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SUMÁRIO:

CARTA AO ALUNO ........................................................................................... 3


INTRODUÇÃO ................................................................................................... 4
UNIDADE 1 - HISTÓRIA DO PREVENCIONISMO NO BRASIL E NO MUNDO
........................................................................................................................... 6
1.1 - O instinto humano na base da proteção e sobrevivência. ........... 6
1.2 - História das Ideias Prevencionistas. .............................................. 9
1.3 – O Prevencionismo Pós Revolução Industrial .................................. 14
1.3.1 – Pré-condições da Revolução Industrial. ......................................... 14
1.3.2 – As cidades, os trabalhadores e as indústrias do século XVIII........ 18
1.3 – As Primeiras medidas e leis prevencionistas. ............................. 23
1.4 – O Prevencionismo no Brasil ............................................................. 32
UNIDADE 2 – OS RISCOS .............................................................................. 42
...................................................................................................................... 46
2.2 - Identificação de Risco – Mapa de Risco ........................................... 47
2.3 - Indicadores de Risco .......................................................................... 50
2.4 - Técnicas de Identificação de Perigo ................................................. 52
2.5 - Técnicas de Análise de Riscos .......................................................... 54
2.6 - Técnicas de Avaliação de Riscos ...................................................... 57
RESUMO: ........................................................................................................ 64
LEITURA COMPLEMENTAR: ......................................................................... 65
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA..................................................................... 66
CARTA AO ALUNO

Caro(a) aluno(a),
Seja bem-vindo a Disciplina Histórico do Pensamento Prevencionista!

Essa disciplina se propõe a fazer uma revisão da história do pensamento


PREVENCIONISTA no mundo e no Brasil, assim como discutir, analisar e rever
ações, definições, normas e terminologias ligados aos Riscos Químicos.
Considera que aspectos como segurança no ambiente de trabalho, evolução
tecnológica da indústria desde os seus primeiros dias, as leis de segurança, os
movimentos de trabalhadores e as organizações internacionais de trabalho são
ferramentas e instituições indispensáveis aos profissionais que atuam ou
pretendem atuar na área de gerenciamento de risco, gerenciamento de riscos na
indústria química e segurança ambiental.

Esses aspectos serão expostos, analisados e aprofundados na disciplina


Histórico do Pensamento Prevencionista.
INTRODUÇÃO

O trabalho está na base da organização social e espacial desde os primeiros momentos da


humanidade. Em tempos antigos, o crecimento da população foi possibilitado pelo trabalho
no mundo rural que produziu excedentes agrícolas e permitiu que uma parcela da população
se libertasse da necessidade de gerar cotidianamente o seu próprio alimento. Esse avanço
viabilizou o surgimento dos primeiros núcleos urbanos e das primeiras vilas e cidades.
Em tempos mais recentes, o advento da Revolução Industrial, ocorrida na Inglaterra na
segunda metade do século XVIII, ampliou a oferta de bens e a geração de riqueza,
inaugurando uma nova fase na história da humanidade, na qual o trabalho industrial ocupa,
sem dúvida alguma, um lugar central.
Contudo, quando falamos em Revolução Industrial, não podemos esquecer de uma das
suas características mais marcante: as péssimas condições de trabalho nas fábricas inglesas.
Devido ao grande número de pessoas recém chegadas do campo que procuravam emprego
e ao alto índice de desempregados, a força de trabalho era extremanete explorada, com
baixos salários, longas jornadas de trabalho e nenhum amparo social. As condições de
segurança e salubridade das fábricas eram péssimos. Em quase todas a ventilação e a e
iluminação eram inadequadas o que gerava um alto índice de acidentes por intoxicação e por
dificuldade de manuseio das máquinas. As explosões de caldeiras e a multilação de membros
eram frequentes. Alguns estudos da época citam a existência de legiões de pessoas
incapacitadas para o trabalho.
Contudo, mesmo com esse quadro de riscos de acidentes, não existia nenhuma
preocupação com a prevenção desses. As medidas que exitiam não eram pensadas para
previnir os acidentes e sim para reparar os danos causados à saúde e à integridade física do
trabalhador.
Somente a partir das primeiras décadas do século XIX, medidas de prevenção de acidentes
começaram a ser pensadas e desenvolvidas, sobretudo na Inglaterra. Essa preocupação
culminou com a publicação em 1833 da “Factory Act” (Lei da Fábrica), a primeira legislação
que visava a proteção do trabalhador industrial. Mas, atualmente, quase todas as nações do
mundo possuem uma legislação específica de proteção do trabalhador e de gestão de riscos
industriais.
Sabemos assim, que ao mesmo tempo que o trabalho pode proporcionar qualidade de vida,
estruturação social e desenvolvimento econômico, também gera riscos a integridade física do
trabalhador, riscos ao meio ambiente e a sociedade em sua totalidade. Por isso, a prevenção
de acidentes está no centro da preocupação dos sindicatos de trabalhadores, dos empresários
e do Estado.
Por esses motivos, torna-se imperativo o desenvolvimento de tecnologias e metodologias
de gestão de risco no ambiente industrial que sejam preventivas a todos os tipos de acidentes.
Dessa forma, a prevenção de acidentes industriais torna-se um dos pilares básicos de
sustentação do processo produtivo. A segurança do trabalho e a gestão de riscos sociais,
químicos e ambientais são o seu carro-chefe.
UNIDADE 1 - HISTÓRIA DO PREVENCIONISMO NO BRASIL E NO MUNDO

1.1 - O instinto humano na base da proteção e sobrevivência.

Hoje, podemos tranquilamente afirmar que a história do prevencionismo se


confude com a história da evolução e da luta pela sobrevivência da espécie
humana. É inegável que o principal instinto do homem é o instinto de
sobrevivência e, consequentemente, o de preservação da espécie.

Estudos recentes da neurociência mostram que os instintos do homem,


sobretudo o de sobreviência, são fruto de um processo de evolução que se deu
através de reações de proteção desenvolvidas desde os primeiros ancestrais do
homem moderno. Essas estão gravadas até hoje no nosso código genético como
um instinto de preservação. Esse instinto de preservação dos homens pré
históricos deu origem a uma série de estratégias de prevenção e de adaptação
ao meio natural conduzindo a busca de estratégias e de ferramentas que
possibilitassem maior eficiência com menor risco nas atividades cotidianas
necessárias para a sobrevivência. Para Scarpim et Al (2010) : « as
necessidades de sobrevivência levaram o homem primitivo a evoluir e descobrir
que uma pedra poderia ser afiada até ficar pontiaguda e transformar-se numa
lança, machado ou outro instrumento que traria maior eficiência às suas
atividades. Possivelmente, e inconscientemente, o homem pré-histórico
começava a aplicar a ergonomia”. Ou seja, o homem primitivo buscava minimizar
o esforço e adaptar ferramentas que fossem mais eficientes e minimizassem o
risco, o trabalho e, dessa forma, prevenissem doenças e acidentes.
Contudo, de forma diferente, o aprendizado está baseado em experiências
adquiridas ao longo da vida. O aprendizado de determinado comportamento ou
conteúdo é condicionado por experiências vividas, por fatores neurológicos,
educacionais, tecnológicos, culturais e ambientais. Mas, todas essas
experiências estão impregnadas do instinto de preservação do homem. O
aprendizado nos conduz ao conhecimento tanto de conteúdos quanto de
processos que racionalmente estão na base do prevencionismo moderno.
Dessa forma, podemos afirmar sem dúvida que o processo evolutivo do homem
exerce, tanto no instinto quanto no conhecimento, uma força poderosa.

Por exemplo, para garantir a sobrevivência da espécie humana e o crescimento


do número de indivíduos o homem, há milhões de anos, se preveniu, através de
inúmeros artifícios e estratégias, unindo instinto e conhecimento, para garantir a
sua proteção e a possibilidade de sobrevivência. Há paleontólogos que afirmam
que há fortes evidências de que alguns grupos de homens pré históricos usavam
óleos vegetais para evitar picadas de insetos e répteis, que poderiam ser fatais.
A necessidade de proteção contra insetos tem uma forte base de instinto, mas a
utilização e o conhecimento dos óleos vegetais faz parte do conhecimento
desenvolvido pelos homens pré históricos.
Homens Pré Históricos Vivendo e se Protegendo em Cavernas
fonte – SABINO, Rafaela (2016).

Da mesma forma, há aproximadamente quatro milhões de anos os ancestrais


do homem moderno tiveram que se adaptar e sobreviver nas savanas africanas.
Era imperativo que se protegessem de predadores ao mesmo tempo que fossem
em busca da caça e da pesca. Nesse contexto, a busca pela proteção se
transformou em um objetivo prioritário. A descoberta das cavernas como lugar
de proteção é uma das formas mais antigas e conhecidas de prevenção. Ou seja,
o homem pré histórico utilizava as cavernas como local de moradia, de abrigo
contra variações climáticas e como proteção de predadores. Da mesma forma,
mantinham fogueiras acesas para evitar a entrada de outros animais. Esse
comportamento prevencionista está no instinto de sobrevivência da espécie
humana até hoje.

É claro que não mais vivemos em cavernas e não utizamos o fogo como forma
de afastar animais predadores, mas a prevenção de riscos que possam afetar a
integridade física em ambientes de trabalho ou a sobrevivência de grupos
humanos é uma busca constante que combina os instintos naturais e o
conhecimento adquirido.

Atualmente, nas sociedades pós industriais a criação de uma vasta legislação


de proteção aos trabalhadores, assim como o desenvolvimento de tecnologias
modernas de prevenção de riscos, sobretudo os químicos, se fez a partir do
conhecimento dos impactos que os acidentes causam na sociedade e das
possibilidades de preveni-los. Mas, o prevencionismo tem uma longa história
advinda do instinto, da observação, da análise e do conhecimento, que veremos
a seguir.

1.2 - História das Ideias Prevencionistas.

A observação sistematizada e a correlação entre problemas de saúde e a


atividade profissional conduziu filósofos, médicos e pensadores a fazerem as
primeiras análises relacionados ao mundo do trabalho e a necessidade de
prevenção de acidentes e de doenças.

Dessa forma, os equipamentos que facilitassem o trabalho foram buscados


desde a antiguidade. Entre 4.000 a.C e 3500 a.C. foram desenvolvidos no Egito,
especificamente na Suméria, os primeiros carros tiro para minimizar o esforço
sobre o físico dos escravos.

Carros de Tiro – Egito antigo

Fonte: http://dossierhigieneindustrial.blogspot.com.br/p/historia.html

Um dos escritos mais antigos que se tem notícia na humanidade é o Código de


Hammurabi. Hammurabi foi o rei da Babilônia que escreveu, por volta do ano de
1750 a.C., um conjunto de leis objetivando uniformizar as normas e as regras em
diferentes setores e por todo o território da Assíria, Judéia e Grécia. O Código
de Hammurabi, dentre outros muitos assuntos, tratava diretamente do trabalho.
Por causa disso, o Rei Hammurabi foi considerado o precursor do salário
mínimo, o inventor das leis trabalhistas e o regulador das categorias
profissionais, temas presentes no Código de Hammurabi. Uma das partes mais
importantes do Código versa sobre a produção uniformizada, o tratamento da
mão de obra, o seqüenciamento correto das tarefas laborais, o controle de tempo
e o salário mínimo de cada atividade.
No topo do monumento,
há um alto relevo de
Hamurabi recebendo de
Shamash, deus dos
oráculos, a insígnia do
reinado e da justiça do
rei Mardukas.

Abaixo, estão gravadas


em 21 colunas, as 282
cláusulas do Código de
Hammurabi.

Código de Hammurabi
Foto: Museu do Louvre.

Sobre o mundo do trabalho, Scarpim et Al (2010) destaca que o próprio trabalho


tem consequência para a saúde do trabalhador. Assim, sabemos que o trabalho
já era objeto de estudo e uma preocupação das sociedades desde a antiguidade.
A autora destaca que desde que o homem se debruçou na construção das
primeiras ferramentas de trabalho houve, sem dúvida alguma, acidentes na
fabricação da mesma e problemas de saúde. Ou seja, “as atividades laborais
trazem consequências e, portanto, as doenças passaram a afetar o homem
desde os primórdios da humanidade. Conforme Silva (2006), na Antiguidade já
eram conhecidos os problemas na coluna nos carregadores de pedra, as cólicas
pelo chumbo nos mineiros e a intoxicação pelo mercúrio” (página 28). Nesse
período, merece destaque um papiro egípcio de 2500 a.C. que relata um caso
de lombalgia aguda de um trabalhador envolvido na construção das pirâmides.

Ainda na antiguidade, outros problemas de saúde relacionadas às condições de


trabalho foram relatas por diversos filósofos, pensadores e médicos. Dentre
esses podemos destacar:

 Hipócrates (460-377 a.C.) – Considerado o pai da medicina, relacionou a


mineração do chumbo aos problemas de saúde dos trabalhadores,
doença que ficou conhecida como Saturnismo.
 Platão (427-347 a.C.) – escreveu sobre as deformidades ósseas e
musculares que determinados trabalhadores, principalmente os artesãos,
desenvolviam devidos aos seus ofícios.
 Aristóteles (384-322 a.C.) – Também se interessou pelos trabalhadores
das minas de chumbo e estudou como evitar o saturnismo. Escreveu
sobre os problemas musculares desenvolvidos pelos gladiadores gregos.
 Lucrécio (99-55 a.C.) – Descreveu as péssimas condições de trabalho dos
mineradores da cidade italiana de Suracusa, onde as minas possuíam
túneis com 1 metro de altura por 60 cm de largura.
 Plínio (23-79) – Foi, sem dúvida, um dos maiores erudidos do Império
Romano. Observou a forma como os escravos se preveniam da inalação
de poeiras tóxicas contendo, sobretudo, zinco, enxofre e chumbo, usando
máscaras de borracha, panos ou algum outro tipo de membrana. Pode
ser considerado o primeiro escrito na área de equipamentos e segurança
do trabalho.
 Galeno (129-2017) – Depois de Hipócrates foi o maior médico do período
romano. Em disputadas conferência com seus pares em Roma
demonstrou preocupação com o Saturnismo nos trabalhadores das
minas.
 Avicena (980-1037) – Também se debruça sobre o Saturnismo e indica
que a causa das cólicas entre pintores era a utilização de tintas à base de
chumbo.
 Ulrich Ellembog (1440-1499) – Em 1473 edita uma série de publicações
sobre as enfermidades no ambiente laboral e recomenda algumas
medidas de higiene do trabalho.
 Georg Bauer (1494-1555) – Autor do livro chamado “De Re Metallica”,
publicado em meados do século XVI, relata os problemas de saúde
decorrentes da mineração e da fundição de prata e do ouro. Identifica uma
doença chamada de “asma dos mineiros”. Atualmente, é de
conhecimento que essa enfermidade é a silicose, doença pulmonar
caracterizada pela formação de tecido cicatricial, causada pela inalação
de poeira de sílica, por anos seguidos.
 Paracelso (1494-1541): médico, alquimista, físico e astrólogo, em seu
livro aborda as relações entre trabalho e doença. escreveu o livro « As
Enfermidades dos Mineiros », considerado o primeiro tratado de medicina
do trabalho. Nesse livro, identificou pela primeira vez como causa da
silicose a aspiração do pó de silício e com destaque a intoxicação pelo
mercúrio.
 Bernardino Ramazzini (1633-1714) – É considerado o pai da medicina do
trabalho. Nas suas consultas médicas a primeira pergunta feita aos
pacientes era : Qual é a sua ocupação ? Seu maior escrito foi De morbis
artificum diatriba (doenças do trabalho), onde correlaciona as profissões
aos seus riscos específicos. Seus escritos abrem portas para o
aprofundamento dos estudos na área das doenças ocupacionais. É um
dos primeiros a relacionar a qualidade de vida da população com o estado
de saúde. Dessa forma, se debruça em estudar a relação existente entre
o ambiente de trabalho a saúde e a ocupação profissional.

1.3 – O Prevencionismo Pós Revolução Industrial

1.3.1 – Pré-condições da Revolução Industrial.

“Desta vala imunda a maior corrente da Indústria


humana flui para fertilizar o mundo todo. Deste esgoto
imundo jorra o ouro puro. Aqui a humanidade atinge
o seu mais completo desenvolvimento e a sua maior
brutalidade, aqui a civilização faz milagres e o homem
civilizado torna-se quase um selvagem.
(TOQUEVILLE, A.de. 1958, página 107)

Para entendermos o processo de evolução do pensamento prevencionista


precisamos conhecer o processo de industrialização e os motivos que fizeram
com que o prevencionismo se constituísse como um dos pilares do
gerenciamento de risco e da segurança industrial.

Sem sombra de dúvida a Revolução Industrial foi um dos adventos mais


importantes da história da humanidade, provocou drásticas mudanças nos meios
de produção, fez surgir um novo modelo econômico, o Sistema Capitalista, e
transformou o modo de viver de milhões de pessoas ao redor do planeta. Para
Hobsbawm (1997), “sob qualquer aspecto, este foi provavelmente o mais
importante acontecimento na história do mundo, pelo menos desde a invenção
da agricultura e das cidades. E foi iniciado pela Grã-Bretanha.” (Página 44)

A partir do advento da Revolução Industrial, os resquícios da Idade Média,


sobretudo o modelo feudal e a sua principal forma de geração de riqueza, a
agricultura, começam a perder o seu papel de setor econômico mais importante
das nações. De forma lenta, porém constante e com muito dinamismo, o modelo
industrial começa a se impor até que a Revolução Industrial propriamente eclode.
Sobre esse aspecto Hobsbawn (1997) afirma que “a partir da metade do século
XVIII, o processo de acumulação de velocidade para a partida é tão nítido que
historiadores mais velhos tenderam a datar a revolução industrial de 1760. Mas
uma investigação cuidadosa levou a maioria dos estudiosos a localizar como
decisiva a década de 1780 e não a de 1760, pois então que, até onde se pode
distinguir, todos os índices estatísticos relevantes deram uma guinada repentina,
brusca e quase vertical para a “partida”. A economia, por assim dizer voava.”
(página 44)

É comum lermos na literatura que a Revolução Industrial aconteceu


primeiramente na Inglaterra devido à grande quantidade de ferro e de carvão
mineral. Mas, somente esses dois aspectos seriam relevantes para que um único
país despontasse na liderança da Revolução Industrial?
Na verdade, não. Outros aspectos de cunho político tiveram tanta relevância
quanto a riqueza em recursos minerais. Dentre esses destacam-se a
organização política da Inglaterra e a organização da agricultura, que já estava
voltada para o mercado.
Desde a Revolução Gloriosa (1660-1688) os ingleses já tinham tirado o poder
ilimitado das mãos do Rei, acabando com o sistema absolutista e fazendo com
que os valores da burguesia fossem elevados ao posto de valores societários.
Dessa forma, “o lucro privado e o desenvolvimento econômico tinham sido
aceitos como os supremos objetivos da política governamental.” (HOBSBAWM,
1997, pg. 47) Da mesma forma, no campo, o Decreto das Cercas (Enclosure
Acts) acabou de vez com as relações de campesinato e com os resquícios das
terras comuns, utilizadas coletivamente e com a produção voltada para a
subsistência. Dessa forma, a maioria dos produtores rurais já estava
direcionando as suas produções para o mercado. Ou seja, tanto o governo
inglês, através do seu Parlamento, quanto o sistema produtivo já estava voltado
para a acumulação de riquezas nas mãos dos burgueses ingleses. Mas e quanto
aos trabalhadores que irão de fato ser empregados nas indústrias? De onde eles
surgiram e qual era a condição dessa mão de obra?

O Decreto das Cercas consistiu na transformação das terras comuns, ou seja,


as terras que eram comumente cultivadas tantos pelos senhores quanto pelos
servos, em terras privadas. Ao lado da expulsão e proibição de cultivo das terras
comuns pelos servos, o governo Inglês também permitiu que os grandes
proprietários ocupassem e anexassem as terras de pequenos e médios
fazendeiros que produziam apenas para a própria subsistência apenas. Tanto
as terras comuns quanto as ocupadas dos pequenos produtores foram
convertidas em pasto para ovelhas, pois a lã era um dos principais produtos da
Inglaterra na segunda metade do século XVIII, ou em produtoras de Gêneros
alimentícios voltados para o mercado urbano. Com o desaparecimento das
terras comunais houve o surgimento de uma rica classe de investidores no
campo, que tinham como objetivo conduzir a economia britânica rumo ao
capitalismo agrário.
Figura - Enclosures da Inglaterra do século XVIII.
Fonte: Olson-Raymer, 2014.

Devido a essa realidade, os servos e os pequenos fazendeiros que queriam


permanecer na Inglaterra não tinham alternativa diferente além de migrar para
os núcleos urbanos ingleses. Dessa forma, tanto os pequenos agricultores que
produziam para a subsistência quanto os antigos servos da terra se
transformavam em mão-de-obra barata nas cidades inglesas. Surgia, dessa
forma, o proletariado urbano, que iria se transformar na força de trabalho das
indústrias inglesas.

Quer saber mais?


FERGUSON. Niall. Ascensão do Dinheiro – A
História Financeira do Mundo. Disponível
integralmente em
http://docslide.com.br/education/a-
ascensao-do-dinheiro-niall-ferguson.html
1.3.2 – As cidades, os trabalhadores e as indústrias do século XVIII.

O cercamento dos campos teve como consequência primeira a migração do


homem do campo para as cidades em busca de melhores condições de vida, o
que pode ser traduzido como a busca de trabalho. Antes mesmo da invenção da
máquina à vapor, a Inglaterra já possuía um grande número de fábricas, na sua
grande maioria de tecido, que absorvia parte da população chegada do campo.
Porém, na primeira metade do século XVIII a fiação da lã e do algodão ainda era
realizada de forma artesanal. Somente após a invenção da máquina de fiar
conhecida como Spinning Jenny por James Hargreaves, em 1764, que foi
sucedida pela invenção cada vez mais rápida de teares mecânicos que
aumentavam a produção e a qualidade dos fios, foi que a produção de textil
aumentou e começou o lento processo de deslocamento dos artesãos para
galpões situados na beira dos rios, já que a força motriz dos primeiros teares
fabris era a hidráulica.

Figura – Tear Mecânico dos primeiros momentos da Revolução Industrial


Com a constante chegada de pessoas vindas do campo, o excesso de mão-de-
obra disponível nas cidades se acentuou bastante, possibilitando a formação de
um grande exército de mão-de-obra de reserva para à nascente indústria têxtil
inglesa. Com a grande oferta de mão-de-obra, os salários eram cada vez
menores o que possibilitou um grande acúmulo de capital na mão da burguesia
inglesa. A combinação dos fatores mão-de-obra, capital acumulado, e avanços
tecnológicos, sobretudo a invenção da máquina à vapor por James Watts em
1763, conduziu inexoravelmente ao fenômeno conhecido como Revolução
Industrial.

Contudo, as indústrias das cidades inglesas da segunda metade do século XVIII


não absorviam o grande número de trabalhadores que migravam do campo para
as cidades fazendo com que surgisse um grande número de desempregados
urbanos. Essa grande oferta de mão-de-obra fez com que os salários fossem
constantemente diminuídos. O salário da grande maioria dos trabalhadores dava
minimamente para se alimentar, de forma precária, e sobreviver.
As cidades também não possuíam infraestrutura suficiente para receber esse
contingente de trabalhadores que migravam do campo. Nessas, os opérarios
pobres habitavam em condições sub-humanas, com grande lotação, não raras
vezes destituídas de luz, água e de esgoto. A ocorrência de hepidemias de
cólera, tifo e de tuberculose eram freqüentes e, junto com as precárias condições
de trabalho, faziam com que a expectativa de vida da Inglaterra da segunda
metadade do século XVIII fosse de apenas 41 anos. (THOMPSON, 1987)
As condições de trabalho nas nascentes indústrias também não eram
diferentes. Até o ano de 1850 a jornada de trabalho nas fábricas inglesas quase
nunca era menor do que 12 horas diárias, mas, não raras vezes, chegava a 16
horas diárias de trabalho. Esse quadro era piorado pelas precárias e perigosas
instalações das fábricas. Essas, na sua grande maioria, eram insalubres, sem
ventilação ou iluminação adequada. O maquinário não tinha qualquer tipo de
proteção contra os acidentes, que eram bastante frequentes, e causavam
grandes danos à saúde física do opérario como as multilações e, também os
óbitos.

Para piorar a situação dos homens recém chegados às cidades e que buscavam
um emprego nas indústrias, havia, sobretudo nas indústrias têxteis, a preferência
pelo trabalho feminino e também infantil. Os industriais davam preferência as
mulheres pois essas eram mais submissas e se conformavam com as condições
de trabalho insalubres mais facilmente. Além disso, os salários pagos às
mulheres era menor do que os pagos aos homens, o que explicava,
verdadeiramente, a preferência pelo trabalho feminino.

Jovens e crianças multiladas em acidentes com maquinário na Primeira


Revolução Industrial

Fonte : Araújo (2012)

Nesse mesmo cenário de total ausência de condições mínimas de segurança e


respeito ao trabalhador encontravam-se também as crianças. Pode-se afirmar,
sem medo de errar, que o trabalho infantil teve um papel fundamental no
desenvolvimento fabril da Primeira Revolução Industrial.
As condições de vida nas cidades iglesas eram tão precárias que para as
famílias mais pobres a sobrevivência dependia do trabalho de todos, até mesmo
de crianças entre 5 e 10 anos. Como consequência, no ano de 1840 apenas
metade das crianças londrinas tinham recebido algum tipo de escolaridade, que
na sua grande maioria era apenas um dia de escola por semana, ou a ida as
Escolas Dominicais religiosas. (HUMPHRIES, 2016). As crianças, desde os
primeiros momentos da Revolução Industrial eram empregadas para trabalhar
em minas de carvão e de ferro nas quais as galerias eram tão pequenas e
estreitas que não permitiam que homens adultos entrassem. Esses pequenos
mineiros eram conhecidos como « carregadores » e puxavam pesados carrinhos
de minérios por muitos quilômetros e por exaustivas horas.

Trabalho Infantil em uma Mina de Carvão Inglesa.

Com o crescimento das indústrias, sobretudo as têxteis, várias ocupações


passaram a ser feitas por crianças. Essas eram empregadas no
desembaraçamento da lã, tinham que seguir o movimento do tear recolhendo a
matéria-prima que caia no chão e também operavam máquinas, que de tão
grandes e pesadas não deveriam ser operadas por crianças. A necessidade de
manter a atenção no movimento regular das máquinas também era um outro
grande desafio para as crianças e que as levava à fadiga física e mental. As
crianças que adormeciam era punidas por seus próprios pais e também pelos
fiscais das fábricas. Como as máquinas não possuiam nenhuma proteção
qualquer erro significava grande risco a integridade física das crianças. Contudo,
as máquinas não eram projetadas para serem operadas por criancas e eram
muito pesadas. Em poucos anos de operação as crianças começavam a
presentar problemas físicos, sobretudo a má formação dos membros inferiores,
devido ao grande esforço repetitivo de operação do maquinário dos primeiros
anos da Revolução industrial. Esse quadro se repetia nos adultos, que com o
passar do tempo também apresentavam deformações físicas graves.

Trabalho Infantil na Indústria Têxtil Inglesa Durante a Primeira Revolução


Industrial
De uma forma em geral, tanto para os homens quanto para as mulheres e as
crianças, a longa jornada de trabalho combinada com a falta de segurança das
indústrias e a inadequação anatômica do maquinário fazia com que a saúde dos
trabalhadores estivesse constantemente em risco. Como anteriormente citado,
além de não existirem medidas prevencionistas de acidentes, também não
existia nenhum tipo de lei ou seguridade social para os trabalhadores. Dessa
forma, esses viviam em uma situação de extrema insegurança. Se as metas de
produtividade individuais não fossem alcançadas o trabalhador poderia ser
demitido sem problemas para o empregador e, sem dúvida alguma, teria grandes
dificuldades em conseguir uma nova colocação, dada a concorrência com os
trabalhadores recém chegados às cidades, com as mulheres e também com o
trabalho infantil.

1.3 – As Primeiras medidas e leis prevencionistas.


Como tratamos anteriormente, tanto o trabalho como o instinto de preservação
estão na base da evolução humana. Porém, a preocupação com a
sistematização de técnicas, leis e normas de segurança surgiu muitos séculos
depois. Até a primeira década do século XIX não existia a preocupação com a
prevenção de acidentes e com a saúde dos trabalhadores, como vimos no item
anterior.

A primeira vez que as condições de trabalho e dos trabalhadores surgiu como


uma preocupação para os líderes da maior potencia industrial da época foi em
1802. Nesse ano um rico industrial inglês chamado Robert Peel apresentou um
Projeto de Lei ao Parlamento visando criar leis que freassem a exploração
irrestrita do trabalho humano. Essa lei ficou conhecida como a Lei de Saúde
Moral dos Aprendizes, e foi aprovada no próprio ano de 1802, se constintuindo
como a primeira lei de proteção aos trabalhadores criada pós-Revolução
Industrial. Essa lei estabeleceu o limite de 12 horas de trabalho diárias, proibia o
trabalho noturno às crianças, obrigava os empregados a lavar as paredes das
fábricas duas vezes por ano. Em relação as instalações passou a ser obrigatória
a existência de ventilação nas fábricas.

Contudo, a Lei de Saúde Moral dos Aprendizes era restrita a esse grupo de
trabalhadores, ou seja, aos Aprendizes. As crianças e os jovens trabalhadores
que não estavam na condição de aprendizes não estavam protegidos por essa
lei. A ideia era que como os aprendizes já estavam sob disposições legais, e
possuíam um contrato legal, era permitido que suas horas de trabalho fossem
reguladas.

A lei de 1802 teve poucos impactos na prevenção de acidentes e na proteção da


saúde do trabalhador. Relatos da época falam que as cidades industriais
inglesas pareciam um campo de guerra dado grande número de aleijados que
perambulavam pelas ruas em busca de alguma ocupação que lhes garantisse
receber algum salário e sobreviver. Dentro desse contexto, treze anos mais
tarde, em 1815, o mesmo Sir Robert Peel voltou ao Parlamento para afirmar que
a Lei de Saúde Moral dos Aprendizes tinha se tornada inútil, sobretudo porque
os salários dos adultos era tão baixo que os pais viam no trabalho das crianças
uma forma delas mesmas sobreviverem. Ou seja, o mesmo trabalho exaustivo
que o Parlamento Inglês buscou controlar no caso dos aprendizes era
desenvolvido por milhares de crianças pobres por todo o país (HUMPHRIES,
2016). A falta de eficácia da lei de 1802 aliada ao crescimento do número de
acidentes nas indústrias fez com que o Parlamento Inglês instalasse uma
comissão para analisar as condições dos trabalhadores e das fábricas inglesas.
Em 1831 a comissão conclui a sua investigação afirmando que os trabalhadores
ingleses encontravam-se doentes, deformados e abandonados.

Essa situação era devida a ideia de que existia uma Lei Natural que regulava o
trabalho e os salários. O impacto do relatório na opinião pública foi tão grande
que em 1833 o Parlamento Inglês institui a primeira legislação trabalhista
realmente eficiente para a proteção do trabalhador sob o título de « Factory Act »
(Lei da Fábrica). O Factory Act se destinava a regular as condições de trabalho
em todas as fabricas têxteis, onde se usasse força hidráulica ou a vapor, para o
funcionamento das máquinas. Os principais pontos dessa legislação eram :

 Proibição do trabalho noturno aos menores de 18 anos;


 Restringia as horas trabalhadas por menores de 13 anos em 9 horas
diárias e 48 horas por semana ;
 Proibia o trabalho às crianças menores de 9 anos ;
 Obrigatoriedade de escolas nas fábricas para os menores de 13 anos ;
 Obrigatoriedade de um médico presente nas fábricas.

A presença de médico nas fábricas tinha como objetivo primeiro controlar a


saúde dos menores acompanhando se o desenvolvimento físico correspondia a
idade cronológica. Dessa forma, ocorria a prevenção das doenças ocupacionais
e das não ocupacionais.
Será que a Factory Act teve o
efeito esperado na prevenção
de acidentes nas idústrias
inglesas?

Será que a promulgação da


Factory Act na Inglaterra
estimulou a luta dos
trabalhadores de outras partes
do mundo por melhores
condições de trabalho?

Mas, a Factory Act, apesar de significar de fato o início da regulamentação do


trabalho e da prevenção de acidentes não teve um efeito imediato pois, nas
fábricas inglesas, as crianças continuaram a trabalhar por uma jornada maior do
que a estipulada até o final do século XIX. A argumentação dos industriais era
a perda de competitividade com as indústrias dos outros países que não
possuíam leis de regulamentação das condições de trabalho. Mas, aos poucos
essas foram surgindo pelo mundo industrializado.

As principais leis e normas de proteção que surgiram internacionalmente após a


promulgação da Factory act foram as seguintes:

 1841 – criação da primeira lei de proteção ao tabalhador na França;


 1844 – Na Inglaterra houve a aprovação das primeiras Leis de Segurança
do Trabalho. Foi decretada a lei de obrigatoriedade de colocação de
proteção nas engrenagens e asas dos moinhos, conhecida como A
Grande Lei das Fábricas de Lord Ashley;
 1862 - A França regulamenta a higiene e segurança do trabalho;
 1865 - Alemanha cria a “Lei de Indenização Obrigatória dos
Trabalhadores” responsabilizando o empregador pelo pagamento dos
acidentes de trabalho;
 1867 - A Inglaterra amplia a “Lei da Fábrica”, que estabelece a proteção
contra acidentes, a introdução de ventilação mecânica nas fábricas e
institui a exigência de locais próprios para a alimentação dos
trabalhadores;
 1869 – Na Alemanha foram aprovadas leis obrigando os industriais a
instalarem dispositivos para proteger a integridade física dos
trabalhadores;
 1873 – A Alemanha cria a Associação de Higiene e Prevenção de
Acidentes;
 1874 – A França promulga a lei de regulamentação e inspeção especial
das indústrias;
 1883 - Emílio Muller funda em Paris a Associação de Indústrias contra
Acidentes de Trabalho;
 1885 – Na Alemanha, Bismark elaborou e aprovou o primeiro Decreto de
Indenização Obrigatória aos Trabalhadores. Porém, esse decreto era
restrito ã doenças e não a acidentes;
 1897 – Na Inglaterra foi fundado o Comitê Britânico de Prevenção contra
incêndios e iniciam-se as pesquisas sobre materiais utilizados em
construções, apos o grande incêndio de Cripplegate;
 1897 – Inglaterra, Áutria e Hungria aprovam Leis de Indenização aos
Operários;
 1898 – França e Itália aprovam Leis de Indenização aos Operários;
 1903 – Os Estados Unidos promulgam sua primeira lei sobre indenização
dos trabalhadores, porém, essa era restrita aos trabalhadores federais;
 1909 – Nos Estados Unidos foi realizada a primeira Conferência Nacional
de Doenças Profissionais;
 1919 - Tratado de Versalhes Criada a Organização Internacional do
Trabalho. A OIT substituiu a Associação Internacional de Proteção Legal
do Trabalhador, com sede em Genebra, Suíça;
 1921 - EUA Estendida a todos os trabalhadores os benefícios da lei sobre
indenização, criada em 1903;
 1921 – A OIT instituiu o Serviço de Segurança do Trabalho;
 1936 – Nos Estados Unidos a Fundação da Higiene do Ar foi criada para
realizar estudos científicos e investigações para determinar meios e
procedimentos na prevenção de doenças profissionais;
 1941 – Todos os estados americanos possuíam leis de indenização aos
trabalhadores, exceto o Mississipi;
 1952 - França Torna obrigatória a existência de serviços médicos em
estabelecimentos, industriais ou comerciais, a partir de 10 trabalhadores;
 1972 – Nos Estados Unidos foi criada a OSHA – Occupational Safety and
Health Administration.

O fim da da Segunda Guerra Mundial fez com que surgisse novo raciocínio
humanitário visando a manutenção da paz e a promoção da segurança social
em todo o mundo e em todos os setores. Em 1945, foi assinada a Carta das
Nações Unidas que objetiva, em sua essência, a busca pelo estabelecimento de
uma nova estrutura mundial que pudesse garantir a paz, o progresso e a
igualdade social e boas condições de vida para as gerações futuras. Dentro
desse contexto, em 1948, é criada a Organização Mundial da Saúde – OMS, que
amplia o conceito de saúde para além da ausência de doenças e epidemias. A
OMS estabelece que o bem-estar físico, mental e social, deve ser buscado como
uma condição obrigatória para se ter uma boa saúde e qualidade de vida.

Com sua aprovação, em 1948, a Declaração Universal dos Direitos do Homem,


se transforma em uma matriz de concepções para serem empregadas na
execução das normas jurídicas que assegurem ao trabalhador o direito ao
trabalho, à livre possibilidade de escolha de sua ocupação laboral, à defesa
contra ao desemprego, o direito ao repouso remunerado, à fixação de horas de
trabalho que possibilitem a recomposição física, além de nível de vida apropriado
para proporcionar a si e a sua família saúde e bem-estar. Entretanto, com o
território europeu destruído, assim como a sua capacidade produtiva, a
reconstrução pós-guerra provocou sérias questões de acidentes e doenças que
repercutiram nas atividades empresariais, tanto no que se alude às indenizações
por conta de acidentes frequentes, quanto ao gasto por causa do crescente
licenciamento de empregados incapacitados momentaneamente ou
definitivamente. Dentro desse contexto, impunha-se a necessidade do
estabelecimento de novas formas de ingerência nas causas geradores de
doenças e de acidentes no mundo do trabalho, recorrendo-se à cooperação e à
pesquisa interprofissional.

Nos Estados Unidos, entre 1943 e 1956, devido às campanhas de prevenção de


acidentes, que tinham como slogam “Prevenir Acidentes é Dever de Todos!,
percebeu-se uma significativa queda nos acidentes de trabalho, consequência
direta da conscientização e da luta dos trabalhadores americanos por melhores
condições de trabalho. Como citado anteriormente, as guerras trouxeram
avanços para o prevencionismo, como a melhora dos novos equipamentos de
proteção instalados nas fábricas e empresas de todos os setores.
Concomitantemente, cresceu a inquietação com a amplitude dos acidentes,
cujas as consequências extrapolavam o espaço da produção, atingindo a esfera
social e afetando, também, os gastos com os sistemas de saúde. Nesse
momento, pesquisas demonstraram que 68% das adversidades que afetavam o
macro ambiente do trabalho possuíam raízes no interior das empresas, o que
tinha que ser mudado.

Na segunda metade da década de 60 do século passado, o norte-americano


Frank Bird Jr. cunhou uma nova abordagem para as questões de segurança e
saúde. Ele propôs a compreensão de que a corporação teria que lidar
diretamente não apenas com os danos aos recursos humanos, mas também,
com os danos às instalações, aos equipamentos e aos seus meios de produção,
sobretudo. Ele chamou essa abordagem de Loss Control, ou Controle de Danos.
O objetivo de Bird era possibilitar um alcance maior das análises das
consequências advindas dos acidentes de trabalho, tendo em mente que os
motivos básicos que geravam os acidentes eram sempre os mesmos. Ou seja,
um acidente, prejudicando ou não a saúde do trabalhador, provém da mesma
origem, que somente pode ser humana ou material.

Porém, antes de Frank Bird Jr. desenvolver as suas ideias, um conterrâneo seu,
Herbert William Heinrich, ainda na década de 30, já tinha desenvolvido o conceito
de pirâmide, que seria posteriormente ampliado por Bird. Ele analisou 75 mil
acidentes de trabalho para alcançar a medida 1-29-300. Ou seja, para cada
acidente sério ocorreriam 29 lesões com menos gravidade e 300 incidentes sem
lesões. Dessa forma, buscava provar que em 330 acidentes, um poderia vir a
apresentar grande gravidade.

Heinrich chegou a conclusão de que as causas principais dos acidentes nos


locais de trabalho eram:

 A personalidade do próprio trabalhador.


 As falhas humanas durante o processo produtivo.
 As práticas de atos inseguros.
 As faltas de segurança no ambiente de trabalho.

Pirâmide de Herbert William Heinrich, 1931.

A importância dos estudos de Frank Bird Jr reside no fato dele incluir as perdas
das empresas em sua análise. Ele ampliou a pesquisa abarcando 90 mil
acidentes de trabalho acontecidos entre 1959 e 1966 e chegou a conclusão de
que para cada 1 acidente com grande gravidade haveria 100 com menor
gravidade e 500 acidentes sem gravidade para o trabalhador, mas que
causariam perdas patrimoniais para as empresas.

O grande destaque da pirâmide de Bird é que ela inclui também as perdas das
empresas e os danos ao meio ambiente. Foi um dos primeiros momentos em
que o meio ambiente foi levado em consideração na análise dos acidentes no
mundo do trabalho.

Em 1969 o engenheiro Frank Bird publicou a livro Damage Control (Controle de


Danos). Nessa obra ele mostra o resultado de uma pesquisa envolvendo 1750
acidentes ocorridos em 297 empresas de diferentes ramos. Nessa obra, Bird
relacionou quatro fatores principais para o controle de perdas e danos:
informação, investigação análise e revisão do processo.

Dessa forma, a nova pirâmide ficou com a seguinte proporção: 1-10-30-600.


Para cada 1 acidente com lesão séria ocorreriam 10 acidentes com lesões de
menores gravidades e 300 acidentes sem lesões, porém que provocaram perdas
patrimoniais e 600 incidentes ou possibilidades de acidentes.

Pirâmide de Frank Bird, 1969.


1.4 – O Prevencionismo no Brasil

O início da Revolução Industrial trouxe profundas alterações na realidade do


trabalho. Houve o término das organizações de artesãos, a aceleração da
migração campo-cidade, o incremento dos núcleos urbanos, a aparição do
proletariado e, lamentavelmente o incremento do número de acidentes de
trabalho e doenças ocupacionais.

No Brasil, embora os reflexos do movimento de industrialização terem aparecido


tardiamente, a realidade não era muito distinta da dos primeiros anos da
Revolução Industrial inglesa. Ou seja, as indústrias brasileiras apresentavam um
excessivo índice de acidentes de trabalho, mutilações, trabalho infantil e
feminino com remuneração inferior a dos homens e nenhum socorro aos
trabalhadores, ainda que o processo de industrialização do Brasil tendo
acontecido um século depois do europeu.
Não podemos esquecer que a Coroa Portuguesa proibia a instalação de fábricas
em suas colônias e, por medidas proteção aos Reis de Portugal, assinou
acordos de exclusividade (Exclusivo Comercial) com a Inglaterra no
fornecimento de produtos industrializados. Assim, somente entre os anos 1831
e 1889 foi que surgiram algumas manufaturas têxteis, chapelaria, marcenaria e
indústria de alimentos.
No prelúdio deste do século XIX nos estados onde a havia uma incipiente
atividade industrial, ou seja, São Paulo e Rio de Janeiro, a condição dos
ambientes de trabalho era péssima, ocorrendo acidentes e doenças profissionais
de toda ordem. Segundo Dean (1971),

“A industrialização de São Paulo 1880 – 1945” afirmava que


“as condições de trabalho eram duríssimas; muitas
estruturas que abrigavam as máquinas não haviam sido
originalmente destinadas a essa finalidade – além da mal
iluminadas e mal ventiladas, não dispunham de instalações
sanitárias. As máquinas se amontoavam, ao lado umas das
outras, e suas correias e engrenagens giravam sem
proteção alguma. Os acidentes eram freqüentes, porque os
trabalhadores, cansados, que trabalhavam aos domingos,
eram multados por indolência ou pelos erros cometidos, se
fossem adultos; ou separados, se fossem crianças”.

No Brasil, ainda que existissem um pequeno número de leis e preocupações com


a prevenção, como a publicação do Código Sanitário do Estado de São Paulo,
de 1918, a respeito dos acidentes de trabalho, considera-se a lei de 1919 como
sendo a primeira lei nacional, na qual há algum grau responsabilidade dos
poderes públicos com referência às adversidades de segurança e saúde do
trabalhador. Em 1919, por meio do Decreto Legislativo nº 3.724, de 15 de janeiro
de 1919, os serviços de medicina ocupacional foram iniciados, com a fiscalização
das condições de trabalho nas indústrias. Avançando um pouco mais, em 1923,
foi criada a Inspetoria de Higiene Industrial e Profissional, subordinada ao
Departamento Nacional de Saúde, do Ministério do Interior e Justiça. Em 1934,
o president Getúlio Vargas criou a Inspetoria de Higiene e Segurança do
Trabalho, no Departamento Nacional do Trabalho, do Ministério do Trabalho,
Indústria e Comércio.

Na primeira década do século XX o principal nome de destaque na luta pela


melhoria das condições do trabalho e qualidade de vida dos trabalhadores era
Eloy de Miranda Chaves. Eloy de Miranda Chaves foi um empresário, banqueiro,
rico fazendeiro e politico por vários mandatos. Devido à necessidade de se
deslocar com frequência para a sua fazenda no interior de São Paulo, Eloy
percebeu que mesmo tendo trabalhado por décadas em situações desgastantes,
os foguistas dos trens não tinham direito à aposentadoria, tendo que trabalhar
até idade avançada para sustentar as suas famílias. Tendo essa preocupação
em mente, Eloy apresentou à Câmara dos Deputados, em 1921, o projeto de lei
que criava em cada uma das empresas de Estradas de Ferro do país uma Caixa
de Aposentadoria e Pensões, que se constituiu como a primeira Caixa de
Aposentadoria e Pensões do Brasil. Esse projeto de lei foi aprovado e virou lei
em janeiro de 1923. Estudiosos das leis trabalhistas brasileiras consideram que
essa lei foi o embrião da Previdência Social e concede à Eloy Chaves o título de
Pai da Previdência Social.

Porém, o Direito do Trabalho começou a se desenvolver no Brasil após o golpe


de 1930 que iniciou o Primeiro Governo do Presidente Getúlio Vargas. Esse foi
o momento tanto que uma grande quantidade de leis, decretos e decretos-lei
trataram do assunto quanto foi, também, criado o Ministério do Trabalho
(23/11/1930). Em anos subsequentes surgiram as leis que regulavam a jornada
de trabalho para diversas profissões, bem como o trabalho de mulheres e
menores. Além disto, instituiu-se, em 1932, a Carteira Profissional.

Em 1º de maio de 1943, por meio do Decreto-Lei nº 5452, Getúlio Vargas e o


seu Ministro do Trabalho, Alexandre Marcondes Filho, aprovaram a
Consolidação das Leis do Trabalho (C.L.T.), a qual definiu as bases para a leis
trabalhista no brasileiras. São partes constituintes da C.L.T. as disposições
gerais do trabalho (reconhecimento profissional, salário-mínimo, férias,
segurança e higiene do trabalho ), assim como questões relativas à proteção do
trabalho da mulher e do menor e, além disso destacam-se, nesse texto, a
fiscalização do trabalho.

O primeiro documento legal próprio da Segurança e Medicina do Trabalho é o


Decreto-Lei nº 7036, de 10/11/1944, o que instituiu a obrigatoriedade da
Representação Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho – CIPA, nas
companhias. Devido a de sua importância, esse marco legal, é considerado,
então, o momento inicial da prevenção de acidentes no país.

Em 1966, foi fundada a FUNDACENTRO ( Fundação Jorge Duprat Figueiredo


de Segurança e Medicina do Trabalho ), instituição official, hoje vinculada ao
Ministério do Trabalho e Emprego, que é considerada a maior fundação brasileira
de estudo sobre a prevenção de acidentes do trabalho no Brasil e,
possivelmente, de toda a América Latina.

A Constituição Federal, promulgada em 1988, também ampliou os dispositivos


relativos ao assunto, dentre os quais podemos destacar:
“Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem à melhoria de sua condição social:

(...)

XXII – redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde,
higiene e segurança;

XXIII – adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou


perigosas, na forma da lei;

(...)

XXVIII – seguro contra acidentes do trabalho, a cargo do empregador, sem


excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou
culpa;

(...)

XXXIII – proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre aos menores de


dezoito anos e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na
condição de aprendiz, a partir de quatorze anos(...)”

Outro momento de destaque foi a instituição das normas regulamentadoras do


trabalho urbano, a Portaria Portaria nº 3214 (08/06/1978). Essas foram escritas
tendo como base os artigos 154 a 201 da C.L.T., que normatizam os direitos e
obrigações do Governo, dos empresários e dos trabalhadores na esfera da
segurança e medicina do trabalho.

As normas regulamentadoras (NR´s) dão um norte para a implementação das


ações e obrigações das empresas. Sobretudo as medidas concernentes às
ações de prevenção, controle e extinção de riscos, inerentes ao trabalho e à
proteção da saúde do trabalhador (BRASIL, 1978).

De extrema importância, no Brasil, para a prevenção de acidentes foi a criação


da obrigatoriedade das empressas terem, funcionando de modo regular, as sua
próprias CIPAs (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes).
A CIPA foi intituida pela NR 05 e tem como objetivo a prevenção de acidentes e
doenças decorrentes do trabalho, de modo a tornar compatível
permanentemente o trabalho com a preservação da vida e a promoção da saúde
do trabalhador. (NR 5 - Portaria GM n.º 3.214, de 08 de junho de 1978)
Os principais artigos da NR 05 sobre a CIPA são:

DA CONSTITUIÇÃO

5.2 Devem constituir CIPA, por estabelecimento, e mantê-la em regular


funcionamento as empresas privadas, públicas, sociedades de economia mista,
órgãos da administração direta e indireta, instituições beneficentes, associações
recreativas, cooperativas, bem como outras instituições que admitam
trabalhadores como empregados.

5.3 As disposições contidas nesta NR aplicam-se, no que couber, aos


trabalhadores avulsos e às entidades que lhes tomem serviços, observadas as
disposições estabelecidas em Normas Regulamentadoras de setores
econômicos específicos.

5.5 As empresas instaladas em centro comercial ou industrial estabelecerão,


através de membros de CIPA ou designados, mecanismos de integração com
objetivo de promover o desenvolvimento de ações de prevenção de acidentes e
doenças decorrentes do ambiente e instalações de uso coletivo, podendo contar
com a participação da administração do mesmo.

DA ORGANIZAÇÃO

5.6 A CIPA será composta de representantes do empregador e dos empregados,


de acordo com o dimensionamento previsto no Quadro I desta NR, ressalvadas
as alterações disciplinadas em atos normativos para setores econômicos
específicos.

5.6.1 Os representantes dos empregadores, titulares e suplentes, serão por eles


designados.
5.6.2 Os representantes dos empregados, titulares e suplentes, serão eleitos em
escrutínio secreto, do qual participem, independentemente de filiação sindical,
exclusivamente os empregados interessados.

5.6.3 O número de membros titulares e suplentes da CIPA, considerando a


ordem decrescente de votos recebidos, observará o dimensionamento previsto
no Quadro I desta NR, ressalvadas as alterações disciplinadas em atos
normativos de setores econômicos específicos.

5.6.4 Quando o estabelecimento não se enquadrar no Quadro I, a empresa


designará um responsável pelo cumprimento dos objetivos desta NR, podendo
ser adotados mecanismos de participação dos empregados, através de
negociação coletiva.

5.7 O mandato dos membros eleitos da CIPA terá a duração de um ano,


permitida uma reeleição.

5.8 É vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa do empregado eleito para
cargo de direção de Comissões Internas de Prevenção de Acidentes desde o
registro de sua candidatura até um ano após o final de seu mandato.

5.9 Serão garantidas aos membros da CIPA condições que não descaracterizem
suas atividades normais na empresa, sendo vedada a transferência para outro
estabelecimento sem a sua anuência, ressalvado o disposto nos parágrafos
primeiro e segundo do artigo 469, da CLT.

5.10 O empregador deverá garantir que seus indicados tenham a representação


necessária para a discussão e encaminhamento das soluções de questões de
segurança e saúde no trabalho analisadas na CIPA.

5.11 O empregador designará entre seus representantes o Presidente da CIPA,


e os representantes dos empregados escolherão entre os titulares o vice-
presidente.

5.12 Os membros da CIPA, eleitos e designados serão, empossados no primeiro


dia útil após o término do mandato anterior.
5.13 Será indicado, de comum acordo com os membros da CIPA, um secretário
e seu substituto, entre os componentes ou não da comissão, sendo neste caso
necessária a concordância do empregador.

5.14 A documentação referente ao processo eleitoral da CIPA, incluindo as atas


de eleição e de posse e o calendário anual das reuniões ordinárias, deve ficar
no estabelecimento à disposição da fiscalização do Ministério do Trabalho e
Emprego. (Alterado pela Portaria SIT n.º 247, de 12 de julho de 2011)

5.14.1 A documentação indicada no item 5.14 deve ser encaminhada ao


Sindicato dos Trabalhadores da categoria, quando solicitada. (Inserido pela
Portaria SIT n.º 247, de 12 de julho de 2011)

5.14.2 O empregador deve fornecer cópias das atas de eleição e posse aos
membros titulares e suplentes da CIPA, mediante recibo. (Inserido pela Portaria
SIT n.º 247, de 12 de julho de 2011)

5.15 A CIPA não poderá ter seu número de representantes reduzido, bem como
não poderá ser desativada pelo empregador, antes do término do mandato de
seus membros, ainda que haja redução do número de empregados da empresa,
exceto no caso de encerramento das atividades do estabelecimento. (Alterado
pela Portaria SIT n.º 247, de 12 de julho de 2011)

DAS ATRIBUIÇÕES

5.16 A CIPA terá por atribuição:

a) identificar os riscos do processo de trabalho, e elaborar o mapa de riscos, com


a participação do maior número de trabalhadores, com assessoria do SESMT,
onde houver;

b) elaborar plano de trabalho que possibilite a ação preventiva na solução de


problemas de segurança e saúde no trabalho;

c) participar da implementação e do controle da qualidade das medidas de


prevenção necessárias, bem como da avaliação das prioridades de ação nos
locais de trabalho;
d) realizar, periodicamente, verificações nos ambientes e condições de trabalho
visando a identificação de situações que venham a trazer riscos para a
segurança e saúde dos trabalhadores;

e) realizar, a cada reunião, avaliação do cumprimento das metas fixadas em seu


plano de trabalho e discutir as situações de risco que foram identificadas;

f) divulgar aos trabalhadores informações relativas à segurança e saúde no


trabalho;

g) participar, com o SESMT, onde houver, das discussões promovidas pelo


empregador, para avaliar os impactos de alterações no ambiente e processo de
trabalho relacionados à segurança e saúde dos trabalhadores;

h) requerer ao SESMT, quando houver, ou ao empregador, a paralisação de


máquina ou setor onde considere haver risco grave e iminente à segurança e
saúde dos trabalhadores;

i) colaborar no desenvolvimento e implementação do PCMSO e PPRA e de


outros programas relacionados à segurança e saúde no trabalho;

j) divulgar e promover o cumprimento das Normas Regulamentadoras, bem


como cláusulas de acordos e convenções coletivas de trabalho, relativas à
segurança e saúde no trabalho;

l) participar, em conjunto com o SESMT, onde houver, ou com o empregador, da


análise das causas das doenças e acidentes de trabalho e propor medidas de
solução dos problemas identificados;

m) requisitar ao empregador e analisar as informações sobre questões que


tenham interferido na segurança e saúde dos trabalhadores;

n) requisitar à empresa as cópias das CAT emitidas;

o) promover, anualmente, em conjunto com o SESMT, onde houver, a Semana


Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho – SIPAT;

p) participar, anualmente, em conjunto com a empresa, de Campanhas de


Prevenção da AIDS.
5.17 Cabe ao empregador proporcionar aos membros da CIPA os meios
necessários ao desempenho de suas atribuições, garantindo tempo suficiente
para a realização das tarefas constantes do plano de trabalho.

5.18 Cabe aos empregados:

a) participar da eleição de seus representantes;

b) colaborar com a gestão da CIPA;

c) indicar à CIPA, ao SESMT e ao empregador situações de riscos e apresentar


sugestões para melhoria das condições de trabalho;

d) observar e aplicar no ambiente de trabalho as recomendações quanto à


prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho.

DO FUNCIONAMENTO

5.23 A CIPA terá reuniões ordinárias mensais, de acordo com o calendário


preestabelecido.

(…)

5.27 Reuniões extraordinárias deverão ser realizadas quando:

a) houver denúncia de situação de risco grave e iminente que determine


aplicação de medidas corretivas de emergência;

b) ocorrer acidente do trabalho grave ou fatal;

c) houver solicitação expressa de uma das representações.

DO TREINAMENTO

5.32 A empresa deverá promover treinamento para os membros da CIPA,


titulares e suplentes, antes da posse.

5.32.1 O treinamento de CIPA em primeiro mandato será realizado no prazo


máximo de trinta dias, contados a partir da data da posse.
5.32.2 As empresas que não se enquadrem no Quadro I, promoverão
anualmente treinamento para o designado responsável pelo cumprimento do
objetivo desta NR.

5.33 O treinamento para a CIPA deverá contemplar, no mínimo, os seguintes


itens:

a) estudo do ambiente, das condições de trabalho, bem como dos riscos


originados do processo produtivo;

b) metodologia de investigação e análise de acidentes e doenças do trabalho;

c) noções sobre acidentes e doenças do trabalho decorrentes de exposição aos


riscos existentes na empresa;

d) noções sobre a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida – AIDS, e medidas


de prevenção;

e) noções sobre as legislações trabalhista e previdenciária relativas à segurança


e saúde no trabalho;

f) princípios gerais de higiene do trabalho e de medidas de controle dos riscos;

g) organização da CIPA e outros assuntos necessários ao exercício das


atribuições da Comissão.

5.34 O treinamento terá carga horária de vinte horas, distribuídas em no máximo


oito horas diárias e será

realizado durante o expediente normal da empresa.

5.35 O treinamento poderá ser ministrado pelo SESMT da empresa, entidade


patronal, entidade de trabalhadores ou por profissional que possua
conhecimentos sobre os temas ministrados.

5.36 A CIPA será ouvida sobre o treinamento a ser realizado, inclusive quanto à
entidade ou profissional que o ministrará, constando sua manifestação em ata,
cabendo à empresa escolher a entidade ou profissional que ministrará o
treinamento.
5.37 Quando comprovada a não observância ao disposto nos itens relacionados
ao treinamento, a unidade descentralizada do Ministério do Trabalho e Emprego,
determinará a complementação ou a realização de outro, que será efetuado no
prazo máximo de trinta dias, contados da data de ciência da empresa sobre a
decisão.

UNIDADE 2 – OS RISCOS

Perigo

Perigo é uma ou mais condições, físicas ou químicas, que pode vir a impactar
negativamente tanto as populações quanto o meio ambiente e, também, as
indústrias e as demais atividades produtivas. Galvão Filho & Newman (2001)
definem o termo perigo, “como a situação (incêndio, explosão ou vazamento de
substâncias tóxicas) que ameaça a existência de uma pessoa ou a integridade
física de instalações e edificações.” Ou seja, é uma probabilidade de algum
acidente acontecer em um determinado período de tempo.

Risco
O risco é definido como a medida de perda econômica, de danos à vida humana
e/ou de impactos ambientais, resultante da combinação entre a frequência de
ocorrência e a magnitude das perdas ou danos (consequências).

Galvão Filho & Newman (2001) definem o termo risco como a possibilidade de
ocorrência de um perigo. O risco está sempre associado à chance de acontecer
um evento indesejado; assim, deve-se entender que o perigo é uma
propriedade intrínseca de uma situação, ser ou coisa, e não pode ser controlado
ou reduzido; por outro lado, o risco sempre pode ser gerenciado, atuando-se
na sua frequência de ocorrência, nas consequências ou em ambas.

Dessa forma, o risco pode ser expresso como uma função desses dois fatores,
conforme apresentado na equação que segue:

Onde:
R = risco;
c = cenário ambiental
f = frequência de ocorrência;
C = consequências (perdas e/ou danos)

R = f (c,f,C) (1)

O risco pode ainda ser definido através das seguintes expressões:

 combinação da incerteza e do dano;


 razão entre o perigo e as medidas de segurança;
 combinação entre evento, probabilidade e consequências.
A experiência demonstra que os graves acidentes são frequentemente
ocasionados por episódios com pouca regularidade de ocorrência,
causando,não obstante,resultados bastante impactantes e possivelmente
destrutivos.

RISCO

PERIGO
2.1 Tipos de Análises de Risco

As diferenças entre os diferentes tipos de análise de risco são as seguintes:

Riscos de Segurança/Industriais – São baixas as chances de acontecer, mas


com grandes conseqüências, agudos (efeitos elevados em um pequeno espaço
de tempo), acidentais; tempo crítico de resposta; relações causa-efeito claros;
é focado especialmente em aspectos de segurança humana e perca material,
especialmente dentro do ambiente de trabalho.

Riscos para a Saúde Humana – Quase sempre de elevada probabilidade,


conseqüência pequena, crônicos (exposições repetidas conforme efeitos
podem não aparecer por tempos elevados), relações causa-efeito difíceis de
saber, é focado especialmente na saúde do ser humano, especialmente fora do
ambiente de trabalho.

Riscos Ecológicos/ ambientais – Mudanças tímidas, contato entre


populações, comunidades e ecossistemas, inclusive cadeia alimentar, nos dois
níveis micro e macro; grande incerteza em relações causa-efeito; é focado
principalmente em impactos direto no ecossistema e podem aparecer a
grandes distâncias da fonte.
2.2 - Identificação de Risco – Mapa de Risco

A identificação na natureza dos riscos ajuda na classificação dos riscos


ambientais e é importante para avaliar causas e efeitos. As classes são
divididas conforme as situações potenciais de perdas e os danos ao homem e
ao meio ambiente.
Riscos naturais - São relacionados a fenômenos e a desequilíbrio ecológico
que operam independente da ação humana. Levando em consideração que
alguns acidentes naturais podem ser iniciados, acelerados ou intensificados por
alguma ação do homem. Os desastres naturais são consequência destes riscos
naturais, gerado por algum fenômeno da natureza de grande tamanho, como
as chuvas intensas, provocando inundações, erosão, tornados, furacões,
tsunamis, maremotos, terremotos etc

Os riscos naturais são divididos em: riscos biológicos e riscos físicos.

Os riscos biológicos são divididos em 2 grupos: riscos associados a fauna e


riscos associados a flora.

 Os riscos associados a fauna dengue, febre amarela, picadas de


animais, doenças provocadas por vírus e bactérias, epidemias de gripe
etc. referentes a agentes vivos, como organismos patogênicos

 Os riscos associados a flora referentes a doenças através dos fungos,


pragas, ervas tóxicas e venenosas etc.
Já os riscos físicos são relacionados aos processos do meio físico, sendo
divididos em 3 grupos: riscos atmosféricos (ar), riscos geológicos (solo e rocha)
e riscos hidrológicos (água).

Riscos antrópicos são relacionados a ações ou a omissões dos homens. Os


desastres antrópicos são consequência destes riscos antrópicos, desenvolvidos
por trabalhos do homem, como acidentes de trânsito, incêndio, contaminação da
água, rompimento de barragens etc.

Os riscos antrópicos são divididos em: riscos sociais e riscos tecnológicos.

Os riscos sociais geralmente causados pela própria sociedade ou são riscos


com consequências para a sociedade humana, como assaltos, guerras etc.

Os riscos tecnológicos relação diretamente ligada a atividade do homem, como


vazamentos de produtos tóxicos ou inflamáveis, radioativos, quedas de aviões,
colisão de automóveis etc. Os riscos tecnológicos são considerados mais
graves, mas ao mesmo tempo mais fáceis de gerenciar e atenuar. os riscos
tecnológicos são os mais detalhados e os mais comuns nos estudos de riscos
ambientais. O questionamento o risco tecnológico deve levar em consideração
três fatores: o processo de produção (recursos, técnicas, equipamentos,
maquinário); o processo de trabalho (relações entre direções empresariais e
estatais e assalariados); e a condição humana (existência individual e coletiva,
ambiente). Onde for encontrado um desses fatores, haverá o risco ou a
possibilidade de um problema por ele causado.
2.3 - Indicadores de Risco

Conforme estudos quantitativos de riscos, é preciso realizar uma estimativa das


freqüências que ocorreram falhas de equipamentos ou de atividades em análise,
e também uma estimativa de probabilidade de erro do homem, e depois
considerar as freqüências de eventos não desejados causados por terceiros ou
por influências externas ao sistema de estudo, por exemplo: fenômenos naturais
(deslizamento de solo, terremoto, enchentes etc), queda de aviões etc. Todas
estas informações são sempre difíceis de ser estimadas, em função da falta de
disponibilidade deste tipo de informações. Para calcular a quantidade de vezes
de ocorrência dos cenários acidentais podem ser utilizadas algumas técnicas:
análise histórica de falhas referentes a acidentes, de acordo com pesquisas em
referências bibliográficas ou em banco de dados de falhas; AAF - análise de
árvores de falhas; AAE – análise de árvores de eventos.

Os dados referentes as falhas de equipamentos normalmente são


disponibilizados pelos fabricantes, porque eles sempre fazem os testes de
conformidade nas linhas de fabricação. Algumas indústrias têm seus próprios
bancos de dados com a intenção de melhorar a especificação de seus
equipamentos, mas também prevenir acidentes e, subsidiar programas de
manutenção.

Sobre as informações de erros humanos, os dados de confiabilidade ou de


probabilidade de falhas devem ser utilizados com extremo cuidado, porque
diversos motivos influenciam nesse processo, como tipos de falha; condições do
meio ambiente; características dos sistemas envolvidos; tipos de atividades ou
operações feitas; treinamento das pessoas envolvidas; motivação;
disponibilidade e qualidade de normas e processos operacionais; disponibilidade
de tempo para executar a tarefa. . Uma questão relevante que deve ser levado
em consideração na analise do erro humano no momento de uma determinada
tarefa é referente aos erros de manutenção, eles representam mais ou menos
60 a 80% dos fatores de acidentes.

A estimativa quantitativa dos riscos de um negócio depende de uma série de


variáveis, por vezes são pouco conhecidas e, devido a isso, os resultados
estimados podem apresentar diferentes níveis de incerteza. E isso não pode ser
aceito, porque se reconhece que existe pouca informação nesse campo e que é
impossível definir todos os riscos que existe ou possíveis de acontecer numa
instalação.

Os riscos a serem avaliados devem observar o levantamento de possíveis


mortes, os danos a saúde da comunidade que está próximo do empreendimento
e os danos aos ecossistemas dentro da área de alcance. Nos estudos de análise
de riscos subjugados a CETESB – companhia ambiental do estado de São
Paulo, os riscos devem ser estimados e apresentados nas formas de risco social
e risco individual, porque os acidentes ultrapassam os limites do
empreendimento e afeta pessoas e os ecossistemas.

O risco social é o risco que alcança um determinado número ou conjunto de


pessoas que estão vulneráveis aos danos resultantes de um ou mais cenários
acidentais. A representação do risco social deverá ser feita de acordo com a F-
N, alcançada com plotagem dos dados de freqüência acumulada do último
evento e seus devidos efeitos informados em número de mortes. A estimativa de
risco social num estudo de análise de risco precisa das seguintes informações:
tipo de população (estabelecimento comerciais, residências, industrias, área
rurais, escolas, hospitais etc), efeitos em períodos diferentes e particulares
condições meteorológicas, para o perfeito dimensionamento do número de
pessoas eu correm risco; informações das edificações onde as pessoas estão,
assim pode ser estudado algumas proteções.

Diferentes posições ou aspectos das pessoas expostas podem ser considerados


na estimativa dos riscos por meio de simplificações ou uso de dados médios.
Essas globalizações podem provocar grandes erros na estimativa dos riscos, por
estes motivos eles devem ser ajustados com cuidado. Os dados provenientes de
pesquisas de densidade demográfica em áreas urbanas não devem ser usados
para estimativa da população exposta numa área definida.

O risco individual é o risco de uma pessoa, ou um conjunto de indivíduos


espaçados no terreno, que estejam próximos a locais de perigo. Tem de ser
levado em consideração a natureza do perigo e a probabilidade desse dano
acontecer em um dado limite de tempo. Os danos às pessoas podem ser de
diversas formas, até mesmo psicológicos ou de imagem, como injurias e
difamações, que estão previstas até mesmo no código penal. Dessa forma, risco
individual deverá ser estimado em termos de danos irreversíveis ou fatalidades.

Como dito anteriormente, o risco individual pode ser sentido por um indivíduo
mais exposto a um perigo, por um grupo de indivíduos, como um bairro, ou uma
pequena vila, ou para um grupo de indivíduos presentes na zona de risco ou
submetidas a riscos devido ao tipo de trabalho. O risco individual tem diferentes
impactos quando impostos a um ou a mais indivíduos. As linhas de iso-risco
possibilitam visualizar a distribuição geográfica do risco em diferentes regiões e
a dimensão do alcance de um acidente. A probabilidade de um determinado nível
de risco individual será calculado de acordo com a frequência esperada de um
evento capaz de causar um dano num local específico ocorrer.

2.4 - Técnicas de Identificação de Perigo

Para se iniciar um processo de análise de riscos deve-se inventariar os perigos


que existem em uma planta fabril ou outra instalação. Objetiva-se dessa forma,
identificar as possibilidades de ocorrência de acidentes através da utilização de
técnicas que sistematizam a investigação e classificar esses perigos permitindo
a seleção dos cenários para a uma posterior quantificação.
 Análise de Perigos e Operacionalidade (HAZOP)

O termo HazOp vem do inglês Hazard and Operability Study. E também é


conhecido como Estudo de Perigos e Operabilidade, este estudo é uma forma
de identificar perigos que possam propiciar acidentes nas áreas do
empreendimento, além de perdas na produção em função de descontinuação
operacional.

Outro objetivo desse estudo é identificar problemas que possam ajudar a


redução da qualidade operacional da instalação.

No Estudo de Perigos e Operabilidade – Hazop a operabilidade é tão importante


quanto a identificação dos perigos, e na maioria dos trabalhadores são
encontrados mais problemas de operabilidade do que perigos.

O HazOp é concreto na identificação de incidentes previsíveis, mas ele também


é capacitado para identificar as combinações que possivelmente levam a
eventos não esperados.

O Estudo de Perigos e Operabilidade - HAZOP representa a realização de uma


revisão da instalação, identificando possíveis perigos e/ou problemas na parte
operacional, por meio de diversas reuniões, durante essas reuniões uma equipe
debate cuidadosamente o projeto da planta.

O chefe da equipe direciona o grupo, através de várias perguntas organizadas,


usando palavras importantes, que tem como foco os desencaminhamentos dos
padrões estabelecidos no processo ou na operação.

A equipe precisa identificar as causas de cada desencaminhamento e, se forem


identificados resultados considerados importantes, são avaliados os sistemas de
proteção para definir se eles são aceitáveis para controlar essas situações.

A vantagem mais importante desta discussão é que ela incentiva a criatividade


e constitui ideias. Essa criatividade é resultado da comunicação da equipe com
diferentes formações.
O melhor momento para fazer um estudo HAZOP é na hora que projeto está
consistente. E neste momento o projeto pode ser alterado sem gerar muitas
despesas.

Com relação a custos, o HAZOP é muito bom quando colocado a novas plantas,
no momento em que o projeto está firme e documentado.

O Estudo de Perigos e Operabilidade é genérico realizado no momento de


descrição do projeto, quando um esquema completo do processo está pronto,
porém enquanto as alterações de projeto ainda sejam admissíveis.

Ele pode ser direcionado em um questionamento progressivo com diferentes


palavras importantes para cada etapa à medida em que os detalhes do projeto
são feitos.

O HAZOP também pode ser feito na hora da operação, mas as mudanças podem
ser caras nesta etapa.

2.5 - Técnicas de Análise de Riscos

 Análise Preliminar de Riscos - APR

A Análise Preliminar de Riscos – APR é uma ferramenta capaz de identificar


possíveis riscos no ambiente de trabalho. Partindo da identificação antecipada
de fatores do meio ambiente que refletem grande perigo, a análise é de forma
esmiuçada, cada uma das fases do processo, propicia a escolha das ações mais
adequadas para diminuir a probabilidade de acidentes.

A Análise Preliminar de Riscos – APR é uma das técnicas mais utilizadas


atualmente, e devido à sua grande eficácia e pelo envolvimento de diversos
profissionais, faz parte da rotina tanto de profissionais, como de estudantes do
setor de segurança e saúde do trabalho.
Objetivos Principais da Análise Preliminar de Risco - APR

O campo da Análise Preliminar de Risco é muito grande, mas as metas mais


importantes são:

 Identificação aprofundada dos riscos no ambiente de trabalho;

 Orientação clara e objetiva da equipe de colaboradores;

 Estabelecimento de procedimentos que visem a segurança;

 Organização e sistematização das tarefas desenvolvidas no processo;

 Planejamento amplo de cada etapa e de cada tarefa;

 Orientação e capacitação da equipe quanto aos riscos da atividade laboral;

 Prevenção de acidentes, causados por falha mecânica ou humana.

O desenvolvimento e a implementação da APR devem ser feitos antes do início


da execução prática de uma nova fase, na instalação de um novo setor, ou então,
pode ser aplicada nos processos já existentes.

 Análise de Árvore de Falhas – AFF

A Análise de Árvore de Falhas – AFF foi desenvolvida por H. A. Watson, nos


anos 60, para os Laboratórios Bell Telephone, no campo do projeto do míssil
Minuteman, e depois foi otimizada e utilizada em outros projetos aeronáuticos da
Boeing.

Entre os benefícios mais importantes do uso da Análise de Árvore de Falhas –


AFF, em estudos de análise de riscos são:

 Conhecimento detalhado de uma instalação ou sistema;

 Estimativa da confiabilidade de um determinado sistema;


 Cálculo da frequência de ocorrência de uma determinada hipótese acidental;

 Identificação das causas básicas de um evento acidental e das falhas mais


prováveis que contribuem para a ocorrência de um acidente maior;

 Detecção de falhas potenciais, difíceis de serem reconhecidas;

 Tomada de decisão quanto ao controle dos riscos associados à ocorrência de


um determinado acidente, com base na frequência de ocorrência calculada e nas
falhas contribuintes de maior significância.

A organização da AAF constitui na construção de um processo lógico capaz de


deduzir que, saindo de um evento não desejado pré-estabelecido, encontra as
suas prováveis causas.

O processo continua pesquisando as contínuas falhas dos componentes até


chegar as falhas básicas, que não podem ser desenvolvidas, e para elas existem
dados quantitativos disponíveis.

Análise de Árvore de Falhas – AFF aprecia um estudo retrospectivo do


relacionamento lógico das possíveis falhas que ajudam para o acontecimento do
evento principal, ele representa o resultado da árvore, é realizado de baixo para
cima, dos eventos básicos aos eventos principais.

 Análise de Modos de Falhas e Efeitos - FMEA

A Análise de Modos de Falhas e Efeitos – FMEA é uma forma utilizada para


prevenir falhas e analisar os riscos de um procedimento, através da identificação
de causas e efeitos para diferenciar as ações que serão usadas para combater
as falhas.

Modo de falha está alusivo ao fator de um processo que pode ser levado a operar
de maneira errada e é formado por três princípios: efeito, causa e detecção.
 Efeito é a consequência que a falha pode causar ao cliente;

 Causa é o que indica a razão da falha ter ocorrido e;

 Detecção é a forma utilizada no controle do processo para evitar as falhas


potenciais.

O Objetivo da análise de modos de falhas e efeitos – FMEA é identificar, marcar


e relatar as incompatibilidades causadas pelo processo e seus efeitos e causas,
e através de ações preventivas minimizar ou eliminar todas elas.

2.6 - Técnicas de Avaliação de Riscos

O processo de avaliação de riscos pode ser acompanhado em várias categorias


de profundidade e detalhe, usando uma ou mais ferramentas que vão da mais
simples até a mais complexa.

O método de avaliação e sua saída devem ser de acordo com as metodologias


de risco, desenvolvidas como parte do estabelecimento do contexto. O Anexo A
da norma ISO/IEC 31010:2009 mostra “a relação conceitual entre as amplas
categorias de técnicas para o processo de avaliação de riscos e os fatores
presentes numa determinada situação de risco, e fornece exemplos ilustrativos
de como as organizações podem selecionar as técnicas apropriadas para esse
processo de avaliação para uma situação em particular”.

De forma geral as técnicas devem apresentar as seguintes características:

 sejam justificáveis e apropriadas à situação ou organização em questão;

 proporcionem resultados de uma forma que amplie o entendimento da natureza


do risco e de como ele pode ser tratado;

 sejam capazes de utilizar uma forma que seja rastreável, repetível e


verificável.
A ISO/IEC 31010 recomenda que sejam dadas as razões para a escolha das
técnicas com relação à adaptação. Ao constituir os resultados de diferentes
estudos, as técnicas que foram usadas deverão ser confrontadas.

Depois que foi decidido de realizar um processo de avaliação de riscos e os


objetivos e a finalidade tenham sido escolhidos, é conveniente que as técnicas
sejam selecionadas de acordo com os seguintes fatores:

 os objetivos do processo de avaliação de riscos terão uma interferência direta


sobre as técnicas utilizadas. Se um estudo comparativo entre as diversas opções
está sendo realizado, podem ser utilizados modelos com menos detalhes de
consequência para partes do sistema não afetadas pela diferença;

 as necessidades dos tomadores de decisão. Um elevado nível de detalhamento


é necessário para tomar uma decisão acertada, um entendimento mais geral é
suficiente;

 o tipo e a quantidade de riscos que estão sendo analisados;

 a importância das consequências. Cabe a decisão sobre a profundidade em que


o processo de avaliação de riscos é direcionada reflita o entendimento inicial das
conseqüências, apesar de que isso possa ter que ser modificado quando uma
avaliação preliminar for concluída;

 a categoria de conhecimento especializado, recursos humanos e outros recursos


necessários. Uma forma simples e bem executada pode apresentar melhores
resultados do que um procedimento mais complexo e mal feito, desde que
atenda aos objetivos e a finalidade do processo de avaliação. Geralmente é
recomendado que a energia aplicada ao processo de avaliação seja compatível
com o nível de risco que está sendo analisado;
 a disponibilidade de informações e dados. Algumas técnicas demandam mais
informações e dados do que outras;

 a necessidade de modificação/atualização do processo de avaliação de riscos.


Um determinado processo pode precisar ser modificado ou atualizado no futuro
e algumas técnicas são mais flexíveis do que outras nesse sentido;

 Todos os requisitos regulatórios e contratuais.

Diversas situações influenciam a escolha de uma técnica para o processo de


avaliação de riscos, particularmente com a disponibilidade de recursos, a
natureza e o grau de incerteza das informações disponíveis, da mesma maneira
a dificuldade da aplicação.

Estabelecer risco é muito difícil, algumas pessoas dizem que o risco é o grau de
incerteza em relação à possibilidade de acontecer um determinado acidente.
Risco é a possibilidade de perda consecutiva de um acidente. A perda para a
empresa quer dizer prejuízo, menir lucro, ou perda de ativo com compensação
no patrimônio líquido.

Outras pessoas dizem que os riscos empresariais são todos os acidentes que
não deixam a empresa e as pessoas de ganharem dinheiro e consideração. São
itens incertos e as esperanças que exercem constantemente sobre os meios
estratégicos e o meio ambiente e que motivam os desastres financeiros. A
gestão de riscos abrange:

 A aplicação de metodologias lógicas e sistemáticas para a informação e consulta


ao longo de todo processo;

 O estabelecimento do contexto para identificar, analisar, avaliar e tratar o risco


associado a qualquer atividade, processo, função ou produto;

 O monitoramento e a análise crítica de riscos;


 O reporte e o registro dos resultados de forma apropriada.

 O processo de avaliação de riscos é a etapa da gestão de riscos que oferece um


processo estruturado para identificar como os objetivos podem ser afetados, e
analisa o risco na questão das consequências e suas probabilidades antes de
definir se um cuidado adicional é requerido.

A etapa de avaliação de riscos precisa responder às questões seguintes:

 O que pode acontecer e por quê?

 Quais são as consequências?

 Qual é a probabilidade de acontecer novamente?

 Se existem fatores que contém a consequência do risco ou que diminuam


a probabilidade do risco?

 O nível de risco é aceitável e requer algum tratamento a mais?

Por isso, a norma NBR ISO 31000 representa as boas práticas da atualidade na
escolha e utilização das técnicas para o processo de avaliação de riscos e não
se refere a conceitos novos ou em desenvolvimento que não tenham chegado a
um nível aceitável de conformidade profissional. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA
DE NORMAS TÉCNICAS, 2012)

A norma pode direcionar muitos setores e tipos de sistemas. Pode haver normas
mais específicas em atividade dentro desses setores que estabelecem
metodologias preferenciais e níveis de avaliação para aplicações específicas. Se
essas normas estiverem em simetria com essa norma, as normas específicas
geralmente serão confiáveis.
A NBR ISO/IEC 31010:2012 que é uma norma de apoio à NBR ISO 31000 e
oferece informações sobre a seleção e aplicação de técnicas sistemáticas para
o processo de avaliação de riscos.

O processo de avaliação de riscos conduzido conforme essa norma auxilia para


outras práticas de gestão de riscos. A propósito de uma série de técnicas é
incluída, com referências específicas a outras normas onde o conceito e a
aplicação de técnicas são explicadas com mais detalhes.

Ela não é destinada à certificação, uso regulatório ou contratual e não fornece


critérios específicos para identificar a necessidade de análise de riscos, nem
caracteriza a metodologia de análise de riscos que é solicitado para uma
aplicação específica. Não é referente a todas as técnicas, e a exclusão de uma
técnica nessa norma não quer dizer que ela não é válida.

O fato de uma metodologia ser aplicável a uma determinada circunstância


particular não significa que essa metodologia seja fatalmente utilizada. O
processo de avaliação de riscos é o processo geral de identificação de riscos,
análise de riscos e avaliação de riscos.

A norma articula ainda que o processo de avaliação de riscos é o processo geral


de identificação de riscos, análise de riscos e avaliação de riscos. Os riscos
podem ser avaliados nas organizações, nos departamentos, para projetos,
práticas individuais ou riscos especiais.

Diversos materiais e técnicas podem ser adequada em diversos contextos. O


processo de avaliação de riscos proporciona um conhecimento dos riscos, suas
causas, consequências e probabilidades. Isso permite uma entrada para
decisões sobre:

 Se convém que uma atividade seja realizada;

 Como aumentar as oportunidades;


 Se os riscos precisam de tratamento;

 A escolha entre opções com diferentes riscos;

 A escolha das opções de tratamento de riscos;

A escolha mais adequada de estratégias de tratamento de riscos que vai trazer


riscos diversos a um nível aceitável. Terminado um processo de avaliação de
riscos, o tratamento de riscos engloba selecionar e acordar uma ou mais opções
apropriadas para alterar a possibilidade de ocorrência, o efeito dos riscos, ou os
dois, e a implantação destes dois itens. Isso é monitorado por um processo
intermitente de reavaliação do novo nível de risco, destina-se a determinação de
sua tolerância em relação aos métodos antecipadamente definidos, com o
propósito de um tratamento adicional é solicitado.

Após a escolha do tratamento mais adequado e que será adotado passa-se a


etapa de formulação de um Plano de Ação. Esse se faz necessário para
determinar as formas, os prazos e o setor ou a pessoa responsável pelo
processo de melhoramento. No caso dos riscos, destacando-se os riscos
ambientais, deve-se registrar os motivos que levaram a opção de melhoria que
será efetivamente implementada. O Plano de Ação tem a importância de se
constituir o elo de ligação entre os riscos previstos e a forma escolhida de seu
gerenciamento. Dessa forma, o Plano de Ação desvela o que deve ser feito, por
que motivo, os prazos e quem são os responsáveis por sua execução.

De acordo com a ISO/IEC 31010:2012, o processo de revisão e monitoramento


deve ser alinhado com todos os aspectos de processo de gestão de risco com o
propósito de:

a. Assegurar que os controles são efetivos e eficientes no projeto e em


operação.

b. Obter informações futuras para melhoria da avalia ção de riscos.


c. Analisar e aprender com as lições dos eventos, mudanças, tendências,
sucessos e falhas.

d. Detectar mudanças no contexto interno e externo.

e. Identificar riscos emergentes.

O progresso na implantação dos planos de tratamentos de riscos serve também


como um parâmetro de desempenho. Por isso, os resultados e seus
monitoramento devem ser documentados e tornados públicos tanto para os
responsáveis internos das empresas quanto para os impactados pelos riscos de
uma atividade.
RESUMO:

A preocupação com a prevenção de acidentes tem crescido fortemente desde a


segunda metade do século XX. O mundo industrializado, sobretudo os países
ricos, principais poluidores, buscam, com urgência, o desenvolvimento de
tecnologias que possam minimizar os impactos dos acidentes tanto na cadeia
produtiva quanto nos trabalhadores e no meio ambiente. A indústria e todos os
demais setores da economia, durante os seus processos produtivos, oferecem
riscos para o meio ambiente. Contudo, a humanidade aprende e cresce com os
erros e acidentes desenvolvendo técnicas de gestão dos riscos de forma a
minimizá-los.

Esse é, sem dúvida, um grande desafio a ser superado por todos englobando
Estado, Trabalhador e Empresas.
LEITURA COMPLEMENTAR:

LAPA, Reginaldo Pedreira. Metodologia de identificação de perigos e


avaliação de riscos ocupacionais. 2006. Dissertação (Mestrado em
Engenharia Mineral) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São
Paulo, 2006. doi:10.11606/D.3.2006.tde-05092006-155044. Acesso em: 2018-
05-26
Gestão de Risco e Compliance Fazem a Diferença. Disponível em:
https://epocanegocios.globo.com/Publicidade/Petrobras/noticia/2017/06/gestao-
de-risco-e-compliance-fazem-diferenca.html
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ALMEIDA, A. Betâmio de. Gestão do risco e da incerteza: conceitos e


filosofia subjacente. In: Realidades e desafios na gestão dos riscos: diálogo
entre ciência e utilizadores. Ed. Imprensa da Universidade de Coimbra. Coimbra,
2014. Disponível em:
https://www.uc.pt/fluc/nicif/Publicacoes/livros/dialogos/Artg02.pdf. Acesso em
23/03/2018.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO/IEC
31010:2012 – Gestão de Riscos - Técnicas para o processo de Avaliação de
Riscos. Rio de Janeiro, 2012.
BARROS, Sergio Silveira. Análise de Riscos. Instituto Federal do Paraná, Rede
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http://ead.ifap.edu.br/netsys/public/livros/LIVROS%20SEGURAN%C3%87A%2
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