguenotes, aceitou as decisões E m 1566, saiu primeiro o Catecismo Romano, ideado como manual
doutrinárias do Concílio, mas recusou a promulgação dos decretos refor- p a r a as atividades homilética e catequética d o clero paroquial. Foi elabo-
matorios, por razões de Estado. Este foram, sim, publicados aos poucos por rado por doutos teólogos dominicanos, redigido em latim clássico. P o r de-
alguns sínodos provinciais; mas, não obstante toda a insistência dos núncios terminação d o Papa, teve logo sua tradução em várias línguas euro-
apostólicos, só tiveram força de lei a partir d e 1615, por causa da resis- péias . *
tência d o Parlamento.
Dois anos mais tarde, apareceu o Breviário R o m a n o . E m comparação
N a Alemanha, onde o primeiro mensageiro pontifício fora tocaiado e com os trechos sobre a vida dos Santos, deu lugar mais amplo à leitura
despojado dos documentos, Pedro Canísio difundiu a edição oficial dos bíblica, inseriu muitos Santos Padres Gregos no Santoral; mas, c o m o era
decretos. N o inverno de 1565-1566, êle visitou nada menos d o que vinte natural, conservou ainda muita cousa apócrifa, não obstante os sérios esfor-
e nove cidades, antes que por incumbência d o recém-eleito P a p a Pio V se ços d e u m a comissão d e entendidos.
dirigisse, como assessor teológico d o Legado Pontifício, à Dieta de Augs-
burgo, onde os Estados ("Stände") católicos, junto com o novo Imperador E m 1570, pôde ser editado o Missal Romano. N o governo dos papas
Maximiliano II, se submeteram às decisões tridentinas, referentes a o dogma posteriores, seguiram-se ainda o novo Pontifical ( 1 5 9 6 ) , o Cerimonial dos
e ao culto. D o Imperador, intimamente propenso ao protestantismo, que Bispos ( 1 6 0 0 ) , e finalmente o Ritual R o m a n o ( 1 6 1 4 ) . N ã o devia êste
postulara d o Papa o uso d o cálice para leigos e o casamento p a r a sacer- último substituir os livros diocesanos existentes, a o contrário d o que e m
dotes, que outorgara a Confissão de Augsburgo aos Estados ("Stände") 1568, respectivamente e m 1570, s e determinara q u a n t o à supressão d c to-
da Áustria, não foi possível alcançar que apeitasse os decretos de reforma. dos os outros breviários e missais, cujo uso não ultrapassasse mais de du-
zentos anos.
E m contraste com a França, o zelo excessivo de bispos, núncios apos-
2. Papas Reformadores: Pio V tólicos e jesuítas destruiu muito patrimônio da antiga liturgia na Alemanha,
onde por volta de 1600 foram impressos o textos romanos. Apesar das
Com o Papa dominicano Pio V ( 1 5 6 6 - 1 5 7 2 ) , antigo Inquisidor-Mor, 1
correções de U r b a n o V I I I , e das reformas de Pio X e João X X I I I .
apelidado "Rei T a m a n c o " por causa de sua vida simples, o patrimônio d o eles se conservaram, nas linhas essenciais, como moldes básicos p a r a o
Concílio estava colocado em boas mãos. Durante seu governo, mais d o que culto e a oração da Igreja, como poderosas cintas de unidade e homogenei-
n o tempo d e seu predecessor, o P a p a d o tornou-se, no sentido próprio da pa-
dade em redor d o orbe católico.
lavra, promotor e responsável pela Reforma Católica, pela renovação da
vida eclesial, pela Contra-Reforma (se fôr lícito usar esta terminologia lan- Sob o governo de Pio V , iniciaram-se os trabalhos preliminares para
çada na Alemanha, mas rejeitada muitas vezes em países r o m â n i c o s ) , pela a edição da Vulgata já encetada pelo Concílio. Pela criação d e cardeais
animosa recuperação de baluartes perdidos, de reinos e nações p a r a a Igre- dignos e competentes, o Papa fêz com que na própria Cúria R o m a n a
ja, ainda que nesse afã êle n ã o desdenhasse lançar m ã o também de recursos perdurasse o novo espírito também depois d e sua morte. Procurou supri-
políticos e até militares, em aliança com príncipes católicos. mir a venalidade de muitos cargos junto às autoridades eclesiásticas. Sub-
Pio V, naturalmente, n ã o queria saber de guerra e de soldados, meteu a Penitenciaria Apostólica a u m a transformação total, n o sentido
n ã o ligava também muita importância à habilidade dos diplomatas. O que d e que sua alçada se limitasse exclusivamente a o foro interno. O P a p a rea-
êle procurava era unicamente a salvação das almas. C o m o meios exclusi- lizou pessoalmente a visita canónica das Basílicas Patriarcais de R o m a , c
vos para tal fim, êle só levava e m conta u m a vida santa e exemplar, e u m a para a reforma do Clero R o m a n o instituiu uma Comissão dc Cardeais.
adequada disciplina nos Estados Pontifícios. O antigo Inquisidor empenhava-se, com zelo ardente, pela conser-
O comentário do Embaixador de Veneza de que Pio V transformara vação e defesa da fé. A Inquisição, a cujas reuniões Pio V assistia pessoal-
R o m a em mosteiro é indubitavelmente exagerado, mas caracteriza a meta- mente, devia reprimir com rigorosas sanções as heresias que se insinuavam
morfose da Cidade Eterna, onde se puniam de forma draconiana a profa- na Itália ocultamente. Entre as sentenças capitais daquela época, a mais
nação d o domingo, a blasfêmia, o adultério, e delitos congêneres, c se notória é a que se lavrou contra Carnesecchi, antigo secretário particular
continha com a maior energia possível a imoralidade pública. de Clemente VII. O Humanista, natural de Florença, que se correspondia
E m execução das tarefas, que o Concílio cometera expressamente a o com Ochino c Valdes, tinha sido desde 1546 citado muitas vezes perante a
Sumo Pontífice, e ao mesmo t e m p o com a aspiração dc eliminar a enorme Inquisição. Uma carta comprometedora n o espólio da Condessa Júlia G o n -
variedade, para n ã o dizer barafunda, que se estadeava em matéria litúrgica zaga, falecida em 1566, ocasionou nova intimação. Visto que Carnesecchi,
pelo mundo inteiro, o Papa empenhou-se pela edição de livros litúrgicos após alguma hesitação, acabasse por não se retratar, foi executado c o m o
herege em 1567. Com êle, desapareceu d o solo italiano o evangelismo exigira também a luta contra os hereges, mas só com meios lícitos e de-
sassombrados.
lutérico.
Pelo seu apoio à Coroa Francesa n a Guerra dos Huguenotes, o P a p a E m nossa época que discute, tão apaixonadamente, o direito d e
procurou precaver-se contra o perigo de que os Huguenotes poderiam in- resistir contra a autoridade, não se poderá julgar com rigor excessivo o
vadir a Itália. P o r esse motivo, procedeu também contra alguns bispos fran- apoio moral que Gregório prestou às conspirações contra Isabel I da
ceses, incursos em processos de heresia. Inglaterra, em face da cruel perseguição dos católicos naquele país. Natu-
N o espírito d e Paulo IV, reforçou os dispositivos d a bula, lida p o r ralmente, seria mais grandioso que, n o ardor febril das lutas religiosas, o
via de regra na Quinta-Feira Santa, a "Bula da Ceia d o Senhor", que con- P a p a d o se tivesse conservado num nível acima de discussões correntes.
tinha u m a resenha das sentenças punitivas e excomungatórias, cuja absol- Antigo professor em Bolonha, êle considerava também a promoção das
vição ficava reservada a o S u m o Pontífice; declarou que a validade d e tais ciências como meio de ampliar a influência da Igreja. Acrescia, ainda, a
determinações não dependia da leitura anual d a bula, leitura muitas vezes consciência de que a formação de um clero bem instruído constituía u m p r o -
embargada na Espanha e em Veneza. blema vital p a r a a Igreja. Por isso, êle mandou ultimar a revisão dos có-
Com relação a Isabel I, rainha da Inglaterra, o Papa n ã o se deixou le- dices de direito canónico, já encetada p o r Pio V , e editá-la sob o título de
var por nenhuma atenção e motivação política. E m 1570, após um processo "Corpus Iuris Canonici" ("Coletânea d o Direito C a n ó n i c o " ) , então usado
extremamente sumário, lançou contra ela, c o m o herege e promotora d e pela primeira vez em caráter oficial.
heresia, a pena de excomunhão e de destituição d o trono, pela bula "Reg- Desde logo reconheceu o alcance d o redescobrimento das Catacumbas,
n a n s in excelsis", última sentença d e destituição q u e a Cúria R o m a n a la- naquela época, p a r a os debates científicos com os historiadores protestan-
vrou contra um soberano reinante, mas que na prática n ã o surtiu, natu- tes.
ralmente, efeito algum. Erros de forma fizeram também com que muitos M a s o nome de Gregório ficou inesquecível, sobretudo pela execução
católicos ingleses, torturados por graves conflitos d e consciência, pusessem da reforma do Calendário Juliano, entregue pelo Concílio aos cuidados d a
em dúvida o valor jurídico da sentença pontifícia. Durante séculos, a lem- Cúria Romana. E m conseqüência d o cálculo inexato d o ano por esse ca-
brança da bula oferecia à opinião pública inglesa vigoroso pretexto p a r a lendário, a diferença entre o tempo natural e o tempo calendarístico chegara
apaixonada campanha contra o p a p a d o . gradualmente a dez dias. Para deliberar acerca da emenda, Gregório con-
A ação d o P a p a contra os Turcos, d a qual falaremos mais adiante, vocou u m a Comissão sob a presidência d o erudito Cardeal Sirleto. Cola-
tem sua explicação natural n o zelo pela fé d o Papa, virtuoso, sim, mas n ã o borava nessa Comissão, entre outros, o jesuíta alemão Clavio, natural d e
raras vezes excessivamente rigoroso. Bamberga. Pediu-se o parecer de inúmeras Universidades e Príncipes cris-
tãos. Então, a bula pontifícia de 2 4 de fevereiro de 1582 determinou que,
p a r a retificação da diferença, ao dia 4 d e outubro de 1582 devia seguir
3. Gregório XIII imediatamente o dia 15 de outubro, e que futuramente deviam omitir-se
três dias bissextos, no espaço de quatrocentos anos.
A possibilidde de promover a Reforma sem tal rigorismo manifes- A s Nações Católicas aceitaram logo a reforma, e as adaptações pro-
tou-se n o pontificado de seu sucessor Gregório X I I I ( 1 5 7 2 - 1 5 8 5 ) . Ante- cessaram-se em grande parte durante o ano de 1583. D e outro lado, os
riormente famoso jurista, depois por dezenas de anos servidor da Cúria protestantes e as Igrejas ortodoxas continuaram com a " m o d a antiga".
R o m a n a , na juventude não de todo afastado d o jovialismo d o Renasci- P o r recearem que o Papa quisesse dessa forma "meter u m p é dentro d a
mento, eleito aos setenta e um anos de idade, êle representava u m P a p a Igreja deles" (assim se comentou em Augsburgo), n ã o quiseram por mes-
meigo, digno, irrepreensível, que tomara o predecessor como modelo, unin- quinharia confessional reconhecer o que havia de grande nesse feito cultu-
d o a promoção da reforma interna da Igreja também com a renovação das ral. Finalmente, decorridos quase duzentos anos, a Dieta Germânica de
ciências. 1775 adotou todo o Calendário Gregoriano por ato de própria competência.
Foi, entretanto, a Revolução Bolchevista que lhe preparou a penetração n a
Naturalmente, em algumas medidas relativas à Contra-Reforma pro- Rússia; e m 1923, as Igrejas Orientais prontificaram-se a adotar u m calen-
priamente dita, êle n ã o estava bem informado, ou estava mal assessorado. dário retificado, que de fato se identificava com o gregoriano.
Tal aconteceu, sobretudo, no culto de ação de graças e noutras manifesta-
ções de júbilo, que êle mandou promover, q u a n d o chegara a R o m a a n o - De m o d o imediato, Gregório promoveu a Reforma pela fundação e
tícia da Noite de São Bartolomeu. patrocinação de numerosos Colégios, entregando-os à direção da Compa-
Ainda que comprovadamente nada soubesse dos planos de Catarina, o nhia d e Jesus, devidamente aparelhada p a r a tal atividade. D o Colégio R o -
Papa, pela sua atitude depois d a matança, mostrou-se tolhido pela m e n - m a n o , fundado por Inácio, dotado por Júlio I I I com as cadeiras de filo-
talidade coletiva então dominante, que contra o inimigo da própria religião sofia e teologia, Gregório se tornou segundo fundador, por causa d e suas
dava mais ou menos tudo por permitido, em contraste com Pio V que ricas dotações e novas e amplas construções. Esse Seminário ostenta hoje
seu nome, como Universidade Gregoriana, destinada a receber todas as te receberam de acréscimo novas tarefas de caráter especificamente eclesiás-
nações. tico-religioso. Pela participação nas eleições para bispos, pelas visitas canó-
Seu interesse pela união com as Igrejas Orientais êle o comprovou n a nicas, pelo exercício d c sua jurisdição, deviam assegurar a execução dos
fundação dos Colégios Grego, Armênio e Maronita. Com o intuito de decretos dc reforma. Para tanto não bastavam, era claro, os poucos Núncios
nas grandes Cortes d e Viena, Paris, Madrid, Lisboa, e Veneza. Erigiu-se
não deixar os católicos ingleses periclitantes sem abastecimento de sacer-
uma série de novas nunciaturas em Varsóvia, Colónia, Graz, e Lucerna,
dotes, o Papa ajudava o Seminário que Alien, mais tarde cardeal, fundara
2
para fazerem presença onde quer que houvesse perigos particulares, ou que
na cidade de D o u a i . Ali lecionou, por mais de dez anos, o importante
se pudesse contar com poderosos aliados, e essas nunciaturas foram em
teólogo controversista Stapleton; ali, e em R e m o s , editou-se também a pri- parte ocupadas p o r varões eminentes.
meira tradução inglesa católica da Bíblia, que, depois d e revisões posterio-
res, só em nossos dias seria substituída por outra. Calcado n o plano de Com grande visão d o futuro e c o m arrojado otimismo, Gregório X I I I
Douai, e por empenho d e Alien, Gregório criou também em R o m a u m procurou recuperar para a Igreja Católica as áreas perdidas. Os assuntos
Colégio Ânglico ( 1 5 7 9 ) . Confiou-o por sua vez aos Jesuítas, que naquela alemães serão tratados mais adiante. Nesta altura só advertimos que o
P a p a não conseguiu colocar, por intermédio d o núncio, seus canditatos nas
ocasião tinham sido enviados a Inglaterra em missão com risco d e vida.
eleições reais na Polônia mas sempre alcançou a eleição de católicos con-
Os alunos desse Colégio obrigavam-se a regressar para a Inglaterra n o fim
victos. Desta forma, foi possível ao rei Estêvão Báthory, pelo consenso
de sua formação, logo que recebessem ordem de fazê-lo. Eles sabiam o que
geral do clero, conferir valor prático à aceitação das decisões tridentinas,
os aguardava, caso fossem em sua terra reconhecidos como sacerdotes. que fora enunciada só c o m o ato pessoal d o Rei em 1564.
Por êsse motivo, o Colégio logo recebeu o honroso nome de "Seminarium
Martyrum" ("Seminário dos M á r t i r e s " ) . A perspectiva de conseguir a Coroa da Polônia, u m a atitude ecumênica
Gregório uniu o recém-fundado Colégio H ú n g a r o ao Colégio G e r m â - teologicamente mal definida, e uma embaixada do jesuíta Posscvino, foram
nico. F u n d a d o por esforço de Inácio, e favorecido p o r Fernando l e o Du- os fatores que induziram João III, rei da Suécia, filho mais novo do refor-
mador Gustavo Vasa, a converter-se secretamente. O fato de não ter a
que da Baviera, êsse Colégio se encontrava em graves dificuldades admi-
conversão influído na situação religiosa d o país, atribui-se à circunstância
nistrativas. Gregório adjudicou-lhe copiosas rendas, deu-lhe novos Estatu-
de achar o Papa que não devia então outorgar as concessões reivindicadas
tos, segundo os quais cem jovens da Alemanha e d a E u r o p a Setentrional
p o r J o ã o em assuntos litúrgicos c disciplinares. Passara a época de transigir
deviam formar-se ali p a r a o provimento vocacional dos Cabidos d a Alema- em problemas de comunhão em ambas as espécies, de matrimônio dos sa-
nha, comprometidos em matéria de fé. De acordo com os privilégios dos cerdotes, da liturgia em língua vulgar, u m a vez que então predominava a
nobres, que vigoravam nas Colegiadas Germânicas, geralmente só eram tendência para uniformidade na Igreja.
admitidos filhos da nobreza.
O "Collegium Germanicum-Hungaricum" ("Colégio Germano-Hún- Maiores conseqüências pareciam acarretar a mediação de paz entre a
g a r o " ) , n o m e oficial desde 1587, esteve logo em condições de fornecer mui- Polônia e a Rússia, que o Papa aceitara a pedido d o czar Ivã, o Terrível.
A embaixada de Possevino em Moscovia obteve o armistício. Mas, apesar
tos sacerdotes, instruídos e fiéis à Igreja, p a r a encargos de influência e
dos diálogos sobre religião n o Kreml, desejados pelo P a p a , não se chegou
responsabilidade na Alemenha. Esses sacerdotes veiculavam as instituições
a n e n h u m a aproximação religiosa, n e m se pensou sequer na suspirada
humanísticas do sistema escolar jesuítico, com seus autores clássicos e autos
união.
religiosos, com a organização das Congregações Marianas, com o espírito
de disciplina c de emulação. Assim c o m o assim, a tomada de contacto fèz com que se reconhecesse
a importância da Cúria R o m a n a no jogo dos cálculos diplomáticos d o então
O Papa consagrava peculiar atenção à Alemanha também cm outros
" E x t r e m o " Oriente. P o r esta primeira impressão visual R o m a adquiriu tam-
setores. Com pingues estipêndios possibilitou a fundação d e Colégios J e -
bém uma noção fidedigna das reais condições da Igreja Cismática.
suíticos em Viena, Graz, Olmutz, Praga, Braunsberga, Fulda e Dílinga, que
deviam funcionar como institutos de formação para um clero bem habilita-
do. Até a morte ( 1 5 8 1 ) , o Cardeal Morone dera u m a contribuição anual 4. Sisto V
p a r a o Colégio d c Dílinga. A partir d e então, o P a p a assumiu pessoalmente
êsse encargo, c fundou em 1585 um Internato Pontifício, que podia aga- O sucessor de Gregório, oriundo dc condições muito humildes, for-
salhar vinte e dois alunos. m a d o na Ordem Franciscana, Sisto V , homem de genial perspicácia e extra-
Por sugestão dos Cardeais Hósio e Truchsess de VValdburg, êle criou ordinária força de vontade, tomou muito a peito a continuação da reforma
uma "Congregação Germânica", para a qual convocou só cardeais bem en- interna da Igreja. Deu-lhe, antes de tudo, um mecanismo eficiente, u m a
fronhados nas condições peculiares da Alemanha. administração curial c o m funcionamento menos lento e menos complicado,
Os Núncios Apostólicos também foram postos a serviço da Reforma. mediante a criação de organismos centrais, sobre os quais recaía, de m o d o
Se até então só cultivavam relações palacianas c diplomáticas, dali por dian- planejado, toda a adjudicação dos negócios.
E m 1588, o Papa criou quinze Congregações de Cardeais, e nelas mino conseguiu que se formasse nova Comissão para eliminar as correções
incluiu as poucas que foram organizadas por seus predecessores. Dessas insustentáveis e expungir os numerosos erros de imprensa. A fim de poupar
o mais possível a memória do P a p a falecido, realizou-se o trabalho n u m
quinze, nove deviam apoiar o Papa n o governo da Igreja Universal. À s
ritmo muito rápido. E m 1592, já aparecia a nova edição que tomou o nome
outras, êle confiou-lhes a administração e a jurisprudência nos Estados Pon-
d e Clemente VIJJ, a "Clementina", mas que conservou o nome de Sisto V
tifícios. A s pesadas reuniões plenárias dos Cardeais, sob a presidência do
n o frontispício. E m três edições diversas e sucessivas, a "Clementina" per-
Papa, os Consistórios, ficaram mais restritos a assuntos formais e repre- manece até hoje texto oficial, não obstante os erros tipográficos, produzidos
sentativos. 3
pela precipitação, e as deficiências de outra n a t u r e z a .
Pelo fato d e que o Papa reservava p a r a si a presidência das Congre-
Zeloso pela Reforma, o Papa n ã o olvidava tampouco as obrigações
gações mais importantes, e a última decisão em todas elas, ficava a monar-
d e seu cargo pastoral. Visitava pessoalmente numerosas igrejas e conventos.
quia do P a p a garantida contra todas as antigas pretensões oligárquicas Das Ordens, exigia rigorosa observância da claurusa (em contraste com
dos cardeais. seu predecessor, n ã o era favorável à Companhia de J e s u s ) , e dos bispos a
A s muitas Congregações precisavam forçosamente de maior número obrigação de residência. P a r a corroborar a união dos bispos com o P a p a ,
de colaboradores responsáveis. Esta era a razão por que Sisto V fixara antes e também p a r a conhecer melhor a situação das dioceses, Sisto inculcou
em setenta o número dos cardeais, dc acordo com a norma do Velho Tes- novamente aos bispos a visita regular a R o m a ("visitatio ad l i m i n a " ) , de-
tamento, c baixara determinações acerca de idade mínima, das qualidades terminando sua ordem e andamento, exigindo cada vez u m relatório p o r
dos que fossem designados cardeais. Esse número máximo de cardeais só escrito sobre a situação de cada bispado.
foi ultrapassado desde o governo de João X X I I I . Já fizemos alusões ao tino político d e Sisto V. Justamente nas Guerras
As Congregações subsistiram, com algumas modificações, até o desa- Religiosas e Civis da França, depois de algumas hesitações iniciais, soube
parecimento dos Estados Pontifícios, respectivamente até a reestruturação afinal, se não alcançar sua meta "de concluir a paz n a França, sem nos fa-
d e 1908, sob o pontificado de Pio X. O sistema como tal constitui ainda 4
zermos instrumentos de ambição alheia", pelo menos conseguir encaminhá-
hoje a coluna-mestra d a administração d a Cúria R o m a n a . Sisto V dotou la com eficiência p a r a seu sucessor, não só garantindo o futuro da Igreja
a Cúria R o m a n a com os recursos técnicos, que já eram de urgente ne- n a França, mas também subtraindo-se a u m a tutela regalista, por parte d o
cessidade p a r a a edição dos livros litúrgicos. F u n d o u a Tipografia Va- soberano espanhol.
ticana, e entre seus oito diretores quis que figurasse um representante da C o m a morte de Sisto V, esvaziou-se n a Cúria R o m a n a a m a r é da
Universidade de Lovaina. grande mobilização em favor da R e f o r m a . A o imperioso P a p a , sucederam
O Papa destinou a tipografia sobretudo p a r a a nova edição da Vulgata alguns papas com governos de tempo brevíssimo. Dezessete meses depois
p o r êle planejada, e anteriormente determinada pelo Concílio. Seus dois de sua morte, foi eleito seu quarto sucessor, Clemente V I I I ( 1 5 9 2 - 1 6 0 5 ) ,
predecessores já tinham preparado a revisão d o texto da Vulgata. U m a homem doentio, agitado, preocupado com os Turcos e com controvérsias
Comissão sob a chefia d o eruditíssimo Cardeal Sirleto não pôde desemba- teológicas, mas que em muitos setores ainda p ô d e colher os frutos d o tra-
raçar certas dificuldades d e caráter científico. Sisto V, que já se tornara balho de seu predecessor.
benemérito n a impressão de u m bom texto dos Setenta ("Septuaginta"), Dali por diante, a atuação das decisões tridentinas dependeria cada
gostaria muito de ver rapidamente concluída a nova edição da Vulgata. vez mais dos elementos religiosos de fora, nos países da Europa. E l a
Segundo lhe parecia, o trabalho da Comissão por êle convocada avançava ficara até então n a linha de fundo, na penumbra das iniciativas pontifícias.
muito devagar. Além disso, êle se entusiamava pelas suas propostas de
emendas. Animado, pois, p o r singular confiança em especial assistência
divina, o Papa avocou a si o trabalho de revisão. Sem ser filólogo n e m 5. Pedro Canísio e o Sistema Escolar d o s Jesuítas
paleólogo, êle corrigia de próprio p u n h o e a seu talante o texto preparado
pela Comissão e as provas tipográficas. Desta forma, a Vulgata Sistina Desde algumas dezenas de anos, essa Reforma e Restauração Católica
apareceu muito depressa. N a bula que encabeçava a edição, Sisto declarou se implantara n a área geográfica de expressão germânica. O movimento era
esse texto a Vulgata autêntica d o Tridentino, e decretou seu uso exclusivo. amparado e até dirigido primeiramente pela Companhia de Jesus, sobretudo
p o r Pedro Canísio. Q u a n d o Pedro F a b r e o conquistou p a r a a Companhia,
Naturalmente, ninguém estava satisfeito com a edição, nem a Comissão,
êle exercia o magistério em Colônia, e ocupava-se com a edição de obras
nem ou doutos Cardeais, n e m as grandes tipografias fora dos Estados
científicas.
Pontifícios, mas estas não o estavam só por razões de ordem econômica.
Assim como assim, a arbitrariedade d o Papa contra o texto sagrado pro- Com um inabalável senso católico, que lhe era peculiar, não tardou em
vocou nos bem intencionados u m escândalo, que só pôde diluir-se com a começar a luta, pela cátedra e pelo púlpito, contra Germano de Wied,
morte d o Papa, ocorrida pouco tempo depois. Antes ainda de ser eleito o arcebispo d e Colônia, que m a n d a r a Bucer elaborar u m plano de reforma
sucessor, foram retirados da circulação a Vulgata e a bula. O jesuíta Belar- p a r a Colônia.
P o r esse motivo teve vários encontros com Carlos V , em cuja com- forma Religiosa, seqüestravam os bens eclesiásticos, e ameaçavam franca
panhia veio a conhecer seu grande protetor, o belicoso bispo de Augsburgo, rebelião, todas as vezes que o Rei queria arrostá-los.
Cardeal Truchsess de Waldburg, que o comissionou como seu teólogo ao A esse propósito chamou Fernando os Jesuítas, entre os quais avultava
Concílio de Trento. De Bolonha, Inácio chamou-o a R o m a . Seguiu-se-lhe Canísio, p o r ser êle o único, entre os mais, que sabia pregar e m alemão.
o "terciato", a terceira provação, e u m ano de magistério na Sicília, até Os Jesuítas abriram escola de latinidade, internato p a r a os filhos de pais
que Canísio p ô d e em 1549 retornar à Alemanha. abastados, e colégio p a r a os pobres. Canísio e seus amigos lecionavam n a
Seu primeiro c a m p o de trabalho foi a cidade universitária de Ingols- Universidade, inicialmente diante de poucos ouvintes.
tádio, depois em geral as regiões meridionais da Alemanha, onde conquis- Além de tudo, Canísio atuava como pregador, como capelão de deten-
tou a favor de seus planos os Príncipes Católicos, junto aos quais procurava tos, e como assistente de numerosas obras sociais. Fernando ofereceu-lhe,
apoio p a r a vencer as piores dificuldades. p o r três vezes, o sólio episcopal de Viena, mas o Jesuíta recusou-se a acei-
Era de assombrar a clareza com que o Jesuíta discriminava seus pla- tar. C o m o os Catecismos d e Lutero tiveram penetração n o povo austríaco,
nos. E m primeiro lugar, êle precisava apresentar novamente os ideais do F e r n a n d o desejava u m catecismo católico. Isto ensejou que Canísio publi-
sacerdócio aos bispos e sacerdotes, a fim de produzir neles u m a transfor- casse seu Primeiro Catecismo, u m a série de respostas a 213 perguntas, com
m a ç ã o interior. Canísio não se contentava com que o sacerdote se isentasse muitas citações bíblicas e patrísticas, redigido não em forma polêmica, mas
de um mudanismo pecaminoso e fosse bom pastor de seu rebanho. A o positiva ( n ã o citou Lutero n e n h u m a v e z ) , combatendo o mal básico dos
Cardeal de Augsburgo exortou, com elevada franqueza, a que se livrasse últimos decênios, a falta d e clareza teológica e a supina ignorância e m m a -
das formas mais refinadas de mundanismo: "Renunciemos, dia por dia, a téria de religião.
qualquer p o n t o d e nossas vaidades, prazeres ou ambições, p a r a chegarmos Após a primeira edição destinada a estudantes, s a n a m duas outras em
5
cada vez mais perto a o ideal d o verdadeiro pontífice". latim, e logo em seguida u m a edição alemã para o povo simples e p a r a
Depois disso, queria que a juventude católica fosse angariada, a favor crianças. O Pequeno Catecismo, cuja tradução alemã foi editada em 1560,
dêssse ideal sacerdotal, para com ela se formar o tão urgente e t ã o neces- com xüogravuras e u m calendário, tornou-se por assim dizer o livro popu-
sário abastecimento de bons sacerdotes. Por fim, em matéria de cultura e lar dos católicos germânicos durante quase duzentos anos. N o século X V I
instrução geral, êle queria extirpar as condições de inferioridade, em que teve ainda 2 0 0 edições. A o todo, alcançou 550 edições e inúmeras tra-
os católicos alemães tinham ficado, enquanto os protestantes se esmeravam duções.
de modo especial no setor das escolas. Nessa mesma época, Canísio acompanhou o rei Fernando até o I m -
Canísio, p o r conseguinte, era incansável em fundar colégios. Fundou pério, a Augsburgo, onde em 1555 o terá certamente animado a m a n t e r
as casas de Ingolstádio, Praga, Munique, Innsbruck, Dílinga, Hall n o Tirol. o "Reservado Eclesiástico", a Praga e à Dieta d e Ratisbona. Desde 1556,
Tyrnau, e Friburgo na Suíça. Teve parte na fundação das casas em Colônia, foi o primeiro Provincial da Província Germânica, instituída ainda p o r
Augsburgo e Virceburgo. E m 1576, o Colégio de Munique já contava 600 Inácio. Acessoriamente, era órgão d e ligação entre os vários elementos q u e
alunos, e tinha a fama d e ser u m dos mais estéticos d a E u r o p a . P o r suges- se empenhavam pela restauração d a Igreja Católica n a Alemanha. E r a
tão de Canísio, fundaram-se pensionatos e internatos p a r a elementos menos confidente d o Imperador e dos D u q u e s da Baviera, conselheiro de legados
favorecidos pela fortuna, em Viena, Dilinga, Munique, Ingolstádio e Inns- e núncios apostólicos, perito teológico d o próprio S u m o Pontífice. E m -
bruck, bem c o m o seminários pontifícios em Praga, Fulda, Braunsberga e preendeu p o r sete vezes a penosa viagem até R o m a . M a n t i n h a t a m b é m
Dílinga. relações pessoais com Carlos Borromeu. O púlpito da Catedral de Augs-
Além d o mais, êle procurou de todos os modos promover o Colégio burgo, as funções de pregador de Corte em Innsbruck, e ainda u m a ampla
Germânico de Roma. Seus motivos não eram apenas os interesses da Or- atividade literária ocupavam-lhe todo o tempo que sobrasse. Com sua trans-
dem, mas também a mais implacável necessidade. Quando a pedido d o ferência p a r a Friburgo (Suíça) n o ano de 1580, tocava propriamente a o
Duque Guilherme da Baviera chegou com dois companheiros a Ingolstádio fim sua vasta atividade em prol da Alemanha.
em 1549, n ã o estava ainda preenchida a lacuna que a morte d e E c k ali Esforço idêntico da Companhia de Jesus a favor d a restauração reti-
deixara em 1 5 4 3 . A Faculdade de Teologia ainda só contava com u m úni- giosa verificou-se t a m b é m fora da área geográfica d e expressão germânica,
co professor. Os estudantes estavam sem disciplina, e seu n ú m e r o decres- ainda que em F r a n ç a fosse para ela muito grande o perigo de envolver-se
cera consideravelmente. em compromissos políticos, por causa das facções t ã o confusas durante as
E m 1552, Inácio enviou o Jesuíta alemão p a r a Viena, onde a situação Guerras Civis e Reügiosas. Nesse país, os Colégios foram, p o r assim dizer,
era ainda mais catastrófica. Os lentes da Faculdade de Teologia, que tinha fundados d e acordo com situações estratégicas, para que se pudessem le-
dado borla e capelo só a dois doutores desde 1529, já não se sentiam se- vantar barreiras contra a invasão d o calvinismo.
guros da própria vida. Ninguém queria mais saber de estudos. N o clero, E d m u n d o Auger, o "Canísio gaulês", exerceu u m a atividade cheia de
faltava dignidade; nos conventos, disciplina. Os fidalgos favoreciam a R e - aventuras, c o m o pregador, entre os Huguenotes da F r a n ç a Meridional. Foi
capelão de guerra, antes de se tornar mais tarde pregador da Corte junto panhia. O jovem napolitano já n ã o alcançara Inácio, e não estivera sob o
a o rei Henrique III. N ã o só fundou uma série de colégios desse gênero, fascínio de sua ardente personalidade. Integrado na segunda geração, êle
mas também escreveu u m Pequeno Catecismo e mais u m Catecismo Maior, sentiu, como acontece em quase todos os movimentos d o espírito h u m a n o ,
que tiveram para a França a mesma importância que teve a obra catequé- a necessidade d e garantir a idéia d a O r d e m e sua coesão comunitária p o r
tica de seu contemporâneo germânico. meio de normas firmes, elaboradas em moldes racionais. T e n d o em mãos
F o r a d o ambiente da Companhia d e Jesus, havia ainda n a França o governo da Companhia durante trinta e quatro anos, tornou obrigatórios
daquela época exagerada confiança nos efeitos de editos reais, d e condena- p a r a o futuro o método de meditação diária, que êle inculcava, e o com-
ções d e heresias pela Sorbona, d e execuções d e hereges; o Parlamento im- promisso da Companhia a respeito d a teoria molinista sobre a graça, que
pedia, por galicanismo, que se aceitassem o s decretos reformatorios de êle propugnava.
Trento, n ã o obstante todos os empenhos dos Papas e de seus núncios apos- N o "Plano de Estudos", foi deliberadamente que se utilizaram alvitres
tólicos. de outras escolas, até métodos pedagógicos de um Melanchthon. A Com-
As maiores benemerencias, porém, a Companhia d e Jesus certamente panhia interessava-se exclusivamente pelo ensino superior; deixava o ensino
as alcançou na instrução e formação da juventude. N o começo mostravam elementar a encargo de outras entidades.
as experiências, c o m o Canísio as fizera em Ingolstádio, que as preleções À semelhança do Colégio R o m a n o , fazia-se a distinção de três graus.
universitárias dos Padres pouco adiantavam, por ser reduzido o número de O Ginásio tinha por via de regra seis classes. O realce particular d o ensino
ouvintes. Os poucos estudantes de teologia não estavam psicologicamente de línguas ( o latim e o grego eram as matérias mais importantes), fazia
preparados p a r a os novos ideais, nem sequer e m condições d e recebê-los. com que a Companhia aparecesse, pelo menos, como formal mantenedora
Então, só restava u m recurso, o trabalho de baixo para cima, a fundação d o humanismo. Para nossos critérios atuais, história e geografia ficavam
de colégios e internatos. atrofiadas. A geografia era tomada a serviço da história, enquanto a pró-
Inácio assim começara, quando em 1551 fundou em R o m a o Colégio pria história valia c o m o ciência subsidiária, que levava a refletir sobre o
R o m a n o , como central d e formação para o recrutamento vocacional da homem.
Ordem, ao qual fêz seguir em 1552 o Colégio Germânico para formação d e O cultivo da língua materna, que Inácio ainda recomendava, quase
sacerdotes alemães. A evolução foi então t ã o impetuosa, que n o fim d o n ã o foi tolerado pelo "Plano de Estudos". Até meados d o século X V I I ,
século quase todo o ensino superior da juventude masculina d a Europa o latim ocupava, tanto em meios católicos como nos protestantes, u m a p o -
ainda católica se encontrava em mãos dos Jesuítas. Só n o decurso do século sição quase inconteste c o m o língua de cultura, científica, universal, e supra-
X V I I é que Piaristas, Beneditinos, e outras entidades menores também co- nacional.
laboraram n a instrução e cultura. Nos cursos d a Faculdade d e Filosofia, distribuídos p o r três anos, l e -
P o r volta de 1580, quase três quartos de todas as casas da Companhia cionavam-se também matemáticas e ciências naturais. A cúpula era for-
constituíam colégios, e cada qual exigia pelo menos vinte sacerdotes; quan- mada pela Faculdade de Teologia. Desde 1570, o jesuíta Roberto Belar-
d o se tratava d e instituições maiores, quase até setenta. Aos Colégios, jun- m i n o lia como professor de teologia n a Universidade de Lovaina. Sua obra-
tavam-se as bibliotecas. Sem elas, disse u m a vez Canísio, parecemos sol- mestra sobre teologia controversa, que procurava refutar as doutrinas da
6
dados que se atiram à luta sem a r m a s . Para o estabelecimento de grá- Reforma, coligidas com precisão das publicações confessionais, criou entre
ficos e editores católicos, junto aos grandes Colégios, o segundo Apóstolo os protestantes u m a atmosfera de nervosa agitação, dentro da qual sc lan-
da Alemanha chegou até a pedir, em caráter permanente, subvenção finan- çaram proibições contra a leitura dessa obra, e se instituíram cátedras es-
7
ceira de R o m a . peciais p a r a sua refutação.
Os Colégios tornaram-se, pois, sedes centrais de restauração religiosa Tal resultado deve ter levado a Companhia a continuar com os estudos
e de disputas teológicas com a Reforma Protestante. Naturalmente, aqui ou das disciplinas teológicas, que de preferência eram cultivadas por insignes
ali, eram tidos como corpos estranhos nas Universidades e Faculdades exis- elementos espanhóis, sobretudo em temas especulativos.
tentes. P o r causa d e seus bons êxitos, e também p o r causa das indiscretas Era evidente que, nas escolas jesuíticas, se dava particular relevância
pretensões individuais d e alguns jesuítas a u m a espécie d e monopólio, os à educação religiosa, embora não houvesse aulas de religião propriamente
Colégios provocavam invejas, aborrecimentos, e animosidades contra a ditas. Em compensação, missa, pregação, leitura espiritual, freqüência r e -
Companhia. gular dos Sacramentos e m comunidade, exemplo pessoal d o mestre, e r a m o s
Os incontestáveis bons resultados d e seu sistema educacional são de fatores que deviam exercer influência religiosa nos alunos.
se atribuir, antes de tudo, à "Ratio et institutio studiorum" ("Plano de Valiosas sugestões para a vida moral e religiosa recebia a juventude
e s t u d o s " ) , o plano d e estudos dos Jesuítas, objeto de muitos debates, apro- através das Congregações Marianas. Seu protótipo foi u m a comunidade, que
vado definitivamente em 1599. É obra de Acquaviva, quinto superior geral o jesuíta belga Leunis fundara em 1563 n o Colégio R o m a n o , a qual se reu-
da Ordem, cuja eleição ( 1 5 8 1 ) marca novo período na história da C o m - nia diariamente depois das aulas, sobretudo aos domingos e dias santos,
p a r a veneração da Mãe de Deus. Essa comunidade, desde logo imitada e m m u n d o de Bandemburgo se bandeou oficialmente p a r a o protestantismo,
R o m a e em todo o m u n d o católico, aspirava a u m a piedade dinâmica e a o sem todavia renunciar ao território e às dignidades, de acordo com o " R e -
progresso nas ciências, entusiasmava-se por empreendimentos caritativos, servado Eclesiástico" da Paz Religiosa.
sobretudo por lances apostólicos. A recusa da confirmação oficial até 1648 não alterava cousa alguma
Por volta de 1584, ela contava, em cálculo redondo, a 30.000 integran- nas situações d e fato. Com violação d o "Reservado Eclesiástico", Brema,
tes. A idéia de apostolado despertava, também entre os adultos, o desejo Minden, e Verden eram governadas por bispos de jurisdição vizinhas, que
de formar tais comunidades. Chegou-se, então, a formar, p o r distribuição tinham abraçado o protestantismo. C o m o o Arcebispo d e Brema fora tam-
de classes sociais, Congregações para estudantes, burgueses, artesãos, e ou- b é m eleito em Osnabruque, e postulado a o mesmo tempo c o m o bispo d e
tros. Seu raio de ação ultrapassou de longe o c a m p o de influência da Com- Paderborna, essas dioceses pareciam igualmente perdidas, apesar de todas
panhia de Jesus. Inscreveram-se nela como membros Carlos Borromeu, as promessas feitas nas "capitulações eleitorais". Só o agrupamento da mi-
mais tarde Fiel de Sigmaringa, os Generais Tilly e Turenne, e artistas como noria católica d o Cabido de Paderborna em torno d o enérgico arcediago
Rubens e Tasso. Teodorico de Fürstenberg e mais o chamamento dos Jesuítas garantiram a
persistência e a vitória do catolicismo. E m Münster, houve também dra-
máticos conflitos acerca d o novo provimento da diocese. N o Sul, estoura-
6. Protestantes Germânicos a p ó s o Tratado de P a z Religiosa ram ainda em 1583, entre cónegos católicos e cónegos protestantes de E s -
trasburgo, a "Demanda d o Cabido" e a " G u e r r a d a Mitra", que só termi-
Enquanto Canísio e seus Companheiros forcejavam p o r educar u m a n a r a m em 1604 com a vitória dos católicos.
nova geração segundo o espírito católico, o protestantismo fazia ulteriores O risco e a defesa d o catolicismo n a arquidiocese de Colônia quase
e importantes progressos n a Alemanha. A Paz Religiosa de Augsburgo em constituíram um problema internacional. Isto se expücitará mais adiante.
1556 não significava a linde final de u m a evolução, mas apenas u m a trégua Dos territórios seculares ( n ã o eclesiásticos), estava em perigo mormente
antes de outras investidas. Então, duas circunstâncias favoreceram a R e - o Ducado de Berg, n o Baixo-Reno.
forma. A mentalidade humanística dos Duques a respeito de ambas as con-
De u m lado, a insegurança e debilidade nos arraiais católicos, provo- fissões, que persistiu pelo menos até 1567, facilitava a formação d e pos-
cadas pela n o v a dilação do Concílio. Ninguém sabia dizer se haviam d e santes comunidades luteranas nas respectivas cidades d a Vestefália e n a
ser decretadas reformas, nem quais seriam elas, n e m quais obrigações e região d o Rur, enquanto que a partir dos Países-Baixos se formavam c o -
interdições teriam então força de lei. Matrimônio de sacerdotes e uso de munidades calvínicas n o R e n o e a leste do Ducado. Por algum tempo, p a -
cálice p a r a leigos eram exigidos, não só pelos Reformadores, m a s também recia perigar o caráter católico até das cidades livres d e Colônia e Aquis-
p o r soberanos e príncipes católicos, em petições à Santa Sé, ou em memo- grana (Aix-La-Chapelle, A a c h e n ) .
riais sobre a Reforma. P o r isso mesmo, nunca esteve o casamento de sa- Apoiados n o direito de reforma, confirmado em Augsburgo, os Prín-
cerdotes t ã o disseminado, como nessa geração clerical; nunca esteve tão cipes-Eleiíores d o Palatinado, o Margrave de Bade, e o D u q u e d e Bruns-
baixo o nível de sua formação teológica. vique, introduziram a nova crença em seus territórios. D a Alemanha Se-
O segundo fator favorável à Reforma era a garantia orgânica d o di- tentrional, só ficaram com a Igreja parcelas mínimas. P o r toda a Alema-
reito de reforma ("ius reformandi") p o r parte dos príncipes territoriais. nha, calculava-se ainda o número d e católicos, quando muito, em três dé-
C o m o patronos, souberam eles colocar em suas próprias mãos as dioceses cimos da população.
não mediatizadas, sobretudo a o Norte e a Leste, fazendo eleger, n a vacân- Pois também nos territórios dos príncipes seculares católicos havia
cia das dioceses, u m m e m b r o da família c o m o administrador, que então fermentação religiosa. N a Baviera, os fidalgos procuraram introduzir a R e -
n ã o só introduzia a Reforma, mas também incorporava a diocese a o prin- forma em alguns lugares. Foi, porém, em terras dos Habsburgos que o p r o -
cipado em caráter total e definitivo. testantismo teve grande avançada. Só n o Tirol e na Áustria Anterior, gran-
P o r tal processo, a Pomerânia anexou a diocese de Kammin; Meclem- de parte do povo conservou-se católica. Nos outros domínios hereditários,
burgo, as dioceses de Ratzeburgo e Schwerin; a Saxônia Eletiva, por sua a maior parte dos fidalgos, muitos burgueses e lavradores professaram a
vez, Naumburgo, Merseburgo, a Mísnia. E m Merseburgo, a abnegada atua- nova doutrina. Esta tinha seu ponto de apoio nos Estados ("Stände") que
ção d e um bispo t ã o zeloso pela reforma, c o m o o era Júlio Pflug, ficou se compunham de nobres. Mas pela constante ameaça dos Turcos os
fadada a o malogro, em conseqüência da aliança política d o Imperador c o m Habsburgos viam-se n a necessidade d e sempre condescender com os Esta-
Maurício d e Saxe. dos. Acrescia ainda a atitude ambivalente d o imperador Maximiliano I I
Brandemburgo garantiu p a r a si a porção leonina. A p a r das dioceses ( 1 5 6 4 - 1 5 7 6 ) . C o m o príncipe herdeiro, voltara-se p a r a a nova crença; só
d e Brandemburgo, Havelberga e Lebus, êle teve meios de incorporar tam- p o r motivos dinásticos ficava, como imperador, em ligação exterior c o m a
bém a arquidiocese de Magdeburgo, quando em 1561 o arcebispo Sigis- antiga religião. Compreende-se que, em vista de arrasadoras verificações
n u m a visita canónica d e 1 5 6 1 , fosse instituído u m "Conselho dos Mostei- ziam uso deliberado d e seu direito d e reformar ("ius r e f o r m a n d i " ) , e im-
r o s " como órgão governamental de vigilância. 8 punham à força a hegemonia d a religião católica em seus territórios.
Representam franca p r o m o ç ã o d o luteranismo as concessões religiosas Os Duques da Baviera foram os primeiros a começar. Alberto V
que o Imperador fêz em 1568 e 1571 aos senhores e fidalgos n a Áustria ( 1 5 5 0 - 1 5 7 9 ) , que em 1555 não se empenhara d e m o d o especial pela causa
Inferior e Superior mediante a arrecadação de alguns milhões de florins. católica em Augsburgo, mas que em 1559 chamara os Jesuítas para Muni-
Eles alcançaram, com isso, o direito d e livre exercício de religião em seus que, transformada em cidade de arte sob seu governo, procedeu com deci-
castelos e domínios, bem como nas igrejas d e seu padroado. Negou-se o são contra a nobreza rural protestante. Subjugou-a, p o r ocasião de uma
privilégio às aldeias e cidades, também à cidade de Viena. Os moradores conspirata, e obrigou-a p o r escrito a ser fiel e a manter a antiga ordem d e
protestantes afluíam, em grandes grupos, ao culto divino nos castelos dos cousas. Os fidalgos, porém, não deviam ser pessoalmente constrangidos em
nobres e na " M a n s ã o Campestre" ( " L a n d h a u s " ) d e Viena. matéria de consciência.
De m o d o análogo, n o coração d a Áustria (Estíria, Caríntia, e C a r n é e - A fim de aliciar os burgueses e os lavradores protestantes, Alberto
l a ) , onde governava o arquiduque Carlos, irmão de Maximiliano, os Esta- postulou d o Concílio a concessão d o cálice para leigos, e d o matrimônio
dos faziam depender da garantia de sua liberdade religiosa qualquer ajuda para sacerdotes. O cálice para a comunhão dos leigos foi concedido pelo
pecuniária, que a ameaça turca tornasse urgente. Contudo, n ã o se falava Papa em 1564. C o m o já se tornara nota discriminante entre confissões em
explicitamente de exercício d a confissão evangélica. via de formação, e também coadjuvava o movimento d e apostasia, o cálice
N a morte d o Imperador, cerca de três quartos da população da Áus- para leigos foi novamente retirado, com a anuência d o D u q u e . A rede es-
tria se integravam na Confissão de Augsburgo. A nobreza era quase total- colar, o Duque confiou-a à organização dos Jesuítas. A seguir, elaborou u m
mente protestante. A situação d a Igreja Católica era, p o r assim dizer, de- compromisso de religião para funcionários, aldeias, cidades, prelados; u m
sesperadora. 9
N a Boêmia, onde todavia os Irmãos Morávios se tinham programa didático, e um alvará de repressão. Todos os funcionários deviam
agregado aos luteranos, esse Estado ("Stand") oposicionista alcançou d e professar o Símbolo Tridentino de F é . Ficou proibida a mudança p a r a a
Maximiliano u m a promessa verbal de tolerância. Rodolfo II, seu filho, foi nova crença, sob pena d e proscrição.
muito mais além. Pelo alvará imperial d e 1609, outorgou não só a todos os O Governo avocou a si a tarefa de educar para a ortodoxia, tanto mais
súditos liberdade d e consciência, mas também aos senhores, aos fidalgos, q u e os bispos continuavam ainda a omitir-se e m seus deveres. A Junta
e às cidades régias o direito de construir igrejas e escolas, d e exercer livre- Eclesiástica, encarregada de examinar clérigos para a dotação de prebendas,
mente o culto divino, de acordo com a "Confessio Bohémica" ("Confissão abrangia, por conselho de Canísio, eclesiásticos e leigos. O Índice Pontifício
da B o ê m i a " ) , fórmula simbólica unitária da oposição de 1575. apareceu com um apêndice sobre autores seletos, com os quais se pudesse
E m acordo especial, Rodolfo reconheceu, por fim, que essas isenções constituir u m a boa biblioteca católica.
e regalias se aplicariam também em benefício dos protestantes em domínios O D u q u e compreendeu, em toda a sua extensão, o problema d o r e -
reguengos. Liberdades religiosas, em ampla escala, também as conseguiram crutamento sacerdotal. Os mestres das escolas d o ' p a í s deviam indicar a o
então os protestantes na Silesia dos Habsburgos, que se esfacelara em inú- Governo todas as boas inteligências, p a r a que fosse possível encaminhá-las
meros pequenos principados, cuja esmagadora maioria tinha pendores p a r a para estudos ulteriores. O Ginásio d e Munique (a Baviera não dispunha
a nova crença. ainda dc nenhum sólio episcopal em seu território) obteve um curso de fi-
losofia c mais tarde outro de teologia.
7. Resistência Ativa: Baviera e Áustria Depois que, por volta de 1570, a unidade da fé j á estava restaurada
n o Ducado, a tarefa d e reforma continuou, em íntima conexão com os
Tolerando infrações formais do direito, capitulando diante d e extor- núncios apostólicos, que visitavam o país assiduamente. Entre eles, o d o -
sões políticas em apuros militares, n ã o era possível conservar a existência minico Feliciano Ninguarda era, sobretudo, a alma da execução dos decre-
d o catolicismo, e muito menos compensar as perdas sofridas. P a r a tanto, tos tridentinos. N ã o obstante todas as resistências que encontrava em visi-
fazia-se mister u m a reação positiva, que se não limitasse apenas a u m a r e - tas canónicas, p o r parte dos Cabidos e dos mosteiros, êle conseguiu cele-
novação interna e à formação d e u m a nova geração consciente católica, brar em Salisburgo dois sínodos provinciais, em 1569 e 1573. Dentro da
mas que recorresse também à ação d o braço secular, nos moldes da legis- nova atmosfera espiritual da Corte de Munique, o belga Orlando di Lasso,
lação imperial de 1555. A s atuações políticas e religiosas d e tal m o d o se c h a m a d o pelo D u q u e , logo se dedicou à composição d e cânticos espirituais.
fundiam n u m a só atividade, que não podiam ser separadas nem nos papas, Munique não tardou cm tornar-se, com Viena e Salisburgo, centro de m ú -
nem nos bispos, nem nos Jesuítas, nem nos príncipes seculares. sica eclesiástica católica. E m 1579, Munique já se gloriava de que, na C a -
Tal "Contra-Reforma" surgiu como fenômeno em vários países da E u - pela d o Castelo Ducal, e r a m cultivados o rito e o canto romanos.
ropa, mas tornou-se movimento grande e envolvente sobretudo na Alema- A idéia de que o Duque com a Corte devia, pelo seu exemplo, tomar
nha, onde os príncipes católicos, a exemplo de seus pares protestantes, fa- a dianteira em toda a parte, empolgava os contemporâneos, se bem que tal
exemplo preliminarmente só podia abranger atos exteriores, como jejum, até então relaxados, todas as escusas p a r a não tomarem parte ativa nos tra-
freqüência de igreja, procissão do Corpo de Deus. balhos da Reforma.
D e n t r o c m breve, a atitude contra-reformatória d e Alberto, ügada a Guilherme conseguiu, igualmente, que a educação de seu sobrinho
u m a política dinástica e familiar de feição absolutista, alcançou u m a im- Fernando, futuro imperador, filho d o arquiduque Carlos em Graz, ficasse
portância que se estendia a toda a Alemanha e atingia a própria Europa. a o encargo dos Jesuítas de Ingolstádio. N o Império, empregou toda a sua
Como tio e tutor d o Margrave de Bade, menor ainda, restaurou a Igreja autoridade em favor d a causa católica.
Católica em Bade-Bade, o que só se tornou possível com u m verdadeiro Depois de algumas breves hesitações, prosseguiu c o m a política das
missionamcnto d o país, feito em regra pelos Jesuítas. prebendas de seu pai, n o interesse da dinastia dos Wittelsbach. Consentiu
e m que seu filho Füipe, com três anos de idade, fosse postulado para bispo
Alberto, que foi o melhor apoio d a Cúria R o m a n a na Dieta d e Augs-
de Ratisbona, pois sabia que o governo propriamente dito da diocese fica-
burgo em 1555, conseguiu d o próprio virtuoso Pio V o bispado d e Frísinga
ria nas mãos d e Ninguarda e d e competente vigário geral.
para Ernesto, seu filho mais novo, com apenas doze anos de idade. Q u a n d o
em 1577 foi postulado para bispo de Hildesheim, Ernesto teve a imediata Procurava, antes de tudo, novas posições eclesiásticas para seu irmão
Ernesto. Com o apoio do Governador dos Países-Baixos, Ernesto foi eleito
confirmação d e Gregório X I I I .
bispo de Lieja em 1 5 8 1 , antes que krompesse a sorrateira crise de Colônia.
Dali por diante, a política da dinastia bávara funde-se quase que to- O arcebispo Gebardo Truchscss d e Waldburg, homem de sentimentos mun-
talmente com os esforços de R o m a pela restauração d o catolicismo na Ale- danos, confirmado pelo Papa só depois de três anos, declarara-se cm 1582
manha. Pois atrás d o jovem bispo, não imbuído certamente de espírito sa- abertamente pelo protestantismo, desposara sua amante Inês de Mansfeld, e
cerdotal, figurava Alberto, que em Hildesheim encontrara u m a base de debatera com príncipes protestantes seus planos de secularizar a Arquidio-
operação, da qual podia transplantar a Contra-Reforma para Oeste, onde cese. Entretanto, os membros católicos d o Cabido, o Conselho Municipal
o aliado espanhol trabalhava n o mesmo sentido nos Países-Baixos. de Colónia, e o povo, advertido pelo Jesuítas, fizeram oposição. O arcebis-
Uma estala n o Cabido de Colónia devia fornecer a E r n e s t o u m ponto p o foi excomungado e proscrito por Gregório X I I I . O Cabido escolheu como
de apoio para obter a arquidiocese d e Colónia, sempre ameaçada d e perder sucessor o D u q u e Ernesto, candidato d a facção romano-hispano-bávara. N a
sua integridade catóüca. O desfecho desse grandioso plano, o pai não o lo- Guerra de Colónia, as armas hispano-bávaras conquistaram efetivamente a
grou alcançar antes da morte. N ã o se podia contestar, a cumulação de dio- Arquidiocese a favor de Ernesto.
ceses contrariava as expressas probições do Concüio Tridentino. Dado, p o - A vitória fêz passar, por vias travessas, a dignidade d o eleitorado
rém, o escasso número de candidatos d e confiança entre a alta nobreza, ( " K u r w ü r d e " ) para a dinastia dos Wittelsbach, e impediu a fusão dos R e -
donde poderiam aliás as dioceses duramente ameaçadas d a Alemanha con- formados Neerlandeses c o m os Luteranos Germânicos. Isso eliminou, tam-
seguir um bispo católico, se não fosse das dinastias dos Wittelsbach e dos bém, o perigo de u m a maioria protestante n o colegiado dos Príncipes-Elci-
Habsburgos? Considerada por essas famílias c o m o meio de ampliar o poder tores, e garantiu a situação da Igreja Católica nos bispados vizinhos de P a -
d a estirpe; lamentada p o r R o m a como infração necessária, mas nem por derborna e Münster. Ernesto recebeu esse último c o m o seu quinto bispado.
isso menos amarga, dos decretos pontifícios; representando, na realidade, A cumulação d e cinco dioceses em u m a só mão era naturalmente u m a
u m fator d e salvação p a r a o catolicismo da A l e m a n h a : a cumulação d e infração, mais d o que grosseira, das determinações tridentinas. A Baviera
dioceses tornou-se, dali por diante, u m a peculiaridade permanente da Con- procurava justificá-la com os aprestos militares, que foram necessários para
tra-Reforma aquém dos A l p e s . * conquistar as dioceses, c para as defender contra os botes dos príncipes
Para Guilherme V, o Piedoso ( 1 5 7 9 - 1 5 9 7 ) , filho e sucessor de Al- protestantes vizinhos. A situação perigosa das dioceses encravadas n o meio
berto, o mister da Reforma já não era, como p a r a seu pai, u m a tarefa p o - d e territórios protestantes fazia figurar, também para a Cúria R o m a n a ,
lítica em primeiro lugar, mas era antes religiosa. Êle foi o primeiro aluno c o m o u m a necessidade d o momento, que se condensasse u m a área maior
dos jesuítas n o trono dos príncipes germânicos. Levava u m a vida espiritual, d e território, por meio de cumulação de dioceses, e que as dioceses cumu-
como o fariam poucos sacerdotes. Enquanto viveu, era muito afeiçoado aos ladas tivessem, como ponto de apoio, u m a poderosa dinastia católica.
Padres da Companhia para os quais construiu e m Munique a suntuosa Com prioridade aos Habsburgos e a outras dinastias, os Wittelsbach
Igreja de São Miguel, e cedeu a favor deles a Faculdade de Filosofia de se haviam antes de tudo comprovado como dinastia católica de confiança.
Ingolstádio. Fosse como fosse, p a r a honra da Cúria R o m a n a , n ã o se p o d e silenciar q u e ,
N a intenção de garantir em seu território a unidade da fé c a reforma na confirmação d e Ernesto como bispo de Lieja, e, com maior insistência,
d o clero e d o povo. fêz em 1 5 8 3 , por empenho de Ninguarda, um pacto na eleição para Münster, o Papa tinha exigido que Ernesto se contentasse
d e união com os bispos vizinhos. Essa concordata entre bispos devia eli- com três dioceses, e passasse as duas outras a um de seus sobrinhos. A p ó s
minar as reclamações dos prelados contra as ingerências das autoridades longa relutância, Ernesto aceitou em 1595 seu sobrinho Fernando c o m o
governamentais na jurisdição eclesiástica, e com isso também tirar a bispos, bispo coadjutor em Colônia. Ainda que, em oposição a seu leviano tio.
nunca fosse ordenado sacerdote, Fernando empreendeu, com pulso forte, a catolização na Estíria e n a Caríntia, u m a vez que n a d a obtivera todo o fer-
reforma interna das dioceses, que até então eram totalmente administradas vor d e bispos zelosos.
pelos titulares da nova Nunciatura Apostólica em Colónia. E m Graz, foram cassados os vereadores lutéricos, e expulsos deze-
U m a série de sínodos diocesanos, a fundação d e u m seminário dioce- nove predicantes e mestres d e escola. E n q u a n t o a Comissão Reformatoria
sano, o tenaz esforço d e hábeis vigários gerais, executaram ponto p o r ponto do Principado, escoltado por milicianos, restaurava o culto católico n a Alta-
o programa das reformas conciliares, até que em 1662 se pôde, afinal, pro- Estíria, foram inquiridos todos os cidadãos de Graz; todos os livros lutéri-
ceder à solene promulgação d o Tridentino. cos deviam ser entregues e queimados. U m convento capuchinho, recém-
Mais vagaroso foi o despertar católico na Áustria dos Habsburgos. fundado, recebeu a incumbência de levar a cabo a obra d e conversão.
Rodolfo II, sucessor de Maximiliano II, homem d e u m a fraqueza mórbida, N a Caríntia, foram mister duas visitas canónicas, a segunda delas sem
que vivia habitualmente e m Praga, e deixava o governo em Viena entregue cobertura militar, p a r a vencer a resistência passiva. Posteriormente, t a m -
a seus irmãos Ernesto e Matias, não soube dominar as tensões religiosas. b é m vinham sempre comissões d e assuntos religiosos, sob a chefia dos bis-
Exorbitando muito de seus direitos, a nobreza protestante colocara pos e d o comandante regional, para examinar a situação religiosa da zona.
predicantes luteranos também em seus feudos e bailios. Animados c o m os Só os fidalgos tinham autorização de conservar seu credo protestante.
mesmos sentimentos, os burgueses de Viena organizaram manifestações Quando o Arquiduque forçava seus súditos a aceitarem, dentro de
diante d o Castelo d a Corte. Depois que se proibiu o culto divino n a " M a n - certo prazo, a religião d o príncipe, êle aplicava apenas o duro "ius refor-
são Campestre" ( " L a n d h a u s " ) , eles peregrinavam aos milhares até as pro- m a n d i " ("direito de reformar religião"), de 1555, que os príncipes protes-
priedades dos fidalgos nos subúrbios adjacentes. Os novos crentes já que- tantes já tinham tantas vezes exercido.
riam até organizar u m regulamento eclesiástico de caráter definitivo, mas
a desunião dos predicantes gorou a tentativa.
N a pessoa d o jovem Vigário Geral de Passávia, Melchior Klesl, con- 8. Territórios Eclesiásticos
vertido, natural d e Viena, surgiu contemporaneamente o h o m e m que iria
debelar a crise. N ã o deixou d e coroar-se de bom êxito sua incansável ati- Aos poucos, despertou também nos príncipes eclesiásticos da Alema-
vidade em visitas canónicas, durante vinte anos, nos decanatos e nos con- nha um zelo maior pela causa católica. Como primeiro, o cardeal Oto
ventos. C o m o Reformador Geral, pôs em execução os decretos que proi- Truchsess d e Waldburg, bispo d e Augsburgo ( 1 5 4 3 - 1 5 7 3 ) , investiu ener-
biam o culto divino evangéüco nas cidades e aldeias, e que determinavam gicamente contra a Reforma em sua diocese e n a colegiada de Ellwangen.
a exoneração dos predicantes. Mais d o que o braço secular, valia-lhe o p o - E m estreita colaboração com Canísio e com os Jesuítas em geral, êle
der de sua palavra, c o m o exímio pregador. próprio cumpria zelosamente os decretos tridentinos quanto a visitas ca-
A mais difícil de suas tarefas foi na Áustria Superior, verdadeiro ba- nónicas e sínodos diocesanos. Convocou Canísio para o púlpito da cate-
luarte d o protestantismo, onde os Conselhos Municipais se opunham, me- dral d e Augsburgo. Fundou em sua residência episcopal a Universidade de
diante os patronos, a que as paróquias fossem ocupadas por católicos. E m Dílinga, e confiou-a em 1563 à responsabilidade da Companhia de Jesus.
paróquias com regime de padroado, as tentativas de recatolização provoca- O âmbito p o r demais extenso das tarefas d o Cardeal, membro da
ram u m levante dos camponeses. Essa tardia Guerra de Camponeses teve "Congregatio Germânica" ("Congregação G e r m â n i c a " ) , protetor da Na-
u m a repressão cruenta. Suas causas propriamente ditas seriam as condições ção Alemã em R o m a , entrosado na grande política da Igreja e do Estado,
sociais e as oncrações econômicas, resultantes das Guerras contra os Turcos. e também a falta de decisiva profundidade intrinsecamente religiosa nos
Nos planos d e Klesl, a vitória devia atingir também o protestantismo. homens da Igreja, que por via de regra eram titulares de vários benefícios
Proibiu-se o culto divino n a " M a n s ã o Campestre" ( " L a n d h a u s " ) . E n t r e - eclesiásticos, constituíam fatores que, por sua natureza, embargavam u m a
tanto, outras rebeliões revelavam, sempre de novo, que a nobreza e o povo reforma total e eficiente da própria diocese. U m sucessor seu, formado n o
não estavam ainda intimamente recuperados para a antiga Igreja. "Colégio Germânico", é quem fêz prevalecer o pensamento tridentino n a
Com muito rigor procedeu o arquiduque Carlos contra os protestantes diocese d e Augsburgo.
na Áustria Central, depois que se avistara com seu cunhado Guilherme em Por volta de 1570, o Abade-Príncipe de Fulda começou a reforma em
Munique. Ali se acordaram sobre o plano de repressão contra o protestan- sua circunscrição. E m 1 5 7 1 , realizou-se u m a visita canónica geral da dio-
tismo. Carlos proibiu primeiramente o exercício nas cidades e nas aldeias, cese d e Münster. E m 1585, Ernesto da Baviera pôde assumir a diocese
e desterrou os corifeus da oposição. E m 1585, fundou a Universidade d e contra as pretensões de candidatos protestantes; Fernando da Baviera, seu
Graz, e entregou-a à direção dos Jesuítas. sobrinho e sucessor, executou em 1613 nova e radical visita canónica.
A seguir, encorajado pela recém-instalada Nunciatura, êle começou com N a Alemanha Central, Daniel Brendel ( 1 5 5 5 - 1 5 8 2 ) , arcebispo d e
a recuperação dos Vales, n ã o obstante todas as resistências. Seu filho Fer- Mogúncia, eleito com a maioria de u m só voto sobre o candidato protes-
nando, futuro imperador, educado em Ingolstádio, continuou a obra de r e - tante, consagrou toda a sua solicitude pastoral aos territórios dependentes
da Arquidiocese de Mogúncia. E m 1574, êle foi pessoalmente até o Eichs-
feld e a cidade d e Erfurt, quase totalmente protestanizada, onde começou
c o m a visita canónica.
O protesto dos fidalgos rurais, que contavam com o apoio dos prín-
cipes protestantes circunvizinhos, alegando violação da paz religiosa, êle o
rejeitou em 1 5 7 6 . A Dieta de Ratisbona tinha, n o mesmo ano, confir-
m a d o expressamente o direio de reforma ("ius reformandi") também para
os príncipes eclesiásticos.
A eleição de Teodorico de Fürstenberg, até então arcediago d o Cabido
( 1 5 8 5 ) , constitui um marco decisivo na movimentada história da diocese
de Paderborna. Sustou o alastramento da nova doutrina. N o sínodo dioce-
sano de 1594, iniciou-se viva atividade sinodal, que não citava o Tridenti-
no, mas que em seu espírito ab-rogou abusos, promoveu o culto divino e a
disciplina eclesiástica.
O Bispo recusou, de m o d o apodüico, a reivindicação dos Estados
("Stände") protestantes quanto à plena uberdade religiosa. M a n d o u abrir
uma impressora católica em Paderborna. F ê z visita canónica n o Cabido, o
que era até então cousa inaudita. Fundou p a r a os jesuítas u m Colégio, que
em 1614 ampliou como Universidade, confirmada pelo Imperador e peio
Sumo Pontífice.
A personalidade de seu sucessor, Fernando d a Baviera, garantiu nesse
bispado da Vestefália a evolução e a vitória definitiva d o novo espírito
católico.
Centro d o novo espírito se tornou, igualmente, o bispado d e Viree-
burgo, durante o longo episcopado de Júlio Echter de Mespelbrunn ( 1 5 7 3 -
1 6 1 7 ) . O jovem Arcebispo-Príncipe, eleito p o r sugestão da Baviera, pre-
parou-se com retiro espiritual para a nova dignidade. Caracteriza-o profunda
piedade inaciana.
C o m o tarefa principal, êle via diante dos olhos a conservação da fé
católica na diocese. Começando o trabalho de reorganização pela construção
d o grande Hospital São Júlio, introduziu nova tonaüdade social n a orques-
tração do humanismo epigônico, d o absolutismo, e do protobarroquismo.
Obrigado inicialmente a coibir-se, por causa dos vizinhos protestantes, o
Bispo garantiu-se com a reorganização econômica d e seu território, com o
acostamento político à Baviera, e com próprias iniciativas de caráter mul-
tar.
Acrescia, ainda, a renovação intrínseca, que o Bispo julgava sobretudo
garantir pela formação de u m clero d e alto p a d r ã o intelectual e moral n o
Seminário Eclesiástico recentemente fundado. Apesar da oposição do Cabi-
do, fundou, também para o mesmo fim, a Universidade ( 1 5 8 2 ) .
A seguir, começou então o trabalho pastoral nas cidades e nas cam-
panhas, para o que o Bispo fêz pessoalmente as visitas canónicas, enviou RENOVAÇÃO DO CATOLICISMO PELO ANO D E 1623
os Jesuítas a missões populares, e mandou construir ou restaurar mais de
trezentas igrejas. Com apoio n o "ius reformandi" (direito de reformar a
religião), desenrolava, paralelamente, desde 1585, encarniçada luta contra
os seguidores da nova doutrina no território da Arquidiocese.
A influência de Echter ultrapassava longe as fronteiras. Êle sentia-se só p o r ordem expressa d o Papa é que cia avançou nos países de expressão
responsável pela eleição de bispos desejosos da reforma, sobretudo em Bam- germânica.
berga, cuja situação religiosa periclitava. Para garantir seus empreendimen- Entretanto, em redor da primeira fundação em Altdorf ( 1 5 8 1 ) , cresceu
tos, filiou-se à Liga fundada por Maximiliano da Baviera, que a concebera em poucos'anos toda a Província Helvética, que logo transpôs o Reno e em
como pacto católico cie defesa. 1599 já pôde erigir o primeiro convento em Friburgo de Brisgóvia. Naquela
época, vindos de Veneza, os Capuchinhos já se encontravam em Inns-
9. Suíça bruck.
Lourenço de Bríndisi, que conquistara grande fama c o m o pregador,
Por ocasião da Contra-Reforma na Suíça, novas forças se revelaram fundou os primeiros conventos das sedes dos Habsburgos, em Praga, Vie-
n a Suíça, onde n ã o havia príncipes absolutistas, mas onde naturalmente n a e Graz, enquanto em Paris fazia seu noviciado Frei José, a "Eminência
existia a influência política das facções francesa e espanhola, que se di- P a r d a " , epíteto dos seus últimos dez anos de vida. Os fidalgos, em geral,
gladiavam entre si. n ã o só os franceses, sentiam u m a atração especial por essa Ordem Apostó-
E m contrabalanço, Carlos Borromeu nunca esquecia o País além-do- lica. Mais de um desses padres manifestará, n a vanguarda da defesa da fé
Monte-Gotardo. Êle encontrou influente calaborador na pessoa d o bailio e da renovação eclesiástica, sua habilidade político-religiosa.
d e Nidwalden, Cavaleiro Melchior Lussy de Stans, que em 1564 assinara A Província d e Paris povoou os conventos de Flandres. De lá aporta-
os decretos conciliares tridentinos em n o m e das sete comunas católicas. r a m os Capuchinhos a o R e n o , onde fundaram em 1611 o primeiro con-
Esse leigo sempre de novo se empenhava junto a seus compatriotas pela vento cm Colónia. Depois que desapareceram as restrições de expansão
aplicação dos respectivos decretos de reforma, e forcejava pela formação de local, a Ordem alcançou em quarenta e cinco anos a Companhia de Jesus,
boa reserva sacerdotal. Deve-se também a êle a admissão de teuto-suíços sim, ultrapassou-a numericamente. Seu campo d e ação era mais amplo.
n o "Collegium Helveticum" ("Colégio Suíço") de Milão. Antes de tudo, E n q u a n t o os Jesuítas se concentravam intensamente n o magistério superior,
foi êle que levou os Capuchinhos p a r a além d o M o n t e Gotardo, e lhes cons- eles praticavam o apostolado da pregação, n o começo como pregação peni-
truiu em Stans um convento em chão próprio, e de seus recursos pessoais. tente e ambulante, depois cada vez mais como pregação popular, como
Como apoio d e absoluta segurança para u m a duradoura reforma eclesiás- pregação controversista, ligada à catequese popular e a devoções de caráter
tica, obteve por fim também a instalação permanente de u m a nunciatura popular.
apostólica n a Suíça.
Bem depressa se desvaneceu, entre eles, a feição puramente italiana,
O primeiro núncio Bonhomini, que era amigo de Borromeu, tornou-se ainda que por muito tempo os ultramontanos não tivessem direitos iguais
de fato a figura central da renovação religiosa. E m 1574, os Jesuítas já se c o m relação aos cargos da Ordem.
tinham fixado em Lucerna. P a r a tanto se tornara mister u m a ordem ex-
pressa d e Gregório X I I I à Companhia. Com igual energia exigiu o Papa a 10. França e Bélgica
fundação de u m colégio em Friburgo. Canísio pôde inaugurá-lo em 1582.
Aliado dos cantões católicos, Jacó Cristóvão Blarer d e Wartensee, A renovação religiosa d a França devia levar em conta realidades muito
bispo de Basiléia, pôs capuchinhos e jesuítas em atividade p a r a a renovação diversas das que existiam na Alemanha. L á não viviam senhores d e ter-
ritórios com direito de promover reforma religiosa, nem bispos que fossem
de sua quase aniquilada diocese. N o território que lhe sobrara, o zeloso
simultaneamente senhores territoriais; n ã o era concebível u m a junção d e
Bispo pôde, n u m sínodo diocesano de 1 5 8 1 , dar execução à Reforma Tri-
recursos religiosos e profanos, militares e políticos, em defesa da Igreja ou
dentina. E m contraste, foram muito lânguidas e esporádicas as medidas de
p a r a recuperação de áreas perdidas. Compreende-se, pois, perfeitamente,
reforma, aplicadas pelo Bispo de Constança, responsável pela parte maior que os Franceses não apreciem o termo "Contra-Reforma" numa exposição
d a Suíça Germânica. da História.
N o território não italiano, aos Jesuítas, elementos principais da renova-
E m França, o E s t a d o monolítico d e um Richelieu podia cuidar so-
ção católica, foram juntar-se também os Capuchinhos. A Ordem superara,
zinho, e com próprios recursos, da unidade confessional da nação. Aos
de modo admirável, a crise depois da apostasia de Ochino, e conquistara
bispos competiam apenas os negócios internos da Igreja. Ainda assim, os
grande estima em toda a Itália pelo seu zelo apostólico e austeridade d e
distúrbios das Guerras Civis e Religiosas intranqüilizaram, por muito tem-
vida.
p o , o regime eclesiástico d a França, que estava totalmente centrado na
Borromeu tomou os Capuchinhos p a r a a reforma em sua diocese pessoa d o Rei soberano.
milanesa, e tornou-se grande fautor deles. E m 1574, Gregório X I I I tirou Nos decênios, portanto, em que não havia nenhum rei, ou rei reconhe-
a restrição que circunscrevia a Ordem só a o território da Itália. Então, c o - cido por todos, muitas dioceses permaneciam sem pastores, pois estes e r a m
meçou imediatamente a propagação através da F r a n ç a e da Espanha, mas sem exceção apresentados pelo Rei. E m 1579, u m terço das dioceses esta-
região calviniana d o Lago de Genebra; reconduzira, com incríveis difi-
vam vagas; vinte e oito, entre elas, estavam sob o governo de leigos. N o culdades, setenta aldeias à fé católica. N a qualidade de coadjutor e bispo,
sudoeste da F r a n ç a , era preciso ir alguém até a Espanha, quando tivesse não se limitou a fazer a visita canónica, a catequizar as crianças, a fundar
necessidade d e recorrer a u m bispo. seminário, mas também procurava conquistar as almas com seu prestígio
Cumulação e negociação de benefícios eclesiásticos n ã o constituíam pessoal. E m seu diálogo com Beza, e m seus escritos d e controvérsia, e m
casos raros, tanto na época anterior a o Tridentino, c o m o na posterior a êle. suas pregações, sentia-se u m a nova tonalidade, o amor ao irmão errado,
O Cardeal de Lorena, Carlos de Guise, que aos catorze anos se tornara sem ironia e acrimonia.
arcebispo de Remos, teve sucessivamente, e t a m b é m simultaneamente, o
Seu humanismo cristão é apostólico. Êle n ã o apreciava coação e dure-
governo de seis outras dioceses e d e várias abadias.
za. Saboiano, êle desconhecia qualquer concessão às liberdades galicanas
A jurisdição eclesiástica dos bispos mantinha-se, muitas vezes, e m
ou a o realismo absolutista. Por esta razão sua influência sobre a espirituali-
âmbito coarctado. Metade dos benefícios eclesiásticos d a França estavam
d a d e francesa, cujos expoentes ficou conhecendo em suas viagens, garantiu
incorporados a mosteiros e a fundações isentas. O s Cabidos das Catedrais,
e aprofundou o teor religioso d o "grand siècle". A Igreja d e França, p o -
com forte representação numérica, atreviam-se não poucas vezes a arrostar
rém, tornou-se forçosamente galicana, não tridentina, porque subsistia a
seu Bispo e Chefe. A esses bispos que, se não eram cortesãos, eram meros
influência avassaladora d o Rei em matéria de benefícios eclesiásticos, e o
administradores de patrimônio, o Concílio lhes tinha de novo inculcado sua
Concílio não obtivera nenhuma reforma religiosa dos príncipes. N ã o obs-
vocação autêntica de serem pais e pastores d e seus fiéis. Verdade é que,
tante a rigidez de estrutura da Concordata, a metamorfose dos espíritos
por causa da oposição d o Terceiro Estado, nem sob o governo d e Henrique 1 0
aplainou todavia o caminho para a Reforma Católica.
IV nem de Luís X I I I , o Parlamento chegou a aceitar os decretos conciliares
de reforma, e o trabalho dos sínodos provinciais foi por muito t e m p o fogo N a Bélgica, dilacerada, como a França, pela Guerra Civil e Religio-
de palha. sa, o Renascimento Católico foi, essencialmente, obra dos bispos e de
Contudo, o exemplo de Borromeu, por meio de seus discípulos e d e seus colaboradores. Sob a influência d o Conselho de Estado, ao qual então
seus escritos, marcou um vinco imperceptível, mas profundo na França. pertenciam Guilherme de Orange, Hornes e Egmont, a governadora Mar-
Chegado de Milão, o Arcebispo de Aix alcançou, em 1579, que seus cole- garida d e P a r m a recusara em 1565 a promulgação dos decretos conciliares,
gas em Melun aceitassem com íntima docilidade os decretos de reforma. Os por razões de Estado, e aos bispos concedera o "imprirnatur" ("publique-
sínodos provinciais, porém, levavam as cousas muito devagar. C o m a m o r t e s e " ) para a publicação somente com a explícita ressalva dos mais diversos
d o Arcebispo, desapareceu p o r sua vez o seminário que êle fundara em direitos.
Aix. Várias são as causas que prejudicaram, seriamente, os efeitos da
Atuação mais prolongada pôde desenvolver Francisco d e la Rochefou- promulgação por parte dos bispos. N ã o que faltassem bispos zelosos da
cauld, bispo d e Clermont, posteriormente d e Senlis, que ainda conhecera reforma. Com exceção d o arcebispo de Utreque, mal-afamado por causa de
Borromeu pessoalmente. Quando o Parlamento e m 1616 recusou de novo sua vida, e de algumas personalidades menos enérgicas, o episcopado nos
a publicação dos decretos, o Bispo conseguiu, n o ano imediato, que sete Países-Baixos formava-se de homens eruditos e cordatos, na maioria porta-
arcebispos e cinco bispos jurassem em suas mãos que promulgariam o dores de títulos acadêmicos, que tinham colhido suas experiências n a cura
Concílio em sínodos provinciais. C o m o a coisa lhe parecia andar muito de almas e n a administração temporal d a Igreja, e que, n a repressão da
vagarosa, êle próprio começou com a reforma, por ocasião d e seu sínodo heresia, se mostravam mais comedidos d o que o Papa e o Rei (Pio V e
diocesano em 1620, mas não omitiu a costumeira ressalva dos direitos d o Filipe I I ) . Contudo, várias das novas dioceses n ã o estavam ainda total-
Rei e da Coroa, bem como dos privilégios da Igreja Galicana. Os prenún-
mente organizadas; noutras, manifestava-se forte oposição por parte dos
cios d o galicanismo em marcha positivaram-se, mais nitidamente, n o sínodo
Cabidos isentos; sobre todo o país pairava a ameaça de ficar longos anos
provincial d e Bordéus em 1624, cujas decisões foram promulgadas antes d e
ocupado pelos "gueux" ("maltrapilhos").
se pedir a confirmação d e R o m a , mas depois corrigidas pela Congregação
R o m a n a d o Concílio. Rithovio, o excelente bispo d e Ipres, "pérola dos 'bispos", esteve quatro
De maior importância d o que esses sínodos, foi a atividade dos Jesuítas anos aprisionado p o r eles. Lindano, h o m e m erudito, bispo d e Ruremonda,
cujo número por volta de 1610 orçava cm 1400, e que possuíam 35 colé- só pôde tomar posse de sua diocese depois de sete anos. Torrêncio, d e
gios; bem c o m o a atividade dos Capuchinhos, por mais acidentada que s'Hertogenbusch, só onze anos depois d a nomeação é que conseguiu morar
fosse a vida de alguns de seus membros de nacionalidade francesa (Henri- em sua cidade episcopal. E m quase vinte anos, os "gueux" assassinaram
que de J o y e u s e ) ; e não por último, a atuação pastoral de tantos bispos. 130 sacerdotes, entre os quais os 19 Mártires de Gorcum ( 1 5 7 2 ) alcança-
Entre eles, seja aqui mencionado apenas Francisco d e Sales ( 1 5 9 7 - r a m a glorificação dos altares. A maior parte das abadias foi saqueada e
1 6 2 2 ) , cuja diocese na Sabóia vizinhava com a França. Este homem de incendiada.
profunda cultura, trabalhara como novel sacerdote pelo missionamento da
M a s , antes e depois de seu encarceramento, o Bispo de Ipres visitou clero culto e piedoso. O país tornou-se u m a província florescente da Igre-
sua diocese, restaurou a disciplina entre o clero, pregou pessoalmente, e
ja, a bem dizer u m a m a d r e fecunda da arte e da cultura barrocas.
ergueu com seus próprios recursos o primeiro seminário da Bélgica.
Ainda que a vida espiritual já n ã o alcançasse o auge primitivo d a
Apenas chegado em Ruremonda, Lindano celebrou u m sínodo, man-
"devotio" (devoção) d a Alta Idade-Média, e por via de regra se alimen-
dou redigir um catecismo, e abriu a luta contra os concubinários em seu
tasse principalmente d e sugestões e decalques da Espanha, contudo a p u -
clero, praticamente contra todo o clero, e não se deixou desviar dela pela
jança dessa vida era tão vigorosa, que não deixava de beneficiar até os
necessidade de tomar a fuga por três vezes.
católicos da diáspora nas províncias calvinianas d o Norte. Arrostando o
Os Sínodos Provinciais de 1565 não lograram o efeito desejado. Com
constante perigo de ser preso e expulso, um grupo de animosos jesuítas
o auxílio d o Duque de Alba, porém, o Arcebispo d e Cambraia pôde pro-
começou com a cura de almas na Diáspora Holandesa. Mais tarde, asso-
mulgar os decretos tridentinos pelo menos na área metropolitana. Nos anos
ciaram-se a eles outros religiosos.
imediatos, fizeram outro tanto seus sufragâneos. N o sínodo provincial d e
Malinas em 1570, Rithovio exigiu a aceitação de todos os decretos, sem Eles fundaram numerosos postos missionários. Sentiam-se embaraçados
nenhuma restrição. com problemas canónicos e com a falta d e clareza nas relações com os
Vigários Apostólicos. Quando a Congregação d a Propaganda da F é iniciou
Nos anos seguintes, muitos sínodos ocuparam-se com a reorganização n
suas atividades , apresentaram-se entidades religiosas e abnegados sacer-
dos benefícios, com a vida sacerdotal e religiosa, e o sistema das escolas,
dotes até para as Missões Nórdicas.
mas eles não chegaram a impor-se, por causa das restrições d e Bruxelas.
Fizeram-se apenas tentativas, também n o problema dos seminários.
Nesse entretempo, os bispos obtiveram bons aliados e colaboradores.
1 1 . Defesa e Consolidação d o s Protestantes
Desde 1584, Bonhomini era núncio em Colônia, d e onde visitava os con-
ventos e os cabidos na Bélgica. E m 1542, chegavam os primeiros Jesuítas
em Lovaina. Entre as nove casas fundadas, por volta de 1575, sob a pro- O s Protestantes Germânicos, que tinham recusado rispidamente o
teção dos bispos, apesar de algumas restrições por parte do Governo, a convite p a r a a terceira sessão do Concílio Tridentino, viram e m seu encer-
mais importante era a casa de Douai, com o número aproximado de mil ramento e em seus decretos u m a investida contra a sua própria existência
alunos, talvez p o r ser ponto d e irradiação. teológica e u m a ameaça para seu regime eclesiástico. A fim de se precaver
d o Concílio, o Conselho d e Berna determinou dois dias de oração p o r
E m Lovaina, porém, os clérigos da Ordem freqüentavam primeiro as
semana. O Catecismo d e Heidelberga, publicado n o início de 1563, p o r
preleções na Universidade, até que a partir d e 1570 recebiam todas as
promoção de Frederico I I I d o Palatinado, príncipe-eleitor calviniano, recebeu
aulas na própria casa, onde Belarmino em preleções de acesso público
comentava a Suma Teológica de Santo Tomás d e Aquino. u m a nova formulação a respeito da "maldita idolatria" da Missa c o m o
resposta, p o r assim dizer, aos anatematismos de Trento.
Contudo, em alguns lugares, também a Companhia sofreu expulsões
N o mesmo ano, apareceu o primeiro volume do "Examen concilii
e teve de bater em retirada, até que n o t e m p o d e Alexandre Farnese pôde
Tridentini" ("Análise d o Concílio T r i d e n t i n o " ) , saído da pena de Marti-
restabelecer-se ordem e tranqüilidade, pelo menos nas províncias meridio-
n h o Chemnitz, notável teólogo luterano de Brunsvique. E m obra de quatro
nais. Deixaram então de existir, por parte d o Rei, as restrições contra a
volumes, Chemnitz procurou com grande aparato científico refutar, u m
Companhia de Jesus. Novas fundações sucederam-se rapidamente. As voca-
p o r um, os decretos tridentinos, e assim criou por muitos séculos as bases
ções eram numerosas. A Província teve que ser dividida em 1612. N o
p a r a a polêmica protestante.
tempo d e Alexandre Farnese, chegaram ao país também os Capuchinhos.
Justamente dez anos mais tarde ( 1 5 9 5 ) , fundou-se u m a Província, que em A u m embate eficiente se opunham, todavia, as perturbantes contro-
1616 foi dividida, pelos mesmos motivos que se dividiu a Província d a C o m - vérsias doutrinárias dentro da própria casa, relacionadas com a pessoa d e
panhia. Melanchthon numa evolução posterior, e com seus discípulos. O empenho
d e fazer u m a unificação confessional das divididas Igrejas Evangélicas,
E m condições mais favoráveis, estava assim aparelhado u m grupo
e o acerto de contas com a teologia tridentina resultaram n u m a forte
compacto de colaboradores, q u a n d o em 1598 o arquiduque Alberto e a
sistematização do próprio protestantismo.
infanta Isabel ( o antigo cardeal-bispo de Alcala, que fora dispensado d o
subdiaconato, e a filha predileta d e Filipe II, a qual andava em trajes Melanchthon já pusera a doutrina em redação didática. Brenz redi-
d e clarissa depois da morte d o esposo), assumiram u m governo exterior- gira em 1551 a "Confessio Wirtembergica" ("Confissão d e V u r t e m b e r g a " )
mente quase emancipado da Espanha. c o m o projeto p a r a o Tridentino. Então, procurava-se estabelecer u m a
unificação, mas que não fosse com fórmulas genéricas e vagas. P o r isso,
Pela harmoniosa cooperação desse casal com bispos excelentes e com retomaram-se os símbolos cristãos primitivos e os primeiros textos simbó-
muitos elementos auxiliares, a totalidade do povo foi intimamente recon- licos protestantes, desde a "Augustana" ("Confissão d e Augsburgo") n ã o
quistado para a fé católica. Nos seminários então fundados, cresceu u m retocada até o Pequeno Catecismo de Lutero, n a assim c h a m a d a " F ó r m u l a
d e concórdia" de 1580, em cuja elaboração trabalhara sobretudo Marti- Imperador. Só assim se explicava a atitude neutra d a Saxônia Eleitoral n o
n h o Chemnitz, a o lado de Jacó Andreas, natural da Suébia. primeiro período d a Guerra dos Trinta Anos.
A "Fórmula dc concórdia" logo passou a ser considerada intangível, N a Suécia, sentiu-se de m o d o particularmente vivo a ameaça de
p o r assim dizer, inspirada. A tarefa dos teólogos ortodoxos consistia pre- u m a Contra-Reforma Católica. Ali sucedera como rei a J o ã o III, católico
valentemente em sua interpretação, p a r a a qual não tardaram a utilizar-se às ocultas, seu filho Sigismundo III ( 1 5 9 2 - 1 6 0 4 ) , que já era rei da Poló-
d o aristotelismo medieval, t ã o desautorado p o r Lutero. nia, e católico convicto. N a Polónia, êle continuara energicamente a reno-
A canonicidade de Lutero teve por conseqüência que os teólogos orto- vação religiosa d o clero e d o povo, começada pelo Cardeal Hósio d e
doxos dali p o r diante falassem conscientemente da "Ecclesia L u t h e r a n a " Vármia, e conseguira o retorno de muitos fidalgos para a Igreja Católica.
("Igreja L u t e r a n a " ) , e por sua vez a delimitassem polemicamente contra Entretanto, n a Suécia, u m a oposição interna sob o regente Carlos,
o calvinismo, e também contra Igreja Católica em sua renovação triden- irmão d o rei falecido, já tinha organizado a frente de resistência contra
tina. De modo particular, o debate com Belarmino deu azo a que se dis- qualquer promoção a favor d o catolicismo. Os Estados ("Stánde") comi-
cutisse a neo-eseolástica, cultivada sobretudo em Salamanca, n ã o só n o navam, com deserdamento, o abandono da Confissão de Augsburgo.
âmbito da teologia, mas também da filosofia, d o direito e da doutrina Nessas circunstâncias, o novo Rei devia, antes d a coroação, desistir de
política, e a que assim se incorporassem sem o perceber muitos elementos qualquer tentativa p a r a conseguir livre exercício de religião a favor dos
n o próprio método e na concepção das cousas. católicos.
Concatenação muito mais acentuada do que a do luteranismo, podia Depois do r e t o m o do Rei à Polónia, a Dieta Sueca decretou, sob a
manifestá-la o regime eclesiástico reformado. Sob o domínio de Henrique chefia d o Regente, a expulsão d e todos os eclesiásticos católicos, e extin-
Bullinger, sucessor de Zuínglio em Zurique, é que sobretudo se chegou, guiu o mosteiro de Vadstena, fundado por Santa Brígida, até então tute-
depois de muitas oscilações, a compor u m a confissão unitária de fé dos lado como santuário nacional.
Sacraméntanos (Zuinglianos) e dos Calvinistas da Suíça.
Irrompeu, então, u m a guerra entre o Rei e o Regente. Sigismundo
A "Confcssio Helvética posterior" ("Segunda Confissão Helvética foi derrotado. O tio subiu então, c o m o Carlos I X , a o trono da Suécia em
de fé") foi aceita em 1562 pela maior parte das Igrejas Reformadas da 1604. Sob seu governo, a Dieta decretou que os católicos já não podiam
Suíça. Ela atenuou consideravelmente as doutrinas de Calvino sobre a deter-se n o país. Os sacerdotes eram ameaçados com a p e n a de morte.
predestinação e a Ceia. Excluiu-se p a r a o futuro qualquer união pessoal com a Polônia. N o governo
P o r ordem d o príncipe-eleitor Frederico III, teólogos d o círculo de de Gustavo Adolfo I I ( 1 6 1 1 - 1 6 3 2 ) , filho d e Carlos, a Suécia assumiu,
Bullinger introduziram, depois de 1560, o calvinismo n o Palatinado Elei- por assim dizer, a supremacia protestante d o Norte.
toral. Depois d e u m a repressão passageira pelo sucessor luterano Luís V I
( 1 5 7 1 - 1 5 8 3 ) , o calvinismo continuou após sua morte a dominar sem
n e n h u m a contestação. 12. Igreja Nacional Anglicana e Puritanismo
O calvinismo n ã o estava incluído na Paz Religiosa d e Augsburgo,
mas em 1566 o Imperador exigiu em vão que Frederico retornasse ao C o m o reação, se não como Contra-Reforma, muitos protestantes
luteranismo. O Príncipe-Eleitor teve antes d e tudo o apoio da Saxônia. viveram na Inglaterra a restauração da Igreja do Estado e dc u m a liturgia
N ã o demorou que os outros príncipes seguissem seu exemplo. Nassau, unitária pelos "Atos de uniformidade" d a rainha Isabel. Tratava-se, sobre-
Palatinado-Zweibrücken, Anhalt, Hássia-Cássel, e a cidade de Brema caí- tudo, daqueles círculos que, na Escócia ou na expatriação sob o governo
r a m n o calvinismo. de Maria, a Católica, tinham conhecido o calvinismo n o Continente, mais
Graças à resistência da população, o Príncipe-Eleitor d e Brandem- em particular sua estruturação comunitária e seu culto simples e sábio.
burgo n ã o chegou a introduzir o calvinismo em seu território. Os Refor- Nas ricas cerimónias da Alta-Igreja, n o canto eclesiástico e n o toque
mados Germânicos tinham disposições muito belicosas, não só contra o de órgão, na persignação d a cruz, nos guisamentos sacerdotais, na obser-
Imperador católico, mas também contra as Igrejas Tenitoriais Luteranas, vância dos dias santos, viam sobrevivencias católicas; n o episcopado, par-
que se sentiam ameaçadas. Chegou-se então, sobretudo n a Saxônia Elei- cialmente apregoado como instituição divina, e n o governo régio da Igreja,
toral, a u m a repressão violenta do filipismo, assim chamado pelo preñóme u m resquício da dominação papista. Anelavam, de acordo com suas opi-
d e Melanchthon, ou d o criptocalvinismo; nela, caiu c o m o vítima Krell, niões, u m a eclesialidade totalmente escriturística e u m a organização mera-
chanceler da Saxônia Eleitoral ( 1 6 0 1 ) . "Antes papista, d o que calvi- mente religiosa, sem entraves sensíveis entre a alma e Deus.
nista", era o que se dizia entre o povo. H o ê de Hoênegg, natural de Viena, Os Puritanos, como logo foram designados, não se distinguiam ini-
p o r muitos anos predicante na Corte de Dresda, que igualava a doutrina cialmente da Igreja Anglicana por doutrinas peculiares em matéria d e fé.
calvínica da predestinação ao fatalismo dos maometanos, aplicou toda a O puritanismo era antes determinada atitude religiosa, u m a adesão quase
sua influência em arredar seu senhor de todas as ações políticas contra o apaixonada à letra da Bíblia e ao culto meramente espiritual. Estava lar-
gamente difundido entre os artesãos das cidades e nos primeiros magnatas
d o comércio.
E m torno de questões secundárias, como o uso do roquete, irrom-
peram controvérsias. Começaram, então, as primeiras sanções e perse-
guições. N o puritanismo, manifestou-se cada vez mais a tendência p a r a a
separação entre Igreja e Estado, e p a r a a autonomia de cada u m a das
comunidades. Os puritanos tornaram-se então presbiterianos, que rejei-
tavam o episcopado da Alta-Igreja, motivo pelo qual Isabel e seu sucessor
lhes moveram d u r o combate. A s prisões encheram-se de "dissenters"
("dissidentes"), que n ã o queriam conformar-se à " A t a de uniformidade".
N e m as execuções capitais conseguiram abafar o movimento.
Muitos puritanos emigravam p a r a a Holanda; outros resolveram cons-
tituir suas comunidades na América. Além da multidão dos que procura-
v a m o eldorado, o "Mayflower" também levou ao N o v o Mundo os trinta
e cinco "Pilgrims" ("Peregrinos"). Cerca de 2 0 . 0 0 0 puritanos fundaram
em Nova-Inglaterra colônias próprias, nas quais procuravam viver p a r a
sua notória predestinação, em sóbria fraternidade, sob o domínio de suas
propensões e sentimentos, com separação entre Igreja e Estado, e inicial-
mente com rígida intolerância contra heterodoxos. Afinal, aprenderam to-
davia a respeitar a liberdade d e consciência de outros crentes, graças à
12
própria experiência e à recordação dos anos de d u r a provação.
Os puritanos remanescentes na Inglaterra asinha se tornaram elemen-
tos belicosos na Igreja e na sociedade. A maioria dos burgueses puritanos
tolerava, muito insofridamente, o absolutismo d o rei Carlos 1 ( 1 6 2 5 -
1 5 4 9 ) . A essa situação acresciam ainda as altas exações financeiras d o
Rei ao Parlamento, e seu flagrante favoritismo p a r a com o r a m o catoli-
zante d a Alta-Igreja.
O arcebispo Laud, convocado por Carlos p a r a ser primaz da Can-
tuária, perseguia o clero de orientação puritana e procurava garantir, pela
reintrodução d o antigo ritual, u m mínimo d e tradições culturais em toda
a Inglaterra. O povo também alimentava receios, por causa d o casamento
d o Rei com a princesa católica Henriqueta Maria d e França, e dos favores
reais outorgados a vários católicos.
Carlos tinha, p o r exemplo, aprovado os planos sobre a ocupação de
u m a colónia n a América d o Norte, que lhe apresentara Jorge Calvet, an-
tigo secretário de Estado n o tempo de seu pai, e então obrigado a demi-
tir-se em conseqüência de sua conversão ao catolicismo. Essa colônia devia
receber o n o m e ambivalente de "Maryland" ( " T e r r a de M a r i a " ) . Dever-
se-ia pensar na esposa de Carlos ou na M ã e de Deus? Sua finalidade era
proporcionar liberdade de religião aos católicos.
Quando, porém, a nova liturgia "catolizante" devia introduzir-se tam- DIVISÕES ECLESIÁSTICAS D A S ILHAS BRITÂNICAS PELA MORTE
bém na Escócia, explodiu u m a rebelião, dirigida por um "Sagrado Con- D E HENRIQUE VIII, EM 1547
vênio" ("Holy Covenant") em defesa da liberdade religiosa. Os rebeldes
proclamaram a abolição d o episcopado. N o Parlamento, convocado após
longo recesso, formou-se logo u m a maioria contra o Rei e as medidas por
êle tomadas. E m Londres, também se vociferava: "Abaixo os bispos!"
192 Capítulo V

Coligaram-se as oposições inglesa e escocesa. Estourou, então, a


Guerra Civil. Sua direção foi parar em mãos de Olivério Cromwell, h o -
mem de muito talento, empolgado de u m a consciência velho-testamentária
de sua vocação. Êle logo passou por cima dos presbíteros, e estabeleceu
o domínio dos radicais, independentes de qualquer sínodo. O Rei, como CAPITULO VI
era de esperar, foi condenado à morte p o r u m "Rump-Parliament" ("Par-
lamento T r u n c a d o " ) , e teve que galgar o cadasfalso como traidor e h o -
micida. EFEITOS REMOTOS DA DISSIDÊNCIA RELIGIOSA
A Inglaterra tornou-se república. Cromwell governava-a como Lorde NA ÉPOCA DO ABSOLUTISMO.
Protetor. P a r a as seitas que proliferavam em grande número, havia liber- SURTO DA RELIGIÃO E BULHAS TEOLÓGICAS.
dade de consciência; contra os episcopais e os católicos vigoravam severas TENTATIVAS DE UNIÃO.
leis de perseguição. N u m a expedição contra a Irlanda, Cromwell mandou
trucidar, sem d ó nem piedade, a exemplo d o Antigo Testamento, a popu-
lação católica das cidades conquistadas. A atmosfera continuou inalterada
Fazia parte da herança legada pela Idade Média à época moderna,
para os católicos na Inglaterra, mesmo q u a n d o em 1660 se operou a res-
que movimentos religiosos sempre assumissem também formas políticas,
tauração dos Stuarts. Qualquer mitigação, ainda que aparente, das leis
e fossem promovidos ou combatidos por força políticas. O regalismo p r a -
contra os papistas tinha como resposta forte oposição d o Parlamento e
ticado na Europa Ocidental, a eclesialidade nacional de certas proporções
dos Lordes protestantes.
n a Alemanha, determinaram de maneira muito decisiva, conforme já foi
declarado, os rumos seguidos pela Reforma protestante e pela defesa e
recuperação católica.
De ambos os lados, os senhores e as autoridades seculares procura-
vam, de maneira mais ou menos consciente, aproveitar para seus fins
políticos as energias religiosas novamente despertadas.
De origem, a Liga Esmalcáldica fora positivamente organizada em
proteção da fé de seus membros protestantes; mas, pelo pacto militar
feito contra o Imperador, c pelo contacto com potências extragermânicas,
c o m o a França, Inglaterra, e Dinamarca, ela tinha também o caráter d e
uma oposição política interna, dir-se-ia. revolucionária contra o I m p e -
rador e o Império.
Maurício de Saxe abandonou as partes d o Imperador, a fim de ga-
rantir a "liberdade germânica" contra a "bestial escravidão espanhola".
Nesse passo, já não entrava nenhum motivo religioso, que se pudesse
averiguar. Quando muito, êle ainda aplicava, com fino cálculo, elementos
religiosos só em planos políticos de grande envergadura, mas que vieram
a falhar com sua morte precoce.
~ A aliança firmada com a França católica, que em próprio território
perseguia os huguenotes, evidenciava, em ambos os contendores, um sim-
ples imperialismo, destituído de todos os ideais, que sabia explorar habil-
mente as antinomias religiosas.
A luta contra os Reformados na França, a o menos p o r parte da Cor-
te, desenrolou-se também sem nenhum móvel religioso. As facções com-
batiam-se mutuamente. Sob pretexto religioso, a oposição contra a polí-
tica interna devia ser destruída, para impor então o regalismo absoluto.
Sob este ponto d e vista se compreende que historiadores franceses de res-
ponsabilidade j á não queriam falar de Guerras Religiosas, mas tão-sò- contra-aliança católica. Desta forma, pois, n o ano seguinte, entre alguns
menle de Guerras Civis na França. bispos e prelados da Alemanha Meridional, sob a chefia d o D u q u e da
A ânsia de liberdade civil, que nos Países-Baixos se ligava à reforma Baviera, formou-se a "Liga" em defesa d a paz pública e d a Religião Ca-
religiosa, proporcionou a esta última a possibilidade de destruir tantos tólica. A "Liga" pôde ainda consignar outras adesões, e conseguiu um
valores católicos n o país inteiro. A própria vitória das forças revolucioná- pacto de ajuda com a Espanha.
rias contra as tropas d o D u q u e de Alba c suas brutalidades entrou na N o Baixo-Reno, onde justamente u m a geração antes, na Guerra de
História n ã o como conversão p a r a a Reforma, mas c o m o "secessão dos Colônia, Bávaros e Espanhóis tinham escorraçado o então Príncipe-Eleitor
Países-Baixos", p o r conseguinte como ocorrência política. G e b a r d o com suas tropas auxiliares d o Palatinado e d o Estado Maior,
Mesmo a expedição de Cromwell para demolir o catolicismo na Ir- estava iminente o primeiro choque de armas entre os dois exércitos. U m
landa serviu p a r a abater também u m a oposição irlando-galesa contra o acordo, porém, n a d e m a n d a sucessória entre Jülich e Cleve, ensarilhou
domínio da Inglaterra, não obstante todas as bem intentadas motivações as armas. O peso da "Liga" conseguiu a divisão da herança, e com isso
religiosas que pudessem induzir o "Juiz de Israel". a criação de mais um domínio católico d o Palatinado-Neuburgo em Düs-
Quanto mais longe dos primórdios da Reforma, tanto mais difícil era seldorf. Persistia, contudo, a tensão perigosa; alguns anos mais tarde
de separar então a mescla de interesses políticos e religiosos, e tanto mais apresentou-se o ensejo para a abertura das hostilidades.
enganador é também o abuso de religião e credo pelas forças e elementos A s origens remotas d a Guerra dos Trinta A n o s remontam à Boêmia,
da política. Assim, nessa perspectiva, o desenvolvimento d o regalismo país sempre agitado p o r idéias político-religiosas. Havia abdicado o impe-
absolutista, do absolutismo religioso n a Espanha e na França, na Baviera rador Rodolfo II, que outorgara aos protestantes da Boêmia amplos alva-
e na Áustria, pertencem aos efeitos remotos da Reforma, bem como a rás d e liberdade. Seu irmão Matías ( 1 6 1 2 - 1 6 1 9 ) n ã o estava disposto a
constituição dos Estados ( S t ä n d e ) , sobretudo na Holanda e nos vários manter as concessões de Rodolfo. Ensejo para as restringir ofereceu-se
países escandinavos, as Guerras entre a Espanha e a Inglaterra, c mais a com a edificação de templos protestantes em áreas pertencentes a mostei-
Guerra dos Trinta Anos n o coração da Europa. ros, o que infringia o teor do acordo de 1609.
O Imperador m a n d o u fechar as igrejas d e B r a u n a u a Klostergrab, e
determinou até a demolição desta última, não obstante a reclamação dos
1. Guerra d o s Trinta A n o s protestantes. Em conseqüência, houve em 1618 um levante em Praga. O
lugar-tenente d o Imperador e seu secretário foram precipitados pelas jane-
A Guerra dos Trinta Anos tem u m a breve história preliminar. A las d o Castelo Imperial d e Praga. Organizou-se em Praga um governo pro-
fragmentação territorial, mormente n o sudoeste da Alemanha, teve c o m o visório dos Estados ( " S t ä n d e " ) , sob o comando d o Conde T h u m . Parecia,
consectario a mais íntima coexistência das mais variadas confissões reli- então, repetir a "secessão dos Países-Baixos". O C o n d e Thurn marchou
giosas. contra Viena, à frente de um exército da Boêmia e da Morávia, e ligou-se
N a colina entre o Danúbio e o Wörnitz, erguia-se não somente a ci- com os Estados Protestantes da Áustria Superior e com os Príncipes da
dade livre protestante Donauwörth, como também justamente na confluên- Transilvânia. Nesse entretempo, morrera Matias, e o Cardeal Klesl fora
cia a Abadia livre Heiligkreuz ("Santa C r u z " ) . As aldeias das cercanias preso por um Partido de Ação Popular de Viena, em conseqüência de sua
eram todas católicas, e suas procissões tinham de atravessar a cidade atitude hesitante com os rebeldes. Foi eleito imperador, com o nome de
protestante. E m 1606, u m a procissão da Abadia foi perturbada n o dia F e r n a n d o II, o Arquiduque Fernando da Áustria Central, que n o regresso
d e São Marcos. D a d o o incidente, Maximiliano da Baviera recebeu d o Im- d e sua viagem a Francoforte garantiu para si a ajuda da Baviera. O s
perador a incumbência de proteger os católicos, e sobre a cidade foi lançado rebeldes n ã o quiseram reconhecer Fernando. Confiados n o apoio d a
o interdito imperial. C o m o a cidade recusasse dar satisfação, o Duque da " U n i ã o " , proclamaram seu rei a Frederico V , do Palatinado, Príncipe-
Baviera ocupou-a em 1607, e logo a recebeu como outorga do Imperador. Eleitor calviniano.

Estes acontecimentos foram debatidos na Dieta de Ratisbona em O poderio dos Habsburgos parecia desmoronar-se de u m a vez, não
1608. N ã o houve acordo a respeito, e as partes separaram-se sem nenhuma só na Boêmia e Morávia, como também na Silesia, na Lusácia ( L a u s i t z ) ,
decisão. E m contrabalanço, poucas semanas depois, Frederico I V , Prín- na Hungria, e até n a própria Áustria. F e r n a n d o , todavia, teve a coragem
cipc-Elcitor calviniano do Palatinado, teve um encontro com os Príncipes de agüentar em Viena, e conseguiu outros aliados, a Espanha, a Liga, e
d e Vurtemberga, Bade, Ansbach, Kulmbach e Palatino-Neuburgo, para sobretudo o Príncipe-Eleitor luterano da Saxonia.
firmarem u m a aliança, a assim chamada " U n i ã o " , à qual logo aderiram Com esta retaguarda, o Duque da Baviera conseguiu forçar depressa
Brandemburgo, Hássia-Cassel, e várias cidades livres. Tramaram-se tam- a submissão dos Estados ("Stände") n a Áustria Superior; e n a Baixa-
bém, ulteriormente, ligações com a Inglaterra e a H o l a n d a . Poderoso Áustria o próprio Imperador pôde induzir os protestantes a largarem d a
órgão d o partido reacionário calviniano, a " U n i ã o " parecia reclamar uma aliança com a Boêmia. A Batalha do Weisser Berg perto de Praga cm
1620 selou, pela vitória da "Liga", a sorte da Rebelião Boêmia e d o pró- N u m a Dieta de Príncipes-Eleitores em 1627, deixou-se ao arbítrio
prio protestantismo n a Áustria e n a Boêmia. O "Rei de Inverno" fugiu d o Imperador a decisão a respeito dos processos d e restituição já em
andamento. Nessa oportunidade, os Príncipes-Eleitores católicos exigiram
p a r a a Holanda. Foi proscrito. Seu eleitorado ("Kurwürde") coube a
"sobretudo a r e s t i t u i ç ã o . . . d e todas as catedrais, colegiadas, mosteiros,
Maximiliano d a Baviera. A " U n i ã o " dissolveu-se por si mesma.
eremitérios, seqüestrados aos católicos, e profanados depois d o T r a t a d o de
Mas, com isso, a guerra n ã o terminara. Alguns partidarios de F r e d e - Passávia e da Paz Religiosa. . . estabelecida". 2

rico prosseguiram na luta por conta própria. Depois d e serem eles derro-
Esta postulação foi energicamente secundada pelo jesuíta Lamor-
tados com as vitórias de Tilly, chefe militar da "Liga" (naquela ocasião
maini, confessor d o Imperador. Aos 6 d e m a r ç o d e 1629, o Imperador
foi tomada Heidelberga, e a célebre Biblioteca "Palatina" doada ao Sumo lavrou então o assim chamado "Edito de restituição", na forma de u m a
Pontífice), a política francesa, sob seu novo chefe Richelieu, procurou autêntica interpretação da Paz Religiosa d e Augsburgo. Por força do edito,
cercear o consolidado poderio d o Imperador. Nesse intuito, conquistou cabia aos católicos o direito de exigir a reintegração de todos os bens ecle-
1
para uma ação militar o Rei da Dinamarca e o Duque de Holsácia, siásticos não mediatizados, que lhes foram arrebatados desde o T r a t a d o
que teve o apoio da Inglaterra e dos Estados Gerais. Mas Tilly derrotou o d e Passávia.
Rei da Dinamarca, e o general do exército imperial Alberto d e Wallen-
Todas as dioceses, catedrais, fundações e abadias mediatizadas, que
stein bateu o aliado dele, o C o n d e de Mansfeld. Eslévico-Holsácia e Jute-
se achavam em administração e seqüestro protestante, deviam ser entre-
lândia foram tomadas, o que obrigou a Dinamarca a concordar com a Paz
gues novamente a o domínio dos católicos. Pela rejeição d a "Declaratio
d e Lubeque em 1629, pela qual devolveu as Catedrais da Baixa-Saxônia,
Fcrdinandea" ("Declaração F e r n a n d i n a " ) , devia garantir-se aos Estados
e renunciou a futuras ingerências n a situação d o Império. ("Stände") católicos o irrestrito "ius reformandi" ( " d k e i t o de reformar
religião"), enquanto os Reformados eram mais u m a vez expressamente
excluídos da Paz Religiosa. P a r a execução do edito, foram enviados c o -
2. Contra-Reforma s o b Fernando II missários imperiais, com cobertura militar. N o outono de 1 6 3 1 , os dois
arcebispados d e Magdeburgo e d e Brema, cinco bispados, mais de cento
A o Imperador Fernando II, profundamente religioso, mas nem sem- e cinqüenta igrejas e mosteiros, e cerca dc duzentas paróquias foram então
pre autônomo e perspicaz n a política, pareceu-lhe o momento azado de restituídas em cidades e aldeias protestantes. O poder do protestantismo
dar, antes de tudo, u m a b o a ajuda a o atribulado catolicismo, e de colher germânico parecia aniquilado.
a o mesmo tempo algumas vantagens para sua dinastia. Convicto da jus-
tiça de sua causa, encetou a contra-reforma política em suas terras reguen- A Cúria Romana, que não reconhecera os acordos de 1552 e 1555,
gas, logo após a vitória junto a o 'Weisser Berg ( M o r r o B r a n c o ) . N a Boê- nunca também manifestou em princípio u m a aprovação d o edito de 1 6 2 9 .
mia, os predicantes foram expulsos, os estudantes retirados das Universi- C o m abstração d e sentimentos menos amistosos que U r b a n o V I I I ( 1 6 2 3 -
dades Luteranas, os acatólicos excluídos de todas as dignidades. A o A r c e - 1644) nutria contra os Habsburgos, havia fortes objeções a todas essas m e -
bispo de Praga, deu-se-lhe como provável um apoio d o Lugar-tenente didas de caráter político-religioso, que já se tinham manifestado, por ocasião
Imperial p a r a a recuperação do patrimônio eclesiástico. d a Contra-Reforma, nos domínios realengos dos Habsburgos.
N a Áustria Superior, foram primeiramente obrigados a emigrar, em Mais importantes d o que a expulsão de protestantes, que o Núncio
1624, os predicantes e os professores; u m ano depois, foram ameaçados Apostólico de Viena, apontando p a r a o processo seguido nos principados
d e expulsão todos os mais habitantes, que não quisessem tornar-se cató- eclesiásticos da Alemanha, procurava tornar aceitável aos cardeais que
licos. Desde que foi preciso reprimir sangrentamente u m a rebelião d e a ela se opunham, pareceram à Congregação da Propaganda d a F é as
camponeses, ajudada pelos fidalgos, perderam estes, como rebeldes, o pri- medidas tomadas em março de 1629, p a r a que os bispos em todas as dio-
vilégio d e livre exercício de religião. E m Viena e n a Baixa-Áustria, foram ceses fossem instituídos com observância d o direito canónico, e que se
expulsos, em 1627, todos os predicantes e os mestres de escola. N a proibissem os livros perigosos. Quando, pois, se pensou em enviar u m
Estíria e na Caríntia, os fidalgos protestantes foram forçados a emigrar Núncio com poderes extraordinários, não era tanto p a r a recuperação d o
em 1628. Mais d e setecentos nobres deixaram naquela feita o país. Os patrimônio eclesiástico, mas antes p a r a a reimplantação da Religião C a t ó -
3
que se deixaram ficar, eram muitas vêzs católicos só de nome. lica n u m a área tão extensa.
Nessa altura, o Imperador julgou-se na obrigação de reduzir, tam- Pelo lado d o Direito Imperial, o Edito d e 1629 podia sem dúvida
bém n o Império, o protestantismo aos quadros d o direito formal, aos alguma ser defendido, mas sob o ponto de vista político constituía u m
acordos e compromissos em vigor. Desde as vitórias imperiais, vários bis- grande erro, porque também debilitava a frente dos católicos.
pos tinham instruído processos p a r a recuperação d o patrimônio eclesiás- C o m o efeito da ocupação das dioceses da Alemanha Setentrional,
tico seqüestrado, e nisso eram apoiados pela Cúria R o m a n a e pelos nún- houve u m a inamistosa concorrência entre Fernando e Maximiliano; a r e s -
cios apostólicos. tituição dos mosteiros resultou em feio litígio entre os Beneditinos, seus
reconhecimento d a condição de eleitorado ("Kurfürstenwürde") p a r a a
antigos proprietários, c os Jesuítas que, com esses imóveis, queriam finan-
Baviera, e, por concomitância, u m a maioria definidamente católica para a
ciar novos colégios e escolas que eram de urgente necessidade.
próxima eleição d e Imperador, bem como a segurança da Contra-Reforma
Isto foi um erro, antes de tudo, porque assim levariam os protestantes
Imperial nos territórios realengos.
a criarem u m a frente única. A própria Saxônia, que então fora t ã o fiel
a o Imperador, viu-se ameaçada em seus interesses. Isto aconteceu tam-
bém n o momento que a "Liga" forçara a destituição de Wallenstein, e
3 . Paz Religiosa da Vestefália
que Gustavo Adolfo da Suécia, terminadas as suas expedições vitoriosas
contra a Polônia e a Rússia, desembarcou com 1 2 . 0 0 0 soldados n a e m b o -
cadura d o Odra, sendo anunciado pela sua ativa propaganda como sal- Onze dias, pois, antes da conclusão da paz, a França declarara Guer-
vador da causa protestante na Alemanha. r a à Espanha. Começava '•uma luta aberta entre as grandes potências ca-
Os Príncipes Protestantes Germânicos mantinham-se ainda n a expec- tólicas. A França pretendia fazê-la, mediante indisfarçados pactos de alian-
tativa. Suspeitavam, e não sem razão que o Rei da Suécia n ã o transpusera ça com a Suécia c com alguns príncipes germânicos protestantes. Richelieu
o M a r Báltico exclusivamente por motivos religiosos, mas que a tanto era enviou Bernardo de Veimar em defesa da Alsácia; os Holandeses, contra
levado p o r razões muito palpáveis d e ordem política e econômica. A su- Bruxelas; o huguenote R o h a n , contra Milão.
premacia da Suécia n o Báltico não devia continuar sempre ameaçada pe- A guerra posseguiu por treze anos, e degenerou cada vez mais em
las vitórias imperiais. Essa nação nórdica devia não só ampliar seu comér- matança, incêndio, e saque, sem plano algum. Os Imperiais eram acossa-
cio mediante u m a cabeça d e ponte n a Alemanha, mas também conquistar dos, sempre mais violentamente, para a posição de defensiva. Os es-
o direito da palavra na política d a E u r o p a Central. forços d o P a p a em favor d a p a z foram frustrados durante muitos anos p o r
Pelo T r a t a d o de Baerwalde, n o começo d e 1 6 3 1 , o Rei conseguiu altas questões de etiquetas diplomáticas. Desde 1644, o Imperador e o
que a França lhe garantisse subvenções anuais p a r a a guerra contra o Império negociaram com os Franceses em Münster; desde 1646, com os
Imperador. Os Estados Gerais também contribuíram com sua parte. Nessa Suecos em Osnabruque. A o s 24 de outubro de 1648, o T r a t a d o de P a z da
mesma altura, não atendendo a o parecer d e alguns elementos ponderados, Vestefália, assinado nas duas cidades, punha fim à sangrenta guerra. Ter-
minara a luta européia.
Tilly tentou levar avante, por ação militar, a restituição d e bens eclesiás-
ticos n a Alemanha Central. Sitiada, Magdeburgo aguardava ajuda dos D o lado católico, só ganhou a França, e esta tinha apoiado a facção
suecos. Tilly, porém assaltou-a, e contra sua intenção foi a cidade total- protestante. A França ficou com as dioceses lorenas d e Métis ( M e t z ) , Toul,
mente incendiada. Então, a Saxônia e o Brandemburgo aderiram a Gus- e Verdun. Seu adversário, o Império, continuou por muitos anos em estado
tavo Adolfo, que derrotou Tilly em Breitenfeld. de extrema prostração. Os Estados Gerais obtiveram o reconhecimento
A expedição triunfante dos suecos em direção do sul pôs u m termo internacional de sua autonomia política e u m a faixa de terra a o Sul, com
natural à obra de restituição. Destruíram-se também os bons resultados população católica, desde a embocadura do Escalda até o rio Mosa, as
obtidos até então n a Alemanha Setentrional. Os territórios d a "Liga" esta- assim chamadas "Terras da Generalidade".
y a m franqueados ao Rei da Suécia. Tilly foi mortalmente ferido,: a Baviera A parte de leão coube à Suécia: n ã o só a Pomcrânia Anterior, mas
devastada, Munique ocupada. A Cúria R o m a n a não conseguiu desviar também os bispados de Brema e Verden, e com eles u m a cadeira n a
a França de sua política filo-protestante. Dieta Imperial. Meclemburgo e Brandemburgo foram indenizados com
C h a m a d o de novo em máximo perigo pelo Imperador, Wallenstein territórios eclesiásticos secularizados. O Príncipe-EIeitor d o Palatinado
impediu a invasão dos suecos n a Áustria, mas n ã o alcançou vitória deci- recuperou o Palatinado R e n a n o e a dignidade d e eleitorado ( " K u r w ü r d e " ) .
siva contra eles em Lützen, ainda que Gustavo Adolfo ali tivesse a m o r t e A Baviera, porém, conservou para si o Alto-Palatinado, que ela recato-
de soldado. O D u q u e Bernardo de Veimar assumiu a chefia militar, e o lizara nesse meio tempo, e o eleitorado ("die K u r " ) . N o mais, conce-
chanceler real Oxenstjerna a liderança politica dos suecos. Este conseguiu, deu-se anistia geral e reintegração na situação de posse d o ano de 1618.
pela aliança de Heilbronn, levar os protestantes germânicos a aceitarem a Revogou-se o Edito de Restituição, que foi sub-rogado pelo " A n o N o r -
liderança sueca. mal", isto é, pela situação vigente em 1624 ( p a r a o Palatinado em 1618)
Após o assassínio d e Wallenstein, reuniram-se novamente as tropas como n o r m a para a posse de bens eclesiásticos e para o exercício d e
imperiais, bávaras, e espanholas, e infligiram decisiva derrota aos suecos religião nas cidades livres.
perto de Nordlinga ( 1 6 3 4 ) . E m maio de 1635, seguiu-se a paz separada
de Praga com o Príncipe-EIeitor da Saxônia. Por ela, devia conservar-se Acresciam ainda os dispositivos de natureza puramente político-reli-
o Edito de restituição pelo espaço d e quarenta anos. giosa. Por empenho do Príncipe-EIeitor de Brandemburgo, a Paz Religiosa
foi estendida também aos calvinianos. Confirmou-se o direito d e reforma
A maior parte dos Estados Protestantes aderiu a o Tratado d e Paz.
O que esta acarretou de bom p a r a a causa católica, foi quando muito o ("ius reformandi") d o chefe territorial, mas restringido pelo " A n o N o r -
m a l " e pela determinação d e que, aos heterodoxos, já se não podia
proibir o culto em casa nem a freqüência d e igrejas de fora.
A conversão de um príncipe luterano p a r a a religião calviniana ou
vice-versa, já não teria por efeito a mudança de regime eclesiástico em seu
território. Quando houve, meio século mais tarde, a conversão de muitos
príncipes para a fé católica, tal regulamentação se aplicou, analogamente, a
favor das relações entre católicos e protestantes. Nessa base, ficaram s e m
maiores conseqüências as conversões em Hanovre, Saxonia, Vurtemberga,
Hássia e outros territórios; tiveram, por único efeito, a formação de pe-
quenas comunidades católicas na diáspora, as quais só com esforço se
podiam manter num ambiente de incompreensão e intolerância.
E r a m isentadas do " A n o N o r m a l " unicamente as terras realengas.
No Império, questões reügiosas não deviam, dali por diante, ser diri-
midas por decisões maioritárias dos Estados ( " S t ä n d e " ) , mas por acordo
pacüico entre os blocos que deliberariam separadamente, o bloco dos ca-
tólicos e o bloco dos evangélicos ("corpus catholicorum et corpus evan-
gelicorum").
A P a z d e Vestefália salvou ainda a existência d o Império, mesmo q u e
a posição institucional do Imperador ficasse sensivelmente debilitada, pelo
d ü e i t o que os Estados tinham de se aliarem com estranhos. Mas, então,
a Paz de Vestefália também despojava, definitivamente, o Império de seu
caráter católico, transformando-o numa estrutura paritária, na qual a
exaustão de todas as forças, em ambas as partes, obrigou a um mínimo de
tolerância civü. Perderam-se irreparavelmente, p a r a a Igreja, as dioceses
d a Alemanha Setentrional e Central e os inúmeros mosteiros c instituições,
sobretudo em Vurtemberga.
Compreende-se, pois, que cinco semanas depois de sua assinatura o
Papa Inocêncio X protestasse com o breve "Zelus domus D e i " contra o
T r a t a d o , c p o r causa de suas cláusulas político-religiosas o declarasse
nulo. D o ponto de vista d o D ü e i t o Canónico então vigente n o Império,
o protesto tinha sua razão de ser, ainda que a Cúria R o m a n a devesse pre-
ver sua absoluta inutilidade.
A o cabo, nem o Imperador, nem Maximiliano da Baviera, nem os
Estados ("Stände") Protestantes da Alemanha terminaram a luta p o r
convicção de princípios, n e m foi por causa d o b e m comum que deixaram
de impor sua forma de crença. A tanto foram finalmente obrigados pelo
intolerável sofrimento d e guerra e pela total exaustão d e forças. P o r
conseguinte, a Cúria R o m a n a não protestou contra o fim dos assassínios
e mortes, mas tão-sòmente contra as cláusulas gravemente danosas para a
causa católica.
O historiador hodierno só teria motivos de admirar-se que só então
surgisse o protesto, e não imediatamente após a conclusão da Paz Reli-
giosa de Augsburgo, que reconhecia pela p r i m e ü a vez o princípio de pari-
4
dade confessional n o I m p é r i o . AS CONFISSÕES NA EUROPA PELO ANO D E 1648
Em 1679, Inocêncio X I renovou o protesto, por ocasião d o T r a t a d o
d e Paz d e Nimega, porquanto nele se confirmavam as cláusulas da P a z d e
Vestefáüa.
4. Recatolização da Polônia e da Hungria 5 . Ab-rogação do Edito de Nantes

A atenção internacional e todas as forças disponíveis estavam tão Força era chegar-se, também n a França, a uma regulamentação de-
envolvidas na Guerra dos Trinta Anos, que, por detrás da cortina da guer- finitiva dos problemas político-confessionais. O Edito de Nantes já se
ra, a recatolização d a Polônia pôde prosseguir sem transtornos de fora. tornara anacrônico, poucos decênios após sua promulgação. Transformado
O Seminário Pontifício de Braunsberga, fundado ainda n o tempo de Hósio, em monarquia unitária e absolutista desde os últimos anos de Henrique
e os numerosos Colégios jesuíticos formaram não só um clero capacitado, IV, e mais ainda debaixo de seu sucessor Luís X I I I ( 1 6 1 0 - 1 6 4 3 ) , o Reino
mas também u m a camada de fidalgos convictamente católicos. não poderia tolerar, por tempo indefinido, um Estado dentro do Estado
(tribunais mistos e duzentos redutos para os Huguenotes davam, forço-
Sobre tais alicerces religiosos, produziu abundantes frutos o trabalho
samente, influência c força política à sua comunidade religiosa). Acrescia,
missionário de Skarga, célebre pregador jesuíta, por cuja influência também
também, que os reformados acreditavam num iminente colapso d o cato-
o Rei se empenhou pela restauração da unidade da fé n o país. Foi possível
licismo, e aguardavam grande movimento de conversões.
reconduzir grande parte da nobreza à Igreja Católica. Por fim, cm 1658,
Se um de seus líderes se atreveu em 1621 a escrever a o Rei da In-
expulsou-se também a seita antitrinitária dos Socinianos, propagada na Po-
glaterra que todos os protestantes de França tinham os olhos fitos nele,
lônia desde 1597 pelo italiano Fausto Sozzini. A Polônia Ocidental torna-
e essa carta foi parar às mãos de Luís X I I I , era de compreender a des-
ra-se novamente país católico, que só pelos ducados da Silésia era separado 5
confiança que o Governo nutria então contra os H u g u e n o t e s .
do grande bloco católico dos Habsburgos.
Esta se justificava pelo comportamento dos Huguenotes n o "atentado
Na Hungria, pelo contrário, a abnegada atuação d o Cardeal Pázmány de Béarn", como êlcs qualificavam a medida tomada pelo Rei, quando,
( + 1 6 3 7 ) , arcebispo de Gran, que era convertido, e de seus sucessores, segundo as cláusulas do Edito de Nantes mandou restaurar o culto cató-
alcançou só parceladamente bons resultados. Nesse país, onde Fernando II lico supresso no condado de Béarn. Naquela oportunidade, a assembléia
fora eleito rei em 1618, o protestantismo ostentava u m a feição calviniana dos Huguenotes falara em reencetar a resistência armada, e acabou por
(era como na Polônia, u m a "Igreja Aristocrática") que se opunha muito apoiar um levante contra Luís X I I I . O jovem Rei abateu a rebelião, res-
aguerridamente aos Habsburgos e aos Germânicos, cuja maioria abraçou taurou o culto católico em Béarn, incorporou Béarn e Navarra à Coroa,
o luteranismo nas cidades húngaras; êle aliava-se, de boa mente, aos e mandou ocupá-la militarmente.
príncipes protestantes da Transilvânia que, em defesa dos Turcos e cm C o m o réplica, a Assembléia dos Protestantes proclamou u m a espécie
aliança com os Suecos, se revoltaram várias vezes contra o Soberano de de República Federativa, segundo os moldes dos Estados Gerais. As tropas
Viena. Por essa razão, era necessário, nos tratados de paz, conceder regu- reais destroçaram a nova rebelião. Só poucas praças dos Huguenotes pu-
larmente liberdade de religião aos protestantes. deram agüentar-se. O T r a t a d o d e paz d e 1622 confirmou mais u m a vez o
Com sua habilidade e fina cultura, o Primaz de G r a n conseguiu Edito de Nantes, mas não se restituíram os redutos conquistados, de sorte
reconduzir à Igreja Católica as famílias dos magnatas na região ocidental que o poder político dos Huguenotes ficou seriamente combalido.
d o país. E m 1618, os Estados ("Stände") já contavam novamente com Os Huguenotes revoltaram-se outra vez, sob a chefia do Duque de
uma maioria católica. A exemplo dos Jesuítas, Pázmány fundou escolas e R o h a n , e receberam ajuda da Inglaterra. Os novos chefes da política fran-
seminários, entre outros o "Pazmaneum", em Viena, como seminário ecle- cesa quiseram então extirpar o mal pela raiz. O Cardeal Richelieu, chefe
siástico para os Húngaros, c a Universidade de Tyrnau, transferida mais d o Conselho d e E s t a d o ("Ministre principal") a partir de 1624 (era u m
tarde para Budapeste. Devem acrescentar-se ainda a expedita atividade enigma psicológico pela sua crença autêntica c pelo antigo zelo pastoral,
literária do Cardeal em língua húngara e a celebração de grande número demonstrado em sua diocese de L u ç o n ) , enquanto apoiava n a Alemanha
de sínodos. os guerrilheiros protestantes e posteriormente os reis d a Dinamarca e da
Embora nas cidades e aldeias ainda se conservasse vida evangélica, Suécia contra o Imperador católico, procedia com o máximo rigor contra
os magnatas todavia levavam adiante o processo de recatolização de suas os Huguenotes em seu próprio país.
propriedades rurais. E n t a n t o , a leste d o país, a nobreza protestante, ciosa Ele era assessorado pelo infatigável capuchinho José de Paris, que
de sua independência, movia a mais crua oposição contra os Habsburgos aliava ardente zelo missionário com fogosa atuação péla hegemonia da
e seus amigos. N o país, constantemente ameaçado e mais de u m a vez de- França, e que pessoalmente já tinha trabalhado na conversão dos Hugue-
vastado pelos Turcos, grandes núcleos de povo viviam em abandono pas- notes.
toral e na ignorância da religião. Pois, então, Richelieu cm pessoa dirigiu o bloqueio d o forte marítimo
d e La Rochelle, e mandou celebrar sua rendição como façanha religiosa.
E m Roma, Urbano VIII também mandou cantar o "Te-Deum". N a Fran-
ça, porém, ainda houve bastante bom-senso em deixar aos protestantes.
m e s m o depois da derrota, o livre exercício de religião. Assim como assim, ciasse, a êle como verdadeiro filho e à França como filha primogênita d a
foram-lhes tirados os redutos militares, e dissolvidas suas guarnições pelo Igreja. O conflito com o P a p a só podia ser obliterado c o m algum rasgo
E d i t o Geral de Ales em 1629. N ã o consta que os aliados protestantes d e espetacular.
Richelieu tenham então intervindo cm favor de seus correligionários. E r a preciso ser mais católico do que o Papa e o Imperador. S o b
Por meio século ainda durou em F r a n ç a o regime d e tolerância a pretexto de que a maioria dos Huguenotes teria aceitado a fé católica, e
favor d o protestantismo^ que perdeu, nesses decênios, a dinâmica espiri- que então o Edito de Nantes se tornara desnecessário, Luís X I V a b o ü u
tual e a consciência de sua predestinação. Perfilou-sc, sem reservas, n a totalmente o Edito em outubro de 1685. Os "templos" protestantes deviam
caterva dos bajuladores em redor d o trono real. Os adeptos d e u m a união ser demolidos imediatamente. N e n h u m culto divino devia ser celebrado
eclesial com o galicanismo ganharam terreno, desde que os liames com os dali por diante, nem sequer em casas particulares ou em castelos. D e n t r o
protestantes ingleses se afrouxaram em conseqüência da execução capital de quinze dias, deviam os pregadores protestantes abandonar o R e i n o .
d e Carlos I. A teologia dos Huguenotes n ã o era homogênea, e estava divi- Aos tránsfugas, mostrava-se-lhes a perspectiva de ajuda econômica p a r a
readaptação profissional. A s crianças deviam receber o batismo católico.
dida. Sem embargo, a pregação protestante conservava forte tonalidade
Proibiram-se as escolas especiais. N ã o se permitia a emigração. E n t r e t a n t o ,
anticatólica.
o decreto não dizia n e n h u m a palavra a respeito d e matrimônios e fune-
C o m o elementos belicosos, depois d o retorno d o Marechal Turenne
rais dos protestantes, que pelo teor d o decreto deviam ter, sem o u t r a s
a o catolicismo, ainda se impunham contra os partidários de u m a união, o molestações, a possibilidade de se dedicarem às suas ocupações nas cidades.
rei Luís X I V ( 1 6 4 3 - 1 7 1 5 ) tomou medidas mais enérgicas. Os privilégios
protestantes eram observados, rigorosamente ao pé da letra, sem qualquer Uma terça parte dos pastores se tornou católica. Os demais emigra-
exceção ou dispensa, sem nenhuma contemplação. O povo e o clero pa- r a m . Disciplinados com novas internações, com participação em "Missões
roquial das Províncias insistiam na abolição dos privilégios. Povo, Gover- forçadas", os fiéis recalcitrantes eram obrigados a submeter-se. O u t r a s
n o , e Corte tinham plena união d e vistas quanto à grande meta política medidas interditavam-lhes certas profissões, e subtraíam-lhes os filhos p a r a
d e fortalecer a França pela íntima coesão e unidade em todos os setores: receberem educação católica.
um só Rei, u m a só Lei, u m a só Religião! Nas zonas periféricas d o Reino, cuja posição geográfica na fronteira
Desde 1630, com contribuições d o Clero francês, mantinha-se u m a lhes conservava certa autonomia contra o absolutismo d o Rei, o p l a n o
c a i x a p a r a subvenção d e pastores protestantes convertidos. E l a foi então desenvolveu-se com mais precaução. Foi restaurado o culto católico n a
ampliada pelo Governo, e até 1682 beneficiou nada mais e n a d a menos Catedral de Estrasburgo, foram enviados Jesuítas para as Missões, os c a t ó -
d o que 5 8 . 0 0 0 pessoas. A conversão começou a tornar-se venal. licos foram favorecidos n o quadro administrativo. P o r outro lado, já n o
Suprimiu-se a Academia Protestante de Nimes. Com apoio dos con- a n o seguinte, se obteve d o D u q u e d e Sabóia que êle executasse o decreto
fessores jesuítas da Corte c de M a d a m e Maintenon, que se tornara pie- de abolição n o país vizinho, onde foram atingidos sobretudo os remanes-
dosa, as tendências de unidade religiosa ganharam mais terreno na atmos- centes dos antigos valdenscs. Estes emigraram então aos milhares p a r a
fera d o "culto a o soberano", que os protestantes também promoviam sem as regiões do sul e d o centro da Alemanha, despovoadas pela Guerra dos
trepidação de consciência. A Religião d o Rei, afinal de contas, parecia Trinta Anos, para Vurtemberga, Hássia-Cassel, e até Brandemburgo.
n ã o ser outra senão aquela que Deus exigia, u m a vez que ela, diante da N a França, só foram deportados os adversários mais renitentes. Alguns
notória política galicana e anti-romana d o Rei, não parecia ser a Religião altos funcionários obtiveram licença d e emigrar. Contudo, mais de 2 0 0 . 0 0 0
d o Papa. Huguenotes (os algarismos indicados oscilam consideravelmente), a quinta
Paralela com as tendências unionistas, corria naturalmente a d e uni- parte dos fiéis, evadiram-se pela fronteira, a despeito d a rigorosa vigi-
ficação pela violência. As primeiras internações militares foram enviadas lância, com a esperança de retornarem, logo que na pátria se modificasse
a o Poitou. O P a p a reprovou tal m o d o d e proceder. Fácil foi abafar pe- a situação. Levaram espírito gaulês c poder econômico (por via d e regra,
quenas rebeliões. Houve também em alguns lugares, destruição d e n ã o saíram com mãos vazias) aos países acolhedores, p a r a a Suíça F r a n -
templos protestantes. Sobrevieram então dragonadas em massa. Cresceu a cesa, para a Hássia, para o Brandemburgo, onde ajudaram a consolidar
obstinação dos Huguenotes. o espírito calviniano na Corte, p a r a a Dinamarca, sobretudo para a Ingla-
" O s reformados preferem deixar os filhos morrerem sem batismo d o terra c os Países-Baixos. Ali, nos Países-Baixos, puderam constituir u m a
que levá-los aos sacerdotes, por ressentímento d e que lhes foram tirados os comunidade fechada; junto com seus hospedeiros foram também p a r a o
pastores e p s templos": comunicou cm 1622 o Bispo d e Genebra, a respeito N o v o Mundo, para Nova York e Virgínia, de fundação holandesa.
6
de suas paróquias francesas, à Propaganda da F é cm R o m a . Essas "Igrejas de Refúgio" ajudavam também os que não tinham
P a r a o Rei, entretanto, a cousa ia muito devagar. E m vista das sen- emigrado. Estes p o r via de regra só em cousas exteriores se submetiam à s
sacionais façanhas d o imperador Leopoldo I e d o Rei d a Polônia na liber- novas determinações. Abjuração não era sinônimo d e conversão. Só coagi-
t a ç ã o de Viena, êle tinha necessidade de um feito retumbante que os eviden- dos é que eles faziam a Comunhão de Páscoa. Os bispos eram demasiada-
mente otimistas. Quando alguns anos mais tarde o número de comun- d e Salisburgo exigia profissão de fé ou evacuação d o lugar dentro de
gantes baixou p a r a um terço, os "novos católicos", que em parte perfa- quinze dias, cerca de mil pessoas atravessaram as altas montanhas n o
ziam 2 / 3 até 5 / 6 da comunidade, eram tidos como maus, justamente maus rigor d o inverno, até chegarem junto a seus correligionários n o Império.
como católicos, o que de fato não eram, apesar da sacrílega recepção dos Com sua intimação a curto prazo, o Arcebispo infringira não só as leis
Sacramentos. de humanidade, mas também a letra do T r a t a d o d e P a z d a Vestefália.
Fazia falta u m a bem organizada cura de almas paroquial, e m condi- Entanto, o escorraçamento de 1684 foi apenas u m prelúdio do grande
ções de poder dominar a resistência íntima, que se inculcava às crianças êxodo dos proscritos de 1 7 3 1 , que abrangeu mais d e 2 0 . 0 0 0 pessoas. Nos
desde a casa dos pais. E m tais circunstâncias, nem sequer o zeloso traba- territórios realengos dos Habsburgos, procurou-se contornar o problema
lho dos missionários conseguia u m retorno íntimo a o catolicismo. peia deslocação compulsória dos Evangélicos p a r a a Transilvânia, região
Sob os olhares dos párocos católicos, os predicantes erigiam seus protestante. Todos os recursos interpostos n a Dieta pelo "Corpus Evange-
templos clandestinos, onde batizavam os filhos dos reformados e liam licorum'" ("Bloco Evangélico") não surtiram nenhum efeito. Para o pro-
em voz alta as proclamações dos emigrados, ou faziam suas reuniões tam- blema, só u m a nova era poderia trazer uma solução humanamente digna, e,
bém em celeiros e florestas. Desta forma se manteve o criptoprotestan- cm nosso entender, também cristã.
tismo, que via sua situação prefigurada n o Apocalipse pela "Igreja d o
deseFto", na qual Deus segundo o Apocalipse capítulo 12, 6 preparou
para o Reino d e Deus uma mansão por tempo estritamente determinado, 7. Espiritualidade Francesa
c que contava com o apoio moral e literário das comunidades de fora, à
revelia de todas as restrições e proibições legais. Rebeliões nas Ccvenas, A presença dos Huguenotes em F r a n ç a não se limitava a constituir
naturalmente n o fim deste período, foram dominadas de m o d o sangrento. problema político. Era, sobretudo, u m a contínua provocação, u m a verda-
deira pedra d e escândalo, um " s c a n d a l u m " para os católicos d e maior
reflexão e para cuja eliminação se conclamavam todas as energias de espí-
6. Criptoprotestantismo rito.
Refutar as arrancadas literárias dos protestantes, e superá-los intelec-
tualmente, reconquistar os compatriotas huguenotes para a fé católica:
A s nações confessionalmente estanques, respectivamente nações cató-
licas, ainda albergavam em devesas montanhosas, pouco acessíveis, núcleos constituía a grande preocupação dos espíritos dirigentes.
fortes d e um criptoprotestantismo muito ativo e resistente. Esta era a Isso também despertou em França u m interesse sumamente vivo por
situação não só da França, onde o filosofismo d o século X V I I I certamente problemas teológicos c religiosos. Imprimiram-se, em fabulosa quantidade,
corroeu o vigor intrínseco da fé e abalou igualmente as estruturas exter- livros religiosos que encontravam ampla aceitação. Entre 1550 e 1610,
n a s ; mas também n o Reino dos Habsburgos, onde depois da recatolização contavam-se 450 publicações dessa natureza. Dentro d o setor, dava-se em
executada por Fernando I I e seu sucessor já n ã o havia representações dos França boa acolhida a influências estrangeiras. Das quatrocentas e cin-
Estados ("Stände") Evangélicos, mas apenas u m pugilo oculto de pro- qüenta publicações, perto de sessenta eram nacionais, enquanto uma boa
testantes, que se não deixaria apanhar nem pelas mais aturadas buscas centena eram traduções da Itália c da Espanha, c quase trezentas eram de
das autoridades, e que nas gargantas dos Alpes conseguiam subtrair-se a procedência renana ou f l a m e n g a . 7

qualquer batida das Comissões reformatorias. Ainda que fossem alguma Assim foi que, da plenitude da "devotio moderna" ("devoção m o -
vez localizados, não havia possibilidade de se tomarem medidas muito d e r n a " ) ou d a mística germânica, derivaram muitos elementos p a r a a F r a n ç a ,
drásticas, por m e d o de represálias, em territórios protestantes, contra súdi- onde foram aceitos por uma faixa muito ampla de pessoas. Assimilou-os e
tos católicos. P o r esta razão, tudo se limitava durante muito tempo à adaptou-os cm seu coração, durante o século X V I I , um número singular-
organização d e missões populares ou à fundação de verdadeiros postos
mente elevado de personalidades com ótima formação religiosa e vivência
missionários em vales longínquos. Os Evangélicos, porém, sem organiza-
de carismas, que imprimiram ao século dos bispos palacianos e galicanos
ção eclesial e sem culto divino regular, desde Salzkammergut até p a r a lá
e dos abades comendados pelo Rei o selo de u m a espiritualidade surpreen-
da Caríntia Oriental, sempre de novo se confirmavam em sua fé, pela
leitura de livros luteranos, provenientes d o Império. dentemente profunda, e que transformaram o século em "grand siccle".
E r a própria desse escol católico, que contava com a opinião pública
O criptoprotestantismo não p ô d e ser tampouco eliminado, em 1684, e com o apoio dos bispos, uma nota pronunciadamente apostó!ico-peda-
pela expulsão dos protestantes do Tirol Oriental, que estava então sob o gógica, pela qual logravam transmitir os antigos ideais e suas mais íntimas
báculo do Arcebispo-Príncipe de Salisburgo. Os Padres Capuchinhos tinham
experiências pessoais, e torná-los fecundos na vida cotidiana da França.
ali inquirido toda a população, e para seu espanto averiguaram a pre-
Sua mística estava cheia de um ativismo bem colimado e estabilizado, q u e
sença de uma maioria protestante em Defereggental. J á que o Arcebispo
se conservava estreme de qualquer perigo de azáfama, pela lucidez de resa expôs seu p l a n o de reforma p a r a a Ordem. J o ã o da Cruz, era êle o
raciocínio, pelas grandes idéias que lhes brotavam da própria alma. jovem carmelita, executou então em benefício d o r a m o masculino da Ordem
A fim d e se compreender a grande "Escola Francesa" ("Ecole Fran- a mesma tarefa, que Teresa levava a b o m t e r m o j u n t o à s mulheres. N ã o
7 a
çaise") em suas concatcnações , força é tratar antes da algumas per- sem contraditas, êle fundou o primeiro convento observante, e abriu como
sonalidades fora das fronteiras francesas; pois, sem Teresa d e Ávila e sem mestre o Colégio da Ordem em Alcalá, onde algumas décadas mais tarde
Filipe Néri, n ã o poderíamos t a m b é m compreender totalmente homens c o m o se publicaria o famigerado "Cursus Complutensis" ("Curso d e A l c a l á " ) ,
Bérulle, Vicente de Paulo, e Francisco d e Sales. comentário homogêneo d e Aristóteles, em dez volumes, de rigorosa inspi-
r a ç ã o tomística.
E m 1580, Gregório X I I I aprovou a ereção d e u m a província própria
8. S e u s I n s p i r a d o r e s : T e r e s a d e Ávila e Filipe Néri dos Carmelitas Descalços e a eleição do respectivo provincial. Se João d a
Cruz chegou a ser demitido pelo Capítulo Geral da Ordem ( 1 5 8 1 ) , e teve
N a Espanha, país que ficou preservado de todas as tentativas d e r e - de passar, como simples religioso, n o anonimato de u m Carmelo, dias de
forma protestante, por causa da Inquisição e d a atuação pessoal d e Filipe duras humilhações, até que a morte o livrasse n o mesmo ano de 1591 (Te-
I I ( a fundação de comunidades em Sevilha e Valhadolid malograra em resa já o tinha precedido na eternidade, nove anos antes, n u m a viagem de
1557, e o processo inquisitorial contra Carranza, arcebispo de Toledo, fora negociações c o m os grandes deste m u n d o ) : isto constituía a única garan-
conseqüência d e mal-entendidos, de hostilidades pessoais e situações polí- tia sobrenatural para a nova dimensão espiritual que se abrira com jejuns,
ticas), sempre brotavam novas forças de auto-reforma católica. mortificações e süêncio, na qual almas generosas, a exemplo dos funda-
A s inopinadas larguezas d o R e i n o de Deus n a era das Conquistas dores d o convento, podiam mergulhar n o elemento divino.
Ultramarinas fascinaram, desde a juventude, Teresa de Ávila, descendente Pois Teresa e J o ã o eram místicos. Ela, mulher, com suas memórias
d e fidalgos castelhanos. Carmelita aos dezoito anos, depois de empregar espirituais sem nenhum realce literário, redigidas por ordem de seus dire-
alguns anos a atividades de fora, dedicou-se toda a u m a vida contempla- tores d e espírito, com o "Livro das fundações", com o "Castelo d a alma",
tiva, n a qual se viu agraciada com abundantes visões. N o encontro c o m e outros. Êle, religioso na quaüdade de poeta inspúado, compendiou em
o Senhor, guardava sagrada distância, c o m o faziam os espanhóis a seu suas obras toda a doutrina sobre o tríplice caminho p a r a Deus. Quem já
soberano Füipe II. E l a referia-se a Cristo c o m o à "Sua Majestade", m a s leu a "Noite escura da alma" lembra-se d a sabedoria teológica dos Santos
nem por isso deixou d e abrasar-se d o mais afetuoso amor a Deus, quando Padres Gregos, p o r exemplo, de um Gregório de Nissa, e a d m ü a - s e d o
n u m êxtase o Querubim lhe trespassou o íntimo d o coração c o m u m dardo contido ardor com que ali se fala d o transbordamento da graça divina, e m
ardente. que o homem imerge o mais fundo possível, depois que a alma se liberta
Atingida por um amor insaciável, e a o mesmo tempo por um m e d o de todas as ligações e distorções, derivadas d o pecado original. Ali não se
opressivo, Teresa atinou com seu caminho, graças à direção de Pedro d e trata de nenhuma mística bernardiana de Cristo, nem d e u m a imitação
Alcântara, reformador d a Ordem Franciscana. Nos moldes da vida simples franciscana d o Deus H u m a n a d o . Ali está o homem diante d a Majestade
e austera de P e d r o de Alcântara, queria ela reconduzir sua própria Ordem Divina, dentro da qual êle, por assim dizer, se perde na "chama viva d e
a maior rigor e apartamento d o mundo, por sinal que isso devia ser em amor", que consome tudo o mais. P o r intermédio de Teresa e de J o ã o da
pequenas comunidades, onde a pobreza e a isenção d e ocupações m u n d a - Cruz, essa mística tornou-se familiar na Ordem, e através dos Carmelitas
nas e profanas pudessem ser melhor observadas d o que em grandes con- "Descalços" se propagou fora dos muros conventuais e das fronteiras da
ventos. Espanha.
E m 1562, ela fundou em sua cidade natal o primeiro convento refor- Nascido n o mesmo a n o que Teresa, Filipe Néri ( 1 5 1 5 - 1 5 9 5 ) veio a
mado, e colocou-o sob a proteção de São José, a quem consagrava p r o - ser um dos inspiradores e promovedores de um novo espírito, muito embora
funda veneração. C o m o as doze religiosas se multiplicaram em centenas, e suas atividades se restringissem unicamente à cidade d e R o m a . Natural d e
o convento devia continuar pequeno, Teresa n ã o viu outro caminho senão Florença, recusara u m a rica herança por parte d e seú tio, levara uma vida
o de promover novas fundações. E m poucos anos, ela realizou dezessete, pobre e desconhecida durante dezesseis anos em Roma. Passava o dia junto
todas impregnadas d e seu espüito de oração apostólica e de penitência,
à cabeceira dos doentes, e rezava a noite inteira na Catacumba d e São
c o m que devia apoiar a labuta dos missionários e reparar as apostasias n o
Sebastião. Só aos trinta e dois anos, por instância do confessor, recebeu a
grêmio da Igreja.
ordenação sacerdotal.
Entretanto, a missão de Teresa ultrapassou as Carmelitas "Descal-
ças". A o buscar direção espiritual adequada, ela encontrou entre os Car- J á tinha, porém, reunido e m confraria quinze homens simples, q u e
meütas alguns religiosos de espírito alevantado. A u m jovem clérigo, dese- deviam ocupar-se dos romeiros sem recursos, e reunir-se regularmente p a r a
joso de passar para os Cartuxos, que o zeloso prior lhe apresentara, T e - receber os Sacramentos, e edificar-se mutuamente c o m singelas colações.
O A n o Santo d e 1550 deu bastante trabalho para a Confraria, e difundiu orotes. Influenciado, desde jovem, pela mística germânica, e confirmado
suas benemerencias p o r toda a parte. em seu cristocentrismo pelos Exercícios Espirituais, Bérulle via n o mistério
C o m o sacerdote, Filipe conservava-se pobre e consumia-se n o con- da Encarnação d o Senhor o centro e o manancial da existência cristã. Pela
fessionário, de onde despedia os penitentes como novas criaturas. De tarde, sua Encarnação, o Homem-Dcus, verdadeiro Sumo-Sacerdote, único servo
reunia n o quarto alguns visitantes, a quem falava com profunda unção condigno de Deus, capaz de adorar e amar infinitamente a Deus, modelo
das cousas divinas. E m redor déle, formou-se u m grupo de discípulos, entre para o sacerdote, que é um nada nas mãos de Deus, possuído por Deus e
os quais havia também pessoas nobres e eruditas. possuidor de Deus.
Do quarto, que se tornara acanhado, m u d a r a m para um recinto mais Bérulle renunciou às ricas prebendas que, na qualidade de fidalgo,
amplo, para o Oratório, assim designado por ali se reunirem p a r a rezar. facilmente poderia alcançar do Rei. Ele desejava dedicar sua vida à con-
Depois d a oração e da leitura espiritual, centenas de amigos escutavam versão dos Huguenotes, mas os entendimentos com eles não produziram
atentamente as conferências, entremeadas de cânticos a mais vozes, adrede n e n h u m resultado. Bérulle reconheceu, então, que não a controvérsia, mas
versificados e musicados em estilo moderno. Mais tarde, deu-se o n o m e d e a santidade da Igreja, sobretudo a santidade dos sacerdotes, era capaz d e
oratório a êsse gênero de composição musical. vencer as heresias.
Durante trinta anos, Barônio, um dos primeiros discípulos de Filipe, C o m o êle próprio se transformara completamente em vaso de Deus,
fazia nessas reuniões conferências sobre a História da Igreja. Viera a R o m a pela mortificação interior, assim também os sacerdotes devem tornar-se
como estudante de direito c ordenara-se sacerdote p o r influência de Filipe. instrumentos imediatos d o Filho d e Deus, imagens vivas de Jesus Cristo.
Recebeu de seu pai espiritual a incumbência de escrever alentada História N ã o lhes cabe outra tarefa senão a d e levar Jesus para dentro dos corações.
da Igreja em contraposição às "Centúrias" protestantes, então editadas em O estado ("état") de adoração diante da majestade de Deus e do amor a o
Magdeburgo. Filho de Deus, a consideração dos estados ("états") dc Cristo é mais
importante d o que o ato individual da cura de almas, d o que o ato indi-
Ao lado dessas reuniões, Filipe induzia os romanos a redescobrirem
vidual de piedade, sem que Bérulle com tal afirmação quisesse depreciá-los.
o caráter sagrado e cristão de sua cidade natal. Começou, com alguns
amigos, a fazer peregrinação às sete igrejas principais da cidade. Logo U m ideal sacerdotal em tais condições, que o "Apóstolo d o Verbo
teve para ela a adesão das grandes massas populares, e também d e papas H u m a n a d o " ( U r b a n o V I I I ) vivenciou n u m Oratório de fundação romana,
e cardeais. Assim como êle, santo sempre jovial, sabia ser criança com as era certamente o extremo oposto daqueia mentalidade encontradiça n a
crianças, da mesma forma sabia também ser conselheiro dos papas, sem época, imediatista, quase materialista, que tomava por fim essencial a
jamais aceitar alguma dignidade eclesiástica. M a n d o u devolver incontinenti prebenda e o benefício eclesiástico. O ideal d o sacerdócio não se funda-
o chapéu cardinalício que Gregório X I V lhe enviara. menta na alta categoria de u m prelado n o m e a d o pelo Rei, mas na vincula-
Mas, ao cabo, teve de aceitar uma igreja e a direção dos sacerdotes ção a Cristo Sacerdote, em cuja obra lhe é d a d o colaborar.
que se haviam ligado a êle. Mandou então derrubar a igrejinha e construir Bérulle, que em 1604 promovera a primeira fundação das Carmelitas
a grande "Chiesa Nuova". O protótipo da Igreja primeva, que êle sempre Descalças em França, tornando-se seu fautor e superior; que queria a
de novo descobria em todas as partes de R o m a , e que êle fazia os outros reintegração dos Jesuítas expulsos do país; êle fundou, nesse espírito, com
também apreciarem, era por sua vez o ideal p a r a sua comunidade. Esta poucos sacerdotes em 1611 u m a agremiação que devia viver segundo as
n ã o devia ser Ordem em sentido canónico. Os Padres d o Oratório ( P a d r e s normas do Oratório ("sed vivimus moribus, non legibus" — "vivemos por
Oratorianos) não se ligavam por nenhum voto. A caridade devia ser o 8
tradições, não por l e i s " ) .
único vínculo da comunidade. Seus componentes contribuíam na medida Posto que assumissem também, c o m o tarefa, a educação da juven-
de suas posses para a vida em comum, como o praticavam os primeiros tude, o escopo primordial era, todavia, aspirar à perfeição sacerdotal, se-
cristãos. A tal ponto vivia o Oratório sem formas jurídicas, que só essas gundo o espírito da Igreja e sob a onímoda dependência dos bispos. Des-
normas foram unanimemente estabelecidas, n o dia da morte d o Fundador.
tarte, concretizaram as decisões d o Concílio Tridentino, que ainda n ã o
Os estatutos, feitos mais tarde, também só em 1612 receberam aprovação
eram oficialmente reconhecidas na França.
pontifícia.
De um só Oratório do ano de 1611 proliferaram, até a morte d o
F u n d a d o r , setenta e u m a casas; todas elas tinham, desde o começo, direção
9. Pedro de Bérulle centralista. A tal ponto correspondiam os novos ideais às aspirações dos
melhores elementos! Ali, pois, vivia u m a geração de sacerdotes que se
Um ano depois ( 1 6 1 3 ) , Paulo V aprovava também o "Oratório de empenhavam seriamente pela santidade; que, a par da celebração da litur-
Nosso Senhor Jesus Cristo". N a substância, êsse Oratório francês é fun- gia, não descuravam as ciências, principalmente o estudo da Sagrada Escri-
dação de Bérulle, mais tarde cardeal ( 1 5 7 5 - 1 6 2 9 ) , que na forma orga- tura e dos Santos Padres.
nizada por Filipe Néri julgava encontrar um meio de santificar os saecr-
10. Francisco de Sales ter a m p a r a d o seus quatro filhos, ela fundou junto com o Bispo a nova
Congregação Religiosa da Visitação d e Nossa Senhora. A s Visitandinas
queriam, a exemplo da M ã e de Deus, praticar a caridade a o próximo.
Francisco de Sales ( 1 5 6 7 - 1 6 2 2 ) era dez anos mais velho do que
Deviam sair livremente, sem hábito religioso, p a r a junto dos pobres e dos
Bérulle, e morreu cinco anos antes dele. J á o conhecemos como missioná-
enfermos. Contudo, o Arcebispo de Lião fêz com que R o m a impusesse
rio da região d e Chablais e como bispo cheio de zelo. O Bispo de Genebra,
c o m o obrigatórias a introdução da clausura e a transformação em Ordem
considerado u m dos grandes plasmadores da espiritualidade francesa, era
propriamente dita.
pessoalmente muito voltado a o espírito d e Teresa, espanhola, com a qual
Dali p o r diante, a Ordem, formada intimamente pelo espírito d o
tinha certa conaturalidade, de sorte que u m a pesquisa de nossos dias o
9 "humanisme dévot" ("humanismo devotista"), vivia da contemplação tere-
classifica como primeiro escritor t e r e s i a n o . Além d o mais, èle teve
siana, e trabalhava em muitos pensionatos pela educação de jovens das
oportunidade de conhecer, pessoalmente, Bérullle n u m a viagem a Paris, e
classes mais elevadas. O fato de que, nas Visitandinas, se procurou resolver
posteriormente também Vicente de Paulo.
o problema d e idade, mediante u m a bem regulada admissão de viúvas,
C o m o bispo, Francisco terá imitado o exemplo de Carlos Borromeu, constitui u m a das muitas feições simpáticas d o grande Humanista santo.
mas dele se distinguia, porque antes das medidas disciplinares tinha em
T e n d o os locutórios das Carmelitas e das Visitandinas como ponto de
vista as almas, às quais dedicava seu trabalho incansável. F u n d o u também
partida, o novo espírito religioso, a piedade moldada p a r a o m u n d o , atra-
um Seminário Eclesiástico, mas sua atividade mais importante era disse-
minar os novos ideais n ã o tanto em círculos eclesiásticos, mas d e prefe- vés dos salões d a sociedade francesa, conquistaram logo vastos círculos
rência na alta sociedade. em Paris e até n a Corte. Piedade e vida religiosa tornaram-se não apenas
" m o d a " , mas também esforço consciente de muitos grupos d e leigos de
Nutria a convicção de que o amor de Deus n ã o é privativo d o estado
projeção.
religioso ou d a vida sacerdotal, mas que p o d e e deve tornar-se realidade
n a vida cotidiana dos leigos, p o r q u a n t o corresponde à tendência natural
11. Carlos de Condren e João T i a g o Olier
d o coração h u m a n o .
Acrescia, ainda, o método que lhe era próprio. Êle n ã o dava ordens,
Tornou-se sucessor d e Bérulle, c o m o superior geral d o Oratório, Car-
procurava persuadir, procurava inserir e adaptar psicologicamente n o
homem aquilo que d o contrário permaneceria u m a lei sem calor humano. los de Condren ( 1 5 8 8 - 1 6 4 1 ) , pertencente também às rodas aristocráticas.
Sua meta era u m a piedade personalista, que se enfronhasse n a vida de cada Êle trocou a carreira militar p o r u m brilhante curso d e teologia, e entrou
cristão, sem depender de estado e dignidade, u m a certa sintonização da n o Oratório com 29 anos de idade.
atitude exterior com a interior, u m a "vie dévote" ("vida devota") propria- N o Oratório, foi confidente e confessor d e Bérulle, participante d e
mente dita, na qual desejava introduzir o leigo. Tal Introdução, à vida seus ideais e d e seu espírito. Maior teólogo do que seu mestre, quiçá menos
devota, hoje conhecida com o n o m e de "Filotéia" *, alcançou quarenta qualificado para cargo de direção, empenhava-se p o r u m maior enraiza-
edições francesas, sem falar das traduções posteriores. mento d o ideal sacerdotal. E m termos concretos, isto significava p a r a êle
a necessidade de congregar os sacerdotes e m redor d o centro d a piedade
C o m cativante sorriso a todas nobres volições humanas, Francisco
católica, d o Santíssimo Sacramento, e a diligência de promover sua instru-
ativou grande número de valores religiosos n a vida cotidiana. Ajudou, de
ção e formação tanto espiritual c o m o intelectual.
certo modo, a suscitar o vitalismo d o barroco que repontava. Seu huma-
nismo, porém, é u m problema visceralmente cristão, em que se n ã o faz a A execução prática dessas diretrizes, êle a confiou pois, cm 1640, a
mínima restrição a o Primeiro M a n d a m e n t o e a seu absoluto teocentrismo. J o ã o Tiago Olier, vinte anos mais moço, que não era m e m b r o d o Oratório,
mas que zelava pelo espírito da Escola Oratoriana, e o tornava mais fru-
C o m o naquela época, ainda imbuída na doutrina calviniana d e pre-
tuoso p a r a a Igreja n a França. O fato é que êle possuía o d o m de expor
destinação, Francisco chegou a declarar: "Se eu n ã o pudesse amar a Deus
as grandes, mas talvez bastante abstratas idéias religiosas de Bérulle, d e
na eternidade, quereria amá-lo pelo menos aqui n a terra, c o m todas as
u m a maneira que as tornavam acessíveis e atraentes p a r a a mediania dos
minhas forças" — assim também, sete anos depois de "Filotéia", escreveu
então seu "Teotimo", o "Traité de l'amour d e ' D i e u " ( " T r a t a d o d o amor homens.
a D e u s " ) , onde ensinava o primado do amor a Deus n o cotidiano, a cari- Olier não era apenas teólogo de grande interioridade, mas também
dade como elemento dominante em t o d a a vida religiosa até chegar à h o m e m d e visão prática das cousas, sempre voltado aos problemas missio-
identificação com Deus, numa linguagem castiça, num francês que se tornou nários, desde que m u d a r a de mentalidade e se aproximara d e Vicente d e
clássico. F o r m a e proporção sempre faziam parte dos ideais d o Bispo de Paulo, em cujo espírito pregou missões populares. Sob a influência d e Con-
Genebra. dren, iniciou em 1641 a construção d e Seminário p a r a Sacerdotes perto
Êle dedicou a obra à sua discípula espiritual, a viúva Francisca d e d e Paris, depois n a própria capital, onde fora n o m e a d o p á r o c o de São
Chantai, a quem se ligava com profunda afinidade d e coração. Depois de Sulpício.
A comunidade de sacerdotes que se agrupou em redor dele era a o U m apelo interior arrebatou-o d o recolhimento dessa comunidade,
mesmo tempo a família, dentro da qual devia formar-se o jovem Clero. O p a r a que pregasse Missões entre o povo, o que êle fêz com bom resultado
que Olier esperava de São Sulpício não era pouco: que " a Providência na Normandia, com a assistência de sacerdotes, c o m o seus colaboradores.
fizesse desse lugar um Seminário Geral p a r a a Igreja, pelo menos u m A fim de garantir os frutos das Missões, pareceu-lhe necessária u m a ins-
modelo de seminário para outras dioceses, províncias, e países" ; que os , n
trução e formação especial dos sacerdotes. Estes deviam, durante algum
jovens sacerdotes, conforme a antiga aspiração de Bérulle, levassem à tempo, preparar-se p a r a suas atividades, em casas que lhes e r a m desti-
Sorbona os princípios d o cristianismo; que o cristianismo se renovasse nadas.
pela trajetória dos homens de ciência; que as máximas da perfeição cristã À semelhança de todas as Ordens, a mais antiga e a mais nobre delas,
fossem um dia ouvidas e assimiladas pela Sorbona. a Ordem dos Sacerdotes, devia por assim dizer possuir também seu novi-
Nessa aspiração, Olier seguia como Bérulle u m a mentalidade plena- ciado. Naquela ocasião, porém, o Oratório negou-se a tal cometimento.
mente hicrárquico-aristocrática. N a união com o bispo c o m o chefe, m o - P o r isso, Eudes desligou-se e fundou cm 1543 casa própria em Caen, onde
delo da união de Cristo com o Pai, consistia para êle a vida da graça. tinha dirigido o Oratório. Teve, p a r a essa fundação, o apoio de Richelieu
Ideava seu Seminário n o âmbito desse sacerdócio régio e paternal, con- e do rei Luís X I I I . Ali, os futuros pastores d e almas viviam em função de
forme a interpretação que dava à passagem da primeira epístola de São suas tarefas vindouras, c submetiam-se a u m a formação intelectual e as-
Pedro, não cm relação com o sacerdócio geral dos fiéis, mas com a pleni- cética.
tude do sacerdócio nos bispos. Dentro dele se forma a "tribo santa", natu- Esses novos tipos d e Seminários, que obtiveram a aprovação d e R o m a ,
ralmente no espírito de mortificação interior, numa íntima inserção total e depois d e vencidas algumas resistências, disíinguiam-se dos colégios orato-
absoluta na vida interior de Jesus e em seu divino sacerdócio. Olier, porém, rianos pela sua orientação prática. Com o fim de tomar conta de seus
não fazia cálculos mesquinhos, pelos limites d e u m a diocese. Seu Semi- Seminários, Eudes fundou a "Congregação de Jesus e de Maria", cujos
nário, que era isento, devia proporcionar a todos os bispos a possibilidade membros deviam dedicar-se à formação d e clérigos durante o inverno, e à
de encontrarem nele sacerdotes para servir em suas dioceses. pregação de Missões populares durante o verão, n o intuito de conciliarem
Olier, sempre adoentado, que várias vezes recusara a dignidade epis- teoria e prática n o espaço d c u m ano.
copal, aceitou também a direção d e outros Seminários em França. N o D a mesma forma que os seminaristas de São Sulpício assumiam o
próprio ano de seu trespasse ( 1 6 5 7 ) , enviou sacerdotes de São Sulpício encargo de catequese na igreja paroquial, assim eles também acompanha-
até a Montreal. vam os missionários n a Normandia e n a Bretanha, onde aprendiam a apli-
A comunidade d e sacerdotes seculares, fundada p o r êle, "fonte d e car aquilo que se lhes fora ensinado n o Seminário.
11
bênçãos para todo o Clero", segundo uma expressão de Fénelon, foi A ordem orgânica da Congregação calcava-se, amplamente, n o regu-
estruturada, poucos anos após sua morte, como verdadeira Congregação, lamento d o Oratório. A Congregação ficava sob a jurisdição dos bispos.
sem emissão d e votos, na base d e compromisso voluntário, com direito d e Deles recebia autorização de fundarem seus Seminários, dos quais a Con-
propriedade particular p a r a seus componentes. Estes deviam administrar gregação dirigia n a d a menos d o que dezessete. N ã o eram estes nenhuma
suas rendas em espírito de pobreza, e sob a direção d e um superior vita- escola de alta ciência p a r a o clero destinado à cura de almas.
lício. Além dos exercícios de piedade, cerimônias litúrgicas, canto, teologia
São Sulpício era u m a das eminentes fórmulas, pelas quais a F r a n ç a moral, catequese, pregação, conhecimento d a Sagrada Escritura, devia haver
pôs em execução o decreto tridentino a respeito dos Seminários. São Sul- instruções sobre as doutrinas controversas, os Concílios, a História da
pício, que passou, sem apostasias, as tormentas da Revolução Francesa, Igreja, e a escolástica. Nessa finalidade, porém, Eudes queria comunicar a
conservou-se por muito tempo u m a escola para o episcopado francês. seus alunos peculiar afeição à Igreja, veneração e obediência a o p a p a e ao
bispo diocesano, sobretudo alto conceito de seu próprio sacerdócio.
N a Religião de Cristo, ensinava êle, existe um único sacerdócio, e,
12. João Eudes n o rigor da palavra, u m único sacerdote, o sumo-sacerdote Jesus Cristo.
Todos os mais sacerdotes são um só com êle, são de seu sangue real e
Aos quatro Grandes da "Escola Francesa" se emparelhava ainda divino, revestidos d e seu sacerdócio, e só com êle sacerdotes.
J o ã o Eudes ( 1 6 0 1 - 1 6 8 0 ) , ao lado de Bérulle, Condren, c Olier. O N o r - Para o amor a Deus, transbordante em piedosos afetos diante dos
m a n d o , que estabeleceu outra forma de Seminário p a r a a F r a n ç a , que milagres d a graça, êle encontrou o respectivo objeto de culto nos Corações
incutiu respectivamente novo espírito a u m a velha modalidade d e forma- de Jesus e de Maria, cuja veneração procurou espalhar, com especial soli-
ção sacerdotal, tirava sua procedência do Oratório, onde ingressara e m citude, entre seus sacerdotes e entre o povo cristão. E r a aquela mesma
Paris. devoção que, alguns anos mais adiante, com aprovação d e seus confesso-
res jesuítas, Margarida Maria Alacoque propagava, em razão das aparições bons frutos duradouros, sem a colaboração de um prestante clero paroquial.
c revelações que recebera d o Coração d e Jesus. P o r esse motivo, Vicente e os demais mentores religiosos da França n ã o
A despeito de toda a reserva, própria d a Igreja, contra novas formas podiam esquivar-se dos problemas ligados à formação sacerdotal.
d e culto e devoção (pois u m a publicação sobre o culto d o Coração d e A luminosa idéia dos exercícios espirituais p a r a os candidatos a Or-
Jesus fora, primeiramente, posta n o índice), n ã o houve o que pudesse dens eclesiásticas teve sua primeira concretização em 1 6 2 8 . A o entregar o
coibir a propalação dessa devoção. Ela teve n ã o só o consentimento, mas Priorado de São Lázaro, o Arcebispo de Paris deu ordem a Vicente que
p o r fim até calorosa promoção oficial d a Igreja. todos os anos, n a época das ordenações, recebesse gratuitamente os candi-
datos durante quinze dias, e os preparasse p a r a as ordenações. E r a u m a
obrigação que o superior da casa só podia cumprir com a ajuda financeira
1 3 . Senhor Vicente d e nobres benfeitores. Desta maneira, Bossuet e Rance, o futuro F u n d a d o r
dos Trapistas, passaram pela escola d o "Senhor Vicente".
Naquele século, o espírito religioso era t ã o produtivo n a França, mas O programa desses exercícios era regulado com exatidão. Antes d o
a penúria religiosa t ã o complexa n a grande n a ç ã o , a ignorância d o p o v o meio-dia, tratava-se dos pontos essenciais de teologia moral, e pela tarde
tão apavorante, e tão generalizada a atividade quase mecânica dos sacer- sobre os requisitos d o estado eclesiástico, sobre virtudes, deveres, e fun-
dotes, sem calor e entusiasmo, que sempre surgiam novas iniciativas, que ções. Tudo se coordenava num regulamento diário, que n ã o era muito livre,
sempre se procuravam novas formas, e que pessoas prendadas com dotes n e m muito rigoroso. E m toda a parte, o resultado era excelente. Além dos
carismáticos se abrasavam d e zelo para atinarem com alguma solução e Exercícios, Vicente fazia as famosos "Conferências de têrça-feira" sobre a
melhora. Foi o "taumaturgo d o amor a o próximo", Vicente d e Paulo vida espiritual, freqüentadas por inúmeros sacerdotes fervorosos. Parecia-
( 1 5 8 1 - 1 6 6 0 ) , amplamente acessível a idéias e sugestões, que a realizou lhe, então, que n a d a fazia tanta falta como os Seminários, não para princi-
com seu espírito prático de acomodação às condições ambientes. piantes de estudos humanísticos, mas para os que já estavam em condi-
Filho de lavradores, natural d o sudoeste da França, êle entrou c o m o ções de ordenar-se, onde seriam amestrados em todas as funções eclesiás-
jovem sacerdote na órbita d e influência de Bérulle, que lhe arranjou p a r ó - ticas, a fim de se habilitarem a trabalhar, não só na própria perfeição, mas
quia nas imediações de Paris, e, um ano mais tarde, colocação como pre- também na direção de almas.
ceptor na casa d o Conde de Gondi, general das galeras. C o m o capelão dos Foi novamente o Cardeal Richelieu, d e envolta com mil táleres, quem
marujos e dos galés, como sacerdote cooperador d a zona rural, travou lhe deu autorização de receber os primeiros alunos. Nesses Seminários,
conhecimento com toda a miséria espiritual e corporal d o pobre povo, dos dirigidos pelos seus Padres da Missão, a vida espiritual figurava cm pri-
indivíduos sem eira nem beira, dos desarvorados. m e i r o lugar. Vicente n ã o julgava a ciência absolutamente necessária p a r a a
E m 1617, reuniu as primeiras "Servas dos Pobres", as "Dames d e la direção das almas. Contudo, seu anátema contra a ciência que não levasse
Charité" ( " D a m a s d e C a r i d a d e " ) , que deviam coadjuvar a cura de almas à caridade era contrabalançado pela admoestação de estudar de tal ma-
p o r u m a assistência aos pobres organizada. Compôs p a r a elas u m esta- neira que, junto com os conhecimentos, crescesse também a caridade,
tuto minucioso. segundo o exemplo de Bérulle, que se entregava todo a Deus, cada vez que
P a r a mobilização de homens, fundou em 1625 u m a entidade corres- chegava ao conhecimento de u m a verdade, alcançando assim u m a santidade
pondente, a "Congregação d a Missão", cuja finalidade era instruir os cam- e u m a ciência d e r a r a solidez.
poneses e o povo simples. N o jovem clero francês, deve ter havido muitos Nas seis décadas imediatas, trinta bispos soücitaram a colaboração de
elementos generosos c idealistas, que afluíam em grandes levas às novas Vicente e seus Lazaristas p a r a fundação de seminários. Grande parte d o
fundadações d o século. Assim aconteceu t a m b é m com a nova Congre- clero francês evidenciou, na prática cotidiana da pastoral, a autenticidade e
gação, cm favor da qual o Prior de São Lázaro dispôs de sua própria casa fecundidade dos princípios do grande Educador. Vicente punha-se sempre
em Paris. Dali por diante, foi chamada Congregação dos Lazaristas. e m contacto com líderes em assuntos religiosos, com Francisco de Sales,
Originariamente, constituíam um agrupamento d e sacerdotes seculares, Olier, c os outros.
que só faziam o voto simples de perseverança. Mas, em 1 6 5 1 , já aditaram A coroa d e sua obra em prol dos sacerdotes foram suas atividades,
os três votos tradicionais, ainda que cm forma simples, e de caráter parti- durante nove anos, n o Conselho de Assuntos Eclasiásücos, na assim cha-
cular. m a d a Mesa d e Consciência. Dentro d e suas atribuições, Vicente se atinha
Vicente destinou-os à pregação d e Missões populares. D e n t r o em com rigor aos assuntos e pontos de vista eclesiásticos, sobretudo nas p r o -
pouco, estenderam suas atividades além das fronteiras d a F r a n ç a . N a Irlan- postas de nomeação para bispos, que e r a m da competência da Coroa, se-
da, serviam a um povo católico, que sofria debaixo da opressão e per- gundo a Concordata. Êle só propunha candidatos dignos, sem nenhuma
seguição. E m 1648, iniciaram trabalhos missionários até na longínqua Ma- acepção de pessoas, entre os quais havia vinte e dois, que êle conhecia pes-
dagascar. Missão popular e cura de almas extraordinárias não podem lograr soalmente de seus Seminários e Conferências.
N o v a História 111 — 15 i
A seus olhos, o episcopado era o ofício d e pai e pastor, n ã o u m a 14. Neo-Agostinismo
honraria, ainda que tais idéias o colocassem em oposição ao poderoso
Ministro Cardeal Mazarino. Mantinha-se em ligação com os novos bispos, A existência das Igrejas Reformadas n ã o só dava constantes oportuni-
dava-lhes normas espirituais. Instava, p o r correspondência, com os poucos dades d e debater com elas assuntos políticos e religiosos, m a s influía tam-
que propendiam a idéias jansenistas, e fê-lo em parte sem nenhum resultado,
bém n a piedade e teologia dos católicos, sem que as partes disso tivessem
de sorte que as melhores relações, com o correr dos anos, terminaram em
consciência imediata. A vida de moral austera em muitas famílias de credo
merencório silêncio.
reformado provocava cotejos com as atitudes por vezes relaxadas dos meios
E n q u a n t o sua assistência a sacerdotes e bispos primeiramente só apro- sociais católicos.
veitava à França, a fundação das "Filhas da Caridade" ("Filies de l a Cha- O teólogo preferia, sobretudo, ocupar-se com a autoridade de Santo
rité") foi u m benefício para o m u n d o inteiro. Desde muitos anos, a abas- Agostinho, sumamente apreciado por Lutero e Calvino. Nele pretendiam os
tada viúva Luísa de Marillac tinha-se submetido à direção espiritual de Reformadores fundamentar suas doutrinas sobre o estado primitivo d o
Vicente, que lhe apontou como tarefa a assistência dos pobres e dos doentes. h o m e m n o Paraíso, sobre o protopecado ("Ursiinde") e o pecado original,
A dócil discípula ia prestar serviços à cabeceira dos doentes, visitava os sobre a relação da graça com o livre arbítrio, e sobre a predestinação.
casebres dos pobres. Isto era quase u m escândalo p a r a as damas da alta A edição das obras completas d e Santo Agostinho cm Basiléia (1513)
sociedade. forneceu um texto com base autêntica. A s Universidades esperavam en-
M a s , como que enviadas por Deus, apresentaram-se moças simples do contrar n a doutrina agostiniana u m a sabedoria viva e vivificante, c elas
interior, que chegaram a Paris, e quiseram ajudar nessa obra de caridade. preferiram-na a qualquer outro sistema metafísico.
Elas receberam formação d e enfermeiras. Ainda n ã o se cogitava em nenhu- Justamente a Universidade de Lovaina, situada na linha divisória das
m a organização. Só com a experiência a comunidade assumiu, aos poucos, confissões religiosas, q u e desde o início da Reforma assumira u m a atitude
formas mais definidas. de fidelidade à Igreja, julgava-se n a obrigação de contestar os protestantes
não com as opiniões dos escolásticos, mas com a escorreita interpretação
E m 1634, Luísa d e Marillac obrigou-se p a r a sempre a o serviço dos
de Santo Agostinho.
pobres e dos doentes. A comunidade recebeu a aprovação do Arcebispo de
Paris. Sua tarefa seria determinada pelas necessidades d o momento. A dire- O Concílio Tridentino tinha, n a verdade, esclarecido e definido algu-
ção devia ficar sempre em mãos dos Lazaristas. mas questões, mas deixou d e decidir u m a das mais difíceis, o concurso da
graça com o livre arbítrio do homem. Miguel Baio, professor de Lovaina,
Toda a empresa dava prova de u m arrojo inaudito. A s Irmãs residiam buscou a solução diretamente n o estudo de Agostinho. Lera nove vezes
nas paróquias a que eram enviadas p a r a trabalhar. Elas n ã o dispunham de todas as suas obras, e n ã o menos de setenta vezes seus escritos sobre a
conventos n o sentido comum da palavra. Queriam formar u m a comunidade graça. C o m o fruto dessa leitura, publicou em 1563 e 1564 vários tratados
religiosa, e circulavam livremente p o r toda a parte. Envergavam os trajes sobre o livre arbítrio, sobre a justiça e os méritos das boas obras. Seu
d e sua zona rural. N ã o tinham clausura. C o m o n ã o fora difícil, sim, como
colega Ravesteyn (Tiletano) extraiu delas 28 proposições e enviou-as à
n ã o fora impossível, pouco tempo antes, a outras comunidades femininas
apreciação das Universidades n a Espanha. As proposições foram, várias
quebrar essas formas tradicionais d a vida religiosa! A s D a m a s da Visitação
vezes, condenadas em Salamanca e em Alcala. A Universidade de Lovaina
(Visitandinas) tiveram d e tornar-se, contra a vontade d e seu Fundador,
Ordem de clausura rigorosa; as ursulinas foram compelidas a voltarem às e também Filipe I I dirigiram-se a o Papa e pediram-lhe u m a decisão. Pio V
regras usuais. Maria W a r d , fundadora das D a m a s Inglesas, n ã o recebeu condenou 79 proposições de Baio, mas foi deferente p a r a com sua pessoa.
da Cúria R o m a n a a confirmação d e seu Instituto; em 1631, levaram-na E s t a circunstância e certa falta de clareza formal n a bula pontifícia retar-
prisioneira a o Convento das Clarissas em Munique. d a r a m , p o r muito tempo, o desaparecimento do baianismo.
Que ensinara Baio? Sinceramente convencido d e que sua doutrina
Convento, porém, queria dizer clausura, e clausura significaria a mor- se identificava, em tudo, com a doutrina de Santo Agostinho, êle acen-
te da atividade caritativa da nova Congregação. Daquela maneira, contudo, tuava a corrupção d a natureza h u m a n a decaída. P a r a êle, a natureza
era possível realizar em grande escala as várias obras d e caridade a o pró- abrangia tudo o q u e Deus outorgara inicialmente a o homem. Essa j u s -
ximo, d e assistência aos doentes, d e a m p a r o às famílias, de auxílio aos p o - tiça "natural" teria sido totalmente transtornada pelo pecado original, d e
bres e às crianças, principalmente a crianças expostas, segundo os mesmos sorte que o homem, sem a graça, seria sempre arrastado pelo pecami-
princípios, e com o mesmo idealismo religioso. São obras que tornaram as noso amor a o m u n d o . B o m seria unicamente o que procede d o amor a
l i m a s de Caridade conhecidas n o m u n d o inteiro. Deus, p o r efeito da graça. Tais idéias n ã o deixavam longe o perigo d e
u m a negação d o livre arbítrio.
A condenação das proposições de Baio pertencia aos primeiros c a -
sos, em que ficou cerceada a autoridade das Universidades, terceira p o -
várias vezes propôs a condenação de u m ou outro teólogo. Por fim,
tência mundial na Idade Média, e suas pendências foram submetidas à Paulo V proibiu as recíprocas incriminações de heresia. A proibição não
decisão d o Sumo Pontífice. Com isso começou uma nova era, em que deixou, naturalmente, d e reduzir t a m b é m ao silêncio os adversários de
o primado papal se acentuava de maneira mais incisiva. Léssio.
E m sua doutrinação, a Faculdade de Lovaina distanciava-se nitida-
mente dc seu catedrático. Quando, porém, Léssio, jovem jesuíta belga, 16. jansenismo
formulou teses sobre a graça e o livre arbítrio, sobre a inspiração da
Sagrada Escritura, no Colégio da Ordem em Lovaina, a Faculdade ficou Idéias novas c perigosas n ã o se reprimem por decisão autoritária,
a favor d e Baio e investiu coesa contra o primeiro. mas devem ser vencidas por via intelectual. As idéias d e Baio tiveram u m a
No concurso da graça e do livre arbítrio, o Jesuíta lançara o ponto sobrevivência também na Faculdade Teológica dc Lovaina. Pela evolução
de gravidade no querer humano, parecendo deixar sem bastante conside- dos acontecimentos anteriores, elas deviam antecipadamente encontrar n a
ração a necessidade da operação da graça. A Universidade censurou, p o r Companhia de Jesus seus declarados adversários.
conseguinte, 34 proposições de Léssio. A Universidade de Douai aderiu Expoente do baianismo agostiniano, mas sem ter a atitude agosti-
a o a t o de censura. Sisto V, entretanto, proibiu censuras recíprocas. O s niana dc " R o m a locuta, causa finita" ("Roma falou, c a questão aca-
Superiores d a Ordem reprovaram bastante tarde as opiniões de Léssio. 13
bou"), era o neerlandês Cornélio Jansen (ius) ( 1 5 8 5 - 1 6 3 8 ) , que desde
jovem tinha suas experiências pessoais em toda essa área confinante com o
calvinismo.
15. Controvérsia sobre a Graça
Durante os estudos em Paris, conheceu, para sc tornar seu amigo por
toda a vida, a Jean Duvergier de H a u r a n n c , um pouco mais velho d o que
Nesse meio tempo, advieram vários novos fatores, que agravavam êle, apelidado também Saint-Cyran, por causa da Abadia desse nome, que
a tensão existente. E m primeiro lugar, a oposição da Universidade con- mais tarde lhe caberia como comenda.
tra as tentativas da Companhia de Jesus para conferir graus académicos
Os dois jovem trabalharam juntos durante muitos anos. Dirigiam u m
em seus próprios Colégios, ou para avocar a ela Faculdades Universitá-
Colégio de fundação recente. Dedicavam-sc ao estudo dos Santos Padres,
rias. A competição entre Colégio e Universidade despertou alguns r a n -
precipuamente de Santo Agostinho, a fim d e neles redescobrirem o autên-
cores, aqui e acolá, por conseguinte em Lovaina também.
tico cristianismo, pelo qual devia remodelar-se a vida eclesiástica da
Além do mais, os Jesuítas tinham-se envolvido em nova e acesa época.
disputa com os Dominicanos. Bánez, professor dominicano, queria em Delinearam planos dc reforma para a mente teológica e para a pie-
Ávila, onde p o r sua vez se interessava por Teresa, e mais tarde em Sala-
dade. Nesses planejamentos, procediam a u m a divisão dc trabalho, assim
manca, expurgar a teologia da Ordem dc todas as influências nomina-
como mais tarde dividiriam o nome de Agostinho em suas obras literárias.
listas. Com forte acentuação de certas opiniões de Santo Tomás, êle ensi-
Saint-Cyran escreveu posteriormente seu "Petrus Aurelius d e hierarchia":
nava que, n o concurso da graça e do livre arbítrio, a graça deve, por
assim dizer, arrancar a vontade d o estado de potência p a r a o estado de Jansênio, o "Augustinus. . . de humanac naturae sanitate. . . " P o r conse-
ação. guinte, o primeiro ocupava-se com a constituição da Igreja e a vida ecle-
siástica; o segundo, com problemas doutrinários. Depois disso, a vida
Aos teólogos modernos da época, justamente aos da Companhia d e d e ambos tomou rumos diversos.
Jesus, tal doutrina parecia solapar os fundamentos de sua pedagogia ascé- Retornando ao Norte, Jansênio assumiu primeiramente a direção d o
tica. Procuraram, então, afirmar a absoluta liberdade da vontade também Colégio Holandês em Lovaina, depois u m a cadeira de teologia. Seu amigo,
diante da infalível operação da graça dc Deus, d e sorte que, pela doutri- porém, aprofundou-se na vida espiritual pela Escola d c Bcrulle, sem se
n a deles, h á u m concurso d e Deus em todos os atos humanos, mas s o -
filiar ao Oratório. Mais adiante, ficou diretor espiritual da abadessa do
mente em função d o prévio conhecimento d e Deus a respeito do m o d o
rigoroso mosteiro das Cistercienses d e Pôrto-Rcal ( P o r t - R o y a l ) , c confes-
que o homem tome suas decisões.
sor da comunidade.
Tal sistema passou a chamar-se rnolinismo, pelo n o m e de seu prin- Jansênio logo adquiriu fama com suas várias atividades. Tentara for-
cipal propugnador, o jesuíta Molina. Na Controvérsia que então estourou, mar, na Espanha, u m a frente única das Universidades contra as tendências
invocava-se novamente a autoridade de Santo Agostinho, para a qual os dos Jesuítas acima descritas. Polemicara contra o único Sínodo Ecumê-
Dominicanos também apelavam, parelhamente com Santo T o m á s . Á s dis- nico da Igreja Reformada de Dordrecht ( 1 6 1 8 - 1 6 1 9 ) , que queria pronun-
cussões prosseguiram apaixonadas, de sorte que em 1597 Clemente V I I I ciar-se c m assuntos d e fé e condenar os indivíduos. O ternário de Dor-
encarregou u m a Comissão especial para formular uma definição. O árduo drecht sobre o âmbito da predestinação devia certamente incitar de modo
problema ficou durante nove anos entre as deliberações dessa "Congregado especial o pesquisador de Agostinho em Lovaina. Bom súdito de Sua Ma-
de auxiliis gratiae" ("Congregação sobre a ajuda da g r a ç a " ) , que p o r
jestade Católica, êlc combatera outrossim a política exterior da França. Nos anos subseqüentes, os "agostinianos" de Lovaina (amigos e ad-
Acresciam-lhe, ainda, méritos no campo das ciências. Em recompensa, o versários constituíam então verdadeiras facções) procuraram em vão infor-
Rei da Espanha nomeou-o bispo de Ipres (1636). Êle foi um bispo piedo- mar melhor Roma a respeito de todas as intrigas.
so, zeloso pela reforma. Em Paris, pediu que fossem enviados Oratorianos Nisso tudo, uma controvérsia que se azedara, por causa de tanta
para a Bélgica. Logo, porém, morreu de peste, ao cabo de dois anos. inépcia, tanta suscetibilidade, e tanta obstinação, poderia ainda ter perdido
Deixou várias obras em ponto de imprimir. Nelas trabalhara durante seu caráter perigoso, se de ambas as partes houvesse mais caridade; se
muitos anos. Os amigos, a quem foram entregues os manuscritos, já mu- uma das partes admitisse que os erros de Jansênio foram condenados, sem
nidos de uma dedicatória a Urbano VIII, editaram em primeiro lugar as levar em conta, se eram conformes ou não com a doutrina de Santo Agos-
obras exegéticas. Em 1640, seguiu-se então o "Augustinus", cujo subtítulo tinho; se a outra parte, também, em princípio, reconhecesse que Jansênio
explicitava: "seu doctrina S. Augustini de bamanae naturae sanitate, aegri- poderia ter errado na interpretação de Santo Agostinho.
tudine, medicina adversus Pelagianos et Massilienses". Mas, afinal, quais eram as asserções de Jansênio em sua obra? Não
Em seu testamento, como filho obediente da Igreja, o moribundo sub- serão necessárias muitas provas de que ela não constitui uma exposição
metia-se de antemão às modificações que a mesma desejasse. Antes que histórica que identifique com os hereges do século V os teólogos do sé-
se publicasse o "Augustinus", os Jesuítas já tinham tentado conseguir que culo XVI, que na opinião do autor defenderiam opiniões semelhantes às
se proibisse a impressão, em virtude da advertência do Santo Ofício de daqueles Monges de Marselha. Contra a autoglorificação do homem, pre-
1611, que sem expressa autorização da Santa Sé se não publicasse nada conizada pelo humanismo de todos os matizes, o autor se julgava na obri-
mais sobre a graça c o livre arbítrio. A proibição, todavia, não fora devi- gação de reivindicar os direitos da majestade de Deus. Por isso, abria
damente promulgada em Lovaina. Comunicada só por meio de carta, caíra mão de uma motivação racional da teologia. Para êle, bastavam-lhe a
em esquecimento. Bíblia, os Santos Padres, sobretudo o "Doctor gratiae Augustinus" ("Agos-
Os Jesuítas que, naquela altura, celebravam o centenário da fundação tinho, doutor da graça").
da Companhia de Jesus com altaneiro retrospecto de suas realizações, Na opinião de Jansênio, a graça do estado primitivo dos primeiros
receavam ficar talvez desacreditatos, se as antigas controvérsias voltassem pais no Paraíso era algo de devido. Pelo pecado original, ensinava êle, a
à tona. Mas, até que de Roma chegasse ao Norte o comunicado das cen- natureza humana ficou integralmente corrompida, e sujeita irremediavel-
suras eclesiásticas, a obra já estava lançada no comércio livreiro. mente à concupiscência. Esta é movida, de modo irresistível, pelas cou-
Roma exigiu que se retirasse o "Augustinus" da circulação. Um de- sas criadas ou pela graça divina. O que não proceder da graça, por "amor
creto promulgado cm Roma vigoraria imediatamente também fora de Roma, celestial", isso é pecado. Deus, entretanto, confere sua graça só aos pre-
em toda a Igreja, sem outras formalidades. Com isso, porém, o Cardcal- destinados. Aos demais, êle os larga na eterna danação.
Nepote * fêz seus aliados os amigos de Jansênio e a Corte de Bruxelas, Como em 1641 o "Augustinus" teve nova edição em França, houve
porquanto na Bélgica, como na Espanha, o "placet" régio era condição ali, com forte participação dos Jesuítas, calorosas controvérsias, que foram
prévia para a execução dos decretos pontifícios. Como por conseguinte a tomadas como parte de um esclarecimento dos espíritos, nos moldes da
venda continuasse, os Jesuítas belgas publicaram contrateses, nas quais restauração católica. Pois a decidida reviravolta política contra os Hugue-
colocavam Jansênio em oposição ao Concílio de Trento e em arriscada notes não representava, de modo algum, um remate perfeito da restauração
aproximação de Calvino. Nestes termos, desencadeou-se a violenta contro- católica. Ela só lhe criou uma moldura externa.
vérsia. Organizaram-se disputações. O Cardeal-Nepote, que pessoalmente Disso também tinham conhecimento as lideranças intelectuais da na-
não primava por princípios muito austeros de vida, foi realmente bom- ção. Tomando o humanismo de seu Fundador como ponto de partida, a
bardeado por correspondentes do arraial dos Jesuítas. Roma acabou por Companhia de Jesus queria cm suas escolas formar cristãos modernos, que,
proibir o "Augustinus" e as teses dos Jesuítas. estando à altura dos tempos, deviam capacitar-se para as maiores reali-
A Universidade de Lovaina escudou-se na questão do "placet". Só zações possíveis, também no setor religioso, por meio da mesma natureza
três catedráticos apoiavam os Jesuítas. Em conseqüência, Urbano VIII humana, que os calvinistas tanto vilipendiavam.
renovou a proibição para ambas as partes. Por apaixonada intransigência Enquanto a Companhia de Jesus muito esperava da vontade humana e
do assessor do Santo Ofício, que tomara a causa em mãos, em lugar do de sua ascese (treinamento), apresentando a Religião Católica como uma
Papa alquebrado pela idade, a decisão excedeu de muito as intenções de atitude grandiosa, afirmadora de todos os valores, querendo com isso con-
Urbano. Pois, na bula de 1642 (1643), declarava-se, sem maior averi- quistar também os calvinistas; enquanto ela forcejava por abrir a seus dis-
guação, que o "Augustinus" continha numerosas proposições já condena- cípulos os caminhos para altos feitos e posições: outros círculos, os círculos
das por papas anteriores. Em razão das várias circunstâncias que determi- dos "devotos", sentiam a oculta atração do calvinismo.
naram sua origem e publicação, a bula não pôs termo à controvérsia; por O fascínio do culto divino reformado, com suas prédicas cheias de gra-
então, não chegou de modo algum a ser promulgada na Bélgica. vidade, com sua rija piedade, parecia prevalecer às formas litúrgicas católi-
cas, tantas vezes eivadas dc rotina. Persistiam ainda muitas relações de fa-
mília entre católicos e reformados, principalmente nas influentes classes conhecimento com Saint-Cyran, que desde 1635 passou a exercer grande
nobres e abastadas. influência sobre ela e suas irmãs de religião.
Ainda que fossem sumamente raros os matrimônios mistos, M
to- A numerosa comunidade transferiu-se, em 1626. para um novo mos-
davia as conversões individuais introduziam a divisão religiosa em toda a teiro num subúrbio de Paris. Desde 1638, varões das melhores famílias de
parentela. E a juventude, acessível aos problemas religiosos, mas também França assentaram domicílio em redor do velho mosteiro perto dc Versa-
propensa à crítica radical, tinha muitas vezes dolorosa consciência da dife- lhes. Esses "Solitários", entre os quais havia irmãos e sobrinhos da aba-
rença, real ou imaginária, entre a austeridade e o relaxamento, que ela dessa, levavam ali uma vida dedicada à meditação e ao estudo, à leitura
observava neste ou naquele setor da sociedade humana. dos Santos Padres, à jardinagem, a trabalhos manuais; davam aulas a filhos
Aos olhos dos "devotos", o maior perigo para o catolicismo era, pois, de parentes, como o fizeram ao futuro poeta Racine. Nesse específico centro
o calvinismo com o exclusivo teocentrismo de sua piedade, e com a vida religioso adejava a compenetração religiosa, a piedade e as idéias dc Saint-
exemplar dc seus sequazes. Em estreita adesão a Agostinho, eles julga- Cyran, tendentes a remodelar a vida religiosa pela mentalidade agostiniana.
vam-se obrigados a nutrir certa desconfiança contra o homem, a lutar pela Para Richelieu, esse mudo protesto dos "Solitários" e das Religiosas
importância da graça, a exigir uma vida de costumes ilibados, que ultrapas- dc Porto Real ("Port-Royal") representava grande perigo contra sua polí-
sasse a vida particular e abrangesse também a atividade pública. tica maquiavélica, pela qual se aliara aos protestantes na Guerra dos Trinta
Por essa razão, eles acusavam os Jesuítas de versarem autores pagãos, Anos, com dano evidente para a Igreja Católica. Receoso de perder seu
de cultivarem uma casuística laxa c uma piedade restrita a práticas exte- valimento junto ao Rei, por causa do prestígio e das boas relações dos
riores. A tensão agravava-se ainda mais com os ressentimentos galicanos "Solitários" com vastos círculos da sociedade e com o Parlamento sempre
contra a Ordem, cuja direção centralizada estava em mãos de espanhóis e imbuído de galicanismo, e aproveitando-se também da oposição deles ao
italianos. procedimento do Rei e da Corte, êle mandou prender Saint-Cyran em 1638.
Só após a morte do Cardeal, Saint-Cyran foi solto em 1643, como homem
Nessa contradita entre ideal humano e comportamento humano, a alquebrado, mas cingido com a gloríola de "mártir do amor a Deus e da
controvérsia cm torno do livro do Bispo de Ipres assumia proporções de penitência".
singular intensidade e obstinação. Só assim se compreendem as dolosas tra-
mas nas Cortes de Bruxelas e Madrid, nas Universidades, nos Colégios dos O irmão mais novo da Abadessa dc Port-Royal, o famoso catedrático
Jesuítas, sobretudo na Cúria Romana. da Sorbona, Antônio Arnauld, perfilhou c propugnou seu rigorismo moral.
Saint-Cyran fizera-se um dos chefes dos "devotos". Integrado na escola Convidado por Saint-Cyran a defender o "Augustinus", êle escreveu uma
de Bérulle, êle defendera-lhe a piedade contra ataque dos Jesuítas; na mente apologia de Jansênio. Maior sensação, porém, como sacerdote c teólogo,
do finado mestre, protegeu mais o clero secular e o novo Vigário Apostó- provocou em 1643 com a obra "De la frequente communion" ("Sobre a
lico da Inglaterra contra a autonomia dos Missionários da Companhia. comunhão frequente").
Êlc via no episcopado a plenitude do poder eclesiástico, e referia-se aos Ensejou a publicação a atitude dc um confessor da Companhia de
sacerdotes como a "verdadeiros pequenos prelados", que devem ser trata- Jesus. Este permitira a uma baronesa ir a um baile em dia de comunhão,
dos pelos bispos como filhos, não como servos. A dignidade do sacerdócio e era a favor da comunhão hebdomadária, para a qual só exigia isenção dc
põe o clero secular muito acima das Ordens Religiosas, cujas origens re- pecados graves e disposições de piedade no ato de comungar.
montam exclusivamente a instituições dos homens. A praxe geral variava conforme os diversos países. Enquanto os Je-
Suas doutrinas sobre a peculiar estima devida à Bíblia e aos Santos suítas da Alemanha e da Áustria cultivavam a Comunhão mensal em seus
Padres, sobre a acentuação da absoluta majestade de Deus. c sobre a neces- colégios e também nas cidades e nas aldeias, c só em alguns lugares escre-
sidade de séria penitência que movesse o pecador a uma verdadeira mudan- viam a respeito da Comunhão hebdomadária, seus confrades na França e
ça de vida, foram recebidas com avidez em França. na Bélgica recomendavam calorosamente esta última. Na Bélgica, senhoras
piedosas comungavam com maior freqüência ainda. Em 1636, o Geral dos
Elas provocaram, porém, particular ressonância no Mosteiro Cister- Jesuítas quis deixar a comunhão freqüente ao critério dos confessores. Na
cicnse de Porto Real ("Port-Royal"), onde a abadessa Angélica Arnauld, Espanha e na Itália, ela era literariamente recomendada com muita insis-
oriunda de nobre família dc funcionários (o avô dela era convertido, um tência, não só pelos Jesuítas, mas também por sacerdotes estranhos à Com-
tio era reformado), recebendo o cargo aos onze anos de idade, contra as panhia, até pelo quietista Molinos ainda em 1675, embora fôsse também
normas do Direito Canónico, tivera uma "despertamento" religioso, graças combatida por alguns Jesuítas.15

à pregação de um capuchinho.
Aos dezoito anos de idade, ela já tinha executado a reforma de seu Contra tal situação, Arnauld, dogmatizando, por assim dizer, sobre a
mosteiro. Entusiasmou freiras e sobrinhas pelos seus ideais religiosos. Esta- praxe cristã primitiva, não queria saber absolutamente que se recomen-
va primeiro sob a direção espiritual de Francisco dc Sales. Travou depois dasse a Comunhão semanal, porque esta exigiria disposições inexistentes
no cristão vulgar, a saber, autêntico espírito dc penitência, que, antes da
absolvição, presta longa e condigna reparação por todo pecado grave, e pelagianismo afirmar que Cristo morreu pura e simplesmente por todos os
ainda isenção de pecado venial, amor todo puro a Deus, sem mescla de homens, ou que derramou seu sangue por todos eles.
nenhum outro sentimento. Em termos concretos, isso queria dizer que o Decorreram quatro anos, até que Inocêncio X, baseado em longas
homem só raramente poderia ter o arrojo de chegar até a Divina Majes- deliberações com uma Comissão inacessível a qualquer entendimento, 17

tade, oculta no Sacramento. Desta sorte, a Comunhão vinha a ser prêmio condenou como heréticas todas as cinco proposições, que propriamente
de virtude, e já não seria alimento dela. negavam o livre arbítrio e só admitiam em Deus uma vontade restrita de
A Arnauld, não se lhe pode negar reverência ao Santíssimo Sacra- salvar. A bula "Cum occasione", que continha a sentença, era datada aos
mento, profunda piedade, sensibilidade para o mistério do amor a Deus, 31 de maio de 1653.
mas também não se pode contestar que êle exigia algo de impossível com Noutras épocas, uma controvérsia entre católicos terminaria após a
suas cláusulas rigoristas, desconhecendo plenamente a natureza e as aspi- decisão de Roma. Contudo, essa decisão parecia não ter sido tomada com
rações do coração humano, bem como os desígnios do Divino Instituidor imparcialidade. Acrescia que a impugnação direta ou indireta do primado
da Eucaristia. papal, feita pelo galicanismo desde muitas gerações, se tornara tão atuante,
Isto não obstante, sua obra logrou bom êxito, obteve a aprovação de que já se não aceitavam sem mais exame as bulas pontifícias, tanto mais que
muitos bispos, era muito considerada e seguida pelos confessores na admi- elas em "seus corolários desautoravam o rigorismo, qual era ensinado e
nistração sacramental, graças às suas altas qualidades literárias, ao idealis- vivido nos dois centros de Porto Real ("Port-Royal").
mo em que se inspirava, e aos sentimentos antijesuíücos largamente difun- Um dos amigos de Arnauld, o jovem teólogo não sacerdote Pedro
didos em França. Nela parecia ter-se redescoberto o cristianismo de pri- Nicola, que dava aulas de literatura em Porto Real, publicou no mesmo
meira água. Só maníacos por grandes algarismos teriam razões para com- ano uma análise dos vários sentidos das cinco proposições, e nela distin-
bater tal esforço de espiritualidade. guia entre a "quaestio iuris" ("questão de direito") e a "quaestio facti"
Quando um padre jesuíta de Paris atacou o livro no púlpito, logo ("questão de fato").
após a publicação, houve um choque público entre Arnauld com seus As proposições censuradas eram heréticas. O pronunciamento da
amigos e a Companhia de Jesus. Eles acusavam os Jesuítas sobretudo de Igreja sobre elas era infalível, e os círculos de Porto Real também conde-
laxismo na teologia moral. No correr daqueles anos, o ponto de gravidade, naram tais proposições. Inteiramente diversa, porém, era a questão de
para a controvérsia jansenista, deslocara-se aos poucos da área teológica fato, a questão se as proposições condenadas realmente expressariam a
ao setor da vida religiosa e da piedade. A refutação feita por Pétau, da doutrina de Jansênio. Então, entrava em jogo uma situação de fato, que
Companhia de Jesus, historiador de dogmas, colocou Arnauld na necessi- nada teria de ver com a Revelação. Em tal assunto, o Papa não podia pro-
dade de defender suas opiniões. Êle deixou de fazer a viagem a Roma, nunciar-se com infalibilidade. Por isso, em tais declarações não se exigia
para a qual a Regente queria movê-lo. A confusão dos espíritos crescia um assentimento interno, mas apenas um silêncio cheio de respeito. Entre-
cada vez mais, na França e na Bélgica. tanto, o Papa ter-se-ia enganado nessa questão de fato. As cinco propo-
Como continuassem a propagar-se opiniões do "Augustinus", à re- sições não teriam sido ensinadas por Jansênio.
velia da proibição papal de falar no assunto, foram submetidas ao pare- Em 1654, Inocêncio X rejeitou essas distinções sofísticas. A oposi-
cer da Faculdade de Teologia de Paris cinco proposições, tiradas do livro ção diminuiu numericamente, mas recrudesceu em pertinácia. Como Ar-
de Jansênio. Em vista disso, oitenta e oito bispos franceses, em parte por nauld continuasse a escrever a favor dela, houve turbulentos debates na
16
influência de Vicente de Paulo, pediram ao Papa que tomasse uma Sorbona. Ao cabo, as teses de Arnauld foram condenadas, Arnauld pes-
decisão. Assim como assim, havia no episcopado francês uma pequena soalmente demitido da Sorbona, bem como os sessenta catedráticos que
oposição que via no pedido um apelo para condenar, e por esse motivo o não tinham tomado parte na ação condenatória.
rejeitava.
As cinco proposições apresentadas continham o seguinte: 1? Alguns
preceitos de Deus, nem os justos podem cumpri-los com suas forças dispo- 17. Brás Pascal
níveis, ainda que queiram e tentem fazê-lo. Falta-lhes a graça, pela qual ....,

a observância seria possível. 2? No estado da natureza decaída, o homem Parecia de novo que o jansenismo estava liqüidado, com a sentença
nunca pode resistir à graça interna. 3'? No estado da natureza decaída, conjunta do Papado e da Universidade. Mas, justamente nas semanas dos
não se requer no homem a isenção da necessidade intrínseca, basta-lhe a debates na Sorbona, os jansenistas depararam com seu mais genial cam-
isenção de coação extrínseca. 4? Os semipelagianos admitiam a necessi- peão e defensor na pessoa de Brás Pascal (1623-1662), famoso matemá-
dade da graça preveniente intrínseca para todo ato humano, inclusive para tico, filósofo e apologeta.
o início da fé. Incorriam em heresia, por ensinarem que essa graça era de O jovem, por cuja conversão sua irmã rezava em Porto Real, ocupa-
tal feitio, que a vontade humana podia segui-la ou resistir-lhe. 5'' É semi- va-se até então com segmentos cónicos, com mensurações do vácuo, com
máquinas de cálculo, e também filosofava sobre Deus e o homem pelo
método de Descartes, até que durante a leitura da Paixão, na noite de laxistas por Inocêncio XI em 1679, algumas das quais eram defendidas
23 para 24 de novembro de 1654, viu "fogo", vivenciando a presença do também por Escobar. Em 1665 e 1666, já havia precedido a censura de
Deus de Abraão, do Deus de Isaac, do Deus de Jacó, não do Deus dos 45 proposições de teor semelhante.
filósofos, mas do Deus de Jesus Cristo ao mesmo tempo que disso teste-
munhava certeza, gozo e paz em seu "Memorial", que termina com as
palavras: "Renuncia total e silenciosa!" 18. Paz Clementina
Êlc renunciou, efetivamente, a uma carreira brilhante. Detinha-se,
muitas vezes, e por tempo mais prolongado, junto aos "Solitários" de Roma tinha entretanto condenado novamente, e com todo o rigor, as
Porto Real, ainda que só depois de muitos anos se desfizesse da casa e de distinções feitas pelos jansenistas. Ocupava então a cadeira de Pedro
sua bela biblioteca em Paris. Não parava de rezar, e meditava sobre a Alexandre VII (1655-1667), que por muitos anos fora núncio apostólico
agonia de Jesus. São de perene importância esses mistérios de Jesus: em Colônia, acompanhara de perto toda a evolução da controvérsia, desde
"Jesus estará em agonia até o fim do mundo". Pascal ouve, em místico o começo se decidira contra Jansênio, e integrara aquela Comissão Roma-
diálogo, a consoladora palavra do Senhor: "Tu me não buscarias, sc não na, cujas conclusões Inocêncio X homologara em sua bula.
estivesses em minha posse". As cinco proposições, declarou o Papa em outubro de 1656, foram
Nessa quadra, Arnauld encontrou-se com êle em Porto Real. Pascal extraídas da obra de Jansênio, e condenadas no sentido que tinham nela.
prometeu ajudá-lo, no debate com a Sorbona. No dia 23 de janeiro de Diante de declaração tão explícita, os jansenistas já não podiam encafuar-
1956, apareceu, com pseudônimo, a primeira das dezessete "Lettres à un se em subterfúgios. Eram, então, forçados a submeter-se à autoridade pon-
provincial" ("Cartas a um Provincial"). A um amigo fora na província tifícia, ou a rebelar-se abertamente.
narrava êle as atualidades religiosas de Paris. Fazia-o com tão requintada Não obstante, negaram-se a subscrever uma fórmula de submissão,
ironia, em estilo quase jornalístico, que a gente se punha a rir de coração, apresentada pela Reunião Geral do Clero da França. Obstinaram-se tam-
como nas comédias de Moliere, não percebendo assim quão profundamente bém em não aceitar uma fórmula pontifícia de 1665, e sustentavam a dis-
o dardo acertara e ferira o adversário. tinção entre "quaestio iuris" ("questão de direito") e "quaestio facti"
Adversários primordiais eram a Sorbona, os professores com suas ("questão de fato"), senão publicamente, pelo menos no foro íntimo.
ênfases e argucias. Mas, da quarta carta em diante, Pascal mudou a frente Sim, quatro bispos de idéias jansenistas, que gozavam de grande pres-
de batalha. Começou, então, a arremeter contra a Companhia de Jesus, tígio como pastores zelosos pela reforma em suas dioceses, levaram até
cujos sacerdotes eram os mais impetuosos adversários do jansenismo. suas restrições abertamente ao conhecimento do clero, em suas cartas
Sua tíbia doutrina sobre a graça provinha dc uma teologia moral pastorais. Figurava entre eles Pavillon, bispo de Alet, antigo missionário
pagã e laxa, do sistema de probabilismo, segundo o qual eles costumavam popular sob a orientação de Vicente de Paulo; cominou então seu clero
dar suas decisões, quando cm casos concretos concorressem ao mesmo com penas eclesiásticas, caso subscrevesse a fórmula pontifícia.
tempo vários preceitos e obrigações. Pascal delineava uma fantasmagoria A declaração dos quatro bispos representava um ato de coragem,
de sua moral, e fazia grosseiras generalizações. O teólogo moralista Esco- uma vez que o rei Luís XIV, governando sozinho desde 1661, combatia
bar ( + 1663) era o adversário de suas preferências, era quase um pano o jansenismo por motivos políticos, proibia qualquer oposição à fórmula,
vermelho para êle. Esses casuistas, quase todos oriundos do estrangeiro, e ameaçava com a perda dos benefícios eclesiásticos os que se negassem
com seus nomes inarticuláveis, cheios de arrogância e imaginação, que a subscrevê-la. Assim as pastorais dos quatro foram seqüestradas, e inter-
18
propunham questões tão extravagantes, eram insuportáveis para seu ditadas ambas as sedes de Porto Real. O Convento de Paris submeteu-se.
senso de medida c sisudez. Neles descobria atuarem forças que adorme- O Convento perto de Versalhes (Port-Royal-dcs-Champs), que a Abadessa
ciam os cristãos, enfraqueciam o dogma, diluíam a moral. Por este motivo, tinha novamente ocupado com freiras em 1648, permaneceu rebelde.
seu veemente protesto contra eles. Mas proceder judicialmente contra os quatro bispos jansenistas era
Hoje em dia, todos em geral admitem que Pascal, nessa luta enraive- uma ação muito complicada. Na França, exigia-se uma tramitação de
cida, operava muitas vezes com dados inexatos, fornecidos por seus ami- acordo com as liberdades galicanas, por conseguinte no próprio país e
gos; que as "Lettres" ("Cartas") eram, em mais de um pormenor, injustas diante de uma comissão de bispos, instituída pelo Sumo Pontífice. Ficou,
e sobremaneira exageradas; que cias foram com razão indiciadas em 1657; então, patente que os quatro não estavam sozinhos; tinham umas deze-
que forneceram armas aos inimigos da Igreja e aos livres-pensadores do nas de companheiros de idéias no próprio episcopado e poderosos padri-
século XVIII. nhos e madrinhas em Paris. A opinião declarou-se a favor deles.
Que, sem embargo, o "protesto da consciência cristã revoltada" (Man- O Rei, todavia, mostrava-lhes pouca benevolência, porque eles sc
donnct) não fora infrutífero, provou-o a condenação de cinco proposições opuseram aos direitos que o mesmo reivindicava para si na Igreja. Como
o novo papa Clemente IX (1667-1669) era amante da paz, e o Rei por
sua vez desejava a liquidação da demanda, conseguiu-se, após longas nego- Homens, como Jorge Witzel (1501-1573), que voluteou estranha-
ciações, que os quatro se submetessem, e que a fórmula fosse assinada. Era mente entre os dois arraiais, e morreu católico, e o belga Jorge Cassandro
isso, pelo menos, o que Roma julgava ter alcançado, depois de se vence- (1513-1566), de mentalidade irênica, acreditavam na existência de uma
rem todas as dificuldades. Igreja que abrangesse todas as confissões, apesar de todas as divergências
em matéria de cerimônias.
De fato, porém, no ato da assinatura, os Bispos fizeram declarações
sob protocolo, dando a entender que não tinham abandonado suas posi- Para eles, a Igreja Primitiva ("Urkirche" — "Proto-Igreja") é o
"typos", o ideal e a forma reflexa; nela viam o laço que envolve todas as
ções primitivas. Sem embargo, o Papa contentou-se com as declarações
outras: o Símbolo Apostólico e a Tradição, que não eram outra cousa
oficiais, que foram homologadas também em Paris. Pelo breve de 1669, o senão desdobramento e interpretação da própria Escritura, e cujas notas
Papa proclamou a reconciliação. O Rei mandou cunhar uma moeda come- discriminantes eram por sua vez antiguidade, universalidade, e concordân-
morativa: "Em memória da restauração da concórdia na Igreja". cia. Quando não houver renegação da fé em Cristo, sempre persistirá uma
Entanto, essa "Paz Clementina", corroborada pelos decretos do Con- comunidade (comunhão) no fundamento da fé.
selho de Estado de que, para o futuro, não deviam imprimir-se publicações Cassandro redigira sua primeira exposição para o diálogo religioso
de caráter polêmico, restaurou só exteriormente a tranqüilidade. Baseada que Catarina de Medici organizara em Poissy, com vistas a um acordo
na insinceridade, ela não podia remover a divisão dos espíritos, que por entre católicos e reformados. Três anos depois, recebeu do imperador
então recuou para o segundo plano, cedendo lugar a outros problemas Fernando, e, após sua morte, de Maximiliano II a incumbência de cotejar
mais importantes da ocasião. Continuava a ser alimentada a oposição se- a "Confessio Augustana" ("Confissão de Augsburgo"), ponto por ponto,
creta, sobretudo pelas Religiosas de Porto Real, embora lhes fossem tira- com a doutrina católica.
das as escolas, proibida a admissão de noviças, e os "Solitários" tivessem
Nessa "Consultatio" ("Confronto"), Cassandro procurou de novo
de se afastar delas. apresentar, como norma para a época contemporânea, o laudo e a sen-
tença da Igreja Primitiva, de seus Concílios nos cinco primeiros séculos.
19. Tentativas de Reunificação Mas, com esse olhar retrospectivo, por assim dizer, à idade áurea da
Igreja, ligava êle uma impugnação do celibato e da atual redução da co-
O escândalo da cristandade dividida, que se emparelhava com a for- munhão a uma só espécie. Fosse possível capacitar os protestantes de que
mação de uma consciência confessional, sempre provocaram novas tenta- a Reforma devia ser uma reconstituição da Igreja Primitiva ("Urkirche"
tivas para reunificar os cristãos e as igrejas; elas perpassam, quais filetes — "Proto-Igreja"), a unidade já estaria recuperada.
de prata, a história de séculos negregados por tanta intolerância e violên-
cia em matéria religiosa. Essa luta pela unidade da Igreja, essa aspiração Witzel e Cassandro ainda escreveram antes ou imediatamente depois
da conclusão do Concílio Tridentino. Na geração seguinte, já não seriam
ecumênica, por vezes bastante nebulosa, era igualmente abraçada por teó-
admissíveis tais declarações por parte de católicos.
logos e estadistas, ainda que seus motivos fossem, naturalmente, muito
diversos. Uns viam na unidade da Igreja apenas um meio para promover a Em todo o caso, o reconhecimento da validade do batismo calviniano
unidade da nação, ou para elevar seu poder individual. Outros a conside- pela Congregação do Concílio em 1570 estabeleceu uma base de opera-
19

ravam justamente como a razão de ser de suas idéias e atividades, como ções para todo o trabalho posterior em prol da reunificação.
objeto de suas orações, como meta, para a qual ainda valia a pena viver. Do lado protestante, o retorno da teologia luterana para a ortodoxia
não favoreceu as tendências ecumênicas ou irênicas. E se os reformados
Na verdade, ainda que tais esforços não alcançassem nenhum resul- queriam entrar em diálogo pelo menos com os luteranos, faziam-no unica-
tado prático, mas manifestavam todavia um fortalecimento das primeiras mente com o intuito de se beneficiarem da posição jurídica deles, da qual
tendências de tolerância, e um conhecimento mais aprofundado da Igreja eram excluídos os calvinistas.
como tal; testemunhavam que, nem sequer na época das lutas religiosas,
Estas razões tornam mais impressionante a figura do teólogo luterano
estava completamente extinta a caridade para com os irmãos separados.
Jorge Calisto de Helmstedt (1586-1656), que tinha sua formação em
De ambos os lados, tais esforços eram de modo subconsciente alimenta-
estudos históricos e patrísticos. Conhecedor da obra de Cassandro, reedi-
dos pelo canto religioso e pelas orações que faziam vivenciar, no culto di-
tada em 1608 e 1616, Calisto tomou as idéias dele como ponto de par-
vino, os pontos comuns dentro de uma ambiência e comunidade cristã, mal-
tida, pois que o ideal de "antiguidade" correspondia às predileções do cate-
grado a pregação controversista, muitas vezes polêmica.
drático de Helmstedt.
Tais esforços já se faziam valer no próprio século da Reforma. O Por ali descobriu também o valor da tradição, ainda que mediante
humanismo legara aos pósteros a idéia de relatividade nas formulações esse testemunho da Igreja Primitiva pretendesse rejeitar as "inovações"
teológicas. Depois do malogro dos diálogos sobre religião, na quarta dé- romanas. Em tal tradição encontrava um meio de compreender a autên-
cada do século, ainda se mantinha viva a lembrança do problema. tica religião cristã e a autêntica Igreja. Por isso, no entender de Calisto, o
"consensus" ("concordância") da Igreja Primitiva em torno dos "artigos Comênio. Entretanto, os luteranos não aceitaram Calisto como porta-voz,
fundamentais" devia servir de base para a discussão de todas as discre- e êle então tomou a si a causa dos reformados.
pâncias dogmáticas. Nos meses que precederam, como preparação do diálogo, os protes-
Com abstração do poder que o Papa se arrogara, a dissidência reli- tantes de fora criaram uma atmosfera muito desamiga, que depois veio a
giosa remontava ao fato de serem apresentadas, como necessárias para dominar a conferência. Não se chegou a nenhuma atenuação dos con-
salvação, verdades que não o são de modo algum, se forem aferidas pelos trastes, muito menos ainda a uma unificação. Pelo contrário. Luteranos
artigos fundamentais. e reformados abandonaram a unidade que até então tinham mais ou
No centro da tradição está, por sua vez, o Símbolo Apostólico ("Apos- menos conservado na Polónia.
tolicum"). Juntam-se-lhe os outros símbolos cristãos primevos, transmi- Roma tinha, pois, razão com seus receios. Lá se tratou, antes do
tidos pelos Concílios da antigüidade, e preservados de todas as adulte- diálogo, todo o assunto em caráter oficial, e procurou-se empecer a
rações. Calisto admite esses Concílios até o "Sínodo de Orange" (529), realização do diálogo, visto que tais diálogos, pelo testemunho da Histó-
que assinalou o termo das controvérsias semipelagianas. Nesses cinco ria, davam azo a maiores rancores, e que a Igreja diminuiria sua digni-
séculos, formou-se um consenso entre os Padres, o "consensus quinque- dade, caso submetesse as decisões de Concílios Ecumênicos a debates com
2 0

saecularis" ("consenso qüinqüe-secular"), dentro do qual sobressaem hereges.


alguns Padres, mas que no todo constitui uma unidade. Esse consenso Nessas deliberações, a Congregação da Propaganda da Fé manifes-
une todas as igrejas, e os "peritos" poderiam nessa base chegar a uma tou-se, em princípio, a respeito da atitude da Igreja em diálogos sobre
unificação. religião. A exemplo das disputações de Santo Agostinho com os donatis-
tas, tais diálogos podem muitas vezes ser permitidos, quando concorrem
Calisto foi combatido de todos os lados, e suspeitado de criptocató- os pressupostos teológicos e também não faltam as perspectivas de bons
lico por seus correligionários. Como no Símbolo Apostólico nada cons- resultados. Como, porém, quase sempre resultaram infrutíferos, a Santa
tasse a respeito da justificação, toda a Reforma deveria ter sido inútil aos Sé sempre tornava a proibi-los, ou procurava embargá-los por intermédio
olhos de Calisto. De seu lado, os católicos também não admitiam a dou- de seus núncios apostólicos. Quando, apesar disso, se realizassem, os
trina, e nesse meio tempo ela tinha sido indiciada na obra de Cassandro. núncios deveriam cuidar que o não fosse, por hipótese alguma, em nome
Hoje em dia, todos reconhecem, pacificamente, que o consenso da Santa Sé, e que a orientação deles ficassem só em mãos de homens
qüinqüe-secular fora tomado de modo simplista, e que Calisto não enxer- doutos e experimentados.
gara com nitidez toda a sua complexidade histórica, com aquela soma A Cúria Romana tinha seus motivos para tais precauções. Não era
de opiniões, controvérsias e definições, com aquelas situações e menta- escasso o perigo de que a doutrina sofresse cortes, a fim de garantir bom
lidades diferenciadas, em que os símbolos tiveram sua origem e formu- êxito nas disputações. Havia gosto em excluir completamente da conver-
lação. sação a doutrina sobre a Igreja visível, sobre o Papa e seu primado. Wit-
Parecia bater a grande hora fatal de sua vida, quando em 1645 zel, Cassandro, e Calisto também deixaram de mencioná-la.
Calisto recebeu o convite para o diálogo de religião que o Rei da Polô- Quanto era perigosa essa tática, evidenciou-se nas tentativas de união
nia queria fazer em Tórun (Thorn). O capuchinho Valeriano Magni, na França, onde a restauração da unidade religiosa era um problema
filho de um conde milanês, que na qualidade de assessor do Cardeal Har- existencial para o Reino; nem os protestantes o ignoravam, pelo menos
rach, arcebispo de Praga, granjeara grandes méritos na restauração cató- os que mofavam na própria capital. Esses círculos protestantes pensavam
lica da Boêmia, conquistou para o catolicismo a Nigrino, célebre predi- num Concílio Nacional, onde lhes fosse dada a palavra. De modo dife-
cante reformado de Dânzigue, que depois da conversão se tornou secre- rente pensavam os católicos, trabalhados pela influência de Francisco de
tário particular de Ladislau IV, rei da Polônia. A conversão dele parecia Sales, Bérulle, e Vicente. Eles não procuravam fusão de igrejas, mas con-
arrastar consigo a conversão de muitos colegas seus no ministério. versões individuais e retorno das massas.
O Padre Valeriano, que também agenciara o casamento do Rei da Lembraram-se, então, da posse comum de tantas verdades da fé.
Polônia com uma filha do Imperador, conseguiu, apoiado por Nigrino, Discorriam sobre a Missa e o Papa, sôbrc purgatório e culto mariano.
conquistar o Rei a favor de uma tentativa de reunificação dos protes- Contudo, Bérulle e seus Oratorianos não se louvavam apenas na Sagrada
tantes. Devia então realizar-se em Tórun um "Colloquium caritatis", um Escritura, mas igualmente nos Santos Padres e nos primeiros Concílios.
caridoso diálogo sobre religião, que reuniria os diversos grupos e aplaina- De fato, houve onde se encontrar nessa base comum, e não foi pequena
ria os caminhos para a união. a vantagem para a causa católica.
Calisto fora convidado como um dos dezoito luteranos, que deviam Sobreveio a paz, depois da tomada de La Rochelle. Com os recursos
defrontar dezoito católicos, entre os quais oito jesuítas, vinte e dois re- de uma missão adrede planejada, e com a ajuda financeira aos predicantes
formados, e o porta-voz dos Irmãos Morávios, o conhecido pedagogo que se convertessem, Richelieu poderia facilmente conquistar para a Igreja
N o v a H i s t ó r i a III — 1 6 «
Católica os que se achavam traumatizados pela derrocada. O Cardeal, Batendo-se pela paz no seio da cristandade, êle foi o primeiro a repelir
porém, deixou-lhes livre exercício de religião, e indultou os predicantes energicamente, no meio da odiosa balbúrdia da Guerra dos Trinta Anos,
que, anteriormente, tinham incitado à resistência contra êle. De certo a designação de anticristo contra o Papa, à qual a Reforma dificilmente
modo, diferiu a conversão geral para um momento que mais redundasse se dispunha a renunciar. Seus amigos converteram-se, enquanto êle pró-
em sua glorificação pessoal. prio, quase já sem audiência para suas idéias, morria na longínqua Ro-
Deu novas normas para as disputações com os Huguenotes. Como stock.
base, não se devia dali por diante tomar a Tradição, mas exclusivamente
a Sagrada Escritura. Por conseguinte, Belarmino escrevera debalde suas 20. Molano e Espínola, Leibniz e Bossuet
"Disputatíones de controversiis" ("Disputas sobre doutrinas controver-
sas"). Entretanto, só com a Bíblia não era possível argumentar sobre o
De maior relevância para a causa da união, foi Geraldo Molano
primado papal, como fato anterior aos Concílios, nem sobre o purga-
tório, doutrinas que, por isso mesmo, eram deixadas de lado pelos cori- (1633-1722), abade luterano de Loccum, onde vivia segundo a Regra
feus católicos. Beneditina, e presidente do Consistório de Hanovre.
Discípulo de Calisto, assimilou-lhe a mentalidade. Sua maior aspi-
Richelieu quis, então, enviar a Roma um bispo como emissário espe- ração era a unidade da Igreja. Encontrou, no bispo franciscano Espínola,
cial, a fim de obter do Papa um pronunciamento a favor desses cortes um interlocutor católico com os mesmos sentimentos idealistas. Mais
doutrinários. Acreditava, pois, o Cardeal que, com tais transigências, po- tarde, o diálogo tornou-se mais amplo, com a adesão do filósofo Leibniz,
deria aliciar os Huguenotes. A unificação devia efetuar-se numa confe- bibliotecário do Duque de Hanovre, de Bossuet, bispo de Meaux, e do
rência bem encenada, para a qual o Cardeal selecionara seus colabora- sucessor de Espínola em Neustádio-Viena. 2 2

dores, e pessoalmente se exercera em discutir sobre a base única da


Bíblia. O lugar mais adequado para tais encontros parecia ser Hanovre,
onde até 1679 um convertido governou o país, que era protestante. Foi
O bom remate, aguardado como certo, devia constituir-lhe a condi- nessa cidade que os primeiros Vigários Apostólicos do Norte exerceram
ção fundamental para o título de Patriarca da França, ou até Patriarca suas atividades, entre eles o convertido dinamarquês Niels Stensen (Ni-
do Ocidente, que Richelieu ambicionava como coroamento da obra de colau Stenonis), afamado anatomista e geólogo.
toda a sua vida. Uma morte intempestiva embargou a realização dos dese-
jos do Cardeal. Após a morte do duque católico, que não deixou filhos, seu irmão e
sucessor tolerou os Jesuítas como pastores de almas em sua cidade resi-
Negociações unionistas de tal caráter tinham uma propensão cismá- dencial, já porque êle mesmo não podia prescindir do Imperador para
tica, muitas vezes inconsciente. Então, mais de uma vez, a França olhou alcançar o eleitorado ("Kurfürstenwürde"), objeto de suas aspirações.
de bom grado para os lados da Inglaterra, e lembrou-se de Henrique VIII. Outros fatores ainda favoreciam bastante a conjuntura.
Sinceros em seus pontos de vista, muitos cristãos separados preo- O imperador Leopoldo I (1658-1705), que em suas terras realengas
cupavam-se com a unificação das Igrejas. O astrônomo João Kepler, que fazia rigorosa política de contra-reforma, procurou alcançar uma unifi-
sob a pressão da Contra-Reforma precisou largar seu magistério em Graz; cação mais sólida do Império, uma aliança mais firme dos Príncipes Ger-
que foi excluído por seus próprios correligionários, por não ter subscrito mânicos com o Imperador, que permitisse a formação de possante exér-
a "Fórmula de concórdia"; que da protestante Vurtemberga teve de sal- cito nacional sob o comando do Imperador, tendo em vista os cons-
var sua própria mãe, acusada de bruxaria: asseverava, em carta de 1618, tantes choques com a França de um Luís XIV, e a grave ameaça por
que êle e sua família faziam orações diárias "pela unificação da Igreja parte dos exércitos otomanos.
21
triplamente dividida". Na mesma intenção, dedicou também sua
Os "projetos de reforma" não previam unicamente medidas de po-
obra "Harmonia mundi" ("Concerto do mundo") ao rei Jaime I da Ingla- lítica interna, como seria a abolição das barreiras alfandegárias dentro
terra, interessado por assuntos teológicos. do próprio Império. Neles se integrava outrossim uma atenuação, ou até
Da mesma maneira, De Dôminis, antigo arcebispo de Espálato eliminação, dos contrastes confessionais.
(Split) residente então na Inglaterra, homem erudito, bastante volúvel e Trabalhava, nesse sentido, pela reunificação das Igrejas Rojas y Espí-
desditoso, empenhava-se por uma unificação, que êle aguardava sobre- nola, integrado na Ordem Franciscana em Colónia, posteriormente bispo
tudo da atuação dos bispos, cuja autonomia na Igreja, com relação ao de Knin e, desde 1687, de Neustádio-Viena, filho de conhecido general
Papa, êle defendia ardorosamente. espanhol da Guerra dos Trinta Anos. Apoiado pelo Imperador, profun-
Avesso às controvérsias teológicas, em sua pátria holandesa, que lhe damente religioso, Espínola conseguiu ao menos licença para suas expe-
acarretaram prisão e exílio, Hugo Grócio ( + 1645), autoridade em di- riências. O papa Inocêncio XI (1676-1689) pedia muitas vezes ao bispo
reito internacional, que em seus princípios jurídicos perfilhara muitas idéias informações pessoais. Encorajou-o com vários breves, cujo teor era natu-
dos teólogos espanhóis Victoria e Suarez, alimentava idéias ecumênicas. ralmente em termos genéricos. Se o Papa lhe deu, oralmente, indultos e
desta vez em contacto permanente com o Núncio Apostólico de Viena,
faculdades em favor da união, é um problema que ainda não pôde ser para ter garantias de todos os lados.
elucidado. As negociações entabuladas com Molano c Leibniz encheram-no de
Com grande otimismo, empreendeu o bispo três viagens de visita grandes esperanças, pois lhe foi dado averiguar, em seus interlocutores,
aos Príncipes Luteranos Germânicos. Dos calvinianos, não pôde contar sincera disposição de promover a reunificação. Êle acreditava no retorno
com nenhuma concessão, mormente na questão sobre a Eucaristia. Espí- do Príncipe-Eleitor e de seu território. Chegou-se de novo a elaborar
nola esperou longos meses na Corte de Hanovre, onde depois de um um projeto de união, semelhante ao de 1683, no qual o Papa era reco-
empenho de Leibniz houve diálogos, que "aproximadamente atingiram nhecido como chefe visível da verdadeira Igreja Católica Apostólica Ro-
23
os pontos essenciais". mana. Sem embargo, as negociações não lograram nenhum resultado
Em 1683, foi contudo possível elaborar um parecer teológico que prático.
anuía, pelo menos na substância, a uma série de pontos contravertidos O relatório do Bispo a Roma não teve lá a acolhida que se espe-
da doutrina católica, por exemplo, na questão da infalibilidade dos Con- rava. Molano, Leibniz, e seus amigos retraíram-se. A mudança da situação
cílios e da aprovação ponüfícia de suas decisões, e da presença real de política, a fria reserva em Roma, talvez também a atitude de Bossuet
Cristo na Eucaristia, da Confissão como Sacramento, do culto dos San- nas negociações unionistas, que aos parceiros germânicos parecia com-
tos, dos sufrágios pelos defuntos, das indulgências, e da concordância prometida politicamente, e impossíveis exigências de princípios, podem
geral em todos os pontos, que ainda não foram objeto de expressa com- ter contribuído para tal resultado.
binação, tomando por princípio subordiná-los às decisões dos Concílios
Bossuet, posteriormente bispo de Meaux, um dos teólogos exponen-
pretéritos e futuros. Os interlocutores luteranos desejavam um futuro
ciais da época, gozava de alta consideração junto a Luís XIV, que lhe
Concílio Universal, cujas definições dogmáticas seriam infalíveis pela assis-
confiara a educação do delfim. Em 1671, o Bispo, cuja cultura se abebe-
tência do Espírito Santo.
rara toda na Bíblia e nos Santos Padres, redigiu um tratado da fé cató-
O protesto da ala francesa em Roma, desde 1684, infligiu grave lica, a "Exposition de la doctrine chrétienne" ("Exposição da doutrina
dano às esperançosas iniciativas. Dali por diante, Espínola não podia 24
cristã"), que mereceu os maiores encómios do Sumo Pontífice. O
valer-se das instruções pontifícias, ainda que Inocêncio o exortasse a pros- tratado devia servir primeiramente para a reconquista dos Huguenotes, e
seguir com a obra em caráter particular. Em 1691, o Bispo tentou elimi- tinha por fim interpretar as doutrinas do Concílio de Trento.
nar as tensões confessionais na Hungria. Pela solução das questões reli-
giosas, nutria-se a fagueira esperança de garantir a paz interna da Hun- Notar-se-á, escrevia Bossuet no prefácio, que vários pontos da
gria, bem como a fidelidade de seus habitantes à dinastia dos Habsbur- dissidência religiosa se fundam unicamente em má compreensão da dou-
gos, a despeito de todos os aliciamentos para deserção. trina católica; que as demais divergências não assumem a gravidade quê
inicialmente lhes era atribuída; que, de acordo com os próprios princípios
Na Hungria, Espínola bateu-se por alterações do estatuto para os protestantes, a doutrina católica não contém, propriamente, nada que
protestantes, pela cessação das medidas de contra-reforma, pela organi- possa lesar os princípios fundamentais da fé.
zação de diálogos sobre religião, para os quais o Imperador deveria con-
vocar eminentes e comedidos teólogos luteranos germânicos, que bene- Com tal apologética conservadora, Bossuet iniciou também o tra-
ficiassem os húngaros, ignorantes em matéria de religião, sem nenhuma balho prático pela unificação, as disputações diante dos fidalgos france-
maturidade teológica. Espínola, porém, declarou que por então não pro- ses que deviam ser reconquistados. Suas exposições, porém, tiveram uma
curava outra cousa senão a unidade da fé, que Deus a todos impõe como réplica muito hostil da pena de Jurieu, Huguenote quase puritano, que
obrigatória. O problema de direção e todos os mais, êle os deixaria nas só queria reconhecer a Igreja através da Bíblia, interpretada pela expe-
mãos da suprema Autoridade Eclesiástica, à qual Deus iria inspirar, depois riência histórica; que também desenvolvia a "Doutrina dos Artigos Fun-
de efetuada a reunificação, o que se poderia conceder para edificação damentais", declarando que a Igreja Católica abrangia todas as Igrejas,
geral. que invocam um só Deus por Jesus Cristo; que nenhuma delas dc per si
é a católica, mas que cada qual tem parte nela. A controvérsia foi adiante,
O Imperador tentou também obter alguns teólogos de Dânzigue, também depois da fuga de Jurieu para Roterdão. Na defesa da Eucaristia,
poloneses. Os teólogos do Império, porém, recusaram o convite ao diá- Bossuet achava-se na mesma linha com Arnauld, que sc mudara para
logo religioso na Hungria, e este não chegou então a realizar-se. A ter- Bruxelas.
ceira viagem de Espínola ao império foi infrutífera. Êle morreu em 1695. Em 1691, teve início longa correspondência entre Bossuet c Leibniz.
Seu sucessor em Neustádio-Viena, Conde Francisco Antônio de Buch- Embora a iniciativa partisse de Leibniz, que julgava encontrar em França
heim, foi solicitado várias vezes por Molano a que recomeçasse com os um aliado católico para as negociações unionistas com Espínola, nela
diálogos religiosos. Menos esperançoso do que Espínola, que se entusias- pôde também ter influído a esperança, por parte de Luís XIV, de realizar
mava com seus próprios planos, o Bispo viajou em 1698 para Hanovre,
pessoalmente a reunificação, que o Imperador e o Papa tentavam fazer
sem nenhum resultado.
O objetivo de Leibniz era, mais ou menos, o seguinte: Antes que se
pudesse efetuar a união política dos povos na base do cristianismo, con-
forme êle e o Príncipe de Hanovre o desejavam, era preciso primeiro Capítulo VII
restaurar a unidade religiosa. Como, porém, os Protestantes julgavam ter
motivos para rejeitar Concílio de Trento, por não ter sido Concílio Ecumê-
nico, bastaria, para fins de unificação, que eles se prontificassem a subme- NOVA VITALIDADE D A IGREJA:
ter-se às decisões de um futuro Concílio legitimamente convocado. Nesse MISSÃO MUNDIAL. CONVERSÕES.
entretempo, eles poderiam ser admitidos na unidade da Igreja, receber as
Ordens administradas pela Igreja Romana, reconhecendo que na Igreja CONFORMAÇÃO BARROCA DO MUNDO
Romana se encontram os fundamentos da fé e a jurisdição ordinária, que
aos bispos compete por direito divino.
1. Luta Contra a Meia-Lua
Em tais opiniões, Bossuet não via outra cousa senão a tese de Ju-
rieu: Rejeitar um Concílio Ecumênico equivaleria a dizer: Submeto-me à
Fortalecida pela renovação interior, garantida, ao menos relativamente,
Igreja, mas não sei qual ela seja, nem onde se encontre. Um futuro Con-
cílio também não possuiria maior infalibilidade e segurança; sempre apa- pelos resultados da Contra-Reforma na Alemanha e na França, a Igreja
receriam razões para o contestar da mesma forma, e isto traria como últi- Católica ostentou, no século XVII, uma assombrosa pujança de intelec-
ma conseqüência a indiferença religiosa. tualidade e de energia para conformar e transformar o mundo. Muitos
ideais da Idade Média, que pareciam irremediavelmente alijados pelo
Malogrou, portanto, o nobre certame, acabando por exacerbar o Fi- vendaval da Reforma Protestante, foram reassumidos, adaptados às con-
lósofo de Hanovre, em razão do desejo que Leibniz alimentava, desde dições modernas da época, pela vitoriosa dinâmica de uma consciência
muitos anos, de se convocar um Concílio Ecumênico, que não levasse em
segura de si mesma, na tentativa de pô-los em execução.
conta o Concílio de Trento, ou que até o rejeitasse abertamente; em razão
também da decidida firmeza de princípios de Bossuet: A constituição de A idéia das Cruzadas, mantida viva durante séculos pelo entusiás-
nossa Igreja não admitiria nenhuma discrepância em torno da doutrina tico engajamento de chefes católicos e das massas dos fiéis, esmaecida
eclesiástica definida. Proceder de outra maneira equivaleria a subverter- aos poucos na consciência como obrigação, ao findar da Idade Média,
lhe os fundamentos. 25
passou por uma espécie de renascimento e metamorfose, depois de supe-
Bossuet desafinava muitas vezes, quando fazia referência a corações rada a fase de fatalismo, com que na época da Reforma Protestante se
empedernidos. Não possuía o espírito de brandura, pelo qual os erros são tomavam os ataques dos Turcos como punições de Deus (Lutero).
corrigidos, e os errantes morigerados. E a França, que pela abolição do A situação, como era de esperar, diferia essencialmente daquela em
Edito de Nantes destroçara a estrutura eclesiástica protestante, também que Pio II planejou sua Cruzada, dez anos depois da conquista de Cons-
não teve sensibilidade de percepção para os valores cristãos positivos, que tantinopla. Nesse meio tempo, os Turcos tinham tomado Rodes, que
os protestantes cultivavam, mormente os de confissão luterana. ofereceu uma resistência heróica; subjugaram todos os Balcãs, avançaram
Mais tarde, não faltaram ainda outras tentativas de nobres persona- ao longo das fronteiras da Estíria, puseram várias vezes em perigo Cra-
gens e pequenos círculos, em ambos os lados, para conseguir a reunifica- cóvia, bem como a Cidade Imperial no Danúbio. Com intermitencias da
ção da cristandade. Sem embargo, dois séculos decorreriam ainda, até que sorte, e com a ajuda quase sempre precária dos Príncipes Germânicos, o
em condições totalmente modificadas, se avivasse nas próprias Igrejas a Imperador susteve a luta contra eles na Hungria. Além do mais, a Arma-
ânsia de unidade, que as levou a fazerem empenhos, cada vez mais ofi-
da Osmânica assediava Malta, valorosamente defendida pelos Cavaleiros
ciais, numa frente ampla de operações.
Joanitas. O Mar Mediterrâneo parecia transformar-se em Mar Turco,
Contudo, não foram uma utopia os trabalhos unionistas do século pelo menos até onde piratas não muçulmanos estabeleciam seus domí-
XVII. Realizaram-se sem preparação psicológica do povo fiel, e estavam
nios nas costas da África do Norte.
por isso mesmo fadados a malograr, mas exprimiam, de maneira confor-
tadora, uma nunca perdida solidariedade fundamental entre todos os bati- A França, ainda por cima, estava desde muito tempo em ligação
zados em Cristo, e por Cristo resgatados, ainda que ela ficasse obstruída com os Turcos, sim, em relações amistosas, e apalavrava com os Turcos
por ostensiva polêmica e pelo antagonismo entre as confissões. suas operações contra o Imperador, incitava-os a desfecharem novos ata-
ques, com os quais ela sincronizava suas próprias medidas militares.
Já não havia, pois, nenhum vestígio de um Ocidente cristão. Mas batalha, o barroco aproveitou Lepanto como motivo para um ostensório;
Pio V, personalidade de têmpera intrinsecamente cristã, não se deixou alguns anos depois da canonização de Pio V, construiu-se na Igreja Aba-
desencorajar pela situação. Com inesgotável paciência e tenacidade, esse dai de lrsee, na Suévia, um púlpito em forma de proa de navio, com
Papa tentou coadunar a França, o Imperador, a Polónia, e até a Rússia mastro e velame, com cesto de gávea e galhardete.
cismática, na formação de Liga de grandes proporções contra os Turcos. Escutando, desde 1590, cotidianamente, ao meio-dia, o sino de rebate
Foi, todavia, um esforço baldado diante da miopia política dos interesses contra os Turcos em todos os territórios germânicos, o povo sabia, melhor
nacionais. que muitos políticos, o que significava a constante ameaça do perigo oto-
Depois de protraídas negociações, chegou afinal a formar-se pelo mano.
menos uma aliança entre a Espanha, Veneza e o Papa. A Liga, cuja con- Alguns anos depois de Lepanto, os Turcos realmente já se tinham
clusão foi solenemente proclamada na Basílica de São Pedro em maio de refeito para novos ataques. Assestaram todo o seu poder bélico contra
1571, devia ser de caráter permanente, para ataque e defesa, não só contra Creta, último domínio de Veneza na banda oriental do Mediterrâneo. A
o Sultão, mas também contra seus estados vassalos da Argélia, Tunísia, luta dourou vinte anos; concentrou-se ultimamente em redor da bem guar-
e Tripolitânia. Como generalíssimo foi designado Dom João da Áustria, necida capital, que teve de capitular cm 1669.
filho de Carlos V, e como seu lugar-tenente o comandante da esquadra A ajuda pecuniária do Papa a Veneza, a ação da frota pontifícia,
pontifícia. A fim de implorar a proteção divina sobre a armada, Pio V todas as negociações não puderam desviar o curso dos acontecimentos.
decretou um jubileu solene e orações especiais em toda a Igreja. Luís XIV cobrou, a preço alto, a troco de privilégios eclesiásticos, a
No dia 7 de outubro de 1571, travou-se a batalha decisiva nas águas cessão de uma tropa auxiliar, mas que não devia militar sob o pavilhão
de Lepanto, na embocadura do golfo de Corinto. A esquadra dos cristãos da França.
afundou cinqüenta galeras inimigas. Foram capturados metade dos navios O objetivo imediato dos planos turcos de conquista era o Norte da
turcos, e libertados 12.000 galés cristãos. Só um terço da frota turca Europa. Á fronteira, aberta ao sul da Polônia, era sedutora. O Reino
pôde evadir-se. Quinze dias depois chegou a Roma a notícia da vitória. estava completamente arruinado pelas cisões partidárias. Não tardou, pois,
O Papa, que antes da batalha implorava a vitória com pesadas obras a cair em mãos inimigas a primeira cidade na Podólia. Buonvisi, novo
de penitência, e teria presenciado o triunfo das armas cristãs, numa visão núncio apostólico, foi portador dos subsídios financeiros do Imperador e
à hora da refrega, durante a procissão da Confraria do Rosário, decretou dos Príncipes Germânicos para Varsóvia. Êle conseguiu, com muita pre-
em lembrança da batalha a introdução da festa de Nossa Senhora das Vi- caução, eliminar a discórdia interna. A Dieta rejeitou a paz que o Rei
tórias, que Gregório XIII mandou então celebrar, como festa do Rosário, assinara com os Turcos. Organizou-se a resistência militar. Após a morte
no primeiro domingo de outubro, em todas as igrejas que tivessem altar do Rei, João Sobieski, que já se distinguira na luta contra os Turcos, foi
do Rosário. eleito em 1674, com consentimento do Núncio Apostólico, graças sobre-
A vitória de Lepanto, que livrara a Itália e a Espanha do perigo de tudo à influência da facção francesa, junto à qual a oposição contra o
uma invasão turca, ficou esbulhada de seus frutos, em menos de dois Imperador prevaleceu à tradicional amizade com os Turcos. Entretanto,
anos mais tarde. Em vez de estabelecerem os planos militares para o ano o novo Rei foi obrigado a fazer pazes com os Turcos, e ceder-lhes terri-
seguinte, e de quebrarem definitivamente o poderio do inimigo hereditá- tório polonês.
rio da causa cristã, os Príncipes Católicos não quiseram fazer parte da Na luta contra o imperador Leopoldo I, cuja eleição não pudera a
Liga; Espanha e Veneza meteram-se em brigas mesquinhas entre si; a seu tempo impedir, Luís XIV chegou ao ponto de apoiar os húngaros
França, enviando justamente um bispo como emissário a Constantinopla, rebeldes, aliados aos Turcos, de recrutar na Polônia tropas auxiliares
foi intermediária de uma paz em separado do Sultão com Veneza e nessa para os rebeldes, e de induzir o próprio Rei da Polônia a uma promessa
paz a "Sereníssima República" renunciou, por tratado, à Chipre cristã. de ajuda. Luís XIV, no entanto, acabava de assinar o Tratado de Paz de
A vitória de Lepanto foi traída, mas Pio V já não vivia para sofrer tal Nimega (1679). Ele evitou, por vias diplomáticas, que se concluíssem
desengano. alianças entre a Polônia e a Rússia, que em 1677 declarara guerra à Su-
Entre o povo católico,. Lepanto serviu para promover uma rápida blime Porta, e entre o Imperador e a Polônia, para debelar o perigo dos
propagação do Rosário, a fundação de novas confrarias do Rosário, e o Turcos; prometendo que a França só apoiaria a Polônia e Veneza, êle
incremento do culto mariano em geral. A imagem de Maria, de pé sobre na menor das hipóteses concitou a Sublime Porta a um ataque contra o
a meia-lua, foi incluída nos brasões de cidades. Já em 1572 apareceram Imperador. Naturalmente, todas as tramas francesas não puderam con-
muitos epinicios (cantos de vitória), sobretudo nas Universidades Jesuí- cretizar-se. A transferência do núncio Buonvisi, de Varsóvia para Viena,
ticas. Imagens da Vencedora de Lepanto foram colocadas nas igrejas, tanto foi um hábil estratagema do papa Inocêncio XI.
em Veneza, como na Alemanha; construíram-se capelas sob a invocação O Sumo Pontífice julgava que a Paz de Nimega teria eliminado o
de Nossa Senhora das Vitórias (Ingolstádio). Mais de século após a maior óbice que se erguia contra uma ação comum dos cristãos. Logo,
porém, teve de capacitar-se de que, em vista da considerável influência Na manhã de 12 de setembro, data marcada para atacar o exército
assegurada pela França juntos aos Príncipes Germânicos, êle só poderia sitiante dos Turcos, o Capuchinho celebrou no Kahlenberg, a montante de
contar com o Imperador, com a Polônia e a Rússia cismática, e deveria Viena, a santa Missa, que foi acolitada pelo Rei da Polônia, e deu a bênção
dar-se por satisfeito, caso conseguisse da França uma declaração de neu- às tropas federadas. Então começou a peleja. Depois de uma luta que durou
tralidade, pelo tempo que durasse a planejada guerra contra os Turcos. treze horas, Viena foi libertada. Os Turcos refluíram para a Hungria, em
Depois de laboriosas negociações, o prestante Núncio conseguiu pôr fuga desordenada.
de pé uma aliança entre o Papa e a Polônia, ratificada pela Dieta Polaca Os despojos foram enormes. Destinou-se o guião do grão-vizir a Ino-
na Páscoa de 1683. Na realidade, porém, foi o Papa que de fato assumiu cêncio XI a quem foi entregue no dia de São Miguel, e içado por cima da
a si o financiamento da tropa auxiliar polaca. Apuraram-se somas fabu- porta grande de São Pedro em sinal dc triunfo.
losas de dinheiro pela onerosa tributação de bens eclesiásticos na Itália, Por meio de cultos especiais dc imprecação a parte católica da Ale-
na Espanha, e noutros países, pela aprovação de correspondente tributo manha condocra-se da angústia da cidade sitiada. Depois, então, celebrou
imperial nos territórios realengos, pelo alvará para alienação de bens ecle- com largo entusiasmo o valimento da Mãe de Deus, em cuja festa, no
siásticos, pela venda de tesouros religiosos, com exceção de cálices, e "trintário" (em alemão: an dem "Dreissiger") da Assunção da Nossa Se-
finalmente pela retirada de capitais da tesouraria do Castelo Santo Ânge- nhora, fora alcançada a vitória. O Papa estendeu para a Igreja Universal a
lo. Sem os cinco milhões dc florins que, da Câmara Apostólica, reverte- festa do Nome de Maria, celebrada em ação de graças.
ram ao Imperador e ao Rei da Polônia, não teria sido possível nem a
A imagem de Nossa Senhora Auxiliadora (N. S. do Amparo, N. S. do
aliança, nem a vitória.
Perpétuo Socorro), que Cranach ideara talvez sob as vistas de Lutero, e da
A Aliança, aliás, não podia sofrer maior tardança; pois a Hungria qual se tirara uma cópia em 1622 para um novo santuário de romarias em
Superior já estava em poder dos rebeldes, e no começo de maio de 1683 Passávia, foi colocada, como brado de socorro e de júbilo, visualizado em
chegara até Belgrado um poderoso exército turco de 150.000 a 200.000 cores, por toda a região dos Alpes e pelas terras húngaras, que foram arre-
soldados, sob o comando do grão-vizir Cara Mustafá. Uma vez declarada batadas aos Turcos. A romaria à imagem de Nossa Senhora do Socorro, na
a guerra ao Imperador, os rebeldes húngaros bandearam-se imediatamente rua do Socorro ("Mariahilferstrasse") em Viena, conhecida no mundo in-
para os Turcos. Os 30.000 ou 40.000 soldados do exército imperial, sob teiro, teve um surto enorme. O transformar-se da angústia e miséria de um
o comando do Duque Carlos de Lorena, cunhado do Imperador, como o povo, ameaçado por inimigos e por doenças epidêmicas, em efusiva alegria
exército polaco não estivesse ainda prestes para a luta, tiveram de retro- pela libertação através da vitória de 1683, constituiu, pelo menos na área
ceder, a fim de preservarem Viena de qualquer ataque de surpresa. A geográfica de expressão germânica, um dos fatores fundamentais da cultura
Corte fugiu para Linz e Passávia. barroca.
O Duque de Lorena lançou 10.000 homens dentro da Cidade Im- Mas fazia-se mister tirar proveito de 1683. O fato de que da defesa e
perial, que o Conde Ernesto Rodrigo de Starhemberg defendia com tino e resistência se desenvolveu uma fogosa ofensiva, que criaria uma situação
coragem. O Burgomestre de Viena e o Conde Kollonitsch, bispo de Neus- toda nova para a Hungria e para o Norte dos Balcãs, e que baniria para
tádio-Viena, que penetrara na cidade ameaçada, souberam incentivar a sempre o perigo turco para o Ocidente, era uma benemerência não só dos
intrepidez dos defensores. Com suas incursões, estes não podiam desfazer valorosos exércitos e de seus exímios generais, mas também dos cordatos
o cerco dos Turcos, que dia a dia se estreitava cada vez mais, e tiveram diplomatas, c precipuamente do incansável zelo do Sumo Pontífice, a quem
que aturar quase três meses de assédio, bombardeios, assaltos, e falta de se devia que o Rei da Polônia mantivesse a aliança, apesar dos aliciamentos
provisões. de Luís XIV (o qual no avanço dos Turcos fizera suas tropas invadirem os
Mal podia o Duque de Lorena esquivar-se, antes que chegassem os Países-Baixos Espanhóis) e que também a República de Veneza sc filiasse
polacos, da necessidade de atacar para romper o cerco; mas por fim asso- à Aliança.
mou o exército auxiliar, que abrangia contingentes dos Príncipes Germâni- O entusiasmo do Papa empolgou a cristandade. O povo comum viven-
cos, reservas imperiais, e poloneses. O número total oscilava entre 40.000 ciou as Guerras contra os Turcos como uma nova era das Cruzadas. De
e 70.000 homens. No interesse da causa, Carlos de Lorena cedeu o su- toda a parte afluíam voluntários para os exércitos imperiais, até da própria
premo comando ao ambicioso Rei da Polônia. Tal renúncia foi sobretudo França, não obstante a proibição do próprio Rei. O Papa colocou nova-
inspirada pelo Núncio Apostólico, pelo Legado Pontifício junto ao exército mente suas galeras à disposição, e ajudou com grande subsídios pecuniários.
descercador, o capuchinho Marcos d'Aviano, conhecidíssimo pregador de O bom êxito não podia falhar. As vitórias marítimas dos Venezianos não só
penitência (de mais a mais, os Capuchinhos já tiveram, no pontificado de garantiram a Dalmácia, mas também possibilitaram a conquista da metade
Pio V, a assistência religiosa juntos aos combatentes em Creta e na arma- da Grécia. De seu lado, o exército terrestre, refeito de seus reveses iniciais
da cristã). por contingentes da Baviera e de Brandemburgo, conquistou em 1686 Bu-
dapeste, que estivera 145 anos sob o domínio otomano, e dois anos mais
tarde Belgrado.
Nessa altura, a arrancada triunfal teve que parar, pois que no mesmo
ano de 1688 Luís XIV declarava guerra ao Imperador e ao Império, a fim
de garantir as "reuniões" (anexações) feitas por êle. O Imperador foi
1
obrigado a lutar em duas frentes, uma ofensiva no Reno, outra defensiva
contra os Turcos.
Após a vitória do Príncipe Eugênio de Sabóia, novo generalíssimo das
tropas imperiais, perto de Zenta, concluiu-se a Paz de Carlowitz (1699),
pela qual os Turcos cederam a Veneza a península de Moreia (Peloponeso);
ao Imperador, a Hungria, a Transilvânia, grande parte da Croácia e da
Eslavônia; para si conservaram só o Bánato com Timisoara (Temesvar).
Quando os Turcos em 1714 reiniciaram a guerra e atacaram, com bom
êxito, possessões venezianas, concluiu-se novo pacto militar entre o Impe-
rador e a República das Lagunas, por insistência do Papa de então Clemente
X I (1700-1721). Graças ao Príncipe Eugênio, a batalha de Peterwardein
(Petrovaridin) contra enorme superioridade de forças transformou-se, ge-
nialmente, numa vitória cabal. A ocupação do Bánato com sua capital, a
passagem do Danúbio, e a tomada de Belgrado despertaram nos povos cris-
tãos balcânicos ânsias e esperanças de se libertarem do jugo otomano.
Emissários desses povos dirigiram-se aos chefes militares e ao Pacto Impe-
rial, respectivamente com propostas e pedidos de assitência. As oportuni-
dades, porém, não foram aproveitadas.
Complicações européias forçaram o Imperador a interromper a cam-
panha de guerra. A Paz de Passarowitz (Pozarevac) em 1718 entregou
ainda o Bánato à Áustria, e a região norte da Sérvia, onde a autonomia da
Igreja Ortodoxa ficou garantida com muitos privilégios imperiais, e foi ereta
uma diocese de rito latino.
Embora a Sérvia se perdesse novamente dentro de vinte anos, ainda
assim com as conquistas na Itália resultou, da Guerra de Sucessão Espa-
nhola, a formação da Áustria como grande potência católica, cuja solidez
interna não correspondia contudo às dimensões geográficas, mesmo porque
não fora possível "formar da grandiosa monarquia um todo homogê-
neo". *

2. Novo Impulso Missionário: Francisco Xavier

A nova pujança da Igreja não se patenteava, unicamente, no rechaço


militar da intrusão de povos bárbaros, no que o Império cumpriu mais
uma vez sua missão histórica para com a Igreja, e a Áustria correspondeu,
com ingentes sacrifícios financeiros das Igrejas e Mosteiros, ao ardente
entusiasmo do povo pela religião.
Ela evidenciou-se, prevalentemente, num enorme esforço missionário,
que só encontrava paralelo na época da pregação apostólica, e na obra
missionária entre os anglo-saxões. Se a situação privilegiada da Espanha e
Portugal criou os moldes jurídicos nas bulas do padroado, a jovem Com-
panhia de Jesus apresentou os elementos necessários disciplinados, ades-
246 Capítulo VII Nova vitalidade da Igreja 247

trados e abnegados, para o empreendimento que devia levar à fé católica O trabalho missionário de Xavier, cujos frutos foram fantasticamente
um mundo imenso, a perder de vista, tanto a leste como a oeste. exagerados, em conseqüência de interpretações errôneas e hipérboles retó-
Poucos anos antes, Erasmo ainda lamentava a falta de zelo missionário. ricas, produziu copiosos resultados. A morte daquele homem, que contava
Mas, já no ano da fundação da Companhia, Inácio pôs Francisco Xavier apenas 46 anos de idade, foi um duro golpe para a jovem Missão. O morto,
e Rodrigues à disposição do Embaixador de Portugal, que em nome de seu porém, tinha apontado os caminhos para o trabalho, em benefício dos mis-
rei lhe pedira sacerdotes para as índias Orientais. sionários das várias Ordens Religiosas que, nos séculos imediatos, parti-
Em abril de 1541, o jovem fidalgo de Navarra embarcou em Lisboa. riam para o Extremo Oriente, e teriam de lutar, nas Índias, com as mesmas
Rodrigues foi retido em Lisboa pelo soberano. Após laboriosa travessia dificuldades, como Francisco, com o escândalo da vida dos portugueses,
com a estrita separação das diversas castas hindus, com a oposição ou a
de 13 meses, Francisco Xavier desembarcou em Goa. No começo, operou
resistência passiva dos brâmanes.
junto a seus próprios compatriotas, marujos, mercadores, colonos, e neo-
cristãos superficialmente catequizados. Logo, porém, teve o impulso de Sem embargo, os missionários portugueses estavam tão naturalmente
dedicar-se aos gentios. Entre os pescadores de pérolas na costa sudeste convictos da superioridade da civilização ocidental, que não lhes podia
das Índias batizou 10.000 catecúmenos, visitou Ceilão, viajou para Malaca, ocorrer outra idéia, senão a de implantar nesse país de missão a Igreja
desembarcou nas Molucas, e depois retornou a Malaca. Ocidental, com suas formas jurídicas e suas peculiaridades litúrgicas. Os
Em toda a parte, suas atividades eram abençoadas com frutos abun- ritos especiais dos cristãos de São Tomé, que se tinham unido a Roma
dantes. Seu porte, seu modo de falar empolgavam as multidões. Êle escre- em 1599, não eram vistos com bons olhos; as tentativas de latinizá-los
destruíram, novamente, parte da união realizada. Perdeu-se, desde o come-
veu suas boas atividades a Inácio e a seus confrades na Europa. Suas cartas
ço, a oportunidade de um encontro com a civilização da Índia, com seu
foram impressas já em 1545, e eram lidas publicamente em todas as casas mundo de estrutura compacta e diferente; não se chegou a reconhecer a
da Companhia. Elas entusiasmavam os jovens escolásticos, que a seu exem- necessidade de tal encontro.
plo desejavam ardentemente demandar o Oriente e ali propagar o Reino de
Deus. Tentativas de missão no Império do Grão-Mongol Acbaro não conse-
Contudo, Francisco Xavier não se deixou ficar nas índias. Ouvira guiram levar o Príncipe maometano ao passo decisivo, apesar de sua bene-
falar do Japão recém-descoberto. Como pesquisador do campo missionário, volência para com os missionários. Alguns jesuítas sucumbiram mártires.
sentia-se na obrigação de averiguar quais as possibilidades de missionar
aquele país longínquo. Em 1549 partiu para lá com alguns companheiros.
Reconheceu logo a peculiaridade social-política do Império das Ilhas. Con- 3. Japão
seguiu conquistar a benevolência de um dos Príncipes feudais japoneses, e
organizar uma comunidade, depois que se batera, antigo mestre de Paris, Em contrabalanço, o desenvolvimento da Missão no "País do Sol
com os bonzos budistas em longas e eruditas disputações. Todavia não llie Nascente" foi favorável. Francisco Xavier deixara no Japão uma pequena
foi possível empreender viagem até a Corte Imperial. comunidade. A pregação de seus confrades, chegados sem demora ao Ja-
Como Inácio o nomeara superior da nova Província da Companhia nas pão, conquistou rapidamente muitos milhares de crentes. Na atual Quioto,
índias, Francisco retornou a Goa em 1552. Sentiu-se plenamente no papel onde Francisco Xavier não fora acolhido, já existiam sete igrejas, quatro
de superior de uma Missão, e organizou-a com medidas muito acertadas. anos depois de sua morte.
Interessou-se pela formação de um clero indígena. Escreveu para a Europa Quando o jesuíta italiano Valignano, visitador da Missão, deixou o
e solicitou reforço do pessoal missionário. Japão cm 1582, havia lá 150.000 cristãos. Valignano, organizador preca-
Estando mentalmente na fronteira, entre Idade Média e Era Moderna, vido, de visão larga, propôs a fundação de um seminário para formação
êle de modo algum se escandalizava com o padroado régio, e invoca sem do clero indígena. Infelizmente seu plano não foi executado logo, nem aca-
escrúpulos o braço secular em favor de interesses cristãos; de outro lado, bado em toda a sua extensão. £le era a favor da ereção de escolas e hospi-
porém, já tinha algum pressentimento do valor intrínseco de uma civilização tais. A fim de estreitar as relações dos novos cristãos com a Igreja Univer-
exótica, qual se lhe antolhava nas índias e no Japão. sal e com seu Pastor Supremo, organizou, sob a direção de um príncipe nipô-
nico, uma embaixada a Roma. Gregório XIII recebeu-a em 1585, com
No verão de 1552, viajou de novo para o Norte. Espreitava, diante da toda a solenidade.
costa da China, uma ocasião de penetrar no Reino do Meio, totalmente
defeso a estranhos. Depois de aguardar inutilmente durante dois meses, o Por incentivação de Valignano, já existiam então impressoras cristãs
"Pioneiro da Missão Contemporânea" (Schurharmmer) morria de febre, sem e publicações cristãs em língua japonesa. Parecia encaminhar-se, aos pou-
assistência, tendo entre as mãos uma vela que o cozinheiro chinês lhe en- cos, uma discreta acomodação à cultura japonesa, mormente à sua estru-
tregara, a única pessoa que ainda agüentava junto a êle. Foi aos 3 de de- tura familiar e social. Os Jesuítas precaviam-se de não comprometer a pure-
zembro de 1552. za da doulrina cristã com a assimilação de idéias pagãs, que eventualmente
Nova vitalidade da Igreja 249
248 Capítulo VII
cristãos, exigia-se que calcassem aos pés algum crucifixo ou alguma imagem
se ligassem a conceitos nipônicos. Por isso, em suas pregações e publicações
de Maria.
japonesas, introduziram, como termos estrangeiros, as formulações ociden-
tais, respectivamente latinas, dos mistérios cristãos. É uma asserção gratuita que os holandeses calvinistas, então detento-
res do monopólio do comércio, e rigorosamente separados da população,
Por estar sob o patrocínio de um príncipe feudal japonês, a Missão
tenham por interesses comerciais tomado parte nesse vilipêndio da religião
dava motivos para grandes esperanças. Em vista do abnegado esforço dos
cristã.
neocristãos, os observadores otimistas acreditavam numa conversão de todo
o país a curto prazo. 4. Acomodação Missionária na China e nas índias
Mas, em 1582, foi assassinado o augusto patrocinador. Em 1587, seu
sucessor exigiu, de repente, que todos os missionários abandonassem o país No ano em que morria Francisco Xavier, nasceu Mateus Ricci, que
em poucos dias. Os Jesuítas dispersaram-se por todo o país em casas de trinta anos mais tarde pôde, como missionário, entrar definitivamente no
amigos cristãos. Havia esperança de dias melhores, porque até então não território continental da China. E entrou por Macau, cidade que os por-
se tinham manifestado tensões políticas de âmbito nacional. O padroado tugueses fundaram perto daquela ilha, onde o Santo morreu solitário. Ricci,
português ainda não atraíra a atenção pública, uma vez que Sisto V já tinha membro também da Companhia de Jesus, conseguiu com dois confrades
nomeado o primeiro bispo para o Japão. fundar várias residências; finalmente chegou por Nanquim até Pequim, à
Naquela altura, porém, os bons êxitos dos Jesuítas tiravam o sono dos Corte Imperial. Quando de sua morte em 1610, teve enterro por conta do
Espanhóis nas ilhas vizinhas das Filipinas, onde os mesmos tinham em pou- Estado, e um epitáfio por ordem do Imperador.
cos decênios reduzido à fé cristã todo o arquipélago, do qual fizeram pro- Estes esplêndidos resultados, Ricci os alcançou com o método missio-
priamente um só povo mediante a religião cristã. Em lugar de dar maior nário de sua autoria. Para êle, eram recomendação seus conhecimentos téc-
profundidade a esse trabalho, os missionários espanhóis ensaiavam por se nicos, sua instrução matemática e astronômica, prendas que gozavam da
estabelecer no vizinho Japão. Acompanhados por uma embaixada do Go- mais alta cotação na China.
vernador das Filipinas, os primeiros Franciscanos aportaram em Quioto e Ricci adquirira tais habilidades em Roma. Fabricava relógios, mapas,
Nagasaqui. calendários, instrumentos geográficos e astronômicos. Redigia as respec-
Dali por diante, a presença deles deu à Missão um feitio político. Co- tivas explanações em língua chinesa. Trajava à moda dos mandarins, cien-
meçou a existir, no Japão, o receio de uma invasão que fosse preparada tistas do país. Adotou um nome chinês, e no trato com os aborígines seguia
pelos missionários e pelos cristãos. Daí se originou sangrenta perseguição. os costumes da terra.
Em 1597, foram crucificados perto de Nagasaqui 26 cristãos, entre os
Esta adaptação exterior correspondia a uma acomodação interior. Êle
quais três Jesuítas japoneses. Foram baldadas as tentativas de invocar a
deparou no país uma cultura vetustíssima, cuja ilesa integridade determinava
autoridade do Vizo-Rei da Índia em favor de pelo menos 300.000 cristãos todos os aspectos da vida no Império do Meio. Dominava ali o indiscutível
(outros dados falavam de 500.000, para mais), que não tinham para si a poder do Imperador, dos príncipes e dos eruditos que viviam com o alarde
proteção de nenhum poder humano. correspondente. Êle encontrou, antes de tudo, em toda a parte a autoridade
Os soberanos seguintes determinaram a extinção total da religião cató- espiritual de Confúcio, o acatamento absoluto da família, a qual se evi-
lica. Mandaram executar todos os missionários, que puderam capturar. denciava quase como uma comunidade de caráter religioso, pelo culto dos
Com cruéis suplícios, procuravam reduzir os cristãos a renegados. antepassados e pela veneração das imagens dos ancestrais.
Em 1637, houve um levante armado, que os soberanos japoneses só
conseguiram debelar com a artilharia de navios holandeses. Romperam-se, Isento de qualquer presunção ocidental de superioridade, Ricci desco-
então, as relações comerciais com Portugal. Os missionários, sobrevi%'entes briu para si uma relação positiva com a sabedoria chinesa, na qual julgava
encontrar traços nítidos de monoteísmo e até nomenclaturas de Deus ("Se-
das perseguições, foram expulsos, suas igrejas e colégios demolidos. Passou
nhor dos céus"), que lhe pareciam adequadas para a predicação do cristia-
de milhar o número de mártires, nesse período heróico do cristianismo no nismo. Nessa abertura de espírito, Ricci redigiu obras sobre questões de
Japão. teologia natural (teodicéia) com o fim de estabelecer bases para amplo
Os últimos missionários, alguns dos quais tinham entrado no pais» trabalho de conversões: pela sua atitude mental conquistou crentes, sobre-
ainda em 1643, homiziaram-se nas casas dos cristãos; organizaram uma tudo em círculos eruditos e influentes, e aos quais permitia o uso das nomen-
Cripto-Igreja, pobre de sacerdotes, e, por carência de uma hierarquia claturas chinesas de Deus, a veneração de Confúcio, e o culto dos antepas-
eclesiástica, dentro em pouco sem nenhum sacerdote. Essa Cripto-Igreja sados, porque nisso tudo considerava meras fórmulas e usanças sociais,
foi redescoberta perto de Nagasaqui e Osaca, nos séculos XIX e XX. Tais excluídos os atos sacrificais propriamente ditos.
"cristãos-velhos" conservavam a fé, sob constante perigo de vida. Autos Sua abertura, dele e de seus colaboradores, possibilitou avanços maio-
judiciais dos anos de 1660 a 1674, em Nagasaqui, relatavam de 57 cristãos res, e, depois da audiência do Imperador, a construção de uma igreja em
executados e de 59 sucumbidos no cárcere. De todos os suspeitos de serem
N o v a História III — 17
250 Capítulo VII

Pequim, o batismo de vários personagens da Casa Imperial. Quando Ricci


morreu, a Missão podia dar-se por garantida com a existência de uma co-
munidade com cerca de dois mil cristãos, pertencentes em grande parte às
camadas de gente instruída. Como, porém, o sucessor de Ricci não queria
homologar suas concessões, foi expulso de Pequim.
Em 1622, teve Ricci um herdeiro de sua mentalidade na pessoa de
Adão Schall, natural de Colônia, que se filiara à Companhia de Jesus em
Roma, e depois demandara Pequim. Como Ricci, fora em Roma aluno do
célebre jesuíta Clavio, natural de Bamberga. Desde logo, alcançou, graças
à sua erudição, a benevolência do Imperador da China.
A tarefa de reformar o calendário chinês deu-lhe azo de redigir, em
cerca de cento e cinqüenta tratados, um verdadeiro manual de astronomia.
Seu calendário foi introduzido no Império. Depois de haver calculado exa-
tamente um eclipse do sol, ficou mandarim de primeira categoria e diretor
do Gabinete Nacional de Astronomia. Devia, como tal, editar todos os anos
o calendário, com seus anexos supersticiosos. A queda da dinastia não aba-
lou a posição de Schall, nem a da Missão; grandes progressos fazia esta, à
sombra de sua influência.
O novo Imperador outorgou, em 1657, liberdade de religião em todo o
Império. Calculava-se em 150.000 almas o número de cristãos. Após a
morte do Imperador, houve uma peripécia; o próprio Schall foi preso e
condenado à morte. Conseguindo livrar-se. só quase por milagre, morreu
em 1666.
Sucedeu-lhe, como presidente do Tribunal de Contas, o Jesuíta fla-
mengo Fernando Verbiest, seu colaborador, que compartilhara o cárcere
com êle. Gênio universal, Verbiest atuava em todos os setores possíveis,
para não perder a tão necessária benevolência do Imperador. Construía
instrumentos modernos para o observatório astronômico, edificou uma rede
de água, fundiu até canhões por ordem do Imperador, escreveu obras ma-
temáticas e apologéticas, dirigia a Missão, mandou traduzir para o chinês
Tomás de Aquino e também os livros da liturgia. Em 1615, Paulo V tinha-
lhe até dado autorização de celebrar a Missa em língua chinesa.
Por carta enviada à Europa, Verbiest pediu que a Companhia lhe
enviasse colaboradores bem instruídos; empenhava-se pela formação de um
clero nativo. Pelo breve em que Inocêncio XI louvava sua bem acertada
aplicação das ciências profanas para a propagação da fé, a suprema autori-
dade defendeu-o contra ataques e criminações de seus adversários.
Quando êle morreu em 1688, a direção do Observatório Astronômico
continuou em mãos dos Jesuítas até a supressão da Ordem. Nesse ínterim,
eles assumiram também outras atividades. Jesuítas, sobretudo, franceses,
dedicavam-se à investigação do idioma; outros praticavam a medicina. Uma
cura bem sucedida junto ao Imperador teve por efeito em 1622 a permissão
de anunciar, publicamente, o cristianismo cm todo o Império. O número
de cristãos chegava, presumidamente, a um milhão. MISSÕES NA ÁSIA NO SÉCULO XVII
Em 1647, foi nomeado, pela primeira vez, um chinês como Vigário
Apostólico, enquanto os demais Vigários Apostólicos eram na maior parte
franceses, e exigiam juramento de fidelidade de todos os missionários. Tal
Nova vitalidade da Igreja 253
252 Capitulo VII
cisco Xavier em carta ao Rei de Portugal. Seu desejo ardentíssimo era ver
situação potenciou em alto grau as tensões latentes, que existiam na Missão ainda uma vez na vida a Inácio, seu pai espiritual.
da China, a despeito de sua prosperidade exterior. Delas falaremos mais Sem a possibilidade de aconselhar-se bastante, era-lhes preciso tomar
adiante. decisões gravíssimas, junto a poucos companheiros, muitas vezes de outra
Na índia houve, também, avançada acomodação às leis sociais do origem étnica, vencer perigos, superar dificuldades, curtir desenganos. Em
país. Naquela época, enquanto Ricci vivia como mandarim em Pequim, o tais emergências, os solitários pioneiros do cristianismo tinham a inspiração
jesuíta italiano Roberto de Nóbili (1577-1656) pediu admissão na casta de idéias que, como essas da acomodação, subvertiam quase a tradição vi-
dos brâmanes. Chegando em 1606 ao Sul da Índia, êlc logo reconheceu gente. Ora, que tais idéias não eram encontradiças na época, provava-o a
que o método missionário até então praticado pelos portugueses, nas divi- resistência que esses pioneiros depararam junto a seus próprios confrades
sas de suas colônias, já não tinha nenhuma força de penetração. Nenhum de religião. Conforto sem igual deve ter sido, para eles, a generosa confian-
hindu se deixava batizar por um sacerdote europeu que privasse com castas ça que lhes demonstraram Inácio, seus sucessores, c os Sumos Pontífices.
inferiores, nem sequer com os intocáveis.
Por isso, com licença do bispo competente, Nóbili apartou-se de seus
confrades. Numa choupana própria, levava a vida de penitente hindu, trajava 5. As "Doctrinas" no Paraguai
como brâmane, lia os Livros Santos dos hindus. Apresentava-se em público
como doutrinador à guisa dos. brâmanes. Declarava que não pertencia ao. Grandioso tentame e respeitável realização, ao mesmo tempo, é o que
comum dos europeus, mas à linhagem dos príncipes; que fora desde sempre representavam também as assim chamadas Reduções na América do Sul.
penitente; o que aliás, no jesuíta de origem fidalga, correspondia à reali- Se, na Ásia Oriental, o problema estava em se adaptarem os religiosos,
dade. sob o padroado de Portugal, a culturas altamente desenvolvidas, na América
Começou a discorrer sobre problemas da teologia natural (teodiccia), Latina importava, sob a proteção do Rei de Espanha, defender tribos de
da existência de Deus, da criação (hcxaêmcron), e da imortalidade da al- baixo nível cultural contra a exploração de sobranceiros conquistadores e
ma. Os neófitos podiam conservar todos os costumes de sua casta, só de- colonizadores, e transformá-los aos poucos num povo cristão.
viam abandonar a poligamia e a idolatria. Omitiam-se, na administração Para tal programa, não se faziam necessários, em primeira linha, ho-
do batismo, algumas cerimônias incompatíveis com os sentimentos hindus. mens de erudição, mas pregadores populares e educadores carismáticos.
Dentro de poucos anos, foi mister construir igreja própria para os brâmanes Como a idéia vinha ao mesmo tempo dos Franciscanos e dos Jesuítas, e
convertidos. estes últimos eram seus principais promotores, dela se aguardavam bons
Aos confrades, parecia-lhes que Nóbili avançava demais com tal aco- frutos duradouros. Pois em igualdade de tradições, podiam os Franciscanos
modação. Acusaram-no de promiscuir ritos cristãos e ritos pagãos. Nóbili estabelecer uma comunidade terciária franciscana; os Jesuítas, porem, que
teve que justificar-se. A decisão ser-lhe-ia desfavorável se o Cardeal Belar- na Europa por via de regra só se ocupavam com a educação das classes
mino, seu conterrâneo, não se tivesse empenhado por êle. Depois disso, cultas, podiam concretizar seus princípios e experiências pedagógicas numa
muitos missionários jesuítas seguiram-lhe o exemplo no trabalho missioná- espécie de colégio isento ao ar livre (ou espécie de escola campal: em
rio entre as demais castas. alemão "Freiluftkollcg).
Não obstante a resistência dos brâmanes e a perseguição, o trabalho Em vista das muitas c lamentáveis opressões dos índios no Novo
de converter foi continuado após a morte de Nóbili, sobretudo pelo jesuíta Mundo, a propósito das quais a Igreja e as leis do Governo sempre defen-
português João de Brito, chegado a Madura com 26 anos de idade. Logo deram, em princípio, a dignidade humana dos índios; em vista da instabi-
adotou a condição de doutrinador, pertencente a uma casta logo abaixo dos lidade psíquica e dos constantes errores das tribos indígenas, impossibili-
brâmanes. Sua influência sobre o príncipe e o povo não tardou em provocar tando uma instrução e formação cristã mais profunda, pareceu necessário,
a inveja dos adversários. Após vinte anos de atividades, Brito foi decapita- para um autêntico trabalho missionário, que eles fossem segregados dos
do em 1693. europeus, e fixados em aldeamentos.
O crítico de história pode, hoje em dia, fazer restrições a pormenores As primeiras experiências foram determinadas por Acquaviva, Geral
desses métodos missionários; mas não poderá furtar-se à impressão de que dos Jesuítas; outras mais foram executadas no México. O Rei Filipe III
neles se manifestou uma grandiosa prova de inesperada energia, vibração, da Espanha criou uma base jurídica, quando em 1610 liberou os índios
e vitalidade da Igreja, malferida pela Reforma Protestante. Por esses méto- da tarefa forçada para senhores individuais, e os colocou debaixo de sua
dos, um pugilo de jovens varões tiveram a coragem e a vitalícia fidelidade alçada imediata. Em nome do Rei deviam os mensageiros da fé assu-
de arrostar culturas exóticas e impérios gigantescos, a fim de lhes apresen- mir a administração temporal e a alçada judiciária nas regiões ainda não
tar a boa-nova da Cruz. habitadas por brancos no rio Paraná, no atual Paraguai, nas faixas limí-
Esses mensageiros da fé viviam sobre si mesmos, e trabalhavam em trofes desse país com a Argentina e o Brasil. 3

absoluto insulamento. "O mais solitário de seus filhos", subscrevia Fran-


254 Capitulo VII

No mesmo ano, os Jesuítas fundaram a primeira aldeia missionária, a


"Redução Santo Inácio". Nos vinte anos subseqüentes, estabeleceram outras
treze. Por volta de 1700, contavam-se trinta. Essas aldeias cristãs, que rapi-
damente se povoaram com Guaranis, tinham na média dois a três mil
habitantes. Sua organização obedecia a planos rigorosamente calculados.
No centro, ficava a igreja de arenito, guarnecida de rico frontispício,
com torre lateral. Orlavam a praça da igreja: a escola, a residência dos
Padres, prédios para doentes, viúvos e forasteiros. Depois alinhavam-se os
renques das moradias para as famílias; mais tarde, estas eram também
construídas de alvenaria. Ladeavam o aldeamento o moinho e outras insta-
lações artesanais.
A terra de plantio era propriedade coletiva, bem como as ferramentas
agrícolas. O pai de família não dispunha apenas de um quintal em redor da
casa; recebia também uma data de terra para lavoura, da qual se obrigava
a entregar certos produtos à coletividade. Com tal contribuição, pagavam-se
as derramas para o Rei, e atendia-se às necessidades dos doentes e velhos.
O trabalho era compulsório, em regime de fiscalização, porque os
índios não tinham ainda persistência para trabalho aturado. Leis rudimen-
tares policiavam a vida coletiva. Os Padres aplicavam a justiça suavemente.
Exclusão era a extrema e a mais dura das penas. A par do sacerdote, fun-
cionava o alcaide, eleito entre os naturais da terra, pois que paisanos euro-
peus não eram admitidos nos aldeamentos. A Religião sacralizava toda a
vida pública e particular. Constituía-se de missa e terço diários, catecismo
diário para as crianças, doutrinação semanal dos adultos aos domingos
(não foi sem motivo que as Reduções também se chamavam "Doctrinas",
ou Aldeias Catecumenais), e ainda procissões e cânticos espirituais, como
meios de adaptação à índole expansiva dos Guaranis.
A vida plácida e patriarcal nesses aldeamentos só era perturbada por
assaltos de tribos selvagens e por ataques dos escravistas. Por esse motivo,
os Jesuítas receberam do Rei a licença de armar os índios. A segregação
dos brancos, pela qual se procurava resolver o problema racial daquela
época, dava ensejo para os boatos mais desencontrados, como se os Jesuí-
tas lá acumulassem riquezas fabulosas.
Não obstante a dependência do Rei, as Reduções eram propriamente
um mundo à parte, autônomo. Constituíam o "Estado dos Jesuítas". Pelo
fiel desempenho do trabalho, através de gerações, os índios tornaram-se
certamente homens laboriosos e morigerados, junto aos quais a pregação
do Evangelho era também economicamente autônoma. Contudo, os Padres
da Companhia provavelmente não pensaram na evolução ulterior de seus AMÉRICA DO SUL ATÉ 1700
planos, e por isso não cuidaram tampouco de formar o clero nativo. No
fim do período que analisamos, não se deixava de perceber certos sinto-
mas de atonia religiosa.
256 Capítulo VII Nova vitalidade da Igreja 257

6. Primórdios da Congregação da Propaganda Congregação de treze cardeais, dois prelados e um secretário, aos quais
cometeu e recomendou a tarefa de propagar a fé. Entanto, a bula de ereção
Todas as atividades missionárias até agora consideradas estavam su- "Inscrutabile divinae providentiae" só foi promulgada aos 22 de junho
jeitas ao poder régio. O padroado dos Reis de Espanha e Portugal propor- de 1622. Com a lembrança de anteriores tentativas congêneres, era mister
cionava-lhes uma proteção de caráter mais ou menos régio, mas também experimentar primeiro as possibilidades e limitações dessa equipe de tra-
impunha barreiras e limites, fazendo a propagação da fé apresentar-se balho, antes que fosse integrada canonicamente entre as Congregações
como tarefa nacional em inseparável conexão com a política colonialista. eretas por Sisto V.
O caráter da Missão como tarefa da Igreja Universal só ficou bem Esperançoso otimismo e boa elaboração de planos manifestaram-se
evidente desde a fundação da "Congregatio de Propaganda Fide" ("Con- logo nas primeiras iniciativas dos convocados para a direção da Congrega-
gregação da Propaganda da F é " ) , chamada por abreviação "Propaganda". ção. Esta encontrou um secretário de extraordinária competência e habi-
Quando foi ereta a Congregação, não se tratava apenas de acertar uma lidade. Grande parte de seu impulso era de se atribuir ao zelo do carme-
medida de organização, ao sabor do centralismo curial pós-tridentino. Ela lita Domingos de Jesus Maria, que não demorou a ser integrado na Con-
certamente não deixava de sê-lo, mas cm primeira linha era um fruto dessa gregação, à qual fazia chegar regularmente grandes doações.
nova consciência que a Igreja adquirira a respeito de seu ministério pasto-
ral de âmbito universal. Um dos prelados, o espanhol Vives, capelão residente da Tnfanta
Isabel, pôs à disposição da Propaganda seu próprio palácio na "Piazza di
Essas tarefas já não podiam continuar exclusivamente à mercê da boa Spagna" ("Praça da Espanha"); o segundo prelado assumiu um trabalho
vontade dos monarcas, nem depender do voluntariado missionário das Co- de liderança no planejamento universal da Congregação.
munidades Religiosas; pois elas integravam uma parte do mandato apostó-
lico, principalmente para o sucessor daquele Apóstolo, a quem o Senhor No dia 14 de janeiro, realizou-se a primeira reunião. Na reunião se-
confiara o encargo pastoral sobre toda a Igreja. Mais uma vez, a Igreja guinte, no mês de março, distribuíram-se os setores de atividades, apre-
Oficial aproveitou, para seu serviço, fontes de energia que tinham brotado sentaram-se alvitres para a garantia das finanças, no que os cardeais de-
nos corações de homens religiosos, conservou-as incontaminadas, deu-lhes monstraram primeiramente seu espírito de desprendimento.
uma destinação, e dessa maneira as tornou sobremodo fecundas. O Papa confiara à Congregação a tarefa de debater e definir "a tota-
Primordialmente, foi a Missão Judaica em Roma, iniciativa de Iná- lidade dos problemas e cada problema em particular" (os mais impor-
cio, restrita e local, que a Igreja colocava sob sua proteção canónica, quan- tantes, em sua presença), que se referissem à propagação da fé no mundo
do lhe designou um cardeal protetor. Pio V tinha nomeado duas equipes de inteiro, fazendo-o de própria competência em problemas tanto antigos
trabalho para a conversão dos hereges c dos incrédulos, e designado para como recentes, e ainda em casos particulares, que exigissem uma decisão
elas vários cardeais. A Cúria Romana cogitou na criação de um Seminário extraordinária.
Pontifício das Missões, mas os tempos ainda não estavam maduros para a Essa tarefa devia executar-se de tal maneira, que o globo terrestre
idéia. Nesta conexão, uma obra moderna de História das Missões chama a ficasse dividido em treze regiões, de acordo com o número dos cardeais-
atenção para o fato de que, na remodelação da Cúria Romana por Sisto V, membros. Cada região ficava sob a alçada de um cardeal. Representantes,
nenhuma das quinze Congregações Romanas ficou encarregada de cuidar da no exterior, eram treze Núncios Apostólicos ou Vigários Patriarcais. Além
4
propagação da f é . Clemente VIII organizara em 1599 uma comissão das atribuições anteriores, os Núncios assumiam, dessa forma, uma missão
dessa natureza, mas após a morte do Papa (1605) ela encerrou suas ativi- puramente religiosa e a responsabilidade pela execução das finalidades da
dades. "Propaganda" no setor de sua "província".
Carmelitas Observantes da Espanha, que nesse ínterim tinham come- Essa "divisio provinciarum totius orbis terrarum" ("divisão do mundo
çado uma Missão no Oriente Próximo, e Clérigos Regulares da Itália suge- inteiro em províncias") representava uma grandiosa inovação, que mereci-
riam sempre de novo que se fundasse uma Congregação Romana para a
propagação da fé. O Ministro Geral dos Carmelitas Domingos de Jesus damente podia comparar-se ao primeiro Pentecostes. Era então interessante
Maria, que na expedição boêmia do Weisser Berg (1620) carregou, em observar que, das treze províncias, oito eram exclusivamente européias.
sinal de vitória, a Cruz à frente das tropas da Liga, convenceu um car- A área de expressão germânica, com a Hungria e a Transilvânia, com
deal, seu amigo, da necessidade de tal instalação. Quando esse cardeal se Grisões (Graubünden) e a Borgonha, esta repartida entre os três Nún-
tornou papa (Gregório XV, 1621-1623), a instituição já era cousa deci- cios em Colônia, Viena, e Lucernà; a Bélgica, os Países-Baixos, a Ingla-
dida. terra, a Irlanda, a Dinamarca e a Noruega dependiam do Núncio em Bru-
Na festa da Epifania de 1622, "considerando que a tarefa mais nobre xelas; a Polônia, o Báltico, a Suécia e a Rússia ficavam com a nunciatura
do ministério apostólico é a propagação da fé, pela qual os homens che- da Polônia. Duas outras províncias abrangiam a Espanha e Portugal, com
gam ao conhecimento e ao culto do verdadeiro Deus", o Papa criou uma os respectivos domínios e colônias de ultramar.
258 Capítulo Vil Nova vitalidade da Igreja 259

Só três províncias eram terras pagãs, independentes dos europeus, mente "compatrícios". Onde esse mesmo critério era apücado também
embora tivessem enclaves cristãos: Ásia Menor, Oriente Próximo, e África para as Missões Pagãs, conseguia-se a meta ideal de ficar a Missão entre-
do Norte. gue ao Clero autóctone. Isto era o que já dizia o secretário Ingoli em 1628.
Nas circulares que notificavam aos Núncios a ereção da Congregação, Na cidade de Roma Urbano VIII inaugurou, num palácio doado, perto da
designava-se como objetivo a conversão dos hereges e incrédulos, a pre- Escadaria Espanhola, um Colégio próprio da Propaganda, com bolsas de
servação dos povos ainda não totalmente contaminados pela Reforma Pro- estudos para várias nacionalidades.
testante, e o embargo de novos avanços da inovação religiosa. A missão Daquela quadra cm diante, o mandato dos missionários devia provir
entre os gentios ficava relegada para o segundo lugar, sem maior realce. em nome da Igreja, e não de uma Ordem em particular. Por isso, os futu-
Assim, o primeiro campo de atividades práticas da Congregação, sem ros apóstolos deviam ser apresentados à Congregação, que os examinava
contar o Oriente Próximo, era sobretudo a Europa Central e Setentrional. e lhes conferia o mandato e as necessárias faculdades especiais. Eles assu-
Sua tarefa principal consistia em pastorear e preservar os remanescentes miam a obrigação de enviar-lhe a ela, regularmente, os relatórios sobre
católicos, que perigavam em territórios de predomínio protestante; em atividades exercidas e frutos alcançados.
restaurar, cautelosamente, as estruturas eclesiásticas nas regiões que, na Para lhes secundar a atuação, editaram-se, em tipografia própria,
Guerra dos Trinta Anos, receberam novamente um soberano catóüco; em desde 1631, livros litúrgicos e catequéticos em línguas estrangeiras, sobre-
aproveitar toda porta aberta à pregação da fé ou ao culto divino, em regiões tudo para o trabalho missionário nos Balcãs.
que até então estavam fechadas; em enviar missionários ou sacerdotes, na A sujeição imediata aos Superiores Regulares devia tolher, o menos
maior parte religiosos, encarregados de pregar missões. possível, os missionários em sua prontidão para qualquer tarefa específica.
Desde o início, a Congregação proibiu qualquer atuação política dos Os Superiores Regulares eram competentes no que dizia respeito à vida
missionários. Procurava postergar todos os interesses político-religiosos em ascética, mas não quanto às atividades pastorais dos mensageiros da fé.
favor das metas religiosas e pastorais. Destarte, uma consulta a propó- Dos elementos formados nos Colégios Romanos se exigia o juramento de
sito da restituição de bens eclesiásticos, que se propôs em fins de 1623 à ficarem à disposição da Propaganda, e de não ingressarem em Ordem Reli-
Congregação, em primeiro lugar a respeito do Palatinado, foi imediata- giosa.
mente desaforada de suas atribuições, e encaminhada à nova, recém-orga- Foi com relativa rapidez que se articulou na Europa a atividade da
nizada "Congregatio Palatinatus" ("Congregação do Palatinado"). Propaganda. Por causa das dificuldades de comunicação, as atividades
A Propaganda forcejou, desde o começo, por incutir o problema mis- ultramarinas levaram alguns anos para se desenvolverem plenamente. O
sionário na consciência de todo o povo católico. Enviou-se uma cópia secretário Ingoli começou por conseguir das Ordens Missionárias relató-
impressa da circular para os Núncios a todos os bispos, a fim de que por rios sobre a situação das Missões. Esta era muito desfavorável nos países
ela induzissem os fiéis a ajudarem com donativos e legados. Os pregadores sujeitos ao regime de padroado.
quaresmais deviam também recomendar a obra e solicitar contribuições. A legação de um Núncio próprio para as "índias" ou qualquer enten-
Assim, não só o Padre Domingos entregou, durante sete anos, em cada dimento dos Núncios em Madrid e Lisboa com os domínios ultramarinos
reunião da Congregação, avultadas esmolas, mas também já entravam, eram interceptados, como atentatórios aos direitos reais. Vedava-se aos
desde os primeiros anos, donativos de Nápoles e Gênova, do Vice-Rei nativos o acesso aos estudos. Ainda no dealbar do século XVIII, Filipe V
Espanhol, e do Arcebispo de Salisburgo. Acresciam, ainda, determinadas interditou a construção de um Seminário Central em Manilha.
contribuições dos Cardeais, e copiosas doações do Papa. O dinheiro desti-
As potências colonialistas não concordavam, de modo algum, em que
nava-se a grandes empreendimentos, para os quais era empregado com
uma autoridade romana as esbulhasse do governo da Igreja Missionária.
rigorosa exclusividade, à formação de missionários, às suas despesas de
Por isso, a Congregação via-se, bastas vezes, na necessidade de fazer, muito
locomoção, à sua manutenção pessoal. Por princípio, não se atendiam
humildemente, consultas e pedidos junto às Cortes de Lisboa e de Madrid.
pedidos para subvenção de convertidos, ou para promoção de imprensa
Ela não podia sequer intervir diretamente, uma vez que nas Possessões
católica.
Espanholas e Portuguesas já estava introduzida a hierarquia eclesiástica
A Propaganda procurou também, desde o começo, ter decisiva influ- ordinária, com ereção de dioceses e províncias eclesiásticas, cujo provi-
ência na formação dos missionários. Contudo, os Colégios Romanos, na mento o Rei pretendia como direito pessoal.
maioria sob a direção dos Jesuítas, descobriam meios de subtrair-se, mais Se por conseguinte os bispos espanhóis e portugueses na América do
ou menos, à atuação da Congregação. Sul não entenderam a necessidade do momento, não aprenderam a língua
Maior facilidade havia nos Colégios Pontifícios de Nações Estrangei- dos aborígines, nem se incomodaram com suas obrigações apostólicas, mas
ras. Por ordem da Propaganda, tiveram a visita canónica dos Núncios, e freqüentes vezes só procuraram seus lucros pecuniários; se não se efetuou
receberam um Cardeal Protetor, que devia prestar-lhes assistência em cará- uma penetração mais profunda do cristianismo na América Latina; se tal
ter permanente. Dali por diante, esses Colégios deviam receber exclusiva- carência ainda hoje é dolorosamente sentida como causa da labilidade reli-
260 Capítulo VII Nova vitalidade da Igreja 261

giosa da América Latina: a culpa não é de se atribuir a Roma, nem à 7. Missionários franceses no Canadá, no Oriente Próximo
Congregação da Propaganda. e no Extremo Oriente
Um tanto diversa era a situação no domínio do padroado português
no Oriente. Nas Colônias propriamente ditas, a Congregação só podia Os dois Vigários Apostólicos nomeados em 1659 eram franceses. Dis-
atuar, de modo indireto, por meio de medidas gerais. Entretanto, em vários tanciada, cronologicamente, um século e tanto da Espanha e de Portugal,
países do Extremo Oriente, que eclesiàsticamente deviam depender do a França integrou-se na faixa missionária só depois de haver aplicado
bispado de Goa, que se dilatava desde o Cabo da Boa Esperança, na Áfri- todas as energias apostólicas em recuperar a unidade religiosa no próprio
ca, até ao Japão, a Missão ficava numa dependência muito mais folgada, país, e em promover a restauração interna da vida católica.
com relação a Portugal, e Roma tinha também possibilidades muito No começo do século XVII desembarcaram os primeiros Missioná-
maiores de remediar as situações. Verdade é, também, que Goa foi elevada rios Jesuítas franceses em Nova-Escócia. Os missionários, porém, foram
à categoria de arquidiocese em 1558, e que a Santa Sé, a pedido e com o postos fora pelos ingleses. O mesmo aconteceu a seus sucessores. Mas,
apoio de Portugal, criou algumas dioceses até as bandas do Japão. com a consolidação do domínio francês no Canadá, os Jesuítas puderam
Mas as sete dioceses (por volta de 1600), que se alongavam desde finalmente começar com a cura de almas junto aos colonizadores, e com a
as índias até ao Japão, com número de todo insuficiente de sacerdotes por- Missão entre os Índios.
tugueses para um campo de trabalho em crescimento agigantado, eram Dentro de dez anos, cinqüenta padres estavam a trabalhar na "Nova-
poucas demais para estarem em condições de promover, nessa região, uma França". A predicação junto aos Índios custou sacrifícios enormes, e só
cura de almas organizada e uma administração bem regulada. Acrescia, acarretou minguado fruto. Alguns milhares de Índios convertidos viviam
ainda, a prevenção nacionalista dos portugueses que, já envoltos na luta em aldeamentos nas regiões do Rio São Lourenço. A maior parte dos
pela conservação de seu Império Colonial, dificultavam o mais possível a Hurões cristãos foi exterminada pelos Iroqucses pagãos. Oito Jesuítas, ao
entrada de missionários não portugueses. menos, padeceram o martírio. Uma única ilustração de seu heróico idealis-
mo: Isaac Jogues, um deles, foi retirado do cepo no último instante pelos
Para formação de um clero autóctone, Roma desejava maior número Holandeses, e levado para a França (1644); o papa Urbano VIII permi-
de dioceses, independentes o mais possível de Portugal, para evitar, se mais tira-lhe a celebração da Missa, apesar das mãos mutiladas pelos índios,
não fosse, a aparência de que a Missão encaminharia o processo de colo- declarando que "seria uma vergonha se um Mártir de Cristo não pudesse
nização. tomar o Sangue de Cristo": mas êle quis retornar à Missão, e ali foi truci-
No interesse da salvação das almas, a Cúria Romana queria avocar a dado pelos Índios (1646).
si o governo das Missões e nomear diretamente os bispos. Como, porém,
Portugal envidaria todos os meios para empecer a ereção de novas arqui- Como gleba de colonização e ponto de irradiação para todas as Mis-
dioceses desanexadas de Goa, a Propaganda alvitrou como saída não criar sões, criou-se em 1657 um Vicariato Apostólico, que em 1676 foi eleva-
novas dioceses, e, em vez de bispos residenciais, nomear só bispos titu- do à diocese de Quebec. Lavai, primeiro Vigário Apostólico e primeiro
lares, que deveriam tomar conta das igrejas em nome do Sumo Pontífice. Bispo Diocesano, fundou em 1667 um Seminário, berço da atual Univer-
Esse expediente já estava em prática na Europa, desde a nomeação do sidade, que se intitula pelo seu nome.
primeiro Vigário Apostólico de Utreque (Utrecht). Vinda de Tours, a ursulina Maria (Guyart) da Encarnação já se tinha
empenhado pela educação das filhas dos indígenas e dos colonizadores, e
Em 1637, foram pois nomeados os primeiros Vigários Apostólicos fundado o primeiro convento das Ursulinas do Novo Mundo. Essa mulher,
para o Japão, para uma parte das Índias, e esta coube a um brâmane con- agraciada com o dom da contemplação, empreendia longas caminhadas por
vertido. Entretanto, o Arcebispo de Goa atrapalhou, o mais que pôde, a trajetos solitários, a fim de atuar como missionária entre os Iroqueses,
este último o exercício de suas atribuições. pois os remanescentes dos indígenas tinham-se aos poucos retraído até os
Desde 1659, foram instituídos outros bispos auxiliares como vigá- Grandes Lagos. Os Missionários iam-lhes ao encalço, através de selvas e
rios apostólicos, sobretudo para as regiões da Indochina e da China, onde tremedais.
os novos administradores praticamente já não podiam ser molestados por Um dos fundadores de tais postos missionários, Jaime Marquette, foi
nenhum poder de Portugal, pois no século XVII o Império Colonial Lusi- em busca de tribos desconhecidas atrás das florestas, para lhes pregar a fé.
tano já avançava a passos largos para sua desagregação. Potências estra- Incumbido, em 1673, de explorar a bacia do Mississipi, êle avançou de
nhas, de credo protestante, como a Inglaterra e a Companhia Holandesa Greenbay no Wiscoüsin até a foz do Arcansas ao Sul. Pôde então deter-
das índias Orientais, imitiam-se cada vez mais na posse do patrimônio minar a embocadura do Mississipi no Golfo do México. A arriscada expe-
português. dição, em canoa de cortiça, com um percurso de 4.500 quilômetros, por
torrentes estranhas e impetuosas, foi descrita num relatório, cuja autoria
muitos atualmente contestam que fosse de Marquette.
262 Capitulo VII Nova vitalidade da Igreja 263

Tal expedição não descobriu uma rota mais curta da Europa para a
China e o Japão, como o missionário esperava, mas lançou as condições
fundamentais para um rápido desbravamento e desenvolvimento do Impé-
rio Colonial Francês. Em 1682, fundou-se São Luís. Infelizmente, a França
quase não soube, mais tarde, aproveitar as oportunidades; humanamente
falando, esbulhou de seu bom fruto duradouro o heroísmo dos Missioná-
rios Jesuítas. Desde o início do século XVIII, Holandeses e Ingleses perse-
guiram fortemente as Missões Católicas, até que em 1763 a banda oriental
do Mississipi passou para a Inglaterra, e a banda ocidental do grande rio
para a Espanha.
Em seus primórdios, a Missão na América Setentrional recebeu far-
tas subvenções de Richelieu, interessado que estava em promover o comér-
cio, como também em impedir que emigrantes huguenotes fundassem no
Novo Mundo um Estado Calvinista.
Mais acentuada era a mescla de interesses religiosos, econômicos e
políticos, na ajuda que a França dava às Missões na Ásia Menor. Depois
de fundada a Congregação da Propagação da Fé, e, em débil contacto
com ela, Richelieu e seu conselheiro Frei José, capuchinho, a Eminência
Parda, organizaram Missões Capuchinhas nas mais importantes cidades
levantinas. Dentro em pouco, estavam a trabalhar perto de uma centena
de Capuchinhos numa área que se estendia desde a Grécia até a Pérsia.
O Cardeal auxiliava as Missões com avultadas contribuições anuais.
Embaixadas junto ao Sultão, aliado do Rei da França, e também junto ao
Xá da Pérsia, criavam certa liberdade de ação para os mensageiros da fé,
que não tinham aliás licença de missionar os maometanos. Os missioná-
rios dedicaram-se, em primeiro lugar, aos cristãos ortodoxos e aos armê-
nios. A par dos Capuchinhos, trabalhavam Jesuítas, Dominicanos, e Car-
melitas no Oriente Próximo. Os resultados não eram muito consideráveis,
mesmo depois que o antigo cônsul Picquet, ordenado sacerdote, retornou
ao Oriente, na dupla atribuição de Vigário Apostólico e Embaixador de
Luís XIV.
Volvamos, outra vez, nossa atenção ao Extremo Oriente, onde a no-
meação dos Vigários Apostólicos provocou novas dificuldades. Sob vários
títulos, as Ordens Missionantes tinham logrado certos privilégios da Santa
Sé, por exemplo, o privilégio de isenção da jurisdição episcopal e a facul-
dade de administrar o Sacramento da Crisma. Depois de chegados os Vi-
gários Apostólicos, os Missionários Religiosos atinham-se ciosamente a tais
privilégios, e não queriam reconhecer a autoridade dos Vigários Apostó-
licos.
Desses religiosos faziam parte, sobretudo, os Jesuítas espanhóis e
portugueses. Não se submetiam aos sacerdotes seculares franceses que então
se apresentaram como seus superiores no território missionário. A Pro- ESTABELECIMENTO DA HIERARQUIA ECLESIÁSTICA NA AMÉRICA
paganda tentou, várias vezes, reforçar a autoridade de seus novos Supe- DO NORTE DOS SÉCULOS XVI E XVII
riores de Missão. Os missionários na Indochina e na China deviam pres-
tar juramento de fidelidade a seus Vigários Apostólicos. Os Jesuítas tinham,
pois, amanhado um florescente campo missionário também na Indochina.
264 Capítulo Vil Nova vitalidade da Igreja 265
Belos frutos colheu o francês Alexandre de Rhodes com seu método 8. Questão dos Ritos
de atar relações de amizade com dinastas e eruditos, para assim conquis-
tar cristãos cultos, influentes e abastados. Dentre os convertidos, selecio- Com a chegada dos Vigários Apostólicos, que continuavam a ser no-
nava então catequistas, e posteriormente também sacerdotes para o ser- meados contra as pretensões dos portugueses, rompera-se praticamente o
viço do povo. Assistidos pastoralmente por numerosos sacerdotes aborí- monopólio dos Jesuítas, também onde até então nenhuma outra Ordem
gines, centenas de milhares de fiéis ofereciam resistência à apostasia, não exercera atividades missionárias. Nos territórios que, como na China, já
obstante as ondas sucessivas de perseguição que borbulhavam por sobre a trabalhavam anteriormente Franciscanos c Dominicanos, as críticas contra
jovem Igreja, e a arrastavam para o cárcere e o martírio. os vários métodos missionários dos Jesuítas, até ali mais ou menos inope-
rantes, tomaram maior vulto daquela época em diante, de sorte que os
Um ano antes da morte do "Apóstolo do Aname" (título que se Vigários Apostólicos e os não-Jesuítas logo puderam constituir uma frente
dava a Rhodes) foi nomeado em 1659 Vigário Apostólico de Tonquim o comum contra a hegemonia missionária dos portugueses. Só nesta pers-
antigo cónego de Tours Francisco Pallu, que Rhodes conquistara para o pectiva é que se deve compreender o rumo passional que a assim cha-
serviço da Missão. Quando procurou obter em Roma a designação de vá- mada Questão dos Ritos tomou pelos fins do século XVIII.
rios bispos para a Indochina, Rhodes recebeu da Propaganda a incum-
bência de angariar sacerdotes em condições de serem enviados ao Oriente A designação com que, por via de regra, se aponta a desavença só
exprime um aspecto parcial dos problemas. Não se tratava, apenas, dos
como vigários apostólicos. Para coibir de antemão a rivalidade das Ordens ritos chineses semelhantes a cultos religiosos, do culto de Confúcio e da
Religiosas, a Propaganda quis escolher os vigários apostólicos dentre sacer- veneração dos ancestrais. Na China, como nas Índias, tratava-se também
dotes seculares. do princípio de acomodação como tal, desde os problemas exteriores, como
Rhodes teve boa sorte em sua terra natal, na França, onde anterior- trajes de mandarim para os missionários, seus modos de vida, problemas
mente suscitara grande entusiasmo missionário com seus relatórios sobre a de pregação, observância dos domingos e dos preceitos de penitência, su-
Cochinchina. Uma série de sacerdotes, integrantes da Escola de Condren, pressão de várias cerimônias no Batismo ou na Unção dos Enfermos,
quando aplicada a mulheres: até o emprego das tenninologias chinesas
reconheceram em sua solicitação um chamado de Deus. Entre eles é que
de Deus. como "Céu" e "Supremo Senhor", que também podiam designar
Rhodes escolheu Pallu e mais um outro. Ambos foram sagrados bispos em o Imperador.
Ruão. Sua tarefa primordial, assim o determinara a Propaganda, devia ser
a formação do clero aborígine. A acomodação às peculiaridades etológicas constituía um dos prin-
cípios mais importantes da evangelização cristã. Não obstante as tensões
Pallu só partiu para o Oriente, depois de ter fundado em Paris um internas que daí resultavam, era esta a norma de vida para a Igreja em
Seminário para formação dos futuros professores dos candidatos autócto- sua trajetória, desde a comunidade primitiva entre os judeus, através do
nes ao sacerdócio, Seminário que se destinava à conversão de pagãos em mundo helénico pagão, até a comunidade eclesial romano-germánica da
terras estranhas, numa palavra as "Missions Etrangères" ("Seminário das Idade Media. Paulo e Gregorio Magno são nomes exponenciais que, nesse
Missões Estrangeiras"), para o que obtivera aprovação régia. processo, representavam muitos outros mentores intelectuais, perspicazes e
Esse Seminário das Missões em Paris não tinha por objetivo principal desembaraçados em suas idéias.
a pregação da fé, mas a rápida formação de uma Igreja Missionária, com Nos séculos XVI e XVII, os Jesuítas eram, sem contestação, os pala-
seu sacerdócio e sua hierarquia autóctones. Era a primeira sociedade mis- dinos dessa idéia de progresso, no melhor sentido da palavra, muito embora
sionária, que não queria constituir-se como Ordem propriamente dita, mas achassem a acomodação razoável, em primeira linha, como meio prático
como agremiação de sacerdotes seculares, que se dedicassem exclusiva- de encaminhar e desenvolver a Missão. Ainda que eles, teoricamente, não
especulassem, até as últimas conseqüências, as razões teológicas por que
mente à obra missionária. Representava, por conseguinte, uma marca inci-
toda civilização tem certo valor intrínseco como criação de Deus, contudo
siva na história das Missões, e ao mesmo tempo um desígnio providencial, sua teologia ficava nessa linha, porquanto ela deixava tão grande parte à
porque então se tornou possível recrutar novas forças para uma grandiosa colaborção do homem com Deus.
realização missionária, justamente quando a Companhia de Jesus foi com-
Havia, além do mais, a convicção triunfalista do espírito católico da
batida e suprimida, e se expandiu o surto do colonialismo francês. Com o
época. A Igreja estaria diante de um recomeço, em condições de absorver
Seminário das Missões Estrangeiras, o catolicismo da França alcançara tal mais uma vez novas etnias e novas civilizações, de "batizá-las", de cris-
potencialidade de ação, que, na opinião de von Pastor, estabeleceu sua tianizá-las e transfigurá-las. Tais convicções não se exteriorizavam nestes
preponderância nas Missões gentílicas da atualidade. termos, mas exerciam grande influência subjacente nas decisões práticas.
Deve-se, contudo, admitir como possível que os primeiros batedo-
5
res da acomodação, como seria talvez o caso de Ricci, avançassem
N o v a História III — 18
266 Capítulo VII Nova vitalidade da Igreja 267

demais, até ao extremo limite de diminuir o dogma. Em todo o caso, de Confúcio e dos ancestrais, sob a alegação de que a decisão de 1656 se
seu método encontrou primeiramente algumas objeções na própria Com- basearia em informações inexatas, c seria por isso mesmo inválida.
panhia de Jesus. Através de uma análise mais meticulosa da filosofia chi- Como .nem todos os missionários obedecessem, o Vigário Apostólico
nesa, julgou-se reconhecer que nela não existiria nenhuma diferença essen- remeteu sua determinação para exame em Roma. Inocêncio XII mandou
cial entre espírito e matéria, de sorte que as nomenclaturas chinesas de fazer minuciosas e longas pesquisas a respeito. Estas resultariam na apro-
Deus exprimiriam algo de material, e por esse motivo quase não seriam vação da acomodação, se o Papa tivesse mais tempo de governo. Seu suces-
aplicáveis ao Deus do cristianismo. Por conseguinte, o Visitador da Missão sor Clemente XI também tinha, pessoalmente, muito interesse pela questão.
dos Jesuítas na China proibiu em 1629 as nomenclaturas chinesas de Ambas as facções, porém, queriam influenciar, em proveito próprio, a
Deus; mas o Superior Geral suspendeu a proibição já no ano seguinte. A decisão de Roma. Um cooperador do Vigário Apostólico de Fuquiém
partir daquela data, a Companhia de Jesus foi unânime em aprovar, por pediu a intervenção de Noaillcs, arcebispo de Paris. Desafciçoado aos Je-
princípio, a acomodação. suítas, este conseguiu da Sorbona uma condenação de numerosas propo-
sições dos Jesuítas sobre pastoral missionária, tidas em França como com-
Mas, como os Missionários espanhóis das Ordens Mendicantes, che- prometedoras para a conversão dos huguenotes.
gados à China, não alcançassem bons frutos com seu método missionário,
que rejeitava Confúcio polemicamente, c pregava a conversão com a Cruz Os Jesuítas, por seu lado, enviaram a Roma uma declaração do Impe-
em punho, houve grande confusão entre os neocristãos. Não houve diálogo rador da China, que apresentava as cerimônias em honra de Confúcio e
nem acordo pacífico entre os representantes dos vários métodos, mesmo dos ancestrais unicamente como manifestação de piedade cívica. O Papa
porque a restauração da autonomia política de Portugal (1640) aumentara enviou então Maillard de Tournon para o Oriente, como visitador e Le-
a tensão dos contrastes nacionais. gado Apostólico, incumbido também de entabular relações de amizade
entre Roma e a Corte de Pequim.
Os Dominicanos compilaram um memorial para a Santa Sé Apostó-
lica, em que expunham 17 objeções contra a legitimidade da praxe dos A escolha do Patriarca titular de Antioquia, decidido, mas ignaro das
Jesuítas. Depois de prolongadas deliberações, a Propaganda e o Santo Ofí- condições e dos idiomas da Índia e da China, não se comprovou muito
cio decidiram em 1645 condenar os ritos chineses como pagãos, e proibir acertada. Enquanto êle nas Índias condenava dezesseis dos ritos malabares,
aos Jesuítas que os tolerassem. Julgando-se, porém, condenados em razão pois tinha ordem de examinar e resolver a questão no próprio lugar, Roma
de informações errôneas, estes enviaram um dos seus a Roma para fazer baixou uma decisão.
declarações exatas. Inspirava-se esta na tendência de remover, do cristianismo na China,
qualquer suspeita de superstição e paganização; proibia, pois, em caráter
Em vista disso, promulgou-se em 1656 novo decreto que distinguia definitivo, as nomenclaturas chinesas de Deus, a veneração de Confúcio e
entre costumes religiosos e costumes nacionais, e permitia estes últimos, o culto dos ancestrais. As distinções entre sentido social e sentido religioso
nos quais incluía o culto dos ancestrais, conquanto se evitasse qualquer dos ritos seriam distinções eruditas; neles, o povo só veria cerimônias
6
superstição. religiosas. Deviam ser abandonados, por se ligarem a idéias, em si repro-
Em resposta a uma consulta. Clemente IX declarou em 1669 que váveis, de que estavam presentes as almas nos painéis de Confúcio e dos
com isso não ficava ab-rogado o decreto de 1645, e que em casos indi- ancestrais. As nomenclaturas chinesas de Deus deviam ser proibidas, por
viduais seria mister averiguar se existiam condições para proibir cu para causa do perigo de um falso conceito da divindade.
permitir. Tournon devia comunicar o decreto aos missionários na China. Quan-
Houve, por fim, violentas polémicas literárias. Nelas se imiscuíram do, porém, chegou a Pequim, apareceu um edito imperial que exigia alvará
até os Jansenistas franceses, para terem ocasião de ferretear também sua para as atividades missionárias, e sua outorga só se faria sob o compro-
adversária, a Companhia de Jesus, e sua respectiva teologia moral. Evolu- misso de não se combaterem os ritos chineses.
ção paralela de acontecimentos verificou-se também nas Índias, onde os O conflito estourou, quando Tournon numa circular de advertência
Capuchinhos, de parceria com os Franciscanos, impugnavam os "ritos ma- proibiu, indiretamente, aos missionárois que aceitassem tais alvarás. O
labares". Imperador retirou a simpatia, que até então votava ao cristianismo. O
Entretanto, chegaram em 1690 Vigários Apostólicos para a China. De Legado, que já publicara a decisão de Roma, foi deportado pelos chineses
resto, no mesmo ano, Alexandre VIII erigiu ainda duas dioceses sob o para Macau. Ali foi preso por ordem do Rei de Portugal. O Papa no-
regime de padroado, as de Pequim e de Nanquim, na China, por conse- meou-o cardeal, mas Tournon morreu em 1710 em Macau, exausto e
guinte sufragáneas de Goa. Isso fêz a luta recrudescer sob outro aspecto. aniquilado pelas fadigas e privações.
O Vigário Apostólico de Fuquiém, formado pelo Seminário das Missões Em resposta aos protestos que chegavam a Roma, Clemente XT con-
Estrangeiras de Paris, proibira em 1693 aos missionários de sua jurisdição firmou o decreto de 1704, exigindo dos Vigários Apostólicos sua publi-
o uso das nomenclaturas chinesas de Deus e a participação social no culto cação. Homens comedidos, como Bernardino delia Chiesa, bispo francis-
Nova vitalidade da Igreja 269
268 Capitulo Vil
que lhes faziam a coesão da doutrina da fé católica e a unidade da Igreja
cano de Pequim, e outros mais, não tinham ainda publicado as decisões
Universal. Por seu lado, as próprias conversões corroboravam a vitalidade
de Tournon, por extemporâneas. Uma intimação direta obrigou também
triunfalista do catolicismo barroco.
delia Chiesa a publicar em 1714 a decisão romana. O Papa renovou-a
em 1715. O Imperador, por sua vez, proibiu a publicação da constituição Na troca de religião, naturalmente, influíam as mais encontradas mo-
apostólica; ratificou uma decisão judicial que obrigava os missionários a tivações, mais de uma vez também a perspectiva de uma rica colocação,
retirarem-se do país, e que interditava o cristianismo na China. de vantagens políticas, ou de algum diadema. Por espírito de eqüidade,
Não nos deteremos na descrição das vicissitudes posteriores. Os decê- não se pode tomar, para apreciação de tais conversões, o critério que hoje
nios subseqüentes preencheram-se com as diligências dos Papas pela exe- em dia se forma do convertido "ideal", que depois de longas lutas inte-
cução de suas decisões, e com as traças dos Jesuítas para burlar o mais riores chega à certeza da fé católica, prontificando-se a sacrificar por ela
possível a interdição dos ritos. A clara percepção que eles tinham, eviden- sua carreira e suas possibilidades de eficiência na vida. Mais de um dos
ciada como certa nos posteriores desenvolvimentos das Missões, que o convertidos do século XVII correspondia a essa caracterização, pois grande
progresso da pregação da fé dependia, total e absolutamente, da benevo- série de conversões se realizou sem cálculo de vantagens exteriores, e com
lência do Imperador e da observância dos ritos chineses, justificava plena- determinada certeza de grandes sacrifícios.
mente a formal desobediência à vontade do Papa, em aparente contradição De outro lado, porém, aparência exterior, influência, dominação, eram
com seu peculiar voto de obediência. Pois a vontade do Papa manifesta- partes integrantes do catolicismo barroco. Coroas régias eram tidas como
va-se-lhes na pessoa de Legados, que desconheciam a língua do país, e reflexos da Majestade Divina. Em consideração dos privilégios nobiliár-
cujos modos apaixonados e interpretações sumamente nebulosas deviam quicos de tantas Catedrais e Colegiadas, tinha-se como a cousa mais natu-
necessariamente desagradar. ral do mundo que príncipes sem direito de sucessão fossem providos com
Roma acabou por reclamar de todos os missionários, antes da par- benefícios eclesiásticos. Tal perspectiva, os Núncios Apostólicos a apre-
tida para a China, um solene juramento de acatar rigorosamente a proibi- sentavam aos convertidos sem nenhuma inibição.
ção; exigiu do Geral dos Jesuítas que, por então, não enviasse outros mis- A Igreja sempre ligou a conversão de príncipes reinantes a grandes
sionários para a China. No final, Bento XIV, o grande canonista na ca- esperanças de recuperar para a fé territórios perdidos. Por esse motivo,
deira de Pedro, confirmou em 1742, pela constituição "Ex quo singulari", encorajou muitas tentativas de conversão, mas sempre pressupôs a íntima
a decisão de Clemente XI em todo o seu conteúdo, depois de ter feito aceitação de seu credo, como condição preliminar de todos os privilégios.
longo relato da questão; cominou também qualquer desobediência com as Sem embargo, não se poderia equiparar a conversão de um general no
mais graves penas canónicas. Dois anos depois, fêz seguir a condenação exército do Príncipe Eugênio à conversão de um Newman.
definitiva dos ritos malabares, defendidos, de modo particular, pelo Arce- Intelectualmente, os pontos de partida em direção da Igreja Católica
bispo de Goa contra a interdição de Tournon. Permitiu um pastoreio espe- eram diferenciados. Justo (Jodoco) van den Vondel converteu-se em 1641,
cial para os párias, não a organização de igrejas separadas de acordo com levado pelo sentimento tolerante e ecumênico, enojado da violenta impo-
as castas. Nesta altura, também os Jesuítas se submeteram. sição de fé na Igreja Reformada da Holanda. Menonita, teve que presen-
ciar como o benemérito estadista Oldenbarnevelt foi executado, por não
Assim se deu satisfação ao direito c à verdade, que necessitava de querer curvar-se ao extremo calvinismo, enquanto Grócio, advogado dele,
defesa. Possivelmente, os tempos não estavam ainda maduros, para que a era condenado à prisão perpétua. Vondel, negociante de meias, cuja loja
verdade pudesse, sem detrimento, revestir-se das roupagens intelectuais e naturalmente abriria falência mais tarde, era ao mesmo tempo o maior
dos costumes vulgares de civilizações exóticas. poeta holandês, que com lances comoventes, exprimia seus sentimentos
Aos grandes pioneiros, sucedeu-lhes grande número de varões cons- religiosos em inúmeros dramas, a começar de "Inocência perseguida" (de-
cienciosos, e, por vezes, tímidos de espírito. Para executar as proibições, o dicada a Oldenbarnevelt) até o imponente "Lúcifer". Instruído por Je-
preço que se pagou foi certamente uma estagnação das Missões, debaixo suítas que vinham clandestinamente da Bélgica, êle quis após sua con-
de perseguições c opressões que irrompiam sempre de novo. A trágica das versão testemunhar a doutrina dogmática da Igreja em numerosos poemas
limitações humanas na Igreja atingiu, de cheio, os mais devotados de didáticos de profundo teor religioso e vivência pessoal.
seus filhos no Extremo Oriente.
Em 1653, João Scheffler (Ângelo Silésio), médico-mor do Duque da
Silésia, converteu-se ao catolicismo. Aos vinte e nove anos de idade, foi
levado, numa troca de idéias, por amigos do teósofo Jacó Boehme, proce-
9. Conversões na Europa
dente do luteranismo, a estudar os Santos Padres da Igreja e os Místicos
da Idade Média. Essa leitura levou-o ao catolicismo. Oito anos mais tarde,
Na Europa também se manifestou a poderosa atração da Igreja Cató- recebia a ordenação sacerdotal. Conhecido pelo seu "Cherubinischer Wan-
lica renovada. Inúmeras conversões de personalidades importantes na cul- dersmann" ("Viajor Querubínico"), o genial poeta aforista teve logo de
tura e na política, durante o século XVII, atestavam a profunda mossa
Nova vitalidade da igreja 271
270 Capítulo VU

justificar, energicamente, sua decisão contra os ataques de teólogos lute- Passou também para a.Igreja Católica em 1709 o duque Antônio Ulrico
ranos. Isto lhe ensejou uma atividade literária sobremaneira frutuosa sobre de Brunsvique-Wolfenbüttel, que se mantinha em ligação com Leibniz.
assuntos contravenidos em teologia. Muitos convertidos escolheram o estado clerical, e galgaram altas
à categoria de escritores e cientistas entre os convertidos pertencia posições na hierarquia. Bernardo Gustavo de Bade e Cristiano Augusto de
também Gaspar Schoppe, um tanto cintilante, conhecido como adversário Saxe-Zeitz receberam o cardinalato. Este último exercia grande influência
em seu primo Augusto o Possante, príncipe-eleitor da Saxônia. Sem embar-
dos Jesuítas e apologista de Machiavelli. Converteu-se, porém, pela lei-
go, a conversão do Príncipe-Eleitor, ligada à eleição como rei da Polônia
tura dos Anais de Barônio. (1697), deve ser em primeiro plano interpretada politicamente. Como o
Lucas Holstc, filólogo, natural de Hamburgo, ficou católico em Paris príncipe-herdeiro em 1712 imitou a resolução do pai, formou-se na Saxô-
no ano de 1625. Como bibliotecário da Vaticana, descobriu o Livro dos nia uma nova dinastia católica, que daria à Igreja alguns homens impor-
Formulários da Igreja Romana Medieval, o "Liber Diurnus" ("Livro das tantes. Essa conversão tornava-se incompatível com a presidência do "Cor-
funções diurnas"). Redigiu o ainda hoje notável "Codex regularum" ("Có- pus Evangelicorum" ("Núcleo dos Evangélicos"). Daquela época em
digo das Regras') das Ordens c Mosteiros. Doze anos após a conversão, diante, Brandemburgo-Prússia assumiu a posição de hegemonia e defesa
conquistou um bisneto do langrave Filipe de Hássia, o langrave Frederico protestante' na Alemanha.
de Hássia-Darmestádio, que ficou Cardeal e Protetor da Alemanha, e Em 1712, efetuou-se em Viena a conversão do príncipe Carlos Ale-
morreu arcebispo de Breslau. xandre de Vurtemberga, já tido como sucessor no ducado, e que em 1733
Jesuítas em Roma deram o último impulso à conversão de Nicolau assumiu de fato o governo. Mas, em Hanovre, Brunsvique, Saxônia e Vur-
(Niels) Stensen (1667), anatomista e geólogo dinamarquês, quando se temberga, a conversão do soberano reinante não ocasionou nenhuma mu-
encontrava no apogeu de sua celebridade científica. Recebeu oito anos dança na religião territorial. O direito de reforma ("ius reformandi") dos
depois a ordenação sacerdotal. Dali por diante, dedicou-se ao trabalho príncipes prescrevera de fato, desde a Paz de Vestcfália. Além disso, os
missionário, na qualidade de Vigário Apostólico das Missões Nórdicas, até Estados ("Stände") na Saxônia e sobretudo em Vurtemberga assegura-
sua morte solitária cm Schwerin. ram para si amplas "garantias religiosas" ou "direitos reversais", pelos
Não houve quase nenhuma linhagem principesca da Alemanha, que quais as igrejas, escolas, e Universidades deviam continuar no estado de
não contasse com uma ou mais conversões. Outro bisneto do langrave Fi- então ("status quo") a favor da "Confissão de Augsburgo", sobretudo a
lipe, o langrave Ernesto de Hássia-Rheinfcls espantara-se com o remoque situação jurídica de privilégio, e somente se permitiria a organização de
do general sueco Koenigsmarck sobre a "Confusão de Augsburgo" ("Con- um culto católico particular para o soberano territorial. Isto não obstante,
o Príncipe-Eleitor de Dresda, em seu absolutismo, tornou possível um
fissão de Augsburgo"), e resolveu converter-se durante uma permanência
culto divino público em benefício de uma pequena comunidade, transfor-
em Viena. Como o fazia antes, sob a influência de Calisto, Ernesto empe- mando a velha Opera, ao lado do Castelo, em (primeira) Capela Cató-
nhou-se fervorosamente, também depois da conversão (1652), em restau- lica da Corte.
rar a unidade religiosa.
Destinava-se a tal fim o diálogo sobre religião, que êle convocou cm A máxima sensação, em toda a Europa, causou a conversão da rainha
seu Castelo Rheinfels com teólogos de Hássia-Darmestádio, e que do Cristina da Suécia (1626-1689), filha de Gustavo Adolfo. A jovem rainha,
lado católico era dirigido pelo capuchinho Valeriano Magni. Tinham o que adolescera muito solitária, e desde pequena concebera forte aversão
mesmo objetivo os "Conversionis Motiva" ("Motivos de conversão"), re- contra o intolerante luteranismo ortodoxo de seu país, chamou a Esto-
colmo maquiavelistas livre-pensadores, como o bibliotecário Naudé, e filó-
digidos pelos Irmãos Walenburch, dois convertidos (?) de Roterdão, e
sofos modernos, como Descartes, para eruditas tertúlias didáticas.
sua própria obra "Der discrete Catholischer" ("O católico ponderado"), na
qual recomenda cordata moderação e caridade cristã a "todos os que se Através de Descartes, e dos Jesuítas nas capelanias das Embaixadas,
confrangem sinceramente com a malfadada divisão da cristandade". Em ela adquiriu conhecimentos sobre o catolicismo, que se afigurava mais tole-
torno desses mesmos problemas gravitava sua ampla correspondência com rante como forma cultural, e dentro dela julgava possível viver mais de
Calisto, Antônio Arnauld, c Leibniz. acordo com sua índole, desimpedida das rígidas normas observadas em
O Duque João Frederico de Hanovre, soberano territorial de Leibniz, seu país. Seu último biógrafo, porém, descreveu-a como caráter muito
inibido, entalado no próprio egotismo.
também ficou católico. Já o deparamos, quando descrevíamos as nego-
ciações unionistas de Espínola. Como morresse sem prole, sucedeu-lhe no Decidida a converter-se, abdicou a coroa no verão de 1654, porque
trono seu irmão luterano. a legislação tornava inadmissível uma rainha católica na Suécia. Na vés-
Em Bade, Brandemburgo, Meclemburgo, c Saxônia, converteram-se pera de Natal do mesmo ano, ela fêz profissão de fé católica, ocultamente
príncipes que militavam no exército imperial. Nada se dirá de especial a em Bruxelas, e, em novembro de 1655 publicamente, na Igreja da Corte
respeito da conversão de muitas famílias fidalgas na Boêmia e na Áustria. em Innsbruck. Em seguida, partiu para Roma, onde foi festivamente rece-
272 Capitulo VII Nova vitalidade da Igreja 273

7
bida por Alexandre VII, o mesmo papa que antes, como Núncio Apostó- inocentes, entre os quais 11 Jesuítas, foram cruelmente executados.
lico de Münster, tivera que protestar em 1648 contra o Tratado de Paz Outros foram desterrados, como o confessor da Duquesa de York, o jesuíta
que, pela ingerência da Suécia, saíra tão desfavorável para a causa cató- Cláudio de la Colombière, antigo diretor espiritual de Margarida Maria
lica. Contudo, as esperanças de mudar alguma cousa para melhor com a Alacoquc. O Rei não teve coragem de opor-se à perseguição contra os
conversão da rainha não podiam concretizar-se, visto que a decisão de católicos, nem sequer quando o Primaz da Irlanda, o arcebispo Olivério
Cristina só devia exacerbar a situação na Suécia. Carlos X, novo rei da Plunket, de Armagh, foi levado ilegalmente para Londres, onde por pre-
Suécia, não podia tolerar que seu governo perigasse com o eventual re- tensa conspiração e secreta ligação com a França foi em 1681 condenado
torno da jovem rainha. Dali por diante, t o d a conversão ao catolicismo à morte e enforcado.
ficava sob a ameaça de exílio perpétuo. No meio desse ambiente agitado subiu ao poder, cm 1681, Jaime II,
Permanecendo sempre em Roma desde 1668, Cristina reuniu em que desde o começo se professou católico. Corria o ano da abolição do
redor de si um círculo de cientistas e artistas, cuja manutenção era prati- Edito de Nantes, que deixava os protestantes cheios de preocupação e
camente o Papa que se via obrigado a pagar. O feitio espiritual dessa desconfiança, e embalava o Soberano, para quem o Rei Sol era um mo-
mulher tão singular se descalçou em suas "Máximas", que revelam acen- delo, em ilusões acerca de seu próprio poder também em matéria reli-
tuada influência do quictismo de Molinos, do estoicismo pagão, profunda giosa.
nostalgia de Deus, mas pouca ligação pessoal em Cristo. Entretanto, o número de católicos na Inglaterra decrescia com rapi-
dez. Sob o reinado de Jaime, orçavam ainda por uns trinta mil. Em benefí-
cio desses restantes, o Rei procurou não só organizar uma administração
10. Revolução Britânica de 1688 eclesiástica (sob o governo de Jaime, Roma nomeou o primeiro Vigário
para a Inglaterra, e em 1688 foram nomeados outros três, e solenemente
A conversão de outro monarca teve por efeito uma revolução. Na sagrados em Londres), mas também suspender as leis de exceção, dispensar
Inglaterra, a restauração dos Stuarts (1660) inicialmente não alterou, de do juramento de supremacia e sustar os processos contra os "recusantes".
modo algum, a situação jurídica dos católicos. Carlos II casara com uma A circunstância, porém, de exigir êle que tais medidas fossem também pro-
princesa de Portugal. Desde seu exílio nos tempos de Cromwell, estava clamadas do alto dos púlpitos anglicanos, evidenciava a cegueira política do
em boas relações, para não dizer, em boa dependência financeira de Luís Rei.
XIV, cujo governo absolutista era também seu ideal. Ele viu-se obrigado
a diferir sua própria conversão até o leito de morte, para não excitar con- A oposição recrudesceu c obstinou-se cada vez mais. Quando pelo
tra si a apaixonada reação dos protestantes. nascimento de um príncipe, pareceu garantida a sucessão católica ao
trono, os episcopalianos e presbiterianos chamaram para a Inglaterra, con-
Como o Rei não tinha filhos, seu irmão Jaime era herdeiro presun-
tivo. Êle que, tampouco como o Rei, não era nenhum modelo de vida tra o absolutismo do Rei e a favor da liberdade do Parlamento e da Reli-
cristã, convertera-se em 1672 ao catolicismo. Em conseqüência, o Parla- gião, o genro dele Guilherme de Orange, Governador Geral da Holanda,
mento fêz passar o Bill of Test ("Lei do teste"), segundo a qual todos os que entrou em Londres em 1688. Com o apoio dos Irlandeses, Jaime II ten-
funcionários e oficiais superiores deviam declarar-se a respeito da recepção tou salvar sua coroa, mas foi derrotado. Partindo para o exílio, êle teve na
da Ceia sob as duas espécies, sobre a prestação de juramento de supre- pessoa de Armando de Rance, fundador dos Cistercienses Reformados,
macia e a rejeição da doutrina do primado papal. Jaime recusou fazê-lo, e um amigo que passou a exercer grande influência em sua vida religiosa.
teve por isso de abdicar seu posto de almirante. Com a morte de Jaime, a "Villa Stuart" em Roma foi a última sede da
dinastia.
Quão exaltado, sim, quão histérico era quase o sentimento anticató-
lico na Inglaterra, comprovou-o o assim chamado conluio de Tito Oatcs, por A exemplo da Holanda contemporânea, concedeu-se na própria Ingla-
ocasião da conspiração papista, como diziam os ingleses. O ministro angli- terra liberdade de religião também aos "dissenters" ("dissidentes"), mas
cano Oates fingiu conversão ao catolicismo. Entrou em dois Colégios Je- com a única exclusão dos católicos. Para impossibilitar o retorno dos
suíticos na Espanha e em Flandres. Despedido de lá sem demora, inven- Stuarts, aos quais muitos eclesiásticos católicos se conservavam leais na
tou o romance completo de uma trama do Papa e do Geral dos Jesuítas Inglaterra, uma lei excluiu católicos da sucessão ao trono.
para assassinar o Rei da Inglaterra e restaurar à força a Religião Católica Na Irlanda, não obstante os acordos de Guilherme III (1691), conti-
na Inglaterra (1678). nuava a opressão dos católicos. Várias leis restritivas e proibitivas reduzi-
Ainda que Carlos II não desse crédito ao embusteiro, o Parlamento e ram-nos à ínfima das classes sociais.
a opinião pública deixaram-sc facilmente embaír pelas calúnias. No meio
do tumulto geral, os poucos pares ainda católicos foram forçados a reti-
rar-se da Câmara Alta. Os cárceres encheram-se de católicos. Uns trinta
274 Capítulo Vil Nova vitalidade da Igreja 275

11. Roma Barroca e Artistas da nova estrutura com tal determinação, que o grande plano já não pudesse
sofrer alterações.
A vitalidade do catolicismo pós-tridentino, a afirmação do mundo co-
Que sua atividade em São Pedro corresse quase paralela com o Concí-
mo criação de Deus, formulada pelo Concílio, oposta a toda depreciação
lio (êle começou um ano depois da convocação, e dois meses depois do
pela Reforma Protestante, encontrou uma expressão sensível numa civili-
zação coesa, última cultura homogênea ainda plasmada pela fé católica. encerramento estava também terminada sua tarefa; êle morreu em fevereiro
de 1564, aos 89 anos de idade), parece simbólico para o fato de que o
A Roma barroca tornou-se uma encarnação do novo espírito nas maior Mestre do Renascimento então se rendeu totalmente ao novo vita-
artes arquitetônica e pictórica. Na arquitetura da Igreja de São Pedro, cujo lismo da Igreja, à sua renovação e à sua exteriorização. Quando êle morreu,
tempo de construção é secular, é possível acompanhar a transição do espí-
o tambor e a nave transversal estavam terminados, e criados os planos
rito da época, desde o Renascimento até ao Alto-Barroco.
para ambas as conchas da cúpula, que eram sua genial realização de
Ainda na época da cristandade unida, Júlio II decidira fazer a nova artista.
construção c lançara a pedra fundamental em 1506, para que em um só Com a serenidade do Renascimento na concha interior, como Bra-
monumento se glorificasse o todo-poder de Deus, e "se implantasse a gran- mante a ideara em seu projeto para a cúpula, exprimia-se na concha exte-
s
deza do presente e do futuro no lugar das venerandas recordações". rior a nostalgia das alturas, símbolo da Igreja terrestre, que se alonga em
Bramante, arquiteto do Papa, elaborou os planos segundo uma nova con-
busca de um triunfo fora de alcance aqui no mundo.
cepção do Renascimento, no tocante à clássiaca monumentalidade e ao
efeito conjunto das moles arquitetônicas. O Florentino alterou o traçado de Bramante. Êle quis que a igreja
avançasse para se perceber seu efeito arquitetônico; pelo encurtamento dos
Devia, pois, edificar-se um todo de admiráveis dimensões, com o tra- transseptos preservou êle as obras de arte do Vaticano que, em caso con-
çado de cruz grega, que se constituía em gigantesco quadrilátero pelas trário, deveriam ser demolidas.
quatro torres laterais, com uma cúpula no estilo do Panteão, encimada por Só em 1590 é que se colocou na cúpula a última pedra de remate, com
um tambor. Os anos de vida de Bramante foram bastantes para alcançar a inscrição do nome de Sisto V. Sem embargo, iriam decorrer mais 36 anos
o grandioso alceamento da cúpula sobre os arcobotantes, que orlavam o (acrescentou-se a nave principal; Maderna edificou o átrio e a fachada),
quadrilátero, como se fossem alcandorados arcos triunfais. No leito de até que a nova Igreja de São Pedro pudesse ser solenemente consagrada. Só
morte, êle recomendou ao novo papa Leão X tomasse como seu continua- em 1669 é que Bernini, com suas famosas colunatas, deu à Igreja braços
dor a Rafael, natural de Urbino. que convidam, e à Praça aconchego e amplidão. Desta forma, a obra
Entanto, a morte precoce do genial artista (1520) quase nem lhe chegou a seu termo após 163 anos bem contados, desde o lançamento da
permitiu pensar cm novos planos. Depois, a depressão financeira, sob o pedra fundamental. A essa altura, o barroco já entrava em declínio, pelo
pontificado de Leão X, a Reforma Protestante da Alemanha, irrompida menos no Sul.
por causa da indulgência a favor da Igreja de São Pedro, o saque de Roma Enumerar a plenitude e variedade das criações barrocas, seria impos-
pelos lansquenetes em 1527, acarretaram contratempos c dificuldades, sível fazê-lo nos moldes da presente obra. Todo romeiro que esteja no
de sorte que a construção de São Pedro ficou largada. Nos soberbos arcos alto do Janículo, ou diante de uma das grandes Igrejas principais, percebe
de Bramante vicejavam capim e arbustos, até que Paulo III, manifestando- ainda hoje em dia a feição característica que o barroco, com suas inúmeras
se iniciador de um novo espírito pela renovação do Colégio Cardinalício cúpulas, deu à cidade. Nenhum dos papas daquela época, por índole, cará-
e pela convocação do Concílio, chamou em 1546 o encanecido Miguel ter, e carreira, se enquadrava tão bem na consciência triunfalista da Igreja,
Ângelo como arquiteto-chefe da nova construção. como o gênio dominador de Sisto V.
O Florentino, que criara sua "Pietà" para a velha Igreja de São Pedro, Ainda que fosse a grande façanha artística de seu pontificado, o
abandonou Roma havia 41 anos, quando Bramante foi ajustado. Em que acabamento da cúpula de São Pedro não constituía a única prova da in-
disposições de espírito o Titão considerava então a incumbência, provava-o ventiva barroca desse Papa cheio de enorme energia e rara sagacidade.
sua recusa de aceitar qualquer remuneração. Por amor de Jesus Crucifi- Com Domingos Fontana, que viera do Lago de Lugano, como jovem arqui-
cado, que êle cantava em seus sonetos e em honra de São Pedro, traba- teto, para trabalhar com Sisto, ainda cardeal, êle começou, numa visão
lhou com uma tenacidade sem par, durante os dezessete anos de vida, que prática das cousas, pela restauração dos grandes aquedutos, a fim de
ainda lhe restavam. tornar habitáveis as colinas de Roma. Desde então jorra o líquido da
O Pintor da Capela Sistina abandonou o pincel. Nesses largos anos "Acqua Felice" para o reservatório "Quattro Fontane".
deixou Roma uma única vez, para fazer uma já antes planejada romaria Depois, cm plano e execução de larga envergadura, mandou cons-
até Loreto. Êle sabia perfeitamente que não alcançaria o último remate de truir ruas e ligações viárias, que descortinavam a vista de uma Igreja
sua obra. Por isso, com férrea energia lançou pelo menos os fundamentos principal para outra, e cujos terminais devia formar portas, fontes novas, e
outras obras monumentais. Isto, porém, não se fazia por mania de construir,
276 Capitulo VII Nova vitalidade da Igreja 277

mas com a finalidade de facilitar os cultos divinos estacionais e as peregri- com fachada de um só pano, tornou-se predominante. A Igreja de São
nações para as Igrejas principais, c de dar à Roma a configuração de Miguel em Munique, e a Igreja de São Pedro e São Paulo em Cracóvia,
Cidade Santa. ambas pertencentes aos Jesuítas, fazem lembrar claramente o modelo em
Querendo realçar o triunfo da Igreja sobre o paganismo antigo e o Roma.
paganismo renovado aqui e ali pelo Renascimento, o Papa mandou desobs- A Roma barroca, com seus papas, cardeais e nepotes, com suas alti-
truir, restaurar, arrancar do abandono antigas colunas triunfais e obeliscos, vas linhagens nobiliárquicas, com suas casas generalícias de Ordens Reli-
e colocá-los a serviço da Igreja. As colunas dos imperadores Trajano e giosas, influentes e cônscias de tal influência, era a sede de um mecenato,
Marco Aurélio foram encimadas pelas estátuas dos Apóstolos. Que triunfo!
posteriormente jamais igualado, não só a favor de arquitetos e estatuários,
quando em maio de 1586 o obelisco de Calígula foi levantado de sua base
quase milenar por 907 obreiros, com setenta e cinco cavalos, que puxavam mas também a favor de pintores de todos os países da cristandade.
cerca de quarenta roldanas. Lá, em Roma, André delia Valle Dominichino pintou, na Igreja dos
Por ordem expressa do Papa, a ereção do obelisco no centro da Praça Teatinos, os afrescos que entusiasmaram Goethe, em sua viagem à Itália,
de São Pedro, foi, quanto ao horário, calculada de tal maneira, que o não obstante sua filiação a outra corrente artística. Lá, em Roma, Cortona
Embaixador da França, chegando naquela mesma hora, com toda a impo- exornou o Palácio Barberini; lá, em Roma, o irmão jesuíta Pozzo, que teve
nência, não pôde esquivar-se à mossa que lhe fazia o poder pontifício. No mais tarde um chamado para Viena, pintou na abóbada de Santo Inácio,
tope do obelisco, firmou-se a Cruz; na base quadrada, gravaram-se inscri- como por encanto, a entrada triunfal do Fundador no paraíso, dentro de uma
ções alusivas ao triunfo do cristianismo. A mais conhecida dessas inscrições perspectiva fascinante.
é a da banda oriental: "Christus vincit, Christus regnat, Christus imperat, Artistas do mundo inteiro faziam ponto de encontro em Roma. Pous-
9
Christus ab omni maio plebem suam defendat" ("Cristo vence, Cristo sin, francês, descobriu seu ambiente de eleição na Academia de Pintura de
reina, Cristo domina, Cristo defenda seu povo de todos os males"). Roma. Rubens, van Dyck, Velasquez, faziam parte dessa colônia de artis-
Tal afirmação dos valores clássicos da antiguidade, ligada à convicção tas na "Piazza di Spagna". Os jovens artistas polinizavam, pelo mundo
de que o cristianismo tinha força de transformá-los, era muito superior ao afora, a celebridade de Roma e de sua arte. De Paris, para onde o chamara
critério, pelo qual alguns decênios mais tarde se manejou com antiguidades Luís XIV, Bernini regressou apressadamente a Roma; depois de ter ela-
do paganismo. No pontificado de Urbano VIII (1623-1644), durante o borado a planta do Louvre, êle achou estranho o ambiente parisiense,
qual Bernini criou o majestoso baldaquim sobre a sepultura de São Pedro, procurou esquivar-se dele, quase como quem fugisse.
os edifícios clássicos antigos que ainda restavam de pé foram utilizados Sem embargo, Pedro Paulo Rubens (1577-1640), para citar um só
como pedreiras e como depósitos de colunas e lajes de mármore, e apli- deles, encontrou em Flandres, sua segunda pátria (êle era natural de Sic-
cados sem discrição alguma em construções eclesiásticas, de sorte que em gen na Vestefália), o ambiente da Contra-Rcforma, sensível para a concre-
Roma se vulgarizou o remoque: "Quod non fecerunt barbari, fecerunt tização do novo vitalismo da Igreja triunfalista, cujas manifestações êle
10
Barbcrini" ("O que os bárbaros não fizeram, fizeram-no os Barberini") ficou conhecendo no colorido de Ticiano, na composição pictórica de Tin-
Roma, no pontificado de Sisto V, capital do mundo, onde até Príncipes toretto, na largueza gigantesca de Miguel Ângelo, no jogo de luzes de
Nipônicos iam prestar homenagem ao Papa, recebeu naquela época o Palá- Caravaggio, na máscula robustez da antiguidade clássica, e nas tendências
cio de Latrão, o novo edifício da Biblioteca Vaticana, e a Residência Papal
contemporâneas de seus amigos em Roma. A modelação da fachada da
no Palácio de São Dâmaso no Vaticano. Foi ampliado o Palácio Quirinal,
e construída a Capela da Escala Santa. Igreja dos Jesuítas em Antuérpia obedeceu a seus planos artísticos. O "esti-
lo rubensista", congenial ao povo flamengo, impôs-se na decoração de
Como o Papa o fazia para a Cidade Eterna, assim também as nobres inúmeras igrejas da Bélgica.
linhagens construíam seus palácios; as Ordens Religiosas, sobretudo as Para Rubens, pessoalmente, a estrutura de seus grupos compactos e a
novas, suas igrejas como centros espirituais para seus membros, dispersos luminosidade de seu colorido são apenas recursos de seu estilo personalís-
pelo mundo inteiro. simo, que se caracterizava pela copiosa força de sua imaginação criadora,
Faustosa e imponente, ergueu-se, por assim dizer, no coração de Ro- pelo seu raro dom de entranhar-se nas personalidades de seus painéis, pela
ma a Igreja "Al Gesü" dos Jesuítas, construída por um admirador de Mi- consciente afirmação de toda a formosura acessível aos sentidos, pela per-
guel Ângelo, e consagrada pessoalmente por Gregório XIII em 1583. Que- cepção divinatória de uma suma transfiguração sacral.
ria o Geral da Ordem uma igreja de uma só nave, com capelas de ambos A despeito de sua mitologia cortesã, de suas bajulações e sensualida-
os lados. O arquiteto soube combinar, de modo genial, a nave única com des, não se pode negar-lhe, a Rubens, a glória de pintor sacro. Sua oficina
uma cúpula, produzindo em quem entra a impressão de que avança em estava repleta de grandes talentos, que aclimaram a nova arte em toda a
direção da claridade. Tal tipo de igreja podia acolher grande multidão de
Bélgica. Entre eles, van Dyck manifestava menor força, mas talvez maior
povo. O modelo do "Al Gesü", com uma só nave, com abóbada acanelada,
sensibilidade do que seu próprio mestre.
278 Capitulo VII Nova vitalidade da Igreja 279

Repetiam-se sempre os mesmos temas de uma expressão triunfante Era então necessário provar o magistério da Igreja como procedente
da fé: Nossa Senhora do Rosário, as derradeiras Comunhões de vários dos Apóstolos, a elevada idade de suas organizações e tradições, analisar
Santos, sua intercessão, seu exemplo, o sufrágio pelas almas do purgatório. um por um os muitos "testemunhos da verdade", citados por Flácio a favor
Nesse país dependente dos Arquiduques de Habsburgo, eles reproduziam-se de suas afirmações, e colocá-los em sua respectiva concatenação histórica.
cm inúmeras variações, c, fora de Roma, só se comparavam ao mundo am- Reconheceu-se o alcance das indicações de fontes. Organizaram-se as
biente da Espanha barroca, onde El Greco e Murillo abrangiam um século primeiras, ainda que deficientes, edições dos Santos Padres. Antes de tudo,
de pintura barroca; o primeiro animava suas figuras com ardor místico que o oratoriano César Barônio publicou desde 1588 seus "Annales ecclesias-
raiava ao êxtase, enquanto o segundo conseguiu, umas trinta vezes, repre- tici" ("Anais da Igreja"), em doze volumes, até o ano de 1198, baseados
sentar a Imaculada Conceição de Maria e os Santos num ditoso dom de si
em fontes (para as quais o futuro Prefeito da Biblioteca Vaticana teve aces-
à divindade.
so facilitado), que descreviam por extenso a História da Igreja.
Na Alemanha, a implantação da arte barroca só foi possível depois da Neles, não deixa de haver também uma tendência apologética, qual
miséria da Guerra dos Trinta Anos. No Sul da Alemanha e na Baviera, a já transparecia na dedicatória a Sisto V: "sobretudo contra os Inovadores
orientação estava primeiramente em mãos de arquitetos italianos; mas, pelos
de nossa época, em prova da antiguidade de suas sagradas tradições e da
fins do século XVII, grande número de arquitetos germânicos levaram a
um alto grau de perfeição o estilo barroco na construção de Igrejas, e jurisdição da Igreja dc Roma". Deixamos dito, anteriormente, que esta
conventos. Em 1754, foi consagrada a Igreja de Wies; em 1766, a Abadia primeira Grande História da Igreja se compunha das conferências feitas no
Imperial de Ottobeurcn teve sua grandiosa igreja. 11 Oratório de Filipe Néri.
A própria Providência, ao que parecia, franqueou novas fontes para a
história da Igreja Primitiva, quando em 1578 o chão de uma vinha na Via
12. Ciências Teológicas Salária em Roma afundou, abrindo, de repente, vista e acesso para o mundo
desde muito esquecido das Catacumbas, cujas sepulturas, desenhos e inscri-
Novo impulso receberam também as ciências teológicas. Em conexão ções constituíam testemunhos inequívocos da fé da Igreja Primitiva, para a
com a encarniçada polêmica dos Reformadores, e com os debates no Concí- qual os Reformadores tinham apelado sem razão. Antônio Bosio, que
lio Tridentino, esse impulso limitou-se primeiramente à teologia controversa, estava a serviço dos Cavaleiros Joanitas, foi o primeiro a reconhecer o
mas depois abrangeu todas as disciplinas da teologia sistemática. valor científico do mundo das Catacumbas.
A par da obra de Roberto Belarmino, figurava como fruto dc trabalho
quase centenário, feito em equipe pelos Carmelitas Reformados de Sala-
manca, o "Cursus Salmanticensis" ("Curso de Salamanca"), dogmática to- 13. Boíandistas e Maurinos
mista de grande escala, que procurava continuar a obra do Aquinate, pro-
curando resolver, em sua mente, os problemas suscitados pela Reforma Aos "Testes veritatis" ("Testemunhas da verdade") de Flácio, opuse-
Protestante e pelo jansenismo. ram-se primeiramente as legendas dos Santos, compiladas sem nenhuma
Paralelamente, os problemas das Conquistas e da política espanhola na seleção crítica. Não aceitando, porém, legendas que não inspiravam nenhu-
América postulavam, de modo terminante, que se fundamentasse um direito ma confiança, o jesuíta flamengo Rosweyde quis ampliar as primeiras pes-
cristão das gentes e especulasse sobre a essência e a natureza do Estado. quisas críticas feitas por Súrio, cartuxo de Colônia.
Marcava, pois, a presença de uma consciência cristã que, ao lado de Be- Êle planejava editar as vidas dos Santos em seu texto primitivo, sem as
larmino, se preocupassem desses problemas sobretudo os espanhóis, de correções estilísticas dos Humanistas, e coligir para tal fim os velhos manus-
modo particular o jesuíta Suárez e o dominicano Victoria. critos em ordem sistemática. Era uma tarefa impossível para a capacidade
Por sua vez, a teologia histórica recebera alguns impulsos do humanis- individual de um só pesquisador; por isso, Belarmino, a quem êle comuni-
mo no século XVI; mas os problemas históricos, surgidos em conexão com cara seu plano em 1607, como o fizera também a muitos outros, procurou
a Reforma Protestante, ela os procurava resolver em primeira linha por dissuadir seu confrade. Nesse meio tempo, Rosweyde morria em 1629.
métodos controversistas, com testemunhos bíblicos, ou então com arrazoa- O abundante material que êle coligira para os dezoito volumes em
12
dos apologéticos. preparação, os Superiores entregaram-no ao jesuíta belga João Bolland, a
Só se tentaram novos alvitres, quando os luteranos procuraram justi- quem no correr dos anos deram dois colaboradores, Godofredo Henschen e
ficar a Reforma sob o ponto de vista histórico, asseverando que a Igreja Daniel Papebroch. Em 1643, apareceram os dois primeiros volumes da
Papalina se teria desviado do Evangelho e da doutrina da Igreja Primitiva. "Acta Sanctorum" ("Façanhas dos Santos"). Bolland ainda alcançou a
Fora esta a temática das "Centúrias de Magdcburgo", redigidas por Matias edição do terceiro. Depois de sua morte (1665), Papebroch continuou a
Flácio e seus colaboradores. publicação.
Nova vitalidade da Igreja 281
280 Capítulo VII

A coletânea devia abranger todos os Santos, quer deles existissem bio- Enquanto d'Achéry, atraindo a atenção para os tesouros das bibliotecas
grafias circunstanciadas, quer fossem eles apenas conhecidos através de beneditinas da França, editava uma série de seus manuscritos, seu discípulo
lacônicas citações. A ordem seria pela exata seqüência cronológica das Mabillon foi o grande pesquisador da história da liturgia. Em longas jorna-
festas dos Santos, a partir do dia primeiro de janeiro. das de pesquisas através de bibliotecas e arquives da Suíça, Alemanha c
Itália, colheu o material para a sua História da Liturgia Galicana.
Para essa finalidade, fundou-se em Antuérpia uma bibüoteca própria e Seu interesse, porém, ultrapassava as fronteiras geográficas da França.
uma seçcão de códices e manuscritos. Papebroch aplicou nisso sua grande As viagens, descritas por êle em diários, cuja elaboração começava então a
herança paterna. Reconhecendo, desde o começo, a importância científica entrar em voga, levaram-no, no ano do assédio de Viena pelos Turcos, até
da empresa dos "Bolandistas", a Ordem mandava sempre formar novos Salisburgo, para onde se tinham refugiado os Monges de Melk. A comuni-
elementos para a continuação da obra. É notório que, ainda em nossos dias, dade religiosa superou todas as tensões políticas. Sem ceder a nenhuma pre-
prosseguem os trabalhos de pesquisa dessa singular equipe histórica dos venção nacionalista, Mabillon edificava-se com a fidelidade à Regra nas
Jesuítas. Nem a supressão da Companhia nem a Revolução Francesa fize- abadias suíças e suecas, e admirava lealmente suas magníficas bibliotecas.
ram a empresa cessar, totalmente, suas atividades. Em 1794, ainda apare-
A par da liturgia, êle interessava-se pelos Santos de sua própria Or-
ceu um volume; mas o seguinte, como era de esperar, só depois de longa
dem. D'Achéry dera-lhe a sugestão para tanto, e a obra dos Bolandistas deve
interrupção.
tê-lo estimulado. Coligiu as fontes necessárias em visitas a bibliotecas e por
A pesquisa junto às fontes não tardou em aprimorar seus métodos. larga correspondência com os abades de toda a família beneditina. Dentro
Passada a exuberância do primeiro fervor, ela aprendeu a fazer sistematica- do prazo de treze anos, apareceram nove volumes das "Acta sanetorum
mente crítica das fontes, sem nenhuma ressalva a piedosas tradições, de ordinis saneti Benedicti" ("Façanhas dos Santos da Ordem Beneditina"),
sorte que o trabalho dessa equipe não só provocou reparos de outras Or- equivalentes, já pelo título, à obra dos Jesuítas, embora mais comedidos
dens, como dos Carmelitas, mas também incitou eminentes membros da
em todo o seu planejamento, provavelmente por ter o autor aprendido com
Ordem Beneditina a tomarem parte na competição.
as experiências dos Bolandistas. Os Anais da História de toda a Ordem
Eram eles primeiramente os Maurinos, integrantes da Congregação Beneditina só se publicaram, em grande parte, depois de sua morte
Beneditina Reformada de Santo Amaro, desde 1618, à qual a maior parte ( + 1707).
dos mosteiros franceses aderira no correr do século". Dirigidos só por prio- Mabillon envolvera-se numa discussão científica com Papebroch. O
res, esses mosteiros fundiram-se numa Congregação, que se distinguia por Boiandista rejeitara como apócrifos os documentos da época dos Merovín-
exemplar fidelidade à Regra e por rigorosa vida ascética, numa grande gios. Como se tratasse das primeiras fontes para a história dos Mosteiros e
comunidade canonicamente formada, com Superior e Capítulo Geral. de seus Santos na França, Mabillon elaborou contra a hipererítica um mé-
Logo também se constituiu como ampla comunidade de trabalho cien- todo exato de investigação de documentos "De rc diplomática" ("Tratado
tífico, que devia ocupar-se. segundo minucioso plano, com a História da sobre diplomática"), que constitui uma obra fundamental moderna das
Igreja e da Ordem Beneditina. Modernizada, organizada, e ampliada por ciências subsidiárias da História.
d'Achéry, a biblioteca de "Saint-Germain-des-Prés" tornou-se o centro inte- Seu prefácio à edição maurina das obras de Santo Agostinho foi injus-
lectual. Em 1647, o Superior Geral estabeleceu um plano pormenorizado tamente malsinado de opiniões jansenistas, pois os Maurinos, pelo menos
para a História da Ordem. Em seis mosteiros, deviam viver monges com- no século XVII, não queriam ter nada de comum com os jansenistas, muito
petentes para o trabalho intelectual e dedicar-se a tarefas rigorosamente embora os ataques dos Jesuítas contra suas obras científicas criassem,
determinadas; ali eram continuamente formados novos discípulos, transmi- entre eles, sentimentos menos amistosos para com a Companhia.
tindo-se o interesse científico às novas gerações, muito além da época de O mesmo comedimento beneditino, o erudito Monge demonstrou-o em
que ora tratamos, até quase ao violento desfecho provocado pela Revolu- sua discussão com Rance, abade reformador dos Cistercienses. Fundador
ção Francesa. dos Trapistas, queria este, em seu mosteiro reformado, restringir a vida
A primeira meta colimada não era um saber puramente teorético; nos monástica à oração, à liturgia e ao trabalho manual, com exclusão de qual-
estudos, procurava-se propriamente uma finalidade ascética. Queriam eles quer atividade científica. Contra tal rigorismo, Mabillon defendeu num
conhecer a vida e o mundo ambiente dos antigos monges, a fim de moldar tratado redigido em francês o valor dos estudos para os mosteiros e para a
por ali o próprio modo de viver. Igreja, bem como o direito, sim, a obrigação que os monges têm de fazê-los.
Como a Congregação abrangia mosteiros antigos com abundante pa- Mabillon, que aliás terminou a polêmica com uma visita conciliatória
trimônio de códices e manuscritos, impunha-se por si mesma a necessidade na Trapa, podia usar de certa autoridade para com o grande Cisterciense.
de usar um aparato crítico para análise das diversas fontes. Deparavam-se, Aos vinte e cinco anos de idade, editara, como primícias suas, as obras de
então, muitos problemas parciais, que eram atacados em profundidade, mas São Bernardo, edição que só na época atual deverá ser substituída por
sem perder todavia a visão do conjunto. outra.
N o v a História III — 19
282 Capitulo VII Nova vitalidade da Igreja 283

Ruinart, seu amigo e companheiro de viagem, descreveu a vida do plenitude da Tradição, no cânon estabelecido pelos antigos. Se ainda por
Monge sempre modesto. Pessoalmente, Ruinart produziu algo de perene cima se proclamavam opiniões que subvertiam radicalmente a sabedoria dos
num setor parcial, pois foi seu mérito selecionar as Atas dos Mártires, e antigos, não seria para temer uma nova revolução, que pudesse, como a
reconhecer claramente as autênticas num grande acervo de apócrifas e Reforma Protestante, representar um perigo de morte para a Igreja?
legendárias. Em muitos religiosos influentes, acrescia ainda forte apego a noções
Bernardo de Montfaucon ( + 1741) dedicara-se aos Santos Padres da física aristotélica, adotadas ou pressupostas por Tomás de Aquino. As-
Gregos. O jovem oficial de família nobre tornou-se beneditino em 1675, sim se compreende que a liderança das ciências naturais e da medicina a
aprendeu grego, começou com a edição dos Santos Padres Gregos nos "Ana- ela ligada emigrasse para fora da Itália, e que tais disciplinas se enveredas-
lecta Graeca" ("Coletânea Grega"), aos quais fêz seguir a excelente edi- sem por rumos em que, de caso pensado, não queriam levar em conta a
ção das obras de Santo Atanásio. Teve que aprender por si próprio o mé- doutrina eclesiástica, e até que pretendessem mais tarde destruir a fé da
todo de versar os manuscritos gregos, e deixou suas experiências descritas própria Igreja.
numa paleografia grega. Enciclopédico e incansável, não se contentou só Esta trágica se torna muito mais dolorosa na história da Igreja, quanto
com a patrística grega e com as línguas orientais. De sua pena saíram uma mais os ideadores da nova feição do mundo, pioneiros do progresso das
edição da Héxapla, aquela Bíblia em seis colunas, de Orígenes, e obras fun- ciências naturais, eram homens religiosos, que queriam manter-se fiéis à
damentais sobre arqueologia, uma das quais continha nada menos do que Igreja. Quando o septuagenário Copérnico, cónego de Frauemburgo na
40.000 ilustrações cm dez volumes in-fólio. Ao lado dele, Edmundo Vármia, então pertencente à Polônia, dedicou a Paulo III em 1543, ano
Martène ( + 1739), também discípulo de Mabillon, coligiu fontes litúrgicas, em que morreu, sua obra "De revolutionibus orbium caelcstium" ("Das
publicou outros escritos patrísticos, e escreveu uma história dos Maurinos revoluções dos corpos celestes"), êle acreditava que seu trabalho seria
em nove volumes. útil nas mãos do Papa para uma equação entre a fé a ciência. O sistema
O trabalho dos citados expoentes da diligência beneditina, e de muitos heliocêntrico que expunha, êle não o considerava como sistema privativo
outros, conhecidos ou ignorados, não podia ficar sem ressonância na Or- seu, mas como uma disposição de Deus.
dem fora das divisas francesas, ainda que os efeitos e as realizações dessa O Papa aceitou de boa sombra a dedicatória. Naquela época, Roma
recente atividade só se tornarão visíveis depois que nosso período estiver não estava tão jurada na palavra da Bíblia, como os Reformadores, que
encerrado. rejeitaram totalmente a doutrina de Copérnico como antibíblica. Por outro
A miséria da Guerra dos Tinta Anos e o primeiro impulso da recupe- lado, a Igreja Católica estava tão envolvida na reivindicação e esclareci-
ração material não permitiam que se esperassem primeiro grandes conquis- mento de seus dogmas fundamentais, que se limitou em manifestar simpatia
tas no setor das ciências. Mencionaremos apenas os esforços dos Benediti- sem nenhum compromisso. No prefácio, que foi modificado pelo luterano
nos da Hungria. O abade Bessel de Gõttweil publicara em 1732 um "Pro- Osiandro. a própria obra só pretendia afinal aventar algumas hipóteses no-
dromus" ("Introdução") para estudos históricos, o primeiro tratado de vas e notáveis, mas que não estavam ainda provadas.
diplomática em alemão. Estavam em correspondência com êle os Irmãos Por desgraça, a doutrina de Copérnico foi então abraçada por perso-
Pez, do Mosteiro de Melk. Em muitas viagens, colheram material, um deles nalidades, que não se movimentavam no âmbito da Igreja Católica. O ex-
para uma grande Hostória de Literatura da Ordem Beneditina, o outro dominicano Jordão Bruno, que rejeitava a Encarnação de Cristo, dando
para documentações da História da Áustria. Não chegaram a concretizar ao cristianismo uma interpretação panteísta, incluíra a doutrina de Copér-
seus planos de fundarem uma espécie de Academia, a exemplo dos Mau- nico em seu sistema do cosmos infinito e imanente. O apóstata, que por
rinos. muitos anos levara uma vida errante através da Europa, foi queimado em
Aqui não podemos acrescentar ainda outras referências sôbrc eruditos 1600, após longo processo inquisitorial em Roma.
historiógrafos da Itália e da Espanha, sobre os novos historiadores germâ- Depois, o astrônomo João Kcpler publicou em 1601 sua "Astronomia
nicos de várias Dioceses e Congregações, sobre as realizações dos Jesuítas, nova", na qual provou, claramente, as teorias de Copérnico pelas novas
Oratorianos, e de sacerdotes seculares franceses no setor da História Ecle- leis, que êle próprio deduzira de observações feitas. Kcpler, porém, que
siástica. até sua morte em 1630 pretendeu fazer parte de uma Igreja Católica Uni-
versal, era protestante; fora excomungado da Ceia, e muito atacado pelos
14. Igreja e Ciências Naturais seus correligionários luteranos, a cujas imposições em matéria de fé êle não
queria submeter-se.
Dentre as ciências profanas, não se cultivavam as ciências naturais. A questão, se as Leis de Kepler sobre as órbitas planetárias confir-
Os métodos experimental e indutivo, a busca de novos conhecimentos por mavam realmente o sistema de Copérnico, preocupava os espíritos também
meio de observação não eram, propriamente, conaturais ao espírito da Con- na Itália. Galileu Galilei, natural de Pisa (1564-1642), que descobrira as
tra-Reforma Católica, que se concentrava com um olhar retrospectivo na leis do pêndulo e da gravidade, e com um telescópio de sua própria fabri-
284 Capitulo VII Nova vitalidade da Igreja 285

cação descobrira os satélites de Júpiter e o anel de Saturno, declarou-se, Isso dava então, forçosamente, a impressão de que a Igreja Católica
na qualidade de astrônomo da Corte de Florença, francamente a favor do não via com bons olhos a participação em pesquisas das ciências naturais,
sistema copernicano. cujas conclusões ela por princípio considerava com muita desconfiança, c que
Galileu foi cumulado de honrarias, não por último na Cidade Eterna, por conseguinte (a tal ponto se levava o exagero) ela constituiria um en-
onde havia um ambiente muito favorável às ciências naturais. Desde 1602, trave para o progresso.
existia ali uma Academia "dei Lincei", destinada às ciências naturais. No O conflito de todo o ponto desnecessário entre as ciências naturais,
Colégio dos Jesuítas em Roma, lecionava o famoso matemático Clávio, que sempre a progredirem, graças a novos recursos e métodos, e a Igreja, teve
se tornara benemérito da reforma do Calendário. Todos sabiam quanto essa por conseqüência ficarem os problemas mais candentes entregues ao esforço
reforma aumentara o prestígio do Sumo Pontífice; das cartas escritas por de elementos estranhos, e criarem-se tensões, mal-entendidos, e rivalidades,
Ricci de Pequim, via-se também quanta importância não podiam ter as que se empederniam cada vez mais, visto que só em 1757 a Igreja suspendeu
ciências naturais para as Missões. Por isso é que os Jesuítas homenagearam a indiciação de Copérnico, completos setenta anos depois que o inglês Isaac
o eficiente pesquisador, e Paulo V o recebeu em audiência. Newton, em sua obra principal, dissipara as últimas dúvidas sobre a vali-
Mas Galileu tinha também adversários, que se louvavam na Bíblia. dade das Leis de Kepler e do sistema copernicano. A injustiça assacada
Por isso, Galileu defendeu por cartas a opinião de que, entre as ciências contra Galileu propriamente •Só teve desagravo em 1822.
naturais e a Revelação, não pode haver nenhuma contradita. Por conse- Essa violação de fronteiras, tão prenhe de conseqüências, não podiam
guinte, a um enunciado líquido das ciências naturais não pode opor-se contrabalançá-la, em cousa alguma, todos os esforços bem sucedidos de
nenhum enunciado da Sagrada Escritura. Esta seria autoridade somente muitos pesquisadores católicos, sobretudo da Companhia de Jesus, nem o
em assuntos de fé, e sua terminologia não seria de caráter científico, mas descobrimento das manchas solares pelo jesuíta Schreincr, natural de In-
popular. Expostas com ferrenha vontade de polemicar, essas idéias irrita- golstádio, nem o esforço de um mapa lunar, nem a descrição do espectro
ram os adversários. solar pelo seu confrade Grimaldi, sem falar de observações e experiên-
O barroco não era o século dos teólogos leigos. Levaram pois a mal cias feitas por outros Jesuítas. Sob o impacto do caso dc Galileu, dissolve-
que Galileu tivesse a pretensão dc escrever sobre a interpretação da Bíblia. ram-se as Academias Italianas, enquanto novas agremiações de ciências
Depois das acusações do dominicano Caccini (íngoli, futuro secretário da naturais se formaram em Paris e Londres, longe dc Roma, não apenas por
distância geográfica.
Propaganda também escrevera contra Galileu), as repartições romanas
ocuparam-se com o problema. Com o sucessivo alheamento entre a Igreja e as ciências naturais,
Como Galileu não quisesse renunciar espontaneamente às suas opi- sofreu também o regime pedagógico eclesiástico, que tão vigorosamente se
niões, a Congregação do índice declarou, em 1616, que ambas as propo- desenvolvera depois do Concílio Tridentino. Depois da Guerra dos Trinta
sições sobre o sol como centro do cosmos e sobre a rotação da terra em Anos, o auge do movimento pedagógico dos Jesuítas estava por via de
redor do sol seriam contrárias à Sagrada Escritura. O Cardeal Belarmino regra superado. Certas tensões internas, resultantes de interpretações mais
comunicou a sentença ao cientista. Galileu devia prometer de não mais rigorosas ou mais benignas da teologia moral, travavam a força propulsora
da Companhia.
sustentar essas doutrinas. Em conexão com os acontecimentos, foi posta no
índice a obra de Copérnico, até que se corrigisse, no sentido de serem as Nos Colégios, os estudos regrediram. O ideal de formação, próprio de
novas opiniões apresentadas unicamente como hipóteses. Inácio, ainda vigorosamente afeiçoado pelo humanismo, perdera seu caráter
Quando Galileu em 1632, sob o pontificado de Urbano VIII, por cuja obrigatório. As novas noções já se não entrosavam nos problemas funda-
benevolência se sentia protegido, ousou no "Diálogo sobre os dois maiores mentais. Introduziram-se novas disciplinas, conforme as exigências da épo-
sistemas cósmicos" defender o sistema heliocêntrico como fato evidente, foi ca; num lugar ou outro, entrava como disciplina até a construção de forti-
intimado pela Inquisição de Roma. As evasivas de Galileu provocaram ficações.
ameaças de torturas para forçar uma tomada de posição definida. Galileu, Em detrimento da cultura propriamente dita. procurava-se aumentar
então, abjurou a doutrina de Copérnico como errônea e antibíblica. de grau a aquisição dos conhecimentos. A frustração de muitos Colégios
no século XVIII, a falta de disposição para educar religiosa e moralmente,
Embora reconheçamos que o segundo processo teve, como gravame, a por exemplo, nos Colégios de Paris, começaram a manifestar-se ainda no
vaidade e a insinceridade de Galileu, devemos todavia lamentar profunda- século XVII, tanto mais que não eles podiam entrar em debates positivos
mente a primeira condenação de 1616 como inquietante erro judicial, e com as novas posições do cartesianismo, e se contentaram com a interdição
como abuso de poder diretamente catastrofal em suas conseqüências. de algumas teses nas escolas. Uma reativação da mentalidade sobrenatural
Não foi funesta a proibição, que se comunicou oralmente ao cientista, não propiciava por si só os meios práticos para conjurar as ameaças do
mas a indiciação das obras de Copérnico e de seus propugnadores, até então espírito da época contra o ideal de formação e cultura.
citadas com todas as honras em muitos lugares, também nas Universidades
de Graz e Salamanca.
Capitulo VII Nova vitalidade da Igreja 287
286

15. Ribalta Jesuítica A representação não se limitava a peças escritas por Jesuítas da Ale-
manha. Em seu grande âmbito, a comunidade da Ordem possibilitava co-
Balde e Calderón piosas permutas. Em 1578, o Provincial Hoffacus enviou ao Geral da Or-
dem uma petição, que mandasse cm Roma redigir ou copiar belas comé-
A crise, todavia, não se manifestou por igual em toda a parte. Sobre~ 15
dias. Jesuítas italianos, neerlandeses e franceses remetiam suas peças
tudo, na área de expressão germânica, onde o jansenismo quase não pene- para além dos Alpes e do Reno. No Colégio Ânglico de Roma, por volta de
trara, e onde a crítica antijesuítica de Pascal, nesse período, só tinha aco- 1650, o Jesuíta inglês José Simeons ( + 1671), convertido, c por sua vez
lhida entre poucos intelectuais, o sistema pedagógico da Companhia ainda orientador da conversão do rei Jaime II, representava seus dramas, pelos
prosperava exteriormente. Assim o era, se tomarmos os pontos altos do quais ilustrava em personagens heróicas a fidelidade para com Deus, para
drama didático jesuítico em meados do século XVII. Levavam, quase sem
com o soberano, e para com a própria consciência.
nenhum hiato, ao gênero de ópera, através dos espetáculos imperiais em
Viena. Através dos colégios da Ordem e dos auditórios das Congregações
Marianas, o drama jesuítico passou a outras escolas monásticas, não por
Seguia pelo mesmo rumo a evolução nos Países-Baixos. Os elementos último às dos Beneditinos, às suas recém-fundadas Universidades de Salis-
cênicos que primordialmente só deviam servir para entretenimento dos burgo e Einsicdeln. Em toda a parte, representavam-se incontroláveis varia-
alunos, os Padres os reconheceram e aproveitaram como meios de ação ções da "Pietas victrix", 14
da piedade vitoriosa, até que pelos fins do
pastoral. À semelhança dos palcos humanistas estudantis nas escolas de século, o Estado e a alta política suplantaram, também nesse setor, o des-
poética, não sem alguma influência do exemplo protestante, os Jesuítas tino individual do homem, e a elegância mundana prevaleceu contra a inexo-
começaram sem aparato suas representações cênicas, às quais a "Ratio rável alternativa escatológica.
studiorum" ("Programa de estudos") fazia referência.
Inicialmente, eles tomavam repertório alheio: apólogos, enredos expur- O idioma latino, que só era interrompido por intercalações ocasionais
gados das comédias de Plauto e Terêncio, e autos bíblicos. Depois escre- da língua vulgar nos entreatos, dava sempre um toque aristocrático ao dra-
veram peças próprias, nas quais condescendiam na medida do possível com ma jesuítico, que por isso mesmo se destinava exclusivamente às cultas
as predileções da época. Quando na consagração da Igreja de São Miguel classes superiores.
em Munique foi encenado em 1597 o "Triumphus divi Michaelis Archan- Outro tanto se diga das grandiosas odes latinas, escritas pelo alsaciano
geli" ("Triunfo de São Miguel Arcanjo"), e no fim da peça mais de tre- Jacó Balde, personalidade que tão bem encarnava em si próprio o tipo do
zentos Anjos foram precipitados no inferno, depois da apresentação de homem barroco. Mas, também, desde que jovem estudante de direito em
inúmeros quadros vivos, tal artifício parecia ter chegado ao máximo que Ingolstádio, à meia-noite, espatifou seu alaúde contra a pilastra da casa de
se podia levar o auto popular. sua namorada, exclamando "Cantatum satis, frangiton barbiton" ("Já cantei
bastante. Quebro o alaúde"), para então entrar na Companhia de Jesus no
Começaram, todavia, a incutir no drama um sentido mais profundo. dia seguinte, a musa canora nunca mais o desamparou durante toda a sua
Devia êle visualizar, em todas as formas imagináveis, a unidade dos elemen- vida. Alguns jesuítas terão por sua vez sentido as limitações da poesia la-
tos naturais e sobrenaturais na luta do bem contra o mal. Na época das tina. Bidermann coligiu cantos populares em alemão e publicou-os sob o
controvérsias sobre o concurso divino, focalizava a hesitação do homem título de "Himmelsglõcklein" ("Sineta do céu"). Seu contemporâneo, o
entre Deus e o demônio. fidalgo Frederico von Spee ( + 1635), em sua lírica repassada de cálidos
Da Itália, transplantou-se para o Norte não só o auto pastoril, mas sentimentos, cultivava um afetuoso cristianismo, que se revestia de forma
também a alta tragédia. Os Santos e os grandes paladinos do cristianismo, e germânica popular ("Trutznachtigall" — "Rouxinol do descante"). Eles,
mais freqüentemente o processo de sua conversão, eram apresentados, em entretanto, constituíam exceções.
sem-número de peças, a príncipes e cortesãos, a burgueses e escolares.
Comovia e aterrava, ao mesmo tempo, o "Cenodoxus" (o "Doutor de Mui diferente era a situação nos países românicos, ainda que aqui
Paris"), escrito por Jacó Bidermann, natural da Suébia; estreado em 1602, não entrasse em linha de consideração Pedro Corneille ( + 1684), discí-
em Augsburgo, correu as platéias até em Paris e Ipres. O teatro tornava-se pulo dos Jesuítas. O espanhol Calderón de la Barca (1600-1681) compro-
pregação, na qual os atôres quase que apontavam com o dedo o espectador, vou-se inspirado poeta barroco na língua de seus povos. Durante os anos de
cuja sorte eterna era dramatizada na ribalta. Qual latitude atingiam tais estudos, conhecera os dramas didáticos dos Jesuítas em Madrid. Depois de
representações, demonstrava-o, por exemplo, o fato de que em 1650 se servir como cavaleiro e guerreiro, alcançou o sacerdócio aos cinqüenta e
podiam comprovar encenações de dramas jesuíticos em vinte e quatro lu- um anos de idade. Antes e depois, durante todos esses anos, numa genial
gares diferentes só na área de expressão germânica. Em muitos autos de superação de grandes modelos, escreveu vasto número de comédias para
Santos, mostrava-se a transfiguração mística da ascese. Nenhum tema foi o palco profano e autos sobre o Corpo de Deus ("Autos Sacramentales").
mais urdido e representado do que a morte dos Mártires do Japão, vinte e Estes, justamente, que por via de regra eram encenados durante a oitava
oito vezes, pelo menos, na segunda metade do século. da festa, colocavam no centro do interesse a interpretação e veneração da
288 Capitulo VII Nova vitalidade da Igreja 289

Eucaristia, a glória e o triunfo do Sacramento do Altar, através das defini- início nos últimos tempos do barroco. Desde a Itália, onde começara, era
ções tridentinas, e revezavam-se com entremezes populares. entendida como encontro do pecador com o Santo, com atos de perdão,
Como em Bidermann, o espectador recebia também aqui um pene- impetração, e satisfação, em vestes de anjos como acesso ao Pão dos
trante sermão em forma dramática, não que o forçasse a uma decisão, mas Anjos.
que o arrastava a tomar parte na homenagem da Igreja ao triunfo da O povo, porém, via no Sacramento mais do que o Rei dos Reis; êle
majestade e do amor de Deus. Nesses autos, o mundo inteiro tem seu papel. tinha também noção da presença do Deus feito homem, a quem a aposta-
Graça e pecado, mente e vontade eram personalizados. Céus e terras, sia assacava tanta ingratidão. A recepção da Comunhão, recomendada pelo
desde a Criação até a época histórica de então, faziam parte do enredo. Concílio Tridentino aos fiéis, quando assistem ao Santo Sacrifício, aumen-
Teologia e experiência mística eram visualizadas, Bíblia e liturgia magis- tou só de vagar, em comparação com o último período da Idade Média.
tralmente utilizadas. Quem assistia a esses espetáculos vivenciava algo
do sentimento sobranceiro de um cristianismo triunfante, que se tornou a Zelosos missionários populares, e sobretudo os Jesuítas, exigiam mais
mais entranhada das convicções. do que as determinações canónicas do século XVII. Recomendavam, como
dias de Comunhão, as festas mais qualificadas de Nossa Senhora, além do
Natal, Páscoa e Pentecostes. Nos colégios da Companhia de Jesus, celebra-
16. Piedade e Pregação Barroca vam-se as séries dos Domingos Inacianos e Aloisianos como dias de Co-
munhão para as Congregações. Membros das confrarias freqüentavam
Posta cm bastante realce pela Reforma Tridentina, a piedade eucarís- todos os quinze dias a Mesa do Senhor. No começo do século XVIII, con-
tica pertence aos fenômenos mais característicos da religiosidade barroca. signavam-se cifras inesperadamente altas de Comunhões em Missões po-
Depois que o Concílio abolira inúmeros abusos medievais em torno da pulares ou em lugares de peregrinação.
Missa, e que o cálice dos leigos e a recepção da Comunhão na Sexta-Feira Nos primórdios do jansenismo, evidenciou-se que a prática da Co-
Santa caíram em desuso, dado o perigo de errôneas interpretações dos munhão freqüente, calorosamente recomendada também por Abraão de
Reformadores, e que também os indultos particulares a favor do cálice Santa Clara, unha tanto mais opositores, na medida em que o ambiente se
para leigos quase não eram utilizados, a fé na presença real do Senhor no tornava cada vez mais absolutista.
Sacramento teve uma acentuação toda particular. Confrarias medievais foram restauradas e aperfeiçoadas. Represen-
Por isso retiraram o Sacramento do sacrário gótico na parede lateral tantes do laicato congregaram-se em Roma para um culto peculiar da Eu-
do coro, para o colocarem deliberadamente no centro da igreja, sobre o carstia. Em 1539, Paulo III conferiu ao grupo a categoria de associação
altar, onde se construíram grandes tabernáculos, ladeados por Anjos de religiosa, que logo se propagou pelo mundo inteiro com o nome de Irman-
joelhos em sinal de adoração. O próprio altar foi guarnecido de uma "ma- dade do Santíssimo Sacramento.
quineta" para exposição do Sacramento, e muitas vezes encimado por Em 1592, Clemente VIII introduziu em todas as igrejas de Roma a
majestosos baldaquinos. Então, entrou cm uso geral o precioso ostensorio; adoração das Quarenta Horas em memória da sepultura do Senhor. Depois
muitas vezes, ficava por sobre a lúnula uma coroa real no ostensorio bar- da Guerra dos Trinta Anos, o Príncipc-Elcitor da Baviera e o Arcebispo
roco de resplandor. de Mogúncia introduziram em seus domínios a Liga da Adoração Per-
Fernando II, singular cultor da "pictas austríaca eucharistica" ("pie- pétua. A Companhia do Santíssimo Sacramento de Paris era a sede onde
dade encarística, peculiar da Áustria"), determinou em 1622 a participa- se desenvolveu uma Ação Católica, que queria conservar-se secreta. Inú-
ção oficial da Corte de Viena nas procissões anuais do Sacramento do meras devoções de cunho popular nasceram da jucunda crença de que na
Altar. 15
Em países românicos, pajens cm trajes de rigor, de espadim Eucaristia o Senhor, mediante sua presença real e verdadeira, põe toda a
na ilharga, como nas Cortes Régias, acompanhavam o Santíssimo no per- eficácia de sua graça em contato com o mundo e com as almas.
curso da procissão. Tornou-se então a procissão do Corpo de Deus um A piedade popular da época caracterizava-se por uma forte exacer-
grande préstito de vassalagem com todas as honras militares. Da área geo- bação de sentimento individualista, quase desenfreado. Os afetos domi-
gráfica de expressão germânica, como de um ponto de partida, difundia-se, navam a oração. O capuchinho Martinho de Cochem, um dos mais fecun-
bastante promovida pelos Jesuítas, a exposição do Santíssimo durante a dos escritores ascéticos populares da época, pretendia justamente ensinar
Santa Missa. a oração "que se insinuasse no coração". Ultrapassando a norma e a
É o Rei Eucarístico, a quem se prestava vassalagem, com guarda de atitude objetiva da liturgia, formou-se uma largamente difundida devoção
honra e silenciosa adoração, com todo o desenvolvimento das cerimônias pela Paixão do Senhor, que muitas vezes exorbitava dos limites humana-
nas Cortes profanas. Sua recepção na Comunhão era preparada com extre- mente toleráveis.
ma meticulosidade. Os fiéis já não se chegavam ao altar para o receber de Surgiam novas devoções, engenhadas pelo próprio povo: às sete que-
pé, mas ajoelhavam-se junto à balaustrada, à mesa da Comunhão. A das, às chagas do ombro e da língua do Senhor. Em seu livro "Mística Ci-
própria Primeira Comunhão das crianças, celebrada coletivamente, teve dade de Deus", a franciscana espanhola Maria de Ágrcda defendia idéias
290 Capitulo VII Nova vitalidade da Igreja 291

do fim da Idade Média sobre a Paixão do Senhor, não constantes no Evan- O maior pregador barroco na área de expressão germânica era, certa-
gelho; pela sua publicação "Das grosse Lebcn Christi" ("A grande vida mente, Abraão de Santa Clara (1644-1709), eremita dc Santo Agostinho.
de Cristo"), em 1680, Martinho de Cochem aclimatou na Alemanha essa Como pregador imperial, em Viena e em Graz, em épocas de máxima
obra desconhecida sobre a Paixão de Cristo. calamidade, no ano da peste e na ameaça dos Turcos, êle não só conso-
As procissões medievais de Sexta-Feira Santa, com carregadores de lava, mas também incentivava de modo impressionante para ação eficiente,
cruz e flagelantes, tiveram nova aceitação. Renovavam-se os autos da Pai- para uma piedade autêntica e verdadeira penitência. Aos pés de seu púl-
xão, muitas vezes simultaneamente com a ereção de confraria em honra da pito, reunia-se toda a sociedade barroca da Cidade Imperial, desde Leo-
Sagrada Paixão ou das Cinco Chagas, para cumprir promessa feita durante poldo 1, seus ministros de Estado, seus cortesãos e lacaios, até os bur-
a peste, como em Obcrammergau, na Alta-Baviera. gueses, os lavradores deslocados, os elementos mais reles do povo, e as
almas piedosas.
Ao lado de Cristo Padecente está sua Mãe, na oração e tradição fol-
As imagens e comparações cheias de humor, que êle sabia delinear
clórica. O ânimo católico do povo defendia-a, com fervor belicoso, contra
com rara maestria de linguagem, com excepcional riqueza de imaginação
os ataques dos inovadores. O rosário tornou-se distintivo do católico; a
criadora, e com uma arte de fabular jamais igualada: constituíam apenas
parte impetratoria da Ave-Maria ("Santa Maria") entrou com espantosa
chamarizes para as verdades eternas que êle, sem acepção de estado ou
rapidez na usança popular.
pessoa, propunha sem nenhuma diminuição, com inabalável gravidade.
Durante a Guerra dos Trinta Anos, a efígie da Imaculada Conceição Suas obras "Merk's Wien" ("Tome nota, Viena") e "Auf, auf, ihr
figurava nos pendões da Liga. Na Corte de Viena, o Imperador mandou
Christen" ("Eia sus, eia sus, cristãos!") são "grandes obras-primas do
erigir em sua honra a grande Coluna, que êle prometera na ameaça dos
Suecos. A Imaculada tornou-se paradigma para muitos monumentos come- barroco, tanto no fundo, como na forma", conforme a opinião dc conhe-
17

morativos, em que ela domina como vencedora em todas as batalhas de cido historiador de literatura.
Deus. Fernando III chamava-lhe "estrategista-mor". Maximiliano da Ba- Ao lado dele, inúmeros pregadores capuchinhos falavam a linguagem
viera nomeou-a Patrona da Baviera, e constituiu uma guarda de honra, em do povo, apontando caminhos concretos e intuitivos, recomendando um
caráter permanente, diante de sua imagem na residência ducal de Muni- cristianismo prático, sem obrigações exorbitantes para a vida de sempre, o
que. Obedecendo ao costume da época, Maximiliano c Fernando II escre- estado de vida, e a cruz dc cada dia. Sabiam também encarecer remédios
veram com o próprio sangue sua consagração a Maria. 1 6
naturais para um ânimo abatido, tais como um bom traguinho, um passeio,
o jogo de boliche, execução ou pelo menos audição de canto c música.
No fim de nosso período, apareceu na Itália a devoção do mês de Quem assim apregoava tais medicamentos contra os assomos de
Maria. Inúmeras irmandades enalteciam a Auxiliadora dos cristãos. O melancolia era um convertido, natural de Marca de Brandemburgo, o capu-
ponto alto de suas festas era a Assunção de Maria. Representações predi- chinho Procópio dc Templin ( + 1680). Era característico, para a poesia
letas do barroco eram: sua morte triunfal, em movimento farfalhante, cer- da pregação barroca, 18
que o próprio pregador redigisse cânticos reli-
cada pelos jubilosos coros dos Anjos, sua coroação no céu, a Imperatriz giosos (Procópio redigira nada menos do que 536), ou que fizesse com-
do céu no ornato de sua coroa, aquela que Echter de Mespelbrunn, bispo posições musicais, como em 1691 o antigo ator teatral de Viena e Inns-
de Virceburgo, apelidava de "sua Castelã". bruck, o capuchinho Lourenço de Schnifis, com seu "Mirantischer Maien-
A Maria juntavam-se as legiões de Santos, cujas relíquias os con- pfeif" ("Maravilhosa flauta de maio"), sendo algumas delas incluídas em
ventos recolhiam com ardente fervor e o povo cultuava de modo exage- conhecidíssima coletânea de cânticos populares, enquanto outras são ainda
rado, contrariando as advertências dos pregadores. Os Santos formavam hoje cantadas pelo povo católico.
a Corte do Rei Celestial. Eram suas testemunhas aqui na terra; deviam Diferente era o gênero de pregação que provinha da Itália. Os ser-
assistir a seu Santo Sacrifício nos grandes recintos festivos das igrejas bar- mões conceptistas ("concetti") propunham o tema em metáfora, procurando
rocas, nos resplandores de suas cúpulas. As pomposas trasladações dos demonstrá-lo com argumentos bíblicos, engenhosos e artificiosos, sem apa-
Mártires das Catacumbas, as freqüentes petições para altares privilegiados, rato crítico.
a fisionomia própria das procissões em lugares de romaria, como por exem-
plo a "Cavalgada do Santíssimo Sangue" ("Blutritt") em Weingarten, na De outra têmpera eram as firmes e másculas missões populares e as
Alta-Silésia, remontam a eras bastante longínquas do século XVIII. pregações quaresmais do jesuíta italiano Paulo Ségneri (1624-1694). Lan-
çados com ampla estrutura, tinham por finalidade procurar, com grande
Os pregadores da época empregavam, com mais ou menos gosto e segurança dc orientação, não qualquer miragem barroca, altamente apre-
discrição, os meios conducentes para despertar afetos, para atuar sobre a ciada, mas a conversão, e conversão autêntica. Êle percorreu a Itália du-
sentimentalidade, conforme se manifestava no protestantismo contempo- rante vinte e sete anos. De bom grado imitaram-lhe o exemplo os missio-
râneo, no pietismo. Era também a quadra em que apareceram o "Orató- nários populares da Companhia dc Jesus na Suíça e na Alemanha Meri-
rio do Natal" e da "Paixão segundo São Mateus", de João Sebastião Bach. dional.
Germes de secularização: realismo absoluto e nova filosofia 293

rentes ao Império. O que primeiramente se exigiu por tática, como neces-


sidade do momento, foi legalmente outorgado pelo Tratado de Paz Reli-
giosa de Augsburgo e pela Paz da Vestefália, sob a fiança de governos
estrangeiros.
CAPITULO VIII O Império era paritário. Seus recursos e sua autoridade, suas forças
militares e econômicas já não podiam aplicar-se em prol da Igreja, e quase
que nem tampouco pelas necessidades dos cristãos cm geral, conforme se
GERMES DE SECULARIZAÇÃO : evidenciou na história das Guerras contra os Turcos. O caso de Viena em
REALISMO ABSOLUTO E NOVA FILOSOFIA 1683 constituiu um episódio afortunado.
Extinguira-se em geral a consciência de Império. Nos Estados ("Stân-
de") católicos também prevaleciam interesses egoístas de dinastia. Entre
Em muitos setores, o barroco fêz ressuscitar o final da Idade Média. Príncipes-Eleitores católicos da Renânia, não eram raras as alianças contra
A piedade popular retomou o patrimônio dos séculos anteriores à Refor- o Imperador, ou pelo menos acostamentos à França.
ma Protestante, com menos deslocamento do ponto de gravidade, e talvez Contra a política sistematicamente expansionista da protestante Bran-
sem a íntima conturbação do incipiente século XVI. No orbe católico, demburgo-Prússia, cujo soberano assumira o título de rei em 1701, e que
parecia florescer novamente uma piedade virgem. As grandes Ordens da já tinha consolidado suas posições no Baixo-Reno, não podiam prevalecer
Idade Média, sobretudo os Dominicanos, apresentavam no campo teoló- os Eleitorados ("Wahlfürstentümer") católicos, os Estados ("Stãnde")
gico realizações que faziam lembrar os tempos de antanho. Manifestava-se Eclesiásticos, nem tampouco a Baviera, que se debilitava cada vez mais,
de novo a santidade da Igreja cm muitos homens e mulheres. em conseqüência de sua oposição contra a Áustria.
Sem a evolução que a precedeu, não se pode conceber a arte da época. Mas o próprio Estado dos Habsburgos estava cheio de problemas sem
O pontificado de Pio V ou de Sisto V, com suas pretensões de hegemonia solução, ainda que sc abstraísse da secreta oposição de uma velada mino-
ria protestante, sobretudo entre os Húngaros do Sudoeste. As partes que o
sobre reis e príncipes, ostentavam traços tipicamente medievais. Na base
Tratado de Paz de Rastatt em 1714 outorgara do espólio sucessório da
das concordatas do século XV, tentou-se no século XVII regular outra vez Espanha, constavam de territórios dispersos, c por isso mesmo expostos
as relações entre a Alemanha e a Cúria Romana, entre a Igreja Nacional a riscos, longe da metrópole Áustria.
e Igreja Universal.
A par do Império, só restavam ainda a Espanha, Portugal e a França
Contudo, a restauração do mundo medieval, como se apresentava como potências católicas. Não entravam em linha de conta a Polônia, desa-
nestas e noutras características, não será uma pseudomorfose no sentido gregada por tantas divisões intestinas, e por conseguinte sempre inconsis-
de Spengler? Não medravam, dentro dessa civilização barroca, forças dele- tente, nem a Itália esfacelada cm muitas parcelas. Mas, no fim de nosso
térias que a carcomiam por dentro? Conservou-se intacta a fachada. Nada período, a Espanha, Portugal, e a França constituíam nações em declínio.
se lhe notava que fosse anormal. Tornara-se mais atraente e mais volú-
A Espanha, que no fim do século XVI levara a fé católica a grande
vel no rabicho do rococó. Bastava, porém, um furacão, para que se fen-
parte do Novo Mundo; que, no reinado de Filipe II, apesar de todos os
desse toda a estrutura, todo o mundo barroco, porque não dispunha de atritos com os Papas, fora a potência católica sempre de prontidão contra
nenhuma resistência intrínseca. a Reforma na Inglaterra e situação caótica na França, passou por um
processo de lenta decadência durante o século XVII. Podia ainda manter
seus domínios além dos mares; ainda enviava missionários para a longín-
1. Declínio das Potências Mundiais Católicas qua Califórnia, e justamente naquele século eram as Filipinas um entre-
posto missionário do Extremo Oriente.
Sob o ponto de vista meramente político, já tinha passado a era do
Mas a Metrópole definhava, não só com o ouro que saía do Oeste,
brilho e poder para o catolicismo. Já não havia Reino ou Sagrado Império,
com a perda dos Países-Baixos, mas também com os movimentos autono-
que quisesse e também pudesse ser valioso paladino da Igreja. A planejada mistas da Catalunha e com a separação de Portugal (1640), que a Espa-
Reforma Nacional, com o objetivo de formar uma vigorosa potência impe- nha foi obrigada a reconhecer em 1668, e sobretudo com a guerra contra
rial, não conseguira vingar nos tumultos da Reforma Protestante. a França através de muitos decênios. Em 1635, Richelieu declarara guerra
Dera-se o contrário. As três décadas de lides políticas em torno da à Espanha. Os Franceses apoiaram a rebelião de Barcelona e invadiram
Reforma Protestante não passavam de contínuos conchavos do Imperador os Países-Baixos Espanhóis. Só em 1659 concluiu-se o Tratado de Paz dos
com os Príncipes Territoriais, de abdicações a direitos e obrigações ine- Pirinéus, pelo qual a Espanha teve que ceder à França a Artésia (Artois) e
[292] o Perpinhão.
294 Capítulo VIH Germes de secularização: realismo absoluto e nova filosofia 295

Quando em 1665 Carlos II, doente incurável, assumiu o governo, Em comparação com os Reformados, os Luteranos inicialmente ainda
começou uma concorrência de toda a Europa à sucessão do rei sem filhos. se esquivavam do trabalho missionário. Mas o pietismo de Augusto Ger-
Na Guerra de Sucessão Espanhola, que se desenrolou desde a Espanha até mano Francke em Halle suscitou fortes estímulos missionários, dos quais
a Bélgica, desde Colônia e Nápoles até a Hungria, e através dos oceanos, resultou a fundação de uma Missão Luterana nas Índias. Bartolomeu Zie-
a Espanha perdeu definitivamente sua situação de potência mundial. Habs- genholz ( + 1719) dirigente dessa Missão, acomodava-se muito acentuada-
burgo e Sabóia receberam todas as áreas extraterritoriais, situadas na mente, em seu modo de evangelizar, ao idioma e à civilização do território
Europa; a própria Península ficou sob a influência francesa. missionário, sendo evidente o paralelismo com o método dos Jesuítas. Êle,
porém, não se deixava influenciar com a idéia de uma "evangelização pela
A França teve por sua vez de resignar-se a perdas enormes. No Tra- ciência", propagada por Leibniz.
tado de Paz de Utreque (1713), a França entregou à Inglaterra Nova-
Escócia, Terra Nova, e outras áreas no Canadá. Começou, então, o desca-
labro do poderio colonial francês na América Setentrional, e consumou-se
no espaço de quase meio século. Nas Índias, algumas colônias também 2. Ponto Fraco dos Estados Pontifícios
passaram da França para a Inglaterra.
Foi sobretudo a influência portuguesa, que ficou restrita a pequenas Os Estados Pontifícios, outrora ideados para segurança da autonomia
áreas nas Índias. Holandeses e até Dinamarqueses fundaram seus empórios espiritual do Papado e da missão universal da Igreja, foram cada vez mais
nas costas ocidentais e orientais das Índias, lado a lado com a Companhia envolvidos como objeto de implicações na política internacional. Só com
das Índias Orientais. Na Indonésia, os Ingleses incrustaram-se em Sama- o auxílio de Henrique IV da França foi possível recuperar Ferraria; só
tra. O pequeno Portugal não dispunha de bastante guarnição para manter, pelos bons ofícios de um cardeal, parente do Rei da França, puderam evi-
ao lado do vasto Brasil, o Império das Índias Orientais, respectivamente tar-se em 1607 belicosos conflitos com Veneza. Durante a Guerra dos
sua influência no Extremo Oriente. Trinta Anos, foram tirados, das rendas dos Estados Pontifícios, subsídios
A liderança política passara para as potências protestantes. As gran- para o Imperador e para a Liga, no começo bastante elevados, depois mais
des nações marítimas, Holanda e sobretudo a Inglaterra, constituíram seus reduzidos.
impérios. Depois da Guerra de Sucessão Espanhola, elas impunham suas Em 1623, o Papa teve oportunidade de arbitrar num litígio entre a
vontades também na Europa, com apoio militar da Prússia, que mais de Espanha e a França por causa de,Valtelino (Veltlin), ligação entre o Mi-
uma vez fora aliada daquelas nações. Só contra o Império e contra os lanês e o Tirol, e na qualidade de curador mandar suas tropas ocuparem a
Habsburgos é que a França pôde beneficiar-se de conquistas no Reno. À área litigiosa. Richelieu, porém, mandou desalojar as tropas pontifícias.
ascensão política das nações protestantes acrescia também o poderio cada Só por razões de política interna é que o Cardeal renunciou ao plano de
vez maior da Rússia Cismática. Sob o governo de Pedro, o Grande, os ama ação armada contra o Papa.
exércitos russos transpuseram pela primeira vez o rio Odra. No Norte da Uma pendência entre os Barberini e o Duque Farnese, por causa de
Europa, a hegemonia passou da Suécia para a Rússia, que se fixara no um feudo pontifício, transformou-se em uma expedição contra Parma, e
Mar Báltico. esta resultou em uma aliança entre Veneza e Toscana, de ponta contra o
As mudanças no Canadá, nas Índias e na Indonésia não ficaram sem Papa. Depois de vários reveses bélicos, essa situação pôde terminar em
repercussão nas Missões Católicas. Em as novas possessões inglesas, o 1644, novamente só por mediação da França. Essa guerra por causa da
culto católico era sistematicamente interditado; no Canadá, os puritanos cidade de Castro tornou manifesta, aos olhos do mundo, a impotência
perseguiam ferozmente as Missões Católicas. Em Samatra e nas Pequenas política e militar de Urbano VIII.
Ilhas de Sunda, a Companhia das Índias Orientais era um pouco mais tole- As dívidas dos Estados Pontifícios cresceram imensamente, em conse-
rante, mas também proibia, debaixo de rigorosas sanções, o exercício pú-
qüência da ruína geral da lavoura e da indústria, da locupletação dos ne-
blico da religião católica. Os Holandeses perseguiam os sacerdotes nativos
em Ceilão. potes, sobretudo por causa das grandes verbas militares do Papa, que era
Barberini.
Em tais condições, a administração católica tinha que desmoronar,
aos poucos, em t o d a a parte. A obra missionária fracassava, embora não Durante a Guerra dos Trinta Anos, Roma vivia em constante temor
se extinguisse em todos os lugares. Em seu próprio campo de atividades, de ameaças por parte dos Espanhóis ou das tropas imperiais.
teve a concorrência consciente da Missão Protestante. A Companhia Holan- Os Estados Pontifícios tornaram-se um travão para a liberdade deli-
desa das índias Orientais fundara em 1620, em Leida, um Seminário para berativa do Papa nos grandes problemas internos da Igreja. Os magnatas
formação de eclesiásticos para as índias Orientais. No tempo de Crom- consideravam o Papa em pé de igualdade com os pequenos príncipes ita-
well, fundara-se em Londres uma Sociedade de Assistências aos Índios na lianos, continuamente envolvidos em suas competições pelo domínio na
América do Norte. Península.
Capitulo VIII Germes de secularização: realismo absoluto e nova filosofia 297
296

No fim de nosso período, houve ainda um conflito armado do Papa Num desses incidentes houve até ameaça contra a pessoa do Embai-
com o Imperador, depois que na Guerra de Sucessão Espanhola as tropas xador. Em conseqüência, o Embaixador deixou Roma, e o Núncio Apostó-
imperiais violaram, por várias vezes, a neutralidade dos Estados Pontifícios, lico foi expulso da França. Avinhão foi seqüestrada e declarada proprie-
e chegaram até a ocupar a cidade de Comacchio (1708). A resistência dade real; o Papa foi oprimido com movimentos bélicos contra os Estados
das tropas pontifícias esmoreceu muito rapidamente. A própria Roma es- Pontifícios, não só para lhe infligir ignominiosa humilhação, mas também
tava ameaçada. O Papa teve de novo que reconhecer sua impotência militar para lhe extorquir concessões políticas (1664).
e concluir um tratado de paz, pelo qual contra sua vontade, e contra a O que Luís XIV impusera contra Alexandre VII, êle não o conse-
atitude tomada até aquela data, êle se identificava, unilateralmente, com guiu junto a Inocêncio XI, o papa mais importante do século. Declarou
a causa dos Habsburgos. este que não receberia nenhum outro embaixador, a não ser que o mesmo
t
i renunciasse à regalia do boleto livre. As potências conformaram-se. A des-
peito da bula papal que abolia o boleto livre, só o Embaixador da França
3. Papado e Absolutismo Gaulês entrou com séquito armado na Cidade Eterna, e usou do antigo "direito",
como se nada houvera acontecido.
À extorsão maciça dc adesões e concessões correspondia também, de O Papa negou-lhe as credenciais, e excomungou-o por causa de sua
outro lado, a coação interna, tentada primeiramente por Filipe 11, e mais arrogância. O Rei revidou com suas costumadas violências, apelando até
tarde sobretudo pela França, no tempo de Richelicu c de Luís XIV. contra o Papa a um Concílio Ecumênico. Inocêncio, porém, não cedeu, e
De per si, a eleição papal já constituía o campo, em que as grandes seu sucessor teve a satisfação de que Luís, por razões de política externa,
potências sc mobilizavam, não só impondo a nomeação de determinados devolvesse Avinhão e renunciasse ao boleto livre.
cardeais, que depois, como mandatários dêlcs, munidos de rigorosas ins- O conflito constituía apenas uma espécie de entreato no grande drama
truções, conquistassem influência entre os vogais e constituíssem uma fac- da porfia do autoconsciente absolutismo de Luís com a noção de respon-
ção no conclave. Sem nenhum disfarce, as grandes potências faziam uso sabilidade dos Papas. De um lado, favorecido por um período de governo
do direito de veto, por eles pleiteado, contra qualquer candidato papal que extraordinariamente longo (1643-1715), durante o qual, tendo-se feito seu
não fosse de seu agrado e conveniência. próprio primeiro-ministro desde a morte de Mazarino ( + 1661), o Rei
Das primeiras manobras da Espanha, que se dirigiam contra a eleição determinou os destinos de seu país, cuja organização Richelieu centralizara
de Barônio, o veto evolveu para exigência formal de exclusão (a "exclu- totalmente. De outro lado, os Papas, nada menos do que nove nesse pe-
siva"), quando após a morte do francófilo Urbano VIII. o líder dos Car- ríodo, cm geral homens de mais idade, muitas vezes achacosos, todos
deais espanhóis declarou em 1644 que o candidato dos Barberini não me- dignos e piedosos; mas, exceto Inocêncio XI, nenhum deles possuía aquele
recia confiança de seu soberano, c que os vogais deviam tomar isso em feitio heróico que caracterizava muitos Papas do século XVI, aparelhados
consideração. que estavam com uma administração eclesiástica economicamente fraca e
Em 1670, a França e a Espanha pronunciaram a exclusiva contra um territorialmente reduzida, às voltas com facções dentro do Colégio dos
candidato bem classificado, Por iniciativa do Imperador, falhou em 1691 Cardeais, e empolgados pelo senso de responsabilidade diante do direito e
a eleição do excelente Gregório Barbarigo, que mais tarde foi beatificado da consciência.
e canonizado cm nossos dias. Muitas vezes, porém, os Cardeais conseguiam Em França, porém, havia um reino com aspirações também a uma
precatar-se contra essa grosseira ingerência na eleição papal. unidade definitiva em matéria dc fé, marcando rumo ao movimento inte-
Os direitos dc soberania papal, das quais o Embaixador escreveu uma lectual e científico da Europa, com um Clero disciplinado, com uma polí-
feita a Piris que o Rei os reconhecia com tanta naturalidade como o fazia cia sagaz, com exércitos bem equipados e poderosos. Não se aclimatara, em
1
com a administração de qualquer guilda mercantil, eram tratados pela Paris, a jovial despreocupação do barroco, seu entusiasmo sobrenatural
França dc maneira quase injuriosa. pela fé, seu sentimento triunfalista.
Ultrapassava todas as cláusulas de etiqueta, a que se dava demasiada Ali não tiveram aceitação os planos de Bernini para o Louvre. Nas
importância naquela época, amante de grandes lances patéticos e espalha- linhas sóbrias e definidas da arte vétero-clássica, já tomadas como gaba-
fatosos, quando os Embaixadores da França, Espanha, e Veneza entravam rito pelo Renascimento, construíram-se em Paris a Igreja dos Inválidos, a
em Roma com um séquito de armas pesadas, ou quando os Embaixadores Capela Real do Castelo de Versalhes, sobretudo o Palácio do Louvre. Um
de França queriam ampliar as imunidades diplomáticas do Palácio Far- classicismo, que fosse o expoente de uma cultura palaciana, devia ofuscar
nese a todos os arredores (boleto livre). Área tão ampla tornava-se, neces- o brilho do barroco romano, c conquistar nesse setor a liderança para a
2

sariamente, homizio e valhacouto de facínoras, e dava azo quase inevitável França e para seu Rei.
a choques e desavenças entre os homens da Embaixada e a polícia ponti- Com o barroco só se mantinha em comum o princípio fundamental
fícia. do absolutismo, mas não sua configuração concreta, mesclada de patriar-
N o v a História III — 2 0
298 Capitulo VIU Germes de secularização: realismo absoluto e nova filosofia 299

calismo. Mas justamente nessa atitude fundamental de absolutismo é que França sem intervenção do Papa: tudo isso remontaria aos primórdios da
se manifestava a labilidade da civilização barroca. Com abstração de seu Igreja na França (Gália). Liberdades galicanas seriam, por assim dizer,
aspecto religioso, em Roma, mais ainda na Espanha, e principalmente na as antigas liberdades da Igreja em geral, uma "parcela do direito comum
França, ela só convergia para a cúpula da sociedade, para os soberanos e 4
da Igreja Universal" (Pithou). Tais liberdades galicanas, porém,
seus nobres cortesãos. nunca foram definidas com clareza, nem especificadas cm sua totalidade.
Desde que se olvidassem nela o triunfo da fé e a dedicação a Deus, Pedro Pithou, advogado do Parlamento, convertido do calvinismo,
em seu centro só ficariam a glória e a "honra", conforme Corneille a carac- especificou em sua obra de 1594 "Les Libertes de 1'Eglisc gallicane" ("As
terizou em seu "Cid" como valor supremo, capaz ainda de avassalar os liberdades da Igreja Galicana"), 83 axiomas que acentuavam principal-
sentimentos daqueles que amam.
mente o lado político do galicanismo, a autonomia, em assuntos temporais,
Acrescia, ademais, a consciência com que aqueles "titãs" que julga- do poder régio com relação ao Papa, e a restrição, pelos cânones, do po-
vam ter exclusivamente em suas mãos os "arcana imperii" ("os segredos der pontifício na França. O primeiro axioma devia, sobretudo, referir-se
de Estado"). Como Deus governa o Universo, de modo grandioso, mas a Belarmino, que ensinara um poder apenas indireto do Papa na alçada
incompreensível para os homens, assim também eles governariam seu Es-
temporal. Os cânones do segundo axioma tinham uma redação de sen-
tado, constituído por eles mesmos, de acordo com as necessidades, con-
forme a "razão de Estado". tido muito largo; entendiam não só os decretos sinodais franceses, mas
também as usanças vigentes, como seriam por exemplo o direito régio de
Desta maneira, mais fortes do que na Espanha e na Itália, manifesta- convocar concílios nacionais, de aplicar o "placet" às bulas pontifícias, de
ram-se na França as idéias do Renascimento, daquele humanismo que de interceptar recursos e viagens de bispos a Roma, de bloquear a jurisdição
Pádua e de Machiavelli recebeu seu cunho característico, que pregava o de legados pontifícios, sim, de até apelar do Papa para um Concílio
frio calculismo e a razão de Estado, procurando o domínio sobre a Igreja,
Ecumênico.
em lugar de uma renovação da Igreja, conforme o barroco almejava.
Mais incisiva, nesse país, foi a ruptura com a tradição medieval, A Sorbona, suprema autoridade doutrinal na França, professava anti-
enquanto esta se reafirmava na vida barroca de outros lugares. O huma- gamente as doutrinas de Belarmino. Mas, depois, foi aliciada para o gali-
nismo crente que, antes de Luís, sempre distinguira tão gloriosamente a canismo pelo seu síndico Edmundo Richer que, rejeitando o primado papal,
Igreja na França, perdeu seu elevado impulso idealista, sob a ação do frio atribuía ao Rei o direito de sentenciar se os organismos eclesiásticos deci-
cálculo com que a razão de Estado procurava, ponto por ponto, realizar diam de acordo com os cânones, ou não. Nessa atribuição, o Rei seria res-
suas maquinações. De efeito deletério era o mau exemplo moral do Rei, ponsável só perante Deus, não perante o Papa.
sua desenfreada libertinagem, que se tornara inseparável da realeza, que A interdição do livro por Sínodos Provinciais e por Roma, as medidas
empestava todas as rodas palacianas. Em vista da aparente devoção reli- disciplinares tomadas contra o autor impediram, momentaneamente, que
giosa do Rei, ela colocava os confessores e os pregadores da Corte em se declarasse um cisma, mas não conseguiram sopitar as idéias, em cuja
graves conflitos de consciência. propaganda o Parlamento trabalhava ativamente, obrigando em 1663 a
Sorbona a tomar posição declaradamente a favor da doutrina galicana.

4. Galicanismo Alimentada, também, por tendências nacionalistas, a doutrina devia


medir forças nos embates do Rei absolutista contra o Papa. O conflito
irrompeu com a demanda das regalias. Desde o século XIII, tinha cessado
A esta identificação do Rei cora o Estado acrescia a consciência de
uma autonomia nacional da Igreja na França. Havia, em toda a parte, uma o direito do Imperador e dos reis à administração e às rendas de benefí-
resistência sentimental contra a jurisdição centralista do Papa e contra a cios vacantes; só na França continuava a vigorar. Mais importante do que
tese da infalibilidade, ainda não definida como dogma de fé. a regalia temporal, era a regalia espiritual, durante a vacância das dio-
ceses, o direito de outorgar pessoalmente os benefícios, com exceção das
Esse anti-romanismo encontrou na França um terreno fértil para cul-
tura. Segundo uma declaração de Pascal, em França só não era ainda per- paróquias, que aliás só o bispo podia provisionar.
3
mitida a afirmação de que o Concílio ficava acima do Papa. Foi justa- No início do reinado de Luís XIV, tal direito só vigorava numa
mente a oposição dos Padres Conciliares Franceses que embargou uma de- parte da França. Enquanto o Rei, praticamente, abria mão da regalia tem-
finição do primado papal no Tridentino. O Parlamento não permitiu que poral, mandando passar as rendas da vacância ao sucessor da sede dioce-
se aceitassem decretos reformatorios do Concílio, porque os considerava sana, mantinha contudo a regalia espiritual com grande obstinação. Os
em contradição com as "liberdades galicanas". juristas declaravam que a regalia, baseada em direito eclesiástico particular
As amplas e efetivas atribuições do Rei dentro da Igreja (disposição protomedieval, seria um direito inalienável da Coroa, e deveria por con-
de quase todos os benefícios; privilégio de não aforar processos eclesiás- seguinte vigorar em todo o território nacional. Por isso, um decreto régio
ticos fora da França, e outros mais), a auto-administração da Igreja na de 1673 estendeu-o a toda a França, por sinal que com efeito retroativo.
Germes de secularização: realismo absoluto e nova filosofia 301
•300 Capítulo VIU
dade eclesiástica. Não poderão, por conseguinte, ser direta ou indiretamen-
Em face dessa coarctação do poder episcopal (como o Rei tinha tam-
bém o direito de nomear bispos, podia também prolongar o tempo de va- te depostos, nem seus súditos desligados da obediência e fidelidade a eles,
cância, conforme bem o entendesse), ficaram calados não só o Núncio em virtude do poder eclesiástico das chaves.
Apostólico, mas também os cento e vinte bispos da França, com exceção 2? O pleno poder da Sé Apostólica em assuntos religiosos é restrito
de dois. Pavillon e Caulet, bispos de Alet e de Pamiers no Sul da França, pelos decretos do Concílio de Constança sobre a autoridade dos Concílios
os já mencionados amigos do Movimento Jansenista, que se reportavam à Ecumênicos. Estes foram em todos os tempos fielmente observados pela
determinação do 2° Concílio de Lião de se não ampliarem as regalias. Igreja Galicana. Permanecem constantemente cm vigor. Não são de auto-
O Rei, então, declarou vacantes suas dioceses, e proveu os respectivos ridade duvidosa, nem foram promulgados unicamente para o período de
benefícios. Os Bispos, entretanto, ficaram sozinhos em sua luta. Os arce- cisma.
bispos competentes e os Jesuítas pronunciaram-se pela validade das me- 3? O exercício da jurisdição papal regula-se pelos cânones; a seu
didas régias. lado, persistem também cm absoluta validade as normas, tradições e orga-
Então, os bispos, antigos simpatizantes do jansenismo, apelaram ao nizações da França e da Igreja Galicana, bem como os critérios dos Santos
Papa. Inocêncio XI, que procurava ressalvar a autoridade pontifícia com Padres.
o máximo escrúpulo, mandou uma Comissão Cardinalícia examinar a ques- 4v Em matéria de fé, o Papa tem a parte principalíssima, mas sua
tão das regalias. Logo que constou o resultado, êle enviou vários breves decisão não é irreformável, se lhe não aceder o consentimento da Igreja
muito enérgicos ao Rei, e exigiu que retirasse o edito de 1673. O Rei, Universal.
porém, não quis fazê-lo, principalmente depois que uma reunião de ecle- Antes ainda da "Declaração", a Assembléia promulgara que as rega-
siásticos franceses protestara contra a medida do Papa e formulava sua lias se estenderiam a todas as dioceses do Reino.
fidelidade ao Rei. Sim. cinqüenta bispos pediram ao Rei convocasse uma A promulgação dos "Quatro Artigos Galicanos" com força de lei não
Reunião Geral Extraordinária do Clero Francês. Em outubro de 1681, tinha outro significado senão que, dali por diante, seriam propostos em
convocou-se essa Reunião Geral, que em rigor era o Parlamento da Igreja
todas as escolas da França, e que todos os professores e todos os candi-
da França para deliberação de assuntos financeiros.
datos a grau acadêmico em teologia e direito canónico deveriam obrigar-
A Reunião, cujos participantes foram de antemão bem selecionados, se a eles por juramento.
estava totalmente sob a pressão do Rei, assessorado pelo Ministro Colbert; A maioria do Clero Francês aprovou os princípios estabelecidos;
dada a intervenção do Papa no governo da diocese de Pamiers, ela exigiu incerta e vacilante era a atitude dos Jesuítas na Corte. Só os mestres da
uma solene declaração a respeito dos limites da jurisdição papal. Sorbona é que, em grande parte, se atreveram a rejeitar os Artigos.
Bossuet, que por mercê do Rei acabava de ser promovido a bispo de Em Roma, foi grande o alvoroço. Inocêncio XI, em primeiro lugar,
Meaux, considerava-se pessoalmente chamado, sob o peso de sua respon- condenou todas as decisões em torno das regalias. Os "Quatro Artigos"
sabilidade pela Igreja Universal, a esclarecer o próprio Papa, c estava não foram expressamente rejeitados. O Papa esperava mudanças por meio
disposto não só a pronunciar o discurso de abertura da assembléia, mas
5 de negociações. Negou, contudo, sua confirmação a todos os participantes
também a redigir a declaração correspondente.
daquela Assembléia, que o Rei apresentasse como candidatos ao episco-
A cooperação de Bossuet não se processou sem inibições e tergiversa- pado. Condenou também as publicações que defendessem os Artigos. Luís
ções, apesar de não ter êle, por princípio, nenhuma dificuldade. Em sua tomou o procedimento do Papa como quebra da Concordata, e proibiu aos
"Exposition" ("Exposição"), apresentara primeiramente a infalibilidade bispos por êle eleitos que, para o futuro, pedissem confirmação cm Roma.
do Papa e sua jurisdição temporal como assuntos de livre discussão, sobre Eram empossados no cargo, por ordem do Rei, mas não recebiam sagra-
os quais a Igreja teria recusado pronunciar-se; êle não queria contudo levar ção episcopal. Dentro de seis anos, havia 35 dioceses sem bispos sagrados.
a cousa ao extremo, nem comprometer-se a si mesmo. Por fim, a subser-
6
viência diante do Rei superou todas as vacilações. "A Declaração A situação tornava-se cada vez mais confusa, porque justamente
do Clero Galicano sobre a jurisdição eclesiástica", redigida por êle, foi aos naquela época Luís, pela abolição do Edito de Nantes, se ostentava como
19 de março de 1682 unanimemente aceita pela Assembléia, e três dias o maior paladino da fé católica, e também porque a já mencionada ques-
depois promulgada como lei, por determinação régia. tão do boleto livre em Roma deitava, de novo, azeite na fogueira. Sem
embargo, evitou-se de ambos os lados uma ruptura definitiva.
A Declaração continha 4 artigos que, de acordo com a exposição
doutrinária da Sorbona em 1663, não encerravam nenhuma doutrina nova, O Papa procurou, então, influir na consciência do Rei por intermédio
mas adquiriam peculiar importância pelo caráter oficial de sua promulga- dos confessores e do Núncio Apostólico, em vez dc atuar com declarações
ção. Rezavam assim: oficiais. O Rei estava ciente de que seu poder se unia inseparavelmente à
19 Como Pedro só recebeu de Deus um poder espiritual, os reis e profissão de fé católica, aliás bem intencionada de sua parte. De outro
príncipes não estão sujeitos, em assuntos temporais, a nenhuma autori- lado, a Revolução Britânica de 1688 privara o Rei de um valioso aliado, e
302 Capítulo VIII Germes de secularização : realismo absoluto e nova filosofia 303

criara-lhe um novo adversário. Nessa altura dos acontecimentos, o Rei em reclusão claustral até a morte. Na Itália, sua condenação provocou um
não podia pois romper com o Papa. abandono muito generalizado da mística.
O Papa, todavia, fêz saber ao Rei que êle estava incurso nas cen- Antes ainda da condenação, seus escritos e suas teorias já tinham
suras eclesiásticas; lavrara também um breve, em que dava por nula e sem penetrado na França. Propagou-os na Sabóia o padre barnabita Lacombe,
valor a Declaração de 1682. Seu sucessor Alexandre VIII (1689-1691) que logo encontrou uma dócil discípula na jovem viúva de La Motte-
procurou primeiro induzir Luís a que cedesse. Como malograssem todas Guyon (1648-1717), pessoa piedosa, mas exaltada.
as tentativas, mandou promulgar, já no leito de morte, a bula preparada Educada antigamente pelas Visitandinas, ela deixou a educação de
por Inocencio XI, e que êle assinara em 1690. seus filhos entregue a mãos estranhas, a fim de se consagrar totalmente à
A evolução posterior da política, sobretudo a iminente alteração em contemplação, de acordo com as instruções de seu diretor espiritual. Por
torno da sucessão espanhola, fizeram o Rei de França transigir durante o meio de publicações c cânticos piedosos, ela fazia propaganda de seu ideal
pontificado do papa seguinte Inocêncio XII (1691-1700). de espiritualidade. Pleiteava uma quietude em Deus, um amor puro e
Após longas negociações, êle prometeu em 1693 suspender o Edito desinteressado a Deus, sem pensar em prêmio ou castigo, como estado
por causa da execução dos Artigos, e permitiu aos bispos por êle nomea' permanente. Quando, porém, Molinos foi condenado em Roma, o Arce-
dos que pedissem a confirmação pontifícia. Os dezesseis candidatos ao bispo de Paris teve suas desconfianças a respeito da piedosa viúva e de
episcopado que tinham tomado parte na Assembléia de 1682. tiveram con- seu diretor espiritual. Lacombe foi encarcerado, e Madame Guyon esteve
firmação só depois que cada qual lamentou, por escrito, sua participação detida várias vezes. Ela encontrou um nobre defensor na pessoa de Féne-
na Assembléia, e manifestou sua reprovação pessoal dos Artigos. Des- lon, então preceptor de infantes, mais tarde arcebispo.
tarte, as dioceses puderam ser outra vez providas legitimamente. Estava Fénelon (1651-1715), oriundo da alta nobreza rural da França, for-
pois conjurado o perigo de um cisma; não estavam, porém, eliminados os mado espiritualmente por Olier, nos moldes de um tio seu, que era grande
próprios Artigos Galicanos, que só alguns candidatos ao episcopado tiveram apóstolo leigo, recebeu em 1675 a ordenação sacerdotal em São Sulpício.
de retratar. Diretor, por muitos anos, do Instituto de Convertidas em Paris, depois
Apoiada sobretudo pelo Parlamento, a doutrina galicana manteve-se educador do Duque de Borgonha, para alegria de Bossuet, ficou em 1695
em França até o século XIX adentro. Com o triunfal avanço da cultura arcebispo de Cambraia, que administraria de modo exemplar, a partir de
francesa no século XVIII, ela transpôs o Reno, onde se coligaria ao res- 1697, desde seu afastamento da Corte.
sentimento anticurial ali dominante, e se condensaria num episcopalismo, Uma comissão de inquérito, sob a presidência de Bossuet, e da qual
que era em parte muito radical. também fazia parte Noailles, então bispo de Châlons, e mais tarde arce-
bispo e cardeal de Paris, condenou durante a Conferência de Issy (1695),
em trinta proposições, os exageros de Guyon, a qual recebeu a sentença
5. Controvérsia em Torno da Piedade Ideal. com humildade, contestando, apenas, que suas opiniões fossem equipa-
Bossuet e Fénelon radas à doutrina condenada de Molinos, porquanto existiam na França
outras fontes, das quais podiam tirar-se as teorias sobre o amor desinte-
A par do galicanismo, que representava antes uma crise institucional ressado.
da Igreja na França, a vida místico-religiosa propriamente dita passou por No começo do século, o capuchinho Lourenço de Paris ( + 1631),
certas estruturações que inspiravam dúvidas acerca da ortodoxia de seus muito estimado por Francisco de Sales, também escrevera a respeito do
7
promotores, e deixavam em sobressalto os teólogos exponenciais do país. "amor puro e desinteressado". Partindo da mística renano-neerlan-
O descriterioso misticismo, professado pelo espanhol Miguel de Mo- desa, êle quis compendiar todos os exercícios de virtude numa prática
linos (1628-1969), teve em França seus seguidores. Molinos, que desde única do amor, que não procurasse outra cousa senão a glória de Deus, e
logo se tornara procurado diretor espiritual de conventos femininos em se prontificasse até a receber a própria condenação.
Roma, propugnava em seus escritos a Comunhão cotidiana e a atitude Mas Bossuet. inteleetualista, bom conhecedor das tradições dos San-
passiva da alma como ideal de piedade. Nessa perfeita quietude da alma tos Padres, mas não entranhado na mística, publicou uma crítica das obras
diante de Deus, na qual não se manifestaria sequer o desejo da bem-aven- de Molinos e Lacombe, e nela incluiu várias obras de Guyon, chegando
turança, já não haveria atitudes e aspirações pessoais, a alma não pecaria até a conseguir que a mesma fosse encarcerada na Bastilha. Atrás dele
mais, ainda que exteriormente desse a impressão de infringir os Manda- estava a Corte, sobretudo Madame Maintenon, amante de muitos anos e
mentos. então segunda esposa de Luís, convertida do calvinismo, fortemente inte-
Tal quietismo, designação da doutrina, foi logo combatido pelo je- ressada por determinado aspecto da teologia. Bossuet foi mais além. Ela-
suíta Segncri. Em 1687, Inocêncio XI condenou sessenta e oito proposi- borou uma instrução pastoral "Sur les états d'oraison" ("Sobre os estados
ções, tiradas de cartas e conferências do Espanhol. Molinos ficou detido de oração"), e também exigiu que Fénelon concordasse corn e!a, e repro-
304 Capitulo VIH Germes de secularização: realismo absoluto e nova filosofia 305

vasse a doutrina de Guyon. Éste, porém, conhecendo a mística melhor do A obra, que afirmava constar a Igreja só de alguns predestinados, que
que a Biblia (evidentemente, a formação teológica de Bossuet e Fénelon negava o âmbito universal da Redenção de Cristo, e que renovava a dou-
tinha suas lacunas), e encontrando em Catarina de Gênova idéias análo- trina de Jansênio, Quesnel a dedicara ao Bispo de Châlons. Ela teve uma
gas sobre o amor puro, retrucou com a "Explicação das máximas dos introdução encomiástica de Noailles, e foi algum tempo defendida por
Santos sobre a vida interior", em que defendia Madame Guyon c a dou- Bossuet. O livro entusiasmou muitos leitores em França.
trina do amor desinteressado a Deus. O erudito autor, porém, não era desconhecido em Roma. Sua edição
Daí resultou um debate que Bossuet, por assim dizer, sustentava em das obras de Leão Magno, que incluía também o Corpo de Direito Canó-
torno do ato da virtude da esperança, mas que degenerou numa polêmica nico, fora indiciada em 1676 por causa de gaücanismo. Em vista disso, o
entre os dois bispos, na qual Bossuet, apaixonado, nem sempre se valeu Oratoriano abandonara sua comunidade religiosa. Vivia então na Bélgica,
de meios irrepreensíveis. O Bispo de Meaux conseguira, através da Main- onde acolheu dentro de casa o grande Arnauld depois de sua fuga de
tenon indispor o Rei contra seu colega de episcopado em Cambraia. Quan- França.
do Fénelon quis justificar-se em Roma, foi-lhe negada licença de viajar. Simultaneamente com a sensação do livro de Quesnel, a opinião fran-
Em compensação, Bossuet e seus amigos recorreram ao Papa para lhe pe- cesa sofreu também vivo alvoroço por causa do assim chamado "Caso de
direm uma decisão; esse mesmo Bossuet que, alguns anos antes, levara à consciência". Ao responderem a uma consulta, quarenta doutores da Sor-
má parte que dois bispos do Sul da França recorressem a Roma na ques- bona tinham declarado que a obstinação no "silentium obsequiosum" ("si-
tão das regalias. lêncio respeitoso") não impediria a absolvição sacramental no confessio-
Teve a Sorbona de remeter a Roma as proposições "duvidosas" de nário.
Fénelon. Em 1699, não deixando Luís suas instâncias, Inocêncio XII, Como os jansenistas dessem publicidade a tal declaração, pareciam
após longas investigações, declarou escandalosas e arrojadas vinte e três ressuscitar todos os problemas que haviam empolgado Paris meio século
proposições extraídas das obras de Fénelon. Do alto do púlpito, Fénelon antes. Imediatamente se ergueu a oposição, e esta partia sobretudo de Luís
logo se submeteu à decisão de Roma. Guyon continuou ainda vários anos XIV. Por sua instigação, em 1703, o Rei da Espanha mandou prender
encarcerada. Quesnel em Bruxelas e seqüestrar seus numerosos documentos que foram
Estava encerrada a pendência. Com Bossuet, tinham vencido o inte- em parte entregues ao confessor do Rei em Paris.
lectualismo e a acentuação de virtudes refletidas; o ardor da espirituali- Bossuet volveu-se contra a declaração dos teólogos de Paris; o Rei
dade francesa cedera a um tradicionalismo carregado de sentimentos. A extorquiu-lhes uma retratação; por fim, Clemente XI publicou uma bula em
"invasión des mystiques" (Brémond) do século desaparecera, "ao irrom- 1705, a pedido do Rei de França. Que direitos Luís não se arrogava, quão
8
per da escuridão" (L. Cognet). cordialmente não detestava os jansenistas, que de novo comprometiam a
A singela piedade de Fénelon, o meigo fervor do Arcebispo de Cam- unidade religiosa do país, tão arduamente arquitetada, e entre os quais se
braia, aquele cordial humanismo que queria o homem todo para Deus, encontravam os mais decididos adversários de seu absolutismo, manifesta-
não apenas a metade do coração, teve sua ressonada no pictismo germâ- va-o sua exigência que o Papa lhe apresentasse a minuta da bula para
nico de Matias Claudius e seus amigos, de onde por sua vez se implantou exame.
na atitude consciente da Igreja através do romantismo germânico catóiico. A bula de 1705 declarou que o "silêncio respeitoso" não bastava. As
cinco proposições de Jansênio devem ser rejeitadas "de boca e de coração".
Imbuído de galicanismo, o Clero aceitou a bula (o Rei o queria), mas de-
6. Segunda Fase do Conflito com o Jansenismo clarou que seria obrigatória para a Igreja Universal só depois do consen-
timento dos bispos.
Entre os defensores de Fénelon, alinhava-se também o beneditino Ga- De nada adiantou, nesse ponto, a pesada repreensão do Papa. Após
briel Gerberon, famoso maurino, que por causa de suas tendências janse- longas hesitações, as Freiras de Pôrto-Real (Port-Royal) submeteram-se,
nistas se homiziara na Holanda. Poucos anos depois da decisão de Roma, naturalmente com várias restrições por princípio. O Mosteiro foi então
o movimento jansenista deu de novo o que falar de si. Em conseqüência interditado. Depois, a Abadia foi supressa. Por fim, demoliram-se a igreja
dos grandes debates, principalmente em torno das regalias e dos Artigos e o mosteiro. Até os mortos foram despejados de suas carneiras.
Galicanos, êlc recuara para um segundo plano, mas encontrara um aliado Nesse ínterim, Quesnel deu novamente o que falar de si. Evadira-se
justamente no galicanismo, enquanto este fazia restrições à autoridade do cárcere episcopal para a Holanda, e continuava a defender o jansenismo.
doutrinária do Papa. Nesse mesmo sentido é que, em nova edição de sua Depois que alguns bispos franceses individualmente proibiram seu "Novo
obra, publicada havia quase trinta anos, "Réflexions morales" sobre o Testamento", Roma também começou a ocupar-se com êle. O Papa conde-
Novo Testamento, o oratoriano Pascásio Qucsncl declarava, em 1699, que nou a obra em 1708, mas o Parlamento de Paris negou-se a aceitar o breve,
a excomunhão lançada só pelo Papa seria inválida. que Quesnel por sua vez acoimava de inválido. O então arcebispo de Paris,
306 Capítulo VIII Germes de secularização : realismo absoluto e nova filosofia 307

Cardeal Noailles, confuso e indeciso em materia teológica, negou-se a reti- proposições, que êle próprio rejeitaria, foi suspenso em 1702. De regresso
rar, como lhe fora ordenado, sua recomendação de 1695. para a Holanda, fêz sua defesa por carta aberta, sendo então demitido defi-
Na opinião de muitos, a luta contra Quesnel era instigada pelos Jesuí- nitivamente em 1704.
tas, assim como não tinham paradeiro as recíprocas denuncias em Roma,
por causa do sistema moral dos Jesuítas e das doutrinas de Jansênio, res- Mas o novo Pró-Vigário Apostólico, nomeado por Roma, Pedro de
pectivamente. Nessa balbúrdia, Luís XIV exigiu nova bula pontificia que Cock, antigo aluno do Colégio da Propaganda, não conseguiu impor-se.
especificasse e condenasse os erros do livro de Quesnel, evitando, po- Muitos católicos e metade dos trezentos e cinqüenta sacerdotes seculares
rém, todas as formulações que provocassem os melindres galicanos. negaram-lhe obediência. Os Estados Gerais, influenciados por eles (natu-
ralmente, o apelo ao poder civil calviniano não teve apoio em toda a parte),
Após prolongadas negociações na Cúria Romana, durante as quais tornaram-lhe impossível o exercício do ministério. Cock teve que retirar-se.
Quesnel procurou em vão ser ouvido, Clemente XI assinou aos 8 de setem-
9
bro de 1713 a bula "Unigenitus", na qual citava e fulminava com cen- Roma, todavia, não foi de boa mão também na escolha de seu suces-
suras cento e uma proposições, tiradas textualmente das obras de Quesnel, sor. Afinal de contas, não havia na Holanda nenhum detentor da jurisdição
e postas expressamente em conexão com a heresia de Jansênio. episcopal a serviço de forte minoria católica. É preciso não perder de vista
Apesar de certa falta de clareza no documento, por não indicar quais esse abandono religioso, quando se quiser avaliar ao justo a atuação dema-
censuras atingiram cada uma das proposições, a bula "Unigenitus" cons- siadamente autônoma dos Conselhos Vicariais de Utreque (Utrecht) que
titui uma das mais importantes decisões do magistério pontifício. Sem se motivou o lamentável Cisma Holandês no início do próximo período.
estribar em Concílio Ecumênico, c sem levar em conta a pretensão dos ga- A permanência, por muitos anos, de inúmeros diplomatas em Utreque,
licanos, que exigiam consentimento das Igrejas, a bula avocava a si, com a encarregados de negociarem a conclusão da Guerra de Sucessão Espanhola,
maior naturalidade, o direito de decidir, em última instância, sobre a não deixou de influir na ulterior difusão de idéias jansenistas e anti-roma-
interpretação da doutrina de Santo Agostinho, e de não admitir, por con- nas em terras germânicas e itálicas.
seguinte, a autoridade dos decisivos Doutores da Igreja como valor autô-
nomo, mas também de urdi-la no concenso universal da Igreja. A bula não
dirimiu dc uma vez as dissenções. A luta em torno de sua execução per- 7. Novo Modo de Pensar. Renato Descartes
tence, porém, ao próximo período da História da Igreja.
As controvérsias jansenistas conservaram-se até a passagem do século Jansenismo, galicanismo, quietismo, fosse qual fosse o nome de todos
como problema exclusivamente francês. Seus sequazes só se fizeram notar esses movimentos, eles constituíam em primeira plana a história da vida
na Holanda, país contíguo, independente da jurisdição de Luís XIV, e na religiosa na França. Tais correntes, porém, não nos façam perder de vista
prática relativamente mais tolerante para com a minoria católica. Quando, que, atrás delas, e à revelia delas, avultava um novo modo de pensar, uma
pois, o neto de Luís XIV assumiu o poder na Espanha, chefes jansenistas nova atitude mental, que fêz cair a efusiva religiosidade barroca e também
refugiaram-se da zona espanhola para a zona autônoma dos Países-Baixos. o absolutismo gaulês.
Verdade é que, na Holanda, 1 0
era proibido aos católicos o exer- Foi com hesitação, e só em parte, que a França se deixou empolgar e
cício público de religião, e as dioceses se tinham extinguido, mas chegou-se transformar pelo espírito do Tridentino. Um humanismo naturalista, rema-
a uma normalização provisoria, como já vimos anteriormente, pela institui- nescente do ceticismo e do estoicismo do Renascimento, conseguiram sobre-
ção dc Vigários Apostólicos. Os atritos destes e de seus poucos sacerdotes viver e desenvolver importante atuação nas lucubrações do espírito. Isto
seculares com os Jesuítas, chamados como missionários, encheram todo o talvez resultasse da singular simbiose dos católicos com os Huguenctes
século XVII. Comprecndia-sc, portanto, que os Vigários Apostólicos sentis- desse país.
sem certa simpatia pelos jansenistas, adversários dos Jesuítas, a ponto de se Enquanto na Alemanha, territorialmente desagregada, cada território,
tornarem alguns déles membros diretos do movimento jansenista, sobretudo por arbitrariedade do príncipe ou por decisão do Conselho Comunal, pos-
o Vigário Apostólico Pedro Coddc (desde 1688), oratoriano como Quesnel, suía uma só confissão religiosa, e as minorias religiosas não tinham nenhu-
que mantinha estreitas relações com Arnauld, e com seu antigo confrade ma influência, ou se encontravam em fase de extinção, havia em França
de religião conhecido desde Paris. um Estado Reformado dentro do próprio Estado, uma Igreja Hugucnote
Fora êle acusado, em Roma, por causa de seu rigorismo e suas ten- com existência legalizada, com a qual era possível dialogar, dc indivíduo
dências jansenistas, mas o Papa aceitou sua justificação em 1695. Indigitado para indivíduo, numa época não indiferente a assuntos religiosos, e não
novamente pelos Jesuítas por não promulgar a condenação pontifícia de refratária às atividades do espírito, e isto aconteceu por mais de um século.
algumas proposições abraçadas de modo particular na Bélgica, Codde em- Por isso, elementos racionais adquiriam grande importância na discussão.
preendeu a viagem para Roma, que lhe fora imposta sob pena de suspensão. Desde que toda apologia com argumentos racionais ricocheteava no
Como ali se recusasse a reconhecer como doutrina de Jansênio as cinco princípio bíblico dos Reformados, os elementos da Contra-Reforma utiliza-
308 Capitulo VIII Germes de secularização: realismo absoluto e nova filosofia 309

ram também os métodos dos antigos céticos, cujas obras tinham sido reedi- tira sua indubitável certeza do fato de ser. "Je pense, donc je suis" ("Penso,
tadas naquela época. logo existe"). Desse ponto de partida queria êle pôr-se a investigar a rea-
Não se podia pois argumentar que, afirmando os Reformados que a lidade. Nessa altura, cessava, por princípio, a dúvida metódica e o ceticis-
Igreja pode errar, eles adandonariam o próprio critério de fé? Quando os mo ficava desarmado. O homem apreende seu ser como espírito, mediante
Reformados se escudavam na Bíblia, objetava-se-lhes que só pela Bíblia o raciocínio puro; pela imperfeição do raciocínio é encaminhado à perfeição
não saberíamos o que ela enunciava nem o que ela significava e que as de Deus.
doutrinas dos Reformados seriam apenas opiniões duvidosas de Lutero,
A existência nos é inata como idéia. Descartes não pensava ainda em
Calvino, e Zuínglio sobre o sentido da Bíblia.
separar fé e ciência. Sua filosofia devia, antes, confirmar a parte da Reve-
Os Reformados não teriam nenhum critério de sua fé, de onde soubes-
lação, que é acessível à razão: a existência de Deus e a imortalidade da
sem que os Livros do Velho e do Novo Testamentos constituíam a Sagrada
alma. Seu corpo é um cosmos unitário de todo o saber; seu método é o
Escritura. Se o soubessem, por íntima convicção, inspirada pelo Espírito
da matemática rigorosamente analítica, que êle enriquecera com o desco-
Santo, então surgiria o problema em torno da autenticidade de tal convic-
brimento da geometria analítica. Instado por amigos, sobretudo pelo
ção. Como se distinguiria ela da imaginação e do falso entusiasmo? Onde
Cardeal de Bérulle, publicou o "Discours de la méthode" ("Discurso sobre
estaria o critério?
o método") (1637) e as "Meditationes de prima philosophia" ("Medi-
Assim supunham eles lançar os Reformados em visível embaraço, em
tações sobre a filosofia primordial") (1641); mas só encontrou compla-
crise de dúvida. Enquanto não aparecesse nenhum ateísmo declarado, po-
cência, quando não recusa; foi até indiciado por causa de sua doutrina sobre
der-se-ia esperar por essa via a conquista dos Reformados, depois de des-
a transubstanciação. Morreu, como fiel católico, em 1650, aos cinqüenta e
truída toda e qualquer segurança interior.
quatro anos de idade, em Estocolmo, para onde viajara um ano antes, a
Só poucos, porém, atinavam em que tal método, quando aplicado de
fim de dar preleções à rainha Cristina.
modo geral, se diria contra qualquer religião, e que nesse ceticismo impe-
rava forte tendência libertina. Muito genérica era a atitude do ceticismo; A novidade de seu sistema é que a filosofia toma a consciência como
apresentava, como contrapartida, o fideísmo, a exclusiva confiança na Re- ponto de partida. Descartes preparou o caminho para todos os sistemas
velação autenticada pela Igreja. filosóficos do idealismo; naturalmente, levou cada vez mais o pensamento
De Montaigne ( + 1592), que ensinava a incapacidade da razão hu- filosófico, do contacto com o objetivo, a um racionalismo hipererítico. Des-
mana para conhecer verdades metafísicas, e por isso no terreno religioso cartes ainda era realista; êle ligava ainda a autonomia da razão à razão
exigia respeito à fé dos antepassados, para na vida prática seguir um ideal divina, mas os filamentos entre razão e Deus já eram bastante débeis. Des-
estóico de vida, transmitira-se aquela atitude de ceticismo aos seus discí- cartes procurava explanar o realismo por caminhos árduos, quando não
pulos: Cónego Pedro Charron, bispo João Pedro Carnus, secretário e amigo errôneos.
de Francisco de Sales, Cardeal du Perron, alguns Jesuítas e Jansenistas. Descartes teve discípulos proeminentes, e gozava de uma influência
Até na indiferença do "puro amor" de Fénelon pretenderam eles vis- extraordinária. O oratoriano Malebranche tentou, pelo novo método e na
lumbrar um resquício de mentalidade estóica. A conhecida "Histoire criti- base da filosofia do consciente, com o auxílio de idéias agostinianas, esta-
tique du Vieux Testament" ("História crítica do Velho Testamento") de belecer uma filosofia genuinamente cristã. Ela tornou-se tão teocêntrica,
Ricardo Simon (1638-1712), editada em 1678, podia ser interpretada no que todo conhecimento claro e bem definido propriamente se processa em
sentido de que o erudito Oratoriano queria invalidar o recurso dos Refor- Deus, assim como toda atividade é atividade de Deus. Sua filosofia foi
mados à Bíblia, alegando não existir nenhum manuscrito original da Bí- naturalmente impugnada por todos os lados. Os Jesuítas e Arnauld, Fénelon
blia, e que ninguém conhecia a semântica exata da língua hebraica. e Bossuet, sem falar absolutamente dos deístas ingleses, eram concordes em
A grande peripécia do pensamento, desencadeou-a Renato Descartes rejeitá-la.
(Cartesius), discípulo do Colégio La Fleche dos Jesuítas, onde com a edu- Logo, porém, devia comprovar-se como pernicioso, que a nova menta-
cação de cunho humanístico penetrara também o método do ceticismo. As lidade encontrasse adeptos não enquadrados na teologia cristã. Em Amster-
dúvidas que sentia nessa escola, a consciência de sua própria ignorância dão, Baruque Espinoza (1632-1677), que queria tornar-se rabino, mas
levaram o jovem, que mais prezava a sabedoria do que conhecimentos es- fora excluído da comunidade judaica por causa de seu racionalismo, consi-
colares, que sobrepunha o "honnête homme" ("homem de bem") ao douto derava-se discípulo de Descartes.
humanista, a largar de vez o estudo das ciências, e a olhar para o lado prá- Em suas próprias obras, planejara de maneira puramente lógica, "more
tico da vida, através de viagens, nas Cortes, e nos quartéis militares. geométrico" (geometricamente), os fundamentos da filosofia, a visão do
No exército de Tilly, em Neuburgo na Baviera, em 1619, sobreveio-lhe mundo e a ética. O que êle procurava alcançar era uma gnose que confor-
a vivência decisiva. Êle prometera uma romaria a Loreto, se deparasse o masse a vida. Anelava alguma cousa "que lhe proporcionasse para sempre
motivo filosoficamente inabalável para crer. A razão natural, concluiu êle, o gozo de uma alegria perene e suprema". Nessa ânsia do eterno, ilimitado
310 Capitulo VIII Germes de secularização: realismo absoluto e nova filosofia 311

e infinito, manifcstava-sc mais uma vez o sentimento barroco do mundo, mais. inclusive a doutrina do governo do mundo por Deus, é falsificação
mas então já fora do cristianismo. por parte dos sacerdotes. Com a inclusão das obras do Lorde inglês no
Mas, indo além de Descartes, Espinoza ensinava um monismo panteís- índice, não se liqüidou sua perigosa doutrina.
tico. Para êle, existia uma só substância verdadeira, Deus, à qual compete Uma geração mais tarde, os modernos formularam suas opiniões, com
a idéia e a extensão, "Deus sive natura" ("Deus ou natureza"). Nesta or- maior desenvoltura. Depois da "gloriosa Revolução", outorgara-se liber-
dem de idéias, não pode haver nenhum mal absoluto, porque tudo procede dade de consciência e de imprensa, da qual eram excluídos somente os cató-
necessariamente do cosmos infinito. A religião consiste apenas em afeto, e licos. Era então possível publicar impunemente opiniões livres, isto é, di-
o maior dele é o "amor Dei intellectualis" ("amor intelectual a Deus"). A vergentes da religião oficial do Estado.
Bíblia é rejeitada. A esses livres-pensadores pertencia João Locke ( + 1 7 0 4 ) , que voltara
A ressonância de Espinoza em sua época foi destruidora. Leibniz, com para a Inglaterra com Guilherme de Orange. Em seu empenho de garantir
a maior clarividência, percebeu e combateu a proximidade em que o Filó- a autonomia e suficiência do pensamento, êle rejeitara a doutrina das idéias
sofo se mantinha com o ateísmo. inatas. A fim de averiguar o teor da verdade na Revelação, andou à busca
de um critério, e julgou tê-lo encontrado na concordância das verdades re-
ligiosas fundamentais com as doutrinas da metafísica e da ética baseadas
8. Deísmo Inglês na razão. Daí resultou, de sua obra "Racionalidade do cristianismo, confor-
me consta na Bíblia" (1695), que a lei moral cristã coincide com uma parte
Independentes de Descartes, mas quase simultâneos com êle, muitos da moral mosaica, e conseqüentemente com a lei natural. A subordinação à
espíritos de projeção na Inglaterra se desviaram da escolástica, ainda ensina- lei moral cristã garante a salvação. Jesus é o Messias e o mestre da vida
da nas Universidades do país. moral. Rcconhece-se ainda, como complemento da natureza e da razão, a
Enquanto as mudanças de religião exigidas pelo Estado perpassavam Revelação credenciada por milagres. Sua bênção consiste no claro conheci-
todo o século XVI, ocasionando violentas comoções intestinas, os avanços mento das obrigações morais, na restauração do verdadeiro culto divino em
das ciências naturais levaram os filósofos para os caminhos do empirismo, espírito e verdade, e na perspectiva da imortalidade e da recompensa. 0
que sempre foi congenial à índole do povo inglês. A aferição das idéias pelos "deísmo" de Cherbury — nome que se deu à sua religião natural — rece-
fatos tornava-se mais importante do que a argumentação lógica. beu de Locke uma nota rigorosamente ética.
Os primeiros representantes do empirismo no século XVIII não eram
infensos à Revelação. O Lorde-Chanceler Bacon de Verulamo ( + 1626) O avanço ("trend") da avultante hegemonia do empirismo, da cres-
era cristão fiel, mas distinguia nitidamente entre crer e saber. O "reino do cente rejeição do sobrenatural, por parte da Inglaterra, transferiu-se para o
11

homem", que deve melhorar cada vez mais com novas invenções, está período histórico, imediato, como perigosa potencialidade de espírito.
livre de qualquer ligação a Deus. O que Bacon exigia era uma "interpre-
tação da natureza" que partisse de caso para caso, e tivesse por base uma
experiência bem realizada. 9. Sociedade Barroca
Seu programa foi ampliado como sistema pelo seu antigo secretário
Hobbes ( + 1679), que considerava todo o curso da natureza como uma Outra herança fatídica não só do absolutismo gaulês, como também
espécie de mecanismo técnico, como o funcionamento de uma máquina. de todo o barroco, era o desatendimento dos problemas comunitários e
O homem e o Estado enquadram-se em a natureza, onde pouco lugar sobra sociais. Os século XVI e XVII estavam por demais envoltos em mentali-
para a religião e o cristianismo. A interpretação da Bíblia é puramente mo- dade conservadora. Isto era fácil de explicar pela própria atitude que a
ral. Os milagres são explicados como naturais. Igreja tomava, quer de preservação, quer de recuperação.
Mais voltado a problemas religiosos, o Lorde Heriberto of Cherbury A hierarquia medieval de estados ("Stände"), sua distribuição de fun-
( + 1648) tomou como ponto de partida a discórdia religiosa, e quis fundar ções, também dentro da Igreja, parecia ter algo de sagrado, em que nin-
um sistema natural da religião. Certas e obrigatórias para todos, doutrinava guém se atrevia a bolir. Quando uma abadia principesca da Alemanha, cujas
êle, são apenas as verdades que se comprovam racionalmente. Como a natu- vagas ficavam de reserva para fidalgos, não podia ter reforma por causa
reza é a mesma em todos os homens, e a mesma também a razão, podem do exíguo número de conventuais de origem nobre, ou por causa de sua
ser estabelecidos princípios fundamentais, que seriam comuns a todas as deficiente formação monástica, ninguém se animava a postergar os privi-
religiões. légios dc classe, para proceder à admissão de burgueses como monges.
Cherbury enumerava cinco deles: existência de Deus, necessidade de Quando estes eram aceitos, como acontecia em Fulda, constituíam, por
seu culto, dever da virtude e da piedade, horror aos pecados e vontade de assim dizer, um mosteiro marginal com direitos reduzidos nas funções litúr-
emenda, fé numa retribuição nesta e noutra vida. A Revelação dispõe de gicas. Não tinham vez nem voz em capítulo, e com isso não participavam
certeza só na medida em que coincida com estas verdades racionais. Tudo o na direção e administração do mosteiro e da devesa conventual. Malogra-
Capitulo VIII Germes de • secularização: realismo absoluto e nova filosofia 313
312

vam, nes.se particular, todas as tentativas de reforma dos Nuncios Apostóli- Da Inglaterra, seu país, trouxera Maria Ward certa segurança de si
12
cos e de criteriosos abades-príncipes. mesma, o desembaraço com que a mulher de lá se deslocava e falava em
Anteriormente, já tínhamos ponderado como nas dioceses do Império público, uma bossa de autonomia, e também boa dose de pertinácia britâ-
Germânico o rígido princípio nobiliárquico provocava as mais penosas ma- nica, com que reagia contra resistências. Para conseguir suas metas, a co-
nobras diplomáticas e políticas, ocasionando cumulação institucional, quase munidade não queria contentar-se com a aprovação diocesana de casa para
em franca oposição às determinações do Tridentino. No próprio território casa. As companheiras queriam conservar-se juntas; procuravam, por isso,
austríaco, onde os bispos eram comarcões ("landstandisch"), figurando al- ficar independentes dos prelados diocesanos, para terem maior liberdade e
guns bispos burgueses nos piores anos da Reforma Protestante e nas exte- possibilidade de ação; almejavam uma subordinação imediata à Santa Sé
nuantes tarefas da Contra-Reforma (haja vista ao Cardeal Klesl, de Viena), Apostólica, como Ordem Religiosa, dependente de uma Superiora Geral.
já não havia nenhum mitrado burguês por volta de 1700. No fim de Acrescia que elas consideravam o tipo fechado dos conventos femininos de
nossa época, o feudalismo aristocrático já vencera em toda a linha. então como o maior obstáculo para suas atividades apostólicas; por essa
Algo de semelhante aconteceu com a posição da mulher na Igreja. razão recusavam, sistematicamente, a clausura para sua comunidade.
Neste setor, as idéias ainda eram tipicamente medievais. As sugestões que Do reconhecimento como Ordem esperavam, pelo contrário, conseguir
João Vives, humanista espanhol e amigo de Erasmo, dera então em 1523 todas as possibilidades de ação, à semelhança dos Jesuítas, aos quais se
através de sua obra "De institutione feminae christianae" ("Da educação da conformavam, contra a vontade da Companhia, em matéria de regra, esta-
mulher cristã") para a instrução e educação das donzelas, tiveram a im- tutos, estrutura e finalidade, a tal ponto que a comunidade era tomada como
portância de inaugurar uma pedagogia moderna, em bom contato com a ramo feminino da Companhia de Jesus. Seus componentes tinham o apelido
índole e a missão da mulher. de Jesuitinas, e por isso mesmo atraíam contra si todos os adversários da
A obra alcançou umas quarenta edições. Suas idéias, porém, tiveram própria Companhia.
pouca penetração na Igreja Oficial. Além do mais, Vives tivera em vista a Apesar de ter aberto uma escola até em Roma, para dar testemunho
posição da mulher na família. No senso comum da Igreja de então, o lugar de suas atividades, a comunidade não logrou alcançar nenhuma confirmação
da mulher celibatária era unicamente o mosteiro de clausura rigorosa, tão pontifícia, em vista das acusações e calúnias, das dúvidas e desconfianças
grande era a mossa das experiências que se colheram na época da Reforma da Cúria Romana. As Damas viam-se sem meios de defesa contra as infun-
Protestante. Se alguns bispos, levados pelo espírito do humanismo cristão, dadas acusações dos emissários do Clero Inglês, por causa de perturbações
se atreviam a criar outras formas comunitárias para a vida religiosa da e ingerências na cura de almas. Elas caíram no falatório do povo, que aba-
mulher e para seu aproveitamento na Igreja, encontravam em Roma uma nava a cabeça a respeito dessas estranhas senhoras que freqüentavam de
resistência sistemática. traje uniforme as igrejas.
As Irmãs da Visitação de Nossa Senhora (Visitandinas) foram redu- Depois de lutar quase cinco anos pela confirmação, Maria Ward reti-
zidas a freiras enclausuradas, contra a vontade de seu fundador São Fran- rou-se de Roma. Em 1624, a Propaganda exigira a transformação em Or-
cisco de Sales. As Ursulinas, a mais importante comunidade de mulheres na dem de clausura ou a dissolução do Instituto. Fechou-se a escola de Roma.
França*, constituíram-se, por volta de 1600, como Ordem de clausura Como a Superiora fundasse casas em Munique e em Viena, mediante lega-
papal. Vicente de Paulo não ignorava qual sorte teriam suas Irmãs de dos do Príncipe-Eleitor Maximiliano e do Imperador Fernando II, sem se
Caridade, caso procurassem a aprovação pontifícia, e por isso sempre de preocupar com a autorização dos bispos competentes, e forjasse planos
novo lhes desaconselhava que a pedissem. idênticos em Praga, a Propaganda se pôs de novo em movimento e por inter-
Conforme já aludimos de passagem, sumamente trágicas foram as vicis- médio dos Núncios Apostólicos mandou fechar, administrativamente, todas
situdes por que passaram as Damas Inglesas e sua fundadora Maria Ward. essas casas.
Em 1606, a jovem Inglesa entrara no Convento de Clarissas em Santo Al- Contra a ameaça de se fecharem as casas na Bélgica, Maria Ward
domaro (Saint-Omer), mas logo reconheceu que sua vocação era colabo- enviou para lá uma de suas mais fiéis companheiras como visitadora. As
rar diretamente na salvação das almas. Entusiasmou-se pelo heróico enga- casas, porém, já estavam fechadas, quando Maria Ward ali chegou. Resta-
jamento dos Jesuítas na Inglaterra, e com algumas amigas, suas compatrio- beleceu então a comunidade, incitou seus integrantes a renovarem os votos
tas, fundou em 1609 uma agremiação religiosa nos moldes da Companhia religiosos. Em conseqüência desse fato, todo o Instituto foi extinto por uma
de Jesus. bula de Urbano VIII em 1631, e a própria Maria Ward foi levada presa ao
Depois que sua atividade se tornara quase impossível, na Inglaterra Convento das Clarissas em Munique. Depois de sua libertação, voltou para
ela fundou casa em Lieja, Colônia, e Tréveros. Mediante instrução e educa- Roma e para a Inglaterra, onde com tolerância eclesiástica continuou a
ção, queria ela promover a formação consciente católica da mulher, apoiar trabalhar pela juventude até a morte em 1645.
a cura de almas em sua pátria, e colaborar nas grandes tarefas missionárias Em 1680, o Bispo de Augsburgo reconheceu o Instituto em Augs-
da Igreja. burgo. Imitara-lhe o exemplo os Bispos de Frísinga e Salisburgo. Por volta
N o v a História III — 21
314 Capitulo VIH Germes de secularização: realismo absoluto e nova filosofia 315

de 1700, a direção generalícia pôde transferir-se para Munique. Em 1703, tornar mais toleráveis, as piores situações de miséria. A assistência aos
a Regra alcançou até a confirmação pontifícia. doentes que a Companhia de Jesus, a exemplo do Fundador, principal-
O espírito de cristã autonomia dessa "mulher inigualável, que a Ingla- mente em casos epidêmicos, exigia de todos os noviços, também dos mais
terra dera à Igreja em suas horas mais sangrentas" (Pio X I I ) , conjugado bem-nascidos entre eles, não era intencionada só como ato de humilhação
com inabalável fidelidade à Igreja, abriu caminho para as Congregações pessoal, mas como obrigação de atenuar a miséria dos doentes abando-
Femininas de governo centralizado, e criou uma justa norma de vida para a nados.
mobilização apostólica da mulher na Igreja da Idade Moderna. O jovem marquês Luís de Gonzaga, que na assistência aos pestosos
contraíra o germe de morte, encontrou nisso a pedra-dc-toque para seu
heroísmo. Alguns decênios mais tarde, seu confrade castelhano Pedro
10. Problemas Sociais e Caridade Claver começou, na Colômbia, seus quarenta anos de trabalhos na cura de
almas entre os escravos negros traficados, procurando suavizar, quando
O absolutismo também não lobrigou os problemas sociais propria- podia, sua sorte desumana. Um Vicente de Paulo consumia-se na assistência
mente ditos. Na Espanha de Filipe II só havia dois estados que ainda goza- religiosa dos desprezados homens do campo e dos condenados às galeras.
vam de consideração: o do soldado e do sacerdote. Trabalho manual de João Batista de la Salle, cónego de Remos (Reims), fundou em
qualquer espécie, no campo ou na oficina, era votado ao menosprezo. Fi- 1684 a Congregação dos Irmãos das Escolas Cristãs. Nascido de família
cava para os mouros batizados. As terras tornavam-se safaras, porquanto nobre, desde moço se deixou conquistar pelo seu diretor espiritual para a
só servos de gleba e escravos as trabalhavam. Algumas poucas famílias fi- tarefa da educação da juventude. Fundou a primeira escola gratuita para
dalgas tomaram posse de terras, cuja extensão equivalia à metade de um meninos. Recebeu cm casa alguns professores, destinados a tais escolas.
reino. Depois, renunciou a seus benefícios eclesiásticos, ligou-se a esses profes-
Em França, os estadistas não aspiravam a outra cousa senão à dilata- sores para constituir a Sociedade dos "Irmãos das Escolas Cristãs'.
ção da área nacional, por meio de contínuas guerras, e ao esplendor da Nessas escolas, lecionou-se pela primeira vez na língua materna, pela
Corte, que pela cultura humanista ofuscasse Roma barroca. Na Corte, não primeira vez em classes formadas, pela primeira vez se procurou reunir
havia nenhuma compreensão para a miséria do homem da ralé. Nem os aprendizes para um curso profissional, e pela primeira vez se levou a cabo
famosos pregadores da Corte, durante o reinado de Luís XIV, quase nunca a formação sistemática de professores através do curso normalista.
sensibilizaram a responsabilidade social de seus ouvintes, por mais correta-
mente que o jesuíta Bourdaloue, em dezoito anos de púlpito, apresentasse Na Alemanha, a situação estava mais desafogada no século XVII. Para
aos cortesãos o dever de vida cristã, nem por mais prolixamente que o compensar as enormes perdas de homens na Guerra dos Trinta Anos, ela
oratoriano' Massignon tratasse das verdades eternas diante do Rei, em recebeu colonos do Tirol e da Suíça, e refugiados de religião da França,
seus sermões do Advento e da Quaresma. Sabóia, Boêmia, e Hungria, aos quais facilitou a radicalização por meio de
privilégios e isenções de tributos. As corporações mitigaram suas rígidas
Não gozavam de grande influência algumas personalidades, que viam
cláusulas medievais. Amplas fundações possibilitaram o acesso aos estudos
a situação de olhos abertos e com coração sensível. Em seu "De rege et
universitários a jovens talentosos das classes simples entre o povo. Já não
regis institutione" ("Espelho dos Príncipes" 1599), o jesuíta espanhol João
era muito raro haver fundações e deixas testamentárias de cónegos, em que
de Mariana advertia ao Rei a obrigação que lhe cabia de acudir aos
se podiam criar vinte a trinta bolsas de estudos. Quase a quarta parte dos
lavradores, de mitigar as diferenças sociais entre podres de ricos e mortos de
estudantes de Ingolstádio provinha de classes menos favorecidas.
fome, de tributar o luxo e não os mantimentos; êle intimava até os eclesiás-
ticos a determinarem parte de suas rendas para finalidades sociais. Os pregadores barrocos falavam muitas vezes do direito à livre esco-
Um século mais tarde, Fénelon estabeleceu claramente o primado do lha de vocação. O soberano territorial, que no mais procedia com tanto
social sobre a política. Em forma mais velada, mas insofismável, êle vol- absolutismo, sentia ainda responsabilidade de pai pelos "súditos, seus fi-
via-se no "Télémaque" ("Telêmaco") contra o despotismo de um Luís XIV, lhos", ao menos no seu modo de falar e nas cerimônias e "preito e me-
a quem declarou, em famosa carta, que uma guerra injusta não se tornaria nagem". Este era sobretudo o caso dos prelados imperiais da Suébia, oriun-
menos injusta, quando desse bom resultado, e que não importava terminar dos, por sua vez, quase que exclusivamente dos meios burgueses-artesanais
uma guerra com vitória no exterior, mas antes de tudo dar pão aos famin- de pequenas cidades, ou também dos meios provincianos rurais.
13
tos no interior do país. Mas o "Télémaque" foi exautorado, sob Luís Devemos, todavia, dar de barato que naquela época se não apregoava
XIV, que mandou empastelar a composição tipográfica. nenhuma doutrina social católica. Na prática, porém, de acordo com um
Ficava a encargo da iniciativa particular, por parte da consciência decreto de Filipe II cm 1593, a norma seria um jornal de oito horas, e as
cristã, não transformar as situações sociais no sentido cristão, porque para horas dc serviços seriam distribuídas de tal forma, conforme a canícula,
14

tanto era demasiadamente fraca, mas atenuar pela atuação da caridade, e que se preservasse vida e saúde.
316 Capítulo VIU Germes de secularização: realismo absoluto e nova filosofia 317

A escravidão dos índios foi abolida também no Brasil. Entretanto, a Quando o obelisco foi chantado no centro da Praça de São Pedro,
resistência dos colonos fazia com que muitos pontos da lei figurassem apenas reuniram-se todos os elementos que Roma tinha dc mais representativos,
no papel. O fracasso da época foi total no que concerne à questão em cardeais c príncipes, como espectadores na Praça de São Pedro. No meio do
torno das centenas de milhares de escravos africanos. trabalho, o relógio bateu doze horas. Imediatamente, interromperam-se
Nem sequer os problemas sociais, elaborados por Hobbes e Locke, todos os serviços, para que os operários tomassem sua refeição com toda
produziram alguma alteração na estrutura social; seus efeitos só se fizeram a tranqüilidade. A ilustre assistência teve de esperar serenamente, até que
sentir um século mais tarde. os operários retornassem aos cabos de roldana.
Justamente na Inglaterra puritana, onde o absolutismo de caráter Quando as obras na Igreja de São Pedro não podiam interromper-se
monárquico ou parlamentar não pôde prevalecer contra a resistência de até na quadra ardente de verão, armava-se um toldo de pano por sobre a
possantes forças morais, onde os lavradores se tornaram parceiros, e os gigantesca área de construção, a fim de proteger os trabalhadores contra a
artesãos jornaleiros mal assalariados, a questão social não era tida como canícula. Todas as vezes que terminasse uma parte da obra, organizava-se
problema, apesar das enormes modificações na situação de propriedades, uma "allegrczza", um convescote com música, para todos os participan-
15
que a Reforma Protestante acarretara consigo. tes. Uma "allegrezza", festa, na qual "a caridade rejubila" (Crisósto-
A pobreza foi permitida por Deus, declarou Ricardo Baxter em 1687, mo), era a máxima expressão de que a Igreja se recuperara de uma crise
porque tantos homens sucumbiriam às seduções da opulência. Na riqueza, mortal.
porém, se manifestariam perseverança e predestinação. Desemprego teria
sua única explicação na preguiça, não em causas de natureza econômica;
por isso não haveria obrigações de cuidar dos desempregados. Muitas
vezes, a ética profissional puritana fica à curta distância do crasso egoísmo.
Um olhar, ainda, para a Itália e a Cidade Eterna, onde também se
não conhecia por então nenhuma doutrina social, mas onde desde a Res-
tauração do século XVI havia, sob a forma de caridade, uma prática social
que os Papas aprovavam e apoiavam. Assistência aos doentes, até aos pes-
tosos, era objeto de voto peculiar da Congregação fundada em 1582 por
São Camilo de Lellis. Em 1583, São João Lcornardo fundou em Lucca sua
Congregação de Clérigos para instrução dc crianças. Dez anos mais tarde,
aproximadamente, o fidalgo aragonês São José de Calazans apiedou-se, em
Roma, das crianças abandonadas de famílias pobres, que cresciam sem ins-
trução escolar. Reuniu então amigos, os "Clérigos Regulares das Escolas
Pias", os Piaristas, que em suas escolas davam aulas gratuitas. Apesar de
grandes dificuldades, por parte da Cúria Romana, sua obra divulgou-se,
mesmo durante a Guerra dos Trinta Anos, até a Morávia, Polônia e Hun-
gria. Príncipes da Igreja, zelosos pela reforma, colocaram-na a serviço da
recatolização das ignorantes massas populares. A Congregação não tardou
em incluir a Escola Superior dentro de suas atividades.
Diversa era a atitude pessoal dos Papas, alguns dos quais descendiam
das camadas mais pobres do povo. Enquanto Urbano VIII era muito mal-
quisto do povo por causa das pesadas exações de tributos, Sisto V se tornou
benemérito da população rural, libertando a Campanha da praga dos sal-
teadores, e" drenando os Charcos Pontínicos; Inocêncio XI, por seu lado,
deixou especial recordação de sua beneficência.
Como mecenas e contrutores, os Papas criaram abundantes possibili-
dades de trabalho. Sob este aspecto, a construção da Igreja de São Pedro
deve sobretudo ser encarada como empreendimento de caráter social. A
respeito do ambiente de trabalho, em sentido literal e figurado, que ali rei-
nava, chegaram até nós alguns pormenores interessantes.
As Igrejas Calcedonias no 1/npério Otomano 319

Vermelho. Desde então, o Sultão otomano usou, como soberano em Meca


e Jerusalém, o título de Califa, vago desde a conquista de Granada (1492),
isto é, o último dos chefes soberanos do islamismo.
Em 1522, os Cavaleiros Joanitas perderam Rodes, último apoio militar
CAPITULO IX no Oriente, a favor de Solimão II. Ainda o domínio de Solimão II, os Tur-
cos avançaram em direção norte, conquistaram grande parte da Hungria e
da Croácia, colocaram debaixo de seu domínio a Transilvânia e a região
A S IGREJAS CALCEDONIAS de Moldávia. A Valáquia, parte sul da atual Romênia, já se tornara país
vassalo da Turquia no governo de Maomé II.
NO IMPERIO OTOMANO, POR C A . BOUMAN
De lá, os Turcos ameaçaram por mais de um século a Europa Central.
Só no Tratado de Paz de Carlowitz em 1699 é que os Turcos foram obriga-
dos a entregar aos Habsburgos a maior parte desses territórios. Em 1571,
Em 29 de maio de 1453, Maomé II conseguiu penetrar, por uma bre- ano da batalha naval de Lcpanto, os Turcos conquistaram Chipre, possessão
cha, na muralha de Constantinopla, e conquistar a cidade. Isto significava veneziana desde 1489; em 1669, caiu em poder deles a ilha de Creta, igual-
o fim do Império Romano Oriental, muito embora os cristãos, depois dessa mente possessão de Veneza. Depois dessa época, só ficaram ainda sob a
época, ainda se chamassem "romeus" ("romanos") no Império Otomano. soberania de Veneza uma faixa ao longo do litoral dálmata com Zara e
O imperador Constantino XI encontrou a morte no último, desespe- Espálato (Zadar e Split), e mais para o sul algumas Ilhas Jónicas, sendo
rado, mas heróico combate junto à Porta de São Romano. O Sultão caval- Corfü (Corcira) a mais importante delas.
gou em seu corcel branco até a "Hagia Sophia" ("Santa Sofia"), onde na Até o fim do século XVIII, nesses pequenos restos do grupo latino de
manhã daquele dia nefasto se celebrara a liturgia pela derradeira vez, em principados e colônias, se conservou a estrutura greco-latina, naturalmente
presença do Imperador e de seu Estado Maior, tanto grego como latino. com preponderância do elemento latino, conforme a mesma se formara,
Originou-se, mais tarde, a lenda de que Maomé teria chegado à grande ao tempo das Cruzadas, na maior parte das regiões.
igreja, justamente quando as oblatas sacrificiais eram levadas para o altar.
Então, a parede da abside ter-se-ia aberto por alguns instantes, de modo
que a procissão com as sagradas oferendas pudesse passar. Um dia, assim
2. Patriarca Genádio II [Jorge] Escolário
se contava, o Clero sairia de novo da parede, a fim de terminar a cerimônia
assim interrompida. 1 I
A lenda conservada entre o povo não menciona o fato de que, nos últi-
mos meses antes da conquista da cidade, os cultos divinos da "Hagia So- Por desejo de Maomé II, já no começo de janeiro de 1454, alguns bis-
phia" só eram freqüentados pela minoria dos clérigos seculares, e pelos pos, sacerdotes e leigos elegeram um novo patriarca. O Sultão tinha pois
oficiais e funcionários que tinham seguido o Imperador na união com Ro- a intenção de induzir os fugitivos a retornarem à despovoada cidade de
ma, promulgada na "Hagia Sophia" só em dezembro de 1452. Constantinopla, que então se chamava Istambul ou Stambul na língua grega
vulgar.
A escolha, para a qual a sugestão ou o desejo de Maomé devem ter
1. Queda de Constantinopla e Ulterior Consolidação influído decisivamente, recaiu no monge Genádio Escolário. Como leigo
do Império Otomano (então ainda com o nome de Jorge), êle assistira pelo menos em parte ao
Concílio Unionista, onde fazia parte da ala favorável à união.
Por mais importantes que fossem, os acontecimentos de 1453 consti- Depois de seu retorno a Constantinopla, êle começou todavia a dar,
tuíram apenas um episódio na história do Império Otomano. Já no governo em seus escritos, uma tonalidade diferente. Aos poucos, seu modo de ver
de Maomé II ( + 1481), foram conquistados a Hélade atual, o resto do mudou a tal ponto, que na morte de Marcos Eugênicos (1445) êle sc tor-
Império Grego de Trebizonda, e a maior parte dos Balcãs. Depois da morte nou chefe dos antiunionistas. Entre seus escritos polêmicos, anteriores e
de Scanderbeg (Jorge Castriota), Janízaro reconvertido ao cristianismo, posteriores, que aliás constituíam uma parcela de sua volumosa obra, exis-
que desde 1443 chefiara a resistência de seus compatriotas contra os Turcos tiam diferenças tão fora do comum, que até o século passado se admitia
invasores, a Albânia foi conquistada em 1468. a existência de vários autores com o mesmo nome. Genádio II Escolário é,
no Oriente Ortodoxo, o derradeiro escritor eclesiástico da época bizantina.
Pela expedição de 1516-1517, Selim I incorporou a seu reino a Síria
No primeiro século depois de sua morte, quase já não sc podia afirmar que
e o Egito; a seguir, subjugou facilmente as regiões árabes ao longo do Mar
houvesse ciência eclesiológica no centro propriamente dito do Patriarcado.
[318]
320 Capitulo IX As Igrejas Calcedonias no I/npério Otomano 321

3. O Patriarca Ecumênico no Império Turco abstinha dc ingerência direta nos problemas puramente religiosos dos "in-
fiéis", por menoscabo dc tudo quanto divergisse do modo de pensar e viver
Em teoria, as relações entre o novo Governo e a hierarquia dos cris- dos moslins. Tal desprezo era, incomparavelmente, muito maior do que a
tãos ("rajás") eram determinadas pelos princípios de tolerância. Antes ainda tolerância. Até o século XVII adentro, um fanatismo religioso de ampla
dessa época, tais princípios faziam parte da tradição, embora nem sempre atuação induzia, de vez em quando, os Turcos a uma crudelíssima repres-
da prática, que a política governamental maometana mantinha para com os são dos cristãos.
"biblistas" ("detcntores-da-Bíblia"): os cristãos e os judeus monoteístas. Além disso, a tolerância dos Turcos revelava alguns sintomas que se
O tino político de Maomé II e a influência pessoal de Genádio, com reduziam à indolência característica da administração otomana: tanto ao
quem o Sultão, amante das letras, gostaria dc dialogar sobre temas teoló- fato de que para funções de responsabüidadc (nunca, todavia, na adminis-
gicos e filosóficos, terão sido os fatores determinantes de tal tolerância. tração central) preferiam tomar gregos cristãos enérgicos, como também à
Como fazia em regiões já oíomanizadas, o Sultão deixou intacta também circunstância de lhes parecer muito mais cômodo o processo dc recolher os
aqui a estrutura eclesiástica. tributos dos cristãos, por meio de uma autoridade que estes acatavam, e que
Ainda que, pelo Alcorão, só os moslins fossem cidadãos de plenos a Sublime Porta fiscalizava.
direitos, os cristãos podiam ainda celebrar livremente seus cultos divinos. Na prática, as improvisações da administração otomana eram para os
Eram mais ou menos autônomos; em assuntos civis, ficavam sob a juris- "infiéis" uma torturante humilhação. Muitas vezes, a arbitrária interpretação
dição de seus chefes religiosos. Não se classificavam por nacionalidade, mas de uma postura dava aos funcionários otomanos pretexto para verdadeiras
por confissão religiosa, de sorte que o Patriarca dc Constantinopla, depois da perseguições.
investidura pelo próprio Sultão, desde 1656 pelo Grão-Vizir, era juridica- No correr do século XVIII, enfraquecendo o poder militar otomano, e
mente etnarca de todos os ortodoxos no Império Otomano (depois de dependendo a Sublime Porta de atividades diplomáticas, começaram final-
1516-1517, também dos ortodoxos nos Patriarcados Melquitas). mente a tomar atitudes mais brandas. Antes dessa época, representantes das
Posto que desde o século XVIII existissem no Oriente Próximo pre- potências ocidentais, sobretudo a França, tinham-se empenhado a favor dos
lados "uniatas" de rito bizantino, eles não poderiam muitas vezes prescin- cristãos no Oriente, pela conclusão de tratados. Com Pedro, o Grande, co-
dir dos bons ofícios do Patriarca Ecumênico. Como chefe civil e religioso, meçou o período do protetorado russo (justamente como o pretetorado
o Patriarca era o único que tinha audiência junto ao Sultão, e que podia francês, não livre de segundas intenções), que se destinava aos ortodoxos
apresentar-lhe petições. Assessorado pelo seu Sínodo (até 1763, este cons- de modo particular.
tava de eclesiásticos e leigos dos arredores, com os títulos de "offikia", con- Dc resto, os direitos dos cristãos, bem especificados no "Hatti Hu-
servados desde a era bizantina; em nosso período, eram mais raramente os magium", impostos pelos representantes da França e da Inglaterra depois
"Sínodos Extraordinários" dos hierarcas por acaso presentes em Constanti- da Guerra da Criméia, deveriam em parte continuar letra morta. Enquanto
nopla), o Patriarca tinha plena jurisdição sobre o Clero, os monges, e as legislação e Alcorão continuassem intimamente correlacionados, não se
instituições eclesiásticas. Só com seu consentimento podia um clérigo ser ci- podia falar, por princípio, de uma igualdade de direitos no Império Oto-
tado no foro civil. O Patriarca era supremo juiz na alçada civil de causas ma- mano.
trimoniais, enquanto estas se referiam a cristãos; podia dar sentença decisiva
em todas as causas cíveis que lhe fossem propostas por cristãos. O Patriarca 4. Séculos de Opressão
e o Clero estavam isentos do tributo de capitação, que todos os cidadãos cris-
tãos tinham que pagar regularmente. Era também privilégio dos hierarcas Os períodos da mais dura opressão pertencem ao século XVI. Selim
que somente o Divã, suprema instância jurídica do Estado Otomano, podia
I (1512-1520), por instigação do Mufti, tinha manifesta intenção de proibir
julgá-los.
sem mais a religião cristã, e de mandar matar todos os cristãos que se re-
No Império Otomano, o Patriarca tinha por princípio maiores atri- cusassem abraçar o maometismo. O patriarca Jeremias I conseguiu conjurar
buições, do que no tempo dos Imperadores Bizantinos. Até depois da o perigo, estribando-se nas solenes declarações de Maomé II. O Sultão,
Guerra da Criméia, o Patriarca, seus bispos sufragáneos e os sacerdotes todavia, instou que todas as igrejas de Istambul ainda freqüentadas por
eram dirigentes do povo também em assuntos civis. Mais tarde, o Clero cristãos se transformassem em mesquitas; quando quisessem construir novas
assumiria a direção das rebeliões contra os Turcos, como se fosse a cousa igrejas, os cristãos deveriam usar madeira como material.
mais natural, e os Patriarcas tiveram, conseqüentemente, de arcar com as As igrejas maiores da cidade, em primeiro lugar a "Hagia Sophia",
responsabilidades. ainda sob governo de Maomé II, ao avesso de suas próprias determinações,
A teoria da tolerância não implicava, de modo algum, que a Sublime foram execradas e transformadas em mesquitas. A Basílica dos Apóstolos,
Porta abrisse mão, em qualquer ponto, de sua soberania sobre os cristãos. com os mausoléus de Constantino e de muitos imperadores posteriores, fora
Muitas vezes, a tolerância não significava pouco mais que o Governo se demolida em 1462.
322 Capitulo IX As Igrejas Calcedonias no lpipério Otomano 323

Os cristãos souberam, evidentemente, frustrar a total execução do de- tantes dessas regiões conservaram-se criptocristãos através de muitas gera-
creto de Selim I, pois em 1577 o sultão Murad III tornou a determinar que ções.
todas as igrejas da capital fossem transformadas em mesquitas. Só contra o Constitui caso insulado a islamização em massa da região dentro e
pagamento de enorme soma pecuniária (alvitre usual, que restava aos cris- em redor da Bosnia, por conseguinte da hodierna Iugoslávia Meridional.
tãos, quando pretendessem o reconhecimento de algum dignitário eclesiás-
Já estava consumada nos fins do século XV. Esses moslemitas, como o
tico ou a concessão de algum alvará), puderam os cristãos conservar algu-
mas igrejas. Sob o governo de Maomé III (1595-1603), chegou a vez das sabemos hoje em dia, eram em geral antigos bogomilos. Enquanto obri-
igrejas cm Quios, mas então interveio o Embaixador da França. gados, submetiam-se só exteriormente ao regime da Igreja Ortodoxa. O
fato de se tornarem moslins fanatizados seria prova de quanto sua menta-
Quão insegura não era a situação na capital, provavam-no, da maneira lidade se afinava com as idéias de seus conquistadores.
mais concludente, as contínuas mudanças do Patriarcado. Depois da des- Em virtude do inquebrantável princípio de que a ninguém era per-
truição da cidade, a sede patriarcal foi transferida repetidas vezes. Só em
mitido passar do islamismo para o cristianismo, os cristãos viviam sob a
1603 encontrou lugar permanente junto à Igreja de São Jorge, no arrabalde
do Fanarião, na parte noroeste da cidade, que já era bairro dos gregos na- constante ameaça dc perseguição. O maometano que se fizesse batizar, o
quela época. Daí o nome de "Fanar", com que dali por diante se designou sacerdote que o batizasse, o moslemita que retornasse à sua antiga reli-
o próprio Patriarcado. gião, qualquer pessoa que quisesse induzir um maometano ao cristianismo:
incorriam cm sentença de morte, da qual só podiam escapar pela abjuração
Na primeira metade do século XIV, moslemitas formaram o corpo de do cristianismo.
Janízaros, que durante séculos fizeram o papel de "pretorianos" do Estado Até a época do santo monge Paulo Panajotis (1818), antes pois que
Otomano. Por várias vezes depuseram o sultão, e instituíram novo soberano
se falasse de uma guerra de libertação, muitos cristãos perderam a vida
de sua escolha. Logo se consolidou a praxe de suprir os claros da corpora-
ção com soldados de formação apropriada. Por via de regra, eram homens no Império Otomano, por algum dos motivos acima alegados, unicamente
raptados em crianças a seus pais, e obrigados então a passar ao islamismo. por causa da fé. Muitos desses "neomártires" foram canonizados. São
Cristãos abastados conseguiram muitas vezes resgatar seus filhos, de sorte comemorados, todos os anos, no Santoral Comum Greco-Ortodoxo ou em
que o ônus revoltante de tal conscrição recaía com todo o peso sobre os celebrações regionais.
pobres. Por isso, nas regiões litorâneas, os cristãos procuravam abrigar seus
filhos com segurança em terras ultramarinas. Só pelos meados do século 5. Eleição dos Patriarcas
XVII teve fim o rapto sistemático de crianças.
Até 1763, o Patriarca era eleito pelo já mencionado sínodo de Digni-
A despeito de multissecular humilhação e opressão, os cristãos do tários, que constituíam a Corte Patriarcal. Por princípio, a eleição era
Império Otomano conservaram-se fiéis à sua religião. Não bastava, para livre, mas se fazia mister o alvará da Sublime Porta, de sorte que natural-
explicá-lo, que em virtude de sua segregação social tivessem conservado mente não entraria em conta o candidato que lhe não fosse pessoa grada.
mais facilmente suas próprias tradições, inclusive as religiosas.
Este era mais um motivo por que desde Gcnádio II já se não podia
Eleições eclesiásticas ensejavam freqüentemente intrigas escandalosas; falar dc patriarca que simpatizasse manifestamente com a União. Na prá-
antigos atritos entre ortodoxos não-gregos e gregos provocavam repetidas tica, essa liberdade de eleição sempre ficava mal amparada. Vários Pa-
tensões; gregos atilados e ricos mercadores continuavam na condição de triarcas foram mortos ou mutilados pelos Turcos, fosse em razão de sus-
hilotas, mesmo quando seus préstimos eram utilizados regularmente, se eles peições, fosse apenas por terem cumprido seus deveres pastorais.
não dessem o passo decisivo e se não bandeassem para o maometismo. Sob o governo de Maomé II, que com todas as aptidões deixava de
Apostasias da fé, com o intuito de galgar classe social mais elevada, ser humano (praticamente, tornara-se regra mandasse o sultão eliminar
ocorriam sem dúvida alguma. Os arquitetos das primeiras mesquitas em irmãos ou filhos que constituíssem eventual ameaça para sua dominação),
Istambul eram antigos cristãos. Em casos de moslemitas galgarem altas foi morto Isidoro II, sucessor de Genádio, porque segundo as leis canó-
posições, até o grão-vizirato, tratava-se mais freqüentemente de oficiais nicas não queria reconhecer o casamento de um magnata muçulmano com
ou de escravos, raptados aos pais em sua juventude.
uma donzela cristã. Acontecia, regularmente, que o Patriarca fosse de-
Povoações maometanas que figuram no mapa contemporâneo são posto ou obrigado a renunciar, sem ter incorrido na indignação da Sublime
fruto de batidas programadas que forçavam os cristãos a apostatar, por meio Porta, o que aliás podia facilmente acontecer.
de estragemas ou de raptos cm massa de crianças: metade da Albânia, Bastava o faio de que uma facção ortodoxa, pela promessa de con-
partes da Macedónia, da Bulgária e de Creta, sobretudo o interior da tribuições mais elevadas c de "donativos", quisesse forçar a deposição do
Ásia Menor, onde até a Primeira Guerra Mundial quedavam ao longo da Patriarca c a eleição de seu próprio candidato; ou também que a alta
costa ocidental as concentrações de ortodoxos, e ao levante das diversas
autoridade e os muitos funcionários, dignos aliás de atenção em todas as
dioceses armênias, já dizimadas nos anos de 1895 c 1896. Muitos habi-
eleições, gostassem de empalmar gratificações.
324 Capítulo IX As Igrejas Calcedonias no Ipipério Otomano 325

No governo de Maomé II, consignaram-se também os primeiros casos 6. Crescentes Atritos Entre Eslavos e Gregos
cm que o patriarca em exercício fosse assim substituído por um sucessor,
cujos partidários dispunham de relações mais influentes e de dinheiros Pelo fim do século XVII, surgiram dentro da própria Igreja Orto-
mais abundantes. Simeão I seria quem iniciou essa maneira de tornar-se doxa novas tensões, que vinham tornar mais complexa uma situação já de
patriarca. per si bastante difícil. Os Turcos, que desempenhavam um papel cada vez
Não seria cabível, porém, caracterizar os primeiros séculos da histó- mais importante na diplomacia internacional, tomavam para esse fim, mais
ria do Patriarcado Ecumênico, sob a dominação turca, como uma cadeia do que dantes, os bons serviços dos gregos cristãos.
dc intrigas, nem como época de progressiva decadência, conforme fontes Apesar dos impostos mais elevados e de outras chicanas, que tinham
católicas mais antigas costumavam apresentar tais fatos e outros seme- de aturar continuamente, as escolas gregas gozavam de muito maior pres-
lhantes. tígio do que as turcas, pois de longe as excediam em superioridade. Os
Em situações extremamente difíceis, muitos Patriarcas foram dedi- negociantes gregos conseguiam ampliar cada vez mais seus empreendi-
cados e competentes pastores do povo cristão, c contribuíram para que se mentos. Elementos de aristocracia grega, que sempre de novo se distin-
conservassem fielmente as tradições ortodoxas. Foi, todavia, de efeito su- guiam, eram colocados como voivodas, respectivamente como hospodares
mamente pernicioso que, por várias circunstâncias, cada pontificado tivesse no governo dos estados vassalos turcos da Valáquia e da Moldávia, natu-
curta duração. Entre 1453 e a metade do século XVIII, houve mais de 110 ralmente contra pagamento de altas somas pecuniárias, mas sempre em
eleições. O total de Patriarcas nesse período ultrapassa só de pouco a virtude da confiança que a Sublime Porta neles depositava. De modo aná-
metade do número de eleições. Vários deles foram eleitos segunda vez, logo, muitas sedes episcopais, entre cristãos eslavos e romenos, eram pro-
depois de um interstício (o que, antes desse período, já acontecera excep- vidas por gregos.
cionalmente, desde o século XIII), e até com maior freqüência, chegando
até a seis vezes. Isso teve por conseqüência uma tentativa de remodelar, pelo tipo
grego, a vida eclesiástica e cultural. Ora, tal tentativa perturbou, até nossos
De acordo com a infinidade de prescrições e com a arbitrariedade dias, as boas relações entre os ortodoxos não-gregos e gregos (ou fana-
dos funcionários, desde os mais altos até aos mais baixos, era preciso arre- riotas, missionários do Fanar, como são chamados na bibliografia anti-
cadar somas de dinheiro, em forma de derramas ou de multas, não só para grega). Onde de qualquer maneira fosse possível, introduzia-se o grego
o reconhecimento de patriarcas e bispos, mas também para muitos outros como matéria obrigatória de ensino nas supraditas regiões; havia ordem
casos. de celebrar o culto divino só em língua grega, em lugar do veteroslavo ou
As vistorias regulares dos prédios eclesiásticos propiciavam às auto- do romeno, que era então língua litúrgica em alguns lugares.
ridades uma ocasião favorável para levantar tributos suplementares. Se
um dos fiscais descobrisse alguns ladrilhos numa igrejinha de madeira, Em conexão com tais acontecimentos entrava também o fato de que,
construída aliás com taxa exorbitante sobre o alvará, seria motivo sufi- por instância de Constantinopla, o Governo Otomano na segunda metade
ciente para uma pesada multa pecuniária ou para ordem de demolir a do século XVIII suprimisse os patriarcados de Ochrid e Pec, que ainda
construção. existiam oficialmente. Naquela época, muitos Sérvios ortodoxos tinham
fugido para o Bánato, que desde 1718 pertencia definitivamente aos Habs-
Todo esse sistema de tributos e extorções, executado no século XVII
da maneira mais irredutível, os cristãos não o sentiam como a pior forma burgos, e onde Carlowitz (Sremski Karlovci), então sede do Sínodo de um
de opressão, mas como ensejo para clamorosos abusos dentro da própria grupo religioso entre os refugiados russos, iria constituir, até depois da
Igreja. Primeira Guerra Mundial, importante centro de ortodoxos.
Os Patriarcas dispunham de rendas consideráveis, mas não estavam
sempre em condições de satisfazer sempre as injustas exações da Sublime
7. O Patriarcado de Constantinopla
Porta e dos funcionários. Tal situação induziam-nos na nomeação de
bispos e de outros eclesiásticos de categoria inferior, a levantarem pessoal- na Segunda Metade do Século XVI
mente tributações, e a garantirem para si mesmos rendas cada vez maio-
res, por meio de um sistema de constantes transferências. No primeiro século após a conquista de Constantinopla, não se podia
Compreendia-se, então, que bispos e eclesiásticos, por sua vez, se falar de nenhum contato da Igreja Ortodoxa no Império Otomano com
vissem obrigados a procurar meios e recursos para se compensarem, junto a cristandade de fora. As ligações mais importantes com o Ocidente eram
aos cristãos, contra essas tributações. Ofertas espontâneas tornaram-se mantidas pelos gregos (na maioria, naturais das ilhas ainda não assenho-
assim uma rede emaranhada de taxas e honorários, que facilmente podia readas pelos Turcos), que freqüentaram escolas no estrangeiro, nesse pe-
degenerar em simonia. ríodo sobretudo a Universidade de Pádua, algumas vezes também o Colé-
gio Grego fundado por Gregório XIII, o qual a partir de 1622 só recebia
326 Capítulo IX As Igrejas Calcedonias no Ipipério Otomano 327

candidatos para Ordens Sacras. Éste contava entre seus alunos muitos teira, relações que dificilmente podiam qualificar-se como ligações diplo-
sacerdotes e bispos ortodoxos. máticas, mas que às vezes proporcionavam grande ascendente às Nações
O ensino nos centros gregos só tornaria a funcionar no século XVII. Ocidentais, também quanto à sorte dos cristãos, que viviam debaixo' da
Na região turca do Patriarcado só havia alguns poucos autores eclesiás- dominação turca. O aspecto religioso da diplomacia ocidental teve sua
ticos de maior importância, como Manuel de Corinto, que trabalhou mais expressão nos dispositivos que constituíam uma parte das assim chamadas
de meio século na Chancelaria Patriarcal ( + por volta de 1550), e "Capitulações". No mais, esses tratados se referiam a relações mercantis,
escreveu algumas obras antilatinas; depois o bispo Damasceno Estudita tais quais os antigos tratados de comércio entre os Imperadores Bizan-
( + 1577), o mais popular pregador grego daquela época. Suas pré- tinos e as Repúblicas Italianas.
dicas completas foram editadas em 1570 em Veneza, cidade que até o
fim do século XIX continuaria a ser o centro mais importante de tipo- Presumia-se que fosse lendária a notícia de que Francisco I teria
grafias e livrarias gregas para ortodoxos e não-ortodoxos. recebido uma capitulação já em 1535, mas consta que no terceiro quartel
do século XVI foi outorgada tal capitulação à França. Apesar de não
No tempo de Jeremias II Tranos, que entre 1572 e 1595 foi por três haver por isso grande entusiasmo em Paris, concluíram-se tratados aná-
vezes patriarca ecumênico, reataram-se definitivamente as relações com o logos com os representantes da Inglaterra e da República dos Países-Bai-
Ocidente. Na tradição ortodoxa, Jeremias se tornou conhecido como o xos Federados (pela primeira vez em 1583, respectivamente em 1612);
maior patriarca desse período. Empenhou-se calorosamente pela formação mas a diplomacia francesa, como detentora do protetorado mais antigo,
do Clero, determinou a pregação regular, e procurou extirpar as manipu- conseguia conservar em mãos o papel principal na maioria dos casos,
lações simoníacas. Teve parte ativa na fundação do Patriarcado de Mos-
havendo tanto maior facilidade, quanto mais a política da França contra
covia. Como mais tarde se exporá com maior precisão, sua correspondên-
cia com teólogos luteranos constituía o acontecimento mais relevante na os Habsburgos combinava com a política turca. Além disso, o Governo
primeira fase do contacto do ortodoxismo com o protestantismo. Francês podia fazer com que sua influência também prevalecesse nas re-
giões recuperadas do Império Otomano mediante a organização consular,
Diga-se, pelo menos, que sua atitude para com o catolicismo ociden- que estabelecera no Levante desde 1600. Desta sorte, havia possibilidade
tal era amistosa. Êle manteve correspondência com o Papa, e ter-se-ia de que, cm assuntos religiosos, os empenhos do Cônsul na Síria e no Lí-
prontificado a enviar dois sobrinhos seus ao recém-fundado Colégio Grego bano, lá pela metade do século XVII, fossem de maior repercussão do
cm Roma, para ali terminarem os estudos eclesiásticos. que os do Embaixador em Constantinopla. O protetorado religioso da
A atitude hostil dos Turcos contra o Papa, suspeitando com razão França teve sua máxima eficiência nas antigas jurisdições eclesiásticas da
estar o Papa atrás de qualquer expedição contra eles, tornava natural- Antioquia.
mente impossível qualquer contato mais estreito do Vaticano com Cons- Ponto de partida para posteriores convênios em matéria de religião,
tantinopla, de sorte que se não pode averiguar até onde Jeremias e outros constituía sobretudo a cláusula que o embaixador francês Savary de Bre-
patriarcas afagavam ainda a idéia de uma aproximação, no sentido da ves soube impor na capitulação de 1604: liberdade de locomoção para
União de Florença. todos os eclesiásticos "francos", isto é, latinos, em todo o Império Oto-
O fato, amiúde citado pelos autores, de que Jeremias não queria mano. Apoiados pela diplomacia francesa, os sacerdotes latinos interpre-
adotar o Calendário Gregoriano, não fornece nesse nexo causal nenhum tavam tal liberdade como um direito de estenderem suas atividades tam-
ponto de apoio. Em passado não remoto, a adoção dessa reforma do calen- bém aos cristãos de rito oriental.
dário, medida sem nenhum alcance doutrinário, provocou cisma na Hélade Como resultado de tal evolução, deve considerar-se a capitulação
contemporânea. (1673) entre Luís XIV e Maomé IV um bom êxito diplomático, que na
época não foi devidamente estimado. Nessa capitulação, especificava-se tão
8. Diplomacia Ocidental. imprecisamente a situação dos cristãos orientais desejosos de viver em
Protetorado Religioso da França comunhão com a Igreja de Roma, que as autoridades turcas, por via de
regra, aplicavam só aos "francos" os direitos ali estipulados em prol dos
O fato de que no tempo de Jeremias II pôde haver contatos do Pa- católicos. A situação jurídica dos "Uniatas" não seria definitivamente dis-
triarcado com os sacerdotes latinos em Istambul (Constantinopla), decor- ciplinada senão no século XIX; antes dessa época, eles dependiam exclu-
ria das modificações que entrementes se verificaram na constelação polí- sivamente da benevolência ou da venalidade das autoridades locais, ou
tica. também da influência dos protetores franceses, quando a conjuntura era
Depois de sua derrota perto de Pavia em 1525, Francisco I da França favorável.
foi o primeiro soberano europeu que, ainda durante seu encarceramento, Os eclesiásticos que puderam estabelecer-se no Império Otomano,
entrou em contato mais íntimo com o Sultão. Daí resultaram as relações graças aos empenhos da França, eram evidentemente franceses: religiosos
entre a Sublime Porta e as Potências Ocidentais, com a França na diau- das Províncias Francesas dos Jesuítas e dos Capuchinhos, expoentes da
328 Capítulo IX As Igrejas Calcedânias no Império Otomano 329

atividade apostólica na Contra-Reforma. Os capelães da Embaixada em 9. Primeiros Contactos com Teólogos Reformados
Constantinopla eram escolhidos dentre os Capuchinhos.
No longo reinado de Luís XIII, eles gozavam do apoio irrestrito de No ano de 1559, chegou a Vitemberga o diácono grego Dimitrios
seu confrade "Père Joseph" ("Frei José"), conselheiro de Richelieu, e ao Misos, que em nome do Patriarca Joasaf devia informar-se a respeito do
mesmo tempo prefeito do trabalho missionário de seus irmãos de hábito, novo movimento religioso no Ocidente. Melanchthon teve longos diálogos
homem que, mais do que ninguém, determinava a feição da política missio- com êle, e deu-lhe na partida uma tradução da "Confissão de Augsburgo",
nária francesa de Paris no Levante, e que sabia habilmente combinar essa junto com um memorial em grego clássico, dirigido ao Patriarca. Nele se
atividade com os planos "orientais" da Congregação da Propaganda, fun- inculcava quanto as tradições ortodoxas harmonizavam com a vida cristã,
dada em 1622. segundo a doutrina pura do Evangelho nas jovens Igrejas Nacionais Ger-
mânicas, em contraste com as "supersticiosas leis de um culto divino pos-
Durante o pontificado de Gregório XIII chegaram os primeiros Je-
tiço, qual os incultos monges latinos forjaram para si mesmos, fora dos
suítas a Constantinopla. Não puderam concretizar antes as fundações no
Mandamentos de Deus".
Oriente, já planejadas em 1553. Sob o papa Sisto V foi preciso abandonar
essa primeira fundação, mas em 1609 o Embaixador da França recebeu O Patriarca não reagiu. Na qualidade de chefe da Igreja Ortodoxa,
da Sublime Porta nova licença para receber Jesuítas na capital. Não levou sentia-se pouco propenso a receber instruções dos protestantes. Jeremias
muito tempo, e correram boatos de que os Jesuítas se metiam cm intrigas II também não se deixou tampouco demover, quando houve um segundo
contra os Turcos, com a finalidade de aliciar à soberania de Roma os contacto durante seu patriarcado. Enviando novamente ao Patriarca em
Gregos novamente emancipados. Tais boatos recrudesciam, justamente por- 1575 uma versão grega a "Confissão de Augsburgo", foi Estêvão Gerlach,
que os Jesuítas com suas atividades granjeavam muitos amigos entre os teólogo de Tubinga e predicante da Embaixada, que nessa ocasião tomou
cristãos ortodoxos, e por isso mesmo também muitos adversários.
a iniciativa. Com isso começou, por muitos anos, uma permuta de trata-
Sem embargo, depois de 1623, desta vez com a ajuda da Áustria, dos e memorandos teológicos, mas que o Patriarca rejeitava sem mais
eles conseguiram um firma que lhes outorgava livre atividade em todo o discussão.
Império Otomano. Desta maneira contribuíram para que as dioceses lati- Em sua resposta (1576), redigida em 21 capítulos, traduzida e
nas nas Ciciadas no Mar Egeu (com os aglomerados ainda hoje existentes, editada muitas vezes no Ocidente desde 1582, Jeremias II chegou à con-
sobretudo nas ilhas Siros e Naxos, esta última como sede de arcebispado), clusão de que, nos pontos decisivos, luteranismo e ortodoxismo são incom-
não sofressem naufrágio. patíveis. Esse primeiro contacto com a ortodoxia desencantou sobremaneira
Essas dioceses, organizadas definitivamente no século XIII, teriam sua Gerlach e outros luteranos, que julgavam, à semelhança de Lutero, depa-
origem em núcleos de colonos ocidentais, que com o tempo começaram a rar na Igreja Oriental um cristianismo mais autêntico; verificaram pois que,
utilizar-se da língua grega. Nos últimos séculos, pelo menos em ambiente em doutrina e vida religiosa, os Gregos não seriam melhores do que os
eclesiástico, não houve nenhuma relação entre esses greco-latinos e os papistas.
gregos ortodoxos. Como prova de quanto os católicos, nessas ilhas, se O modo de proceder de Jeremias II não constituía realmente nenhuma
mantinham equidistantes de tudo quanto se lhes afigurasse "oriental", po- exceção. Explanações análogas da doutrina ortodoxa, com suas já tradi-
der-sc-ia alegar o fato de que até meados o século XIX todos os textos cionais farpas antilatinas, encontravam-se também nas obras de dois emi-
redigidos em grego para os devocionários populares eram impressos em
nentes teólogos gregos dessa época: Melécio Pigas, falecido como pa-
caracteres latinos.
triarca de Alexandria, e Gabriel. Severos, chefe da Igreja Grega em Ve-
Caberia, contudo, indagar se no século XVII a separação já era tão neza ( + 1616), de cujos tratados teológicos escolásticos e escritos polê-
peremptória, como viria a sê-lo mais tarde. Em ilhas totalmente ortodoxas micos, os autores ocidentais por muito tempo fizeram citações.
do Arquipélago, no período que ora tratamos, não era muito raro que o
Clero Grego desse aos Capuchinhos e aos Jesuítas plena liberdade de pre-
gar e confessar, uma praxe de "comunicação cultual" ("communicatio in 10. Tendências Calvinianas do Patriarca Cirilo Lucaris
sacris"), que manifestava como ligações antigas se restabeleciam sem atritos,
muito mais do que por qualquer medida de caráter oficial, apesar de que Mais importante do que os contactos já mencionados, foi a confron-
não se pudesse falar de uma união em regra. tação da Reforma Protestante com o ortodoxismo, ligada ao nome de
Naturalmente, tais situações excepcionais só eram possíveis onde os Cirilo Lucaris. Nascido em Creta em 1572, êle freqüentou cursos em Ve-
hierarcas ortodoxos não ligassem importância à proibição do Patriarcado, neza e Pádua. Depois da ordenação sacerdotal, foi enviado por seu pa-
segundo a qual se não permitia aos gregos manterem ligações com os lati- rente Melécio Pigas à Polônia, para na qualidade de exarca impedir a
nos, ou freqüentarem escolas latinas no estrangeiro. União de Brest-Litowsk, ou pelo menos pôr-lhe obstáculos.
N o v a História III — 22
330 Capítulo IX As Igrejas Calcedonias no Ipipério Otomano 331
Durante sua permanência de seis anos na Polônia, êle teve repetidos O caráter reformado aparecia inequivocamente em artigos como aque-
contactos com protestantes, sobretudo calvinistas. Não se exclui a possi-
bilidade de que tenha tomado parte nos planos do príncipe Ostrojskij, que les sobre a Sagrada Escritura como única fonte de doutrina da Igreja, sobre
queria promover uma União entre ortodoxos e protestantes na Polônia e predestinação e reprovação segundo as formulações dos contra-remons-
Lituânia. trantes, sobre a justificação só pela fé, sobre a falibilidade da Igreja, sobre
o reconhecimento de só dois Sacramentos instituídos por Cristo, sobre a
De 1602 a 1620, êle foi patriarca de Alexandria, como sucessor de presença de Cristo na Eucaristia, que se processa pela fé, e não por uma
Melécio. Dessa época datava uma carta sua ao papa Paulo V (1608), invencionice, como a transubstanciação.
cujo original ainda se conserva, e na qual declarava o desejo de viver sob
a autoridade do Papa. Alguns anos mais tarde, entrou cm correspondência Na edição greco-latina, de Genebra de 1633, encontravam-se ainda
com Abbot, arcebispo de Cantuária. Nessas cartas, queixava-se que as quatro questões e respostas complementares: A Sagrada Escritura deve
perseguições pelos Turcos seriam menos perigosas do que as intrigas dos ser lida por todos os fiéis; a Sagrada Escritura é evidente para todos os que
Latinos, que procuravam colocar os Gregos sob a hegemonia do Papa. renasceram do Espírito Santo, e que são iluminados por êle; rejeição dos
Contradições de tal natureza caracterizaram todas as suas atitudes poste- livros bíblicos "apócrifos"; são permitidas as imagens dos Santos, mas seu
riores. culto não deve ser tolerado.
Por proposta do arcebispo Abbot, êle enviou Mitrófancs Critopoulos Muitos consideraram esse surpreendente documento como uma misti-
a Oxônia (Oxford), a fim de fazer ali alguns anos de teologia. Dali, as ficação. Entre os ortodoxos, tal opinião é ainda bastante divulgada. Mas,
relações com a Inglaterra tiveram continuidade. Em 1628, o Patriarca deu hoje em dia, já não subsiste a mínima dúvida de que ela procedia da pena
de presente ao rei Carlos II o "Codex Alexandrinus" ("Códice de Alexan- de Lucaris. Em cartas a amigos, êle discorria longamente sobre as impres-
dria"), manuscrito grego da Bíblia, oriundo do século V, hoje conservado sões que seu Símbolo teria produzido em largos círculos. Além disso, con-
no Museu Britânico. Desde 1624, Mitrófanes estagiou alguns anos em servou-se em Genebra o autógrafo, inegavelmente autêntico, que serviu de
Universidades Germânicas, onde em 1625 redigiu uma profissão de fé, que original para a edição do texto grego do ano de 1633.
era ortodoxa em todos os pontos essenciais. Mais tarde, como bispo e O Patriarca também nunca se deu ao trabalho de refutar o documen-
patriarca de Alexandria, êle propugnaria a doutrina tradicional, contra- to, ou de se declarar distante dele. Quando se volvia a ortodoxos preo-
riando assim as intenções de Lucaris. cupados com isso, limitava-se a afirmações genéricas de sua ortodoxia.
As dificuldades começaram realmente a agravar-se, depois que Cirilo Formou-se, em redor de Cirilo, um pequeno círculo de adeptos, entre os
em 1620 (pela segunda vez?) foi eleito Patriarca Ecumênico. Cirilo, que quais figurava o bispo Neófito, que em 1636-1637, antes do último pe-
antes dessa época também estava freqüentemente em Constantinopla, man- ríodo governamental de Lucaris, fora por algum tempo patriarca. Eles
tinha, por intermédio sobretudo de Cornéüo van Hagen (Haga), residente não paliavam suas simpatias pelo protestantismo reformado; tinham, como
dos Estados Federados dos Países-Baixos, correspondência com os pro- Cirilo, seus amigos nas Embaixadas de governos não católicos.
testantes do Ocidente. Estes enviavam as mais recentes obras teológicas ao Isso não obstante, Cirilo continuava a desempenhar todas as funções
Patriarca, muito dado à leitura. inerentes ao patriarcado. No correr de seu mandato, houve a mais conhe-
cida canonização desse período, a do monge e eremita Gerásimo, o Moço
De mais a mais, o Patriarca já não fazia nenhum segredo de sua ( + 1579). Enquanto se não averiguarem outros dados novos, será impos-
amizade com expoentes das mais importantes nações protestantes, Ingla-
sível chegar a uma apreciação positiva de seu procedimento. Em todo o
terra e República dos Estados Federados dos Países-Baixos. Das cartas e
anotações conservadas, torna-se evidente que Lucaris, já como patriarca caso, depara-se-nos a atitude personalíssima de um homem decidido e
de Alexandria, abraçava opiniões, que se não compadeciam com a dou- culto, que, não procurando ou não podendo encontrar apoio em seu pró-
trina ortodoxa tradicional. Depois da deposição de Cirüo em 1623, o prio meio ambiente, tomou uma posição cada vez mais crítica relativa-
Embaixador Césy escreveu sem rodeios a Luís XIII que todo o interesse mente à praxe ortodoxa de sua época.
do Patriarca era "d'establir le calvinisme dans la Grèce et dans toutes les Até que ponto, porém, tinha êle consciência de estar abandonando
partyes orientales" ("estabelecer o calvinismo na Grécia e em todas as de fato a ortodoxia tradicional? Esta é uma das muitas questões que não
outras partes do Oriente"). 2
podem ser resolvidas satisfatoriamente por meio das poucas cartas e do-
cumentações existentes. Ou também: Qual seria o papel que seus amigos
A chegada de Antônio Légcr, que em 1628 se tornou predicante da protestantes representaram? Ou quais fatores contribuíram, depois da época
Legação Neerlandesa, acelerou a marcha da evolução. Um ano mais tarde, estudantil de Cirilo na Itália, para que sua posição fosse extremamente
em 1629, muito provavelmente em Genebra, sob o nome de Cirilo Luca-
antilatina. O singular caso de Lucaris não representa um problema apenas
ris, apareceu o texto latino de um símbolo de fé, de coloração manifesta-
mente calviniana, em 18 artigos, e que, dentro de pouco tempo se difundiu religioso, mas é também psicológico.
por toda a Europa, em diversas traduções. Os Embaixadores Franceses, desta vez apoiados excepcionalmente pelo
residente do Imperador, envidaram todos os esforços para solapar a pre-
332 Capitulo IX As Igrejas Calcedonias no I/npério Otomano 333

ponderância dos Países-Baixos junto à Sublime Porta. Isto, era claro, acon- 11. Documentos Simbólicos Ortodoxos do Século XVII
tecia dc acordo com o Vaticano.
Outro apoio para suas intenções, eles o encontraram nos bispos e O episódio calviniano estava tão estreitamente vinculado à personali-
dignatários gregos, com os quais os "missionários" latinos estavam em dade e à atividade de Lucaris, que após sua morte as tendências hetero-
contacto. Conseguiram, para alguns deles, que fossem reconhecidos como doxas já não contavam com nenhuma perspectiva para o futuro. Não
patriarcas: Cirilo II Ccntaris, de Beréia, por três vezes sucessor dc Luca- obstante, o alvoroço persistiu ainda por largo espaço de tempo, e não foi
ris; e Atanásio II Patelaros, por alguns meses no ano de 1634. pouco nos demais patriarcados. Cresceu de ponto, quando discutiram o
problema, se a contestada profissão de fé fora realmente redigida pelo Pa-
Segundo uma hipótese ortodoxa, tradicional, a freqüente deposição de
Cirilo teria sido negociada contra .o pagamento dc uma alta soma de di- triarca, ou se fora publicada por outrem, com usurpação dc seu nom¿:
nheiro, fora de proporção até na Istambul daquela época. Além disso, pelos calvinianos para forçarem o Patriarca, e com êle a Igreja Ortodoxa,
tê-lo-iam denunciado à Sublime Porta como organizador de iminente agres- a entrarem na órbita deles; ou então pelos Jesuítas, que procuravam com-
são dos Cossacos. Fosse o que fosse, também na última deposição do Pa- prometer Cirilo, para o derrubarem. Esse "dubium facti" ("dúvida de
triarca em junho de 1638, pouco depois que o residente dos Países-Baixos fato") subsistia principalmente na Ucrânia e nos países circunvizinhos,
se exonerara, os Embaixadores das Nações Católicas e seus apaniguados onde o protestantismo, justamente o "reformado", era tido como contínua
deviam ter a mão no jogo. Cirilo foi preso, c poucos dias depois enfor- ameaça, quer pelos ortodoxos, quer pelos católicos.
cado. Em 1640, Pedro Moghila, metropolita ortodoxo de Kiew, redigiu em
Lançou-se o cadáver ao mar, mas pescadores acharam-no. Seus des- latim sua "Profissão de Fé Ortodoxa", que se conservou como resposta
pojos mortais foram por fim depositados na Igreja de Panágia, na ilha clássica e mais notória do ortodoxismo às tendências de Lucaris. A volu-
Calcos, no Mar de Mármara, onde em 1844 se fundou a Escola do Pa- mosa obra apresentava-se como catecismo em perguntas c respostas, cuja
triarcado, atualmente Escola Teológica. Como Baus, historiador católico, disposição principal (divisão em três partes, como havia, por exemplo, no
de novo o desenvolveu na segunda edição do LThK ("Lexikon fucr Theo- "Compendium doctrinae christianae" de Pedro de Soto, com a explanação
logie und Kirche"), não é fato comprovado que os Jesuítas tenham influí- do Símbolo de Nicéia, dos Sacramentos, da Oração Dominical, das bem-
do no assassínio de Lucaris. Os missionários "latinos", porém, teriam aventuranças, das boas obras, e dos Mandamentos), e muitos acessórios
contribuído para que o ambicioso e pouco escrupuloso Cirilo Contaris foram tirados dc obras católicas da Contra-Reforma, principalmente do
ficasse novamente patriarca. "Grande Catecismo", de Pedro Canísio.
Em contraste com o Patriarca Atanásio Pantelaros, que nunca quis Nas conferências de Jassy (Moldávia) em 1642, a mensagem sinodal
submeter-se à supremacia de Roma, apesar de suas relações com os Lati- de Constantinopla do mesmo ano e a "Confessio" ("Profissão de fé") de
nos, Cirilo comunicara, alguns anos antes de sua última atividade pública, Pedro Moghila foram aceitas pelos teólogos do Patriarcado Ecumênico de
que desejaria entrar cm comunhão com a Sé Apostólica. Em virtude de Kiew como formulação escorreita da doutrina tradicional. Nessa oportu-
promessa feita por êle nesse sentido, o papa Urbano VIII garantira-lhe nidade, o Catecismo de Moghila foi traduzido para o grego por Melecio
uma subvenção de 4000 táleres, por intermédio de Schmid, residente da Sirigos, o teólogo mais importante no período posterior a Lucaris. Alguns
Áustria. tópicos que, para os gregos, sabiam muito a latim, foram modificados.

De acordo com a pragmática em vigor, Cirilo assinou realmente, em A formulação de Moghila a respeito do caráter exclusivamente con-
dezembro de 1638, uma profissão de fé que lhe fora enviada pela Propa- secratório das palavras do Senhor na Eucaristia, na acepção mais encon-
ganda. Dificilmente teriam os Latinos afagado alguma esperança a respeito tradiça do ortodoxismo, foi substituída por uma breve explanação sobre o
desse Patriarca, que se fizera católico às escondidas. Verdade é que êle valor consecratório da invocação do Espírito Santo (epiclese), que ocorre
alguns meses após a morte de Lucaris, convocou um Sínodo, para con- imediatamente depois dessas palavras. Em lugar das palavras no texto
denar não só a pessoa, como também a doutrina dc seu predecessor. original sobre um eventual estado de purificação depois da morte, natu-
ralmente sem fogo, estabeleceram a negação absoluta de que os mortos
Sem embargo, o autoritário Contaris não possuía bastantes qualidades ainda pudessem satisfazer (aturando o sofrimento "passivamente", con-
pessoais; além disso, encarnava por demais a facção (fora publicamente forme a teoria de Moghila e dos teólogos católicos); de mais a mais, acres-
acusado do assassínio), para que pudesse terminar com a desordem rei- centaram que a Igreja com razão oferecia o sacrifício incruento e recitava
nante. No começo de 1639, êle próprio foi assassinado. orações por eles.
Abstraídas estas modificações, a redação grega da "Confessio ortho-
doxa" dc Moghila ostentava o cunho indelével das influências latinas, rece-
bidas pelo Metropolita de Kiew, aliás absolutamente refratário a uma unifi-
334 Capítulo IX As Igrejas Calcedonias no I/npério Otomano 335

cação. É pois inexato afirmar que Melecio Sirigos tenha expungido todos 12. Mosteiros e Vida Monástica
os temas e locuções procedentes da teologia latina.
Com exceção de temas referentes a princípios controversos, os teólo- Depois da destruição da cidade, já não se podia falar de um mona-
gos greco-ortodoxos desse período (até o século XVIII adentro, porque quismo organizado na própria Constantinopla, exceto a comunidade mo-
depois dessa época o estudo na Itália se torna cousa rara), usavam tam- nacal que integrava a casa do Patriarca. Noutras regiões do Império Oto-
bém argumentos que lhes eram familiares, através do sistema escolástico, mano, por sinal que na zona européia, certo número de mosteiros con-
nas aulas das escolas dos Latinos.
tinuou a subsistir durante os séculos de perseguição. Acidentalmente, eram
Continua, porém, a ser verdade que o modo de teologar de Pedro restauradas e novamente ocupadas as edificações, ou até se fundava algum
Moghila (provavelmente fêz todo o seu tempo de estudos na Polônia), mosteiro novo.
continha tais elementos latinos com extraordinária assiduidade, também
em passagens sobre temas, cuja formulação os autores ortodoxos, por via O monaquismo, que na ortodoxia nunca esteve clericalizado em pro-
de regra, não se atreviam a fazer em linguagem bem escandida. porção tão forte como no Ocidente, cumpriu também nos séculos XVI e
XVII sua função de liderança na comunidade cristã. A vida e labuta dos
Assim nele se encontravam, entre outros assuntos, dissertações sobre monges e dos ascetas solitários baseava-se sistematicamente, como dantes,
o estado de inocência antes da queda original, sobre a distinção entre pe- em atividades do espírito, que eram na mesma medida o ideal de leigos
cado grave e pecado leve, sobre a satisfação de penas temporais depois da
Confissão, e sobre o juízo particular: dissertações que concordavam per- compenetrados.
feitamente com o que se podia ler a respeito em publicações católicas Em 1430, a península de Atos com seus mosteiros de monges caiu em
daquela época. poder dos Turcos, que a tinham assaltado, e tornou-se parte integrante do
Numa reunião do Sínodo de Constantinopla, depois dos entendimentos Império Otomano. No período que estamos a tratar, o Monte Sagrado
de 1642 em Moldova, teve um partidário de Lucaris a oportunidade de como tal não teve verdadeiramente nenhuma posição fora do comum.
contestar o valor da "Confessio orthodoxa" de Moghila, alegando que na Com relação aos mosteiros de Atos, os Turcos mantinham o princípio de
redação de Melecio Sirigos, citada como documento de doutrina ortodoxa, que os bens eclesiásticos deviam ser poupados. Além disso, os novos po-
ocorria uma tradução literal grega do termo latino "transubstantiatio" vernantes confirmaram vários privilégios da era bizantina. Os monges con-
("transubstanciação"), neologismo totalmente ignorado na terminologia tinuavam a ser reais proprietários de toda a Península, mas sem poderem
ortodoxa. Tal objeção foi sem mais rejeitada. exercer sobre ela direito de soberania, o que antes também não desfru-
tavam.
Apesar da importância que se atribuía à "Confessio" do Metropolita
de Kiew, demorou ainda até 1667 para sair impressa a tradução grega de Apesar de todo desprezo que sentiam pelos cristãos, os maometanos
Sirigos, em Amsterdão ou em Leida, mas certamente por conta dos Esta- muitas vezes demonstraram, no decorrer da História, notável consideração
3
dos Gerais. Na respectiva bibliografia, incluíram sem razão a obra de justamente para com os monges. Devemos, pois, admitir que os Turcos
Moghila entre os escritos simbólicos do ortodoxismo. tenham tido algumas vezes atitude análoga para com os Monges; em todo
Até o século XIX, ela teve aceitação geral nos antigos Patriarcados, o caso, o novo domínio otomano não desfez sensivelmente a comunidade
como igualmente em Kiew-Moscóvia, pelo menos enquanto ali se fazia monástica de Atos, visto que as relações com os eslavos orientais fora do
sentir a influênica da Escola de Kiew. Mas também na redação grega era Império Otomano não foram ou quase não foram interrompidas. Monges
ainda "latina" demais, para que pudesse conservar tal prestígio, quando nos das diversas regiões russas viveram temporadas mais curtas ou mais longas
vários ambientes ortodoxos, por efeito de um "Renascimento" da espiri- nos mosteiros ou nas lauras de Atos. A única grande fundação do século
tualidade mais antiga, reviveu a consciência de que existia um molde todo XVI, o mosteiro eslavo de Estauroniquita, dificilmente poderia ser cons-
privativo deles para a especulação teológica. truída e dotada sem subvenção de fora.
Devemos afirmar a mesma cousa a respeito da obra, também conhe- Em geral, o Patriarca isentava os Monges do Monte Sagrado de
cida pelo nome de "Confessio", da autoria de Dositeo II Notaras, patriarca pagarem as derramas eclesiásticas, unicamente por benevolência para com
de Jerusalém (1672), provavelmente quando presidiu ao último na série eles. Apesar da largueza do Patriarca, vários mosteiros nesse período
dos sínodos promovidos contra a doutrina de Lucaris. tinham muitas vezes de arcar com dificuldades econômicas. Em tais emer-
O fato de que a história dos centros ortodoxos no Império Otomano, gências, vinha ajuda de Moscóvia; alguns mosteiros de Atos tinham até
durante grande parte do século XVII, se caracterizasse pela resistência uma pequena sucursal em Moscóvia. Os Russos eram generosos, pois que
contra a doutrina de Lucaris, prova, antes, que a heterodoxia dêsse Pa- o Atos se conservava como centro espiritual, declaradamente ortodoxo, e
triarca constituía uma experiência extremamente chocante, mais do que o ainda por cima como centro de grande autoridade. Quando se planejou a
inesperado contacto com o protestantismo reformado representasse, por elevação da sede de Moscóvia a patriarcado, os Monges de Atos foram
dezenas de anos, um perigo real. consultados. O mesmo sucedeu no século XVII, quando o Patriarca Nicão
336 Capítulo IX As Igrejas Calcedonias no Ipipério Otomano 337

precisou de textos litúrgicos de absoluta autenticidade para sua reforma petições litúrgicas. Pouco tempo mais tarde, um metropolita do Patriar-
dos ritos. cado Ecumênico fêz com que a hierarquia melquita vacilasse, mas o epi-
O mais relevante de tudo era a influência espiritual que, tanto antes sódio não passou de uma interrupção de relações com o Ocidente Latino.
como depois, se irradiava de Atos. A grande reflorescência desabrochou O arquidiácono Moisés Giblet esteve, entre 1458 e 1460, na Corte
principalmente no século XVIII; mas também nos séculos anteriores se de Pio II em Sena, para discutir com êle, em nome dos Patriarcas Melqui-
tinham conservado vivas, entre os Monges de Atos, as antigas tradições tas, os planos para uma Cruzada, talvez em colaboração militar com o
de espiritualidade. Emir, comandante da região litorânea de Beirute. Se cie na ocasião profe-
São Nilo Sorskij (Nilo de Sora) e Máximo, o Grego, conheceram, no riu, em nome dos Patriarcas Ortodoxos do Oriente Próximo, uma nova
Monte Sagrado, a tradição dos hesicastas (hesicasmo), e transplantaram- confirmação da unidade religiosa, fê-lo naturalmente por simples lembran-
na para Moscovia. A introdução da organização idiorrítmica * de mos- ça do Concílio da União havia pouco celebrado.
teiros (que mais tarde degenerou um pouco, mas que primordialmente vi-
A situação ficou outra, depois que Selim I ( + 1 5 2 0 ) submeteu ao
sava uma reforma monástica pela combinação de uma vida retraída com
domínio otomano as áreas dos três Patriarcados Melquitas. Desde então,
o cenobitismo), remonta na Rússia ao protótipo dos Monges de Atos.
segundo o sistema turco, todos os contactos da hierarquia com a Sublime
São uma raridade obras ascéticas originais desse período. A mais conhe-
Porta se processavam por intermédio da Patriarca Ecumênico. Nos séculos
cida delas é a obra popular "Salvador dos pecadores", de Agápio, monge
XVI e XVII, vários patriarcas de Alexandria e Jerusalém assistiam regu-
de Atos, editada pela primeira vez em 1641, em Veneza.
larmente em Constantinopla. No Patriarcado de Alexandria, nunca pudera
Em outros lugares, dentro do domínio turco, tanto nas ilhas como no impor-se totalmente a política eclesiástica, que promovia conscientemente
continente europeu, o monaquisino conseguiu sobreviver. São Bcssarião a grecização.
(Vissário), metropolita de Larissa na Tessália, pastor de almas modelar
( + 1541), restaurou com muito sacrifício o Mosteiro do Salvador nos Tal situação constituiu uma das causas por que as tendências unio-
arredores de sua cidade episcopal. nistas se mantiveram vivas na região antioquena, e que ali se concretizasse
no último quartel do século XVII uma união de novo tipo, de sorte que
A figura mais atraente desse período era Santa Filotéia, viúva de atualmente os Melquitas católicos da Síria e do Líbano formam o mais
Atenas, superiora do Mosteiro de Monjas de Santo André, sua própria importante de todos os grupos nos quatro antigos Patriarcados.
fundação. Erigia hospitais, e ocupava-se de preferência com aquelas mu-
lheres cristãs, que tiveram de viver como escravas entre os Turcos
( + 1589).
14. Patriarcado Melquita de Alexandria
13. Patriarcados Melquitas sob a Dominação Turca O importante papel que os Patriarcas de Alexandria de expressão
grega (oficialmente, eram de segunda categoria: esta circunstância, os
No século XV, quase não se faz menção dc atividade intelectual e ortodoxos nunca a esquecerão, cm seu acatamento aos velhos cânones),
científica nos Patriarcados Melquitas. Sem embargo, os ortodoxos do desempenharam nos século XVI e XVII não estava em nenhuma pro-
Oriente Próximo viviam relativamente sossegados na era posterior às Cru- porção com o insignificante lugar que ali a atrofiada comunidade melquita
zadas. Os Melquitas do Egito, nesta época atormentados com freqüentes ocupava no ortodoxismo.
vexames e perseguições ocasionais, tinham situação mais difícil do que Um deles era Pigas, e Lucaris fora por muitos anos titular do Patriar-
os Melquitas de Jerusalém e de Antioquia. O Patriarcado Melquita de Ale- cado do Egito, antes que ocupasse o sólio metropolitano de Constantino-
xandria só contava então com poucas e reduzidas povoações. pla. Nos primeiros séculos depois da conquista turca, quase não houve
De um relatório dos anos entre 1530 e 1540, constava que por lá contactos mais chegados entre Roma e o Patriarcado Melquita do Nilo.
só havia então três igrejas melquitas. Nessas três circunscrições, a hierar- As ligações com os patriarcas Samuel e Cosme III, na primeira metade
quia formava-se do clero nativo; por conseguinte, na prática, falava árabe do século XVII, não produziram nenhum resultado positivo, porque esse
como língua oficial. Só depois das conquistas turcas de 1516 e 1517 fica- último receava manifestamente que Roma tocasse nas tradições da litur-
ram os patriarcados sob a dependência imediata dc Constantinopla, da gia; mas tais ocorrências já pertencem a um período posterior.
mesma forma como alguns séculos antes, e dali por diante só eram insti-
tuídos patriarcas e bispos dc origem "grega". Os Frades Franciscanos Italianos, estabelecidos desde 1666 no Egito
Superior, trabalhavam entre os Coptas, então muito mais numerosos do
Até a época das incursões otomanas, Alexandria, Antioquia, e Jeru- que os Melquitas. Os Franciscanos da Custódia da Terra Santa, que antes
salém, em contraste com Constantinopla, atinham-se por via dc regra ao dessa época já tinham fundado algumas residências no Egito, sob a prote-
Concílio de Florença. Em 1440, o patriarca Filóteo comunicou ao papa ção dos Franceses, limitaram-se durante todo o período à cura dc almas
Eugênio IV que os Melquitas mencionavam seu nome, dele papa, nas entre os Latinos.
338 Capitulo IX
As Igrejas Calcedonias no Império Otomano 339
15. Igreja de Jerusalém
século XIX, quando melquitas, convertidos ao catolicismo, se deixaram
induzir a aceitar o rito latino, é que seu número iria aumentar.
O Patriarcado Melquita de Jerusalém fornece um exemplo clássico
da grecização que se processou, depois das conquistas dc Selim I. Pelo De um lado, aborrecidos com os abusos que encontravam, os Fran-
fim do século XVI, a Confraria do Santo Sepulcro assumiu a direção total, ciscanos não pareciam ter nenhum entusiasmo especial pelos Melquitas
abrangendo todos os monges ortodoxos na Santa Cidade e pelos arredo- gregos ou autóctones, ao menos no Patriarcado de Jerusalém, porquanto
res. Como centro ficava o Mosteiro Patriarcal de Jerusalém. mantinham decididamente relações com os Melquitas de Antioquia.
Com suas muitas possessões e ligações cm outros lugares do Oriente De outro lado, seu modo de proceder dava inegável testemunho de
Ortodoxo, que dali se dilatavam até a Galícia, a Confraria como tal devia tolerância. Durante muito tempo, não tiveram nenhuma dúvida em auto-
ter existido bastante tempo antes. Mas, desde que Germano (1534-1579) rizar casamentos entre cristãos católicos e não-católicos. A proibição que
iniciou a seqüência dos patriarcas gregos, a Confraria apresentou-se, ao Urbano VIII decretou contra a difusão desse "abuso germânico" no Orien-
mesmo tempo, como órgão de administração eclesiástica, solidamente orga- te dificultou dali por diante aos sacerdotes latinos quaisquer tentativas de
nizada. aproximação.
A hierarquia do Patriarcado e o sistema dos "hagiotafitas" contraíram Contudo, parece que também entre os Franciscanos teve boa aceita-
entre si um consórcio indissolúvel. Em teoria, cristãos do país, de expressão ção a tendência menos feliz, apoiada pelo papa Urbano, de promover a
síria ou árabe, podiam ser aceitos como postulantes da Confraria; na prá- reunificação, erigindo-se novas dioceses latinas no Oriente Próximo. Frei
tica, porém, só gregos eram admitidos. A conseqüência disso foi que, por Francisco Quaresma, antigo custódio, propôs, entre outras cousas, em sua
longo tempo, até o nosso século, o Patriarcado Ortodoxo de Jerusalém "Elucidatio Terrae Sanctae" ("Exposição da Terra Santa") de 1639, que
foi dominado por uma minoria extremamente exígua, de expressão grega. dc novo fosse nomeado um Patriarca Latino, residente em Jerusalém, alvi-
Um fator que indubitavelmente contribuiu para a influência decisiva tre que se tornaria realidade no século XIX, muito embora em outras
da Confraria dos Hagiotafitas, era a compreensível aspiração dos Melqui- circunstâncias.
tas (eles perfaziam ali a parte mais considerável dos cristãos, nos séculos
depois das Cruzadas) de chegarem à posse dos Santos Lugares e de con- 16. Arquidiocese Autônoma do Sinai
servá-los. Os contínuos atritos que daí resultavam com os Latinos, iriam
por muitos séculos dificultar, ainda mais, uma aproximação entre a hierar- Em 1575, o Sínodo do Patriarcado Ecumênico reconheceu a auto-
quia grecizada e o clero latino na Santa Cidade. nomia da arquidiocese do Sinai, cujo Arcebispo, ao mesmo tempo hegú-
Os Latinos alegavam também os direitos que teriam a grande número meno do famoso Mosteiro de Santa Catarina, foi sagrado pelo Patriarca
de santuários, por sinal que em base do acordo que Roberto de Anju, rei de Jerusalém, a quem monges, beduínos, e pescadores da redondeza esta-
de Nápoles, firmara cm 1333 com o Sultão do Egito. Roberto e sua esposa vam sujeitos até então.
doaram os santuários à Ordem Franciscana, que já no século XIII fora Com seus cristãos, cujo número não chegava a uma centena, a arqui-
encarregada da "Custódia da Terra Santa". diocese representava a menor igreja autônoma dentro do ortodoxismo, e
No correr dos tempos, os direitos da Custódia Latina foram freqüen- ocupou todavia um lugar singular na história das relações entre o Oriente
temente contestados. Solimão II expulsou os Franciscanos do Cenáculo em e o Ocidente. Até o século XIX, foram enviados aos Monges do Sinai
1553. Os Hagiotafitas tinham muito interesse em fazer os Latinos recua- documentos pontifícios, pelos quais ficava bem evidente que eles eram
rem ainda mais. O Patriarca Teófanes, alegando, ainda muitos anos mais tidos como católicos em Roma, sem as formalidades que, desde então, já
tarde, que se inclinava a procurar uma aproximação com a Igreja de Roma, eram usuais nas relações com os "Uniatas". De sua parte, nas cartas diri-
prometera em 1615 a uma Missão dos Jesuítas, patrocinada por Luís XIII, gidas ao Papa, os Monges testemunhavam, freqüentemente, sua profunda
seu apoio na fundação de uma residência da Ordem em Jerusalém. Algu- consideração para com a Sé Apostólica em Roma.
mas semanas depois, já era evidente que o plano não vingaria; os reitera- Nos séculos XVII e XVIII, o Mosteiro do Sinai mantinha um "meto-
dos esforços do jesuíta De Canillac em 1621 também não deram nenhum chion", uma procuradoria, em Messina, onde sempre assistiam alguns
resultado. Não era inconcebível que o Patriarca Teófanes, tendo certa- monges, que tratavam com os católicos em pé de igualdade.
mente notícia dos atritos entre os "missionários" latinos noutras paragens
do Oriente, nutrisse a intenção de indispor os Jesuítas contra os Fran- A descrição do Patriarcado de Jerusalém, durante o atual período,
ciscanos, e em seguida expulsar da cidade ambos os grupos como elemen- não seria completa, sem a menção expressa desta igreja sucursal. A histó-
tos desordeiros. ria do Mosteiro do Sinai constitui o mais concreto dos exemplos de como
a unidade eclesiástica podia coexistir, de modo natural, sem nenhuma
Durante o período que aqui tratamos, os Franciscanos da Custódia regulamentação, a par da preocupação cada vez maior da Congregação da
nessa situação restringiam sua cura de almas aos poucos Latinos. Só no Propaganda nos assuntos de União e de "Uniatas".
340 Capitulo IX dis Igrejas Calcedonias no Império Otomano 34!

17. Patriarcado Melquita Antioqueno até o Terceiro Quartel dação. Melquitas, Sírios do oeste com rito antioqueno, Armênios, e os
do Século XVI Caldeus (desde o século XVI) conservaram, depois da reunificação com
Roma, sua própria organização tradicional, que os caracterizava também
Os acontecimentos mais importantes na vida eclesiástica do Oriente na vida civil, como comunidades fechadas, estanques, comunidades aliás
Próximo, também depois da conquista pelos Turcos, desenrolaram-se no que só no século XIX seriam reconhecidos como tais pelo Governo Turco
território do Patriarcado Melquita de Antioquia. Para o fato de que ali ou Egípcio, mesmo porque os direitos dos Uniatas tinham sido muito mal
se encaminhassem novamente as relações com os Latinos, muito antes que definidos pela assaz notória e já citada Capitulação de 1673. Em nenhum
em qualquer dos outros antigos patriarcados, concorreram vários elemen- dos casos mencionados se estabeleceu a unidade eclesial em toda a comu-
tos, sem que se pudesse determinar quais deles teriam influído decisiva- nidade; ao lado dos núcleos católicos, continuaram a subsistir núcleos não-
mente. católicos. De regra, a Sublime Porta só reconhecia os hierarcas desses últi-
A hierarquia melquita, a começar pelo Patriarca, conservou-se quase mos grupos como dirigentes de suas "nações".
que totalmente autóctone ate o século XVIII, dc sorte que ali, ao con- O Patriarcado Melquita de Antioquia era, e continua a ser, o maior
trário de Alexandria e Jerusalém, a lembrança das relações com a Igreja das Igrejas Calcedonias do Oriente Próximo. No começo do século XVI,
de Roma pôde sobreviver ao insulamento nas primeiras décadas da domi- havia ainda vários mosteiros com muitos monges na região de Damasco,
nação turca. Como fatores determinantes, devem ser também mencionados cidade residencial do Patriarca, nas montanhas do Líbano, e no "Vale dos
a vizinhança da Igreja plenamente católica dos Maronitas, bem como as Cristãos", perto de Homs. A Laura de Savas na região de Jerusalém,
relações com núcleos católicos, ou pelo menos unionistas, dos Armênios cujos monges estritamente cenobitas nunca seriam reconhecidos como per-
na região antioquena. Podia ser que as diversas comunidades de então feitos hagiotafitas, era o único mosteiro melquita que ainda podia ombrear-
tivessem sua vida estanque, mas seria uma suposição totalmente errada se com os mosteiros da Síria.
que os hicrarcas, tampouco como os cristãos, não tomassem conhecimento
uns dos outros. Depois do insulamento, que resultara da conquista turca (até os con-
tactos da administração pontifícia eram então irregulares), restabeleceram-
Alcance muito maior devia ter o fato de que justamente a Síria, com se as relações dos Melquitas antioquenos com os demais centros ortodoxos,
a região litorânea libanesa, era o ponto mais acessível para os ocidentais. sob o patriarcado de Joaquim IV, no terceiro quartel do século XVI. O Pa-
Ainda no século XVII, grande parte das mercadorias levantinas escoavam triarca chegou a permanecer algum tempo na Valáquia e entre os Rutenos
pelas rotas comerciais, que ali faziam escala final. Lá existiam, também, da Polónia.
nada menos do que três consulados, que se tornaram pontos de apoio na-
turais para a maior parte dos empreendimentos dos "missionários" lati- José Hajjar, conhecedor da História da Igreja Oriental, menciona que
nos (assim eram sempre chamados). Joaquim por essa época (1560) teria dirigido a seus bispos um documento,
no qual lhes proibia lançar doestos contra o Papa e incriminar os Latinos
Aos contactos ocasionais, durante o pontificado de Gregório XIII, como hereges. Fosse como fosse, tal franqueza dc parte a parte é caracterís-
seguiram-se fundações feitas por homens da Igreja, sob o alto protetorado tica em muitos hierarcas do Patriarcado, durante o período seguinte.
de Luís XIII, com a aprovação da Congregação da Propaganda, fundada
em 1622. Em suas atividades no Oriente, esta dependia do empenho fran-
cês, mas ela soube conservar certa autonomia com relação a Paris, c de 18. Missão de Leonardo Abel no Pontificado de Gregório XIII
maneira mais evidente nos primeiros cinqüenta anos de sua fundação.
Os "missionários", tendo os mais assíduos contactos com os bispos Por iniciativa de Roma, realizou-se nos anos de 1583 a 1587, sob o
dos vários ritos orientais, desempenharam papel importante na evolução pontificado de Gregório XIII, a missão do maltês Leonardo Abel, a quem
ulterior das relações com o Ocidente Católico. Sem embargo, as uniões incumbia, entre outras tarefas, preparar, junto com o Patriarca Melquita de
que se realizaram na área antioquena, pelo fim do período aqui tratado, Antioquia, uma concretização mais definida da unidade eclesiástica; e fazer
resultavam em primeira linha de tendências existentes nas próprias igrejas. propaganda, quando possível, da introdução do Calendário Gregoriano no
O plano de muitos Latinos para conseguirem uma comunidade cató- Oriente, reforma que o Papa evidentemente considerava como um dos obje-
lica oriental unida não tinha desde o início nenhuma perspectiva de vin- tivos de seu pontificado, e que êle mencionava, com notável regularidade,
gar, nem tampouco o plano de uma latinização total, como aquela que o em todos os documentos pontifícios sobre a unidade das Igrejas Orientais.
capuchinho J. B . dc Saint-Aignan em seu "Théatre de la Turquic" A missão de Abel não foi coroada de bom êxito. A mensagem de
(1682), baseando-se cm experiências pessoais, considerava como a única Gregório, que êle transmitira ao Patriarca Joaquim V, teve até o efeito
solução definitiva. contrário. Cinqüenta anos mais tarde, o Superior dos Capuchinhos em
As dioceses latinas, instituídas por Urbano VIII no interior da Síria, Alepo viu-se em necessidade de justificar a carta do Papa. Abel, contudo,
Pérsia e Mesopotâmia, nunca corresponderam à finalidade de sua fun- meteu-se em ligação com o predecessor de Joaquim, com o idoso Patriarca
342 Capítulo IX As Igrejas Calcedonias no Império Otomano 343

Miguel VII, que fora coagido a renunciar, e tinha residência em Alepo. Mi- determinar a quem competia, propriamente, em muitas cidades, o direito
guel testemunhou incondicional submissão à Cátedra de Pedro em Roma, de exercer a cura dc almas entre os Latinos.
mas não sem deixar de insistir em que a Santa Sé lhe acudisse e o reinte- À primeira vista, esta referência parece de pouca monta, tanto mais
grasse em seus direitos. que em Alepo, como em outros lugares do Oriente, sempre se tratava de pe-
Tal episódio induziu vários autores a admitirem a hipótese (para alguns quenos grupos dc missionários. Sua atuação, todavia, foi de decisiva impor-
deles, era fato averiguado) que durante a permanência dc Abel em Alepo tância para a unidade, embora os partidários da União, sobretudo entre os
se formara pequeno grupo de fiéis unionistas, o assim chamado "Núcleo da melquitas, soubessem conservar uma autonomia por vezes surpreendente
União", que ali ainda existia além de quarenta anos mais tarde, quando contra os métodos dos "sacerdotes francos".
chegaram os sacerdotes latinos. Isso era bem possível, e até não seria im- Onde quer que se lhes deparassem oportunidades, os sacerdotes reli-
possível que entre os integrantes dêsse primeiro núcleo se encontrasse o giosos latinos procuravam, por meio de instrução religiosa, ter influência
filho da família Karmi, que mais tarde, sob o nome dc Mclécio, se tenha nos cristãos não-católicos. O Jesuíta Queyrot, o mais conhecido dos mis-
tornado bispo de sua cidade natal Alepo, e que finalmente como Patriarca sionários da primeira época, conseguiu até abrir uma escola em Damasco,
Eutímio II tenha enviado ao Papa sua profissão de fé. cidade aliás pouco acessível. Como fruto, criou-se também na sede patriar-
Em todo o caso, Alepo (mais tarde, ultrapassada por Beirute) iria cal um núcleo de melquitas católicos.
constituir o mais importante ponto de apoio dos "missionários", deixando Pela ereção de congregações e confrarias, de padrão europeu, os sa-
ficar atrás Damasco, sede patriarcal. Alepo não era apenas um centro que cerdotes ocidentais queriam assegurar para si a direção espiritual dos orien-
congregava grupos maiores das várias nações cristãs; era também o mais tais católicos. Raríssimos eram os missionários que então se lembrassem
importante empório sírio de comércio com as outras nações do Oriente. O de ajustar suas atividades às tradições eclesiásticas, que sempre foram pri-
Cônsul da França, ali residente desde o começo do século XVII, desfrutava vativas do Oriente. O entusiasmo auto-suficiente da novel Congregação da
de uma autoridade fora do cumum. Propaganda era pouco indicado para induzir os sacerdotes ocidentais, no
Levante, a largarem suas pretensões de superioridade latina. Aos olhos dos
Latinos, muitos sacerdotes orientais deviam então figurar como personali-
19. Primeira Geração dos "Missionários" Franceses dades subdesenvolvidas, de mais a mais nem sempre com razão.
A sofreguidão com que muitos hierarcas aceitavam subvenções pecuni-
Os primeiros que se estabeleceram cm Alepo (1625) devem ter sido árias, por intermédio dos missionários, dificilmente poderia aumentar a
os Capuchinhos, enviados pela "Emincnce grise" ("Eminência Parda"), consideração pelo Oriente Cristão. Conservaram-se relatórios de Superiores
que em colaboração com Ingoli, enérgico secretário da Propaganda, apoiava de Ordens Religiosas Missionárias, nos quais se dizia, sem rodeios, que dessa
os Planos de Roma concernentes a outras fundações no Império Otomano, maneira esperavam aliciar bispos para a Igreja de Roma. Não obstante,
sem todavia jamais perder de vista os interesses da França. seria injusto frisar, unilateralmente, os aspectos negativos das atividades dos
Um ano mais tarde, seguiram os Jesuítas que, não obstante a resistên- missionários, ou admitir que sua atuação latinizante tenha provocado a
cia inicial da colônia francesa, puderam consolidar suas posições, mediante mesma reação de defesa em todos os Orientais.
a garantia do Grão-Vizir. Sem dúvida alguma, a exacerbação dos sentimentos antilatinos nos
Não tiveram importwiações uns Carmelitas Descalços que também círculos melquitas era também condicionada pela tática dos sacerdotes
chegaram, avulsos, a Alepo em 1626, servindo sua casa ali de pião para "francos", que constituía ao mesmo tempo, pelo menos em parte, a causa
lhes facilitar o trabalho apostólico na Pérsia. Outra casa, única, deles, fun- por que de fato malograram, afinal, as grandes esperanças que se deposita-
dada alguns anos mais tarde na zona litorânea, era a do Monte Carmelo. vam em tais missões.
Ninguém podia contestar-lhes o direito de retornarem ao nascedouro de Em compensação, cumpre observar que entre Latinos e Melquitas
sua própria Ordem. subsistiam relações amistosas, e até íntimas. Entre os Religiosos franceses
Sem embargo, as chocantes desavenças entre outros grupos de religio- que se entregavam à sua faina com plena dedicação, havia eminentes perso-
sos, sobretudo no segundo quartel do século XVII, atraíram freqüente- nalidades de absoluta segurança em suas atribuições.
mente sobre eles a vigilância da Propaganda. Os Franciscanos da Custódia Quão matizada era a situação na realidade, prova-o, de modo mais
punham tantas dificuldades aos missionários franceses, que o "Pcre Joseph" evidente, a reclamação apresentada em meados do século XVII à Propa-
("Frei José") ameaçou uma vez de retirar sua Ordem do Oriente Próximo. ganda sobre leigos latinos do Levante, que preferiam freqüentar igrejas de
Idênticas emulações irromperam repetidas vezes entre Capuchinhos e Jesuí- rito oriental. Tal preferência se colocava em franca oposição à política
tas, de sorte que a sintonização, já dc per si melindrosa, da diplomacia fran- pró-latina de Roma, durante o pontificado do papa Urbano VIII.
cesa com as intenções de Roma era contrariada pela influência de Superio- A despeito das modificações posteriores, essas tendências continuaram
res das Ordens Religiosas. O ponto dc desavença estava, quase sempre, em na prática, de sorte que a proibição aos católicos de receberem os Sacra-
344 Capítulo IX As Igrejas Calcedonias no Império Otomano 345

mentos pelas mãos de sacerdotes católicos de rito oriental veio, com o créatures" ["£ para a glória e o interesse de Sua Majestade ter aqui os
tempo, a tornar-se norma geral c oficial, que só foi abolida no século XX. chefes das nações cristãs como criaturas suas"].
Na realidade, tal afrancesamento deve ter agravado os já existentes
sentimentos antilatinos. De outro lado, os partidários da União não eram
20. Francisco Picquet. Ampla Influência Francesa assim tão dóceis e tão francófilos, como os Superiores das Missões gosta-
riam de verificar.
Mais estreitos, do que em Constantinopla, eram os contactos mantidos
pelos missionários da Síria com os representantes do Rei da França. Seria,
pois, muito possível discorrer sobre a história das Missões, tomando como 21. Patriarca Eutímio II Carmi e Seus Sucessores Imediatos
base os empenhos dos sucessivos cônsules franceses. O mais conhecido entre
eles era Francisco Picquet (desde 1653). Pela sua influência pessoal junto Quando os Missionários chegaram em Alepo, ali era arcebispo o já
à Sublime Porta, êle soube alcançar resultados que deixavam a impressão mencionado Mclécio Carmi, que vivia cm bom entendimento com os Lati-
de serem as capitulações entre o Rei e o Sultão mais importantes do que o nos e conservava ligações regulares com Roma, desde que sc fundara a
eram na realidade. Congregação da Propaganda. De lá, eram-lhe enviados, freqüentemente,
A última fase da singular carreira desse gaulês de sentimentos apostó- textos litúrgicos cm grego; êle, por sua vez, remeteu ao Cardeal Borja uma
licos teve seu começo, quando êlc, sem estudos prévios, nomeado pela revisão que fizera da versão árabe dos textos rituais, trabalho importante
Propaganda Vigário Apostólico de Babilônia, foi sagrado bispo. Ao contrá- (o atual texto árabe reporta-se a êle, através de várias revisões posteriores),
rio de seus predecessores. Monsenhor Picquet estabeleceu-se na Alta Meso- justamente porque naquela época a língua cultual siríaca fora postergada,
potâmia, c trabalhou desde então entre os cristãos do rito siro-oriental. A quase que para sempre, nas igrejas melquitas.
atuação de Picquet enquadrava-se bem no período de Luís XIV, quando a Isto não obstante, demoraria ainda até 1634, para que êle [Melécio],
feição religiosa da diplomacia francesa no Império Otomano assumiu uma já constituído Patriarca de Antioquia, sob o nome da Eutímio II, desse
nota nacionalista mais acentuada do que antes, e isso de modo mais carac- numa carta testemunho de sua incondicional fidelidade à Igreja de Roma.
terístico na Síria. Antes, porém, que chegasse de Roma a confirmação da carta, êle morria em
Os percalços do afrancesamento progressivo das Missões menifesta- janeiro de 1635, talvez assassinado, por causa de sua posição favorável aos
vam-se nas reviravoltas da política turca exterior. Elas impunham restrições Latinos.
sempre maiores à influência religiosa de Paris, cuja importância real era Em todo o caso, era característico para a situação da época que pes-
aliás superestimada. soas de responsabilidade só assim podiam explicar a morte repentina do
Ainda que a alta política de Istambul mal atingisse o Oriente Próximo, Patriarca. De forma alguma esmoreceu o movimento contrário, era ainda
a crescente pressão dos círculos antilatinos na capital (tanto dos Ortodoxos, mais fomentado por parte de Constantinopla. Este seria talvez o motivo
como os representantes das potências protestantes), ela nem por isso dei- por que a posição dos sucessores imediatos do Patriarca estava longe de
xava de fazer-se sentir ali, de vez em quando. Eram os próprios missioná- ser muito definida. Tais eram as relações mantidas por Eutímio III e Macá-
rios, Jesuítas e componentes de outras Ordens Religiosas, desde a época de rio III Zaim com os "Francos", que os relatórios dos Missionários causa-
Luís XV, que mais promoviam tal afrancesamento na Síria c no Líbano. vam a impressão de serem os Patriarcas Melquitas da Síria simpatizantes da
A dissertação de J. Hajjar "Les chrétiens uniates du Prochc-Orient" ("Os União, sem terem contudo a coragem de dar o passo decisivo. Em todo o
Cristãos Uniatas do Oriente Próximo"), publicada recentemente, terá eli- caso, era problemático que eles, a respeito da União, defendessem os mes-
minado qualquer dúvida a tal respeito, ainda que as cartas e informações mos pontos de vista, que os sacerdotes latinos.
incluídas por Hajjar em suas pesquisas visassem, antes de tudo, impressio- O próprio Melécio Carmi, que pessoalmente se teria considerado cató-
nar a opinião pública, e que dessem indubitavelmente uma idéia simplista da lico, só depois de sua promoção a patriarca confirmou, por escrito, sua
gratidão e dos sentimentos francófilos dos cristãos orientais. União com a Igreja de Roma, manifestamente sem se servir da fórmula
então prescrita pela Congregação da Propaganda. Sem embargo, dificil-
O capuchinho J. B. de Saint-Aignan escreveu em 1670 a Colbert que mente poderíamos admitir que Macário III tivesse a mesma conceituação
os missionários estavam em condições de prosseguir com o trabalho apos- comum a respeito da unidade eclesiástica.
tólico "par les liberalités de notre invincible monarque, à présent régnant, Enquanto os Missionários e a própria Propaganda dele esperavam que
dont nous publions la puissance. . ." ["pelas liberalidades de nosso invencí- tentasse restabelecer a União no Igreja Melquita de Antioquia, tendo êle
vel monarca atualmente reinante, cujo poderio nós apregoamos". . . ] . Na- próprio, por intermédio de Picquet, ainda cônsul de Alepo naquela época,
quela mesma época escrevia Nau, superior dos Jesuítas: "Cest la gloire et escrito uma carta ao Papa, na qual o designava "Pontífice Máximo da Igre-
Vintérêt de Sa Majesté d'avoir ici les chefs des Nations chrétiennes pour ses ja Ortodoxa": [Macário III] todavia sempre se intrometeu em quase todas
N o v a H i s t ó r i a III — 23
Capitulo IX As Igrejas Calcedonias no Império Otomano 347
346

as rixas que surgiam em vários patriarcados ortodoxos, no transcurso de


seu longo pontificado.
Sua morte (1672) foi pranteada tanto por católicos como por não-
católicos. Entretanto, dificilmente se poderia asseverar que êle tivesse le-
vado seu Patriarcado a uma perfeita unidade eclesiástica, sem prejuízo de
que historiadores posteriores, muito levianamente, o tenham acusado de
aütudes ambíguas.

22. Cisma no Patriarcado de Antioquia

À morte de Macário, seguiram-se dez anos de confusão, durante os


quais os Gregos entram em ação pela primeira vez, sendo isto o primeiro
sinal manifesto de que regredira a influência dos sacerdotes francos e da
diplomacia francesa.
No ano de 1682, Neófito, favorito de Constantinopla, foi todavia
obrigado a renunciar a favor de Cirilo V Zaim, candidato nativo. Houve
mudança de situação, porquanto dali por diante, durante alguns decênios,
não era Constantinopla, mas a Congregação da Propaganda que ainda dis-
punha de alguma influência nos círculos melquitas.
Pouco tempo depois da promoção de Cirilo a patriarca, outro grupo
sírio conseguiu forçar a eleição de um candidato contrário, do Patriarca
Atanásio III Dabas, a personalidade menos simpática da época, que fora
por algum tempo monge da Laura de São Sabás, perto de Jerusalém. Êle
contava com amigos entre os Franciscanos da Custódia, e soube garantir
para si o apoio dos cônsules franceses.
Em 1687, Atanásio enviou sua profissão de fé a Inocêncio XI. O fato
de que o Papa o reconhecera como patriarca e o dispensara de qualquer
irregularidade que pudesse ter havido em sua eleição, não bastava todavia
para assegurar a posse do Patriarcado a favor de Atanásio.
Sem maiores entendimentos com Roma, ambos os Patriarcas fizeram
em 1694 um acordo entre si: Atanásio contentava-se com a sede de Alepo,
mas seria o sucessor de Cirilo depois de sua morte. A Propaganda declarou
o acordo nulo e sem valor; Roma continuou a reconhecer como patriarca
a Antanásio, que era católico.
Como este, porém, não deixasse de contar com o acordo feito com
Cirilo, a Congregação da Propaganda viu-se na contingência de prover,
por outra medida, a administração dos Núcleos Uniatas. Em 1701, Eutímio
Saifi, bispo de Sidónia, já vinte anos em comunhão com a Sé Apostólica,
foi instituído Administrador Apostólico dos Melquitas católicos do Patriar-
cado de Antioquia, enquanto estes já não estavam subordinados a um Or-
dinário católico.
RELIGIÕES DA EUROPA ORIENTAL E MERIDIONAL PELO ANO D E 1580
Em seu zelo, Eutímio julgou-se na obrigação de introduzir uma série
de modificações latinizantes nos costumes rituais e na disciplina eclesiás-
tica. Com isso não só provocou um protesto muito natural dos hierarcas
infensos à União, mas também incorreu numa admoestação de Roma.
348 Capitulo IX As Igrejas Calcedonias no Império Otomano 349

A nomeação de Eutímio já pertence à história do século XVIII. Como Justamente no patriarcado de Cirilo V, vários bispos melquitas envia-
a função dele não passou de um entreato, cabe aqui pelo menos uma curta ram, de plena convicção, sua profissão de fé à Igreja de Roma. Logo depois
referência ao fim desse movimentado período de história eclesiástica de das ocorrências do ano de 1724, não faltaram de modo algum elementos
Antioquia. entre os Orientais que empenhassem todas as forças para desenvolverem
A situação, porém, modificou-se radicalmente, quando em 1716 o o amplo desenvolvimento da "Pequena" União, que então já era uma rea-
muito idoso Cirilo V enviou ao Papa em Roma sua profissão de fé, igual- lidade.
mente por mediação de um amigo francês. Em vista disso, a Congregação Nesse trabalho, tiveram grande benemerência os mosteiros melquitas
da Propaganda da Fé julgou poder estabilizar a situação, homologando católicos, como o Mosteiro Central de Choueir na região do Líbano, fun-
finalmente a abdicação de Atanásio III, e reconhecendo Cirilo canonica- dado em 1697 por alguns monges de Balament, perto de Trípolis, e a
mente. Congregação Missionária do Salvador, desde 1711, instituída por Eutímio
Saifi.
Nessa altura, contudo, mais de vinte anos depois, Atanásio retirou
Não deixou, por certo, de ser uma circunstância favorável que a fun-
inesperadamente a declaração de que iria renunciar. A desagradável con-
dação dessas comunidades monásticas católicas procedesse à organização
seqüência foi que, dali por diante, ambos os Patriarcas disputavam a sede.
de per si autônoma de uma Igreja unida. Desde o começo, os sacerdotes de
Verdade é que, após a morte de Cirilo (1720), a situação se normalizou
Ordens Religiosas desempenharam nessa Igreja um papel importante; radi-
por princípio, mas as agitações (como efeito da incerteza de tantos anos,
cado com dificuldades, mas por isso mesmo dotado com maior força de
peio menos quando não entravam em jogo ambição e intrigas) não queriam
penetração, pôde o monaquismo fornecer relevante contribuição para as
acomodar-se, de sorte que já se não podia falar de um desenvolvimento
evoluções posteriores.
progressivo da idéia de unidade, tendo esta passado para um plano secun-
dário. Depois da morte do incalculável Atanásio III no ano de 1724,
irrompeu o cisma no Patriarcado de Antioquia, que desde então não teve
ainda paradeiro.
No meio da confusão reinante, os sequazes da união em Damasco
conseguiram promover a rápida eleição de um candidato insuspeitamente
católico. Serafim Tanas (como patriarca, Cirilo VI), sobrinho de Eutímio
Saifi. Depois de terem, com dificuldade, conseguido o número de sagrantes,
êle foi ordenado bispo e entronizado como patriarca, com um açodamento
verdadeiramente anticanónico.
Mas o Patriarca de Constantinopla que, entrementes, conseguira inte-
ressar de novo a Sublime Porta pela política eclesiástica na Síria, consagrou
uma semana mais tarde, a pedido de Melquitas de Alepo (muitos dos quais
há longo tempo simpatizavam com a União), a Silvestre de Chipre (Jere-
mias III), antigo confidente de Atanásio III, pelo qual fora certamente
designado como sucessor. A situação tornou-se, por algum tempo, tão
emaranhada, que a diplomacia francesa abandonou a linha que seguira, ha-
via cem anos, e colocou-se atrás de Silvestre. Este logo se declarou infenso
aos Latinos, enquanto o reconhecimento de Cirilo VI, por parte de Roma,
só iria efetuar-se em 1730.
A descrição dos acontecimentos não muito animadores da época, por
volta de 1700, poderia despertar a impressão errônea de que a causa da
unidade cristã no Patriarcado Melquita de Antioquia estava total e irreme-
diavelmente comprometida. Não há negar que a confusão entre a alta
hierarquia influiu, desfavoravelmente, na situação dentro das comunidades;
que nas condições dominantes fora forçada uma nova união, que em últi-
ma análise provocou um cisma nos círculos melquitas: mas essa união
comprovou-se capaz de germinar, mais do que o permitiriam aguardar os
efeitos do comportamento de Atanásio.
As Igrejas de rito bizantino entre os Eslavos orientais 351

A designação de "Ucrânia" ("Fronteira") foi usada posteriormente


para indicar vários países "fronteiriços" ("ucranianos"). No século XVII,
ficou esse nome reservado para designar o território da Pequena Rússia,
com demarcações mal definidas. O termo "ucraniano" foi perfilhado muito
1

CAPITULO X mais tarde.


Sem dúvida, as relações sempre variáveis e quase sempre tensas entre
a Moscóvia e a Polônia-Lituânia não explicam todas as suscetibilidades reli-
AS IGREJAS DE RITO BIZANTINO giosas que de tempos em tempos tornavam a aparecer. Uma idéia exata da
situação política e geográfica se torna indispensável para compreendermos
ENTRE OS ESLAVOS ORIENTAIS * pelo menos alguns dos curiosos conflitos, que surgiram no seio da Igreja.
Por ocasião do Concílio de Florença, e posteriormente por mais de um
1. Situação Política e Eclesiástica no Século XV século, os metropolitas de Quieve (Kiev) residiam por via de regra em
Moscovo. Legítimos sucessores dos metropolitas que tinham ocupado a sede
Antes do Concílio de Florença, as dioceses dos Eslavos Orientais não mais antiga da Rússia, êlcs conservavam ainda seu título tradicional. Mas,
constituíam senão uma hinterlândia, unicamente conhecida pelos governa- posto que todas as dioceses eslavas do Oriente lhe eram teoricamente subor-
dores gregos e pelos ocidentais, que vizinhavam com ela. Em contrabalanço, dinadas, tal subordinação não se verificava na prática. Ainda em território
no século XV, o resto da cristandade começou a intercssar-se pelo desen- lituano, notar-se-á a existência de metropolitados provinciais que, entre vá-
volvimento político e eclesiástico dessa parte da Europa Oriental. rias vicissitudes, foram fundados durante o século XIII, sem o consenti-
mento de Constantinopla. O fato de terem sobrevivido, e a própria recorda-
Sob o ponto de vista político, o centro de gravidade da "Rússia", cujo ção das sedes que desapareceram, constituíram importante fator para se
eixo norte-sul ia de Novgorod até Quieve (Kiev), deslocara-se em direção fundarem as instituições da Igreja Uniata, mas também continuam a ser
do centro do país. O pequeno principado de Moscovo desenvolveria ali um causa de tensão entre os ortodoxos da Polônia-Lituânia e a Igreja de Mos-
papel preponderante, desde que o domínio tártaro enfraquecera. Sua pri- covo.
meira expansão, de escala maior, situa-se na época de Ivã III (1462-1505). Não vem ao caso sabermos se os cristãos dos territórios russos, per-
Mais tarde, tornar-se-á o Império dos primeiros Romanov, a que a Europa tencentes à Lituânia no século XV, se lembravam ainda que, na primeira
por muito tempo chamará Moscóvia. O nome mais realista de "Rússia", tra- fase cristã de Quieve (Kiev), as fronteiras entre leste e oeste estavam mal
dução do latim "Rússia" ("Rossija"), foi adotado no governo de Pedro, o demarcadas. Ali viviam, lado a lado, Latinos e Eslavos de rito bizantino, e
Grande, para designar o conjunto dos territórios da "Rússia" como tal. estavam mais ou menos habituados com tal promiscuidade. Mais tarde,
Pelo fim do período histórico que nos interessa, a divisa sudoeste de encontrar-se-ão influências latinas de origem polaca até em ambientes anti-
Moscóvia mal atingirá o curso médio do rio Dniepre. Os territórios da católicos. Exemplo disso é a teologia de Quieve (Kiev), influenciada pela
Rússia Branca e da Pequena Rússia estavam quase totalmente incorpora- Polónia no século XVII.
dos no Grão-Ducado da Lituânia, que desde 1386 tinha crescido para o sul, Entanto, os cristãos de ambos os ritos que durante o século XV viviam
ao sabor da política dinástica da época, estreitamente ligada ao Reino da nos territórios situados entre a antiga Lituânia e a Moldávia, eram muito
Polônia. Depois de 1569, praticamente fazia parte do Estado Polaco. Pelo mais estranhos entre si do que os cristãos das margens do Adriático. Não
fim do século XVIII, quando da divisão da Polônia, todas as dioceses bizan- obstante seu complexo de superioridade latina, que se fazia notar até nos
tinas passaram, politicamente, para o Império da Rússia. As dioceses orien- decretos de Inocêncio III e Inocêncio IV, os Italianos lembravam-se da
tais da Galícia (designação que se deriva de Halytsi, cidade episcopal a importância histórica do ramo bizantino da cristandade.
sudoeste de Lemberga ou Lwow), que desde o século XIV pertenciam à A situação da Polônia era diferente, assim como aquela que mais
Polônia, passaram então para a Áustria. tarde reinaria no país dos Habsburgos. Se o povo e o baixo clero tinham
A este esquema bastante complicado corresponde uma nomenclatura conservado certa tolerância natural, os dirigentes c os bispos, pelo contrário,
não menos complexa, usada muitas vezes pela Igreja. Em documentos ro- não estavam dispostos a adotar uma política compreensiva a respeito dos
manos, o termo "Rutheni" (Rutenos), habitantes da "Rússia", que ocorre cristãos eslavos de rito bizantino. Muitos séculos passarão ainda, até que
às vezes cm relatórios de viagens no século XVII, para designar os Russos os ecumenistas venham a demonstrar que toda a História da Idade Média
de Moscóvia, tornou-se posteriormente uma expressão, cada vez mais gené- não apresenta nenhum indício provando que a Igreja de Quieve (Kiev)
rica, para designar os católicos eslavos de rito oriental, situados na Polônia- tenha seguido, de sua vontade, o Patriarcado por ocasião dc seu rompi-
Lituânia c nas redondezas. mento com Roma. Foram os vizinhos latinos que tacharam de cisma o que
[3501 era lenta evolução dos espíritos.
352 Capitulo X As Igrejas de rito bizantino entre os Eslavos orientais 353

Ademais, a pretensão de superioridade latina dos Polacos não cessara Sob o governo de Fócio (1408-1431), depois de concluída entre o
de crescer, depois que o Estado, constituído com tanta dificuldade, se orien- Metropolita e o Grão-Duque uma Aliança, que desde então ficou tradição,
tava para o Oeste Germânico. A latinização da Igreja foi disso uma das a atitude antiocidental, e por conseguinte antilatina, teve oportunidades de
grandes conseqüências. conservar-se sistematicamente. Consciente de sua importância, Moscovo
Até meados do século XI, existia uma hierarquia "eslavo-romana" ao adota uma atitude de defesa contra os estrangeiros, contra sua religião e sua
lado da hierarquia latina. Muito tempo depois, na região de Cracovia, cultura. A hostilidade persiste durante toda a época a que nos referimos,
ainda se observavam ritos da Eslavônia Ocidental, provenientes da Boêmia, muito embora a política dos dirigentes se mantenha aberta a todas as suges-
comparáveis ao rito glagolítico da Croacia. Cclcbravam-se na língua pe- tões do Ocidente. O herói Alexandre Newsky já é então venerado como
culiar do culto, que era a dos cristãos de rito bizantino da antiga Rússia. santo nacional.
Na altura de 1400, tendo um derradeiro reflorescimento, essa praxe A Igreja de Moscovo desempenhou grande papel na unificação da
impedia qualquer união com latinos não-eslavos. Os historiadores poloneses Moscovia. À semelhança do Estado, ela tinha consciência de sua importân-
ignoraram sistematicamente, durante séculos, esse capítulo de sua histó- cia. Desde a época tártara, conservava como certa a missão de ser prote-
2
ria. Tampouco como na política, a idéia de uma afinidade étnica entre tora do ortodoxismo. Esse princípio foi divulgado entre o povo pelos auto-
os Polacos e seus vizinhos eslavos não conseguiu influenciar a Igreja. Exis- res eslavófilos do século XIX, que descreveram muitas vezes a autêntica
tia oposição entre Polacos e não-Polacos, ou, no plano religioso, entre Lati- tradição da cristandade russa, sua simplicidade evangélica, e seu amor cheio
nos identificadamente "católicos" e os não-Latinos. de mansidão, arredado de sutilezas canónicas e teológicas, em contraste
De outro lado, tal situação favorecia uma polonização constante, acom- com a ortodoxia grega de rito bizantino.
panhada de latinização, toda a favor dos nobres, que constituíam a ciasse
Esses traços são peculiares da tradição ortodoxa russa, mas não pode-
dirigente. Na Galicia e nos territórios situados a leste da Polónia, não havia
ríamos ver neles características solidamente estabilizadas. A história da
classe média. Desta maneira, a nobreza assegurava para si uma posição
organização externa da Igreja e das correntes espirituais da Rússia Mosco-
privilegiada, e tanto mais que se enfraqueceram as dioceses de rito oriental,
vita é muito mais complexa, cheia de tensões provocadas por influências
já de per si pouco prósperas.
continuamente variáveis, difíceis de definir.
Atrasadas ficaram as comunidades uniatas, que se formaram pelo fim
do século XVI na Polónia e nos domínios dos Habsburgos. Esses autênticos Na época de que nos ocupamos, irromperão duas longas controvérsias.
católicos eram por vezes tratados como cidadãos de segunda categoria Designam-se, por brevidade, com os nomes de seus protagonistas: contro-
pela administração civil e pelos bispos. Tal seria ainda a situação durante vérsia de Nilo de Sora com José de Volokolamsk no século XVT, e contro-
o governo de Francisco José na Hungria, e sob o governo de Pilsudski na vérsia dos "Velhos Crentes" ("Rascolniques" ou "Rascolnitas") com os
República Polaca. Na Lituânia enérgicos ortodoxos puderam conseguir no partidários do Patriarca Nicão no século XVII. Em ambos os casos, entre
século XVII estatutos mais favoráveis do que os estatutos dos uniatas, na os que perderam estão os representantes de uma Rússia idealizada pelas
proporção que a política polonesa via nisso vantagem para si mesma. eslavófilos, enquanto vemos os dirigentes do ortodoxismo russo entre os
Nos pequenos principados, que formavam o núcleo, do qual se cons- vencedores.
tituiria mais tarde Moscovia, a Igreja conservava-se, nesse particular, vol-
tada para Constantinopla, porquanto, fora raríssimas exceções, os metro- 2. Origem do Metropolitado de Moscovo
politas nomeados pelo Patriarcado eram todos gregos, e as velhas incrimi-
nações dos Gregos contra os Latinos vinham à baila sem cessar. Tsidoro, metropolita de Quieve, era de descendência grega, e desconhe-
Existia, já antes de 1300, uma tradução eslava ("Kormtsjaja kniga") cia a língua do país. Logo que chegou à sua residência em Moscovo,
do Pedalion grego (cânones e diretivas religiosas), que continha passagens peuco depois do Concílio de Florença, quis executar o decreto concernente
hostis ao Ocidente, mas naquela época o texto só era conhecido por um à União. O grão-duque Basílio II mandou encarcerá-lo. Graças talvez a
círculo limitado. Os Latinos ou "Francos" da Quarta Cruzada tinham-se algumas conivências, êle evadiu-se e conseguiu, depois de várias aventuras,
tornado verdadeiros inimigos dos Gregos. Os Eslavos de Leste testemunha- alcançar território amigo.
vam idênticas malquerenças aos invasores germânicos e suecos, igualmente Ainda que vários bispos de rito oriental estivessem dispostos a receber
"latinos", que foram desbaratados pelo grão-duque Alexandre Newsky em Isidoro como metropolita, êle não pôde fixar-se entre eles, porque o papa
meados do século XIII. Eugênio IV e o Concílio da União (Florença) eram impopulares entre os
A este período de invasões, sucedeu, na época dos Tártaros, uma inter- Latinos. Casemiro, o jovem rei e grão-duque, dirigiu-se ao antipapa Félix
rupção de todo contacto entre Moscovia e o Ocidente. A atmosfera anti- V, Isidoro então foi para Roma, onde veio a morrer em 1463, depois de
latina, evidentemente, não desapareceu, recomeçando os atritos tradicionais se haver desincumbido de várias missões, mas não entre os Eslavos Orien-
com maior intensidade, mas sem que neles entrassem questões de doutrinas. tais.
354 Capitulo X As Igrejas de rito bizantino entre os Eslavos orientais 355

Opondo-se a Isidoro, queria Basüio II afastar de seu grão-ducado e da rio II, antigo companheiro de Isidoro, que nesse ínterim tinha renunciado à
Igreja todo o perigo de intromissão estrangeira. Teve o apoio do clero e do sua sede. A nomeação teve conseqüências decisivas para a Igreja de Mos-
povo que tomavam os riscos das influências ocidentais como ameaça contra covia.
o ortodoxismo. Influiu, parcialmente, na atitude de Basílio II o antagonis- O novo Metropolita foi bem recebido na Polônia-Lituânia. Conse-
mo cada vez maior contra os gregos. Aliás, na qualidade de estrangeiro, guiu alguns partidários entre os bispos da região de Moscovo, depois de
Isidoro representava a facção grega, já suspeita no governo do seu prede- haver alegado que fora anteriormente sagrado bispo pelo patriarca Gregório
cessor Fócio, por haver favorecido, abertamente, uma aproximação com o Mamas. Com intuitos que não eram essencialmente religiosos, Casemiro fêz
Ocidente Latino. Em Moscovo, não se ignorava que, muito antes do Con- pressão sobre o grão-duque Basílio, para que fizesse Moscovia reconhecer
cílio de Florença, Isidoro, que era legado grego em Basiléia, fora nomeado Gregorio como metropolita, em lugar dc Jonas, cuja eleição fora ilegal. De
metropolita pelo patriarca José, com o intuito de introduzir a tão suspirada seu lado, podia Gregório fazer prevalecer a própria legitimidade. Este parti-
União. Fizera-se tal eleição em detrimento de Jonas de Riazan, candidato à cular tinha sua importância no Oriente.
sede, muito antes de Isidoro. Sem perda dc tempo, decidiram em Moscovo opor-se cabalmente à
Depois de alguns anos de distúrbios políticos, Basílio convocou em nomeação dele. O Grão-Duque e seu Metropolita não tinham provavel-
1448 um Sínodo que elegeu Jonas como metropolita, sem consentimento mente feito nenhum esforço mais sério para conseguirem, de um Patriar-
do Patriarca. Tinha-se perfeita noção do desacato às leis da Igreja. Quando cado em plena balbúrdia, o reconhecimento de Jonas.
em 1450 os adversários da União pareciam triunfar em Constantinopla, o Mas, no outono de 1459, o Sínodo de Moscovo decidiu subtrair-se,
Grão-Duque e os Bispos procuraram reatar, imediatamente, as relações com mesmo teoricamente, ao jugo de Constantinopla. Jonas e seus sucessores
o Patriarcado. foram declarados metropolitas legítimos, na medida em que o Grão-Duque o
A ação movida em 1448 contra o patriarca Gregório Mamas e Isidoro ratificasse. Gregorio, esse "herege", esse embaixador do Papa. não tinha
era, no fundo, uma recusa de união com Roma. Era a primeira vez que uma nenhum direito a tal dignidade.
Igreja Eslava do Oriente refugava, por um ato positivo, todas as ligações Desta feita, os bispos presentes — os de Novgorod e dc Tver estavam
com Roma. ausentes — puderam finalmente exprimir, sem rebuços, sua repugnância
A hostilidade contra o Ocidente, afirmada pelo rompimento com o contra Roma. De outro lado, levantou-se a questão a propósito de mudan-
Patriarcado, era sobretudo para Basílio e Jonas um fato que permitiria a ças na relações com Constantinopla. Declarações redigidas com precisão
Moscovo consolidar sua preponderância, que naquela época ainda era pre- estabeleceram que, depois da queda, a cidade perdera sua liderança, pois
cária. O perigoso Ocidente identificava-se assim com a Polônia e a Lituâ- os Gregos tinham abandonado a doutrina ortodoxa. Surge, então, a tese
nia, cada vez mais polonizada. Não há, porém, cabimento em comparar a que mais tarde se desenvolverá: "Moscovo, a terceira Roma, faz as vezes
tensão da época que aqui nos interessa à tensão russo-polonesa do século de Constantinopla". O Sucessor de Jonas foi o primeiro a usar o título de
XIX. Até aos conturbados tempos do início do século XVII, as relações "Metropolita de Moscovo".
entre os dois partidos mudam sem parar, c a oposição entre católicos e
ortodoxos não teria sempre as conseqüências que mais tarde iria acarretar.
Um ano apenas depois do Sínodo de 1448, efetuou-se uma dessas 3. A Igreja do Rito Bizantino na Polônia-Lituânia
caprichosas reviravoltas da política. Casemiro fêz um acordo com o Grão-
Duque de Moscovo. Por tácito entendimento, Jonas não seria molestado, e Gregório II, "metropolita de Quieve" desde muito tempo, e "metro-
continuaria a exercer seu sacerdócio na Lituânia e na Galicia, junto aos polita de todas as Rússias" segundo a tradição, continuou a exercer sua
cristãos de seu rito. Dois anos mais tarde, o Bispo Latino de Vilna (Wilno), jurisdição sobre a hierarquia eclesiástica do Oriente nas áreas que abran-
chanceler de Casemiro, ratificou o acordo por instrumento manuscrito. giam a Lituânia e a Galicia Polonesa.
Jonas nomeou seus representantes. Até um bispo sagrado por Isidoro É provável que êle tenha apoiado moralmente o calamitoso projeto,
se colocou debaixo de sua jurisdição. Nenhum membro das hierarquias pelo qual Casemiro queria reunir à Lituânia Novgorod e Tver. Ivã III pouco
orientais em Polônia-Lituânia dispunha pessoalmente de bastante influência, depois as anexou, definitivamente, ao domínio de Moscovo. Poderíamos,
para que ali pudesse fazer triunfar o espírito de Florença. Casemiro e seus contudo, admirar-nos de que, compelido pelo rei Casemiro, o qual, num
partidários reconheceram todavia o papa Nicolau V, mas continuaram a endurecimento de sua política relativa a Moscovo, o forçava a pedir em
nutrir repugnância pelo Concílio Unionista de Eugênio IV e desdém pela Constantinopla a confirmação de seu patriarcado, Gregório II se confor-
forma bizantina da cristandade. masse ao desejo do soberano. Dionísio, patriarca de Constantinopla, deu-lhe
Alguns anos mais tarde, a situação mudou completamente. Roma pro- satisfação ao pedido.
jetava nomear um metropolita católico em Quieve, para salvar enfim a Apesar das relações que Gregório mantinha com o Patriarcado, Roma
causa da União. Casemiro apoiou o projeto. A escolha recaiu sôbrc Gregó- jamais pôs em dúvida sua fidelidade à União. Sem levar em conta sua ori-
356 Capítulo X As Igrejas de rito bizantino entre os Eslavos orientais 357

gem política, tais relações correspondiam talvez ao conceito que êlc fazia Não sabemos se a carta obteve resposta. O documento reflete as ten-
da União de Florença. Exprimiam seu acatamento à sede de Constantinopla, sões existentes na época entre Latinos e Ortodoxos, mas também entre
acatamento exigido pelos cânones da Igreja, c que era natural em Eslavos católicos de ritos diferentes. Algumas queixas foram de novo externadas,
de rito bizantino, domiciliados fora da área de Moscovia, e por vezes con- quando o metropolita José Bulgarynowitch, do qual a Cúria Romana não
trários a Moscovo. Era a atitude dos partidários da União [Unionistas], tomava conhecimento, dirigiu entre 1501 um escrito ao papa Alexandre VI,
dentro da geração dos que seguiam Florença. para lhe solicitar admissão no grémio da Igreja Romana.
Gregório II não conseguiu realizar na Polônia-Lituânia os projetos Essa tentativa foi sustada pelas insinuações dos Latinos poloneses
conciliares de Florença. Tudo quanto se pode dizer de seus sucessores, na e lituanos contra seu compatriota ortodoxo. Alegavam, sobretudo, a
medida em que conhecemos suas atividades, é que eles conservaram viva e absoluta nulidade do Batismo e da Unção [Crismai] administrados pelos
tradicional lealdade para com a Igreja do Ocidente. Não foi senão século e "Gregos". Eram insinuações que o metropolita Misael já tinha rebatido
meio depois do Concílio de Florença, na União de Bresta-Litowsk, que o vinte e cinco anos atrás. Cumpre, porém, observar que os Frades Menores
Metropolita de Quieve poderá cumprir, na Grã-Polônia, a missão que lhe [Franciscanos] da Polónia defendiam sua validade. Os árdegos teólogos de
fora cometida por Calisto III e Pio II. Antes dessa época, não existiam as Cracóvia que, por tradição, não tomavam conhecimento do Concílio de
condições essenciais para um bom êxito. Florença, continuaram a ser, como nas décadas anteriores, os principais
5

Após a morte de Gregório II (1472), o metropolitado de Quieve tor- locutores da oposição.


nou-se, para Casemiro e seu filho Alexandre, um meio de atingirem seus Admira-nos ver que Roma, em lugar de ater-se às conclusões práticas
propósitos políticos. A confirmação da escolha de Simeão, segundo suces- do Concílio de Florença, submetesse o conjunto de questões a um acurado
sor de Gregório, foi pedida só em Constantinopla, e não em Roma. Esta exame, ao termo do qual o papa Alexandre VI se pronunciou a favor da
[última] praxe parece ter sido regra até o fim do século XVI. validade. Não obstante a decisão, as decsiões a respeito das Unções
[Crismais] segundo o rito oriental foram bastas vezes reavivadas pelos teó-
Contudo, muitos metropolitas, até Jonas inclusive (1502-1507), quise- logos latinos até o século XV1I1, enquanto as Congregações Romanas, por
ram provavelmente conservar-se em união com Roma. Dali por diante, o
via de regra, proibiam a repetição de tais Unções. Mas, também neste pon-
metropolitado não pode ser considerado senão puramente ortodoxo, apesar
de certa benevolência que êle manifesta para com a Santa Sé. to, verificaram-se alguns amolecimentos. Ao que parece, o Papa nunca res-
pondeu ao metropolita José.
No decorrer da primeira fase crítica, Roma parecia ter olvidado a Naquela altura, os patriarcas católicos de Constantinopla, prelados la-
União na Polônia-Lituânia. Depois de Pio II, toda a atenção dela se vol- tinos residentes em Roma, não viam proveito em se ocuparem com a Igreja
veu para uma aproximação, tão longamente desejada, com a Moscovia como de Quieve. A controvérsia cm torno do Batismo e das Unções [Crismais]
eventual aliada contra os Turcos. A reunião da Igreja estaria então em vias prova como essa Igreja era pouco compreendida pelos chefes latinos
de realizar-se. O papa Sisto IV acertou pessoalmente o casamento de Ivã da Polônia-Lituânia. Seus usos diferentes eram objeto de suspeição. Case-
III, viúvo, com a princesa grega Zoé Paleóloga (na Rússia, chamava-se
miro escreveu a São João de Capistrano, que unicamente o rito arredava
Sofia). O casamento foi contraído cm Roma, por procuração, no ano de
1472. Não trouxe nenhuma das venturosas conseqüências, que tanto se esses cristãos de Roma.
esperavam. Para o Grão-Duque representava apenas mais um grande suces- Tanto por essa atitude, como pela política irresponsável do Rci-Grão-
so político. Duque, a diferença, muito arguta, entre fiéis da União [UnialasJ e ortodo-
xos, tornou-se para os estranhos cada vez mais nebulosa, dc sorte que os
Mas esse contacto foi o ponto de partida para outras relações que se cristãos do metropolitado de Quieve não encontraram outro meio dc conso-
entabularam sob cs sucessores de Ivã. Roma procurava conquistar Moscovo lidarem suas tradições senão junto aos Orientais acatólicos.
para seus planos de Cruzada. Moscovo procurava, em Roma, arquitetos e Nestas condições, quando da insurreição que irrompera em Quieve e
artistas. Em 1561, ao início do último período do Concílio de Trento, Pio na parte setentrional da cidade, as medidas tomadas por Casemiro e quali-
IV enviou debalde um convite a Ivã IV, o Terrível, para que o Czar assis- ficadas como "turcas", que entre outras cousas proibiam aos ortodoxos
tisse ao Concílio. Ulteriormente, trataremos dos contatos entre Ivã IV e o construir novas igrejas de alvenaria, e restaurar aquelas que caíssem em
Vaticano, nos anos de 1581 a 1582. ruínas, perjudicaram a União muito mais do que os próprios ortodoxos.
Neste período intermédio, reduziram-se consideravelmente as relações Logo que tais medidas foram suspensas em 1504, já não se podia falar de
entre Roma e o metropolitado de Polônia-Lituânia. Misael Prutsky, me- uma comunidade uniata coesa. A hierarquia latina tentou impor novamente
tropolita católico, cuja dignidade ninguém contestava, primeiro sucessor de tais medidas em 1542; fê-lo, mais uma vez, entre as duas Guerras Mun-
Gregório, alguns superiores monásticos e fidalgos lituanos dirigiram uma diais.
carta coletiva a Sisto IV, com uma exposição do Concílio de Florença, e Com vistas à sucessão dc seu filho, Sigismundo II foi obrigado em
sobretudo com numerosas queixas a respeito dos Latinos na Polônia. 1522 a prometer à nobreza lituana, propensa a favor da Polónia, que uni-
Capítulo X As Igrejas de rito bizantino entre os Eslavos orientais 359
358

camente lituanos de "religião católica romana" (subentendia-se: "somente O Ocidente não desconhecia tais reivindicações. O pada Leão X ofe-
os latinos") poderiam ter acesso a cargos de maior importância. receu em 1519 a coroa real a Basílio III, prometendo-lhe um patriarcado
autônomo para Moscovo, se êle se comprometesse a reconquistar Constanti-
Ainda que tal restrição ficasse sem efeito, por uma postulação de nopla, seu patrimônio. Já usado desde algum tempo, o título de "Czar"
fidalgos poloneses convertidos ao protestantismo, contudo a tendência que substituíra o título mais vago de "césar" ou de "rei". Era, além disso, a
ela interpretava manifestar-se-ia ainda em várias oportunidades, conti- tradução eslava do termo grego "basileus". O título de "czar" foi adotado
nuando em andamento o processo de polonização das classes dirigentes do no tempo de Ivã III. Sob o governo de Ivã IV, o Terrível (1533-1584),
país, que começara em 1400. tomou a significação de "Imperador", a partir do dia em que o Grão-Duque
A Igreja de Quieve era então particularmente vulnerável, porque seu foi solenemente coroado pelo Metropolita em 1547.
clero dispunha de muito pouca instrução. Fora de Moscovo, não se encon- Somente em 1562 o Patriarca de Constantinopla reconheceu, não sem
trava, entre os monges, nenhuma personalidade capaz de exercer liderança. aversão, esse novo título de imperador, que era uma consciente realização
Demandas estéreis contra os bispos, por questões de competência, preju- de uma "Terceira Roma", qual a tinha formulado, no tempo de Basílio III,
dicavam também as confrarias leigas, sobretudo as atividades da confraria o monge Filóteo, de Pskov: "E agora resplandeça em toda a terra, mais
"isenta" de Lemberga (Lwow). deslumbrante do que o Sol, a Santa Igreja Católica Apostólica da terceira
Os nobres que se conservaram fiéis à ortodoxia davam tonalidade na Nova-Roma, vosso poderoso Império. . . pois que não existirá uma quarta".
vida religiosa, e alguns deles foram até nomeados bispos pelo Rei, sem Transposta, naturalmente, para o plano religioso, esta idéia não deixou da
chegarem a receber a sagração episcopal. A restauração da Igreja de Quieve ser, até os nossos dias, a origem de tensões entre os círculos religiosos de
na era de 1600 provou que ela estava bem viva ainda, muito embora não Moscovo e o Patriarcado Ecumênico [de Constantinopla].
tivesse, no século anterior, uma atividade comparável àquela que então Explica-se, pela situação, o motivo de ser elevado ao patriarcado o
animava o Igreja de Moscóvia. Metropolita de Moscovo. A circunstância favorável a essa profunda modi-
ficação religiosa apresentou-se, quando Jeremias II, patriarca de Constanti-
nopla, parou em Moscovo, quando fazia viagem de coletas. O Regente
4. A Igreja de Moscovo no Século XVI. Criação do Patriarcado. Bóris Godounov conseguiu arrancar-lhe o consentimento (1589). Após
Controvérsia a Respeito da Vida Monástica. longas discussões, a nomeação foi ratificada por todos os Patriarcas do
Oriente. O novo Patriarca recebeu o último lugar de precedência entre eles,
No governo de Ivã III (1462-1505), o grão-ducado de Moscovo, até contrariando o desejo de Moscovo, que queria ocupar o segundo lugar, ime-
então pequeno Estado, atingido por várias vicissitudes, quis estender sua diatamente depois de Constantinopla.
hegemonia às regiões vizinhas. Transformou-se logo em seguida, e veio a Como nos tempos da Rússia de Quieve, a direção da Igreja de Mos-
ser o centro de um Império que avançava até o Mar Branco e a região do cóvia que se achava em vias de crescente desenvolvimento, bem como o
Ural. Por ocasião da morte de Bóris Godounov (1605), data que marca o centro de vida religiosa, ficavam ligados à própria existência dos mosteiros,
início dos "distúrbios", o Império de Moscóvia estendia-se até ao Astracã, de acordo com a boa tradição ortodoxa.
no delta do Volga, incluída a "Ucrânia", a leste da Cordilheira do Ural. Depois de passada a hegemonia tártara, os mosteiros tiveram um pe-
O Metropolita era ali chefe da Igreja, e tornou-se posteriormente Pa- ríodo florescente, graças às fundações de São Sérgio de Radoneso (Sergij
triarca de Moscovo. Teoricamente, em pé de igualdade com o chefe tem- Radonetschkij) e de São Cirilo do Lago Branco (Beloie Ozero), seu dis-
poral, mas [praticamente] colocado muitas vezes debaixo de sua autoridade, cípulo mais conhecido. Não viria, pois, ao caso tomar em consideração,
êle era sem contestação o bispo mais influente do Império. como simples desavenças de monges, as controvérsias entre os discípulos de
À semelhança do Império Bizantino, na época correspondente à José de Volokolamsk e os de Nilo de Sora, chefes religiosos canonizados, e
"Questão dos Ícones", e posto que ainda não estivesse fixada a forma da pertencentes à geração seguinte.
religião em o novo Estado, via-se então harmoniosa colaboração no desen- Por volta de 1500, como antes e depois desse período, o ortodoxismo
volvimento das relações entre a Igreja e o Estado. Esta situação se man- admitia tanto menos uma diferença real entre o ideal religioso dos monges
teria até meados do século XVII. e o ideal dos leigos que vivem no temor de Deus, quanto mais a vida tra-
Nas funções de protetores da Igreja, os Grão-Duques entenderam, de- dicional dos mosteiros do Oriente Cristão deixava de revestir-se de caráter
pois da queda de Constantinopla, que por sorte lhes cabia a atribuição dos clerical, tão típico da cultura ocidental na Idade Média.
Imperadores Romanos no Oriente. Disso deu prova histórica o casamento Só alguns monges, não necessariamente o superior deles, eram ordena-
de Vladimiro I de Quieve com Ana, irmã dos imperadores bizantinos Basí- dos sacerdotes, para que se garantisse a celebração da Eucaristia. Os mon-
lio II e Constantino VII, o Porfirogeneta, muito mais do que a união matri- ges do Oriente viram-se muitas vezes diante do problema de saber até que
monial de Ivã III com a princesa Zoé ou Sofia. ponto deviam tomar parte na vida monástica, e até mesmo se deviam as-
As Igrejas de rito bizantino entre os Eslavos orientais 361
360 Capítulo X

buísse maior importância à emoção pastoral e aos fatores psicológicos, do


sumir nela alguma atividade responsável. Nos eremitérios de Quievc, as so- que às regras em vigor, e se opusesse à violência profética, baseada no
luções variavam. Nesse período de organização do Estado e da Igreja, tais Antigo Testamento, a qual inspirava José Volokolamsk, e o induzir a
divergências de opinião resultavam inevitavelmente em conflitos. Era perseguir os dissidentes, e a fazê-los condenar pelo poder civil.
a verdadeira origem de todas as tensões que até a segunda metade do
século XVI conturbaram Moscóvia e os territórios colocados debaixo de sua A atenção geral, atraída pela forte personalidade de Nilo de Sora,
influência. Por fim, a questão assumiu o caráter de conflito religioso. apequenava a importância de José Volokolamsk (1440-1515) e de sua
Nilo de Sora ( + 1508) fracassou, e dele não restou uma biografia intervenção.
sequer. Por muito tempo, os meios ortodoxos oficiais consideravam-no como Seu conceito de atividade espiritual era talvez menos profunda do que
representante de uma tradição monástica provinciana c tacanha. Esse juízo aquela do Eremita das margens do Sora, mas certamente era autêntica, èle
mudou por completo no século XIX. Em nossos dias, a Igreja Russa ve- [Joséj formara-se numa antiga comunidade do tempo de São Sérgio. Logo
nera-o oficialmente como santo, da mesma maneira que os eremitas e o que julgou perceber nela certo relaxamento do espírito primitivo, fundou
povo já o veneravam naquela época. ao sudoeste de Moscovo o austero Mosteiro de Volokolamsk, essencialmente
Não se justifica, cabalmente, a opinião popular que julga ter descoberto cenobítico, sujeito a um regime de estrita obediência.
em Nilo a simplicidade evangélica da "Santa Rússia". Sua grandeza interior A fundação realizada por José e a de outros mosteiros, organizados ou
fazia dele uma personalidade particularmente complexa. Ninguém conhecia reformados no mesmo padrão, eram tanto mais interessantes, quanto mais
tanto, como êle, a antiga literatura religiosa c a tradição mais recente do os centros monásticos da Moscóvia, depois de São Sérgio, desempenhavam
hesicasmo, que estudara durante seu estágio no Monte Atos, depois de uma função política, social e econômica, que aos olhos de José era absoluta-
ter sido monge alguns anos no mosteiro de Cirilo. Ali colheu elementos para mente natural. Com seus vastos domínios, sempre acrescidos de novas doa-
compor, com assombroso espírito crítico, sua regra de procedimento e sua ções, os mosteiros e suas herdades, os "kolkhoses" que cultivavam o solo
doutrina pessoal, onde tudo converge para Deus, regra difícil de observar russo, eram ao mesmo tempo uma ajuda e um estímulo para os campone-
tanto pelos monges, como pelos leigos, dirigidos por êle, e que o tinham ses. Só a partir do século XVIII, começam as formas mais duras de servi-
como seu "estaroste". Aliás, tal regra devia ser seguida com toda a liber- dão na Rússia.
dade de espírito. As conclusões extremas, e por vezes estranhas, que Nilo Importava, antes de tudo, que os austeros mosteiros de cenobitas fos-
julgava poder tirar delas, opunham-se à concepção do Grão-Duque e da sem tidos como sementeiras [seminários] do alto Clero, e, em primeiro lugar,
maior parte de seus contemporâneos. de bispos escolhidos entre os monges, e que vivessem a vida deles. Daí se
Logo após seu retorno ao mosteiro de Cirilo, Nilo, como tantos outros originou a praxe, entre os ortodoxos, que um celibatário ou viúvo, perten-
monges que o faziam antes e depois dele, retirou-se a um eremitério vizi- cente ao "Clero branco", pedisse a consagração de monge antes de se sa-
nho do pequeno riacho Sora. Nessa região, ao norte da cabeceira do Volga, grar bispo. Desta forma, o mosteiro ficava cada vez mais ligado à organi-
a ligação tradicional entre o Mosteiro e os vários eremitérios era um fenô- zação hierárquica da Igreja. Por isso, o Grão-Duque, sem cujo beneplácito
meno corriqueiro. Desejosos de se colocarem debaixo de sua direção, logo nenhum bispo podia ser eleito, se envolvia algumas vezes em assuntos ecle-
foram discípulos procurar a Nilo. Mais tarde, êle permitiu-lhes que se ins- siásticos.
talassem pela redondeza, mas recusou-se ficar em superior. José achava isso tão natural, como o era para os seus coetâneos do
A pouca clareza que há no texto da "Regra" dc Nilo, transmitido pela Ocidente a intervenção dos príncipes nos negócios da Igreja. Tinha a peito,
Tradição, não permite saber se êle reprovava totalmente o cenobitismo. sobretudo, que bons mosteiros realçassem o esplendor da Igreja e do Clero.
A vida comunitária, que São Basílio no Oriente e São Bento no Ocidente Deturpa a verdade histórica quem o torna responsável pelos manejos de
julgavam ser base normal e sadia para a vida dos monges, êle a tinha como seus sucessores, ou pela funesta confusão entre Igreja e Estado, que cons-
forma imperfeita para a liberdade espiritual que pregava. Por esse motivo, tituía regra desde os meados do século XVII, mormente depois de Pedro, o
embora não conseguisse acomodar as perturbações religiosas, regulamentou Grande. Então, os mosteiros foram postos debaixo da fiscalização do Es-
minuciosamente o jejum nos mosteiros, determinou as normas do culto co- tado, e as sedes episcopais eram outorgadas a uma casta de monges-de-car-
munitário, que desejava ver celebrado com simplicidade toda puritana — reira, que da vida monástica só conservavam o celibato e o cafetã negro.
cousa rara no mundo ortodoxo — e que subordinava à contemplação Em 1503, no Sínodo de Moscovo, a que Nilo de Sora assistiu, a
mística. controvérsia sobre a vida monacal chegara à questão de averiguar se os
Criminaram a Nilo e seus partidários de haverem acobertado hereges. bens em comum eram permitidos ou proibidos. Tanto para Nilo, como para
As seitas sempre tiveram facilidade de implantar-se na Rússia. Os "Strigol- José, tomado individualmente, o monge devia observar estrita pobreza.
niki", e os "Judaizantcs", mais recentes, constituídos em base racional e Nilo, entretanto, pronunciou-se contra os bens dos mosteiros. Louvando-se
contrária à organização eclesiástica, tinham certa analogia com correntes em São Teodósio, do Mosteiro das Cavernas de Quieve, primeiro grande
semelhantes daquela época na Europa Ocidental. Pode ser que Nilo atri-
N o v a H i s t ó r i a III — 2 4
362 Capitulo X As Igrejas de rito bizantino entre os Eslavos orientais 363

chefe dos monges na Rússia, falecido em 1074, propunha a pobreza coletiva com toda a liberdade, por piedosos leigos. Este documento intensificou
obrigatória. ainda mais a rigidez do ortodoxismo. 4

José e seu grupo provaram que, de própria natureza, o cenobitismo A vítima mais conhecida da luta que os sequazes de José Volokolasmk
admitia bens de comunidade, ainda que se tratasse de aldeias inteiras com continuavam a promover foi Máximo, o Grego, natural de Epiro. Estudou
seus campônios e tudo quanto os cercasse. Sem isso, como poderiam os na Itália, onde por influência de Savonarola passou para a Igreja Latina.
mosteiros cumprir suas tarefas? A partir de 1502, foi dominicano em Florença durante alguns anos, e depois
Nilo replicou que toda a preocupação daí resultante e a própria moda- ingressou no Mosteiro de Vatopedi, no Monte Atos.
lidade do trabalho tolheriam o monge de conseguir sua verdadeira realiza- Quando em 1517, Basílio III ah procurou um tradutor para um manus-
ção pessoal. Êle próprio copiou os textos religiosos, a mais eficiente das crito grego, Máximo foi enviado a Moscovo, onde o Grão-Duque reteve o
ocupações que podia almejar para um monge. O amor ao próximo ou a sábio teólogo e filólogo. Mas, dentro em breve, Máximo teve que defrontar
prosperidade da Igreja não podem constituir motivo para alterar o pro- inúmeras dificuldades. Dele não se admitiam certas críticas à tradução
fundo sentido da vida monástica. Entre dois pontos de vista tão divergentes, eslava dos Livros da Igreja, e menos ainda críticas aos vícios do Clero e à
uma transação era impossível. Apoiado pelo Grão-Duque e pela maioria sua ignorância. No plano religioso, êle sentia afinidades com a Escola de
dos bispos, o partido de José prevaleceu. Nilo de Sora. Escreveu algumas pequenas obras sobre a vida monástica,
em que condenava a exagerada opulência dos mosteiros. Desde o Sínodo de
1503, as doações feitas a mosteiros eram tidas como boa ação por exce-
5. O Grfodoxismo em Moscovo depois do Sínodo de 1503 lência.
As várias atividades desse Grego de espírito brilhante valeram-lhe a
Muitos decênios ainda, depois de mortos os dois protagonistas, os adep- hostilidade do piedoso, mas tacanho Daniel, sucessor de José Volokolamsk
tos de José, ou "posseiros", moveram encarniçada luta contra os monges como superior do mosteiro, nomeado pelo Grão-Duque Metropolita em
"desapegados", estabelecidos na outra banda do Volga, e contra quaisquer 1522. Máximo continuou a polemicar. De comum acordo com os Patriarcas
tendências que julgassem animadas pelo espírito de Nilo. do Oriente, fêz oposição a Daniel, quando este anulou a primeira união
Feição própria, a Igreja de Moscóvia a adquiriu, sobretudo na meta- matrimonial de Basílio, a qual ficara estéril. Daniel condenou-o em 1531 a
de do século posterior ao Sínodo de 1503. A canonização de príncipes, bis- uma dura prisão, e Máximo foi detido num mosteiro. Com o tempo, houve
pos e monges acrescentou um elemento nativo ao tradicional calendário dos mitigação de tratamento, mas êle morreu encarcerado em 1556, no Mos-
Santos. A organização do Clero estava mais solidamente estabelecida do reiro da Trindade em Zagorsk. Suas memórias encerram vários capítulos
que antes nos ducados da Rússia. A devoção, porém, e as próprias formas infensos aos Latinos.
exteriores de entusiasmo religioso subsistiam fora dos quadros da organi- O período mais interessante da História da Igreja em Moscovo no
zação eclesiástica, muitas vezes até contra ela. Os "Possessos de Cristo", século XVI é aquele do metropolita Macário, 1543-1564, a quem os suces-
que sempre ocorreram em toda a extensão da História da Igreja, tanto do sores de José consideravam como perfeito representante da legítima orto-
Oriente como no Ocidente, nunca foram tão numerosos como em Moscovo doxia. Ele alardeava seu asco pelos Latinos e qualificava-os de apóstatas.
durante o século XVI. Na fase do mais tétrico terror, sob o governo de De sua luta sem quartel contra tudo quanto êle julgava errado, não devemos
Ivã IV, eles podiam dizer impunemente ao Czar aquilo que julgavam ser olvidar que sua vigilância impediu que se alastrasse a propaganda protes-
verdade. Um certo Basílio, o Bem-aventurado, falecido por volta de 1555, tante entre os antitrinitários, numerosos e dinâmicos, que acabavam de
fazia tanta impressão no povo, que espontaneamente deram o nome dele à infiltrar-se na Moscóvia, vindos da Polônia-Lituânia. Certas concepções,
Catedral de Santa Maria da Misericórdia, que se erguia na "Praça For- mesmo a respeito de iconografia cristã, eram suspeitas, caso se distancias-
mosa" em Moscovo, hoje "Praça Vermelha", e ali depuseram suas relí- sem das novas preferências do Metropolita e do Czar.
quias mais tarde. Mas êle é conhecido principalmente como escritor. Durante longos
anos, trabalhou na vida de todos os Santos do calendário ortodoxo. Acres-
É ainda da primeira metade do século XVI que data o Domostroj, centou-lhe comentários bíblicos e textos patriarcais, coligidos entre os que
série de regras de vida cristã, sem dúvida reunidas pelo presbítero Sil- extraía de sua coleção de manuscritos. O todo formava uma enciclopédia
vestre, conselheiro e confessor de Ivã IV, durante seus bons anos. Cri- de conhecimentos religiosos, que era consultada por várias gerações depois
ticou-se, bastante, às vezes sem razão, este conjunto notável de ensina- dele. Escreveu, ao mesmo tempo, o famoso Stepennaja Kniga, história cir-
mentos espirituais e de prescrições prosaicamente descritos em porme- cunstanciada de todos os príncipes da família Rurik. Ivã IV, discípulo de
nores, que apresentam a vida de cada lar como se fosse a de uma co- Macário, era o leitor mais assíduo de seus escritos.
munidade religiosa. Sua novidade foi a de codificar, num só documento, Um ano depois da Dieta de 1550, que preparou o novo Código CivD,
práticas religiosas e monásticas, observadas até então por costume, mas Macário convocou e chefiou o Sínodo da Igreja, denominado Stoglav (Os
364 Capitulo X As Igrejas de rito bizantino entre os Eslavos orientais 365

"Cem Capítulos") por causa de uma coletânea dos documentos mais conhe- Por uns vinte anos, houve primeiro as influências luteranas; depois, o
cidos, da época posterior a José Volokolamsk. protestantismo de orientação reformada teve, como na Hungria, o apoio da
A par de instruções sobre a reforma cada vez mais urgente da vida nobreza (os poderosos Radziwill, entre outros). A atuação da nobreza
religiosa, e sobre a fixação das taxas cobradas pelo alto e baixo Clero, ali sobre o Governo e a instituição de bispos, como a do primaz latino Uchans-
se encontram decisões tão surpreendentes, quão urgentes ao mesmo tempo, ky, contribuíram para o enfraquecimento da política religiosa no governo de
sobre a organização das escolas e do magistério. As minuciosas prescri- Sigismundo II Augusto (1548-1572). A Grã-Polônia tornara-se, na segun-
ções para o culto têm em vista a fiel manutenção daquilo que se tomava da metade do século, um foco eficiente das atividades da Reforma (Protes-
como lídima tradição russa. Um ano mais tarde, essas mesmas normas se tante), sobretudo pela presença de Anabatistas e de outros grupos sectários,
transformariam em armas assestadas contra o reformador Nicão, quando bem como pelas tentativas de coligação dessas mesmas correntes. Em 1565,
irrompeu a pendência dos ritos. Tomaram-se providências contra o aumento estabeleceu-se a "Pequena Igreja" dos Antitrinitários, chamados mais tarde
exagerado dos bens conventuais. O fato de serem estas decisões tomadas Socinianos.
pelo czar Ivã e o metropolita Macário indica que o problema interessava O Protestantismo foi todavia repelido. Isto representa o resultado mais
por igual ao Estado e à Igreja. Naquela altura, a promulgação de decretos notável da Contra-Reforma. Cumpre, porém, notar que também os orto-
religiosos era ainda da alçada da hierarquia, pelo menos em tese, ainda que doxos contribuíram para esse bom êxito. De modo indireto, a Contra-Re-
nem sempre o fosse na prática. forma desempenhará talvez um papel na aproximação, da qual resultaria
Durante o primeiro período do reinado do primeiro Czar, quando a União de Bresta.
Ivã IV só era "Temível", antes de tornar-se "o Terrível", e enquanto tam- Só depois de 1600 o metropolitado de Quieve tratará de sérios estudos
bém o metropolita Macário pôde exercer influência, as relações entre o teológicos. As poucas Escolas do século XVI, fundadas por confrarias lei-
Soberano e o Metropolita aproximavam-se daquela harmonia ideal que gas e por fidalgos, instituições que já mencionamos, pouco contribuíram
José tinha imaginado. para a formação da "intelligentsia" (intelectualidade) do ortodoxismo e do
A necessidade desse equilíbrio far-se-ia sentir na Moscovia durante Clero. Os poucos estrangeiros, atraídos para essa finalidade, eram pelo
mais de um século depois da convocação do "Stoglav", e sobreviveria aos menos ortodoxos.
distúrbios que se manifestaram entre a morte de Bóris Godounov e a ascen- O príncipe Basílio Constantino de Ostrog, que reinava na Volínia, sem
são ao poder do primeiro Romanov (1605-1613). Foram distúrbios que, ter sido coroado, e que por muito tempo foi chefe do ortodoxismo, criou
sob outros pontos de vista, deixaram mossas profundas na história da uma Academia na ano de 1580. Esta nunca se tornou centro [intelectual],
Rússia. mas ficou conhecida pelas edições que saíram de sua tipografia, principal-
mente pela "Bíblia de Ostrog" (1581), cujo texto, remontando em parte às
traduções que Genádio, arcebispo de Novgorod mandara fazer, serviu de
6. Os Precedentes da União de Bresta. Os Anos de 1595-1596 base à edição traduzida do eslavo antigo ("slavon"), ainda usada em nossos
dias. Antes de 1500, já existiam na Lituânia livros impressos para o culto;
No final do século XVI, a opinião da Polónia em favor de uma união mas a edição da Bíblia, feita pelo russo-branco Francisek Skoryna, e as
entre Quieve e Roma parecia estar mais favorável. Contudo, fica difícil edições de obras espirituais e teológicas por êle publicadas em 1517, e
determinar as várias circunstâncias que favoreceram tal mudança. Preten- anos mais tarde, não interessaram inicialmente nem ao Clero ortodoxo nem
diam alguns autores antigos que a União de Lublim, reunido em 1569 a aos Monges.
Polónia e Lituânia para a formação de uma única "república", teria exer- O contacto entre a Lituânia e a Moscovia favoreceu a manutenção do
cido influência direta na aproximação dos ortodoxos. É lícito pô-lo em ortodoxismo em território lituano. Ortodoxos, Russos-Brancos e Pequenos-
dúvida. O resultado imediato dessa reunião foi antes o aceleramento da Russos atravessavam muitas vezes a fronteira oriental do país para alcançar
"polonização" das classes dirigentes nas regiões eslavas do Oriente, pro- Moscovo, de onde intrigavam contra a Polónia. Todos os que viviam na
cesso que se tornou mais fácil pela superioridade cultural da Polônia, que circunscrição territorial da Igreja de Moscovia tinham certa influência
sob o governo dos derradeiros Jagelonos estavam em pleno desenvolvi- sobre o país vizinho. Desde o século XV, praticava-se ali, não sem inten-
mento. Se tal mudança de estrutura política favorecia maior igualdade reli- ção, a controvérsia apologético-teológica.
giosa, foram sobretudo os Protestantes que inicialmente se beneficiaram Os emigrados moscovitas evitavam cada vez mais de refugiar-se na
com ela. Como acontecia nas áreas dos Habsburgos na Europa Central e Polônia-Lituânia. Seu número, porém, cresceu nos últimos anos do reinado
na Hungria, as tendências reformistas da Polônia-Lituânia foram até o sé- de Ivã, o Terrível, entre 1560 e 1584, quando o ortodoxismo da Grã-Polô-
culo XVIII uma ameaça real tanto para o catolicismo como para o orto- nia estava ameaçado pela propaganda da Reforma.
doxismo. Alguns deles desempenharam as funções de chefes ortodoxos nessa
temporada. Foram tais Artêmio, superior do Mosteiro de Radoneso, discí-
366 Capítulo X As Igrejas de rito bizantino entre os Eslavos orientais 367

pulo de Nilo, e sobretudo o príncipe André Kourbsky, antigo conselheiro do dúvida alguma, a intenção do chanceler Zamojsky, quando propôs ao pa-
Czar. Êle era ao mesmo tempo um boiardo cônscio de si mesmo e letrado; triarca Jeremias, que o visitava, a transferência de sua sede para Moscovo.
carteou-se com Ivã IV, tão hábil para manejar a pena como Kourbsky; fez
nova tradução integral dos Debates sobre a ortodoxia da fé de São João A maioria dos ortodoxos da Grã-Polônia não foi insensível ao bom
Damasceno, e elaborou um escrito contra os Jesuítas. O próprio Príncipe de êxito da Contra-Reforma. A resistência [comum] que se opunha às correntes
Ostrog teve que levar em conta sua autoridade em matéria religiosa. da Reforma contribuiu, algumas vezes, para estreitar os laços entre Latinos
e Ortodoxos. Por vezes, ortodoxos ficavam católicos, mas conservavam
O Patriarcado de Constantinopla, que durante um século tivera que
seus ritos e continuavam sob a jurisdição do Patriarca de Constantinopla,
confirmar na dignidade o metropolita nomeado pelo Rei, envidou esforços
"infelizmente dissidente". O mais notório, entre eles, era o príncipe Jorge
para reerguer a Igreja de Quieve. Antes de sua permanência em Moscovo,
de Slutsky, parente chegado ao príncipe Constantino Ostrojsky. Por mais
onde seria forçado a elevar o metropolita Job à dignidade patriarcal, Jere-
notáveis que fossem em si, tais acontecimentos não exerceram nenhuma ou
mias II demorou na Polônia-Lituânia (1588), onde presidiu a dois Sínodos
só minguada influência na situação geral.
e baixou vários decretos contra excessos do Clero e contra a contínua infil-
A reação católica era dirigida pelo Cardeal Estanislau Hósio, legado
tração de influências protestantes.
do Papa no último período do Concílio. Como bispo de Vármia (Ermland),
Nos anos seguintes, andou-se pelo caminho marcado, mas os próprios conseguiu que fossem aceitas na Polônia, depois de 1563, as decisões de
bispos tomaram novas decisões. De entendimento com Zamojsky, chanceler Trento. Como noutros casos, êle apoiou-se principalmente nos Jesuítas,
da Polônia, Jeremias depôs o metropolita Dziewoczka, cuja nomeação fora que desde 1575 podiam contar com a colaboração do rei Estêvão Báthory
ilegal, e substituiu-o pelo arquimandrita Miguel Rahozja. Esforçou-se, (1575-1586), e depois dele com a ajuda de Sigismundo III (1587-1632),
além disso, por aumentar a influência do Patriarcado, nomeando Cirilo primeiro Vassa (Wasa) na Polónia, e simultaneamente Rei da Suécia du-
Telctsky, bispo de Lutsk, como seu exarca pessoal. rante muitos anos.
Estes dois prelados terão parte na realização da União de Bresta, que Os Colégios dos Jesuítas e seus Seminários, mas sobretudo seu método
quebrará a aliança com o Patriarcado Ecumênico [de Constantinopla], no de ensinar catequese, eram seguidos junstamente pelos ortodoxos que se
próprio momento que ela se tinha consolidado com os esforços de Jere- opunham à União da Igreja. Raramente, a Contra-Reforma levava em
mias. Pode ser que a atitude do Patriarca não fosse hostil ao Ocidente, consideração as suscetibilidades dos dissidentes de rito oriental. Antigos Or-
mesmo quando êle recusou introduzir o calendário de Gregório XIII. Mas todoxos eram recebidos pela Igreja Católica, depois de terem renunciado ao
é certo também que êle não poria em causa sua própria sede com uma inter- protestantismo.
venção pessoal. A atitude que tomou prova, muito ao contrário, que êle Se o ressurgimento católico na Polónia favoreceu a União da Igreja,
queria defender seus direitos. Certamente, tinha informações sobre os vários foi graças ao fervor de algumas pessoas influentes: um pequeno grupo de
projetos atinentes à estrutura do antigo metropolitado de Quieve, pois este; bispos latinos, alguns dos quais faziam parte da Nunciatura, os jesuítas
não tinham ficado secretos. Pedro Skarga, polonês, e Antônio Possevino, mantuano. Skarga publicou
Alguns anos antes, na rodas do príncipe Constantino Ostrojsky (não em 1577 uma obra sobre a União da Igreja, em língua polaca, servindo-se
é certo que o Patriarca se tenha avistado com êle), falou-se em criar um de seu próprio vocabulário teológico. Pregador na Corte de Sigismundo III,
patriarcado autônomo de Ostrog para a Polônia-Lituânia, isto é, para a seguira muito de perto os acontecimentos, que se desenrolaram em torno da
maior parte das dioceses eslavas do Oriente, que efetivamente ainda depen- União de Bresta.
diam de Constantinopla. Quanto a Possevino, sua experiência do Oriente ajudou-lhe a ilustrar,
Nos primeiros anos do pontificado de Gregório XIII, na fase prepara- com muita nitidez, a situação do Clero em ambos os lados da fronteira
tória de uma Missão em Moscovo, a qual não pôde realizar-se, por circuns- polaco-moscovita. Sendo êle uma das figuras mais notáveis na história do
tância idênticas às que impediram o projeto de 1561, mas desta vez tendo o primeiro século da Companhia de Jesus, vários Papas encarregaram-no de
malogro por causa a oposição dc Viena, pensou-se seriamente na neces- missões melindrosas, ligadas aos tão freqüentes problemas religiosos e polí-
sidade de propor ao czar Ivã IV a transferência da sede de Constantinopla ticos dessa época. Após longa permanência na Corte de João III da Suécia,
para Moscovo, ou o elevação de Moscovo a patriarcado. Possevino foi enviado à Polônia c a Moscovo em 1581. Encurralado ao
Em ambas as eventualidades, um Patriarcado livre da pressão de Cons- longo da fronteira ocidental, em conseqüência de uma guerra infausta, o czar
tantinopla poderia, como se julgava, contribuir para o restabelecimento da Ivã IV recorrera ao papa Gregório XIII, pedindo-lhe que interferisse junto
União da Igreja, segundo a fórmula preconizada cm Florença. Roma deve ao Rei da Polônia, e Ivã envolvera o pedido de mediação em vagas alusões
ter interpretado erróneamente a exuberante satisfação manifestada pelos a uma eventual coalizão contra os Turcos.
Soberanos, particularmente por Ivã IV, logo que receberam as embaixadas. Nessa inesperada diligência julgou Roma descobrir uma oportunidade
No século XVII, já não se repetiria erro semelhante. Outra não era, sem dc restabelecer os antigos contactos que existiram, entre Basílio III e os
308 Capitulo X As Igrejas de rito bizantino entre os Eslavos orientais 369

papas Leão X e Clemente VII, para a preparação de um ataque de grande O Czar determinou então, às brutas, que o padre devia visitar uma das
envergadura contra o Imperio Otomano, e para a perspectiva de uma União igrejas do Cremlim, e depois êle compreenderia o que vem a ser a verda-
da Igreja. deira fé. Chegado à entrada principal da igreja, Possevino aproveitou justa-
Assim também o entendia Possevino, que a despeito de seus altos mente um aperto de gente para se esquivar; pois o Jesuíta supunha, e Ivã
planos não deixava de lado os pormenores. Munido de plenos poderes, êle contava com tal suposição, que o simples fato de entrar alguém numa igreja
partiu para a Polônia, onde [o rei] Estêvão Báthory, católico fiel, por ortodoxa equivalia a reconhecer os dissidentes e seus erros. Os boiar-
respeito ao Papa, atendeu ao pedido não formulado de mediação. O Jesuíta, dos ficaram admirados, quando pouco depois encontraram o padre e seus
italiano, soube tirar vantagem da trégua de João Xapoljsky, sem incorrer companheiros num cantinho retirado do Cremlim a cantarem o "Te Deum"
todavia na hostilidade do Czar ou do Rei, e prosseguiu sua viagem até diante de uma cruz latina, que tinham trazido em suas bagagens, e a recea-
Moscovo, em início de 1582, para ali continuar, seguindo seu plano, os rem como não excluída a possibilidade de que Ivã, num assomo de raiva,
entendimentos com Ivã. lhes fizesse derrubar as cabeças. Como era de esperar, Possevino nada
conseguiu, nem sequer a autorização para construir uma pequena igreja de
Desde o começo das conversações, sempre em presença de bispos e
rito católico.
boiardos, logo ficou entendido que não podia mais tratar-se de um debate
efetivo. O Czar desviava-se das questões políticas com respostas sempre Mais promissores pareciam os contactos que se estabeleceram com
evasivas. Possevino ignorava que Ivã já estava a negociar em Londres uma Constantino de Ostrog, nos anos seguintes. O Soberano falava, com emoção,
aliança contra Báthory. Encarando uma série de problemas relativos ao de sua esperança de ver realizar-se a União, como êle a arquitetava, mas
culto, Possevino expôs alguns argumentos que patenteavam seu ímpeto apos- não segundo a fórmula de Florença. Era a condição que acrescentaria, mais
tólico e o pensamento teológico da época, a saber: a antiga união da cris- tarde, quando de suas conversações com Poty, antes que este se tornasse
tandade grega e latina, a obstinação de Fócio e Cerulário, os erros da Igreja católico.
do Oriente, agravados desde a separação, o ideal da União de Florença, Constantino afagava até a idéia de reunir em Ostrog uma espécie de
sobretudo a eminente grandeza do Representante de Jesus Cristo, colocado Concílio, tanto mais que êle encarava com benevolência a adoção do novo
acima de todos os crentes e príncipes cristãos. calendário e deplorava a recusa do Patriarca de Constantinopla. Possevino
qualificou essa atitude conciliadora como sinceramente ecumênica, mas as
As respostas de Ivã, vivas, grosseiras, ingênuas, demonstravam que o coisas ficaram por isso mesmo. Não mais do que outro qualquer, o Jesuíta
Czar não desejava continuar essa troca de idéias. Êle fazia citações, rebus- nunca se tornou verdadeiro confidente do matreiro Soberano de Ostrog. Um
cava fatos históricos a torto e a direito, recitava de cor todos os nomes dos dia, este último lhe declarou que, se a Religião Católica era boa, nem por
Papas que figuravam em seu calendário de Santos. Seu intento era des- isso o Ortodoxismo seria mau. Pode ser que tal declaração resumisse suas
montar a argumentação de Possevino. Não adiantava falar de relações
convicções.
entre Gregos e Latinos. Não sabemos o que fazer dos Gregos. Já não estão
eles punidos, por terem sacrificado a verdadeira Igreja? A Igreja verdadeira Naquele tempo, nenhum católico do Ocidente estudou o ortodoxismo
encontra-se aqui. Ivã investe brutalmente contra o Papa e o papado. Sua e conhecia os ortodoxos, mais do que Possevino. Conserva todo o interesse
atitude divorcia-se daquela deferência que êle próprio, como seus predeces- a narração de suas experiências, acompanhada de comentários, e sobretudo
sores, tinha testemunhado antes da conclusão da trégua. sua obra "Moscovia". Contudo, atualmente sua opinião pessoal sobre a
União com o Oriente Cristão parece-nos estranha. Como seu confrade o
Possevino suspeitou o Embaixador Inglês de ter contribuído para tal jesuíta Skarga, em seus "Colóquios sobre a União da Igreja", Possevino
reviravolta, mormente quando o Czar narrava anedotas aleivosas, provavel- parte do princípio que aos cismáticos, depois de aceitarem a doutrina cató-
mente de procedência herética. O Jesuíta revidou, fazendo chegar em mãos lica, deve ser permitido conservar seus ritos próprios, enquanto não forem
de Ivã um memorial sobre o rei Henrique VIII, redigido com a rudeza de contrários à verdadeira doutrina. Mas Possevino acrescenta, como cláusula
um apologista da Contra-Reforma. Aliás, na época era inexistente em Mos- restritiva, que a maneira mais eficiente de promover a União é conformar-se,
covia o perigo de propaganda protestante. No espírito de Ivã IV ficara estritamente, às exigências da doutrina até na celebração do culto. A autori-
para sempre aquela aversão, que o metropolita Macário lhe inculcara contra zação de seguir seu próprio rito, rigorosamente falando, seria uma medida
qualquer herege protestante. necessária de caráter transitório. Embora tenha por vezes influído na prá-
E o Czar prosseguia: "Mas o Papa não tem barba". Pôde Possevino tica, tal raciocínio nunca teve confirmação oficial.
responder-lhe que Gregório XIII usava uma barba imponente. Ivã agarrou-se Sem embargo, força é confessar que o ponto de vista de Possevino era
de novo ao tema da "cadeira gestatoria" ("sedia gestatoria"), na qual um inconseqüente. Marca o início de uma praxe que até Leão XIII foi um
verdadeiro titular de Cristo não devia deixar-se carregar. Falou, ainda, das princípio fundamental no procedimento apostólico para com as Igrejas do
cruzes que guarneciam as mulas do Papa. Acrescentou que todo cristão Oriente. Sem prejuízo da "praestantia" (superioridade) das práticas reli-
sabe que nenhuma cruz deve ser carregada, da cintura abaixo. giosas de Roma, e para não alienar os Orientais, a direção latina tomava
370 Capitulo X As Igrejas de rito bizantino entre os Eslavos orientais 371

por costume permitir-lhes, em larga medida, a conservação de seus ritos Geral dos Jesuítas, Sisto V chamou Possevino definitivamente para Roma
próprios, aos quais estão naturalmente muito afeiçoados. Da mesma ma- cm 1587.
neira que os "periti" (peritos) católicos da época e os peritos mais recentes, Pouco tempo depois, talvez até na visita do patriarca Jeremias II,
Possevino tem a convicção de que os costumes religiosos do Oriente não falou-se, em certas rodas, da possibilidade de uma União da Igreja, mas os
podem ser observados em templos católicos, senão por benevolência do tempos não estavam ainda maduros para tal aproximação. Não foi fortuita
Pai de todos os crentes [Soberano Pontífice]. a primeira iniciativa, por parte dc um ortodoxo leigo. Adão Poty, governa-
Como teólogo da Contra-Reforma, êle, nesse ponto, pouco ou nada se dor do Castelo de Bresta, que fora outrora calvinista, propôs a Maciejovsky,
distinguia de seus predecessores no tempo da via antiqua, e dentro em bispo latino de Lutsk, organizarem juntos um colóquio religioso em vista de
breve iria reconhecer que certos elementos dessas práticas eram incompatí- efetuar a União. O Núncio Apostólico replicou que a União de Florença
veis com seus princípios teológicos. O valor dos ritos orientais deve ser continuava sempre em vigor; mas ainda assim encaminhou o pedido a Ro-
aferido em relação com a liturgia do Ocidente. Por mais favorável que ma. Sisto V, que, contrariamente aos demais papas desse período, se opu-
fosse o resultado, a diferença que os separava projetaria sempre, em seu nha a todas as negociações com os prelados das Igrejas do Oriente, fêz o
entender, uma sombra sobre o panorama da União.
plano abortar; contudo, o bispo e o governador continuaram a desenvolver
Possevino esquecia, sem dúvida alguma, que os cristãos do Oriente suas atividades nesse sentido.
tinham um direito absoluto de praticar seus ritos. Depois dele, não passará
muito tempo, e tal princípio fará parte do "lastro mínimo" dos teólogos Depois de sua estada em Roma, o bispo Maciejovsky levou consigo
católicos. Aliás, Possevino nem tampouco seus contemporâneos podiam con- em 1591 o grego Pedro Arcúdio, o primeiro doutor de teologia, que saía
ceber uma noção exata do que vinha a ser "rito". Nele somente considera- do Colégio Grego, fundado por Gregório XIII. Os debates de Arcúdio so-
vam um complexo de usanças religiosas, às quais acresciam algumas novas bre as relações entre católicos e ortodoxos, expostas nas obras então muito
formas exóticas do Direito Canónico, ao passo que o termo "rito", confor- lidas do jovem teólogo, despertam menos interesse nos dias que correm.
me o empregam, justamente hoje em dia, os documentos religiosos, que se Atualmente, as preferências vão para as obras de seu jovem compa-
referem às comunidades religiosas do Oriente, abrange todos os aspectos da triota Leão Alácio, que como êle se tornara católico romano. Comentava-se
organização da Igreja e as tradições peculiares à atividade e ao pensa- nelas a natureza das ligações que sempre existiram entre as Igrejas do Oci-
mento religioso. Ao contrário do que acontece no Ocidente, as formas e o dente e do Oriente. Sua autoridade científica sobre as tradições ortodoxas
exercício do culto são o centro do rito oriental, e representam a expressão gregas contribuiu para desbastar a polêmica de todos os assuntos supérfluos.
mais imediata da fé ortodoxa, permitindo ao ortodoxo autêntico experimen-
A obra de Skarga sobre a União da Igreja debaixo de um mesmo chefe,
tar, de maneira simples e concreta, a realidade da santidade. Fora, talvez,
melhor que o Padre Possevino tivesse entrado na igreja do Cremlim. . . bem como suas memórias sobre os erros dos dissidentes, tiveram nova
edição em 1589. Pôde, então, Arcúdio expor suas argumentações, e fê-lo
com maior especificação e autoridade, pois não lhe escasseava entusiasmo
A restrição feita por Possevino caracteriza sua concepção pessoal so- apostólico. Avistou-se várias vezes com o governador Poty, que se dispu-
bre a reunião do Oriente Ortodoxo e a atitude espiritual dos bons católicos, nha a esposar a idéia da União das Igrejas.
que colaboraram na União de 1595-1596. Ela demonstra, também, que na- Entrementes, havia começado a deliberação secreta dos Bispos, a qual
quele tempo era impossível para os Latinos ajudarem os Uniatas a abrir um devia finalmente levar à União. Esta teve por ensejo uma questão entre o
caminho para a restauração de suas próprias tradições. metropolita Rahozja e os vários bispos. Gedeão Balaban, bispo de Lem-
De Pádua, podia o infatigável Possevino acompanhar os acontecimen- berga (Lwow), mantinha desde muitos anos encarniçada luta contra uma
tos que se desenrolavam em torno da União, que êle tanto havia promovido. confraria isenta dc sua diocese. Ora, o Patriarca e o Metropolita tomaram
Depois da morte de Ivã IV, êle trabalhou na elaboração de um novo plano partido a favor da confraria. Terletsky, bispo de Lutsk, censurava Rahozja
de política religiosa. Báthory dispunha-se, então, a anexar a coroa de Mos- que, tendo sua sede em Quieve, se envolvia em assuntos internos das dio-
covia à coroa da Polónia, com o apoio dos boiardos, ou pela força das ceses de Volínia.
armas, se preciso fosse, para depois se lançar contra o Império Otomano. Em 1599, Terletsky, Balaban, e os bispos de Chelm (Cholm) e Pinsk
O Jesuíta já via despontar no horizonte o desmoronamento desse Im- decidiram, durante um Sínodo reunido em Bresta, subtrair-se à jurisdição
pério e a União de todos os cismáticos. Mas Acquaviva, Superior Geral da do Metropolita. Escreveram ao Rei da Polônia que estavam dispostos a
Companhia de Jesus, cansado das atividades políticas de Possevino, obteve submeter-se à autoridade de Roma, se lhes fosse possível conservar seus
da Cúria Romana seu afastamento temporário para um Colégio de Vármia títulos e gozar dos mesmos direitos que os bispos latinos. A aproximação
(Ermland). Depois da morte de Báthory, Possevino viu-se envolvido nas não surtiu efeitos imediatos, por causa da agitação política que sacudia a
dificuldades que provinham da escolha do novo soberano. Nessa ocasião, Nação, a ponto de não se saber se o rei Sigismundo deixaria a Polônia
chegou-se a mencionar o nome de Teodoro Ivanovitch. A instância do para se mudar para a Suécia, e ali assumir o governo. Entretanto, o com-
372 Capítulo X As Igrejas de rito bizantino entre os Eslavos orientais 373

plicado conjunto de acordos e promessas que se fizeram no decorrer dos Balaban e quiçá do bispo de Terletsky. Sua origem e toda a sua carreira lhe
anos seguintes ficou, primeiramente, averbado num documento secreto. conferiam tal ascendência, que as próprias condições de bispo católico lhe
não poderiam acrescentar nenhuma vantagem social.
Em 1593, Adão Poty foi nomeado bispo de Vladimira pelo Rei. O
bispo Terletsky presidira sua consagração de monge em presença do prín- Constantino de Ostrog, ao invés, foi irreconciliável. Voltou-se contra
cipe Ostrojsky. Desde ali, Adão passou a chamar-se Ipaty. Depois da ceri- Poty, que tentou explicar-lhe como também êle fora ludibriado, mas que não
mônia, Constantino enviou-lhe longa carta, na qual expunha idéias assaz podia abandonar Terletsky. O Soberano exprobrava aos bispos de terem
confusas a respeito da restauração da União da Igreja. Poty respondeu-lhe, atuado, sem que êle o soubesse. Constituía, realmente, grande falta de tática
cautelosamente, que a atitude antilatina do Metropolita parecia excluir toda manter Constantino e outros leigos importantes fora das deliberações, por-
probabilidade de um bom resultado. Nem Poty nem o príncipe Constantino que eles ocupavam incontestavelmente lugar relevante no ortodoxismo, e
sabiam do acordo e do documento de Bresta. tinham participado seriamente nos trabalhos de reforma da Igreja. Dali por
Nova conferência secreta realizou-se em Sokal no primeiro semestre diante, o príncipe Ostrojsky tornar-se-ia chefe do partido contrário à
de 1594. Nela, o bispo de Pinsk fora substituído pelo bispo de Przemysl. União.
Desta feita, o documento era mais explícito. Nem Poty, na ordem de pri- Nesse meio tempo, Terletsky iniciara conversações com o Arcebispo
meiro bispo do Metropolita, nem o príncipe Constantino, nem outros per- de Lemberga (Lwow), representante do Núncio, e velho amigo de seu
sonagens influentes receberam informações. colega ortodoxo Balaban, sobre as condições de uma reunião. O resultado
Em julho, Balaban, bispo de Lemberga (Lwow), foi inopinadamente foi satisfatório. O Metropolita e os bispos encontraram-se em Bresta. Não
destituído pelo Metropolita. Terletsky tomou abertamente o partido de obstante a veemente carta de protesto do príncipe Constantino, eles assina-
Balaban, e os dois bispos fizeram a questão depender do foro civil. Dirigi- ram os Documentos de Torsyn. Somente o bispo Balaban, que quase fizera
ram-se então ao poderoso chanceler Zamojsky, para lhe falarem ao mesmo malograr as negociações, festejando prematuramente em Lemberga (Lwow)
tempo da eventualidade de uma União. a realização da União, e mais seu colega de Przemysl recusaram-se a
O primaz latino Karnkowsky teria sabido disso e precatado o Soberano subscrever. Poty tentou ainda mais uma vez, mas em vão, conquistar o
de Ostrog, que era como êle a favor dos Austríacos e adversários de Soberano de Ostrog. Apresentando-lhe minuciosa exposição das discussões
Zamojsky. Constou, apenas, que ambos os bispos teriam discutido acerca de Bresta, suplicou de joelhos não abandonasse a causa da União. Para
da reunião das Igrejas. O Metropolita valeu-se da oportunidade para pro- que não subsistisse nenhuma dúvida a respeito de suas intenções, Constan-
testar junto ao Chanceler e ao Rei, e para dirigir uma carta aberta aos tino interveio como testemunha, quando Balaban renegou, oficialmente, to-
Ortodoxos, a fim de que se acautelassem. das as suas atividades anteriores.
Zamojsky respondeu-lhe por carta particular, fazendo saber, sem mais, Em face da crescente agitação, e sob a influência da oposição polonesa
que importava sanar a situação mediante uma União. O fraco Metropolita contra algumas das concessões feitas aos bispos do Metropolitado, mor-
Zamojsky aprovou-a a contragosto, e conservou-se ao lado de fora, na mente contra aquela que lhes facultava o direito de tomar parte, por ofício,
seqüência dos acontecimentos. no poderoso "senado" polaco, o rei Sigismundo hesitou em deixar partir
Em dezembro de 1594, os bispos Terletsky e Poty foram recebidos para Roma Poty e Terletsky, designados em Bresta como representantes do
pelo bispo Maciejovsky em sua casa de campo em Torsyn, perto de Lutsk. episcopado.
Os dois prelados assinaram um acordo, segundo o qual desejavam a União Provavelmente, o príncipe Constantino, que contava diversos amigos
unicamente por motivos religiosos. Os demais bispos foram convidados a políticos entre o Alto Clero Latino, não era estranho a essas agitações.
assinar. Poty, de sua parte, entendeu que o documento seria em seguida Contudo, quando Ostrojsky se pôs em ligação com o Sínodo de Torún,
apresentado ao Rei. Terletsky não fêz referência aos documentos já redi- para solicitar o apoio dos Protestantes contra o Rei e a hierarquia de
gidos nem aos partidários que nisso tinham colaborado. Sem esclarecer os Quieve, Sigismundo decidiu-se. Balaban declarou de novo, sob juramento,
confrades, êle partiu para Cracóvia, com a intenção de discutir, imediata- que aprovava a União. Os dois bispos partiram então para Roma, onde
mente, com o Rei e o Núncio Apostólico Malaspina, a efetivação da União. Poty no fim de novembro entregou ao Papa a "Ata de Torsyn".
Quando Ostrojsky, desconfiado de alguma cousa, perguntou a Poty O único ponto litigioso, no começo das conversações, era manutenção
onde se encontrava Terletsky, veio a compreender que o mesmo se ocupava do antigo calendário. Não era preciso, nesse ponto, conformar-se às
com a União há muito mais tempo do que êle julgava, e que ainda então decisões dê Florença? No entanto, o modo de proceder de 1439 foi aban-
seguia seus próprios caminhos. donado, porquanto se tratava do ponto crucial: a nova União. Isto valeria
Isso, porém, não foi motivo para que o bispo de Vladimira se re- para todas as uniões do futuro. Não seria um acordo entre as duas partes,
traísse. Interessava-se pela União unicamente por interesse da Religião. mas dependeria do fato que o Papa acolhesse no grêmio da Igreja o Metro-
Não estava atuando por despeito, em conseqüência de alguma injustiça politado dissidente. Tal ato se efetuaria numa solene assembléia, convocada
real ou imaginária, da qual teria sido vítima, como era o caso do bispo
374 Capítulo X As Igrejas de rito bizantino entre os Eslavos orientais 375

para o dia 23 de dezembro no Vaticano. A instrução do Papa, com todos A Igreja acabava de reorganizar-se nas dioceses de rito bizantino,
os pormenores, foi publicada dois meses mais tarde. quando foi conturbada com tensões e intrigas, que se tramavam em torno
A bula de Clemente VIII exprime, claramente, o ponto de vista ro- das conversações sobre a União. Tanto mais grave foi o fato de se ter
mano: Como prova evidente de sua benevolência para com os Rutenos, o divulgado prematuramente a notícia das deliberações secretas, porque desde
Papa outorga-lhes {ad maiorem charitatis Nostrae erga ipsos signijicatio- o começo se cometeram faltas de tática. Como a última parte dos prepa-
nem. . . ex apostólica benignitate permittimus, concediinus et indulgemus) rativos se desenvolvera numa atmosfera menos conciliadora, a tendência
o direito de celebrar suas cerimônias religiosas, "tais quais os Santos Padres era admitir que a realização da União fora feita de atropelo.
Gregos as tinham estabelecido, se todavia não forem em contradição com a Desde 1596, os católicos do Metropolitado sempre encontraram alia-
doutrina católica, e não excluírem a comunhão com a Igreja de Roma". dos e defensores entre os católicos latinos da Polônia. Sem embargo, a
Na realidade, porém, já ninguém não cuidava dos costumes da Igreja. opinião geral era de opor-se a uma equiparação completa. Causou a pri-
Os próprios Rutenos logo introduziriam certas reformas com tendências meira decepção a interdição imposta aos Bispos Uniatas de tomarem assen-
latinizantes. As normas, de inspiração parcialmente latina, da "Instructio to no Senado, como seus colegas latinos, para defenderem os direitos de
Clementina" ("Instrução Clementina"), que o Papa redigira, anteriormente, suas Igrejas, de acordo com as condições estipuladas.
para católicos de rito bizantino da Itália Meridional e da Sicília, e que se O Rei não aprovava tal medida, mas a decisão vinha da poderosa
explicam pela situação peculiar dessas regiões, seriam aplicadas como ar- nobreza e de seus partidários na hierarquia latina. Aliás, a posição de
mas canónicas contra tradições orientais só muito mais tarde, quando fos- Sigismundo para com a Igreja Uniata não era sempre bem definida. Teve
sem enucleadas de seu contexto histórico. De modo especial, ficou assente
provavelmente sua parte na efetivação da União; mas certos indícios denun-
o privilégio do Metropolita para nomear bispos, e o dos bispos para esco-
lherem o metropolita; tanto um como outro, com a ratificação da Santa Sé, ciam que, posteriormente, êle preferia um processo de latinização radical.
e, de modo especial, com o consentimento do Rei. O Sínodo que o Papa Foi por isso que êle se recusou promulgar o decreto de 1624, do papa
e o Rei desejavam reuniu-se em Bresta no ano de 1596. Proclamou oficial- Urbano VIII. Como rei, tinha qualificação para fazê-lo. Proibia [o decreto]
mente a União, cujos adversários, os bispos de Lemberga (Lwow) e de expressamente a todos os sacerdotes e leigos rutenos de adotarem o rito
Przemysl, foram excomungados. latino sem especial autorização do Papa.
Os ortodoxos convocaram um Contra-Sínodo. Os prelados dele par- Tal recusa teve como conseqüência que se continuasse a propaganda,
ticipantes proscreveram os Bispos Uniatas. O Rei e a Dieta declararam, humilhante para os católicos do Metropolitado, que os incitava a aceitarem
com precisão, que dali por diante já não reconheceriam comunidade não- o rito latino, tido em conta de superior. Certos bispos latinos reivindicam
católica de rito oriental. Isso, porém, não alterou em nada o fato real de para si os dízimos pagos à Igreja pelos Rutenos. Lesaram-se, por várias
que fracassara a União do Metropolitado de Quieve como totalidade. vezes, os direitos pastorais do Clero Paroquial Ruteno. Numa cerimônia
religiosa, aconteceu que um obscuro bispo auxiliar do Ordinário latino dc
Dessa natureza, a União de Bresta é incontestavelmente o aconteci- Vilna (Wilno) usurpasse a precedência devida ao Metropolita de Quieve.
mento mais importante na História da Igreja, e ao mesmo tempo a primeira
reunião que valorizou a autoridade universal do Papa. Roma e Cracóvia, A partir da promulgação da União, recomeçou a atividade de seus
não menos do que os Bispos [Sinodais] de Bresta, proclamaram sem ambi- adversários, que contavam inúmeros fidalgos, muitos membros de confra-
güidade o fato de que todo um Metropolitado acabava de separar-se do rias, e a maior parte dos monges. Como chefe continuou Constantino de
Patriarcado de Constantinopla, ao qual pertencera desde o começo. Ostrog, que em 1599 tentou firmar sua posição com a ajuda dos Protes-
tantes de Vilna.
Algumas décadas antes, ter-se-ia pelo menos demonstrado que o Pa-
triarca não tinha liberdade para entabular negociações no Império Otoma- Nesse ano, não houve nenhum contato político com a Igreja dc Mos-
no. No século XVII, falaremos muitas vezes das relações com os antigos covo. Constantinopla, porém, enviou três representantes, num esforço de
Patriarcados do Oriente, a propósito das tentativas de Uniatas e Ortodoxos conjurar o perigo. Deviam substituir o exarca Nicéforo, detido após o reco-
para evitarem rompimento no grêmio da Igreja de Quieve. nhecimento do Metropolitado Uniata. O monge grego Cirilo Lucaris, envia-
do à Polônia com a mesma finalidade, tornou-se patriarca e gozava de
grande reputação.
7. O Metropolitado Católico de Quieve no Século XVII Durante os primeiros anos, contentavam-se com arrazoados e panfle-
tos impressos. Skarga escreveu uma "Defesa da União de Bresta" pouco
Uma breve síntese dos acontecimentos desenrolados entre os anos de depois dos acontecimentos de 1596. Na passagem do século apareceu uma
1590 e 1596 na Polônia dá a impressão de que nem o Clero e o povo do "Apologia" ("Aporrhesis"), geralmente atribuída a Arcúdio, que perma-
Metropolitado, de uma parte, nem os Católicos Latinos, de outra parte, neceu na Polônia até 1609. Era uma longa réplica à violenta reação dos
estavam suficientemente preparados para uma reunião. Ortodoxos. Em 1608, morreu o Conde Ostrojsky, grande e autoritário estra-
Capitulo X As Igrejas de rito bizantino entre os Eslavos orientais 377

tegista da União da cristandade. Talvez nunca tenha sido muito bem com- exercia a função de proto-arquimandrita dos Basilianos. Mas, já no man-
preendido. dato de Antônio Sielava, segundo sucessor de Rutsky, a cumulação de am-
Nos primeiros vinte anos do século XVII, enquanto a Polônia se opu- bas as dignidades criou embaraços, porque as atribuições tinham sido mal
nha militarmente a Moscovo, o Metropolitado pôde desenvolver-se com definidas.
relativa tranqüilidade. O metropolita Rahozja, pouco ativo, mas que se Rutsky tentou, em vão, levantar o nível e a formação intelectual do
conservara fiel à União, teve por sucessor Ipaty Poty (1600-1613). Clero, fundando pelo menos um Seminário para o Metropolitado. Mas,
Com sua energia, Poty conseguiu restabelecer a disciplina entre o Cle- como se punha embargo ao reconhecimento oficial da hierarquia uniata,
ro. Graças a seu berço e a suas relações com o Rei e a nobreza, êle gozava Rutsky não conseguiu assegurar as rendas patrimonais da Igreja. Não po-
na Polônia de uma autoridade, como poucos de seus sucessores a tiveram, dia, além disso, contar com a ajuda dos Jesuítas, que tinham vários Colégios
numa sociedade onde as figuras importantes da hierarquia eram sempre na Rutênia. Desde então, tornaram-se tensas as relações entre Rutsky e a
aparentadas com as grandes famüias. Companhia dc Jesus. 5

Apesar disso, êle não logrou conquistar, a favor da causa da ressusci- O Seminário Ruteno que afinal fora fundado em Minsk, pela metade
tada União de Florença, importantes grupos da resistência. Em seu enten- do século, teve de fechar as portas, depois de haver aturado alguns anos
der, a União de Bresta era o vínculo histórico que ligava seu Metropolitado o período das turbulências. Só depois da época que aqui nos interessa, po-
à antiga e única Igreja. Como houvesse penúria de personalidades eminentes der-se-ia falar de uma formação metódica do Clero. No século XVII, os
na hierarquia, êle resolveu, de acordo com o Rei e com o Papa, escolher Superiores continuavam a apresentar reduzido número de candidatos capa-
pessoalmente seu sucessor, ao arrepio da decisão de Clemente VIII, que zes aos lugares que o Colégio Grego de Roma e alguns Seminários Apostó-
deixava aos bispos o direito de escolher o novo metropolita. Sucedeu-lhe o licos reservaram para a Igreja Rutena.
russo-branco José Rutsky, cognominado "segundo fundador da Igreja Rute- Ao tempo que José Rutsky era metropolita, começaram as provações,
na". Mais exato seria dizer que seus pontos de vista pessoais contribuíram oriundas da humilhante política de inspiração polaca, ou da violência
para definir o rumo seguido pelo Metropolitado em seu desenvolvimento. russa, para restabelecerem o ortodoxismo. Esta era uma situação cons-
Dc origem calvinista, Rutsky foi recebido no grêmio da Igreja Latina, tante na história das Igrejas Uniatas dos Países Eslavos.
enquanto ainda fazia seus estudos. Destinado ao sacerdócio, obteve lugar No século XVII, os Católicos Rutenos sofreram principalmente por
no Colégio Grego de Roma. Antes de 1624, essa instituição não se desti- parte dos Cossacos "Ocidentais". Não podendo tomar por base o curso infe-
nava exclusivamente à formação de elementos para o Clero. Para atender rior do Diepre, "terra-de-ninguém" (no man's land) russificada só pelo
à vontade de Clemente VIII, mas somente depois da morte do Papa, c de- fim do século XVIII, certo número desses guerreiros livres concentrou-se
pois de vencer sua grande repugnância pessoal, êle adotou o rito "grego", primeiro na região "longe das corredeiras" (Zaporozje). A maior parte
entrando como monge numa comunidade religiosa, que Poty acabava de deles estava registrada civilmente na Polônia-Lituânia, onde obtiveram
fundar em Vilna. reconhecimento oficial.
Esses Basilianos, nome já usado por uma Congregação hispano-italiana Dirigidos por seus chefes, esses Cossacos combateram ao lado dos
de Monges, tornaram-se muito importantes, graças ao apoio que Rutsky Poloneses em diversas guerras. De ânimo belicoso, deixavam-se facilmente
dera à fusão dêlcs com pequenas comunidades uniatas já existentes. Seus levar a outras proezas guerreiras. No século XVI, o Papa oferecera subsí-
chefes, algumas vezes, negavam-se a renunciar ao direito de escolher os dios aos Cossacos do Sudoeste, para que fossem molestar os Turcos. Pouco
arquimandritas, o que todavia provocava contínuas dificuldades. depois de chegarem em Istambul (Constantinopla) em 1609, os Jesuítas
A esta Ordem, mais ou menos calcada em esquema latino, Rutsky passaram algumas semanas angustiosas, por correr o boato de que o Vati-
deu-lhe uma Regra que se inspirava, grande parte, nas Regras dos Jesuítas cano organizava um ataque de Cossacos fronteiriços contra o Império Oto-
e dos Carmelitas, com os quais êle mantinha relações desde muitos anos. mano.
Essa comunidade tinha por fim escolher entre seus monges, formados Na época que o poder central da Polônia-Lituânia enfraquecia pouco
quase todos num noviciado central, candidatos para as sedes episcopais. a pouco, tornaram-se mais freqüentes os contactos entre Cossacos e fidal-
Ainda mais. A direção central da Ordem era dotada de uma espécie de gos insulados. Premidos pelas circunstâncias, esses aventureiros, que eram
Cabido Metropolitano, ao qual se atribuiu importante papel no governo da tolerados, e na maioria fervorosos ortodoxos, militavam ativamente contra
Igreja Rutcna. a União. Quando inúmeros servos foragidos se incorporaram nas fileiras
No século XVII, relações mal definidas entre a direção centralizada cossacas e sua intervenção arbitrária foi tomada como rebelião contra a
da Ordem e a direção do Metropolitado condicionaram sérios conflitos, ordem social, a direção do Governo ficou mais desnorteada ainda.
quando a Igreja Católica Rutcna se via premida pela situação política e Os Uniatas sofreram com tal situação. Depois do reconhecimento dos
pela atuação dos ortodoxos. Foram essas dificuldades uma das causas da Romanov, a influência moscovita exerceu uma atuação por vezes importante
vacância da sede de 1655 a 1665. Efetivamente, o primeiro metropolita na política e dentro da Igreja. Contudo, não eram sempre suas simpatias
N o v a H i s t ó r i a III — 25
378 Capítulo X as Igrejas de rito bizantino entre os Eslavos orientais 379

por Moscovo que orientavam os belicosos Ortodoxos da Nação Polonesa, guar que nos anos subseqüentes à restauração do ortodoxismo em 1620,
nem os próprios Cossacos. os ortodoxos se dedicaram em geral à Polônia-Lituânia. No setor religioso,
O primeiro período cossaco da história do Metropolitado católico eles desejavam permanecer independentes do patriarcado de Moscovo, cujo
coincide, mais ou menos, com a era do poderoso hermane Piotr (Pedro) "clima" espiritual e teológico era geralmente pouco apreciado em Quieve.
Sahazdatsiny (1616-1622). Os Cossacos declararam solenemente, em 1618,
A personalidade mais impressionante da história do Metropolitado
que protegeriam a Confraria de Quieve, que junto com o "Mosteiro das
Ortodoxo, Pedro Moghila, natural na Moldávia, superior do "Mosteiro das
Cavernas", fortaleza religiosa erguida contra a União, ficara como baluarte
Cavernas" feito metropolita no ano crítico de 1633, encarnava perfeita-
do ortodoxismo na Polônia-Lituânia. Os Uniatas não puderam penetrar ali.
mente tal atitude. Posto que francamente hostil à União, na forma realiza-
No século XVIII, o Metropolita católico de Quieve residia, com o título
da em 1596, êle conservou-se até a morte (1647) leal cidadão do Estado
dc Ordinário do lugar, em Minsk, na Rússia Branca, onde os Uniatas eram
Polonês. Seu pensamento teológico ostentava uma feição ocidental, e isso
então mais numerosos do que na "Ucrânia".
lhe valeu, durante a vida, ser pouco apreciado cm Moscóvia. Sua teologia
Afiançados com a proteção dos Cossacos, os Ortodoxos arriscaram
e a famosa Profissão de fé ortodoxa foram expostas no capítulo sobre as
em 1620 um passo decisivo. Se bem que a Igreja Ortodoxa estivesse sempre
"Igrejas de rito bizantino no Império Otomano", p. 3 3 3 .
"fora-da-lei" na Polônia-Lituânia, Teófanes, patriarca de Jerusalém, de
passagem pela região, consagrou ali todos os graus dc uma hierarquia, talvez Somente no século XVIII, a Igreja de Moscovo servir-se-á ocasional-
por instigação de Filareto, patriarca de Moscovo. Essa primeira série de mente dessa teologia de Quieve. Em seu modo de pensar, Moghila pode
bispos era de tendência russa. O Governo e o metropolita Rutsky decla- talvez carecer de originalidade, mas na época não havia teólogo que om-
raram ilegal a restauração do Metropolitado Ortodoxo, mas o Chanceler da breasse com êle. Naquela ocasião, o ensino dos Ortodoxos era superior ao
Lituânia não se atreveu a promulgar tal decisão. dos Católicos Rutenos. A datar de 1589, a Escola da Confraria de Quieve
transformou-se em Colégio, moldado nas melhores escolas dos Jesuítas.
As primeiras vítimas entre o Clero Uniata tombaram a partir de 1617.
A mais conhecida delas foi o piedoso arcebispo de Polotsk, Josafá Kunt- Foi ainda sob a influência de Moghila que, no século XVII, Quieve
sewytch (Kuncewitius), primeiro consagrado por Poty em Vilna (Wilno). se tornou o centro intelectual do ortodoxismo eslavo, com cursos completos
Abateram-no em Vitebsk, em 1623, quando êle se encontrava em viagem de dc teologia e filosofia, ministrados grande parte em latim, mas que por
visita pastoral. Declarado "bem-aventurado" em 1643, foi canonizado cm falta de autorização régia não constavam, antes de 1670, nos programas
1867. O Chanceler Sapieha determinou rigoroso inquérito sobre o homicídio oficiais do Colégio. Quando o Colégio afinal recebeu, em 1701, a quali-
que impressionara a opinião pública. Os bispos latinos abstiveram-se, mo- ficação oficial de Academia, os tempos memoráveis da Escola já perten-
mentaneamente, de favorecer às ocultas os Ortodoxos. ciam ao passado. Ainda assim, seu nome faz lembrar que as Academias
Mas não podia tratar-se de uma trégua duradoura. O rei Sigismundo Religiosas na Rússia tiveram por berço a Academia de Quieve, que lhes
III envelhecia, e seu filho Wladislaw (Ladislau), que então ainda usava o serviu de paradigma.
título oficial de "czar", não queria pô-lo em situação perigosa, apoiando Os memoriais concernentes ao primeiro século da História da Igreja
abertamente a União que Moscovo detestava. Em 1632, à morte de Sigis- Católica Rutena, incluídas as intervenções dos Cossacos e as intrigas polí-
mundo III, que sobrevivera mais tempo, além das previsões, Ladislau con- ticas, pouco ou nada falam das relações que ainda subsistiam entre Orto-
cedeu, de própria iniciativa, aos Ortodoxos suas principais reivindicações. doxos e Uniatas, mas que então deviam parecer inoportunas ao Clero de
Pontos importantes, aceitos preliminarmente no correr das negociações Moscovo, pelo menos naquela forma.
que acompanharam a eleição, foram rejeitados em última instância. Outor- Sem essa abertura, que era relativa, a união das dioceses da Galícia,
gou-se ao Metropolitado Ortodoxo e à sua hierarquia um estatuto igual, e, pelo fim do século, e as uniões parciais nas regiões para lá da fronteira
em alguns pontos, superior ao estatuto da Igreja Uniata, porquanto alguns polaca, não se teriam jamais realizado. Muitas vezes, Ortodoxos passavam
prelados ortodoxos foram autorizados a ter cadeira na Dieta, privilégio que individualmente para o Metropolitado Uniata. Ficou notório o caso de
os bispos uniatas não possuíam. Adjudicaram-se, ainda, à Igreja Ortodoxa Melety (Melécio) Smotritsky autor de vários panfletos antilatinos. Como
6
duas sedes episcopais, vários mosteiros, e bens eclesiásticos. arcebispo de Polotsk, teve talvez prévio conhecimento da conjuração tra-
Se bem que a idéia de liberdade religiosa não estivesse ainda muito mada contra o arcebispo Josafá Kuntsewytch. Após o assassínio, e graças
propagada no século XVII, contudo por medida de prudência levou-se em à "celestial intervenção do Mártir", como mais tarde se proclamaria, êle
consideração o grande número de Ortodoxos residentes na Grã-Polônia, tornou-se fiel católico e um dos principais promotores de um Sínodo de
onde eram então mais numerosos talvez do que os Uniatas. Bispos Uniatas e Ortodoxos, projetado para 1629, com a finalidade de
Nenhuma opinião pública poderia pretender que a União tenha sor- promover uma união integral. Tumultos fomentados pelos Cossacos impe-
tido bom efeito total. Mas o que sobretudo importava a Ladislau era a po- diram a finalização dos debates, em que tomariam parte o Metropolita
lítica dos Ortodoxos com relação a Moscovo. De feito, é notável averi- Ortodoxo e Moghila, então ainda simples superior de mosteiro.
380 Capítulo X As Igrejas de rito bizantino entre os Eslavos orientais 381

Renovou-se a tentativa inicial por diversas vezes. Os mais sérios dos dável hétmane Bogdano Khmelnitsky, Casemiro decidiu, cm 1649, que a
contactos foram estabelecidos com Moghila. Ainda que seus esforços não União seria simplesmente supressa, logo que lhe chegasse às mãos a espe-
surtissem efeito, era incontestável a sinceridade das intenções que êle tinha rada autorização da Dieta. Os bens da Igreja Uniata passariam para os Or-
em vista. A boa vontade de procurar, a União, por meio de discussões em todoxos. Afinal, os Jesuítas e outros sacerdotes latinos já não poderiam,
nível elevado, constitui um dos aspectos mais interessantes deste capítulo dali por diante, residir na Ucrânia.
da História da Igreja. Tais medidas, porém, arriscavam provocar uma guerra, e não deram
Roma não era favorável a essas reuniões sinodais que, a exemplo de resultado. Essas ameaças por escrito nada representavam, em comparação
Florença, reunia em pé de igualdade hierarquias de obediências diferentes. com as sevícias, os homicídios, incêndios c saques, que vitimaram os Ca-
Após o malogro de 1609, reuniões de tal natureza foram violentamente tólicos Rutenos em todo o território lituano, onde os Cossacos "registra-
condenadas. dos" faziam causa comum com os Cossacos Meridionais.
A opinião vulgar era sensível a uma das principais queixas da facção Deixado por seus aliados tártaros da Criméia, Khmelnitsky tentou
ortodoxa, enquanto esta exprobrava à União de Bresta de não levar abso- atrair Moscovo para sua causa, alegando como motivo principal a pressão
lutamente em conta as relações canónicas entre Quieve e Constantinopla. de seus correligionários [irmãos de fé]. Para proteger o ortodoxismo, e
Tal queixa encontrou, por volta de 1651, uma formulação clássica na Pali- por considerar o antigo reino de Vladimira como sua partilha legítima,
nodia de Kopystensky, o mais interessante dos documentos de polêmica o czar Aleixo (Aléxis) resolveu, no começo de 1654, aceitar com indul-
ortodoxa do século XVII. gência o juramento de fidelidade, que os Cossacos já lhe tinham prestado
As deliberações da Congregação da Propaganda, nome oficial, desde antes, sob condições. Daí resultou, naturalmente, uma guerra contra a
1622, da Congregação Romana, da qual dependiam também os assuntos Polônia, que também foi atacada pela Suécia. A narração dessa guerra
"orientais", externara algumas vezes, a esse respeito, idéias que muito se fora do comum é tarefa da História Profana. As regiões que mais tiveram
assemelhavam às confusas declarações, que Roma fizera no tempo de Ivã de sofrer eram, certamente, aquelas que contavam maior proporção de
IV e os anos subseqüentes. "Uniatas".
O que importava, antes de tudo, era estabelecer um patriarcado inde- Todo o território da Nação caiu em mãos dos Russos, Cossacos e
pendente de Quieve, projeto que interessava, de modo particular, o Metro- Suecos, durante o verão de 1655. Mal se poderia falar de resistência por
politado Ortodoxo. Roma, porém, nunca levou isso em consideração. Das parte dos Poloneses. Se João Casemiro conseguiu, nos anos seguintes, ar-
trocas de idéias quanto ao regimento da Igreja de Quieve, só restava no regimentar uma resistência que logrou algum bom êxito, a causa era de
fim do século um argumento polêmico, do qual se valiam os polemistas atribuir-se aos reveses que, por seu turno, sofreram a Moscóvia e a
ortodoxos contra os "Uniatas", designação desprezível na terminologia Suécia, e à crescente deteriorização das relações entre o Czar e os Cos-
ortodoxa, e cujo ressaibo afetivo ainda hoje escapa a inúmeros católicos sacos. Duvidava-se, e não sem razão, que o Czar quisesse seriamente afian-
çar a autonomia de um Estado Cossaco, tanto mais que numerosos nú-
latinos.
cleos de Cossacos Meridionais faziam tudo por conseguir seu intento
Uma tentativa tardia, mas notável, de uma união total, podemos re- de reatar relações com a Polônia. Tal estado de coisas teve repercussão
constituí-la através de documentações, que datam do fim do governo de na vida eclesiástica.
João Casemiro. A rainha Maria Luísa, que destinava o trono da Polônia a
um de seus protegidos, articulou o jogo principal. Acreditava ela que os Após a primeira fase da guerra, representantes da Polônia e de Mos-
Cossacos, tornando-se católicos, lhe dariam apoio. A manobra, puramente cóvia procuravam uma solução, lançando mão de um expediente a que já
política, e feita sem habilidade, não era viável desde o nascedouro. tinham recorrido, quando se tratava de relações entre ambos os países:
garantir uma paz durável por meio de uma união dinástica. Desta vez, o
A abdicação de João Casemiro representa, para o Metropolitado Cató- czar Aleixo ou seu jovem filho sucederia João Casemiro, que não tinha
lico, o termo final do período mais crítico do século XVII. A balbúrdia prole. Durante as conversações, logo se compreendeu que tal eventualidade
política e müitar, causadora de estragos no governo desse soberano (1648- poria em risco a situação privilegiada, quando não a própria sobrevivência,
1668), levara a Igreja Uniata à beira de uma ruína total. Os católicos da Igreja Católica Latina na Polônia.
rutenos também foram envolvidos em graves dificuldades, oriundas de ten- O Czar recusou formalmente, como era de prever, que um Romanov,
sões entre o Metropolitado e os Basilianos, e tiveram de abrir mão de dentro da Religião Católica, fosse elevado à dinastia da Polônia. Sem
qualquer apoio estrangeiro. embargo, alguns representantes poloneses se preocuparam com a sorte dos
Ao contrário de seu pai e de seu irmão Ladislau, que era geralmente Uniatas. Para Aleixo, não existia Metropolitado Católico em Quieve, nem
favorável à União, João Casemiro, antigo Jesuíta e Cardeal, demonstrou tampouco Metropolitado Ortodoxo, dependente de Constantinopla.
pouca compreensão pelos católicos do Metropolitado. Depois das primeiras A nova hierarquia, nas regiões ocupadas pelos Russos, dependia in-
conquistas dos Cossacos, que se tinham rebelado sob a chefia do seu formi- teiramente do Patriarcado de Moscovo. Para não perderem nenhuma opor-
382 Capítulo X As Igrejas de rito bizantino entre os Eslavos orientais 383

tunidade, os Latinos organizaram debates cuidadosamente preparados so- Aos tempos das provações sofridas no reinado de João Casemiro,
bre a união das Igrejas Latina e Ortodoxa. Essa troca de idéias, que não sucedeu-se contra toda expectativa um dos períodos mais tranqüilos da
surtiu efeito algum, e cuja finalidade imediata era resolver um embaraço História da Igreja Católica de Quieve.
político, se realizara sem conhecimento dos Uniatas. Depois de afastadas, provisoriamente, as ameaças dos Cossacos, e de-
pois de acomodada a resistência da nobreza ortodoxa e das confrarias, a
Abandonando as infrutíferas negociações com Moscovo, os Latinos Comunidade Uniata pôde, durante algum tempo, representar um papel na
fizeram-no com maior espontaneidade, tanto mais que despontava, aos Nação, não obstante as humilhações, que lhe eram continuamente infli-
poucos, ocasião mais propícia de entendimentos com os Cossacos Meridio- gidas. Em sua política religiosa João Sobieski não foi talvez tão grande rei
nais. A República da Polônia e a Lituânia aceitariam um Estado Cossaco (1674-1696) como pela sua atuação militar, mas seu governo permitiu
como terceiro membro, em pé de igualdade. que a Igreja Católica Rutena se desenvolvesse com tranqüilidade.
Na primavera de 1658, os pormenores acerca dessa reunião foram A restauração do decaído Metropolitado já começara pelo fim da
fixados em Hadjatch, e ratificados pouco depois. Não tivessem as cir- Guerra, quando João Casemiro em 1665 abandonou sua política "cos-
cunstâncias diferido, por várias vezes, a execução dos "Pontos de Had- saca", e Gabriel (Gawriil) Kolenda foi nomeado metropolita, depois de
jatch", sua realização significaria a ruína definitiva do Metropolitado Ca- longe vacância do cargo. Roma hesitou, primeiramente, em confirmar a
tólico. nomeação. Pela despótica intervenção de Kolenda, a desavença com os
A União foi abolida em toda a Nação, e os Uniatas deviam optar: Basílianos, nos anos anteriores, tinha degenerado em ignóbil luta, e a
tornar-se Ortodoxos, ou Católicos Latinos. Dentro dos seis meses úteis, Congregação da Propaganda tomara o partido dos Monges.
todos os bens da Igreja seriam entregues aos Ortodoxos.
Isto não obstante, Kolenda teve grandes méritos como metropolita.
O Rei, cujo poder enfraquecera ainda mais, na década de 1650, não Foi um dos raros prelados de Rutênia que então dispunha de relações,
era de todo responsável por essas medidas arbitrárias. Além disso, a Rai- das quais soube tão bem tirar vantagens. As diferenças com os Basilianos
nha mantinha o acordo, por autoritarismo. Alguns membros da Dieta foram definitivamente resolvidas, graças ao dedicado apoio de Tiago Susza.
sentiam-se lesados, mas não podiam fazer prevalecer seus agravos. bispo de Chelm (Cholm). Os Basilianos são a Ordem Religiosa que goza
Quando o Núncio Apostólico Vidoni descobriu toda a trama, eles de maior simpatia entre os católicos eslavos de rito bizantino.
forjaram inutilmente desculpas. Alegaram o Tratado de Vestefália, se- Durante a guerra, os bispos do Metropolitado não quiseram colocar-se
gundo o qual Roma teria aprovado as concessões, que na pretensão ao lado de Moscovo. Por isso, depois do armistício, o Metropolita fixou-se
deles se harmonizavam, praticamente, com os convênios de Hadjatch. na Galícia, onde bispos ortodoxos permaneciam constantemente, desde a
Em Roma, as sessões da Congregação sucediam-se sem parar. O Papa União de Bresta. Depois do armistício, Quieve ficou como partilha da
ameaçava cortar todas as relações com a Polônia, e os Bispos Latinos fo- Rússia. João Sobieski contava muito amigos entre os bispos. Desta feita,
ram rigorosamente censurados por causa da atitude que tomaram durante êle aproveitou com bom êxito a oportunidade para nova tentativa de
a Dieta. Buscando uma forma de transação, cogitou-se pela última vez união. É interessante notar que o Rei decidira que todas as dioceses de-
no projeto de criar um Patriarcado em Quieve. Só ficou conjurado o pe- penderiam finalmente de Constantinopla, e deveriam colocar-se debaixo
rigo que ameaçava a União quando o Tratado de Hadjatch passou ao de sua obediência, tão logo o Patriarca Ecumênico tivesse restabelecido
segundo plano, na ocasião que lutas internas debilitaram o poder dos Cos- a comunhão com a Igreja de Roma.
sacos, e que se reiniciaram as negociações de Moscovo. José Chumlansky, natural da Galícia, que aos vinte e quatro anos
A Guerra terminou com a Trégua de Androussovo (1667), a favor de idade fora irregularmente sagrado bispo de Lemberga (Lwow), exe-
de Moscovo, mas sem grandes vantagens. Depois do reinado de Ivã IV, cutou grande façanha. Ajudado por um bando armado, apoderara-se da
Moscovo teve de usar de certas atenções para com a Polônia. Smolensk e Igreja Catedral, e João Sobieski nomeara-o metropolita em 1676. Apenas
a diocese homônima, que, desde 1625 até a ocupação pelos Russos e um ano mais tarde, Chumlansky declarou, secretamente, que queria sub-
Cossacos em 1655 tinha bispo ordinário Uniata, bem como Quieve, com o meter-se ao Papa. Depois, em 1681, desta vez com maior sigilo ainda,
território à margem esquerda do Dniepre, ao sul de Tchernigov, passaram emitiu sua profissão de fé.
definitivamente para Moscóvia. Nesse ínterim, conservou-se em contato regular com o Patriarca de
Não dispomos de dados exatos, mas tudo leva a crer que muito Moscovo, a quem pediu reconhecimento dc seu título de metropolita e o
poucos entre os católicos de rito oriental se tornaram infiéis à União, direito dc dispor dos bens eclesiásticos de Quievc-a-Russa. Tudo prova
apesar das perseguições e das medidas coercitivas que os atingiram. Tudo que êlc, desde o princípio, desejara sinceramente a União. Queria, entre-
quanto sabemos acerca dos católicos do Metropolitado nesse período con- tanto, usar de precaução e preparar o Clero com o povo, a fim de evitar
tradiz à opinião, pela qual em toda a parte o povo e o baixo Clero, a malfadada experiência de uma ação precipitada, como aquela de 1595.
cinqüenta anos antes, teriam aderido à União sob o guante de ameaças. Este era um ponto de vista que Roma não pôde compreender.
384 Capitulo X Às Igrejas de rito bizantino entre os Eslavos orientais 385

Mas, pensando talvez nos interesses dos bispos, seus sucessores, e De outra parte, os Ortodoxos, aos quais não podemos negar uma sus-
sendo êle também ambicioso, queria salvaguardar suas boas possibilidades, cetibilidadc digna de encómios, quando se trata da pureza das tradições
a saber: direito permanente de dispor de todos os bens patrimoniais da rituais, só mostram desprezo por tais particularidades, nas quais enxergam
sede metropolitana ortodoxa de Quieve; para si, pessoalmente, honrosas apenas uma prova do perigo que resulta de todo contato mais estreito
relações com o Metropolita Católico, enquanto o mesmo fosse vivo; ne- com católicos de rito latino. Fosse como fosse, ao fixarem sua variante
nhuma ligação com o Ordinário Latino de Lemberga (Lwow), cuja opi- característica do rito bizantino, como Amman a formulava cordatamente,
nião era ainda que a diocese "grega" estava, em toda a justiça, subor- os Uniatas "não contribuíram para que se aplainasse, a favor de Roma,
dinada à diocese latina; os mesmos direitos políticos que os bispos latinos. o caminho que a separava das Igrejas Cismáticas Eslavas do Oriente". 7

Em conseqüência de suas hesitações, êle distanciou-se cada vez Como "latinização" não devemos qualificar todas as praxes que se
mais de Sobiesky. Só em junho de 1700, depois da morte do Rei, Chum- diferenciarem dos usos e costumes ortodoxos. Várias minúcias do for-
lansky fêz sua profissão de fé. O Bispo de Przemysl já tinha feito em mulário ritual e do costumeiro dos Uniatas são muito mais antigos do
1692, c o Bispo de Lutsk fê-la somente em 1702. Quando a Confraria de que as do rito de Moscovo. Sob a orientação de Nicão, o formulário tinha
Lemberga (Lwow) se submeteu solenemente ao Papa cm 1708, a União sido adaptado à praxes gregas da época.
estava completa no País. Aliás, em Lemberga já tinha havido uma União
anterior, quando em 1635, o Arcebispo Armênio, acompanhado de seus Os coros muito singelos, a uma só voz, executados por toda a co-
fiéis, se pusera em comunhão com a Igreja de Roma. A comunidade ar- munidade em numerosas igrejas, faziam também parte da tradição. Os
mênia datava do século XIV. ruidosos coros polifônicos dos Uniatas datavam dc período posterior.
Aliás, algumas inovações apresentadas por obras litúrgicas católicas, edi-
Chumlansky esperava que Moscovo o reconhecesse como metropo- tadas no século XVII, apreciadas também pelos Ortodoxos, penetraram
lita de Quieve, mas teve logo de desenganar-se. Em 1685, o Bispo rus- através dc Quieve até Moscovo, que as perfilhou.
sófilo de Lutsk, o único que entre os hierarcas ortodoxos se mantinha
infenso à União, foi induzido pelo Patriarca de Moscovo a ocupar a sede Não obstante a oposição de alguns no Metropolitado, o processo de
da Quieve. Esse metropolitado secundário, pelo qual Constantinopla deixou "hibridação", já iniciado no tempo de Rutsky, avançava continuamente.
dc interessar-se, não durou senão até 1707. Em dada ocasião, fizeram-se modificações dc inspiração latina. Foram in-
dicadas ou simplesmente sugeridas por Roma, ou pedidas pelo Núncio
Apostólico, quer se tratasse de uma aplicação literal do Concílio Triden-
8. O Problema da "Latinização" tino, quer se tratasse de escrúpulos dogmáticos.
Por via de regra, essas modificações tinham por fim reduzir a dife-
Ao tornar-se fato consumado a União das dioceses da Galícia, logo rença entre as praxes uniatas e as latinas. Tanto maior era a sensibilidade
romperam divergências entre os antigos e novos Uniatas, causadas pela para a atitude desdenhosa do Clero Latino, quanto mais a falta de for-
diferença dos costumes religiosos, ou antes, por diferenças de "rito", to- mação impedia os Uniatas de aquilatarem o valor de sua própria tra-
mado no sentido mais amplo da expressão. dição. Impressionados pela superioridade da cultura polonesa, e atingidos
O culto dos Ortodoxos da Galícia sofrera a influência do Ocidente, às vezes por um complexo de inferioridade, eles chegavam a reconhecer,
e isto os separava dos Ortodoxos de Mõscóvia. Essas influências, todavia, praticamente, a superioridade da Igreja Latina.
eram mais profundamente arraigadas entre os Uniatas antigos. Em 1720, A ampla latinização pode, geralmente, explicar-se por fatores de or-
reuniu-se o sínodo de Zamosc, que devia determinar a linha de comporta- dem social. Cumpre observar que justamente alguns ortodoxos da velha
mento e os principais pontos comuns a todos os Uniatas. Certas questões, escola eram partidários convictos da nova tendência. O fenômeno repe-
porém, ficaram propositadamente em termos vagos, sobretudo a questão tir-se-á mais tarde. O mais conhecido, a esse respeito, era o turbulento
de saber se os monges das dioceses recém-integradas na União, e ainda Cassiano Sakowitchi, "guarda-costas" de Moghila. Redigiu um plano com
dominadas por tradições monásticas ortodoxas, deviam agregar-se aos Ba- a finalidade de adaptar, em todas as minúcias, a liturgia bizantina. Foram,
silianos. então, adotadas mais facilmente a espiritualidade e as formas devocionais
Desde o fim do período aqui em causa, a vida eclesiástica e es- latinas.
piritual dos antigos Uniatas apresentava um conjunto de elementos carac- O próprio Colégio Grego em Roma, onde se estudavam as obras de
terísticos, que marcavam sua Igreja, e que se encontram ainda atualmente Santo Tomás simultaneamente com as obras dos Santos Padres e Apolo-
nas praxes de mais de uma Igreja Católica Eslava de rito oriental, par- gistas Gregos, a liturgia bizantina só era celebrada em caráter excepcional.
ticularmente entre os Rutenos, menos entre os Ucranianos. Tirante as três grandes Festas, a Comunhão era recebida em rito latino.
Aqui tocamos em assunto muito melindroso. Estas "particularidades" Por dispensa do papa Alexandre VII, os dias de jejum eram observados
se conservaram, para gerações inteiras dc heróicos católicos, como sinal segundo a prática latina. Os Superiores do Colégio, desde 1621 tomados
palpável de sua fidelidade à Igreja única. dentre os membros da Companhia de Jesus, eram invariavelmente latinos.
386 Capítulo X As Igrejas de rito bizantino entre os Eslavos orientais 387

O povo conservou-se fiel aos exercícios votivos da religião, que se O bispo Tarasowitch, cujo predecessor mantivera relações com o me-
inspiravam nas eras bizantinas, e aos quais vieram depois juntar-se prá- tropolita Rutsky, sem que desse todavia o passo decisivo, fêz profissão
ticas espirituais de estilo ocidental, como a Adoração das Quarenta Horas, de fé católica em 1642, estando presente o imperador Fernando III.
introduzida por Kolenda. Pelos meados do século, apareceram, sobretudo Mas, dali por diante, foi-lhe impossível recuperar a própria sede. Alguns
em igrejas dos Basilianos, capelas laterais, onde se celebrava unicamente anos mais tarde, retornou contudo a Mukatchcvo, como bispo ortodoxo,
a liturgia recitada. Mais tarde, adotaram-se o amicto e a alva latinos, como pelo menos na aparência.
também as genuflexões e o próprio uso da sineta, praxes características
que distinguiam a ortodoxia católica do ortodoxismo oriental dissidente. Mas em Uzjgorod, na Eslovénia, preparava-se também a União, sob
Há uns vinte anos atrás, ainda se testemunhava de vez em quando o patrocínio do senhor católico da região. Em 1646, uns sessenta sacer-
certa hostilidade contra obras litúrgicas, editadas pela Sé Apostólica, des- dotes da eparquía aceitaram a União, no decorrer de uma assembléia,
tinadas de modo especial para católicos de rito bizantino na Rutênia e na realizada na igreja do Castelo, sob a presidência do Ordinário Latino de
Ucrânia. As rubricas e as instruções gerais de tais obras rejeitavam as Erlau.
mais genuínas tradições dessas Igrejas. Essa célula de sacerdotes uniatas nomeou, sem perda de tempo, de-
As conclusões do Sínodo de Zamosc (1720), que não trouxeram pois da morte de Tarasowitch (1561), o basiliano Partênio (Parteny)
nenhuma atualização do ritual, fixaram certo número de "latinizações", que Petrowitch para lhe suceder. Na intenção de anteceder o candidato ortodoxo
os Uniatas antigos já tinham vulgarizado. Roma hesitou, primeiramente, de Rákóczy, êle se fêz sagrar bispo, rapidamente, por um metropolita rome-
em ratificar tais decisões. Quando afinal a confirmação chegou em 1724, no não-católico, mas não enunciou todavia a profissão de fé ortodoxa.
trazia uma cláusula de acréscimo, para evitar que se introduzissem as mo- Quando Roma soube dessa União, já constante de 300.000 cató-
dificações noutras Igrejas Uniatas. Tal restrição foi adotada por inicia- licos, que o Governo Imperial encarava como problema de Estado, o caso
tiva de Próspero Lambertini, secretário da Congregação dos Ritos, que, Petrowitch passou primeiro de uma Congregação para outra. Querendo,
constituído papa, com o nome de Bento XIV, fixou por muito tempo, porém, dar prova de magnanimidade, o papa Alexandre VII decidiu em
em várias publicações, a política romana quanto aos ritos orientais. Mas 1655 não levar em conta as irregularidades praticadas por Partênio, e re-
nem êle em sua erudição conseguiu desvencilhar-se, totalmente, do prin- conheceu-o como bispo dos Rutenos na região que fosse determinada pelos
cípio que determinava a superioridade da disciplina latina e da Igreja primazes latinos. Evitou, cuidadosamente, de especificar a sede.
Romana sobre os ritos do Oriente. Depois da morte de Partênio, o convênio mal definido a favor do
bispo uniata provocou uma situação caótica, que facilmente poderia ter
acabado com a recente União. O Clero, o Imperador, Sofia Báthory, viúva
9. As Uniões na Rússia Subcarpática e na Transilvânia de Rákóczy, que se fizera católica, e a Sé Apostólica, cada qual forcejava
pelo reconhecimento de seu próprio candidato.
Remonta ao século XVII o início da União dos Rutenos da Rússia dos
Cárpatos Meridionais, ao sul da fronteira da Galícia. Por volta de 1700, Só vinte e cinco anos mais tarde, entraram em acordo com a no-
formou-se uma comunidade unida a Roma, e abrangia também os Ro- meação de um candidato de Roma, o grego J. de Camillis (1689-1706).
menos da Transilvânia. A despeito dc grandes dificuldades, ambas as Uniões Subordinado ainda à hierarquia latina, êle conseguiu restabelecer a ordem
evolveram consideravelmente nos séculos XVIII e XIX. No entanto, depois e integrar na União a antiga eparquia de Mukatchevo e alguns territórios
da Segunda Guerra Mundial, a direção das Igrejas desorganizou-se por limítrofes. O que aconteceu com a União de Uzjgorod, iniciada modesta-
completo nos territórios de origem. mente em 1646, já pertence ao período seguinte da História.
O exemplo de Bresta influiu sobre a União nos países dos Cárpatos A eparquia católica de Mukatchevo só pôde fundar-se em 1771. A
Meridionais. A vantagem de buscar uma aproximação imediata a Roma comunidade compunha-se, em grande parte, de Rutenos dos Cárpatos, que
justificava-se com a pressão que a nobreza latifundiária de credo refor- eram chamados simplesmente "Rutenos", desde sua emigração. O terri-
mado [calviniano] exercia sóbre os Ortodoxos, que na maioria eram serves tório deles, Mukatchevo e Uzjgorod, faz parte atualmente da União So-
de gleba. viética.
Mukatchcvo (em húngaro: Munkacs) era um centro de ação e de Nos territórios do Oeste e do Sul, os Grupos Uniatas dependiam unica-
reação, onde a família calviniana dc Rákóczy predominava, e onde o Mos- mente da eparquia. Depois de muitas vicissitudes, foram repartidos entre
teiro Ortodoxo de São Nicolau, havia mais de século, era utilizado como três outros Estados. Eram eles Eslovacos, talvez antigos Protestantes, que
residência episcopal. A emaranhada história dessa diocese por muito tempo se tornaram ortodoxos para conservar o dialeto nacional na celebração do
seria grande obstáculo às relações dos Habsburgos e da hierarquia latina culto; eram também comunidades húngaras de rito oriental; eram Rome-
com os Uniatas. nos da região fronteiriça, e até Sérvios Uniatas, emigrados no século XVII.
388 Capitulo X As Igrejas de rito bizantino entre os Eslavos orientais 389

Pelo findar do século, a situação dos Romenos Ortodoxos da Tran- tamente a União da Igreja, se êle quisesse outorgar as demais reivindica-
silvânia assemelhava-se, em mais de um ponto, àquela que dominara cin- ções, a saber: pé de igualdade, até então só teórica, com o Clero Latino
qüenta anos antes na região de Mükatchevo. Quando os Austríacos ocupa- e com os três ramos do Protestantismo; transformação das residências dos
ram a Transilvânia, depois da vitória contra os Turcos em 1683, os chefes sacerdotes em patrimônio da Igreja; abolição de toda influência laica,
conseguiram consolidar o regime que se implantara durante a dominação para que os sacerdotes das paróquias dependessem exclusivamente de seus
otomana. Não levaram em conta a existência de uma "nação" romena bispos.
nem da Religião Ortodoxa. Estas reivindicações indispensáveis para a liberdade da Igreja cons-
Desta maneria, a massa popular estava praticamente esbulhada de tituiriam, por muito tempo, um obstáculo ao reconhecimento inequívoco
seus direitos. Os senhores latifundiários protestantes tinham maioria na da União. Surpreendidos pelos acontecimentos, os Calvinistas tentaram
Dieta do Principado, que era mais ou menos autônomo. A maior parte anular a União, e para esse fim a apresentavam como fosse iniciativa de
dêlcs pertencia à Religião Reformada [Calviniana], a par de núcleos me- pequena minoria. Depois, lançaram mão de um recurso já empregado muitas
nores de Católicos, Luteranos c Uniatas. Viu-se, então, que numerosos vezes por eles. Depuseram o bispo Teófilo, que morreu subitamente pouco
componentes do Clero Paroquial Ortodoxo sofriam, da parte dos se- depois. Murmurava-se que fora envenenado.
nhores territoriais, uma pressão de tendência calvinista. Eram tratados como Contando, certamente, com a simpatia que o sacerdote Atanásio An-
servos de gleba, cujos meios de subsistência e condições de domicílio de- ghel tinha pelo calvinismo, o Sínodo da Igreja Reformada nomeou-o su-
pendiam do senhorio. cessor de Teófilo. Contra toda expectativa, Atanásio manteve-se insensível
Depois dos malogros da Polônia e de Constantinopla, tentou-se cons- às pressões feitas pelos Reformados. Sua posição contou com o apoio de
tituir uma Igreja Ortodoxa na Transilvânia, para conquistar os protestantes Dositeo, patriarca de Jerusalém, autor da famosa "Confessio" de 1672.
de tendência reformada. Desta vez, inspiraram-se na União feita com Roma, Estava êle em Bucareste, quando Atanásio foi sagrado.
para estabelecerem uma espécie de comunidade calvino-ortodoxa unida. Tal Dositeo redigiu, para o novo bispo, um memorial muito circunstan-
projeto contava com pouca probabilidade de vingar. A despeito do Cate- ciado, que refutava, ponto por ponto, as alegações calvinistas, mas que não
cismo Reformado, com larga difusão entre o povo, e da retirada de ícones continha nenhuma passagem hostil à União da Transilvânia, ainda que
em algumas igrejas, o pequeno grupo de sacerdotes que, durante a crise, ninguém ignorasse seus sentimentos antilatinos.
na passagem do século, tinham tomado em vista uma união de tal natureza, As laboriosas conversações em torno da realização da União foram
pôs entretanto como condição que nada se mudaria do ritual ortodoxo. imediatamente reiniciadas, por intermédio de Baranyi. Para não subsistir
Os Arcebispos Ortodoxos, residentes em Alba Julia (Karlsburg), re- nenhuma dúvida, os Romenos proclamaram solenemente, durante um novo
ceberam, quando de sua eleição, uma ordem expressa do Superintendente Sínodo em Alba Júlia (Karlsburg) em 1698, sua vontade de chegarem a
dos Reformados, como se fossem vigários dele, intimando-os a promover uma União.
o calvinismo. Não obstante a pressão, eles fizeram resistência passiva. Con- De seu lado, o imperador Leopoldo e o Primaz da Hungria procuraram
servaram-se fiéis à profissão de fé e às promessas rituais, que tinham feito, contentar os Romenos e os círculos dirigentes da Transilvânia com decisões
quando foram sagrados pelo Metropolita de Bucareste. ambíguas, e por vezes contraditórias. Pelo fim de 1700, a Corte autorizou
Em que fosse Rei da Hungria, o Imperador não dispunha de força o bispo Atanásio a chegar até Viena, mas surgiu nova complicação, quando
contra a situação. Não podia intervir a favor dos Ortodoxos Romenos, o Cardeal Kollonitsch, primaz da Hungria, levantou a questão de prin-
senão em caso de urgência, fazendo apelo ao comandante das tropas aus- cípio sobre a validade da sagração de Atanásio.
tríacas. O Clero Ortodoxo encontrou apoio moral, sobretudo por parte dos Contrariamente ao parecer dos teólogos consultados, e à posição não
Jesuítas, que na qualidade de capelães militares tentaram reorganizar, na ambígua da Cúria Romana, que desde muito já reconhecia a validade da
Transilvânia, a direção espiritual dos católicos. O jesuíta Ladislau Baranyi sagração ministrada pelas Igrejas Ortodoxas, na época ainda, em que os
teve importante atuação nos entendimentos para a União. teólogos não conseguiam chegar a um acordo, Kollonitsch de sua alta re-
O desejo de união, despertado tanto por motivos sinceramente reli- creação, e como Primaz da Hungria, ordenou Atanásio sacerdote e sa-
giosos, como pela esperança dc que ela traria igualdade social, era tão grou-o bispo "sob condição" ("sub conditione"), num oratório particular,
viva entre os Ortodoxos da Transilvânia, que desde o início do Sínodo numa série de cerimônias que levaram dois dias. O fato de que o bispo
Geral de fevereiro de 1697, logo que se julgou oportuno o momento, a de Alba Júlia (Karlsburg) provavelmente se tenha prestado a tal ence-
União foi votada com unanimidade. De perfeito acordo com a Congre- nação torna mais chocante essa vergonhosa peripécia. Atanásio foi ime-
gação da Propaganda da Fé, o bispo Teófilo e seu Clero puseram como diatamente despedido para Transilvânia.
condição que seu rito ficaria indene. Mas a repetição de sua sagração não pôde ali ficar oculta. Tamanha
A União de Mükatchevo tornara-se assunto de Estado, e o imperador foi a indignação do Clero, que a União finalmente realizada em Viena
Leopoldo I, como "Rei Apostólico" da Hungria, teria sancionado imedia- esteve quase a pique de romper-se. Como a colaboração de Leopoldo era
390 Capítulo X As Igrejas de rito bizantino entre os Eslavos orientais 391

indispensável para as classes dirigentes, por causa de complicações que eram, em geral, de espírito mais conciliador. Comentaram inúmeros his-
tinham surgido no seio da própria Dieta, conseguiu-sc, depois de vários toriadores ocidentais que os episódios da resistência russa, contra os in-
conchavos, alcançar para os novos Uniatas um regimento que lhes afian- vasores ocidentais, já se revestiam de um caráter incontestavelmente "na-
çava um mínimo de liberdades sociais. Condição essencial, ao que parecia, cional". Explica-se tal averiguação pelo fato de que, então, o ortodoxismo
era certa autonomia em face da hierarquia latina. devia ser protegido, em primeiro lugar e a todo preço, nas áreas terri-
Em regiões situadas entre cristandades ocidentais e orientais, como toriais da "Santa Rússia", conforme um modo de dizer, que já se usava.
aliás em outros lugares, a situação vigente era tão natural para os Latinos, Os muitos estrangeiros ocidentais, pertencentes a outros credos re-
que ela se prolongaria ainda por muito tempo, tanto mais que estava ligiosos, continuavam a ser sempre, no ânimo simplista dos Russos, in-
afastado o perigo de uma pressão protestante. fames "Polacos" latinos, que se faziam notar pela "tagarelice", sem sin-
Se dermos como válidas as declarações dos bispos que se transfe- ceridade. Vários pormenores da intervenção polonesa seriam sempre inter-
riram para a União de Bresta, a Igreja Católica Romana é, numerica- pretados como outras tantas tentativas de impor a União Latina à Mos-
mente, a segunda comunidade uniata do período pós-florentino. Em 1853, covia Ortodoxa.
ela recebeu finalmente sua organização hierárquica autônoma. Em 1948, Aos 20 de junho de 1605, pouco depois do assassínio do filho de Bóris,
precisamente na data do ducentésimo qüinquagésimo aniversário do Sínodo que reinara apenas algumas semanas, o primeiro Demétrio (Dimitry),
da União, presidido por Atanásio, a União foi supressa pelas novas auto- saudado como libertador, fêz sua entrada na capital. Poucos historiadores
ridades da Romênia. admitem ainda que o primeiro pretendente, chamado Demétrio, fosse real-
mente o filho mais moço de Ivã IV. Parece haver certeza de que esse
pequeno príncipe morreu em 1591, sob a regência de Godounov. O pri-
10. A Igreja de Moscovo depois das "Contendas" até a Supressão meiro Demétrio teria sido um monge, foragido do Mosteiro de Tchoudov
do Patriarcado, sob o Governo de Pedro, o Grande em Moscovo.
Entretanto, os voluntários poloneses que constituíam seu exército,
Depois dos distúrbios que irromperam nas primeiras décadas do sé- c os nobres da Nação que tinham financiado a expedição, acreditavam que
culo XVII, o Governo esforçou-se por restabelecer as relações com as era êle realmente filho de Ivã. Disso [também] estavam convencidos os
Potências Ocidentais, continuando a manifestar a ambição imperialista de Jesuítas que faziam parte de sua comitiva; do novo Czar esperavam êlcs
estender-se cada vez mais em direção do Oeste. muita coisa, pois não ignoravam que, um ano antes, Demétrio recebera
Haveria, por última vez, contatos entre Ortodoxos Russos e Cató- em Cracóvia os Sacramentos, segundo o rito latino, e enviara ao Papa
licos Latinos. A situação, porém, estava modificada. Os Católicos já não se seu ato de submissão.
deixavam embair com falazes esperanças, sempre frustradas sob a domi- Roma e a Corte Polonesa, ao contrário, duvidavam da identidade de
nação dos últimos Rurik, acerca da possibilidade de uma reaproximação Demétrio. Essa dúvida, porém, não impediu que Paulo V de desdobrar
entre as Igrejas. A partir dessa época, a história religiosa de Moscovo a Nunciatura de Cracóvia até a Corte de Moscovo, onde o Representante
identifica-se com a história do Ortodoxismo. Contentar-nos-emos, por con- Papal foi solenemente recebido pelo novo Czar em 1606.
seguinte, em resumir as características principais. O velho patriarca Jó, que até o fim mantivera a resistência contra
As relações com os Latinos permanecerão superficiais, como na fase a Polónia, foi deposto oficialmente, quatro dias depois. Inácio, natural de
das intermináveis conversações, no começo da década de 1650, durante Chipre, complacente arcebispo de Riazan, foi seu sucessor. Coroou o Czar
a Guerra Russo-Polonesa. A discussão teológica, começada entre Pedro, como Imperador aos sete de julho.
o Grande, e os Teólogos de Sorbona, demonstrava a vontade do monarca A posição de Demétrio relativa ao ortodoxismo só se tornou evidente,
de manter-se em nível europeu. Com sua visão simplista do ortodoxismo quando chegou a Moscovo sua noiva Marina Miniszek, filha do Castelão
e do catolicismo, o autócrata conseguiu reduzir ao silêncio os doutores de Sambor, de seu hospedeiro polonês. Êle esposaria Marina, por pro-
de Paris. curação, alguns meses mais tarde, numa igreja latina de Cracóvia. Negli-
A era dos Distúrbios, que começou antes da morte de Bóris Godounov genciou-se a esperada repetição da cerimônia nupcial, segundo o rito
(1605) e terminou com a ascensão do primeiro Romanov (1613), cons- "grego".
titui uma linha de separação na história da Igreja Russa. Nesse conturbado Demétrio, que até então se portara como ortodoxo, começou com
período, as tropas da Polônia-Lituânia tiveram a tarefa principal. Naquela muito tino a familiarizar os elementos de sua roda com a idéia de liber-
época, as invasões militares não deixavam subsistir, como nos dias que dade religiosa para os católicos. Tentou obter de Roma a permissão,
correm, sentimentos de ódio inveterado. Contudo, o povo, o clero e os para Marina, de observar os jejuns segundo o rito ortodoxo, e, para ambos,
monges consideravam a invasão vinda do Ocidente como uma ameaça a de receberem a Eucaristia pelas mãos do Patriarca, na solenidade da
contra os usos e costumes moscovitas. Os boiardos e a pequena nobreza coroação da Czarina. O Santo Ofício recusou simplesmente. Na unção
i4s Igrejas de rito bizantino entre os Eslavos orientais 393
892 Capitulo X
conhecido como czar, e nomear Inácio, obrigado a marchar à frente das
de Marina, aos 8 de maio de 1606, nem o Czar nem a Czarina puderam tropas, como Patriarca Católico da Igreja de Moscovo. Embora tivessem
comungar, conforme prescrevia o ritual da coroação. Foi geral a cólera chegado bem perto de Moscovo, os Polacos não conseguiram quebrar a
do Clero e do povo. Por sua vida particular, e por suas preferências a unânime resistência dos Russos.
tudo que era exótico (estrangeiro), Demétrio a tal ponto se tornou odioso, O sólio episcopal, vago desde a morte de Hermógenes (1612), ficou
que os Moscovitas de sua roda começaram a intrigar contra êle. Foi reservado para Filareto. Quando, em 1619, foi afinal posto em liberdade
assassinado, nove dias depois da segunda cerimónia de coroação. pelos Polacos, o pai do Czar não só tomou a direção da Igreja, mas tam-
Chouisky, chefe dos conspiradores, foi nomeado Czar, sob o nome bém governou com seu filho, na qualidade de co-regente.
de Basílio IV. Nesse meio tempo, o patriarca Inácio fora deposto. Em A feliz eliminação da desordem que os Distúrbios tinham provocado,
1611, êle ocupou mais uma vez, por pouco tempo, o sólio episcopal. Os um pouco em toda a parte, representa talvez o período mais impressionante
Poloneses tinham-no chamado de volta durante aqueles anos incertos. Êle da História da Rússia. Filareto adotou uma sensata política religiosa, início
terminou seus dias, como monge basüiano católico, no Mosteiro de Vilna de uma era de reformas. Não teve, contudo, nenhuma contemplação com
(Wilno). os católicos, uma vez que não esquecera a experiência feita com os Po-
O breve episódio do governo do primeiro Demétrio exacerbara a tal loneses.
ponto o afeto antilatino do Clero e do povo, que só a idéia de tolerância, Contestou, simplesmente, a validade do batismo católico, o que não
com relação aos Latinos, bastava para despertar sempre animosidades no era medida muito nova no ortodoxismo, mas antes uma réplica à apre-
País, não obstante a força do Governo, e também violentos conflitos in- ciação dos teólogos católicos sobre os Sacramentos na Igreja Ortodoxa.
ternos., envenenados pelas intrigas dos Polacos. O Concílio de 1666 interdirá novamente o segundo batismo ou "rebatismo"
Quando a Nação se empenhou oficialmente na luta e Ladislau (Wla- de Latinos. Mas, depois ainda de 1666, para abençoar sua união matri-
dislaw), com quinze anos de idade, filho de Sigismundo III, foi escolhido monial ou para batizar seus filhos, os Católicos de Moscovo dirigir-se-ão
Imperador em 1610, aliás unicamente por representantes da capital, o antes a um Pastor Protestante, de preferência a um sacerdote ortodoxo.
patriarca Hermógenes alcançou, sem dificuldade, que o novo Czar adotasse Isto caracteriza bem as condições religiosas que existiam desde o tempo
oficialmente a Religião Ortodoxa. Os Poloneses da roda de Ladislau de Filareto. 8

(Wladislaw) fizeram com que êle protelasse a decisão. O governo colegiado de Filareto e de Miguel assegurava a harmonia
De Sigismundo, aguardava-se aliás o consentimento para a designação entre a Igreja e o Estado, qual a concebiam José de Volokolamsk e seus
de seu filho. Só então Sigismundo deu a entender em que intenção declarara partidários. No governo de Aleixo (Aléxis), filho de Miguel, de 1645 a
guerra à Moscovia. Ao êle próprio tornar-se Czar, concretizaria o sonho 1676, já se verificaria a dificuldade de se acomodar ao desenvolvimento
polaco-russo de um Império Eslavo do Oriente. Êle ficou junto ao exér- social e econômico uma harmonia que não assentava em princípios só-
cito que estava acampado perto de Smolensk, e não acabava consigo par- lidos. Somente muito mais tarde, compreender-se-ia que o cerceamento das
tir para Moscovo. propriedades e dos privilégios eclesiásticos, decretado em 1649 pela Uloz-
Com o intuito de esclarecer a situação, o Marechal polonês que re- jenye, era uma interrupção dessa "harmonia ideal entre os dois poderes".
sidia no Cremlim, junto a Ladislau (Wladislaw), enviou em agosto uma Após a morte de Filareto (1633), tornou-se mais enérgica a resis-
embaixada ao Rei, sob a direção do metropolita Filareto, chefe de uma tência contra os abusos que se tinham infiltrado na Igreja. A liderança
das mais conhecidas famílias russas, aparentadas com os Rurik, pelo lado passou dos Monges para o Clero Secular. Dela fazia parte o arcipreste
da primeira esposa de Ivã IV. A tal ponto temia Godounov a influência Avvakum Petrovitch. De todos os lados afluíam adeptos aos "Amigos".
de Filareto, que o forçou a tornar-se monge. Sigismundo, ao que parecia, Eram sobretudo comerciantes, mas também cortesãos [elementos da Corte].
compartilhava os mesmos receios, pois obrigou Filareto passar para a Uma confiança recíproca ligava o jovem Aleixo e os chefes. Muito amplo
Polônia, onde foi internado. Os Polacos, em Moscovo, tentaram aplainar era seu programa: combater todas as formas de relaxamento, melhorar
as dificuldades de seu Rei, mandando depor e encarcerar o enérgico pa- o nível do Clero, aumentar as pregações, exigir exercício respeitoso e
triarca Hermógenes. rigoroso do culto.
Apesar de novos distúrbios na Moscovia, e da hesitação de Sigis- Os esforços produziram resultados positivos. Em visita a Moscovo,
mundo em dar o passo decisivo, houve certo bom resultado. Em outubro pelos meados do século, gregos do Império Otomano, num misto de es-
de 1611, alguns Russos lhe ofereceram [a Sigismundo] a coroa imperial. panto e remoque, escreveram, como se falassem de um grande mosteiro,
Mas, pouco tempo depois, estourou um levante popular em Nijni-Nov- sobre a longa duração dos serviços religiosos, durante os quais as crianças
gorod, e no mesmo ano todos os Polacos foram expulsos de Moscovo. se mantinham imóveis até o fim dos ofícios. Um dos gregos chegou a
No começo de 1613, o jovem Miguel, com quinze anos de idade, filho mencionar que na Corte se escutava, durante as refeições, a leitura de
de Filareto, foi nomeado Czar pela Dieta. Em 1616, os Polacos tentaram passagens tiradas da vida dos Santos.
a última vez elevar ao trono Ladislau (Wladislaw), que seu pai tinha re-
N o v a H i s t ó r i a III — 2 6
394 Capítulo X i, As Igrejas de rito bizantino entre os Eslavos orientais 395

Elevado a patriarca de Moscovo em 1632, Nicão mantivera até então Depois dos agitados Sínodos que discutiram a Dissidência e a cor-
boas relações com os diversos Reformadores. Êle foi, talvez, o indivíduo reção dos tratados sobre os ritos, Nicão contraiu novos adversarios pelo
mais prendado que jamais dirigiu a Igreja de Moscovo. Graças à sua pie- modo com que punha em evidência sua dignidade patriarcal. Talvez não
dade, poderia ter sido o líder ideal do movimento de reformas, se não fosse fosse levado pelo orgulho, mas antes pela profunda consciência da digni-
sua falta de tacto. Apesar de ser russo de origem rústica, não deixava de dade de sua função. Tendo chegado a época em que o ideal de José Vo-
perceber a estreiteza do espírito provinciano de seus numerosos partidários, lokolamsk, a harmonia entre a Igreja e o Estado, já não era sustentável
quando estes pretendiam que o ortodoxismo russo seria o único autêntico.
em Moscovo, as tentativas de Nicão nesse sentido condenavam-se ao fra-
Sua crença e seu culto não lhes foram transmitidos pelos Gregos? E casso.
não se tinham os Russos afastado do exemplo grego em toda a linha? O czar Aleixo, homem piedoso, favoreceu-o com grande ajuda, quando
Desde sua elevação ao patriarcado, êle procedeu, ajudado por um monge desde o começo lhe permitiu empregasse o título que Filareto usava como
de origem grega, a uma revisão das instruções e dos textos religiosos. Apu- Patriarca-Regente. Os cortesãos não puderam suportar os ademanes de
seram-se-lhes correções mais rigorosas, do que o próprio Filareto as teria Nicão, filho de campônio, cuja arrogância com o tempo importunava o
desejado; elas não levavam em nenhuma consideração o fato de que os próprio Aleixo.
Livros Eslavos podiam representar uma boa tradição, quiçá mais antiga Em 1658, por um incidente de somenos, Aleixo e Nicão trocaram
do que aquela testemunhada pelos Gregos. doestos entre si. Nicão retirou-se para um mosteiro, à espera de que o
Não obstante todo o respeito que testemunhavam à Igreja Grega, Czar o revocasse. Aleixo, porém, dando por terminada essa luta absurda,
evangelizadora dos Eslavos, os adeptos das reformas sobrepunham os cos- deixou de ligar importância ao Patriarca. Quando em 1666 um Sínodo
tumes da Igreja de Moscovo muito acima dos costumes gregos de então, decidiu afinal depor Nicão, a hostilidade do Czar fora a tal ponto, que êle
e consideravam tais "correções" como um alcance inadmissível contra próprio se arvorou em acusador do Patriarca. Mais tarde, no leito de morte,
aquilo que lhes era sagrado. Mais de um "corretivo" que Nicão fizera, Aleixo implorou a Nicão perdoasse todo o mal que lhe tinha infligido.
contrariava diretamente as cláusulas do "Stoglaw" ("Livros dos Cem A condenação só atingia a pessoa do Patriarca. Suas reformas foram mais
Capítulos"). uma vez formalmente aprovadas.
A primeira notícia de algumas alterações já tinham provocado vio-
lenta reação. Nicão interveio sem mais detença, e os principais incitadores
foram exilados em 1653. Avvakum, um dêlcs, tornou-sc símbolo da resis- Para a Igreja de Moscovia, o período de Nicão foi o dealbar de uma
tência. Continuando a apoiar a política religiosa de Nicão, Aleixo tentou atividade teológica de inspiração ocidental. Criou-se, em Moscovo, uma
várias vezes persuadir seu velho amigo [Avvakum] abandonasse a oposição. despretensiosa escola de teologia, dirigida por Gregos. Depois da Guerra
Para Avvakum, porém, isso seria felonia. Foi então queimado vivo, muito Russo-Polonesa, a tendência teológica de Quieve tornou-se mais ponde-
tempo após a morte de Aleixo. Difícil seria calcular o número exato de rante no Império. Ortodoxos gregos e ucranianos, que não eram de men-
seus partidários que foram executados na primeira fase do rascol (Dissi- talidade pró-latina, freqüentaram escolas latinas, das quais adotaram inú-
dência) . meras argumentações e a terminologia escolástica.
Ainda que perseguidos na Rússia desde o começo deste século (XVII), Depois que Lucaris entrou em cena, quando se procedia à "greciza-
vários núcleos de Rascolnitas [Dissidentes] ou 'velhos crentes" conserva- ção" da "Profissão de fé" de Pedro Moghila, os Gregos mostraram-se mais
ram-se fiéis à insurreição de 1653. Observavam o ortodoxismo tradicional. reservados a propósito das tendências latinas, do que era o Teólogo de
Mais exato seria chamar-lhes "velhos ritualistas". Quieve [Moghila]. Desses mesmos pontos de vista divergentes resultará,
Hoje em dia ainda é difícil determinar a índole exata dessa rebelião. pelo fim do século, violento conflito teológico em Moscovo.
A clamorosa ressonância que o protesto despertou em vários ambientes, A tendência ucraniana de inspiração latina foi condenada pelo Sínodo
todo o tempo de Nicão, não se deve interpretar simplesmente como receio que se reunira em 1690 em Moscovo, sobretudo por causa da posição to-
de uma ameaça que pesasse sobre o ortodoxismo, provocada unicamente mada por Moghila, segundo o qual, para a consagração dos dons euca-
pela reforma de certas minúcias rituais, como seria a do sinal da Cruz, rísticos, deviam empregar-se exclusivamente as palavras do Senhor, e não
feito com três dedos, em lugar de dois. a invocação do Espírito Santo [epiclese], nela acrescentada, que a escolás-
Os "Amigos" e seus discípulos acreditavam que a "grecização" era o tica não interpreta como forma sacramental. A lembrança de tal episódio
perigo real para o ortodoxismo, isto é, para a vida de cada dia e para o terá, talvez, inspirado os documentos históricos russos da época, quando se
fervor dos Ortodoxos. Em seu estudo sobre Avvakum, Pedro Pascal com- referem a uma "contaminação católica".
para a posição religiosa dos primeiros Rascolnitas ao fervor que na mesma Cumpre, também, não esquecer que, desde 1682, graças ao irlandês
época havia na França, entre os piedosos cristãos dos círculos de Pôrto- Gordon, engajado como general no serviço militar da Rússia, e também
9
Rcal (Port-Royal). pelos bons ofícios do Embaixador da Áustria, alguns Jesuítas foram au-
As Igrejas de rito bizantino entre os Eslavos orientais 397
396 Capítulo X
Pedro sancionou o projeto, sem lhe fazer grandes modificações. A ins-
torizados a domiciliar-se em Moscovo. Esses sacerdotes exerceram, indubi- talação do "Sagrado Sínodo" marcou o fim de um período, durante o qual
tavelmente, alguma influência no País, porque, entre as cláusulas de 1690, a hierarquia se alienara cada vez mais do povo, e, ao mesmo tempo, o
uma delas proibia aos sacerdotes latinos fazerem proselitismo entre os início do século mais tenebroso da história da Igreja Russa.
ortodoxos. Não obstante a tutela burocrática que se fazia sentir, o ortodoxismo
As tendências antilatinas nunca atingiram o plano espiritual. São De- continuou a ser, para o povo e o Baixo Clero, uma realidade cheia de vida.
métrio de Rostóvia (Rostov), 1651-1709, consultou inúmeras obras cató- A tendência protestante, que persistia manifestamente entre os discípulos
licas, quando escrevia uma "Vida dos Santos". Em suas obras espirituais, de Prokopowitch, não logrou prejudicar o ortodoxismo e suas antigas tra-
deparam-se exortações à veneração do Santíssimo Sacramento, considera- dições de piedade.
ções sobre o Coração trespassado do Senhor, que revelam influências fran-
camente latinas, embora impregnadas de um fervor russo todo caracte-
rístico. Hoje cm dia, tais escritos encontram menor aceitação, justamente
por causa dessa influência ocidental que neles transparece. Foram, durante
10
muito tempo, apreciada leitura espiritual para os Russos.
Depois de Nicão, os Patriarcas exerceram pouca ou nenhuma influên-
cia na história da Igreja Russa. Nenhum deles foi assaz enérgico, que resta-
belecesse a harmonia entre a Igreja e a Coroa. Abre-se uma nova era com
Pedro, o Grande, filho de Aleixo e de sua segunda esposa. Êle começou
a reinar em 1689.
O jovem Czar gostava da convivência com estrangeiros. Segundo al-
guns rumores, não destituídos de fundamento, êle zombava das cerimônias
da Igreja Ortodoxa. Intensificou a tradicional política pró-ocidental. A pró-
pria Rússia devia ocidentalizar-se. A Religião fazia parte desse programa,
executado às vezes com brutalidade. Tal política se consolidou ainda mais,
depois do estágio do Czar no estrangeiro (1697-1698). Êle gostava de es-
tadear uma política liberal, com relação aos cultos religiosos. Depois de
ter expulsado os Jesuítas, por motivos de ordem política, permitiu aos
Capuchinhos, e mais tarde aos Franciscanos, que se estabelecessem em
várias cidades russas, mas sob a proibição de fezerem proselitismo. Em
contrabalanço, aos Uniatas que encontrava no decorrer de operações mi-
litares na Lituânia, êle os tratava às vezes com uma crueldade quase pa-
tológica.
Devia a Igreja Ortodoxa adaptar-se à nova concepção de Império na
Rússia. Com a morte do patriarca Adriano (1700), a sede ficou vaga, não
obstante os protestos dos bispos. Em 1721, Pedro julgou chegado o mo-
mento de reorganizar a Igreja de Moscovo. Teve, nessa tarefa, a cola-
boração do bispo Teófanes Prokopowitch, cuja inteligência apreciara opor-
tunamente. Teófanes, antigo monge uniata-basiliano, estudara algum tempo
na Universidade Gregoriana. Fugindo, porém, de Roma, cheio de rancor,
tornou-se mais tarde monge ortodoxo.
Seu pendor para o protestantismo datava da época em que era reitor
da Academia de Quieve. Teófanes redigiu, segundo uma minuta teuto-lu-
terana, um projeto de "Regulamento Espiritual", de acordo com o qual a
Igreja seria dirigida por um Sínodo de Bispos. Em suas relações com o
Governo do Estado, estes gozariam, praticamente, das regalias de altos fun-
cionários.
ANEXOS

Tabelas Cronológicas
Bibliografia
Anotações
índice Analítico
índice dos Mapas
índice Geral
TABELAS CRONOLÓGICAS

Fatos políticos História da Igreja

União de Castela com Aragão. 1479


1483 Nascimento de Martinho Lutero.
Conquista de Granada. Descobri-
mento da América. 1492
Maximiliano, rei da Alemanha. 1493 Alexandre VI arbitra entre a Es-
Tratado de Tordesilhas. 1494 panha e Portugal.
Descobrimento do Brasil. 1500
1503 Júlio II.
1504 Erasmo: «Enchiridion».
1507 Indulgência para a Igreja de S. Pe-
dro em Roma.
1508 Direitos de padroado para a Co-
roa Espanhola.
Henrique VIII, rei da Inglaterra. 1509 Erasmo: «Louvor da sandice». Nas-
cimento de Calvino.
Ocupação de Goa. 1510 Redação dos «Gravamina».
1511 5' Concilio Ecumênico de Latrão.
1512 Sínodo de reforma na Espanha.
1513 Leão X._
1514 Renovação da indulgência para a
Igreja de S. Pedro em Roma. Al-
berto, arcebispo de Mogúncia.
Francisco I, rei de França. 1515 Disputação sobre o ágio em Bo-
lonha.
Morte de Fernando, o Católico. Car-
los I, rei da Espanha. 1516 Concordata com a França.
1517 Morte de Ximénez. Teses de Lu-
tero sobre as indulgências. Funda-
ção do Oratório do Amor Divino.
Conquista do México. Morte de Ma- Disputação de Lípsia. Erasmo: N o -
ximiliano. Carlos V, imperador. 1519 vo T e s t a m e n t o .
Levante na Espanha. 1520 Escritos principais de Lutero. A bula
«Exsurge». A Poliglota de Alcalá
(«Complutensis»). Morte de Gei-
ler de Kaisersberg e de Rafael.
Dieta de Vormácia. 1521 Excomunhão e proscrição de Lute-
ro. Melanchthon: L o c i c o m m u-
n e s. Henrique VIII, «Defensor fi-
dei». Conversão de Inácio de
Loiola.
Queda de Rodes. Dieta de Nurem- Tradução da Bíblia por Lutero.
berga. 1522 Adriano VI.
1523 Confissão de culpa de Adriano. Cle-
mente Vil. Disputação de Zurique.
Vives: D e i n s t i t u t i o n e f e -
minae christianae.
Guerra dos Camponeses. 1524 Rompimento de Erasmo com Lute-
ro. Fundação da Ordem dos Tea-
tinos.
402 Anexos Tabelas Cronológicas 403

Fatos políticos História da Igreja Fatos políticos História da Igreja

Batalha de Pavia. Morte de Jacó Secularização da Prússia, território 1549Suspensão do Concílio de Trento.
Fugger. 1525 da Ordem Teutônica. Canísio em Ingolstádio. Franxisco
Dieta de Espira. 1526 Debate teológico de Bade. Igreja Xavier no Japão. «Consensus T i -
Territorial Luterana de Hássia. gurinus («Acordo de Zurique>).
Primeiro Bispo do México. Biografia de Lutero por Cocleu.
Saque de Roma («Sacco di Roma»). Reforma Protestante na Suécia. Li- Alberto da Baviera. 1550 Júlio III. Decapitação do bispo Ara-
Dieta de Vaesteras. 1527 tígio matrimonial de Henrique VIII. são (Islândia).
Universidade de Marburgo. 1551 2* período do Concílio. «Collegium
1528 Aprovação canónica dos Frades Ca- Romanum». Bispado de S. Salva-
puchinhos. dor da Bahia. Universidade de Dí-
Dieta de Espira. Os Turcos às por- Protesto dos Estados («Stãnde») linga. Las Casas diante de Car-
tas de Viena. 1529 neocrentes. Reforma Protestante los V.
na Basiléia. Debate teológico de Tratado de Passávia. 1552 Suspensão do Concílio. «Collegium
Marburgo. Germanicum». Morte de Francis-
Coroação do imperador Carlos. Die- «Confessio Augustana» («Confissão co Xavier. «Book of Common
ta de Augsburgo. Conquista do de Augsburgo»). Prayer».
Peru. 1530 Maria a Católica, rainha da Ingla- Os «42 Artigos» (Inglaterra). Uni-
Liga de Esmalcalda. 1531
Morte de Zuínglio. 2' Tratado de terra. Morte de Maurício de Saxe. 1553 versidade Dominicana de Lima.
Paz de Kappel. Fundação da Cidade de São Paulo. 1554 Execução de Miguel Servet.
Reconquista de Vurtemberga. 1534 Paulo 111. «Atas de supremacia» na 1555 Paulo IV. Tratado de Paz Religio-
Inglaterra. Fuga de Calvino fora sa de Augsburgo.
da França. Reforma Protestante Abdicação de Carlos V. Fernando Morte de Inácio de Loiola.
de Vurtemberga. Anabatistas em I, imperador. Filipe II, rei da Es-
Münster. panha. 1556
Morte de Joaquim de Brandembur- Decapitação de Tomás More e João 1557 Predicação calviniana na Polônia. O
go. Conquista de Münster. 1535 Fisher. «Covenant» na Escócia.
1536 Reforma Protestante na Dinamarca Isabel I da Inglaterra. 1558 Elevação de Goa a arcebispado.
e na Noruega. 1» permanência de 1559 Primeiro «Index» («índice») de Li-
Calvino em Genebra. Morte de vros Proibidos. «Atas de unifor-
Erasmo. 1' convocação do Concí- midade» na Inglaterra. Retorno de
lio Ecumênico. Knox à Escócia. Sínodo Reforma-
1537 «Consilium de emendanda Ecclesia». do Nacional em Paris. Nova di-
Morte de Jorge de Saxe. 1539 Supressão dos conventos na Ingla- visão de dioceses nos Países-
terra. O Estatuto de Sangue Baixos.
(«The Bloody A c t » ) . Reforma Carlos IX de França. 1560 Igreja Anglicana Nacional na Irlan-
Protestante em Brandemburgo e da. «Confessio Scotica».
na Saxônia. Retorno de Maria Stuart à Escócia. 1561 Debate teológico de Poissy. «Con-
1540 Debate teológico de Hagenau. Apro- fessio Bélgica».
vação canónica da Companhia de Início das Guerras dos Huguenotes. 1562 3* período do Concílio de Trento.
Jesus. Fundação dos «Irmãos da Reforma monástica de S. Teresa
Misericórdia». de Avila. Edito de São Germano.
1541 Debate teológico de Ratisbona. Re- 1563 Encerramento do Concílio de Tren-
torno de Calvino a Genebra. Apro- to. Catecismo de Heidelberga. Os
vação canónica das Ursulinas. «39 Artigos» (Inglaterra). Congre-
As «Leyes Nuevas» para as índias Inquisição Romana. Apostasia de gação Mariana.
Ocidentais. 1542 Ochino. Chegada de Francisco Imperador Maximiliano II. 1564 Aceitação dos Decretos Tridentinos
Xavier às índias. na Alemanha. Morte de Calvino,
1543 Ingresso de Pedro Canísio na Com- de Miguel Ângelo.
panhia de Jesus. Morte de João 1565 Retorno de Carlos Borromeu a Milão.
Eck e de Copérnico. Dieta de Augsburgo. 1566 Pio V. Iconoclasmo e organização
Tratado de Paz de Crépy. 1544 Convocação do Concílio para Trento. da Igreja Calviniana nos Países-
1545 Abertura do Concílio de Trento. Baixos. Morte de Cassandro.
Guerra de Esmalcalda. 1546 Morte de Lutero, de Francisco de 1567 Condenação de Baio (De Bay).
Vitória. Convocação de Miguel Execução de Egmont. Fuga de Ma- Reforma do Breviário. Colégio Ân-
Ângelo para as obras da Igreja ria Stuart. 1568 glico em Douai.
de S. Pedro em Roma. 1569 Sínodo Provincial de Salisburgo.
Dieta «Belicosa». Eduardo VI da Transferência do Concílio para Bo- Tratado de Paz de São Germano. 1570 Excomunhão de Isabel I, da Ingla-
Inglaterra. 1547 lonha. terra. Reforma do Missal. Rober-
1548 «ínterim» de Augsburgo to Belarmino em Lovaina.
Anexos Tabelas Cronológicas 405
404

Fatos políticos História da Igreja Fatos políticos História da Igreja

Queda de Chipre. Batalha Naval de Dieta de Ratisbona. 1608 Fundação da «União».


Lepanto. 1571 1609 Fundação da «Liga». «Carta de ma-
«Noite de São Bartolomeu». 1572 Gregório XIII. Os Mártires de Gor- jestade» de Rodolfo II. Kepler:
cum. 1» patriarcado de Jeremias A s t r o n o m i a nova.
II. Tranos. Luís XIII de França. 1610 Fundação das Visitandinas. Funda-
1574 ção da 1 " Redução no Paraguai.
Henrique III de França. Morte de Ricci.
1575 Universidade de Leida. «Confessio
Bohemica». 1611 Interdição da controvérsia sobre a
1576 graça.
Imperador Rodolfo II.
Alexandre Farnese, Governador Ge- Redescobrimento das Catacumbas Imperador Matias. 1612 Aprovação canónica do Oratório
ral. 1578 Romanas. Italiano.
Guilherme o Piedoso, da Baviera. 1579 Colégio Ânglico em Roma. Socinia- 1613 Aprovação canónica do Oratório
nos na Polônia. Francês.
«Fórmula Concordista». 1614 Universidade de Paderborna.
1580 Aceitação dos Decretos Tridentinos
Declaração de Independência dos Execução de Campion. Acquaviva, 1615
1581 Geral dos Jesuítas. na França.
«Estados Gerais». 1" processo de Galileu.
Reforma do Calendário. Chegada de 1616
1582 Congregação dos Maurinos. Sínodo
Ricci à China. Morte de S. T e - Início da Guerra dos Trinta Anos.
Revolução de Praga. 1618 Reformado de Dordrecht.
resa. Possevino em Moscóvia. Descartes: J e p e n s e , d o n e j e
Imperador Fernando II. 1619
1583 Consagração da Igreja «Al Gesù» 8 U Í8.
em Roma. «Peregrinos» (The Pilgrims») puri-
Vitória no Weisser Berg («Monte
Guerra de Colônia (Alemanha). 1584 Morte de São Carlos Borromeu. 1620 tanos.
Embaixada Japonesa em Roma. Sis- Branco»).
1585 1621 Gregório XV.
to V. Universidade de Graz. 1622 Fundação da Congregação da Pro-
1586 Ereção do Obelisco diante da Igre- paganda. Chegada de Schall à
ja de S. Pedro em Roma. China. Morte de S. Francisco de
Execução de Maria Stuart. 1587 Controvérsia em torno de Léssio. Sales.
A Armada Espanhola. 1588 Reforma da Cúria Romana. Barô- 1623 Urbano VIII. Assassínio de S. Josafá.
nio: A n n a l e s . Richelieu, chefe do Conselho de «Ano Normal» («Annus normalis»).
Assassínio de Henrique III de Fran- Estado. 1624 Início da Contra-Reforma na Áus-
ça. 1589 tria Superior.
1590 «Vulgata Sixtina». Acabamento da Carlos I, da Inglaterra. 1625 Fundação dos Padres Lazaristas.
Cúpula de S. Pedro. Morte de 1626 Consagração da Igreja de S. Pedro
Sisto V. em Roma. Morte de Bacon de
Sigismundo III, rei da Suécia. «Li- Clemente VIII. «Vulgata Clementina». Verúlamo.
tigio Episcopal» de Estrasburgo. 1592 1* Vigário Apostólico de Utreque. Tomada de La Rochelle. 1628
1593 Conversão de Henrique IV de Na- Tratado de Paz de Lubeque. Edito «Edito de Restituição». Profissão de
varra. de Ales. 1629 fé do Patriarca Lucaris. Morte de
1594 Início da controvérsia sobre a gra- Bérulie.
ça. Pithou: L e s l i b e r t é s d e Desembarque de Gustavo Adolfo na
l'é g I í s e g a l l i c a n e . Alemanha. 1630
1595 Morte de S. Filipe Néri. União de Aliança Franco-Sueca. Destruição de Suspensão das Damas Inglesas.
Brest. Magdeburgo. 1631
1597 Perseguição no Jopão. Morte de Tilly e de Gustavo Adolfo. 1632
Arquiduque Alberto e a Infanta Isa- O «Edito de Nantes». 1633 «Filles de la Charité». 2> processo
bel na Bélgica. Maximiliano I da de Galileu.
Baviera. 1598 Assassínio de Wallenstein. Batalha
1599 União dos cristãos de São Tomé. de Nordlinga. 1634
Mariana: E s p e l h o d o s P r í n - Tratado de Paz de Praga. Decla- Morte de Frederico von Spee.
c i p e s. ração de guerra por parte da
1600 Queimação de Jordão Bruno. França. 1635
1602 Estréia ( l encenação) de «Ceno-
5
Imperador Fernando III. 1637 Morte do Cardeal Pázmány. 1' Vi-
doxus». gário Apostólico do Japão.
Morte de Isabel I; Jaime I, rei da 1638 Morte do bispo Jansênio. Assassínio
Inglaterra. 1603 de Lucaris.
1605 Conspiração da Pólvora. Emancipação de Portugal. 1640 A u g u s t i n u s . Morte de Rubens.
1606 Incidente em Donauwörth. Chegada Tratado doutrinário do Patriarca
de Nóbili ao Sul da índia. Moghila.
Anexos Tabelas Cronológicas 407
406

Fatos políticos História da Igreja Fatos políticos Historia da Igreja

1641 Fundação de São Suipício (Paris). Tratado de Paz de Nimega. Alorte Condenação (segunda) do laxismo.
Morte de Condren. Conversão de de Hobbes. 1679
Joost van der Vondel. 1680 Morte de S. João Eudes.
1643 Arnauld: De Ia fréquente 1681 Execução do arcebispo Plunket.
Luis XIV de França.
c o m m u n i o n . Início dos «Acta Morte de Calderón.
Sanctorum». Fundação de São Luís ( E U A ) . 1682 Os «Artigos Galicanos».
1644 A «exclusiva». Os Turcos diante de Viena. 1683 Espínola e Leibniz.
Guerra de Castro. Expulsão dos Protestantes do Tirol
1645 Morte de Maria Ward. Debate Teo- 1684
lógico de Thorn (Fórum). Mor- Oriental. Fundação dos Irmãos das
te de Hugo Grócio. 1 " «Decreto Escolas Cristãs.
sobre os ritos». Jaime II, da Inglaterra. 1685 Abolição do Edito de Nantes.
1646 Martírio de Isaac Jogues. Conquista de Buda(pest). 1686
1647 Programa científico dos Maurinos. 1687 Condenação de Molinos.
Tratado de Paz da Vestefália. 1648 «Instrumentum pacis Osnabrugense». Conquista de Belgrado. Declaração Morte de Vcrbiest.
Decapitação de Carlos I, da Ingla- Protesto de Inocêncio X. de guerra de Luís XIV ao Impe-
1649 rador e ao Império. Gloriosa Re-
terra. volução na Inglaterra.
1650 Morte de Descartes. 1688
1652 Conversão do Duque Ernesto de 1691 Espínola na Hungria. Inocêncio XII.
Hássia-Rheinfels. 1693 Decapitação de João de Brito.
1653 Condenação das «Cinco Proposi- 1694 Morte de Segneri e Arnauld.
Oliverio Cromwell, Lorde Protetor. Fénelon, arcebispo de Cambraia.
ções». 1695
Abdicação de Cristina da Suécia. 1654 Conversão de Cristina da Suécia. O Questão do quietismo.
«Mémorial» de Pascal. Frederico Augusto II da Saxônia, Conversão de Frederico Augusto II
1655 Alexandre VII. rei da Polónia. Tratado de Paz da Saxônia. Cláusula de Ryswyk.
1656 Pascal: L e t t r e s à un p r o v i n - de Ryswyk. 1697 União com os Romenos.
c i a l . Morte de Nóbili, de Calisto. Condenação de Fénelon. Quesnel:
1657 Vicariato Apostólico de Québec. Tratado de Paz de Carlowitz. 1699 Reflexions morales.
Morte de Olier. 1700 Ciemente XI.
Imperador Leopoldo I. 1658 Morte de Rhodes S. J. no Anam. Guerra de Sucessão Espanhola. 1701
Tratado de Paz dos Pirinéus. 1659 Pallu. Vigário Apostólico de Ton- 1703 Aprovação canónica das Damas In-
quim. Fundação das Missões glesas.
Estrangeiras («Missions Etran- 1704 Destituição de Pedro Codde. Proi-
gères»). bição dos ritos malabares. Morte
1660 Morte de S. Vicente de Paulo. de Bossuet e Locke.
Restauração dos Stuarts.
Morte do Cardeal Mazarino. 1661 1707 Proibição dos ritos chineses. Morte
de Mabillon.
Litígio em torno do boleto (livre 1662 Morte de Pascal. Guerra em torno de Comacchio. 1708
1709 Morte de Abraão de Santa Clara.
alojamento).
1664 Destruição da Abadia de Port-
1665 Condenação do laxismo. Morte de Royal. Bula «Unigenitus». Morte
Bolland. 1710 de Tournon.
1666 Morte de Schall. 1712 Conversão de Carlos Alexandre de
1667 Clemente IX. Seminário Lavai em Vtirtemberga e do Príncipe Her-
Québec. Conversão de Stensen. deiro da Saxônia.
Conquista de Creta pelos Turcos.
1669 «Paz Clementina». Colunata de Ber- Tratado de Paz de Utreque. 1713
nini. Tratado de Paz de Rastatt. 1714
1671 Bossuet: E x p o s i t i o n de la Morte de Luís XIV. 1715 Confirmação da proibição dos ritos.
doctrine chrétienne. Morte de Fénelon.
1672 Conversão de Jaime Stuart. 1716 Morte de Leibniz.
Expedição de Marquette. Ampliação
Visão do Coração de Jesus à S. Tratado de Paz de Passorowitz. 1718
dos direitos de regalia. 1722 Morte de Molano.
João Sobiesky, rei da Polônia. 1673 Margarida Maria Alacoque.
1674 1" Vigário Apostólico da China. 1731 Exilados de Salisburgo.
Diocese de Québec. Sagração epis- 1742 Bento XIV confirma a interdição
copal de Picquet. dos ritos.
Morte de Baruque Espinoza 1676 Inocêncio XI. 1754 Santuário de Wies («Wieskirche»).
1677 S. Salvador da Bahia, arcebispado. 1766 Dedicação da Igreja de Ottobeuren.
Criação das dioceses do Rio de
Conspiração de Tito Oates. Janeiro e S. Luís do Maranhão.
1678 Simon: H i s t o i r e c r i t i q u e d u
Vieux Testament.
INDICE DAS SIGLAS
BIBLIOGRAFIA
AHSI — Archivum historicum Societatis Iesu, Roma 1932ss.
ARG — Archiv fuer Reformationsgeschichte (Lipsia), Guetersloh 1903ss. GENERALIDADES
DHGE — Dictionnaire d'histoire et de géographie ecclésiastiques, Paris 1912ss.
S c h o t t e n l o h e r , K., Bibliographie zur deutschen Geschichte im Zeitalter
ETL — Ephemerides Theologicae Lovanienses, Bruges 1924ss. der Glaubensspaltung 1517-1585, 6 vols., Lipsia 1933-1940. Nova edição, Es-
HJG — Historisches Jahrbuch der Goerresgesellschaft (Colônia 1880ss.), Muni- tugarda 1956SS. 7' vol.: Das Schrifttum von 1938-1960, elaboração de U.
que 1950ss. Thürauf, Estugarda 1963ss.
Bibliographie de la Réforme (1450-1648). Ouvrages parus de 1940 à 1955,
HZ — Historische Zeitschrift, Munique 1859ss. Leida. — 1. Allemagne, Pays-Bas, "1964. — 2. Belgique, Suède, Norvège,
LThK — Lexikon fuer Theologie und Kirche, Friburgo em Brisg. *1957ss. Danemark, Irlande, Etats-Unis d'Amérique, 1960. — 3. Italie, Espagne, Por-
tugal, 1961. — 4. France, Angleterre, Suisse, 1963.
NZMW — Neue Zeitschrift fuer Missionswissenschaft, Beckenried 1945ss.
B i h 1 m e y e r, K. - T ü c h 1 e, H., Kirchengeschichte, 111: Die Neuzeit und die
QFitAB — Quellen und Forschungen aus italienischen Archiven und Bibliotheken, neueste Zeit, Paderborna 1961 (abundantes indicações bibliográficas).
1T

Roma 1897ss. E d e r, K., Die Kirche im Zeitalter des konfessionellen Absolutismus (1555-
RevHistEccl. — Revue d'Histoire ecclésiastique, Lovaina 1900ss. 1648) (Handbuch der allgemeinen Kirchengeschichte III, 2 ) , Friburgo em Bris-
góvia 1949.
RGG — Die Religion in Geschichte und Gegenwart, Tübinga 1956-1962.
3

L o r t z , J., Geschichte der Kirche in ideengeschichtlicher Betrachtung, 11: Die


TThZ — Trierer Theologische Zeitschrift, Tréveros 1888ss. Neuzeit, Münster 1964. 21

ZKG — Zeitschrift fuer Kirchengeschichte, (Gota) Estugarda 1876ss. N e u s s , W., Die Kirche der Neuzeit, Bona M 959.
ZMW — Zeitschrift fuer Missionswissenschaft und Religionswissenschaft, Mo- V e i t , L. A., Die Kirche im Zeitalter des Individualismus (Handbuch der
allgemeinen Kirchengeschichte IV, 2, I ) , Friburgo em Brisgóvia 1931.
nastério 191 lss.
M o r e a u, E. d e ; J o u r d a , P.; J a n e l l e , P., La crise religieuse du XVI
e

ZRGkan — Zeitschrift der Savignystiftung fuer Rechtsgeschichte, kanonistische siècle (Histoire de l'Eglise 16), Paris 1950.
Abteilung, Weimar 191 lss. C r i s t i a n i , L., L'Eglise à l'époque du concile de Trente (Histoire de l'Eglise
17), Paris 1948.
W i l l a e r t , L., Après te concile de Trente. La Restauration catholique 1563-
1648 (Histoire de l'Eglise 18), Paris 1960.
P r é c 1 i n, E.; J a r r y , E., Les luttes politiques et doctrinales aux XVII et
e

XVIII e
siècles (Histoire de l'Eglise 19, I ) , Paris 1955.
V i l l o s Ia d a, R. G.; L l o r c a , B., Historia de la Iglesia católica, III: Edad
Nueva. La Iglesia en la época del Renacimiento y de ta Reforma católica,
Madrid 1960.
M i r b t, C, Quellen zur Geschichte des Papsttums und des römischen Katho-
lizismus, Tubinga '1924 (seleção não isenta de preconceitos).
P a s t o r , L. v o n , Geschichte der Päpste seit dem Ausgang des Mittelalters
(1305-1799), 1V-XV, Friburgo em Brisgóvia 1923-1930, nova edição 1958ss.
Traduções para o inglés, francês, italiano, e espanhol.
S e p p e 11, F. X., Geschichte der Päpste, ÎV-V (nova elaboração de G. Schwai-
ger), Münster M957-1959 (bibliografia).
B i a u d e t, H., Les nonciatures apostoliques permanentes jusqu'en 1648, Helsín-
quia, Paris 1919.
K a r t u n n e n , L., Les nonciatures apostoliques permanentes de 1650 à 1800,
Genebra 1912.
Nuntiaturberichte aus Deutschland, 4 Abteilungen (1533-59, 1560-72, 1572-85,
17. Jahrhundert), Gota 1892ss.
Nuntiaturberichte aus Deutschland nebst ergänzenden Aktenstücken (1585-90),
editados pela Görresgesellschaft, 2 partes em 6 vols., Paderborna 1895-1919.
Nuntiaturberichte aus der Schweiz, I. Abteilung: Die Nuntiatur des G. F.
Bonhomini 1579-1581, 3 vols., Solothurn 1906-1929.
Acta Nuntiaturae Gallicae, Roma 1961ss (até agora 4 vols.: 1535-40, 1541-46,
1583-86 e 1601-1604).
C a r p e n t e r , S. C , The Church in England (597-1688), Londres 1954.
Nova Historia III — 27
410 Anexos Bibliografia 411

M o r e a u , E. de, Histoire de l'Eglise en Belgique, IV/V (1378-1633), Bruxe- Espiritualidade:


las 1949-1952. Edições de textos: Espirituales Españotes, edição de P. Sainz Rodríguez e L.
R o g i e r, L. - J., Geschiedenis van het Katholicisme in Noord-Nederland in de Sala Balust, Barcelona 1959ss (15 vols., até 1964).
16e en 17e eeuw, 3 vols., Amsterdão "1945-1947.
S c h n ii r e r, G., Katholische Kirche und Kultur in der Barockzeit, Paderbor-
3. O novo campo missionário
na 1937. 4. Bartolomeu de Las Casas
R ö s s 1 e r, H., Europa im Zeitalter von Renaissance, Reformation und Ge- 5. Padroado da Coroa
genreformation (1450-1650), Munique 1956.
Neue Propyläen-Weltgeschichte, editada por W . Andreas, HI: Das Zeitalter M u l d e r s , A., Missiegeschiedenis, Bussum 1957; tradução alemã de J. M a d e y ,
der Entdeckungen, der Renaissance und der Glaubenskämpfe, Berlim 1941. Missionsgeschichte, Ratisbona 1960.
The New Cambridge Modern History, editada por G. R. Elton, I/I I (1493-1559), S p e c k e r, J., Die Missionsmethode in Spanisch-Amerika im 16. Jahrhundert,
Cambridge 1957-1958. Schöneck-Beckenried 1953.
Peuples et civilisations, Histoire générale publiée sous la direction de L. Halphen H ö f f n e r, J., Christentum und Menschenwürde. Das Angliegen der spanischen
et Ph. Sagnac, VI1I-X, Paris 1946-1949. Kolonialethik im Goldenen Zeitalter, Tréveros 1947.
G e b h a r d t , B.; G r u n d m a n n , H., Handbuch der deutschen Geschichte, II, H a n k e , L., The Spanish Struggle for Justice, Filadélfia 1949.
Estugarda '1955. M e n e n d e z P i d a l , R., El Padre Las Casas. Su personalidad, Madrid 1963
B r a n d , O.; J u s t , L., Handbuch der deutschen Geschichte, II, I, Darmestá- (muito crítico: "un eficacísimo propagandista de ideas ineficaces").
P h e 1 a n, J. L., The Millenial Kingdom of the Franciscans in the New Wold,
dio 1954; II, 2, Constança 1955.
Berkeley (California 1956).
G ó m e z H o y o s , R., La Iglesia de América en las leyes de Indias, Madrid
I. A ESPANHA E SEU RUMO PARA A IGREJA UNIVERSAL 1961.
V i n c k e , J., Das Patronatsrechf der aragonischen Krone, em: Gesammelte
A valiosa, um tanto antiquada obra de G a ms, P. B., Kirchengeschichte Aufsätze zur Kulturgeschichte Spaniens, X, Münster 1955, pp. 55-95.
von Spanien, 111, Ratisbona 1879 (nova edição Graz 1956), é completada por E g a ñ a , A. de, La teoría del Regio Vicariato Español en Indias, Roma 1958.
B a i e s t e r o s y B e r e t a , A., Historia de Espana, III, Barcelona 1925, e por — La función misionera del Poder Civil según Juan de Solorzano Pereira, em:
R a n da, A., Das Weltreich, Wagnis und Auftrag Europas im 16. und 17. Studia Missionalia 6 (1950/51), pp. 69-414.
Jahrhundert, Olten-Friburgo em Brisgóvia 1962. B i e r m a n n , B., Das spanisch-portugiesische Patronat als Laienhilfe für die
P i e t r i , F., L'Espagne du siede d'Or, Paris 1959. Missionen, em: Festschrift J. Beckmann, Schöneck-Beckenried, 1961, pp.
161-179.

1. União entre Igreja e Estado


II. A CRISE NAS VÉSPERAS DA REFORMA PROTESTANTE
Fontes:
T o r r e , A. d e la, Documentos sobre las relaciones internacionales de los Não existe um apanhado total da matéria. Encontra-se, porém, abundan-
Reyes Católicos, 4 vols., Madrid 1949-1962 (abrangem até o ano de 1494). te material nas obras, citadas na bibliografia geral ("Generalidades"), de
S á n c h e z A l o n s o , B., Fuentes de la historia española e hispanoamericana, E. d e M o r e a u , L. - J. R o g i e r e H. R ö s s 1 e r; além disso, em L o r t z, J.,
I, Madrid "1952. Die Reformation in Deutschland, 2 vols., Friburgo em Brisgóvia "1963; Zur
Exposições: Problematik der kirchlichen Misstände im Spätmittelalter, in TThZ.58 (1949),
Fernando el Católico, 3 vols., Saragoça 1952-1955. pp. 1-26, 212-227, 257-279, 347-357.
F e r n á n d e z d e R e t a n a , L., Isabel la Católica, 2 vols., Madrid 1947. Além dessa bibliografia:
B a u e r , Cl., Studien zur spanischen Konkordatsgeschichte em: Gesammelte H y m a, A., From Renaissance to Reformation, Grands Rapids (Mich.) 1951.
Aufsätze zur Kulturgeschichte Spaniens, XII, Münster 1955, pp. 43-97. H u i z i n g a , J., Herfstijd der Middeleeuwen, Haarlem 1919; tradução alemã
de T. W o l f f-M ö n c k b e r g , Herbst des Mittelalters. Studien über Lebens-
und Geistesformen des 14. und 15. Jahrhunderts in Frankreich und in den
2. Ximénez c o humanismo cristão Niederlanden, Estugarda "1961. Trad. francesa: Déclin du Moyen Age, Pa-
ris 1932.
C e d i l l o , C o n d e d e , El Cardenal Cisneros, 3 vols., Madrid 1921-1928. P o s t , R., Kerkelijke verhoudingen in Nederland voor de Reformatie, Utreque
Sobre sua atuação como reformador: 1954.
A z c o n a , T a r s. de, La elección y reforma del Episcopado español en tiempo an e l l e , P., L'Angleterre à la veille du schisme, Paris 1935.
de los Reyes Católicos, Madrid 1960. u g h e s , Ph., The Reformation in England, I, Londres "1952.
Sua importância para a teologia: A n d r e a s , W., Deutschland vor der Reformation, Estugarda "1959.
C a y lu s, D. de, Ximénès, créateur du mouvement théologique espagnol, em: W o d k a , J., Kirche in Österreich, Viena 1959.
Etudes Franciscaines 19 (1908), pp. 449-459, 641-650; 20 (1909) pp. 41-54. Bibliografia regional:
Humanismo na Espanha: T o u s s a e r t, J., Le sentiment religieux en Flandre à la fin du moyen-âge,
B a t a i l l o n , M., Erasme et l'Espagne, Paris 1937. Paris 1963; veja-se a crítica correspondente em Rev.Hist.Eccl., 59 (1964).
A i l g a i er, A., Erasmus und Kardinal Ximenes in den Verhandlungen des pp. 307ss.
Konzils von Trient, em: Gesammelte Aufsätze zur Kulturgeschichte Spaniens, T ü c h 1 e, H., Kirchengeschichte Schwabens, II, Estugarda 1954. .
IV, Münster 1933, pp. 193-205.
M a r t i n M e l q u í a d e s , A., Historia de Ia teologia en España (1470-1570)
I, Roma 1962 (principalmente sobre as Escolas e Faculdades Teológicas).
Bibliografia 413
412 Anexos
K n a p p , R., Studien zum 16. und 17. Jahrhundert, I, Halle 1934 (Santos
1. O novo sistema econômico e legendas de Santos na Inglaterra).
Etude comparée de la vie religieuse dans les pays français et germaniques à
P ö 1 n i t z, G., F r h r. v o n , Jakob Fugger. Kaiser, Kirche und Kapital in der la fim du XV et à la fin du XVI siècle, em: Colloque d'histoire religieuse
e e

oberdeutschen Renaissance, 2 vols. Tübinga 1949-1951. (Lião, outubro de 1963), Grenoble 1963, pp. 7-120; a ser completado por
— Die Fugger, Francoforte 1959. Cahiers d'histoire IX, 1 (1964).
W e b e r , W., Geld und Zins in der spanischen Spätscholastik, Munster

7. O humanismo
2. Cidade e provinda
G e l d e r , H. E. v a n , The two reformations in the 16th Century, Haia M964.
H e g e l , E., Städtische Pfarrseetsorge im deutschen Spätmitlelalter, em: TThZ I m b a r t d e la T o u r , P., L'église catholique, la crise et la Renaissance,
57 (1948), pp. 207-220. Melun M946.
M o e 11 e r, B., Reichsstadt und Reformation, Gütersloh 1962. R e n a u d et, A., Préréforme et humanisme à Paris 1494-1517, Paris '1953.
H o l z a p f e l , E., Werner Rolevincks Bauernspiegel. Untersuchung und Neu- W e i s s , R., Humanism in England during the fifteenth Century, Oxônia 1 9 5 7
2

herausgabe von De Regimine rusticorum, Friburgo em Brisgóvia 1959. (vai de 1418 a 1485).
F r a n z , G., Der deutsche Bauernkrieg, 2 vols., Munique-Berlim 1957.
4 Sobre Erasmo de Roterdão:
L ü t g e , F., Geschichte der deutschen Agrarverfassung vom frühen Mittelalter A l l e n , P. S., Opus epistolarum Des. Erasmi, 12 vols., Oxônia 1906-1958.
bis zum 19. Jahrhundert, Estugarda 1963. A u e r , A., Die vollkommene Frömmigkeit nach dem Enchiridion militis christia-
nides Erasmus von Rotterdam, Düsseldorf 1954.
B o u y e r , L., Autour d'Erasme. Etudes sur le christianisme des humanistes
3. Crise polilica catholiques, Paris 1955.
H u i z i n g a , J., Erasmus, Haarlem 1924; tradução alemã de W. K a e g i , Ba-
H a s h a g e n , J., Staat und Kirche vor der Reformation, Essen 1931. sileia 1951; francesa, Paris 1955.
H ä r t u n g , F., Deutsche Verfassungsgeschichte vom 15. Jahrhundert bis zur S c h ä t t i , K., Erasmus von Rotterdam und die Römische Kurie, Basileia 1954.
Gegenwärt, Estugarda '1959. K a e g i , W., Erasmus and the age of Reformation, Nova York 1957.
G e b h a r d t , B., Die Gravamina der deutschen Nation gegen den römischen O e l r i c h , K. H., Der späte Erasmus und die Reformation, Münster 1961;
Hof, Brema M895. Completada pela nova bibliografia especializada, veja-se: acrescente-se-lhe: K r o d e l , G. G., Fragen an ein katholisches Erasmusver-
Raab em LThK, IV, coluna 1174ss.
! ständnis, em Theologische Literaturzeitung 87 (1962), pp. 733-740, que trans-
fere já para os anos de 1519-1520 a linha divisória na apreciação eras-
miana da Reforma Luterana.
4. Clero e bispos Outras obras sobre Erasmo e Lutero (obras, respectivamente artigos de
autores protestantes):
M a r t i n F e r n a n d e z , F., La jormaeiön clerical en los colégios espanoles B o r n k a m m, H., Erasmus und Luther, em : Das Jahrhundert der Reforma-
1371-1563, Vitoria 1961. tion, Gótinga 1961, pp. 36-55.
O e d i g e r, F. W., Über die Bildung der Geistlichen im späten Mittelalter, B o i s s e t , J., Erasme et Luther. Libre ou serf arbitre? Paris 1962.
Leida-Colonia 1953. M e h l , O. L., Erasmus contra Luther, em : Luther-Jahrbuch 1962, pp. 52-64
(outros pontos de contraste: evidência da Sagrada Escritura para todos, em
H e a t h, P., Parish clergy in England 1450-1530, Londres (tese de láurea todos os assuntos; permissão de discutir problemas bíblicos em qualquer
1962). oportunidade, e diante de qualquer pessoa).
M c K a y , D., Parish life in Scotland 1500-1560, em: The Innes Review 10 M c S o l e y , M. J., Luthers Lehre vom unfreien Willen, Munique 1967.
(1959), pp. 237-267.
M o o n e y , C , The Irish Church in the XVIIth century, em: Irish Ecclesiasti-
cal Record 99 (1963), pp. 102-113. (Falhas, principalmente no Alto Clero). III. A REFORAU COMO OBRA PESSOAL DE LUTERO,
B l e n c h , J. W., Preaching in England in the later 15th and 16th centuries, E COMO DESTINO DA EUROPA
Londres 1964.
5. Os mosteiros Para todo o capítulo, remetemos à mais ponderada exposição em espí-
rito ecumênico:
M o I i t o r, R., Aus der Rechtsgeschichte benediktinischer Verbände, I—II, L o r t z , J., Die Reformation in Deutschland, 2 vols. Friburgo em Brisgóvia
Münster 1928-1932. M963. Já foram citadas as obras de P h . H u g h e s , E. d e M o r e a u e
K n o w l e s , D., The Religious Orders in England, 3 vols., Cambridge 1948-1959. P. I m b a r t d e la T o u r .
S c h w e n g e n , M., Monasticon Batavum, II, Amsterdão 1941 (Agostinianos Ampla exposição protestante:
e Irmãos Cogulados, ou Colaços, em alemão "Fraterherren"). L e o n a r d , E. G., Histoire genérale du protesfantisme, I/II, Paris 1961.
L e j a r z a , F. d e , Introducción a los origines de la observância en Espana, Além dessas, merecem citação:
Madrid 1958. B r a n d i , K., Deutsche Geschichte im Zeitalter der Reformation und Gegenre-
formation, 2 vols., Lipsia 1942.
2

6. Piedade leiga R i t t e r , G., Die Weltwirkung der Reformation, Munique 1959.


2

B a in t o n , R. H., The Reformation of the XVth Century, Boston 1952.


D e 1 a r u e 11 e, E., La pietà popolare alia fine dei medioevo, em: Relazioni E l t o n , G. R., The Reformation, 1520 to 1559 (The New Cambridge Mo-
del X congresso internazionale di scienze storiche, III, Florença 1955, pp. dern History 2 ) , Cambridge 1958. Veja-se a respectiva crítica em Rev.Hist.
515-537. Eccl. 55 (1960), pp. 590-592.
P a u l u s , N., Geschichte des Ablasses im Mittelalter, III, Paderborna 1923.
414 Anexos Bibliografia 415

1. Martinho Lutero: juventude e evolução P e t e r s , A., Luthers Turmerlebnis, em: Neue Zeitschrift für systematische
Theologie 3 (1961), pp. 203-236. Discorda de Bizer:
Veja-se a bibliografia geral nas obras supracitadas de K. Schottenloher B o r n k a m m, H., Zur Frage der lustitia Dei beim jungen Luther, em : ARG
e em Bibliographie de la Réforme. Schottenloher enumera cerca de 4.000 in- 52 (1961), pp. 16-29; 53 (1962), pp. 1-60.
dicações sobre Lutero. De utilidade é A l a n d , K., Hilfsbuch zum Lutherstudium,
Berlim 1958.
!

3. A questão das Indulgências


Sobre as obras de Lutero:
. De todas as edições completas e parciais, a edição relativamente mais K o e h l e r , W., Dokumente zum Ablassstreit von 1517, Túbinga '1934.
autêntica é a de Veimar ( W A ) , que atualmente abrange, dentro de várias V o 1 z. H., Martin Luthers Thesenanschlag und dessen Vorgeschichte, Weimar
secções, 86 volumes. (Está planejada uma revisão): Dr. M a r t i n L u t h e r s 1959;
W e r k e , Kritische Gesamtausgabe. Veja-se a respeito: D e l i us, H.-U., Einige — Erzbischof Albrecht von Mainz und Martin Luthers 95 Thesen, em: Jahrbuch
Randnotizen zur Weimarer Luiherausgabe, em: Forschungen und Fortschritte der hessischen kirchengeschichtlichen Vereinigung 13 (1962), pp. 3-44. Apre-
36 (1962), pp. 179-183; B e n z i n g, J., Martin Luthers Werke. Bibliographie ciação positiva de Alberto, e recusação da tese de:
der zu seinen Lebzeiten gedruckten Ausgaben, Bade-Bade 1964.
Sobre biografias de Lutero: I s e r l o h , E., Luthers Thesenansclag, Tatsache oder Legende? Wiesbaden 1962.
Além de L o r t z (veja-se supra), confira-se, sob o ponto de vista cató-
lico, a obra já superada em sua temática, mas ainda de utilidade noutros 4. A Disputação de Lípsia e a excomunhão
aspectos :
G r i s a r, H., Martin Luthers Leben und sein Werk, Friburgo em Brisgóvia B o e h m e r , H., Der junge Luther, Estugarda *195I.
2
1927. E b n e t e r , A., Luther und das Konzil, em: Zeitschrift für kath. Theologie 84
C a z a l i s , G., Luther et l'église confessante, Paris 1962 (bem positiva). (1962), pp. 1-48.
Da grande multidão de biografias protestantes, destacamos as seguintes: V o s s 1er, O., Herzog Georg der Bärtige und seine Ablehnung Luthers, em:
H o l l , K., Gesammelte Aufsätze zur Kirchengeschichte, I: Luther, Túbinga HZ 184 (1957), pp. 272-291.
•1932; P o l m an, P., L'élément historique dans la controverse ecclésiastique du XVI e

M e i s s i n g e r , K. A., Der katholische Luther, Munique 1952. siècle, Gembloux 1932.


R i t t e r , G., Luther, Gestalt und Tat, Munique 1959.
6
L u t h e r , J., Noch einmal Luthers Worte bei der Verbrennung der Bannbulle,
B o r n k a m m , IL, Luthers geistige Welt, Lüneburg M959; Luther, Chronik em: ARG 45 (1954), pp. 260-265.
seines Lebens em: Das Jahrhundert der Reformation, Gótinga 1961, pp. 11-36. S tu pp e r i c h , R., Melanchthon, Berlim 1960 (com indicação de problemas
S t r o h l , H., Luther, sa vie et sa pensée, Estrasburgo ' 1953. de pesquisa).
B a in t o n , R. H., Here 1 stand. A life of Martin Luther, Nova York 1950. V a j t a, V., Martin Luther und Philipp Melanchthon. Referate und Berichte
Para compreensão histórica da mentalidade de Lutero: des 2. Internationalen Kongresses für Lutherforschung, Münster, 8-13 August
H e r t e, A., Das katholische Lutherbild im Bann der Lutherkommentare des 1960, Gótinga 1961.
Cochlaeus, 3 vols., Münster 1843.
S t e p h a n , H., Luther in den Wandlungen seiner Kirche, Berlim M959. 5. A tradução da Biblia
Z e e d e n , E. W., Martin Luther und die Reformation im Urteil des deutschen
Luthertums, 2 vols., Friburgo em Brisgóvia 1950-1952; Die Deutung Luthers W e s s e l , K., Luther auf der Wartburg, Eisenach 1955.
und der Reformation, em: Theologische Quartalschrift 140 (1960), pp. 129-162. B e y e r , H. W , Luthers Bibelübersetzung, em: Theologische Rundschau, Neue
Sobre Lutero no convento: Folge I (1929), pp. 313-360.
L a u , F., Luthers Eintritt ins Erfurter Augustinerkloster, em: Luther 27 (1956),
pp. 49-70.
W e i j e n b o r g, R., Luther et les 51 augiistins d'Erfart. D'après une lettre 6. O problema do regimento eclesiástico
d'indulgence inédite du 18 avril 1508, em: Rev.Hist.Eccl., 55 (1960), pp.
819-875. Karlstadts Schriften aus den Jahren 1523-25, edição de E. H e r t z s c h, 2 vols.,
Z u m k e l l er, A., Martin iMther und sein Orden, em: Analecta Augustiniana Heidelberga 1956-1957.
25 (1962), pp. 254-290. V a j t a , V., Die Theologie des Gottesdienstes bei Luther, Gótinga M958.
S t r o h l , H., Luther jusqu'en 1520, Paris 1962.
2

7. Ulrico Zuinglio

2. Episódio da torre e princípios fundamentais L o c h e r , G. W., Die Wandlung des Zwinglibildes in der neueren Forschung,
em: Zwingliana II (1963), pp. 560-585.
Por causa dos quase incalculáveis trabalhos sobre as idéias fundamen- F a r n er, O., Huldrych Zwingli, 4 vols., Zurique 1943-1960. Seguem-se-lhe :
tais de Lutero, limitamo-nos aqui a citar: P o l l e t, J. V., Huldrych Zwingli et la Réforme en Suisse, Paris 1936 (ponto
V a j t a , V., Lutherforschung heute. Referate und Berichte des 1. Internationalen de vista católico).
Lutherforschungskongresses, Aarhus, 18-23 August 1956, Berlim 1958. R g g , J-, Zwingli und Erasmus. Die Friedensgedanken des jungen Zwingli,
0 e

B r a n d e n b u r g , A., Gericht und Evangelium, Paderborna 1960. Estugarda 1962.


A l t h a u s , P., Die Theologie Martin Luthers, Gütersloh =1963. R o t h e r, J., Die religiösen und geistigen Grundlagen der Politik Huldrych
A respeito do "episódio da torre", cita-se alguma bibliografia na nota 3 Zwingiis. Ein Beitrag zum Problem des christlichen Staates, Erlangen 1956.
do capítulo 3, que é completada pelas seguintes obras: V a s e 11 a, O., Reform und Reformation in der Schweiz. Zur Würdigung der
B i z e r, E., Fides ex auditu. Eine Untersuchung über die Entdeckung der Anfänge des Glaubenskrisc, Münster 1958.
Gerechtigkeit Gottes durch Martin Luther, Neukirchen '1961. Concorda com êle: B l a n k e , F.; L o c h e r , G. W., Zwingli, em: RGG VI "1962, coluna 1952-1969.
416 Anexos
Bibliografia 417
8. A Guerra dos Camponeses
B o r n k a m m, H., Der authentische lateinische Text der Confessio Augustana
(1530), Heidelberga 1956.
F r a n z , G., Quellen zur Geschichte des Bauernkrieges, Munique 1963; Der
deutsche Bauernkrieg, 2 vols., Munique-Berlim '1957. S p e r l , A., Melanchthon zwischen Humanismus und Reformation, Munique 1959.
V a s e 11 a. 0., Bauerntum und Reformation in der Eidgenossenschaft, em: HJG M a u r e r , W., Studien über Melanchthons Anteil an der Entstehung der Con-
fessio Augustana, em: ARG 51 (1960), pp. 158-206.
76 (1957), pp. 47-63. V a l e n t i n v o n T e t l e b e n . Protokoll des Augsburger Reichstages 1530,
H i n r i c h s , C., Luther und Münzer, Berum 1952. edição de H. Grundmann, Gótinga 1958.
B e r s t e n , T., Balthasar Hubmaier. Seine Stellung zu Reformation und Täufcr- G r u n d m a n n , H., Landgraf Philipp von Hessen auf dem Augsburger Reich-
tum 1521-28, Cassel 1961. stag 1530, Gütersloh 1959.
A l t h a u s , P., Luthers Haltung im Bauernkrieg, Basileia 1953. M ü l l e r , G., Johann Eck und die Confessio Augustana, em: QFitAB 38 (1958),
pp. 205-242.
9. Igrejas Nacionais (Landeskirchen) na Alemanha e na Escandinávia
13. A rota da Inglaterra
H u b a t s c h , W., Albrecht von Brandenburg-Ansbach 1400-1568, Heidelberga
1960. H u g h e s , Ph., The Reformation in England, 3 vols., aqui interessa o I, Lon-
dres M 952. Esta obra-padrão foi também editada num só volume, com re-
Die evangelischen Kirchenordnungen des 16. Jahrhunderts, edição de E. visão, Londres 1963.
S e h l in g, Tubinga 1902ss.
K n o w l e s , D., The religious Orders in England, III: The Tudor age, Cam-
Z e e d e n, E. W., Katholische Überlieferungen in den evangelischen Kirche- bridge 1959.
nordnungen des 16. Jahrhunderts, Münster 1959.
Urkundliche Quellen zur hessischen Reformationsgeschichte, elaboração de G. E l t o n , G. R., England under the Tudors, Londres 1955 (frisa particularmente
F r a n z , 3 vols., Marburgo 1954-1957. a influência de Tomás Cromwell).
No mesmo sentido, mas nem sempre com objetividade:
S o h m, W., Territorium und Reformation in der hessischen Geschichte, Mar- D i c k e n s , A. G., Thomas Cromwell and the English Reformation, Londres
burgo =1957.
1959.
S c h w a i g e r , G., Die Reformation in den nordischen Ländern, Munique 1962.
P o l l a r d , A. F., Henry VIII, Londres M952. Crítica correspondente em:
J o h a n n e s s o n , G., Die Kirchenreformation in den nordischen Ländern, em: E l t o n , G. R., Henry VIII, An Essay in Revision, Londres 1962.
X I Congrès international des sciences historiques, Göteborg 1960, IV, pp.
e

B r o m i 1 e y, G. W., Thomas Cranmer theologian, Londres 1956 (ponto de


38-83. vista anglicano).
Z e e d e n, E. W., Die Entstehung der Konfessionen. Grundlagen und Formen R i d l e y , J., Thomas Cranmer. Oxônia 1962.
der Konfessionsbildung im Zeitalter der Glaubenskämpfe, Munique-Viena 1965.
M a y n a r d , T., The Ufe of Thomas Cranmer, Londres 1956 (ponto de vista
católico).
10. Prosseguimento na Suiça K a v a n a g h, A., The Concept of Eucharistie Memorial in the Canon Revi-
sion of Thomas Cranmer, Archbishop of Canterbury (1533-1556), disserta-
ção, Tré veros 1963.
S t ä h e l i n , E., Das theologische Lebenswerk Ökolampads, Lipsia 1939.
Thomas Murner im Schweizer Glaubenskampf, edição de M. Pfeiffer-Belh, LÍves of St. Thomas More ( W . Roper, N. Harpsfield), edição de E. E. Rey-
Münster 1939. nolds, Londres 1963.
H e l b l i n g , L., Dr. Johann Fabri, Münster 1941. C h a m b r e s , R. W., Thomas More, Londres '"1949, tradução alemã de W.
R u e t t e n a u e r , Munique-Kempten 1946.
D ü r r , E.; R o t h , P., Aktensammlung zur Geschichte der Basler Reforma- R e y n o l d s , E. E., Thomas More, Londres 1953. St. John Fisher, Londres 1955.
tion, 6 vols., Basiléia 1925-1950.
M a r c' H a d o u r, G., L'univers de Thomas More. .Chronologie critique de More,
Erasme et leur époque (1477-1536), Paris 1963.
11. Agrupamentos políticos
D ü l f er, K., Die Packschen Händel, Marburgo 1958. 14. Outros bons éxitos dos Luteranos no Império
S t e p h a n , R., La protestation de Spire, em : Bulletin de la Société de l'histoi- Citamos duas obras de autores protestantes:
re du protestantisme français 106 (1960), pp. 87-101.
R a u s c h e r , G., Württenbergische Reformationsgeschichte, Estugarda 1934.
H a u s w i r t h, R., Landgraf Philipp von Hessen und Zwingli, em : Zwingliana H e I b i g, H., Die Reformation der Universität Leipzig im 16. Jahrhundert,
Ii (1962), pp. 499-552.
Gütersloh 1953.
K ö h l e r , W., Zwingli und Luther. Ihr Streit über das Abendmahl nach seinen
politischen und religiösen Beziehungen, I, Lipsia 1924; II Gütersloh 1953. 15. Os Anabatistas
C o u r v o i s i e r , J., Vom Abendmahl bei Zwingli, em: Zwingliana II (1962),
pp. 415-426. H i l l e r b r a n d , H. J., Bibliographie des Täufertums 1520-1630, Gütersloh
1962.
P o 11 e t. ]. V., Martin Bucer. Etudes sur la correspondance, 2 vols., Paris
1958-1963. F a s t , H., Glaubenszeugnisse der Täufer, Spiritualisten. Schwärmer und Antt-
trinitarier (Klassiker des Protestantismus IV: Der linke Flügel der Reforma-
tion), Brema 1962.
12. A "Confessio Augustana"
Fontes regionais:
Texto em: Die Bekenntnisschriften der evangelisch-lutherischen Kirche, edição Quellen zur Geschichte der Täufer, Gütersloh 1930ss (Os volumes editados
do Deutscher Evangelischer Kirchenausschuss, I, Gótinga "1950, pp. 31-137. até agora tratam de Vurtemberga, Baviera, Bade, Palatinado, Alsácia,
Áustria).
418 Anexos Bibliografia 419

M u r a l t , L. v o n . ; S c h m i e ! , W., Quellen zur Geschichte der Täufer in der P e t r i , M., Herzog Christoph von Württemberg und die Reformation in Frank-
Schweiz, I, Zurique 1952. reich, em: Blätter für württembergische Kirchengeschichte 55 (1955) pp. 5-64,
Síntese, mas sem elementos sociológicos: Bélgica e Países-Baixos:
W i l l i a m s , G. H., The Radical Reformation, Filadélfia 1962. M o r e a u , E., Histoire de l'Eglise en Belgique, V, Bruxelas 1952.
Trabalhos avulsos: H a 1 k i n, L.-E., La Réforme en Belgique sous Charles-Quint, Bruxelas 1957.
S t u p p e r i c h , R., Das münsterische Täufertum. Ergebnisse und Probleme der L e f è v r e, J., Correspondance de Philippe II sur les affaires des Pays-Bas,
neueren Forschung, Münster 1958. 4 vols., Bruxelas 1930-1960.
G e n s i c h e n , W., Damnamus. Die Verwerfung von Irrlehre bei Luther und R o g i e r, L. J., Geschiedenis van het Katholicisme in Noord-Nederland in de
im Luthertum des 16. Jahrhunderts, Berlim 1955. XVI en XVII eeuw, 3 vols., Amsterdão =1945-1947.
e e

O y er, J. S., Lutheran Reformers against Anabaptists, Haia 1964. P f a n d I , L., Philipp II, Munique 1938; confronte-se com R. K o n e t z k e , em:
S c h n a e p 1 e r, H. W., Die rechtliche Behandlung der Täufer in der deutschen HZ 164 (1941), pp. 316-331.
Schweiz, Süddeutschland und Hessen 1525-1618, Túbinga 1957. H ä u s e r , H., La prépondérance espagnole, Paris '1948.
K ü h l e r , W. J., Geschiedenis der Nederlansche Doopgezinden in de zestiende D i e r i c k x, M., De oprichting der nieuwe bisdommen in de Nedertanden ander
eeuw, Haarlem '1961. Philipp II (1559-1570), Antuérpia-Utreque 1950.
— Documents inédits sur l'érection des nouveaux diocèses aux Pays-Bas
16. João Calvino (1521-1570), 3 vols., Bruxelas 1960-1962.
Europa Oriental:
Calvini opera (Corpus Reformatorum 29-87), 58 vols., Brunsvique-Berlim Z e e d e n , E. W., Calvins Einwirken auf die Reformation in Polen-Litauen,
1863-1900; nova edição, Francoforte 1964ss. em: Syntagma Friburgense. Festschrift für H. Aubin, Friburgo em Brisg.
N i e s e i , W., Calvin-Bibliographie 1901-1959, Munique 1961. 1956, pp. 323-359.
Calvin, Institution chrétienne, edição de 1560, publicada por J. Cardier e P. S t a s i e w s k i, B., Reformation und Gegenreformation in Polen, Neue Fors-
Marcel, 3 vols., Genebra 1955-1957. Tradução alemã de O. W e b e r , Unter- chungsergebnisse, Münster 1960.
richt in der christlichen Religion, edição de 1559, Neukirchen "1955. B u c s a y , M., Geschichte des Protestantismus in Ungarn, Estugarda 1959.
Biografia completa, sob o ponto de vista reformado: R o t h , E., Die Reformation in Siebenbürgen, 2 vols., Colónia 1962-1963.
D o u m e r g u e , E., Jean Calvin. Les hommes et les choses de son temps, 7
vols., Paris-Lausana 1899-1927.
M a c K i n n on, J., Calvin and the Feformation, Londres 1936. 18. Incremento no Imperio
W e n d e l , F., Calvin, Sources et évolution de sa pensée religieuse, Paris 1950.
H o m m e s , N. J., Misère en grootheid van Calvijn, Delft 1959. V o 1 z, H., Urkunden und Aktenstücke zur Geschichte von Martin Luthers
S p r e n g e r , P., Das Rätsel um die Bekehrung Calvins, Neukirchen 1960. Schmalkaldischen Artikeln 1536-1547, Berlim 1957.
B e r g e r , H., Calvins Geschichtsauffassung, Zurique 1955.
S m i t s , L., St.-Augustin dans l'œuvre de Jean Calvin, 2 vols., Assen 1956-1958
(ponto de vista católico). IV. RESPOSTA E REVIDE.
AS NOVAS FORÇAS E O CONCILIO DE T R E N T O
Denuncia e processo contra Miguel Servet estão contidos em:
K i n g d o n, R.-M., Registres de la Compagnie des pasteurs de Genève au temps Para todo o capítulo, além de Lortz, remetemos sobretudo às obras seguintes:
de Calvin, II (1533-1564), Genebra 1962. D e u t s c h e R e i c h s t a g s a k t e n , Jüngere Reihe, I-IV (1519-1524), Gota
1893-1905; VII (1527-1529), Estugarda 1935; reimpressões: Gótinga 1956ss.
P f e i 1 s c h i f t e r, G., Acta Reformationis Catholicae. Die Reformverhandlungen
17. Força de aliciamento do calvinismo
des deutschen Episkopats von 1520 bis 1570, Ratisbona 1959ss.
J o u r d a , P.; M o r e a u , E. de, Calvin et le Calvinisme, em: Histoire de J e d i n, H., Geschichte des Konzils von Trient, I/II, Friburgo em Brisg.
l'Eglise XVI, Paris 1950, pp. 165-306. 1949-1957.
Inglaterra: Sobre Carlos V :
H u g h e s , Ph., The Reformation in England, II, Londres 1953. B r a n d i , K., Kaiser Kart V., 2 vols., I, Munique "1961; II (Quellen) Muni-
C h a p m a n , The last Tudor King. A study of Edward VI, Londres 1958. que 1941.
H o p e , C, Martin Bucer and the English Reformation, Oxônia 1946. R a s s o w , P., Karl V. Der letzte Kaiser des Mittelalters, Gótinga 1957.
— Martin Bucer und England. Sein Beitrag zur englischen Reformationsge- T y l e r , R., The emperor Charles V., Londres 1956; tradução alemã de H.
schichte, em: ZKG 71 (1960), pp. 82-109. v o n H a a n , Kaiser Karl V., Estugarda =1960.
P o 11 e t, J. V., Martin Bucer. Etudes sur la correspondance, 2 vols., Paris Carlos V (1500-1558). Homenaje de la Universidad de Granada, Granada 1958.
1958-1963.
G a s q u e t, F. A., B i s h o p , E., Edward VI and the Book of Common Prayer,
Londres '1928. 1. Resposta do Direito Formal
Franca :
L é o n a r d , E. G., Histoire générale du protestantisme, I—II, Paris 1961. K a 1 k h o f f, P., Forschungen zu Luthers römischem Prozess, Roma 1905, com
Acta Nuntialurae Galliae, Roma-Paris 1961ss (desde 1535). suplementos em: ZKG 31-33 (1910-1912).
B a i 11 y, A., La réforme en France jusqu'à l'édit de Nantes, Paris 1960. — Der grosse Wormser Reichstag, Vörmia 1921.
N ü r n b e r g e r , R., Die Politisierung des französischen Protestantismus, Tú- R o o s , H., Die Quellen der Bulle Exsurge Domine (15-6-1520), em: Festschrift
binga 1948. für Michael Schmaus, Munique 1957, pp. 909-926.
K i n g d o n, R.-M., Geneva and coming of the Wars of Religion in France, M ü l l e r , G., Die drei Nuntiaturen Aleanders in Deutschland, 1520-21, 1531-32,
Genebra 1956. 1538-39, em: QFitAB 39 (1959), pp. 222-276.
420 Anexos Bibliografia 421

2. Tentativa de repressão militar Sobre Maria Stuart:


3. Tratado de Paz Religiosa de Augsburgo
P o l l e n , J. H., Mary, Queem of Scots and the Babington Plot, Edimburgo
1922.
F r i e d e n s b u r g , \V., Aus den Zeiten des Interim, em: ARG 9 (1912), pp.
R a t , M., Marie Stuart, Bruxelas 1959, Confira-se Black, supra n. 5.
263-273. Sobre emigrados escoceses:
B r a n d i , K., Passauer Vertrag und Augsburger Religionsfriede, em: HZ 95 H a m m e r m a y e r, L., Deutsche Schottenklöster, schottische Reformation, ka-
(1905), pp. 206-264. tholische Feform und Gegenreformation, em: Zeitschrift für bayerische Lan-
S i m o n , M., Der Augsburger Religionsfriede, Augsburgo 1955. desgeschichte 26 (1963), pp. 131-255.
Forschungen zur Geschichte des Augsburger Religionsfriedens, em: Zeitschrift
Sobre Jaime I:
des Historischen Vereins für Schwaben 61 (1955), pp. 213-401.
H e c k e 1, M., Autonomia und Pacis compostio. Der Augsburger Religionsfriede H i l l , Ch., The Century of Revolution, 1603-1714, Edimburgo 1961.
in der Deulung der Gegenreformation, em: ZRGkan 76 (1959), pp. 141-248. D a v i es, G., The early Stuarts 1603-1660, Oxônia '1959.
W i t t e , H., Die Ansichten Jakobs I. von England über Kirche und Staat,
Berlim 1940.
Sobre a Conspiração da Pólvora:
4. Reação na Inglaterra
W i l l i a m s o n , H. R., The Gunpowder Plot, Londres 1951. Veja-se também
Obra principal: Clancy, supra n. 5.
H u g h e s , Ph., The Reformation in England, II, Londres 1953.
Sobre Maria, a Católica:
Calendar of States Papers relating England and Spain, XIII, Philipp and Mary, 7. Noite de São Bartolomeu e Guerras dos Huguenotes
Londres 1954.
P r e s c o tt, H. F. M., Mary Tudor, Londres '1953. Além da bibliografia indicada no cap. III n. 17, indicamos ainda:
Sobre o Cardeal Pole: E n g l a n d , S. L., The massacre of S. Bartholomew, Londres 1938, e parti-
S c h e n k , W., Reginald Pole, Cardinal of England, Londres 1950. cularmente:
L u t z , H., Christianitas afflicta, Gótinga 1962 (mediações de paz). E r l a n g e r , P h., Le massacre de la St.-Barthelemy, Paris 1960.
C a p r a r i i s, V. de, Propaganda e pensiero político in Francia durante le
5. A Igreja Nacional Anglicana guerre di religione 1: 1559-1572, Nápoles 1959.
C o u d y, J., Les guerres de religion, Paris 1962.
R e i n h a r d, M., Henri IV ou la France sauvée, Paris '1958.
H u g h e s , Ph., The Reformation in England, III, Londres 1954. B o ü a r d, M. de, Sixte-Quint, Henri IV et la ligue, em : Revue des questions
B l a c k , J. B., The reign of Elizabeth 1558-1603, Oxônia '1959.
M a y e r , A. 0., England und die katholische Kirche unter Elisabeth, Roma historiques 60 (1932), pp. 59-140.
1911. Sobre o Edito de Nantes:
B o s s y , J., Eizabethan Catholicism: the link with France, dissertação, Cam- L e c 1 e r, J., Histoire de la tolérance au siècle de la Réforme, 2 vols. Paris
bridge 1961. 1955.
C a r a m a n, Ph., The other face. Catholic life under Elizabeth I, Londres F a u r e y , J., L'édit de Nantes et la question de la tolérance, Paris 1959.
1960; vejam-se referências da revista Recusant History, 1951ss, e nela prin- A tese de B e r t h e a u, S., Les protestants du Moyen-Poitou sous le régime
cipalmente: de Nantes 1598-1685 (Paris, Ecole des chartes, 1962) demonstra a apli-
C l a n c y , T h . , English Catholics and the papal deposing power 1570-1640, cação do Edito no Poitou.
em: Recusant History 6 (1961-1962), pp. 114-140, 205-227. Sobre a questão do liranicidio:
H e a d , R., Royal supremacy and the trials of bishops, 1558-1725, Londres F a v a , B., Le teorie dei monarcomachi e il pensiero político di Juan Mariana,
1962. Reggio Emilia 1953.
W a n g h, E., Edmund Campion. Scholar, priest, hero and martyr, Londres M o u s n i e r, R., L'Assassinat d'Henri IV, Paris 1964.
'1961; tradução alemã de H. H. von Voigt, Munique '1954.
G u i l d a y , J., The English Catholic Refugees on the Continent, Londres 1914.
M a 11 i n g 1 y, G., William Allen and Catholic propaganda in England, Gene- 8. Paises-Baixos
bra 1957.
T r i m b l e , W. R., The Catholic laity in Elizabethean England 1558-1603, R o g i e r, L. J., Geschiedenis van het Katholicisme in Noord-Nederland in de
Cambridge (Mass.) 1964. XVIe
en XVII
e
eeuw, 3 vols. Amsterdão '1945-1947.
B r o o k , J. K., A Life of Archbishop Parker, Oxônia 1962. M o r e a u, E., Histoire de l'église en Belgique, V, Bruxelas 1952.
M e e s t e r , B. de, Le St-Siège et les troubles des Pays-Bas 1566-1579, Lo-
Sobre as Ordenações Anglicanas: vaina 1952.
H o a r e, C h., The Edwardian Ordinal, S. Leonards-on-Sea 1958 (ponto de Romeinse bronnen voor de kerkelijke toestand der Nederlanden onder de aposto-
vista católico). lische vicarissen 1592-1727, edição de J. Cornelissen e outros, Haia 1932ss.
Além disso, a bibliografia indicada no capítulo III, n. 17.
6. Escocia

D o n a l d s o n , G., The Scottish Reformation, Cambridge 1960. 9. Congrafamento dos espiritas? Debates teológicos
Sobre Knox:
M o e l l e r , B., Die deutschen Humanisten und die Anfänge der Reformation,
M a c G r e g o r , G., The thundering Scot. John Knox, Londres 1958. A res- em: ZKG 70 (1959), pp. 46-61.
peito da contestada ordenação sacerdotal: The Innes Review 6 (1955),
pp. 99-106. S t u p p e r i c h, R., Der Humanismus und die Wiedervereinigung der Kon-
fessionen, Lipsia 1936.
422 Anexos Bibliografia 423

A respeito de Erasmo, veja-se o capitulo III, n. 7. 13. Renovação da Cúria Romana


K a n t z e n b a c h , F. W , Das Ringen um die Einheit der Kirche im Jahrhun-
dert der Reformation, Estugarda 1957. Sobre o Consilium de emendanda ecclesia: Texto em Concilium Tridentinum,
Söbre Contarini: XII, Friburgo em Brisg. 1930,. pp. 131-145.
Ainda conserva seu valor e exaustiva biografia de: F r i e d e n s b u r g , W., Das Consilium de emendanda ecclesia, Kardinal Sa-
D i t t r i c h , F., Gasparro Contarini (1482-1542), Braunsberga 1885. Acrescen- dolet und Johannes Sturm von Strassburg, em: ARG 33 (1936), pp. 1-69.
tem-se-lhe: G r a z i ol i, A., Gian Matteo Giberti, Verona 1955.
J e d i n , H., Kardinal Contarini als Kontroverstheologe, Münster 1949. J e d i n , H., Tommaso Campeggio (1483-1564). Tridentinische Reform und
— An welchen Grundsätzen sind die vortridentinischen Religionsgespräche kuriale Tradition, Münster 1958.
zwischen Katholiken und Protestanten gescheitert? em: Theologie und Glaube D o u g l a s , R. M., ¡acopo Sadoleto 1477-1547. Humanist and reformer, Lon-
48 (1958), pp. 50-55. dres 1959.
L i p g e n s , W., Kardinal Johannes Gropper (1503-1559), Münster 1951. B u s c h b e 11, G., Reformation und Inquisition in Italien um die Mitte des
16. Jahrhunderts, Paderborna 1910.
C a n t i m o r i, D., Prospective di storia ereticale italiana del Cinquecento,
10. Superação mediante renovação religiosa
Bari 1960.
Riforma Cattolica. Antologia di documenti a cura di M. Bendiscioli e M. 14. Luta em torno do Concílio
Marcocchi, Roma 1963. 15. O Concilio de Trento
B e n d i s c i o l i , M., La riforma cattolica, Roma, sem data. 16. Protestantes em Trento
Corpus Calholicorum. Werke katholischer Schriftsteller im Zeitalter der Glau-
bensspaltung, Münster 1919ss. A coleção mais importante de fontes:
S c h n ü r e r , G., Kirche und Kultur in der Barockzeit, Paderborna 1937.
C i s t e l l i n i , A., Figure delia riforma cattolica pretridentina, Brescia 1948. Concilium Tridentinum, edição da Görresgesellschaft, Friburgo em Brisg. 1901ss.
C u t h b e r t , C, The Capuchins, 2 vols., Londres 1928. Tradução alemã de Apareceram I-III {Diariorum pars 1-3), 1901-1932; VI-V1I, 1, VI1I-IX (Acto-
J. W i d l ö c h e r , Die Kapuziner, Munique 1931. rum pars 1-4, 1; 5-6), 1904-1960; X-XI {Epistolarum pars 1-2), 1916-
1937; XII-XII1 (Tractatuum pars 1-2, 1) 1930-1938.
P o b 1 a d u r a, M. da, Historia generalis Ordinis Fratrum Min. Capucinorum,
r (1525-1619), Roma 1947. 0 1 a z a r a n, J., Documentos inéditos tridentinos sobre la justificación, Madrid
1957.
J e d i n , H., Geschichte des Konzils von Trient, Friburgo em Brisg. 1949ss
11. Papa Adriano VI (obra principal).
— Girolamo Seripando, 2 vols., Virceburgo 1937.
H o c k s , E., Der letzte deutsche Papst. Adrian VI., Friburgo em Brisg. 1939 — Die Päpste und das Konzil in der Politik Karls V., em: Karl V. Der Kaiser
(nivel populär). und seine Zeit, Colonia 1960, pp. 118-137.
Adrien VI, le premier pape de la Contre-réforme. Sa personnalité, sa carrière, S c h r e i b e r , G., Das Weltkonzil von Trient. Sein Werden und Wirken, 2
son œuvre, em: ETL 35 (1959), pp. 513-629 (corn extensa bibliografia). vols., Friburgo em Brisg. 1951.
R o g g e r , 1., Le nazioni al concilio di Trento 1545-1552, Roma 1952.
A1 b e r i g o, G., / vescovi italiani al concilio di Trento 1545-1547, Floren-
12. Inácio e os primeiros Jesuítas ça 1959.
S t a k e m e i e r, E., Der Kampf um Augustin auf dem Tridentinum, Pader-
G i l m o n t , J., D a m an, P., Bibliographie ignatienne 1894-1957, Paris 1958. borna 1937.
Monumenta histórica Societatis Iesu, Madrid-Roma 1894ss (até 1962, 90 vols.). •— Das Konzil von Trient über die Heilsgewissheit, Heidelberga 1947.
Sobre Inácio de Loiola: L o r t z , J., Zur Zielsetzung des Konzils von Trient, em: Universitas. Festschrift
D u d o n , R., St.-Ignace de Loyola, 1934. für A. Stohr, II, Mogüncia 1960, pp. 89-102.
B o e h m e r , H., Ignatius von Loyola, Estugarda 1951 (ponto de vista pro-
! Sobre o 2" período do Concilio:
testante). J e d i n , H., Kirchenreform und Konzilsgedanke 1550-1559, em HJG 54 (1934),
— Die Jesuiten, Estugarda 1957 (ponto de vista protestante).
!
pp. 401-431.
B r o d r i c k, J., S. Ignatius of Loyola. The Pilgrim's years 1491-1538, Lon- — Analekten zur Reformtätigkeit der Päpste Julius III. und Paul IV, em:
dres 1956. Römische Quartalschrift 42 (1934), pp. 305-332; 43 (1935), pp. 87-156.
— The origins of the Jesuits, Londres 1940. — Die Deutschen am Trienter Konzil 1551-1552, em: HZ 188 (1959), pp.
— The progress of Jesuits, Londres 1946. Tradução alemã de G. Martini: 1-16.
Die ersten Jesuiten, Viena 1956. S t u p p e r i c h , R., Die Reformatoren und das Tridentinum, em: ARG 47
Ignatius von Loyola, seine geistliche Gestalt und sein Vermaechtnis, edição (1956), pp. 20-62.
de F. Wulf, Munique 1956. B i z er, E., Confessio Virtembergica, Estugarda 1952 (símbolo de fé protes-
R a h n e r, H., Ignatius von Loyola als Mensch und Theologe, Friburgo em tante elaborada em 1551 para o Concílio Tridentino).
Brisg. 1964. L u t z , H., Christianitas afflicta, Gótinga 1962 (com relação a 1552-1556).
B e c h e r , H., Die Jesuiten, Munique 1951.
As histórias oficiais das Províncias estão consignadas, entre outros autores,
por B i h l m e y e r , K., T ü c h i e , H., Kirchengeschichte III, Paderborna 17. Papa Paulo IV
"1961, pp. 94ss. Por remontar até ao início do século XVI, mencionamos
de modo particular: T a c c h i V e n t u r i , P., Storia delia Compagnia di M o n t i , G., Ricerche su Papa Paolo IV Carafa, Benevento 1925 (com do-
Gesit, I-II, Roma =1930-1951; III (1556-1565) de M. S e a d u t o , Roma 1964. cumentação).
Bibliografia 425
424 Anexos
França e outros países:
T o r r i a n i, T., Una tragédia nel Cinquecento romano: Paolo IV e i suoi
nepoti, Roma 1951. M a r t i n , V., Essai historique sur l'introduction en France des décrets du
J e d i n , H., Kirchenreform: veja-se supra n. 16. Concile de Trente (1563-1615), Paris 1919.
Reação à Paz Religiosa de Augsburgo: W i 11 c o c x, F., L'introduction des décrets du Concile de Trente dans les
Biografia supra n. 3, acrescentando-se: R e p g e n , K., Die Römische Kurie Pays-Bas, Lovaina 1929.
und der Westfälische Friede, 1, Tubinga 1962. S y m o n d s, H. E., The Council of Trent and anglican Formularies, Lon-
dres 1933.
S c h r e i b e r , G., veja-se supra capítulo IV, n. 19.
18. Reabertura, crise, encerramento do Concilio
19. Importância do Concilio
1. Papa Pio IV e Carlos Borromeu
Eh s e s, St., Die letzte Berufung des Trienter Konzils durch Pius IV. (29
november 1560), em: Festschrift für G. von Hertling, Munique 1913, pp. O r s e n i g o , C , Vita di San Carlo Borromeo, Milão 1929; tradução alemã
3

139-162. de G. ßrunner, Der heilige Carl Borromaeus, Friburgo em Brisg. *1939.


C o n s t a n t , G., La légation du cardinal Morone près l'empereur et de con- M o l s , R., Saint Charles Borromée, pionnier de la pastorale moderne, em :
cile de Trente, avril-décembre 1563, Paris 1922. Nouvelle Revue Théologique 89 (1957), pp. 600-622, 715-747.
E v e n n e 11, H. 0., The cardinal of Lorraine and the Council of Trent, Cam- R o b r e s L l u c h , R., S. Carlos Borromeo y sus relaciones con el episcopado
bridge 1930. ibérico posttridentino, em: Anthologica annua 8 (1960), pp. 83-141.
J e d i n , H., Krisis und Wendepunkt des Trienter Konzils, 1562/63, Virce- L y n c h , J., Philip II and the Papacy, em: Transactions of the Royal Histori-
burgo 1941.
cal Society II (1961), pp. 23-42.
— Der Abschluss des Trienter Konzils 1562/63, Münster 1963.
— // Concilio di Trento. Scopi, svolgimento e risultati, em Divinitas 2 (1961),
pp. 345-360.
2. Papas da Reforma: Pio V
— Ist das Konzil von Trient ein Hindernis der Wiedervereinigung? em: ETL
38 (1962), pp. 841-855. 3. Papa Gregório XIII
4. Papa Sisto V
C a s t a no, A., Pio IV e la Curia Romana di fronte al dibattito tridentino
sulla Residenza, 7 marzo - 11 maggio 1562, em: Miscellanea Historiae Pon-
tificiae VII, Roma 1943, pp. 139-175. G r en te, G., Le pape des grands combats. S. Pie V, Paris '1956.
O'D o n o h o e, J., Tridentine Seminary Legislation. Its sources and its forma- K a j M j u n n e n , L., Grégoire XIII comme politicien et souverain, Helsinque
tion, Lovaina 1957.
Sobre o cálice dos leigos: P a s t o r X (Sixtus V ) ; acrescente-se Baumgarten, P. Al., em: ZKG 46 (1927),
C o n s t a n t , G., Concession à l'Allemagne de la communion sous le deux pp. 232-244.
espèces. 2 vols., Paris 1922-1926. M e e s t e r , B. de, Le Saint-Siège et les troubles des Pays-Bas 1566-79, Lo-
L u t z , H., Bayern und der Laienkelch 1540-1556, em: QFitAB 34 (1954), vaina 1934.
pp. 203-235. L e w y , G., A secret papal brief on tyrannicide during the Counterreforma-
F r a n z e n, A., Die Kelchbewegung am Niederrhein im 16. Jahrhundert, Müns- tion, em: Church History 26 (1957), pp. 319-324.
ter 1955. B o ü a r d, M. de, veja-se capítulo IV n. 7.
Apreciação de conjunto: D en z i e r , G., Kardinal Guglielmo Sirleto, Munique 1964.
D u p r o n t, A., Le concile de Trente, em : Le concile et les conciles, Cheve- H ö p f 1, H., Beiträge zur Geschichte der Sixto-Klementinischen Vulgata, Fri-
togne 1960, pp. 195-243. burgo em Brisg. 1913.
K il 11 n er, S t., The reform of the Church and the Council of Trent, em : The V i l l o s l a d a , R. G., Storia del Collegio Romano (1551-1773), Roma 1954.
Jurist 22 (1962), pp. 123-142. Apreciação dos decretos remormatórios. G a s q u e t , F. A., History of the Venerable English College in Rome, Lon-
S c h r e i b e r , G., veja-se supra n. 15, e mais Tridentinische Reformdekrete in dres-Nova York 1920.
deutschen Bistümern, em: ZRGkan 69 (1952) pp. 395-442. P i e p e r , A., Zur Entstehungsgeschichte der ständigen Nuntiaturen, Fribur-
// Concilio di Trento e la Riforma Tridentina, 2 vols., Roma 1965. go em Brisg. 1894.
B i a u d e t, H., Les nonciatures apostoliques permanentes jusqu'en 1648, Hel-
sinque-Paris 1919.
V. NO ESPIRITO DO T R I D E N T I N O : L u k à s c, L., Die nordischen päpstlichen Scminarien und P. Possevino, em :
REFORMA INTERNA DA IGREJA E ATIVO CONTRA-ATAQUE AHSI 24 (1955), pp. 33-94.
(CONTRA-REFORMA) P o 1 c i n, St., Une tentation d'Union au XVI siècle. La mission religieuse
e

du P. Possevin en Moscovie 1581-1582, Roma 1957.


W i l l a e r t , L., Après le concile de Trente. La restauration catholique 1563- D e 1 u m e a u, J., Vie économique et sociale de Rome dans la seconde moitié
1648 (Histoire de l'Eglise 18), Paris 1960. du XVI' siècle, 2 vols., Paris 1959.
Execução dos Decretos Tridentinos. Roma e Itália:
M o n ti c o n e , A., L'applicazione del Concilio di Trento a Roma, em: Rivista
di storia delia Chiesa in Italia 7 (1953), pp. 225-250; 8 (1954), pp. 23-48 5. Pedro Canísio e o sistema escolar dos Jesuítas
(para os anos de 1564-1572).
S i l v i n o d a N a d r o , Sinodi diocesani italiani. Catálogo bibliográfico ... F r a n z e n, A., Die Visitationsprotokolle der ersten nachtridentinischen Vi-
1534-1878, Roma 1960. sitation im Erzstift Köln unter Salentin von Isenburg im Jahre 1569, Münster
A 1 b e r i g o, G., Studi e problemi relativi all'applicazione del Concilio di Tren- 1960.
to in Italia (1945-1958), em: Rivista storica italiana 70 (1958), pp. 239-298.
Nova Historia Hl — 28
426 Anexos Bibliografia 427

S c h w a r z , W. E., Zehn Guiachten über die Lage der katholischen Kirche 9. Suiça
in Deutschland (1573-76) nebst den Protokollen der deutschen Kongrega-
tion (1573-1578), Paderborna 1891. S c h w e g l e r , T h . , Geschichte der katholischen Kirche der Schweiz, Stans
S. Petri Canisii epislulae et acta, coli. 0. Braunsberger, 8 vols., Friburgo em 3
1943.
Brisg. 1896-1923. S t e f f e n s , F., R e i n h a r d , H., Die Nuntiatur von G. Fr. Bonhomini, 3 vois.,
S. Petri Canisii catechismi latini et germanici, edição de F. Streicher, 2 vols., Solothurn 1906-1929.
Munique 1933-1936. V a s e 11 a, O., Das Visitationsprotokoll über den schweizerischen Klerus des
B r o d r i c k , J., Saint Peter Canisius, Londres 1936. Tradução alemã de K. Bistums Konstanz von 1586, Berna 1963.
Teich, Petrus Canisius, 2 vols., Viena 1950. M e t z g e r , H., Vorstudien zu einer Geschichte der tridentinischen Seelsorge-Re-
S c h n e i d e r , B., Die Jesuiten als Gehilfen der päpstlichen Nuntien und Le- form im eidgenössischen Gebiet des Bistums Konstanz, Dissertation, Fribur-
gaten in Deutschland zur Zeit der Gegenreformation, em: Miscellanea His- go na Suiça 1951.
toriae Pontificiae XXI, Roma 1959, pp. 269-303. F i s c h e r , R., Die Gründung der Schweizer Kapuzinerprovinz 1581-89, Fri-
H e r m a n n , J. B., La pédagogie des Jésuites au XVI siècle, Lovaina 1914.
e
burgo na Suiça 1955.
F a r r e l l , A., The Jesuit Code of Liberal Education, Milwaukee 1938.
V i 11 o s 1 a d a, veja-se supra nn. 2-4. 10. Franca e Bélgica
L u k á s c , L., De origine collegiorum externorum (1539-1608), em: AHS1 29
(1960), pp. 189-245; 30 (1961), pp. 1-89. M a r t i n , W i 1 c o c x, veja-se supra antes do n. 1.
R a h n e r, H., Die geistesgeschichtliche Bedeutung der Marianischen Kongre- P r u n e ) , L., La renaissance catholique en France au XVII siècle, Paris 1921.
e

gation, Augsburgo 1954. B r o u t i n , P., La réforme pastorale en France au XVII siècle, 2 vols., Pa-
e

ris 1956.
H a e m e 1-S t i e r, A., Franz von Sales, Virceburgo M956.
6. O protestantismo germânico, após o Tratado de Paz Religiosa K l e i n m a n n , P., S. François de Sales and the Protestants, Genebra 1962.
7. Resistência ativa: Baviera e Austria L a j e u n i e, E.-L., Saint François de Sales, 2 vols., Paris 1966.
D h ô t e l , J.-C, Les Origines du Catéchisme Moderne, Paris 1967.
R i t t e r , M., Deutsche Geschichte im Zeitalter der Gegenreformation und des G u e u d r é , M. d e C h a n t a i , Histoire de l'ordre des ursulines en France,
Dreissigjährigen Krieges, 3 vols., Estugarda 1889-1907 (obra-padrão). 2 vols., Paris 1958-1960.
J e d i n , H., Katholische Reformation oder Gegenreformation, Lucerna 1946. D e r r é a 1, H., Un Missionaire de la Contre-Réforme, saint Pierre Fourier et
Z e e d e n, E. W., Grundlagen der Konfessionsbildung im Zeitalter der Glau- l'institution de la Congrégation de Notre-Dame, Paris 1965.
benskämpfe, em: HZ 185 (1958), pp. 249-299. B l e t , P., Le Clergé de France et la Monarchie. Etudes sur les Assemblées
H e c k e 1, M., Autonomia und Pacis compositio. Der Augsburger Religionsfriede Générales du Clergé de 1615 à 1666, 2 vols., Roma 1959.
in der Deutung der Gegenreformation, em: ZRGkan 76 (1959), pp. 141-248. L a n g e , D. de, De Martelaren van Gorcum, Utreque 1957.
V i 11 o s 1 a d a, R. G., La contrareforma. Su nombre y su concepto histórico, L a m p e n , W., Notae de... martyribus Gorcomiensibus, em: Collectanea Fran-
em: Miscellanea Historiae Pontificiae XXI, Roma 1959, pp. 189-242. ciscana 28 (1958), pp. 404-411.
P a s t u r e, A., La restauration religieuse aux Pays-Bas catholiques sous les
H e c k e l , J., Die evangelischen Dom-und Kollegiatsstifter Preussens, Estugar-
archiducs Albert et Isabelle, Lovaina 1925.
da 1924.
S i m o n , M., Evangelische Kirchengeschichte Bayerns, Nuremberga "1952.
M e c e n s e f f y , G., Geschichte des Protestantismus in Österreich, Graz 1956. 11. Defesa e consolidação protestante
C o n s t a n t, &., Concession à l'Allemagne de la communion sous les deux es-
pèces par Pie V, 2 vols., Paris 1922-1926. Cotejar com: B r u n s t ä d , F., Theologie der lutherischen Bekenntnisschriften, Gütersloh 1951.
L u t z , H., Bayern und der Laienkelch, em: QFitAB 34 (1954), pp. 202-235. L e u b e, H., Die Reformideen in der deutschen lutherischen Kirche zur Zeit
L o j e s w s k i , G. v o n , Bayerns Weg nach Köln. Geschichte der bayerischen der Orthodoxie, Lipsia 1924.
Bistumspolitik in der 2. Hälfte des 16. Jahrhunderts, Bona 1962. G e n s i c h e n , H. W., Damnamus. Die Verwerfung von Irrlehre bei Luther
B a a d e r , B. Ph., Der bayerische Renaissancehof Herzog Wilhelms V, Estras- und im Luthertum des 16. Jahrhunderts, Berlim 1955.
burgo 1943. M u m m , R., Die Polemik des M. Chemnitz gegen das Konzil von Trient,
W o d k a , J., Kirche in Österreich, Viena 1959, pp. 195-240. Lipsia 1905.
L o s e r t h, J., Akten und Korrespondenzen zur Geschichte der Gegenreforma- K o c h , E., Die Theologie der Confessio Helvetica posterior, I, Dissertation,
tion in Inneroesterreich unter Erzherzog Karl II (1578-90) und Ferdinand Lipsia 1960.
II. (1590-1637), 3 vols., Viena 1898-1907. K l e i n , Th., Der Kampf um die zweite Reformation in Kursachsen 1586-
1591, Colônia-Graz 1962.
B i a u d e t, H., Le Saint-Siège et la Suède durant la seconde moitié du XVI e

8. Os territorios eclesiásticos siècle, 3 vols., Paris-Genebra 1906-1912.


S t a s i e w s k i, B., Reformation und Gegenreformation in Polen, Neue For-
S i e b e r t , F., Zwischen Kaiser und Papst. Kardinal Truchsess von Waldburg schungsergebnisse, Münster 1960.
und die Anfänge der Gegenreformation in Deutschland, Berum 1943.
Z ö p f 1, F., Kardinal Otto Truchsess von Waldburg, em: Lebensbilder aus dem
Bayerischen Schwaben, IV, Munique 1955, pp. 204-248. 12. Igreja Nacional Anglicana e puritanismo
S p e c h t , T h . , Geschichte der ehemaligen Universität Dillingen (1549-1804),
Friburgo em Brisg. 1902. M a r t i n , F. X., Friar Nugent. A study of Francis Lavalin Nugent (1569-1635),
P ö 1 n i t z, G. F r h. v o n , Fürstbischof Julius Echter von Mespelbrunn, Muni- agent of the Counter-Reformation, Roma-Londres 1962.
que 1934. H a l l e r , W., The rise of Puritanism. Nova York M956.
428 Anexos Bibliografia 429

M a r l o w e , J., The Puritan Tradition in English Life, Londres 1957. T a p i é , V. L., La France de Louis XIII et de Richelieu, Paris 1952.
Söbre Carlos I: H a n o t a u x, G., Duc de la Force, Richelieu et la religion, em : Revue des
A l b i o n , G., Charles I and the Court of Rome, Lovaina-Londres, 1935. Deux Mondes 108 (1938), pp. 549-579, 763-795.
D a v i e s , G., The early Stuarts 1603-1660, Oxönia 1959. 3

B o u r n e , E. C. E., The Anglicanism of William Laud, Londres 1947. D i c k m a n n , F., Rechtsgedanke und Machtpolitik bei Richelieu, em: HZ 196
A s h l e y , M. P., Oliver Cromwell and the Puritan Revolution, Londres 1958. (1963), pp. 265-319. T h u a u , E., Raison d'Etat et pensée politique à
D i e t z , H., Die grosse englische Revolution. Wechselwirkungen ihrer reli- l'époque de Richelieu, Paris 1966.
giösen und politischen Dynamik, Laupheim 1956. F a g n i e z , G., Le Père Joseph et Richelieu, 2 vols. Paris 1894.
C l a r k , G., The later Stuarts 1660-1714, Oxönia 1955. 3 M i s s è c l e , J., L'édit de Nantes et sa révocation, Colmar 1930.
O r c i b a l , J., Louis XIV et les protestants, Paris 1951.
B l e t , P., Le plan de Richelieu pour la réunion des protestants, em : Grego-
VI. REFLEXOS REMOTOS DA DISSIDÊNCIA RELIGIOSA rianum 48 (1967), pp. 100-129.
NA ÉPOCA DO ABSOLUTISMO. SURTO DA RELIGIÃO Tôda a problemática da recatolização se torna evidente na repetida troca de
E BULHAS TEOLÓGICAS. T E N T A T I V A S DE UNIÃO religião de uma aldeia, em : C a n t a 1 o u b e, C, La réforme en France vue
d'an village cévenol, Paris 1951.
G o r z e , A. d e la, Comisaras et dragons du roi, Paris 1950.
1. A Guerra dos Trinta Anos L e R o i L a du r i e , E., Les Paysans de Languedoc, 2 vols., Paris 1966. So-
bre este livro ver : M. V e n a r d, em : Revue d'Histoire de l'Eglise de Fran-
R i t t e r , J e d i n , Z e e d e n , veja-se supra capítulo V, nn. 6-7. ce 53 (1967), pp. 35-47.
Briefe und Akten zur Geschichte des Dreissigjährigen Krieges, edição da M e c e n s e f f y, G., Geschichte des Protestantismus in Österreich, Graz-Colô-
Bayerische Akademie der Wissenschaften, 11 vols., (1596-1613), Lipsia 1870- nia 1956.
1908. Nova série (1618-1651) II, Lipsia; a partir de II, 4 Munique 1908ss. D e d i c , P., Der Geheimprotestantismus in Kärnten 1711-40, Klagenfurt 1940.
S t u r m b e r g e r , H., Aufstand in Böhmen. Der Beginn des Dreissigjährigen M a y r , K. J., Die Emigration der Salzburger Protestanten von 1711-1732,
Krieges, Munique 1959. Salzburg 1931.
A l b r e c h t , D., Die auswärtige Politik Maximilians von Bayern 1618-1635,
Gótinga 1962.
7. A espiritualidade francesa
2. Contra-Reforma sob Fernando II
B r e m o n d, H., Histoire littéraire du sentiment religieux en France depuis la
fin des guerres de religion, 11 vols., Paris 1916-1933. indice de Ch. Grolleau,
E d e r , K., Rahmen und Hintergrund der Gestalt Ferdinads II, em: Festschrift Paris 1936.
für J. F. Schütz, Graz 1954, pp. 315-324.
M e c e n s e f f y, G., Habsburger im 17. Jahrhundert. Die Beziehungen der Höfe A par dessa magistral obra histórico-filosófica de um "dévot humanist" (H.
von Wien und Madrid während des Dreissigjährigen Krieges, 1959. Hogarth), citamos as exposições concisas, mas concentradas de:
G ü n t e r , H., Das Restitutionsedikt und die katholische Restauration Altwit- C o g n e t, L., Les origines de la spiritualité française au XVII e
siècle, Paris
tenbergs, Estugarda 1901. 1949.
R o b e r t s , M., Gustavus Adolphus, 2 vols., Londres 1953-1958. — De la dévotion moderne à la spiritualité française, Paris 1958.
P r u n e 1, B r o u t i n , veja-se supra capítulo V, n. 10.

3. A Paz de Vestefália
8. Seus inspiradores: Teresa de Avila e Filipe Neri
Acta pacis Westphalicae. Edição de M. Braubach e K. Repgen, Münster 1962ss.
D i c k m a n n , F., Der Westfälische Friede, Münster 1959. B e r t r a n d , L., Sainte Thérèse, Paris 1927.
R e p g e n , K., Die römische Kurie uns der Westfälische Friede. Idee und P e e r s, E. A., A Handbook to the Ufe and times of St. Teresa and St. John
Wirklichkeit des Papsttums im 16. und 17. Jahrhundert, Túbinga 1962ss. of Cross, Londres 1954.
P a p à s o g l i , G., Santa Teresa d'Ávila, Roma 1952. Tradução alemã de O.
Schneider, Teresa von Avila, Paderborna 1959.
4. A recatolização da Polônia e da Hungria T o m á s d e la C r u z , Simeón de la Sagrada Familia, em : La reforma Te-
resiana, Roma 1962.
S t a s i e w s k i , veja-se supra capítulo V, n. 11. H u i j b e n , J., Aux sources de la spiritualité française du XVII e
siècle, em:
L o r t z , J., Kardinal Stanislaus Hosius, Braunsberga 1931. La vie spirituelle 25/26 (1930-31).
Kardinal Stanislaus Hosius und Herzog Albrecht von Preussen. Ihr Briefwechsel V e r m e y l e n , A., Ste-Thérèse en France au XVII e
siècle, 1600-1660, Lo-
über das Konzil von Trient. Edição de E. M. Wermter, Münster 1957. vaina 1958.
B e r g a , A., Pierre Skarga S. ]., Paris 1916. O r c i b a l , J., La rencontre du Carmel thérésien avec les mystiques du Nord,
K o r n i s, J., La personnalité du Pazmany, Paris 1937. Paris 1959.
C r i s ó g o n o d e J e s ú s (e outros), Vida y obras de S. Juan de la Cruz,
Madrid 1955. Tradução alemã de O. Schneider, Doctor mysticus, Paderbor-
3

5. Ab-rogação do Edito de Nantes na 1961.


6. Criptoprotestantismo P o n e 11 e, L., B o r d e t, L., Saint Philippe et la société romaine de son temps
(1515-1595), Paris M955.
L é o n a r d , B a i l l y , N u e r n b e r g e r , veja-se supra capítulo III, n. 17. G a s b a r r i, C , Le origini e lo spirito dell'Oratorio romano, em : Studi Ro-
L e c l e r , F a u r e y, veja-se supra capítulo IV, n. 7. mani 4 (1956), pp. 283-300.
430 Anexos
Bibliografia 431
H o f m e i s t e r , P h., Die Verfassung des Oratoriums des ht. Philippus Neri,
em: Für Kirche und Recht. Festschrift für J. Heckel, Colônia-Oraz 1959, 15. Controvérsia sobre a graça
pp. 195-221.
Não há uma exposição moderna, que envolva todos os aspectos da ques-
9. Pedro de Bcrulle tão. Citamos:
10. Francisco de Sales S t e g m ü l l e r , F., Geschichte des Molinismus, I, Munique 1935.
R a b e n e c k , j . , De vita et scriptis Ludovici Molinae, em: AHSI 19 (1950),
Correspondance du Cardinal Pierre Bêrulle, edição de J. Dagens, 3 vols., Pa- pp. 75-145; acrescente-se o sólido artigo Gnadenstreit de F. Stegmüller no
ris 1937-1939. LThK 'IV (1962), colunas 1002-1007.
D a1952.
gens, J., Bertille et les origines de la restauration catholique, Bruges

H ä'1956.
mel-Stier, A., Franz von Sales. Der Heilige der Harmonie, Eichstaett 16. O jansenismo
17. Brás Pascal
Z ö b e 1 e i n, J., Die Beziehungen Franz' von Sales zu Kardinal Bérulle, Dis- 18. A Paz Clementina
sertação, Erlangen 1956.
C o g n e r , L., La Mère Angélique et S. François de Sales, Paris 1952. C e y s s e n s, L., Sources relatives aux débuts du Jansénisme et de l'Antijan-
K1 e i n m a n n, P., S. François de Sales and the Protestants, Genebra 1962. sénisme, 1640-1643, Lovaina 1957.
L i u i m a, A., Aux sources du "Traité de L'amour de Dieu" de S. François — La première bulle contre Jansènius. Sources relatives à son histoire, 1644-
de Sales, I, Roma 1959. Veja-se, a respeito, a apreciação de L. Cognet, 1653, 2 vols., Bruxelas 1961-1962.
em: Rev.Hist.eccl. 56 (1961), pp. 556-559, importante por causa das refe- L e g r a n d, A., C e y s s e n s, L., Correspondance antijanséniste de Fabio Chigi,
rências às fontes "filtradas" e falsificadas, sobre o comportamento espiritual Roma-Bruxelas 1957.
de S. Francisco de Sales. O r c i b a l , J., La correspondance de Jansènius, Lovaina 1947.
— Les origines du Jansénisme, 5 vols., Lovaina-Paris 1947-1962.
— Saint-Cyran et le Jansénisme, Paris 1961.
11. Carlos de Condren e João Tiago Olier W i 11 a e r t, L., Les origines du Jansénisme dans les Pays-Bas catholiques,
12. João Eudes Gembloux 1948.
D e i n h a r d t , W., Der Jansenismus in deutschen Landen, Munique 1929.
A u v r a y, P., J o u f f r e y, A., Lettres du Père Charles de Condren, 1584-
1641, Paris 1942.
Breves sinopses:
J.-J., O l i e r , Lettres, edição de E. Levesque, 2 vols., Paris 1935. C o g n e t , L., Le Jansénisme, Paris 1961.
L a p l a n t e , A., La vertu de religion selon Monsieur Olier, Montréal 1953. L a p o r te, J., La doctrine de Port-Royal, 2 vols., Paris =1951-1952.
B o p p, L., Ler Seelenführer. J.-J. Oliers Theorie umd Praxis der personalen S t e i n m a n n , J., Pascal, Paris 1962. Tradução alemã de G. Coudenhove,
s

Seelsorge, Friburgo em Brisg. 1959. Estugarda 1959.


M on v a l , J., Les Sulpiciens, Paris 1934. G u a r d i n i , R., Christliches Bewusstsein. Versuche über Pascal, Munique 1962.
G e o r g e s , E., Jean Eudes, Paris M936. W a s m u t h , E., Der unbekannte Pascal. Versuch einer Deutung seines Lebens
— La congrégation de Jésus et Marie dite des Eudites, Lião 1933. und seiner Lehre, Ratisbona 1962.
P i o g e r , A., Un orateur de l'Ecole Française, Paris 1940. L a f u m a , L., Histoire des Pensées de Pascal, 1656-1952, Paris 1954.
H am on, A., Histoire de la dévotion au Sacré Coeur, 5 vols., 1923-1940.

19. Tentativas de reunificação


13. O Senhor Vicente 20. Molano, Espinola, Leibniz e Bossuet
C a l v e t , J., Vincent de Paul, Paris 1949 (de grande valor literário, mas nem R o u s e , R., N e i 11, S. C , History of the ecumenical movement, Londres 1954.
sempre de confiança em pormenores históricos). Tradução alemã: Geschichte der ökumenischen Bewegung, I, Gótinga 1963. 2

C o g n e t , L., S. Vincent de Paul, Paris 1959. T h i e l s , G., Histoire doctrinale du mouvement œcuménique, Paris-Lovaina
— Louise de Marillac par elle même. Paris 1960. =1962.
C r i s t i a n i , L., S. Vincent de Paul, 1581-1660, Paris 1960. M e n g e , G., Versuche zur Wiedervereinigung Deutschlands im Glauben, Steyl
K ü h n e r , H., Vinzenz von Paul in seiner Zeit und im Spiegel seiner Briefe, 1920.
Einsiedeln '1963. H i 11 e b r a n d t, Ph., Die kirchlichen Reunionsverhandlungen in der zweiten
Mémorial du tricentaire de S. Vincent de Paul et de Ste Louise de Marillac, Hälfte des 17. Jahrhunderts, Roma 1922.
1660-1960, Paris 1962. K a n t z e n b a c h, F. \V., Das Ringen um die Einheit der Kirche im Jahrhundert
der Reformation, Estugarda 1957.
P u r e e I, M., The World of Monsieur Vincent, Nova York 1963.
S c h ü s s l e r , H., Georg Calixt. Theologie und Kirchenpolitik, Wiesbaden 1961.
W e i d e m a n n , H., G. W. Molanus, 2 vols., Gótinga 1925-1929.
14. O neo-agostinianismo K i e f 1, F. X., Leibniz und die religiöse Wiedervereinigung Deutschlands, Ra-
tisbona 1925.
2

D o o r e n *\ *P
a n S e n
'
Ba US
'LH ™™>
Baia
Lovaina 1930. J o r d a n , G. J., The reunion of the Churches. A Study of G. W. Leibniz and

ÄV&'JÜKg " - " 1 Bai S Zii


-
leer over de Mens Assem 1958 his great attempt, Londres 1927.
G a q u è r e, F., Vers l'unité chrétienne. James Drummond et Bossuet. Leur
0
^^h&% dlÊt^.^^^ à
P^um", em: Revue des
correspondance (1685-1704), Paris 1963.
432 Anexos Bibliografia 433

VII. NOVA VITALIDADE DA IGREJA: MISSÃO MUNDIAL. 3. Japão


CONVERSÕES. CONFORMAÇÃO BARROCA DO MUNDO
L a u r e s , J., Geschichte der katholischen Kirche in Japan, Kaldenkirchen 1956.
F r i e d r i c h , C. J., The age of the Baroque 1610-1660, Nova York 1952. S c h ü t t e , J. F., Valignanos Missionsgrundsätze für Japan, I, Roma 1951-1958.
Tradução alemã de F. Schöne, Das Zeitlater des Barock, Estugarda 1954. A respeito da sorte dos derradeiros missionários do Japão no século XVII
S c h n ü r e r , G., Katholische Kirche und Kultur in der Barockzeit, Paderborna e da hierarquia eclesiástica na antiga Missão Japonesa, vejam-se os artigos
de H. Cieslik, em: NZMW 13 (1957), 18 (1962).
1937.
V e i t , L. A., Die Kirche im Zeitalter des Individualismus, I, Friburgo em
Brisg. 1931.
4. Acomodação missionária na China e nas Índias
S c h r e i b e r , G., Das Barock und das Tridentinum, em: Das "Weltkonzil von
Trient, edição de G. Schreiber, Friburgo em Brisg. 1951, I, pp. 381-425. Fonti Ricciane, edição de P. d'Elia, 4 vols., Roma 1941-1950.
M u l d e r s , A., Missiegeschiedenis, Bussum 1957. Tradução alemã de J. Madey, J. A. S c h a l l , Lettres et mémoires, edição de H. Bernard, Tientsin 1942.
Missionsgeschichte, Ratisbona 1960. J o s s o n, H., W i 11 a e r t, L., Corresnondance de Ferdinand Verbiest de la
V e i t , I. A., L e n h a r t, L., Kirche und Volksfrömmigkeit im Zeitalter des Compagnie de Jésus (1623-1698), Bruxelas 1938.
Barock, Friburgo em Brisg. 1956. W y n g a e r t , A. v a n de, M e n s a e r t , G., Sinica Franciscana, II-VI, Qua-
racchi-Roma 1933-1954.
B e r n a r d , H., Aux portes de la Chine. Les missionnaires du seizième siècle,
1. A luta contra a Meia-Lua Paris 1937.
C r on in, V., The wise man from the West. M. Ricci, Londres 1955. Tra-
G r e n t e , G., Le pape aux grands combats: S. Pie V, Paris 1956. dução alemã de W. von Einsiedeln, Der Jesuit als Mandarin, Estugarda 1959.
— A Pearl to India. The life of Roberto de Nobili, Londres 1959.
L u p o G e n t i l e , M., La battaglia di Lepanto, em : Studi storici in onore di V a e t h , A., /. A. Schall von Bell, Colônia 1933.
G. Volpe, Florença 1958, I, pp. 543-555.
A t t w a t e r , R., Adam Schall. A Jesuit at the court of Chine, Londres 1963.
T a m b o r r a , A., Gli stati italiani, l'Europa e il problema turco dopo Le- D u n n e , G. H., Generation of Giants. The story of the Jesuits in China in
panto, Florença 1961. the last decades of the Ming dynasty, Notre Dame (Indiana) 1962. Con-
S t ö l 1er, F., Neue Quellen zur Geschichte des Tiirkenjahres 1683, em: Mit- f ronte-se :
teilungen des österreichischen Instituts für Geschichtsforschung 13 (1933), B i e r m a n n , B., Notizen zum Ritenstreit, em: ZMW 46 (1962), pp. 296-302.
pp. 1-138. Falta uma exposição total, moderna, sobre a Questão dos Ritos. Não
S t u r m i n g e r , W.. Bibliographie und Ikonographie der Türkenbelagerungen satisfaz a descrição de von Pastor. Confronte-se ZMW 21 (1931), pp. 162-
Wiens 1529 und 1683, Graz 1955. 168 a respeito de von Pastor XV.
Trabalhos avulsos:
P a p à s o g l i , G., Innocenzo XI (1611-89) Sommo Pontefice dal 1676 al 1689,
B i e r m a n n, B., Die Anfänge der neueren Dominikanermission in China,
Roma 1956. i Münster 1927.
T r i v e l l i n i, A. M., // cardinale Francesco Buonvisi, Nunzio a Vienna (1675- B e r n a r d - M a î t r e , H., Chinois (Rites), em: DHGE 12 (1933), pp. 731-742.
1689), Florença 1958. B e 11 r a y, J., Die Akkommodationsmethode des P. Matteo Ricci S. J. in China,
H e y r e t , M., P. Markus von Aviano, O.M.Cap., Apostolischer Missionar und Roma 1955.
päpstlicher Legat beim christlichen Heer, Munique 1931. B o n t i n c k, F., La lutte autour de la liturgie chinoise aux XVII e
et XVIII
e

T a p i e , V. L., Europe et chrétienté. Idée chrétienne et gloire dynastique dans siècles, Lovaina-Paris 1962.
la politique européenne au moment du siège de Vienne 1683, em: Grego-
rianum 42 (1961), pp. 268-289.
Sobre o Príncipe Eugênio e as expedições para libertação de Viena: 5. As "Doctrinas" no Paraguai
B r a u b a c h , M., Prinz Eugen von Savoyen. Eine Biographie, 3 vols. Munique
1963-64. H ö f f n e r, veja-se supra capítulo I, n. 5.
F a s s b i n d e r , M., Der "Jesuitenstaat" in Paraguay. Heidelberga 1926.
2. Novo surto missionário: Francisco Xavier Q u e l l e , 0., Das Problem des Jesuitenstaates Paraguay, em : Ibero-Amerika-
nisches Archiv 8 (1934/35), pp. 260-282.
S i l v a R ê g o , A. de, Documentação para a história das Missões do Padroado M ö r n e r, M., The political and economic activities of the Jesuits in the La
Plata region, Estocolmo 1953.
Português do Oriente, índia, 12 vols., Lisboa 1947-1958. F u r l a n g , G., Misiones y sus pueblos de Guaraníes, Buenos Aires 1962.
S c h u r h a m m e r , G., Die zeitgenössischen Quellen zur Geschichte Portugiesisch O t r u b a, G., Der Jesuitenstaat in Paraguay. Idee und Wirklichkeit, Viena
Asiens und seiner Nachbarländer zur Zeit des hl. Franz Xaver 1538-1552, 1962.
Roma 1962.
— Franz Xaver. Sein Leben und seine Zeit, Friburgo em Brisg. 1955ss (Bio- 6. Primordios da Congregação da Propagação de Fé
grafia completa, com o vol., II, I, 1963, continuado até 1547).
S c h u r h a m m e r, G., W i c k i, J., Epistolae S. Francisa Xaverii, 2 vols., P i e p e r , K., Die Propaganda. Ihre Entstehung und religiöse Bedeutung,
Roma. Tradução parcial alemã de E. Gräfin Vitzhum: Die Briefe des Fran- Aquisgrano (Aix-la-Chapelle) 1962.
cisco de Xavier 1542-1552, Munique '1950. B e c k m a n n , J., La Congrégation de la Propagation de la Foi face à la
B r o d r i c k , G., Saint Francis Xaver, Londres 1952. Tradução alemã de O. politique internationale, Schöneck-Beckenried 1963.
Simmel, Abenteurer Gottes, Leben und Fahrten des hl. Franz Xaver 1506- Acta S. C. de Propaganda Fide Germaniam spectantia (1622-49), edição de
1552, Estugarda 1954. H. Tuechle, Paderborna 1962.
434 Anexos
Bibliografia 435
G h e s q u i è r e , T h., Mathieu de Castro, premier Vicaire Apostolique aux Indes,
10. Revolução Britânica de 1688
Lovaina 1937. Confronte-se :
K o w a 1 s k y N., Zur Entwicklungsgeschichte der Apostolischen Vikare, em : C l a r k , G. N., The later Stuarts 1660-1744, Londres =1955.
NZMW 13 (1957), pp. 271-286. O g g , D., England in the reign of Charles II, 2 vols., Londres 1955.
2

— England in the reign of James II and William III, Londres 1955.


7. Missionários franceses no Canadá, no Oriente Próximo O u d e n d i j k, J. K., Willem III, Stadhouder van Holland, Koning van England,
e no Extremo Oriente Amsterdão 1954.
B e r t e l o o t , J., La revolution anglaise de 1688, em: Rev.Hist.Eccl. 48 (1953),
V a um as, G. de, L'éveil missionnaire de la France au XVII siècle, Paris 1942.
e
pp. 122-140.
M a y n a r d , Th., The story of American Catholicism, 2 vols., Londres 1961. M a t h e w s , D., Oliver of Armagh, Dublim 1961.
C r on in, K., Cross in the wilderness, Vancouver 1960 (Missão do Canadá). H e m p h i l l , B., The early vicars apostolic of England 1685-1750, Londres 1954.
S t e c k , F. B., Marquette Legends, Nova York 1960. Confronte-se Rev.Hist.Eccl.
56 (1961), pp. 561-563.
C h a p p o u 1 i e, H., Aux origines d'une église. Rome et les missions d'Indochine 11. Roma barrôca e os artistas
au XVII siècle, 2 vols., Paris 1943-1948.
e

B a u d i m e n t, L., François Pallu, principal fondateur de la Société des Mis- S c h ü l l e r - P i r o l i , 2000 Jahre Sankt Peter. Die Welkirche von den An-
sions Etrangères, Paris 1934. fängen bis zur Gegenwart, OIten 1950.
G o y a u , G., Les Missions Etrangères de Paris, Paris 1960. W ö l f f l i n , H., Renaissance und Barock in Italien, Munique '1926.
R a y e z , A., Marie de l'Incarnation et le climat spirituel de la Nouvelle- W e i n g ä r t n e r , J., Römische Barockkirchen, Munique 1931.
France, em: Revue d'Histoire de l'Amérique française 16 (1962/63), pp. 3-36. B o u r k e , J., Baroque churches of Central Europe, Londres 1961.
2

B e y e r , H. W., Die Religion Michelangelos, Bona-Berlim 1926.


V e r s c h a e v e , C , Rubens, Friburgo em Brisgôvia 1938.
8. Questão dos Ritos L e h m a n n , R., Rubens und seine Zeit. Ein Zeitgemälde des Barock, Estu-
garda 1954.
Veja-se supra n. 4. Complete-se corn:
M e n s a e r t, G., L'établissement de la hiérarchie catholique en Chine de
1648-1721, em: Archivum Franciscanum Historicum 46 (1953), pp. 369-416. 12. Ciencias teológicas
R o u l e a u , F. A., Maillard de Tournon. Papal Légat at the Court of Pekintr,
em: AHSI 31 (1962), pp. 264-323. 13. Bolandistas e Maurinos
G r a b m a n n , M., Die Geschichte der katholischen Theologie seit dem Ausgang
der Väterzeit, Friburgo em Brisg. 1933.
9. Conversões na Europa
A r n o l d , F. X., Die Staatslehre Kardinal Bellarmins, Munique 1934.
R a e s s , A., Die Konvertiten seit der Reformation, 13 vols., com registro, Fri- B r o d r i c k , J., St. Robert Bellarmine, saint and scholar, Londres 1961.
burgo em Brisg. 1866-1880. M e r l , O., Theologia Salmanticensis, Ratisbona 1947.
B r o m , G., Vondels gcloof, Amsterdão 1935. T r u y o l - S e r r a , A., Die Grundsätze des Staats = und Völkerrechts bei Fr.
M e l l e s , J., Joost van den Vondel, Utreque 1957. de Vitoria, Zurique 1947.
E l l i n g e r , G., Angelus Silesius. Ein Lebensbild, Breslau 1927. P o l m an, P., L'élément historique dans la controverse religieuse du XVI e

Nicolai Stenonis epistolae et epistolae ad cum datae, edição de G. Scherz, Co- siècle, Gembloux 1932.
penhague-Friburgo em Brisg. 1952. W a l z , A., Baronio "Pater annalium ecclesiasticorum", em : A Cesare Baronio,
B i e r b a u m, M., Niets Stensen. Von der Anatomie zur Theologie, Münster Sora 1963, pp. 259-287.
1959. D e l eh a y e , H., L'oeuvre des Bollandistes, Bruxelas 1961.
K r a t z , W., Landgraf Ernst von Hessen-Rheinfels und die deutschen Jesuiten. M a r t è n e , E. ( f 1739), Histoire de la Congrégation de St.-Maur, publicada
Ein Beitrag zur Konvertitengeschichte des 17. Jahrhunderts, Friburgo em por G. Charvin, 10 vols., Paris-Ligugé 1928-1954.
Brisg. 1914.
L e c l e r q , H., Mabillon, 2 vols., Paris 1953-1957.
R a a b , IL, Der "Discrete Cafholische" des Landgrafen Ernst von Hessen-
Rheinfels (1623-1693). Ein Beitrag zur Geschichte der Reunionsbemühungen K n o w l e s , D., Jean Mabillon, em: Journal of Ecclesiastical History 10 (1959),
und des Toleranzbestrebungen im 17. Jahrhundert, em: Archiv für Mittelrhei- pp. 153-173.
nische Kirchengeschichte 12 (1960), pp. 175-198. B r o g 1 i e, E. de, Bernard de Montfaucon et les Bernardins, 2 vols., Paris
H a a k e, P., August der Starke im Urteil seiner Zeit und der Nachwelt, Ber- 1891.
lim 1927.
S a f t , P. F., Der Neuaufbau der katholischen Kirche in Sachsen im 18. 14. Igreja e ciencias notarais
Jahrhundert, Lipsia 1961.
T ü c h I e, H., Die Kirchenpolitik des Herzogs Karl Alexander von Württemberg S c h m a u c h , H., Kopernikus, Kitzingen 1953.
(1733-1737), Virceburgo 1937. C a s p a r , M., Johannes Kepler, Estugarda '1958.
F r a z e n, A., Adrian und Peter von Walenburch, zwei Vorkämpfer für die F r e i e s l e b e n , H.-C, Galileo Galilei. Physik unsd Glaube an der Wende
Wiedervereinigung im Glauben im 17. Jahrhundert, em: Zur Geschichte und zur Neuzeit, Estugarda 1956.
Kunst im Erzbistum Köln. Festschrift W. Neuss, Düsseldorf 1960, pp. 137-163. S a n t i l l a n a , G. de, The crime of Galileo, Londres 1958 (näo isento de
S t o l p e , S., Königin Christine von Schweden. Tradução do sueco por A.
von Sterneck, Francoforte 1962. parcialidade).
D e s s a u e r , F., Der Fall Galilei und wir, Francoforte '1957.
436 Anexos
Bibtiografia 437
15. Ribalta Jesuítica: Balde e Calderon
L a t r e i 11 e. A., Innocent XI pape "janséniste", directeur de conscience de
M ü l l e r , J., Das Jesuitendrama in den Ländern deutscher Zunge, 2 vols., Louis XIV, em: Cahiers d'histoire I (1956), pp. 9-39.
Augsburgo 1930. G u i t t o n , G., Le Père de La Chaise confesseur de Louis XIV, 2 vols., Pa-
M c C a b e , W. H., The early Jesuit theatre in England, Cambridge 1929. ris 1959.
B o o g a r d , L. v a n d e n , Het jezuitendrama in de Nederlanden, Gróninga B l e t , P., Le clergé de la France et la monarchie, 2 vols., Roma i960.
1961. M a r t i m o r t , A.-M., Le Gallicanisme de Bossuet, Paris 1953.
C o n r a d y, K. O., Lateinische Dichtungstradition und deutsche Lyrik des 17. T r u c h e t , J., La prédication de Bossuet, 2 vols., Paris 1960.
G o y e t , Th., L'Humanisme de Bossuet, Paris 1965.
Jahrhunderts, Bona 1962.
B a c h , J., Jakob Balde, Estransburgo 1904.
F r i e d r i c h , H., Der fremde Calderón, Friburgo em Brisgóvia 1955.
F r u t o s , E., La filosofia de Calderon en sus Autos sacramentales, Sara- 5. Controvérsia em tôrno da piedade ideal. Bossuet e Fénelon
goça 1952.
S h e r g o 1 d, N. D., V a r e y, J. E., Los autos sacramentales en Madrid en D u b o i s - Q u i n a r d , M., Laurent de Paris. Une doctrine du pur amour en
la época de Calderón, 1637-1681, Madrid 1961. France au début du X V I I siècle, Roma 1959. e

A u b r u n , Ch.-V., La Comedie Espagnole, Paris 1966. K n o x , R. A,, Enthusiasm. A chapter in the History of Religion, Londres
1950. Tradução alemã: Christliches Schwärmertum, Colônia-Olten 1957.
B r e m o n d, H., La Querelle du pur amour au temps de Louis XIV, Antoine
16. Piedade e pregação barroca Sirmond et Jean-Pierre Camus, Paris 1932.
P e t r o c c h i , P., // quietismo italiano nel seicento, Roma 1958.
L o i d l , F., Menschen im Barock. Abraham a S. Clara über das religiös-sittliche V a r i l l o n , F., Fénelon et le pur amour, Paris 1957.
Leben in Österreich 1670-1710, Viena 1939. C o g n e t, L., Crépuscule des mystiques. Le conflit Fénelon-Bossuet, Tournai-
C o r e th, A., Pietas Austríaca. Ursprung und Entwicklung barocker Fröm- Paris 1958.
migkeit in Österreich, Munique 1959. D u p r i e z, B., Fénelon et la Bible. Les origines du mysticisme fénelonien,
Paris 1961.
B ö m i n g h a u s, E., Geschichte der Marienverehrung seit dem Tridentinum,
em: P. S t r a t er, Katholische Marienkunde, Paderborna "1952, I, pp.
317-375. 6. Segunda fase do conflito com o jansenismo
S t e g m ü 11 e r, O., e outros, Barock, em: Lexikon der Marienkunde 1, colu- T h o m a s , J. F., La querelle de l'Unigenitus, Paris 1950.
na 566-602.
L a c o m b e, B. de, La résistance janséniste et parlamentaire aux temps de
M a r z o t , G., Un clássico delia controriforma. Paolo Segneri, Palermo 1950. Louis XV, Paris 1948.
D e i n h a r d t , W., Der Jansenismus in deutschen Landen, Munique 1929.
C a r r e y re, J. Le jansénisme durant da Régence, 3 vols., Lovaina 1929-1933.
VIII. GERMES DE SECULARIZAÇAO: REALISMO ABSOLUTO T a n s , J. A. G., Pasquier Quesnel et les Pays-Bas. Correspondance publiée,
E NOVA FILOSOFIA
Gróninga-Paris 1960.
P o 1 m a n, P., Romeinse bronnen voor de kerkelijke toestand der Nederlanden
1. Declínio das potências mundiais católicas onder de apostolische Vicarissen ¡592-1727, IV (1706-1727), Haia 1955.
2. O ponto fraco dos Estados Pontifícios

I m m i c l i , M., Geschichte des europäischen Staatensystems von 1660-1789, Mu- 7. Nôvo pensar. Renato Descartes
nique 1905. 8. Deísmo inglés
Wagner, F., Europa im Zeitalter des Absolutismus 1648-1789, Munique
"1959. M e y er, H., Abendländische Weltanschauung, IV, Paderborna-Virceburgo 1950.
R e y n o l d , G. de, Synthese du XVII o
siede. France classique. Europe ba- H a z a r d , P., La crise de la conscience européenne (1680-17¡5) 3 vols., Pa-
roque, Paris 1962. VLX 35- Traduçâo alemä de H. Wegener, Die Krise des europäischen Geistes
9

M e i n e c k e, F., Die Idee der Staalsraison in der neueren Geschichte, edição 1680-17¡5, Hamburgo 1939.
de W. Hofer, Munique 1957. W
| t
e
" . R- S., Science and religion in 17th Century England, New Häven
f a

1958.
N i c h o l s , J. H., History of Christianity, ¡650-1950: Secularization of the West,
Nova York 1956. S t e i n m a n n , J., Richard Simon, cet inconnu, Paris 1960.
G r a g g , G. R„ The Church and the age of reason 1648-1789, Londres I960. C h e v a l i e r , J., Descartes, Paris '1949.
G e n s i c h e n , H. W., Missionsgeschichte der neueren Zeit, Gótinga 1961. G o u h i e r , H., La pensée religieuse de Descartes, Paris 1924.
— La pensée métaphysique de Descartes, Paris 1962.
S o r t a i s , G., Le Cartésianisme chez tes Jésuites français, Paris 1929.
3. Papado e absolutismo gaulés D u n i n - B o r k o w s k i , St. v o n , Spinoza, 4 vols., Münster 1933-1936.
4. O galicanismo ï\££\ J?A ;>
H n
ictus de Spinoza. 300 Jahre Ewigkeit. Spinoza Festschrift
S Bened

1632-1932, Haia '1962.


G a x o t t e , P., La France de Louis XIV, Paris 1959. A
1962 r S
° '
n F
' H
"' F r a n c i s B a c o n
- H i s
career and his thought, Los Angeles
C a r s t e n , F. L., The Ascendancy of France, Cambridge 1961.
M a r t i n , V., Les origines du Gallicanisme, 2 vols., Paris 1938-1939. A a r o n , R. J., John Locke, Londres '1955.
O r c i b a l , J., Louis XIV contre Innocent XI. Les appels au futur concile de
1688, Paris 1949.
438 Anexos
Bibliografia 439
9. Sociedade barroca
10. Problemas sociais. Caridade Pierre Moghila, métropolite de Kiew (1633-1646), approuvée par les patriar-
ches grecs de XVII e
siècle; texte latin inédit (Orientalia Christiana vol. X ) ,
Roma-Paris 1927.
S c h n ü r e r , veja-se supra capítulo VII.
H ö f f n e r, veja-se supra capítulo I, n. 5. Para a história e os bastidores intelectuais do monaquismo na Igreja Or-
K r a u s e n , E., Die Herkunft der bayerischen Prälaten des 17. und 18. Jahrhun- todoxa, vejam-se os artigos da coletânea Le millénaire du Mont Alhos 963-
derts, em: Festschrift fuer Karl Alexander von Müller, Munique 1964, pp. 1963, edição de Ed. de Chevetogne. O primeiro volume apareceu em 1963,
259-284. Confronte-se também Analecta S. Ordinis Cisterciensis 20 (1964), com copiosa bibliografia e documentação.
pp. 76-84.
M ö r s d o r f , J., Gestaltwandet des Frauenbildes und Frauenberufs in der
X. AS IGREJAS DE RITO BIZANTINO ENTRE OS ESLAVOS DO ORIENTE
Neuzeit, Munique 1958.
por C. A. Bouman
G r i s a r, I., Die ersten Anklagen in Rom gegen das Institut Maria Wards
(1622), Roma 1959. Podemos encontrar breves condensações da matéria na bibliografia ci-
W e s e m a n n , P., Die Anfänge des Amtes der Generaloberin, Munique 1954. tada pelo capítulo IX da presente obra: "As Igrejas Calcedônias no Império
Otomano".
IX. AS IGREJAS CALCEDONIAS NO IMPÉRIO OTOMANO Mais recentes são as obras:
por C. A. Bouman Oriente Cattolico: Cenni storici e statistische, Città de Vaticano, 1962.
W i l h e l m d e V r i e s : Rom und die Patriarchate des Ostens (Orbis Acade-
Um conspecto geral da história das "Igrejas Calcedonias", com dados bi- micus III 4 ) , Friburgo em Brisgóvia 1963. Ver nesta última obra, nas pá-
bliográficos até 1961, encontra-se nas respectivas secções de Oriente Cattolico, ginas 192-210, breve exposição da atitude de Roma, durante esse período,
Cenni storici e statistische, Città del Vaticani 1962, edição da S. Congrega- para com os Ortodoxos e os Uniatas.
ção das Igrejas Orientais. A história da Igreja nos territórios eslavos do Oriente foi tratada por:
Conserva, ainda, sua importancia a minuciosa exposição dos fatos, em: A l b e r t M. A m m a n n , Abriss der ostslawischen Kirchengeschichte, Viena
C. G a t t i e C i r . K o r o l e v s k i j , / riti e le chiese orientan, vol. I: // rito 1950. Ver nas páginas 137-388 o período aqui tratado. Texto escrito antes
bizantino e le chiese bizantine, Génova-Samperdarena 1942, com amplos da- de 1942, acrescido de fontes e de estudos pormenorizados.
dos bibliográficos e resenha dos documentos eclesiásticos mais importantes. Dados referentes à Igreja entre os Eslavos do Oriente são expendidos
A respeito das opiniões, até há pouco dominantes na Igreja Greco-Orto- breve, mas corretamente, em:
doxa, sobre a historia das "Igrejas Calcedonias", veja-se, por exemplo: A. K o n r a d O n a s c h , Einführung in die Konfessionskunde der orthodoxen
D i o m e d e s K y r i a k o s , Geschichte der orientalischen Kirchen von 1453 bis Kirchen, Sammlung Gòschen, vol. 1197-1197a, Berlim 1962. Esses dados cha-
1898, tradução alemã de E. Rausch, Lípsia 1902. mam a atenção para o desenvolvimento da teologia, em geral, e do direito
Exposição muito mais indulgente para com a Igreja Católica, sob o pon- canónico.
to de vista russo, veja-se, por exemplo, em: N i c. Z e r n o w , Eastern Christen- Sobre autores, tanto ortodoxos como católicos, de obras polêmicas ou
dom: A Study of the Origin and Development of the Eastern Orthodox Church dogmáticas, consultar também, para este período da história das Igrejas do
(Coleção: History of Religión), Londres 1961. Oriente:
Fundamental para a história da Igreja Ortodoxa no reino da Grécia con- M. J u g i e , Theologia dogmática christianorum orientalium... tom. I, Paris
tinua a ser: M a x , H e r z o g zu S a c h s e n , Das christliche Helias, Lípsia 1926.
1918.
No período aqui tratado, a história da Igreja entre os Eslavos do Orien-
A respeito dos Patriarcados Melquitas, durante o período aqui estudado, te está intimamente mesclada com as relações políticas, por vezes instá-
leia-se o extenso e ponderado "exposé" de J o s . H a j j a r, Les chrétiens veis, entre os Eslavos da Europa Central (Polònia-Lituânia, outros pequenos
uniates du Proche-Orient, 1902.
Estados limítrofes) e a Moscóvia, e também com a situação social ali domi-
Na obra Le schisme byzantin, Aperçu historique et doctrinal, Paris 1941, nante. Por muito tempo, os manuais de História Geral negligenciaram as in-
M. J u g i e desenvolveu, há tempos, suas opiniões acerca dos conflitos entre fluências que se faziam sentir sobre a história da Europa Ocidental. Para
a Igreja Católica e a cristandade ortodoxa.
obter todas as dimensões dessas influências na História da Europa, consultar:
Uma exposição sinótica das conclusões obtidas recentemente encontra-se O s c a r H a l e c k i , The Limits and Divisions of European History, Nova
em: W i l h . D e V r i e s , Rom und die Patriarchate des Ostens (Orbis aca- York 1950, obra de particular interesse, porque o autor inclui em seu es-
demicus III 4 ) , Friburgo-Munique 1963.
tudo os fenômenos mais importantes das Igrejas Bizantinas.
De outra natureza é a obra do teólogo luterano E r n s t B e n z , Die Livro fundamental sobre a história geral do mundo eslavo:
Ostkirche im Lichte der protestantischen Geschichtsschreibung von der Refor- F r a n c i s D v o r n i k , The Slavs in European History and Civilization, Nova
mation bis zur Gegenwart (Orbis academicus III 1), Friburgo-Munique 1952. Jersey 1962.
Nela o autor desenvolve as diversas fases entre a Igreja Ortodoxa e as Igre-
jas da Reforma, citando textos de autores protestantes de vários períodos, Sobre o Metropolitado de Quieve:
com introdução e anotações. Certo número de documentos relativos à história do Metropolitado Cató-
Outros pormenores sobre autores orientais de obras relativas à dogmá- lico no século XVII foram publicados em Lemberga (Lwow), desde 1882, em:
tica polêmica e à espiritualidade, tanto do lado católico, como do lado não- M. H a r a s i e r w i c z , Annales Ecclesiae Ruthenae.
católico, encontram-se, além das obras de consulta, em M. J u g i e, Theologia O basiliano A t a n á s i o W e l y k y j começou, depois da Segunda Guerra
dogmática christianorum orientalium ab ecclesia catholica dissidentium, tom. Mundial, a publicação de importantes séries de documentos romanos, que se
1: Theologia dogmática Graeco-Russorum origo... Paris 1926. reportam à História da Igreja Católica nos territórios da Ucrânia e da Rús-
Para o periodo de Lucaris e os escritos simbólicos contra êle, são ain- sia Branca. Desde 1953, já se publicaram mais de 30 tomos em Roma. ^ A
da indispensáveis a monografia de introdução e os minuciosos comentários partir de 1952, o mesmo Sábio começou a publicação dos autos ["dossier"],
de A. M a 1 v y e M. V i 11 e r em sua edição de La Confession orthodoxe de conservados em Roma, sobre a beatificação de São Josafá. Em 1964, apareceu
440 Anexos Bibliografia 441

também em Roma a primeira parte da edição dos "Monumenta Ucrainae His- edição em Sampetersburgo, em 1847. Certas antologias literárias confundem,
tórica" (1075-1623). às vezes, o autor com seu contemporâneo [e homônio] Filareto Drozdow, me-
Não existe ainda estudo separado e circunstanciado sobre a personali- tropolita de Moscovo, autor do "Grande Catecismo Cristão da Igreja Ca-
dade e a atuação de Isidoro de Quieve. Um esboço geral da situação nos tólica Ortodoxa do Oriente", que conserva ainda hoje sua atualidade. A obra
territórios eslavos do Oriente, e algumas notícias esparsas sobre a personali- do arcebispo [Filareto Gumilewsky] foi traduzida para o alemão pelo Dr.
dade de Isidoro, ver em: Blumenthal, Geschichte der Kirche Russlands, 2 vols., Francoforte-no-Meno,
J. G i l l , The Council of Florence, Cambrígia (Cambridge) 1959. Londres e Paris 1872, com supressão das minuciosas citações e dos documen-
Todos os dados conhecidos até hoje foram averiguados e coligidos por: tos que constavam no texto original.
H. J a c o b s , Isidoros van Kijew, haanbreker van de hereniging, em Het Christe- Estudos sobre o tema "Moscovo, a terceira Roma", que se conservam ainda
lijke Oosten en Hereniging 16 (1963-1964), pp. 89-113. atuais, são as seguintes:
A União de Bresta e sua pré-história [seus precedentes] são tratadas por: H i l d e g a r d S c h a e d e r , Moskau, das dritte Rom. Studien zur Geschichte
O. H a 1 e c k i, From Florence to Brest, em S. Poloniae Millenium, Roma 1958. der politischen Theorien in der slawischen Welt (Osteurop. Studien I ) ,
Sobre um dos episódios da União: Hamburgo 1921, 2" edição, Darmestádio (Darmstadt) 1957, com acréscimo
A. M. A m m a n n, Der Aufenthalt der ruthenischen Bischoefe Hypatius Pociej de bibliografia recente e de uma tradução de três cartas de F i l ó t e o d e
und Cyrillus Terlecki in Rom in Dez. und Jan. 1595-1596, em Or. Chr. P s k o v , datadas de 1524, que faziam referência ao tema: "Moscovo, a
Period. II (1945), pp. 103-140. terceira Roma".
Sobre a história do Metropolitado Católico no século X V I I : W i l l i a m K. M e d 1 i n, Moscow and East Rome. A Politicai Study of the
Z a c h a r i a s d e H a r l e m , O.F.M.Cap., Unio Ruthenorum a morte Sigismundi Relations of Church and State in Moscovite Rússia, Genebra 1952.
III, usque ad coronationem Ladislai IV, 1632-1633, Tartu 1936. Sobre a espiritualidade russa neste período, principalmente sobre a con-
J. P r a s z k o , De ecclesia ruthena catholica sede metropolitana vacante 1655- trovérsia a respeito da vida monástica no século XVI, ver os capítulos cor-
1665, Roma 1944. O autor versa a matéria a fundo, em todos os seus as- respondentes em:
pectos, e com objetividade. Escreveu, assim, uma história dos setenta pri- I. S c h m o I i t z, Russisches Mönchtum. Entstehung, Entwicklung und Wesen,
meiros anos do Metropolitado Católico: as diversas fases das relações entre 988-1917, Das östliche Christentum, Neue Folge, Heft 10-11, Virceburgo
o Governo e os Ortodoxos, a situação das dioceses separadas dos Uniatas (Würzburg) 1953.
e a respectiva atuação dos bispos, a organização e o desenvolvimento da
Ordem dos Basilianos, os vários contactos ecumênicos com hierarquias orto- Histoire de la spiritualiié chrétienne, vol. 3.
doxas e com teólogos, o problema da latinização, e sua análise, continuada, L. B o u y e r, La spiritualitè orthodoxe et la spiritualité protestante et angli-
até uma época muito ulterior à vacância da sede, com apoio em documentos. cane, Paris 1965 (pp. 32-46 sobre Nilo de Sora, José de Volokolamsk, e
Sobre a "latinização" dos Livros Litúrgicos, usados entre os "velhos o conflito sobre os bens dos mosteiros).
Uniatas": S. B o l s h a k o ff, / mistici russi, (Storia e Scienza delle religioni), Turim
1962. Compreende um estudo completo sobre a personalidade e a doutrina
J o s . B o c i an, De modificationibus in textu slavico liturgiae S. loannis de Nilo de Sora.
Chrysostomi apud Ruthenos subintroductos, em Chrysostomika, Roma 1908, F. v o n L i 1 i e n f e 1 d, Nil Sorsky und seine Schriften, die Krise der Tra-
pp.929-969. dition im Russland Ivans III (Quellen und Unterschungen zur Konfessionskun-
A. R a e s , Estudos sobre o "Ritual Ruteno depois da União de Bresta, e sobre de der Orthodoxie), Berlim 1963.
o "Liturgicon Ruthenorum", em Or. Chr. Period. resp. I (1935), pp. 361- G. P. F e d o t o v , A Treasury of Russian Spirituality, Londres 1950, pp.
392, e 8 (1942), pp. 95-143. 83-133, onde se encontram extensas citações, tiradas dos escritos de Nilo
Sem indicação de autor: Unions en Russie sub-carthique et en Transylvanie. de Sora.
M i c h a e l L a c k o : Die Union von Uzhorod (1946), em: Th. S p i d I i k, Joseph de Volokolamsk, un chapitre de spiritualité russe (Or.
D e V r i e s , Rom und die Patriarchate des Ostens, pp. 114-131, onde o autor chr. anal. 146), Roma 1956.
reúne suas publicações anteriores sobre a matéria. Na mesma obra, pp. E. D e n i s s o f f , Maxime le Grec et l'Occident, Paris-Lovaina 1943.
132-180, cap. V I I : Die Union der Rumänen (1697-1701), com um apêndice. A obra mais recente sobre a permanência de Possevino na Corte de Ivã
Encerra, por extenso ou em resumo, os mais interessantes documentos so- IV é o estudo:
bre este conturbado período. P o l c i n , Une tentative d'union au XVl siècle: La Mission religieuse du Père
e

Sobre a Igreja de Moscovo, em particular: Antoine Possevino S. J. en Moscovie (1581-1582), Roma 1957.
P. P i e r l i n g , La Russie et te Saint-Siège, Paris 1896-1907 (tom. I-IV para Sobre o patriarca Nicão e o Rascol:
o período que estudamos). Para redigir esta obra, que se tornou clássica, W. P a l m e r , The Patriarch and the Tsar, 6 vols., Londres 1871-1876, com
e na qual fala amiúde da situação interna da Igreja de Moscóvia e das diversas informações de contemporâneos sobre a vida religiosa em Moscó-
relações com o Ocidente, numa exposição muito minuciosa, o autor pes- via, e com documentos atinentes a Nicão e à Dissidência [Rascol], que
quisou nos Arquivos de Roma, e valeu-se de várias fontes já publicadas ainda não foram publicados em russo.
na Rússia. Existe uma tradução francesa da autobiografia' do arcipreste Awakum:
Para uma enumeração mais completa das publicações de informações russas P. P a s c a l , La Vie de Varchiprêtre Avvakoum êcrite par lui-même, Paris
com os estudos pertinentes, consultar A m m a n n, Abriss, que em mais de 1939.
um ponto de vista completou os trabalhos de Pierling. Consultar também:
Nas publicações já citadas de W e l y k y j , encontram-se documentações P. P a s c a l , Avvakoum et les debuts du Raskol: Ia crise religieuse au X V I I 6

até então desconhecidas, que se referem diretamente à História da Igreja siècle en Russie, Paris 1939. Reedição: (Etudes sur 1'histoire, 1'économie
Russa. et la sociologie des pays slaves, 8 ) , Paris-Haia 1963.
A posição violentamente antilatina que, desde o início do século XVII, se P. H a u p t m a n n , Altrussischer Glaube, Gótinga (Göttingen) 1963.
difundira e implantara entre os ortodoxos russos durante várias décadas, pode Estudo alentado, mais recente sobre a História da Igreja, ao tempo de
ser conhecida, em todas as particularidades, graças a uma tradução, muito Pedro o Grande:
lida na época, da História da Igreja na Rússia da autoria do arcebispo I. S c h m o l i t z , Geschichte der russischen Kirche, 1700-1917, \" vol. (Studien
Filareto Gumilewsky, reimpressa várias vezes na Rússia, depois da primeira zur Geschichte Osteuropas I X ) . Leída (Leyde) 1964.
Nova História III — 29
Anotaçõcs 443

tismo e contraiu matrimónio, representam casos excepcionais ( L e s t o c q u o y ,


J. Les èvêques français ou milieu du XVI siècle: Revue de 1'histoire de 1'église
C

en France 45 [1959], pp. 25-40).


• J e d i n , H., Geschichte des Konzils von Trient, Friburgo 1957, II, p. 280.
' T ü c h l e , H., Kirchengeschichte Schwabens, Estugarda 1954, II, pp. 339,
ANOTAÇÕES 346.
* T o u s s a e r t, J., Le sentiment religieux en Flandre à la fin du moyen
Nolas do tradutor: äge, Paris 1963, p. 576.
' H u g h e s II, p. 138.
"Congratulo-me com a vossa Espanha que assim recupera o antigo pres- " J e d i n II, p. 270.
tígio de erudição" (p. 8 ) . " Acta Capitulorum Generalium O. P., IV (1501-1650), edição de M.
A 1* tradução feita no Brasil, com notas criticas, é do P. Waldomiro " Burcardo Zink, segundo S c h a i r e r , I., Das religiöse Volksleben am
Pires Martins, Editora Vozes, Petrópolis, 2' edição, 1962 (p. 161). Ausgang des Mittelalters nach Augsburger Quellen, Lipsia-Berlim 1914, p. 136.
Localização por parte do Autor, que escreve da Alemanha (p. 176).
13
Interessante é a numeração em H u g h e s I, P- 99.
Esse é o título nas traduções da "Introdução à vida devota". Francisco " Breves de dispensa, de Leão X, aos 26 de junho de 1517 ( A l l e n II,
de Sales chama de "Filotéia" (amiga de Deus) a alma, a quem êle se dirige nn. 517, 578, e mais a introdução para o n. 447). O segundo breve conti-
no livro (p. 212). nha ao mesmo tempo uma absolvição, concedida posteriormente, para a posse
indevida de benefícios (S c h ä 11 i, K., Erasmus von Rotterdam und die römische
Assim chamado, porque na época o cardeal-secretário para assuntos po- Kurie, Basiléia e Estugarda 1954, p. 57).
líticos era geralmente sobrinho (nepote) do Papa. (Cf. LThK V, col. 1349
(p. 222). " "Monachatus non est pietas, sed vitae genus, pro suo cuique corporis
Forma mais livre de cenóbios na Igreja Oriental que permitia aos mon- ingeniique habitu vel utile vel inutile" (Desiderii Erasmi Roterodami opera
ges seguirem sua profissão (vocação) individual, a par do culto divino co- omnia, Lugduni Batavorum 1703-1706, V, p. 65 C ) .
munitário (p. 336).
10
Obra cit., IV, p. 484 D.
Por motivos que diz de ordem prática, a edição alemã transfere o pre- " "Doctos esse vix paucis contingit, et nulli non licet esse Christianum,
sente capitulo para o volume IV. A Editora Vozes prefere, contudo, não se- nulli non licet esse pium, addam audacter illud: nulli licet esse theologum"
pará-lo, por causa da conexão de matéria. Extraímos o texto da edição fran- (H o I b o r n, H., e A., Des Erasmus Roterdamensis Ausgewählte Werke, Mu-
nique 1933, pp. 144ss).
cesa, Editions Seuil, Paris, pp. 470-526, com a respectiva bibliografia, pp.
537-538, e as anotações de rodapé, pp. 577-580. Algumas obscuridades são " A l l e n IV, n. 1114; cf. também "Meae literae nulli factioni servierunt
do próprio original francês (p. 350). unquam, quam Christi, qui communis est omnium" (10 de maio de 1521: Opera
omnia, III, I, p. 643).
" O b r a cit, p. 1257F-1258A (Hyperaspistes).
I. A ESPANHA E SEU RUMO PARA A IGREJA UNIVERSAL " A doença impediu-lhe a planejada viagem a Borgonha. Em sua úl-
tima carta, ainda, manifestou o desejo de sair de Basiléia, porque "em vista
' 2 de setembro de 1527: A l l e n VII, p. 169. da doutrina divergente preferiria terminar minha vida noutra parte" ( A l l e n
3
A propósito das bulas de Alexandre VI, ultimamente W i t t e , C h. M. de, XI, n. 3130). Cf. R e e d i j k , C, Das Lebensende des Erasmus: Basler Zei-
Les buttes pontificales et 1'expansion portugalse au XV C
siècle: Rev.Hist.eccI. tschrift für Geschichte und Altertumskunde 57 (1958), pp. 23-66.
53 (1958), pp. 443-447.
3
Comentário de II/II em H ö f f n e r, J., Christentum und Menschenwürde,
Tréveros 1947, pp. 47ss; G r o n e r , J. F., Kardinal Cajetan, Friburgo-Lovaina III. A REFORMA COMO OBRA PESSOAL DE LUTERO,
1951, pp. 29ss. E COMO DESTINO DA EUROPA
1
1521 ( W A 8, p. 573).
II. A CRISE NAS VÉSPERAS DA REFORMA PROTESTANTE 2
W A 56.
3
Em que data situar o "episódio da torre"? L o r t z (I. pp. 184ss), do
' K n o w l e s , D., The religious Orders in England, Cambridge 1948, I, mesmo modo que J o a c h i m s e n , em sua primeira formulação, colocá-lo-ia
p. 323. ao mais tardar em 1512; K. D. S c h m i d t passá-lo-ia para o outono de
3
No altar da Santa Reserva, doado por êle, na Igreja da Anunciação 1514. M e s s i n g e r (p. 219) acha não ser possível datá-lo pelos manuscri-
de Florença, um Medici mandou colocar os dizeres: Costi fior. 4 mila el marmo tos de preleções; seria um processo paulatino, cujo resultado só terminou em
solo (só o mármore custou 4000 florins). Cf. J a c o b , F., Ifalian Renaissance 1519. H. B o r n k a m m descreve vestígios dele já no Comentário dos Salmos
Studies, Londres 1960, p. 299. de 1514 (Archiv für Reformationsgeschichte 53 [1962], pp. 1-59). P f e i f e r
3
Números aproximativos de comparação, por volta de 1500: Vitember- G. (Das Ringen des jungen Luther um die Gerechtigkeit Gottes: Luther-Jahr-
ga 2.000 a 3.000 hab., Colônia 350.000 hab., Londres 50.000 a 100.000 ha- buch 26 [1959], pp. 25-55) pensa encontrar o impulso decisivo no pavor cau-
bitantes. sado pelo salmo 30,2, durante a recitação do ofício coral. A data que Lutero
4
S t e n z e I, K., Die Strassburger Chronik des elsässischen Humanisten marca para 1520 é positivamente errada. B i z e r , E. (Fides ex auditu. Eine
Hieronymus Gebwiler, Berlim-Lipsia 1926, pp. 56ss; P a p à s o g l i , G., Santa Untersuchung über die Entdeckung der Gerechtigkeit Gottes durch Martin Luther,
Teresa d'Avila, Roma 1952, tradução alemã de O. Schneider, Teresa von Avila, Neukirchen 1958, p. 150) admite o ano de 1518, e toma o episódio como sen-
Paderborna 1959, p. 282; H u g h e s , Ph., The Reformation in England, I, Lon- do o ato de conhecer o caráter sacramental da palavra.
dres 1950, p. 83; T i l l i o t , M., The City of York, Londres 1961, p. 346. * W A 54, pp. 185ss (em latim).
'Homens, porém, como Odet de Coligny que, nomeado aos 11 (17) anos * As teses da disputação de 4 de setembro de 1517 estão em: M e i s -
arcebispo de Tolosa, depois bispo de Beauvais e cardeal, passou ao protestan- s i n g e r , K. A.,Der katholische Luther, Munique 1952, pp. 122ss.
444 Anexos Anotações 445

* Nem por isso o historiador eclesiástico de hoje pode forrar-se de ale- Asmussen vê, nas asserções deste capítulo, fórmulas mal enunciadas. " A si-
gar as circunstâncias, ainda que penosas e vexatórias. tuação escapou das mãos dos chefes" (p. 215).
' A respeito da data, veja-se V o 1 z, H., Martin Luthers Thesenanschlag 33
"Dogma nullum habemus diversum ab ecclesia Romana... paratietiam
und seine Vorgeschichte, Veimar 1959. I s e r l o h , E., (Luthers Thesenanschlag. sumus obedire ecclesiae Romanae, modo ut ilia pro sua dementia... pauca
Tatsache oder Legende? Wiesbaden 1962) contesta o próprio fato do edital quaedam dissimulei aut relaxet... Romani pontificis autorítatem et universam
das teses. O debate ainda não terminou. Confronte-se: S t e i t z , H., Luthers politiam ecclesiasticam reverenter colimus... Hanc fidem praestabimus Christo
95 Thesen. Stationen eines Gelehrtenstreites: Archiv für hess. Geschichte und et Romanae ecclesiae ad extremum spirítum. Vel si nos in gratiam recipere,
Altertumskunde N. F. 28 (1963), pp. 179-191; e H o n s e i m a n n K., Die levis quaedam dissimilitudo rituum est, quae videtur impedire concordiam, sed
Veroeffentlichung der Ablassthesen Martin Luthers 1517: Theologie und Glaube ipsi cânones saepe fatentur concordiam ecclesiae in dissimulitudine rituum re-
55 (1965), pp. 1-23. tineri posse". Carta de Melanchthon a Campeggio, sem data, provavelmente
' WA, Correspondência (Briefwechsel I ) , pp. llOss. de 6 de julho: S c h i r r m a c h e r , F. W., Briefe und Akten zu der Geschichte
* Desta forma, o Cabido Diocesano de Virceburgo publicou a indulgên- des Religionsgespräches zu Marburg und des Reichstages zu Augsburg 153,
cia a favor da Igreja dos Dominicanos em Augsburgo. Confronte-se S i e m e r, Gota 1876, pp. 135ss.
P. M., Geschichte de Dominikanerklosters St. Magdalena in Augsburg (1225- " Veja-se por ultimo: B a g n a t o r i , G., Cartas inéditas de Alfonso de
1808) Vechta 1936, pp. 69ss. Valdês sobre la Dieta de Augsburgo: Bulletin Hispanique 57 (Bordéus 1955),
W A 1, pp. 281-314; 9, pp. 770-779; Briefwechsel I, pp. 175-177.
1 0
pp. 353-374. Na questão do casamento dos sacerdotes, Melanchthon cedeu a
" G r o n e r , J. F., Kardinal Cajetan, Friburgo-Lovaina 1951, p. 69, n. tal ponto, que ainda só propunha a legalização dos matrimônios já contraídos.
81 e p. 70, n. 91. 23
Corpus Reformatorum II, Halle 1834, pp. 373ss, segundo J e d i n H.,
" W A 6, pp. 285-324. Geschichte des Konzils von Tríent I, Friburgo 1949, p. 211.
" W A 6, pp. 407ss. " "The whole church not only is subject to Christ, for Christ's sake, to
W A 6, pp. 614-629.
1 4
Christ's only vicar, the pope of Rome" (Assertio, translated by Th. Webster,
" Aos 8 de março de 1521 ( K a l k o f f , P., Die Depeschen des Nuntius Londres 1924, p. 128).
Aleander vom Wormser Reichstag 1521, Halle 1897, n. 117). 40
C h a m b e r s , R. W., Thomas More, Londres 1935. Tradução alemã de
" L o h s e , B., Luthers Antwort in Worms: Luther 29 (Berlim 1958), pp. W. Rüttenauer, Munique e Kempten 1946, pp. 280ss.
124-134. 4 1
T h i e m e, H., Die Entscheidung Heinrichs VIII. und die europäischen
" R o s t , H., Die Bibel im Mittelalter, Augsburgo 1939 Universitäten, Karlsruhe 1957, pp. 13ss. Thomas Eliot devia patrocinar a cau-
" S c h m i d t , D. K., Grundriss der Kirchengeschichte, Gótinga 1954, p. sa de Henrique junto ao Imperador; sobre êle veja-se: L e h m b e r g , St. E.,
341. ARG 48 (1957), pp. 91-122.
" M a u r e r , W., Zur Komposition der Loci Melanchthons von 1521: Lu- 42
" . . . cuius singularem protectorem, unicum ct supremum dominum, et
ther-Jahrbuch 25 (1958), pp. 146-180. quantum per Christi legem licet etiam supremum caput ipsius maiestatem re-
Em todo o caso, entre os amigos de Zuínglio havia correligionários de
2 0
cognoscimus" (Concessio facta em: D. W i l k i n s , Concilia Magnae Britanniae
Karlstadt (V a s e 11 a, O., Zur Biographie des Prädikanten Erasmus Schmidt, et Hiberniae, III, 1737). — " . . . the Church of England, whose especial Pro-
em: Zeitschrift für Schweizerische Kirchengeschichte 50 [1956], pp. 353-366). tector, single and supreme Lord, and, as far the law of Christ allows, even
" W A 2, pp. 245-281. Supreme Head, we acknowledge his Majesty to be" ( H u g h e s , Ph., The Re-
22
B r a n d t , O. H., Thomas Müntzer, Jena 1933, pp. 129, 165. formation in England I, Londres '1952, pp. 229ss).
23
W A 15, pp. 210-221. 43
"The only supreme head in earth of the Church in England called
F r a n z , G., Der deutsche Bauernkrieg, Munique-Berlim M957, pp. 197-
2 4

Anglicana Ecclesia" (Documents illustrative of English History, edição de H.


199. Gee e W. J. Hardy, Londres 1921, pp. 243ss).
4

" W A 18, pp. 291-334.


28
W A 18, pp. 357-361.
4 4
De ordinário, fala-se de um cisma, mas este se distingue essencialmen-
" W A Briefwechsel 3, pp. 480 e 515. te dos demais, sob o ponto de vista histórico, porquanto à testa da facção
separada não se colocara um antipapa ou um patriarca, mas um leigo. Por isso
L a u , E., Der Bauernkrieg und das angebliche Ende der lutherischen
2 8

seria o caso de indagar se aqui não devemos, como o faz Hughes, falar de
Reformation als apontaner Volksbewegung, em: Luther-Jahrbuch 26 (1959), heresia, e não apenas de cisma. Não equivale, pois, a uma heresia transfe-
pp. 109-134. rir a um homem toda a autoridade religiosa, se Deus a outorgou não a um
" Por isso, 36 religiosas do mosteiro cisterciense de Calden pediram para homem, mas unicamente à Igreja fundada e governada por Deus: fazer de-
ficar no claustro, pelo menos tempo para se decidirem. Algo de semelhante pender a salvação da obediência a um homem?
aconteceu também em Georgenberg (cf. Die oberhessischen Klöster. Regesten
und Urkunden, edição de F. Schunder, Marburgo 1961, pp. 75-78 e 235). 45
Idêntica investida contra Amsterdão, em maio de 1535, terminara com
30
Catecismos: W A 30, I, pp. 125-238 (grande), pp. 239-425 (pequeno). uma carnificina ( M e l l i n k , A. F., The mutual relation between the Münster
Missa em alemão e organização do culto divino: W A 19, pp. 72-113. Manual Anabaptics and the Netherlands, em: ARG 50 [1959], pp. 16-33).
de batismo (1526): W A 19, pp. 537-541. 4 3
Briçonnet realizou duas visitas canónicas em seu bispado, e convocou
31
S t r o h l , H., La pensée de la Reforme, Paris 1951,_p. 192. cinco sínodos diocesanos. Lefèvre pôde aliás voltar um ano mais tarde à Cor-
32
Thomas Murner im Schweizer Glaubenskampf, edição de M. Pfeiffer- te de Alargarida de Navarra, e, sob sua proteção, terminar a tradução da
Belli, Münster 1939, pp. 27-33; H e l b l i n g , L., Dr. Johann Fabri, Münster Bíblia.
1941, pp. 50. 4 1
Sobre o problema "Humanismo e Calvino", veja-se B o h a t e c J., Budé
M i r b t , C, Quellen zur Geschichte des Papstums und des römischen
3 3 und Calvin, Graz 1950.
Katholizismus, Túbinga '1924, p. 263. " K a n t z e n b a c h , F. W., Das Ringen um die Einheit der Kirche im
34
Deutsche Reichstagsakten, Jüngere Reihe VII, Estugarda 1935, pp. Jahrhundert der Reformation, Estugarda 1957, p. 127.
1260-65, aqui p. 1277. 4 3
L é o n a r d, E. G., Histoire generale du proteslantisme I, Paris, pp.
" A s m ü s s e n , H., Das Amt der Bischoefe nach Augustana 28: Festgabe 301 ss.
J. Lortz, edição de E. Iserloh e P. Manns, I, Bade-Bade 1958, pp. 209-331. 30
L e o n a r d , II, Paris 1961, p. 89.
446 Anexos Anotações 447

" Em sua apreciação do livro de H a 1 k i n, L.-E., La Reforme en Bel- •• A l l e n VI, n. 1757 (outono de 1526).
gique, Bruxelas 1957, M o i s , R., julga poder reduzir à metade o número de 3 0
M i r b t, C, Quellen zur Geschichte des Papstums und des römischen
1.500 a 1.700 sentenças capitais, indicação de Halkin: Rev.Hist.eccl. 53 (1958), Katholizismus, Túbinga '1924, p. 261.
p. 124. 3
' B r a u n s b e r g e r , O., Beati Petri Canisii, SJ Epistulae et Acta 1, Fri-
" Apesar de seu gênio introvertido, Filipe II já não poderá ser conside- burgo 1896, pp. 380ss.
rado em primeiro lugar como fanático contra-reformador ou "místico tirano"
(Daniel-Rops), sobretudo depois das pesquisas de Pfandl. Como é notório, a
3 3
"Sufficeret animabus providere" (8 de fevereiro de 1547; Conc. Trid.
lenda negra em torno do soberano espanhol tem duas fontes diversas: as V, p. 895).
opiniões dos protestantes que cercavam Guilherme de Orange e a hostilidade 53
J e d i n , H., Kleine Kanziiiengeschichte, Friburgo 1959, p. 101.
de Paulo IV contra o Rei.
V. NO ESPIRITO DO T R I D E N T I N O : REFORMA INTERNA DA IGREJA
E ATIVO CONTRA-ATAQUE (CONTRA-REFORMA)
IV. RESPOSTA E REVIDE. AS NOVAS FORÇAS
E O CONCÍLIO DE TRENTO 1
Por ordem de Urbano VIII, quatro Jesuítas fizeram nos hinos cerca de
mil correções estilísticas, segundo o classicismo humanista. Os contemporâneos
1
J e d i n , H., Geschichte des Konzils von Trient I, Friburgo 1949, p. 142. reagiram com a observação: "Accessit latinitas, recessit pietas" ( M o h r m a n n ,
' Erasmo considerava-a diretamente como sub-reptícia ( J e d i n , obra cit., Chr., Etudes, Paris 1961, p. 59). A propósito das críticas anteriores de Ba-
p. 153). rônio e Belarmino, veja-se D e n z i e r , G., Kardinal Sirleto, Munique 1964,
3
Para a Baviera: Acta Reformationis Catholicae, edição de G. Pfeilschifter, pp. 92ss.
I, Ratisbona 1959, p. 138. Uma edição da bula, publicada em Virceburgo,
traz a observação de que ela fora anunciada pelo pároco e posta em edital * Segundo um relatório do Vigário Apostólico da Inglaterra, por volta de
nas portas das igrejas, "sed nemo curavit" (B i g e 1 m a i r, A., Das Konzil 1640, o Colégio estava sob a direção de um sacerdote secular, eleito pelo
von Trient und das Bistum Würzburg: Das Weltkonzil vom Trient, edição de Clero da Inglaterra. Desde 1570, formaram-se no Colégio mais de mil sacer-
G. Schreiber, II, Friburgo 1951, p. 56). dotes, cento e onze dos quais morreram mártires. O Colégio sempre tinha
4
J e d i n , H., obra cit, p. 155. mais de 100 alunos, e recebia todos os anos uma subvenção pontifícia de
I
Acta Reformationis Catholicae I, pp. 116, 137, 146. 1080 moedas de ouro (Acta S. C. de Propaganda Fide Germaniam spectantia
' J e d i n , H., obra cit, p. 155. 1622-49, edição de H. Tüchle, Paderborna 1962, p. 484).
' Texto: Deutsche Reichstagsakten, Jüngere Reihe II, Gota 1896, pp. 640-
3
Uma Comissão, constituída de Beneditinos, trabalha desde 1907, por or-
659; M i r b t, C, Quellen zur Geschichte des Papstums und des römischen dem de Pio X, numa revisão científica da Vulgata. Até o momento (1969)
Katholizismus, Túbinga 1924, pp. 260ss.
4 saíram 13 vols.
s
Sobre os vários móveis da aliança, veja-se J e d i n , obra cit., p. 419. * Nestes termos, o Papa, ao Embaixador de Veneza (Pastor X, p. 271).
" B o r n , K. E., Moritz von Sachsen und die Fürstenverschwörungen ge- 1
Braunsberger II, pp. 228ss (Páscoa de 1558).
gen Karl V. HZ 191 (1960), pp. 18-66. ' B u c h e r , O., Dillingen. Bibliographie der deutschen Drucke des 16.
Texto francês original em: L a n z , K., Korrespondenz des Kaisers Karl Jahrhunderts, Bad Bocklet 1960, p. 3.
V., II, Lipsia 1845, pp. 488. ' B u c h er, p. 17; B r a u n s b e r g e r , O., Deutsche Schriftstellerei und
" Depois de muito discordar e concordar entre si, as confissões religio- Buchdruckerei dem römischen Stuhl empfohlen: HJG 30 (1909), pp. 62-77, aqui
sas acabaram então por adquirir aos poucos feição própria no culto, na dou- p. 64.
trina, no direito e na tradição (Zeeden).
' Segundo os dados da visita canónica, em 122 conventos com só 596
I I
Rev.Hist.eccl. 50 (1955), p. 900. religiosos e religiosas, viviam então 199 concubinas, 55 esposas e 443 crian-
" Como esse prontuário de ordenações excluía toda idéia de sacrifício,
rejeitando implicitamente a doutrina católica sobre o poder sacerdotal de con- ças ( W o d k a , J., Kirche in Österreich, Viena, p. 211).
sagrar e sacrificar, Leão XIII, pela bula Apostolicae curae et caritatis, de 13 ' Numa carta do conselheiro da corte nacional Jorge Eder ao Arquiduque
de setembro de 1896 (texto em ASS 29 [1896-97], pp. 198ss, veja D.Sch. 3315- Alberto da Baviera constava que o Bispo de Passávia, tendo de atender cerca
3319), que aliás não implica infalibilidade, julgou-se obrigado, com grande de 1.200 paróquias, dificilmente poderia arrolar 12 sacerdotes católicos, que
decepção dos anglocatólicos, a declarar a nulidade de tais ordenações. levassem vida irrepreensível e sem companhia de mulheres ( W o d ka, obra
A respeito das limitações iniciais na execução prática das sanções pe-
14
cit, p. 213).
nais, veja-se M a n n i n g , R. B., Catholics and Local Officer Holding in Eli- 30
B i e t , P., Le concordai de Bologne et la reforme tridentine: Grego-
zabethan Sussex: Bulletin of the Institut of Historical Research 35 (1962). A rianum 45 (1964), pp. 241-279.
pesquisa, ainda que só de âmbito regional, poderia aplicar-se à situação geral. 33
Van der Burch, arcebispo de Cambraia, nos primeiros quatro anos de
Os riscos e aventuras de uma atividade de dezoito anos, de 1588 a
35 seu governo, consagrou 52 igrejas, 2.489 altares, e crismou mais de 220.000
1606: C a r a m an, Ph., John Gerard, The autobiography of an Elizabethan pessoas ( M o r e a u , E. de, Histoire de 1'Eglise en Belgique IV, Bruxelas
recusant, Londres 1965. Tradução alemã de H. v o n B a r l o w e n , Meine
2
1952, p. 300). Em 1631, andou com planos de fundar um Seminário para
geheime Mission als Jesuit, Lucerna 1952. as Missões Nórdicas (Acta S. C. de Propaganda Fide Germaniam spectantia
Contesta-se a autenticidade das "Cartas de estojo" (Casket Letters).
16 1622-49, edição de H. Tüchle, Paderborna 1962, p. 326).
Veja-se ainda: D i g g 1 e, H. F., The Casket Letters of Mary Stuart, Lon- 13
M o r g a n , E. S.,- The Puritan Dilemma, Boston 1958, vê em "manifest
dres 1960. predestination, disenchanted brotherhood" e "controlled affections" as peculiari-
" L e o n a r d , E. G., Histoire generale du Protestantisme, II, Paris 1961, dades do puritanismo americano dos primeiros tempos.
p. 149.
" Essa "Missio Hollandica" representava um recomeço para a restaura-
ção católica, organizada secretamente, e um baluarte contra ulteriores avan-
ços do calvinismo (Rogler).
VI. REFLEXOS REMOTOS DA DISSIDÊNCIA RELIGIOSA NA ÉPOCA " M i 11 e r, S. J., Spínola and the Lutherians: Festgabe J. Lortz, edição
DO ABSOLUTISMO. SURTO DA RELIGIÃO E BULHAS TEOLÓGICAS. de E. Iserloh, P., Manns, I, Bade-Bade 1958, pp. 419-445; T ü c h l e , H.,
T E N T A T I V A S DE UNIÃO Neue Quellen zu den Reunionsverhandlungen des Bischofs Spinola und seines
Nachfolgers: Festschrift für G. Söhngen, edição de J. Ratzinger e H. Fries,
' P o l i s e n s k y , J., Denmark-Norway and the Bohemian cause in the Friburgo 1962, pp. 405-437. A respeito de Leibniz, veja-se G i l s o n , E., Les
early part of Thirty years war: Festgabe für L. L. Hammerich, Copenhague métamorphoses de la cite de Dieu, Lovaina 1952, tradução alemã de U. B e h 1 e r,
1962, pp. 215-227. Die Metamorphosen des Gottesreiches, Paderborna 1959, pp. 222-240.
2
Briefe und Akten zur Geschichte des Dreissigjährigen Krieges, II, 4, * M e n g e , G., Versuche zur Wiedervereinigung Deutschlands im Glau-
3

Munique 1948, p. 698. ben, Steyl 1920, p. 149.


5
Acta S. C. de Propaganda Fide Germaniam spectantia 1622-49, edição de 3 4
Uma tradução alemã de W. Schamoni apareceu com o título: Bossuet.
H. Tüchle, Paderborna 1962, p. 235. Darlegung des katholischen Glaubens für evangelische Christen, Paderborna
' A este problema consagra K. R e p g e n sua obra de vários volumes: 1956.
Die römische Kurie und der Westfälische Friede I (Túbinga 1962). " M e n g e , obra cit, p. 186.
' L é o n a r d , E. G., Histoire générale du protestantisme II, Paris 1961,
p. 322.
* Arquivo da Congregação da Propaganda, Roma 1662, f. 78. VII. NOVA VITALIDADE DA IGREJA: MISSÃO MUNDIAL,
'• H u y b e n , J., Aux sources de la spiritualité française du XVII
a
siècle: CONVERSÕES, CONFORMAÇÃO BARROCA DO MUNDO
La vie spirituelle 25/26 (1930-31), n. 135, pp. 113-139; n. 136, pp. 17-46,
75-111. ' A Guerra terminou pelo Tratado de Paz de Ryswyk (1697), em cuja
' A designação Ecole Française, usada por Bremond, não é entendida
a
conclusão a França impôs a Cláusula de Ryswyk; por ela, a religião católi-
aqui no sentido de Bremond. Ela indica, antes, em sentido geral, a idade de ca devia conservar-se "in statu quo" nos lugares protestantes restaurados pela
ouro da espiritualidade religiosa na França. A propósito dos debates entre reunião, onde fora introduzido o culto católico na vigência da ocupação fran-
Bremond e os jesuítas Cavallera e Pottier, veja-se sobretudo: D a g e n s , J., cesa. Isto criou novas tensões confessionais no Império, certamente intenciona-
Bertille et les origines de la restauration catholique 1575-1611, Paris 1952. das pela França.
8
Correspondance du cardinal Pierre de Bérulle, edição de J. Dagens, I, * R e d l i c h , O., Das Werden einer Grossmacht. Osterreich 1700-1740,
Paris 1937, p. 236. Brünn, z-31942, p. 242.
• V e r m e y l e n , A., Ste-Thérèse en France au XVII* siècle (1600-1660), 3
Ainda hoje essa província fronteiriça argentina chama-se Misiones.
Lovaina 1958. ' M u l d e r s , A., Missiegeschiedenis, Bussum 1957. Tradução alemã de J.
" B r o u t i n , P., La Réforme pastorale en France au XVII siècle, II, Pa-
e
Madey, Missionsgeschichte, Ratisbona 1960, p. 201.
ris 1956, p. 249. 5
Ricci, entretanto, não preteriu nem ocultou o mistério da Redenção e o
1 1
B r o u t i n , obra cit., p. 267. sinal da Cruz, ao contrário do que já fora asseverado ( B e t t r a y , J., Die
11
O Comma Pianum (falta de pontuação no texto oficial). Akkommodationsmethode des P. Matteo Ricci S. }. in China, Roma 1955,
" Não obstante, trabalhou a seu favor a falta de clareza, oriunda do p. 369).
"Comma Pianum". Veja-se O r c i b a 1, I., De Bajus à Jansénius: Revue des ' De modo análogo, ainda que de modo geral, a Congregação da Pro-
sciences religieuses 26 (1952), pp. 115-139. paganda advertiu em 1659 os primeiros Vigários Apostólicos não pretendes-
" Casamentos mistos exigiam uma dispensa que a Santa Sá só concedia, sem transferir a França, a Espanha, a Itália, ou qualquer outro país europeu
quando a parte acatólica manifestava firme vontade de converter-se. Tais dis- para a China: "Non haec, sed fidem importate, quae nullius gentis ritus et
pensas eram também captadas sub-repticiamente. Depois de celebrado o ma- consuetudines, modo prava non sint, aut respuit aut laedit, imo vero sartatecta
trimônio, não havia nenhuma conversão. Por isso, os Missionários da Silésia esse vulr" (Collectanea S. C. de Propaganda Fide I, I, Roma 1907, n. 135).
pediram que Roma não dispensasse sem prévio testemunho do bispo ou dos ' O próprio Antônio Arnauld defendeu, nessa ocasião, o Papa e os Je-
missionários a respeito da conversão ou da séria intenção de fazê-la (Archiv suítas (G u i 11 o n, G., Titus Oates, le Père de La Chaize et le grand Arnauld,
der Propagandakongregation, Roma, Acta 1655 f. 99, n. 12, 8 ) . Em Antuérpia, 1678-1681: Rev.Hist.eccl. 53 [1958], pp. 69-78).
mencionava-se uma fiscalização dos suspeitos de heresia, quando se apresen- 8
S c h ü l l e r - P i r o l i , 2.000 ]ahre Sankt Peter, Olten 1950, p. 508.
tavam para contrair matrimônio ( M o r e a u, E. de, Histoire de l'Eglise en
Belgique V, Bruxelas 1952, p. 143). ' Cristo vence, Cristo reina, Cristo impera, Cristo defenda seu povo de
todos os males!
'* Duhr III, p. 628; M o r e a u , E. de, V, p. 349. 1 0
O que os Bárbaros não fizeram (na transmigração dos povos), fize-
** Como êle próprio contou, Vicente vivia sempre com medo de "ver-me ram-no os Barberini (família de Urbano VIII).
embalado por erros de alguma nova doutrina, antes de que eu próprio o 1 1
Aqui abstraímos, conscientemente, de qualquer síntese histórico-estética.
perceba" ( C o s t e , P., St-Vincent de Paul, 14 vols., Paris 1920-24, XI, p. 37). Queremos, apenas, visualizar em algumas projeções toda a pujança criadora
11
Rev.Hlst.eccl., 51 (1956), p. 153. dessa época.
" Oeuvres de Blaise Pascal, edição de L. Brunschvicg, P. Boutroux, F. 1S
Lembramos, a esmo, a defesa aliás habilidosa da tradição petrina pelo
Cazier, Paris 1904-14, IV, p. 317. neerlandês Alberto Pigge, bem como seu esforço de apresentar, por objeções
18
T r o m p, S., Sacra Congregatio Concilii die 19 Iunii 1570 de baptismo de ordem teológica, a condenação do Papa Honório I pelos 6' e 7' Concílios
Cavinistarum seu de intentione ministri: Divinitas 13 (1959), pp. 16-42. Ecumênicos, como sendo uma falsificação de atas conciliares, perpetrada pelos
" O debate não era absolutamente "une manœuvre des jésuites" para re- gregos, hipótese aceita também por Barônio e Belarmino, não obstante as
cuperação dos que se haviam separado, como opina L é o n a r d , E. G., Histoire objeções ocasionais que lhe fizeram. Quando, então, no século XVII, se re-
générale du protestantisme II, Paris 1961, p. 292. A respeito das deliberações descobriu o "Liber Diurnus", no qual se lia, para a condenação de Honório,
da Congregação da Propaganda, vejam-se os Acta S. C. de Propaganda Fide o consentimento que todo papa devia dar, a edição preparada por Holste veio
Germaniam spectantia 1622-49, edição de H. Tüchle, Paderborna 1962, p. 582. a malograr com a tática dilatória da censura, enquanto a edição de Gar-
2 1
K e p l e r . J., Gesammelte Werke, edição de M. Gaspar, XVII, Muni- nier, jesuíta de Paris, foi duramente impugnada ( B ã u r a e r , R., Die Ausein-
que 1955, p. 285, n. 496. andersetzungen über die römische Petrustradition in den ersten Jahrzehnten der
Reformationszeit: Römische Quartalschrift 57 [1962], pp. 20-57; Die Wie- " Reprodução (fac-símile) de uma página do livro da Recopilación de
derentdeckting der Honoriusfrage im Abendtand: lugar cit., 56 [1961], pp. Leyes, de 1680, com a respectiva portaria, encontra-se em: A. R a n d a, Das
200-214. Weltreich, Olten-Friburgo em Brisgau 1962, p. 97.
11
H a a s , C. M., Das Theater der Jesuiten in Ingolstadt, Emsdetten 1958, " S c h ü l l e r - P i r o l i , 2.000 Jahre Sankt Peter, Ölten 1950, pp. 603ss.
p. 17.
" Tal era o título de uma peça de Avancini, natural do Sul do Tiro!,
que em 1659 apresentou em Viena a temática constantiniana. IX. AS IGREJAS CALCEDÔNIAS NO IMPÉRIO OTOMANO,
'* C o r e th, A., Pietas Austríaca. Ursprung und Entwicklung barocker por C. A. Bouman
Frömmigkeit in Österreich, Munique 1959, pp. 27ss.
" C o r e t h , p. 18. ' Veja-se S. A n t o n i a d i s , Place de la Liturgie dans la tradition des
" N a d 1 e r, J., Literaturgeschichte der deutschen Stämme und Landschaften, lettres grecques, Leida 1939, pp. 232-234.
111, Ratisbona 1924, p. 28.
3 3
As apostilas que Cirilo anotou de próprio punho num exemplar da tra-
" M e n z e , C, Grundzüge und Grundlagen der spätbarocken Kapuziner- dução grega do "Grande Catecismo" de Belarmino não deixam dúvida a
dichtung in Deutschland: Collectanea Franciscana 28 (1958), pp. 272-305. respeito das tendências teológicas do Patriarca. Cirilo dera o exemplar de
presente a seu jovem amigo neerlandês Davi le Leu de Wilhelm, que por sua
vez o remeteu a seu mestre Daniel Heisius (pai de Nicolau), catedrático
VIII. GERMES DE SECULARIZAÇAO : REALISMO ABSOLUTO em Leida. O livro encontra-se atualmente na biblioteca daquela Universidade.
E NOVA FILOSOFIA O texto completo do Catecismo e das apostilas acrescentadas, enriquecido de
alentadas anotações, foi editado por K. Rozemond, Notes marginales de Cirilo
' S e p p e l t , F. X., Geschichte der Päpste V, nova elaboração de G. Lucar dans un exemplaire du Grand Catéchisme de Bellarmin (Kerkhistoriche
Schwaiger, Munique 1959, p. 335.
5
Studiën, vol. X I ) , Haia 1963.
3
Dito de passagem, o revide do barroco foi criar, justamente na Fran- 3
Por muito tempo, pairavam dúvidas sobre as circunstâncias em que se
ça, sua forma mais leve e mais graciosa, que é o rococó. fêz tal edição. Atualmente, constam a data e os acontecimentos, graças às
3
"Il n'y a presque plus que la France où il soit permis de dire que le pesquisas de A. M a l v y e M. V i 11 e r, La Confession orthodoxe de Pierre
concile est au-dessus du pape" (Pensées, art. XXIV, n. 85, edição Lahure, Moghila... (Orient. Christ, vol. X ) , Roma-Paris 1927, pp. LV-LVII da in-
Paris 1858). A frase, naturalmente, está supressa em muitas edições. trodução.
4
"Quelque partie du droit commun de l'église universelle".
6
O famoso pregador discorreu sobre a "unidade e a harmonia na Igre-
ja", enaltecendo a singular formosura da Igreja Galicana dentro do grandio- X. AS IGREJAS DE RITO BIZANTINO ENTRE OS ESLAVOS DO ORIENTE
so conjunto da Igreja Universal. Como prova de que os Reis Cristianíssimos por C. A. Bouman
de França foram, desde o início, os protetores da Santa Sé, êle citou uma
carta de congratulações do Papa Anastácio II ao rei Clóvis, tida naquela épo- 1
Além das conversações, resta ainda esclarecer questões particularmente
ca como autêntica também pelos Maurinos, mas que era uma habilidosa fal- delicadas, concernentes aos habitantes dessas "Rússias" do Sudoeste, e averi-
sificação do oratoriano Vignier ( t 1661) no espírito do galicanísmo. guar em que proporção sua língua, cultura e origem os separava dos habi-
' A obediência ao rei era para Bossuet um ato, por assim dizer, de de- tantes da Grande-Rússia (conceito análogo, mais recente, que levanta novos
voção religiosa. No poder régio via êle algo de divino ("je ne sais quoi de problemas e desperta novas suscetibilidades). Historiadores e filólogos russos
divin"), e em seus escritos glorificava a monarquia absoluta com uma forma simplificaram, às vezes, tais problemas em seus trabalhos de pesquisa.
de governo instituída diretamente por Deus. Os Eslavos de rito bizantino, radicados no Canadá e nos Estados Uni-
7
D u b o i s-Q u i n a r d, M., Laurent de Paris. Une doctrine du pur amour dos, acostumaram-se a designar com o nome de Ucranianos os Uniatas da
en France au début do XVII siècle, Roma 1959.
e Galicia, Podólia e Volínia, e com o nome de Rutenos os católicos orientais
8
C o g n e t, L., Crépuscule des mystiques. Le conflit Fénelon-Bossuet, da Rússia Subcarpática. O termo de Ucraniano, com sentido étnico, entrou
Tournai 1958. em uso a partir do século XIX. Diferenças surgidas entre os dois grupos
' D enzinger, nn. 1351-1451. levaram em 1924 à criação de dioceses separadas.
" Por Holanda, entende-se aqui não a Província, mas a República das Os Russos-Branços católicos emigrados formam, também, um grupo re-
Províncias Unidas. ligioso distinto. Os Eslovenos católicos, classificados entre os Rutenos desde
" Na mesma época, a doutrina do direito natural do pietista alemão a União do século XVII, bem como os habitantes do território de Mukatchevo,
Barão de Pufendorf ( f 1694) procurava também basear-se unicamente no co- na fronteira austríaca, e os Croatas de rito bizantino, desejavam por sua vez
nhecimento natural e colocar no centro a liberdade e a igualdade de todos alcançar um regulamento próprio para sua situação religiosa. As diferenças
os homens, mas retinha a Revelação como regulador crítico do direito na- entre eles consistem particularmente na ortografia e na prosódia de antro-
tural. O filosofismo (Aufklärung) posterior diluiu esta ordem de idéias. pônimos e topónimos. Para maior clareza, empregaremos a nomenclatura que
" R i c h t e r , G., Zur Reform der Abtei Fulda, Fulda 1915. geralmente está em uso comum, como Cracóvia e Lemberga. Os Ucranianos
" Télémaque, l'Examen de conscience, e a carta citada ( U r b a i n , Ch., designam esta última como Ljwiw, enquanto os Poloneses lhe chamam Lwow;
Fénelon. Ecrits et lettres politiques, Paris 1921, p. 146) coincidem em seu os mapas russos trazem-na como Ljwow.
conteúdo, de sorte pouco se nos dá saber se era realmente de Fénelon a =
K. L a n c k o r o n s k a , Studies an the Roman-Slavonic Rite in Poland
carta dirigida ao Rei, e que fora impressa só em 1825 ( S c h n ü r er, G., (Orient. Christ. Anal. 161). A respeito da fundação do mosteiro "eslavo" de
Katholische Kirche und Kultur in der Barockzeit, Paderborna 1937, p. 761). Beneditinas em Kleparz, perto de Cracóvia, pela rainha Hedviges em 1390,
A respeito da carta, veja-se também C. M u th na introdução da obra: Fénelon, cf. pp. 144-145, 166.
Briefe an einen Stiftshauptmann, Friburgo 1940, p. 13. A respeito da posi- 1
O reitor da Universidade João Sacrano, numa dissertação sobre os
ção do Arcebispo como tal, veja-se B e r g , L., Die Sozialprinzipien Fénelons, Rutenos, que são para êle os "piores" hereges, relata mais de quarenta he-
em: Kraus, I., Calvet, J., Fénelon, Persönlichkeit und Werk, Bade-Bade 1953, resias, conforme a nominata que apareceu numa pequena coletânea, publicada
pp. 259-306. em Praszko: De eccles. Ruthena catholica (cf. bibliografia). Os teólogos ca-
tólicos latinos consideravam, às vezes, a compilação de tais listas como for-
midável arma defensiva. Indubitavelmente, uma das mais minuciosas é uma
Soma das Heresias Gregas, lista propalada na época do Concílio de Trento
por Antônio Cauco, arcebispo de Corfú (Cercira, ou Corcira), ilha grega em
sua maior extensão. O prelado e sua obra não caíram em esquecimento, gra-
ças a Leão Allácio, que na obra De Ecclesiae Occidentalis et Orientalis perpetua
consensione (1648) julgou útil refutar, não sem ironia, e com apoio de pro- ÍNDICE ANALÍTICO
vas, as acusações do Arcebispo de Corfú.
' A respeito dos assuntos tratados em Domostroj, e das citações carac- Abades: - leigos comendaticios 31; - dicti»: - de Mabillon 281.
terísticas, cf. S. T y s z k i e w i c z S. J., Moralistes de Russie, Roma 1951,
pp. 19-22. príncipes e reforma monástica 311. Adelmannsfelden (Adelmano): 19.
8
Cf. A. M. A m m a n, S. J., Abriss der ostslawischen Kirchengeschichte, abadia principesca: admissão de ple- Adiáfora: questão da - 110.
p. 304, sobre as relações menos cordiais com a Companhia de Jesus, quando beus em - 311. administração curial: - de Roma e Lu-
Ana, legatária de Constantino Ostrojsky, na década de 1620, doou aos Je- Abbot: arcebispo de Cantuária 330. tero 57.
suítas a Escola de Ostrog, que eles transformaram em um de seus Colégios. abdicação de Carlos V: 112.. administração eclesiástica: - e síndicos
Contava o Metropolita fazer da Escola o centro cultural da comunidade re- Abel (Leonardo): missão unionista de - civis 21; e transações bancárias 19.
ligiosa uniata. 341 s. administração otomana: características
8
Sobre o teor exato desses "Puncta pacificationis" e as tentativas de Abraão de S. Clara: - e comunhão fre- da - 310s; preferencias da - aos cris-
conciliação do capuchinho Valeriano, conselheiro de Ladislau (Wladislaw) IV,
junto às autoridades romanas, para a aprovação do acordo, cf. Z a c h a r i a s quente 289; - pregador barroco 291ss. tãos gregos 321.
d e H a r l e m , Unio Ruthenorum... 1632-1633, Tartu 1936. absolutismo: 180; - de Filipe II 100; - «Admonitio»: - do Capítulo dos Agos-
' A m m a n n, Abriss, p. 336. e problemas sociais 313; - e reflexos tinianos a Lutero 53.
8
Cf. E r i k A m b u r g e r , Geschichte des Protestantismus in Russland, remotos da Dissidência Religiosa 193ss. «Adnofationes»: - de João Eck às 95
Estugarda 1961, pp. 32-33. absolutismo gaulês: - e novo pensa- Teses de Lutero 53.
" P. P a s c a l , Avvakum et les débuts du Raskol, Paris 1938, pp. 21-25. mento em França 307; - e papado Adoração: Liga da - Perpétua 289; -
O autor nota ainda outras concordâncias. Os dois grupos se inspiram numa 296ss; - e problemas comunitários e das Quarenta Horas no rito bizanti-
rigidez de costumes ultrapassada, e singularizam-se pela esquivança à disci- sociais 311. no 3S6.
plina da Igreja. Dessa maneira, porém, testemunham igualmente sua oposição
à violação da alçada espiritual pela autoridade do Estado. Com o tempo, o «abuso germânico»: - dos casamentos Adriano: patriarca de Moscovo 396.
Rascol tornou-se certamente um fato consumado, cuja importância não se deve mistos no Oriente 339. Adriano VI: 79, 130ss; - e padroado
minimizar. Aías, por falta de verdadeiros líderes, sofreu divisões desde os Academias Italianas: caso de Galileu espanhol 15; - e os humanistas eras-
fins do século XVII. Dali por diante, a Dissidência [Rascol] assumiu antes e dissolução das - 285. mianos 130; e os Irmãos da Vida Co-
o caráter de "mentalidade", mais do que de "movimento" propriamente dito. Academia Protestante de Nimes: su- mum 130; pacto com o Imperador con-
1 0
Antologia de excertos que caracterizam a espiritualidade de Demétrio pressão da - 204. tra a França 131.
(Dimitry ) : S. T y s z k i e w i c z e T h . B e l p a i r e , Ecrits d'ascètes russes, Academia Romana: 36s. Adriano de Utreque (Adriano V I ) : 9,
Namur 1957, pp. 18-30. São Tição de Zadonsk ( f 1783), cujas obras ostentam Ação Católica: 289. 130.
influências ocidentais, sobretudo latino-católicas, já pertence ao período se-
guinte da História. A restauração da tradição espiritual hesicasta bizantina acatólicos: exclusão de - de todas as Adriático: cristãos do - 351.
só se efetuaria por volta de 1800, e graças em parte ao estarote Paissy We- dignidades 196. afeto anti-romano: 26.
litchkowsky, que traduzira para o "eslavão" [língua vétero-eslava] grandes Acbaro (Grão-Mogol): tentativa mis- afinidade étnica: falta de - entre Pola-
trechos de "Philokalia", da Biblioteca do Monte Atos. sionária no Império do - 247. cos e outros Eslavos 353.
Accolti (Cardeal): 29. Afonso de Castro: no Concílio de
acomodação missionária: na China e Trento 143.
nas Índias 249; - como tal 265ss; - e aforamento: transição para o - 22.
peculiaridades etológicas 265. afrancesamento: - progressivo das Mis-
«Acordo de Zurique» («Consensus Ti- sões 343ss.
gurinus»): 96. Africa: 5, 14, 258.
acostamentos políticos: - dos Prínci- Agápio: autor de «Salvação dos peca-
pes-Eleitores Germânicos com a Fran- dores» 336.
ça 293. ágios: interdição 19s; liceidade 19s.
Acqua Felice: - e os aquedutos de Agostinho ( S . ) : 233; bula «Unigenitus»
Roma 275. e interpretação de - 306; «De spiritu
Acquaviva SJ (Cláudio): - e aldeamen- et littera» de - 46; edição completa
to de índios 253; - Geral dos Jesuí- das obras de - na Basiléia 219; Refor-
tas ( 2 ' geração) 171; - e «Plano de madores e autoridade de - 219.
Estudos» 170; - e Possevino 442. Agostinianos: 53, 69; e Movimento de
«Acta Sanctorum»: - dos Bolandis- Reforma 32s; propagadores do lutera-
tas 279. nismo em Bruxelas 99; resistência con-
«Acta sanctorum ordinis sancti Bene- tra Henrique VIII da Inglaterra 89.
«Agravos da Nação Germânica»: 26. cidade de confissão religiosa em cada Altomünster: 74. Angélica Arnauld (abadessa): qualida-
Aix: e decisões tridentinas 184. território 307. Alto Palatinado: e Paz da Vestefália des e atividades 224; - e as teorias de
Aix-La-Chapelle (Aquisgrana): 34, 173. Alemanha Central: 179; restituição for- 199. Saint-Cyran 271.
Alambra: ocupação do - 61. çada de bens eclesiásticos 198. Alto Reno: 23, 67. Angélicas (Irmãs): fundação de S. An-
Alba (Duque de): 124, 186, 194; e in- Alemanha Meridional: 77, 101; inva- Alumbrados: 134; - e luteranismo 8. tónio Maria Zacaria 130.
vasão dos Estados Pontifícios 149. são da - 111; zuinglianismo 65. «Alvitre para correção da Igreja»: 138. Anghel (Atanásio): - bispo de Mut-
Alemanha Setentrional: 35, 49, 103, Amboise: 91; Conspiração de - 92, 98. kachevo 389.
Alba Júlia (Karlsburg): 388; Sínodo
de - 389. 197; provimento de dioceses 198. América: introdução de escravos ne- anglicanismo: 114ss; elementos lutera-
Alepo: 343, 345s, 348; ponto de apoio gros 13. nos no - primitivo 86.
Albânia: 385; conquista pelos Turcos América Latina: 253. Anhalt: 76, 78; calvinismo em - 188.
dos missionários 342.
318. América Meridional (do Sul): 11; Re- Anju (Anjou): 23.
Ales: Edito de - 204.
Albano (Accolti, Cardeal de): 29. duções na - 253s.
Alet: 300. «Annales ecclesiastici»: de César Ba-
Alberto (Arquiduque e Cardeal): dis- América Setentrional (do Norte): agre-
Alexandre de Rhodes, SJ: 264. rônio 279; tendências apologéticas 279.
pensado do subdiaconato 186; e Infan- miações sectárias 88, 90; descalabro
Alexandre VI: 6, 137; bulas de - sobre «Ano Normal»: cláusulas do - 199;
ta Isabel 186. do poderio colonial francês 294; imi-
as conquistas na America 10; - e José isenção para terras realengas ou re-
Alberto de Brandemburgo: 49, 52, 74; Bulgarynowitch 357; - e validade dos gração de Puritanos 190; Menonitas guengas 199; sub-rogação do Edito de
primeiro apóstata do episcopado ale- Sacramentos entre os gregos 357. 90; subvenções de Richelieu para as Restituição pelo - 199.
mão 70. Alexandre VII: 229; - e Cristina da Missões 262. Ansbach: - e a Liga 194.
Alberto de Magdeburgo: cumulação de Suécia 272; - e imposições de Luis «Amigos»: - e grupo de resistência «Anseine lieben Deutschen»: de Lute-
dioceses 29. XIV da França 297; - e Petrowitch contra a grecização dos Eslavos 393. ro 58.
Alberto V, da Baviera: e Contra-Re- 387. «amor puro e desinteressado»: - de antepassados: culto dos - 249.
forma 175ss; na Dieta de Augsburgo Alexandre VIII: 266; os 4 Artigos Ga- Lourenço de Paris, OMCap. 303. anticlericalismo: - dos nobres na Es-
176; restauração católica em Bade- licanos 302. Amsdorf (Nicolau d e ) : 56, 69, 109. cócia 117.
Bade 176. Alexandria: 329, 336, 340; Patriarca Amsterdão: 370, 399; iconoclasmo 101. antiguidades clássicas: depredação de
Alcalá: 134; Universidade de - 7. Melquita de - 337ss. Anabatistas: 70, 75, 88ss; - e Bucer - em Roma 276.
Alcorão: 320s. Argélia: 240. 94; coragem de sofrer dos - 103; dou- Antilatinismo: - dos Eslavos e plano
Aldeias Catecumenais («Doctrinas»): «Al Gesú»: novo tipo arquitetônico de trinas dos - 88; exclusão dos - na espiritual 395.
254. igreja 276. Paz Religiosa de Augsburgo 112; exe- Antilhas: primeiras dioceses nas - 10.
aldeias missionárias: organização tem- alheamento: - entre Igreja e ciências cução de - 114; origens dos - 88; pe- antinomias religiosas: imperialismo e
poral 254. naturais 285. na de morte para os - na Dieta de - 193.
aldeamentos de índios: razões missio- Aliança (Liga) de Esmalcalda: 73, 80s. Espira de 1529 - 89; perseguição con- Antioquia: 336, 348; causas da unida-
nárias 254. Aliança de Heilbronn: - e aliança pro- tra os - 99; - na Polônia 435; Tomás de cristã no Patriarcado Melquita de
Aleixo (Alexia): Czar - 381, 393, 395. testante dos Suecos 198. Müntzer, chefe dos - 65. - 348s; cisma no Patriarcado de -
Aleandro: 59; notificação da bula «Ex- Alacio ( L e ã o ) : obras de - pela União Ana Bolena (Boleyn): 82s, 114. 346ss; Melquitas em - 336ss.
surge» 106. das Igrejas 371. «Anais Eclesiásticos»: de Cesário Ba- anti-romanismo: e galicanismo 298; na
«alegrezza»: nas obras da Igreja de S. rônio 279. Inglaterra 81.
Alemanha: 16, 18, 22s, 24, 26, 32, 52,
101, 136, 138, 164; blocos protestantes Pedro em Roma 317. «Anais da História de toda a Ordem Antitrinitários (Socinianos): Pequena
no Sul da - 101; calvinismo 101; Con- Alien (Guilherme, Cardeal): fundador Beneditina»: de Mabillon 281. Igreja dos - 365.
tra-Reforma 160, 239; convocação do do Colégio Anglico em Douai 116, 164. «Analecta Graeca» (Coletânea Grega): Antônio de Borbom (de Navarra): 98s,
Concílio 140; decisões tridentinas 160; AUstedt: anabatismo em - 66. de Montfaucon 282. 119.
deserção da Igreja Católica no Norte Alpes: bloqueio dos - 77. «Análise do Concílio Tridentino»: de Antônio Maria (Santo) Zaccaria: fun-
da - 103; dinastia bávara e restaura- Alsácia: 75; Richelieu e defesa da - Martinho Chemnitz 187. dador dos Barnabitas e das Angéli-
ção do catolicismo 176; eclesialidade 199. anatas: 25, 49. cas 130.
nacional («Landeskirchentum») 193; ancestrais: culto dos - 249. Antuérpia: 277; e bula contra Lute-
Alta-Alemanha: 75s, 78.
hegemonia protestante 271; Igrejas Na- Andelot: General Francisco de - 98. ro 106; iconoclasmo em - 101; sede
Alta Idade-Média: «devotio» (devoção)
cionais 69ss, 193; implantação da arte « A n den christlichen Adel deutscher dos Bolandístas 280.
na - 187. Nation»: de Lutero 58, 139.
barroca 278; interesse de Adriano VI «Aos fidalgos da Nação Germânica»:
pela - 131; ius reformandi 175; mino- Alta Igreja: sobrevivencias católicas Andreas (Jacó): e «Fórmula de con-
na - Anglicana 189ss. de Lutero 56, 139.
rias religiosas (confessionais) 307; opi- córdia» 187s.
Alta Itália: 18. apologética conservadora: de Bossuet
nião do Cardeal Cervini sobre a - 146;
alta tragédia: transplantação, da Itália, Androussovo: Tréguas de - 382. 238.
Ordem Beneditina na - 31; Ordens
para os Países Nórdicos 286. anexação de dioceses: - na Alemanha «Apologia»: de Melanchthon 80.
Mendicantes 32; percentagem mínima
altar privilegiado: petição de - 290. 178s. apostasia da fé: batidas programadas
de católicos 173; reconstrução depois
da Guerra dos Trinta Anos 315; uni- Altdorf: Capuchinhos em - 183. Angela Meric! (Santa): fundadora das para forçar a - 322; promoção social
alto-barroco: 274. Ursulinas 130. econômica e - 322.
«Apóstolo do Aname»: Alexandre de Asmussen: 78. Confissão de - 99; Dieta de - 54, 77, autoridade papal: exacerbação da - 138.
Rhodes, S.J. - 264. aspectos positivos: da Reforma Pro- 147; e convocação de Concílio 140; «Autos Sacramentales»: de Calderon
«Apostolicum»: Jorge Calisto e o - 232. empenho de Alberto V da Baviera pela 287.
testante 103.
Aquisgrana (Aix-La-Chapelle): 37, 173. causa católica em - 175; implantação Ave-Maria: parte impetratória da -
aspiração ecumênica: entre teólogos e
Aragão: união de - com Castela 5. do pensamento tridentino em - 180; («Santa Maria») 290.
estadistas 230. representação de - no Concílio de
«arcana Impedi»: e os titãs do bar- Avinhão: devolução de - 298; seqües-
«Assertio Septem sacramentorum»: de Trento 143; Tratado de Paz Religiosa
roco 298. tro de - 297.
Henrique VIII 82. de - 111, 119, 172.
Arcúdio (Pedro): 443ss. assistência enfermeira: - aos doentes e
Argentina: 253. «Augustana»: «Confessio» - 77, 81, 99, Avinhão (Lamberto d e ) : 70.
Companhia de Jesus 315.
Argóvia: 74. Assunção de Maria: na piedade bar- 187.
roca 290. «Augustinus»: Asserções de Jansênio Babilônia: 412.
«Argumentação cristã»: de Fabre 75.
em - 222ss; campanha antecipada dos Bach (Sebastião): «Oratório do Na-
Aristóteles: «cursus Complutensis», co- Astract: - e Império de Moscóvia 358. Jesuítas contra o - 222; edição do -
mentário de - 209ss; ética de - 8. «Astronomia nova»: de Kepler 283. tal» e «Paixão segundo S. Mateus» 290.
222; histórico das «Cinco Proposições»
Armada Espanhola: 116; destruição da Astúrias: 9. Bacon de Verúlamo: representante do
tiradas do - 226ss; questão do «placet»
- 124. Atanásio Anghel: - bispo de Mutka- empirismo ainda crente 310.
e condenação do - 222; Urbano VIII
Armagh: enforcamento de Plunket, ar- chevo 389; validade da sagração de e condenação do - 222. Bade: debate teológico em - 74.
cebispo de - 273. - 389. Bade (Bernardo Augusto d e ) : conver-
Armênios: 340. Atanásio II Patelaros: eleição 332. Augusto, o Possante:, 271. tido, e cardeal 271.
Arnauld (Abadessa Angélica): qualida- Atanásio III Dabas: 346, 348; acordo Áustria: 101, 160, 195, 293, 328, 332; Bade-Bade: missionamento de - pelos
des e atividades 271; e as teorias de de - com Cirilo V Zain 346; profissão bispos comarcões («landstãndisch») e Jesuítas 176; restauração da Igreja Ca-
Saint-Cyran 224. de fé católica de - 346. bispos burgueses na - 312; «Conselho tólica em - 176.
Arnauld (Antônio): 305, 309; - e Brás «Atas dos Mártires»: Ruinart e sele- dos Mosteiros» na - 174; criptoprotes- Bader (Agostinho): anabatista 89.
Pascal 228; demissão da Sorbona 228; ção crítica das - 282. tantismo na - 206; exorbitância da baianísmo: condenação do - por Pio
condenação das «distinções» de - 229; Atenas: 402. nobreza protestante na - 178; forma- V 219.
choque de - com a Companhia de Je- atentados: - a favor da sucessão cató- ção da - como potência católica 244; Baio (Du B a y ) : doutrinas de - 219s;
sus 226; reação provocada pela obra lica na Inglaterra 116. Guerra de Camponeses na - 178; re- - e estudo de S. Agostinho 219; e
«De la frequente Communion» 225ss. «Atentado de Béarn»: - e os Hugue- sistência ativa à Reforma Protestante Faculdade de Lovaina 219, 221; as Uni-
arraiais católicos: insegurança e debi- notes 203. 174ss; situação desesperadora do cato- versidades de Espanha sobre as pro-
lidade nos - 172. licismo na - 174; três quartos da po- posições de - 219.
atividades missionárias: - e padroa-
Arras: 29. pulação da - pertencentes à Confissão Baixa-Alemanha: 72.
do 256.
«Arrazoado da fé» (Ratio fidei): de «Ato de Supremacia»: decretação do de Augsburgo 174. Baixa-Itália: 18.
Zuinglio 79. - em 1534 na Inglaterra 84s; novo - Áustria Anterior: maior preservação Baixa-Saxônia: Catedrais da - 196.
arrebanhamento de índios: 12. sob Isabel I 114. dos católicos na - 174. Baixo-Reno: 28, 350; choque iminente
arte: expressão triunfante da fé na - Atos (Mosteiro d e ) : 430; centro espi- Áustria Central: rigorosa repressão dos da «União» com a «Liga» no - 195.
278; implantação da - barroca na Ale- ritual ortodoxo 335s; - e dominação Protestantes na - 178. Balaban (Gedeão): bispo de Lember-
manha 278. turca 335. Áustria Inferior e Superior: promoção ga (Lwow) 371s.
Artênio de Radoneso: - chefe ortodoxo Atos (Península d e ) : Monte Sagrado oficiai do luteranismo na - 174. Balament (Monges d e ) : e causa da
365. de - 335. Áustria Superior: baluarte do protes- união 416.
Artésia (Artois): 351; conquista de - tantismo 178; emigração forçada de Bálcãs: dominação dos - pelos Turcos
«Ato de uniformidade»: da rainha Isa- predicantes e mestres da - 196; repres-
110. 239, 318.
bel I da Inglaterra 114, 189.
são sangrenta de uma rebelião de cam- Balde, SJ (Jacó): poeta barroco 287.
«Artigos de Esmalcalda»: redigidos por atritos: entre missionários 342s.
poneses 196. Báltico: 257, 294; penetração do lu-
Lutero 101, 141s. atuação política: proibida aos missio-
«Austríaca pietas eucharistica»: 288. teranismo no Litoral - 74.
«Artigos Fundamentais»: de Jorge Ca- nários 258.
autoglorificação: Jansênio contra a - Bamberga: 163, 181.
listo 232; - e verdades necessárias pa- atuação religiosa: e braço secular 174. Bánato: 244, 325.
ra a salvação 232. «Auch wider die räuberischen Rotten do homem 223.
Báfíez, OP: ação de - contra tendên-
«Artigos de Sangue» (Bloodig A c t ) : der andern Bauern»: de Lutero 68. autojustiça («Selbstgerechtigkeit»): -
cias nominalistas na teologia 220; so-
abolição dos - 96; - e oposição pro- Auer: 39, 127. do homem segundo Lutero 48.
bre o concurso da graça e o livre
testante 86. «Auf, auf, ihr Christen!» (Eia sus, eia autonomia: - dos Países-Baixos 124.
arbítrio 220.
«Artigos de Schwahbach»: 77. sus, cristãos!): de Abraão de Santa Auto da Paixão: 290.
Baranyj, S.J. (Ladislau): atuação de -
Artur: irmão de Henrique VIII 82. Clara 291. autopastoril: imlantação do - da Itá-
na Transsilvânia 368s.
« A seus queridos Alemães»: de Lu- lia, para as Nações Nórdicas 286.
Auger, S.J. (Edmundo): - o Canísio Barbarigo (São Gregório): Imperador
tero 58. auto-reforma: - da Igreja, sob Paulo
gaulês 169. contra a eleição papal de - 296.
Asia Menor: 262, 322. III 137; novas formas de - católica na
Augsburgo: 19, 30, 32, 37, 70, 74s, Barberini: pendência do Duque Farne-
Asia Oriental: 253. Espanha 208.
75, 137, 139, 146, 168, 169, 286, 314; se contra os - 295.
Nova História III — 30
Barca (Calderón de l a ) : poeta barroco Baus (Carlos): 397.
de seu povo 287. Baviera: 107, 152, 195, 278, 289s, 308; 197, de seqüestro 81, 101; reintegra- biblistas (detentores-da-Bíblia): tole-
Barcelona: 133. - contra a Cúria Romana 107; debili- ção de - não mediatizados 197; res- rância dos Maometanos para com os
Barnabitas (Padres): fundação dos - tação política da - 293; Núncios Apos- tituição forçada de - na Alemanha - 320.
130. tólicos e Contra-Reforma na - 175; Central 198. Bidermann (Jacó): - e encenação de
Barônio (Cardeal César): e seus «An- recrutamento sacerdotal na - 175; rede bens de mão-morta: 21. «Cenodoxus», o «Cidadão de Paris»
naics ecclesiastici» 279; - e as «Cen- escolar dos Jesuítas na - 175; resistên- Bento (São) de Nórcia: Regra Mo- 280.
turias de Magdeburgo», e Historia da nástica de - 133, 430. Biblioteca Palatina: 196.
cia da - ã Reforma Protestante 174ss.
Igreja 210; manobras da Espanha con- Bento XIV: confirmação da decisão de
Baviera (Duque d a ) : 164. Biblioteca Vaticana: 276.
tra a eleição papal de - 354.
Baxter (Ricardo): - c visão puritana Clemente XI na Questão dos Ritos 268; Biel (Gabriel): 44.
barreiras alfandegárias: eliminação das
- 235. dos problemas sociais 316. - e ritos orientais 386. biscates: - considerados lícitos a sa-
Béarn: Huguenotes e atentado de - Berg (Ducado d e ) : situação religiosa cerdotes sem meios de subsistência 26.
barroco: - contrário a teólogos leigos 203; incorporação de - à Coroa 203. periclitante do - 173. bispos: dever de residência 138; mis-
284; convergência do - para a cúpula Beaton (David, Cardeal): assassínio do Berna: 75s, 79, 93, 95. sões dipiomáticas 30; trâmites da ins-
da sociedade 298; - e final da Idade - na Escócia 117. Bernardo ( S ã o ) : 133. tituição canónica dos - 197; Vicente
Média 292; - e patriarcalismo 297; Beirute: 337, 342. Bernardo Gustavo de Bade: converti- de Paulo e nomeação de - 218.
principio fundamental do - 298; quase-
Belarmino, SJ (São Roberto, Cardeal): do, e cardeal 271. bispos burgueses: na Áustria 312.
ausência do - na França 297; - e ra-
debates de teólogos luteranos com - Bernardo de Veimar (Duque): chefe bispos católicos: na Dieta de Augsbur-
zão de Estado 298; sociedade no bar-
roco 311ss; - e tradição medieval 298. 188; «Disputas sobre doutrinas con- militar dos Suecos 198. go 111.
barroquismo: 180. troversas» de - 234; - e Galileu 284, e Bernini: 276; colunatas de - 275; plan- bispos comarcões (landstándisch): na
Nobili 252; - e obra hagiográfica de ta de - para o Louvre 277, 297. Áustria 312.
Baruque Espinoza: - c cartesianismo Rosweycle SJ 279; obra teológica de - Bertoldo de Henneberg: 24. bispos espanhóis e portugueses: não-
309. Bérulle (Cardeal): 214, 309; - e Car-
278; - e poder indireto do Papa em compreensão dos - para as necessida-
Baseio, O.M.Cap. (Mateus): fundador assuntos temporais 118, 299; teologia melitas Descalças em França 211; Con- des ambientais missionárias 259.
dos Capuchinhos 129. controversa de - 171; - na Universi- dren e - 213; conversão dos Hugue- bispos estrangeiros: exclusão de - na
Basiléia: 29, 40, 42, 52, 62, 74, 79, 92, dade de Lovaina 171, 186; - e Vulgata notes 211; Exercícios Espirituais 211; Espanha c nos Países-Baixos 100.
192; Concílio de - 23, 142; edição Clementina 166s. fundação do «Oratório» Francês 210; bispos franceses: teoria própria dos -
completa das Obras de S. Agostinho Bélgica: 124, 257, 294, 305, 3 1 4 ; Ca- ideal sacerdotal segundo - 211; - e re- sobre o dever de residência 153.
na - 219; paradigma do Concilio de puchinhos na - 186; estilo «rubensis- integração dos Jesuítas 211; Saint-Cy- bispos jansenistas: 229.
- 142; revolta religiosa de 1529. ta» na - 277; Oratorianos na - 222; ran 224; tentativas de união religiosa bispos Uniatas: negação de assento
Basílica dos Apóstolos: demolição da renovação religiosa na - 183ss, 185. em França 233; - na órbita de São no Senado Polaco aos - 375.
- em Constantinopla 321. Belgrado: 244 ; conquista cristã de - Vicente de Paulo 216. Blankenfeíl (João d e ) : arcebispo de
Basilianos (Monges): Cabido metro- 214; pelos Turcos 131. Bessarábia: agremiações sectárias na Riga 74.
politano dos - 376; - e dioceses recém- belicosidade: dos Reformadores Ger- Blarer (Ambrósio): reformador em
integradns na União de Bresta 384; - - 90.
mânicos 188. Bessarião ( S ã o ) : 336. Vurtemberga 69, 87.
e processo de «latinização» 386; ori- Beneditinos (Monges): 29, 69; esfor- «Bloco Católico» (Corpus Catholico-
gem e evolução dos - 378. «bestial escravidão espanhola»: reação
ços científicos dos - na Hungria 282; contra a - 193. rum): 200.
Basílio (o Bem-aventurado): 362. litígio com os Jesuítas 197; situação «Bloco Evangélico» (Corpus Evangeli-
Basílio (São), o Grande: 360. Beza (Teodoro d e ) : 40, 99; - e Fran-
dos - na Itália, Espanha, Alemanha, cisco de Sales 185; e a Reforma na corum): 200.
Basílio Constantino de Ostrog (Ostro- Escócia, Inglaterra 31; tendências de bloco protestante: formação de - no
w s k y ) : - de Uolinia 365, 369; con- Suíça 96.
reforma entre - 30. Biberach: 28. Sul da Alemanha 103.
trário à União 372, 375. «Bloody Act» (Estatuto de Sangue):
Basílio II: 353s. benefícios eclesiásticos: cumulação e
negociação de - 49, 184; incorporação Bíblia: 308; defeituosidade das edições oposição protestante 86; abolição do
Basílio III: 367. eclesiásticas da - 144; - e edição da - 96.
de - 184; influência avassaladora do
Batalha de Lutzen: morte de Gustavo Rei de França nos - 185; razões da Poliglota Complutense 8; embargo con- Bobadilha: discípulo de Inácio de Lolo-
Adolfo na - 198. cumulação de - 18, 176s. tra traduções da - 104; Erasmo de Ro- la 135.
Bãthory (rei Estêvão): 367s, 370. benesses: excessos de - 22. terdão e exegese da - 42; - na língua
original 36; pregação de Zuíngiio so- Bockelson (João): anabatista 89.
batidas organizadas: para forçar apos- bens de comunidade: - e cenobitismo Boehme (Jacó): 269.
taslas 322. 362. bre texto corrido da - 63; relação en-
tre - e Igreja 45; traduções alemãs Boêmia: 18, 195; expulsão de predi-
Batismo: doutrina zuingliana sobre o bens eclesiásticos: confiscação de - cantes !96; Irmãos Morávios na - 174;
- 64; Lutero sobre o - de crianças 58; anteriores a Lutero 60; tradução de
81, 101; ínterim de Augsburgo e - Lutero 59ss; tradução sueca e fin- Protestantes da - 195; Valeriano Magni
validade do - calviniano 231. 110; Lamormaini, SJ e restituição de - e restauração católica na - 232.
Batistas: igrejas-livres dos - nos Esta- landesa 74.
197; medidas de exceção quanto a - Bogdano Khmelnitsky: hétmane - 381.
dos Unidos da América do Norte 90. 112; processos de recuperação de - «Bíblia Régia»: Poliglota Compluten- Bogomilos: 323.
se 8. boiardos: 365, 368, 370, 390.
- e os Lazaristas 217; Leibniz 237; Brêner (Desfiladeiros d o ) : 111. relatório de - mal recebido em Ro-
Boil OSB (Bernardo): 10.
opinião atenuante e atenuada de - so- Brenz (João): 69; - e Confissão de ma 237.
Bolandistas: 279ss; Biblioteca dos - em
bre a dissidência religiosa 237; - e Augsburgo 78; - luterano da ala mo- Buda (peste): conquista cristã de -
Antuérpia 280; - e Mabilion 281; - e
piedade ideal 302ss; polêmica contra ça 56; - redator da «Confessio Wirtem- 243s; Universidade de - 202.
publicação dos «Acta Sanctorum» 280;
Fénelon 304; - redator da «Declaração bergica» 187; - e reforma em Vur- Bugenhagen: 69; - e a Reforma na
supressão dos Jesuítas e - atividades
do Clero Galicano sobre a jurisdição temberga 87. Dinamarca 73.
não suspensas dos - 280.
eclesiástica» 300; réplica hostil de Ju- Breslau: 70, 270. «Bula da Ceia do Senhor»: Pio V e
Bolena, Boleyn ( A n a ) : 82, 114; anula-
ção do casamento de - com Henrique rieu a - 237; - e o «silentium obse- Bresta (Brest): 329; União de - 364ss; a - 162.
VIII 85. quiosum» 305; «Sur les états d'orai- bula de Clemente VIII 374. Bula «Exsurge Domine»: 29, 105.
boleto livre: Embaixador de França e son», contra o quietismo 303. Bresta (Litawsk): União de - 356. Bula sobre a indulgência: 55.
- em Roma 296; Inocêncio XI e ex- Bothwell (Conde): casamento de Ma- Bretanha: 23. bulas pontifícias: «placet» para as - 6.
tinção do - 297; questão do - 301. ria Stuart com - 118. breve de confissão: 49. Bula «Sacrosancti»: 50.
Bolland, SJ: continuador de Rosweyde Bouman (C. A . ) : 318ss, 417ss. breves de indulgência: 52. Bulgária: 322.
279; - e pesquisas hagiográficas 279. Bourdaloue, SJ: insensibilidade de - aos Breviário Romano: reforma do - por Bulgarynowitch (José): metropolita -
Bolonha: 19, 40, 147, 168; transferên- problemas sociais 314. Pio V 161. 357.
cia do Concílio para - 109, 145. Brabante: 100, 126. bulhas teológicas: 193ss.
«Brevíssima Relación de Ia destrucción
bolsas de estudos: 315. braço secular: e atuação religiosa 174. Bullinger (Henrique): 96; sucessor de
de los Indios»: 13.
brâmanes: admissão de Roberto No- Briçonnet (bispo Francisco): 91. Zuínglio 188.
Bolscc: eliminação de - 96. Buonvisi: Núncio Apostólico na Polô-
Bona (Bonn): 103. bili, SJ, na casta dos - 252. «Brief an die Fürsten von Sachsen von
Bramante: 56; planta da Igreja de São dem aufriihrischen Geist»: de Lute- nia 241; transferência para Viena 241.
«bonae litterae»: - dos humanistas 36. Burges (Bourges): carnificina em -
Bonhomini: Núncio na Suíça 182; Nún- Pedro em Roma 274. ro 66.
120; Sanção Pragmática de - 24.
cio de Colônia 186. Brandemburgo: 50, 52, 109; adesão de Brígida (Santa): fundadora do Mos-
Burghley (Cecil, Lorde): ministro de
«Book of Common Prayer»: novo - 96. - a Gustavo Adolfo 198; - na Paz de teiro de Vadstena 189.
Isabel I da Inglaterra 114.
Borbom, Navarra (Antônio d e ) : 98. Vestefália 199; perdas sensíveis da Brigitinos: 69; resistência dos - con-
burocratismo: das autoridades roma-
Borbom (Cardeal): 122. Igreja Católica em - 87; porção leo- tra Henrique VIII 85.
nas 138.
Borbom Navarra (Henrique d e ) : abju- nina de - na anexação de dioceses Brindisi (São Lourenço d e ) : - e ex-
Bursfeld: reforma monástica cm - 30.
ração forçada de - 120; casamento 172; resistência ao calvinismo em - pansão dos Capuchinhos 183.
Burtenbach (Schertlin d e ) : 108.
de - com Margarida de Valois 120. 188; - e refugiados Huguenotes 205; Brito, SJ (São João d e ) : trabalho mis-
Bordéus: carnificina cm - 120; galica- e Valdenses franceses 205. sionário nas Índias 252.
nismo, Sínodo Provincial de - 184. Brandcmburgo-Kulmbach: 68, 76, 78; Brueck (Gregório): 78. Cabidos da Alemanha: comprometidos
Borgonha: 18, 23, 257; conquista da Margrave de - 68. Bruno (Jordão): doutrinas heterodo- em matéria de fé 164.
- 110. Brandemburgo-Kustrin: Margrave de - xas de - 283; e a teoria de Copér- Cabidos das Catedrais: resistência aos
Bóris Godounov: - e os «Distúrbios» 108. nico 283. bispos 184.
358s, 364. Brandcmburgo-Prússia: - e a hegemo- Cabidos isentos: oposição às decisões
Brunsvique: 187, 271; nova crença em tridentinas. nos Países-Baixos 185.
Borja (Cardeal): - e Eutímio II 345. nia protestante na Alemanha 271; po-
- 173. Caccini, OP: contra Galileu 284.
Borromeu (São Carlos): bom exemplo lítica expansionista de - 293.
Brandi: 131. Brunsvique-Calemberg: 108. Cadiz: 14, 29.
na França 184; bom êxito do Concí-
Brant (Sebastião) : sobre o monopólio Brunsvique-Luneburgo: 78. Caen: berço da Congregação de Je-
lio de Trento 151; - e Contra-Reforma
e o ágio (juros) 19. Brunsvique-Wolfenbüttel (Duque Antô- sus e Maria 215.
182; criação de cardeal 151; família
Brasil: 14s, 136, 253, 294; abolição nio Ulrico d e ) : 101, 109; conversão Caetano, OP (Cardeal): 14, 32; dele-
de - e Pio IV 151; - e Francisco de
da escravatura dos índios também no de - 271. gado apostólico na Dieta de Augsbur-
Sales 212; negociações conciliares com
a França 152. - 315; descobrimento do - 14. Bruxelas: 99, 257; Holandeses contra - go 54s; sanções contra Lutero 105.
Braunau: fechamento da Igreja de - 199; restrições de - aos Sínodos 186. Caetano (São) de Tiene: 129.
Bosio (Antônio): - e valor científico Bucer (Martinho): 29, 54, 56, 69, 77, «Caixa Comum da Igreja»: «Gemeiner
das Catacumbas 279. 195.
79, 93, 96, 103, 109, 128, 167; coló- Kirchenkasten». em Vurtemberga 87.
Bósnia: islamização maciça na - 323. Braunsberga: Seminário Pontifício de
quios com Gropper 128; - e a «Con- Calcos (ilha d e ) : 397.
Bossuet: 235, 305, 309; apologética - 202. Caldeus: 407.
conservadora de - 237; crítica de - so- fessio Hafniensis» 72; dados biográfi-
Brema (Bremen): 70; calvinismo em -
bre as obras de Molinos, Lacombe e cos 94; «De Regno Christi», obra de Calendário antigo: manutenção do -
180; igrejas nacionais (Landeskirchen)
Guyon 303; a «Exposição» de - na em - 72; - em mãos de bispos pro- - 97; esforços humanísticos de media- no Sínodo de Torún 373.
Reunião Geral do Clero Francês 300; testantes 173; - na Paz de Vestefá- ção 127; e formação dominicana 94; Calendário chinês: Adão Schall, SJ, e
«Exposition de la doctrine chrétienne» e rejeição do «ínterim» 94; morte de a reforma do - 250.
lia 199.
237; falta de sensibilidade de - para - 97. Calendário Gregoriano: Revolução Bol-
Brémond (Henri): 304.
os valores positivos do protestantismo Buchheim (Conde Francisco Antônio chevista e introdução do - na Rús-
Brendel (Daniel): arcebispo de Mo- sia 163.
238; - e fidalgos conservadores 237; d e ) : bispo de Neustádio-Viena 236;
gúncia e Contra-Reforma 179.
Calendario (Reforma): 284; aceitação pessoal de - com Lutero 90, 92; con-
ções com Carlos Borromeu 169; - e narquismo do Papa contra a oligarquia
pela Dicta Germânica 103; equivalen- temporâneo de Inácio de Loiola em
o sistema escolar jesuítico 167; - e dos - 166; número limitado («nume-
te do - nas Igrejas Orientais desde Paris 90, 134; a «conversio súbita»
situação de sua Ordem na Alema- rus clausus») dos - 166; Pio V e no-
1923, 163; Gregório XIII e - 163; Na- (conversão repentina) de - 90; dados
nha 137; trabalhos em Ingolstádio 168; meação de - dignos e competentes 161.
ções Católicas e - 163. biográficos de - 90; deposição e es-
- em Viena 168s. Cardeal Carlos de Lorena: 153, - no
cálice para os leigos: 110; desuso do corraçamento de - de Genebra 92;
Cano (Melchior): no Concílio de Tren- encerramento do Concílio 154.
- 288; postulação do - 175; Principes doutrinas de - 92ss; edição de sua
to 143. Cardeal-Nepote: ação do - contra o
Católicos e postulação do - 172. «Institutio religionis christianae» 92; -
Cânon Bíblico: do Concílio de Flo- «Augustinus», de Jansênio 222.
Califa: Sultão Otomano e título de em Estrasburgo 92; em Ferraria 139;
rença 143. caridade: 314ss.
- 319. - e Lutero 90; e Miguel Servet 96; -
canonicidade: de Lutero 188.
California: 293. e reconhecimento do batismo católico Caríntia: emigração forçada de fidal-
canonização: de Gerásimo, o Moço 331.
Calígula: 276. 96; Reformador de Genebra 92; re- gos protestantes da - 196; exercício
canonizações: - na Igreja Ortodoxa 362.
Calisto (Jorge): 235, 270; - e os «Ar- núncia às prebendas católicas 91; re- da religião na - 174; postos de cripto-
«Cantatum satis»: 287.
tigos Fundamentais» 232; - e «con- vocação a Genebra 92; «Ordennances protestantismo na - Oriental 206; re-
Cantões Católicos: da Suíça 80; Con-
sensus quinquesaccularis» Patrum» 232; Ecclcsiastiques» de - 94. catolização da - 178s.
centração Cristã dos - 75.
- e o diálogo de religião em Tórun Câmara Apostólica: reestruturação 159. Carlos (Arquiduque) da Áustria: 174.
Cantuária: Laud, primaz de - 190; le-
(Thorn) 232- - e Jorge Cassandro 232; Câmara Baixa: e juramento de supre- Carlos Alexandre de Vurtemberga: con-
vantamento econômico do priorado da
qualidades e atividades de - 232; - e macia na Inglaterra 155. versão do príncipe - 271.
Catedral de - 18.
os símbolos cristãos primevos 232. Cambraia: 110, 186, 303. Carlos (São) Borromeu: atentado con-
Calisto III: 15, 424. Cambridge: 115. Capelas laterais: introdução de - nas tra - 159; atritos com o Governo Es-
Igrejas Bizantinas (dos Basilianos) 386, panhol 159; bom exemplo de - 184;
Calvet (Jorge): conversão de - 190. Camilo (São) de Lellis: fundador dos
Capeia Sistina: 274. cardeal - 151; congregado mariano
calvinismo: 124; adversários políticos Ministros dos Enfermos (Padres Cami-
«Capital de Deus Nosso Senhor»: 19. 172; - e Contra-Reforma na Suíça
e teológicos do - 95s; - na Alemanha lianos) 316.
Capito: 93. 182ss; Francisco de Sales e - 212;
101; atração do - sobre os assim cha- Campeggio (Cardeal): Legado Ponti-
Capitulação eleitoral: 72; na eleição do negociações conciliares com a França
mados «devotos» 223; casamento mis- fício 77; - no processo matrimonial de
Papa 146; - e perda de dioceses 173. 152; regresso de - a Milão 159; rela-
to no - 98; Colegiado de Pastores no Henrique VIII 83.
Capitulação de 1673: - e direitos dos ções çom Pedro Canisio 169.
- 95; Consistorio no - 95; culto divino «Campeões da Liberdade»: - da Suíça
uniatas 341; entre Luís XIV e Maomé Carlos de Guise (Cardeal de Lorena):
95; delimitação do - contra o lutera- contra Calvino 95.
IV 327. 153, 154.
nismo 188; disciplina eclesiástica 92; Campion (Edmundo): martírio de - 116.
Capitulações: aspecto religioso das -
Eduardo VI e calvinismo 96; exclusão Camponeses: atitude de Lutero nas Carlos de Lorena (Duque): 242.
327ss; - com a França, Inglaterra, Paí-
do - na Paz Religiosa de Augsbur- Guerras dos - 65; - como rendeiros Carlos I: casamento de - da Ingla-
ses Baixos 327; importância das - 412.
go 188; força de aliciamento (atra- 23; decadência social dos - 22; má terra com Henriqueta Maria de Fran-
Cappel (Kappel): 80s.
ção) do - 96; formação de crença- situação dos - 22s. ça 190; puritanos contra o absolutis-
Capuchinhos (Padres): 327, 342; - em
bloco no - 124; - na Hungria 202; - Carnus (bispo): - e ceticismo 308. mo de - 190.
Alepo 342; atração dos fidalgos pelos
e Isabel I da Inglaterra 115; leis dis- Canadá: 294; Mártires do - 261; Mis- Carlos I ( V ) : da Espanha 7, 54.
ciplinares do - 94; - em Nassau, Pa- são dos Jesuítas entre os índios 261; - 183; - na Bélgica 186; e Contra-
Reforma em França 184; e expansão Carlos II: da Espanha 294.
latinado, Zweibrücken, Anhalt, Hássia- Missionários Franceses no - 261-264. Carlos II: da Inglaterra 272s, 330.
Cassel, Brema 188; organização do - Canisio, SJ (São Pedro): 136, 182; fora da Itália 182s; fundação dos -
129s; fusão dos - com Franciscanos Carlos V (Imperador): 9, 13, 24s, 73,
na França 97s; - e padrão de Gene- atividades literárias de - 169; - e o 82, 99s, 107, 114; abdicação de - 112;
bra 97; - no Palatinado Eleitoral 188; Bispo de Augsburgo 179; Catecismos 150; pregação barroca dos - 291; pre-
gadores - em França 122; - na Rússia eleição de - para Imperador Romano-
- e regalismo 95; - e tarefas do Es- de - 169, 333; - e Colégio Germâni- Germânico 9; encontros de S. Pedro
tado 95; - e União de Utreque 124. co 168; confidente do Imperador e 474; - na Suíça 183; superação da
crise após a apostasia de Ochino Canisio com - 168; Henrique VIII con-
calvinistas: beneficiados pela Paz de dos Duques da Baviera 169; - e de- tra - 85; - imperador messiânico 10;
Vestefália 199; confissão (símbolo) uni- cisões tridentinas na Alemanha 160; - 139, 182.
- e missão canónica dos missionários
taria dos - e dos Zuinglianos (Sacra- na Dieta de Ratisbona 169; encon- Cara Mustafá (Grão-vizir): - às por-
15; patrocinador da convocação do
méntanos) 188; intenções segundas tros com Carlos V 168; exortações tas de Belgrado 242.
Concílio 140; - e pauta do Concílio de
nos diálogos dos - 232; não-ingerên- de - ao Cardeal de Augsburgo 168; Caraffa (Carlos): Secretário de Estado
Trento 142; rebelião de Maurício da
cia dos Calvinistas nas perseguições formação de nova geração e - 172; de Paulo IV 149.
Saxonia contra - 148; - e recondução
contra os católicos no Japão 249. fundação de colégios, pensionatos, e Caraffa (João Pedro, Cardeal): 129,
dos Protestantes 77; e transferência
Calvino (João): 90-96, 103, 135, 308; internatos 168; fundação de residên- 137, 139; - e os Capuchinhos 130, 150;
do Concílio 146; vitória de - sobre
- e assistência moral aos perseguidos cias em Colônia, Augsburgo, Virce- - eleito Papa Paulo IV 148; - e re-
Francisco I da França 75.
103s; - e Bticer 93; Catecismo para burgo 168; ideal sacerdotal de - 168; forma da Cúria 138.
Carlos IX da França: 120.
as crianças de - 95; - e a «Confessio luta de - contra Germano de Wied Caravaggio: 277.
Carlos IX da Suécia: 189.
Galllcana» (em seu teor) 98; contacto 167; - e Pedro Fabre, SJ 137; rela- Cardeais: direito de voto dos - 5;
Carlos X da Suécia: 272.
facções no Colégio dos - 227; mo-
Carlos (Regente): oposição de - ao Castro (Afonso d e ) : no Concilio de Grão-Mestre dos - 74; - na Espanha 5. mentais de todas as religiões 311; e
catolicismo na Suécia 189. Trento 143. «Cavalgada do SSmo. Sangue» («Blu- sistema de religião natural 310s.
Carlowitz (Karlowitz): 325; Tratado Castro: Guerra em torno da cidade tritt»): - em Weingarten 290. Chiapas (México): 13.
de Paz de - 244, 319. de - 295. Ceia: - doutrina dos «Quarenta e dois Chiemsee: 147.
Carmelitas (Freiras): - Descalças e Catacumbas: Gregorio XIII e debates Artigos» 97; - na doutrina zuingliana Chieregati (Francisco): Legado de
Teresa de Jesus 208ss; - e novo espi- científicos sobre as - 163; redescobri-
rito religioso 213. 64; - e manducação espiritual 77. Adriano VI à Dieta de Nurember-
mento das - 279; transladações de Ceilão: perseguições dos Holandeses ga 131.
Carmelitas (Padres): 262; em Alepo Mártires das - 290. contra os sacerdotes nativos de - 295. Chiesa, OFM (Bernardino delia): bis-
342; - Observantes e Missão no Ori- Catalunha: movimentos autonomistas celibato: 78; impugnação do - por po de Pequim e as decisões de Tour-
ente Próximo 256. da - 293.
Cassandro 231. non 267s.
Carmi (Karmi): Melecio - arcebispo Catarina de Aragão, rainha da Ingla- «Cem Capítulos»: Stoglaw» ou - 363. Chiesa Nuova: Fiiipe Neri e constru-
de Alepo 345. terra: 35, 82, 97, 114. Cenáculo: 338. ção de - 210.
Carneóla (Krain): exercício de reli- Catarina de Bora: casamento de Lu- cenobios: forma mais livre de - 336. Chieti: 129.
gião em - 174. tero com - 62. cenobitas: 341; - e bens de comunida- China: 136, 262, 265, 267; acomoda-
Caraesecchi (Pedro): 161; condenação Catarina de Medici: 119, 123, 162; con- de 362; - no Oriente Eslavo 359s. ção missionária na - 249; Clero na-
e execução de - 161; correspondên- cessões aos Huguenotes 98; diálogo re- «Cenodoxus»: o «Doutor de París»; tivo 250; Observatório Astronômico e
cia de - com Ochino e Valdes 161. ligioso de Poissy 279. de Jacó Bidermann 286. Jesuítas 250; planos de Francisco Xa-
Carnificina: de Bordéus 120, de Esto- «Catecismo para crianças»: de Calvi- centralismo curial: 256. vier sobre a - 246; 1' chinês Vigá-
colmo 73, de Vassy 119. no 95. «Centurias de Magdeburgo»: 110, 278; rio' Apostólico 250; tensões latentes na
Carranza (arcebispo de Toledo): pro- Catecismos de Edmundo Auger, SJ: Barônio e as - 210; temática das - Missão da - 252.
cesso inquisitorial contra - 208. 169s. 279; - e «testemunhas da verdade» 279. Chipre: conquista pelos Turcos 319.
carreira eclesiástica: - e convertidos Catecismo de Heidelberga: 187. cereais (tributo d e ) : em alemão «Um- Choueir: Mosteiro Central de - e
271. Catecismos de Lutero: penetração dos geld» 21. causa de união 349.
«Cartas de obscurantistas»: 36, 56. - no povo austríaco 168. «Cerimonial dos Bispos»: edição do - «Christliche Beweisung»: de Fabre 75.
«Carta aos Principes da Saxônia sobre Catecismo de Mogila: 333. 161. «Christliches Burgrecht» (Direito Civil
o espírito de rebeldia»: de Lutero 66. Catecismo Reformado: difusão do - na Cervini (Cardeal): - e Concilio de Cristão): 75; abolição do - 81.
«Cartas a um Provincial»: de Brás Transsilvánia 464. Trento 141; - eleito papa Marcelo II «Christus vincit, etc.»: inscrição do
Pascal 228. Catecismo Romano, ou Tridentino: Pio 148; nomeação de - para cardeal 137; Obelisco em Roma 276.
cartesianismo: Colégios e novas posi- V e edição do - 161. opinião de - sobre a situação da Ale- Chumlansky (José): sagração irregu-
ções do - 285. Catecismo da vida cristã: do Cardeal manha Protestante 146. lar de - 383ss.
Cartesius, Descartes (Renato): - e pe- Mendoza 7. cesaropapismo: de Henrique VIII 85. Cícero: 8.
ripécia do pensamento 308. catedrais: problemas resultantes da Césy: embaixador de França 330. Cidades (Ilhas): 32S.
Cartuxos (Monges): 35; resistência construção das - 20. ceticismo: 307. «Cid»: de Corneille 298.
dos - a Henrique VIH da Inglaterra 85. catequese paroquial: - e seminaris- Cevenas: rebelião dos Protestantes «Cidadania Cristã» (Christliches Burg-
casamento misto: - no calvinismo 98. tas 215. nas - 206. recht): Mühlhausen e - 75.
casamento de sacerdotes: 110, 157; «Cativeiro Babilónico da Igreja»: de Chablais: 212. cidade: poder econômico da - 20; pré-
postulação para - 175; príncipes cató- Lutero 58, 82. Châlons: 303; Tribunal Eclesiástico capitalismo e - 20; sistema orgânico e
licos e - 172; proibição de Henrique catolicismo: desaparecimento do brilho de - 28. administrativo da - 20.
VIII para - 86. e poder político do - 292. cidade cristã: conceito de Zuínglio 65.
Casemiro (rei João): 353s. Champanha: 119.
catolicismo barroco: característica do Cidade das Lagunas (Veneza): infil-
«caso de consciência»: em torno do «Chancelaria de Deus Nosso Senhor»:
- 268ss. tração heterodoxa na - 138.
«silêncio respeitoso» (jansenismo) 305. em alemão «Des Herrgotts Kanzlei»,
catolicismo pós-tridentino: vitalidade do de Flávio Ilírico 110. cidades livres: apostasia das - no Im-
«Caso de Galileu»: 283ss; conseqüên- - 274. pério Germânico 87.'
Chancelaria Imperial: medidas da -
cias negativas do - 285. católicos: comunicação cultual («com- cidades mediatizadas: 22.
contra Lutero 59.
Cassandro (Jorge): - e cotejo da «Con- municatio in sacris») com ortodoxos Cidade do México: 11, 14.
fessio Augustana» com a doutrina ca- Chantal (Santa Joana Francisca d e ) :
328; simbiose dos - com os Hugue- cidades monásticas (Klosterstädte): 12.
tólica 231; - e diálogo religioso de discípula de São Francisco de Sales
notes na França 307. 212s. Cidade Santa: Filipe Neri e Roma co-
Poissy 231; impugnação do celibato Caulet: bispo de Pamiers - contra as mo - 210.
por - 231. -n
• regalias 300.
Charron (Cónego): - e ceticismo de
Montaigne 308. ciências: Gregório XIII e promoção
Castela: 5, 132; união de - com Ara- cavaleiros: decadência social dos - 22. Chelm (Cholm): diocese de - 371. das - 162.
gão 5. Cavaleiros Joanitas: 279; - e assédio Chemnitz (Martinho): - e seu «Exa- ciências naturais: - na Faculdade de
«Castelo da alma»: de S. Teresa de de Malta 239, e defesa de Rodes 131, men Concilii Tridentini» 188. Filosofia dos Jesuítas 171; - e Igreja
Avila 208. 319. Cherbury (Lorde Heriberto, O F ) : indi- (situação de alheamento) 285ss.
Castellio: caluniado por Calvino 96. Cavaleiros Teutónicos: apostasia do ciação de - 311; - e princípios funda- ciências teológicas: 278ss.
cientistas: índole religiosa dos - e pou- «Adoração das Quarenta Horas» 289; Cochlaeus» (Cocleu): 57; na Dieta de Colégios Pontifícios de Nações Estran-
ca receptividade da Igreja 283. bula de - sobre a União de Bresta Augsburgo 77. geiras: organização dos - ( | Propa-
t a

«Cinco Proposições»: histórico das - 374, 378; e a controvérsia sobre a Cock (Pedro de): impedido de exer- ganda) 258s.
no livro de Jansênio 226ss. graça (concurso divino) 220; e propa- cer cargo de Pró-Vigário Apostólico Colégio(s) Romano(s): 150; alçada da
«Círculo Erasmiano»: de João de Val- gação da fé 256. dos Paises-Baixos 367. Propaganda 258; Congregações Maria-
des 138. Codde (Pedro): ligações com Arnauld nas 171; e Júlio III 163.
Clemente IX: - e fórmula de transa-
«Círculo de Meaux»: - contra a pre- ção para liqüidar a controvérsia jan- e Quesnel 306; suspensão e demissão Colet (John): 38.
gação franciscana 91; e reforma hu- senista 229. como Vigário Apostólico dos Paíscs- coletas: abuso das - territoriais 32
manista 91. Baixos 307. «Coletânea do Direito Canónico»: re-
Clemente XI: 244; bula de - sobre o
Cirilo II Contaris: - c condenação de «Codex Alexandrinus»: presente do - visão da - 163.
«silentium obsequiosum» 305; bula
Cirilo Lucaris 332; eleição de - 332; «Unigenitus» contra Quesnel e o jan- a Carlos II da Inglaterra 330. Coligny (Almirante): 98; assassínio do
personalidade e atividades de - 332. «Codex Regularam»: de Lucas Ilolste - 120.
senismo 306; - e caso do Bispo de
Cirilo Lucaris: 337, 448; anexo da edi- 270. Coligny (Irmãos): 198.
Fuquiém na Questão dos Ritos 267;
ção greco-latina do Símbolo de - 331; «Códice de Alexandria»: presente do - «Collatio Novi Testamenti»; de Valia
confirmação do decreto de 1704 na
- e Antônio Léger 330; - e autoria do a Carlos II da Inglaterra 330. 40.
Questão dos Ritos 267; sobre o de-
Símbolo de coloração calviniana 331; creto de 1645 267. Cognet (Luís): 304. «Collège Montaigne»: Inácio de Loio-
caso psicológico de - 331; causa das clericalismo calviniano: 94s. Colbert: 344; - na Reunião Geral do la e - em Paris 43.
deposições de - 332; correspondência clérigos: dever de residência 7, 27s, Clero Francês 300. «Collegium Germanicum Hungaricum»:
de - com os Protestantes do Oci- 91, 138, 145; - e empreguismo 25; Colegiadas da Alemanha: - c privilé- 164.
dente 330; dobrez de - 330; prisão e excesso de - 22; - para instrução de gios dos nobres 164. «Collegium Helveticum»: 159, 182.
enforcamento de - 332; relações de - crianças 316. Colegiado dos Pastores: no calvinis- «Collegium Martyrum»: 164.
com a Inglaterra 330; tendências cal- mo 95. «Colloquium caritatis»: em Tórun
Clérigos Regulares das Escolas Pias (Thorn) 232.
vinianas de - 330ss. Colegiado dos Príncipes-EIeitores: maio-
(Piaristas): S. José de Calazans, fun-
Cirilo V Zain: 346; acordo de - com ria protestante no - 177. Colombière, SJ (Cláudio de l a ) : 273.
dador dos - 316.
Atanásio III Dabas 346ss; profissão de Colégio(s): fundados por S. Pedro Ca- Colombo (Cristóvão): 9s; e a Espa-
Clérigos Regulares da Itália: 256. nha 9.
fé de - 348. nisio 168; frustração de muitos - no
Clermont: situação das paróquias na
Cirilo VI (Serafim Tanas): eleição de século XVII 285; - e restauração re- Colônia: 137, 186, 257, 294, 312; Bucer
diocese de - 27. e protestantização de - 167; campa-
- 348. ligiosa 170.
cisma: no Patriarcado de Antioquia «Clero Branco»: entre ortodoxos 431. nha («Guerra») em torno da Arqui-
Clero: concubinato entre o - 28; fal- Colégio Ânglico: em Douai, Roma, Va- diocese de - 124; defesa do catoli-
346ss.
ta de instrução no - de Quieve (Kicv) lhadolid 116, 164, 287. cismo em - 173; - Eletiva 94; Ger-
Cisma Anglicano: falta de reação do
427; falta de senso pastoral no - 29; Colégio Armênio: fundação de Gregó- mano de Wied 103; Jesuítas - 137;
povo ao - 85.
freqüência de Universidades e - 27; rio XIII 164. nova Nunciatura em - 165; processos
Cisneros (Abade): «Ejercitatorio de la
- Inglês 313; situação do - na Po- Colégio Cardinalício (dos Cardeais): eclesiásticos 109.
vida spiritual» 133.
lônia 364s. 25; facções no - 297; nomeações típi- Colunata de Bernini: 275.
Cisneros (Ximenez d e ) : 8.
cas de Paulo III para o - 127; remo- Comacchio: ocupação de - 296.
civilização: valor intrínseco de toda Clero Francês: - 4 Artigos Galica-
delação espiritual do - por Paulo III comenda(s): nos Países-Baixos 100;
- 265. nos 301.
137. sistema de - 24.
civilização barroca: forças deletérias Clero instruído: Gregório XIII sobre
da - 292; labilidade da - 298. - 163. Colégio Germânico: - e S. Pedro Ca- Comênio: - e Irmãos Morávios 232s.
Clero Latino: desdém do - pelas tra- nísio, SJ 168. Commendone (bispo): e os «Stãnde»
civilização exótica: São Francisco Xa-
vier e - 246. dições orientais 385. Colégio Germano-Húngaro: formação (Estados) da Dieta Germânica 152.
de Clero para a Alemanha 164. «Commentaria de actis et scriptis M.
civilizações: Igreja e absorção de no- Clero nativo (autóctone): na China 250.
Colégio Grego: fundação de Gregório Lutheri»: 57.
vas - 265. Clero Paroquial: submissão a Isabel I
da Inglaterra 115. XIII 164, 325s, 371; - e rito bizanti- Companhia Holandesa das índias Ori-
Claudel (Paulo): 134.
no 385. entais: 294.
Claudius (Matias): Fénelon e pietismo Clero Regular: prescrições sinodais e
germânico de - 304. - 7. Colégio Helvético (Suíço): fundação Companhia de Jesus (Jesuítas): 135,
clausura: abolição da - 3 1 . Cleve: 43. de S. Carlos Borromeu, em Milão 159, 285, 287; aprovação canónica 135, 141;
Claver, SJ (São Pedro): e pastoral Clichtove: campanha contra Lutero 91; 182. assistência enfermeira aos doentes 314;
dos negros 315. e Circulo de Meaux 91. Colégios dos Jesuítas: Constituições expansão 134, 136, 186; finalidades
Clavio, SJ: 250, 284; - e reforma do dos - em Roma 153; - em Viena, 135, 223; galicanismo e - 224; huma-
cobertura militar: Edito de Restituição
Calendário 163. Graz, Olmutz, Praga, Braunsberga, nismo 171; jansenismo 221; Júlio III
e - 197. 146; - e juventude 170ss; e Ordem
Clemente VII: 8, 41, 76, 83, 439; con- Coburgo: 78. Fulda e Dílinga 164.
temporização do Concílio por - 140. Colégio Maronita: fundação de Gregó- dos Capuchinhos 183; - nos países ro-
Cocliem, OMCap (Martinho d e ) : «ora- mânicos, nórdicos 136s; - e Paulo IV
Clemente VIII: 123, 161, 167; - e a ção cordial» e - 289. rio XIII 164.
150; «Ratio et institutio studiorum» da do - 139-142; postulação de - em Concordata: - entre bispos 176; - de confissões (credos) religiosas: coexis-
- 170ss; - e restauração religiosa em terras germânicas, sem presença do 1516 24; rigidez da - em França 185; tência de - 194; paridade de - 123.
França 169; surto missionário 244; teo- Papa 140; restrição do pleno poder - de Viena (1448) 25. conformação barroca do mundo: 239ss.
logia especulativa 171; Universidade da Sé Apostólica pelo - 301. concorrência eclesiástica: - ao comér- Confraria dos Agiotafitas (Hagiotafi-
de Lovaina 220. Concílio de Basiléia: 23, 142. cio e à indústria 21. tas): 338.
Companhia Mercantil de Ravensbur- Concílio (Congregação Romana d o ) : concubinato: frouxa repressão do - en- Confrarias Medievais: - e renovação
g o : 19. 184; reconhecimento do batismo cal- tre o Clero 28. da Igreja 129.
Companhia do SSmo. Sacramento: de viniano pela - 231. concurso da graça: 219. Confraria do Santo Sepulcro: origem
Paris 289. Concílio de Constança: 5, 55. Conde (Príncipe Luís): 98, 119. e evolução da - 338s.
compatrícios (conscionais): Colégios Concílio Ecumênico: apelação de Hen- Condren (Carlos): 214, 264; e Bérulle Confúcio: 266; culto de - 249.
Pontifícios de Nações Estrangeiras e rique VIII a - 84, de Lutero 59; infa- 213; qualidades e atividades de - 213; «Confusão de Augsburgo»: 270.
admissão de - 258. libilidade do - e Lutero 55. e São Sulpício 213. «Confutatio»: - resposta do Imperador
complexo latino de superioridade: - Concílio de Florença: 381, 403; cânon Cónegos Regrantes de S. Agostinho: à Confissão de Augsburgo 79.
contra os Orientais 352. bíblico do - 143; - e os Sacramentos reforma dos - 32s. Congo: 15.
«compromisso de religião»: para vá- administrados pelos Gregos 351, 357s. Conferência de Issy: 303. «Congregação sobre a ajuda da gra-
rios Estados da Baviera 175. Concílio Imperial ou Nacional: 141. Conferências Ortodoxas de Iasi: 333. ça»: 220.
comuna civil: e Igreja 20. Concílio Lateral (Para-Concílio) de In- «Conferências de Têrça-Feira»: de S. Congregação do Concílio: 158, 184;
Comunhão em ambas as espécies nsbruck: 153. Vicente de Paulo 217. reconhecimento do batismo calvinia-
(utraquistas): 147. Concílio de Latrão V : 33, 37, 142. «Confessio»: do Patriarca Dositeo II no 231.
Comunhão de crianças: 147. Concílio Nacional: ameaça de convoca- Notaras 334, 389. «Congregação Germânica»: - em Roma
Comunhão freqüente: 289; praxes di- ção na França 147, 151; «direito» ré- «Confessio Augustana»: 73, 77-81; co- 164, 179.
vergentes 225. gio de convocar - 298. tejo da - com a doutrina católica 231; Congregação do índice: e doutrina de
Comunhão numa só espécie: 78, 288; Concílio de Trento (Tridentino): 43, pontos doutrinais da - 78ss; - e o Galileu 284.
impugnação 231. 99, 109, 142-148, 150-157, 219, 222, «Provisorium» 80; redação da - 78; Congregação de Jesus e Maria: funda-
Comunhão de pé: 288. 237, 274; bula de convocação «Laetare tradução grega da - 328. ção de S. João Eudes 215.
Comunhão na Sexta-Feira Santa: 288. Jerusalem» 141; comunhão de crianças «Confessio Bélgica» (Confissão Belga): Congregação da Missão: fundação de
comunhão ou comunicação cultual: - 147; conseqüências da interrupção do 99. S. Vicente de Paulo 216.
(«communicatio in sacris») entre cató- - 150ss; de nova dilação 172; decre- «Confessio Bohemica» (Confissão da Congregação do Palatinado: criação,
licos e ortodoxos 328. tos dogmáticos sobre o Matrimônio Boêmia): 174. em Roma, da - 258.
comunidades calvínicas: inglesas em 153s; definições sobre os Sacramentos «Confessio Gallicana» (Confissão Gau- Congregação da Propaganda: 342;
Francoforte e Genebra 114; - no Re- 144, 147; dilação do - por 10 anos lesa) : - dos Calvinistas franceses 98. fundação, objetivos 256-260; pronun-
no e nos Países-Baixos 173. 148; Francisco I contra a convocação «Confessio Hafniensis»: da Dinamar- ciamento sobre diálogos de religião
do - 140; - e fontes da fé 143; - e ca 72. 281; - c assuntos orientais 380.
comunidades católicas: na diáspora Guerra Esmalcáldica 144; o Imperador «Confessio Helvética posterior»: 188. Congregação Reformada de Valha-
200. e convocação do - 140; importância «Confessio Orthodoxa»: tradução gre- dolid: 7.
comunidades femininas: e formas tra- do - 154ss; nova convocação 141; ga da - de Moghila 334; influências Congregação de Sacerdotes Seculares
dicionais de vida religiosa 218. obra dogmática do - 156; - e Orató- latinas na - de Moghila 334. Oblatos: 159.
comunidades luteranas: na Vestefália rio de Bérulle 211; participação (ín- «Confessio Scotica»: de Knox para os Congregações Femininas: de governo
e no Rur 173. dice) no - 143; presença dos Esta- Escoceses 117. centralizado 313.
comunidade melquita: e ortodoxismo dos («Stände») Protestantes 147; prín- «Confessio Tetrapolitana»: (Confissão Congregações Marianas: 164; c dra-
337. cipes seculares e convocação do - 141; das Quatro Cidades) 79. mas jesuíticos 287; liderança da ju-
Comunidades Uniatas: atraso das - no protelações do Imperador 144; obje- «Confessio Wirtembergica»: - de Brenz ventude 171.
século XVI 352; papel das - na na- ções da França e dos Esmalcáldicos 99, 148, 187. Congregações Romanas (Curiais): cria-
ção 382s. contra a convocação 140; reabertura, Confissão de Augsburgo: 73, 77ss, 99, ção de - por Sisto V 166; presidên-
comunismo: dos anabatistas 89. crise, encerramento 150ss; reforma do 187; - e doutrina católica 231; Lute- cia das - 166; reestruturação das - 166.
«Concentração Cristã»: dos Cantões Calendário 163; retransferência do - ro e - 127; pontos doutrinários da - «Congregatio de auxüiis»: 220.
Católicos (Suíça) 75. 146; 2" período de sessão 146; - e 78ss; - e o «Provisorium» 80; reda- «Congregatio Germânica»: em Roma
«concetti»: estilo barroco de sermão Seminário de Granada 7; suspensão ção de Melanchthon 78, 127; «Stände» 179.
na Itália 291. do - 140; transferências do - 141; para (Estados) e - 189; tradução grega 329; «Congregatio Palatinatus»: 258.
Cochinchina: 264. Bolonha 145. % da Áustria na - 174. «Congregatio Propaganda Fide»: 187,
conciliarismo: Concílio Tridentino e Concílio da União (Florença): 319, 336. Confissão: breve de - 49; - de culpa 197, 233, 256-260.
- 157. Concílios Unionistas: - do século XV de Adriano VI 131s, de Paulo VI 132. Conjuração de Amboise: 98.
Concílio: Carlos V, patrocinador de 36. Confissão de Vurtemberga: de Brenz Conquistas: nexo das Missões com
convocação de - 140; luta em torno Concílio Vaticano II: 132. 99, 187;. no Concílio de Trento 148. as - 11.
«Conversionis motiva»: dos Irmãos Wa- Corte de Viena: participação oficial da
consciência: liberdade de - na Ingla- Constantinopla (Patriarca d e ) : etnarca
lenburch 270. - nas procissões eucarísticas 288.
terra 311; - ponto de partida da filo- de todos os Ortodoxos no Império Oto-
Conversões: na Europa 268ss; - em «cortes doutrinários»: consulta em Ro-
sofia cartesiana 309; - citadina e de- mano 320.
maior escala 239; - «financiadas» e Ri- ma sobre os - propostos por Riche-
voção religiosa 20; - confessional e Constantinopla (Sínodos d e ) : - e «Con-
chelieu 233; financiamento de - na lieu 284.
escândalo da separação 230. fessio Orthodoxa» de Moghila 334; -
França 204; - forçadas e mimetismo Cortes de Valhadolide: 9.
Conselho Eclesiástico: em Vurtember- Extraordinários Ortodoxos 320.
religioso na França 205. Cortez: 11.
ga 87. Constituições dos Jesuítas: 135.
convertido(s): - e carreira eclesiástica Cortona: - e Palácio Barberini 277.
Conselho das Índias: 13. «Consultatio» (Confronto): da Confis-
271; critério do - ideal 269. Cosme III: patriarca melquita do Ni-
Conselho dos Mosteiros: órgão gover- são de Augsburgo 231.
Copérnico (Nicolau): «De revolutioni- lo 337.
namental de vigilância na Áustria 174. «Contaminação católica»: - e os Orto-
bus orbium coelestium» 283; «Diálogo Cossacos: - «registrados» 381; preten-
Conselho dos Motins: nos Países-Bai- doxos 395.
sobre os dois maiores sistemas cós- sa conversão em massa de - 380s; -
xos, dito «Conselho Sanguinário» 124. Contarini (leigo, Gaspar): - e dupla
micos» 284; elementos não-católicos e como tropas auxiliares do Papa 377;
Conselho Municipal: e padroado de justiça (teoria) 144; nomeação de -
o sistema heliocêntrico de - 283; Ga- tumultos dos - contra Sínodo misto
igrejas 21. para cardeal 127, 137; Pedro Fabre,
lileu a favor do heliocentrismo de - de Bispos Uniatas e Ortodoxos 379.
assessor de - 137.
Conselho de Patrícios: 110. 283s; heliocentrismo de - 283; histó- Cossacos Meridionais: entendimentos
Contaris (Cirilo): - e condenação de
Conselho Real de Assuntos Eclesiásti- ria dolorosa de - 283ss; indiciação das dos Latinos com - 377.
Cirilo Lucaris 339; personalidade e ati-
cos: S. Vicente de Paulo e - 217. obras de - 284; - e Inquisição 284; Cossacos Ocidentais: - e perseguição
vidades de - 332.
Conselho de Regência: - e Eduardo VI João Kepler e o heliocentrismo de - religiosa 377.
«Contra a bula do Anticristo»: de Lu-
da Inglaterra 86. 283; Jordão Bruno e a teoria de - Cracóvia: 276.
tero 58.
«Conselho Sanguinário»: Conselho dos 283; Newton e o sistema de - 285; Cranach (Lucas): criador da imagem
«Contra o Papado, forjado pelo Diabo
Motins, dito - 124. - e os Reformadores 283; suspensão de Nossa Senhora Auxiliadora (Ma-
em Roma»: de Lutero 141.
Conselhos Vicariais de Utreque: atua- da indiciação de - 285. riahilf) 243.
Contra-Reforma: 333; Adriano VI, pri-
ção dos - 307. meiro papa da - 131; ameaça de - na Cranmer (Tomás): 84; - e o «Book
Coptas: Franciscanos do Egito Supe-
«consenso quinque-secular»: «consen- Suécia 189; Cavaleiro Melchior Lussy of Common Prayer» 97; execução de
rior e os - 337.
sus quinquesaecularis» dos Santos Pa- de Stans c - na Suíça 182; - como - 114; - e situação matrimonial de
Cora (Chur, Suíça): 147.
dres, segundo Jorge Calisto 232. «fenômeno» 174; cumulação de dioce- Henrique VIII 84.
Coração de Jesus: - no culto divi-
«Consensus Tigurinus» (Acordo de Zu- ses, medida de emergência da - 176s; Cremona: 29.
no 215.
rique) : 96. empresas gráficas e movimento de - crença: conexão da índole étnica com
Corações de Jesus e de Maria: pro-
«Cor.silium de emendanda Ecclesia»: 170; imperador Leopoldo I e - 235; a - 35.
pugnação do culto dos - 215.
138. métodos dialéticos dos antigos céticos crença-bloco: - do calvinismo 124.
Corcira (Corfú): 319.
Consistório: - Calviniano 95; restri- e - 308; Pio V, promotor da - 160; Creta: 322s; queda de - 391; tomada
Corinto (Manuel d e ) : autor de obras
ção de assuntos para o - 166. de - pelos Turcos 241.
- na Polônia (Qrã-Polônia) 364, 367; antilatinas 326.
«Conspiração da Pólvora»: contra Jai- criações barrocas: em Roma 275.
prevenção contra os métodos das deli- Corneille (Pedro): 287, 298.
me I da Inglaterra 118. Criméia: 381.
ciáis naturais e - 283; - promovida pela Cornélio van Hagen ( H a g a ) : 330.
Constança: 15, 21, 53, 63, 70, 79, 147, criptocristãos: ortodoxos - em regiões
dinastia bávara 175; resultado da - na Coros polifónicos: - dos Uniatas 385.
182; Concilio, nos moldes de - 139; maometanizadas 322.
Alemanha e França 239; - na Suíça Corpo de Deus (Corpus Christi): pro-
decretos do Concilio de - sobre a su- Cripto-Igreja: no Japão (Osaca, Na-
182ss; vantagens políticas e - 196. cissão de - como desfile triunfal 288.
premacia do Concílio acima do Papa gasaqui) 248.
Contra-Reforma Imperial: em todos os Corporações: 20; mitigação das cláusu-
153; nível da formação eclesiástica na Criptoprotestantismo: na Áustria 208;
territórios realengos (reguengos) 199. las medievais das - 314; - e partici-
diocese de - 27; processo de Hus no na França 206; em nações católicas
contrastes confessionais: eliminação dos pação no governo da cidade 110.
Concílio de - 106. 206s.
«Corpus Catholicorum»: - e compe-
Constantino VII, o Porfirogeneta: 358. - 235. crise política: - e os antecedentes da
tência para questões religiosas 200.
Constantino XI: morte do imperador - Controvérsia: de Nilo de Sora com Reforma Protestante 23.
«Corpus Evangelicorum»: 271; - e
na defesa de Constantinopla 318. José Volokolamsk 353. Crisóstomo (São João): 317.
competência para questões religiosas
Constantino de Ostrog (Ostrowsky): - «Controversiae»: do Cardeal Belarmi- cristandade: crise de fatalismo na - 239.
200; protesto do - contra as desloca-
e Possevino 369; - chefe dos adversá- no 118. cristãos: - em contínua ameaça de per-
ções compulsórias 207.
rios da União 373, 375. Conventículos Protestantes: dispersão seguição entre os maometanos 324; -
Constantinopla: 36, 319, 327, 337, 346, dos - na Itália 139. «Corpus luris Canonici»: Gregório XIII gregos e administração otomana 320s;
352, 355; conquista de - 239; insula- conventos: - depravados 138; fecha- e revisão do - 163. Jesuítas e formação de - modernos
ção da Igreja Ortodoxa depois da mento de - na Inglaterra 85; incorpo- correntes anticuriais: 53. 223; - ortodoxos e extorsões pecuniá-
queda de - 325s; Jesuítas em - 327; - ração de - às dioceses 100; tipo fecha- Corte Pontifícia: morí geração da - por rias por parte dos maometanos 324;
e metropolitados provinciais 351; to- do de - 313. Adriano VI 131; redução e simplifica- retorno de - novos ao judaísmo 6;
mada de - 36, 318ss. Conventuais (Franciscanos): 32. ção da - 159. situação precária dos - de rito bizan-
«conversio súbita»: de Calvino 90.
tino 419; tentativas de latinizar os - emergência na Contra-Reforma 176s. «Da autoridade civil, e até que pon- Decretos tridentinos: execução na Ba-
de São Tomé 247. Cúpula de São Pedro: - em Roma 275. viera 175.
to lhe devemos obediência: de Lute-
cristianismo purgado e simplificado: cúpula da sociedade: convergência do
ro 65. Decreto sobre a Vulgata: Concílio Tri-
na França 91. barroco para a - 298.
d'Achéry: 281; - e edição de manus- dentino e - 143s.
Cristiano Augusto de Saxe-Zeitz: con- cura de almas: conceito de obrigação
na - 29. critos 280; organização dos trabalhos De Dominis (Marcantonio): arcebispo
vertido, e cardeal 271. dos Maurinos 280. de Espálato (Split) 284.
Cristiano III de Holsácia: 72. Cúria Romana: 14, 21, 25s, 38, 53, «Defensor fidei» (Defensor da f é » ) :
Cristina de Suécia: 271, 309; - e Des- «Da liberdade do cristão»: de Lute-
128, 132, 218, 256, 316; Adriano VI título de Henrique VIII 82.
cartes 271; processo de conversão de ro 58.
e reforma da - 131; adversários ocul- Defereggental: maioria protestante em
- 2 7 1 ; - em Roma 271. Dalmácia: preservação da - 243.
tos da reforma da - 140; Alberto V - 206.
Cristóvão (Duque) de Vurtemberga: - Damas de Caridade: fundação de S.
da Baviera, apoio da - na Dieta de «Defesa dos Sete Sacramentos»: de
e a Reforma em Vurtemberga 87; e Vicente de Paulo 216.
Augsburgo (1566) 176; - e vocação Henrique VIII 82.
Concílio de Trento 147. Damas Inglesas (Irmãs): aprovação da
do governo das Missões contra o pa- «Defesa da União de Bresta (Brest)»:
crítica textual: da Bíblia 8. Regra 313s; formas diferentes de vida
droado 260; Baviera contra a - 107; - - de Scarga S.J. 375.
Critopoulos (Mitrófanes): estágio teo- religiosa 218; vicissitudes das - 312ss.
e concessão de privilégios regalistas definições pontifícias: - e consentimen-
lógico de - na Inglaterra e na Ale- Damas da Visitação (Visitandinas): e
24; concorrência da - 53; contribuição to da Igreja Universal 301.
manha 330; profissão de fé ortodo- clausura rigorosa 218.
da - para a guerra contra os Pro- «De institutionc feminae»: de João Vi-
xa 330. Damasceno Estudita: pregador popu-
testantes 107; - e Extremo Oriente ves 312.
lar grego 326.
Croácia: 244; dominação turca 319; 165; falhas administrativas da - 145; deísmo inglês: 310ss; - e Malebran-
Damasco: 341 ss, 348.
rito glagolitico na - 352. - e os «Gravamina» 26; intermitências che 309.
danação: Calvino sobre - 92.
Cromweil: 272, 294. na reforma da - 158; - e não-aprova- «De Ia frequente Communion»: de An-
Daniel: superior de Voiokolamsk 363.
Cromwell (Olivério): chefe da Guerra ção dos Acordos Religiosos na Alema- tônio Arnauld 225s.
Danúbio ( r i o ) : 194.
Civil na Inglaterra 192; - «Juiz de nha 197; organização técnica da - por «De libero arbitrio»: de Erasmo 127.
Dânzigue: 70, 74, 236.
Israel» 192; - Lorde Protetor da In- Sisto V 166; - e Paz de Vestefália Del Monte (Cardeal): - e Concílio de
Darnley (Lorde): assassínio de - 118;
glaterra 192. 200; - e percentagem das indulgências Trento 141, 145; eleito papa 146.
casamento de Maria Stuart com - 118.
Cromwell (Tomás): execução de - 86; 21; politização e mundanização da - 49; delongas processuais: queixas contra
«das Praevenire spielen»: 80.
influência de - em Henrique VIII 84; precauções da - em debates teológi-
Dataria Apostólica: reforma e reorga- - 26.
- Vigário Geral da Inglaterra 85. cos 233; reforma da - 158s; - e Re-
nização da - 138, 150. «Demanda (Processo) do Cabido»: em
Cruzadas: 319, 336; Moscovo e planos forma do Calendário 163; remodela-
debates teológicos: 126ss; - na Dieta Estrasburgo 173.
de - 356; Quarta - 352; renascimen- ção da - por Sisto V 256; renovação
de Augsburgo 79s; - de Rheinfels 270. «Demanda (Questão) das regalias»: -
to e metamorfose da idéia das - 239. da - 137ss; - e renovação da Igre-
De Camillis ( J . ) : metropolita 387. e Caulet, bispo de Pamiers 300; Clero
«cuius régio illius et religio»: - «quem ja 129; ressalvas da - à cumulação
De Canillac SJ: 338. Francês e - 300; - e os Jesuítas 300;
manda na região, manda na religião» de dioceses 177; - e situação de José
«De captivitate babylonica Ecclesiae»: - e Pavillon, bispo de Alet 300.
112. Bulgarynowitch 425.
de Lutero 58, 82. Demétrio (Dimitry): assassínio do czar
culto calviniano: sobriedade e espiri- curialistas: - e direitos primaciais do - 392; posição de - quanto ao orto-
tualidade do - 95, 104. Papa 152. «Decet Romanum Pontificem»: bula de doxismo 396.
culto dos Santos: - e Confissão de curso normalista: formação de pro- excomunhão contra Lutero 106. Demétrio (Dimitry, São) de Rostávia
Augsburgo 78. fessores pelo - 315. décimas das indias: 15. (Rostov): influências latinas em - 396.
«culto ao soberano»: apoio dos Pro- «Curso de Salamanca»: - pelos Car- decisões tridentinas: elementos religio- Denck (João): - c propaganda anaba-
testantes ao - 204; Madame Mainte- melitas Reformados 278. sos de fora e atuação das - 167; exe- tista 88.
non e - 204. curso universitário: - e formação ecle- cução das - fora dos Estados Ponti- depressão econômica: conseqüências
culto zuingliano: organização do - 65. fícios 159; - e Protestantes Germâni- para a Religião 18.
siástica 27.
culturas estranhas (exóticas): adapta- cos 187; e rei Estêvão Báthory da «De re diplomática»: de Mabillon 281.
ção das Missões às - 13. «Cursus Complutensis» (Curso de Al- Polônia 165. «De Regno Christi»: de Bucer 97.
cultura francesa: avanço triunfal da - cala): comentário tomista de Aristóte- «De Regularibus»: decreto reformato-
«Declaração do Clero Galicano sobre a
no século XVIII 302. les 209. rio do Tridentino 154.
jurisdição eclesiástica»: 300; breve de
cultura latina: promoção da - na Es- «Cursus Salmanticensis» (Curso de Sa- Inocêncio XI anulando a - 302. «De revolutionibus orbium caelestiam»:
panha S. lamanca) : - e problemas suscitados pe- de Copérnico 283.
«Declaração Fernandina» (Declaratio
«Cum ex apostolatus officio»: bula de lo protestantismo e o jansenismo 278. Ferdinandea»): cláusulas da - 112, 197. derramas: Reduções e - 256.
Paulo IV contra as heresias 150. Cusa (Nicolau d e ) : 34. Decreta fidei (Decretos dogmáticos): «Desapegados»: - adeptos de Sora 432.
cumulação de benefícios eclesiásticos: Custódia da Terra Santa: - e os San- Descartes (Renato): 307ss; e Colégio
do Concílio de Trento 142, 154ss.
49, 126. tos Lugares 337s.
Decreta de reformatione (Decretos re- «La Fleche» 308; e Cristina da Sué-
cumulação de dioceses: 29; Concílio Czar (tzar): significado etimológico formatorios): do Concílio de Trento cia 271; e «dúvida metódica» 309;
de Trento sobre - 145; - medida de de - 359. 142, 157ss. e «honnête homme» 308; e peripécia
Nova História III — 31
do pensamento moderno 308; - pre- Diáspora: - Holandesa 187; pequenas
cursor da filosofia idealista 309. mãos de leigos, na França 184. disciplina eclesiástica: no calvinismo
comunidades católicas na - 200.
descatolização: da vida pública 61. dioceses bizantinas: - no Império Rus- 94s.
«Dicionário Eclesial-Teológico»: (Lexi-
«Deserção (secessão) dos Paises-Bai- so 350. «Discours de la méthode» (Discurso
kon für Theologie und Kirche) 332.
xos»: réplica da - 195; sentido da dioceses católicas: em mãos de bispos sobre o método): de Descartes 309.
Dieta(s): singular atitude das - 25.
- 194. protestantes, na Alemanha 172. «Disputas sobre doutrinas controver-
Dieta de Augsburgo: 54, 77, 79, 109-
«Des Herrgotts Kanzlei»: de Flácio dioceses eslavas: - e Quieve (Kiev) 351. sas»: de São Roberto Belarmino 234.
111, 147; - e convocação do Concí-
llírico 110. dioceses latinas: ereção de - no Orien- Disputação de Lípsia: 55ss, 65.
lio 140; debates teológicos na - 79s.
Desidério Erasmo de Roterdão: veja te Próximo 339, na Síria, Pérsia, Me- Disputação de Zurique: 64.
Dieta de Espira: 70; determinações so-
Erasmo de Roterdão, sopotâmia 340. «Disputationes de controversiis»: de S.
bre a situação religiosa 76; pena de
deslocação compulsoria: dos Evangéli- dioceses não mediatizadas: - e «ius Roberto Belarmino 234.
morte contra os Anabatistas 89.
cos das terras realengas dos Habsbur- reformandi» 172. «dissenters» (dissidentes): - e os «Atos
Dieta de Francoforte: 127.
gos 207; e protesto do «Corpus Evan- dioceses de rito oriental: enfraqueci- de uniformidade» 190; - liberdade de
Dieta Germânica: aceitação do Calen-
gelicorum» 207. mento das - 352. religião na Inglaterra 273.
dário Gregoriano 163; bispo Commen-
diplomacia: parte importante dos Tur- Dissidência Religiosa: reflexos remotos
«De spiritu et littera»: de S. Agosti- done e - 152.
cos na - 325. da - na época do absolutismo 193ss;
nho 46. Dieta Imperial: 199.
diplomacia ocidental: aspecto religioso opinião atenuante e atenuada de Bos-
detentores-da-Bíblia (biblistas): tole- Dieta dos Nobres: - em Copenhaga 72.
da - 326ss. suet sobre - 237; superação da - pela
rância maomética para os - (cristãos Dieta de Nuremberga: 131.
diplomata(s): difusão de idéias janse- renovação religiosa 129s.
e judeus) 320. Dieta Polaca: - e ratificação da Alian-
nistas e anti-romanas por - 307. «Distúrbios»: era dos - na Igreja Es-
Deus: proibição das nomenclaturas ça com o Papa contra os Turcos 242.
diplomática: Bessel de Gõttweil, autor lava 390ss.
(designações) chinesas de - 266. Dieta dos Príncipes-Eleitores: 197.
Dieta de Ratisbona: 128, 144; - e con- do primeiro tratado alemão de - 282. divindade: terminologias chinesas da
«Deus sive natura»: principio de Es-
firmação do «ius reformandi» também direção espiritual: Inácio de Loiola e - 265.
pinoza 310.
para os príncipes eclesiásticos 180; Pe- tentativas de - 134. Dniepre ( r i o ) : 350, 382.
«Deutsche Messe»: (Missa Germânica)
dro Canisio SJ na - 169. «direito de antanho»: 23. doações religiosas: - e reflexo na ar-
de Lutero 104.
Dieta Sueca: - e expulsão dos ecle- direito de apresentação: de bispos 100. recadação da cidade 21.
Deventer: 33, 38; Erasmo e Escola Direito Canónico: Pio V e revisão do «Doctrinas» (Reduções): no Paraguai
de - 40. siásticos católicos 189.
Dieta de Vaesteraes: 73. - 163. 253SS.
dever de residência: 7, 27, 28; dos
Dieta de Vórmia: 59. «Direito Civil Cristão» (Christliches Documentos Simbólicos Ortodoxos: -
bispos 138.
dignidade(s): exclusão de acatólicos Burgrecht): abolição do - 81. do século XVII 253ss.
devoção religiosa: e consciência cita-
de todas as - 196. direito de emigrar: para os que não dominação turca: Patriarcados Melqui-
dina 20.
Dílinga: 168; Colégio Jesuítico em - seguem a religião do soberano («cuius tas sob - 336ss.
devoções: de cunho popular 289.
168; Universidade cm - 179. regio») 112. «Domingos Aloisianos, Inacianos»: 289.
«devotio moderna» (devoção moder-
na) : 33, na França 207, mestres neer- Dimítrios (Demétrio) Misos: contactos direitos feudais: do para 7. Domingos de Jesus Maria: - e arreca-
landeses da - 133. de - com teólogos reformados 329. direito formal: - e Reforma Protestan- dações para a Propaganda 258; - e
Dinamarca: 77, 80, 87, 196, 257; - e te 105ss, 196. fundação da Propaganda 256s.
«devotos»: atração do calvinismo para
Aliança Esmalcáldica 73, 193; e Con- Direito das Gentes: e política espanho- Dominicanos (Frades): 10, 32, 53, 57,
os - 223; exageros dos - contra o
calvinismo 224; Saint-Cyran, chefe dos fissão de Augsburgo 79; derrota do la nas Américas 278; Suarez e Victo- 69, 262; disputas com os Jesuítas 220;
- 224. Rei da - 196; Igrejas Nacionais na - ria sobre o - 278. nas Missões Americanas 10.
72; introdução violenta da Reforma na Direito Imperial: - e Edito de Resti- Dominichino (André delia Valle): ar-
«Dez Artigos»: - de Cromwell 86.
- 72; «Ordinatio ecclesiastica» (lute- tuição 197. tista - e Igreja dos Teatinos em Ro-
dias de Comunhão: determinações es-
rana) na - 73; - e refugiados Hugue- Direito Medieval: - e proscrição de Lu- ma 277.
tatutárias sobre - 289.
diadema imperial: ambição do rei de notes 205. tero 106; e Reforma Protestante 105. Domínios da Coroa da Áustria: alas-
França 110. direitos primaciais: curialistas e - do tramento da nova doutrina nos - 173s.
Dinastia Bávara: - e restauração ca- Papa 152.
diálogos de religião: atitude proibitiva Donauwörth: interdito imperial sobre
tólica na Alemanha 175s. «direito de reformar religião»: garan-
da Igreja quanto a - 233; desvanta- - 194.
«Dinheiro no cofre, alma no céu»: 50. tia orgânica do - 172; prescrição ou
gens dos - 233; pontos deliberada- diocese(s): anexação de - na Alema- Dordrecht: Jansênio contra o Sínodo
mente omissos em - 233. caducação do - 271; uso deliberado da Igreja Reformada de - 221.
nha 172s; - como galardão 29; cumu-
Diálogo de Religião de Vórmia: 137. do - 175. Dorpat: 74.
lação de - 29; esfacelamento de - nos
«Diálogo sobre os dois maiores siste- Países-Baixos 124; nova divisão de - direitos reversáis: 271. Dositeo II Notaras: «Confessio» do pa-
mas cósmicos»: 284. por Filipe II, na Espanha 100; pro- Direito Romano: 66s; - e situação dos triarca - 334, 465.
«Dialogus in praesumptuosas M. Lu- testantização de - na Saxõnia 101; camponeses 23. Douai: Colégio Ànglico 116, 164; Co-
theri conclusiones de potestate papae»: provimento de - 25; - como trampo- direitos dos uniatas: na capitulação de légio dos Jesuítas em - 186; proposi-
54. lim de carreira 29; - vagas, ou em 1673 341. ções de Léssio SJ censuradas pela
direito de veto: eleição papal e - 296. Universidade de - 220.
doutrina(s): - de Calvino 91ss; cortes economia monetária: - e crise econô- bilização política das grandes potên- «De libero arbítrio» 127; - e edição
de - em diálogos sobre religião 233. mica da Igreja 16. cias 296. do «Instrumentum» 41; - e «Enchiri-
«Doutrina dos 12 Artigos»: - e Ju- ecumenismo: - e cristãos de rito bi- eleição dos patriarcas: venalidade na dion» 39; - e a Escola de Deventer
rieu 237. zantino 351s; e tendências de tole- - 323s. 40; - e a Espanha 7, 41; - e a Eu-
doutrina social católica: ausência de - rância 230. eleições eclesiásticas ortodoxas: 322. caristia 40; - sobre a falta de zelo
na época 315s. Edito Geral de Ales: 204. eleitorado («Kurfürstenwürde», Kur- missionário 246; - e «Handbüchlein des
«Doze Apóstolos» (Doce Apostoles): Edito de Nantes: 123; abolição do - würde): 235; - e Baviera 177, 196, christlichen Streiters» 39; indemonsíra-
11. 203-206; - anacrônico 203; destruição 199; transferência do - para a dinas- bilidade das convicções religiosas de
«Doze Artigos»: da «Liga Cristã se- da estrutura eclesiástica protestante e tia dos Wittelbach 177, 196, 199. - 127; - e os «Irmãos da Vida Co-
gundo o Evangelho» 67. abolição do - 238; - c Paz Religiosa eleitorados católicos («Wahlfürstentü- mum» 33; - e as negociações entre
drama didático (escolar): pontos al- de Augsburgo 123. m e r » ) : 293. Roma e Vitemberga 41; o «Novum
tos do - jesuítico no século XVII 286. Edito de Restituição de Augsburgo: «Elucidatio Terrae Sanctae»: de Fran- Testamentum» de - 40; morte de - 42;
drama jesuítico: - c alternativa esca- assinatura do - 197; - e Direito Impe- cisco Quaresma, OFM 339. pontos de vista de Lutero comuns
tológica 287; difusão do - 287. rial 197; execução do - com cobertu- Embaixadores: arrogância dos - em com - 41; posição neutra na Refor-
Dresda (Dresden): 271, 277. ra militar 197; revogação do - e sub- Roma 296. ma Protestante 126; - e questão do
Dringenberg: Mestre - 33. rogação pelo «Ano Normal» 199. livre arbítrio 127; - e a Reforma na
Emden: 1* Sínodo Calvinista de - 99.
Duerer (Alberto). 52 . Edito de São Germano: não-homolo- Suíça 75; - e Zuinglio 63.
emigração forçada (compulsória): de
«Dunkelmaennerbriefe»: 36, 56. gação do - pelo Parlamento 119; e Eremitas Observantes de S. Agosti-
fidalgos protestantes na Estíria e na
Duperron (Cardeal): - e ceticismo de situação dos lluguenotes 99, 119. nho: 44; movimento de reforma 32.
Caríntia 196; de predicantes e profes-
Montaigne 308. Edito de Vórmia: 60, 70, 99, 132; as- Erfurt: 44s, 56, 70; - e a bula contra
sores na Áustria Superior 196.
dupla justiça: Concílio de Trento so- sinatura 107; execução 131; renova- «Eminence Crise» (Eminência Parda): Lutero 106; Universidade de - 44.
bre - 144. ção 80. Père Joseph, OFMCap, a - 183, 342; - Erlau: diocese de - 387.
dupla verdade: teoria da - 37. Edmundo Auger, SJ: o «Canísio gau- e Missões Capuchinhas em cidades le- «Ermahnung zum Frieden auf die
Duque(s): formação de fortes comu- lês» 169. vantinas 262. zwoelf Artikel der Bauernschaft»: de
nidades protestantes, graças à mentali- Eduardo VI da Inglaterra: 29, 113, empirismo: - congenial à índole do Lutero 68.
dade humanista dos - Germânicos 173. 139; - e Conselho de Regência 86; povo inglês 310; crescente hegemonia Ermida de Ehrenberg: assalto ã - 111;
Duque de Sabóia: 95. educação protestante de - 86, 96; Ri- do - 311; primeiros representantes tomada 108.
Düsseldorf: 195. tual de - 115. (ainda crentes) do século XVII 310. Ernesto da Baviera: 179; bispo de Frí-
Duvergier de Hauranne (Saint-Cyran): «Educação feminina» («De institutione Empórios: holandeses e dinamarque- singa e de Hildesheim 176; eleito bis-
autor de «Petrus Aurelius de hierar- feminae»): de João Vives 312. ses nas Indias 294. po de Lieja 177.
chia» 221; - e Janscnio 221. empreguismo: clérigos e - 25. Ernesto de Hássia-Rhcinfels (Langra-
educação religiosa: nas escolas jesuí-
«dúvida metódica»: de Descartes 309. Emser (Jerônimo): 57. v e ) : conversão de - 270.
ticas 171.
Dziewoczka: metropolita 366. erro judicial: na condenação de Ga-
Egito: Franciscanos entre os Coptas «Enchiridion»: de Erasmo de Roterdão
do - Superior 337; Melquitas no - 336. 39; edição espanhola do - 41. lileu 284.
Earl de Moray: contra Maria Stuart Egmont (Conde): 100, 124; influência «encomienda»: - e relações dos índios «eruditio Christiana»: Pirckheimer e a
118. com seus senhores 12s. - 37.
de - contra os decretos tridentinos na
Eberlino de Ulma: 69. Bélgica 185. «Encomium moriae»: de Erasmo 40. Escalda ( R i o ) : 199.
Ebernburg (Castelo d e ) : 57. epiclese: 335; - e Pedro Mogila 473. Escandinávia: 69ss.
Ehrenberg (Ermida d e ) : assalto a
Echter de Mespelbrunn (bispo): 290. episcopado: feudalismo aristocrático e escatologismo: dos Anabatistas 89.
- 108.
Eck (João Mayer): 41, 53, 55, 105s, Escobar, SJ: Pascal contra - 228.
Eichsfeld: visita canónica no - 180. - 312.
128, 168; - e debate teológico de Bade Escócia: 16, 26; círculos calvinistas na
Eichstaett: 19, 30, 106. episcopalismo: - variante de galicanis-
74; - na Dieta de Augsburgo 77; - c - 189; Reforma Protestante na - H7ss;
«Eidgenossen» (Parceiros de juramen- mo além do Reno 302.
os juros 19; e as proposições de Lu- regime eclesiástico de Knox na - 117;
t o ) : étimo de Huguenote 98. «Episódio da torre»: Lutero e - 46.
tero 105ss; 404 proposições de - so- retorno de Maria Stuart à - 1 1 8 ; si-
Einsiedeln: 34, 63, 287. «Epistulae obscurorum virorum»: 36,
bre os erros de Lutero 78. tuação dos Beneditinos na - 31.
Eisenach: 60. 56.
«Ecclesia Lutherana»: conceito de - 188. Escola Agostiniana: - e Lutero 48; no
Eisleben (Islébia): 43, 50. Equador: 12.
eclesialidade nacional: na Alemanha Concilio de Trento 144.
«Ejercitationes de la vida spiritual»: equipes de trabalho: para conversão
193; na Europa 25. Escolas das Catedrais e dos Mostei-
do Abade Cisneros 133. de hereges e incrédulos 256.
Ecolampádio: 69, 74s, 77; - Reforma- ros: acesso às - 27.
Elbing: 74. Erasmo de Roterdão (Desidério): 7,
dor da Suíça Ocidental Romana 74, 93. Escola de Deventer: - e Erasmo 40.
Eldorado: busca do - 190. 38-43, 52, 53; - e os ataques de Eck
«Ecole Française»: espiritualidade da Escola Francesa de Espiritualidade:
El Greco: 278. 41; Bíblia e crítica textual de - 8;
- 208. eleição imperial: em Francoforte 149. 208; os quatro Grandes da - 214.
Bucer e - 94; caráter bífido e contra-
economia eclesiástica: definhamento da eleição papal: e direito de veto 290; e escolas gregas: superioridade das - no
ditório de - 38; críticas de - à inci-
- 18. intervenção do imperador 146; e mo- piente Reforma Protestante 126; - e Império Otomano 325.
Escolas Jesuíticas: educação religiosa dos Países-Baixos 293; - potência Reichstände: 79, 87, 109, 128, passim. mador de - 94; Calvino em - 93; De-
to e - 144. mundial 5; preservação da - de re- Estados Pontifícios: 19, 54, 159, 297; manda do Cabido, Guerra da Mitra
Escolástica: 49; crítica contra - 38; forma heterodoxa 208; regalismo abso- disciplinação dos - por Pio V 160; dí- em - 173; igrejas nacionais em - 72;
- degenerada e Concílio de Trento 156; lutista e absolutismo religioso na - vidas do - 295; - e implicações inter- pacto secreto dos Protestantes em -
menoscabo da - 36. 194; temas artísticos da - barroca 278; nacionais 295; invasão dos - pelo Du- 76; restauração do culto católico na
«Escolha e liberdade dos alimentos»: união da Igreja com o Estado na - 6; que de Alba 149; ponto fraco dos - Catedral de - 205.
sermão de Zuinglio sobre - 64. vida interna da Igreja na - 6. estrutura eclesiástica: - e tolerância
295ss; problemas internos da Igreja e
escravidão dos indios: abolição da - especulação teológica: em prejuízo da
- 295; - travão da liberdade delibera- maometana 320.
também no Brasil 316. pastoral 104.
tiva do Papa para o âmbito univer- Estudita (Damasceno): pregador po-
escravos africanos (negros): introdu- «Espelho dos Príncipes»: de Fénelon sal 295. pular grego 326.
ção de - na América 13; não-obser- 314; de João Mariana 314. Estado Reformado: - Estado dentro do estudantes: retirada dos - católicos das
vância da abolição dos - 316. Espínola (Rojas y Spínola): 236; bis- Estado em França 307. Universidades Luteranas 196.
escrupulosidade de: de Lutero 45. po de Neustádio-Viena 235; experiên- «Estados» (Stände, ou Reichstände): estudos: Mabillon sobre o valor dos
Eslavo(s): Igrejas bizantinas entre os cias ecumênicas pessoais de - 236; reu- 79, 87, 109, 128; - e o Concílio de - 281.
- do Oriente 350ss; - do Leste 352. nificação das Igrejas e - 235; tensões Trento 139, 146; - e determinação ter- «état» (estado): sentido beruliano de
eslavófilos: escritores - do século XIX confessionais na Hungria e - 236; vi- ritorial da religião 112; direitos dos - 211.
353. sitas de - a Príncipes Luteranos Ger- - 101; - e Edito de Vórmia 106s; - Ética Nicomáquica: Lutero e - de Aris-
Eslavônia: 244; - Ocidental 352. mânicos 236. e exigências (postulações) de um Con- tóteles 45.
Eslévico (Schleswig): regime eclesiás- cílio 139; - expressão da hierarquia etnia(s): Igreja e absorção de no-
tico luterano em - 72. Espinoza ou Spinoza (Baruque ou Ben-
t o ) : - c cartesianismo 309; idéia bá- medieval 3 1 2 ; intervenção (ingerência) vas - 265.
Eslévico-Holsácia (Schleswig-Holstein): dos - no caso canónico de Lutero 107. Eucaristia: Calvino sobre a - 92; Eras-
196. sica da filosofia de - 309; monismo
panteístico de - 310; o principio «Estados» (Stände) Católicos: 80; - e mo de Roterdão e a - 40.
Eslovacos Uniatas: 387. as decisões tridentinas 160; - e os Eudes (São João): fundador da Con-
Esmalcalda (Artigos d e ) : redigidos por «Deus sive natura» de - 310; proxi-
midade ou continuidade de - com o egoísmos dinásticos 293; - e o irres- gregação de Jesus e de Maria 215;
Lutero 101. trito «ius reformandi» 197; - e regula- qualidades e atividades de - 214s.
Esmalcalda (Guerra d e ) : 142. ateísmo 310; ressonância ou repercus-
são destruidora de - 310; - e senti- mentação imperial 109. Eugênio IV: 336, 421.
Esmalcalda (Liga ou Aliança d e ) : 80s; Eugênio de Sabóia (Príncipe): genera-
mento barroco do mundo 310. «Estados» (Stände) Protestantes: 80s;
Dinamarca e - 173; - e negociações líssimo das Tropas Imperiais 244.
Espira (Speyer): 137; Dieta de - 70, adesão dos - ao Tratado de Paz Re-
com Henrique VIII da Inglaterra 86; - Europa: conversões na - 268ss; o «ius
77; pacto secreto dos Protestantes em ligiosa da Vestefália 199; - no Concílio
e potências estrangeiras 80s, 86, 193. reformandi» em vários países da - 175.
- 76. de Trento 147; - na Dieta de Augsbur-
Esmalcáldicos: 107; aliados protestan- Europa Central: ameaça dos Turcos
espírito: nova dimensão de - 36. go 1 1 1 ; - e plena liberdade religio-
tes contra os - 108; Concilio de Tren- na - 319; primeiro campo da Con-
«espírito(s) sectário(s)», «Schwarm- sa 180.
to e ameaça bélica dos - 144; con- gregação da Propaganda na - e Se-
tactos dos - com potências estrangei- geister»: Lutero contra os - 88, 90. estarosta: Nilo de Sora - 360.
Estatuto dos Protestantes: na Hun- tentrional 258.
ras 80s, 86, 193; objeções dos - con- espiritualidade francesa: ativismo bem
colimado da assim chamada - 207; São gria 236. Europa Ocidental: regalismo na - 193.
nas - 171.
Francisco de Sales e - 185. «Estatuto de Sangue» («Bloodig A c t » ) : Eutímio Saifi: administrador dos Mel-
Escolas Teológicas: Concílio de Tren-
Esslingen: 70. - e oposição protestante 86. quitas Católicos em Antioquia 346.
tra a convocação do Concílio de Tren-
Estauroniquita: fundação do Mosteiro Eutímio II Carmi: 312, 345ss; - e ver-
to 140. estadistas: aspirações ecumênicas de -
de - 335. são árabe dos textos rituais 345; cau-
Espalatino: 69, 78. 230; expansão territorial e - 314.
Estêvão Báthory ( R e i ) : - e decisões sas prováveis da morte repentina de
Espálate (Split): 234, 319. Estado: caivinismo e tarefas do - 94s;
tridentinas na Hungria 165; - e a - 345.
Espanha: 5, 6, 13, 18, 25, 124, 182, identificação do Rei com o 293; união
União 367. Eutímio II: 345.
195, 242, 257, 272, 314; arrogância do do - com a Igreja na Espanha 6s.
«estilo rubensista»: na Bélgica 277. Evangelho: - e lado social económico
Embaixador de - em Roma 296; - e estado clerical: e convertidos 271.
estipêndios (bolsas) pontifícios(as): pa- da vida cotidiana 88.
Colombo 9; declínio da Espanha como «Estados Gerais»: reconhecimento dos
ra Colégios na Alemanha 164. evangelismo lutérico: desaparição do -
potência católica mundial 293ss; des- - no Tratado de Paz Religiosa de Ves- Estíria (Steyermark): - e ameaça tur- do solo italiano 162.
respeito da liberdade religiosa na - 6; teíália 199; República Federal dos - ca 81; emigração forçada de fidalgos «evangelização pela ciência»: Leibniz
- e guerras contra a França 293s; - 124; subvenções dos - para guerra protestantes da - 196; exercício da re- a favor da - 295.
e as Indulgências Jubilares de São contra o Imperador 198; - e «Terras ligião na - 174; invasão turca na - evolução confessional: entre Luteranos
Pedro 9; influência de Erasmo de Ro- da Generalidade» 199. 239; recatolização da - 178s. e Zuinglianos 77ss.
terdão na - 41; «Lenda Negra» con-
estados hierárquicos: Erasmo de Ro- Estocolmo: 309; Carnificina de - 73. «Examen Concilii Tridentini»: de Mar-
tra a - 13; messianismo político da -
terdão sobre os - da Igreja 39. estoicismo: 37, 272, 307. tinho Chemnitz 187.
10; - e pacto de ajuda com a «Liga»
«Estado dos Jesuítas»: 254. Estrasburgo: 20, 22, 30, 32, 56, 60, 79, «exclusiva»: eleição papal e direito de
195; - e padroado 15, 244; - e perda Estados (Representações) Nacionais, 93ss, 07, 103, 133, 147; Bucer, Refor- - 296.
exegese bíblica: Erasmo de Roterdão Farnese (Legado): na Dieta de Vór-
e - 42. mia 107. Fiesco de Gênova: conspiração de - Filóteo de Pskov: monge - 359.
«Exercícios Espirituais»: 133; - e Pe- 109. Finlândia: Reforma Protestante na - 73.
Farei (Guilherme): 92; - e o «Círculo
dro Bérulle 211. de Meaux» 91; - em Genebra 92. Filareto: metropolita de Moscovo, co- fiscalismo: da Cúria Romana 52, 57;
«Exortação à paz, na base dos 12 Ar- fatalismo: crise de - na cristandade regente do Czar 392s. dos Legados e Núncios Apostólicos
tigos dos Camponeses»: de Lutero 68. 239; - e Lutero 239; - maometano e «Filhas da Caridade» (Filies de la 138; do Sumo Pontífice 52.
expansão territorial: preocupação dos predestinação calviniana 188. Charité): fundação das - por S. Vi- Fischer (São João): 30; nomeação pa-
estadistas 314. fatores políticos: - da Reforma Pro- cente de Paulo 218. ra cardeal 85, 137; - e questão matri-
«expectativas»: anulação das - por testante 104. filhos sacrílegos: - e recepção de Or- monial de Henrique VIII 83; e Re-
Adriano VI 131. dens Sacras 28. forma Anglicana 84.
febre de construções: nos mosteiros 31.
experiências reformatórias: 30. Filipe de Hássia (Langrave): 70, 75s, física aristotélica: apego exagerado à
Federação Helvética (Suíça): 62, 80.
exposição do SSmo.: durante a Mis- 77, 80, 108; - e aliados da Liga de - 283.
fé fiducial: princípios básicos da - 52.
sa 288. Esmalcalda 81, 86; extorsões políti- fixações (definições) dogmáticas: no
Félix V: antipapa - 353.
«Exposition de la doctrine chrétienne»: Fénelon (Francisco): 309; condenação cas de - 81; - e pacto secreto dos Concílio de Trento 145.
de Bossuet 237. de 23 proposições de - 304; defensor Protestantes 76; - e recondução de Ul- Flácio Ilírico (Matias): autor das «Cen-
«Ex quo singulari»: constituição de de La Motte-Guyon 303; - e o «Es- rico de Vurtemberga 86. túrias de Magdeburgo» 110, 278; -
Bento XIV sobre a Questão dos Ri- pelho dos Príncipes» 314; - e a «Ex- Filipe (São) Néri: - e «Chiesa Nuova» e o ínterim de Augsburgo 110; os
tos 268. plicação das máximas dos Santos so- 210; dados biográficos e atividades «testes verritatis» de - 279.
«Exsurge»: bula 58; - e Concílio de bre a vida interior» 304; - sobre a 209s; - e o «Oratório» 210; - e Roma Flandres: 16, 26s, 29, 272, 277; Clero
Trento 106, 140; - c a causa de Lu- guerra injusta 314; - e mentalidade como Cidade Santa 210. em -.26; conquista de - 110.
tero, na opinião protestante 140; pro- estóica no «puro amor» 302; e pieda- Filipe II, da Espanha: 8, 13, 119, 122s, Florença: 19, 37, 139, 284.
mulgação de - 105; rascunho de - 29. de ideal 302ss; e pietismo germânico 293, 314; - e coação interna do Papa Florença (Concílio d e ) : cânon bíblico
extorsões: - dos maometanos contra de Matias Claudius 304; polêmica entre 296; conservação e recuperação da do - 143; - de União 326, 337, 353s.
os cristãos 324; - nas tributações ecle- Igreja Católica na Europa 100; espo- Fócio: metropolita patriarca 353s.
- e Bossuet 303; - e o primado do so-
siásticas 6. so de Maria, a Católica 113; - e in- Fontana (Domingos): Sisto V e - 275.
cial sobre a política 314.
Extremo Oriente: 260s, 294; atritos vasão da Inglaterra 116; - e jornal de fontes de fé: Concílio de Trento e -
fenômeno: Contra-Reforma como - 174.
entre Vigários Apostólicos e Ordens operário 315; - e Paises-Baixos 100, 143.
Fernando da Austria: arquiduque - 75s;
Missionantes 262; - e Cúria Romana 124; - e penetração protestante 208; fontes litúrgicas: Martène e - 282.
- I, 164; rei - e os Jesuítas em Viena formação eclesiástica: - e curso uni-
165; Franciscanos no - 260. e política papal 100; e proposição de
Eyb (Gabriel v o n ) : 53. 169; - soberano romano 111. versitário 27; medidas aleatorias e
Baio 219; e reforma conciliarista 152;
Fernando da Baviera: 177, 179. simplistas na - 27, 110, 172.
Fernando o Católico, da Espanha: 5, - e Reforma Protestante nos Países- formação religiosa: - nas escolas je-
Fabre (João): «Argumentação Cristã» 9; e Inquisição Espanhola 6. Baixos 124; restrições de - às deci- suíticas 171.
75; - e debate teológico de Bade 74; Fernando II: 159, 195, 313; - e Con- sões tridentinas 159. formação teológica: baixo nível de
de Zurique 64; na Dieta de Augsbur- tra-Reforma 196s; cultor da «austríaca Filipe III, da Espanha: - e aldeamento - 172.
go 77. pietas eucharistica» 288; - e decisões dos índios 253. «Fórmula de concórdia»: 187s; rejei-
Fabre SJ (Pedro): 134, 167; ativida- tridentinas 159; eleição de - impera-
Filipe V, da Espanha: proibição por tada por Kepler 234.
des na Alemanha 137. dor 195; inamistosa concorrência de -
- de construir um Seminário Central formulações teológicas: humanismo e
Faculdade de Filosofia: - dos Jesuítas com Maximiliano 197; Paulo IV e -
em Manilha 259. relatividade das - 230.
e ciências naturais 171. 149; - e reforma conciliarista 152; -
Filipe de Wittelsbach: eleito bispo aos Fossombrone (Luís d e ) : 129.
Fanar: bairro dos Gregos, sede atual rei da Hungria 204; - e vantagens po-
3 anos de idade 177. Franca: 5, 16, 20, 23, 25, 27, 32, 77,
do Patriarcado Ecumênico Ortodoxo líticas da - 196.
Filipinas: - entreposto missionário 293; 80s, 91, lOOs, 146, 151, 183s, 194, 207,
de Constantinopla 322; Missionários Fernando III (imperador): 290, 387. Franciscanos das - e Missão no Ja- 239s, 295, 298, 302, 303, 305, 409;
do - 325. Ferraria: 295; Calvino em - 139; cír- pão 248. ameaça de convocação de Concilio Na-
Fanarião: sede do Patriarcado Ecumê- culos erasmianos em - 138. cional 147, 151; arrogância do Embai-
feudalismo aristocrático: - e episcopa- «filipismo» (de Filipe Melanchthon):
nico de Constantinopla 322. repressão violenta na Saxônia Eleito- xador em Roma 296; ausência do bar-
fanariotas: - e helenização da Igreja do 312. roco na - 297; autonomia nacional
fidalgos huguenotes: - e Bossuet 237. ral 188; - sinônimo de criptocalvinis-
Ortodoxa 325. da Igreja na - 299; calvinismo em -
«Fidalgo Jorge»: Lutero como - 60. mo 188.
«fanáticos» (Schwärmer): no conceito filosofia cartesiana: consciência, pon- 97; - e capitulações 327; conquistas
de Lutero 88, 90. Fidalgos Protestantes da Escócia: Ali- no Reno 294; - contra a conciliação
ança (Covenant) dos - 117. to de partida para a - 309.
Farnese (Alexandre): 186; governador- «Filosofia de Cristo»: Erasmo de Ro- entre Imperador e Papa 146; Contra-
fideísmo: - reação contra o método cé- Reforma na - 239; criptoprotestantis-
geral dos Países-Baixos 124. terdão sobre a - 39s.
tico de apologética 307s. mo na - 206; cristianismo «purgado»
Farnese (Duque): pendência dos Bar- filosofia platônica: mundo da - 36.
berini com - 395. Fiel (Fidélis) de Sigmaringa OMCap: e simplificado na - 91; degeneração
congregado mariano 172. Filotéia (Santa): 336.
Filóteo (Patriarca): 336. do protestantismo na - 204; - e ques-
exegese bíblica: Erasmo de Roterdão Farnese ( L e g a d o ) : na Dieta de Vór-
e - 42. mia 107. Fiesco de Gênova: conspiração de - Filóteo de Pskov: monge - 359.
«Exercícios Espirituais»: 133; - e Pe- 109. Finlândia: Reforma Protestante na - 73.
Farei (Guilherme): 92; - e o «Círculo
dro Bérulle 211. Filareto: metropolita de Moscovo, co- fiscalísmo: da Cúria Romana 52, 57;
de Meaux» 91; - em Genebra 92.
«Exortação à paz, na base dos 12 Ar- regente do Czar 392s. dos Legados e Núncios Apostólicos
fatalismo: crise de - na cristandade
tigos dos Camponeses»: de Lutero 68. 239; - e Lutero 239; - maometano e «Filhas da Caridade» (Filies de Ia 138; do Sumo Pontífice 52.
expansão territorial: preocupação dos predestinação calviniana 188. Charité): fundação das - por S. Vi- Fischer (São João): 30; nomeação pa-
estadistas 314. fatores políticos: - da Reforma Pro- cente de Paulo 218. ra cardeal 85, 137; - e questão matri-
«expectativas»: anulação das - por testante 104. filhos sacrilegos: - e recepção de Or- monial de Henrique VIU 83; e Re-
Adriano VI 131. dens Sacras 28. forma Anglicana 84.
febre de construções: nos mosteiros 31.
experiências reformatórias: 30. Filipe de Hássia (Langrave): 70, 75s, fisica aristotélica: apego exagerado à
Federação Helvética (Suíça): 62, 80.
exposição do SSmo.: durante a Mis- 77, 80, 108; - e aliados da Liga de - 283.
sa 288. fé fiducial: princípios básicos da - 52.
Félix V : antipapa - 353. Esmalcalda 81, 86; extorsões políti- fixações (definições) dogmáticas: no
«Exposition de la doe trine chrétienne»: Fénelon (Francisco): 309; condenação cas de - 81; - e pacto secreto dos Concílio de Trento 145.
de Bossuet 237. de 23 proposições de - 304; defensor Protestantes 76; - e recondução de UI- Flácio Ilírico (Matias): autor das «Cen-
«Ex quo singulari»: constituição de de La Motte-Guyon 303; - e o «Es- rico de Vurtemberga 86. túrias de Magdeburgo» 110, 278; -
Bento XIV sobre a Questão dos Ri- pelho dos Príncipes» 314; - e a «Ex- Filipe (São) Néri: - e «Chiesa Nuova» e o ínterim de Augsburgo 110; os
tos 268. plicação das máximas dos Santos so- 210; dados biográficos e atividades «testes verrítatis» de - 279.
«Exsurge»: bula 58; - e Concilio de bre a vida interior» 304; - sobre a 209s; - e o «Oratório» 210; - e Roma Flandres: 16, 26s, 29, 272, 277; Clero
Trento 106, 140; - e a causa de Lu- guerra injusta 314; - e mentalidade como Cidade Santa 210. em - 26; conquista de - 110.
tero, na opinião protestante 140; pro- estóica no «puro amor» 302; e pieda- Florença: 19, 37, 139, 284.
Filipe II, da Espanha: 8, 13, 119, 122s,
mulgação de - 105; rascunho de - 29. de ideal 302ss; e pietismo germânico Florença (Concílio d e ) : cânon bíblico
293, 314; - e coação interna do Papa
extorsões: - dos maometanos contra de Matias Claudius 304; polêmica entre do - 143; - de União 326, 337, 353s.
296; conservação e recuperação da
os cristãos 324; - nas tributações ecle- Fócio: metropolita patriarca 353s.
- e Bossuet 303; - e o primado do so- Igreja Católica na Europa 100; espo-
siásticas 6. Fontana (Domingos): Sisto V e - 275.
cial sobre a política 314. so de Maria, a Católica 113; - e in-
Extremo Oriente: 260s, 294; atritos fontes de fé: Concílio de Trento e -
fenômeno: Contra-Reforma como - 174. vasão da Inglaterra 116; - e jornal de
entre Vigários Apostólicos e Ordens 143.
Fernando da Áustria: arquiduque - 75s; operário 315; - e Países-Baixos 100,
Missionantes 262; - e Cúria Romana 124; - e penetração protestante 208; fontes litúrgicas: Martène e - 282.
- I, 164; rei - e os Jesuítas cm Viena
165; Franciscanos no - 260. e politica papal 100; e proposição de formação eclesiástica: - e curso uni-
169; - soberano romano 111.
Eyb (Gabriel v o n ) : 53. Baio 219; e reforma conciliarista 152; versitário 27; medidas aleatórias e
Fernando da Baviera: 177, 179.
simplistas na - 27, 110, 172.
Fernando o Católico, da Espanha: 5, - e Reforma Protestante nos Países-
formação religiosa: - nas escolas je-
Fabre (João): «Argumentação Cristã» 9; e Inquisição Espanhola 6. Baixos 124; restrições de - às deci-
suíticas 171.
75; - e debate teológico de Bade 74; Fernando II: 159, 195, 313; - e Con- sões tridentinas 159.
formação teológica: baixo nível de
de Zurique 64; na Dieta de Augsbur- tra-Reforma 196s; cultor da «austríaca Filipe III, da Espanha: - e aldeamento - 172.
go 77. pietas eucharistica» 288; - e decisões dos índios 253. «Fórmula de concórdia»: 187s; rejei-
Fabre SJ (Pedro): 134, 167; ativida- tridentinas 159; eleição de - impera-
Filipe V, da Espanha: proibição por tada por Kepler 234.
des na Alemanha 137. dor 195; inamistosa concorrência de -
- de construir um Seminário Central formulações teológicas: humanismo e
Faculdade de Filosofia: - dos Jesuítas com Maximiliano 197; Paulo IV e -
em Manilha 259. relatividade das - 230.
e ciências naturais 171. 149; - e reforma conciliarista 152; -
Filipe de Wittelsbach: eleito bispo aos Fossombrone (Luís d e ) : 129.
Fanar: bairro dos Gregos, sede atual rei da Hungria 204; - e vantagens po-
3 anos de idade 177. Franca: 5, 16, 20, 23, 25, 27, 32, 77,
do Patriarcado Ecumênico Ortodoxo líticas da - 196.
Filipinas: - entreposto missionário 293; 80s, 91, lOOs, 146, 151, 183s, 194, 207,
de Constantinopla 322; Missionários Fernando III (imperador): 290, 387. Franciscanos das - e Missão no Ja- 239s, 295, 298, 302, 303, 305, 409;
do - 325. Ferraria: 295; Calvino em - 139; cír- pão 248. ameaça de convocação de Concílio Na-
culos erasmianos em - 138. cional 147, 151; arrogância do Embai-
Fanarião: sede do Patriarcado Ecumê- «filipismo» (de Filipe Melanchthon):
feudalismo aristocrático: - e episcopa-
nico de Constantinopla 322. repressão violenta na Saxônia Eleito- xador em Roma 296; ausência do bar-
do 312.
fanariotas: - e helenização da Igreja ral 188; - sinônimo de criptocalvinis- roco na - 297; autonomia nacional
Ortodoxa 325. fidalgos huguenotes: - e Bossuet 237. da Igreja na - 299; calvinismo em -
mo 188.
«fanáticos» (Schwärmer): no conceito «Fidalgo Jorge»: Lutero como - 60. 97; - e capitulações 327; conquistas
Fidalgos Protestantes da Escócia: Ali- filosofia cartesiana: consciência, pon-
de Lutero 88, 90. to de partida para a - 309. no Reno 294; - contra a conciliação
ança (Covenant) dos - 117.
Farnese (Alexandre): 186; governador- «Filosofia de Cristo»: Erasmo de Ro- entre Imperador e Papa 146; Contra-
fideísmo: - reação contra o método cé-
geral dos Paises-Baixos 124. terdão sobre a - 39s. Reforma na - 239; criptoprotestantis-
tico de apologética 307s.
Farnese (Duque): pendência dos Bar- Fiel (Fidélis) de Sigmaringa OMCap: filosofia platônica: mundo da - 36. mo na - 206; cristianismo «purgado»
berini com - 395. congregado mariano 172. Filotéia (Santa): 336. e simplificado na - 91; degeneração
Filóteo (Patriarca): 336. do protestantismo na - 204; - e ques-
tão (demanda) das regalias 299; «de- Francisco II, da França: - e despres- Frei José («Père Joseph) OMCap: a Gaspard (Almirante): calvinista 98.
votio moderna» na - 207; dioceses tígio da Coroa 98. Eminência Parda, «Eminence Grise» Gattinara: - Chanceler Imperial 127.
vagas, ou em mãos de leigos 183s; Francisco José (Imperador): - e situa- 183. Gebardo: príncipe-eleitor do Baixo-
edições de livros religiosos em 207; - ção dos Uniatas 352.
frente única protestante: formação de Reno 195.
e Esmalcáldicos 193; Estado Reforma-
Francisco (São) de Sales: - e Angéli- - 198. «Gedankengerechtigkeit»: justiça na-
do, Estado dentro do Estado em -
ca Arnauld 224; atuação pastoral de Friburgo em Brisgóvia: 20, 75, 183. cional 48.
307; financiamento de conversões 204;
- 184s, 212; - e S. Carlos Borromeu Friburgo na Suíça: Colégio Jesuítico Geiler de Kaisersberg: 19, 28.
guerra da - com a Espanha 199; Hatti
212; - e clausura das Visitandinas 312; em - 182; S. Pedro Canísio em - 169. «Gemeiner Kirchenkasten»: «Caixa Co-
Humagium e - 321; identificação do
conaturalidade ou congenialidade com Frisinga (Freising): 176, 313. mum» da Igreja em Vurtemberga 87.
Rei com o Estado na - 298; integra-
S. Teresa de Ávila 212; diálogo de Froben: 40. Genádio II, Jorge Escolástico: 319ss,
ção da - na faixa missionária 260;
- com Teodoro Beza 185; fundador Fugger: 49s; Jacó ou Tiago - 19. 323; - derradeiro escritor eclesiástico
jansenismo, galicanismo, quietismo, vi-
das Visitandinas 212s; - e «Introdução Fuggerei: grupo habitacional dos Fug- antiunionista bizantino 319.
da religiosa em - 302s, 307; lideran-
à vida devota» (Filotéia) 212; méto- ger para pobres em Augsburgo (56 Genebra: 101, 139, 331; berço e cen-
ça da - na Europa 297; mimetismo
do próprio de pastoral 212; persona- casas geminadas) 19. tro do calvinismo 92, 98; deposição e
dos Luteranos na - 97; mística na -
lidade de - 212s; - e teor religioso Fulda (Mosteiro d e ) : reforma, pelo escorraçamento de Calvino de - 93;
302ss; - monarquia unitária e absolu-
do «grand-siècle» 185; - e «Traité de Abade-Principe 179; situação dos mon- comunidades calvinistas inglesas em -
tista 203; objeções francesas contra a
1'amour de Dieu» (Théotimus) 212; - ges de origem plebéia 311. 114; Duques de Sabóia e a sucessão
convocação de Concílio 140; obras de
e S. Vicente de Paulo 212; e vitalismo fundações (bolsas, estipêndios): para - ao sólio de - 92s; Francisco (São) de
Lutero e Zuínglio em - 91; Parlamen-
barroco 212. estudos 315. Sales, bispo de - 93, 212; predicantes
to de - contra as decisões tridentinas
Francisco (São) Xavier: 15, 135, 249, fundações (instituições) isentas: - e de - 119; padrão calviniano de - 97;
170ss; perdas enormes da - 294; polí-
tica filoprotestante da - 198; - po- 252s; atividades nas indias e no Ja- incorporação de benefícios eclesiásti- - e protestantes franceses 97s; Re-
tência católica 123, 293; protetorado pão 246s; - personalidade entre a cos 184. forma Religiosa em - 93.
religioso (diplomático) da - nas Mis- Idade Média e a Idade Moderna 246; Fürstenberg (Teodorico d e ) : 173; bis- Gênova: 258; irmandades caritativas
sões 326ss; regulamentação de proble- obra missionária de - 247; personali- po de Paderborna 180. de - 129.
mas político-confessionais 170, 203; - dade e atividades 244-247; - e o va- «gente pobre»: 23.
lor intrínseco da civilização exótica ou Gabriel Biel: 44. Gerásimo, o Moço: canonização de
e Renascimento 298, 307; restrições ao
autóctone 246. - 331.
Tridentino 160; Sisto V e Guerras Re- Gabriel Severos: farpas antilatinas nas
ligiosas na - 167; situação típica da - Francke (Augusto Germano): e fun- obras de - 329. Gerberon OSB (Gabriel): defensor de
em religião 183ss; soberania papal e dação das Missões Luteranas nas Ín- Gante (Gand): golpes calvinistas em Fénelon 304.
desfaçatez da - 296. dias 295. - 124. Gerlach (Estêvão): contacto dos Re-
Francisca (Santa Joana) de Chantal: «Franco(s)»: - considerados latinos galicanismo: 204, 298ss; - e coarcta- formados com os Ortodoxos e - 329.
fundadora das Visitandinas, discípula (4» Cruzada) 352. ção do poder episcopal 299; - e crise Germano (Hermann) de Wied: renún-
de São Francisco de Sales 212. institucional em França 302; - e in- cia forçada de - 109; - e tentativa
Francoforte: 53, 149, 1 9 5 ; comunida- falibilidade do Papa 298; e jansenis-
Franciscanos (Frades Menores): lOs, de protestantizar a diocese de Colô-
des calvínícas inglesas em - 114. mo 304; lado político do - 299; Par-
69, 134, 265, 342; - e comunidades nia 103.
Francônia: 68. lamento Francês, propagador do - 299;
terciárias nas Missões Sul-Americanas Germano: - patriarca grego 338.
«Fraterherren» (Irmãos Cogulados): -
253; - e Coptas no Egito 307; - da - de Pascásio Quesnel 305; - e Síno- «Gesprãchsbüchlein»: de Ulrico de
ou Irmãos da Vida Comum 33.
Custódia da Terra Santa 346; espírito do Provincial de Bordéus 184. Hutten 56.
Fraternidade dos Irmãos da Vida Co-
de tolerância dos - 338; - no Japão Galicia: Halytsc, étimo de - 350, 353;
mum: - ou dos Irmãos Cogulados Giberti (bispo de Verona): 129, 138,
248; - e Melquitas 338; - nas Mis- - Polonesa e jurisdição ortodoxa 355.
(«Fraterherren) 33. 157; - e reforma da Cúria 138.
sões da América 10s; - e Movimento Galileu Galilei: adversários de - 284ss;
Frauemburgo: 283. Giblet (Moisés): na Corte de Pio
de Observância na Alemanha 32; re- Congregação do índice sobre as teo-
Frederico de Hássia-Darmestádio (Lan- rias de - 284; desagravo (reabilita- II 337.
sistência dos - a Henrique VIII 85; -
grave): convertido, cardeal, arcebispo ção) de - 285; descobertas e inven- Gil de Viterbo: - e programa de re-
na Rússia 396; - da Terra Santa 307,
de Breslau 270. ções de - 283; erro judicial na con- forma 33.
346; - e validade dos Sacramentos
ministrados pelos gregos 396. Frederico I, da Dinamarca: 70, 72. denação de - 284; personalidade e ati- Ginásio: - dentro do «Plano de Estu-
Francisco (São) de Borja: 136. Frederico o Sábio: 54, 59, 72. vidades de - 283s; - e sistema co- dos» dos Jesuítas 171.
Francisco I, de França: 109, 327; ação Frederico III, do Palatinado: 187; - e pernicano 284. glagalítico: rito - da Croácia 352.
introdução do calvinismo no Palatina- Glarus: 62, 74s.
palítica de - contra os Luteranos 91; garantias religiosas (direitos rever-
do Eleitoral 188. Goa: 14; elevação de - a arquidioce-
contacto de - com o Sultão 326; - e sais): 271.
convocação do Concílio 140; - e re- Frederico IV, do Palatinado: - e for- Gardiner (bispo): - e repressão in- se 260.
mação da «União» 194. transigente do protestantismo na In-
forma humanística 91; tratado de paz Goethe: em Roma 277.
Frederico V, do Palatinado: rei dos glaterra 114.
com Carlos V 76. Gõttweil (Abade Bessel d e ) : autor do
insurrectos de Praga 195. Garnett SJ: execução de - 118. primeiro tratado alemão de diploma-
tica 282; do «Prodromus» para estu- Gregório Marnas: patriarca 354. «Guerra da Mitra»: - em Estrasbur- deslocação compulsória de Evangéli-
dos históricos 282. Gregório II: metropolita 355. go 173. cos em terras reguengas 207; dinas-
Golfo do México: 261 . Gregório XIII: 116, 176s, 182, 240, Guerras Religiosas em França: 193; tia dos - 99; Pio IV e os - 151; - e
governo centralizado: Congregações 276, 325, 328, 340; - e Colégio Angli- Sisto V e - 107. problemas sem solução 293; sentimen-
Femininas de - 313. co em Roma 164; e Colégios Grego, Guerra de Sucessão Espanhola: 244, tos inamistosos de Urbano VIII con-
governo universal: Congregações Ro- Armênio, Maronita 164; e Colégio Hún- 294; - e Negociações de Utreque 307. tra os - 197; - e os Uniatas 351, 386.
manas e - da Igreja 166. garo-Germánico 164; - e o Colégio Guerra dos Trinta Anos: 235, 285, 289, Hadjatch («Pontos» d e ) : 382.
Gonzaga (Cardeal): - e sessão final Romano, chamado depois Universida- 295, 316; atitude inicial neutra da Sa- Hagen (Haga), Cornélio van: 330.
do Concílio de Trento 152; morte do de Gregoriana 163; - e conspirações xônia Eleitoral 189; origens remotas Hagenau: começo de uma série de de-
- 153. contra Isabel I da Inglaterra 163; - e da - 295; preliminares 194; - e re- bates teológicos em - 127.
Gonzaga (Luís): 315. debates científicos sobre as Catacum- cuperação material 282, 315; recons- «Hagia Sophia» (Santa Sofia): lenda
Gordon (Embaixador): - e introdução bas 163; fundação e patrocinação de trução da Alemanha depois da - 315; em torno da - em Constantinopla 318;
dos Jesuítas em Moscovo 395. Colégios 163; instrução do Clero 163; restauração das estruturas católicas de- - na queda de Constantinopla 318;
graça: controvérsia sobre a - 220s. - mal assessorado em alguns setores pois da - 258; subsídios pontifícios na transformação da - em mesquita 321.
gráficas católicas: - e movimento de da Contra-Reforma 162; - e Noite de - 295ss. Hagiotafitas (agiotafitas): Confraria
Contra-Reforma 170. São Bartolomeu 120; peculiar atenção Guerra contra os Turcos: - nova era dos - 338, 341; sistema dos - 338.
Gran: Pázmány, arcebispo de - 202. de - para a Alemanha 164; - e pro- das Cruzadas 243; - e situação re- Haiti: 10; Las Casas OP em - 12; pri-
Grã-Bretanha: guerra da - contra a moção das ciências 162; reforma equi- ligiosa paritária do Imperio 293. meira missa em - 10.
Espanha 120. librada de - 162; - e Seminário (Colé- «Gueux» («Maltrapilhos»): 101; amea- Hajjar (José): 341; - e «Les chrétiens
Grã-Poiônia: 424, 435, 452. gio) Anglico de Douai 264; - e re- ças dos - nos Países-Baixos 185; vi- uniates du Proche-Orient» 344.
Granada: 381; Concilio de Trento e o forma do Calendário 163ss, 366s, 371; tórias dos - 124. Hala (Halle): 34.
Seminário de - 7; hierarquia eclesiás- - e revisão do «Corpus Iuris Canonici» Guilherme da Baviera (Duque): 168. Halberstadt: 49, 70.
tica no Reino de - 6; Reino de - 163; - vitima, em alguns pontos, da Guilherme de Orange: 311; bandea- Hall: 70; Colégio Jesuítico em - 168.
5, 6, 9. mentalidade coletiva dominante 162. mento para o luteranismo 100; calvi- Haller (Bertoldo): 75; - e debate teo-
«Grande Estatuto da Igreja»: - (grosse Gregório XIV: 209. nista declarado 124; influência de - lógico de Bade 74.
Kirchenordnung) em Vurtemberga 87. Gregório XV: 256; - e a ereção da contra as decisões tridentinas 185; - e Halytsi: étimo de Galícia 417.
Grandes Potências: eleição papal e mo- Congregação da Propaganda 256s. usurpação do trono da Inglaterra 273. Hamburgo: 69.
bilização política das - 296. Grey (Joana): execução de - 114. Guilherme V, de Cleve: 43. Hamilton (Patrício): queimado como
«grand-siècle»: S. Francisco de Sales Grimaldi SJ (Francisco María): descri- Guilherme V, o Piedoso, da Baviera: herege na Escócia 117.
e o teor religioso do - 185. ção do espectro solar por - 285. - e Contra-Reforma como tarefa re- «Handbüchlein des christlichen Strei-
Grisões (Graubünden): 257. ligiosa 176. ters»: de Erasmo de Roterdão 39.
«Granjas de Irmãos» («Bruderhõfe»):
Grócio ( H u g o ) : 269; - e os interna- Guise (Carlos d e ) : - e cumulação de Hanovre: 235, 271; conversões em -
- dos Anabatistas em Nikolsburgo 89. cionalistas Vitória e Suárez 234; qua- beneficios 184. 200; Espínola na Corte de - 236.
Granvella (Cardeal): 100; - Chanceler lidades e atividades de - 234. Guise (Duque d e ) : 119. Hans Brask de Linkoeping: 73.
Imperial 128. Gropper (João): 128; esquema de aco- Guise (Duque Henrique d e ) : 122; co- Hartem: 89.
Grão-Inquisidor: na Espanha 6. modação de - 128; diálogo de - com mandante da Santa Liga 122. Harrach (Cardeal): arcebispo de Pra-
grão-mestrado: das Ordens Eqüestres Bucer 128. Guise (Francisco d e ) : 119. ga 232.
na Espanha 6. Guise (Irmãos): - e politização do Hássia: 72, 78, 94, 101; conversões cm
Gruet: eliminação de - 96.
«Gravamina Nationis Germanicae»: 26. Guadalupe: Santuário Mariano de - 11. calvinismo 98. - 200; Igrejas Nacionais na - 70; pro-
Graz: 183; magistério de João Kepler Guerra dos Camponeses: 65-69; atitu- Gustavo Adolfo, da Suécia: 271; mor- testo da - 76; - e refugiados Hugue-
em - 234; Nunciatura em - 165; re- de de Lutero nas - 65; - na Áus- te de - em Lützen 198. notes 205.
pressão aos Protestantes 179; Univer- tria 178. Gustavo Adolfo II: rei da Suécia 189. Hássia (Margrave d e ) : 89, 108, 111.
sidades de - 178, 284. Gustavo I Vasa: 165; introdutor do Hássia-Cassei: calvinismo em - 180;
Guerra dos Cem Anos: 23.
Grécia: conquista cristã na - 243. luteranismo na Suécia 73. - Valdenses franceses 205.
Guerra Civil Espanhola: malogro da
grecização (helenização): Patriarcado Guyart (Maria): - Ursulina missioná- Hássia-Darmestádio: 270.
- 41.
Melquita de Jerusalém e - 338ss; polí- ria entre os Iraqueses 261. Hássia-Rheinfels (Langrave Ernesto
Guerras Civis na França: 193.
tica eclesiástica de - 337. «Guerra de Colônia»: 195. d e ) : conversão de - 270.
Greenbay: 261. Guerra da Criméia: 320. Habsburgo(s): 107s, 112, 294, 319, «Haiti humagium»: - e direitos dos
Gregos: 392; Alexandre VI e os Sa- Guerra de Esmalcalda: 142; - e Con- 325, 327; Arquiduqucs de - 278; cristãos 321.
cramentos ministrados pelos - 357. cilio de Trento 144s. avanço do protestantismo em terras Havelberga: anexação da diocese de -
Gregório (São) Barbarigo: Imperador Guerras dos Huguenotes: I19ss, 160; dos - 178; bloco católico dos - 202; a Brandemburgo 172.
contra a eleição papal de - 296. inicio da 1' - 119; 3* - 1 1 9 ; 4* e coligação dos Protestantes contra os hegemonia: do empirismo 311; - no
Gregório Magno: - e acomodação eto- 5" - 120; apoio de Pio V nas - 162. - 77; cumulação de dioceses na dinas- Norte da Europa 294; - protestante na
lógica 265. guerra injusta: Fénelon sobre - 314. tia dos - 176; descalabro dos - 195; Alemanha 271.
hegúmeno: 340. Héxapla de Orígenes: edição de Mont- hospitais: evolução administrativa dos catolização da - 202; tensões confes-
Heilbronn (Aliança d e ) : - e liderança faucon 282. - 21. sionais na 236.
protestante dos Suecos na Alemanha «hibridação»: processo de - na União hospodares: gregos colocados como - Hurões (Índios): 261.
240. das Igrejas 385. no Império Otomano 325. Hus (João): - e Lutero 53, 55; pro-
Heidelberga: 48, 53s, 69, 93; Catecis- hierarcas: - ortodoxos e subvenções «Hóstias Sangrentas»: 34. cesso contra - 106.
mo de - 187. pecuniárias 343. Hubtnaier: propagador do anabatis- Hut (Hans): - e os anabatistas 88.
hierarquia: - «eslavo-romana» na Po- mo 88s. Hutten (Ulrico d e ) : 56, 69.
Heiligkreuz: abadia livre de - 194.
Hélade: 326; conquista da - pelos Tur- lónia 352; - Latina e «medidas turcas» Huguenotes: 120, 169, 237; comuni- Hutter (Jacó): anabatista 89.
cos 318. contra os Ortodoxos 357; - melquita dade fechada de - nos Países-Baixos
Helding (Miguel): bispo auxiliar de 337; - no reino de üranada 6. 205; desconfiança do Governo Fran- Iassy: Conferências Ortodoxas de - 333.
Mogúncia 109, 143. Hildesheim: 176. cês contra os - 203; - e Edito de ícones (Questão dos): - no Oriente
helenização (grecização): da vida cul- Hipólito d'Este: arcebispo de Milão 22. Nantes 123; e Edito de São Germa- Eslavo 358.
tural e religiosa na Igreja Ortodo- Hirsau (Mosteiro d e ) : secularização no 99; - Estado dentro do Estado 203; iconoclasmo: 103; - de Karlstadt 61;
xa 325. do - 87. Guerras dos - 119ss, 122, 160; nor- - no Oriente Eslavo 359.
heliocentrismo: adeptos fora da Igre- «Histoire critique du Vieux Testament»: mas de Richelieu para debates com Idade Média: 7, 10, 158; barroco e
ja Católica 283; - de Copérnico 283. fundo céfico na - de Ricardo Simon - 234; - em Nova York e Virgínia final da - 292; derradeiro período da
Helmstedt: Jorge Calisto, catedrático 308. 205; mimetismo dos - nas conversões - 5, 85; movimentos religiosos da -
em - 231. História da Igreja: Barônio e - 210; forçadas 205; recurso dos - ao Rei da com implicações políticas 193; Uni-
Henneberg (Bertoldo d e ) : 25. realizações de Jesuítas, Oratorianos, e Inglaterra 204; repressão violenta dos versidade, terceira potência mundial na
Henrique de Navarra: - e trono de sacerdotes seculares para a - 282. - por Luís XIV 205; retirada dos re- - 219s.
França 122. História da Liturgia: - Mabillon 281. dutos militares dos - 204; reviravolta ideal sacerdotal: Condren e. - 213s;
História da Liturgia Galicana: de Ma- política contra os - 223; simbiose dos Bérulle e - 211.
Henrique o Navegador: 14s.
billon 281. - com os Católicos na França 307; idiomas indígenas: - e Missões 11.
Henrique II, da França: aliança com
historiógrafos: da Itália, Espanha, Ale- teologia huguenote 204. igreja: proibição aos Ortodoxos de
Paulo IV contra o Imperador 149.
manha 282. huguenotismo: elementos constitutivos construírem - de alvenaria 357.
Henrique III, da França: 24, 120s, 170.
Hobbes: doutrinas empiristas de - 310; do - 98; teologia do - 204. Igreja: alheamento entre - e ciências
Henrique IV, da França: 129, 184,
programas sociais de - 316. Huizinga (Johan): historiador 127. naturais 285; auto-reforma da - sob
203; conversão de - 123; - e recupe-
Hochstraten: 57. humanismo: características do - 35-43; o governo de Paulo III 137; Bíblia e
ração de Ferraria para o Papa 295.
Hoê de Hoènegg: - e o Imperador causas do fim do - 43; - cristão e - 45; - e ciências naturais 282ss; -
Henrique VIIL da Inglaterra: 81-86, 87,
188s; - e predestinação calviniana 188. São Francisco de Sales 185; e movi- e comuna civil 20; crise económica
109, 114, 117; - e «Assertio septem
Hoffaeus SJ: - e drama jesuítico 287. mento místico 8; e Ximenez 7; - de- da - 16; dominação pela - em lugar
Sacramentorum» 82; - «Defensor fi-
Hofmann (Melchior): propagador do votista («humanisme dévot») e S. de renovação da - 298; Inácio de Loio-
dei» 82; - e dispensa para matrimô-
anabatismo 88s. Francisco de Sales 213; - epigõnico la e - hierárquica 134; irmandades
nio duplo 83; excomunhão e deposi-
Hohenems: promoção de - parentes de 180; Jesuítas e formal manutenção do caritativas e renovação da - 129; no-
ção de - 84s; execução de Protestan-
tes sob - 86; - e Lolardos 82; nego- Pio IV 151. vas manifestações de santidade na
- 171; - c luteranismo 79; - e mate-
ciações com a Liga de Esmalcalda Holanda (Países-Baixos): 194, 294; 292; novo vitalismo da - 239ss, 275;
rialismo 36; - neerlandês e mitigação
86; primado papal 82; problema ma- calvinismo na - 124; imigração de pu- Paz de Vestefália e perdas irrepará-
das perseguições religiosas 124s; -
trimonial 82ss; - e proibição de casa- ritanos na - 205; jansenismo na - 273; veis para a - 200; reflexão da - so-
protestante e Melanchthon 126; - e
mento de sacerdotes 86; ruptura cabal Menonitas na - 90; - e a «União» 194. bre si mesma no Concílio de Tren-
relatividade das formulações teológi-
com Roma 84. Holar (Jon Arason d e ) : execução do to 156; religiosidade da - visível 40;
cas 230.
bispo - 73. - e tentativas de conversão 269; união
Henriqueta Maria de França: casamen- Holsácia (Holstein): regime eclesiásti- Humiliatas (Ordem d o s ) : supressão ca- da - com o Estado na Espanha 6s;
to de - com Carlos 1 da Inglater- co luterano em - 72. nónica da - 159. vida interna da - na Espanha 7.
ra 190. Holste (Lucas): conversão de - 270. Hungria: 80, 195, 257, 293, 294, 316; «igrejas de Asilo» - («Igrejas de Re-
Henschen: colaborador de Bolland 279. «Holy Covenant»: - e rebelião contra ameaçada pelos Turcos 131; atuação fúgio») 205.
heresia simoníaca: Paulo IV contra a liturgia catolizante na Inglaterra 190. do Cardeal Pázmány na - 202; au- Igreja(s) Calcedônia(s): 341; - no Im-
- 150. homem de ralé: 23, 314. sência da - no Concílio de Trento 143; pério Otomano 318ss.
Hermógenes: encarceramento do pa- Hornes (Almirante, Conde): 100, 124; dominação turca na - 319; esforços Igreja Católica: atração da - renovada
triarca - 393. influência de - contra as decisões tri- científicos dos Beneditinos na - 282; 269; desconfiança da - a pesquisas das
Hertogenbusch, ' S : 100, 185. dentinas na Bélgica 185. Estatuto dos Protestantes na - 236; ciências naturais 285.
hesicasmo, hesicastas: tradições do(s) Hósio, de Vármia (Cardeal): 152, 189, feição calviniana do protestantismo na igreja-comunidade: no sentido calvi-
- 336, 360. 202; - e criação da «Congregação - 202; invasão da - pelos Turcos 111; niano 94.
hétmane Piotr (Pedro) Sahazdatsiny: Germânica» em Roma 164; - e União luta contra os Turcos na - 239; opo- igreja dinástica: formação de - 72.
378. das Igrejas 367. sição aos Habsburgos na - 202; re- Igreja Galicana: ressalva dos direitos
da - contra o Concílio Tridentino 184. heresia luterana 107; fuga do - de dos Pontifícios 294; - políticas em Mo- Puritanos na - 190; - e Capitulações
Igreja Huguenote: elementos constitu- Innsbruck 148; fuga até Villach 111; vimentos Religiosos 193. 327; - e os Esmalcáldicos 193; fecha-
tivos da - 98; existência legal da - 368. guerra do - contra Luís XIV 244; Hoe «imposto de tutela» (Schirmgeld): 21. mento dos conventos na - 85; - e for-
Igreja dos Inválidos: em Paris 297. de Hoênegg a favor do - 188s; inter- imprensa: liberdade da - na Inglater- mação de Império 294; Guerra Civil
Igreja de Jerusalém: 338ss. venção do - nas eleições papais 146; ra 310. na - 192; Guerra da - contra a Es-
igrejas-livres: formação de - 90; orga- - e luta contra os Turcos 239; mi- Inácio de Chipre: metropolita 39. panha 120; - e Hatti Humagium 321;
nização de - 87. tigação da política religiosa do - 99; Inácio de Loiola: 43, 130, 132-137, 150, Isabel I contra a recatolização da -
Igreja Luterana: conceito de - 188. negociações do - com os Franceses 168, 246; - e Adriano VI 134; e Cal- 151; lei dos «testes» na - 272; liberda-
Igreja Melquita: - de Antioquia 346. em Münster 199; pacto militar do - vino em Paris 90, 134; caracterização de de consciência e de imprensa na -
Igreja Nacional Anglicana: 114ss, 189ss. com Veneza 244; Paulo IV e problema de - 133s; - e «Livro de Exercícios» 311; livres-pensadores na - 311; Loiar-
Igrejas Nacionais (Landeskirchen) Lu- sucessório do - 149; - e poderio po- 133; iniciador da Missão Judaica em dos na - 81; mosteiros beneditinos na -
teranas: 70; estruturação das - 69. lítico da Reforma Protestante 107; - Roma 256; - e Paulo IV 150. 31; mudanças de religião impostas pe-
Igreja Oficial: apatia da - 35. e presença de Protestantes no Conci- incardinação: lei tridentina sobre - 157. lo Estado 310; Olivério Cromwell, Lor-
Igreja Oriental: opinião primitiva de lio 145; Príncipes Germânicos e alian- incorporação: - de bens eclesiásticos de Protetor da - 192; Ordens Mendi-
Lutero sobre a - 329. ça com o - 235; protelações do - no 184; - de paróquias a mosteiros 26. cantes na - 31; 1" Vigário Apostólico
Igrejas Orientais: aceitação de forma Concílio de Trento 144; - e redução Índias: 9s, 14, 297; acomodação mis- para a - 273; problemas sociais na
equivalente do Calendário Gregoriano do protestantismo ao direito formal sionária nas - 249; décimas das - 15; - 316; - e refugiados Huguenotes 205;
em 1923 nas - 163. 196; subvenção para guerra contra o empórios dinamarqueses e holandeses regime eclesiástico nacional na - 81;
Igreja Ortodoxa: 333; atritos entre es- - 198; tensão entre Papa e - 109; o nas - 294; Francisco Xavier nas - República da - 192; restauração dos
lavos e gregos na - 325; autonomia Tratado de Paz Religiosa de Augsbtir- 244ss; Missão Luterana nas - 295; Stuarts na - 272; rompimento definiti-
da - na Sérvia 244; clamorosos abu- go à revelia do - 112. Roberto de Nobili, SJ nas - 252. vo da - com a Igreja de Roma 81; -
sos resultantes do sistema extorsivo da imperialismo: - e exploração de anti- índice: correção do - («Index») de e a «União» 194.
- 325; - insulada depois da queda de nomias religiosas 193. Livros Proibidos 158; - Romano de Ingoli (Francisco): 259, 342; contra
Constantinopla 325; lielenização (gre- Império: 196; estrutura religiosa pari- Paulo IV 150. Galileu 284; 1* secretário da Propa-
cização) da vida cultural e eclesiástica tária do - 200, 293; extensão do - de Índice (Congregação do): pronuncia- ganda 259.
da - 325ss; - e não aceitação do Ca- Mosco via 358; incremento do protes- mento da - sobre as doutrinas de Ga- Ingolstádio (Ingolstadt): 19, 53, 168,
lendário Gregoriano 163. tantismo no - 101; Inglaterra e Ho- lileu 284. 240, 285, 278, 315; Colégios dos Je-
Igreja Papalina: polêmica contra a - 56. landa e formação dc - 294; missão his- índios: admissão de - às Ordens Sa- suítas em - 168; Faculdade de Filoso-
Igreja Primitiva: 42; - (Proto-lgreja) tórica do - para com a Igreja 244; cras 14; «Leis Novas» de Carlos V fia de - 176; Pedro Canísio em - 168.
na teoria de Jorge Witzel 231. novo caráter paritário do - 293; Paz contra a escravidão dos - 13; luta pe- iniciativa particular: - e problemas so-
Igreja(s) Reformada(s): influência das da Vestefália e situação do - 200; los direitos dos - 12ss. ciais 314.
- na piedade e teologia católicas 219; primeiros Jesuítas no - 137. Indochina: 262. Inigo (Inácio) Lopez de Loyola: 130,
- e profissão única de fé na Suíça 188. Império Católico: - e maioria protes- indole étnica (etnia): conexão da cren- 132ss, 137, 168, 246; - e Colégio Mon-
«Igrejas de refúgio» - («Igrejas de Asi- tante 103. ça com a - 35. taigu de Paris 43; - e Calvino em
l o » ) para Huguenotes 205. Indonésia: 294. ! Paris 90, 134; e Adriano VI em Ro-
Império Colonial Francês: desenvolvi- ;

Igreja Romana (ou de Roma): separa- indulgência: breves de - 52; bula so- ma 134; caracterização de - 133s; - e
mento do - 262.
ção da - como fato consumado 103. bre - 55; - e Confissão de Augsbur- «Livro de Exercícios» 133; iniciador
Império Colonial Português: desagre- da Missão Judaica em Roma 256.
Igreja de São Pedro em Roma: obras go 78; - e oferta pecuniária 20, 50;
gação do - 260. Innsbruck: 50, 153, 169, 183, 271; Co-
da - 316; questão da Indulgência da - de São Pedro 9, 49; - e «Instructio
Império Germânico: - e governos ter- légio dos Jesuítas em - 168; fuga do
- 49s; - e transição de mentalidade summaria» do Príncipe-eleitor de Mo-
ritoriais particulares 24. Imperador de - 148.
da época 275. Império das índias Orientais: 294. gúncia 49.
Igrejas Territoriais Católicas: reação infalibilidade: Lutero contra a - dos Inocêncio III: 351; Paulo IV e idéias
Império Otomano (Turco): 320, 321,
tridentina contra - 157. Concílios 55. de - 149.
325, 327, 335, 342; ação contra o -
Igreja triunfalista: - e Rubens 277. 370; eclesiásticos, de preferência fran- Infanta Isabel: - e Arquiduque Alber- Inocêncio IV: 351.
Igrejas Uniatas: fundação de - 351. ceses, no - 327; fidelidade multissecu- to na Bélgica 186. Inocêncio X: 229; - e condenação das
Ilhas Jónicas: 319. lar dos cristãos no - 322; Igrejas Calce- «Cinco Proposições» do «Augustinus»
influência francesa: nas Missões do
Imaculada Conceição: Guerra dos Trin- dônias no - 318ss; jurisdição eclesiás- Oriente 343ss. 227; das distinções entre «quaestio
ta Anos e devoção ã - 290; - na pie- tica e atribuições civis do Patriarca iuris et quaestio facti» 227; protesto
Ecumênico no - 320; liberdade de lo- Inglaterra (Grã-Bretanha): 16, 18, 20,
dade barroca 390. de - contra a Paz de Vestefália 200.
cução para os eclesiásticos «francos» 22, 25, 27, 29, 80s, 94, 139, 257, 293,
Imperador: 79, 107, 109, 111, 146, 172, Inocêncio XI: 235, 243, 346; beneficên-
327; - e Patriarca Ecumênico 320ss; 313; abandono da escolástica na - 310;
236, 244, 290, 296; ausência do - do cia de - 316; medidas indiretas de -
queda de Constantinopla e consolida- «Atos de uniformidade» da rainha Isa-
Império 86, 107; - e Concílio unionis- contra os «Quatro Artigos Galicanos»
ção do - 318. bel I 189; atentados em favor da su-
ta noutro lugar 151; conflito armado 301; - e métodos missionários de Ver-
cessão católica na - 116; - e auxílio
entre Papa e - 296; - e extirpação da biest SJ 250; e Paz de Nimega 200,
implicações: - internacionais e Esta- aos Huguenotes 119; belicosidade dos
Nova História III — 32
241; e questão das regalias 300; re-
de vida conventual 218; S. Vicente de grar) para os que não seguiam a re- ticense» 278; galicanismo, aliado na-
sistencia a Luís XIV da França 297.
Paulo e aprovação pontifícia das - 312. tural do - 304; - na Holanda 306; -
Inocêncio XII: 304; - e proibição das ligião do soberano territorial 112.
Irmãs Ursulinas: fundação de S. An-
nomenclaturas (terminologias) chinesas «ius reformandi»: 180; (direito de re- e a «Paz Clementina» 229s; - pro-
gela Merici 130.
para Deus pelo Vigário Apostólico de formar religião) 142; garantia orgâni- blema exclusivamente francês 306; se-
Fuquiem 267; - e os «Quatro Artigos Irmandades caritativas: - e renovação gunda fase do conflito com o - 304ss;
ca do - 172; prescrição ou caducação
Galicanos» 302. da Igreja 129.
do - 271; uso deliberado do - 175. - e vida religiosa na França 307.
Irmandade do SSmo. Sacramento: pro-
inquietação religiosa: do povo germâ- «ius reformandi» (direito de reformar): jansenistas: - e ceticismo de Montaigne
pagação da - pelo mundo inteiro 289.
nico 34. 112, 180; - e «Stände» (Estados) Ca- 308; - e fórmula pontifícia de sub-
Irmãos das Escolas Cristãs: - e aulas
Inquisição: 135, 161; ampliação da al- dadas (lecionação) na língua mater- tólicos 197; - também para príncipes missão 229; - franceses e intervenção
çada da - 150; - e Copérnico 284; Pio na 315. eclesiásticos 180. na Questão dos Ritos 266.
V e - 161; represálias do povo roma- Irmãos Cogulados, ou Colaços: tam- Ivã III: - e hegemonia de Moscovo Japão: 136, 260; calvinistas e persegui-
no contra a - 150; restabelecimento bém «Fraterherren», «Irmãos da Vida 358; Sisto IV e o segundo casamento ção dos católicos no Japão 249; Cripto-
da - na Espanha 6; - e Vermigli e Comum» 33, 130; e difusão da pieda- de - 356. Igreja católica no - 248; embaixada
Ochino 139. de calvinista e jansenista 33. Ivã IV o Terrível: 356, 359, 362s, 366s, do - a Gregório XIII 247; Francisca-
Inquisição Católica de Lião: 96. «Irmãos Hutterianos»: - e os Anaba- 382; - e mediação de paz do Papa nos das Filipinas e Missão no - 248ss;
Inquisição Espanhola: nos Países-Bai- tistas 89. entre a Rússia e a Polônia 165. Francisco Xavier SJ no - 246ss; im-
xos 100. Ivanovitch (Teodoro): candidato a prensa missionária na língua do - 247;
Irmãos Morávios (Herrnhuter): agre- Czar 370. missionamento do - depois de S. Fran-
Inquisição Romana: 138; estabelecimen- gação dos - aos Luteranos 174.
to da - (Santo Ofício): 139. cisco Xavier 247ss; perseguição con-
Iraqueses (índios): 261. tra os cristãos no - 248; primeiro bis-
«Inscrutabile divinae providentiae»: bu- Isabel a Católica, da Espanha: 5, 10; e Jaime: irmão de Carlos II, da Ingla-
la de ereção da Congregação da Pro- terra 272. po para o - 248.
a Ordem de Santiago 6. Jedin (Humberto): 46.
paganda 256. Isabel I, da Inglaterra: 84, 114, 118; Jaime I, da Inglaterra: 117, 234; - e
instituições eclesiásticas: tributação de juramento de fidelidade dos católicos «Je pense, donc je suis»: 309.
«Atos de uniformidade» de - 114, 189; Jeremias I: - e proteção dos cristãos
- 21. - e calvinismo na - 115; - e Clero 119.
«Institutio religionis christianae»: edi- Jaime II, da Inglaterra: derrota e exí- contra Selim 1 321.
Paroquial 115; excomunhão e deposi- Jeremias II Tranos: 329; contactos dè
ção da - de Calvino 92. ção de - 115, 199; Gregório XIII e lio de - 273.
«Introdução à vida devota»: de S. conspirações contra - 163; - e novo Jaime V, da Escócia: 117. - com os Reformados 329; - e criação
Francisco de Sales 212. «Ato de supremacia 114; - recatoliza- Jaime VI, da Escócia: - (Jaime 1, da do Patriarcado de Moscovo 359, 360,
«Instructio Clementina» - sobre os ri- ção da Inglaterra 151. Inglaterra) e leis de perseguição 118; 366; resposta de - aos tratados e
tos bizantinos 374. isenção temporal: - de reis e prínci- filho de Maria Stuart 118. memorandos reformados 329; - e ma-
«Instructio summaria»: do Príncipe- pes 300s. Janízaros: formação dos - no século nipulações simoníacas 326; e não ado-
Eleitor de Mogúncia sobre as indul- XIV, • pretorianos do Império Otoma- ção do Calendário Gregoriano 326; e
gências 50s. Isidoro de Quieve ( K i e v ) : metropoli- no 322. reatamento de relações com o Ociden-
ta 353s.
«Instrumentum»: - de Erasmo de Ro- Jansênio (bispo Cornélio): 305; asser- te 326.
terdão 41. Isidoro II: eliminação do patriarca - ções de - no «Augustinus» 223ss; - au- Jerônimo (São) Emiliano: fundador da
insulamento: - humano dos Missioná- 323. tor do «Augustinus» 222; - de humanae Ordem de Somasca 130.
rios 252a islamismo: 5, 15, 319; - e rapto de naturae sanitate» 221; bispo de Ipres Jerusalém: 34, 133, 319, 336, 340, 346;
«ínterim de Augsburgo»: 96; conteúdo crianças cristãs 322. 222; diretor do Colégio Neerlandês de Igreja Melquita de - 336, 338ss.
do - 109; Matias Flácio contra o - Islândia: luteranismo na - 73. Lovaina 221; - e Duvergier de Hau- Jesuítas (Companhia de Jesus): 132-
110; fracasso do - 110; - como «im- Issy: Conferência de - 303. ranne, apelidado Saint-Cyran 221; edi- 137, 205, 262, 270, 309, 312, 338, 342,
perial religião intermédia» 109; promul- Istambul (Stambul): 319, 326, 332, ção póstuma das obras de - 222; - 344; - e acomodação missionária 265s;
gação do - 146. 344; contactos do Patriarca de - com e instalação dos Oratorianos na Bél- - e afrancesamento das Missões 344;
«ínterim de Lípsia»: 110. sacerdotes latinos 326; moslemitas em gica 222; qualidades e atividades de -
- em Alepo 342; aprovação canónica
Iorque ( Y o r k ) : 22. 221; - e política da França 222; e
- 322; transformações de igrejas em dos - 141; - e assassínio de Cirilo
Sínodo Ecumênico das Igrejas Refor-
Ipaty: outro nome de Adão Poty 372. mesquitas em - 321. Lucaris 332; - e assistência enfermei-
Ipres: 185s, 280; Jansênio, bispo de - madas de Dordrecht 221; testamento
Itália: 19, 36, 38, 40, 182, 242, 283, de - 222; - e articulação das Uni- ra aos doentes 315; ataques de cató-
222. licos à casuística dos - 224; atritos
286, 303, 334; - berço do humanismo versidades da Espanha contra os Je-
Irlanda (Eire): 216, 257; expedição de suítas 221. dos - com os Vigários Apostólicos nos
36; - e decisões tridentinas 159; fal-
Cromwell contra a - 192, 194; opres- Países-Baixos 306; dos - espanhóis e
ta de doutrina social na - 316; his-
são dos católicos na - 273. jansenismo: 221-227; Brás Pascal, cam- portugueses com os Vigários Apostó-
toriógrafos (historiadores) da - 282;
Irmãs Angélicas: fundação de S. An- peão e defensor do - 229; bula «Uni- licos 262; campanha antecipada dos
infiltração heterodoxa na - 138.
tônio Maria Zaccaria 130. genitus» contra o - 306; centenário - contra o «Augustinus» de Jansênio
Iugoslávia: 323.
Irmãs de Caridade: - e novo conceito da fundação dos Jesuítas e luta con- 222; centenário da fundação dos - e
«ius emigrandi»: - (direito de emi- tra o - 222; - e o «Cursus Salman- luta contra o jansenismo 222ss; - e
ceticismo de Montaigne 308; - e co- João IH, da Suécia: 189; conversão Judeus: expulsão dos - da Espanha 6; de - 61; - em Vitembcrga 61.
legios ao ar livre nas Missões Sul- do rei - 165. pogrome contra os - 34. Karnskowsky: primaz latino 372.
Americanas 253; - em Constantinopla João Sobiewski: rei - 241; - e União Júlia de Gonzaga (Condessa): 161. Karmi (Carmí), Melecio: 342.
327; Constituições dos - 136; - e Con- das Igrejas 383. Julich-Cleve: demanda sucessória de Kastl: centro de reforma monástica 30.
tra-Reforma em França 184; Cristina João III ( r e i ) : - da Suécia 367. - 195. Kepler (João): - e «Astronomia nova»
da Suécia 271; e demanda (questão) João XXIII: e textos litúrgicos 161 Júlio Echter de Mespelbrunn: arcebis- 283; - e «Concerto do Mundo» 234;
das regalias 300; e Dominicanos 221; João Vives: inaugurador da pedagogia po-príncipe de Virccburgo 180. - e «Fórmula de Concórdia» 234; -
- em Douai e Lovaina 186; expansão moderna 312. Júlio Pflug: bispo de Naumburgo 109. e «Harmonia mundi» 234; - e o helio-
dos - 136s, 186; expulsão dos - da Job (patriarca): - de Moscovo 366; Júlio II: 40, 49; - e obras da Igreja centrismo de Copérnico 283; «Leis de
Rússia 474; - e formação de cristãos sua deposição 391. de S. Pedro 274. Kepler» sobre as órbitas planetárias
modernos 223; frente única universi- José de Paris OMCap (Frei). - (Père 283; Newton e as «Leis de Kepler»
tária de Jansênio contra os - 221; - Júlio III: 132; - e Colégio Romano 163;
Joseph) assessor de Richelieu 203. 285; qualidades e atividades de - 234.
e Guilherme V o Piedoso 176; - e His- Joaquim I: príncipe-eleitor de Bran- e Companhia de Jesus 146; eleição de
- 146; nova convocação do Concílio Khmelnitsky (Bogdano): hctmane - 381.
tória Eclesiástica 282; - e humanismo demburgo 87. Kiew (Quieve): 333s, 351.
171; - e identidade de Demétrio (Di- de Trento 111, 146.
Joaquim II: príncipe-eleitor de Bran- «junker Joerg» (Fidalgo Jorge): Lu- Kiew-Moscóvia (Quieve-Moscóvia): 334.
mitry) 391; litígio dos - com os Be- Kitzingen: 68.
demburgo 87. tero - 60.
neditinos 197s; - e Missões 205; - no
Joaquim IV: patriarca - 341. Junía Eclesiástica: para dotação de Kicsl (Cardeal Melchior): 312; ação
Montmartre 135; - em Moscovo 473;
Joaquim V : patriarca - e Leonardo prebendas 175. contra-reformadora do Vigário de Pas-
- e novo tipo sacerdotal 136; peda-
Abel 341. juramento de fidelidade: exigência de sávia - 178; prisão do - 195.
gogia dos - 285; pregação dos - em
Joasaf: patriarca - e contacto com Vi- Jaime I, da Inglaterra 118. Klostergrab: demolição da igreja de
França 122; - e os «Quatro Artigos
temberga (Melanchthon) 329. juramento de supremacia: exigência do - ¡95.
Galicanos» 301; e Quesnel 306; «Ratio
Jogues SJ (Isaac): martírio de - no - 115. Knin: 235.
et institutio studiorum» dos - 170ss;
Canadá 261. Jurieu (Pedro): Bossuet e réplica hos- Knipperdolling (Bernardo): anabatis-
rede escolar dos - na Baviera 175; -
Jon Arason de Holar: execução do til de - 237; - e «Doutrina dos 12 ta 89.
na Suíça 182; - e teologia especulativa
bispo - 73. Artigos» 237. Knox (João): - e a «Confessio Scotica»
171; Vigários Apostólicos e monopólio
Jonas: metropolita, patriarca de Quieve jurisdição eclesiástica: restrição da - 117; - na Escócia 117; - e «Primeira
missionário dos - 265; - e vista ca-
(Kiev) 354s. 184. clarinada contra o monstruoso governo
nónica nas paróquias de Roma 159.
Jonas (Justo): 69, 78. jurisdição ortodoxa: âmbito da - 356s. de muiheres» 117.
«Jesuitinas»: apelido das Damas In-
Jordão (Giordano) Bruno: - e a teoria jurisdição papal: - e direitos adquiri- Koch (Conrado), ou Wimpina: 53.
glesas 313.
de Copérnico 283; doutrinas heterodo- dos da França e da Igreja Galicana Koenigsmarck (General): 270.
Joanitas, ou Hospitaleiros: Ordem dos xas de - 283. 301; - e Reunião Geral do Clero Fran- Kolenda (Gabriel ou Gawriil): metro-
Cavaleiros - 279; - e assédio de Mal- cês de 1681 300. polita 383, 386.
ta 239; - defesa e perda de Rodes Jorge, o Barbudo (Duque): - da Sa-
xônia, fiel à Igreja 87. juro(s): evolução da taxa de - 19; «kolkhoser»: 362.
131, 319. Universidade de Paris sobre - 19. Kollonitsch (Conde): bispo de Neustá-
Jorge Castrioto (Skanderbeg): - e re-
João Agrícola: 109. justiça de Deus: conceito de Lutero dio-Viena 242; Cardeal - 389.
sistência aos Turcos 318.
João da Austria: 240. sobre a - 47. Kopystensky: «Palinodia» de - 380.
Jorge Escolário, Genádio II: 319ss; -
João (São) Batista de la Salle: fun- derradeiro escritor eclesiástico, antilati- justiça legal: conceito de Zuinglio s o - «Kormtsjaja kniga»: tradução eslava
dador dos Irmãos das Escolas Cris- no, bizantino 319; chefe dos antiunio- bre - 63. do «Pedalion» 352.
tãs 315. nistas 319. justiça nocional: - (Gedankengerechti- Kourbsky (André): principe - 366.
João (São) de Capistrano: 357. gkeit) 48. Krain (Carneóla): exercício de religião
João Casemiro (rei): - e tentativas de Jorge da Saxônia (Duque): adversário justificação: Concílio de Trento s o - em - 174.
União 380. de Lutero 55s. bre - 144. Kraus (F. X . ) : 138.
João (São) da Cruz: e «Noite escura jornal: Filipe II e - do operário 315. Jutelândia: 196. Krell: vítima da repressão do «filipis-
da alma» 209; - e Reforma Teresiana Josafá (São) Kuntsewytch (Kuncewi- mo» (criptocalvinismo) 188.
208ss. juventude: - e Congregação Mariana
tius): martírio de - 378. Kreml (Crenlim): diálogos sobre reli-
172.
João (São) Damasceno (João de Da- José (São) de Calazans: fundador dos gião no - 165.
masco): 366. Clérigos Regulares das Escolas Pias
Kulmbach: Margrave de - 108; - e a
João (São) Eudes: fundador da Con- (Piaristas) 316. Kahlenberg: Batalha de - 243.
Kaisersberg (Geiler d e ) : 28; - sobre «União» 194.
gregação de Jesus e de Maria 215. jovens (moços): a favor de Lutero 56. Kurfürstenwíirde, Kurwürde (eleitora-
João Frederico de Hanovre (Duque): o monopólio e o ágio (juros) 19.
Joyeuse OMCap (Henrique de): vida Kammin: anexação da diocese de - à d o ) : 199, 235.
conversão de - 270. acidentada de - 184.
João (São) Leonardo: fundador da Pomerânia 172.
«Judaizantes»: - no ortodoxismo 360. Karlsburg (Alba Júlia): 388s.
Congregação de Clérigos para instru- labilidade: - da civilização barroca 298;
«Judas da Mísnia»: Maurício da Sa- Karlstadt (André Bodcnstein): 55s, 63;
ção de crianças 316. causas da - religiosa da América La-
xônia, apelidado - 110.
- e os Anabatistas 66; iconoclasmo tina 259s.
Lacombe CRSP (Francisco): - e pro- Leão XIII: 369. Lepanto: ações militares dos Turcos - 80s; finalidade originária e posterior
paganda do quietismo em França 303. Leão (Reino d e ) : 5. depois de - 241; Batalha Naval de evolução da - 193; negociações com
Ladislau (Wladislaw): Czar - 378, 392. Lebrija, ou Lebrixa (Antônio): 8. - 240, 319; - e culto de Nossa Senhora Henrique VIII da Inglaterra 86.
Ladislau IV, da Polonia: 232. Lebus: anexação da diocese de - a das Vitórias 240; desbarato estratégi- Liga Sueva: 68.
«Laetare Jerusalém»: bula de convo- Brandemburgo 172. co da vitória de - 240 . Ligiiislãs de Esmalcalda: 107.
cação do Concílio de Trento 141. Lefèvre d'Etaples: - e «Círculo de «Les Libertés de 1'egüse gallicane»: de Lima: Universidade dos Dominicanos
«La Fleche» (Colégio): - dos Jesuí- Meaux» 91s. Pedro Pithou 299. cm - 12.
tas 308. Legado(s) Apostólico ( s ) : fiscalismo Léssio SJ (Leonardo): teses de - so- Limburgo: 126.
Laínez SJ ( D i o g o ) : 99, I35s; - no dos - 138. bre a graça e o livre arbítrio 220; Lindano: - bispo de Rurmond e os
Concíiio de Trento 143. silêncio imposto aos adversários de
Legados Conciliares: - em Vicência 141. Gueux 185.
Lambertini (Próspero): - futuro papa - 221.
legados (fundações) eclesiásticos: si- Lindau: 79.
Bento XIV 386. «Letres à un provincial»: 228s; apre-
tuação anormal de - 21. língua chinesa: Missa em - 250.
Lamormaini SJ: - e restituição de bens ciação atual das - de Pascal 229.
Legados Pontifícios: reivindicações es- língua materna: cultivo da - 171; au-
eclesiásticos 197. Leunis SJ (João) : fundador das Con-
tereotípicas dos - nas Dietas Imperiais las (magistério) na - 314; - e psico-
La Motte-Guyon (Madame): condena- gregações Marianas 171.
107. logia religiosa 104; valorização da -
ção das doutrinas de - 303 - e propa- Levante: 327, 342.
legendas de Santos: pesquisas hagio- 287.
gação do quietismo em França 303. Lexikon fuer Théologie und Kirche:
grafías de Súrio e Rosweyde pa- Linkoeping (Hans Brask d e ) : 73.
«Landeskirchen»: estruturação das - 332.
ra - 279. Linz: 242.
(Igrejas Territoriais) 69. Lião: carnificina em - 120; Inquisição
Léger (Antônio): - e Cirilo Luca- Lípsia (Leipzig): 50, 52, 56; bula con-
«Landhaus»: culto protestante no - Católica de - 96.
ris 330. tra Lutero em - 106; Disputação de -
(Mansão Campestre) de Viena 174s, Líbano: 327, 337; afrancesamento das
leis disciplinares: do calvinismo 94s. 55ss, 65; Universidade de - 87.
178. Missões no - 344.
Leis de Kepler: Newton e as - 285; Lisboa: 259.
lansquenetes: introdução dos - 22. liberdade de consciência: 124; nega-
- sobre as órbitas planetárias 283.
Larissa: 336. literalismo: Lutero e - (Wortklauberei)
«Leis Novas» (Leyes Nuevas): - de ção da - 70.
La Rochelle: Richelieu e bloqueio de 49.
Carlos contra a escravidão dos Ín- liberdade germânica: defesa da - 193.
- 203; tomada de - 233. literatura apologética: - e superação in-
dios 13. «Liberdades Galicanas»: - e decretos
Lars Andersson: 73. telectual da Reforma Protestante 126.
Leibniz (Godofredo Guilherme d e ) : reformatórios do Tridentino 298; espe-
Las Casas OP (Bartolomeu): bispo - literatura religiosa: edições em Fran-
235, 270; bases propostas por - para cificação das - 299; 83 axiomas sobre
12ss; - contra o messianismo político ça 207.
reunificação religiosa 237; correspon- as - de Pedro Pithou 299.
espanhol 10. Litowsk: 329.
dência de - com Bossuct 237; - e de- liberdade religiosa: na Boêmia 174;
Lasso (Orlando d i ) : - na Corte de Mu- na Espanha 6. Lituânia: 330, 418, 422, 424.
bates teológicos 236; - e «evangeli-
nique 175. «Liber Diurnus»: descobrimento do - liturgia: - «catolizante» e rebelião do
zação pela ciência» 295; negociações
latim: conservação do - por Lutero 62; 270. «Holy Covenant» 190; destruição indé-
de - com Molano 237; verificação de
hegemonia didático-cultural do - 171; liderança: - da França 298; lenta lai- bita do patrimônio da - antiga 161;
- a respeito da proximidade de Espi-
- e toque aristocrático do drama je- cização e ateização da - científica 283; Mabillon e história da - 281.
noza com o ateísmo 310.
suítico 287. Livônia: 74.
Leida (Leyden): 89, 399; Seminário - política e potências protestantes 294.
latinização: - na Polonia 352; - total livrarias gregas: Veneza, centro de
para Missionários Protestantes em - líder(es): religiosidade pessoal dos -
nas Missões do Oriente 340, 384ss;
294; Universidade de - 124. econômicos 19. - 326.
Sínodo de Zamosc e - 386.
leigo(s): maioridade do - no lutera- Lieja ( L i è g e ) : 319; cumulação da dio- livre arbítrio: negação do - e Lutero
Latinos: entendimentos de - com Cos- nismo 58; barroco não favorável a - 48; Miguel Baio e - 219s.
cese de - 177; - e publicação da bula
sacos Meridionais 382. teólogos 284. livre exercício: perda do - de reli-
contra Lutero 106.
Latrão ( V Concílio d e ) : 33, 37, 142. Lellis (São Camilo d e ) : fundador dos gião 196.
«Liga»: - e destituição de Wallenstein
Laud: arcebispo primaz de Cantuá- Ministros dos Enfermos (Camilianos) livres-pensadores: na Inglaterra 311.
198; formação da - como contra-alian-
ria 190. 316. «Livrinho de diálogo»: - (Gesprãchs-
ça 195; - e pacto de ajuda com a
Lavai: Vigário Apostólico, 1' bispo de Lemberga ( L u o w ) : excomunhão do btichlein) de Ulrico de Hutten 56.
Espanha 195.
Quebeque 261. bispo de - 374; profissão de fé da «Livro de Exercícios Espirituais»: de
«Liga Cristã segundo o Evangelho»:
Lavai (Universidade): 261. Confraria de - 384. Santo Inácio de Loiola 133.
67; territórios da - e Gustavo Adolfo
lavrador (camponês): decadência so- «Lenda Negra»: contra a Espanha 13. «Livro das Fundações»: de S. Teresa
198; vitória da - sobre os rebeldes
cial do - 22; - rendeiro 23. Leonardo Abel: missão unionista de - de Avila 209.
da Boêmia 196.
Lazaristas (Padres): - e direção das 341ss. «Liga do Borzeguim» (Bundschuhfa- Livros Litúrgicos: reforma unitária de
«Filhas da Caridade» 218; de Seminá- Leopoldo I: - imperador 291; e Con- hne) : finalidade da - 67. Pio V 161.
rios 217; - na Irlanda (Eire) 217. tra-Reforma 235; e libertação de Vie- Liga contra os Turcos: Pio V e a livros perigosos: proibição de - 197.
Leão X: 32, 40, 49, 53, 58, 63, 274, na 204; e luta contra os Turcos na formação da - 240. livros religiosos: situação dos - 35.
359, 368; morte de - 130. Polônia 241, 389. Liga de Esmalcalda: 108; aliados da Loccum: 235.
«Loci communes rerum thcologica- edição greco-latina do Símbolo de .117, 139, 243, 308; - e os Anabatistas Machiavelli: 270.
rum»: de Mclanchthon 60. - 331. 65; anos conventuais de - 44ss; - e Maciejowski: bispo católico de Loutsk
Locke (João): 311; programas sociais Lucerna: 64, 257; Jesuítas em - 182; «Aos fidalgos cristãos da Nação Ger- 37 Is.
de - 316; - e «Racionalidade do cris- nova Nunciatura em - 165. mânica» (An den christliclien Abel Madagáscar: Lazaristas em - 216.
tianismo, conforme consta na Bíblia» «Lucero de la vida Christiana»: 8. deutscher Nation) 139; apelação de - Madame Maintenon: - c a questão do
311. Luçon: diocese de - 203. ao Papa 54, ao Concilio Ecumênico quietismo 303; - religião política 204.
Lolardos: facção dos - na Inglaterra Ludolío de Saxônia: «vida de Cristo» 58s; - e autojustificação do homem 47; Maderna (Carlos): - e nave central
81s. de - 8, 133. bula «Dccet Romanum Pontificem» 106; da Igreja de S. Pedro 275.
Loiola (Santo Inácio d e ) : 130, 132- Lugares Santos: Inácio de Loiola nos bula «Exsurge» contra - 105; - c Cal- Madrid: 259.
137, 150, 168, 246: - c Colégio Mon- - 134. vino 90, 93; canonicidade de - 188;
«Magdeburger Centurien»: 110.
taigu de Paris 43; - e Calvino em Luís de Conde (Príncipe): 98. caráter popular e psicológico dos es- Magdeburgo: 33, 44, 69s, 109; ane-
Paris 90, 134; e Adriano VI em Roma Luís Gonzaga: 315. critos de - 126; casamento de - 62; xação da diocese de - a Brandembur-
134; caracterização de - I33s; - e Luís VI: - e repressão do calvinismo - e compilação dos «Artigos de Esmal- go 172; assalto c incêndio de - 198;
«Livro de Exercícios» 133; - iniciador no Palatinado Eleitoral 188. calda» 101, 140s; - e o «Consilium Igrejas Nacionais (Landeskirchen) em
da Missão Judaica em Roma 256. Luís XI, da França: 24, 184, 203, 328, de emendanda Ecclesia» 138; dados
- 72; resistência de - contra o «ínte-
Londres: 22, 285. 330; protetorado missionário de - 340. biográficos de - 44; episódio da torre rim» 110.
Lorena (Cardeal d e ) : - e cumulação Luis XIV, da França: 204s, 235, 306, e - 46; - e Erasmo de Roterdão 41;
de benefícios 98s, 184. Magdeburgo - Ansbach: correrias do
313, 344; - e abolição dos privilégios - e Guerra dos Camponeses 65s; e
Lorena (Duque Carlos d e ) : 242. Margrave de - 111.
protestantes 204; acomodação de - em Igreja Oriental 329; - líder religioso e
Lortz (José): 52, 137. Magni OFMCap (Valeriano): 270; - e
torno dos «Quatro Artigos Galicanos» político 46, 57s; Missa Germânica
Lotzer (Sebastião): 7. restauração católica na Boêmia 232.
302; - c ajuda militar contra os Tur- («Deutsche Messe») de - 104; nomi-
Mayer Eck (João): 53.
Lourenço (São) de Bríndisi OFAlCap.: cos 241s; aparente religiosidade de - nalismo de - 48; 95 Teses de - 51;
Maillard de Tournon: deportação, pri-
- e expansão dos Capuchinhos 183. 298; apelação de - a um futuro Con- obras de - na França 91; opúsculos
são, e morte de - 267; Visitador e
Lourenço de Paris OFMCap.: - e cílio 297; apoio de - aos Húngaros pastorais de - 72; prelcções teológicas
Legado Apostólico do Oriente na
«amor puro e desinteressado» 303. contra o Imperador 241; arvorado, por de - 45; proposições de - 105ss; Re-
Questão dos Ritos 267.
«Louvor da sandice»: de Erasmo de si próprio, em máximo paladino da fé forma Protestante, obra pessoal de -
Maillczais: diocese de - 29.
Roterdão 40. católica 301; - e os bispos jansenistas 44; Sermão de - sobre as Indulgên-
Mailna: 23.
Lovaina: 39, 41, 130; baianismo na não-signatários da fórmuia 229; - e ca- cias 53; tradução da Bíblia de - 59ss;
Faculdade de Teologia de - 220; - e pitulação com Maomé IV 327; - e - e Zuínglio 63, 77. maioria protestante: - no Império Ger-
bula contra Lutero 106; censura das Carlos II da Inglaterra 272; coação Lutsk: diocese de - 370ss, 384. mânico ainda católico 103.
teses de Lutero pela Universidade de de - contra o Papa 296, 297; - e Luvre (Louvre): Bcrnini e planta do «Maiestas Catholica»: título dos Reis
- 106; interpretação de S. Agostinho exautoração do «Telêmaco» de Fénelon - 277, 297. de Espanha 6.
pela Universidade de - 219; Jesuítas 314; Guerra de - contra o Imperador Luow (Lemberga): excomunhão do Málaga: conquista de - 5.
em - 186; pontos de atrito entre a 244; mau exempio de - 298; - e Ques- bispo de - 374; profissão de fé da Malaspina: Núncio apostólico 372.
Universidade de - e os Jesuítas 220; nel 305; - e «reuniões» territoriais 244; Confraria de - 384. Malcbranche: filosofia teocêntrica de
proposições de Léssio censuradas pela - 309.
- e Tratado de Paz de Nimega 241.
Universidade de - 290; teólogos beli- Luísa (Santa) de Marillac: fundadora Malinas: - e decisões tridentinas 186.
Mabillon OSB (João): 281; - e «Acta
cosos em - 127; Tipografia Vaticana e das «Filhas da Caridade» 218. Malta: assédio de - 239.
sanctorum ordinis sancti Benedicti»
participação da Universidade de - 166. Luneburgo: 76. «Maltrapilhos» (Gueux): ameaça dos -
281; controvérsia de - com Papebroch
Lubeque (Liibeck): anabatismo em Lusácia (Lausitz): 195. nos Países-Baixos 185; vitória dos -
281; - e «De re diplomática» 281; diá-
- 89. «Luta pelo Concílio»: 139s. 184.
rios de viagem de - 381; discussão
Lublim (União d e ) : 364. luteranismo: ação política de Francis- de - com Rance 281; edição póstuma Mandarim (Adão Schall SJ): - 250.
Lucaris (Cirilo): 337; - e Antônio Lé- co I da França contra o - 91; - e dos «Anais da História de toda a Or- mandato missionário: procedência do
ger 330; - e autoria do Símbolo de alumbrados 8; caráter e atribuições dem Beneditina» de - 281; - e «Histó- - 259.
coloração calvinista 390s; caráter cho- do leigo no - 58; delimitação do - com ria da Liturgia Galicana» 281; - e Mandonnet (Pedro O P ) : 228.
cante da heterodoxia de - 334; caso o calvinismo 188; evolução confessio- história da liturgia 281; imputação a manducação espiritual: e Ceia 77.
psicológico de - 331; correspondência nal do - 27ss; fidelidade ao - na Trans- Manilha: 259.
- de opiniões jansenistas 281; - sobre
de - com Protestantes do Ocidente silvãnia 101; - na Noruega 73; força o valor dos estudos para a Igreja 2Si. Manresa: 133.
330; dobrez de - 330; - e episódio política do - 151; humanismo e - 79; Macário: patriarca, metropolita de Mos- «Mansão Campestre»: - (Landhaus) de
calviniano 333; freqüentes deposições mimetismo do - na França 97; - e re- covo 363s. Viena 174; e culto protestante 178.
de - 332; Jesuítas e assassínio de - ligiosos egressos 69; retraimento inicial Macário III Zain: 345; - noção de uni- Mansfeld: estudos de Lutero em - 44.
332; patriarca - 375. 395; prisão e en- do - na obra missionária 294. dade eclesiástica 345. Mansfeld (Conde d e ) : 196.
forcamento de - 332; relações de - Lutero (Martinho): 22, 32, 37, 44, 62, Macau: 267. Mansfeld (Inês d e ) : 177.
com a Inglaterra 330; texto anexo à 63, 67, 73, 76s, 82s, 87, 94, 103, 105s, Macedónia: 322. Mântua: 140.
Mantua (Duque d e ) : - e convocação Moray contra - 118; execução de - Maximiliano II, da Áustria: 174; ati- Menonitas: doutrina e expansão dos
do Concílio 141. 116, 118. tude ambivalente de - 173; - novo im- - 89.
«Manual do militante cristão»: - de Maria Tudor: 97. perador 160. mentalidade humanística: - dos Duques
Erasmo de Roterdão 39. Maria W a r d : 313; - e formas tradi- Máximo, o G r e g o : 336, 363s. Germânicos e formação de comunida-
Manuel de Corinto: autor de obras an- cionais da vida religiosa 218; persona- «Mayflower»: - e os «Pilgrims» (Pere- des protestantes 173.
tilatinas 326. lidade e atividades de - 312ss. grinos) 190. «Merk's Wien»: - (Tome nota, Viena!)
Manz ( F é l i x ) : assassínio de - por afo- Mariana S J (João d e ) : - e «Espelho Mazarino ( C a r d e a l ) : 218, 297. de Abraão de Santa Clara 291.
gamento 88. dos Príncipes» 314. M e a u x : 235, 304; Circulo de - e re- Merseburgo: atuação malograda de J ú -
mão morta: bens de - 21. Mármara (Mar d e ) : 332. forma humanística 91. lio Pflug em - 172; diocese de - ane-
Maomé II: 321, 323s; - e conquista de Maronitas: 340. M e c a : 319. xada à Saxônia Eletiva 172.
Constantinopla 318ss. Marquette S J ( J a i m e ) : missionário, ex- mecenas: Papas como - 316. Mês de Maria: origem do - na Itá-
Maomé III: 322. plorador da bacia do Mississipi 261. mecenato: Roma barroca, sede de - lia 290.
Maomé I V : - e capitulação com Luís Marrocos: 14. 274. Mesa de Consciência: 24.
X I V 327. Martène O S B (Edmundo): - e edição Meclemburgo: anexação das dioceses «meses pontifícios»: 25.
Mar Báltico: 294; - e expedição de de fontes litúrgicas 282; edição da his- de Ratzeburgo e Schwerin a - 172; Mesopotâmia: 344; diocese latina de
Gustavo Adolfo 198. tória dos Maurinos 282. - e Paz de Vestefália 199. - 340.
Mar Branco: - e Império de Mosco- Maryland (Terra de M a r i a ) : fundação mediatizados ( a s ) : bens eclesiásticos, Mespelbrunn (bispo Júlio Echter d e ) :
via 358. da colônia - 190. dioceses, catedrais, abadias - 197. arcebispo-príncipe de Virceburgo, - e
Marburgo: 127; encontro de Lutero e massas populares: recatolização das medidas «turcas»: - contra os Orto- acostamento político ã Baviera, inicia-
Zuínglio em - 77; Universidade de - 70. - 316. doxos e a hierarquia Latina 357. tivas próprias militares, reorganização
Marca de Ancona: 129. Massignon: insensibilidade de - aos Medici: 19, 37. econômica e social da diocese 180.
Marca de Brandemburgo: 34. problemas sociais 314. medidas aleatórias: - e formação sa- mesquitas: transformação das igrejas
Marcelo I I : eleição de - 148. materialismo: - e humanismo 36. cerdotal 110. de Istambul em - 321.
Marcílio de Pádua: Concílio, no con- Mateus de Baseio O F M C a p : fundador Medina dei C a m p o : 22. Messina: 339.
ceito de - 139. dos Capuchinhos 129. Melanchthon (Filipe): 56, 61, 67, 69, mestrado: - das Ordens Eqüestres (de
Marco Aurélio: 276. Mathys ( J o ã o ) : 89. 72, 74, 79s, 87, 127s; «Apologia» de Cavalaria) 7.
Marcos d'Aviano O F M C a p : - e cerco Matias, Imperador: 195; - e fechamen- - 80; - no Concílio de Trento 148; Mestres Neerlandeses: - da «devotio
de Viena 242. to de igrejas protestantes 195; mor- - e Confissão de Augsburgo 77s; con- moderna» 133.
Marcos Eugènicos: 319. te do - 195. tacto com o Patriarca Joasaf 329; con- messianismo: - político da Espanha 10.
Mar E g e u : 328. matrimônio: decretos tridentinos dog- trovérsias protestantes em torno de - Métis ( M e t z ) : 110, 199.
Margarida de Parma: - e as decisões máticos sobre - 153s. 187; - e criptocalvinismo («filipismo») «Metochion» (Procuradoria): dos M o n -
tridentinas na Bélgica 185; meia-irmã matrimônio duplo: dispensa para - de 188; - na Dieta de Augsburgo 77s; - ges Sinaitas em Messina 339.
de Filipe II, governadora-geral dos Henrique VIII 83. e humanismo protestante 126; posição método cético: tendência do - em apo-
Paíscs-Baixos 100. matrimônio misto: - e divisão religio- irênica de - 79; - e protestantização logética 308.
Margarida de Navarra: - e reforma sa na família 224. de Colônia 103. método jesuítico: 136s.
humanística 91. matrimônio de sacerdotes (padres): método(s) missionário(s): apreciação
110, 157, 165; postulação do - 175; Melchior C a n o : - no Concílio de Tren-
Margarida Pole: 35. global dos - na China e nas índias
príncipes católicos e - 172. to 143.
Margarida de Valois: casamento de - 252s; - nas Américas 11.
com Henrique de Borbom 120. Maurício de Saxônia: 108, 172; - e Melécio P i g a s : farpas antilatinas em método pastoral: - de S. Francisco de
Maria: filha de Henrique VIII e Cata- Concílio de Trento 147; felonia de - obras de - 329. Sales 212.
rina de Aragão 82, 113. 25, 110; - o «Judas de Mísnia» 110; Melécio Sirigos: tradutor do Catecismo método teológico: - do Concílio de
Maria: irmã do Imperador 108. - e liberdade germânica 193; morte de Mogila 333. Trento 143.
Maria a Católica: morte de - 114; - de - 111; rebelião de - contra o Im- Melk (Mosteiro d e ) : 30, 282. Metropolita: posição religiosa, social,
e repressão da Reforma Protestante na perador 148. Melquitas Católicos: 337; - em Antio- política do - de Moscovo 358.
Inglaterra 113ss. Alaurinos (Beneditinos): 279, 282; - quia 346; núcleo de - 343; - e Fran- Metropolitado (metropolitania) Católi-
comunidade de trabalhos científicos ciscanos 338; situação dos - em J e - c o : - e abdicação do rei João C a s e -
Maria (Guyart) da Encarnação: Ursu-
280; Congregação Beneditina Reforma- rusalém, Antioquia, Alexandria 336. miro 380.
lina missionária entre os Iroqueses 261.
da de Santo Amaro, dita dos - 280; M e l u n : 184. Metropolitado (metropolitania) Ortodo-
Maria Luísa: rainha - 380.
Maria S S m a . : representações barrocas Martène e história dos - 282; Saint- Memmingen: 67, 70, 79. x o : Estatutos do - 378; restauração
de - 290. Germain-des-Prés, biblioteca dos - 280. Menão Simon: fundador dos Menoni- do - 377ss.
Maria Stuart: 114ss; abdicação de - Maximiliano da Baviera: 194, 200, 313; tas 89. Metropolitados Provinciais: Constanti-
Liga de - 182. Mendieta O F M (Jerônimo d e ) : 10. nopla e - 3.51.
118; casamento de - com o Conde
Bothwell 118; com Lorde Darnley 118; Maximiliano: rei - 24; imperador - 26. Mendoza (Cardeal): 5, 7; - c «Cate- Metropolitado de Quieve ( K i e w ) : -
conspirações para libertar - 116; Earl Maximiliano I : imperador 37, 54, 99. cismo da Vida Cristã» 7. no século X V I I 355, 374ss.
México: 14; cristianização do - 11. Missionários: - em Alepo 345; atritos 334; - c as tendências de Lucaris 333. são geográfica do Império de - 358;
Midlands: 31. entre - 342; - «Francos» 345; - fran- Mogúncia ( M a i n z ) : 24, 49s, 53, 109, Igreja de - no século XVII 358ss; ori-
Miguel Agrícola: - tradutor da Bíblia ceses no Oriente Próximo, no Extremo 137, 289; representante de - no Con- gem do nome de - 315; principados
em finlandês 74. Oriente, 260; em Nova-Escócia 261; cílio de Trento 143. componentes de - 352; reveses de -
Migue! Angelo: 138, 276s; e obras da insulamento humano dos - 252s; - e Moisés Giblet: - na Corte de Pio II 337. 381s, 391; unificação de - 353.
Igreja de São Pedro em Roma 274. juramento de fidelidade aos Vigários Molano (Geraldo): - e Jorge Calisto Moscovo (cidade): 350s, 358; criação
Miguel Baio (Du B a y ) : - c estudo de Apostólicos 346; poderes civis dos - 235; - e negociações com Leiniz 236; do Patriarcado de - 358ss; Igreja de -
S. Agostinho 219. na América do Sul 253; - populares, qualidades e atividades do abade lu- até a supressão do Patriarcado 390ss;
Miguel: Czar - 392s. mais exorbitantes do que as leis c a - terano - 235. Igreja de - e unificação de Moscóvia
Miguel V I I : patriarca - e Leonardo nónicas 289; - portugueses e erros de Moldávia ( M o l d a u ) : 325, 333; domina- 353; - e planos de Cruzada contra
Abel 341. método 247; proibição de atividades ção turca na - 319, 419. os Turcos 356; posição religiosa, s o -
milagre: materialização do - 34. políticas aos - 258; - e protetorado Molière: 228. cial e política do Metropolita de -
Milanês: 295. de Luís XIII 340; relações mal defini- Molina S J : - sobre o concurso divino 358; preponderância (hegemonia) de
Milão: 182; Rohan contra - 199; S e - das dos - com os Vigários Apostóli- e o livre arbítrio 220. - 354; Sínodo de - de 1503 362; -
minários Tridentinos em - 159. cos 187; sujeição imediata dos - aos molinismo: 171; - e tomismo 220. «terceira Roma» 359; xenofobia de
mimetismo: dos luteranos em Fran- Superiores Regulares 259. - 353.
Molinos (Miguel d e ) : condenação de
ça 97. Mississipi: 261. Inocêncio X I contra 68 proposições de moslemitas: 322; - na Bósnia 323; em
Minden: 103; diocese de - em mãos Missões: adaptação das - a culturas - 302; - e Cristina de Suécia 272; Istambul 322.
de bispo protestante 173. estranhas (exóticas) l l s s ; afrancesa- misticismo de - 302. moslins: 320, 323.
Ministros dos Enfermos (Camilianos): mento progressivo das - 344; - e Con- monaquismo: contribuição do - para Mosteiro (Monte) de A t o s : centro e s -
São Camilo de Léllis, fundador dos quistas 11; Potências colonialistas e evoluções posteriores 349; sobrevivên- piritual ortodoxo 335, 360; - e domi-
- 316.
governo das - 259. cia do - no domínio turco 344. nação turca 335.
Miniszek ( M a r i n a ) : esposa do Czar Missões da Ásia Menor: e mescla de monarquia: - do Papa contra a oli- mosteiro(s): febre de construções nos
Demétrio (Dimitry) 391. interesses franceses 262. garquia dos Cardeais 166. - 3 1 ; incorporação de - a paróquias
minoria(s) heterodoxa ( s ) : tolerância Missões Católicas: - e perseguições «monge-de-carreira»: 362. 18; - marginal, secundário (para-mos-
das - 112. dos Ingleses c Holandeses na Améri- monismo: - panteístico de Baruque E s - teiro) 311; - Melquitas Católicos e
Minsk: residência do Metropolita C a - ca 262; dos Puritanos 294; repressão pinoza 310. a causa da união 349; organização
tólico 378. das mudanças políticas nas - 294. Monjas de Santo André: 336. idiorrítmica de - 336; mosteiros or-
«Mirantischer Maienpfeif»: - (Maravi- missões diplomáticas: bispo para - 30. Montaigne: influência de - em cató- todoxos - 334ss.
lhosa flauta de maio) de Lourenço de «Missões forçadas»: - para conversão licos de projeção 308. «Mosteiro das Cavernas (das grutas)»:
Schnifis O F M C a p 291. de Huguenotes em França 205. Monte Carmelo: 342. 378s.
Misael: - patriarca sobre a validade Missões Nórdicas: 187; Niels Stensen Monte-Serrate: 133s. Mosteiro do Sinai: - e assuntos de
dos Sacramentos 357. 270. Monte Sião: 134. união 339.
Mísnia ( M e i s s e n ) : diocese de - anexa
Missões do Oriente: influência france- Montfaucon O S B (Bernardo): - e edi- «Motivos de conversão»: obra dos Ir-
à Saxônia Eletiva 172.
sa nas - 344ss; - e prevenções nacio- ção dos «Analecta Graeca» (Coletânea mãos Walenburch 270.
Misos (Dimítrios): contactos com teó- nalistas dos Portugueses 260. G r e g a ) 282; de obras fundamentais de movimento místico: - e humanismo
logos reformados 329. Missões P a g ã s : - e admissão de com- arqueologia 282; dos Padres Gregos cristão 8.
Missa: abusos medievais em torno da patrícios ou conacionais 258s. 282; obra sobre paleontologia grega movimento de observância: - religio-
- 288; - em chinês 250; Concílio T r i - Missões Sul-Americanas: 10; Francis- 282. sa 32.
dentino sobre o sacrifício da - 146, canos e comunidades terciárias nas - Montmartre: 135. movimento pedagógico: - dos Jesuí-
153; - «escusa» (Winkelmesse) 78; - 253; Jesuítas e colégios ao ar livre Montreal: - e São Sulpício 214. tas 285.
germânica (Deutsche Messe) de Lute- nas - 353. Morávia (Mãhren): 88, 139, 195, 316. movimento(s) religioso(s): implicações
ro 104; - mercantiiizada 78: « . . . pa-
mística: - carmelita (teresiana) 208ss; More (Santo T o m á s ) : 38, 5 2 ; deca- políticas em - 193.
pae Marcelli» de Palcstrina 148.
crises da - 302ss; - e humanismo pitação de - 85; - e processo matri- mudanças de religião: - impostas pelo
Missal Romano: reforma do - por Pio cristão 8. monial de Henrique VIII 83. Estado 310.
V 161.
misticismo: de Miguel de Molinos 302. Moréia, ou Peloponeso: península de Müntzer ( T o m á s ) : 56, 67; chefe dos
missão canónica: - dos Missionários e Mitrófanes Criptopoulos: estágio teoló- - 244.
Carlos V 15. Anabatistas 65ss; derrota e execução
gico de - na Inglaterra e na Alema- Morone (Cardeal J o ã o ) : 137, 164; - e de - 668.
Missão Judaica: - em Roma 256. nha 330; profissão de fé ortodoxa de encerramento do Concílio de Trento Muhlberg: Vitória de - 108.
Missão Luterana: - nas Índias, méto- - 330. 153s. Mühlhausen: 66; - e aliança dos n o -
dos de Ziegenholz 295. Moghila ( P e d r o ) : 379s; Catecismo de morte de pira ou fogueira: - para he- vos crentes 75.
missão mundial: - da Igreja 239ss. - 333; edição grega da «Confessio reges 99. mulher: formas comunitárias para a v i -
Alissão Protestante: Missão Católica e Orthodoxa» de - 334; - e epiclese Mosa ( r i o ) : 199. da religiosa da - 312; posição da -
concorrência da - 394. 395; temas teoiógicos peculiares de - Moscóvia: 165, 335, 352, 356; exten- celibatária 312.
Mukatchevo: foco de calvinismo na negociantes gregos: desenvolvimento Noailles (Cardeal): 305; atitude inde- «novos católicos»: - fruto de conver-
Transsilvània 386; União e a epar- dos - e relações com os maometa- cisa e duvidosa no caso de Quesnel sões forçadas 206.
quia de - 387s. nos 324s. 306; intervenção do - na Questão dos Novo Mundo: 135, 205; cristianização
mundanismo: - da Cúria Romana 57. neo-agostinismo: 219ss. Ritos 267. do - 9; puritanismo no - 190.
mundo: conformação barroca do - neo-escolástica: - e teólogos luteranos Nobili S J (Roberto d e ) : ataques ao novo pensamento (nova filosofia):
239; restauração do - medieval 292. 188. método missionário de - 252; - na c a s - 307ss; - e queda da religiosidade bar-
Munique ( M ü n c h e n ) : 168, 218, 277, neófito(s): condições mínimas para o s ta de brâmanes 252. roca, e absolutismo gaulês 307.
286, 290, 313; - centro de música ecle- - na índia 252. nobreza: exorbitâncias da - protestan- «Novum Testamentum»: de Erasmo de
siástica católica 175; Colégio dos J e -
Neófito: discípulo de Lucaris 331; r e - te na Áustria 178; pressão sectária da Roterdão 40.
suítas em - 168; Ginásio de - 175.
núncia forçada do patriarca - 346. - latifundiária protestante 386; recon- Noyon: berço de Calvino 90.
Münster: 372; conflito no provimento
nepotes: locupletação dos - 295. dução da - na Polônia à Igreja C a t ó -
da diocese de - 173; cumulação da Núcleo (Bloco) dos Evangélicos: -
nepotismo: Júlio III e - 146. lica 202; - rural protestante e Duque
diocese de - 177; Francisco de W a l - («Corpus Evangelicorum») 271.
Neuburgo: 308.
deck e protestantização de - 103; - Alberto V 175; situação privilegiada «Núcleo da União»: 342.
sede dos Anabatistas 89, 99; situação Neuburgo-Palatinado: regime eclesiás- da - na Polônia 351. Nunciaturas Apostólicas: desdobramen-
católica da diocese de - 177s, 179. tico protestante em - 10!. «Noite escura da alma»: João da Cruz to das - de Cracóvia para Moscovo
Murad III: - e transformação de igre- Neuchâtel: Farei em - 93. e - 209. 391; ereção de - em Varsóvia, C o l ô -
jas em mesquitas 322. Neustádio-Viena: 235, 242. «Noite de São Bartolomeu»: 119ss, nia, Graz, Lucerna 165.
Murillo: 278. neutralidade política: frutos da - do 124; - e Gregório XIII 120, 162. Núncios Apostólicos: 312s; fiscalismo
Papa 144. Nome de Maria: introdução da festa dos - 138; poderes extraordinários dos
Murn&r O F M ( T o m á s ) : 57; e debate
Newsky (Alexandre) : grão-duque - do - 243. - 197; - e Reforma Eclesiástica 164.
teológico de Bade 74.
352. nomenclaturas (designações) chinesas: Nuremberga (Nürnberg): 37, 52, 69,
Museu Britânico: 330.
Newton (Isaque): - e Leis de Kepler - chinesas 249; proibição das - 266; 75, 78; «Compromisso» («Anstand»)
Nação Inglesa: recondução da - à e Sistema Copernicano 283. pelo Vigário Apostólico de Fuquiém de - 81; Igrejas Nacionais (Landeskir-
Igreja Católica 113. N i c ã o : arrogância de - patriarca de 266. chen) em - 70, 72; pacto secreto dos
Nações Protestantes: ascensão políti- Moscovo 3.53, 362; - e atividade teoló- nominalismo: 36, 44; - radical de L u - Protestantes em - 76.
ca das - 294 . gica de inspiração ocidental 395; de- tero 48.
Nagasaqui: Franciscanos em - 248; posição de - 394ss; - e Rascol (Dis- Nordlinga: derrota definitiva dos Sue- Oates ( T i t o ) : «conluio» de - 272s.
Mártires de - 248. sidência) 394. cos em - 198. Obelisco: episódio na chantagem do
Nanquim: 249; nova diocese de - 266. Nicéforo: exarca - 375. Norte da Europa: hegemonia protes- - em Roma 317.
Nantes: ab-rogação do «Edito» de - «nicodemismo»: renúncia ao - 97. tante no - 294; planos turcos contra
203. Oberammergau: Auto da Paixão de
«nicodemistas»: Calvino e os - 99. o - 241. - 290.
Nápoles: 7, 41, 258, 294; Universidade Nicola ( P e d r o ) : distinção de - entre Northhumberland (Duque d e ) : - e Re- Oberlánder (Região A l t a ) : 77.
de - sobre o processo matrimonial «quaestio iuris et quaestio facti» no forma Religiosa na Inglaterra 86. obras barrocas: - em Roma 275.
de Henrique VIU 84. jansenismo 227. Noruega: 257; luteranismo na - 73. Obra dogmática: do Concíiio de Tren-
Nassau: calvinismo em - 180. Nossa Senhora do Amparo: 243.
Nicolau ( S ã o ) de F l u e : 35. to 156ss.
Nassau-Dillemburgo: 101. Nossa Senhora do Perpétuo Socorro:
Nassau-Orange: Príncipe Guilherme de Nicolau V : papa - 354. Obra Missionária: lento fracasso da -
Nidwalden: Bailio de - 182. 243. 294; retraimento inicial dos Luteranos
- 101.
Nigrino: conversão de - em Dânzi- Nossa Senhora das Vitórias: culto de na - 295.
Nau S J : 334. - depois de Lepanto 240; festa de
gue 232. observância religiosa: movimento de
Naudé: - e Cristina de Suécia 271. - 240. -32.
Naumburgo: 109, 147; diocese de - Nikolsburgo: «Granjas de Irmãos» (Bru- Nova Escócia: 294; Missionários J e -
derhõfe) de Anabatistas em - 89. Observatório Astronômico: Jesuítas e
anexada à Saxônia Eletiva 172. suítas em - 261.
Navarra: 132; incorporação de - à C o - Nilo: Patriarcado Melquita do - 337. - da China 250.
Nova Espanha: - (México) 11. ocamismo: 44; - de Lutero 45.
roa 202. Nilo ( S ã o ) Sorskij (de S o r a ) : 336; nova filosofia: - germe de seculariza-
controvérsia de - 360ss; Regra e D o u - Ochino O F M C a p (Bernardino): apos-
Navarra (Antônio d e ) : 98, 119. ção 292ss. . tasia de - 139, 182; correspondência
Navarra (Henrique d e ) : excomunhão trina de - 360ss.
Nova França: catequização de índios de - com Carnesechi 161.
de - 122; - herdeiro do trono fran- Nimega: 137; Tratado de Paz de - 241. em - 261. Ochrid: supressão do Patriarcado de
cês 122. Nîmes: supressão da Academia Pro- Nova Inglaterra: colônias de Puritanos - 325.
Naxos (Ilha d e ) : 328. testante de - 204. em - 190.
Neerlandeses: ligação dos - com G e - Ocidente: arquidiocese do Sinai e rela-
Ninguarda O P (Feliciano) : atuação de Nova Y o r k : Huguenotes em - 205. ções entre Oriente e - 339; - C a t ó -
nebra calvinista 99. - como Núncio Apostólico 173; - e cele- «Noventa e cinco Teses de Lutero»: lico 340; divisão confessional do -
negociações: - de benefícios eclesiásti- bração de dois Sínodos Provinciais em 44, 51; eco entusiástico das - na Ale- Cristão 156; estremecimento de rela-
cos 184; - unionistas com tendências Salisburgo 175s; - e concordata en- ções entre o Patriarcado Ecumênico
manha 52.
cismáticas 234. tre bispos 176. e o - Latino 337; reatamento defini-
Novgorod: 350, 354.
tivo de relações do Oriente com o «Ordinatio Ecclesiastica»: organização Paderborna: 173; Sínodo Diocesano de Palácio Farnese: imunidade do - em
- 325. luterana na Dinamarca 73. - 180; situação católica de - 177. Roma 296.
Odet (Cardeal): apostata calvinista 98. organização eclesiástica: - e a política padres (sacerdotes): casamento de - Palácio Quirinal: - em Roma 276.
Odra, ou Oder ( r i o ) : 294. na Espanha 10. 172. Palácio São D â m a s o : 276.
oferta pecuniária: - e indulgência 50. organização idiorrítmica: - dos mos- Padres Conciliares: - de Trento 142. Palatinado: 110; nova crença no - 173;
Oficio Coral: descaso do - 31. teiros 336. Padres G r e g o s : Montfaucon e edição restituição dos bens eclesiásticos no
«Offikia»: - e Sínodo Ortodoxo 320. Oriente: 339, 342s; Arquidiocese do dos - 281; mundo teológico dos - - 258.
Olau Petri: 73. Sinai e relações entre Ocidente e - 36, 209. Palatinado Eleitoral (Efetivo): 103; cal-
Oldenbarnevelt: 269. 339; protetorado francês a favor dos Padres da Igreja: texto original dos vinismo no - 188.
Olier (João T i a g o ) : 214, 303; quali- cristãos no - 321; reatamento defini- - 36. Palatinado-Neuburgo: - e a «União»
dades e atividades de - 213ss; - e S e - tivo das relações do Ocidente com o 194.
Padres Oratorianos: fundação dos -
minário Interdiocesano 214; - e S. V i - - 325s; situação do padroado por-
210. Palatinado Renano: - na Paz de V e s -
cente de Paulo 217. tuguês no - 260.
padroado: - e atividades missionárias tefália 199.
oligarquia: - dos Cardeais e monar- Oriente Eslavo: cenobitismo no - 359s. 256; a vocação do governo das Mis- Palatinado-Zweibrücken: calvinismo em
quia do Papa 166. Oriente Ortodoxo: 320. sões para a Cúria Romana, em defe- - 180.
opúsculos pastorais: - de Lutero 72. Oriente Próximo: 258, 341; Jesuítas, sa, contra o - 260; Conselho Muni- Palavra de D e u s : injustos temores d a
Orange (Guilherme d e ) : 311; bandea- Carmelitas, Dominicanos no - 262; M i s - cipal e - 2 1 ; - da Coroa (Portugal, Igreja quanto à - 104.
mento para o luteranismo 101; para sionários franceses no - 261; - e P a - Espanha) 6, 14s, 253, 256; moldes j u - paleografia grega: obra de Montfaucon
o calvinismo 124; influência de - con- triarca Melquita de Antioquia 340; ere- rídicos do - 244; - português no Ori- sobre - 282.
tra as decisões tridentinas na Bélgica ção de dioceses latinas no - 339. ente 253, 260; óbices do - aos traba- Paleóloga (Zoé, ou S o f i a ) : casamento
226; - e usurpação d o trono inglês 273. Orígenes: Montfaucon e a edição d a lhos da Propaganda 259. de - com Ivã III 356.
Oratorianos (Padres): - na Bélgica Héxapla de - 282. P á d u a : 40; Universidade de - 37, 325. Palestina: agremiações sectárias e - 90.
222; fundação dos - 210; - e Histó-
ortodoxia (ortodoxismo): retorno d a Países-Baixos: 28, 32s, 40, 106, l l i , Palestrina (João Pedro L u í s ) : - e «Mis-
ria Eclesiástica 282.
teologia luterana à - 231; - e comuni- 177, 257, 306, 330, 332; autonomia sa Papae Marcelli» 148.
Oratório do Amor Divino: - em R o -
dade melquita 337; comunicação cul- dos - 124; Cabidos isentos dos - e «Palinodia»: de Kapystensky 380.
ma 35, 129, 210.
tual (communicatio in sacris) com c a - Concílio Tridentino 185; - e Capitu- Pallu (Francisco): fundador do « S e -
Oratório de Bérulle: Carlos de C o n - tólicos 328; contactos do protestantis- lações 327; comendas nos - 100; co- minário das Missões Estrangeiras» 264;
dren no - 213; - e espírito triden- mo com a - 326; - «contaminação c a - munidades calvínicas nos - 173; C o n -
tino 21 Os. - Vigário Apostólico de Tonquim 264.
tólica» 395; - e «judaizantes» 360. selhos dos Motins nos - 124; decisões Paios: 9 , 14.
«Oratório de Natal»: - de Bach 290. ortodoxo(s): - e «Clero Branco» 431; tridentinas e - 159, 185s; drama di-
Oratório de Nosso Senhor Jesus Cris- Pamplona: 133, 136.
contactos de - com teólogos católicos, dático cios Jesuítas nos - 286; eman- «Panágia»: Igreja da - 332.
t o : fundação de Pedro Bérulle 210. reformados 329, 390; - e Demétrio cipação civil e destruição de valores
Ordem: debates conciliares sobre o pancristianismo: - e Jorge Witzel 231.
391; - e Estêvão Gerlach 329; medi- religiosos nos - 194; esfacelamento das Panteão: 274.
Sacramento da - 153; - dos Capuchi- das «turcas» contra - 373; pressão pro- dioceses nos - 124; Espanha e perda
nhos e Companhia de Jesus 183. Pantelaros (Atanásio): Patriarca - 332.
testante contra - da Transilvânia 391; dos - 293; os «Gueux» («Maltrapi- P a p a : 119, 147; - e absolutismo gau-
«Ordennances Ecclésiastiques»: de C a l - - refugiados na Polônia-Lituânia 365. lhos») nos - 124; - Espanhóis 293; -
vino 94. lês 296ss; apelação de Lutero ao -
O s a c a : Cripto-Igreja Católica em - 248. e Inquisição Espanhola 100; postos 54; Belarmino e o poder temporal in-
«Ordem de Cristo»: presença da - nas Osiandro: - e prefácio da obra de C o - missionários nos - 187; privilégios his-
Conquistas 14. direto do - 299; direitos feudais do -
pérnico 283. tóricos dos - 99; Reforma Protestante 7; galicanismo e infalibilidade do - 298;
«Ordem de Santiago»: - e Rainha Isa- nos - 99; - e refugiados Huguenotes
bel 6. Osnabruque ( O s n a b r ü c k ) : 103; nego- hostilidade dos Turcos contra o - 326;
ciações do Imperador com os France- 205; repressão da Reforma Protestan- - mal informado sobre os católicos in-
Ordenações: preparação espiritual p a - te nos - 174ss, 176; Sínodos Provin-
ses em - 199. gleses 116; mecenas e construtor 316;
ra - 217; filhos sacrílegos e - 28. ciais nos - 186; - e Sublime Porta
ostensorio: uso geral do - 288. neutralidade política do - 140; oli-
Ordens de Cavalaria (ou Eqüestres): 332; terrorismo religioso nos - 124;
união das - à Coroa de Espanha 7. Ostrojskij (Príncipe Basilio Constan- garquia dos Cardeais e monarquias do
tino de Ostrog o u ) : planos de união tolerância e liberdade confessional nos - 165; origem humilde de alguns P a -
Ordens Mendicantes: malogro do mé-
todo missionário dos missionários das do - 330, 365, 369. - 126; trabalho espanhol de Contra- pas 316; Paz Religiosa de Augsburgo
Oto Henrique ( C o n d e ) : - do Palati- Reforma nos - 176; unificação dos no- concluída à revelia do - 112; politi-
- 266; - e prescrições tridentinas 160; nado 101. vos crentes nos - 101; Vigários Apos- ca financeira do - 18s; tensão entre -
- em simbiose com as cidades 31. Ottobeuren: Colegiada Imperial de - tólicos nos - 306; e jansenistas nos e Imperador 109.
Ordens Missionantes: atritos das - com
278. - 306; e Jesuítas nos - 306. «Papa-Asno» («Papa-Burro»): sátira
os Vigários Apostólicos no Extremo
«Oulozjenye»: 394. «Paixão segundo S ã o Mateus»: - de de Lutero contra o - 131.
Oriente 262.
Oxenstjerna (Chanceler): - e liderança Bach 290. Papas Reformadores: 160ss.
Ordens Religiosas: sacerdotes de - e dos Suecos 198. Paixão do Senhor: devoções exorbi- Papa(s) do Renascimento: 5, 30, 139;
causa da unidade cristã 349.
Oxônia ( O x f o r d ) : 38. tantes à - na piedade barroca 289. direitos e tributos de Roma e os - 25.
Nova História III — 33
Papebroch ( D a n i e l ) : colaborador e
(Port-Royal) 228; e a Sorbona 228;
continuador de Bolland 279; controvér- a assim chamada «visão» de - 228. patriarcalismo: - e barroco 297s. Paz de Passarowitz (Pozarevac): 244.
sia de - com Mabillon 281. Passávia ( P a s s a u ) : 137, 242s; pro- patrimônio eclesiástico: natureza e com- Paz de Rastatt: 293.
Para-Concílio (Concílio Lateral): - de testo do Imperador contra o «Tratado ponentes do - 16; recuperação de Paz Religiosa de Augsburgo: 293; -
Innsbruck 153. de Paz de -» 111. - 196. como trégua 172; - e Edito de Nantes
Paraguai: 253; Doutrinas ou Redu- pastoral: - prejudicada pela especula- 123; - e paridade confessional 200.
patrimônio litúrgico: destruição indébi-
ções no - 253ss; Reduções do G r ã o - ção teológica 104. P a z Separada de P r a g a : - (1635) 198.
ta de - 161.
Chaco no - 12. P a z (Religiosa) de Vestefália: 199ss,
pastores (ministros): caixa de subven- Paulo (São) Apóstolo: - e acomoda-
Paraná ( R i o ) : 253. ção para - convertidos ao catolicismo 293; - e Calvinianos 200; infração da
ção etológica 265.
«Parceiros de juramento» («conjura- em França 204. Paulo Elias: 72. - pelo Arcebispo de Salisburgo 207;
d o s » ) : - (Eidgenossen) étimo de Hu- Patriarca(s): eleição dos - 323ss. Paulo Panajotis: santo monge - 323. - e perdas para a Igreja 200; pro-
guenote 98. Patriarca de Constantinopla (Bizâncio): Paulo II: 37. testo de Inocêncio X («zeius domus
parceria: transição do sistema de - - etnarca de todos os Ortodoxos no Paulo III: 85, 94, 108, 127, 148, 289; Dei») contra a - 200; - e situação
ao aforamento 22. Império Otomano 320. bula de excomunhão e deposição de do Império 200.
paridade confessional: 123, 200; - s e - Patriarca(s) Ecumênico(s): dedicação Henrique VIU 8 5 ; - e auto-reforma da Pazmaneum: Colégio - em Viena 202.
gundo a Paz de Augsburgo l l l s s . e competência de muitos - 324; - no Igreja 137; convocação do Concílio de Pázmány (Cardeal P e d r o ) : atividade li-
Paris: 7, 18, 19, 56, 90, 213, 222, 285s, Império T u r c o (Otomano) 320ss; ins-
289, 297, 303, 305; Inácio de Loiola em Trento 139; nomeações típicas de - terária do - 202; fundador de esco-
tabilidade eletiva dos - 323; jurisdi- para o Colégio Cardinalício 127; - e las e seminários na Hungria 202; -
- 90, 134; Liga e Levante de Paris ção eclesiástica e atribuições civis dos
obras da Igreja de São Pedro 274; - e Sínodos na Hungria 202.
(1585) 122; Noite de S ã o Bartolomeu
- 320ss; uniatas, dependentes dos bons e postulação do Concílio 140; sus- P e c : supressão do Patriarcado de - 325.
em - 120; primeira Igreja Calviniana
ofícios dos - junto ao Império Otoma- pensão do Concílio por - 146. pecado original permanente: Lutero e
em - 97; Sínodo Calvinista Nacio-
no 320. Paulo I V : 100, 112, 136, 148-150; atri- - 144.
nal em - (1559) 98; Universidade de
Patriarca de França: pretensão de Ri- tos de - com Filipe II da Espanha peculiaridades etológicas: acomodações
- e processo matrimonial de Henri- chelieu ao título de - 234. 100; bula de - «Cum ex apostolatus missionárias às - 265.
que VIII 84. Patriarca(s) Melquita(s): - da Síria officio» 150; desconfiança de - contra pedagogia moderna: João Vives, inau-
Parker (Matias): iniciador da nova hie- simpatizantes da União 345. os Jesuítas 150; eleição de - 148; - gurador da - 312.
rarquia anglicana 115. Patriarca do Ocidente: pretensão de e heresia simoníaca 150; hostil aos «Pedalion»: Karmstjaja kniga, tradu-
Parlamento Francês: 23; - e não-ho- Richelieu também ao título de - 234.
mologação do Edito de S ã o Germa- Habsburgos, pouco favorável ao C o n - ção eslava de - 352.
Patriarcado de Antioquia: 337ss, 340ss, cílio 149s; - e o «índice Romano» de
no 119. 348. pedobatismo: Lutero e - (batismo de
livros heréticos 150; - e problema su- infantes) 58.
Parlamento Inglês: várias tendências
Patriarcado de Constantinopla: - no cessório do Imperador 149; - e re- Pedro (São) de Alcântara O F M : - e
religiosas do - 113.
século X V I 325s; contacto do - com pressão de heresia 150; - e o Ritual S. Teresa de Ávila 208.
«Parlamento da Reforma»: - e pro-
cesso matrimonial de Henrique VIII 83. sacerdotes latinos 326; estremecimento de Eduardo VI 115. Pedro (São) Canísio S J : 136, 182; ati-
«Parlamento Truncado» (Rump-Parlia- de relações do - com o Ocidente L a - Paulo V : 210, 330, 468; - e contro- vidades literárias de - 169; - e o Bis-
m e n t ) : - e condenação de Carlos I 192. tino 337; fontes católicas mais antigas vérsia sobre a graça 221; - e Missa po de Augsburgo 179; - e Carlos Bor-
P a r m a : Guerra do Papa por causa de mal informadas sobre o - 324; mu- em chinês 250; - e rejeição do jura- romeu 169; Catecismos de - 169, 333;
- 147. danças da sede do - 323; projeto de mento de fidelidade ao Rei da Ingla-
transferir - para Moscovo 366; - e - e Colégio Germânico 168; - confi-
terra 119. dente do Imperador e dos Duques da
Parma (Margarida d e ) : - e decisões União de Bresta 366.
tridentinas na Bélgica 185. Patriarcado Ecumênico de Constanti- Paulo V I : - e confissão de culpa no Baviera 169; - e decisões tridentinas
paróquias agregadas a mosteiros: 26. nopla) : - e União de Bresta 366. Concílio Vaticano II 132. na Alemanha 160; - na Dieta de R a -
Paróquias de Roma: visita canónica Patriarcado (s) Alelquita(s): 320; au- Paulo (São Vicente d e ) : - e aprova- tisbona 169; encontros de - com Car-
das - 159. sência ou falta de atividades intelec- ção pontifícia das Irmãs de Caridade los V 168; - e fundações em Colônia,
párocos rurais: manutenção precária tuais e científicas nos - 336; causa da 312; qualidades e atividades de - 216ss. Augsburgo, Virceburgo 168; «Grande
dos - 18, 26. unidade cristã no - 349; - sob do- pauta (ternário): - do Concílio de Catecismo» de - 333; ideal sacerdotal
«Partidários do Batismo» (Taufgesin- minação turca 336ss. Trento. 142. de - 168; - e Pedro Fabre S J 137;
n t e ) : - designação dos Menoniras 90. Patriarcado de Moscovo: criação d o - Pavia: 326. - e o «Reservado Eclesiástico» (Re-
Pascal ( B r á s ) : 298; - c Antônio A r - 427ss. Pavillon: bispo de Alet e as rega- servatum Ecclesiasticum) 169; traba-
nauld 228; campeão e defensor do lias 300. lhos de - em Ingolstádio 208; em Vie-
jansenismo 228; - e «Cartas a um Patriarcados de Ochrid e P e c : supres- Pamiers: 300. na 168s.
Provincial» (Lettres ã un provincial) são dos - 325. P a z de Carlowitz (1669): 244, 319. Pedro (São) Claver S J : - e pastoral
228; - e Companhia de Jesus 228, 286; Patriarcado Ortodoxo de Jerusalém: - «Paz Clementina»: - na controvérsia dos negros 315.
qualidades e atividades de - 228ss; sob a dominação de minoria grega 338. jansenista 229s; efeito ilusório da - 230. Pedro Fabre S J : 137, 167; - e S. Iná-
- e os «Solitários de Porto Real» Patriarcado de Quieve ( K i e w ) : proje- P a z de Lubeque: - (1629) 196. cio de Loiola 134.
to de criar - 382. P a z de Nimega: - e esperanças de Ino- Pedro, o Grande: - da Rússia 294; -
cêncio X I 241. e ocidentalização da Rússia 350, 396;
- e a situação dos cristãos no Orien- visão do Direito Canónico 163; traços nária francesa 328; mitigação da - re-
109, 128; malogro de - em Mersebur- ligiosa do Imperador 99; - papal e F i -
te 321; - e Teólogos da Sorbona 390. tipicamente medievais de - 292.
go 172. lipe II 100; - pró-latina dc Roma 343;
Pedro Lombardo (Mestre): «Senten- Pio X ( S ã o ) : reestruturação das Con-
Pflummern (Henrique d e ) : 28. - das prebendas dos Wittelsbach 177.
ças» de - e Lutero 45. gregações Romanas 166; - e textos li-
«Philothea»: - (Introdução à vida de- Polônia: 103, 233, 240, 257, 283, 316,
Pedro Mogila (ou M o g h i l a ) : modifi- túrgicos 161.
vota) de S. Francisco de Sales 212. 329, 341; aliança entre o Papa e a -
cações sinodais na «Profissão de fé» Pio XII: 314.
Piaristas: 170; Congregação das E s - contra os Turcos 242; ataques turcos
de - 333; «Profissão de Fé Ortodoxa» Pirckheimer (Vilibaldo): 37s, 70.
333; temas teológicos prediletos de - colas Pias, fundada por S. José de à - 241; candidato de Gregório XIII
Pirinéus: Tratado de Paz dos - 293.
334. Calazans 316; - e recatolização das nas eleições da - 165; - e decisões tri-
P i s a : 283.
massas populares 316. dentinas 143, 159, 165; expulsão dos
Pedro de S o t o : - e «Compendium Pithou ( P e d r o ) : - e «Les libertés de
Piazza di S p a g n a : - sede da Congre- Socinianos (Antitrinitários) da - 202;
doctrinac christianae» 333; - no Con- l'église gallicane» 299.
gação da Propaganda em Roma 257. Gustavo Adolfo contra a - 198; - e
cilia de Trento 143. «placards»: - anticatólicos em Fran-
Picardia: 90. protestantização do Báltico 74; recato-
Pelagianos: Concílio de Trento e - 144. ça 91.
Picquet (Francisco): 344; cônsul em lização da - 202; Sigismundo II, rei
Peloponeso (Moréia): península de - «placet» régio: - e bulas pontifícias 6;
Alepo 345; sagrado bispo e nomeado da - 189; Sínodo Nacional Luterano
244. - e liberdades galicanas 299.
Vigário Apostólico da Babilônia 262. da - 151; situação dos bizantinos na
Pelicano ( C o n r a d o ) : 69. «Plano de Estudos»: - (Ratio studio-
piedade: - barroca 288ss; Bossuet e - 352, 371.
Península Ibérica: 5, 14, 133, 294; de- rum) dos Jesuítas 170ss.
Fénelon sobre - ideal 302ss; doutrina Polônia-Lituânia: 350s; enfraquecimen-
cretos tridentinos na - 148; - e países planos «orientais»: - da Propaganda da
de Erasmo de Roterdão sobre - 38; to do poder central da - 377s; pro-
tributários (caudatários) 5; reconquis- F é 328.
influência indireta das Igrejas Refor- jeto de patriarcado para - 366; - e re-
t a da - 5. Platão: 37; Calvino e a república de
madas na - católica 219; individualista fugiados ortodoxos 360; Santa Sé e a
289; - leiga 34s; - popular abusiva 38; - 94.
Penitenciaria ( S a g r a d a ) : reforma da Plauto: 286. União na - 356.
- 138, 161. anterior à Reforma Protestante 292.
Plettenberg (Valter d e ) : 74. «polonização»: processo contínuo de -
«Penso, logo existo»: argumento de «Pietà»: de Miguel Angelo 274.
Plunket (Olivério): enforcamento do 352, 354, 358.
Descartes 309. «pietas victrix»: - e triunfalismo re-
ligioso 287. arcebispo - 273. Polatsk: arquidiocese de - 378.
«Pequena Igreja»: - dos Antitrinitários Plutarco: «De usura vitanda» 19; - e Pomerânia: 69s; anexação da diocese
(Socinianos) 365. pietismo protestante: 290.
Pigas (Melécio): 337; farpas antilatinas o homem clássico 37. de Kammin à - 172; - Anterior na
Pequenas Ilhas de S u n d a : 294.
nas obras de - 329. pobreza: problema da - na vida mo- Paz Religiosa de Vestefália 199.
Pequena Rússia (Pequenos R u s s o s ) :
«Pilgrimage of G r a c e » : 85s. nástica ortodoxa 361. Pompônio L e t o : 36s.
350, 365.
«Pilgrims» (Peregrinos): - e o purita- poder civil: função missionária do - Pontifical ( L i v r o ) : edição do novo -
Pequim: 249; nova diocese de - 266. 14s.
peregrinações: movimentos de - 34. nismo em o Novo Mundo 190. 161.
Pinsk: bispo de - 371. poder episcopal: coarctação do - pelo «Pontos de Hadjatch»: - prejudiciais
«Père Joseph»: - Eminência Parda 342;
pintura barroca: na Espanha 278. galicanismo 300. aos Uniatas 382.
- e Richelieu 328.
Pio II: 239, 337, 424s; - e o monopó- poder político: Imperador e - dos Pro- população rural: - e Sisto V 316.
Perpinhão: 293.
lio do alúmen 19. testantes 141. Porfirogeneta: Constantino VII, dito o
Pérsia: 342; dioceses latinas na - 340. Podólia: tomada de - pelos Turcos 241.
Pétau S J : - e refutação de Antônio Pio I V : - e Carlos Borromeu 158ss; - - 358.
pogrome: - contra os judeus 34.
Arnauld 226. e decretos tridentinos 154; eleição de Pôrto-Real (Port-Royai): 394; - e as
Poissy: debate de religião em - 99.
Peterwardein (Petrovaridin): Batalha - 150; - e nepotismo político 151. doutrinas de Saint-Cyran 224; inter-
Poitiers (Tratado d e ) : - e direitos
de - 244. Pio V : - e a «Bula da Ceia do S e - dicção, supressão, demolição do M o s -
nhor» 162; contraste de - com Gregório dos Huguenotes 120.
Petrarca: 35. teiro de - 305; Saint-Cyran, diretor
XIII 162; dados biográficos de - 160; Poitou: internações militares de Pro-
Petri ( L o u r e n ç o ) : bispo de Upsália 73. espiritual de - 221.
testantes no - 204.
Petri ( O l a u ) : 73. - e equipes de trabalho para conver- Porto Rico: 10.
Pole (Cardeal Reginaldo): 129, 137,
Petrovitch ( A v v a k u m ) : liderança do são de hereges e incrédulos 256; es- Port-Royal-des-Champs: não-submissão
149; - e Concílio de Trento 141; C o n s -
arcipreste - 393. pírito de luta de - 240s; excomunhão
tituições de - para os Seminários In- do Mosteiro - 229.
e deposição de Isabel I da Inglaterra
Petrovitch (Partênio): sagração irregu- gleses 153; - Legado Pontifício 143; Portugal: 5, 10, 14, 257, 260; - e de-
por - 115, 162; - e Guerra dos Hu-
lar de - 387. morte de - 114. cisões tridentinas 159; declínio de -
guenotes 162; e Liga contra os T u r -
«Petrus Aurelius de hierarchla»: - de «Poliglota Complutense»: edição da - como nação católica 293; desagrega-
cos 240; - «Rei Tamanco 160; n o -
Saint-Cyran 221. 7 s ; reedições 8. ção do Império Colonial de - 260;
meação de cardeais dignos e compe-
Peutinger ( C o n r a d o ) : 37s. política: espanhola 6, 10; - filoprotes- emancipação de - e contrastes nacio-
tentes 161; preliminares para a edi-
Pez O S B (Irmãos): - e coleta de ma- nais nas Missões 266; Espanha e
ção da Vulgata 161; - e proposições tante da França 198; - financeira dos
emancipação de - 293; padroado de -
terial para a Literatura Beneditina e a de Baio (Du B a y ) 219; provimento Papas I8s; - de grecização (heleniza-
244, 253, 259s; soberania missionária
História da Áustria 282. da diocese de Frísinga 176; reforma ção) 337; - maometana e relação com de - 265.
Pflug ( J ú l i o ) : bispo de Naumburgo unitária dos livros litúrgicos 161; re- os «rajás» (cristãos) 320ss; - missio-
posse comum: - de muitas verdades Trento e - 145; - controversista 230;
da fé entre as Igrejas 234. desmandos da - franciscana 91. princípio nobiliárquico: - na cumula- proscrição imperial: - contra Lutero
«Posseiros»: - adeptos de José Volo- pregador(es): - barrocos e livre esco- ção institucional de dioceses, no pro- e direito medieval 106; - dos dois
kolamsk 362. lha de vocação 315; - e excitação de vimento das dioceses germânicas 312. príncipes da Saxônia Eletiva e de
Possessões Inglesas: proibição do cul- sentimentalidade 290; - de indulgên- problemas sociais: 314ss; - e absolu- Hássia 92.
to católico nas - 294. cias 49. tismo 314; agravamento dos - na In- Protetorado: - francês e russo a favor
«Possessos de Cristo»: - seita ortodo- glaterra 316; - e iniciativa particular dos cristãos no Oriente 321; - reli-
xa 362. preito e "menagem: - e absolutis- cristã 314; insensibilidade de grandes gioso da França 326ss.
mo 315. pregadores da época aos - 314; suges- Protestantes: Concílio de Trento e a s
Possevino S J (Antônio): embaixada em
Moscóvia 165; - e Constantino de O s - Premonstratenses ( C ó n e g o s ) : - 29. tões de João de Mariana S J para os exigências das Representações («Stãn-
trog 369ss; - e Ivã IV 368; - e União presença real: acentuação litúrgica da - 314; - na visão de Hobbes, Locke, e de», Estados) - 148; contribuições da
das Igrejas 367ss. - 289. do puritano Ricardo Baxter 316. Cúria Romana para a guerra contra os
pretexto religioso: para o regalismo procissões eucarísticas: participação ofi- - 107; defesa e consolidação dos -
Postos Missionários: nos Países-Baí-
absoluto 193. cial da Corte de Viena nas - 288. 187ss; Edito de São Germano, insufi-
xos 187.
Prierias O P (Silvestre Mazzolini): 54, Procissões de Sexta-Feira Santa: 290. ciente para os - 119; Estatutos dos
Potências Católicas: declínio das -
57. Procópio de Templin O F M C a p : prega- - na Hungria 236; execução de - sob
292ss; luta aberta entre as - 199.
Potências Colonialistas: - e governo da primado papal: acentuação incisiva do dor e poeta sacro barroco 291. Henrique VIII 86; frente única dos -
Igreja Missionária 260. - 220; - ainda teoria de escola 106; «Prodromus»: - de Bessel de Gõttweil 198; Imperador e poder político dos
Potências Extragermânicas: contactos - na Confissão de Augsburgo 78; - O S B para estudos históricos 282. - 141; origem do nome de - 76; - em
dos Esmalcáldicos com - 193. e Henrique VIII 82; - e Padres C o n - «Professio fidei Tridentina»: 159. Trento 147ss; propaganda dos - entre
Potências Ocidentais: relações das - ciliares Franceses 298. «Profissão de fé ortodoxa»: - de P e - Eslavos do Oriente 363.
- com a Sublime Porta 326. primado do social: Fénelon e o - s o - dro Moghila 333, 379; - e influências Protestantismo: causa da sistematiza-
Potências Protestantes: - e liderança bre a política 314. latinas 333; modificações sinodais na ção do - 187; contactos do - com a
política 294; pressão antilatina das - «Primeira clarinada contra o monstruo- ortodoxia 326; - e o «Cursus Salmanti-
nas Missões 344. so governo de mulheres»: - de J o ã o - 333. censis» 278; degeneração do - em
Knox 117. Prokopovitch (Teófanes): tendências França 204; incremento do - 101; de-
Poty (Adão I p a t y ) : 371; - metropolita luteranas de 396. cisões tridentinas e - Germânico 187;
Primeira Comunhão: - em forma sole-
378; - e União da Igreja 370ss. Proles ( A n d r é ) : 32. difusão pacífica d o - 87; progressos
ne, desde os últimos tempos do bar-
Poussin (Nicolau): - e Academia de promoção social e econômica: ligação do - Germânico 172ss.
roco 288.
Pintura de Roma 277.
da - com a apostasia da fé 322. protestantização: - das dioceses saxó-
Povo Germânico: inquietação religio- Primeira Guerra Mundial: 325.
Propaganda Fide (Congregação d a ) : - nicas 101.
sa d o - 34. Príncipes: falta de reforma religiosa
(Propaganda 264, 313, 340, 343; - e «Protesto»: o - na Dieta de Espira
Pozzo S J (André d e i ) : - e pintura da dos - no Tridentino 185; intervenção
abdicação de Atanásio III e reconheci- (1529) 76.
Igreja de S. Inácio em Roma 277. dos - em negócios eclesiásticos 361 ;
mento de Cirilo V 348; atribuições e protobarroco, protobarroquismo: 180.
Praça de S ã o Pedro: - em Roma 316. regime eclesiástico territorial e conver-
tarefas iniciais da - 257; - e atritos protocolo de encerramento (Reichstags-
P r a g a : 168, 183; Colégio dos Jesuítas são do - 200.
entre os Missionários 342; - e círculos abschied): - da Dieta de Augsburgo
em - 168; Levante Protestante em - Principes-Eleitores: - Católicos e acos-
melquitas 347; Colégios Romanos Mis- 76, 80.
195; Paz Separada de - (1635) 198. tamentos políticos com a França 293;
sionários e alçada da - 258; - e con- Proto-Igreja (Urkirche): - na teoria de
prática social: - sem haver ainda d o u - - Católicos da Alemanha e convocação
denação dos ritos chineses (1654) 266; Jorge Witzel 231.
trina formada 316s. do Concílio 141; Dieta de - 197; maio-
competência da - para assuntos orien- protopecado (Ursünde). 219.
«Prayerbook de 1552: reintrodução do ria protestante no colegiado dos - 177;
tais 383; distribuição geográfica das Provença: 23.
- 114. - e reforma nacional da Alemanha 24;
Províncias Missionárias da - 257; E u - Províncias Missionárias: distribuição
- Renanos no Concílio de Trento 147.
praxe curial: abusos e falhas da - ropa Central e Setentrional, primeiro geográfica das - da Propaganda 257ss.
Príncipes Germânicos: - e ajuda con-
138, 142. campo da - 258; fundação da - 256; «Provisorium»: - e Confissão de A u g -
tra os Turcos 239; - e aliança com
inauguração do Colégio Internacional sburgo 80.
prebenda: Junta Eclesiástica para do- o Imperador 235; - ausentes na Dieta
tação de - 175; política das - 30. da - 259; óbices de Portugal e da Pruntrut: 75.
de Augsburgo (1555) 111; auxílio dos
precapitalismo: desenvolvimento do - Espanha aos trabalhos da - 259s; o b - Prússia: 112, 294; Menonitas na - 90;
- aos Huguenotes 119; - e perigo jetivos da - 258; planos «orientais» da
20; representantes germânicos do - 19. passagem da - para a Reforma Pro-
turco 131; - Luteranos e Espínola 236; - 328; pronunciamento sobre os deba-
predestinação: Calvino sobre a - 9 2 ; testante 70.
e Gustavo Adolfo 198. tes ou diálogos de religião 233; tipo-
- calviniana e fatalismo maometano Prutsky (Misael): - e carta coletiva a
Príncipes reinantes: vantagens, para a grafia própria da - 259.
188; Lutero e o problema da - 48. Sisto IV 356.
Igreja, na conversão de - 269. propaganda protestante: - entre Esla-
Predicantes: expulsão de - na B o ê - pseudomorfose: - e restauração do
Príncipes seculares: - e convocação do vos do Oriente 363.
mia 196. mundo medieval 292.
Concílio 141; fermentação nos territó- «Proposições de Lutero»: exame ofi-
pregação: - barroca 288ss; Concílio de Przemysl: excomunhão do bispo de -
rios de - católicos 173. cial das - 105ss. 374.
Purgatório: na Confissão de Augsbur- Questão de Reuchlin: 57.
go 78. «Ratio et institutio studiorum»: - dos 23; desafio da - à Igreja concreta da
Questão dos Ritos: 265-268; - e cons- Jesuítas 170ss, 286. época 105; - e dissolução do Sagrado
Puritanos: 189ss; belicosidade dos - tituição de Bento XIV «Ex quo sin- Ratisbona (Regensburg): 137, 177; Die- Império 293ss; efeitos remotos da -
na Inglaterra 190; emigração de - pa- gulari» 268; declaração do Imperador
ta de - (1541) 128, 194. 194; - na Escócia 117ss; fatores e c o -
ra a Holanda, América do Norte 190; da China a respeito dos ritos em si
Ratzeburgo: diocese de - anexada a nômicos e sociais na - 16; fatores po-
- em Nova-lnglaterra 190; origem dos 268; disposições proibitivas de Tour-
non e ulteriores complicações 267s; Meclemburgo 172. líticos 104; mescla de interesses polí-
- na Inglaterra e transbordamento pa-
intervenção dos Jansenistas Franceses Ravensburgo: Companhia Mercantil de ticos e religiosos e - 194; - obra pes-
ra o exterior 190ss; perseguições an-
na - 266; do Cardeal Noaihes, arce- - 19. soal de Lutero 16, 44; poderio polí-
glicanas contra os - 190; - na Univer-
sidade de Cambridge 115. bispo de Paris 267; do Vigário Apos- Ravesteyn ( J o d o c o ) : - (apelidado T i - tico da - 107; propagação da - 16;
tólico de Fuquiém 266; Maillard de letano) e as proposições de Baio 219. retorno da piedade católica popular à
Tournon, Visitador e Legado Apostó- Ravena: 29. fase anterior à - 292; - na Suíça 62,
«Quaestio iuris, quaestio facti»: distin- «razão de Estado»: - e o barroco 298. 74s; tentativa de repressão militar da
lico para a - 267; novo decreto de
ção na controvérsia jansenista 227ss. 1656, alterando o decreto de 1645 266; realismo (regalismo) absoluto: - ger- - 107ss.
«Quarenta Horas»: Adoração das - 289. ponto vital da - 265; últimas fases da me de secularização 292ss; - e pretex- Reforma Teresiana: - e São João da
«Quarenta e dois Artigos»: teor dos - 268. to religioso 193. Cruz 209ss.
- de 1553 97, 115. recatolização: das massas populares Reformados (Calvinianos): 308; beli-
Quaresma O F M (Francisco): - e «Elu- Questões Religiosas: competência do 316; da Polônia e da Hungria 202. cosidade dos - Germânicos 188; con-
cidatio Terrae Sanctae» 339. «Corpus Catholicorum» e do «Corpus recém-nascido(s): batismo do(s) - 88. tacto do Patriarca Joasaf com os -
«Quatro Artigos Galicanos»: 304; aco- Evangelicorum» em - 200. recrutamento sacerdotal: - na Bavie- 329; Jorge Calisto e - 232; luta sem
modação final de Luís X I V quanto aos Queyrot S J : - e abertura de uma es- ra 175. móvel religioso contra os - 193; mé-
- 302; Alexandre VIII e os - 302; al- cola em Damasco 343. todo dos céticos usado contra os -
«recusantes»: - do juramento de supre-
voroço em Roma sobre os - 301; quietismo: - e Miguel de Molinos 302. 308; não-fusão dos - Neerlandeses com
macia 116; processo contra - na In-
aprovação dos - pelo Clero Francês Quieve ( K i e v ) : dioceses eslavas e - os Luteranos Germânicos 177; obra
glaterra 273.
301; - e atitude vacilante dos Jesuítas 351; Gregório II, metropolita de - 355; missionária e - 295.
rede escolar: - dos Jesuítas na B a -
na Corte 301; - e Inocêncio XII 302; insurreição dos Ortodoxos em - 357; Reformador ( e s ) : 288; - e autoridade
viera 175.
- sobre a jurisdição da Igreja 300; - metropolitado de - 355s, 366, 374ss; - de S. Agostinho 219; - e Copérni-
não formalmente condenados cm R o m a e rompimento com Roma 351; teolo- Reduções («Doctrinas»): - do G r ã o -
Chaco 12; falta de clero nativo nas co 283.
301; promulgação dos - e consequên- gia de - 351; tranqüilidade na Igre-
- 254; - «de Santo Inácio» 254; orga- «Reformatio ecclesiarum Hassiae»: 70.
cias imediatas 301; - rejeitados pela ja de - 382.
nização religiosa, social e temporal das refugiados franceses: - promotores do
Sorbona 301. quiliasmo (milenarismo): - dos Anaba- - 254; - do Paraguai 253s. calvinismo 95.
«Quatro Cantões» (Waldstãdte): Zuín- tistas 89. «Refutação»: - resposta do Imperador
Reforma: Papas da - 160ss.
glio e os - 80. Quios: perseverança das cristandades à Confissão de Augsburgo 79.
Reforma do Calendário: 284; - e Gre-
«Quattro Fontane»: - e os aquedutos em - 322. regalias (direito d a s ) : atitude dos J e -
gório XIII 163.
de Roma 275. Quioto: evangelização de - 247; Fran- suítas na - 300; Caulet e Pavillon, bis-
Reforma Católica (Contra-Reforma): -
Québeq: gleba de colonização, pião ciscanos em - 248. e Concílio de Trento 142; Núncios pos, contra as - 300; debates em tor-
para as Missões da diocese 261. «Quod non fecerunt barbari»: 276. Apostólicos e - 164s. no das - 304; demanda (questão) das
«Quem manda na região, manda tam- Reforma do Clero Romano: Comissão - em França 290.
bém na religião»: - (Cuius regio eius «Racionalidade do cristianismo, confor- Cardinalícia para - 161. regalismo (realismo) absoluto: - ger-
et religio) 112. me consta na Bíblia»: - de Locke 311. Reforma conciliarista: Imperador Fer- me de secularização 292ss; - e pretex-
Quesnel (Pascásio): bula «Unigenitus» Radoneso (Artêmio d e ) : 365. nando . e - 152. to de religioso 193.
contra - 306; evasão e fuga de - 305; Radziwill: e penetração calvinista 365. Reforma Helvética: - como fenômeno regalismo calvinista: 94s.
indiciação de - 305; Jesuítas contra Rafael de Urbino: 274. humanístico 62. regalismo: - eclesiástico e Lutero 69; -
- 306; precedentes de - em Roma 305; Rahozja ( M i g u e l ) : arquimandrita 366; Reforma Humanística: - e elementos na Europa Ocidental 193.
prisão de - 305; proibição do «Novo metropolita 371. regimento eclesiástico: - Knox na E s -
influentes na França 91.
Testamento» de - 305; «Réflexions mo- Rákóczy: Família - e penetração cal- reformas latinizantes: - entre os Ru- cócia 117; - germânico e sacerdócio
rales» de - e jansenismo 304. viniana na Transilvânia 386s. tenos 374. geral 58; - nacional na Inglaterra 81;
Questão dos ícones: 359. ralé: miséria do homem da - 314. Reforma monástica: - Bursfeld, KastI - protestante 61; - territorial e a con-
Rance (Armando João d e ) : discussão 30. versão do príncipe 200.
Questão das Indulgências: 274ss.
Reforma Nacional: malogro de uma - «Regiminis militantis Ecclcsiae»: bula
Questão das Regalias: - e Caulet, bis- de Mabillon com - 281.
po de Pamiers 300; Clero Francês no Sagrado Império 292. de aprovação da Companhia de J e -
Rascol, Rascolniques, Rascolnitas: 353; sus 135.
contra o Papa na - 299; Jesuítas e Reforma Protestante: 23, 37, 283; - na
núcleos de - 394 . Regimento do Império: - na Alema-
- 300; Pavillon, bispo de Alet, contra Rastatt: Tratado de Paz de - 293. Alemanha 274; aspectos positivos da
as - 300. - 103s; circunstâncias favoráveis à - nha 24; reivindicação estereotípica do
«Ratio fidei»: - de Zuínglio 79.
172; crise política e precedentes da - - 107.
sionário de - 249; possível exorbitân- de - 131; queda de - 131, 239, 281.
«regiões da ralé»: Zuínglio e as - 80. repressão militar: - da Reforma Pro-
cia de - 265. Rodolfo II: abdicação do imperador -
«Regnans in excelsis»: bula de Pio V testante 107ss.
Richelieu (Cardeal Armando J o ã o ) : 196, 195; - e liberdade religiosa 174, e a s
contra Isabel I da Inglaterra 162. «República Federativa»: - dos Protes-
295, 297; campanha de - contra a E s - tensões religiosas 178.
Regra Monástica de S ã o B e n t o : 133. tantes na França 203. Rodrigues S J : discípulo de S. Inácio
Rei: identificação do - com o Estado República da Inglaterra: 192. panha 293; - e coação do Papa 295;
de Loiola 135.
298; - de França e diadema impe- - e conversões «financiadas» 233; e
«Reservação Eclesiástica»: - (Reserva-
rial 110; - de França e invasão das debates com Huguenotes 234; e defe- Rohan (Henrique, Duque d e ) : - con-
tum Ecclesiasticum) na sucessão hie-
dioceses 111; - de França, «lugar-te- s a da Alsácia-Lorena 199; enigma psi- tra Milão 199; - na Revolta dos Hu-
nente (vicarius) da Nação» 110. rárquica 112, 173; S. Pedro Canísio
cológico de - 203; - e Missões Capu- guenotes 203.
«Rei de Inverno»: fuga do - para a e - 169.
chinhas em cidades levantinas 262; e Rojas y Espínola: - e reunificação das
Holanda 196. residência dos bispos: 138; debates tri- os «solitários» de Pôrto-Real 225; e Igrejas 235ss.
dentinos sobre - 152; teoria episcopa- São Vicente de Paulo 217; e repres-
«Reichsstânde» (Estados): - (Repre- lista sobre - 152. Roma: 34, 40s, 45, 54, 203, 304, 316,
sentações) 79. são dos Huguenotes 203; e «Père J o - 328, 340; arrogância dos Embaixado-
residência canónica: dever da - 7, 27s, seph» 328; pretensões de - aos títulos
«Reichstagsabschied»: - (Protocolo de res acreditados em Roma 296; - capi-
91; Concilio de Trento sobre - 145. de Patriarca da França, Patriarca do
encerramento) da Dieta de Augsburgo tal do mundo 276; Colégio Ánglico em
resistência ativa: - à Reforma Protes- Ocidente 234; subvenções de - para
80; de Espira 76. Roma 106, 164; criações barrocas em
tante na Baviera e na Áustria 174ss. as Missões da América Setentrional
«Reino de S i ã o » : - dos Anabatistas 89. - 275; Cristina de Suécia em - 271s;
«Resolutiones de virtute indulgentia- 262; - e unidade confessional da Fran-
relatividade: humanismo e - das for- critica contra - 37; delongas proces-
rum»: - de Lutero 54. ç a 183.
mulações teológicas 230. suais em - 26; - e diálogos de religião
Restauração Católica: - na área g e o - Richer (Edmundo): doutrinas galica-
Religião: conceito relativista de Eras- 233, e gráficas católicas 28: Moscovo,
gráfica de expressão germânica 167; nas de - 299.
mo de Roterdão sobre - 41 s ; territo- terceira - 359; Papas do Renascimen-
colégios e escolas, centros de - 170. R i g a : 74.
rialismo da - 112; paridade da - 112; to e os direitos e tributos de - 26; -
restauração dos Stuarts: - e situação ritos: promiscuidade de - no Oriente
- Reformada e Edito de Nantes 123. e o Patriarcado Melquita do Nilo 337;
inalterada dos católicos 193. 351; União das Igrejas e problema
Religiosas de Pôrto-Real: oposição s e - Poussin e a Academia de Pintura de
retórica: - e humanismo 36. dos - 369s.
creta das - à repressão do jansenis- - 277; - e os «Quatro Artigos G a l i -
Reuchlin (João Kapnion): 36, 56; a
mo 230. ritos chineses: 265; proibição dos - canos» 301; Saque de - (1527) 274;
Questão de - 57.
pela Propaganda e pelo Santo Ofício Roma e a «splendid isolation» da In-
religiosidade: da Igreja visível 40.
reunificação: tentativas de - 230-235. (1645) 266. glaterra 8 1 ; - e os uniatas 339; visita
religiosidade barroca: 288ss; - e novo
«reuniões»: - (anexações) territoriais rito bizantino: Igrejas de - entre os canónica das paróquias de - 159.
pensamento em França 307.
feitas por Luís X I V 244. Eslavos do Oriente 350ss; - e «Instruc- Roma barroca: 274ss, 313; - e novo
Religiosos ( a s ) : - egressos e luteranis- Reuniões Sinodais Mistas: Roma des- tio Clementina 374. espírito nas artes 274; - sede do me-
mo 69; resistência dos - a Henrique favorável a - (ditas hoje «ecumêni- ritos malabares: proibição definitiva dos cenato 277.
VIII 85. cas») 380. - por Bento X I V 268; Franciscanos e
relíquias: culto barroco de - 290. «Roma locuta»: 221.
Reutlingen: 70, 78. Capuchinhos na questão dos - 266.
remanescentes católicos: em territórios Romanov: ascensão da dinastia dos -
Reval: 74. rito oriental: enfraquecimento das dio-
protestantes 258. 350, 366, 390.
Revolução Bolchevista: - e introdução ceses de 352; - recepção dos Sacra-
Renânia: 106, 293. romaria: movimentos de - 34.
do Calendário Gregoriano na Rússia mentos no - 343; - e Bento X I V 386.
Renascimento: 298; - Católico na Bél- 163. Ritos (Pendência ou Questão d o s ) : Romênio: dominação turca ao Sul da
gica 185; - e Igreja de S. Pedro em Revolução Britânica: - (1648) 272s; - 265-268, 365. - 319.
Roma 274; papas do - 5, 139; - e e Luís X I V 301. Romenos: situação dos - Ortodoxos
Ritóvio, ou Rythovius (Balduíno Marti-
reforma da vida religiosa 33; remanes- Revolução dos Camponeses: 67. na Transsilvânia 386, 388.
n h o ) : - bispo de Ipres e os «Gueux»
centes do - em França 307; tradições Revolução Francesa: - e Bolandistas «romeus»: designação dos cristãos em
(Maltrapilhos) 185.
antieclesiais do - 137. 280; e São Sulpício 214. Istambul 318.
Ritual: edição do - Romano 161; -
Renata d'Este (Duquesa): - e Calvino «Revolução dos corpos celestes»: - de Rosário (terço): distintivo do católi-
de Eduardo VI 115.
(calvinismo) 92, 139. Copérnico 283. co, de fato, não por direito 290.
«Ritualistas (Velhos)»: 353, 395.
rendas cunáis: - e depressão econô- Roskilden: bispo de - 73.
Rheinfels: debate teológico de - 270. Roberto de A n j u : rei de Nápoles e os
mica 18. Rostock: 33, 235.
Rhodes S J (Alexandre): missionário Santos Lugares 338.
Rosweyde S J (Heriberto): Belarmino
Reno (Rio, Região d o ) : 27; bloqueio no Extremo Oriente 264. Roberto (São) Belarmino: - Universi-
S J e os pesquisas hagiográficas dc -
da Linha do - 77; comunidades calví- Ribalta (Palco) Jesuítica: 286ss. dade de Lovaina 171, 186.
279; - continuador de Súrio 279; pes-
nicas no - 173; França e conquistas Ricci S J ( M a t e u s ) : - e acomodação Rochefoucault (Francisco de l a ) : bis-
quisas de - sobre as legendas dos
no - 294. missionária 249; habilidades técnicas po de Clermont e Senlis 184.
e artesanais de - 249; integração pes- Santos 279.
renovação: - da Igreja e irmandades Rochester: 30.
soal de - na vida e cultura chinesa Roterdão: 270.
caritativas 129; - religiosa na Bélgica rococó: rabicho do - 292.
249; - mandarim 250; método mis- Rottmann (Bernardo): - anabatista 89.
e na França 183ss. R o d e s : Cavaleiros Joanitas e defesa
Rottweil (Melchior V o l m a r ) : simpati- sacerdote plebano: - Zuínglio (Leut-
zante do luteranismo 91. priester) 63. fundador das Visitandinas 213; «Intro- S ã o Germano: Tratado de Paz de
Rubens (Pedro P a u l o ) : caracterização dução à vida devota» de - 212; mé- - 119.
Sacerdotes Seculares Oblatos: Congre-
artística de - 270; - e a colônia de todo pastoral próprio de - 212; per- São Lourenço ( r i o ) : 261.
gação de - 159.
artistas em Roma 277; - congregado sonalidade de - 212s; - e tentativa de S ã o Luis ( C a n a d á ) : 262.
Sacerdotes Sulpicianos: 214.
mariano 172. união em França 233; e São Vicente S ã o Sulpício: 303; Condren e - 214;
Sacraméntanos (Calvinianos): confis-
de Paulo 217; e vitalismo barroco 212. - e Montreal 214; e Revolução Fran-
Ruinart O S B (Teodorico): - e a sele- são unitária de fé dos - e dos Calvi-
Salisburgo (Salzburg): 258, 281, 287, cesa 214.
ção crítica das «Atas dos Mártires» nistas 188; repressão dos - na Dieta
de Espira (1526) 76. 3 1 3 ; centro de música religiosa cató- Sapieha: Chanceler - 378.
282.
Sacramento(s): - e atuação individual lica 175; Sinodos Provinciais em - Saque de Roma: - (Sacco di Roma)
«Rump-Parliament»: - ( P a r l a m e n - 175; violência do Arcebispo de - con- 274.
t o T r u n c a d o ) e condenação de segundo Erasmo de Roterdão 39; C o n -
cílio de Trento sobre os - 144, 147; tra Protestantes 206s. Savonarola O P (Jerônimo): 8; - e M á -
Carlos 1 da Inglaterra 192. Salle (São João Batista de l a ) : fun- ximo, o G r e g o 363.
Rur (Ruhrgebiet): formação de comu- - na doutrina zuingliana 63s; recepção dador dos Irmãos das Escolas Cris- Savary de Breves: - e capitulação de
nidades luteranas no - 173. de - no rito oriental 344; - substituí- tãs 315. 1604 327.
Ruremonda: 186. dos (sub-rogados) pela Bíblia 39; v a - Saxe-Seitz (Cristiano Augusto d e ) :
lidade dos - administrados pelos gre- Salmeron S J ( A f o n s o ) : 135; - no Con-
Rurik (dinastia): 390; «Stepennaja cilio de Trento 143. convertido, cardeal 271.
kniga», história dos - 363. gos 357. Saxônia (Duque Jorge d e ) : 55; adver-
sacrário (tabernáculo): centralização Salzkammergut: Criptoprotestantes em
Rússia: 257, 294, 336; Gustavo Adolfo - 206. sário de Lutero 57.
contra a - 198; ocidentalização da - do - 288. Saxônia: 50, 78, 81, 195, 271; ade-
«Sacrosancti»: bula - (1515) 50. S a m a t r a : 294.
por Pedro, o Grande 396; Pio V e são da - a Gustavo Adolfo 198; con-
Sadoleto (Jacó, Cardeal): 94, 127, S a m u e l : - patriarca melquita do Nilo
ajuda da - Cismática 240; Revolução versões na - 200; nova dinastia cató-
129, 137. 337.
Bolchevista e a introdução do Calen- lica na - 270; Príncipe-EIeitor da -
dário Gregoriano na - 163; «Santa Sagrada Escritura: sub-rogação dos «Sanção Pragmática» de Burges (Bour-
e vilipêndio do Edito de Vórmia 107;
Rússia» 360, 391. Sacramentos pela - (Erasmo de R o - g e s ) : 24.
protestantização das dioceses da - 101.
Rússia Branca: 350, 365, 378. terdão) 39. «Sanguinária»: - apodo de Maria, a Saxônia Eleitoral (Eletiva): 52, 66, 72,
Rússia Pequena: 350s. Sagrado Império: Reforma Protestante Católica, na Inglaterra 114. 78, 106, 188; anexação de dioceses à -
Rússia Subcarpática: União na - 386ss. e dissolução do - 393ss. S a n Salvador: - fundado por Colom- 172; atitude inicial neutra da - na
Rutênia: 386; formação do Clero em «Sagrado Sínodo»: Pedro, o Grande, e bo 9. Guerra dos Trinta Anos 189; Igrejas
a organização do - 397. Sanson de Milão O F M : pregador de Nacionais ou Territoriais (Landeskir-
- 377. Sahazdatsiny (Piotr ou P e d r o ) : hét-
Rutenos: origem dos - 351; reformas indulgência na Suíça 63. chen) na - protesto da - 76.
mane - 378. S a n t a F é : fundação da cidade de - na Scanderbcg (Jorge Castriota): - e re-
latinizantes entre os - 373s.
Saint-Aignan O F M C a p ( J . B . ) : 344; - Espanha 5. sistência aos Turcos na Albânia 318.
Rutsky ( J o s é ) : 385, 387; - sucessor do
e «Théatre de la Turquie» 340. «Santa Liga»: fundação da - (católi- Schaffhausen: 74.
patriarca Poty 378.
Saint-André (Marechal): 99, 118. ca) 122.
Saint-Cyran (Jean Duvergier de Hau- Santa Maria: fundada por Colombo 9. Schall S J ( A d ã o ) : herdeiro da menta-
Sabóia: 294; - e as decisões triden- ranne): autor de «Petrus Aurelius de Santa Maria: - parte impetratória da lidade missionária de Mateus Ricci S J
tinas 159. hierarchia» 221; chefe dos «devotos» Ave-Maria 290. 250.
Sabóia (Duques d e ) : 95, 119; - e o 224; - diretor espiritual do Mosteiro «Santa Rússia»: 360; área territorial Schatzgeyer O F M ( G a s p a r ) : 32.
sólio episcopal de Genebra 92ss. de Pôrto-Real 221; Mosteiro Cisterci- da - 391. Scheffler ( J o ã o ) : conversão de - (pseu-
sacerdócio geral: - no regime eclesiás- ense de Pôrto-Real e as doutrinas de Santiago: 34. dônimo: Angelo Silésio) 269.
tico germânico 5 8 ; - na visão de J o ã o - 224; prisão de - 225. Santo Aldomaro (Saint-Omer): 312. Schertlin de Burtenbach: 108.
Tiago Olier 214. Saint-Gilles: 34. Santos Lugares: - e rei Roberto de Scheurl (Cristóvão): 52.
sacerdotes: casamento de - 110, 157, Saint-Germain-des-Prés: Biblioteca dos Nápoles 338. «Schirmgeld»: imposto de tutela 21.
165, 172, 175; falta de bons - 110: Maurinos em 280. «Santo Ofício»: - (Inquisição Roma- Schlettstadt: 93.
- «self-made-men» 28. Saint-Michel: 34. n a ) 132; - e proibição dos ritos chi- Schmid: - residente da Áustria 332.
sacerdotes «francos»: 342s; regressão Sakowitch (Cassiano) - e adaptações neses (1654) 266. Schnepf (Eraldo): Reformador em Vur-
da influência dos - 346; tática dos - litúrgicas 385. S a n t o s Padres: primeiras edições com- temberga 87.
e sentimentos antilatinos no Oriente Salamanca: 7, 134, 278; Universidade pletas dos - 279. Schnifis O F M C a p (Lourenço): prega-
343. de - 284. S ã o S a b á s : Laura de - 346. dor e compositor barroco 291.
sacerdotes latinos: contactos do P a - Santo Sepulcro: origem e evolução da Schnürer ( G u s t a v o ) : 133.
Sales (São Francisco d e ) : 184s; - e
triarcado de Istambul com - 326. Confraria do - (dos Hagiotafitas) Schoppe ( G a s p a r ) : conversão de 270.
clausura das Visitandinas 312; - escri-
sacerdotes necessitados: - e execução 338ss. Schreiner S J : - e descobrimento das
tor teresiano 212; - e exemplo pasto-
de biscates 26. S ã o Galo ( S u i ç a ) : 75; restauração da manchas solares 285.
ral de São Carlos Borromeu 212; -
Abadia de - 81. Schwaebisch Hall: 66.
«Schwärmer» (fanáticos): - conceito fessio fidei orthodoxae» de Moghila União de Bresta 375; obra literária
«Setenta» (Septuaginta): Sisto V e 334.
de Lutero 88. bom texto dos - 160. de - 371; trabalho missionário de -
«Schwarmgeister» (espíritos sectários): Severos (Gabriel): farpas antilatinas Sínodo (Primeiro) de Emden: - calvi- na Polônia 202; - e União da Igreja
nista 99. Eslava 267ss.
Lutero contra os - 90. nas obras de - 329.
Schwerin: 270; diocese de - anexada Sevilha: tentativa de comunidade pro- «Sínodo(s) Extraordinário(s): - orto- Sleidan, ou Philippi ( J o ã o ) : - de E s -
testante em - 208. doxos em Constantinopla 320. trasburgo, no Concílio de Trento 147.
a Meclemburgo 172.
Sexta-Feira Santa: procissões de - 290. Sínodo de Moscovo: 354, 361. Slutsky ( J o r g e ) : príncipe - 367.
S c h w y z : 74.
s'Hertogenbusch: 100, 185. Sínodo Nacional Luterano: - na Polô- Smotritsky (Melécio): - arcebispo de
Sé Apostólica ( S a n t a ) : 313; restrições nia 151.
ao pleno poder da - pelos Concílios Sibéria: Menonitas na - 90. Polotsk 379.
Sickingen (Francisco d e ) : 22, 57, 69. Sínodo de O r a n g e : 232. Smolensk: diocese de - 382.
301.
Siegen: 270. Sínodo de Torún: 373. Sremki Karlovci (Carlowitz): 325.
secularização: germes d a - 292ss; -
Sinodo de Z a m o s c : latinizações do - «só-a-fé» («sola fides»): doutrina de
do Mosteiro de Hirsau 87. Sielava (Antônio): metropolita 377. 386. - 55.
Segneri S J ( P a u l o ) : missões popula- Sievershausen: Batalha de - 111. Sínodo(s) Provincial(ais): - em Espa- soberania missionária: - dos Portugue-
res e estações quaresmais de - 296; - Sigismundo II: concessões de - aos L i - nha 7; - fogo de palha, em França ses 265.
e quietismo 302. tuanos contra os Uniatas 357, 365. 184; - nos Países-Baixos 186. soberania papal: - e desfaçatez da
«segredos de Estado»: titãs do barro- Sigismundo III: 371, 373; - Czar 390; Síria: 327, 337, 340s; afrancesamento
derrota de - na Suécia 189; - rei 367, França 294.
co e - 298. das Missões na - 345; dioceses lati-
378; - da Polônia e da Suécia 189; soberanos: isenção dos - em assuntos
«Segunda Confissão Helvética»: 188. nas na - 340; feição nacionalista da
situação mal definida de - para com temporais 300s.
«self-made-men»: sacerdotes - 28. diplomacia francesa na - 344; - e li-
Selim I: 337; expedições vitoriosas de a Igreja Uniata 375. gação com os Ocidentais 340; Patriar- Sobiewski (rei J o ã o ) : 241; - e União
«signum efficax»: Concílio Tridentino cas Melquitas da - simpatizantes da das Igrejas 383.
- 318; - e opressão dos cristãos 321. sobre - 145.
Seminário(s): decreto tridentino sobre união 345; Sublime Porta e politica «Sobre o abuso de Missas»: - de L u -
«silentium obsequíosum»: - e caso de eclesiástica na - 348. tero 60.
- 153; - ideal segundo Olier 213s;
- interdiocesano 214; Lazaristas e di- consciência 305. Sirigos (Melécio): tradutor do C a t e - sobrevivencias católicas: na Alta Igre-
reção de - 217. Silesia: 195; - c bloco católico dos cismo de Moghila 334. ja Anglicana 189s.
Habsburgos 202; - dos Habsburgos e Sirleto (Guilherme, Cardeal): - e re- Sociedade de Assistência: - aos índios
«Seminário das Missões Estrangeiras»:
liberdade religiosa 174. forma do Calendário 163. da América do Norte 294.
fundação de Francisco Pallu 264.
Silvestre de Chipre (Jeremias III): 348. Siros (ilha d e ) : 328. sociedade barroca: 311 ss.
Seminário Pontifício das Missões: 256.
simbiose: dos católicos com os Hu- sistema episcopal: partidários do - no «Societas Iesu» (Companhia de J e s u s ) :
seminarista(s): - e catequese paro-
guenotes em França 307. Concílio de Trento 152. «Formula Instituti» da - 135.
quial 215.
Simeão: - metropolita de Quieve 356. sistema extorsivo: abusos resultantes Socinianos: expulsão dos - da Polónia
Sena: 19; círculos erasmianos em - 138. do - na Igreja Ortodoxa 324.
Simeons S J ( J o s é ) : - e representações 202; «Pequena Igreja» dos - 365.
Séneca: 8. sistema heliocêntrico: de Copérnico 283.
de dramas jesuíticos em Roma 287. Sodalícios Sacerdotais: fundação dos
«Senhor Vicente»: - e Bossuet 217. sistema papal: partidários do - no
Simon (Ricardo): fundo cético de sua
senso pastoral: falta de - no Clero 29. - 28s.
«Histoire critique du Vieux Testament» Concílio de Trento 152.
sentimento barroco do mundo: - e B a - Solimão II: 338; expedições vitoriosas
308. sistematização: - d o protestantismo
ruque Espinoza 310. de - 319.
187.
seqüestro: Wyclif e - de bens eclesiás- Simon ( M e n ã o ) : fundador dos M e n o - «Solitários»: - de Pôrto-Real (Port-
ticos 81. nitas 89. Sisto I V : 6; - e Misael Prutsky 356. Royal) 225; - e Brás Pascal 228.
Serafim Tanas (Cirilo V I ) : 348. simonía: - e tributações indébitas na Sisto V : 122, 248, 257, 275, 279, 328; Somasca: Ordem de - fundada por
Sérgio ( S ã o ) : 361. Igreja Oriental 324. caracterização de - 165; - e controvér- São Jerônimo Emiliano 130.
Seripando (Jerônimo, Cardeal): 144; - «simul Iustus et peccator»: conceito sia sobre o concurso divino 167, 220; Somerset (Duque d e ) : - e reformas de
e Comissão Conciliar 152; - no C o n - protestante de - 48. - e criação c organização das Con- Calvino 96; - e Reforma Religiosa na
cílio de Trento 143; morte de - 153. Sinai: arquidiocese autônoma do - e gregações Romanas 166; - e excomu- Inglaterra 86.
nhão de Henrique de Navarra 122; -
«Sermão sobre as indulgências»: de relações entre Oriente e Ocidente 339; Sonnius (Francisco van der V e l d e ) :
e as Guerras Religiosas em França
Lutero 53. Mosteiro do - e assuntos de união Inquisidor-Mor nos Países-Baixos 100.
167; - e população rural 316; e pres-
sermões «conceptistas»: estilo barroco confessional 339. Sora (Nilo d e ) : 353, 359, 361; «Regra
tígio papal 276; e qualificação dos
italiano dos - («concetti») 291. síndicos civis: na administração ecle- e Doutrina» de - 360.
Cardeais 166; e remodelação técnica
«Servas dos Pobres»: fundação de S. siástica 21. Sorbona (Universidade d e ) : Brás P a s -
da Cúria Romana 166, 256; tino e
Vicente de Paulo 216. Sínodo(s): Concilio Tridentino sobre a cal contra a - 228; - e demissão de
gênio político de - 167; traços tipica-
Servet ( M i g u e l ) : Calvino e - 96. celebração periódica de - 154; - de Antônio Arnauid 227; galicanismo e p o -
mente medievais de - 292; - e União
Sérvia: conquista e perda da - 244; 1448 354. sição da - 299; - e rejeição dos « Q u a -
de Bresta 371; - e zelo de reforma 167.
Uniatas na - 388. tro Artigos Galicanos» 301; e o «Si-
Sínodo Anglicano: 85. Skarga S J ( P e d r o ) : - e «Defesa da
Servios Uniatas: 387. lentium obsequiosum» 305.
Sínodo de Constantinopla: - e « C o n -
Soto (Pedro d e ) : - e «Compendium reformados na França 123; - pecuniá- T a s s o (Torcato): congregado mariano não por direito 290.
doctrinae christianae» 333; - no C o n - rias e reação dos hierarcas ortodo- 172. Terêncio: 286.
cílio de Trento 143. x o s 343. Tausen ( J o ã o ) : 72. Teresa (Santa) de Avila: 22; - e Car-
Sozzini ( F a u s t o ) : - (sobrinho de Lélio sucessão: atentado a favor de uma - Tchernigov: 382. melitas Descalças 208ss; - e «Castelo
Sozzini) na Polônia 202. católica na Inglaterra 116. Tchoudov: Mosteiro de - 391. da alma», «Livro das Fundações» 209;
Spee S J (Frederico v o n ) : 287. Suécia: 21, 257, 380s; ameaça de Teatinos (Ordem d o s ) : 129, 139, 150. conaturalidade (afinidade) de S. Fran-
Spengler ( L á z a r o ) : 70. Contra-Reforma na - 189; conversão teatro: - jesuítico 286ss; - meio de cisco de Sales com - 212; dados bio-
«splendid isolation»: - entre a Ingla- de João III da - 165; derrota da - pregação 286. gráficos de - 208.
terra e Roma 81. em Nordlínga 198; Guerra entre o «Télémaque» (Telêmaco): - de Féne- Terletsky: bispo de Loutsk 371s.
Split (Espálato): 234, 319. Rei e o Regente na - 189; luteranis- lon, exautorado por Luís X I V 314. terminismo: 44.
«Stände» (Estados, Representações): mo na - 73; - e Paz da Vestefália Temesvar (Timisoara): 244. terminologias chinesas: - da divinda-
75ss, 77ss; - e ajuda contra os T u r - 199, 272; Regente Carlos e oposição tendência(s): - cismáticas em negocia- de 265.
cos na Áustria 173; - Católicos e ao catolicismo na - 189; rei João III ções unionistas 234; - religiosas no «Terra das Generalidades»: 126; - e
egoísmos dinásticos 293; Confissão de da - 189; rei Sigismundo III da - 189, Parlamento Inglês 114. Estados Gerais 199.
Augsbuigo e - na Suécia 189; - e di- 371; «Stände» (Estados) da - e C o n - teocracia: - calviniana 94. Terra N o v a : 294.
reitos reversais na Saxonia c em Vur- fissão de Augsburgo 189; - e supre- Teodoro de B e z a : - e Reforma Pro- terras reguengas ou realengas: C o n -
temberga 271; - Protestantes e a Paz macia protestante no Norte da Euro- testante na Suíça 96. tra-Reforma em - 196; - isentas do
de Vestefália 200. pa 189. Teodósio ( S ã o ) : 361. «Ano Normal» 200.
Stambul (Istambul): 319. Teófanes: patriarca de Jerusalém 338, Terra S a n t a : Franciscanos da - 338;
Suíça: 23, 33, 77s, 159; atividades
Stans (Cavaleiro Melchior Lussy d e ) : 378. Inácio de Loiola e plano da - 134;
dos Capuchinhos e Jesuítas na - 182s;
- e Contra-Reforma na Suíça 182; - ausencia da - no Concílio de Trento Teófanes Prokopowitch: reorganizador Santos Lugares e Custódia da - 338.
e Capuchinhos na Suíça 182. 143; Carlos (São) Borromeu e a C o n - do ortodoxismo, com tendência lute- territorialismo: - da religião 112.
Starhemberg (Conde Ernesto Rodrigo tra-Reforma na - 182ss; Contra-Refor- rana 396. Territórios Eclesiásticos: situação g e -
d e ) : - e defesa de Viena 242. ma na - não italiana 182s; Nunciatura Teófilo: bispo de Mukatchevo 389. ral dos - 179ss.
Staupitz O E S A , depois O S B ( J o ã o ) : Apostólica na - 182; profissão unitária teologia católica: influência indireta Territórios Germânicos: apostasia dos
33, 46; confessor de Lutero 45; - e ex- de fé das Igrejas Reformadas na - dos Reformados na - 219. - 87.
clusão dc Lutero da vida religiosa 59, 188; progresso da Reforma Protestan- teologia conciliatória: - e obstrução p o - terrorismo religioso: - nos Países-Bai-
Stenonis (Nicolau): conversão de - te na - 74ss; refugiados Huguenotes lítica 128. x o s 124.
(Niels Stensen) 235, 270. na - 205. teologia controversa: impulso da - 278; Tessália: 336.
«Stepennaja kniga»: história da dinas- Sulpicianos (Padres, Sacerdotes): 214. «Tests»: Lei dos - na Inglaterra 272.
- e Roberto (São) Belarmino 171.
tia dos Rurik 363. Sultão: - de Constantinopla 320; - do «Testemunhos da verdade»: - e «Cen-
teologia especulativa: Companhia de
«Stoglav» - «Livro dos Cem Capítulos» Egito e os Lugares Santos 338; - túrias de Magdeburgo» 278s.
Jesus e - 171.
363, 394. Otomano e o título de Califa 319. «Testes veritatis»: - de Matias Flácio
teologia histórica: - e humanismo no
Straengaess: 73. Sunda: Pequenas Ilhas de - 294. («Centúrias») 279.
século X V I 278.
«Strigolniki»: 360. superioridade latina: complexo de - 352. Tetzel O P ( J o ã o ) : 50, 53.
teologia huguenote (calviniana): 204.
S t u a r t ( s ) : 273; restauração dos - e «Supreme Governor»: Isabel I - em a s - Teutônia: conventos de observância
teologia luterana: retorno da - à orto-
situação inalterada dos católicos 192, suntos religiosos na Inglaterra 114. na - 32.
doxia 231.
272. Supremo Tribunal de F é : 139. t e x t o ( s ) : manejo filológico dos - 38.
Suarez S J (Francisco d e ) : - e direito teologia de Quieve ( K i e w ) : 351.
Surgant (João UIrico): 28. texto(s) litúrgico(s): - e João X X I I I ,
das gentes (direito internacional) 278; teologia sistemática: impulso da - 278.
Súrio OCarth (Lourenço): - e pesqui- Pio X , Urbano VIII 161.
- e Hugo Grócio 234. t e ó l o g o ( s ) : aspirações ecumênicas dos
sas sobre as legendas dos Santos 279. textos rituais: versão árabe de - orto-
Subiaco: 30. - 230. doxos por Eutímio II 345.
surto missionário: novo - 244ss.
Sublime Porta (Governo O t o m a n o ) : teólogos latinos: - sobre validade dos «Théatre de la Turquie»: - de Saint-
Susza (Tiago): bispo de Chelm
320, 328, 337, 344; ingerência da - Sacramentos dos Gregos 357. Aignan O F M C a p 340.
(Cholm) 383.
na eleição dos Patriarcas 323; injus- teólogo(s) luterano(s): - e Belarmino, «theologi minores»: - no Concilio de
tas exacções da - 324; - e negocia- e neo-escolástica 188. Trento 143.
ções diplomáticas 321; - e Países-Bai- Talavera (Fernando d e ) : arcebispo de teólogos reformados (calvinianos): con- «Theotimus»: - [Tratado do amor de
xos 332; - e política eclesiástica na Granada 7. tactos de Dimitrios Misos com - 329. Deus] de S. Francisco de Sales 212.
Síria 348; relações da - com as P o - «Também contra os bandos salteado- «Terceira Roma»: Moscovo, a - 359. Thora ( T ó r u n ) : 74, 232.
tências Ocidentais 326. res e assassinos dos outros campone- «Terceiro Estado»: oposição do - na Thurn (Conde d e ) : e o Levante P r o -
subsídios pontifícios: - na Guerra dos ses»: - de Lutero 68. França às decisões tridentinas 184. testante 195.
Trinta Anos 295. Tarasowitch: profissão de fé do bis- «terciato»: - (terceiro ano de prova- T i a g o (Jacó) de Varazze: Legenda dos
subvenção(ões): financeiras para con- po - 387. ção) de S. Pedro Canísio 168. Santos de - (a Voragine) 133.
versões na França 204; - oficiais aos Tártaros: expansão dos - 350, 352. terço: distintivo do católico, de fato, Ticiano Vecellio; 277.
Nova História III — 34
Tilly (Conde J o ã o ) : 308; - e ação Trajano: imperador 276. Tribunal Matrimonial: - zuingliano 64s. Ucrânia: 333, 386; - (Ucraniano) c o -
militar para recuperação dos bens ecle- transações bancárias: e administração Tribunal Superior do Império: repre- mo designação genérica 351; - e Im-
siásticos 198; - chefe militar da «Li- eclesiástica 19. sentação religiosa paritária no - 113. pério de Moscovia 358.
ga» 196; - congregado mariano 172. Transilvânia: 244, 257; deslocação com- Tribunais Pontifícios: reestruturação Ulma ( U l m ) : 20; Eberlino de - 69;
Timisoara (Temesvar): 244. pulsória de Protestantes para a - 207; dos - 159. Pacto Secreto dos Protestantes em -
Tintoretto ( J a c o p o ) : 277. dominação turca na - 319; fidelidade tributação eclesiástica: 21; extorsões na 76s.
tipografias gregas: Veneza, centro de dos Luteranos na - 101; - e o Levan- - 18. Ulrico Surgant: 28.
- 326. te Protestante 195; Protestantes da tributações indébitas: - e simonia, na UIrico de Vurtemberga ( D u q u e ) : re-
Tipografia Vaticana: fundada por Sis- Hungria e a - 204; - e a União 386ss. Igreja Ortodoxa 324. condução de - 86.
to V 166. T r a p a : 281. tributos de grãos (cereais): - em ale- «Umgeld»: - (tributo de grãos, cereais)
tiranicídio: problema do - 122. Trapistas ( M o n g e s ) : Lazaristas e o mão «Umgeld» 21. ¿i.
Tirol: 108; criptoprotestantes no - Ori- Trinidad (Trindade): 9. Unção Crismai: validade da - dos gre-
Fundador dos - 217.
ental 206; preservação do catolicismo «Trinta e Nove Artigos»: conteúdo gos 357.
Tratado de Baerwalde: entre a França
no - 173. dos - 115; - uma redução dos 42 «União»: partido reacionário calvinia-
e a Suécia 198.
titãs do barroco: - e os «arcana im- Artigos Anglicanos 115. no 194.
pedi» («segredos de Estado») 298. «Tratado de diplomática»: - («De re Tripolitânia: 240.
diplomática») de Mabillon 281. União de Bresta (Brest): 364, 386, 390.
Toggenburgo: 62. Trípolis: 349.
Tratado de P a z de Carlowitz: 244, 319. União de Bresta-Litowsk: 356.
Toledo: 139. T ú b i n g a : 56, 329; protestantização da
Tratado de Paz de Lubeque: 196. união dinástica: entre Polônia e M o s -
tolerância confessional (religiosa): ecu- encenação de - em Munique 286.
Tratado de Paz de Nimega: protesto covia 381.
menismo e tendência para - 230; Fran- troca de religião (conversão): motiva-
de Inocêncio X I contra o - 200. ções desencontradas na - 269. União de Florença: 326, 353, 366; -
ciscanos e espírito de - 338s; - das
Tratado de Paz de Passa via: 197; pro- truchsess Waldburg (Oto, Cardeal): sempre em vigor 371.
minorias 112; - maometana 320; - nos
testo do Imperador contra o - 111. 109, 164; atuação de - na Dieta de União das Igrejas: processo de «hibri-
Países-Baíxos 126; primeiros partidá-
Tratado de Paz dos Pirinéus: 293. Augsburgo 111; - e São Pedro C a - dação» na - 385.
rios da - 88.
Tratado de Paz de São Germano: 119. nísio 168. União da Rússia: - Subcarpática e da
Tolosa: carnificina em - 120.
Tratado de Paz de Rastatt: 293. Transilvânia 386.
Tomás (Santo) de Aquino: 186; - e «Trutznachtigall»: - (Rouxinol do des-
Tratado de Paz de Utreque: 294. «União de Utreque»: calvinismo e -
física aristotélica 283; tradução das cante) 287.
Tratado de P a z Religiosa de Augsbur- 124.
obras de - para o chinês 250. T ú b i n g a : 56, ; protestantização da
g o : 14ss, 119, 123, 151, 197; - na apre- Uniatas: - [Orientais unidos a Roma]
Tomás (Santo) Becket: 85. Universidade de - 87.
ciação dos contemporâneos 112; - c o - e bons ofícios do Patriarca Ecumêni-
Tomás (Santo) More: decapitação de Tunísia: 240.
mo trégua 172; - concluído ã revelia co 320; Costumeiro e Ritual dos -
- 85; - e processo matrimonial de Hen- T u r c o s : 107, 319, 328, 335, 336; aju-
do Imperador 112. 384s; direitos mal definidos dos - 341;
rique VIII 83. da contra os - 77; armistício com os
Tratado de Paz Religiosa de Veste- divergências entre antigos e novos -
tomismo: - e molinismo 220. - 101; ataque dos às possessões ve-
falia: 124, 199ss. 384; perseguição de Pedro, o Grande,
Tonquim: 264. nezianas 244; conquista de Belgrado
Tratado de Poitiers: - e direitos dos contra - 396; - e Roma 339; e Muka-
Tordesilhas: Tratado de - 10. pelos - 131; de Chipre 319; de Rodes
Huguenotes 120. tchevo 287.
Torrêncio: bispo de s'Hertogenbusch e 131, 239; Estíria ameaçada pelos - 81;
os «Gueux» 185. Trebizonda: Império Grego de - 31S. hostilidade dos - contra o Papa 326; unidade: Concílio de Trento e restau-
Torsyn: 372; Documentos de - sobre Trento (Concílio d e ) : 8, 142-148 356; invasão da Hungria pelos - 111, 242; ração da - 142; - confessional no E s -
a União de Bresta 371. - e «Confessio Wirtembergica» 187; da Podólia 241; libertação de Viena tado monolítico da França 183; g ê -
Tortosa: Adriano de Utreque [Papa convocação do - para Trento 141; de- contra os - 242s; papel importante dos nese da - religiosa na Espanha 6.
Adriano V I ] , bispo de - 130. cretos dogmáticos e reformatórios do «Unigenitus»: bula - contra Quesnel
- na diplomacia 325; - e Paz de Car-
T o r ú n : Sínodo de - 373. - 153ss; falta de reforma religiosa dos e o jansenismo 306.
lowitz 244; planos dos - contra o Nor-
T o s c a n a : 295. Príncipes no - 185; fixações dogmáti- Universidades: 18; cerceamento da au-
te da Europa 241.
T o u l : 110, 199. cas do - 4 3 ; importância do - 154ss; toridade das - 219; condições de fre-
Turenne (Marechal): - congregado ma-
Tournon (Maillard d e ) : 267. início (abertura) do - 142; método qüência de - para o Clero 2 7 ; emula-
riano 172; retorno do - ao catolicis-
trabalho ( s ) : - forçados para os índios teológico do - 143; Padres Concilia- ção entre - 52; retirada de alunos das
mo 204.
12; menosprezo do - manual 314; P a - res Franceses contra a definição do - Luteranas 196; - terceira potência
Turíngia: 68.
pas e possibilidades de - para o p o - primado papal no - 298; - reconvoca- mundial na Idade Média 219.
T v e r : 355.
vo 316. ção do - 151. Universidade de Basiléia: 62.
«typos»: Igreja Primitiva - de todas
Tréveros ( T r i e r ) : 22, 34, 312; repre- Universidade de Bolonha: 37.
tradição: - medieval e barroco 297s; as outras 231.
- e novos métodos das ciências natu- sentação de - no Concílio de Tren- Universidade de Dílinga: 179.
T y r n a u : Colégio dos Jesuítas em -
rais 282s; - disciplinar 143. to 143. Universidade(s) da Espanha: 7; - e a s
168; Universidade de - 202.
«Traité de l'amour de Dieu»: de São Tribunal de F é : - (Inquisição) na E s - proposições de Baio (Du B a y ) 219.
Francisco de Sales 212. panha 6. Uchansky: primaz latino 365. Universidade de G r a z : 178, 284.
Universidade Gregoriana: 164. Valignano S J (Alexandre): atividades de 312; - e Bérulle 216; e «Conferên- «Villa Stuart»: em Roma 273.
Universidade de Leida: 124. como Visitador das Missões Orientais cias de Têrça-Feira» 217; e Conselho V a i a c h : 111.
Universidade de L i m a : 12. 247ss. Real de Assuntos Eclesiásticos 217; e Vilna ( W i l n o ) : diocese de - 375.
Universidade de Lípsia (Leipzig): 87. Valia (Lourenço d i ) : 8, 40. formação sacerdotal 216; e Francisco Virceburgo: Clero de alto padrão em
Universidade de Lovaina: - e interpre- Valois (Margarida d e ) : casamento de ( S ã o ) de Sales 212, 217; - fundador - 180; Universidade de - 180; reno-
tação de S. Agostinho 219; e Teses - com Henrique de Borbom 120. da Congregação da Missão (Lazaris- vação da diocese de - 180.
de Lutero 106. Valtelino (Veltlin): arbitragem ponti- t a s ) , das Servas dos Pobres, e das Virgínia: Huguenotes em - 205.
Universidade de P á d u a : 37, 325. fícia, e reação contrária da França 295. D a m a s de Caridade 216; das Filhas da «viri boni»: - nome usurpado pelos
Universidade de Paris: 38; - e proble- van Dyck (Antônio): 277; - e coló- Caridade 218; - e Mesa de Consci- novos crentes 76.
ma de juros 19. nia de artistas em Roma 277. ência 217; e nomeação de bispos 217; «virtú»: Erasmo de Roterdão sobre a
Universidade de Túbinga: 87. vantagens políticas: - da Contra-Re- e Olier 217; qualidades e atividades - dos humanistas italianos 40.
Universidade de Tyrnau-Budapeste: forma 196. de - 216ss. visita canónica: - do Clero Regular
202. Vármia (Ermland): 283, 367. vida comum: descaso da - 31. por Wolsey na Inglaterra 82.
Universidade de V i e n a : 62. Varsóvia: Nunciatura em - 165. vida conventual: novo conceito de - Visitação de Nossa Senhora: Congre-
Universidade de Virceburgo: 180. Vaticano II (Concílio): 132. 218. gação da - (Irmãs Visitandinas) 213,
Unterwalden: 35. 74. Veimar (Bernardo d e ) : - e defesa da «Vida de Cristo»: de Ludolfo de S a - 303; - e clausura rigorosa 312; - fun-
Upsália (Upsala): Lourenço Petri, bis- Alsácia 199. xônia 8, 133. dação de S. Francisco de Sales e S.
po de - 73. Velasquez ( D i o g o ) : - e colônia de ar- vida cultural e eclesiástica: remodela- Joana Francisca de Chantal 212s.
Urbano V I I I : 211, 222, 259, 261, 276, tistas em Roma 277. ção da - pelo tipo grego na Igreja
Ortodoxa (grecização) 325. «visitatio ad limina»: inculcação da -
284, 296, 313, 332, 339, 343; - e con- «Velhos Crentes» («Velhos Ritualis-
vida místico-religiosa: crises da - na 167.
denação do «Augustinus» 222; impo- t a s » ) : 353, 394.
França 302ss. Vissário ( S ã o ) : 336.
tência militar e política de - 295; - venalidade: - da conversão religiosa
vida monástica ortodoxa: 335ss. vitalidade: - da Igreja 239ss; - triun-
malquisto pelo povo 316; sentimentos em França 204; Pio V contra a - 161.
vida pública: descatolização (descris- falista do catolicismo barroco 269.
inamistosos de - para com os Habsbur- Veneza: 77, 135, 160, 183, 243, 295,
tianização) da - 61. vitalismo: - barroco e S. Francisco de
gos 197; - e textos litúrgicos 161; - 319, 328; arrogância do Embaixador
vida religiosa: controvérsia sobre a - Sales 212; - novo da Igreja 275; -
e a tomada de La Rochelle (Richelieu) de - em Roma 296; - centro de ti-
entre os Eslavos 358ss; deslocamento religioso e Rubens 277.
203; - e transição para outro rito 375. pografias e livrarias gregas 326; Pacto
de gravitação na - 34; esforços de re- Vitemberga: 34, 45s, 47, 51, 54, 56,
Uri ( S u í ç a ) : 74. Militar de - com o Imperador 244.
forma na - 32; outras formas comuni- 59, 61, 66, 69, 73, 139; contacto do
Ursulinas (Irmãs): - no Canadá 261; Verbiest S J (Fernando): continuador
tárias para a - da mulher 312s. Patriarca Joasaf com - 329; Universi-
e clausura papal 313; fundadas por de Adão Schall S J na China 250.
Vidoni: Núncio Apostólico 382. dade de - e bula contra Lutero 106.
Santa Angela Merici 130. verdade(s): teoria da - dupla 37; pos-
«vie devote» (vida devota): conceito Victoria O P (Francisco d e ) : - e direi-
Utreque: 33, 260; Adriano, bispo de se comum das - da fé 233.
de S. Francisco de Sales 212. to das gentes (direito internacional)
- (depois papa Adriano V I ) 130; Con- Verden: diocese de - em mãos de bis-
V i e n a : 62, 147, 183, 195, 202, 257, 278; e Hugo Grócio 234.
selhos Vicariais de - 307; diocese de po protestante 173; - na Paz de V e s -
281, 312, 313; - centro de música Vitória Colonna: - e círculo de João
- 27; Tratado de Paz de - 294. tefália 199.
eclesiástica católica 175; Concordata Valdes 138.
Uzjgorod (Eslovénia): União de - 387. Verdun: 110, 199. Vitorinos: 133.
de - (1448) 2 5 ; expulsão dos predi-
Vadstena: Mosteiro de - fundação de Vermigli ( P e d r o ) : 96; apostasia de cantes e dos mestres de escola pro-
V i v e s : bispo-capelão residente da In-
Santa Brigida 189. - 139. testantes 196; fatores determinantes da
fanta Isabel e Congregação da Pro-
Vaesteraes: Dieta de - 73. Verona: 138, 140, 157. Vitória de - contra os Turcos 243;
paganda 257.
Valáquia: 325, 341; dominação turca Versalhes: Capela Real do Castelo de situação catastrófica da religião em
na - 319. - 168. Vives ( J o ã o ) : autor de «De institu-
- 297.
tione feminae» 312.
Valdenses: remanescentes dos - e o Verúlamo (Bacon d e ) : empirismo ain- Vigário (s) Apostólico ( s ) : atritos dos
Vladimira: reino de - 381.
Edito de Nantes 205. da crente de - 310. - com os Jesuítas nos Países-Baixos
Vladimiro I de Quieve ( K i e w ) : 358.
Valdes (Alonso): 41. Veser ( r i o ) : 103. 306; com as Ordens Missionantes 262;
vocação: livre escolha de - 315.
Valdes ( J o ã o ) : 41, 139; Círculo Eras- Vestefália (Westfalen): 89, 180, 277; instituição dos - 260; nos Países-Bai-
miano de - 138; correspondência de xos 306; - e monopólio missionário voivodas: gregos como - 325.
formação de comunidades luteranas na
Carnesechi com - 161. dos Jesuítas 265; - e Questão dos R i - V o l g a : agremiações sectárias no - 90.
- 173; Tratado de Paz Religiosa da
Valeriano Magni O F M C a p : 270; - e tos na China 266s; - e relações mal Volinia: 371.
- 124, 382.
restauração católica na Boêmia 232. veto: eleição papal e - 296. definidas com os Missionários 187; sim- Volokolamsk ( J o s é ) : 359, 361, 393,
Valhadolid: 41; Colégio Anglico em - Via Salaria: 279. patia dos - aos Jansenistas nos Países- 395; controvérsia de - 353.
116; Congregação Reformada de - 7; Vicência: 141. Baixos 306. Volokolamsk (Mosteiro): 261.
Cortes de - 9; tentativa de comuni- Voluntariado missionário: - e sorte das
Vicente (São) de Paulo: - e aprova- «Vigários» paroquiais: colocação abusi-
dade protestante em - 208. Missões 256.
ção pontifícia das Irmãs de Carida- va de - 27.
« V o m Erkiesen und Freiheit der Spei- Walenburch (Irmãos): - e «Conversio- Xavier (São Francisco): 135, 249, 252s; Zugerberg: derrota dos Zuinglianos em
sen»: sermão de Zuínglio sobre - 64. nis motiva» 270. apreciação global da obra missionária - 81.
«Vom Missbrauch der Messen»: de L u - Wallenstein (Duque Alberto d e ) : 196; de - 247; - nas Índias e no Japão Zuingliano(s): 77; confissão unitária
tero 60. assassínio de - 198. 246ss; mentalidade de - situada entre dos - e Calvinianos 180; derrota dos
Vondel (Justo, ou Jodoco van d e n ) : ati- Warham (Guilherme): arcebispo de a Idade Média e a Idade Moderna 246; - em Zugerberg 8 1 ; evolução con-
vidades literárias do convertido - 269. Cantuária e - Reforma Anglicana 40, personalidade e atividades de - 244ss. fessional dos - 79ss; exclusão dos -
84. xenofobia: - de Moscovo 352s. na Paz Religiosa dc Augsburgo 112;
«Von der Freiheit eines Christenmen-
Ximénez de Cisneros O F M (Cardeal repressão dos - na Dieta de Espira
schen»: 58. Wartburg (Castelo d e ) : Lutero em - 60.
Francisco): 7-9; mecenas do humanis- (1526) 75.
«Von weltlicher Obrigkeit wie weit Wartensee (Jacó Cristóvão Blarer d c ) :
man ihr Gehorsam schuldig sei»: 65. bispo de Basiléia 182. mo cristão 8; messianismo político de Zuínglio (Ulrico): 62ss, 67, 74s, 80, 92,
«Von dem Papsttum zu R o m » : de L u - Weimar, ou Veimar (Duque Bernardo - 8; e missionamento das Américas 13. 94, 308; combatividade de - 74; - e
a «Confessio Hafnicnsis» 72; - e Eras-
tero 57. d e ) : chefe militar dos Suecos 198.
Zadar ( Z a r a ) : 319. mo de Roterdão 63; - e Lutero em
vontade cativa: conceito de Lutero 53. Weingarten: «Cavalgada do S S m o .
Zagarsk: 363. Marburgo 77; morte de - 81; obras
Vorazlberga: 151. Sangue» em - 290. de - na França 91 s ; - pároco de C l a -
Zamojsky: Chanceler da Grã-Polônia
Vórmia ( W o r m s ) : - (Vormácia) 69, Weisser B e r g : Batalha e Vitória de rus 62; - e pecado original 144; pres-
367, 372.
76; diálogos sobre religião em - 127s, - (Monte Branco) 195s. são das autoridades sobre - 88; «Ra-
Z a m c s c : Sínodo de - 384.
137; Dieta de - 5 9 ; e citação de L u - «Werkheiligkeit» (justiça de o b r a s ) : - tio fidei» de - 79; - reformador au-
Zanzibar: 14.
tero 106; Edito de - 59, 70, 80, 99, c Zuinglio 63. tônomo, de linha própria 63; rompi-
Zapoljski ( J o ã o ) : 368.
106, 131s. «Wider die Bulle des Antichrists»: de mento exterior de - com a Igreja 63;
Zelândia: calvinismo na província de
v o t o ( s ) : Cardeais e direito de - 5. Lutero 58. - 124. - sacerdote plebano («Leutpriester»)
V u l g a t a : 40, 60; - declarada autêntica «Wider das Papsttum zun Rom vom Zaporozje: - região «longe das corre- em Einsiedeln 63; - sobre os Sacra-
143s; Pio V e preliminares para a edi- Teufel gestiftet»: dc Lutero 141. deiras» 377. mentos 64; tonalidade moralizante do
ção da - 161. Wied (Germano d e ) : 128; planos pro- «Zelus domus Dei»: - breve de Ino- sistema religioso de - 63.
Vulgata Clementina: - correção da testantizantes do bispo - em Colónia cêncio X contra a Paz de Vestefá-. Zumárraga, J u a n : primeiro bispo do
Vulgata Sistina 167. 103; renúncia forçada de - 109. lia 200. México 11.
Vulgata Sistina: histórico da - 166; W i e s : Igreja de - 278. Z e n t a : 244. Zurique: 21, 32, 62, 64, 65, 75, 79s,
repulsa geral da - 166ss. Wilno ( V i l n a ) : diocese de - 375. Ziegenholz (Bartolomeu): organizador 88s, 94, 139. 188; «Acordo» de -
Vurtemberga: 56, 67, 103, 110, 271; Wilsnack: «Hóstias Sangrentas» de da Missão Luterana nas índias 295. . («Consensus Tigurinus») 94; origem
agremiações sectárias em - 90; capitu- - 34. Zoé (Sofia) Paleóloga: casamento de autônoma dos Anabatistas em - 88.
lação de - 108; Confissão de - 99; Wimpfeling ( J a c ó ) : 26, 33, 37; redator - com Ivã III 356. Zwickau: 61; Anabatistas em - 65.
conversões em - 200; Reforma Protes- dos «Gravamina Nationis Germanicae» Z u g : 74. ZwoIIe: 33.
tante em - 87; - e a «União» 194; - 26.
e Valdenses franceses 205; zonas de in- Wimpina, ou Koch ( C o n r a d o ) : 53. índice organizado pelo tradutor
fluência zuingliana e luterana em - 87. Windesheim: Convento de - 33. e executado por Frei Frederico Vier, O.FM.
Vurtemberga (Príncipe Carlos Alexan- «Winkelmesse» (Missa escusa): 78.
dre d e ) : conversão de - 271. Wisconsin: 261.
Wishart ( J o r g e ) : - calvinismo na E s -
Waldburg (Jorge Truchsess d e ) : 68, cócia 117.
164. Wittelsbach: cumulação de dioceses e
Waldburg (Gebardo Truchsess d e ) : ar- os - 176; - dinastia católica de con-
cebispo - bandeado para o protestan- fiança 176, 178; politica das preben-
tismo 177; - e tentativa de seculari- das dos - 177.
zar a arquidiocese de Colónia 177. Witzel ( J o r g e ) : atividades e qualida-
Waldburg (Cardeal Oto Truchsess d e ) : des dc - 231; - e pan-cristíanismo 231.
- e a Contra-Reforma na diocese de Wörnitz (rio): 194.
Augsburgo e na Colegiada dc Ellwan- Wolsey (Cardeal T o m á s ) : Lorde-Chan-
gen 179; - e a criação da «Congrega- celer de Henrique VII! 30, 82s.
ção Germânica» em Roma 164; - Pro- «Württembergisches Bekenntnis»:
tetor da Nação Alemã em Roma 179. (Confissão de Vurtemberga) e C o n -
Waldeck (Francisco d e ) : bispo - e os cilio de Trento 148.
Anabatistas 89; intento de - protestan- Wyclif, ou Wiclef ( J o ã o ) : - e Lutero
tizar suas dioceses 103. 55; - e seqüestro de bens eclesiásti-
Waldshut: 88. cos 81.
ÍNDICE DOS MAPAS ÍNDICE GERAL
Alemanha antes da Reforma 17
Países nórdicos ao tempo da reforma 71 I . Espanha e seu rumo para a Igreja Universal 5
As confissões pelo ano de 1546 102 1. União entre Igreja e Estado 6 3. Novo campo missionário . . . . 9
A França no tempo das Guerras de Religião (1585-1598) 121 2. Ximenes e humanismo cristão 7 4. Bartolomeu de Las Casas . . 12
Divisões eclesiásticas dos Países Baixos do Norte em 1559 125
2. ¿1 crise nas vésperas da Reforma Protestante 16
Itália no século X V 155
Renovação do catolicismo pelo ano de 1623 181 1. Novo sistema econômico .... 16 4. Clero e episcopado 26
2. Cidade e interior 20 5. Mosteiros 30
Divisões eclesiásticas das Ilhas Britânicas pela morte de Henrique VIII, 6. Piedade leiga 34
3. Crise política 23
em 1547 191
A s confissões na Europa pelo ano de 1648 201 3. A Reforma Protestante como obra pessoal de Lutero, e como
A s Missões no mundo em 1580 245 destino da Europa 4 4

Missões na Ásia no século X V I I 251 9. Igrejas Nacionais ("Landes-


1. Martinho Lutero: Juventude e
América do Sul até 1700 255 evolução 44 kirchen") na Alemanha e na
2. "Episódio da torre" e pontos Escandinávia 69
Estabelecimento da Hierarquia eclesiástica na América do Norte dos séculos 10. Continuação na Suíça 74
de vista fundamentais 46
XVI e XVII 263 I 3. A questão das Indulgências . . 49 11. Agrupamentos políticos . . . .
12. "Confessio Augustana" . . . .
75
77
Religiões da Europa Oriental e Meridional pelo ano de 1580 347 4. A Disputação de Lípsia e a
13. Rota da Inglaterra 81
excomunhão 55
14. Outros bons êxitos dos L u -
5. A tradução da Bíblia 59 teranos no Império 86
6. O problema do regimento ecle- 15. O s Anabatistas 88
siástico 61 16. João Calvino 90
7. Ulrico Zuínglio 62 17. Força de aliciamento do cal-
8. Guerra dos Camponeses . . 65 vinismo 96

4 . Resposta e revide. As novas forças e o Concílio de Trento 105

1. Resposta do Direito formal 105 18. Incremento no Império . . . . 101


2. Tentativa de repressão mili- 10. Superação mediante renova-
tar 107 ção religiosa 129
3. Tratado de P a z Religiosa de 11. Papa Adriano V I 130
Augsburgo 111 12. Inácio e os primeiros Jesuítas 132
4. Reação na Inglaterra 113 13. Renovação da Cúria Romana 137
5. Igreja Nacional Anglicana . . 114 14. Luta em torno do Concílio . . 139
6. Escócia 117 15. Concílio de Trento 142
7. Noite de S ã o Bartolomeu e 16. Protestantes em Trento 147
Guerras dos Huguenotes . . . 119 17. Papa Paulo IV 148
8. Países-Baixos 124 18. Reabertura, crise, encerramen-
9. Congraçamento dos espíritos? to do Concilio 150
Debates teológicos 126 19. Importância do Tridentino . . 154
5. No espírito do Tridentino: Refo ia interna da Igreja e ativo 6. Segunda fase do confuto com 8. Deísmo inglês 3 1 0

158 o jansenismo 304 9. Sociedade barroca


contra-ataque (Contra-Reforma)
3 1 1

7. Novo pensar. Renato Descar- 10. Problemas sociais e caridade 314


1. Papa Pio IV e Carlos Bor- 7. Resistência ativa: Baviera e tes 307
romeu 158 Áustria 174
2. Papas Reformadores: Pio V 160 8. Territórios eclesiásticos . . . . 179 9. As Igrejas Calcedonias no Império Otomano, por C. A. Bouman 318
3. Papa Gregório XIII 162 9. Suíça 182
10. França e Bélgica 183 1. Queda de Constantinopla, e 12. Mosteiros e vida monástica 335
4. Papa Sisto V 165
5. Pedro Canísio e o sistema es- 11. Defesa e consolidação dos ulterior consolidação do Impé- 13. Patriarcados Melquitas sob
rio Otomano 318 dominação turca 336
colar dos Jesuítas 167 Protestantes 187
6. Protestantes Germânicos após 12. Igreja Nacional Anglicana e 2. Patriarca Genádio II, Jorge 14. Patriarcado Melquita de Ale-
Escolário 319 xandria 337
o Tratado de Paz Religiosa 172 puritanismo 189
3. Patriarca Ecumênico no Im- 15. Igreja de Jerusalém • 338
pério Turco 320 16. Arquidiocese autônoma do S i -
6. Efeitos remotos da Dissidência Religiosa na época do ab- 4. Séculos de opressão 321 nai 339
solutismo. Surto da Religião e bulhas teológicas. Tentativas 5. Eleição dos Patriarcas . . . . 323 17. Patriarcado Melquita Antio-
de união 6. Crescentes atritos entre Esla- queno até o terceiro quartel
vos e Gregos 325 do século X V I 340
1. Guerra dos Trinta Anos . . . . 194 10. Francisco de Sales 212 7. Patriarcado de Constantinopla 18. Missão de Leonardo Abel no
2. Contra-Reforma sob Fernan- 11. Carlos de Condren e J o ã o na segunda metade do século pontificado de Gregório XIII 341
do II 196 T i a g o Olier 213 XVI 325 19. Primeira geração dos "Mis-
3. P a z Religiosa da Vestefália 199 12. João Eudes 214 8. Diplomacia ocidental. Prote- sionários" Franceses 342
4. Recatolização da Polônia e 13. Senhor Vicente 216 torado religioso da França . . 326 20. Francisco Picquet. Ampla in-
da Hungria 202 . 14. Neo-agostinianismo 219 9. Primeiros contactos com teó- fluência francesa 344
5. Ab-rogação do Edito de Nan- 15. Controvérsia sobre a graça 220 logos reformados 329 21. Patriarca Eutímio II Carini
tes 203 16. Jansenismo 221 10. Tendências calvinianas do P a - e seu sucessor imediato . . . . 345
6. Criptoprotestantismo 206 17. Brás Pascal 227 triarca Cirilo Lucaris 329 22. Cisma no Patriarcado de A n -
7. Espiritualidade francesa . . . . 207 18. Paz Clementina 229 11. Documentos simbólicos orto- tioquia 346
8. Seus inspiradores: Teresa de 19. Tentativas de reunificação . . 230 doxos do século X V I I . . . . 333
Ávila e Filipe Neri 208 20. Molano, Espínola, Leibniz e
9. Pedro de Bérulle 210 Bossuet 235 10. As Igrejas de rito bizantino entre os Eslavos do Oriente 350

1. Situação política e eclesiás- 6. Precedentes da União de Bres-


7 . Nova vitalidade da Igreja: Missão Mundial. Conversões. Con- ta. - O s anos de 1595-1596 364
tica no século X V 350
formação barroca do mundo 2 3 9

2. Origem do Metropolitado de 7. Metropolitado de Q u i e v e


Moscovo 353 (Kiev) no século X V I I . . . . 374
1. Luta contra a Meia-Lua . . . . 239 nadá, no Oriente Próximo, e 8. Problema da "latinização" . . 384
2. Novo impulso missionário : no Extremo Oriente 261 3. Igreja de rito bizantino na
Polônia-Lituânia até a União 9. Uniões na Rússia Subcarpá-
Francisco Xavier 244 8. Questão dos Ritos 265 tica e na Transilvânia
3. Japão . 247 9. Conversões na Europa 268 de Bresta (Brest) 355
4. Igreja de Moscovo no século 10. Igreja e Moscovo depois das 386
4. Acomodação missionária na 10. Revolução Britânica de 1688 272
X V I . - Criação do Patriarca- "Contendas" até a supressão
China e nas Índias 249 11. Roma barroca e artistas . . . 274
do. - Controvérsia a respeito do Patriarcado, sob o gover-
5. As "Doctrinas" no Paraguai 253 12. Ciências teológicas 278
da vida monástica 358 no de Pedro, o Grande . . . .
6. Primórdios da Congregação 13. Bolandistas e Maurinos . . . . 279
da Propagação da Fé (Pro- 14. Igreja e ciências naturais . . 282 5. Ortodoxismo em Moscovo de- 390
paganda) 256 15. Ribalta Jesuítica. Balde e pois do Sínodo de 1503 . . . 362
7. Missionários Franceses no C a - Calderon 286
16. Piedade e pregação barroca 288
Anexos
3. Germes de secularização. Realismo absoluto e nova filosofia 292 Tabelas Cronológicas 401 Índice Analítico .
Bibliografia 409 índice dos M a p a s
1. Declínio das potências mun- 3. Papado e absolutismo gaulês 296 Anotações 442 Índice Geral . . . .
diais católicas 292 4. Galicanismo 298
2. Ponto fraco dos Estados Pon- 5. Controvérsia em torno da pie-
ti.fjcios 295 dade ideal. Bossuet e Fénelon 302
Este Livro foi composto e impresso
nas oficinas gráficas da Editora V O Z E S
Limitada, Rua Frei Luís, 100, Petrópolis,
Estado do Rio de J a n e i r o , Brasil,
no ano de 1971, 7 0 de sua fundação.
?

Você também pode gostar