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Análise de propósito em Efésios 4:1-10

Cenário histórico

Depois de ter exercido seus direitos como cidadão romano e apelado a César, Paulo foi
enviado a Roma, aonde provavelmente, chegou durante a prima vera de 61 d.C. Ali, ele esteve
preso por dois anos. Assim, é provável que esta epístola tenha sido escrita por volta do ano 62.

A carta foi escrita m tempos e circunstâncias que proporcionaram um ambiente especial para
sua mensagem. O sanguinário Nero era imperador. Roma estava regada de licenciosidade, luxo
e assassinato. Pelo ano da redação da epístola (62 d.C.), ocorreu a revolta de Boadicea, ou
Boudicca, na Bretanha. Naquela ocasião, segundo se afirma, "mais de 70 mil morreram do lado
romano, juntamente com muitos milhares de rebeldes. Em meio de tanta confusão política e
social, porém fruto de profunda reflexão e inspiração, o apóstolo produziu uma das suas mais
nobres declarações a respeito da fé como o único meio que poderia devolver a paz e a união à
humanidade.

Tema:

O tema de Efésios é a unidade em Cristo e conduta cristã. Paulo escreve a uma igreja (ou
igrejas) composta de judeus e gentios, asiáticos e europeus, escravos e homens livres: todos
representantes de um mundo perturbado que precisava ser restaurado à unidade em Cristo.
Isso implicava a unidade de pessoas, famílias, igrejas e etnias. É corrente dentro da epístola a
conexão da unidade cristã em paralelo com os ensinos sobre Eleição, perdão, predestinação,
relacionamentos familiares e de que todos têm lugar em Cristo.

Importância da Epístola

Pode-se afirmar que aquilo que as epístolas aos Gálatas e Romanos foram para o século 16 e a
Reforma Protestante, Efésios o é para a igreja de hoje. O que o cristianismo tem a dizer sobre
as relações do indivíduo para com a família, da família para com a nação, da nação para com a
etnia e de todos com a igreja e com Deus? Paulo responde a essas perguntas, apresentando
Cristo como o centro e fim de todas as coisas, como quem cumpre Seus propósitos mediante a
igreja, fazendo “convergir nEle [...] todas as coisas” (Ef 1:10).

A aquisição de uma unidade que preserve a liberdade do indivíduo, a unidade sem


uniformidade rígida, é a necessidade mais urgente da igreja atual. Ao apóstolo foi concedida
uma revelação que oferece a única solução para um problema de grande importância a todos
os que servem a Deus. Efésios apresenta um compêndio do estilo de vida do discípulo
individualmente e em comunidade.

O capítulo 4 – Introdução

Todas as cartas de Paulo contêm equilíbrio entre teologia e vida, doutrina e dever.
Essa carta não é diferente. Os três primeiros capítulos lidam com doutrina, nossas
riquezas em Cristo, enquanto os últimos três explanam o dever, nossas
responsabilidades em Cristo. A palavra-chave nesses últimos três capítulos é andar: 1)
andar em unidade (4.1-16); 2) andar em pureza (4.17—5.17); 3) andar em harmonia
(5.18—6.9); 4) andar em vitória (6.10-24).

Propósito do capítulo 4
A conduta cristã tem origem na doutrina cristã. Teologia sem prática é uma falácia, ao
mesmo tempo que prática sem teologia produz incoerênia. Todos aqueles que se
rendem a Cristo possuem um estilo de vida que permeia todas as relações. Paulo
relaciona doutrina com a vida cotidiana, ela é a base da própria vida, pois o que
cremos determina como vivemos. A partir dessa perspectiva o nosso caminhar precisa
refletir a vida de semelhança com Deus.

4:1-3 – Elementos estruturais e unidade


Esse primeiro bloco de informações preciosas apresentam uma estrutura de unidade e
não uniformidade. A unidade vem do interior, fruto da ação do Espírito, orgânica, que
prolifera elementos estruturantes da comunidade de crentes, já a uniformidade é
resultado direto da pressão exterior. Essa unidade não é criada, mas preservada. Ela
existe pela influência divina na condução da Igreja e não por mera força humana.
Esses pontos são fundamentais para compreender que o condutor da Igreja é o
Espírito. É por sua própria vontade que tudo subsiste como corpo de crentes, ele é a
cola que liga todos os pedaços e lhe dá propósito. Para um verdadeiro discípulo essa
característica de autoridade não pode ser suplantada pela agitação humana.
E como essa unidade é preservada?
O texto assevera como primeiro ponto a humildade. Esse atributo era considerado na
sociedade romana como uma fraqueza, uma posição de baixa varonilidade. Os
romanos valorizavam a força acima de tudo. É Cristo que redefine a humildade como
uma virtude capaz de modelar a compreensão sobre reputação. Como cristãos somos
chamados a possuir, de modo insubstituível, uma posição de humildade. Quem sabe
que veio do pó, é pó e ao pó voltará não tem espaço para ser orgulhoso.
Um segundo elemento relevante é a mansidão, prautes no grego. Essa palavra revela
um sentido interessante, pois se refere a suavidade dos fortes, cujo poder e força está
sob controle. É a qualidade de uma personalidade forte que, mesmo assim é senhora
de si e está disposta a servir. Essa palavra era comumente utilizada para descrever
docilidade de caráter, gentileza, alguém capaz de se posicionar sem precisar impor sua
autoridade, alguém disposto a dar licença.
O terceiro elemento é a paciência. A palavra makrothymia no grego clássico se tornou
uma palavra domesticada pelos cristãos, pois fazia sentido apenas nos círculos éticos
do caminho de Cristo. Ela significa aguentar com paciência provocadoras sem revidar.
É a definição da pessoa que suporta o sofrimento e infortúnio sem lamúrias.
O quarto elemento é suportar os irmãos. Esse é o mais conhecido, afinal de contas tem
muitas piadas internas nossas com essa palavra que não significar aguentar os irmãos,
mas servir de amparo.

4:4-6
Esse verso é fundamental para os verdadeiros discípulos modernos, pois ele combate
todo o movimento evangélico de massa nos últimos dias. O evangelicalismo está
pervertendo um dos fundamentos do reino, que é o amor. Eles dizem: “não queremos
saber de doutrinas, somos salvos pela graça para viver em amor. As doutrinas nos
dividem, mas o amor nos une”. No entanto, Paulo não discute a unidade cristã sem
falar da pedra angular do evangelho, presentes nos capítulos 1 a 3 de efésios.
Qualquer unidade edificada sobre outra base, que não seja a totalidade da verdade
presente e bíblica é estruturada na areia. A unidade cristã é edificada sobre a
divindade triúna: Um só Espírito (4:4), um só Senhor (4:5) e um só Deus e Pai de todos
(4:6). A partir dessa perspectiva ele define:
Um só corpo: a igreja é um só corpo, formada por gentios e judeus. A única forma de
fazer parte do corpo é ser convertido e ser batizado pelo Espírito. Essa é a porta de
entrada para ser parte do corpo, não existem membros espalhados a esmo, não
existem desigrejados, existe um só corpo, unido em propósito e ação.
Um só espírito: O espírito de Cristo é o único capaz de conectar toda a estrutura do
corpo, Romanos 8:9 afirma que se alguém não tem o Espírito de Cristo não pertence a
Cristo.
Uma só esperança: a volta de Jesus.
Um só Senhor: ao obedecer ao mesmo Senhor, por si só a unidade é provocada. Não
temos um Senhor bipolar, cheio de dois pesos e duas medidas. O Senhor e sua vontade
precisam ser consideradas.
Uma só fé: um único credo, e este baseado nas santas Escrituras.
Um só batismo: o propósito de Paulo não é definir o tipo de batismo, mas o sentido do
batismo, como decisão para a conversão e habilitação para o reino de Deus.
Um só Deus: Deus é o pai da Igreja, tanto na terra quanto no céu. Deus é sobre todos,
age por meio de todos e está em todos.

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