Você está na página 1de 7

Ondas Estacionárias

Ângelo Luís Gregorim, Carlos Eduardo Pires e Evellyn Martins Teles


Laboratório de Física: Fluídos, Ondas e Calor, Turma Engenharia Civil

Resumo
Ondas estacionárias são ondas que possuem um padrão de vibração estacionário. Formam-se a
partir de uma superposição de duas ondas idênticas, mas em sentidos opostos, normalmente quando as
ondas estão confinadas no espaço como ondas de uma corda com as extremidades fixas. O seguinte
relatório, a partir de dados obtidos pelo experimento realizado em laboratório, tem como objetivo medir
a velocidade de fase da onda por meio de uma regressão linear simples, e fazer o teste de compatibilidade
da velocidade obtida dessa forma com a velocidade teórico. A velocidade obtida por RLS foi 17,865 ± 0,148
m/s. O v teórico foi 17,466 ± 0,009 m/s. Realizando o teste de compatibilidade, os dois valores não foram
compatíveis. Tal incompatibilidade demostra um resultado pouco satisfatório.

1. Introdução
Ondas estacionárias são oscilações periódicas produzidas pela interferência entre ondas de
frequência igual que se propagam no mesmo meio e ao longo da mesma direção, mas em sentidos opostos.
Quando uma onda incidente se encontra com uma onda refletida por uma extremidade fixa de uma corda,
formam-se ondas estacionárias, também conhecidas como harmônicos. Entende-se por ondas iguais
aquelas que possuem mesma frequência, mesma amplitude, mesmo comprimento de onda, mesma
velocidade.
Ondas transversais são facilmente visualizadas em cordas como o experimento realizado, desta
forma, o objetivo do seguinte relatório foi medir a velocidade de fase (v) da onda por meio de uma
regressão linear simples (RLS), e fazer o teste de compatibilidade da velocidade (v) obtido dessa forma
com v teórico.

2. Teoria
Fundamentalmente, uma onda é uma oscilação ou perturbação que se propaga no espaço,
carregando apenas energia, não havendo transporte de matéria (KNIGHT, 2009). Em se tratando de ondas
mecânicas, aquelas que precisam de um meio material para poderem se propagar, pode -se diferenciá-las
quanto à direção de propagação das ondas ou quanto à direção da vibração das ondas (HALLIDAY, 1993).
Essas ondas são divididas em ondas transversais, em que o mo vimento dos elementos oscilantes ocorre de
maneira perpendicular a direção de propagação da onda, e em ondas longitudinais, em que partículas se
movimentam de forma paralela a direção da onda (HALLIDAY, 1993).
Quando o padrão de vibração é estacionário, as ondas são denominadas estacionárias, se formando
pela superposição de duas ondas iguais, porém, de sentidos opostos. Algumas propriedades são
importantes para caracterizar as ondas, como a velocidade, o comprimento de onda e a frequência. A
velocidade de uma onda estacionária em uma corda ou fio independe da forma e da amplitude da onda
quando as oscilações são pequenas. O comprimento de onda (λ) de uma onda é a distância entre as
repetições da forma da onda. A frequência é o número de oscilações por u nidade de tempo e está
diretamente relacionada com a frequência angular (HALLIDAY, 1993). Ondas transversais são facilmente
visualizadas em cordas, essas ondas são consideradas unidimensionais e obedecem a Equação da onda
unidimensional. Soluções desta equação podem ser progressivas à direita ou à esquerda e suas
superposições podem ser chamadas de interferências. Ondas progressivas normalmente se propagam até
atingirem a extremidade e então são refletidas, gerando uma onda progressiva no sentido oposto
(ESPINOZA, 2015). Equação da onda unidimensional, com v velocidade, t tempo e y em função de x e t.

Quando se propaga uma onda em uma corda vibrante a velocidade pode ser descrita pela Equação
2, em que T é a tensão e a densidade (μ) é a propriedade inercial, pois a velocidade de uma onda em uma
corda esticada, ou tensionada, é determinada através das propriedades elástica e inercial da corda.

Outra forma de calcular a velocidade de uma onda é utilizando a frequência (f) de oscilação que gera
uma perturbação e o comprimento de onda (λ).
v=f.λ
Quando ocorre um fenômeno de transferência das ondas progressivas harmônicas o resultado são
ondas estacionárias, de fácil obtenção através da sobreposição de uma progressiva em uma corda. As on das
estacionárias têm uma característica marcante, de que existem certos pontos na corda em que ela nunca
se move, chamados de nós, e os ventres, que são as distâncias entre dois nós. A Figura representa as
diferentes configurações de uma onda estacionária, em que as posições de máximos e mínimos não variam
e a onda não se move nem para a esquerda e nem para a direita (HALLIDAY 1993). Com L sendo o
comprimento da corda.

3. Desenvolvimento
3.1. Materiais utilizados
● Gerador de função digital;
● Amplificador;
● Alto falante;
● Corda elástica;
● Suportes de metal;
● Roldana;
● Pesos;
● Balança de precisão;
● Trena.

3.2. Metodologia
A corda elástica teve uma de suas pontas fixadas no suporte de metal, e teve o seu comprimento L
limitado pelo autofalante e a roldana. À outra extremidade da corda fixou -se pesos de massa conhecida, de
modo a tracionar a corda. Utilizando-se do conjunto, gerador de função digital, amplificador e alto falante,
provocou-se ondas estacionárias na corda, com os harmônicos aumentando de acordo com o aumento da
frequência (Hz). A melhor frequência para cada harmônico foi definida visualmente pelo experimentador,
analisando a amplitude das ondas. O procedimento foi realizado para seis harmônicos.
Além do procedimento experimental, foram coletadas com uma trena de resolução 0,1 cm, as
medidas da corda esticada entre o alto falante e a roldana (comprimento L), comp rimento total da corda
relaxada e o comprimento da corda compreendida entre o alto falante e a roldana, porém relaxada. Com a
balança de precisão e resolução 0,01 g, pesou-se a massa da corda e a massa dos pesos.

3.2.1 Cálculo da velocidade de fase v.


A equação 15 do material “Aula 8”, nos dá o seguinte
𝑛 𝑇
𝑓= √
2𝐿 𝜇
𝑣
Da qual teremos para realização da Regressão Linear Simples 𝑌 = 𝑓, 𝑋 = 𝑛, 𝑏 = 2𝐿 e 𝑎 = 0. Y e X
foram obtidos experimentalmente, e constam na tabela abaixo junto com a incerteza do tipo B para f (Y).
𝑌 = 𝑓(𝐻𝑧) 𝑋 =𝑛 𝑢𝑓 (𝐻𝑧)
A 7 1 0,058
B 14 2 0,058
C 21 3 0,058
D 28,2 4 0,058
E 35 5 0,058
F 42 6 0,058

A Regressão Linear Simples (em anexo) nos dá Y=7,0057142857143X + 0,0133333333, em que


b=7,0057142857143, para a incerteza de b, vamos considerar como sendo equivalente a incerteza 𝑢𝑓 =
0,058, assim

𝑣 = 2𝑏𝐿 → 𝑣 = 2 ∙ 7,0057142857143 ∙ 1,275 → 𝑣 = 17,865 𝑚/𝑠

A incerteza 𝑢 𝑣 é do tipo C, e será dada por

𝜕𝑣 2 2 𝜕𝑣 2
𝑢𝑣 = √( ) ∙ 𝑢 𝑏 + ( ) ∙ 𝑢2𝐿 → 𝑢 𝑣 = 0,148 𝑚/𝑠
𝜕𝑏 𝜕𝐿
3.2.2 Cálculo da densidade linear da corda
Desenvolvimento dos cálculos da densidade linear da corda a partir do material disponibilizado
“Cálculo da densidade linear da corda - Prof. Thiago M. Carrijo”.

𝐿 𝑒 𝑜𝑢 𝐿 → Comprimento da corda esticada → 127,5 cm


𝑚′ → Massa total da corda → 10,26 g
𝐿′𝑟 → Comprimento total da corda relaxada → 274,8 cm
𝐿 𝑟 → Comprimento da corda entre A e B relaxada → 120,3 cm
𝑚 → Massa de 𝐿 𝑒 𝑜𝑢 𝐿 𝑟
𝜇𝑒 𝑜𝑢 𝜇 → Densidade da corda esticada
𝜇𝑟 → Densidade da corda relaxada

𝑚′ 10,26
𝜇𝑟 = ′
→ 𝜇𝑟 = → 𝜇𝑟 = 0,037336244 𝑔/𝑐𝑚
𝐿𝑟 274,8

𝑚 = 𝜇𝑟 ∙ 𝐿 𝑟 → 𝑚 = 0,037336244 ∙ 120,3 = 4,49 𝑔

𝑚′𝐿 𝑟 10,26 ∙ 120,3


𝜇𝑒 = → 𝜇 𝑒 = → 𝜇𝑒 = 0,035227844 𝑔/𝑐𝑚
𝐿′𝑟 𝐿𝑒 247,8 ∙ 127,5

incerteza de 𝜇𝑒 é do tipo C, e para seu cálculo serão consideradas as incertezas do tipo B de 𝐿 𝑒, 𝐿′𝑟 ,
𝐿 𝑟, como sendo 0,058 cm, a partir da resolução da trena (destaca-se aqui o erro máximo admissível
destacado pelo experimentador de 0,3 cm), e a incerteza do tipo B de 𝑚′, que a partir da resolução de 0,01
g da balança de precisão, tem valor 0,0058 g.

𝜕𝜇𝑒 2 2 𝜕𝜇 2 𝜕𝜇 2 𝜕𝜇 2
𝑢𝜇𝑒 = √( ) ∙ 𝑢 𝑏 + ( 𝑒 ) ∙ 𝑢2𝑡 + ( ′𝑒 ) ∙ 𝑢2𝑡 + ( 𝑒 ) ∙ 𝑢2𝑡
𝜕𝑚′ 𝜕𝐿 𝑟 𝜕𝐿 𝑟 𝜕𝐿 𝑒
𝑢𝜇𝑒 = 0,000035240 𝑔/𝑐𝑚
3.2.3 Cálculo da Tração
O experimento realizado nos apresenta uma situação similar a apresentada abaixo, em que 𝑎
representa o ponto onde a corda está fixada, e 𝑏 o peso experimental responsável por deixar a corda
tracionada,

Teremos no Eixo X uma força de tração denominada 𝑇 ⃗ 𝑏𝑎 , e no Eixo Y teremos a força peso 𝑃⃗𝑏 e uma
força de tração 𝑇⃗ 𝑎𝑏 . Aplicando-se a Segundo Lei de Newton no experimento, teremos 𝑇 ⃗ 𝑎𝑏 − 𝑃⃗𝑏 = 0, além de
termos 𝑇⃗ 𝑎𝑏 = 𝑇
⃗ 𝑏𝑎.
A força peso pode ser obtida pela seguinte relação 𝑃 = 𝑚𝑔, assim

𝑃⃗𝑏 = 𝑚 𝑏 𝑔 → 𝑃⃗𝑏 = 0,10978𝑥9,78905 = 1,074641909 𝑁

(O valor referência da gravidade utilizado foi o obtido no experimento do Princípio de Arquimedes).


Como 𝑇 ⃗ 𝑎𝑏 − 𝑃⃗𝑏 = 0 e 𝑇 ⃗ 𝑎𝑏 = 𝑇
⃗ 𝑏𝑎, temos por fim que 𝑇
⃗ 𝑏𝑎 = 1,074641909 𝑁.
A incerteza de 𝑇 ⃗ 𝑏𝑎 é derivada da incerteza de 𝑚 𝑏, como foi utilizada uma balança de precisão, com
resolução 0,01 g, a incerteza tipo B de 𝑚 𝑏 é 0,0058 g, que em quilogramas nos dá 5,8𝑥10−6 kg. Assim,
propagando para 𝑇 ⃗ 𝑏𝑎 , temos 𝑢 𝑇⃗ = 5,68𝑥10−5 𝑁.
𝑏𝑎

3.2.4 Velocidade de fase teórico

𝑣𝑡𝑒ó𝑟𝑖𝑐𝑜 é obtido por meio da expressão


𝑇
𝑣𝑡𝑒ó𝑟𝑖𝑐𝑜 = √
𝜇
Em que 𝜇 foi obtido no item 3.2.2 e 𝑇 obtido no item 3.2.3.

𝑇 = 1,074641909 𝑁
𝑔
𝜇 = 0,035227844 = 0,003522784 𝐾𝑔/𝑚
𝑐𝑚
Assim,
𝑇
𝑣𝑡𝑒ó𝑟𝑖𝑐𝑜 = √ → 𝑣𝑡𝑒ó𝑟𝑖𝑐𝑜 = 17,466 𝑚/𝑠
𝜇
A incerteza de 𝑣𝑡𝑒ó𝑟𝑖𝑐𝑜 , será do tipo C, e dada por

𝜕𝑣𝑡𝑒ó𝑟𝑖𝑐𝑜 2 2 𝜕𝑣 2
𝑢 𝑣𝑡𝑒ó𝑟𝑖𝑐𝑜 = √( ) ∙ 𝑢 𝑇 + ( 𝑡𝑒ó𝑟𝑖𝑐𝑜 ) ∙ 𝑢2𝜇 = 0,009 𝑚/𝑠
𝜕𝑇 𝜕𝜇

4. Discussão
Comparando a velocidade de fase teórico ( 𝑣𝑡𝑒ó𝑟𝑖𝑐𝑜 ) com velocidade de fase v (𝑣) utilizando a
compatibilidade de resultados de medição:
[𝑥𝑎 − 𝑢 𝑎 ; 𝑥𝑎 + 𝑢 𝑎 ] ∩ [𝑥𝑏 − 𝑢 𝑏 ; 𝑥𝑏 + 𝑢 𝑏 ] ≠ ∅
Onde 𝑥 𝑎 é o 𝑣𝑡𝑒ó𝑟𝑖𝑐𝑜 e 𝑢 𝑎 a sua incerteza e 𝑥 𝑏 é 𝑣 e 𝑢 𝑏 a sua incerteza, temos que:
[17,457; 17,475] ∩ [17,717; 18,013] ≠ ∅
O que não é verdade, sendo assim os resultados não são compatíveis.
No que diz respeito à precisão, para a velocidade de fase teórico foi obtida uma menor incerteza,
sendo assim esta é mais precisa.

5. Conclusão
Através do experimento foi possível observar ondas estacionárias, o aumento da frequência
propiciou o aumento na quantidade de nós, esse aumento se deu praticamente de modo linear, nos dando
um novo nó a cada aumento de aproximadamente 7 Hz. A partir dos dados amostrais, foi possível calcular
obter a velocidade de fase e da onda (17,865 ± 0,148 𝑚/𝑠) por meio de uma regressão linear simples e
utilizando-se da densidade linear da corda e do cálculo da tração a partir da segunda Lei de Newton,
obtemos o v teórico(17,466 ± 0,008 𝑚/𝑠) .
Os valores obtidos, por mais próximos que sejam, são incompatíveis, segundo o teste de
compatibilidade realizado no item 4, sendo assim temos o resultado como pouco satisfatório.
Atribuiremos a causa da diferença encontrada entre os dois valores ao resultado encontrado para a Tração,
no item 3.2.3. Para seu cálculo foi considerada apenas a força peso, exercida pelo objeto fixado na
extremidade da corda. Como outras forças foram desconsideradas o resultado pode não corresponder ao
verdadeiro valor da tração.

6. Bibliografia

ESPINOZA-QUIÑONES, F.R. Apostila de aulas práticas – Ondas Estacionárias, Toledo, 2014.


KNIGHT, R. D. Física, Uma abordagem estratégica . Vol.2, 2a edição. Porto Alegre: Editora
Bookman, 2009.
HALLIDAY, D .; RESNICK, R.; KRANE, K.S. Fundamentos de física 2 - Movimento ondulatório e
Gravitação. 4a edição Rio de Janeiro : Ltc , 1993.
7. Anexos

Foto: Regressão Linear Simples.

Você também pode gostar