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FILOSOFIA DA RELIGIÃO
AULA 4

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21/03/23, 00:03 UNINTER

Prof. Marcos Henrique de Araujo

CONVERSA INICIAL

Nesta aula, vamos abordar, de forma comparativa, as razões primárias e últimas das religiões

monoteístas – judaísmo, islamismo e cristianismo. Diferindo das religiões egípcias e mesopotâmicas –

sumeriana, cananeia e persa –, da grega e da romana, que são politeístas (diteísta, no caso da persa),

e das religiões de matriz oriental – hinduísmo, budismo, taoísmo, confucionismo e shintoísmo –, que

mesclam politeísmo com ateísmo e diteísmo, as religiões a serem estudadas nesta aula creem na
existência de um único Deus.

O cristianismo, em particular, será apresentado de forma sucinta, pois a próxima aula se ocupará

em apresentá-lo e analisá-lo mais profundamente. As três religiões monoteístas têm muitos pontos

em comum e profundas diferenças entre si. A compreensão de suas semelhanças e diferenças é

crucial para a devida avaliação de seus pontos fortes e fracos em relação aos elementos místicos,

estéticos e éticos que as constituem.

O termo monoteísmo vem do grego monos – um – e theos – Deus, significando o ensino e a

crença da existência de um Deus único, sem par, incomparável. O monoteísmo como doutrina se

opõe à crença henoteísta, que admite a existência de pluralidade de deidades. O ateísmo, que é a

negação da existência de Deus ou deuses, também se opõe ao monoteísmo. O termo também difere
de politeísmo – crença na existência de vários deuses –, de deísmo – crença num deus distante e

alheio à vida humana – e de outras manifestações de fé, como diteísmo (dois deuses) e triteísmo (três

deuses). O panteísmo também difere do monoteísmo no sentido de que no monoteísmo o ser divino

é retratado como distinto das coisas criadas e mais elevado que tudo que existe.

Os monoteísmos judaico, islâmico e cristão apresentam Deus como santo – separado de tudo e

de todos em si, de si e por si mesmo – pessoal – dotado de inteligência, emoções e vontades

próprias – e ainda capaz de ser transcendente e imanente à Criação (Champlin, 1995).

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TEMA 1 – JUDAÍSMO

Com cerca de 14 milhões de adeptos no mundo (cerca de 0,2% do total), o judaísmo foi a
primeira das religiões monoteístas a surgir na história. Por judaísmo, devemos entender a religião

fundada por Moisés e praticada, principalmente, porém não exclusivamente, pelos judeus espalhados

pelo mundo todo. Embora Moisés tenha dado início a uma manifestação religiosa específica, antes

dele os patriarcas – Abraão, Isaque, Jacó e seus filhos – já praticavam essa forma de fé monoteísta.

Moisés foi o mediador da aliança entre Yahweh e Israel – seu povo – no monte Sinai – Êx 19 a 24.

O evento do Sinai é visto como o marco inicial do judaísmo, porém muitos estudiosos acreditam

que este remonta aos patriarcas ou teve seu início no evento da sarça ardente.

Como sistema religioso, o judaísmo forneceu grande parte do conteúdo da crença cristã e

islâmica.

1.1 ELEMENTO MÍSTICO

Encontramos a história do judaísmo, seu surgimento e outros aspectos importantes nos escritos

de Moisés – o Pentateuco. O judaísmo é uma religião de revelação. Os judeus chamam o Pentateuco

de Torah, e os escritos de Moisés fornecem as bases da crença judaica. As narrativas bíblicas, com

seus eventos, leis e ritos, constituem a base da concepção judaica a respeito de Deus, da criação, das
alianças divinas, do plano de redenção e da eleição de Israel como povo escolhido.

O Deus Eterno – Yahweh –, segundo o testemunho da Torah, revelou-se a Moisés no monte

Horebe num evento miraculoso, em que uma sarça ardia e não se consumia – Êx 3.14.

Yahweh, o segundo nome na revelação redentora de Deus, é o nome mais específico para Deus

no AT. Ele eleva o conceito de Deus do mero nível de poder para o de relações pessoais. Elohim é um

termo genérico; Yahweh é um nome próprio do substantivo. Yahveh é uma forma do verbo ser

('ehyeh asher 'ehyeh) sendo ativo ao invés de estático. O nome indica a ação e a presença de Deus

nos afazeres históricos. O nome Yahweh tem sua origem no verbo ser e inclui os tempos desse verbo

– passado, presente e futuro. O nome, portanto, significa: Ele que era, que é e que há de ser; em

outras palavras, o Eterno ou o Ser Absoluto.

Yahweh não é uma palavra real. É uma palavra artificial agrupada das quatro consoantes

hebraicas YHWH (‫ )יהוה‬e as vogais de outro nome para Deus, Adonai. Portanto, Jeová foi inventado
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YaHoWaH, Javé ou Jeová. O nome Yahweh é considerado o nome mais sagrado e mais distintivo de

Deus, o nome incomunicável. O nome Yahweh ocorre quase 7 mil vezes no AT e é especialmente

associado à santidade de Jeová (Lv 11.44 e 45), seu ódio ao pecado (Gn 6.3-7) e sua provisão graciosa

da redenção (Is 53.1,5,6 e10).

Os judeus evitam pronunciar o nome de Deus e, por isso, substituem o tetragrama por outras

formas de falar e escrever. Eles costumeiramente se dirigem a Deus usando o termo Adonai (uma

pronúncia aceitável do nome indizível) ou o artifício Ha-Shem – o nome.

A revelação do nome de Deus a Moisés é um ponto importante na origem da crença judaica de

que há um único Deus Criador e Sustentador de tudo o que há. A crença fundamental da fé judaica

está contida no Shemah – Dt 6.4:

‫ׁשמע יׂשראל יהוה אלהינו יהוה אחד׃‬

Shemah Isrāel Yahweh ‘elōhenū Yahweh ‘ehād

Ouve, ó Israel, o Senhor, o nosso Deus é o único Senhor

Todo judeu aprende a recitar o Shemah, com o qual o judaísmo ensina que só existe um Deus e

que seu nome é Yahweh. O Deus Eterno – Yahweh – é também o Criador, Autoexistente, Todo-

poderoso, Onipresente, Onisciente, Santo, Fiel, Justo e Bom.

Os judeus creem na realidade do pecado e da culpa sem relegar essas coisas ao nível da mera

consciência humana. Para eles, o pecado é uma condição de rebeldia ao domínio de Yahweh e

precisa ser expiado por meio de sacrifícios de animais. Se for impossível realizar os sacrifícios,

somente a confissão e o pedido de perdão por ocasião do Yom Kippur são suficientes para que

Yahweh, aquele que é clemente e perdoador, perdoe os pecados de toda a nação.

Os judeus creem na doutrina da Providência Divina, segundo a qual o Deus Eterno intervém na

história conduzindo-a a um clímax, quando Yahweh destruirá os inimigos de seu povo Israel e remirá

seu povo de todas as suas tribulações e da morte. Em sua maioria, creem na existência de anjos que

são espíritos ministradores enviados por Deus no intuito de ajudar seu povo em suas necessidades.

Os saduceus não criam na existência de anjos, de alma e de ressurreição entre os mortos.

Os judeus creem na ressurreição dos mortos e no juízo eterno. Segundo a profecia do profeta
Daniel, “muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para

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vergonha e horror eterno” – Dn 12.2.

Israel, o povo de Deus, e todos os que se abrigarem “à sombra do Onipotente” são protegidos

por Deus por estarem aliançados por meio da circuncisão, símbolo da aliança divina no corpo de seu

povo.

Os judeus aguardam o Messias (o Ungido) prometido por Deus a Adão, Abraão, Moisés e por

meio dos profetas. Esse Messias será filho de Davi e, depois de lutar por Israel, vai se assentar no

trono de Davi e reinará sobre toda a Terra.

1.2 ELEMENTO ESTÉTICO

O judaísmo é uma religião que tem suas bases assentadas em ritos e cerimônias simbólicas que
se revestem de tamanha importância que acabam por defini-lo como sendo mais uma religião

cerimonial do que sobrenatural, ética ou prática.

No período patriarcal, quando não havia ainda um local específico e um sacerdócio ordenado

para a finalidade, os sacrifícios eram realizados sobre altares feitos de forma improvisada. Assim

sacrificaram Abraão, Isaque, Jacó e seus filhos. Uma vez saídos do Egito, no deserto do Sinai, os filhos

de Israel receberam a ordem de oferecer sacrifícios no Tabernáculo e posteriormente no templo em

Jerusalém.

Os judeus ofereciam a Deus cinco tipos diferentes de ofertas (Schultz, 1977):

1. Holocaustos – o animal sacrificado é totalmente queimado até as cinzas (holocausto). Essa

oferta simboliza a completa consagração do ofertante a Yahweh.


2. Ofertas pacíficas – ofertas voluntárias que eram comidas pelos ofertantes e pelo sacerdote que

oficiou a oferenda. Essa oferta faz referência à gratidão e à amizade entre o ofertante e Yahweh.

3. Ofertas pelo pecado – oferecidas a Yahweh por transgressões em que houve ignorância por

parte do transgressor. Havia um ritual específico para o líder religioso, para o líder civil e para o

cidadão comum.

4. Ofertas pela culpa – diferente da anterior, esta oferta dizia respeito aos pecados cometidos

contra Deus ou contra o próximo. Invariavelmente envolvia a confissão da culpa e a restituição

do prejuízo por parte do ofertante.

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5. Ofertas de manjares – não envolviam derramamento de sangue e se constituíam primariamente

de produtos do solo. Fazem alusão ao reconhecimento de que de Yahweh procedia a boa

colheita e que a Ele tudo deveria ser consagrado.

As ofertas que envolvem sacrifícios de animais só podem ser realizadas no templo e foram

suspensas desde que o general romano Tito destruiu o templo de Jerusalém no ano 70. Sem o

templo, os sacrifícios não podem ser realizados.

A religião judaica é uma religião festiva – no princípio havia três festas anuais. Hoje, os judeus no

mundo todo celebram festas anuais segundo ritos variados dependendo da origem do grupo
judaico.

O sábado é o sagrado dia de descanso e culto, quando, segundo o Decálogo, todo judeu deve
descansar de suas atividades ordinárias e se dedicar ao culto a Yahweh. O sábado judaico começa no
entardecer da sexta-feira e se encerra no entardecer do sábado.

Seder é a festa da primeira noite de Páscoa. Relembra a saída do Egito. A Pessah – Páscoa –
relembra a libertação do cativeiro egípcio quando Jeová matou os primogênitos egípcios e preservou

a vida dos hebreus. É comemorada no 14º dia do primeiro mês de Nisan (ou Abibe).

O Shabuot é a festa das semanas e é comemorada sete semanas após a Páscoa. Relembra a
entrega dos dez mandamentos e coincide com a consagração das primícias das colheitas do trigo. É

também conhecida como a Festa de Pentecostes.

Rosh Hasanah – Cabeça de Ano – são dois dias de solenes reflexões. Nesses dias (primeiro e

segundo dia de Tshri), o Shofar é tocado o dia inteiro.

Yom Kippur – o Dia da Expiação – é a cerimônia realizada dez dias após o Rosh Hasanah. Nesse
dia, os judeus jejuam, fazem confissões e buscam a reconciliação com Yahweh.

Sukkoth é a Festa dos Tabernáculos ou da Cabanas e relembra a peregrinação no deserto por 40

anos.

A Festa do Purim comemora a libertação do povo judeu conseguida por Mordecai e a rainha

Ester no tempo do rei persa Assuero (Xerxes). Comemora-se no 12º dia do último mês do calendário
judeu.

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Hanukkah – nesta festa, por oito dias, os judeus comemoram os feitos heroicos dos Macabeus.

O Ritual da Circuncisão é uma ordenança judaica, segundo a qual todo menino deve ser
circuncidado ao oitavo dia de seu nascimento. No órgão genital masculino, a pele que cobre a

glande é removida. Esse ritual simboliza a celebração da aliança de Deus com Abraão – Gn 17.

O Ritual de Bar-Mitzvah é um rito de passagem do menino para a fase adulta. Geralmente aos 13
anos, o menino é submetido a um ritual de perguntas e respostas e depois é carregado sobre os

ombros dos homens adultos, e seu pai, ou um líder local, o declara homem adulto emancipado, um
filho da lei.

1.3 ELEMENTO ÉTICO

A salvação na religião judaica é alcançada por meio de sacrifícios, penitências, boas obras e uma
pitada de graça divina. Os judeus confiam na fidelidade de Deus às suas promessas e esperam que

Ele lhes conceda salvação por estar em aliança com o seu povo eleito.

As Dez Palavras (do hebreu ‘eser dabar e do grego deca + logos) ou Decálogo se referem aos Dez
Mandamentos entregues por Yahweh a Moisés no Sinai – Êx 20 e Dt 5. Esses preceitos, segundo Von

Rad (1973, p. 196-197).

[...] devem sua existência ao esforço para traçar uma síntese tão condensada quanto possível da

vontade integral de Javé para com os homens.

[...]

Na primeira parte, incluindo o mandamento sobre o sábado, o Decálogo trata dos deveres do
homem para com Deus; na segunda, dos deveres do homem para com o homem. Primeiro, o

preceito sobre a honra devida aos pais, depois as determinações referentes à preservação da vida,
do casamento, à propriedade e à honra ao próximo. O ‘tu’ apostrafa tanto Israel como o indivíduo.

TEMA 2 – ISLAMISMO

Com cerca de 1,6 bilhão de adeptos no mundo todo, o Islamismo é a segunda maior religião em
número de praticantes, superada unicamente pelo cristianismo (considerando os números das três

tradições cristãs – catolicismo romano, catolicismo ortodoxo oriental e protestantismo). Os adeptos

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do islamismo estão espalhados por mais de 30 países em três continentes. O islamismo, assim como
judaísmo, é uma religião de revelação.

Seu fundador foi Muhammad Ibn Abdallah ou Maomé, que nasceu por volta de 570 em Meca,
na Arábia. Foi criado por seu avô e, com o falecimento deste, passou a ser criado por seu tio. Aos 25
anos de idade, casou-se com uma viúva rica de nome Cadija. Comerciante, teve contatos com o

judaísmo e o cristianismo e dessa forma desenvolveu um pensamento monoteísta.

Com 40 anos, tendo se dedicado à meditação e ao jejum, teve sua primeira visão, que foi

registrada no Alcorão. O próprio Maomé incialmente não tinha absoluta certeza se aquelas visões
procediam de Deus ou de um Jinn, um espírito mau, todavia, sendo instigado por sua esposa,

continuou dando oportunidade a que tais visões se repetissem até a sua morte, em 632.

Maomé se considerava o último de uma série de profetas (28 ao todo). Considerava o Alcorão
como a última e mais completa manifestação de uma série de escrituras sagradas (104 ao todo).

Maomé a princípio procurou espalhar os seus ensinos em Meca e foi rejeitado, expulso junto
com seus adeptos pelos habitantes de lá. De Meca, Maomé foi a Medina, em 16 de julho de 622 – e
este evento recebeu o nome de Hégira, que significa fuga, data que marca o início do calendário

islâmico.

Em 630, Maomé retornou a Meca e a conquistou numa batalha, declarou-a a Cidade Santa e

estabeleceu a partir de Meca o monoteísmo entre os árabes.

2.1 ELEMENTO MÍSTICO

Antes de Maomé, as tribos árabes eram politeístas – o panteão árabe tinha mais de 300 deuses.
Ele aboliu o politeísmo e impôs a crença monoteísta aos seus seguidores. Maomé escolheu Meca

para ser o centro de adoração do mundo islâmico porque nela estava a pedra Caaba – uma pedra
negra de origem meteorolítica que era identificada com o deus local, que era Hubal.

O Islamismo tem o Alcorão como o principal guia de fé e prática. Além do Alcorão, eles aceitam
a Torah, os Suhuf (livros dos profetas do cânon hebraico), o Zabur (os salmos hebraicos) e o Injil (o

evangelho de Jesus segundo o Islã).

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O Alcorão é composto de 114 Suras, ou capítulos, todos atribuídos a Maomé. É um documento

vigoroso de plataforma religiosa e de justiça social. Segundo a crença original, Maomé, que era
analfabeto, recebeu a graça de escrever cada palavra do Alcorão que lhe foi ditado pelo anjo Gabriel.

Os islâmicos creem que “Só existe um Deus e seu nome é Allah”. Allah, o Todo-poderoso, existe

solitário, e sua vontade é soberana.

Os islâmicos dão ênfase especial à crença na existência dos anjos. Gabriel, o mais importante

deles, ditou as palavras do Alcorão para Maomé. Al Shaytan é Satanás, o que se opõe a Allah. Jinn
são os demônios que agem juntamente com Al Shaytan.

Os islâmicos creem que Allah falou por meio de seus profetas. Os principais foram: Adão, Noé,

Abraão, Moisés e Jesus. Maomé, o último da lista, é o maior de todos.

Segundo os ensinos do Alcorão, nos últimos dias a haverá ressurreição dos mortos e o
julgamento final. Os súditos de Allah serão galardoados com o paraíso sensual e serão servidos por

virgens; os infiéis serão atormentados para sempre no inferno, junto com Al Shaytan, o inimigo de
Allah.

2.2 ELEMENTOS ESTÉTICO E ÉTICO

Embora não faça parte dos artigos de fé, eles creem no fatalismo, pois, para eles, o que o que
deve acontecer com toda certeza acontecerá, porque tudo o que acontece, seja bom ou ruim, é a

vontade de Allah que está sendo feita e nada pode ser feito que possa impedir de que se cumpra.
Para eles, o que importa é a sujeição a Allah – daí o nome Islã, aquele que se submete.

O pecado é a ausência de submissão a Allah, e a salvação é incerta e depende da prática dos

artigos de fé e dos deveres islâmicos.

Os súditos de Allah têm seis deveres imprescindíveis:

1. Kalima – o credo: não há deus além de Allah, e Maomé é o seu profeta. Essa recitação do credo

é uma versão islâmica do Shemah judaico.


2. Salat – orações: feitas cinco vezes ao dia (ao nascer do sol, ao meio-dia, no meio da tarde, após

o pôr do sol e ao deitar-se), todo mulçumano faz sua oração em árabe, com o rosto voltado
para Meca, prostrado com o rosto no chão e sem calçados nos pés.

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3. Zakat – esmolas: todo mulçumano deve doar a 40ª parte de suas rendas aos desamparados.
4. Ramadã – jejum: no nono mês, em todos os seus dias, do alvorecer ao crepúsculo, todo

mulçumano jejua. Os mais radicais evitam até engolir a própria saliva. Há orações e recitações
do Alcorão durante todo o período do Ramadã.

5. Hajj – peregrinação: pelo menos uma vez na vida, todo mulçumano deve fazer peregrinação em
Meca. O ritual a ser seguido é extenso e extremamente cansativo.

6. Jirad – Guerra Santa: é um dever circunstancial. É requerida quando o Islamismo corre perigo de
ser extinto em determinado lugar ou algum outro grupo religioso se opõe ao Islã querendo
prejudicar seus fiéis ou rejeitam se tornar mulçumanos. Quando um homem é tombado na

Guerra Santa, seu irmão deve substituí-lo imediatamente. Caso venha a morrer na guerra, o
homem vai direto para o paraíso sensual sem passar por julgamento.

Assim como no Judaísmo, no Islamismo também há três ramos ou tradições:

1. Sunitas – são a maioria. Aceitam a Sunna como regra de fé e prática. A Sunna é composta de
quatro escritos: o Alcorão, a Hadith (tradição), a Sharia (lei), o Ijma (consenso da comunidade) e

o Qyas (razão analógica).


2. Xiitas – formado pelos dissidentes que seguiram Ali, o primo-genro de Maomé, que

reivindicava para si o direito de suceder Maomé no Califado. São extremistas, radicais e


terroristas. Encontram-se na maioria no Irã, antiga Pérsia – o único país de regime teocrático

islâmico.
3. Sufistas – são os místicos que enfatizam uma experiência pessoal com Allah.

TEMA 3 – SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS ENTRE O JUDAÍSMO E O


ISLAMISMO

Há semelhança e diferenças entre o judaísmo e o islamismo. Tendo diferentes fundadores –


Moisés (1400 a.C.) e Maomé (570) e preceitos diversos, tanto morais como cerimoniais, as duas

religiões conviveram harmoniosamente por algum tempo, porém, principalmente depois do


surgimento do novo Estado de Israel, vivem em constantes tensões e disputa de espaços na atual
Jerusalém e em territórios ocupados.

A divergência começa na disputa sobre a identidade de Yahweh e Allah. Embora muitos


sustentem que sejam o mesmo Deus (Sura 29.46), há quem discorde em função de declarações

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contidas na Bíblia e no Alcorão. As objeções se baseiam na descrição do caráter de Yahweh nas

escrituras hebraicas e na descrição do caráter de Allah no Alcorão.

Tanto os judeus como os islâmicos circuncidam seus filhos. Abraão circuncidou Isaque a Ismael.
Esse rito demonstra que as duas religiões descendem do mesmo patriarca e o reverenciam.

Judaísmo e islamismo possuem traços marcantes de uma religião puramente étnica – judaísmo

para os judeus e islamismo para os árabes. Porém, ambas possuem também uma abertura para a
adesão de povos ou indivíduos de outra etnias. Os judeus chamam os não judeus que aderem ao

judaísmo de prosélitos; os islâmicos fazem proselitismo entre os povos.

Os judeus, privados de seu templo em Jerusalém, cultuam Yahweh nas sinagogas. Os islâmicos

cultuam Allah nas mesquitas. Meca é o mais importante centro religioso do Islamismo, mas a
mesquita de Al Aqsa, em Jerusalém, também é um importante centro religioso.

A aquisição da salvação é diferente nas duas religiões. Para os judeus, a salvação é obtida por

meio de boas obras e certa dose de misericórdia divina em atenção à aliança de Yahweh com Abraão.

Já no Islamismo, a salvação é concedia por Allah apenas aos que a ele se submetem e seguem os
preceitos contidos no Alcorão.

No judaísmo há uma noção de paraíso que diverge da noção islâmica. O paraíso islâmico é

sensual, enquanto o paraíso aguardado pelos judeus é um local tranquilo de acolhimento e paz. A

noção de paraíso para os judeus é derivada do livro do profeta Ezequiel.

TEMA 4 – CRISTIANISMO

Com cerca de 2,3 bilhões de adeptos, o Cristianismo é a maior religião monoteísta do mundo.

Jesus Cristo (4 a.C. – 30) é seu fundador. A crença fundante do Cristianismo é a identidade messiânica
de seu fundador. Para os cristãos, Jesus Cristo é o Ungido, o Filho do Deus vivo.

4.1 ELEMENTO MÍSTICO

Há, na fé cristã, uma mistura de continuidade e descontinuidade em relação à religião judaica.

Os cristãos se veem como herdeiros da tradição religiosa judaica – o fundamento dos profetas – e, ao
mesmo tempo, os guardiões da tradição dos apóstolos – o fundamento dos apóstolos. A tradição

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profética faz com os cristãos leiam as Escrituras hebraicas e as adote como livros inspirados por Deus
e regras de fé e prática tanto quanto o Novo Testamento.

Para os intérpretes cristãos, aquilo que era latente no AT tornou-se patente no NT. Desta forma,
o conteúdo das Escrituras hebraicas é interpretado e complementado pelas palavras contidas no NT.

A mística hebraica é adotada pelos cristãos em sua totalidade e a ela são acrescidas algumas

noções fundamentais:

1. Jesus Cristo, o Messias é o Filho Unigênito de Deus, o Logos preexistente que assumiu forma

humana e habitou entre nós. Ele é o Emanuel prometido pelo profeta Isaías. Ele é a segunda

pessoa da Trindade, Deus de Deus, eterno, não gerado, sem princípio ou fim.
2. O nascimento de Cristo foi um milagre. A virgem Maria deu à luz um filho gerado em seu

ventre por intermédio do Espírito Santo.

3. Assim como o Pai e o Filho, o Espírito Santo também partilha da mesma essência divina. São,

portanto, uma Trindade, não três deuses, mas um só Deus manifesto em três pessoas distintas.
4. A salvação dos homens se dá por meio da obediência ativa a passiva de Jesus Cristo a toda a

Lei de Deus. Por meio de sua morte, Jesus Cristo liberta os que foram predestinados a alcançar

a salvação.

5. Sendo Jesus tanto oferta como ofertante, tornou obsoleto todo o sistema sacrificial e sacerdotal
do AT.

6. A Igreja de Cristo é o novo Israel de Deus, seu povo escolhido, santificado e glorificado pelo

Espírito Santo.

7. Jesus Cristo, que morreu na cruz pelos pecados dos homens, tendo sido ressuscitado dentre os
mortos, está assentado à direita do Pai e intercede pelos seus eleitos.

8. Tendo recebido do Pai toda autoridade nos céus e na Terra, Jesus Cristo comissionou seus

discípulos a irem a todas as nações e proclamar o evangelho de Deus e fazer discípulos,

ensinando-os a guardar todos os seus mandamentos.


9. Jesus Cristo voltará para arrebatar sua Igreja e julgar todos as nações concedendo salvação aos

eleitos e condenando os réprobos ao fogo eterno, preparado para Satanás e seus anjos.

10. Os salvos mortos serão ressuscitados, e os vivos, por ocasião da Segunda Vinda de Cristo, terão

seus corpos transformados à semelhança do corpo ressurreto de Cristo.

4.2 ELEMENTOS ESTÉTICO


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Os cristãos não celebram as festas anuais do judaísmo por julgarem que não lhes diz respeito.

Identificam a Páscoa com a morte de Cristo, mas não se valem dos ritos judaicos em sua celebração.

O rito cristão varia de tradição para tradição. A tradição católico-romana dá grande ênfase aos

sacramentos, em especial à missa, e possui uma celebração mais cheia de pompas que as celebrações
protestantes. Já os cristãos de tradição ortodoxa-oriental possuem ritos distintos das demais

tradições.

Para os protestantes, o batismo e a Ceia do Senhor são os únicos rituais que foram ordenados

por Cristo e pelos apóstolos. Divergindo dos cristãos de tradição católico-romana, os protestantes

não atribuem poder salvífico aos rituais. Os cristãos de tradição católico-romana acreditam que, para
a salvação, é essencial que o fiel participe da missa, que é uma espécie de repetição – incruenta – da

morte de Cristo.

4.3 ELEMENTO ÉTICO

Os cristãos adotam a ética judaica como referência e ponto de partida. Para os cristãos, Jesus
Cristo fez, no seu famoso Sermão da Montanha, uma releitura da Torah e a aprofundou.

A Lei de Deus continua vigorando em seus aspectos morais, porém o cristão conta com a graça
divina e o auxílio eficaz do Espírito Santo para cumprir a vontade de Deus. O que a Lei Divina exige, o

Evangelho de Cristo torna possível.

TEMA 5 – SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS ENTRE AS TRÊS GRANDES


RELIGIÕES MONOTEÍSTAS

Tanto judaísmo como islamismo e cristianismo são consideradas religiões monoteístas. Porém, o
cristianismo possui um monoteísmo diferenciado. Não há na religião judaica ou islâmica espaço para

uma concepção trinitariana.

Judeus não creem que Jesus seja o Messias, o Ungido de Yahweh. Para os islâmicos, Jesus Cristo

é um profeta, porém Maomé é maior que ele.

Judeus, islâmicos e cristãos reconhecem Abraão como o tronco de onde as três religiões

procedem. Todos se veem como herdeiros das promessas divinas feitas ao velho patriarca.

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Cristãos e judeus reconhecem a canonicidade e inspiração divina do AT. Judeus não reconhecem

a canonicidade e a inspiração divina do NT. Embora tenham as Escrituras hebraicas como fontes de

doutrina, os islâmicos colocam o Alcorão como revelação superior e final em relação às Escrituras
judaicas e cristãs.

Tanto judeus como islâmicos consideram a doutrina da divindade de Jesus Cristo uma blasfêmia

cristã. Os judeus ainda aguardam o Messias, e os islâmicos aguardam o Iman Mohammad al Mahdi,

um sábio muçulmano que, segundo tradições islâmicas, encherá o mundo de justiça.

NA PRÁTICA

Totalizando quase metade da humanidade, as três religiões monoteístas exercem uma influência

significativa na história, na política, na economia, na cultura e no ambiente religioso do mundo todo.


As semelhanças e diferenças, concordâncias e discordâncias havidas entre elas foram causas de

guerras e tempos de paz e prosperidade no decorrer da história.

Compreender as dinâmicas, os pressupostos e as crenças fundamentais e últimas dessas

religiões nos ajuda a perceber o quanto a religião pode influenciar positiva ou negativa uma

sociedade, um país, um continente e, por fim, toda a humanidade.

FINALIZANDO

Esta aula não visou unicamente comparar as três maiores religiões monoteístas, mas, também,
oferecer ao estudante uma visão das fontes de onde procedem as crenças mais importantes de cada

uma delas.

Judaísmo, islamismo e cristianismo representam um rompimento com as tradições politeístas e

elevam o discurso religioso para o nível relacional (ainda que escasso na religião islâmica), reforçando

a noção de sentido e propósito na existência humana.

Deveres, ritos e recompensas futuras formam uma estrutura completa em que cada seguidor, em
cada religião ou tradição religiosa, sente-se integrado a um sistema holístico e racional, tanto quanto

é possível ser racional e religioso ao mesmo tempo.

https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 14/15
21/03/23, 00:03 UNINTER

REFERÊNCIAS

CHAMPLIN, N. R. Enciclopédia de Bíblia, teologia e filosofia. v. II. São Paulo: Candeia, 1995.

SCHULTZ, S. J. A História de Israel no Antigo Testamento. São Paulo: Edições Vida Nova, 1977.

VON RAD, G. Teologia do Antigo Testamento. v. I. São Paulo: Aste, 1973.

https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 15/15

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