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O olhar sobre o feminino nas obras de Maria Pardos: Uma análise sobre
Gênero e Educação
2020
Resumo: A proposição deste artigo surge a partir de indagações acerca da função pedagógica
das artes visuais e do olhar sobre o feminino presente nelas. O objetivo é apresentar os
resultados de uma investigação que buscou analisar como as artes ajudaram a construir uma
visão sobre a mulher nos séculos XIX e XX, buscando tecer possíveis relações entre arte,
gênero e educação. Para isso, será realizado o recorte de três obras da autora Maria Pardos,
pertencentes ao Museu Mariano Procópio, localizado em Juiz de Fora, Minas Gerais. Os três
quadros constituem-se como cenas de interior pintados em óleo sobre tela, sendo eles
“Serenidade”, “Conciliadora” e “Primeira Separação”. O embasamento teórico foi definido a
partir de produções acadêmicas acerca das temáticas envolvidas e também pelas obras
disponibilizadas pelo acervo online do museu. A metodologia utilizada consiste em uma
análise qualitativa das obras, tanto individualmente como em conjunto. Dessa forma, os
resultados indicam que existem relações significativas entre as produções artísticas para se
pensar a questão de gênero dentro do campo educacional na atualidade.
Introdução
Depois dessa temporada no Rio de Janeiro, o nome de Maria Pardos desaparece nos
anúncios da Companhia Italiana feitos através dos periódicos. Ao que parece, fixou
residência no Rio de Janeiro, provavelmente pelo envolvimento amoroso com o
colecionador e fundador do Museu Mariano Procópio, Alfredo Ferreira Lage.
Em 1928, uma correspondência de Alfredo para Manoel da Costa deixa uma pista
do início do romance. [...] A carta foi escrita em 1928 e é um registro do tempo de
duração do relacionamento do casal: 37 anos. O ano de 1891 é o início do romance,
a carta sustenta ainda a suposição de que se conheceram no espaço do teatro aliado
ao fato de seu nome não aparecer mais atrelado às companhias teatrais deste
período em diante. Reforça assim a hipótese de que, devido ao relacionamento com
Alfredo Lage, Maria Pardos tenha se interessado por uma trajetória como pintora,
mudando seu espaço de atuação artística dos palcos para os salões. (FASOLATO,
2014, p. 28, grifo nosso)
.
Fonte: Acervo online do Museu Mariano Procópio. Disponível em:
<https://mapro.inwebonline.net/ficha.aspx?t=o&id=10884>
Quadro 2 - Conciliadora.
Primeira Separação, a terceira e última obra que compõe esta análise, possui
dimensões de 121 cm de altura por 80 cm de largura (com moldura) e somente foi exposta em
1918 na EGBA e em 1922 na inauguração da Galeria MMP. Diferentemente das demais, sua
peculiaridade consiste em representar um sentimento entre mãe e filha e, por conseguinte,
uma mudança na perspectiva. Ela incita algumas indagações como “[...] Será uma lembrança
da artista? Para onde a filha está indo? Casamento, trabalho ou estudo? A artista aborda
questões concernentes ao início das mudanças de comportamento da mulher?” (FASOLATO,
2020, p. 63).
Quadro 3 - Primeira Separação.
As histórias contadas por estas obras podem não parecer latentes se analisadas
isoladamente, mas, em conjunto, é possível estabelecer relações de gênero e nas mudanças de
perspectivas ao se pensar o lugar da mulher para a sociedade do século XX. De fato, todas as
obras abordam um cenário familiar e intimista. São cenas cotidianas que expressam um
contexto de determinado espaço-tempo. Constituem-se, assim, como obras retratadas a partir
do viés feminino, o de Maria Pardos, em um cenário artístico cujas visões masculinas eram
predominantes. Por si só, este aspecto já nos revela questões eminentes de sua autoria e que,
como resultado, revelam traços presentes em suas obras.
Analisar o contexto de produção de uma obra e quem a produziu é fator
imprescindível ao traçarmos uma aproximação com o campo do Ensino de História. Com a
redemocratização do país, em 1985, se tornou cada vez mais emergente, principalmente entre
os programas de pós-graduação das Universidades, dar protagonismo às vozes até então
silenciadas. Os estudos de gênero possibilitam novas interpretações que quebram o
paradigma de uma história única. Assim, os estudos em torno desta temática podem
contribuir para novas interpretações dentro do campo educacional a partir do uso imagético.
Quando abrimos o livro didático vemos que as imagens atualmente dominam a
ampla maioria das páginas, fotos, desenhos, pinturas, enfim, imagens de diversos
tipos. Estas, muitas vezes não são utilizadas pelos professores, fazendo com que por
não aprenderem a “ler” essas imagens na escola –local que teoricamente recebem a
preparação para a vida –não irão “lê-las” completamente. (COELHO, 2012, p. 192)
Se nas primeiras duas obras a artista utiliza dos padrões de gênero ao qual a mesma
vivenciava, em a Primeira Separação, a terceira obra escolhida, já nos deparamos com um
cenário em que duas mulheres, possivelmente mãe e filha - esta com uma trouxa de roupas na
mão - ocupam o centro da imagem em uma cena de despedida. O viés apresentado por esta
obra se sobressai perante as demais ao possibilitar novas interpretações sobre a local ocupado
pela mulher na sociedade. O lugar de uma crítica baseada no clichê feminino dá lugar à uma
individualidade feminina que almeja novos caminhos para si e, como podemos observar, sem
a presença da figura masculina ao qual identificamos estar atrelada em Serenidade e
Conciliadora.
Considerações Finais