Você está na página 1de 6

Síntese Histórica da Religião

Aula 1: A Religião Primeva

Introdução

 Religião primeva: revelação visível dada na natureza são as formas sistemáticas pelas quais o
homem tende a alcançar uma relação com o sagrado através do mundo criado - movimento,
contingência, ordem e beleza – que induz ao conhecimento de Deus (expressão: formas
naturais)
 Religião regular: revelação invisível dada na história do mundo criado (expressão: formas
humanas naturais) forma dada pela manifestação direta de Deus na experiencia individual.
 Religião sumária: revelação tornada visível como pessoa no mundo histórico (expressão:
formas divinas na natureza humana) forma dada na encarnação do Verbo, onde a regularidade
da Lei Divina e a manifestação de suas qualidades expressas pela natureza são reconciliadas.

O que chamamos aqui “religião”

 “Religião” pode expressar todo fenômeno (organizado) que comporta o conjunto das
formulações humanas em busca de uma resposta e uma ligação direta com o objeto da
experiencia do sagrado – não como uma evolução histórica e cronológica de ideias acerca do
divino.
 Porém, estamos chamando de “religião” um desenvolvimento orgânico específico, que se dá
ao longo da História através de deliberações revelatórias empreendidas pela própria realidade
divina, afim de encaminhar a humanidade – por um processo progressivo - até seu fim geral e
particular.
 A vocação do homem é ser religioso, onde ele encontra a felicidade (através da mensagem das
criaturas e da voz da consciência – e revelação direta)

Modo de conhecimento humano

 Luz natural da razão: através das coisas criadas (imagem de Deus)


 Luz da Fé: através da graça concedida (semelhança de Deus)
 As criaturas refletem a perfeição divina de modo analógico
 A experiencia cognitiva sobre a realidade das criaturas é a base ontológica da religião primeva
 O homem vai até Deus: pela razão natural ao longo da história

A importância da Palavra

 Impureza da linguagem: fez com que o relativo fosse tratado como absoluto; o reflexo como
objeto real; a sombra como a luz; as representações como o representado
 Deus retifica a linguagem: nossa linguagem é capaz de alcançar Deus, mesmo que de modo
limitado; apreendemos Deus pela linguagem através do que Ele não é
 Deus vai até o homem: pela luz da fé – e isso se dá no plano histórico (por ações e palavras)
 Pedagogia divina: a história é o mecanismo pelo qual Deus prepara o homem gradualmente
para uma união definitiva.

A experiência humana do cosmos

 Dois planos: temporal/devir/ilusão – eternidade/substancia/realidade


 A unicidade inviolável entre esses dois planos causa a tensão da experiencia humana no
cosmos: atração e terror.
 Nostalgia do paraíso: por um lado, sob o aspecto de uma promessa dada na revelação; por
outro, o desejo de tomar de assalto o objeto da promessa que está impresso na natureza das
coisas.
 Hierofanias (do grego hieros = sagrado e faneia = manifesto) pode ser definido como o ato de
manifestação do sagrado: são sempre históricas em algum grau.
 A religião primeva se destaca por ter uma experiencia do sagrado radicada na unicidade
inviolável dos dois planos cósmicos, porém, constituindo uma hierofania que tende à ideia de
que eles são redutíveis a um único plano (tudo é sagrado porque tudo é substancialmente
divino).

A religião natural (gentios) e a religião revelada (judeus)

 O Pai se manifesta pelo Filho no Espírito Santo sempre – historicamente.


 A revelação do Deus vivo foi impressa no coração do gênero humano (religiões naturais) e em
seu intelecto (religião revelada)
 Adão: a religião primeva se divide (seth e caim) Caim-> Henoch, Irad, mehujael, mathusael,
lamech (jabal, jubal, tubalcain). Seth-> enos, cainan, mahalaleel, jared, Enoch, methuselah,
lamech, noah.
 Religião natural: expressa por templos. Religião revelada: expressa por alianças pessoais.
 Noé: economia provisória da salvação do ponto de vista das nações. Politeísmo (idolatria): foi
uma perversão desta economia provisória. A divisão persiste na descendência de Noé.
 Povoamento do mundo e origem das nações: Cam (africa, suméria, egito), Sem (oriente médio,
arabia), Jafé (europa, china, índia)
 Os homens das nações podiam ser justos (melquisedec, Noé) ou injustos (Ninrod).
 A religião primeva também é fonte de santidade e verdadeira ligação com Deus, pela revelação
dada no mundo criado, mas também, fonte de perdição e idolatria, devido ao orgulho humano
surgido no pecado original e contrário ao plano de Deus.

Essência da religião primeva

 A essência da religião primeva é seu modo existencial de revelação pela criação (Deus cria as
coisas com ordem e deixa sua marca nas criaturas) e sua arquitetura ritual (um rito é
estruturado para buscar se comunicar com a divindade, na experiencia em si, não pela iniciativa
divina.
 O homem constata pela luz natural da razão que a realidade é ordenada inteligentemente e
permeada por uma espécie de “espírito”.
A essência da Religião Primeva está vinculada a seu modo peculiar de captação existencial do Sagrado, já que a ordem da criação,
por ser a primeira revelação dada por Deus, guarda indícios de sua verdade, de sua beleza e de sua bondade. Era a partir desses
dados naturais concretos que o homem construía toda a arquitetura ritual e religiosa que lhe possibilitava se aproximar, por livre
iniciativa, da divindade percebida através da razão em sua experiência no mundo - esta realidade ordenada inteligentemente ao
Espírito.

Conclusão:

 A religião primeva é todo e qualquer manifestação religiosa organizada a partir da revelação


visível, o mundo criado, seja em acordo ou seja em desacordo ao plano divino.
 Esquema: Criação – Adão – caim e seth (bifurcação) – diluvio/noé – cam, sem, jafé (unidade de
espécie) – babel (unidade de orgulho) – dispersão dos povos (tempo das nações) – ABRAÃO
(inicio da religião regular) – Moisés (complemento da religião regular).
 A religião primeva é a forma de adoração natural dada na aliança de Deus com Noé.
Síntese Histórica da Religião

Aula 2: A Religião Regular

Introdução

 Deus reúne as nações num só homem: Abrão - Abraão (pai das nações) – e institui uma grande
nação (espiritual) através de um pequeno povo, de uma família.
 Deus então “regulariza” a religião devida a Ele, a separando e dissolvendo toda a multiplicidade
de cultos anteriores. Define, assim, uma clara divisão entre a Religião Primeva e sua nova forma
de religação – A religião regular.
 Da raiz desordenada das múltiplas “religiões primevas” surge um tronco (a fé abraamica).

Das nações a um povo

 Israel é o povo sacerdotal de Deus (catecismo n63).


 A partir de Abraão, o povo formado por Deus chega ao Egito, nação fundada por uma religião
de forma primeva;
 Por Moisés, Deus tira seu povo da escravidão e institui como Lei seus mandamentos (a religião
regular é completada nos 10 mandamentos)
 Os 10 mandamentos é o meio pelo qual todas as religiões primevas podem se unir
(provisoriamente) ao plano de Deus em desenvolvimento no povo de Israel.
 É um povo de purificação: o fato de os israelitas terem sido escravizados em diversos
momentos da história representa uma parte do plano divino para a humanidade - se purificar
dos antigos erros e servir como sinal de esperança para as nações submetidas ao alto índice
de falsificação das religiões primevas.

A essência da religião regular

 A essência da religião regular é seu modo pessoal de revelação pela palavra (Deus fala e dá
ordens aos profetas) e sua arquitetura orgânica (uma ordem estruturada em preceitos e
mandamentos explícitos derivados, não da experiencia em si, mas do próprio comando – voz -
de Deus).
 Em contrapartida à religião primeva, que apresenta seus elementos a partir da experiencia da
luz natural em sua relação com o mundo criado (constatações), a religião regular apresenta
seus elementos sob a forma de saltos de consciência realizados por Deus (fidelidade).
 Tais saltos se dão sobre a forma de experiencia direta do fundamento e de suas implicações
externas (a Lei, certo tipo ritual e um exclusivismo de forma).
 A diferença básica entre Primeva e Regular: Uma se baseia na clarividência da razão diante do
mundo, a outra na obscuridade da fidelidade pessoal diante de um Deus inapreensível.

A economia da salvação e a Dialética histórica Primeva/Regular

 A religião regular tem seu papel no cômputo geral da economia da salvação:


 1- Ela guarda uma certa “superioridade” em relação a religião primeva (gentios) por ter sido
confiada a ela a Palavra de Deus em forma de regra;
 2- Sua superioridade vem da “fé”, e não da “carne, vêm da busca de Deus pelo homem, não da
busca do homem por Deus;
 3- A tensão entre a religião regular e a primeva está fadada a terminar na ascensão da Religião
Sumária (a fé que a Palavra de Deus se fez carne), não temporalmente, mas supra-
historicamente.
 4- Há nesta forma regular um grande mistério: ela precisou ser em parte reprovada para que as
formas primevas fossem absorvidas pela forma sumária de religião (reprovação permitida até
que a religião sumária absorva completamente as nações), que gera um ressentimento em
relação as demais formas.
 A divisão dada pela tensão dialética tende a se desfazer na unidade sumária, que simplifica,
aperfeiçoa e transforma. Há um processo de síntese histórica destas formas religiosas (que
termina no processo de evangelização das nações).

A ambiguidade e finalidade da religião regular

 Ela confirma a forma sumária vindoura em sua própria característica profética, ao mesmo
tempo que a renega por assimilar a forma primeva anterior e “inferior” a ela (recebeu grandes
benefícios de Deus e é a origem carnal de Cristo).
 Ela sempre será válida - pela fidelidade da promessa de Deus – na medida em que seja uma
ocasião para sua própria absorção (conversão) no fim da História, apesar de sua caducidade
histórica. “Judeu” se tornou uma categoria de opositores de Cristo e sua Igreja, apesar de
ainda ser o povo da promessa abraamica.
 Ela tem um papel ativo na escatologia da história, não como um fato histórico em si, mas
como uma ação divina no tempo que tende a servir à unidade final de todos os povos – no fim
da história. Sua missão é converter-se e converter a religião primeva na Sumária.

Conclusão

 A Religião Regular é uma forma religiosa de iniciativa exclusivamente divina, expressa mais
especificamente pelo Povo de Israel.
 Esquema: Heber->Abrão->Isac (Ismael)-> Jacó->José->Levi->Kohtah->Amram->Moisés
 A religião regular é a forma de adoração de origem sobrenatural dada na aliança de Deus com
Abraão e completada em Moisés.
Síntese Histórica da Religião

Aula 3: A Religião Sumária

Introdução

 Deus falou indiretamente pela ordem e beleza da criação (primeva), falou diretamente pela
boca dos profetas (regular) e fala sumariamente pela pessoa de seu Filho encarnado (sumária).
 A criação é uma palavra existencial e primordial (esparsa); a Lei divina é uma palavra profética e
histórica (parcial); a Igreja é a manifestação escatológica da Palavra Única e Última (sintética).
 Aliança definitiva: completa, mas não plenamente explicitada. Sua consumação se deve ao
complemento de toda a humanidade num só corpo.

A fé como princípio de simplicidade da religião

 Toda a estrutura orgânica da religião, que passou por diversos estágios provisórios, culmina na
simplicidade da fé. Pela fé a Igreja (a unidade de um único corpo universal) se estabelece como
entidade visível e invisível, no mundo e para além do mundo.
 A fé nos induz à oração, modo de ação específico da religião sumária. A oração aumenta a
caridade, que unida à fé, gera a esperança nas promessas de toda a revelação dada na História.

A Palavra de todas as palavras

 Se a palavra da criação diz o que a religião primeva deve saber (existe um Deus e devemos
busca-lo), e a palavra profética diz o que a religião regular deve fazer (tudo o que está expresso
na Lei), a Palavras por debaixo das duas diz o que devemos CRER (que o discurso de Deus é uno,
como ele é uno).
 Todas as palavras anteriores (criação e profética) são componentes históricos de uma
preparação pedagógica que guia a humanidade até a Revelação final: a Palavra feita carne.

A essência da religião sumária

 A essência da religião sumária é seu exclusivismo (Deus se torna homem) e sua dupla
dimensão unitiva (uma ordem de união entre o natural e a sobrenatural estruturada pela fé
que preenche o vazio das formas religiosas anteriores).
 A realização dos tipos esparsos na ordem natural e dos parciais na ordem regular é uma
consequência direta da manifestação da Palavra de Deus (o cumprimento do plano divino, o fim
de um dinamismo prévio e início de um dinamismo definitivo – do crescimento do corpo).
 A realização da fé: Abraão inicia um processo de obediência a Deus pela fé – a esperança da
amizade com Deus - que culmina na união caridosa com Cristo – a posse da vida eterna.
 O ato de fé não se resume ao enunciado de alguma fórmula, mas na própria realidade do que é
anunciado. A fé realizada, fundamento da Religião Sumária, é uma união simples com Cristo
que reduz a distancia infinita entre homem e Deus – a ponto de se tornar perfeita na caridade
(um com Cristo).
 A ação sacramental: os sacramentos são os meios eficazes de união da natureza com o
sobrenatural dispensados no tempo histórico.

A abolição das religiões pela validação da religião una

 A síntese entre religião primeva e regular não significa uma mera mistura entre doutrinas ou
formulas, mas um enxerto de seus elementos fundamentais em uma realidade pessoal
transcendente.
 Toda e qualquer manifestação religiosa é abolida mediante a ascensão da forma sumária,
mesmo que apresente incrementos para uma vida justa e moral - pois a religião sumária é a
origem e fim de todas as suas qualidades benignas (que estão ordenadas ao fim proposto ao
fenômeno religioso).
 Ela não exclui o que há de objetivo e bom nas religiões anteriores, mas assume um papel
exclusivo e universal diante delas. Por isso não pode ser considerada mais uma etapa da
evolução religiosa da humanidade, mas sua perfeição, sua superioridade.

A religião sumária em perspectiva geral

 As religiões primeva e regular guardam um valor positivo dentro de um desenvolvimento


orgânico e histórico.
 A religião sumária não é uma etapa no processo de evolução das religiões, mas seu fundamento
último – ela é superior por natureza, não por desenvolvimento dialético.
 A religião sumária é uma incursão da ação divina na História, é o eterno invadindo o tempo e
dando-lhe forma – o eterno se torna histórico.
 A religião sumária é, antes de tudo, um acontecimento histórico que dá substância à
percepção da atividade divina no tempo – significa: fé na vinda do Filho de Deus como homem.
 A religião sumária refuta a tese de que o homem pode chegar à Deus por sua própria
iniciativa, presente em grande parte da religião primeva e em alguns aspectos da religião
regular. Duas razões: o pecado original e a distinção radical entre criador e criatura.
 Consequências: o homem deve ser humilde e aceitar este modo de religião como uma graça
inalcançável por outros meios, o que implica uma enorme obediência à Palavra. Nenhum meio
técnico pode causar esta união com Deus, apenas a boa disposição da alma à graça.
 Característica principal: ela é um ato imediato de Deus que funde, pela encarnação do Verbo,
as formas primevas e regulares na realidade – o que é expresso em suas formulas litúrgicas e
dogmáticas e em sua tendencia à aclimatação cultural (as Escrituras Sagradas revelam este
processo de assimilação dos padrões de representação).
 É a religião original: que visa apresentar algo muito além da razão humana – o segredo da vida
íntima da Trindade. A inserção dentro desta vida é a condição para a deificação do homem –
elemento específico da religião sumária.
 A religião sumária não despreza as anteriores, mas as cumpri, liberta e coroa, expurgando seus
elementos esparsos e parciais - inserindo neles um elemento definitivo que assimila e
complementa.

Você também pode gostar