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Anotações mestrado wpp

Anotações

1. Catástrofe deixa de ser um evento singular para se tornar uma realização da


humanidade?
2. "catástrofe universal"
3. O que existe é a pluralidade do tempo ou a pluralidade das experiências?
4. Como expressar a multiplicidade temporal com a ideia de regime de
historicidade?
5. Catástrofe parece indicar um erro de técnica que desencadeia um desastre
6. Coletivo singular = singularizaçao do termo (histórias vira História)
7. Dicionários de termos filosóficos do Derrida
8. E dicionário de Koselleck
9. Catástrofe é utilizada de forma neutra pela geologia e ganha uma condição moral
no século XX
10. Metáforas para falar sobre o tempo
11. Construção de uma imagetica do tempo
12. Na Antiguidade, o homem inveja a natureza ao passo que esta última
representava o suprassumo do equilíbrio e perfeição. Dessa forma, catástrofes
naturais não passavam de uma espécie de fortuna ruim, entretanto, amoral, que
nada influenciava no equilíbrio da natureza. Todavia, contemporaneamente,
catástrofe se relaciona com desequilíbrio e interferência do homem nos
processos naturais, de forma que a natureza perdeu muito do seu estado perfeito
e equilibrado.
13. Diferentemente da filosofia cristã, na qual o apocalipse não deve ser evitado, ou
combatido, apenas existe enquanto provocador dos arrependimentos passados,
no apocalipse secular, apesar de haver espaço para o arrependimento, o que
importa é a tentativa de evitar a própria realização desse evento-processo
escatológico
14. A catástrofe contemporânea tem sentido absoluto
15. Estamos acelerando mais e mais ou estamos em um movimento de inércia? Será
que já puxamos o freio, só não conseguimos parar ainda? A catástrofe nos
parará?
16. Fukushima = catástrofe nuclear e natural (procurar)
17. Apenas no século XX temos "a história como catástrofe" com Benjamin
18. Linguisticamente falando
19. Procurar Códigos de Leis dos países e procurar "catástrofe"
20. Catastrofismo é a perspectiva que interpreta a catástrofe como uma "revolução"
21. Catástrofe parece relacionar-se a ideia de revolução. Na forma de um evento
súbito que altera o cenário vigente
22. Ulrich Beck: "Risk society is a catastrophic society" (p. 24)
23. Débora diz que se esgotaram os conceitos da era axial para tratar o antropoceno
24. O antropoceno não marca só o fim da modernidade, mas também o esgotamento
dos recursos intelectuais e conceituais da era axial. Ou seja, é algo muito mais
profundo do que uma crise do passado recente. Os instrumentos que pensamos o
passado e o futuro permanecem presos a Era Axial.
25. Talvez a própria modernidade seja o início de uma nova era axial. Autor: Bela.
(Ulrich Beck)
26. Antropoceno é um conceito temporal e Gaia é um conceito espacial. Esses dois
conceitos representam uma tensão entre tempo e espaço. Catástrofe é um
conceito de temporal ou espacial?
27. A tecnologia é um reflexo do homem? Uma propriedade intrissecamente
humana
28. História universal negativa. Chakrabarty
29. O homem não é mais imortal como afirmava Kant. Com a era atômica, Anders
fala que agora existe um fim absoluto.
30. Metafisicamente o homem é capaz de fazer isso. Ou seja, Anders põe um
problema filosófico.
31. The past is never dead, is even past
32. A palavra "catástrofe" guarda em seu significado uma própria noção histórica do
que Karl Jaspers chama de Consciência Trágica. A utilização do termo em
determinados contextos explicita o que é considerado uma tragédia.
33. "The tragic looms before us as an event that shows the terrifying ~pects of
existence/ but an existence that is still human"
34. O tempo longo (kantiano) está em oposição ao tempo do agora da Revolução
(Benjamin). A catástrofe tem em essência o agora como dimensão do fenômeno,
portanto, uma noção de "revoluções" (a principio, da natureza)
35. Marlon Reis: O homem se auto-fez?
36. Escovar a história a contrapelo = ir do futuro para o passado
37. A questão do "planetário" (catástrofe planetária)
38. Uma história universal negativa (dipesh) se dá pela perspectiva da catástrofe
39. A história da vida, da humanidade e da geológica se cruzam no antropoceno
40. Homem prometeico e homem faustico
41. Critica ao Risk Society, ver: Hermínio Martins, p. 180, 185 e 188/ Crítica
também em Dupuy, p. 58
42. O colonialismo e o racismo do antropoceno se encontra no fato de que, muitas
das vezes, foram as escolhas das potências que causaram "the great aceleration"
43. A catástrofe é uma prospecção ou está na mão?
44. A produtividade do conceito de Antropoceno é sua capacidade performática de
mobilizar diferentes grupos e frentes. Sua capacidade sincronizadora (Helge
Jordheim)
45. Jaspers tem uma fenomenologia da transcendência
46. A sincronização do Relógio
47. A diferença entre ciência e técnica: a ciência é como a apoteóse do Homo faber
(Szerszynski, Arendt, p. 214), compreende os ciclos naturais, reconstruindo-os e
os contempla. A técnica sim pode ser prometeica ou faustica. A diferença entre o
fazer (work e labour) é que ele pode ser desfeito, entretanto, o agir não pode ser
desfeito. É contínuo e imprevisível.
48. A única maneira de lidar com a irreversibilidade do agir é pelo perdão. Pois ele
inicia um novo processo, de anistia, um recomeço. E a promessa é o único modo
de incorporar uma espécie de previsibilidade do imprevisível.
49. Na contemporaneidade há uma reorientação da ação, em medida que a ação vai
ocorrer agora não mais na relação homem-homem, mas pode ocorrer também na
relação homem-natureza. Isso marca o fim da era moderna, iniciando um
"mundo moderno" que rearranja a ação, reorientando-a para o contexto do
mundo da natureza. Lembrando que o agir é equivalente a iniciar processos.
50. A revolução industrial produziu um mundo mecanizado. O século XX produziu
o mundo tecnológico.
51. O que seria a natureza se incorporar o conceito de imprevisibilidade e
irreversibilidade?
52. Isso estaria dentro do que Jaspers enxerga como uma segunda Era Axial
53. Sobre o presente amplo e a catástrofe, ver Gumbrecht, depois de aprender com a
história, p. 469
54. Parece que é tópica retórica dos historiadores relacionarem imediatamente
qualquer perspectiva histórica do futuro com progresso. Entretanto, ao realizar
tal relação, castram-se as possibilidades de se enxergar experiências do tempo e
consciências históricas que se relacionem com o futuro de outras maneiras que
não na forma da utopia. Dessa forma, quando autores falam do "fim na crença
no progresso" acabam que simultaneamente descreverem "o fim do futuro"
enquanto categoria metahistórica e orientador da vida humana.
55. Ver também, Gumbrecht, estagnação, p. 65-66
56. O relógio mistura a linguagem do apocalipse, com a representação da 0h, e o
idioma nuclear com a contagem regressiva. (palavra do Bulletin, ver Statement
2017)
57. Os mortos nos assombram, afinal estamos vivos. Fevbre. Podemos pensar isso
no sentido de que a geração futura olha para o presente. Vivemos o presente com
os olhos do futuro na tentativa de não assassinar o futuro, ao contrário do que
Satre dizia (Hartog, p. 145-146)
58. A história da humanidade pode falar de capitaloceno, a história da espécie tem
de falar de Antropoceno
59. Quando se pensa no tempo "de tras para frente" para não cair no
antropocentrismo. Os animais também estão nesse ciclo?
60. Será que a catástrofe, da forma que ela se dá na contemporaneidade, nos tira a
responsabilidade perante o mal que vivenciamos?
61. "Nous sommes tous dans le cas d'Hiroshima. Car, en tant que travailleurs, nous
sommes tous condamnés à ne pas savoir ce que nous faisons. Et puisque
"voulant faire le bien", "nous faisons peut-être le mal" sans frein, nous sommes
tous d'une certaine façon devenus de "Mephistophélès négatifs"". Anders, p. 55
62. A questão da desproporcionalidade e da disparidade tecnológica, a relação entre
intenções e resultados.
63. "Catástrofe" é antônimo de "progresso". É uma "revolução negativa".
64. "Il est inutile de souligner que le mot de "catastrophe naturelle" qui doit
contribuer à effacer toute responsabilité morale est un pur flatus vocis. Car, c'est
précisément dans le fait que nous cherchions à donner à notre crime la forme
d'une catastrophe naturelle que consiste notre crime" (Anders, p, 76-77).
65. Parece uma antecipação da condição humana como agente geológico, e
justamente por alcançar essa patamar é que os atos humanos ganham um outro
caráter moral. Interessante notar que Anders utiliza a denominação do ser
humano como "catastrofe natural" para mostrar a condição humana
contemporânea.
66. Anders e Dupuy: ser apocaliptico para que estejam errado
67. A partir da guerra atômica, todos os dias será o tempo do fim e nunca mais
poderemos sair disso. O fim está(rá)(vá) no passado, no presente e no futuro.
68. Anders utiliza-se da metafisica cristã pra questão nuclear. Mas será esse o ideal?
Acredito que só na ciclicidade do tempo que podemos interpretar a catástrofe.
69. Ressaltar a diferença entre o fim da guerra nuclear e o fim ambiental. Um é um
evento singular e o outro um continuum de catástrofes. Em realidade, ambos os
fins são lentos. Ambos são finais causados pela alteração climática
70. Assim como a ética, a história sempre pressupôs que existisse a humanidade.
Mas quando essa humanidade se coloca em risco, o futuro precisa ser repensado.
71. Gaia pediu para seu filho, Cronos (Tempo), cometer um crime contra Uranus
72. O Catastrofismo pode estar dentro do que Chakrabarty chama de Planetary
Regime of Historicity
73. Uma tragédia é um espaço recortado com início, meio e fim. Uma catástrofe é a
parte final de uma tragédia. A ideia do catastrofismo é considerar que a parte
final da história humana pode terminar na forma de uma tragédia, com um
desfecho catastrófico. Portanto, a consciência histórica catastrofista por si só
pressupõe que o futuro está aberto, pois os eventos presentes ainda possuem
papel importante na plot dos tempos históricos. Entretanto, a ansiedade que
move as ações presentes repousa na antecipação desse futuro.
74. Diferentemente das políticas de reparação histórica, que voltam-se para o
presente, no catastrofismo, o que precisa ser "reparado" é o futuro
75. A condição contemporÂnea parece misturar aspectos das concepções trágicas de
Aristóteles e Hegel
76. Há uma conexão entre a sensibildiade trágica de Jaspers e Arendt
77. Hegel acreditava que tudo existia numa unidade (de forma épica), e foi dividida
por uma colisão trágica e novamente sintetizada de forma cômica. Talvez a
função da tragédia seja a unificação do mundo novamente, não da forma
transcendental hegeliana, mas em um reecontro da imanência (do homem com o
mundo, do individual e o universal).
78. O Coro das tragédias é Gaia?
79. É uma tragédia na consciência histórica, no sentido de que a reconciliação é,
talvez, uma reascensão da imanência.
80. Uma coisa que é preciso se atentar é que o passado ainda existe, apesar das
questões tratadas aqui apontarem para um futuro, especialmente a crise
climática, ainda há um local para o passado.
81. Dizer que o Antropoceno é presentista é a mesma coisa que dizer que a
consciência histórica ou o regime de historicidade é essencialmente
antropocêntrico, no sentido de que é a reflexão e prática voltada para o mundo.
Entretanto, obras como "O mundo sem nós"; "mad max"; entre outras distopias
não poderiam sequer serem pensadas. O fato é que os humanos são capazes de
enxergar um futuro sem eles próprios, justamente pelo cenário catastrófico do
Antropoceno. Para além disso, os cientistas tem dimensão de que o
Antropoceno, se pôr um fim a espécie humana, ele, enquanto época geológica,
não se finda. O Antropoceno ainda tem bons anos pela frente, com ou sem
humanos.
82. Na frase: termo Antropoceno afirma que as mudanças climáticas biogeofísicas
tem origens antropogênicas. Só está no presente porque ainda há humanos
alterando o Ssitema Terra. Entretanto, com observando do futuro, poderiamos
rescrevê-la da seguinte maneira: o termo Antropoceno afirma que as mudanças
climáticas tiveram origens antropogênicas.
83. Na modernidade, o futuro iluminava o passado, no sentido de que o passado só
fazia sentido em relação progressiva com o futuro. Na contemporaneidade, mais
especificamente na experiência do tempo catastrofista, o presente e, mais
profundamente, o futuro se relacionam com o passado no sentido de um
arrependimento de não ter agido para evitar a catástrofe.
84. O contrário de "futurismo' não seria "presentismo", mas "catastrofismo', visto
que o contrário de "progresso" não é "presente"/"agora", mas "catástrofe"
85. A dívida que temos não é com o passado, mas com o futuro, com os que ainda
não nasceram.
86. "Th e present has [. . .] extended both into the future and into the past. Into the
future, through the notions of precaution and responsibility, through
acknowledgement of the irrepairable and the irreversible, and through the
notions of heritage and debt, the latter being the concept which cements and
gives sense to the whole". (Hartog (apud, Rething historical time, pp. 29).
87. Isso pode ser contraposto com a própria filosofia ética que coloca o futuro como
centro de referência para a ação presente. E não a ação presente em relação ao
futuro. A noção de responsabilidade e precaução não parece demasiadamente
sofisticada.
88. O retorno da cronologia significa o adentramento da natureza, em certo sentido,
pois as escalas humanas não fazem sentidos para pensar a natureza como um
agente histórico, visto que os ritmos envolvidos nos processos são diferentes
(Ver Helge Jordheim, Rethink Historical)
89. É interessante notar que no Bulletin não parece haver um indicativo de que
devemos voltar ao mundo antes da Bomba Atômica, esse passado parece
fechado e irreparável. O que está em jogo é precisamente o futuro, do qual
depende de que as ações tomadas devam ser realizadas a fim de que mude a
tendência (exposta no relógio) presente.
90. Acreditar que nenhum grupo mais tenha uma experiência do tempo e/ou
consciência histórica em que o futuro tem papel ativo é deixar que apenas um
grupo moderno monopolize a própria ideia do Futuro como parte constituinte da
história.
91. Espaço de experiência e horizonte de expectativa e a relação com a ideia de
atualização e catástrofe
92. Catastrofe é um conceito fenomenológico
93. A ideia que se passa com as ameaças que assolam a humanidade é de que as
gerações futuras são nossas contempôraneas
94. A ideia que se passa com as ameaças que assolam a humanidade é de que as
gerações futuras são nossas contemporâneas. Fato que parece se relacionar com
o próprio conceito de "humanidade", um marcador que unificaria os humanos do
passado, presente e futuro. Entretanto, para a humanidade já morta não nos é
retórica ou praticamente, contemporânea, apenas a humanidade que é assolada
por uma catástrofe temporalmente reconhecida - o que nos remete às
proposições de Chakrabarty e Hannah Arendt, de "solidariedade negativa"
95. A ideia de Gaia é de dar ação a todos os agentes que existem na biosfera. Me
parece uma resposta ao conceito de "ambiente".
96. O tempo não é um local que é preenchido, um local em que a História habita. O
tempo surge de dentro pra fora. Ele é fruto das experiências históricas
97. Nós acreditamos em uma ideia de Natureza do século XVII, sendo que ela é
efetivamente anacrônica.
98. A manutenção do espaço é a manutenção do tempo no Antropoceno
99. Os dicionários mais antigos apontam para a catástrofe ligada a ideia de "fim",
entretanto, o catastrofismo geológico, indica, por sua vez, a ideia da catástrofe
como condição para a mudança (continuidade e recomeço). A própria ideia do
"pós-catastrofe" que vemos em alguns textos, já indica a possibiliade de que o
fim não é o fim.
100. A natureza como um Blind Watchmaker
101. Uma cama de gato não tem início, meio ou fim
102. Tragedy of the commons - ver
103. Donna Haraway, Staying with the trouble: pensar a modernidade como
sendo uma épica.
104. A incerteza do futuro é diferente da inexistência do futuro. Incerteza
aponta para a não-previsibilidade do futuro, no sentido de que as variáveis se
acumularam ao ponto dos prognósticos se tornarem cada vez mais difícil. A
inexistência do futuro implicaria na impossibilidade de conceber o futuro
enquanto categoria temporal fundamental da consciência histórica (e da
História) e estruturante das experiências do tempo.
105. Experiência e expectativa existem em uma "lógica linear", entendida
como categoria metahistórica produtora da história. Entretanto, a consciência
histórica é muito mais complexa do que isso: as categorias de passado, presente
e futuro na consciência histórica podem ser realocadas de distintas formas e
modos. O passado pode passar a frente do futuro, e o futuro pode reescrever o
passado, assim como a supressão completa de passado ou futuro pelo presente.
A experiência do tempo, por sua vez, pode estabelecer, estruturar e reestruturar a
consciência histórica através das contingências das quais os atores são reféns -
ou seja, o espaço de experiência e o horizonte de expectativa, em sua
linearidade, produzem formas de enxergar o tempo e a história que não são
necessariamente lineares.
106. PAra isso ser possível, temos de sair da lógica moderna de enxergar a
História como entidade viva e enxergá-la como um multiverso de possibilidades
107. A pergunta que tem de ser feita não é: "Por que o futuro deveria ter carga
máxima de expectativa?"
108. Catastrofe natural guarda uma especificade por significar uma ruptura na
continuidade dos ciclos da natureza. A natureza é vista como eterna, como
funcionando em ciclos autorregulatórios, mas que em determinados momentos
ocorre um evento específico que rompe, mesmo que brevemente, a ordem
vigente. Entretanto, algumas utilizações de "catástrofe" podem se relacionar com
a ideia de declínio, e apresentar-se como oposição a ideia de progresso. No caso,
podemos facilmente falar em que a "Catástrofe de Canudos impediu que uma
sociedade prosperasse" (ver Euclides da Cunha).
109. Catastrofe se torna um termo histórico especialmente quando surge o
Deep Time, com o advento da geologia? Vide o "catastrofismo" que alça a ideia
de catástrofe como uma forma de movimento histórico. Dessa forma, coloca-se
o tempo histórico profundo como marcado por catástrofes que alteram os rumos
então tomados. Até o cunho do catastrofismo, "catástrofe" só era utilizada como
desenlace, uma associação com os dramas trágicos que representavam uma face
significativa da existência humana.
110. Catástrofe como singular coletivo? A catástrofe. Assim como "a
catástrofe natural" "ambiental" "econômica" "moral" etc..
111. O conceito de catástrofe se impulsiona também para o momento pós-
catastrofe, no sentido de que toda catástrofe tem consequências na vida social,
política, econômica, etc.
112. No mundo Ocidental, Catástrofe só pode ser pensada como opositora a
progresso no século XX, pois são com os eventos de guerra que dão o golpe
final numa filosofia da história guiada em prol de um progresso ininterrupto. É
só quando a Primeira e a Segunda Guerra revelam a barbárie euroamericana que
catástrofe não pode mais ser pensada como uma etapa do desenvolvimento
temporal ascendente. Com Cuvier e seu catastrofismo, as catástrofes fazem parte
de um desenvolvimento histórico providencial que possui uma teleologia (e
teologia) em relação a espécie humana.
113. É interessante pensar que Apocalipse pode ser definido como catástrofe e
vice versa, pois Apocalipse implica no fim do mundo, logo, quando usamos
catástrofe como um conceito que abarca a experiência do fim do mundo
(secular) isso significa que catástrofe ganha uma dimensão demasiadamente
maior em relação as aplicações anteriores. Essa substituição do Apocalipse por
Catástrofe só pode ser significativa no mundo contemporâneo, visto que apenas
em 1945 o ser humano demonstrou que era capaz, ele mesmo, de ser o deus da
morte e ceifar a vida de todos na Terra.
114. A bomba nuclear é uma atualização da violência
115. Para além disso, não há racionalidade intrínseca na experiência trágica
contemporânea – diferentemente das tragédias gregas e burguesas em que a
figura de divindades que, mesmo não compreendidas em sua totalidade e
interesses. O trágico contemporâneo abarca a experiência de ser jogado frente a
uma força indiferente a ele, um universo que, com suas próprias leis e eventos
que não podem ser compreendidas em sua totalidade.

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